ISSN 0102-5716 Vet e Zootec. 2012; 19(1 Supl 1): ________________________________________________________________________________________________ URETEROCELE EM CÃO NEONATO: RELATO DE CASO URETEROCELE IN A NEONATE DOG: A CASE REPORT URETEROCELE EN PERRO NEONATO: RELATO DEL CASO Vania Gomes Schuwartz Tannouz1 Rosaura Leite Rodrigues2 Ana Luiza Pimenta2 Marcelo Abidu-Figueiredo3 INTRODUÇÃO O diagnóstico de doença ureteral primária é relativamente raro em pequenos animais, porém existe um número considerável de anomalias congênitas e adquiridas que afetam o ureter e que podem gerar danos à função renal (1,2). As anomalias congênitas são as causas mais comuns de incontinência urinária de cães jovens (3). Ureteroceles são anomalias congênitas que se caracterizam por dilatações císticas da região submucosa que acometem o segmento distal do ureter. São freqüentemente observadas em seres humanos, mas são raros os achados em cães. Ureterocele intravesical em cães normalmente é assintomática e, apesar de poucos diagnósticos, são causas importantes de obstrução (1,2,4,5). A ultrassonografia tem se mostrado um importante meio de diagnóstico pré-natal de processos patológicos do sistema urinário. É um método rápido, seguro e não invasivo de visualização das estruturas do sistema urinário para a avaliação da arquitetura interna e da topografia (2,5). Este relato descreve um achado raro de uma anomalia congênita do ureter fetal em uma avaliação pré-natal, através do exame ultrassonográfico. Palavras-chave: ultrassonografia, sistema urinário, anomalia congênita, cão. 1- Médica Veterinária do Setor de Ultrassonografia do Centro de Apoio e Diagnóstico Veterinário – CAD – Rio de Janeiro – RJ. E-mail: [email protected] 2 - Médica Veterinária do Serviço de Anatomia Patológica do Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman – Rio de Janeiro – RJ. 3 - Docente da Área de Anatomia Animal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ – Rio de Janeiro - RJ. ____________________________________________________________________________________________________ I Simpósio Internacional de Ultrassonografia em Pequenos Animais, 01 a 03 de julho de 2011, Botucatu, SP, Brasil. 113 ISSN 0102-5716 Vet e Zootec. 2012; 19(1 Supl 1): ________________________________________________________________________________________________ RELATO DO CASO Ao exame ultrassonográfico pré-natal de uma cadela da raça cocker spaniel inglês, de 1 ano de idade, com 56 dias de gestação, e presença de 6 fetos vivos, visualizou-se na cavidade peritoneal de um deles estruturas tubulares com conteúdo anecogênico, sem evidência de peristaltismo, sugerindo um processo de dilatação do ureter por possível obstrução do trato urinário inferior. Cinco dias após o parto foi solicitado um ultrassom abdominal do mesmo, uma fêmea, que desde os dois dias de idade apresentava distensão e dor abdominal, apatia e hiporexia. No exame observou-se rim direito com a cortical homogênea, medindo 0,9 cm de espessura e o esquerdo com cortical parcialmente visualizada, ambos apresentando grande dilatação pielocalicial, mais evidente no rim esquerdo, compatível com hidronefrose. Observou-se a presença de estruturas tubulares, com 1,5 cm de diâmetro e conteúdo anecóico com celularidade em suspensão, sem evidência de peristaltismo, compatível com hidroureter, concluindo o diagnóstico de processo obstrutivo do trato urinário. O animal veio a óbito e na avaliação anatomo-histopatológico observou-se uma malformação localizada no interior da vesícula urinária em nível do óstio ureteral esquerdo, caracterizada por uma estrutura cística de 0,8 cm de diâmetro, obstruindo totalmente o próprio e parcialmente o contralateral. Foi diagnosticada também a presença bilateral de hidronefrose, hidroureter e pielonefrite com abscesso renal. A parede da estrutura cística era constituída por feixes de músculo liso em meio a tecido conjuntivo estromal revestido internamente por epitélio cubóide, sugerindo diagnóstico de ureterocele tópica. DISCUSSÃO A ultrassonografia é um meio diagnóstico importante para avaliação gestacional em várias espécies. É considerada uma técnica complementar de diagnóstico, de fundamental importância para avaliação de patologias do sistema urinário em cães, tais como: infarto, fibrose, hidronefrose, nefrocalcinose, nefrite, necrose tubular, hematoma, neoplasias, cistos, abscessos, cálculos renais e doença metastática renal (1,2,5,6,7,8). Utilizada como método para diagnóstico de ureter ectópico, ureterocele e outras causas de obstrução ureteral, porém apresenta limitações para a avaliação do ureter hígido (2,5,7,8,9). Em pacientes debilitados, quando a cirurgia exploratória ou o uso de agentes de contraste e sedativos para procedimentos radiográficos especiais são contra-indicados, é a melhor indicação diagnóstica. Em humanos o diagnóstico de anomalias congênitas pelo ultrassom é mais comum devido à presença de um feto único e grande, na maioria dos casos. No entanto, no cão, anomalias fetais não são comumente detectadas devido à presença de fetos múltiplos, o que não torna possível uma imagem individualizada, precisa e segura de cada feto durante o final da gestação, fase em que a maioria das anormalidades congênitas se apresentam (10,11). Ureteroceles são anomalias congênitas, que ocorrem em sua maioria em fêmeas caninas e se caracterizam por dilatações císticas da região submucosa. Acometem o segmento distal do ureter, podendo resultar em um abaulamento do segmento dilatado para dentro da vesícula urinária, sendo classificada em tópica ou ectópica de acordo com a localização da ureterocele e do orifício ureteral, podendo ser uni ou bilateral. Ureterocele tópica localiza-se na junção uretero-vesical e a ectópica caudalmente ao sítio normal, dentro do colo da bexiga ou na uretra. Complicações da ureterocele incluem, infecção recorrente do trato urinário, formação de cálculos, incontinência urinária, obstrução do colo da bexiga ou uretra, podendo causar hidronefrose com danos irreversíveis ao rim (1,2,3,4,5,6,9). A ureterocele apresenta-se ao exame ultrassonográfico como uma estrutura anecóica circular, localizada na região do trígono vesical, com uma fina parede hiperecóica, localizada dentro da bexiga (3,5,6). No ____________________________________________________________________________________________________ I Simpósio Internacional de Ultrassonografia em Pequenos Animais, 01 a 03 de julho de 2011, Botucatu, SP, Brasil. 114 ISSN 0102-5716 Vet e Zootec. 2012; 19(1 Supl 1): ________________________________________________________________________________________________ presente trabalho a bexiga não foi visibilizada durante a avaliação do neonato, provavelmente por pequena repleção e sobreposição dos ureteres. CONCLUSÃO Com o aumento do uso do ultrassom no pré-natal, em neonatos e em animais jovens, há uma maior ocorrência de diagnóstico de anomalias congênitas. O diagnóstico precoce das anomalias do trato urinário pode favorecer a correções cirúrgicas evitando desta forma o aparecimento de infecções urinárias recorrentes que levam à lesão renal irreversível. REFERÊNCIAS 1. Kruger JM, Osborne CA, Lulich JP, Polzin DP, Fitzgerald SD. O sistema urinário. In: Hoskins JD. 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