A Política Regional Portuguesa e as Economias de Aglomeração por José Pedro Pontes (Instituto Superior de Economia e Gestão/Universidade Técnica de Lisboa) 1 Conceitos e medidas da aglomeração "Economia de aglomeração" é o ganho de eficiência de actividades produtivas em situação de proximidade geográfica. Dois tipos: Economias de localização Economias de urbanização A Política Regional não visa a aglomeração em si, mas sim: • As desigualdades regionais de PIB per capita (Objectivo 1: regiões com menos de 75% da média da UE) • A taxa de desemprego como sintoma de reconversão estrutural (Objectivo 2) As diferenças no nível de aglomeração podem derivar de: • Diferenças de PIB per capita (de produtividade) • Diferenças de densidade populacional • Intensidade de correlação entre PIB per capita e densidade populacional (reflectindo movimentos migratórios). Há uma correlação negativa fraca entre aglomeração e desemprego, via procura espacial de trabalho, mas há outros factores de emprego ligados à oferta de trabalho. 2 As economias de aglomeração em Portugal no contexto da União Europeia (UE) UE: • Convergência de rendimento per capita, entre países, divergência entre regiões do mesmo país. • Polarização crescente na distribuição regional das taxas de desemprego. • Diferenciação pela especialização das estruturas produtivas nacionais. Portugal: • Convergência em média para a UE em PIB per capita, entre 1995 e 2002. • Convergência ténue em rendimento per capita entre as regiões portuguesas entre 1995 e 2002. • Menor polarização da taxa de desemprego entre 1995 e 2002. • Manutenção da especialização produtiva em termos de exportações. Factos sobre a aglomeração em Portugal • Maior crescimento em densidade de emprego entre 1995 e 2002 das regiões de alta e média densidade produtiva: processo de (re)localização sequen- cial. • Existência de 27 indústrias (SIC a três dígitos) com localização acima da média: • Indústrias tradicionais: motocicletas e bibicletas, curtumes, joalharia, têxteis, calçado, cerâmicas, cortiça. • Indústrias tecnologicamente mais avançadas: material para aparelhos de rádio e televisão, automóvel, máquinas e equipamentos vários, metalúrgicas básicas, farmacêutica. • Indústrias ligadas ao mar: construção naval e transformação de produtos marinhos. • As regiões de localização são o corredor litoral entre Lisboa e Porto (com relevo para os concelhos em torno do Porto/Aveiro, Coimbra/Leiria, e, em menor grau, Lisboa) e os concelhos do centro interior em torno da Serra da da Estrela. 3 A especificidade portuguesa no conjunto da UE • A mobilidade do trabalho em Portugal é maior e os mercados de trabalho são mais flexíveis que na média da UE. A população concentrou-se no litoral e nas grandes cidades. • Entre 1985 e 1998, os custos de transporte entre as cidades capitais de distrito cairam "drasticamente" (≈ 45%) devido à expansão da rede de estradas. • Estes dois factos conduzem a uma concentração da actividade produtiva e a uma igualização dos rendimentos per capita e dos salários entre as regiões (modelo de Krugman, 1991) • A flexibilidade salarial explica a existência de alguma descentralização industrial de regiões de maior densidade para regiões de densidade intermédia, a fim de explorar custos de produção mais baixos (modelo de Krugman-Venables, 1995) 4 A Política Regional Europeia e a aglomeração em Portugal • A Política Regional Europeia envolve um conjunto de Fundos Estruturais (FEDER, FSE), com três tipos de intervenção: apoios à formação profissional, subsídios, infraestruturas de transporte. • Não é possível afirmar sem ambiguidade que a aglomeração existente é inferior ou superior ao nível socialmente óptimo. É possível afirmar que é excessiva em termos de equidade entre regiões. • Os apoios à formação profissional promovem o crescimento agregado e a diminuiçãodas assimetrias regionais. • Com a diminuição dos custos de transporte, reduzemse também as vantagens (ou "rendas" ) de aglomeração, sendo o montante de subsídios necessário para incentivar uma empresa a deixar uma aglomeração muito menor. • Até 2010, a expansão da rede de estradas provocará uma queda de 42% dos custos de transporte, servindo em particular as regiões mais periféricas. A ênfase da rede de transportes sobre o comboio de alta velocidade será um factor de concentração geográfica da actividade produtiva. 5 Conclusão • A melhoria dos transportes pode provocar alguma relocalização industrial de regiões densas e de custos de produção altos para regiões de densidade intermédia e custos de produção mais baixos • No entanto, ela determinará basicamente uma concentração espacial da população e da actividade produtiva. • Assim, a política de transportes não é suficiente para promover a equidade espacial, devendo ser complementada pela atribuição de subsídios de montante modesto e natureza temporária à localização de mepresas no exterior das aglomerações tradicionais.