HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA I CÓDIGO: HF329 C. H. SEMANAL: 04 PROFESSORA: Maria Adriana Camargo Cappello SEMESTRE: 2º/2016 C. H. TOTAL: 60 EMENTA (parte permanente) Estudo de um ou mais autores clássicos e/ou temas fundamentais do Grande Racionalismo filosófico (Descartes, Espinosa, Malebranche, Leibniz). PROGRAMA (parte variável) O Problema da liberdade na filosofia de Descartes No presente curso propomos abordar o problema da liberdade na filosofia de Descartes, centrando-nos na ambiguidade entre uma concepção de liberdade que ora se apresenta como livre arbítrio – entendido como poder de opostos –, ora se apresenta como espontaneidade – adequação entre a vontade e o entendimento humanos. Pretendemos tratar tal questão segundo a hipótese de que esta ambiguidade reflete a oscilação, que entendemos ser traço marcante do pensamento cartesiano, entre o privilégio dado à autonomia humana e aquele concedido à inserção do homem na ordem da criação. De fato, para além da afirmação de um poder humano absoluto de escolha, a liberdade envolve, em Descartes – no que ela tangencia o problema do conhecimento ou da possibilidade de evitar o erro –, certa prevalência do entendimento sobre a vontade e, nesse sentido, a determinação da vontade humana infinita por seu entendimento finito. É certo que essa prevalência do entendimento sobre a vontade não denotaria uma divisão no interior mesmo do eu, mas, ao contrário, apontaria para uma unidade maior, aquela, justamente, da indissociabilidade entre vontade e entendimento existente no âmbito do Criador e a que a criatura humana – imagem privilegiada de seu criador - naturalmente tenderia. Tal concepção envolveria, portanto, uma caracterização de liberdade como espontaneidade, ou acordo dos atos do homem com sua própria natureza, ela própria harmonizada na unidade indissociável de uma vontade que emula o entendimento e de um entendimento que ilumina a vontade. Nesse sentido, acreditamos poder dizer que,segundo a concepção da liberdade como espontaneidade, é o acordo do homem com a ordem divina – na qual ele foi criado e da qual ele ganha sua natureza – que o faz livre, ao passo que, na concepção da liberdade como poder absoluto de escolha – na medida justamente em que tal poder garante que se possa escolher até mesmo contra Deus e a ordem divina – é a autonomia humana que se impõe. De um lado, portanto, afirmação do ponto de vista humano que, de resto, colocaria o homem como um observador estático e exterior às possibilidades que lhe são apresentadas em um mundo criado e as quais ele deve afirmar ou negar. De outro lado, ênfase na realização da ordem divina pela qual, ao contrário, o homem seria menos passível de ser caracterizado como este “ponto fora da curva”, este observador exterior aos acontecimentos, e mais como uma criatura engajada em um movimento, justamente aquele movimento emulado pela vontade no sentido da compreensão da ordem de criação na qual ele está inserido e no qual sua liberdade, enquanto harmonia com sua natureza, espontaneidade, se realizaria. É assim que propomos a discussão de tais questões, a partir da análise dos textos cartesianos em que elas são expostas e à luz de alguns de seus comentários clássicos, entre eles os de Étienne Gilson, Jean Laporte, Ferdinand Alquié e Lívio Teixeira. PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS Aulas expositivas e seminários. FORMAS DE AVALIAÇÃO Dissertação sobre tema a ser definido. BIBLIOGRAFIA MÍNIMA DESCARTES, R. “Meditações” / “Objeções e respostas”. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. In: Os Pensadores, vol. Descartes. São Paulo: Abril Cultural, 1973. ______________. Princípios da filosofia. Trad. Guido Antônio de Almeida (coord.) Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002. ______________. “Lettre a Mersenne, Amsterdam, 15 avril 1630”; “Lettre a Mersenne, Amsterdam, 6 mai 1630”; “Lettre a Mersenne, Amsterdam, 27 mai 1630”; “Lettreau P. Mesland, Leyde, 2 mai 1644”; “Lettre ao P. Mesland, Egmond, 9 février 1645” In: DESCARTES. Ouvres et Lettres. Paris: Gallimard, 2008. COMENTADORES ALQUIÉ, F. La découvertemétaphysique de l’hommechez Descartes. Paris: PUF, 2000. GILSON, E. La liberte chez Descartes et lathéologie. Paris, Vrin, 2013. LAPORTE, J. "La libertéselon Descartes". In: Revue de Métaphysiqueet de Morale, janeiro de 1937. SARTRE, J-P. "A liberdade cartesiana." In: Situações I - críticas literárias. São Paulo: Cosacnaif, 2005. TEIXEIRA, L. Ensaio sobre a moral de Descartes. São Paulo: Brasiliense. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ALQUIÉ, F. A Filosofia de Descartes. Lisboa: Editorial Presença, 1993. BEYSSADE., J.- M. La philosophie première de Descartes. Paris: Flammarion, 1979. DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ______________. Discurso do Método. Introd., análise e notas Etienne Gilson. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______________. As Paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998. GUEROULT, M. Descartes selonl'ordredesraisons. Paris: Aubier, 1968. MARION, J. L. Sobre a ontologia cinzenta de Descartes. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. SILVA, F. L.Descartes - a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2006.