UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE GENÉTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA Avaliação da presença de Papilomavírus bovino em sêmen de touros (Bos taurus) Maria Angélica Ramos da Silva Recife, PE 2008 Maria Angélica Ramos da Silva Avaliação da presença de Papilomavírus bovino em sêmen de touros (Bos taurus) em Pernambuco Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Genética da Universidade Federal de Pernambuco para a obtenção do grau de Mestre em Genética. Orientador: Prof. Dr. José Ferreira dos Santos, Depto. de Genética, Centro de Ciências Biológicas, UFPE. Co-Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos de Freitas, Depto. de Genética, Centro de Ciências Biológicas, UFPE. Silva, Maria Angélica Ramos da Avaliação da presença de Papilomavírus bovino em sêmen de touros (Bos taurus)/ Maria Angélica Ramos da Silva – Recife: O Autor, 2008 46 folhas: il., fig., tab. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCB. Genética, 2009. Inclui bibliografia e anexos 1. Papilomavírus bovino. 2. Touro-sêmen. 3. bovinos- infecção viral. 4. vírus-genética I Título. 578.26 579.224 5 CDU (2.ed.) CDD (22.ed.) UFPE CCB – 2009- 116 SUMÁRIO Lista de Figuras i Lista de Tabelas iii Lista de Abreviações iv Resumo v 1. Introdução 1 2. Revisão da Literatura 2 2.1. Papilomavírus 2 2.2. Papilomavírus Bovino (BPV) 6 2.3. Trato Reprodutor Masculino 8 2.4. Infecções no Trato Reprodutor Masculino 9 2.5. Papilomavírus e Trato Reprodutor Masculino 12 2.6. Detecção de Papilomavírus 13 3. Referências Bibliográficas 15 4. Manuscrito de Artigo Científico 24 5. Conclusões 44 6. Abstract 45 7. Anexos 56 LISTA DE FIGURAS Revisão da Literatura Figura 1: Diagrama da organizaçao do genoma de BPV1. O genoma viral 3 está representado linearmente com as regiões abertas de leitura (ORF) como retângulos. Figura 2: Ciclo de vida do Papilomavírus Bovino. 4 Figura 3: Árvore Filogenética com a disposição dos grupos de Papilomavírus Bovino 6 Manuscrito de Artigo Científico Figura 1 – Amplificação por PCR de DNA de PV com os primers 42 MY09/11 em amostras de sêmen congelado (espermatozóide) de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir Leiteiro. Figura 2 – Amplificação por PCR de DNA de BPV2 em amostras de 42 sêmen congelado (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir Leiteiro. Figura 3 – Amplificação por PCR de DNA de BPV3/6 em amostras de 42 sêmen congelado (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir leitero. Figura 4 – Amplificação por PCR de DNA de PV com os primers 42 MY09/11 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide) de touros (Bos taurus). Figura 5 – Amplificação por PCR de DNA de BPV2 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus). 43 Figura 6 – Amplificação por PCR de DNA de BPV2 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus). 43 LISTA DE TABELAS Artigo Científico Tabela 1: Primers utilizados para detecção de Papilomavírus e 40 amplificação do gene β-globina bovina. Tabela 2: Detecção de DNA de Papilomavírus em amostras de 40 espermatozóides e plasma seminal de sêmen fresco e congelado de touros (Bos taurus). Tabela 3 – Detecção de DNA de BPV em amostras de espermatozóides e 41 plasma seminal de sêmen congelado de touros (Bos taurus) em Pernambuco. Tabela 4 – Detecção de DNA de BPV em amostras de espermatozóides e plasma seminal de sêmen fresco de touros (Bos taurus). 41 LISTA DE ABREVIAÇÕES AVV: Vírus adeno associado BHV: Vírus da herpes bovina BIV: Vírus da imunodeficiência Bovina BLV: Vírus da leucemia bovina BPV: Papilomavírus bovino BVDV: Vírus da diarréia bovina CMVM: Citomegalovírus murino COPV: Papilomavírus oral canino CRPV: Papilomavírus do coelho cottontailI DNA: Ácido desoxirribonucléico E1 - 7: Genes de expressão imediata GI: Gastrointestinal HIV: Vírus da imunodeficiência humana HPV: Papilomavírus humano HSV: Vírus da herpes simples humana Kb: Kilobase kDa: Kilodalton L1- 2: Genes de expressão tardia LCR: Longa região de controle da transcrição ORF: Quadro aberto de leitura (Open reading frame) p53: Proteína 53 (fator de transcrição) PCR: Reação em cadeia da polimerase PCV: Circovírus suíno pRB: Proteína do retinoblastoma (supressora de tumor) PV: Papilomavírus RNA: Ácido ribonucléico VLP: Partículas semelhantes ao vírus (virus-like particles) RESUMO Os papilomavírus (PV) são vírus de DNA dupla fita que infectam o epitélio escamoso da pele e mucosa. O papilomavírus bovino (BPV) apresenta 10 diferentes tipos (BPV-1 a 10) e causam doenças em rebanhos de corte ou leiteiro, gerando grandes prejuízos econômicos aos criadores. A presença de BPV já foi detectada em tecidos reprodutivos e fluídos corporais, tais como sangue periférico, plasma sanguíneo, oócitos, ovário, útero, células do cúmulus, fluídos uterinos, sêmen e espermatozóide, placenta e líquido amniótico. O objetivo deste trabalho foi avaliar a presença do BPV, através da técnica PCR, em sêmen de touros (Bos taurus) fresco e comercializado no Estado de Pernambuco. Para isso, foram utilizados primers de detecção geral para PV e específicos para os tipos de BPV-1 a 6 em amostras de sêmen fresco e sêmen comercial de touros da raça Gir Leiteiro. Foi detectada a presença de DNA de BPV em 100% das amostras de sêmen analisadas. O tipo viral mais freqüente foi o BPV-2 em 100% das amostras analisadas, seguido por BPV-3 em 48% das amostras e BPV- 4 presente em 6,9% das amostras avaliadas. Houve detecção simultânea de mais um tipo de BPV em 51% das amostars de sêmen analisadas. Estes resultados demonstram a importância do estudo e de um melhor detalhamento da relação entre BPV e sêmen. Dada a grande utilização, a inseminação artificial com sêmen contaminado com BPV pode ter importância similar à via sexual para a dispersão viral entre o rebanho. Palavras-chave: Papilomavírus Bovino, Touro sêmen, PCR Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 1. INTRODUÇÃO Papilomavírus (PV) pertencem a um grupo altamente diverso e espécie-específico de vírus que infectam o homem e outros animais. Possuem DNA dupla fita circular com tamanho próximo a 8 Kb e peso molecular com cerca de 5,2x 106 daltons. Os PV infectam o epitélio escamoso da pele e mucosas. Estas infecções são, em muitos casos, assintomáticas, porém, também podem causar várias lesões benignas (papilomas) ou malignas em várias espécies de mamíferos. Embora não caracterize um processo neoplásico, a papilomatose bovina é uma doença importante economicamente por provocar desvalorização dos animais. Estas lesões são geralmente benignas, mas se acompanhadas de outras modificações celulares, induzidas por co-fatores ambientais, como por exemplo, o consumo da samambaia (Pteridium aquilinum) podem evoluir para câncer e causar a morte do animal. Sendo assim, o BPV tem sido estudado como um agente infeccioso e como modelo para se investigar a interação do papilomavírus com seu hospedeiro natural e com co-fatores ambientais. Atualmente, 10 tipos de Papilomavírus bovinos (BPV) já foram descritos com seus materiais genéticos detectados em fluidos corporais e tecidos reprodutivos, além do tecido epitelial, fonte natural de infecção do PV. Dessa forma, discute-se a possibilidade de disseminação do vírus através de fluidos e tecidos não epiteliais. A inseminação artificial (IA) e a transferência de embriões (TE) têm sido referidas como maneira de controle de doenças entre animais de interesse zootécnico, principalmente bovinos. Porém, é necessário um rigoroso controle sanitário do sêmen e/ou embriões para que estas técnicas não possam agir como facilitadores para a transmissão de uma série de doenças, pois a infecção do trato reprodutivo, bem como do sêmen por diversos tipos de vírus leva a conseqüências graves, como: i) disseminação do agente infeccioso; ii) infertilidade/esterilidade; iii) caquexia induzida por queda na produção de testosterona; iv) incorporação do genoma viral na célula germinativa, com risco de transmissão vertical; v) infecção do ovo ou embrião, levando a abortos ou anormalidades no desenvolvimento fetal. Alguns trabalhos relatam a presença de papilomavírus no trato reprodutor masculino e a associação com a queda da qualidade do sêmen e presença do vírus é discutida em humanos. Em bovinos, as informações relacionadas aos BPV e sêmen são escassas, necessitando, portanto, demaiores estudos para avaliar a real importância deste agente nos processos reprodutivos. -1- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Papilomavírus Os papilomavírus (PV) formam um grupo altamente diversificado de vírus que infecta mamíferos, aves e répteis (Bernard, 2005), porém são estritamente espécie-específicos e até mesmo em condições experimentais, não infectam outro hospedeiro que não o seu natural. Os casos conhecidos de infecção cruzada entre espécies são de cavalos e outros eqüídeos pelo papilomavírus bovino (BPV) tipo 1 e 2 (Campo, 2002), e a infecção de bisão (Bison bonasus) pelo recentemente descrito BPV 8 (Literak et al., 2006). Inicialmente, os papilomavírus eram classificados na subfamília Papilomavirinae, dentro da família Papovaviridade que incluíam os Polyomavírus (Bernard, 2005). Recentemente, os PV foram re-classificados e formam a grande família Papilomaviridade, que compreende 16 gêneros diferentes (Mayo, 2005), seguindo a nomenclatura com letras Gregas usadas para outras famílias virais (de Villiers et al., 2004). Para identificação de novos tipos de PV, tem sido utilizada a seqüência de nucleotídeos do gene L1, por ser o mais conservado do genoma. Um PV isolado é reconhecido como novo se o seu genoma completo for clonado e a seqüência da ORF (quadro aberto de leitura, de Open Reading Frame) L1 divergir em mais de 10% do tipo de PV conhecido mais próximo. Diferenças entre 2% e 10% de homologia definem um subtipo, e menor que 2% uma variante (de Villiers et al., 2004). Todos os PV contêm um DNA dupla-fita circular, com tamanho aproximado de 8Kb e peso molecular de cerca de 5,6x102 Dalton e pode ser dividido, em geral, em três principais regiões: precoce (E, do inglês early), tardia (L, de late) e longa região de controle (LCR, long control region) (Figura 1). As três regiões são separadas por dois sítios de poliadenilação (pA): o sítio na região precoce (pAE) e outro na região tardia (pAL) (Zheng & Baker, 2006). A informação genética está distribuída em pelo menos oito ORF no genoma dos papilomavírus. Em geral, cada ORF nos papilomavírus é freqüentemente referida como um gene. Os genes de expressão precoce (E) codificam proteínas envolvidas na replicação do DNA (E1 e E2), na -2- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... transcrição (E2 e E4) e no processo de transformação celular (E5, E6 e E7). Os genes de expressão tardia (L) codificam as proteínas L1 e L2 que formam o capsídio viral (Campo, 2003). A proteína L1, a principal, está arranjada em 72 pentâmeros (60 hexaméricos e 12 pentaméricos) e possui capacidade de se auto-arranjar em VLPs (virus-like particles). A proteína L2 é uma ligante de DNA, necessária para a encapsidação do genoma (Campo, 1995). A região LCR é um segmento de cerca de 850 pb (10% do genoma de HPV), possui uma função não-codificante, mas contém a origem de replicação, assim como muitos sítios ligantes de fatores de transcrição que são importantes na regulação da RNA polimerase (Zheg & Baker, 2006). Os vírions possuem uma estrutura não envelopada icosaédrica, com tamanho aproximado de 55nm, que contém o DNA complexado com histonas do hospedeiro e condensado em nucleossomos (Chang, 1990; zur Hausen, 1996). Figura 1: Diagrama da organização do genoma de BPV1. O genoma viral está representado linearmente com as regiões abertas de leitura (ORF) como retângulos. A função das proteínas codificadas pelas ORF estão indicadas (Campo, 2006). -3- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... A replicação do vírus ocorre nas células basais do epitélio, estimulando a divisão celular e provocando hiperproliferação, crescimento excessivo dessas células, formando as verrugas ou papilomas (Campo, 2002). Em geral, os papilomas regridem espontaneamente sem causar problemas clínicos em seus hospedeiros (Campo, 1997). Esta hiperproliferação ocorre mais freqüentemente nas células epiteliais da pele ou mucosas, mas alguns tipos de vírus podem infectar fibroblastos. Os PV induzem tumores benignos que, eventualmente, quando fatores genéticos ou ambientais estão envolvidos, podem resultar em conversão maligna (Campo, 2002). O ciclo de vida dos PV está intimamente ligado à diferenciação epitelial, já que se replicam no epitélio escamoso estratificado da pele e mucosas. As células infectadas se dividem e espalham lateralmente (Figura 2). Algumas células migram para as camadas suprabasais e se diferenciam onde genes virais são ativados formando o capisídio viral (zur Hausen, 2002). A liberação dos vírions não envelopados depende da desintegração celular normal, tipicamente observada próxima à superfície do epitélio. A dificuldade de mimetizar a diferenciação do epitélio estratificado em culturas de células tem sido um desafio para o estudo do ciclo de vida desses vírus. Dessa forma, muito do que se sabe sobre a morfogênese deriva do estudo de versões recombinantes das proteínas estruturais L1 e L2 (Buck et al., 2005). Figura 2: Ciclo de vida do Papilomavírus Bovino, seguindo a diferenciação do epitélio (Campo, 1997). -4- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Ainda não foi completamente elucidado como fatores carcinogênicos e agentes promotores estão envolvidos em diferentes estágios do desenvolvimento de papilomas e carcinomas, porém já foram descobertos dois estágios do mecanismo de carcinogênese, a iniciação e a promoção, que têm componentes independentes (zur Hausen, 1996). A ação oncogênica viral envolve a expressão de genes que codificam proteínas precoces (E6 e E7) dentro da célula hospedeira. Estas oncoproteínas interferem no controle do ciclo celular através de interação com proteínas celulares específicas, tais como a proteína 53 33(p53) e a proteína do retinoblastoma (pRB) (Campo, 2003). A transmissão das papilomaviroses é facilitada pela presença de abrasões na superfície do epitélio. As infecções anogenitais são principalmente transmitidas pelo contato sexual (zur Hausen, 1996). O papilomavírus humano (HPV) é a principal doença transmitida sexualmente (Dunne et al., 2006) e também o principal agente etiológico de neoplasias do epitélio cutâneo e mucoso. Mais de 200 tipos de HPV já foram descobertos e cerca de 35 deles estão associados com o câncer (zur Hausen, 2002). Grande parte das infecções são assintomáticas ou subclínicas e mantêm-se indetectáveis através do tempo. Os PV parecem coexistir com seus hospedeiros por longos períodos de tempo, alguns ocorrem preferencialmente em um ciclo de vida latente, pois uma grande variedade de tipos de PV já foi isolada de pessoas e animais aparentemente saudáveis (Antonsson & Hansson, 2002; Antonsson et al., 2003a; Antonsson et al, 2003b; Ogawa et al. 2004). Os PV que infectam animais têm tido grande importância na investigação da biologia do vírus, da sua relação com o hospedeiro e sua resposta imune, além de possibilitarem o desenvolvimento de vacinas anti-papilomavírus. A ligação entre infecção por PV e neoplasia e a relação entre o vírus e co-carcinógenos ambientais foram primeiro estabelecidas para PV de animais, particularmente os PV de coelho, cottontailI (CRPV), bovino (BPV) e oral canino (COPV) (Campo, 2002). -5- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 2.2 Papilomavírus bovino Atualmente, existem 10 tipos de BPV (BPV-1 a 10) descritos na literatura. Originalmente, os BPV foram classificados em dois subgrupos, A e B, tomando-se como base a estrutura genômica e a patologia. O subgrupo A era compreendido pelos tipos 1, 2 e 5, os quais eram definidos como fibropapilomavírus por infectarem tanto o epitélio como a subdérmica, formando fibropapilomas. O subgrupo B compreendia os tipos 3, 4 e 6, por serem epteliotrópicos e infectarem apenas células epiteliais (queratinócitos), induzindo a formação de papilomas verdadeiros (Campo, 2002). De acordo com a nomenclatura atual, que leva em consideração as propriedades biológicas e organização do genoma, os BPV epiteliotrópicos (BPV-3, 4, 6, 9 e 10) são definidos como Xi-papilomavírus, os BPV-1 e 2 como Delta-papilomavírus e os BPV-5 e 8 são classificados no gênero Epsilon-papilomavírus (de Villers et al, 2004; Tomita et al., 2007; Hatama et al, 2008). Análises filogenéticas baseadas na ORF L1 classificaram um isolado de BPV do Japão como BPV7, originando um novo gênero na família Papillomaviridae (Ogawa et al., 2007) (Figura 3). Além destes tipos bem caracterizados, 14 supostos novos tipos de BPV já foram isolados, baseando-se em técnicas de PCR que amplificam uma região do gene L1 (Antonsson & Hansson, 2002; Ogawa et al, 2004; Ogawa et al., 2007; Tomita et al., 2007). Figura 3: Árvore Filogenética com a disposição dos grupos de Papilomavírus bovino (Hatama et al., 2008). -6- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... A estrutura genômica viral dos BPV 1, 2 e 5 é semelhantes a outros PV possuindo aproximadamente 8000 nucleotídeos. Já os BPV 3, 4 e 6 possuem cerca de 7300 nucleotídeos e não possuem o gene E6, que codifica uma proteína precoce com função de transformação celular. A região LCR dos BPV 1, 2 e 5 contém 12 sítios ligantes de DNA para E2 (E2BS), um regulador da transcrição viral, enquanto os BPVs 3, 4 e 6 possuem apenas 4 E2BS, com um arranjo muito semelhante aos HPV genitais. Embora os Xi-BPV não possuam a proteína E6, estes vírus conseguem realizar seus ciclos infecciosos com sucesso e até mesmo causar a progressão de papilomas a carcinoma (BPV4) (Campo, 2006). As infecções pelos fibropapilomavírus começam por uma transformação inicial dos fibroblastos sub-epiteliais seguida por acantose e então papilomatoses, enquanto que as infecções pelos papilomavírus epiteliotrópicos induzem papilomas epiteliais sem envolvimento dos fibroblastos. O BPV-1 e o BPV-2 são os principais agentes de fibropapilomas cutâneos. O BPV-1 também pode causar fibropapilomas nas mamas e no pênis e o BPV-2, fibropapilomas do trato digestório. O BPV-5 causa fibropapilomas em forma de grão de arroz no úbere e os BPV-3, 4 e 6 foram isolados de papilomas epiteliais cutâneos, papilomas no epitélio alimentar e papiloma epitelial na teta, respectivamente (Bloch et al., 1994; Campo, 1997). Infecções persistentes induzidas por BPV estão arriscadas em progredir para o câncer, principalmente quando associadas a co-fatores ambientais como o consumo do broto da samambaia Pteridium aquilinum (Campo, 2006), uma planta invasora e cosmopolita de regiões tropicais e temperadas que infesta campos e contém agentes imunossupressores e mutagênicos. O consumo desta samambaia pelo gado pode levar ao desenvolvimento de hematúria enzoótica, câncer de bexiga urinária, com a presença de aberrações cromossômicas no sangue periférico (Stocco dos Santos et al., 1998; Borzachielo et al., 2003; Campo, 2006). Em gado que se alimenta com samambaia, papilomas do trato gastro-intestinal superior induzidos por BPV-4 e lesões na bexiga urinária induzidas por BPV-2 e 1 podem progredir para o câncer (Wosiacki et al., 2002; Campo, 2006, Wosiacki et al., 2006; Borzacchielo, 2007). Embora o BPV seja descrito com epitélio específico, a sua presença já foi encontrada em diferentes tecidos e fluidos, tais como sangue periférico, plasma sanguíneo, leite e colostro (Stocco dos Santos et al., 1998; Freitas et al., 2003; Wosiacki et al., 2005; Freitas et al., 2007) e tecidos reprodutivos, incluindo oócitos, ovário, útero, células do cúmulus, fluidos uterinos, sêmen -7- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... e espermatozóide (Carvalho et al., 2003; Yaguiu et al., 2006), bem como placenta e líquido amniótico (Freitas et al., 2007). 2.3 Trato Reprodutor Masculino O trato reprodutor masculino é composto por testículos que são formados por dois compartimentos distintos: o primeiro é o interstício, que possui as células de Leydig, responsáveis pela produção de testosterona, macrófagos, fibroblastos e vasos linfáticos; o segundo compartimento são os túbulos seminíferos, que são circundados por células peritubulares e contém várias gerações de células germinativas. Os espermatozóides, formados nos túbulos seminíferos, passam através deles até o epidídimo, ducto deferente e uretra. O trato reprodutor masculino é composto também por glândulas acessórias (glândulas bulbouretrais, vesícula seminal e próstata) e o pênis, órgão sexual masculino externo (Deucq-Rainsford & Jégou, 2004). O espermatozóide, gameta masculino, é uma célula altamente polarizada, sendo formada na maioria dos mamíferos por três regiões distintas: a cabeça, contendo o núcleo da célula com uma camada muito fina de citoplasma em seu redor, circundada pela membrana celular, além do acrossomo, uma grande organela vesicular que reveste dois terços anteriores da cabeça do espermatozóide e contém enzimas envolvidas no processo de fecundação; uma região mediana, contendo mitocôndrias; e a cauda, que contém dois componentes principais, um esqueleto central e uma delgada membrana celular, sendo responsável pela motilidade da célula. A cromatina espermática é composta por uma estrutura compacta e altamente organizada de DNA e proteínas heterogêneas (Evenson, 1999). Em alguns animais como estrela-do-mar e rãs, o DNA do espermatozóide parece estar arranjado em nucleossomos, de uma maneira similar às células somáticas. Já em outros animais, como mamíferos, o DNA parece estar arranjado de maneira diferente, condensado de forma quase cristalina e associado com apenas um tipo de proteína, as protaminas (Balhorn, 1982). -8- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 2.4 Infecções no Trato Reprodutor Masculino As infecções mais comuns que acometem o trato reprodutor masculino são sexualmente transmissíveis. Os patógenos que causam infecções transmitidas sexualmente podem provocar doenças fatais ou incuráveis e afetar a fertilidade. Além disso, pode ocorrer a transmissão dos patógenos por processos de inseminação artificial e a transmissão vertical (Bezold et al, 2007). Vários microrganismos causam infecções no trato reprodutor masculino, dentre eles as bactérias Neisseria gonorreae e Chlamidia tracomatis, a mais freqüentemente transmitida sexualmente em países industrializados, que causa uretrites e epidimites (Quinn et al, 1996), micoplasmas como Ureoplasma urealyticum, responsável por mais de 25% dos casos de uretrite não gonocócica (Keck, 1998) e vários vírus. Estes incluem citomegalovírus (CMV), vírus Epstein-Barr (EBV), Papilomavírus (PV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), herpes simplex vírus tipo 2 (HSV-2) e vírus da imunodeficiência humana (HIV) (Dejug & Jégou, 2001). Em uma revisão, Dejucq & Jégou (2001) citam a presença de 27 diferentes tipos virais no sêmen do homem, primatas, touros, porco do mato, rato, Xenopus laevis e gatos. Existe uma variedade de implicações relativas às infecções virais no trato reprodutor e no sêmen, que incluem a disseminação de doenças, infertilidade/esterilidade, caquexia resultante na queda da produção de testosterona, incorporação do genoma viral nas células germinativas, levando ao risco de transmissão para as gerações subseqüentes, infecções do ovo e embrião, aborto e anormalidades embriônicas e fetais (Dejug & Jégou, 2001). A presença viral nos testículos pode levar a orquite e possivelmente câncer testicular, e estes órgãos podem servir de reservatórios para vírus devido à barreira testículo-sanguínea. Sobre a próstata, existem estudos controversos que procuram demonstrar uma relação entre HPV e câncer de próstata (Griffthis & Mellon, 2000; Dejug & Jégou, 2004). Papilomavírus também podem causar lesões na genitália externa (verrugas), períneo, pênis, bexiga ou ânus. Certos tipos de HPV produzem displasias que podem progredir para o câncer (zur Haussen, 1996; Schlehofer, 2003). As infecções virais e bacterianas são postuladas como um importante fator etiológico para a infertilidade masculina (Keck et al., 1998; Coskun & Ozkan, 2005). Esta pode se dar por deterioração da espermiogênese, impedimento da função espermática e obstrução do trato seminal (Bar-Chama & Fisch, 1993; Pruvis & Chritiansen, 1993). O aumento da concentração de -9- Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... leucócitos no trato seminal pode induzir a formação de anticorpos anti-espermatozóides. No entanto, a associação de infecções no trato genital masculino e anticorpos antispermatozóide ainda não foi bem estabelecida (Wolff et al., 1990). Alguns vírus podem causar infecções subclínicas ou assintomáticas. Estas infecções são muito comuns e podem contribuir para a infertilidade masculina, pois estão associadas com uma redução na qualidade do sêmen e azoo/oligospermia, morfologia anormal espermática, hematospermia, astenospermia e quebra no DNA da célula espermática (Schlehofer, 2003; Bezold et al, 2007). Os vírus também estão implicados na transmissão vertical e possível causa de abortos, visto que eles podem impedir a implantação normal do concepto e a placentação (Arechavaleta-Velasco et al., 2002; Matovita et al., 2004; Chenoweth, 2007). O HIV no sêmen pode não apenas ligar-se ao espermatozóide como também penetrá-lo. Alguns vírus podem aderir à superfície do espermatozóide ou penetrá-lo e alguns estão associados ao líquido seminal ou células não espermáticas presentes no sêmen (Bielanski, 2007). Partículas virais podem ser transferidas para o ovócito (Bacetti et al., 1994). O Vírus adenoassociado (AVV) é citado como uma possível causa de infertilidade masculina devido a quebras no DNA do espermatozóide (Rohde et al., 1999). Os vírus da herpes humano (HSV) e bovino (BHV) são causas de infecções genitais e abortos (Marsi et al., 1996). A origem da contaminação do sêmen pode ser infecções do trato reprodutor, processamento incorreto do sêmen, presença de células sanguíneas, traumas no epitélio ou inflamações nas glândulas acessórias (próstata, vesícula seminal ou bulbouretral), microorganismos presentes na urina e cavidade prepucial, utilização de derivados de animais como diluentes de sêmen ou contaminação resultante de laboratórios com pouca higiene (Bielanski, 2007). Embora os processos de reprodução assistida sejam usados para diferentes propósitos em humanos e animais, um objetivo comum é a prevenção da transmissão de doenças. Os procedimentos sanitários adotados para controle e eliminação de microrganismos no sêmen incluem lavagens que podem ser suplementadas com antibióticos e tratamentos enzimáticos, utilização de anticorpos, acidificação do meio, ozonização, uso de agentes fotossensíveis, ativados pela radiação luminosa e imunoextensores (anticorpos contra vírus). No entanto, ainda se faz necessário melhor investigação e aprimoramento dos processos de desinfecção do sêmen utilizado em técnicas de reprodução assistida (Bielanski, 2007). Processos de lavagem de sêmen - 10 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... para eliminação do vírus da diarréia bovina (BVDV), HPV, vírus da leucemia bovina (BLV) e vírus da imunodeficiência bovina (BIV) não resultaram muito sucesso para a eliminação desses vírus (Bielanski, 2007). Em animais, alguns vírus podem ser encontrados na próstata, como o vírus do tumor mamário de ratos (MMTV), vesícula seminal e epidídimo, como o rubulavírus porcino. Em touros, o vírus da diarréia bovina (BVD) foi encontrado na vesícula seminal e próstata (Dejucq & Jégou, 2001). Nos testículos de animais já foram encontrados o vírus da influenza (ratos), citomegalovírus (CMV) em ratos, vírus da sídrome respiratória reprodutiva porcina (PRRSV) em porcos, rubulavírus porcino (porcos) e vírus da imunodeficiência de símios (SIV) em macacos. No sêmen já foram detectados SIV (macacos), PRRSV (porcos), CMV (ratos), vírus da imunodeficiência felina (FIV) em gatos. Em touros, foi encontrada a presença de vírus da leucemia bovina (BLV), Bluetong virus (BT) vírus da diarréia viral bovina (BDVD), vírus da imunodeficiência bovina (BIV) vírus da rinotraqueíte infecciosa bovina (IBRV), herpesvírus bovino tipo 4 (BHV-4) e encefalopatia espongiforme bovina (BSE) (Dejucq & Jégou, 2001; Bielanski, 2007). Uma série de doenças pode ser transmitidas, em bovinos, tanto pelo acasalamento, quanto pela inseminação artificial, entre elas: febre aftosa, leucose bovina, rinotraqueíe bovina/vulvovaginie pustular infecciosa, riderpest, bluetong, diarréia bovina a vírus, febre catarral maligna, brucelose, tuberculose bovina, leptospirose, Johne’s disease, campilobacteriose genital, septicemia hemorrágica e tricomonose genital (Wentink et al, 2000). Existem alguns trabalhos que sugerem a possibilidade de alguns vírus penetrarem e integrar seu DNA no genoma do espermatozóide, o que impossibilitaria a retirada desses vírus por processos de lavagem. Esse vírus incluem HIV (Piomboni & Bacceti, 2000), HPV (Lai et al., 1997), circovirus porcino (PCV) (Larochelle et al, 2000), HSV1 e 2 e citomegalovírus murino (CMVM) (Bielanski, 2007). - 11 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 2.5 Papilomavírus e trato reprodutor masculino A presença de HPV em homens tem sido demonstrada na literatura (Watson, 2005; Dunne et al, 2006). Estes vírus podem causar lesões externas no trato reprodutor, conhecidas como condiloma acuminado, ou lesões que podem evoluir para o câncer na genitália externa, assim como na região anal (Watson, 2005). Além disso, existem estudos controversos sobre o HPV como agente etiológico do câncer de próstata (Griffthis & Mellon et al, 2000; Strickler et al, 1998). Estudos preliminares demonstram uma possível relação entre HPV e câncer de bexiga, renal e de testículos (Griffiths & Mellon, 2000). Nielson et al (2007) detectaram a presença de DNA de HPV em 65,4% de homens sem nenhum histórico de verrugas genitais em amostras de pênis (49,9%), glande (35,8%), escroto (34,2%), área perianal (20%), canal anal (17,6%), uretra (10,1%) e sêmen (5,3%). Outros trabalhos também descrevem a presença de HPV em pênis, uretra, sêmen (Giovannelli et al, 2007) e vaso deferente (Rintala et al., 2002). Vários outros trabalhos vêm demonstrando a presença do HPV no sêmen (Ostrow et al., 1986; Green et a.l, 1991; Chan et al., 1994, Olatunbosun et al., 2001; Rintala et al., 2004; Didelot-Rosseau et al., 2007; Giovannelli et al., 2007; Bezold et al., 2007), mesmo quando este é submetido a uma rigorosa lavagem para separar os espermatozóides do plasma seminal (Chan et al., 1994; Brossfield et al., 1999). A expressão de certos genes em células espermáticas tem sido demonstrada (Lai et al., 1996). Segundo Lai et al. (1997), a presença de infecção por HPV pode levar a alteração na motilidade dos espermatozóides, o que pode refletir numa diminuição da capacidade reprodutiva. Connelly et al. (2001) demonstraram que o HPV estaria envolvido em processos de fragmentação de DNA e apoptose de espermatozóides expostos ao vírus, causando alterações em exons do gene p53. Porém, o HPV não foi associado com leucocitospermia, um processo relacionado com a diminuição da qualidade do sêmen e com diminuição da motilidade dos espermatozóides, sendo sua presença associada apenas com significante diminuição na contagem de espermatozóides (Nielson et al., 2007). No entanto, embora sejam comuns na literatura trabalhos com detecção de HPV em sêmen de homens que procuram tratamento para fertilidade (Kyo et al., 1994; Lai et al., 1997; Tanaka et al., 2000; Didelot-Rousseau et al., 2007; Bezold et al., 2007), Rintala et al. (2004) não encontraram nenhum efeito do HPV na qualidade do sêmen. - 12 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... A possibilidade dos espermatozódeis agirem como vetor na transmissão de DNA de HPV para células do cumullus, podendo levar a falhas de implantação é discutida (Kadze et al., 2002), assim como a presença do vírus em placenta e sua relação com abortos espontâneos (Matovina et al., 2004). Chenoweth (2007) discute a influência da qualidade do sêmen e espermatozóide no desenvolvimento normal do embrião e aponta as infecções virais como possíveis causas de aborto no início da gestação. Medeiros et al. (2005), em uma revisão sistemática quantitativa, mostraram a transmissão vertical de HPV e também mostraram que crianças nascidas de parto normal têm maior risco de se contaminar com HPV. Freitas et al. (2007) detectaram a presença de BPV em placenta, líquido amniótico e sangue de bezerro recém-nascido sugerindo assim a transmissão vertical de BPV. Os primeiro estudo buscando avaliar a relação do BPV e o trato reprodutivo em bovinos verificou a presença de material genético de BPV 1 e 2 no trato reprodutivo e gametas de fêmeas bovinas (Carvalho et al., 2003). Posteriormente, Yaguiu et al. (2006) verificaram a presença de BPV 1 e 4 no trato reprodutivo de fêmeas e BPV2 em sêmem de bovinos e Freitas et al. (2007) demonstraram a presença de BPV1 em amostras de anexos embrionários, leite e colostro. 2.6 Detecção de papilomavírus A identificação direta do DNA de PV é atualmente o método de escolha para a sua detecção em esfregaços ou amostras de tecidos. A imunohistoquímica pode detectar o revestimento protéico das partículas virais, porém somente detecta as fases epissomais do vírus, não sendo um método de escolha para o diagnóstico de infecções pelo PV em virtude de sua baixa sensibilidade (Lancellotti et al., 2000). Existem vários métodos moleculares para a detecção do DNA do PV, dentre eles, seis métodos são considerados principais: 1) a hibridização por Southern blot;, 2) hibridização por Dot blot; 3) hibridização in situ fluorescente (FISH) 4) hibridização in situ (ISH); 5) hibridização sanduíche em meio fluído (HCA); 6) amplificação do DNA viral pela reação em cadeia pela polimerase - PCR (Moljn et al., 2005). - 13 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... A PCR é uma técnica que permite a amplificação enzimática do DNA ou RNA in vitro, elevando com grande rapidez o número de segmentos de ácidos nucléicos, que podem ser visualizados após eletroforese (Hirigoyen et al., 1992; Gross & Barrasso, 1999). Esta técnica permite detectar pequenas quantidades DNA viral presentes no material, amplificando-o em quantidades identificáveis. A PCR tornou-se a mais adequada técnica para a detecção do PV, devido ao alto nível de sensibilidade e especificidade(Moljn et al., 2005). Existem diversos oligonucleotídeos iniciadores (primers) para a detecção de PV em geral (Forslund et al, 1999; Gravitt et al, 2000; Antonsson & Hansson, 2002, Ogawa et al, 2004, Maeda et al, 2007,) e diferentes seqüências de primers específicos foram propostas por vários pesquisadores, com a finalidade de identificação de BPV1 e BPV-2 (Otten et al., 1993; Wosiacki et al, 2005), BPV-4 (Gaukroger et al., 1991) e BPV-5 (Bloch et al 1997). Neste trabalho, primers para detecção de BPV- 1 a 6 serão utilizados para a detecção de tais vírus em sêmen de touros. - 14 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 3. REFERÊNCIAS Antonsson A, Forslun O, Ekberg H, Sterner G and Hansson BG (2000) The ubiquity and impressive genomic diversity of human skin papilloaviruses sugest a commensalic nature of these viruses. J Virol 74: 11636 – 11641. Antonsson A & Hansson BG (2002) Healthy skin of many animal species harbors papillomaviruses which are closely related to their human counterparts. 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Avaliação da presença de Papilomavírus Bovino em Sêmen Fresco e Congelado Comercial de Touros (Bos taurus) Silva, MAR1; Carvalho, CCR1, Stocco dos Santos, RC2, Beçak, W2, Guerra, MMP3, Freitas AC1,2and Santos, JF1. 1 Departamento de Genética, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE 2 Laboratório de Genética, Instituto Butantan, São Paulo, SP 3 Laboratório de Andrologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE RESUMO Papilomavírus são encontrados em lesões epiteliais e estão associados a diferentes processos carcirnogênicos no homem e em outros animais. Atualmente, estão descritos dez tipos de Papilomavírus bovino (BPV) que estão associados com lesões histológicas distintas. BPV tem sido estudado como um agente infeccioso e como modelo no qual se investiga a interação de papilomavírus com seu hospedeiro natural e com cofatores. Embora caracterizados como epiteliotrópicos, a presença de DNA viral tem sido verificada em outros tecidos, incluindo sêmen fresco. O objetivo deste trabalho foi avaliar a presença de BPV, através da técnica PCR, em espermatozóides e plasma seminal de amostras obtidas de sêmen fresco e congelado de touros (Bos taurus), bem como sua associação com a qualidade do sêmen. Para a realização das PCR, foram utilizados primers de detecção geral para PV e específicos para os tipos de BPV-1 a 6 em amostras de sêmen de touros da raça Gir Leiteiro. A qualidade do sêmen comercial foi avaliada através dos parâmetros de motilidade, vigor e integridade do acrossoma e do DNA. Foi detectado DNA de BPV em 100% das amostras de espermatozóide e 100% das amostras de plasma seminal. Os tipos de BPV encontrados foram: BPV2 em 100% das amostras de espermatozóide e 100% das amostras de plasma seminal, BPV3/6 em 41,3% das amostras de espermatozóides e 42,8% das amostras de plasma seminal, BPV4 em 6,8% das amostras de espermatozóide. Houve detecção simultânea dos BPV 2 e 3/6 em 30,0% das amostras de sêmen. A alta freqüência de - 25 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... sêmen de touros contaminado por BPV desperta a importância de se realizar estudos para avaliar a viabilidade desse vírus e sua capacidade infectante pela via seminal. INTRODUÇÃO Papilomavírus (PV) são vírus de DNA dupla fita que infectam mamíferos, aves e répteis (Bernard, 2005). Estes vírus estão associados ao desenvolvimento de lesões no epitélio e de diferentes processos carcinogênicos no homem e em outros animais, incluindo bovinos (Campo, 2003). Atualmente são conhecidos 10 tipos de papilomavírus bovino (BPV), sendo dois desses recentemente descritos na literatura (Hatama et al., 2008). Desses 10 tipos, três estão envolvidos em processos carcinogênicos. Em gado que se alimenta com o broto da samambaia Pteridium aquilinium, papilomas do trato gastro-intestinal superior induzidos por BPV-4 e lesões na bexiga urinária induzidas por BPV-2 e/ou 1 podem progredir para o câncer (Campo, 2006). Embora os PV sejam descritos como epiteliotrópicos, sua presença já foi descrita em diferentes tecidos e células (Freitas et al., 2003; Yaguiu et al., 2006; Freitas et al., 2007). Dessa forma, discute-se a possibilidade de disseminação do vírus através de fluidos e tecidos não epiteliais. A infecção do trato reprodutivo por diversos tipos de vírus determina conseqüências graves, como: i) disseminação do agente infeccioso; ii) infertilidade/esterilidade; iii) caquexia induzida por queda na síntese de testosterona; iv) incorporação do genoma viral na célula germinativa, com risco de transmissão vertical; v) infecção do ovo ou embrião, causando abortos ou anormalidades no desenvolvimento do concepto (Dejucq & Jegou, 2001). Existem vários trabalhos na literatura demonstrando a presença de HPV no sêmen de humanos (Ostrow et al., 1986; Green et al., 1991; Chan et al., 1994, Olatunbosun et al., 2001; Rintala et al., 2004; Bezold et al., 2007; Didelot-Rosseau et al., 2007; Giovannelli et al., 2007). Em bovinos, existem poucos relatos da presença de BPV no sêmen (Carvalho et al., 2003; Yaguiu et al., 2006). - 26 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Embora os processos de reprodução assistida sejam usados com diferentes propósitos em humanos e animais, um objetivo comum é a prevenção da transmissão de doenças pela via seminal. No entanto, ainda se faz necessário um maior conhecimento em processos de desinfecção do sêmen utilizado em técnicas de reprodução assistida (Bielanski, 2007). Considerando a ampla utilização do sêmen congelado, a contaminação deste com BPV pode ter grande importância para os processos de inseminação artificial (IA) e transferência de embriões (TE). O objetivo deste trabalho foi avaliar a presença de BPV, através da técnica PCR, em espermatozóides e plasma seminal de amostras obtidas de sêmen fresco e congelado de touros (Bos taurus), bem como sua associação com a qualidade do sêmen. MATERIAL E MÉTODOS Amostras de sêmen Foram utilizadas 20 amostras de sêmen congelado de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir Leiteiro, adquiridas de distribuidora nacional e 9 amostras de sêmen fresco de touros de rebanho, pertencentes ao Estado de Pernambuco (Brasil). As amostras de sêmen fresco foram coletadas por eletroejaculação e resfriadas por 24h até o processamento no laboratório. Preparação das amostras As amostras de sêmen congelado foram descongeladas em banho-maria a 37°C por 30 segundos. Para separação do plasma seminal dos espermatozóides, todas as amostras foram centrifugadas a 1200 g por 10 min. Um volume de 200 µL do sobrenadante foi utilizado para separação de DNA a partir do plasma seminal. O sedimento de células obtido após a centrifugação foi submetido a lavagens com PBS (solução salina 0,9% tamponada com fostato, pH 7,4) e novamente centrifugado a 1200 g por 10 min. O sedimento final obtido foi ressuspendido em 200 µL de PBS para posterior extração de DNA. - 27 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Extração de DNA Todas as amostras foram submetidas à extração de DNA com o kit comercial “Qiagen DNA Easy Blood and Tissues Kit” (Qiagen), utilizando a metodologia de acordo com o protocolo do fabricante, onde em um microtubo foram utilizados 200 µL de semen, adicionados 25 µL de proteinase K e 200 µL de tampão AL, misturados vigorosamente e incubados a 65°C por 10 min. Posteriormente, 200 µL de etanol absoluto foi adicionado e a mistura foi transferida para a coluna QIAamp. Foi realizada centrifugação a 6000 g por 1 min. O microtubo foi descartado e a coluna foi lavada duas vezes com os tampões AW1 e AW2. A eluição do DNA foi realizada com 50 µL do tampão AE aquecido a 65°C. O DNA coletado após a centrifugação foi utilizado diretamente para a PCR. Detecção viral por PCR Para controle da qualidade do DNA extraído, foi realizada PCR utilizando os primers específicos para o gene da β -globina (Tabela 1) bovina que produzem um produto de amplificação de 450 pb. As amostras positivas foram avaliadas quanto à presença de BPV utilizando-se os pares de primers genéricos MY11/MY09 (Manos et al., 1989) e FAP59/FAP64 (Tabela 1) (Forslund et al., 1999) para detecção geral de papilomavírus. Para cada reação de 25 µL, foram utilizados 5 µL dos 50µL de DNA obtidos após extração, 0,25 µM de cada primer e 12,5µL de Master Mix (Promega) de acordo com o protocolo do fornecedor. O perfil térmico das etapas de reações foi seguido de acordo com o protocolo descrito em Ogawa et al. (2004). Para a detecção de seqüências de DNA específicas paras os BPV-1 a 6 foram utilizados primers específicos para cada tipo viral (Tabela 1). Reações de padronização para cada primer foram realizadas, tendo sido ajustadas as temperaturas de anelamento para se obter especificidade em cada reação. Clones de BPV-1 a 6 foram utilizados como controle positivo para cada primer e reações cruzadas entre os clones de BPV e os primers para cada tipo viral foram realizadas para - 28 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... certificaçãoda especificidade de cada primer. Todos os primers se mostraram específicos para cada tipo viral, com exceção do primers para BPV3 que amplificou os clones de BPV3 e 6. Para cada reação de 25 µL, foram utilizados 5 µL dos 50µL de DNA obtidos após extração de DNA, 0,2 µM de cada primer e o 12,5µL do kit de reagentes Master Mix (Promega, EUA). O ciclo das reações foi adaptado do protocolo descrito em Stocco dos Santos et al. (1998), e consistiu de uma desnaturação inicial por 3 min a 95ºC, seguido por 35 ciclos de desnaturação a 94ºC por 40s, anelamento por 40s a 68°C com os primers para BPV-1, 55°C com primers para BPV-2, 60°C com os primers para BPV-3,4 e 5, e 65°C com os primers para BPV-6 e extensão por 1 min a 72ºC. Os produtos de amplificação (10µL) foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 2% em tampão TAE, corados com brometo de etídio, visualizados sob luz ultravioleta e fotodocumentados. Avaliação de vigor e motilidade espermática A motilidade progressiva e o vigor espermático foram analisados de forma subjetiva em um microscópio óptico (Olympus, Japão), entre lâmina e lamínula previamente aquecidas a 37°C. A motilidade foi determinada pela estimativa da porcentagem de espermatozóides com movimento progressivo retilíneo entre 0 a 100% em uma amostra de sêmen, enquanto o vigor foi estimado pela velocidade de movimentação dos espermatozóides, em uma escala de zero (0) a cinco (5), sendo o escore 0 equivalente à ausência total de movimento dos espermatozóides e o escore 5 à movimentação intensa, vigorosa e progressiva (Souza et al., 2006). Avaliação da integridade de acrossoma Para confecção dos esfregaçosestiraços foram utilizados 10 µL de sêmen, os quais foram armazenados a 4 oC, protegidos da luz e analisados utilizando-se a técnica de coloração FITCconjugada ao Peanut aglutinina (FITC-PNA; Roth et al., 1998). No momento da análise, as lâminas foram coradas com 30 µL de solução de PNA (20 µL PNA + 480 µL PBS), sendo - 29 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... depositada no centro da lâmina e procedendo-se à homogeneização da amostra a fim de cobrir grande extensão da lâmina. Em seguida, as lâminas foram refrigeradas (4 ºC) durante 20 minutos, mergulhadas em 50mL de PBS e colocadas em caixa de isopor para secagem em temperatura ambiente. Após secagem, alíquotas de 5 µL da solução UCD [5 mg Azida sódica, 0,5 mL PBS, 0,1 % w/v Fenilenediamina (Sigma, USA), 4,5 mL Glicerol; pH 8,0] foram colocadas entre lâmina e lamínula e observadas em microscópio de fluorescência (Olympus, Japão), utilizando o filtro de fluoresceína (450-490 nm, espelho dicromático de 510 nm), onde foram contados 200 espermatozóides/lâmina e classificados em: a) acrossomas intactos (AI), quando a região acrossomal apresentava fluorescência verde; b) acrossomas reagidos (AR), quando nenhuma coloração estivesse presente ou fosse observada apenas uma faixa verde fluorescente na região equatorial da cabeça espermática. Integridade de DNA espermático Amostras de sêmen descongeladas (10µL) foram armazenadas em 990 µL de uma solução TNE [0,877g de NaCl (0,15M); 0,1576g de TRIS-HCl (0,01M); 37,2 mg de EDTA.Na2.2H2O (1mM); q.s.p. 100mL; em pH de 7,4] a -196 oC para posterior avaliação da integridade de DNA espermático usando o corante Laranja de Acridina (Evenson et al., 2002). Alíquotas (100 µL) das amostras foram descongeladas a 37 oC e transferidas para tubos de microcentrífuga colocados em gelo, onde foram adicionados 200 µL da solução detergente [0,1 mL Triton X-100 (0,1% v/v); 0,877g de NaCl (0,15M); 8 mL 1N HCl (0,08N)], e incubados durante 30 segundos. Em seguida, foram adicionados 600 µL da solução de Laranja de Acridina – solução C [60 µL da solução B (1mg de Laranja de Acridina em 1 mL de água de miliQ) adicionado em 9940 µL da solução A (37 mL 0,1M ácido cítrico; 63 mL 0,2 M fosfato de sódio; 0,877 g NaCl (0,15 M) e 37,2 mg EDTA (1mM) em pH 6,0]. Após homogeneização, 200 células foram avaliadas em microscópio de fluorescência (Olympus, Japão), utilizando o filtro de fluoresceína (450-490 nm, espelho dicromático de 510 nm). As células coradas de verde fluorescente foram classificadas como portadoras de DNA íntegros, enquanto aquelas que emitiram fluorescência vermelha, laranja ou amarela foram classificadas como portadoras de DNA danificado. - 30 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... RESULTADOS A presença de DNA de papilomavírus foi verificada em sêmen fresco e congelado de touros tanto com os primers de detecção geral (MY09/11 e FAP59/64) (Figuras 1 e 4; Tabela 2) quanto com os primers específicos para BPV-1 a 6 (Figuras 2 , 3, 5 e 6; Tabelas 3 e 4). Os primers específicos para BPV mostraram-se mais sensíveis do que os de detecção geral, alcançando o nível de detecção de 100% nas amostras analisadas (BPV2), contra 50,0% utilizando os primers gerais MY09/11 em sêmen congelado e 77,0% nas amostras de sêmen fresco. Nas amostras de sêmen congelado comercial, o tipo viral mais freqüentemente encontrado foi BPV-2, em 100% das amostras de espermatozóides, seguido por BPV-3 em 30% das amostras. O DNA de BPV2 foi detectado em 100% das amostras de espermatozóide e 96% de plasma seminal. O tipo viral BPV3 foi menos freqüente que o BPV2 tendo sido encontrado em 30% das amostras de espermatozóides e 20% das amostras de plasma seminal Nas amostras de sêmen fresco houve detecção de BPV2 em 100% das amostras avaliadas e de BPV3 em 91% destas. Em espermatozóides houve detecção de BPV2 e BPV3 em 100% das amostras analisadas, e em plasma seminal houve detecção de BPV2 em 100% das amostras e BPV3 em 66,0%. Das 20 amostras de espermatozóides de sêmen congelado avaliadas, 3 (15%) foram positivas para os tipos virais BPV-2 e 3 (amostras 6, 10 e 19; Figuras 2 e 3), e nas amostras de plasma seminal houve co-detecção de BPV-2 e 3 em 25,0% do total (amostra 10P – Figuras 2 e 3). Nas amostras de espermatozóides obtidos de sêmen fresco houve detecção de DNA de BPV2 e 3 em 100% das amostras analisadas (Figuras 5 e 6), e duas amostras (25 e 27) foram positivas para BPV-2, 3 e 4 (22,2%) (Figuras 5 e 6). Em plasma seminal de sêmen fresco houve detecção de BPV-2 e 3 em 66,6% das amostras analisadas. Os primers para β-globina amplificaram um fragmento de 450pb em todas as amostras de espermatozóide utilizadas e em 25% das amostras de plasma seminal, sendo apenas as amostras positivas utilizadas para as PCR de detecção de BPV para se evitar um resultado falso-negativo. - 31 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Para os parâmetros de qualidade do sêmen congelado analisados, foram encontrados os sequintes valores: motilidade espermática 60,0 ± 16,8%; vigor 3 ± 0,4; integridade acrossômica 68,5 ± 20,8% e integridade do DNA espermático 97 ± 3,8% das células analisadas. DISCUSSÃO Os Papilomavírus estão dispersos entre os vertebrados e se diversificaram ao longo da história evolutiva desses grupos (Gottschling, 2007). Eles infectam queratinócitos e fibroblastos, podendo causar lesões na pele e mucosa e estão envolvidos em processos neoplásicos, como câncer do colo de útero em mulheres, cânceres de bexiga e do trato gastro-intestinal superior em bovinos (zur Hausen, 1996; Campo, 2006). Utilizando primers gerais para PV e primers específicos para BPV, foi avaliada a presença de BPV no plasma seminal e em espermatozóides de sêmen fresco e congelado de bovinos. Os pares de primers FAP59/64 e MY09/11, embora tenham sido desenhados para detecção de HPV em pele (FAP59/64) (Forslund et al., 1999) e epitélio mucoso (MY09/11) (Manos et al., 1989) já foram utilizados para detecção de BPV em outros trabalhos, onde o nível de detecção dos primers FAP59/64 para BPV variou de 21% a 100% e dos primers MY09/11 foi de 8% (Antonsson & Hansson, 2002; Ogawa et al., 2004; Literak et al., 2006; Claus et al., 2007; Maeda et al., 2007). Foi possível se detectar BPV em sêmen de touros utilizando esses pares de primers, porém com uma menor sensibilidade do que utilizando-se os primers específicos para BPV. Isto pode ser explicado devido ao tamanho do fragmento amplificado pelos primers FAP59/64 e MY09/11, em torno de 450pb, e dos primers específicos para BPV, de 216pb a 300pb, como também pela constituição dos primers, sendo que os de detecção geral possuem bases degeneradas em sua formação, o que pode diminuir sua sensibilidade ou por diferenças nas sequências de nucleotídeos na região L1, onde os primers se anelam, visto que esses primers foram desenhados para se anelarem em HPV. Foi encontrada uma alta freqüência de BPV2 e BPV3/6 nas amostras analisadas, tendo sido mais encontrados em amostras de espermatozóide do que em plasma seminal. Entre as - 32 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... amostras de o sêmen fresco obtidas de touros criados no Estado de Pernambuco e as de sêmen congelado de touros comercializado por distribuidoras nacionais, houve uma diferença em relação à detecção dos tipos virais BPV3/6, sendo estes mais freqüentes em amostras de sêmen fresco obtidas de touros criados nesta região. No Brasil, já foi detectada a presença de BPV1, 2, 4 e 6 nos Estados de São Paulo e Paraná (Stocco dos Santos et al., 1998; Carvalho et al., 2003; Freitas et al., 2003; Wosiacki et al., 2005, 2006; Claus et al., 2007). Os BPV do tipo 1, 2 e 4 são mais comumente estudados devido à sua importância na etiologia do câncer de bexiga urinária e sarcóide eqüino (BPV1 e 2) e câncer do trato gastro-intestinal superior (BPV4) (Campo, 1997; Campo, 2006; Borzacchielo, 2007). O tipo viral BPV3 foi isolado na Austrália a partir de um papiloma epitelial de pele e pouco se sabe a respeito da sua história natural (Campo, 2006). O BPV6 tem sido, com frequência, relacionado com papilomas localizados no úbere e nos tetos, podendo causar problemas durante a ordenha das vacas (Borzacchielo, 2007). Embora os BPV sejam descritos como epitélio-específicos, sua presença já foi encontrada em diferentes tecidos e fluidos corporais, sangue periférico, plasma sanguíneo, leite e colostro (Stocco dos Santos et al., 1998; Freitas et al., 2003; Wosiacki et al., 2005; Freitas et al., 2007), além de tecidos e células reprodutivas, incluindo oócitos, ovário, útero, células do cumullus, lavado uterino (Carvalho et al., 2003; Yaguiu et al., 2006), placenta e líquido amniótico (Freitas et al., 2007). A detecção de material viral em espermatozóides levanta a questão de que o vírus não somente pode estar presente no sêmen devido à liberação de material genético de células epiteliais que revestem o trato reprodutor, como também evidencia a possibilidade desses vírus estarem infectando células não-epiteliais, como espermatozóides. Outros trabalhos vêm demonstrando a presença de BPV em espermatozóide (Carvalho et al., 2003; Yaguiu et al., 2006), onde foi detectada a presença de BPV 2. Na literatura, já foi discutida a possibilidade de células sanguíneas agirem como sítios de disseminação do vírus para tecidos não-epiteliais e fluidos corporais, em especial o trato reprodutivo e gametas (Freitas et al., 2003; Bodaghi et al., 2005; Freitas et al., 2007). Infecções no trato reprodutor e células sanguíneas são apontadas como fontes de contaminação do sêmen por microrganismos (Bielanski, 2007). Células espermáticas são capazes de adsorver DNA exógeno para seu interior tanto em fase de formação (espermiogênse) quanto já formadas (Brackett et al., 1971; Spadafora, 1998; - 33 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Smith & Spadafora, 2005; Spadafora, 2007), processo facilitado após a lavagem do sêmen, em virtude da retirada de moléculas inibidoras deste processo. Dessa forma, caso o DNA do vírus esteja presente no plasma seminal, ele poderá passar para o espermatozóide. Neste estudo foi verificada a presença do DNA de BPV em um número semelhante de amostras de espermatozóide e plasma seminal, mostrando que o plasma seminal pode agir como fonte de contaminação do espermatozóide. A presença de HPV no sêmen tem sido demonstrada na literatura (Ostrow et al., 1986; Green et al., 1991; Chan et al., 1994; Olatunbosun et al., 2001; Rintala et al., 2004; Bezold et al., 2007; Didelot-Rosseau et al., 2007; Giovannelli et al., 2007). Há diversas implicações da infecção viral para o espermatozóide, tais como queda na motilidade (Lay et al., 1996), aumento na fragmentação do DNA e apotose (Connely et al., 2001) e diminuição na concentração de espermatozóides (Nielson et al., 2007), refletindo na diminuição da capacidade reprodutiva do animal. Neste estudo, a presença de BPV em sêmen congelado parece não afetar a qualidade espermática, uma vez que os parâmetros analisados de vigor, motilidade, integridade do acrossoma e DNA estão dentro dos resultados esperados para amostras de sêmen comercializadas (CBRA, 1998), com exceção de um animal que apresentou baixa motilidade (30%) e vigor (2) e alto índice de células espermáticas com acrossomas reagidos (XX%). Rintala et al. (2004), analisando a associação entre HPV de alto risco e qualidade do sêmen em humanos, não observaram alteração na motilidade, vigor e concentração dos espermatozóides devido à presença de HPV. Caso o BPV afetasse a qualidade do sêmen, isto poderia contribuir para selecionar sêmen de touros que não possuíssem o vírus, visto que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) não exige notificação para as papilomaviroses (World Organisation for Animal Health, 2008), apesar das perdas econômicas causadas por estas doenças aos criadores. É necessário compreender melhor os possíveis danos causados aos espermatozóides pela presença de BPV, pois não existem dados na literatura para correlacionar a presença de um ou mais tipos de BPV no sêmen com danos aos espermatozóides ou prejuízo do processo reprodutivo. Neste trabalho, além de ter sido detectada a presença de BPV no sêmen, também foi possível detectar a presença de mais de um tipo viral em algumas amostras. Outros trabalhos detectaram a presença de um ou mais tipos de BPV em animais aparentemente saudáveis, o que levou a se sugerir uma natureza comensal para esses vírus (Antonsson & Hansson, 2002; Ogawa - 34 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... et al., 2004). Os animais utilizados para a colheita das amostras de sêmen fresco não apresentavam nenhum sintoma clínico de papilomatose, apesar de ter sido detectada a presença dos BPVs do tipo 2 e 3/6 nas amostras de sêmen de todos os animais e do BPV4 no sêmen fresco de dois dos nove animais. Há relatos na literatura demonstrando o potencial dos espermatozóides em transferir DNA exógeno para células com as quais eles entrem em contato, inclusive DNA de papilomavírus (Chan et al., 1996; Kadze et al., 2002). Além disso, também é discutida a possibilidade dos espermatozóides agirem como vetor na transmissão de DNA de HPV para células do cumullus, podendo determinar falhas de implantação (Kadze et al., 2002), além da presença do vírus em placenta aparentemente ter relação com abortos espontâneos (Matovina et al., 2004). Uma outra implicação da presença de BPV no sêmen é a possível disseminação deste vírus através da inseminação artificial, metodologia reprodutiva intensamente aplicada em rebanhos bovinos. Neste estudo, foi verificada a presença de DNA de pelo menos um tipo de BPV em todas as amostras de sêmen fresco ou congelado comercializado no Estado de Pernambuco. Estes dados estão em convergência com os obtidos por Carvalho (2008), onde o DNA destes mesmos tipos virais encontrados no sêmen congelado foi detectado em verruga de bovinos criados na região, sugerindo a possibilidade de que o sêmen contaminado possa estar disseminando o vírus. Este achado aponta para a conclusão da urgente necessidade de mais estudos sobre a relação BPV e sêmen bovino visando compreender melhor suas implicações, uma vez que os prejuízos causados pela papilomaviroses são economicamente significativos. - 35 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... REFERÊNCIAS Antonsson A & Hansson BG (2002) Healthy skin of many animal species harbors papillomaviruses which are closely related to their human counterparts. J Virol 76:1253712542. Bernard HU (2005) The clinical importance of the nomenclature, evolution and taxonomy of human papillomaviruses. Journal of Clinical Virology 32S: S1–S6. Bezold G, Politch JÁ, Kiviat NB, Kuypers JM, Wolff H and Anderson DJ (2007) Prevalence of sexually transmissible pathogens in sêmen from asymptomatic male infertility patients with and without leukocytospermia. Fertil Steril 87: 1087 – 1097. 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Tabela 1 – Primers utilizados para detecção de Papilomavírus e amplificação do gene β-globina bovina Primer Sequência Região obtida Tamanho do fragmento β-globina bovina Fw: 5’ – AAC CTC TTT GTT CAC AAC CAG 3’ Rev 5’ – CAG ATG CTT AAC CCA CTG AGG 3’ Gene β-globina bovina 450 pb FAP59/FAP64 FAP59 5’-TAA CWG TIG GIC AYC CWT ATT-3’ FAP64 5’- CCW ATA TCW VHC CAT ITC ICC ATC-3’ Gene L1 de Papilomavírus Cerca de 400 pb MY09/MY11 MY115’-GCM CAG GGW CAT AAY AAT GG-3’ MY09 5’-CGT CCM ARR GGA WAC TGA TC-3’ Gene L1 de Papilomavírus Cerca de 400 pb BPV1F/BPV1R BPV1F – 5’ GGA GCG CCT GCT AAC TAT AGG 3’ BPV1R – 5’ ATC TGT TGT TTG GGT GGT GAC 3’ 300 bp BPV2F/BPV2R BPV2F – 5’ GTT ATA CCA CCC AAA GAA GAC CCT 3’ BPV2R – 5’ CTG GTT GCA ACA GCT CTC TTT CTC 3’ Gene L1 (5721 – 6021nt GeneBank Access X02346) Gene L1 (6888 – 7051nt GeneBank Access M20219) BPV3F/BPV3R BPV3F – 5’ CAG TCA ATT GCA ACT AGA TGC C 3’ BPV33R – 5’ GGC TGC TAC TTT CAA AAG TGA 3’ Gene L1 (6620 – 6836nt GeneBank Access AF486184) 216 pb BPV4F/BPV4R BPV4F – 5’ GCT GAC CTT CCA GTC TTA AT 3’ BPV4R – 5’ CAG TTT CAA TCT CCT CTT CA 3’ Gene E7 (642 – 812nt GeneBank Access X05817) 170 bp BPV5F/BPV5R BPV5F – 5’ GGC ATG TAG AGG AAT ATA AGC 3’ BPV5R – 5’ TTC TCT GAG ATC AAT ATT CC 3’ Gene L1 (6646 – 6908nt GeneBank Access AF457465) 262 bp BPV6F/BPV6R BPV6F – 5’ TTA GAG ACC TGG AAC TTG GG 3’ BPV6R – 5’ TAC GCT TTG GCG CTT TTT TGC 3’ Gene L1 (6829 – 7123nt GeneBank Access AJ620208) 294 bp 163 bp Tabela 2 – Detecção de DNA de Papilomavírus em amostras de espermatozóides e plasma seminal de sêmen fresco e congelado de touros (Bos taurus) Amostras Sêmen congelado positivo Espermatozóides de sêmen congelado positivos Plasma seminal de sêmen congelado positivo Sêmen fresco positivo Espermatozóides de sêmen fresco positivos Plasma seminal de sêmen fresco positivo Total de amostras analisadas (espermatozóide + plasma seminal) ND – Não determinado Primers MY09/11 12/24 (50%) 10/20 (50%) 2/4 (50%) 7 /12 (58%) 7/9 (77%) 0 FAP59/64 3/24 (12,5%) 2 /20 (10%) 1/4 (25%) ND 36 (29+7) 24 (20+4) ND ND - 40 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... Tabela 3 – Detecção de DNA de BPV em amostras de espermatozóides e plasma seminal de sêmen congelado de touros (Bos taurus) da raça Gir Leiteiro Tipo viral BPV1 BPV2 BPV3/6 BPV4 BPV5 0 24/24 4/24 0 0 (100%) (17%) 20/20 3/20 0 0 (100%) (15%) 4/4 1/4 0 0 (100%) (25%) 24 24 24 24 24 (20+4) (20+4) (20+4) (20+4) (20+4) Total de amostras positivas Total de amostras 0 espermatozóide positivas Total de amostras 0 plasma seminal positivas Total de amostras analisadas (espermatozóide + plasma seminal Tabela 4 – Detecção de DNA de BPV em amostras de espermatozóides e plasma seminal de sêmen fresco de touros (Bos taurus) criados em Pernambuco Tipo viral Total de amostras BPV1 BPV2 BPV3/6 BPV4 BPV5 0 12/12 11/12 0 0 (100%) (91%) 9/9 9/9 0 0 (100%) (100%) 3/3 2/3 0 0 (100%) (66%) 12 12 12 12 12 (9+3) (9+3) (9+3) (9+3) (9+3) positivas Total de amostras 0 espermatozóide positivas Total de amostras 0 plasma seminal positivas Total de amostras analisadas (espermatozóide + plasma seminal - 41 - Silva, MAR C+ Avaliação da Presença de Papilomavírus ... M 6 7 8 9 10 11 12 14 16 17 18 19 20 C- Figura 1 – Amplificação por PCR de DNA de PV com os primers MY09/11 em amostras de sêmen congelado (espermatozóide) de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir Leiteiro. M – marcador de 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. Números 6 a 20 amostras de espermatozóide. M C+ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 C- C+ M 1P 4P 8P 10P C- B A Figura 2 – Amplificação por PCR de DNA de BPV2 em amostras de sêmen congelado (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus indicus) da raça Gir Leiteiro. 2.A Números 1 a 10 indicam amostras de espermatozóide. 2.B Números 1P A 10P indicam amostras de plasma seminal. M – marcador de 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. C+ M A 6 10 C- C+ M 19 10P C- B Figura 3 – Amplificação por PCR de DNA de BPV3 em amostras de sêmen congelado (espermatozóide e plasma seminal) de touros. 3.A Números 6 e 10 indicam amostras de espermatoíde. 3.B Número 19 indica amostra de espermatozóide e 10P indica amostra de plasma seminal M – marcador 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. - 42 - Silva, MAR C+ Avaliação da Presença de Papilomavírus ... M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 C- Figura 4 – Amplificação por PCR de DNA de PV com os primers MY09/11 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide) de touros (Bos taurus). M – marcador de 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. Números 1 a 9 amostras de espermatozóide. C+ M 21 22 23 24 25 26 27 28 29 C+ M 24P 26P 29P B A Figura 5 – Amplificação por PCR de DNA de BPV2 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus). 5.A Números 21 a29 idicam amostras de espermatozóide. 5.B Números 24P a 29P indicam amostras de plasma seminal. M – marcador de 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. C+ M A 21 22 23 24 25 26 27 28 29 C- C+ M 24P 26P 29P B Figura 6 – Amplificação por PCR de DNA de BPV3 em amostras de sêmen fresco (espermatozóide e plasma seminal) de touros (Bos taurus). 6.A Números 21 a 29 indicam amostras de espermatozóide. 6.B Números 24P a 29P indicam amostras de plasma seminal. M – marcador de 100pb, C+ controle positivo, C- controle negativo. - 43 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 5. CONCLUSÕES Estes resultados apontam a importância de estudos detectando a presença de BPV no sêmen e no trato reprodutor masculino visando uma maior compreensão no processo de disseminação do papilomavírus e controle da papilomatose, uma vez que o sêmen com contaminação tanto oriundo de centrais de comercialização quanto de touros criados no Estado de Pernambuco pode estar agindo como um veículo de disseminação para o vírus. - 44 - Silva, MAR Avaliação da Presença de Papilomavírus ... 6. ABSTRACT Papillomaviruses (PV) are viruses that contain double strand DNA and can infect the squamous epithellium of the skin and mucosa. There are 10 different types of BPV (BPV-1 to 10) and they can cause serious diseases in dairy herds or cutting, creating great economic losses to farmers in Brazil and other countries. The presence of BPV has been detected in reproductive tissues and body fluids, such as peripheral blood, blood plasma, oocytes, ovary, uterus, the cells cumullus, uterine fluids, semen and sperm, placenta and amniotic fluid. Presumptive diagnosis of the infection has been made based on histological findings of the lesions and alterations in cell morphology. Conclusive diagnosis has been obtained by identification of viral DNA in tissue fragments using techniques such as Southern blot and polymerase chain reaction (PCR). This study aimed to evaluate the presence of BPV, using the PCR technique, in semen of bulls (Bos taurus) marketed in the state of Pernambuco and evaluate the association pf BPV and quality of semen. An set of primers for general detection of PV and specifics types of BPV1-6 was used in samples of fresh semen and sperm from commercial bulls of the breed Gir Leiteiro. The quality of semen was evaluated by the parameters of motility, vitality, verifying the integrity acrosome and integrity of DNA. It was detected the presence of DNA of BPV in 100% of samples of semen analyzed. The most frequent type virus was the BPV-2, followed by BPV-3 and BPV-4. The presence of BPV did not affect the semen analysis. These results demonstrate the importance of studying in better details the relationship between BPV and semen. Given the widespread use, artificial insemination with BPV contaminated sperm can have similar importance as the sexual route to the viral dispersion in the herd. KeyWords: Bovine Papilomavirus, bulls, semen, PCR - 45 -