ANÁLISE TEMPORAL DA EXPANSÃO HORIZONTAL URBANA DE

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ANÁLISE TEMPORAL DA EXPANSÃO HORIZONTAL URBANA DE
ILHÉUS, BAHIA: Uso de Imagem Multiespectral do Satélite Landsat
LILIANE MATOS GÓES
EDNICE DE OLIVEIRA FONTES
ANA MARIA SOUZA DOS SANTOS MOREAU
Palavras-chave: Sistema de Informação Geográfica, Uso da Terra Urbana, Dinâmica
Populacional, Cidade Média.
Resumo
A presente pesquisa objetivou mapear a evolução da expansão territorial horizontal do
Perímetro Urbano de Ilhéus, e, os respectivos impactos antropogênicos decorrentes das
ocupações irregulares. Para compreensão do hodierno uso e ocupação da terra urbana
discutiu-se um breve histórico de uso até a consolidação enquanto cidade média. A
(re)estruturação da cidade de Ilhéus ocorreu a partir da crise da lavoura cacaueira com a
introdução de novos agentes modeladores do espaço. Paralelo ao crescimento demográfico
urbano a cidade é produzida e reproduzida sócio-espacialmente através das novas formas,
funções, estrutura e processos em virtude da apropriação do espaço intra-urbano. O
arcabouço metodológico calcou-se no materialismo histórico e dialético, tendo em vista
também dados socioeconômicos e espaciais extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, do Atlas de
Desenvolvimento Humano, e, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Os resultados
obtidos identificaram o recorte temporal dos vetores de expansão horizontal gerados para
atender a nova demanda demográfica: o circuito iniciou-se com à abertura de novos bairros
com função residencial especificamente na zona oeste e sul; consolidação do centro como
lócus de serviços, comércio e gestão; estabelecimento do Distrito Industrial de Ilhéus na zona
norte; e, na zona sul - faixa litorânea - valorização do uso da terra e especulação imobiliária
tendo em vista a classe média alta; em contrapartida, localiza-se na zona sul uma área de
instabilidade antropogênica em detrimento da substituição do uso da terra manguezal para o
eminente uso residencial. A relevância em discutir a dinâmica espacial configura-se com a
necessidade de compreender a hodierna organização do território intra e inter-urbano, uma
vez que Ilhéus exerce função enquanto centro regional materializada através da
complexidade das redes urbanas, assim como da consolidação nos macrosetores da
economia. Verificou-se também a necessidade de implantação e execução de mecanismos de
prevenção e/ou mitigação de impactos negativos nos sistemas naturais a qual tem a função de
atrativo turístico no contexto da Costa do Cacau.

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010

Mestranda em Geografia (Modalidade MINTER), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Discente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de
Geografia (UESC); Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB);
[email protected]

Profa. Adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz – Dra; Departamento de Ciências Agrárias e
Ambientais; [email protected]

Profa. Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz – Dra; Departamento de Ciências Agrárias e
Ambientais; [email protected]
ANÁLISE TEMPORAL DA EXPANSÃO HORIZONTAL URBANA DE
ILHÉUS, BAHIA: Uso de Imagem Multiespectral do Satélite Landsat
LILIANE MATOS GÓES
EDNICE DE OLIVEIRA FONTES
ANA MARIA SOUZA DOS SANTOS MOREAU
1. INTRODUÇÃO
1.1 Histórico de Uso e Ocupação
Quando D. João III, em 1534, dividiu o Brasil em Capitanias Hereditárias, coube ao
fidalgo português Jorge de Figueiredo Correa, por Carta de doação de 26 de junho
daquele ano, assinada em Êvora, a capitania de Ilhéus.
Desta maneira, teve inicio a história do município que mantém ainda hoje o nome
da velha capitania (IBGE, 1958, p. 264).
O sistema de capitanias hereditárias adotado tratava-se de um método que visava
povoar e defender o território nacional contra as invasões de franceses, holandeses e
espanhóis, através de concessões de terra. No caso da Capitania de Ilhéus, o donatário
atribuiu a Francisco Romero a administração, o qual estabeleceu a sede da vila de São Jorge
dos Ilhéus no atual outeiro de São Sebastião.
Em 28 de junho de 1881, através da lei provincial n° 2.187, referendada pelo
presidente Conselheiro Marquês de Paranaguá, elevou-se a Vila de São Jorge dos Ilhéus à
categoria de cidade. Em contrapartida, no que concerne à dimensão territorial é somente em
1952 que o município estabelece sua hodierna configuração política administrativa, trata-se
do último desmembramento do município a partir da emancipação dos distritos de Coaraci,
Itajuípe e Uruçuca (IBGE, 1958).
Desde o período pré-colonial que São Jorge dos Ilhéus deteve importância como
centro econômico e estratégico para escoamento de matéria-prima do Brasil, os ciclos
extrativistas iniciaram com o pau-brasil, em seguida a cana-de-açucar, madeira, e, por fim o
cacau (BARBOSA, 2003; ANDRADE, 2003).
O município de Ilhéus consolidou-se economicamente em escala mundial devido à
produção de cacau (Theobroma Cacao). Em razão das condições edafoclimáticas favoráveis
a lavoura do cacau expandiu-se de maneira vertiginosa pela região sul da Bahia (fig.1). A
antiga potência cacaueira iniciou suas atividades agrícolas em 1746, no município de
Canavieiras (BARBOSA, 2003).

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010

Mestranda em Geografia (Modalidade MINTER), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Discente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de
Geografia (UESC); Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB);
[email protected]

Profa. Adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz – Dra; Departamento de Ciências Agrárias e
Ambientais; [email protected]

Profa. Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz – Dra; Departamento de Ciências Agrárias e
Ambientais; [email protected]
1
A partir de 1950, a lavoura cacaueira enfrentou crises periódicas devido a introdução
de pragas como a podridão parda, a ferrugem do cacau, e, principalmente a vassoura-debruxa, que acarretaram na decadência da monocultura e, por conseguinte da região. A
principal conseqüência gerada foi o desemprego em série de trabalhadores rurais, estes por
sua vez direcionaram-se para os núcleos urbanos mais estruturados em busca de emprego e
moradia, o acontecimento provocou fluxos migratórios sentido campo-cidade.
E é nesta perspectiva, que as relações de produção e reprodução do espaço, assim
como de acumulação de capital se intensificaram com a introdução de uma nova demanda de
agentes modeladores do espaço, assim a reestruturação urbana e da cidade é engendrada
através de sistemas de objetos e de ações, materializada principalmente através da conversão
das formas de uso da terra, assim como das tomadas de decisões (SANTOS, M. 1996;
CORRÊA, 2005; CARLOS e LEMOS, 2005; J.SANTOS, 2009; SPOSITO, 2004 apud J.
SANTOS, 2009). De acordo com Corrêa (2005, p. 11), “o espaço urbano – fragmentado,
articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto
social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que
produzem e consomem o espaço”.
A cidade de Ilhéus por apresentar função portuária, comercial e industrial
historicamente consolidada, tornou-se lócus de direcionamento da população do campo,
assim como da região que polariza, e, é neste sentido que a presente pesquisa preocupa-se em
investigar a evolução da expansão territorial horizontal do Perímetro Urbano de Ilhéus, e, os
respectivos impactos antropogênicos decorrente de ocupações irregulares.
Figura 1
Expansão da Lavoura Cacaueira no Estado da Bahia, séculos XVIII – XXI
Fonte: CEPLAC (1975, 1976); IBGE (2002) apud NASCIMENTO, D. M. C. et al. (2009).
Elaboração: Nascimento (2007).
2
1.2 Área de Estudo
A área de estudo considerada compreende o perímetro urbano (área urbana e de
expansão urbana) do município de Ilhéus, Bahia, Brasil. Localiza-se entre as coordenadas
geográficas de - 14º50’ de Latitude Sul e - 39°02’ de Longitude Oeste, com uma área de
aproximadamente 56,84 km², representando 3,04% do total do território municipal (fig. 2).
O Perímetro Urbano de Ilhéus (PUIos) localiza-se na região fisiográfica da Planície
costeira e flúvio-marinha (presença do ecossistema manguezal), de tabuleiros costeiros (na
zona sul) e de mares de morro (zona central). O clima da cidade enquadra-se na categoria de
tropical quente e úmido, com regime pluviométrico regular e ocorrência de chuvas durante
todos os meses do ano, alcançando índices pluviométricos de 2.000mm (SEI, 1999).
10°0'0"S
±
PERÍMETRO URBANO DE ILHÉUS - BAHIA - BRASIL
±
0 100 200
40°0'0"W
400
Km
35°0'0"W
14°48'0"S
45°0'0"W
14°46'30"S
15°0'0"S
14°45'0"S
BAHIA
14°49'30"S
14°30'0"S
±
14°51'0"S
14°45'0"S
15°0'0"S
14°43'30"S
Figura 2
Localização do Perímetro Urbano de Ilhéus, Bahia, Brasil.
PUIos
Município de Ilhéus
0 5 10
20
Km
39°30'0"W
39°15'0"W
39°0'0"W
Perímetro Urbano de Ilhéus - PUIos
0 0.5 1
2
Km
FONTE: SEI (2004); INPE (2009)
ELABORAÇÃO: GÓES, L.M. (2009)
39°4'30"W
3
39°3'0"W
39°1'30"W
2. MATERIAIS E MÉTODO
O que ensina a aprender é o método
Morin (2003, p. 35)
O método norteador da presente pesquisa busca fundamento nos pressupostos do
materialismo histórico e dialético, a fim de promover analise e discussão do espaço
geográfico tendo em vista a complexidade das constantes transformações desencadeadas pela
ação dos agentes modeladores que produzem e reproduzem a organização espacial. Portanto,
Eu não trago o método, eu parto em busca do método. Eu não parto com o método,
eu parto com a recusa, totalmente consciente, da simplificação. A simplificação é a
disjunção em entidades separadas e fechadas, a redução a um elemento simples, a
expulsão do que não entra em um esquema linear. Eu parto com a vontade de não
ceder a estes modos fundamentais do pensamento simplificador:
– idealizar (acreditar que a realidade possa se reabsorver pela idéia, que o real é
inteligível),
– racionalizar (querer encerrar a realidade na ordem e na coerência do sistema,
proibir qualquer transbordamento deste, ter a necessidade de justificar a existência
do mundo, conferindo-lhe um certificado de racionalidade);
– normalizar (quer dizer, eliminar o estranho, o irredutível, o mistério) (MORIN,
2003, p. 35-36).
(...)
O método aqui se opõe à conceituação dita “metodológica”, em que ela é reduzida a
receitas técnicas. Como o método cartesiano, ele deve inspirar-se de um princípio
fundamental ou paradigma. Mas a diferença é justamente o paradigma. Não se trata
mais de obedecer a um princípio de ordem (eliminando a desordem), de claridade
(eliminando o escuro), de distinção (eliminado as aderências, as participações e as
comunicações) de disjunção (excluindo o sujeito, a antinomia, a complexidade), ou
seja, obedecer a um princípio que liga a ciência à simplificação lógica. Trata-se, ao
contrário, de ligar o que estava separado através de um princípio de complexidade
(MORIN, 2003, p. 37).
E é neste sentido que buscou-se na complexidade das contradições espaciais analisar a
estrutura espaciotemporal de Ilhéus enquanto cidade média, tendo em vista os conceitos
básicos de estrutura, processo, forma e função. De acordo com SANTOS (2008, p.69), a
“forma é o aspecto visível de uma coisa. Refere-se, ademais, ao arranjo ordenado de objetos,
a um padrão”. Na realidade, trata-se dos constructos socais observados na paisagem e está
intimamente ligado aos movimentos presentes, assim como de ações históricas. Paralelo ao
conceito de forma o conceito de função encontra-se entrelaçado por dá sentido e significado
ao conjunto de objetos e ações, “portanto, a função é a atividade elementar de que a forma se
reveste”. A concepção de estrutura demonstra o modo de organização ou construção da
totalidade espacial. E por fim, processo com o sentido de ação constante e continua, tendo
em vista o aspecto temporal e suas modificações espaciais.
A metodologia aplicada para a obtenção dos dados secundários pertinentes à pesquisa
foi a técnica de documentação indireta. A princípio realizou-se levantamento do estado da
arte acerca da produção das cidades médias à luz do materialismo histórico e dialético. Em
seguida, buscaram-se dados socioeconômicos extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), e,
do Atlas de Desenvolvimento Humano.
4
Utilizou-se do software Microsoft Math 3.0 para cálculo da taxa de crescimento que
consiste numa formulação geométrica. Para obtenção da taxa de crescimento (r), subtraiu-se
1 da raiz enésima do quociente entre a população final (Pt) e a população no começo do
período considerado (Po), multiplicando-se o resultado por 100, sendo "n" igual ao número
de anos no período.
A análise temporal dos vetores de expansão territorial horizontal consistiu em
trabalho de laboratório, com a utilização das imagens multiespectrais do satélite Landsat 5,
sensor TM (Tematc Mapper) com resolução espacial de 30 metros por pixel, na escala
1:250.000, os recortes espaciais correspondem a 1981, 1985, 1986, 1987, 1990 e 2009. O
Sistema de Informação Geográfica ArcGis 9.3 permitiu a composição das imagens
multiespectrais, selecionou-se as bandas 5-3-2 com o intuito de realçar a vegetação e mais
especificamente as Áreas de Preservação Permanente de manguezais. As imagens são
disponibilizadas gratuitamente no site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
na secção DGI (Divisão de Geração de Imagens). A utilização de SIG’s na Geografia “se
posiciona como ciência central y em este sentido los SIG no pueden ser considerados
solamente instrumentos técnicos sino tambien se presentan como herramientas teóricas que
permiten pensar y actuar espacialmente” (BUNZAI, 2007, p. 6).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
“A história começa no momento em que o homem adquire a possibilidade de se
libertar da ordem imposta pela natureza, e com ela começa também a organização
do espaço geográfico.” (ISNARD, H., 1982, p.80)
A estruturação de Ilhéus enquanto cidade média ultrapassa o aspecto meramente
populacional determinado pelo IBGE ao afirmar que a concentração de 50.000 a 500.000 mil
habitantes enquadra na condição de cidade de médio porte. Ilhéus afirmasse por exercer a
função de centro regional da microrregião Ilhéus-Itabuna por polarizar juntamente com
Itabuna 39 municípios, reflexo da concentração dos principais serviços urbanos. Conforme J.
Santos (2009, p. 8), a determinação das cidades médias deve ter em vista os seguinte
parâmetros:
(...) exercer função como centro regional numa determinada rede urbana, de acordo
com o potencial demográfico, a situação, o raio de ação e o nível de especialização
dos serviços e atividades produtivas. Além disso, têm a capacidade de articular-se
aos centros de decisões sem, necessariamente, depender das cidades dentro da sua
unidade administrativa cuja ordem “hierárquica” é superior.
A complexidade da estruturação urbana em cidades médias tem em vista elementos
que permitem compreender a totalidade da organização espacial. Desta forma, as
transformações das relações intra e inter-urbanas são influenciadas: pelas ações políticas;
pelos ditames do capital comercial, industrial, financeiro, agrário e imobiliário; e, pela
mobilidade do trabalho, nas relações tempo-espaço e na reprodução da vida cotidiana (J.
SANTOS, 2009, p.6-7).
5
O fenômeno populacional é considerado indicador de expansão urbana e de
modificações na paisagem devido à introdução e a dinâmica praticada pelos novos agentes
modeladores do espaço geográfico, assim constatou-se através da evolução do Censo
Demográfico de 1940-2007 crescimento da população total de 106.975 habitantes, na qual
corresponde uma taxa de crescimento de 1% e representa o recorte espacial de 67 anos. No
que se refere, a estrutura espaciotemporal da população urbana de 1940-2000 averiguou-se
incremento de 128.851 habitantes, com respectiva taxa de crescimento de 2,7%. Em relação à
população rural ocorreu decréscimo de (-)19.993 habitantes, ou seja, redução de (-)0,5% da
taxa de crescimento.
O período censitário de 1940-1970 alude um momento de instabilidade agrário e
econômico decorrente de duas crises da lavoura cacaueira: a primeira em 1929, em
detrimento da quebra da bolsa de valores atingindo diretamente a economia em escala
mundial; a segunda, em 1957 e 1964/65, em virtude da introdução do uso da terra no
território africano, especificamente nas colônias francesas e inglesas (NASCIMENTO, 2009,
p.13-14). A presente conjuntura implicou alterações no quadro populacional com as
migrações campo-cidade, desta forma neste recorte temporal acontece contínuo crescimento
da população urbana e decréscimo da população rural.
Ao relacionar os gráficos de evolução da população e de produção de cacau (em
amêndoa) permitiram visualizar a queda abrupta da produção dos cacauais. Constatou-se no
Censo Agropecuário de 1950 a quantidade produzida de 43.750 toneladas de amêndoas, mas
em 1960 devido a crise mensurou-se 19.115 toneladas. É justamente nesse cenário de crise
que ocorre a inversão da população rural pela urbana.
No recorte censitário de 1970-1991 averiguou-se crescimento populacional
significativo, mas, é no espaço-tempo de 1980-1991 que acontece expressivo incremento da
população no município como um todo, com taxas de crescimento na ordem de 4.95%, isto é,
92.294 habitantes da decadente região cacaueira migraram para o município de Ilhéus,
distribuídos da seguinte forma 63.401 habitantes estabeleceram-se no PUIos, e, a zona rural
absorveu um contingente populacional de 28.893 habitantes (tabela 1).
O cenário pós segunda crise da lavoura envolve a criação da Comissão Executiva do
Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) em 1957, e, suas respectivas ações voltadas para
estudos científicos com o intuito de recuperar a produção dos cacauais e dos lucros
alcançados nos períodos áureos. As estratégias desenvolvidas apresentaram resultados
positivos atingindo no Censo Agropecuário de 1985, produção de 45.818 toneladas de
amêndoas. Entretanto, é introduzido na região o fungo denominado popularmente como
vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) no qual refletiu numa profunda crise, e é
justamente nesse período que os fluxos migratórios são tão expressivos.
O censo demográfico de 2000 apresenta um comportamento peculiar, o processo de
mobilidade populacional inter-municipal é equilibrado, de maneira que o município
apresenta redução da taxa de crescimento de (-)0.08% da população total, em contrapartida a
migração campo-cidade é intensificada com perda 19.668 habitantes da zona rural, estimasse
que 18.045 habitantes deslocaram-se para o PUIos, e, os 1.623 habitantes direcionaram-se
para outros importantes centros urbanos, a exemplo de Salvador metrópole regional e/ou
ocorreu a migração de retorno. A população concentra-se eminentemente no PUIos com
73,06%
6
Gráfico 1
Evolução da população residente, segundo a situação do domicílio, município de Ilhéus, Bahia,
entre 1940 a 2007.
DINÂMICA POPULACIONAL 1940 - 2000
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1940
1950
1960
TOTAL
1970
1980
URBANA
1991
2000
RURAL
Gráfico 2
Evolução da produção de cacau (em amêndoas), município de Ilhéus, Bahia, entre 1940 a 2008.
ILHÉUS: PRODUÇÃO DE CACAU
50.000
45.000
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
1940
1950
1960
1970
1975
1985
1990
1996
2000
2006
2008
Quantidade produzida (Toneladas)
Período
1940
1950
1960
1970
1975
1985
1990
1996
2000
2006
2008
Produção(t)
39.621
43.750
19.115
26.192
29.653
45.818
30.000
16.928
10.137
9.152
9.881
7
Tabela 1
População residente rural e urbana, segundo o domicílio, e, taxa de crescimento no município de Ilhéus,
Bahia, entre 1940 a 2007.
População
Período
Total
Quantidade
de
habitantes
Urbana
Taxa de
Quantidade
Crescimento
de
(%)
habitantes
Rural
Taxa de
Crescimento
(%)
Quantidade
Taxa de
de
Crescimento
habitantes
(%)
1940
113.269
-
33.426
-
79.843
-
1950
134.240
1.71
50.141
4.14
84.079
0.52
1960
104.429
-2.49
56.936
1.28
47.493
-5.55
1970
107.971
0.33
66.046
1.5
41.925
-1.24
1980
131.456
1.98
80.831
2.04
50.625
1.9
1991
223.750
4.95
144.232
5.4
79.518
4.19
2000
222.127
-0.08
162.277
1.32
59.850
-2.97
2007
220.144
-0.13
*
*
* Resultados preliminares
Fonte: IBGE - Censo Demográfico de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000, 2007.
-
Paralelo ao crescimento demográfico a cidade é produzida e reproduzida sócioespacialmente, através das novas formas, funções, estrutura e processos para apropriação e
produção do espaço urbano. Os vetores de expansão horizontal urbana foram gerados para
atender a nova demanda, primeiro com a abertura de novos bairros com função residencial
especificamente na zona oeste e sul; consolidação do centro como lócus de serviços,
comércio e gestão; em 1973, estabelecimento do Distrito Industrial de Ilhéus na zona norte;
e, na faixa litorânea da zona sul valorização do uso da terra urbana e especulação imobiliária.
Conforme Corrêa (2005, p. 13), “a terra urbana tem assim, em principio, um duplo papel: o
de suporte físico e o de expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às
atividades”.
Elaborou-se um mosaico com as imagens multiespectrais com o objetivo de mostrar a
evolução do uso da terra urbana, e, identificar em que recorte espaço-tempo ocorreu a
intensificação da expansão territorial horizontal nas quatro zonas do PUIos. De acordo com
França e Soares (2007, p.5), “quando uma cidade expande territorialmente, significa que ela
absorve e/ou incorpora áreas e parcelas de território, processo denominado de expansão
territorial horizontal”.
Devido às características físicas do modelado a zona oeste e sul caracteriza-se pelos
exuberantes bosques de manguezais que se desenvolveram no quaternário. De acordo a
8
resolução CONAMA (2002) n. 303 os manguezais são reconhecidos como Área de
Preservação Permanente (APP). Foi identificada na zona oeste a presença de dois cursos
d’água: Rio Cachoeira e Itacanoeira, cujas margens também são asseguradas pelo CONAMA
na condição de APP, e, teoricamente deveriam ser mantidos sem alterações ambientais
conforme estabelecido na legislação vigente.
Tendo em vista, que o período de 1980-1991 houve um acréscimo da população
urbana de 63.401 habitantes. Novas formas do espaço urbano surgem com a abertura de
loteamentos, destaque para o bairro Teotônio Vilela cuja função é destinada para uso
residencial. Para o recorte espaço-tempo de 1981, verificou-se a inexistência de ocupações
irregulares, entretanto em 1985 alterações antropogênicas ocorrem em detrimento das
invasões que se mostraram consolidadas, a aceleração dos papeis urbanos é surpreendente no
sentido de que o espaço-tempo de 1985-1986 o desmatamento e aterramento do ecossistema
manguezal é intensificado pela construção civil (fig. 3 e 4). A expansão territorial horizontal
sobre a APP’s de manguezal têm caráter continuo e crônico como aponta Góes et al.(2008).
Figura 3
Evolução do uso da terra do bairro Teotônio Vilela
Fonte: INPE (1981, 1985, 1986, 1987, 1990 e 2009).
9
Figura 4
Uso da terra urbana no bairro Teotônio Vilela
Fonte: Google Earth (2005)
10
O adensamento populacional foi historicamente consolidado no centro, os topos de
morro e encostas com gradiente acima de 45% foram habitados para fim residencial por
classes menos favorecidas. Tendo em vista a geomorfologia, a retirada de vegetação, a
impermeabilização do solo, e a ação dos sistemas climáticos promovem desencadeamento
dos movimentos de massa (FRANCO, 2008; LIMA e GOMES, 2009). Outro aspecto diz
respeito a interrupção da morfodinâmica costeira que após a ampliação do Porto do Malhado
acarretou no aumento da linha de costa (fig. 5). De acordo com Coelho (2006, p.20-21),
Os impactos ambientais são mais percebidos pelos setores menos favorecidos da
população, que confinados às áreas mais suscetíveis as transformações próprias dos
processos ecológicos, porém aceleradas pelas ações humanas, não podem enfrentar
os custos da moradia em áreas ambientalmente mais seguras ou beneficiadas por
obras mitigadoras de impactos ambientais.
Figura 5
Evolução do uso da terra da zona central
Fonte: INPE (1981, 1985, 1986, 1987, 1990 e 2009).
11
A expansão da malha urbana na zona sul ocorreu na década de 1980, liberada pela
construção da ponte governador Lomanto Junior em 1966. A configuração espacial até 1981
ficou nas imediações do aeroporto, mas é no auge do adensamento populacional em 1985 que
ocorre a expansão horizontal urbana, retratando assim a estruturação da cidade ao mostrar a
retirada da vegetação local para posterior construção civil (fig.6 e7).
As transformações sociodemográficas analisadas através dos Censos estiveram
diretamente relacionadas com a crise da lavoura cacaueira. Devido a este acontecimento à
reestruturação econômica e espacial urbana foi inevitável, de maneira que, atualmente a
economia que dinamiza o município está calcada no setor terciário que responde por mais da
metade do PIB-M (Produto Interno Bruto Municipal), em seguida o setor secundário, e, com
menor percentual o setor primário (tab. 2).
Figura 6
Evolução do uso da terra da zona sul
Fonte: INPE (1981, 1985, 1986, 1987, 1990 e 2009).
12
Figura 7
Uso da terra da zona sul
Fonte: Google Earth (2005)
13
O indicador Produto Interno Bruto (PIB) é um instrumento que visa mensurar a
participação econômica municipal segundo três macrosetores de atividade: 1. A agropecuária
é responsável pelas receitas advindas da agricultura extrativa vegetal e pecuária, corresponde
ao setor primário; 2. O setor industrial engloba áreas de extrativismo mineral, de
transformação, serviços industriais de utilidade pública e construção civil, responde ao setor
secundário; 3. O setor de serviços o mais dinâmico abrange o comércio, transporte (aéreo,
marítimo, rodoviário), turismo, comunicação, energia elétrica, saneamento básico,
estabelecimentos bancários, e, finanças públicas.
De acordo Contri & Porsse (2006), o PIB-M é uma proposta inovadora dos órgãos do
sistema estatístico nacional e estadual, afim de divulgar dados econômicos de 5.560
municípios do Estado-nação, que iniciou a partir do ano-base de 1999. Este banco de dados
proporciona analisar a estrutura e a evolução econômica dos municípios, de maneira que o
estudo do desempenho setorial permite diagnosticar o atual padrão espacial de concentração
das atividades desenvolvidas e seus respectivos vetores de expansão e/ou retração.
A tabela 2 retrata a contribuição percentual por setores, como também a variação no
período de 2002-2006, com o objetivo de identificar a estrutura produtiva do município
Ilhéus, e, a respectiva especialidade. A análise revelou um fluxo intenso no setor de serviços,
por apresentar-se como vetor de crescimento financeiro, com exceção do período de
2003/2004, pois a variação foi negativa (-)1,53%, porém no ano de 2005 há uma
recuperação, de maneira que atualmente o município contribui economicamente com
60,66%, as atividades econômicas deste setor obtiveram uma taxa de crescimento de 1,88%
para o recorte temporal de 5 anos.
Tabela 2
PIB Municipal, Percentual da Estrutura Setorial dos Valores Adicionados 2002-2006
Setores (%)
ANO
2002
2003
2004
2005
2006
Taxa de
Crescimento
(%) 2002-2006
Fonte:SEI(2009)
Agropecuária
Variação (%)
Indústria
Variação
(%)
Serviços
Variação
(%)
3.76
3.78
4.81
3.24
3.33
0.53
27.25
-32.64
2.78
39.93
38.87
38.72
37.81
36.01
-2.65
-0.39
-2.35
-4.76
56.30
57.35
56.47
58.96
60.66
1.87
-1.53
4.41
2.88
-2.99
-
-2.55
-
1.88
-
As atividades produtivas do setor industrial (fig.8) ocupam a segunda colocação no
ranking do PIB-M, em termos percentuais as variações foram negativas de forma continua, e,
ao mensurar a taxa de crescimento também foi inferida uma redução de 2,04%. Contudo ao
analisar os valores adicionados em moeda corrente, foi constatada a contribuição em milhões
14
de reais por este setor, para o ano 2002 a receita foi de R$ 383.62 (milhões) enquanto que em
2003 o valor foi de R$ 399.99 (milhões), a diferença positiva é de R$ 16.37 (milhões), mas é
necessário ter uma visão critica para perceber que o valor percentual negativo é devido a
inflação/crise. Outro aspecto interessante verificado no período de 2005-2006 foi uma
estagnação financeira, pois ocorre redução na receita de R$ 4.59 milhões (tab.3).
Figura 8
Evolução do uso da terra da zona norte e localização do distrito industrial
Fonte: INPE (1981, 1985, 1986, 1987, 1990 e 2009).
A crise da lavoura cacaueira modificou toda a estrutura produtiva do município. O
setor agropecuário uma vez responsável pela elevada receita financeira, atualmente concentra
apenas 3,33% do PIB-M, ou seja, R$ 44.55 (milhões) do montante corrente de R$ 1.534.80
(milhões). Os dados destacam o período de 2003/2004 com acréscimo financeiro, e a
variação positiva foi de 27,23%, mas no período de 2004/2005 a receita é desestabilizada
apresentando saldo negativo em relação ao período anterior de (-) 32,64%, ou seja, na
realidade devido a queda na produção ocorreu uma retração de R$ 13.48 (milhões). O setor
agropecuário participa de forma menos acentuada da adição de valores ao PIB-M, e devido a
oscilação da produção apresenta taxa de crescimento na ordem de (-)2,99%.
15
Outro aspecto a considerar refere-se a localização dos setores de atividade, uma vez
que o setor de serviços e de indústria possuem sua estrutura no PUIos e desenvolve suas
atividades em 56,84 km², e, o setor agropecuário abrange a zona rural do município com
1.815,82 km².
Tabela 3
PIB Municipal, Estrutura Setorial dos Valores Adicionados 2002-2006
Valor Adicionado (R$ milhões)
ANO
Agropecuária
2002
2003
2004
2005
2006
Fonte: SEI (2009)
36.14
38.94
55.12
41.64
44.55
Indústria
383.62
399.99
443.73
486.45
481.86
Serviços (1)
540.88
590.16
647.03
758.61
811.83
Impostos
Sobre
Produtos
(R$ milhões)
157.47
223.10
318.17
192.88
196.56
PIB
(R$ milhões)
1,118.11
1,252.20
1,464.05
1,479.59
1,534.80
PIB Per
Capita
(R$1,00)
5,044.04
5,653.59
6,615.85
6,691.63
6,946.95
Para analisar a distribuição do PIB-M per capita deve-se a priori considerar o sistema
de produção capitalista vigente, cujo caráter é eminentemente desigual e contraditório,
portanto a apropriação da renda gerada não é distribuída de maneira igualitária (Contri e
Porsse, 2006). Assim, ao analisar esta variável verificou-se que os valores não condizem com
a realidade, para o ano de 2006 a renda per capita foi de R$ 6.946,95, entretanto ao
espacializar este fenômeno constatou-se que os bairros localizados na zona oeste, noroeste e
na periferia da zona sul percebem até 2 salários mínimos. Trata-se de espaços onde a
segregação espacial apresenta-se de forma acentuada, o coeficiente de GINI corrobora com
as informações, pois apresenta índice de 0,64, de acordo com PNUD (2009) a proximidade
do índice 1 permite inferir situação critica de desigualdade, pois indica que “apenas um
indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula”
(fig.9).
O PIB per capita é um indicador de primeira geração que visou atender as
necessidades do pós-guerra afim de mensurar através de agregados financeiros o
comportamento do desenvolvimento socioeconômico, associando as variáveis PIB e
população. Entretanto, devido “a incapacidade de refletir a distribuição da renda interna em
cada unidade territorial” (GUIMARÃES & JANNUZZI, 2005, p.75), iniciativas
governamentais foram instituídas com o objetivo de compilar indicadores sociais que se
aproximem da realidade com mais acurácia, trata-se de indicadores de segunda geração, a
exemplo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que abrange três dimensões
complexas: educação, longevidade e renda. A partir de 1990, estudos desenvolvidos pela
Fundação João Pinheiro e pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
aprimoraram o método deste indicador para escala municipal (GUIMARÃES & JANNUZZI,
2005).
16
Figura 9
Mapa da distribuição de renda por setor censitário do PUIos.
Fonte: CONDER (2000)
Conforme a tabela 4, o IDH-M averiguado enquadrasse na categoria de médio
desenvolvimento humano tanto para 1991 como 2000, o recorte espaço-tempo creditou uma
elevação na taxa de crescimento na ordem de 1,6%, reflexo da dinâmica de atividades do
terceiro setor e de políticas públicas, isso acarretou em modificações na configuração do
ranking estadual, onde no ano de 1991 o município ocupava a 26ª colocação e atualmente
obtêm a 22ª colocação, em relação a média estadual os valores estiveram acima do
estabelecido.
17
A variável Educação do IDH-M destaca-se por apresentar taxa de crescimento de
2,78%, o indicador em 2000 esteve próximo do alcance da categoria de alto desenvolvimento
humano, estimasse para os próximos recenseamentos alteração no quadro, uma vez que o
PUIos se consolida como pólo educacional a nível de educação básica, profissionalizante e
superior.
Tabela 4:
Índice de Desenvolvimento Humano
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
Educação
Longevidade
Renda
Índice de Desenvolvimento Humano Estadual
1991
0.610
0.621
0.660
0.549
0.590
2000
0.703
0.795
0.685
0.630
0.688
Taxa de
Crescimento
(%)
1.6
2.78
0.41
1.54
1.72
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano (2000)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de geotecnologias aplicadas a análise espaço-temporal do fenômeno da
expansão territorial horizontal de Ilhéus permitiu identificar o período que os agentes
modeladores do espaço intensificaram a estruturação urbana e da cidade, que na realidade
ocorreu concomitante com o crescimento populacional no PUIos em virtude da crise da
lavoura cacaueira. Outro as aspecto, concerne a reestruturação produtivas apresentada através
do índice PIB-M retrata a forma de produção e reprodução do espaço em cidades de médio
porte. Para não concluir, “a cidade contemporânea acentuou seu papel enquanto lócus da
reprodução econômica, sem deixar de ser o espaço de reprodução da vida” (J. SANTOS,
2009, p.13).
18
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