DESINFECÇÃO DE CORTES Métodos de luta profilática No decurso de dois projectos Agro DED, 231 e 688, dedicados ao kiwi, foi-nos chamada a atenção para um crescente nº de plantas em que se verificava dessecamento de braços, por vezes atingindo o tronco e ocasionalmente levando à morte da própria planta. Após análise laboratorial verificou-se que muita desta sintomatologia se devia à acção de fungos relacionados com problemas idênticos na vinha, fungos pertencentes ao chamado grupo das “doenças do lenho da videira”, em particular fungos associados à doença designada por “esca”. Após consultar bibliografia especializada, nacional e estrangeira, sobre o assunto, comprovámos que o mesmo problema estava a começar a ser estudado em França, Espanha, Itália, Chile, etc., tendo inclusive sido detectados outros fungos associados a outras doenças da madeira. Nenhum dos trabalhos consultados apresentava soluções curativas para o problema, mas todos focavam as medidas profiláticas como a única forma disponível de lidar com o problema. Embora estas medidas se tenham, de certa forma, tornado incontornáveis, é importante salientar que: • Nunca conseguirão a erradicação total das doenças do lenho; • Só a sua aplicação correcta, meticulosa e em grande escala dará garantia de resultados; • São medidas dispendiosas em tempo, recursos e paciência. De seguida expomos por tópicos a lógica da aplicação destas medidas: 1º Limitar o inóculo Remover braços e plantas mortas • Efectuar antes da poda; • Eliminar e queimar; • Evitar pilhas de madeira morta; • Caso se destine a lenha à lareira, guardea longe do pomar! Nota: Os esporos (“sementes” dos fungos) são normalmente libertados com temperaturas amenas e humidade elevada e transportados pelo vento por vezes em distâncias de vários quilómetros. À poda • Remover do pomar e queimar a madeira podada de dois ou mais anos. • Nas árvores afectadas com problemas do lenho (caso se opte pela renovação a partir de lançamentos), remover toda a madeira com sintomas de doença até atingir a madeira de aspecto são. 2º Reduzir e proteger as feridas de poda • A disseminação dos esporos dos diferentes fungos é considerada basicamente aérea e a sua penetração efectua-se com especial incidência pelos grandes cortes de poda; • Nas feridas em verde, embora as penetrações não sejam impossíveis, são pouco prováveis (e menos ainda se houver emissão de seiva). Há no entanto alguns fungos que esporulam durante o período vegetativo; • O período de maior receptividade das feridas de poda é de aproximadamente quinze dias após a poda. A contaminação vai-se tornando difícil com a cicatrização. Poda de Inverno • Cuidado com as grandes feridas de poda. • Privilegiar a poda em períodos secos; • Não esquecer de antes da poda remover e queimar toda a madeira morta. Só assim evitará novas contaminações. DESINFECÇÃO DE CORTES Protecção de feridas e das feridas de poda Como os resultantes da remoção de partes da estrutura da planta com vista à restauração da mesma, ou as feridas resultantes de gelo, ou que surjam naturalmente na madeira mais velha da planta. Na protecção de feridas há diversos conceitos a considerar. Um grande número de autores defende a protecção das grandes feridas de poda, havendo a considerar dois tipos de desinfecção: • Protecção mecânica, em que apenas se recobre a ferida com um selante (tipo mástique p.e.: “isolkote” ou “enxertox”). Esta protecção deverá ser feita imediatamente após a poda e funciona como uma barreira física impedindo a entrada dos esporos dos fungos. Não desinfecta, não cura. • Protecção química, que poderá ter uma acção apenas de contacto, ou alguma sistemia. No nosso país, que seja do nosso conhecimento, apenas se encontra homologado, para protecção e desinfecção (contacto) de feridas de poda (em geral) o fungicida cúprico “Gafex” (Pó molhável (WP) com 26,6% de cobre sob a forma de oxicloreto de cobre), aplicado como pasta (1kg de produto para um litro de água); • A aplicação deve ser feita o mais rápido possível após a poda, por pincelagem. • Consideramos que a protecção de feridas de poda terá um papel importante em pomares com forte incidência de doenças do lenho, como forma de impedir a contaminação de novas plantas na proximidade. Outras soluções • Há homologadas, noutros países, soluções com alguma sistemia para recobrimento de feridas de poda, no entanto essas soluções não se encontram homologadas no nosso país. • A utilização de outras pastas cúpricas, tem tido bons resultados noutras fruteiras. Nestes casos, tem-se utilizado calda bordalesa, já preparada, a que se adiciona água até formar uma pasta. • Encontra-se em estudo, para desinfecção de feridas de poda, no tocante a doenças do lenho, uma mistura de ácido bórico com uma pasta 5% peso/peso. Esta mistura, que foi testada em vinha utilizando 50 g de ácido bórico em 1 litro de cera em pasta Johnson (à base de carnaúba), teve bons resultados no tocante a desinfecção. Houve no entanto um efeito secundário em vinha que foi o ter impedido, nalguns casos o abrolhamento do 1º gomo abaixo da desinfecção, em talões desinfectados (O efeito deve-se ao boro). Não deverá ser este o caso nas grandes feridas de poda. Elaborado por: Jorge Carvalho Sofia Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral- CEVDão Projecto AGRO 688: “DEMONSTRAÇÃO E PROMOÇÃO DE PRÁTICAS AGRÍCOLAS QUE ASSEGUREM A QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR E QUE MINIMIZEM O IMPACTO AMBIENTAL DA CULTURA DA ACTINÍDEA”