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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
Soroepidemiologia da leucose enzoótica bovina em
propriedades leiteiras do município de Alegre, estado do
Espírito Santo, Brasil
Seroepidemiology of enzootic bovine leukosis properties in the
city of Alegre, Espírito Santo, Brazil
Seroepidemiología de la leucosis enzoótica bovina en
propiedades lecheras del municipio de Alegre, estado de
Espíritu Santo, Brasil
Renan Zappavigna Costa Starling1, Alexandre de Oliveira Bezerra2,
Igor Salardane2, Peter Gabriel Ferreira2, Renata Côgo Clipes3 e
Dirlei Molinari Donateli4
Resumo
Avaliou-se a soroprevalência da leucose enzoótica bovina e os fatores de
risco associados no rebanho bovino leiteiro do município de Alegre,
Espírito Santo, 2011. Foram analisadas 409 amostras sanguíneas de
vacas leiteiras lactentes de 23 propriedades rurais. O diagnóstico foi feito
por meio do teste sorológico de imunodifusão em gel de ágar (Tecpar®)
para detecção de anticorpos específicos antivírus da leucose bovina (VLB).
Das 409 amostras testadas, 114 foram soro-reagentes, totalizando uma
soroprevalência de 27,9%, presentes em 87% das propriedades. Em 100%
das propriedades estudadas havia compra e venda de animais sem teste
de leucose enzoótica bovina. Em 45,3% realizava-se a inseminação
1
Departamento de Medicina Veterinária. Centro de Ciências
Agrárias. Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (CCAUFES). * E-mail: [email protected]
2
Graduando em Medicina Veterinária. Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (CCA-UFES).
3
DSc. Professora do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).
Campus de Alegre.
4
DSc. Professor do Departamento de Medicina Veterinária. Centro
de Ciências Agrárias. Universidade Federal do Estado do Espírito
Santo (CCA-UFES).
427
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
artificial que se comportou como um fator de risco, uma vez que implicava
no aumento do risco de ocorrência para LEB em 2,25%. Outras variáveis
como assistência medica veterinária, compra e venda de animais,
reutilização de luva obstétrica, descorna sem desinfecção e tatuagem não
apresentaram significância estatística para ocorrência da LEB. Os
resultados demonstram que a infecção pelo vírus da leucose enzoótica
bovina está amplamente distribuída no rebanho leiteiro do município de
Alegre, Espírito Santo. Torna-se imprescindível que medidas sejam
adotadas para que os proprietários rurais recebam esclarecimentos sobre
a doença e suas implicações econômicas, visando à implantação de um
programa de controle da doença visto que, atualmente, não existem
vacinas, nem tratamentos efetivos para a LEB.
Palavras-chave: Epidemiologia, leucose, prevalência.
Abstract
We evaluated the seroprevalence of enzootic bovine leukemia and associated
risk factors in dairy cattle in the municipality of Alegre, Espírito Santo in 2011.
We analyzed blood samples from 409 dairy cows’ infants from 23 farms. The
diagnosis was made by serologic testing immunodiffusion in agar gel (Tecpar ®)
to detect antibodies specific to bovine leukemia virus (BLV). Of the 409 samples
tested, 114 sera were reactive, with a total prevalence of 27.9%, present in 87%
of the properties. Of the 100% of the farms studied that had bought and sold
animals without testing for enzootic bovine leukemia, in which 45.3% AI had
been performed, AI behaved as a risk factor, since its implementation resulted in
an increased risk of occurrence for LEB by 2.25%. Other variables such as
veterinary medical care, buying and selling of animals, re-use of obstetric gloves,
disinfecting and dehorning without tattooing, did not show statistical significance
for the occurrence of the LEB. In 82.6% of the properties small surgical practices
were performed, such as dehorning without the disinfection of surgical
instruments. These results demonstrate that infection with enzootic bovine
leukemia virus is widely distributed in dairy cattle in the municipality of Alegre,
Espírito Santo. It is essential that measures be adopted to ensure that
landowners receive information on the disease and understand its economic
implications in order to implement a program to control it in the region, since
428
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
currently there are no vaccines or effective treatments for LEB.
Key words: Epidemiology, leukosis, prevalence.
Resumen
Se evaluó la seroprevalencia de la leucosis enzoótica bovina y los factores
de riesgo asociados en el rebaño bovino lechero del municipio de Alegre,
Espíritu Santo, 2011. Fueron analizadas 409 muestras sanguíneas de
vacas lecheras lactantes, de 23 propiedades rurales. El diagnóstico fue
hecho por medio de prueba serológica de inmunodifusión en gel de agar
(Tecpar®) para detección de anticuerpos específicos antivirus de la
leucosis bovina (VLB). De las 409 muestras valoradas, 114 fueron
seroreactivas, totalizando una seroprevalencia de 27,9%, presentes en
87% de las propiedades. En 100% de las propiedades estudiadas había
compra y venta de animales sin prueba de leucosis enzoótica bovina, en
45,3% se realizaba inseminación artificial que se comportó como un factor
de riesgo, una vez que su realización implicó en el aumento del riesgo de
la ocurrencia para LEB en 2,25%. Otras variables como asistencia médico
veterinaria, compra y venta de animales, reutilización de guantes
obstétricos, descorne
sin desinfección y tatuado no presentaron
significado estadístico para la ocurrencia de LEB. Los resultados
demostraron que la infección por el virus de la leucosis enzoótica bovina
está ampliamente distribuida en el rebaño lechero del municipio de Alegre,
Espíritu Santo. Se vuelve imprescindible que medidas sean adoptadas
para que los propietarios rurales reciban aclaraciones sobre la enfermedad
y sus implicaciones económicas, visando la implantación de un programa
de control de la enfermedad, visto que, actualmente, no existen vacunas, ni
tratamientos efectivos para la LEB.
Palabras-clave: Epidemiología, leucosis, prevalencia.
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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
Introdução
formas importantes de infecção são
causadas por meio do manejo
A leucose enzoótica bovina
(LEB)
é
uma
doença
infectocontagiosa causada por um
vírus
da
família
Retroviridae,
subfamília Oncovirinae e gênero
Deltaretrovirus, denominado vírus
da leucose bovina1.
intenso utilizando palpação retal,
imunização,
Machado, em 1943, no Estado de
Minas Gerais. Esta doença afeta
27,6%
a
importação de animais infectados4.
Bovinos
de
apresentam
aptidão
maior
leiteira
prevalência
devido ao manejo diário do rebanho
processo de produção5,6.
pela primeira vez por Rangel e
de
e
e à maior tecnologia envolvida no
No Brasil, a LEB foi descrita
cerca
cirurgias
dos
bovinos
brasileiros e já se difundiu em todo
o mundo2,3.
A LEB gera grande perda
econômica com queda da produção
de leite, restrições à exportação e
importação
de
bovinos,
alta
mortalidade dos animais infectados
e descarte dos soropositivos7. Os
No estado do Espírito Santo
diagnósticos
recomendados
não existem estudos conclusivos
Organização
Mundial
3
Animal
O que se sabe é que a leucose está
imunodifusão
difundida por diversos municípios
(IDGA) e os ensaios de imuno-
capixabas devido à comercialização
enzimático
de animais não testados para esta
também ser realizados por reação
enfermidade, vindos de Estados
em cadeia da polimerase (PCR)9.
e São Paulo, localidades onde essa
doença já foi descrita2.
as
Saúde
acerca da ocorrência desta doença.
como Minas Gerais, Rio de Janeiro
são
de
pela
em
técnicas
gel
(ELISA)8,
Embora
não
de
de
ágar
podendo
exista
um
tratamento eficaz contra a LEB, é
possível diminuir a prevalência por
de
meio da adoção de medidas de
maneira vertical e horizontal, sendo
controle e erradicação. O controle
a segunda forma a principal via de
tem
disseminação do vírus. Algumas
formas de infecção e separar lotes
A
transmissão
ocorre
como
objetivo
eliminar
as
430
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
de animais soro-reagentes e não
Material e métodos
reagentes. Com o isolamento dos
Para
animais reagentes controla-se a
disseminação do vírus da leucose
bovina (VLB), enquanto que para a
erradicação faz-se necessária a
implementação de um programa
efetivo de descarte de animais
soropositivos10. Contudo, para que
se consiga alcançar o objetivo final
de
controle
doença,
e
são
erradicação
de
da
fundamental
importância o planejamento e a
construção de um programa que
englobe
todas
as
propriedades
rurais e que se tenha o apoio do
governo para que seja realmente
eficiente,
alcançar
conseguindo
o
controle
assim
e/ou
a
erradicação desta enfermidade.
Dessa maneira, o presente
estudo teve por objetivo avaliar a
prevalência da LEB no rebanho
leiteiro do município de Alegre, estado
o
levantamento
da
prevalência da leucose enzoótica
bovina (LEB), foram visitadas 23
propriedades
distribuídas
no
município de Alegre, sul do estado
do
Espírito
Santo.
O
presente
município possui 52.247 cabeças de
bovinos,
sendo
o quinto
maior
rebanho bovino do estado. Possui
uma área territorial de 772,7 km²
10
e sua economia é baseada em
atividades
agropecuárias,
onde
predomina a pecuária leiteira e a
cafeicultura.
Em linhas gerais, rebanhos
criados na região do município de
Alegre são constituídos geralmente
por animais mestiços resultantes do
cruzamento das raças holandês e
gir nos diversos graus de sangue,
caracterizando na sua maior parte
pequenos e médios produtores.
do Espírito Santo, por meio do
Para o agendamento das
levantamento soroepidemiológico da
visitas, utilizou-se listagem obtida
LEB
lactantes,
por meio do cadastro do Instituto de
diagnosticadas por meio da técnica de
Defesa Agropecuária e Florestal do
imunodifusão em ágar gel (IDGA), no
Espírito Santo (IDAF-ES) e da
ano de 2011. Ademais, visa associar
Secretaria Municipal de Agricultura,
os fatores de riscos e suas prováveis
sorteadas de forma aleatória. O
relações com a LEB.
termo de consentimento e livre
em
vacas
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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
foi
Foram coletadas amostras de
apresentado ao responsável pela
sangue de cada animal por meio de
propriedade, e somente após a
venopunção coccígea utilizando-se
assinatura do termo a propriedade
um sistema a vácuo (vacutainer ®),
fez parte do estudo.
todas identificadas, armazenadas
esclarecido
do
projeto
em
Foram avaliados 409 animais
com atividade leiteira, criados em
regime semi-intensivo, com ordenha
manual ou mecânica e limitados
recursos técnicos, pertencentes a
23 propriedades distintas. Coletouse no mínimo amostra de 10% do
total de bovinos em lactação das
propriedades.
de
10mL
sem
anticoagulantes e transportadas em
caixa térmica com gelo até o
Laboratório
de
Inspeção
de
Produtos de Origem Animal do
Hospital Veterinário da Universidade
Federal do Espírito Santo para a
realização do sorodiagnóstico. As
amostras
coletadas
foram
centrifugadas por 10 minutos a 1600
Previamente à coleta das
amostras
foram
entrevistas
tubos
ao
aplicadas
proprietário
ou
g
para
a
obtenção
Posteriormente,
transferidos
os
do
soro.
soros
foram
para
tubos
tipo
responsável com o objetivo de
eppendorf, identificados e mantidos
identificar, qualificar e quantificar os
a temperatura de -20°C até o
produtores e propriedades visitadas
processamento do mesmo no IPOA.
neste estudo.
Para a detecção do anticorpo contra
a leucose enzoótica bovina, utilizou-
Na
apurados
entrevista,
dados
a
foram
respeito
do
manejo sanitário do rebanho, entre
se a técnica de imunodifusão em gel
de ágar, seguindo instruções do kit
comercial da Tecpar®.
outras variáveis (assistência médica
veterinária, compra e venda de
Os
dados
animais, reutilização de luva de
armazenados
palpação,
planilhas do Microsoft Excel 2007. A
inseminação
tatuagem
desinfecção).
e
descorna
artificial,
sem
prevalência
proporção
e
foi
de
tabulados
foram
em
obtida
pela
animais
soro-
reagentes entre a totalidade dos
432
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
naquele
consideradas negativas para LEB,
determinado momento. A análise
pois não apresentavam nenhum
estatística
animal soropositivo (Tabela 1).
animais
testados
foi
realizada
pelo
programa Open Epi, Versão 2,
sendo
utilizada
a
estatística
descritiva; as associações entre as
variáveis foram testadas pelo Quiquadrado
(X2),
com
nível
de
A
soroprevalência
nesse
estudo
demonstrando
apresenta
foi
que
como
encontrada
de
a
uma
27,9%,
LEB
se
doença
endêmica no gado bovino leiteiro do
significância de 5%.
município de Alegre.
As
Resultados
principais
informações
adquiridas através das entrevistas
realizadas em cada propriedade
Dos 409 bovinos testados de
23
propriedades
leiteiras
do
município de Alegre, Espírito Santo,
27,9% (114) foram soro-reagentes
para LEB, distribuídos em 87% (20)
das propriedades estudadas. Para
serem
caracterizadas
como
positivas para LEB, as propriedades
visitadas tinham que ter a presença
de pelo menos um animal sororeagente ao teste de IDGA. Apenas
três
propriedades
(3/23)
foram
visitada estão descritas nas Tabelas
2 e 3. Ao se analisar as variáveis
estudadas como potenciais fatores
de risco para LEB foi verificada
associação
significativa
(p<0,05)
entre os animais reagentes para
LEB e a realização de inseminação
artificial,
uma
vez
que
a
sua
realização implicou no aumento do
risco de ocorrência para LEB em
2,25 vezes em comparação à não
realização de inseminação artificial.
433
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
Tabela: Amostras de soro bovino leiteiro oriundas de 23 propriedades distintas
e testadas por imunodifusão em ágar gel para a leucose enzoótica bovina, no
município de Alegre, ES, 2011.
Propriedades
PA
PB
PC
PD
PE
PF
PG
PH
PI
PJ
PL
PM
PN
PO
PP
PQ
PR
OS
PT
PV
PX
PZ
PPA
Total
Amostras examinadas
Nº de amostras
VLB positivo
Nº
4
2
11
5
89
10
37
14
4
1
14
3
4
2
7
3
29
9
30
2
2
2
3
2
4
1
4
3
133
48
8
2
6
1
4
1
2
1
5
2
4
3
2
409
114
(%)
50
45,5
11,3
37,8
25
21,4
50
42,9
31
6,7
100
66,7
25
36,1
25
16,7
25
50
40
75
27,9
VLB = vírus da leucose bovina.
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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
Tabela 2: Distribuição de frequências de bovinos reagentes à imunodifusão em
ágar gel (IDGA) para leucose enzoótica bovina em relação às variáveis
estudadas na bacia leiteira do município de Alegre, ES, 2011
Bovinos
Variáveis
Assistência
veterinária
Sim
Positivo
s
78
Não
36
8,9
89
21,7
Compra e
venda de
animais
Reutilização
de luva de
palpação
Inseminação
artificial
Sim
105
25,6
272
66,6
Não
9
2,2
23
5,6
Sim
108
26,4
288
70,4
Não
6
1,5
7
1,7
Sim
68
16,6
117
28,7
Não
46
11,2
178
43,5
Sim
103
25,2
269
65,7
Não
11
2,7
26
6,4
Sim
97
23,7
269
65,7
Não
17
4,1
26
6,4
Tatuados
Descorna
sem
desinfecção
(%)
Negativos
(%)
19,1
206
50,3
P
0,6534
OR
0,8991
0,7895
1,12
0,1353
0,4375
0,00027
2,25
0,7917
0,905
0,07140
0,5515
*P = Probabilidade de ocorrência ao acaso; OR = Odds ratio (95%).
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JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
A assistência médica veterinária
no
presente
estudo
não
se
demonstrou como um fator de risco
observou-se que somente 47,8%
das
propriedades
analisadas
possuíam tal assistência (Tabela 3).
para a ocorrência da LEB, mas
Tabela 3: Frequência de propriedades de bovinos leiteiros avaliadas quanto à
presença da LEB em relação às variáveis estudadas no município de Alegre,
ES, 2011.
Sim
Propriedades
Negativas Positivas*
para LEB
para LEB
(n / %)
(n / %)
02 / 8,7
09 / 39,1
Não
02 / 8,7
10 / 43,5
12 / 52,2
Sim
03 / 13,0
16 / 69, 6
19 / 82,6
Não
-
04 / 17,4
04 / 17,4
Sim
03 / 13,0
08 / 34,8
11 / 47,8
Não
10 / 43,5
02 / 8,7
12 / 52,2
Sim
02 / 8,7
09 / 39,1
11 / 47,8
Não
11 / 47,8
01 / 4,4
12 / 52,2
Sim
03 / 13,0
15 / 65,2
18 / 78,2
Não
03 / 13,0
02 / 8,7
05 / 21,8
Sim
03 / 13,0
16 / 69,6
19 / 82,6
Não
-
04 / 17,5
4 / 17,5
Variáveis
Assistência veterinária
Compra e venda de animais
Reutiliza luva de palpação
Inseminação artificial
Tatuagem
Descorna sem desinfecção
Total
(n / %)
11 / 47,8
LEB = leucose enzoótica bovina. *Propriedades Positivas LEB = presença
de pelo menos um animal soro-reagente ao teste de IDGA.
A aquisição de animais em
propriedades
localizadas
no
para brucelose, tuberculose e LEB.
Verificou-se que LEB é uma doença
município de Alegre, ES, é realizada
presente
de forma indiscriminada, sem um
propriedades
controle
na
possibilitando,
como
disseminação
compra
sanitário
dos
adequado
animais,
em
100%
das
estudadas
assim,
e,
até
a
sua
mesmo,
solicitação de exames negativos
436
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
dificultando o controle dessa doença
Discussão
no município.
A
A
reutilização
da
luva
soroprevalência
de
27,9%
de
encontrada nesse estudo aproxima-
palpação ocorreu em 47,8% das
se da soroprevalência de 27,6%
propriedades
definida
estudadas.
Embora
como
nacional2,
média
esse achado não se caracterize
demonstrando
como um fator de risco para a
apresenta
ocorrência da LEB, o uso repetido
endêmica no gado bovino leiteiro do
da luva obstétrica pode ser um fator
município
de
soroprevalência de 37% encontrada
risco
importante
para
a
que
como
a
uma
de
estado
LEB
doença
Alegre.
A
Tocantins12
do
se
transmissão da LEB e também de
no
foi
outras doenças.
associada à expansão desenfreada
do rebanho bovino leiteiro a fim de
A descorna sem os cuidados de
antissepsia
presente
e
desinfecção,
estudo,
não
no
se
caracterizou como um fator de risco
para LEB, mas observou-se que
82,6% das propriedades estudadas
realizavam
tal
prática
sem
os
devidos preceitos cirúrgicos, o que
realizar reformulação do rebanho,
com a incorporação de animais com
alto
valor
genético
de
forma
negligente, sem a observação de
critérios
rígidos
criando-se,
de
assim,
sanidade
e
condições
favoráveis para a disseminação da
LEB.
pode ser considerado uma condição
favorável para a transmissão da
LEB.
A
prevalência
obtida
neste
ensaio é superior à encontrada nas
diferentes regiões de Manaus, no
A tatuagem é utilizada em 78,2%
das
propriedades
estudadas,
e
mesmo que essa variável não tenha
associação neste estudo com a
ocorrência da LEB, a utilização do
tatuador torna-se uma prática de
estado
do
Amazonas13,
e
na
mesorregião do sertão sergipano14.
Tais
diferenças
podem
ser
associadas ao manejo do rebanho
bovino realizado em cada região
estudada.
alto risco para a disseminação da
doença.
437
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
As prevalências descritas para o
15
inseminação artificial e LEB. Por
estado do Rio de Janeiro , estado
tanto, a realização da inseminação
do Rio Grande do Sul12, estado do
artificial
Paraná16 e estado do Maranhão17
despreparados
se
são 54,3%, 61,5%, 56,3% e 53,8%
importante
disseminação
da
respectivamente.
doença,
comprovado
por
podem
ser
Tais
achados
justificados
pela
por
na
como
profissionais
torna
fator
12
outros autores .
aquisição de novos animais,
A assistência médica veterinária
informações
não se demonstrou como um fator
adquiridas através das entrevistas
de risco para a ocorrência da LEB
realizadas em cada propriedade
(Tabela 2), mas observou-se que
visitada estão descritas nas tabelas
somente 47,8% das propriedades
2 e 3. Ao se analisar as variáveis
analisadas
estudadas como potenciais fatores
assistência
de risco para LEB foi verificada
demonstrando-se com isso que há
associação significativa (p < 0,05)
uma deficiência na prestação de
entre os animais reagentes para
assistência
LEB e a realização de inseminação
provavelmente
artificial. A inseminação artificial
disseminação
implicou no aumento do risco de
rebanho bovino leiteiro do município
ocorrência para LEB em 2,25 vezes
de Alegre. A assistência médica
comparando-se à não realização de
veterinária e de auxiliares é uma
tal prática reprodutiva. A realização
das variáveis que mais vem sendo
da
por
discutida em relação ao aumento da
pessoas não capacitadas (20/23)
prevalência da LEB por ter uma
pode justificar tais achados. Fatores
associação
como a desinfecção do aplicador, o
disseminação
descarte das luvas de palpação a
demonstrando-se
cada animal e a utilização de
necessidade de assistência médica
sêmem certificado negativo para
veterinária
LEB
a
prestação de serviço no município
entre
de Alegre, ES. Neste caso, não
As
principais
inseminação
podem
correlação
artificial
contribuir
positiva
para
possuíam
a
referida
(Tabela
3),
veterinária,
o
que
propicia
de
a
doenças
positiva
para
no
a
VLB18,
do
assim
qualificada
para
a
a
438
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441.
houve correlação positiva devido à
estado do Maranhão17. Embora este
falta de médicos veterinários que
achado não se caracterize como um
trabalham
fator de risco para a ocorrência da
a
campo
na
região
estudada.
LEB,
o
uso
repetido
da
luva
obstétrica pode ser um fator de risco
A aquisição de animais em
propriedades
localizadas
no
município de Alegre, ES, é realizada
de forma indiscriminada em 100%
importante para a transmissão da
infecção,
pois
pequenas
quantidades de linfócitos infectados
podem transmitir a doença19.
das propriedades estudadas, sem
um controle sanitário adequado na
compra
do
rebanho
desconhecimento
e
da
o
A descorna sem a desinfecção,
no
presente
estudo,
não
se
LEB
caracterizou como um fator de risco
a
para a LEB, mas observou-se que
disseminação da enfermidade e até
82,6% das propriedades estudadas
mesmo dificultando o controle dessa
realizam tal prática cirúrgica sem
doença no município em questão.
desinfecção
Uma possível explicação pode ser a
cirúrgicos,
falta de mão de obra qualificada ou
considerado
até mesmo de conhecimento dos
favorável para a transmissão da
proprietários
LEB.
possibilitando,
assim,
sobre
as
doenças
dos
o
que
uma
instrumentos
pode
ser
condição
capazes de promover importantes
perdas
produtivas
bovino.
A
animais
rebanho
comercialização
se
importante
no
torna
na
um
disseminação
de
fator
da
A tatuagem foi observada em
78,2% das propriedades estudadas,
e mesmo que essa variável não
tenha sido associada à ocorrência
da LEB, a utilização do tatuador
LEB18.
torna-se uma prática de alto risco
A
reutilização
da
luva
de
para a disseminação da doença18.
palpação foi verificada em 47,8%
das propriedades estudadas, sendo
superior aos 18,47% descrito em
bovinos
da
raça
girolando,
no
Apenas três propriedades foram
consideradas negativas para a LEB.
Torna-se
imprescindível
que
medidas sejam tomadas no sentido
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de
esclarecer
aos
proprietários
Conclusão
sobre a doença e suas implicações
econômicas, visando a implantação
de um programa de controle da
doença na região, pois atualmente
não
existem
vacinas,
nem
O vírus da leucose enzoótica
bovina
está
amplamente
disseminado no rebanho leiteiro do
município de Alegre, Espírito Santo.
tratamentos efetivos para a LEB, e
A inseminação artificial é um
muitas propriedades de gado de
fator de risco para a ocorrência da
leite possuem condições favoráveis
LEB.
para
a
manutenção
da
endemicidade da LEB no município
de Alegre, ES.
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Recebido em: Abril de 2013
Aceito em: Outubro de 2013
Publicado em: Dezembro de 2013
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