JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. Soroepidemiologia da leucose enzoótica bovina em propriedades leiteiras do município de Alegre, estado do Espírito Santo, Brasil Seroepidemiology of enzootic bovine leukosis properties in the city of Alegre, Espírito Santo, Brazil Seroepidemiología de la leucosis enzoótica bovina en propiedades lecheras del municipio de Alegre, estado de Espíritu Santo, Brasil Renan Zappavigna Costa Starling1, Alexandre de Oliveira Bezerra2, Igor Salardane2, Peter Gabriel Ferreira2, Renata Côgo Clipes3 e Dirlei Molinari Donateli4 Resumo Avaliou-se a soroprevalência da leucose enzoótica bovina e os fatores de risco associados no rebanho bovino leiteiro do município de Alegre, Espírito Santo, 2011. Foram analisadas 409 amostras sanguíneas de vacas leiteiras lactentes de 23 propriedades rurais. O diagnóstico foi feito por meio do teste sorológico de imunodifusão em gel de ágar (Tecpar®) para detecção de anticorpos específicos antivírus da leucose bovina (VLB). Das 409 amostras testadas, 114 foram soro-reagentes, totalizando uma soroprevalência de 27,9%, presentes em 87% das propriedades. Em 100% das propriedades estudadas havia compra e venda de animais sem teste de leucose enzoótica bovina. Em 45,3% realizava-se a inseminação 1 Departamento de Medicina Veterinária. Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (CCAUFES). * E-mail: [email protected] 2 Graduando em Medicina Veterinária. Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (CCA-UFES). 3 DSc. Professora do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). Campus de Alegre. 4 DSc. Professor do Departamento de Medicina Veterinária. Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (CCA-UFES). 427 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. artificial que se comportou como um fator de risco, uma vez que implicava no aumento do risco de ocorrência para LEB em 2,25%. Outras variáveis como assistência medica veterinária, compra e venda de animais, reutilização de luva obstétrica, descorna sem desinfecção e tatuagem não apresentaram significância estatística para ocorrência da LEB. Os resultados demonstram que a infecção pelo vírus da leucose enzoótica bovina está amplamente distribuída no rebanho leiteiro do município de Alegre, Espírito Santo. Torna-se imprescindível que medidas sejam adotadas para que os proprietários rurais recebam esclarecimentos sobre a doença e suas implicações econômicas, visando à implantação de um programa de controle da doença visto que, atualmente, não existem vacinas, nem tratamentos efetivos para a LEB. Palavras-chave: Epidemiologia, leucose, prevalência. Abstract We evaluated the seroprevalence of enzootic bovine leukemia and associated risk factors in dairy cattle in the municipality of Alegre, Espírito Santo in 2011. We analyzed blood samples from 409 dairy cows’ infants from 23 farms. The diagnosis was made by serologic testing immunodiffusion in agar gel (Tecpar ®) to detect antibodies specific to bovine leukemia virus (BLV). Of the 409 samples tested, 114 sera were reactive, with a total prevalence of 27.9%, present in 87% of the properties. Of the 100% of the farms studied that had bought and sold animals without testing for enzootic bovine leukemia, in which 45.3% AI had been performed, AI behaved as a risk factor, since its implementation resulted in an increased risk of occurrence for LEB by 2.25%. Other variables such as veterinary medical care, buying and selling of animals, re-use of obstetric gloves, disinfecting and dehorning without tattooing, did not show statistical significance for the occurrence of the LEB. In 82.6% of the properties small surgical practices were performed, such as dehorning without the disinfection of surgical instruments. These results demonstrate that infection with enzootic bovine leukemia virus is widely distributed in dairy cattle in the municipality of Alegre, Espírito Santo. It is essential that measures be adopted to ensure that landowners receive information on the disease and understand its economic implications in order to implement a program to control it in the region, since 428 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. currently there are no vaccines or effective treatments for LEB. Key words: Epidemiology, leukosis, prevalence. Resumen Se evaluó la seroprevalencia de la leucosis enzoótica bovina y los factores de riesgo asociados en el rebaño bovino lechero del municipio de Alegre, Espíritu Santo, 2011. Fueron analizadas 409 muestras sanguíneas de vacas lecheras lactantes, de 23 propiedades rurales. El diagnóstico fue hecho por medio de prueba serológica de inmunodifusión en gel de agar (Tecpar®) para detección de anticuerpos específicos antivirus de la leucosis bovina (VLB). De las 409 muestras valoradas, 114 fueron seroreactivas, totalizando una seroprevalencia de 27,9%, presentes en 87% de las propiedades. En 100% de las propiedades estudiadas había compra y venta de animales sin prueba de leucosis enzoótica bovina, en 45,3% se realizaba inseminación artificial que se comportó como un factor de riesgo, una vez que su realización implicó en el aumento del riesgo de la ocurrencia para LEB en 2,25%. Otras variables como asistencia médico veterinaria, compra y venta de animales, reutilización de guantes obstétricos, descorne sin desinfección y tatuado no presentaron significado estadístico para la ocurrencia de LEB. Los resultados demostraron que la infección por el virus de la leucosis enzoótica bovina está ampliamente distribuida en el rebaño lechero del municipio de Alegre, Espíritu Santo. Se vuelve imprescindible que medidas sean adoptadas para que los propietarios rurales reciban aclaraciones sobre la enfermedad y sus implicaciones económicas, visando la implantación de un programa de control de la enfermedad, visto que, actualmente, no existen vacunas, ni tratamientos efectivos para la LEB. Palabras-clave: Epidemiología, leucosis, prevalencia. 429 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. Introdução formas importantes de infecção são causadas por meio do manejo A leucose enzoótica bovina (LEB) é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus da família Retroviridae, subfamília Oncovirinae e gênero Deltaretrovirus, denominado vírus da leucose bovina1. intenso utilizando palpação retal, imunização, Machado, em 1943, no Estado de Minas Gerais. Esta doença afeta 27,6% a importação de animais infectados4. Bovinos de apresentam aptidão maior leiteira prevalência devido ao manejo diário do rebanho processo de produção5,6. pela primeira vez por Rangel e de e e à maior tecnologia envolvida no No Brasil, a LEB foi descrita cerca cirurgias dos bovinos brasileiros e já se difundiu em todo o mundo2,3. A LEB gera grande perda econômica com queda da produção de leite, restrições à exportação e importação de bovinos, alta mortalidade dos animais infectados e descarte dos soropositivos7. Os No estado do Espírito Santo diagnósticos recomendados não existem estudos conclusivos Organização Mundial 3 Animal O que se sabe é que a leucose está imunodifusão difundida por diversos municípios (IDGA) e os ensaios de imuno- capixabas devido à comercialização enzimático de animais não testados para esta também ser realizados por reação enfermidade, vindos de Estados em cadeia da polimerase (PCR)9. e São Paulo, localidades onde essa doença já foi descrita2. as Saúde acerca da ocorrência desta doença. como Minas Gerais, Rio de Janeiro são de pela em técnicas gel (ELISA)8, Embora não de de ágar podendo exista um tratamento eficaz contra a LEB, é possível diminuir a prevalência por de meio da adoção de medidas de maneira vertical e horizontal, sendo controle e erradicação. O controle a segunda forma a principal via de tem disseminação do vírus. Algumas formas de infecção e separar lotes A transmissão ocorre como objetivo eliminar as 430 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. de animais soro-reagentes e não Material e métodos reagentes. Com o isolamento dos Para animais reagentes controla-se a disseminação do vírus da leucose bovina (VLB), enquanto que para a erradicação faz-se necessária a implementação de um programa efetivo de descarte de animais soropositivos10. Contudo, para que se consiga alcançar o objetivo final de controle doença, e são erradicação de da fundamental importância o planejamento e a construção de um programa que englobe todas as propriedades rurais e que se tenha o apoio do governo para que seja realmente eficiente, alcançar conseguindo o controle assim e/ou a erradicação desta enfermidade. Dessa maneira, o presente estudo teve por objetivo avaliar a prevalência da LEB no rebanho leiteiro do município de Alegre, estado o levantamento da prevalência da leucose enzoótica bovina (LEB), foram visitadas 23 propriedades distribuídas no município de Alegre, sul do estado do Espírito Santo. O presente município possui 52.247 cabeças de bovinos, sendo o quinto maior rebanho bovino do estado. Possui uma área territorial de 772,7 km² 10 e sua economia é baseada em atividades agropecuárias, onde predomina a pecuária leiteira e a cafeicultura. Em linhas gerais, rebanhos criados na região do município de Alegre são constituídos geralmente por animais mestiços resultantes do cruzamento das raças holandês e gir nos diversos graus de sangue, caracterizando na sua maior parte pequenos e médios produtores. do Espírito Santo, por meio do Para o agendamento das levantamento soroepidemiológico da visitas, utilizou-se listagem obtida LEB lactantes, por meio do cadastro do Instituto de diagnosticadas por meio da técnica de Defesa Agropecuária e Florestal do imunodifusão em ágar gel (IDGA), no Espírito Santo (IDAF-ES) e da ano de 2011. Ademais, visa associar Secretaria Municipal de Agricultura, os fatores de riscos e suas prováveis sorteadas de forma aleatória. O relações com a LEB. termo de consentimento e livre em vacas 431 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. foi Foram coletadas amostras de apresentado ao responsável pela sangue de cada animal por meio de propriedade, e somente após a venopunção coccígea utilizando-se assinatura do termo a propriedade um sistema a vácuo (vacutainer ®), fez parte do estudo. todas identificadas, armazenadas esclarecido do projeto em Foram avaliados 409 animais com atividade leiteira, criados em regime semi-intensivo, com ordenha manual ou mecânica e limitados recursos técnicos, pertencentes a 23 propriedades distintas. Coletouse no mínimo amostra de 10% do total de bovinos em lactação das propriedades. de 10mL sem anticoagulantes e transportadas em caixa térmica com gelo até o Laboratório de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Espírito Santo para a realização do sorodiagnóstico. As amostras coletadas foram centrifugadas por 10 minutos a 1600 Previamente à coleta das amostras foram entrevistas tubos ao aplicadas proprietário ou g para a obtenção Posteriormente, transferidos os do soro. soros foram para tubos tipo responsável com o objetivo de eppendorf, identificados e mantidos identificar, qualificar e quantificar os a temperatura de -20°C até o produtores e propriedades visitadas processamento do mesmo no IPOA. neste estudo. Para a detecção do anticorpo contra a leucose enzoótica bovina, utilizou- Na apurados entrevista, dados a foram respeito do manejo sanitário do rebanho, entre se a técnica de imunodifusão em gel de ágar, seguindo instruções do kit comercial da Tecpar®. outras variáveis (assistência médica veterinária, compra e venda de Os dados animais, reutilização de luva de armazenados palpação, planilhas do Microsoft Excel 2007. A inseminação tatuagem desinfecção). e descorna artificial, sem prevalência proporção e foi de tabulados foram em obtida pela animais soro- reagentes entre a totalidade dos 432 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. naquele consideradas negativas para LEB, determinado momento. A análise pois não apresentavam nenhum estatística animal soropositivo (Tabela 1). animais testados foi realizada pelo programa Open Epi, Versão 2, sendo utilizada a estatística descritiva; as associações entre as variáveis foram testadas pelo Quiquadrado (X2), com nível de A soroprevalência nesse estudo demonstrando apresenta foi que como encontrada de a uma 27,9%, LEB se doença endêmica no gado bovino leiteiro do significância de 5%. município de Alegre. As Resultados principais informações adquiridas através das entrevistas realizadas em cada propriedade Dos 409 bovinos testados de 23 propriedades leiteiras do município de Alegre, Espírito Santo, 27,9% (114) foram soro-reagentes para LEB, distribuídos em 87% (20) das propriedades estudadas. Para serem caracterizadas como positivas para LEB, as propriedades visitadas tinham que ter a presença de pelo menos um animal sororeagente ao teste de IDGA. Apenas três propriedades (3/23) foram visitada estão descritas nas Tabelas 2 e 3. Ao se analisar as variáveis estudadas como potenciais fatores de risco para LEB foi verificada associação significativa (p<0,05) entre os animais reagentes para LEB e a realização de inseminação artificial, uma vez que a sua realização implicou no aumento do risco de ocorrência para LEB em 2,25 vezes em comparação à não realização de inseminação artificial. 433 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. Tabela: Amostras de soro bovino leiteiro oriundas de 23 propriedades distintas e testadas por imunodifusão em ágar gel para a leucose enzoótica bovina, no município de Alegre, ES, 2011. Propriedades PA PB PC PD PE PF PG PH PI PJ PL PM PN PO PP PQ PR OS PT PV PX PZ PPA Total Amostras examinadas Nº de amostras VLB positivo Nº 4 2 11 5 89 10 37 14 4 1 14 3 4 2 7 3 29 9 30 2 2 2 3 2 4 1 4 3 133 48 8 2 6 1 4 1 2 1 5 2 4 3 2 409 114 (%) 50 45,5 11,3 37,8 25 21,4 50 42,9 31 6,7 100 66,7 25 36,1 25 16,7 25 50 40 75 27,9 VLB = vírus da leucose bovina. 434 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. Tabela 2: Distribuição de frequências de bovinos reagentes à imunodifusão em ágar gel (IDGA) para leucose enzoótica bovina em relação às variáveis estudadas na bacia leiteira do município de Alegre, ES, 2011 Bovinos Variáveis Assistência veterinária Sim Positivo s 78 Não 36 8,9 89 21,7 Compra e venda de animais Reutilização de luva de palpação Inseminação artificial Sim 105 25,6 272 66,6 Não 9 2,2 23 5,6 Sim 108 26,4 288 70,4 Não 6 1,5 7 1,7 Sim 68 16,6 117 28,7 Não 46 11,2 178 43,5 Sim 103 25,2 269 65,7 Não 11 2,7 26 6,4 Sim 97 23,7 269 65,7 Não 17 4,1 26 6,4 Tatuados Descorna sem desinfecção (%) Negativos (%) 19,1 206 50,3 P 0,6534 OR 0,8991 0,7895 1,12 0,1353 0,4375 0,00027 2,25 0,7917 0,905 0,07140 0,5515 *P = Probabilidade de ocorrência ao acaso; OR = Odds ratio (95%). 435 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. A assistência médica veterinária no presente estudo não se demonstrou como um fator de risco observou-se que somente 47,8% das propriedades analisadas possuíam tal assistência (Tabela 3). para a ocorrência da LEB, mas Tabela 3: Frequência de propriedades de bovinos leiteiros avaliadas quanto à presença da LEB em relação às variáveis estudadas no município de Alegre, ES, 2011. Sim Propriedades Negativas Positivas* para LEB para LEB (n / %) (n / %) 02 / 8,7 09 / 39,1 Não 02 / 8,7 10 / 43,5 12 / 52,2 Sim 03 / 13,0 16 / 69, 6 19 / 82,6 Não - 04 / 17,4 04 / 17,4 Sim 03 / 13,0 08 / 34,8 11 / 47,8 Não 10 / 43,5 02 / 8,7 12 / 52,2 Sim 02 / 8,7 09 / 39,1 11 / 47,8 Não 11 / 47,8 01 / 4,4 12 / 52,2 Sim 03 / 13,0 15 / 65,2 18 / 78,2 Não 03 / 13,0 02 / 8,7 05 / 21,8 Sim 03 / 13,0 16 / 69,6 19 / 82,6 Não - 04 / 17,5 4 / 17,5 Variáveis Assistência veterinária Compra e venda de animais Reutiliza luva de palpação Inseminação artificial Tatuagem Descorna sem desinfecção Total (n / %) 11 / 47,8 LEB = leucose enzoótica bovina. *Propriedades Positivas LEB = presença de pelo menos um animal soro-reagente ao teste de IDGA. A aquisição de animais em propriedades localizadas no para brucelose, tuberculose e LEB. Verificou-se que LEB é uma doença município de Alegre, ES, é realizada presente de forma indiscriminada, sem um propriedades controle na possibilitando, como disseminação compra sanitário dos adequado animais, em 100% das estudadas assim, e, até a sua mesmo, solicitação de exames negativos 436 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. dificultando o controle dessa doença Discussão no município. A A reutilização da luva soroprevalência de 27,9% de encontrada nesse estudo aproxima- palpação ocorreu em 47,8% das se da soroprevalência de 27,6% propriedades definida estudadas. Embora como nacional2, média esse achado não se caracterize demonstrando como um fator de risco para a apresenta ocorrência da LEB, o uso repetido endêmica no gado bovino leiteiro do da luva obstétrica pode ser um fator município de soroprevalência de 37% encontrada risco importante para a que como a uma de estado LEB doença Alegre. A Tocantins12 do se transmissão da LEB e também de no foi outras doenças. associada à expansão desenfreada do rebanho bovino leiteiro a fim de A descorna sem os cuidados de antissepsia presente e desinfecção, estudo, não no se caracterizou como um fator de risco para LEB, mas observou-se que 82,6% das propriedades estudadas realizavam tal prática sem os devidos preceitos cirúrgicos, o que realizar reformulação do rebanho, com a incorporação de animais com alto valor genético de forma negligente, sem a observação de critérios rígidos criando-se, de assim, sanidade e condições favoráveis para a disseminação da LEB. pode ser considerado uma condição favorável para a transmissão da LEB. A prevalência obtida neste ensaio é superior à encontrada nas diferentes regiões de Manaus, no A tatuagem é utilizada em 78,2% das propriedades estudadas, e mesmo que essa variável não tenha associação neste estudo com a ocorrência da LEB, a utilização do tatuador torna-se uma prática de estado do Amazonas13, e na mesorregião do sertão sergipano14. Tais diferenças podem ser associadas ao manejo do rebanho bovino realizado em cada região estudada. alto risco para a disseminação da doença. 437 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. As prevalências descritas para o 15 inseminação artificial e LEB. Por estado do Rio de Janeiro , estado tanto, a realização da inseminação do Rio Grande do Sul12, estado do artificial Paraná16 e estado do Maranhão17 despreparados se são 54,3%, 61,5%, 56,3% e 53,8% importante disseminação da respectivamente. doença, comprovado por podem ser Tais achados justificados pela por na como profissionais torna fator 12 outros autores . aquisição de novos animais, A assistência médica veterinária informações não se demonstrou como um fator adquiridas através das entrevistas de risco para a ocorrência da LEB realizadas em cada propriedade (Tabela 2), mas observou-se que visitada estão descritas nas tabelas somente 47,8% das propriedades 2 e 3. Ao se analisar as variáveis analisadas estudadas como potenciais fatores assistência de risco para LEB foi verificada demonstrando-se com isso que há associação significativa (p < 0,05) uma deficiência na prestação de entre os animais reagentes para assistência LEB e a realização de inseminação provavelmente artificial. A inseminação artificial disseminação implicou no aumento do risco de rebanho bovino leiteiro do município ocorrência para LEB em 2,25 vezes de Alegre. A assistência médica comparando-se à não realização de veterinária e de auxiliares é uma tal prática reprodutiva. A realização das variáveis que mais vem sendo da por discutida em relação ao aumento da pessoas não capacitadas (20/23) prevalência da LEB por ter uma pode justificar tais achados. Fatores associação como a desinfecção do aplicador, o disseminação descarte das luvas de palpação a demonstrando-se cada animal e a utilização de necessidade de assistência médica sêmem certificado negativo para veterinária LEB a prestação de serviço no município entre de Alegre, ES. Neste caso, não As principais inseminação podem correlação artificial contribuir positiva para possuíam a referida (Tabela 3), veterinária, o que propicia de a doenças positiva para no a VLB18, do assim qualificada para a a 438 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. houve correlação positiva devido à estado do Maranhão17. Embora este falta de médicos veterinários que achado não se caracterize como um trabalham fator de risco para a ocorrência da a campo na região estudada. LEB, o uso repetido da luva obstétrica pode ser um fator de risco A aquisição de animais em propriedades localizadas no município de Alegre, ES, é realizada de forma indiscriminada em 100% importante para a transmissão da infecção, pois pequenas quantidades de linfócitos infectados podem transmitir a doença19. das propriedades estudadas, sem um controle sanitário adequado na compra do rebanho desconhecimento e da o A descorna sem a desinfecção, no presente estudo, não se LEB caracterizou como um fator de risco a para a LEB, mas observou-se que disseminação da enfermidade e até 82,6% das propriedades estudadas mesmo dificultando o controle dessa realizam tal prática cirúrgica sem doença no município em questão. desinfecção Uma possível explicação pode ser a cirúrgicos, falta de mão de obra qualificada ou considerado até mesmo de conhecimento dos favorável para a transmissão da proprietários LEB. possibilitando, assim, sobre as doenças dos o que uma instrumentos pode ser condição capazes de promover importantes perdas produtivas bovino. A animais rebanho comercialização se importante no torna na um disseminação de fator da A tatuagem foi observada em 78,2% das propriedades estudadas, e mesmo que essa variável não tenha sido associada à ocorrência da LEB, a utilização do tatuador LEB18. torna-se uma prática de alto risco A reutilização da luva de para a disseminação da doença18. palpação foi verificada em 47,8% das propriedades estudadas, sendo superior aos 18,47% descrito em bovinos da raça girolando, no Apenas três propriedades foram consideradas negativas para a LEB. Torna-se imprescindível que medidas sejam tomadas no sentido 439 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2013 6 (12): 427 – 441. de esclarecer aos proprietários Conclusão sobre a doença e suas implicações econômicas, visando a implantação de um programa de controle da doença na região, pois atualmente não existem vacinas, nem O vírus da leucose enzoótica bovina está amplamente disseminado no rebanho leiteiro do município de Alegre, Espírito Santo. tratamentos efetivos para a LEB, e A inseminação artificial é um muitas propriedades de gado de fator de risco para a ocorrência da leite possuem condições favoráveis LEB. para a manutenção da endemicidade da LEB no município de Alegre, ES. Referências bibliográficas 1. Murphy FA et al (1999). Veterinary Virology. California. 3 Ed. Academic Press, 4495 p. 2. Birgel Junior EH et al. (2006). Prevalência da infecção pelo vírus da leucose bovina em animais Ada raça Simental, criados no Estado de São Paulo. ARS Veterinária, 22: 122-129. 3. 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