Atilio Marchesini Junior Mestrando em Geografia Instituto de Geociências (IG) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) E mail: [email protected]/[email protected] Análise do “Marketing Ambiental” no Shopping Parque Dom Pedro em Campinas (S.P.) 1. INTRODUÇÃO O presente projeto visa à avaliação do processo evolutivo do setor comercial caracterizado pelos Shopping Centers, que atuam de forma diferenciada em comparação ao chamado comércio de rua, vendendo produtos e ao mesmo tempo o espaço onde se localiza. Para isso, será analisado um empreendimento recente, que demonstra de forma significativa à construção e a venda do espaço, o Shopping Parque Dom Pedro na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo. No Brasil, a implantação dos primeiros shoppings centers ocorre nos anos 1960, seguindo o padrão norte-americano, como imagem estrangeira de inovação. Mas é a partir dos anos 1980, que o Brasil testemunha um expressivo momento de expansão destes estabelecimentos. Os shoppings centers tornaram-se referência na vida de parcela considerável da sociedade, tornando-se o que Pintaudi (1992) apresenta como sendo uma “ilha da fantasia”. No shopping center os indivíduos sentem-se mais protegidos para realizar suas compras, em um lugar confortável e estimulante para o consumismo. O crescimento dos shoppings centers é notório atualmente, sendo responsável, segundo a ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers), por 18% do faturamento de todo o varejo nacional, excluído os setores automotivo e de derivados do petróleo, o que Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 representa a atuação cada vez mais crescente e importante desse tipo de empreendimento no território brasileiro, como podemos ver nas tabelas 1 e 2. Tabe la 1 - Núme ro de Shopping Ce nte rs no Brasil - 2009 Ano Núme ro de Unidade s 2002 304 2003 316 2004 325 2005 338 2006 351 2007 365 2008 377 2009 381 Fonte: Abrasce– 2009. Disponível em <www.abrasce.com.br> Tabe la 2 - Evolução do Faturame nto e m Shopping Ce nte rs no Brasil Ano Faturame nto (e m Bilhõe s de R$) 2002 31,7 2003 35,9 2004 41,6 2005 45,5 2006 50,0 2007 58,0 2008 64,6 Fonte: Abrasce– 2009. Disponível em <www.abrasce.com.br> Dessa forma nota-se a participação importante de tais empreendimentos na economia brasileira, juntamente com seu crescimento constante, que torna os Shopping Centers uma importante ferramenta característica do capitalismo. A formação e expansão do modo de produção capitalista no decorrer dos últimos séculos promoveram um aumento do processo de acumulação primitiva que permitiu uma avaliação do capitalismo sob diferentes modelos em períodos diferentes. O capitalismo vem Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 passando por momentos distintos, cada um com suas especificidades, mas sem nunca alterar seu conceito vital de acumulação de capital, e mantendo-se da mesma forma alienante. Como coloca Weber (1967), a economia capitalista moderna é um imenso cosmos que veio para dominar a vida econômica, para educar e selecionar os sujeitos de quem precisa, mediante um processo de sobrevivência dos mais aptos. O espírito do capitalismo teve de lutar por sua supremacia contra um mundo inteiro de forças hostis. Assim entendemos que: [...] o capitalismo liberta os fluxos desejantes, mas nas condições sociais que definem o seu limite e a possibilidade da sua própria dissolução, de modo que contraria constantemente com todas as suas desesperadas forças o movimento que impele para este limite. (DELEUZE; GUATARI, 1996, p. 143) O capitalismo procura intervir diretamente nos desejos humanos, incentivando os indivíduos a consumir, e é dessa forma que através de uma ferramenta característica do atual capitalismo - o marketing - pretendemos analisar o contexto do Shopping Center, a partir da característica específica de marketing promovido no espaço específico analisado, o chamado “marketing ambiental”. Segundo Varadarajan (1992) o conceito de “Marketing Ambiental”, ou “Marketing Ecológico”, começou a aparecer no final da década de 80 e foi rapidamente incorporando termos equivalentes tais como marketing ambiental e marketing ambiento-empresarial e conceitos relacionados, como empresário ambiental e ecoempresário. Como coloca Santos (1998, p.51) “A natureza artificializada, instrumentalizada ao extremo, recusa-se a deixar entender diretamente. Os homens não veem o que enxergam.” Ou seja, o homem é cegado pelo marketing capitalista do mundo atual. O marketing torna-se fundamental para a análise urbana e para o desenvolvimento do setor comercial, já que procura atrair os potenciais consumidores, contribuindo para uma apropriação do lugar pelo capital. Pensamos as atividades comerciais e de serviços como sendo de natureza social, bem como as transformações que as atingem, e também formas que constituem o modo de vida urbano e, portanto, da forma urbana. Além disso, a cidade é o lugar privilegiado para a reprodução das relações de produção em seu âmbito político, econômico e social, sendo produto, condição e meio para que esse processo aconteça. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Assim, entendemos que a análise do comércio permite uma melhor compreensão do espaço urbano e social, na medida em que comércio, cidade e sociedade são elementos indissociáveis. Pintaudi (2005, p. 145) cita que: “Analisar as formas comerciais, que são formas espaciais históricas, permite-nos a verificação das diferenças presentes no conjunto urbano, o entendimento das distinções que se delineiam entre os espaços sociais”. Pesquisar as diversas formas que o comércio vem criando ao longo das últimas décadas é relevante para os estudos geográficos, pois o padrão territorial de localização, suas estratégias e o modo de consumo que estas formas induzem, revela parte das dinâmicas da sociedade atual. As transformações que a atividade comercial sofreu nos últimos anos contribuíram para a constituição, consolidação e expansão de uma nova dimensão da sociedade, a qual vem sendo denominada de “sociedade de consumo”, por muitos autores. Bauman (2008) quando denomina tal sociedade de a “Sociedade do Consumo”, afirma que a mesma tem como valor mais característico e supremo ter uma vida feliz, e isso se baseia em grande parte no consumir. Como o mesmo Bauman (2008) coloca, consumir não é sinônimo de ter felicidade, visto que pesquisas em países mais desenvolvidos e de sociedade mais capitalizada, não indicam maior felicidade nessas pessoas do que aquelas que vivem em países pobres. Analisamos, portanto, a expressão “Sociedade de Consumo” referindo-se a uma sociedade característica do mundo desenvolvido atual, que vive a “intensificação do moderno” (RODRIGUES, 1998, p. 08), onde o mercado tem produtos e padrões de consumo cada vez mais normatizados, e que se renovam a uma velocidade extrema. A “Sociedade do Consumo” sofre diretamente o estímulo ao consumo gerado pelo marketing, dentro de um shopping center, na rua ou com a televisão, e que provoca no consumidor um processo de “consumir por consumir” e o alienam de realidades vividas pela sociedade e planeta. “Numa sociedade tornada competitiva pelos valores que erigiu como dogmas, o consumo é verdadeiro ópio, cujos templos modernos são os Shopping Centers e os supermercados, aliás, construídos à feição das catedrais. O poder do consumo é contagiante, e sua capacidade de alienação é tão forte que sua exclusão atribui às pessoas a condição de alienados. Daí a sua força e o seu papel perversamente motor na sociedade atual.” (SANTOS, 1998, p. 34). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 O consumidor passa a alimentar-se de parcialidades, limitando-se a satisfações limitadas e não usufruindo do seu direito de debater assuntos relacionados às políticas públicas, voto e ações públicas ou privadas, por exemplo. (SANTOS, 1998) Santos (1998) define bem a condição de glorificação do consumo, mostrando que a mesma gera uma diminuição de sensibilidades importantes ao ser humano, alimentando um individualismo sem fronteiras, reduzindo ou aniquilando a personalidade do indivíduo. A sociedade atual vive cada vez mais enquadrada e modelada pelos interesses do capital e da globalização, promovendo um conflito entre o “ser” cidadão e o “ser” capitalista, dentro de cada um, modificando a vida da sociedade, como resume Carlos (2005, p. 173) “O domínio do espaço, da mídia e a era do marketing, do infinitamente pequeno, produziu uma nova mentalidade, outro modo de vida”. Vivemos o período, muito bem definido por Milton Santos (1993), do “meio técnico-científico informacional”, que é “a cara geográfica da globalização” (SANTOS, 1996, p. 191), onde “o espaço torna-se fluido, permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital, passem a ter uma grande mobilidade” (SANTOS, 1993, p. 39). Nesse período vem ocorrendo uma grande expansão das formas de produção não material: da saúde, da educação, da informação e do lazer que se tornam formas de consumo não material a se disseminar por todo o território. O processo de comercialização do “espaço/mercadoria” produz e reproduz a sociedade, gerando o que Carlos (2005) denomina “simulacros” no espaço. Assim “A reprodução espacial, voltada para o reprodutivo e para o repetitivo, produz os simulacros no espaço, consumidos enquanto espaços de turismo e lazer, enquanto simulação de um espaço novo – na realidade, um espaço fragmentado, reduzido e limitado pelas necessidades da acumulação. O espaço do turismo e do lazer são espaços visuais, presos ao mundo das imagens que impõem à redução e o simulacro.” (CARLOS, 2005, p. 176) Os Shoppings Centers são referencialmente característicos na atual realidade mundial de valorização do capital, já que insinuam à sociedade as inúmeras possibilidades de consumo, concentradas em um único lugar, projetado para tal finalidade. Padilha (2006) analisa os efeitos dessa situação, mostrando que a artificialidade produzida pelos shopping centers, influenciam de forma intensa a consciência das pessoas, manipulando-as através das imposições efetuadas pelo consumo. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 No caso do Shopping Dom Pedro, como já colocado, a temática utilizada é relacionada à natureza, ou seja, o espaço do shopping procura evidenciar ao consumidor uma condição de bem estar, para que o indivíduo sinta-se em pleno contato com o meio ambiente, e com isso tal espaço atende tanto ao lazer, como de fato ao consumo de quem o freqüenta. É nesse contexto que o presente trabalho pretende analisar a importância no desenvolvimento urbano, em relação a um empreendimento da grandeza do Shopping Parque Dom Pedro, avaliando a estrutura social e mercadológica de tal espaço. Acreditamos como já colocado, que a compreensão do espaço urbano é feita em boa parte a partir das formas comerciais e, atualmente, os Shopping Centers são as formas mais características dos grandes centros urbanos e, no caso específico da região Metropolitana de Campinas, isso se torna mais evidente e mais relevante, visto que o empreendimento avaliado é um dos maiores da América Latina. Sem dúvida, a análise de uma ferramenta comercial como o “Marketing Ambiental” empregado pelo shopping analisado pode gerar inúmeras possibilidades dentro do contexto da pesquisa, fomentando novos projetos e discussões posteriores. Enfim, Padilha (2006) nos ajuda para com a definição da importância do presente projeto quando coloca que a analisar criticamente o Shopping Center e o que ele significa para as sociedades capitalistas hoje é fundamental, já que é um espaço privado que se traveste de público, e que cria a partir disso uma ilusão na sociedade, de uma cidade mais bonita, menos desigual, sem problemas, etc, o que gera um indivíduo mais adaptado à obsessão capitalista e de certa forma mais alienado. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar o consumo do espaço promovido pelos Shoppings Centers, especificamente o Shopping Parque Dom Pedro, em Campinas (S. P.), onde se promove um processo de espacialização baseado em uma ferramenta estratégica de “Marketing Ambiental”, analisando a função dessa ferramenta na orientação do consumo e no processo de alienação do cidadão. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 2.2 Objetivos Específicos Analisar a participação do Shopping Center Parque Dom Pedro e seus consumidores na (re) construção econômica regional e social do espaço, a partir da análise do modelo estratégico de marketing Ambiental adotado pelo empreendimento, de acordo com os seguintes elementos: a) breve histórico e participação dos Shoppings Centers no Brasil; b) avaliação do modelo estratégico de marketing “ambiental” utilizado pelo Shopping Dom Pedro; c) participação local e regional de tal empreendimento na estrutura urbana e social; d) breve análise da “sociedade do consumo” freqüentadora do espaço do shopping; e) processo de alienação social gerada pela “necessidade” de consumir criada pelo marketing publicidade; f) atração sócio-econômica exercida pelo Shopping Center. 3. METODOLOGIA O presente trabalho busca a partir de uma vasta revisão bibliográfica conceituar e compreender em um primeiro momento a importância e a participação de um modelo comercial diferenciado - o Shopping Center - que vem mudando o “modo” de consumir das sociedades, desde a segunda metade do século XX. A compreensão coloca-se dentro de uma escala regional, no contexto do Shopping Parque Dom Pedro, na cidade de Campinas, onde tal empreendimento criou um novo modelo de espaço comercial, “tematizado” a partir de um conceito ligado à natureza e à sustentabilidade e que promove através do marketing ambiental, uma maior atração aos consumidores. Serão feitas “observações diretas intensivas” (LAKATOS E MARCONI, 1983), através de visitas e entrevistas a frequentadores e funcionários do shopping. Nesse processo serão obtidas imagens do espaço interno e externo do shopping, assim como da região onde se encontra. Pretende-se posteriormente, desenvolver “observações diretas extensivas” (LAKATOS E MARCONI, 1983), construindo e aplicando questionários aos consumidores Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 de classes distintas dentro de uma amostra estatística do universo do shopping center. Aliado a isso, será feito consultas em órgãos públicos da cidade de acordo com as necessidades, de obtenção de dados estatísticos e cartográficos. O presente trabalho seguirá uma metodologia hipotético dedutivo, através de um procedimento histórico-comparativo, avaliando o contexto evolutivo do shopping center, promovendo uma análise atual do marketing e da temática ambiental promovida pelo Shopping Parque Dom Pedro, como forma de atração aos seus consumidores, sejam eles de qualquer classe social. A análise de uma ferramenta comercial como o “Marketing Ambiental” empregado pelo shopping analisado pode gerar inúmeras possibilidades dentro do contexto da pesquisa, fomentando novos projetos e discussões posteriores. 4. RESULTADOS PRELIMINARES O trabalho vem se desenvolvendo desde o início de 2009 tendo sido cumpridos todos os créditos de disciplinas na área, com excelentes resultados. Praticamente toda a análise básica de bibliografia, além de visitas e observações in loco já foi feitos, sendo que artigos vem sendo construídos a partir dessa análise. A partir disso nota-se que há características marcantes na construção do empreendimento analisado, que evidenciam um consumo diferenciado em relação a outros Shopping Centers da região de Campinas, através dos variados públicos que freqüentam o shopping, em horários diversos, pela distribuição das lojas internamente e externamente a partir de uma setorização criada para facilitar o consumo, além da já citada exploração do meio ambiente como forma de marketing, o que provoca por várias vezes a sensação de estar num espaço aberto, com sons de pássaros e árvores muito bem distribuídas pelo espaço interior do shopping. O próximo passo é a aplicação de um questionário a consumidores do Shopping para uma análise mais direta de como se dá o consumo de tal espaço. Pretendemos também aplicar questionários com funcionários do Shopping, buscando a visão geral inclusive daqueles Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 que promovem o espaço interno do empreendimento, o que deve ocorrer nos próximos meses, sendo posteriormente tais dados compilados e anexados a pesquisa. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARLOS, A.F.A. (Org.) Novos Caminhos da Geografia. São Paulo, Contexto, 2005 COSTA, P.H.F.; GODOY, P.R.T. As novas configurações do capitalismo contemporâneo: o caso da rede varejista norte americana Wal-Mart. In: ORTIGOZA, S.A.G; GERARDI, L.H.O. (Orgs). Temas da Geografia Contemporânea. Rio Claro: UNESP/IGCE: AGETEO, 2009, pp. 193-210. DELEUZE, G.; GUATARI, F. O que é Filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1996 LAKATOS, E. M. ; MARCONI, M.A. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1983 PADILHA, V. Shopping Center – a catedral das mercadorias. São Paulo. Editora Boitempo. 2006 PINTAUDI, S. M. A cidade e as formas do comércio. In: CARLOS, A.F.A. Novos Caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 2005, pp. 137-153. RODRIGUES, A.M. Produção e Consumo do e no espaço; problemática ambiental urbana. São Paulo: Ed. Hucitec, 1998 SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo, Hucitec, 1993 ______ A Natureza do Espaço. São Paulo, Hucitec, 1996 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 ______O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1998 VARADARAJAN, P. R.. Marketing Ecológico. Texas, 1992. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10