Portugal em Linha - a Comunidade Lusófona online A Estrada de São Tiago Os Céus Segundo os Mitos dos Índios da América do Norte Os Índios americanos percebiam os céus como o grande ecrã de um panorama da natureza projectado na abóbada celeste. Ora, havendo muitos povos e línguas dentro do continente norte-americano, as histórias e mitos são igualmente muitos e variados. Há, por exemplo, a história de Manitou,(tribo Zuni) que, rodeado de água por todos os lados, dorme. A certa altura acorda da sua inércia primeva e olha em redor. De seguida esfrega as mãos. Delas soltam-se dois pedaços de pele. Logo ele toma o primeiro e rola-o numa esfera, arremessando-a para as águas. A esfera de pele absorve muita dessa água e transforma-se na Terra Mãe, a Terra Mãe com seus muitos lagos e rios, oceanos e mares. A seguir toma o segundo pedaço de pele e faz o mesmo. Enrola-o, arremessando a nova esfera sobre a restante água que logo se transforma no firmamento com as nuvens, chuva e neve, ou o Pai Céu. Com o passar do tempo, a Mãe Terra deu a luz os homens e todas as demais criaturas. Um dia juntaram-se para decidir o que fazer para manter os seus filhos. ″Temos que lhes dar mantimentos. Como irão eles sobreviver se os não guiarmos? ″ perguntou a Mãe Terra. ″Eu os guiarei com as minhas mãos,″ retorquiu o Pai Céu. Assim falando, abriu as mãos, que formam a Estrada de São Tiago . Nas suas mãos e dedos estendidos para a terra haviam grãos de milho amarelo cor de ouro. ″Os grãos de milho lhes guiarão pela vida fora; lhe dirão que fazer para viver. Eles serão as suas estrelas guias! ″ explicou o Pai Céu.(Zuni) Para eles as lágrimas e o suor das pessoas eram uma indicação de que somos também filhos da Mãe Terra e do Pai Céu, pois é deles que advém a água que nos cai dos olhos e o suor que nos corre no rosto. Outra tribo de Índios, os Navajos, viam na Ursa Maior o primeiro Homem e em Cassiopeia, a constelação com a forma de um ´´W`´ a primeira Mulher. A Ursa Menor era a fogueira comunal e tudo girava em seu redor. Perdido na pradaria ou no mato, bastava seguir a luz do fogo dessa fogueira e se chegaria a casa. Também acreditavam que tinha sido a primeira mulher, que denominamos de Cassiopeia, que estava responsável pelo espectáculo de luz que se vê no firmamento à noite. Ela chamou para si o cayote e ordenou-lhe que tomasse um saco cheio de pedras preciosas e com elas delineasse a figura de todos os animais da terra no firmamento. O cayote no início assim fez. No céu vêem-se retratados muitos animais, lagartos, ursos, aranhas, borboletas, águias, etc. , mas o cayote, a certa altura, aborreceuse do serviço e passou a colocar só metade das figuras, até que atirou com as pedras preciosas por todo o lado sem ordem alguma. Mais tarde, quando se recostou para descansar, notou que , de certo, lá estavam as figuras que havia colocado, mas onde estava a sua figura? Com a pressa, havia-se esquecido de colocar a sua própria imagem nos céus. Isso faz com que ele uive à noite num choro profundo, porque todos os animais lá têm a sua imagem, menos ele; ele nunca mais terá a sua imagem nos céus, por sua culpa. A constelação de Canis Major, o Grande Cão, onde a estrela Sírius, umas das estrelas mais perto nas vizinhanças dos Sistema Solar, se encontra, era para os Cherokee, o cão que guardava a entrada para a Estrada de São Tiago. Ao morrer cada pessoa teria que passar por este cão e entregar-lhe os seus actos de valor e boas obras. Se não tivesse tido uma vida decente e rica em valores, era interdita de passagem e ficava a deambular na terra, não podendo ter acesso a Estrada das estrelas que o levariam ao Mundo dos espíritos. Se tivesse tido uma vida rica em valores, passaria a percorrer a Estrada de São Tiago, até chegar ao fim do trilho, onde um segundo cão da mesma forma estaria a espera e aí teria que ser de novo alimentado pelas boas obras. Se a pessoa ainda tivesse boas obras e actos de valor para lhe saciar a fome, passava ao mundo dos espíritos; de outra forma ficaria eternamente ente os dois cães na Estrada de São Tiago como alma penada. Fértil em simbologia, os mitos das várias tribos norte americanas reflectiam maneiras de pensar muito próximo da natureza, contudo, o Espírito e o mundo dos Espíritos são-lhes tangente. Para eles, não haviam deuses ou deusas, mas espíritos, especialmente os entes queridos e os antepassados que os guiavam. Essa presença imanente até nos animais, fazia o mundo dos espíritos tão reais como na terra. As estrelas para eles eram pontos de luz que advinham desse mundo de luz através de furos na abóbada celeste. A Estrada de São Tiago era o caminho do espírito daqueles que morriam e que armavam uma fogueira através do espaço para se sentarem e nos seguirem aqui na terra (Algonquin), enquanto para os Navajo, essas mesmas estrelas eram as pegadas dessas almas em digressão até ao mundo dos espíritos. Para outros essa estrada era um cobertor coberto de quartzo atirado ao alto por cayote na sua pressa de completar o serviço de decorar o firmamento. Enfim as histórias sobre a Estrada de São Tiago são muitas. Para uns são as pegadas de um urso na neve vinda do mundo dos espíritos; para outros trata-se de um rio de estrelas (tribo Fox). Os Cherokee viam-na como baba de farinha de milho amarelo da boca de um cão. Para os Ciowa era então a espinha dorsal do céu. Para os esquimós tratava-se do trilho deixado pelos sapatos de neve de corvos, enquanto para os Pawnee essa mesma estrada de estrelas era a cola que unia o céu. Magico, o céu a noite era o grande ecrã, o relógio e calendário dos povos da América do Norte. Sentiam-se aconchegados pela sua presença como se os dedos do Pai Céu os segurassem e os protegessem. As muitas outras histórias ficarão para se contadas ainda de outra vez. Silverio Gabriel de Melo http://www.portugal-linha.pt Produzido em Joomla! Criado em: 13 June, 2017, 23:49