Journal 30/03/2001 Programa de Imunologia Básica e Aplicada Malária “Novos Desafios Terapêuticos” Eduardo Crosara, Everton dos Santos, Manuela Pucca Atualmente, a Malária acomete cerca de 300 milhões de pessoas por ano, sendo responsável pela morte de 1,5-2 milhões/ano. A doença está presente em mais de 90 países, com destaque para a América Central, América do Sul, África e alguns países asiáticos (como a China). O gênero Plasmodium é o agente etiológico da doença, cujas principais espécies que acometem humanos são P. malarie, P. ovale, P. vivax e P. falciparum. Este último é o responsável pela forma grave da doença, sendo capaz de promover anemia severa, resposta inflamatória exacerbada e, ainda, malária cerebral. A alta mortalidade associada à infecção por Malária exerceu, com o passar do tempo, uma pressão seletiva em genes relacionados à proteção frente às formas mais graves da doença. Entretanto, alguns desses genes quando expressos, estão relacionados à geração de novas doenças. Um exemplo clássico é o gene da Hemoglobina-S que, quando em heterozigose protege os indivíduos das piores formas da Malaria, porém, quando em homozigose, gera a Anemia Falciforme. Waisberg e colaboradores (Waisberg et al. PNAS, Jan 2011, vol. 108, no. 3) trabalhando com modelos murinos propensos ao desenvolvimento de Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), FcγRIIB-/-.yaa, mostrou que esses animais eram protegidos da forma cerebral da infecção por Plasmodium berghei (correspondente ao P. falciparum, responsável pela forma grave da malária em humanos). Os animais produziram menores concentrações de citocinas pró- inflamatórias e quimioatraentes, condição essa que gerou uma resposta menos acentuada e, conseqüentemente menor lesão local. Apesar da existência de drogas eficazes no tratamento da Malária, como a Croroquina, Primaquina, Artemether e Lumefantrina, ainda existe a necessidade do desenvolvimento de terapias alternativas que diminuam os efeitos colaterais e protejam os indivíduos da forma cerebral da doença. O trabalho de Flanklin e colaboradores, 2011 (Proc Natl Acad Sci USA, v. 108, n. 9, p. 3689-94, 2011) mostrou que uma substância sintética nomeada de E6446 foi capaz de inibir a ativação de receptores Toll-like endossomais (TLR7/8 e 9) na infecção por Malária. A modulação da resposta imune efetuada pelo E6446 provocou redução na produção de citocinas como IFN-γ, TNF-α e IL-6, o que culminou no aumento da sobrevida dos animais infectados e redução nas lesões vasculares cerebrais encontradas em animais suscetíveis ao desenvolvimento de Malária cerebral. Assim este trabalho demonstrou que o E6446 pode ser uma alternativa para prevenção da Malária, atuando como antagonista dos receptores Toll-like sensíveis a ácidos nucleicos (endossomais). Diante disso, o melhor entendimento da genética das populações residentes em áreas endêmicas e a compreensão das respostas imunes frente à esse parasita são de fundamental importância para o desenvolvimento de uma terapia ainda mais eficiente e vacinas ainda não disponíveis.