UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA MESTRADO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS EMPREGO DE PRÓTESE INTRALUMINAL DE AÇO INOXIDÁVEL 316 L NO REPARO DO COLAPSO TRAQUEAL EM CÃES VINÍCIUS DE JESUS MORAES SALVADOR - BAHIA FEVEREIRO 2013 i UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA MESTRADO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS EMPREGO DE PRÓTESE INTRALUMINAL DE AÇO INOXIDÁVEL 316 L NO REPARO DO COLAPSO TRAQUEAL EM CÃES VINÍCIUS DE JESUS MORAES Médico Veterinário SALVADOR - BAHIA FEVEREIRO 2013 ii VINÍCIUS DE JESUS MORAES EMPREGO DE PRÓTESE INTRALUMINAL DE AÇO INOXIDÁVEL 316L NO REPARO DO COLAPSO TRAQUEAL EM CÃES Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos. Orientador: Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto SALVADOR - BAHIA FEVEREIRO 2013 iii iv Caminho com fé, mente aguda e braço forte, pois sei que chegarei bem sob Tua vigilância. Dedico a minha família. Amores eternos. Mariana, Ana, Severino, Maria Clara e Camila. v AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus todo-poderoso pelo sopro da vida. A meus pais Ana e Severino pelo seu exemplo de retidão, pelo carinho e pelo amor sempre dispensado. A meus mestres Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto e Prof. M.Sc. Carlos Humberto de Almeida Ribeiro Filho pela sua crença e seus ensinamentos. A Escola de Medicina Veterinária da UFBA, a pós-graduação Ciência Animal nos Trópicos e a seus professores, por compor o meu humilde saber. A Camila Santana de Oliveira pelo companheirismo iniciado na amizade e sublimado em sentimento mais profundo. Aos amigos pela caminhada e ajuda inestimável. Emanoel Ferreira Martins Filho, Rodrigo Lima Carneiro, Deusdete Gomes Conceição Junior, Débora Schaffer, Iuri Reis, Tainan Barbosa, Barbra Oliveira, Walnilson Mota da Silva, Mary´Anne Rodrigues de Souza, Vladimir Lenin Freitas. A Semeve, personificada pelo Dr. Luciano Requião e Dra. Kátia Requião, pela confiança, cessão do conhecimento, espaço e equipamentos. Aos animais. Labor incessante por sua saúde. A Capes por ser beneficiário de auxílio financeiro e a Fapesb pelo auxílio financeiro. vi LISTA DE FIGURAS Figura 1 Ilustração demonstrando anatomia da traquéia de canino......................................... 8 Figura 2 Imagens fotográficas demonstrando anatomia topográfica da traquéia do canino.... 9 Figura 3 Fotomicrografia de corte histológico de traquéia. HE. 40X...................................... 10 Figura 4 Ilustração do padrão de graduação de colabamento traqueal e respectivos graus..... 19 Figura 5 19 Figura 6 Imagem fotográfica de radiografia látero-lateral de traquéia colapsada em canino......................................................................................................................... Imagens fotográficas de radiografias de traquéia de canino...................................... Figura 7 Imagem fotográfica de vídeo traqueobroncoscopia de canino com colapso grau IV 21 Figura 8 Ilustração demonstrando técnica de pregueamento da membrana traqueal dorsal.... 27 Figura 9 Ilustração demonstrando anéis de polipropileno para técnica extra-luminal............. 28 Figura 10 Ilustração demonstrando método de confecção de espirais de polipropileno............ 29 Figura 11 Imagens fotográficas de stents traqueais................................................................... 30 Figura 12 Desenho técnico da prótese helicoidal....................................................................... 34 Figura 13 Imagem fotográfica demonstrando 5 pontos-guia para mensuração do diâmetro e mensuração do comprimento da traquéia de cadáver canino......................................................................................................................... Imagens fotográficas demonstrando passos do procedimento de inserção da prótese helicoidal de aço inoxidável 316 L............................................................... Imagens fotográficas das vídeo traqueobroncoscopias diagnóstica e de acompanhamento....................................................................................................... Figura 14 Figura 15 20 35 39 53 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Graduação do colabamento traqueal em animais com colapso de traquéia............... 18 Tabela 2 Resumo dos principais fatores que induzem ao erro no diagnóstico de colapso traqueal...................................................................................................................... Dados dos animais, localização e grau do colapso traqueal...................................................................................................................... Sinais clínicos apresentados pelos cães portadores de colapso traqueal antes da cirurgia....................................................................................................................... Vídeo traqueobroncoscopias diagnóstica e controle...................................................................................................................... 22 Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5 44 45 55 viii LISTA DE SIGLAS IM Intramuscular IV Intravenoso SC Subcutâneo PO Per os SID Solo in die BID Bis in die TID Ter in die QID Quater in die mg Miligrama Kg Kilograma mg/Kg miligrama por Kilograma cm Centímetro mm Milímetro µm Micrômetro % por cento HE Hematoxilina-eosina ms Milissegundo cmH2O centímentros d’água Hz Hertz ix SUMÁRIO Página Resumo............................................................................................................................. 1 Abstract............................................................................................................................. 2 1. Introdução..................................................................................................................... 3 2. Objetivos....................................................................................................................... 5 3. Hipótese........................................................................................................................ 6 4. Revisão de literatura..................................................................................................... 7 4.1 Anátomo-fisiologia.................................................................................................. 7 4.2 Etiopatogenia........................................................................................................... 12 4.3 Sinais clínicos.......................................................................................................... 14 4.4 Conduta clínica........................................................................................................ 15 4.4.1 Exame clínico....................................................................................................... 15 4.4.2 Diagnóstico por imagem....................................................................................... 17 4.4.3 Diagnóstico diferencial......................................................................................... 22 4.4.4 Tratamento conservador....................................................................................... 22 4.5 Conduta cirúrgica..................................................................................................... 26 4.5.1 Técnicas extraluminais......................................................................................... 26 4.5.2 Técnicas intraluminais.......................................................................................... 29 5. Materiais e método....................................................................................................... 33 6. Resultados e discussão.................................................................................................. 41 7. Conclusões.................................................................................................................... 58 8. Referências Bibliográficas............................................................................................ 59 9. Anexos.......................................................................................................................... 70 1 Emprego de prótese intraluminal de aço inoxidável 316L no reparo do colapso traqueal em cães RESUMO O colapso traqueal é uma condição patológica degenerativa e progressiva que provoca graves alterações respiratórias, com risco iminente de morte. O tratamento clínico nem sempre é eficaz, sendo o cirúrgico mais indicado, particularmente nos estágios mais avançados da doença e tem por objetivo restaurar a patência traqueal e manter a função respiratória. Com esta finalidade, objetivou-se desenvolver e validar o uso de prótese traqueal helicoidal intraluminal de aço inoxidável 316 L no reparo do colapso traqueal de cães. Inicialmente um protótipo foi desenvolvido em cadáveres de cães e sua aplicação avaliada em coelhos. Confirmada sua efetividade, seu emprego foi posteriormente avaliado em cães, empregando-se nove animais portadores de colapso traqueal considerados de grau III ou IV. Após implante, os animais foram avaliados clinica e macroscopicamente sob a luz da vídeo traqueobroncoscopia aos 7, 15, 30, 45 e 60 dias de pós-operatório. Neste período não foram observados sinais de lesões na mucosa traqueal ou sinais de fadiga do material. As próteses foram incorporadas e mantiveram sua integridade. A restauração da patência traqueal permitiu a regressão dos sinais clínicos causadores do desconforto respiratório. A melhora significativa no quadro clínico dos animais submetidos ao tratamento nos faz concluir que a prótese desenvolvida, da forma que foi empregada, proporciona reparo do colapso traqueal em cães. Uma vez que aumenta a qualidade de vida dos pacientes e minimiza o risco de morte, é considerada paliativa e seu emprego representa uma alternativa na recuperação de pacientes portadores de colapso traqueal. Palavras-chave: canino, traquéia, cirurgia reparadora, stent 2 Use of intraluminal prosthesis of 316L stainless steel in the repair of tracheal collapse in dogs ABSTRACT Tracheal collapse is a progressive, degenerative pathological condition that causes severe respiratory distress, with imminent risk of death. Clinical treatment is not always effective, and surgery is most indicated, particularly in the later stages of the disease and aims to restore and maintain the tracheal patency and respiratory function. For this purpose, it was aimed to develop and validate the use of intraluminal helical tracheal stent made of 316 L stainless steel for the repair of tracheal collapse in dogs. Prototype was developed in dogs cadaver and their application was evaluated in rabbits. Confirmed its effectiveness, its use was subsequently evaluated in dogs, using nine animals suffering from tracheal collapse considered grade III or IV. After implantation, the animals were evaluated clinically and macroscopically on the light of video tracheobronchoscopy at 7, 15, 30, 45 and 60 days postoperatively. During this period no injuries signals were observed in the tracheal epithelium or signs of fatigue of the material. The prostheses were covered by mucosae and maintained their integrity. The restoration of tracheal patency allowed regression of clinical signs that was cause of respiratory distress. Significant improvement in clinical status in animals subjected to treatment leads us to conclude that the prosthesis developed can repair tracheal collapse in dogs. By improving patient life quality and minimizing the risk of death the method is considered palliative method and its use is an alternative for the recovery of patients with tracheal collapse. Keywords: canine, trachea, reconstructive surgery, stent 3 1. INTRODUÇÃO A condição colapso traqueal se origina de uma forma de obstrução causada pela flacidez e achatamento das cartilagens traqueais (FOSSUM, 2008), sendo considerada uma condição degenerativa e progressiva dos anéis cartilaginosos (JOHNSON, 2000; WEISSE, 2010). A sintomatologia clínica clássica é a tosse paroxística improdutiva. O aparecimento dos sintomas ocorre entre um e cinco anos de idade e evolui irreversivelmente se não tratado (FOSSUM, 2008). Há casos em que a terapia conservadora com fármacos não obtém resultados satisfatórios, seja pela evolução clínica dos animais (SUN et al., 2008), ou pela gravidade do colapso, quando atingem grau III e grau IV. Nestes casos, o tratamento cirúrgico e fica reservado a esses pacientes em especial devido ao risco de morte existente (FOSSUM, 2008; SUN et. al., 2008). Dentre as técnicas descritas para o tratamento de colapso traqueal descreve-se o pregueamento da membrana dorsal, a condrotomia e a implantação de próteses intra ou extraluminais (FINGLAND, 2005). As técnicas intraluminais são indicadas para o suporte traqueal com utilização de arcabouços artificiais, sendo estes aplicados na porção interna da traquéia. Tais técnicas envolvem o uso de stents, dispositivos intratraqueais que podem ser metálicos, de silicone ou mistos (NELSON, 2007; LEE, KUPELI e MEHTA, 2010). O procedimento de inserção dos artefatos é considerado minimante invasivo e é realizado mediante endoscopia, através da orofaringe (ZAKALUZNY, LANE E MAIR, 2003). Os artefatos intraluminais podem ser aplicados em quase todo o segmento da traquéia, demandam menor tempo operatório e ainda dispensa cuidados intensivos no pós-operatório. Ao contrário dos artefatos extraluminais que são considerados de pouca valia para colapsos intratorácicos devido às complicações da manipulação (WHITE e WILLIAMS, 1994; LEE, KIM e HYUN, 2007). A instalação dos stents deve ser realizada mediante endoscopia ou fluoroscopia (SUN et al., 2008). Considerando que as próteses de polipropileno no formato helicoidal se mostraram adequadas para colapsos traqueais da porção cervical, 4 particularmente por permitirem a curvatura da traquéia sem variações significativas de seu lúmen; e que o aço inoxidável, já empregado sob a forma de próteses na ortopedia e na odontologia, apresenta biocompatibilidade; e considerando ainda que as próteses intraluminais de nitinol apresentam amplas vantagens de utilização, porém são de alto custo, foi idealizado um artefato confeccionado a partir do aço inoxidável 316 L, sob a forma helicoidal para ser empregado como prótese intraluminal no reparo do colapso de traquéia em cães. Alternativamente idealizamos técnica própria, sob auxílio da vídeo traqueobroncoscopia, para sua inserção. 5 2. OBJETIVOS Desenvolver prótese traqueal intraluminal de aço inoxidável 316 L sob a forma helicoidal, assim como o método de implantação da mesma e avaliação de seu emprego na reparação do colapso traqueal de cães, por meio da vídeo traqueobroncoscopia. 6 3. HIPÓTESE Animais submetidos à inserção de prótese traqueal helicoidal intraluminal de aço inoxidável 316 L restaura a patência da via aérea melhorando sua qualidade de vida e aumentando a sobrevida. 7 4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Anátomo-fisiologia A traquéia é um tubo cartilaginoso, flexível e membranoso, que forma a árvore traqueobrônquica proximal (HARE, 1986; FINGLAND, 2005). Em conjunto com as narinas, cavidade nasal, faringe, laringe e brônquios constitui as vias aéreas condutoras e são também chamadas de espaço morto anatômico, já que nestas não ocorrem trocas gasosas (ROBINSON, 2004). É constituída por anéis traqueais contíguos que se alternam com ligamentos anulares elásticos, os quais se unem às cartilagens e permitem que a mesma se distenda e se curve, sem se deformar (Figura 1) (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; NELSON, 2007). Dabanoglu (2001) afirma existir entre 36 e 45 anéis traqueais no cão. Hare (1986) e Fingland (2005) determinam uma faixa mais estreita, com cerca de 42 a 46 anéis cartilaginosos no cão. No estudo de análise de dados métricos da traquéia canina realizado por Guimarães et al. (2012), a faixa de anéis variou de 32 a 43. No cão, a traquéia ocupa uma posição aproximadamente mediana e se estende da saída da laringe, desde a segunda vértebra cervical, até o quarto ou quinto espaço intercostal, bifurcando-se nos brônquios principais direito e esquerdo, em posição imediatamente dorsal à base do coração (HARE, 1986). 8 Figura 1. Ilustração demonstrando anatomia da traquéia de canino. Fonte:Nelson (2007) O órgão é dividido, segundo sua localização anatômica, em traquéia cervical e torácica (DYCE, 2004). O que virtualmente separa a estrutura em duas é o primeiro par costal, de modo que nesta localização a traquéia tem o seu ponto de maior inflexão e seu menor diâmetro (HARE, 1986; DYCE, 2004). A traquéia se relaciona com o esôfago dorsolateralmente à esquerda, na porção caudal à terceira vértebra cervical e lateralmente nas outras porções cervicais. Ventralmente, na sua metade caudal, relaciona-se com os músculos esternotíreoióideo e esternocefálico e na metade cranial com os músculos esternoióideos. Lateralmente está delimitada pelos músculos braquiocefálicos, no seu terço caudal e pelos músculos esternocefálicos, no seu terço médio e finalmente pelos músculos esternotireóideos no terço cranial (Figura 2) (HARE, 1986). 9 Figura 2. Imagens fotográficas demonstrando anatomia topográfica da traquéia do canino. 1.Músculo esternocefálico 2.Músculo braquiocefálico 3.Músculo esternoióideo 4.Linha de união entre o músculo esternoióideo e esternotireoióideo 5.Músculo esternotireoióideo 6.Tronco vagossimpático 7.Traquéia. Fonte: Stanley (1996) - Adaptado A artéria carótida comum, a veia jugular interna, o tronco vagossimpático e o nervo laríngeo recorrente se situam dorsolateralmente à traquéia na metade cranial e lateralmente, na metade caudal do pescoço. No lado direito estas estruturas estão circundadas pela bainha carótidea, porém do lado esquerdo o nervo laríngeo recorrente está fora da referida bainha e o esôfago poderá estar interposto entre a própria traquéia e a bainha (HARE, 1986; FINGLAND, 2005). A parede da traquéia está constituída por quatro camadas principais (Figura 3): mucosa, submucosa, camada musculocartilaginosa e adventícia (HARE, 1986; DYCE, 2004). A mucosa forma numerosas pregas longitudinais baixas e é revestida por um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado que contém numerosas células caliciformes e repousa numa membrana basal. Os cílios do epitélio batem cranialmente e movimentam as secreções mucosas e as partículas de matérias estranhas em direção à laringe. Nesta camada, existem nódulos linfáticos verdadeiros e, além disso, podem ser observadas verdadeiras agregações de linfócitos (HARE, 1986). 10 Figura 3. Fotomicrografia de corte histológico de traquéia, HE, 40X. De cima para baixo: mucosa, submucosa, lâmina musculocartilaginosa e adventícia. Fonte: http://legacy.owensboro.kctcs.edu/gcaplan/anat2/histolo gy/histo%20F%20respiratory%20system.htm A submucosa é rica em fibras elásticas e também contém células adiposas e pequenas glândulas tubulares seromucosas (glândulas traqueais) que se abrem no lúmen do tubo traqueal. Tais glândulas são mais numerosas na parede ventral e lateral da traquéia (FINGLAND, 1993). A lâmina musculocartilaginosa é composta de placas cartilaginosas, tecido fibroelástico e músculo traqueal. As placas cartilaginosas são constituídas de cartilagem hialina circundada por pericôndrio. Tais placas são dobradas de modo que elas possuem grosseiramente o formato de ferradura com abertura orientada dorsalmente, ou seja, as extremidades livres das placas não se encontram dorsalmente. Estas são mais espessas em sua base e mais agudas em suas extremidades e permitem a sustentação da porção mole da traquéia de modo a dar possibilidade de movimento, tornando a via aérea patente (HARE, 1986). A abertura dorsal é preenchida por tecido conjuntivo e pelo músculo traqueal, que é composto de fibras musculares lisas dispostas de modo circular. O músculo traqueal se estende transversalmente através das extremidades das placas e está afixado à sua superfície externa (DYCE, 2004). A contração da musculatura faz com que as extremidades livres das placas cartilaginosas se aproximem alterando a seção 11 transversal do lúmen para um diâmetro menor, o que causa uma diminuição do espaço morto respiratório e aumenta a velocidade do ar ventilado. Enquanto que o relaxamento da mucosa pregueada permite o aumento da seção transversal quando a musculatura relaxa. Tanto a musculatura lisa quanto a mucosa traqueal são inervadas pelos vagos, principalmente o vago direito e seu ramo laríngeo recorrente (HARE, 1986; ROBINSON, 2004; NELSON, 2007). A camada adventícia é responsável pelo revestimento externo da traquéia na região cervical. É uma bainha de fáscia que a reveste frouxamente de modo a separar a traquéia do músculo longo do pescoço (NELSON, 2007), enquanto que uma camada serosa a envolve no tórax (DYCE, 2004). O diâmetro traqueal varia ligeiramente de raça para raça, contudo esta variação é mínima em relação ao tamanho do animal. Os animais de raças braquicefálicas possuem traquéias estreitas, enquanto que raças condrodistróficas como Dachshund e Basset Hound as têm amplas (NELSON, 2007). A traquéia possui a característica única de estar exposta à pressão atmosférica na região cervical e à pressão negativa ou subatmosférica no segmento intratorácico, sendo assim deve atender a algumas exigências para seu completo funcionamento (ROBINSON, 2004). Esta deve ser rígida o suficiente para não colabar durante o ato respiratório, porém deve ser flexível a ponto de contrapor as forças envolvidas durante a rotação, flexão e extensão cervical (HARE, 1986; FINGLAND, 2005), além de ser expansível satisfatoriamente de maneira a acomodar as variações de influxo e efluxo do ar respirado (JONHSON, 2003; ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; KEALY e McALLISTER, 2005; FOSSUM, 2008). Na traquéia, além da cavidade nasal, faringe e laringe, há uma tendência ao estreitamento destas vias durante a inspiração, principalmente na entrada do tórax, visto que a pressão no seu interior é subatmosférica. O que impede seu colabamento é a ação de músculos abdutores e a rigidez das cartilagens traqueais (NELSON, 2007). Nas vias aéreas intratorácicas, a tendência ocorre durante a expiração forçada, uma vez que a pressão intrapleural excede as pressões no 12 interior desse conduto, especialmente na carina (JONHSON, 2003; ROBINSON, 2004; SUN et al., 2008). A respiração dos mamíferos é constituída de duas fases: inspiração e expiração. Na inspiração, há a participação da musculatura intercostal, responsável pela expansão da caixa torácica e do diafragma que se desloca caudalmente e assim traciona as vísceras do tórax. Além dos tecidos elásticos da traquéia e toda árvore brônquica que são estirados completando a mecânica do processo. A atuação desses mecanismos aumenta sobremaneira a pressão negativa no compartimento torácico, dessa forma facilitam a entrada do ar em direção aos pulmões. A expiração procede de maneira passiva, toda a musculatura envolvida na inspiração relaxa, ocorrendo a redução do volume da cavidade torácica e a expulsão do ar respirado (ROBINSON, 2004). Durante o ciclo respiratório a participação da traquéia também se relaciona a condução do ar e à remoção de partículas de 1 a 5 µm pelo sistema mucociliar (FERRON, 1991). Embora a traquéia normal seja flexível o suficiente para evitar danos de estresse mecânico aos tecidos envolvidos, o colapso traqueal determina condição patológica que altera o seu lúmen o tornando menor e sujeito às injúrias características da inflamação (FERIAN, 2009). 4.2 Etiopatogenia Ainda não há definição da etiologia do colapso traqueal, porém se sabe que é uma condição progressiva que ocorre em cães de raças miniatura ou toy, preferencialmente obesos, com idade média de seis a oito anos, sem predileção por sexo (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008; SUN et al., 2008). Ocorre comumente em Chihuahuas, Spitz alemão, Poodles toy, Shih tzus, Lhasa apsos, Malteses e Yorkshires terrier (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FINGLAND, 2005; LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008; FOSSUM, 2008), tendo grande prevalência e incidência nesta última raça e embora se suspeite de etiologia genética não há estudos comprobatórios até o momento (LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008). Apesar de raro em raças grandes, o colapso traqueal pode também vir a acontecer em cães jovens (JONHSON, 2003; LEE, KIM e HYUN, 2007). 13 Em cães com traquéias colapsadas os anéis traqueais se tornam hipocelulares e se observa uma deficiência ou ausência completa de glicoproteína, glicosaminoglicanos e cálcio (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008; WEISSE, 2010). Tal situação gera degeneração e necrose por condrogênese deficiente ou por degeneração simples da cartilagem hialina, mas a lesão básica decorre de uma deficiência na matriz orgânica da cartilagem traqueal (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004). A cartilagem hialina normal é substituída por fibras de colágeno e fibrocartilagem (FOSSUM, 2008). Sugere-se também que a redução de glicoproteínas e glicosaminoglicanas reduz a fixação de água na matriz cartilaginosa levando à debilidade os anéis traqueais (JONHSON, 2003). Sabe-se também que o enfraquecimento dos anéis e o relaxamento da membrana dorsal traqueal podem ocorrer secundariamente a outras doenças e a certas condições como compressão extraluminal por massas neoplásicas, hematomas e abscessos, bem como por anormalidades vasculares (SUN et al., 2008). Uma vez que o colapso dinâmico da membrana dorsal da traquéia esteja estabelecido, independente de ser em um ou vários segmentos, os eventos de irritação e inflamação da mucosa e destruição do aparelho mucociliar são progressivos (DONDI et al., 2002; ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008). Segue-se um ciclo vicioso patológico. A traquéia colapsada inicia a tosse. Durante o mecanismo reflexo de tosse ocorre colapso dinâmico que leva ao estreitamento das vias aéreas, facilitando a fricção do revestimento mucoso e assim injuriando-o (ROBINSON, 2004; SUN et al., 2008; FOSSUM, 2008). Essa injúria crônica leva a inflamação e a descamação celular, ocorrendo metaplasia escamosa do epitélio respiratório, o que leva a alterações na depuração mucociliar. Ocorre então hiperplasia das glândulas, o que aumenta a quantidade de muco. As secreções tendem a se acumular na traquéia e a gerar mais reflexo de tosse (SUN et al., 2008; FOSSUM, 2008). Ocorre então a destruição progressiva do leito ciliar traqueal, e o organismo em resposta à agressão origina metaplasia escamosa (FERIAN, 2009). 14 O colapso traqueal uma vez iniciado, e quando não tratado, geralmente se estende aos brônquios e pode levar o animal a óbito (JOHNSON e FALES, 2001). Raramente a área colapsada não corresponderá à fase da respiração, contudo o colapso intratorácico pode ocorrer na inspiração e a área que colapsa pode inflar durante a expiração (KNELLER, 2007). Há certas condições que são predisponentes à ocorrência de colapso traqueal, dentre elas podemos destacar: infecções do trato respiratório superior, irritantes respiratórios no ar (fumaça de cigarro, pó) e cardiomegalia (LEE, KIM e HYUN, 2007). Já Sun et al. (2008) cita paralisia laríngea, pneumonia, bronquite crônica, edema pulmonar, átrio esquerdo aumentado e fatores iatrogênicos, tais como intubação endotraqueal, à exemplo da insuflação excessiva do cuff, e biópsia das vias aéreas como condições suficientes para estimular a ocorrência de colapso. 4.3 Sinais clínicos O aparecimento dos sintomas ocorre frequentemente antes de um ano de idade e progridem com o passar do tempo, mas a idade de maior ocorrência pode variar entre um e cinco anos. Os sintomas incluem ruído respiratório anormal - sibilos, tosse ruidosa e em acessos, além de respiração estridulosa - dispnéia, intolerância ao exercício, cianose e síncope, podendo ocorrer ânsia de vômito em até 50 % dos casos após os acessos (FOSSUM, 2008). O sinal mais comum é a tosse improdutiva de natureza paroxística, sendo relatada extensamente na literatura como som de grasnado de ganso, tosse grasnante, ou “ronqueira”. A tosse normalmente tem caráter crônico e produz angústia respiratória, variando de episódios de melhora e piora (JONHSON, 2003; ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; SUN et al., 2008; WEISSE, 2010). Os animais com colapso traqueal costumam produzir ruídos agudos altos (estridores) durante os ciclos respiratórios (FINGLAND, 1993), em casos de bronquite crônica associada, os enfermos apresentam tosse áspera e produtiva, devido à inflamação do trato respiratório inferior. Em alguns casos, os eventos de tosse podem levar o animal a se tornar transitoriamente hipoxêmico, podendo ser notada pela 15 ocorrência de cianose que os conduz a um estado de síncope (JONHSON, 2003; SUN et al., 2008). Alguns animais com tendência anatômica para desenvolver colapso traqueal podem permanecer sadios até que determinados fatores ou “gatilhos” iniciam a progressão da doença (SUN et al., 2008). Os mais comuns que levam a tosse são: pressão traqueal - afagos na região cervical ventral ou lateral, ou ainda na entrada do tórax, puxões de coleira, voracidade na ingestão de alimentos e água - exercícios físicos e excitação (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; WEISSE, 2010). 4.4. Conduta clínica 4.4.1.Exame clínico O exame clínico deve ser realizado em local tranqüilo e sem ruídos (SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). Deve se iniciar pela observação do padrão respiratório do animal, verificando se há dispnéia inspiratória ou expiratória (JONHSON, 2003) ou se há esforço respiratório evidente com expansão exagerada do abdome ou tórax (KING, 2004; HAAGEN, 2005). Em virtude da fragilidade dos anéis traqueais, executa-se palpação suave da traquéia (JONHSON, 2003). Em animais com condição corporal de magros a normais é possível palpar os anéis colapsados na traquéia cervical, visto que as cartilagens traqueais flácidas ficam com as bordas laterais proeminentes (FINGLAND, 2005; FOSSUM, 2008). Em ato contínuo se realiza a auscultação da laringe e da própria traquéia em busca de ruídos anormais, continuando em direção aos campos pulmonares de ambos os lados (JONHSON, 2003). Os sons normais e anormais do sistema respiratório são de característica de baixa e alta freqüência, variando de 100 Hz até 750 Hz (SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). Para auscultá-los devemos nos utilizar tanto da campânula, quanto do diafragma do estetoscópio. Welsby e Earis (2001) afirmam que a campânula deve ser usada para auscultar os sons pulmonares normais e detectar 16 os anormais, enquanto que o diafragma deve ser usado para detectar e caracterizar sons pulmonares anormais. A pressão utilizada contra a pele deve ser leve o suficiente apenas para isolar os sons do sistema respiratório e evitar que ruídos externos atrapalhem. Pressões exacerbadas fazem com a pele delimitada pela campânula fique esticada o suficiente para agir como um diafragma, filtrando as freqüências mais baixas. Nos estetoscópios de peça única, uma leve pressão sobre a pele faz com que o mesmo capte melhor os sons de baixa freqüência, enquanto que pressões maiores os fazem captar as altas (SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). Devemos procurar por sons audíveis anormais como: crepitações, sibilos, roncos, estridores e estertores (SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). A terminologia utilizada na descrição dos sons respiratórios é usualmente divergente. Há termos descritos na literatura significando exatamente o oposto um do outro. A veterinária ainda carece de padronização deste jargão e a adjetivação dos sons constitui variabilidade ainda maior. No estudo de Roudebush e Ryan (1989), a análise da terminologia dos exames respiratórios revelou que os termos mais utilizados para descrição dos sons respiratórios anormais foram: estridor, crepitação e ronco, sem considerar a adjetivação. As crepitações são sons de curta duração (menores que 20 ms), repentinos e que se assemelham ao raspar de um pequeno tufo de cabelos. São produzidos quando há obstrução das vias aéreas menores e os estalos são audíveis quando há sua abertura ou compressão. Geralmente indicam patologias pulmonares (HAMLIN, 2000; KING, 2004; HAAGEN, 2005). Os sibilos são mais longos que as crepitações, usualmente duram mais que 100 ms e são de alta freqüência. São produzidos pelo estreitamento das vias aéreas e são causados por vibrações das paredes das vias aéreas ou por estruturas alocadas entre elas, a exemplo de plugs mucosos ou massas. Constrições das vias aéreas tais quais as vistas em pacientes asmáticos produzem o som agudo característico definido como sibilo. Assim como as crepitações, geralmente indicam patologias pulmonares, mas não configura característica patognomônica de alguma (HAMLIN, 2000, 2005; KING, 2004; HAAGEN, 2005; SMITH, KEENE E TILLEY, 2006). 17 Os roncos têm duração maior que 100ms, mas diferentes dos sibilos, são sons de baixa freqüência (abaixo de 300 Hz). São resultados tanto das vibrações das vias aéreas, assim como os sibilos, quanto da ruptura da interface ar-fluido, como por exemplo, a passagem do ar em via aérea com grandes quantidades de exsudato. São sons ressonantes e são facilmente audíveis. Quando presentes indicam colapso das vias aéreas superiores ou presença de secreção nas porções mais largas do trato respiratório (HAAGEN, 2005; SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). Estridor é o termo utilizado para designar sons ásperos que geralmente ocorrem na inspiração e advém da obstrução da laringe ou de via aérea larga. Os cães com colapso de traquéia intratorácico apresentam este som à ausculta na fase da expiração. Situações em que se aumente a profundidade e a frequência respiratória, a exemplo de exercícios, podem exacerbar os sinais clínicos em animais que em repouso estariam normais (KING, 2004; HAAGEN, 2005; SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). Estertor designa o som inspiratório de baixa freqüência associado a obstruções da nasofaringe. Os exemplos mais comuns são a paralisia laríngea e a síndrome do cão braquicefálico (HAAGEN, 2005; SMITH, KEENE e TILLEY, 2006). A auscultação de crepitações e sibilos nos campos pulmonares pode ajudar a definir patologias subjacentes, a exemplo de crepitações inspiratórias que podem indicar edema pulmonar, além disso, estridores sobre as vias aéreas craniais normalmente sugerem disfunções laríngeas. (HAMLIN, 2000; JONHSON, 2003). Em cães com colapso de traquéia intratorácico, um leve estalo pode ser auscultado ao final da expiração (FOSSUM, 2008), entretanto sibilos durante essa fase respiratória podem indicar bronquite crônica (JONHSON, 2003). Os animais acometidos podem não apresentar alterações quando em repouso, entretanto após uma leve compressão da traquéia tossem (SUN et al., 2008). Normalmente não há variações significativas nos resultados de hemograma e bioquímica sérica, a não ser que exista doença sistêmica 18 concomitante (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008). Cães obesos podem apresentar aumento discreto da fosfatase alcalina, causada por lipidose hepática (BAUER et al, 2006). Em outros casos pode haver aumento das enzimas hepáticas em decorrência de cor pulmonale, a qual desencadeia insuficiência cardíaca congestiva direita e hepatomegalia (BAUER et al, 2006; FOSSUM, 2008). Diante disso o profissional pode suspeitar de condições anormais relativas ao trato respiratório, procedendo à avaliação clínica minuciosa. Ainda se houver sabidamente condições sistêmicas envolvidas que possam levar a tosse, um exame físico completo associado a exames laboratoriais excludentes, pode ajudar a determinar sua causa e a detectar uma ou mais enfermidades simultâneas. 4.4.2. Diagnóstico por imagem O diagnóstico por imagem pode ser realizado através de exame radiográfico dinâmico (fluoroscopia) ou estático (roetgengrafia), ou ainda através de traqueobroncoscopia. A avaliação estática deve ser nas incidências usuais: látero-lateral e dorsoventral ou ventrodorsal (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004). Devemos obter projeções distintas da traquéia cervical e intratorácica nos ápices da inspiração e expiração respectivamente (JONHSON, 2003; KEALY e McALLISTER, 2005; FOSSUM, 2008). Tangner e Hobson (1982) desenvolveram uma forma de avaliar o grau de colabamento traqueal (Tabela 1), através de uma escala de graduação (Figura 4), permitindo que o clínico ou cirurgião tomem decisões acerca de qual tratamento seguir (FINGLAND, 2005; FOSSUM, 2008). As radiografias laterais de pescoço e tórax conferem diagnóstico em cerca de 60 % dos pacientes com colapso de traquéia grave, com mais de 50 % do lúmen reduzido (TANGNER e HOBSON, 1982; EOM et al., 2008; FOSSUM, 2008) (Figura 5). Canola e Borges (2005) propuseram um método auxiliar para aumentar a acurácia do diagnóstico radiológico do colapso traqueal. A técnica se baseia em comprimir levemente a traquéia, na região da entrada do tórax com uma “pêra de borracha”. Através da imagem radiográfica será observado que a traquéia não saudável está colabada, enquanto a sadia não sofre influência da compressão. Os pesquisadores 19 afirmam que com essa simples medida se pode detectar colapsos traqueais com grau inferior a 25 %, o que não seriam confirmados no exame radiológico padrão, além disso, dispensa a realização de radiografias em diferentes fases do ciclo respiratório (Figura 6). Tabela 1. Graduação do colabamento traqueal em animais com colapso de traquéia. GRAU SITUAÇÃO Redução de até 25 % do lúmen traqueal, com o músculo traqueal ligeiramente Grau I pendular e com a manutenção dos anéis traqueais em formato anatômico. Grau II Grau III Grau IV Redução de até 50 % do diâmetro lúmen, com o músculo traqueal estirado e pendular, havendo certo coeficiente de achatamento. Redução de 75 % do lúmen, com o músculo traqueal mais estirado e pendular, com achatamento razoável dos anéis traqueais. O lúmen se encontra completamente obliterado, os anéis estão totalmente achatados, podendo até se inverter, entrando em contato com o músculo traqueal dorsal. Fonte: Tangner e Hobson (1982) – Adaptado. Figura 4. Ilustração do padrão de graduação de colabamento traqueal e respectivos graus. Fonte: Tangner e Hobson (1982) – Adaptado. A avaliação do diâmetro traqueal pode ser feita sob dois aspectos: subjetivo e objetivo. A forma subjetiva de mensuração do diâmetro traqueal ocorre pelo mero julgamento do calibre em toda a extensão da traquéia. Um dos métodos objetivos citados na literatura pondera a razão entre o diâmetro médio da traquéia e o seu diâmetro na entrada do tórax. Em cães não-braquicefálicos, a razão média entre o diâmetro traqueal e o diâmetro traqueal na entrada do tórax é 0,20 ± 0,03, comparado com 0,16 ± 0,03 em raças braquicefálicas exceto em buldogues. Para realizar tais medições é condição necessária o correto posicionamento látero-lateral nas radiografias (KNELLER, 2007). 20 Figura 5. Imagem fotográfica de radiografia látero-lateral de traquéia colapsada em canino. As setas brancas determinam o colapso traqueal grau IV. Fonte: Arquivo pessoal. Ettinger, Kantrowitz e Brayley (2004) propõem um método próprio de mensuração que se vale da projeção da terceira costela, a qual passa ortogonalmente sobre a projeção do lúmen traqueal na radiografia látero-lateral de tórax, e que deve ser medida em sua largura, bem como o diâmetro da traquéia naquele ponto de intersecção em questão. Sendo considerado o padrão de normalidade quando a largura da costela corresponde a cerca de um terço do lúmen medido. Estes autores ainda descrevem outro método alternativo que se baseia na relação entre o diâmetro traqueal no segmento imediato da entrada do tórax e a distância do bordo ventral da primeira vértebra torácica até o bordo dorsal do manúbrio do esterno. Tal relação para ser considerada normal deve ser igual ou superior a 0,16. 21 Figura 6. Imagens fotográficas de radiografias de traquéia de canino. À esquerda técnica com pêra de borracha em canino sem colapso traqueal e à direita em canino com colapso traqueal. Fonte: Canola e Borges (2005) Em suma, tais métodos norteiam a avaliação do colapso mediante medição e comparação, porém a eficiência da radiologia é discutível, visto que a sensibilidade diagnóstica é menor quando comparada à fluoroscopia e endoscopia (CANOLA E BORGES, 2005; McREADY, JOHNSON e POLLARD, 2007). Os exames dinâmicos realizados com fluoroscopia aumentam a probabilidade de identificar um colapso em comparação com as radiografias de triagem. No entanto a fluoroscopia não é a realidade de muitas instituições e a ausência de tal aparelho não é fator limitante para o diagnóstico, visto que o aparelho de traqueobroncoscopia possui características que atendem às necessidades diagnósticas gerando custos menores quando comparados a fluoroscopia (EOM et al., 2008; FOSSUM, 2008). A utilização de traqueobroncoscopia é indicada como método confirmatório, nos casos em que se tem a avaliação clínica do animal condizente com o diagnóstico de colapso traqueal, apesar dos exames radiográficos não demonstrarem a afecção (Figura 7). Baseado neste pressuposto se considera como um exame de eleição, possibilitando a avaliação do colapso de modo dinâmico (JOHNSON, 2003; CULP et al., 2007; CULP et al., 2007; GIBSON, 2009; FERIAN et al, 2010). Em um estudo com 37 cães com colapso traqueal, o uso da traqueobroncoscopia revelou colapso em toda a traquéia em 46 % dos 22 casos, 35 % somente no segmento cervical e 19 % no segmento intratorácico e/ou nos brônquios principais (JOHNSON e FALES, 2001). Os animais acometidos podem apresentar paralisia da laringe em cerca de 30 % dos casos, sendo então recomendado por Fossum (2008) a realização da laringoscopia associada à traqueobroncoscopia. Figura 7. Imagem fotográfica de vídeo traqueobroncoscopia de canino com colapso grau IV. Fonte: arquivo pessoal Existe relato sobre o uso da ecografia como método diagnóstico de colapso traqueal por Eom et al (2008). Apesar de permitir obtenção de imagens e a medição dos anéis traqueais distintos, com este método não é possível avaliar a traquéia intratorácica, devido aos pulmões que recobrem o órgão e geram sombras acústicas (JONHSON, 2003; EOM et al., 2008) 4.4.3.Diagnóstico diferencial Diversos fatores podem induzir ao erro no diagnóstico do colapso traqueal, geralmente os que causam episódios de tosse, dentre os quais se destacam as afecções 23 do trato respiratório, angústia respiratória, compressão traqueal, ou ainda o aumento de câmara cardíaca. Alguns autores listaram as possíveis patologias que podem levar a erros de diagnóstico clinico. Sendo primordial a prática da investigação clínica associada a exames complementares (Tabela 2). Tabela 2. Resumo dos principais fatores que induzem ao erro no diagnóstico de colapso traqueal. AUTOR FATORES Farrow (2003) Corpos estranhos, tumores, granulomas, parasitas, traqueostomia, punção, laceração, cicatriz pós-operatória, hemorragia aguda extraluminal, inflamação de membrana traqueal dorsal e desprendimento de mucosa. Ettinger (2008) Tonsilite, paralisia ou colapso laríngeo, estenose das narinas ou traquéia, eversão dos sáculos laterais, alongamento do palato mole, bronquite, traqueíte primária, traqueíte por corpo estranho e doença valvular mitral crônica descompensada Fossum (2008) Síndrome braquicefálica, tonsilite, colapso de laringe, paralisia de laringe, bronquite, traqueobronquite, alergias, dirofilariose, doença pulmonar, cardiopatias, hipoplasia de traquéia, neoplasias e massas traqueais. Fonte: Farrow (2003); Ettinger (2008); Fossum (2008) - Adaptado. 4.4.4.Tratamento conservador A terapia medicamentosa é considerada como o tratamento de escolha para o manejo inicial dos animais com a enfermidade, outros tratamentos não conservadores poderão ser adotados caso não haja resposta satisfatória (SUN et al., 2008), ou em situações em que o colapso traqueal esteja avançado (SUN et. al., 2008; FOSSUM, 2008). O uso de corticoesteróides é indicado, devido ao edema traqueal resultante dos episódios de tosse (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; SUN et. al., 2008; FOSSUM, 2008). Utiliza-se dexametasona na dose de 0,2 mg/Kg, IV, IM ou SC, BID, ou prednisolona na dose de 1,1-2,2 mg/Kg, PO, SID a QID (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008). Os corticoesteróides são rapidamente absorvidos pelo trato gasrtointestinal, mucosas e pela derme. São biotransformados principalmente no fígado para originarem formas ativas, a exceção da hidrocortisona e prednisolona, as quais já são formas metabolicamente ativas. São hidrossolúveis e, portanto, são excretados pelos rins e somente uma pequena porção é excretada junto com a bile. 24 A atividade glicocorticóide responde por diminuir a síntese e liberação de pirógenos endógenos e a formação de edema, através da redução da permeabilidade capilar e também inibe a síntese de prostaglandinas, mediadores inflamatórios, pela redução da liberação de ácido araquidônico. Esta atividade, em especial, minimiza a hiperalgesia, a vasodilatação e a quimiotaxia. Ainda funciona diminuindo a síntese de colágeno e a proliferação de fibroblastos, retardando a cicatrização, atenção dada aos casos de formação de tecido de granulação, bem como atua reduzindo a síntese e liberação de histamina e a migração leucocitária para o local da lesão, função útil nos casos de reação do tipo corpo estranho, porém permitindo o crescimento bacteriano (ANDRADE, 2002). A utilização de broncodilatadores é benéfica devido à redução dos espasmos das vias aéreas de menor calibre, à diminuição das pressões intratorácicas e à redução do colapso das vias aéreas de maior calibre. Ocorre também a melhora da depuração mucociliar e há uma redução na fadiga diafragmática (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004). Utiliza-se a teofilina de liberação lenta na dose de 5-30 mg/Kg, PO, SID a BID ou aminofilina na dose de 11 mg/Kg, PO, IM, IV, TID a QID (FOSSUM, 2008). O tratamento com mucolíticos, drogas antisecretórias, como a atropina e nebulização com solução de cloreto de potássio a 0,9 % são benéficos em casos de excessiva produção de muco e infecções. A redução de peso em animais obesos é fator preponderante na remissão dos sintomas, bem como a restrição de exercícios e medidas de manejo como a substituição de coleiras cervicais por peitorais (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008). Para o tratamento da tosse, realiza-se a abordagem terapêutica de forma diferenciada para os animais com estados agudos e crônicos. Nos estados agudos se utiliza o tartarato de butorfanol na dose de 0,5 a 1,0 mg/Kg, PO, BID a QID ou a diidrocodeinona na dose de 0,2mg/Kg, VO, TID a QID como béquicos para evitar os danos causados pela tosse à mucosa traqueal (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; SUN et al., 2008; FOSSUM, 2008). Podendo ainda se utilizar, em casos refratários aos fármacos anteriores, a acetilpromazina na dose de 0,05-0,2 mg/Kg, IV, IM ou SC, TID, diazepam intravenoso na dose de 0,2 mg/Kg, BID. Procede-se dessa maneira com a intenção de diminuir a 25 ansiedade do animal de forma a restringir ou suprimir os episódios de tosse (BUBACK, BOOTHE e HOBSON, 1996). É prudente oxigenar o animal para evitar cianose, síncope e morte (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; FOSSUM, 2008). A utilização de antibióticos normalmente é desnecessária, exceto em casos em que haja sinais indicativos de infecções das vias aéreas inferiores (JOHNSON e FALES, 2001; FERIAN, 2010). Deve-se realizar análise da microbiota traqueal com antibiograma, o que possibilita durante a estabilização do animal, o direcionamento para a antibioticoterapia adequada. A coleta de material deve ser realizada durante a traqueobroncoscopia. Os fármacos mais utilizados são ampicilina na dose de 22mg/Kg IV, IM ou SC, TID, cefazolina na dose de 22mg/Kg IV ou IM, TID, clindamicina na dose de 11mg/Kg, PO, IV ou IM, BID e enrofloxacina na dose de 7-20mg/Kg, PO ou IV (FOSSUM, 2008). O uso de sulfato de condroitina como agente terapêutico para colapso traqueal ainda é questionável, mas há relatos de sucesso, sendo que na prática clínica sua utilização ocorre de forma empírica. Em seu relato de caso, Saito (2003) afirma que um Yorkshire teve melhora significativa da tosse originada pelo colapso traqueal com o uso do sulfato de condroitina. O tratamento foi instituído com o uso da droga por 60 dias em associação com medicamentos homeopáticos. Em seguida foi mantido somente o tratamento com o uso dos medicamentos homeopáticos e houve recidiva dos sinais clínicos em 4 semanas (SAITO, 2001). Concluiu-se que o uso do sulfato de condroitina foi eficaz para remissão dos sinais clínicos. Já Horowitz (2011) conduziu estudo com 12 animais tratados em 2 grupos distintos de 6 animais. Ao grupo controle foi administrado placebo e ao grupo tratamento sulfato de condroitina. Em 4 cães o fármaco foi utilizado 1 vez ao dia durante 8 semanas, nos demais 1 vez ao dia por pelo menos 6 semanas. Não houve graduação do colapso por broncoscopia. O autor se utilizou de radiografia látero-lateral com compressão cervical, seguindo o método proposto por Canola e Borges (2005), para determinação do grau. Neste estudo foi observado que houve melhora nos sinais clínicos dos animais do grupo tratamento variando de 30 % a 80 %. 26 A utilização do difenoxilato combinado à atropina (Lomotil ®) tem resultado satisfatório, quando do uso como antitussígeno comparado a outros opióides. O difenoxilato age como antitussígeno narcótico e a atropina reduz o volume de muco secretado no trato respiratório, bem como age como broncodilatador. A dose recomendada é de 0,2 mg a 0,5 mg por kilograma, de uso a cada 12h, podendo ser mantida por longos períodos. Infelizmente apresenta constipação como efeito colateral (SMITH, KEENE E TILLEY, 2006). Um estudo recente relata o uso do stazanalol (ADAMAMA-MORAITOU et al, 2011), um anabólico esteróide, e afirma ter bons resultados no manejo do colapso traqueal. Os autores afirmam que houve melhora dos animais em 92,9 % (13 de 14 cães) dos casos. Com cura em 57,1%, grau menos severo do colapso em 35,8 % e piora em 7,1 % dos casos. O fator ambiental caracterizado pela presença excessiva de pó, fumaça ou possíveis agentes estimuladores de alergia devem ser considerados. Geralmente o tratamento medicamentoso associado ao manejo ambiental provê melhor qualidade de vida e a minimização dos sintomas (ETTINGER, KANTROWITZ e BRAYLEY, 2004; SUN et al., 2008; FOSSUM, 2008; WEISSE, 2010). Gibson (2009) afirma que antes de se considerar qualquer tratamento cirúrgico para o colapso traqueal, é indispensável que o tratamento medicamentoso tenha falhado em prover qualidade de vida ao paciente. 4.5. Conduta cirúrgica Há casos em que a terapia conservadora não obtém resultados satisfatórios, seja pela evolução clínica dos animais, quando os mesmos não respondem satisfatoriamente (SUN et al., 2008), ou pela gravidade do colapso, quando atingem grau III e grau IV. O tratamento cirúrgico fica reservado a esses pacientes (FOSSUM, 2008; SUN et. al., 2008). O objetivo primário do tratamento cirúrgico é restaurar o diâmetro traqueal sem interromper o fluxo mucociliar (SUN et al., 2008). 27 Há várias técnicas descritas para o tratamento de colapso traqueal. Dentre elas a pregueamento da membrana dorsal, condrotomia e a implantação de próteses intra ou extraluminais (FINGLAND, 2005). Uma das consequências comuns ao se realizar estas cirurgias consiste na formação de edema na mucosa traqueal no pós-operatório imediato, sendo necessária a utilização de corticoesteróides (NELSON, 2007; FOSSUM, 2008). Animais com aumento de câmara cardíaca, cardiomegalia, paralisia ou colapso da laringe, colapso bronquial e doença pulmonar crônica são péssimos candidatos à cirurgia, sendo, na maioria das vezes, mais vantajoso manter apenas o tratamento medicamentoso (FOSSUM, 2008). 4.5.1 Técnicas extraluminais As técnicas extraluminais preconizam a sustentação dos tecidos traqueais com suturas ou próteses, as quais estas são aplicadas na região externa da traquéia (FINGLAND, 2005). Em casos que exista membrana traqueal frouxa e anéis parcialmente rígidos, como nos casos de colapsos de grau I e grau II, utiliza-se a técnica de pregueamento da membrana traqueal dorsal (Figura 8) (NELSON, 2007). Esta técnica consiste na aproximação das extremidades finais dos anéis, com o uso do padrão de sutura colchoeiro horizontal interrompido somente na membrana traqueal dorsal. Porém, esta técnica não se mostra eficiente ao ponto de manter a patência da via aérea por muito tempo, devido ao seu relaxamento e à estenose provocada pela aproximação realizada (FINGLAND, 2005; LEE, KIM e HYUN, 2007; NELSON, 2007). 28 Figura 8. Ilustração demonstrando técnica de pregueamento da membrana traqueal dorsal. À direita padrão de colchoeiro horizontal, utilizado por sua característica inversora. Fonte: Fingland (2005). A condrotomia é uma técnica que converte a luz elíptica da traquéia colapsada em uma luz triangular, através da transecção dos anéis cartilaginosos na linha média ventral. A técnica só é útil se os anéis traqueais estiverem rijos e ainda tem a desvantagem de predispor o colapso traqueal lateral. Isto pode ser minimizado se realizando a condrotomia modificada que consiste de seccionar anéis alternados (FINGLAND, 2005). Em situações onde o colapso é extratorácico a técnica mais utilizada é a colocação de anéis extraluminais. Os anéis podem ser confeccionados através da secção manual do barril de seringa de polipropileno ou de tubos de teflon (Figura 9). Cada artefato simula um anel traqueal e possui furos nas extremidades para a passagem dos fios de sutura. Estas próteses são implantados na traquéia com espaçamento de 2 a 3 anéis cartilaginosos. Deve-se ter cuidado na divulsão das estruturas para evitar lesão do nervo laríngeo recorrente e da vasculatura do entorno traqueal (TANGENER E HOBSON, 1982; ELKINS, 1984; NELSON, 2007; WEISSE, 2010). Em um estudo realizado por Buback, Boothe e Hobson (1996) com 90 cães sofrendo de colapso traqueal, a taxa de sucesso para redução dos sinais clínicos foi de 75 %, utilizando-se próteses de polipropileno em forma de “C”. No mesmo estudo, 5 % dos animais morreram no perioperatório, 11 % desenvolveram paralisia laríngea, 19 % requereram traqueostomia permanente e aproximadamente 23 % desenvolveram problemas respiratórios, sobrevivendo em média 25 meses após a cirurgia. Esta técnica 29 pode ser utilizada em todo segmento traqueal, inclusive no torácico, mas as complicações pela manipulação tecidual são significativas. Figura 9. Ilustração demonstrando anéis de polipropileno para técnica extra-luminal. À esquerda, anéis de polipropileno. A direita locais de fixação das suturas. Fonte: Tangner e Hobson (1982) – modificado. Outra técnica de colocação de prótese segue a mesma lógica de simulação citada da técnica de anéis extraluminais, somente mudando o formato da prótese para o formato espiral feita dos mesmos materiais, sem perfurações e com espaçamento de 6 mm entre cada hélice (Figura 10). A prótese é também fixada com fios de sutura inabsorvíveis (FINGLAND, 2005; FOSSUM, 2008). 30 Figura 10. Ilustração demonstrando método de confecção de espirais de polipropileno. Fonte: Fingland (2005). Os métodos extraluminais apresentam desvantagens em relação aos intraluminais, são mais demorados e mais invasivos, além disso, são considerados de pouca valia para os colapsos intratorácicos, devido à dificuldade do acesso e às possíveis complicações trans e pós-operatórias (LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008), exceto no seu segmento mais proximal (FOSSUM, 2008). Há relatos de complicações como: infecção, ruptura da inervação e de vasos importantes com necrose posterior de segmentos traqueais, além de afrouxamento ou falha do implante e tosse crônica (LEE, KIM e HYUN, 2007). 4.5.2 Técnicas intraluminais As técnicas intraluminais são indicadas para o suporte traqueal com utilização de arcabouços artificiais, sendo estes aplicados na porção interna da traquéia (NELSON, 2007). Os artefatos intraluminais podem ser aplicados em quase todo o segmento da traquéia, podendo ainda ser aplicados nos brônquios principais, muito embora esta localização seja controversa (LEE, KIM e HYUN, 2007). 31 Existem vários modelos de próteses intraluminais (stents). Os materiais utilizados são dos mais variados tipos, sendo geralmente confeccionados com silicone, metal ou materiais híbridos, os quais combinam diferentes materiais. Há stents auto-expansíveis e expansíveis através de balão, bem como revestidos e não-revestidos, além de possuírem usos específicos, como os dispositivos vasculares, uretrais e traqueobronqueais (Figura 11). O stent ideal deve possuir as seguintes propriedades: ser de fácil de instalação precisamente no local requerido; possuir força radial suficiente para manter a patência das vias aéreas sem migrar; ter alta elasticidade a fim de evitar a fadiga do material; ter boa flexibilidade longitudinal de modo a evitar lesões; ser de fácil remoção quando necessário; ser biocompatível de modo a não induzir reações do tipo corpo estranho; evitar ou minimizar a formação de tecido de granulação ou infecção; além de preservar a depuração mucociliar (SUN et al., 2008). Figura 11. Imagens fotográficas de stents traqueais. A. Ultraflex. B. Wallstent. C. Stent de Nitinol D. Dumon. E. Palmaz. F. Gianturco-Z Fonte: Google scholar imagens. Recomenda-se o uso das próteses intraluminais nas seguintes situações: cães com colapso traqueal de grau III e grau IV, animais refratários ao tratamento medicamentoso, pacientes que não estão aptos para realização de 32 procedimentos invasivos e àqueles que têm colapso extenso da porção intratorácica da traquéia (LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008). O uso de stents constitui procedimento minimamente invasivo, de fácil aplicação e menor tempo operatório, quando comparado à instalação de dispositivos extraluminais e ainda dispensa cuidados intensivos no pós-operatório (LEE, KIM e HYUN, 2007). A instalação dos stents deve ser realizada mediante endoscopia ou fluoroscopia (SUN et al., 2008). Os problemas mais comuns são: formação de granulomas, encurtamento da prótese, tosse transiente, reação do tipo corpo estranho, espasmo laríngeo e perfuração da mucosa traqueal (LEE, KIM e HYUN, 2007; WEISSE, 2010). De todos citados, o problema mais crítico é o espasmo laríngeo (SUN et al., 2008). Os dispositivos devem ficar a aproximadamente 10 mm da laringe e da carina, para evitar espasmos e a formação de tecido de granulação (LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008). Granulomas podem estar presentes, principalmente nas extremidades do dispositivo e constituem complicação merecedora de atenção, sob pena de ocorrer perda da patência das vias aéreas por estenose das mesmas, ou ainda a ocorrência do retorno dos sinais clínicos de colapso traqueal (MORITZ, SCHNEIDER e BAUER, 2004; LEE, KIM e HYUN, 2007). Reações inflamatórias também podem ocorrer em função da presença do stent e são sanadas com uso de corticoesteróides, mas originam sérios problemas caso não sejam controladas, pois afetam a depuração mucociliar e geram ambiente propício para ocorrência de infecções por microorganismos (ANDRADE, 2002; JOHNSON, 2003). O tratamento realizado para impedir a formação de tecido de granulação exuberante também envolve o uso de corticoesteróides e a remoção cirúrgica com laser. Os corticóides são utilizados no intuito de afetar o crescimento do granuloma, desorganizando a deposição de fibras colágenas, diminuindo sua formação (ARAUJO et al., 2003). Nos casos refratários, a ressecção cirúrgica associada ao uso de corticoesteróides e antibióticos é benéfica quanto a manutenção da patência traqueal. No entanto as complicações com tecido de granulação ocorrem em cerca de 35 % dos casos mesmo após a ressecção cirúrgica do tecido (ZHANG et al., 2010). Nos estudos de Brown, Williams e Saylor (2008) um animal diagnosticado com colapso traqueal e submetido à cirurgia para instalação de prótese metálica. Terapia com 33 corticosteróide foi utilizada de forma intermitente em decorrência dos sinais clínicos. Na vigésima sétima semana de pós-operatório o corticosteróide foi descontinuado pelos proprietários devido à polifagia e ao consequente ganho de peso. Como alternativa houve uso de colchicina na dose de 0,03mg/Kg e redução conseqüente da estenose pelo tecido de granulação em 16 semanas após o uso. Para Contesini et al. (1995), os resultados obtidos na substituição parcial de anéis traqueais por implante de silicone e avaliados em necrópsia após 30 dias, foram de discreta reação inflamatória com pouca proliferação tecidual e nenhum achado de metaplasia escamosa. Diferentes dos dispositivos de silicone, os stents metálicos permitem a reepitelização sobre si, mas apresentam maior probabilidade de ocorrência de reação inflamatória, bem como de formação de tecido de granulação Em contrapartida não acumulam muita secreção, nem migram facilmente (ANJOS et al., 2007). Anjos et al. (2007) realizaram compilação de artigos em humanos sobre próteses de silicone e metálicas e observaram que as próteses metálicas suscitavam de 7 % a 43 % de formação de tecido de granulação e de 5,4 % a 15,9 % de infecção associada a sua presença. Esses índices são maiores quando comparados às próteses de silicone que apresentaram de 0,9 % a 16 % de tecido de granulação e 1,63 % de infecção. No entanto os dispositivos de silicone apresentam taxa de migração superior, cerca de 18,4 %, enquanto que os metálicos apresentam apenas 4,8 %. No caso dos dispositivos intraluminais metálicos auto-expansíveis ainda há a possibilidade de ocorrer o encurtamento do dispositivo com aumento simultâneo do seu diâmetro, além da probabilidade de colapsos secundários nas suas extremidades (SUN et al., 2008). Outro fator complicador é a migração das próteses em geral, por conta de tamanho subestimado ou ainda, o contrário, superestimar o diâmetro das próteses provocaria uma dilatação excessiva do lúmen traqueal causando necrose por pressão, erosão da traquéia e conseqüente pneumomediastino e pneumotórax (LEE, KIM e HYUN, 2007). 34 5. MATERIAIS E MÉTODO Este trabalho está em conformidade com as normas de uso e experimentação animal, com aprovação no Comitê de Ética e Experimentação Animal da UFBA sob o número de protocolo 09/2012. Na primeira fase do estudo, com intuito de elaboração da prótese, determinação de seu diâmetro, forma e posterior adequação da técnica de inserção frente ao diâmetro traqueal, foram empregados 12 cadáveres de cães, de ambos os sexos, sem raça definida (SRD), com peso variável entre 1 e 10 kg, oriundos de óbitos do Hospital de Medicina Veterinária da UFBA. Para averiguação do diâmetro luminal e comprimento traqueal, os cadáveres foram submetidos a exame radiográfico cérvico-torácico nas incidências látero-lateral esquerda e ventrodorsal, segundo técnica prescrita por Moritz, Schneider e Bauer (2004), utilizando-se de aparelho radiográfico digital computadorizado da marca Agfa, digitalizador modelo CR 30-X e a vídeo traqueobroncoscopia empregando-se aparelho vídeo traqueobroncoscópio da marca Olympus, modelo BF-P60. As mensurações foram realizadas com programa Agfa Viewer da própria Agfa. Uma régua radiopaca foi radiografada com o cadáver para evitar erros de magnificação. Determinados o diâmetro e a forma das próteses objeto de estudo, as mesmas foram confeccionadas em empresa especializada em manufaturados de aço inoxidável1. Foram fabricadas a partir do fio de aço inoxidável 316 L de 0,5 mm de diâmetro, sob a forma helicoidal, com passo entre cada volta da hélice de 5 mm e 500 mm de comprimento, nos seguintes diâmetros externos: 6, 8, 10 e 12 milímetros (Figura 12). 1 Wasmol Indústria e Comércio de Molas e Estamparias Ltda. 35 Figura 12. Desenho técnico da prótese helicoidal LoComprimento total da prótese; Di-Diâmetro interno; Da-Diâmetro externo; P-Passo entre as hélices; d-Espessura do fio de aço inoxidável. Fonte: Arquivo pessoal. O diâmetro do lúmen traqueal foi definido para cada cadáver, através de mensuração em cinco pontos distintos da traquéia visibilizada na incidência radiográfica látero-lateral,. Adequou-se o método proposto por Moritz, Schneider e Bauer (2004). O primeiro ponto de mensuração foi realizado a aproximadamente 10 mm da cartilagem tireóide, o segundo na entrada do tórax tomando por base o ponto de intersecção entre a traquéia e a porção cranial do primeiro par costal, o terceiro a aproximadamente 10 mm da carina, e finalmente, o quarto e o quinto nos pontos médios equidistantes entre os pontosguia citados. A média aritmética obtida norteou o diâmetro da prótese (Figura 13). O comprimento ideal para cada cão foi dado pela medição linear da traquéia na radiografia, observando-se a distância de 10 mm da cartilagem tireóide e também de 10 mm da carina, segundo indicado por Moritz, Schneider e Bauer (2004). Previamente a implantação, as próteses foram cortadas e suas extremidades livres encurvadas internamente, deixando-as no comprimento ideal para cada caso. 36 Figura 13. Imagem fotográfica demonstrando 5 pontos-guia para mensuração do diâmetro e medição do comprimento da traquéia de cadáver canino. Fonte: Arquivo pessoal. Uma vez definidos diâmetro e comprimento da prótese, manobras para sua implantação foram testadas. Preconizando-se três técnicas para teste: inserção por acesso puntiforme pela traquéia cervical, inserção pela orofaringe e inserção por secção do ligamento interanular, também com acesso pela traquéia cervical. Foram utilizados quatro cadáveres para cada método de inserção, de modo que todas as técnicas foram guiadas pela vídeo traqueobroncoscopia. Definida a técnica de inserção, realizou-se estudo piloto para avaliar os efeitos da permanência da prótese na mucosa traqueal. Para tanto, foram utilizados 6 coelhos (Oryctolagus cuniculus) da raça Nova Zelândia, divididos em 2 grupos com separação temporal em função da permanência do artefato, de 15 dias e 30 dias. Prótese compatível com o calibre traqueal da espécie, com dimensões de 5 mm de diâmetro externo e 50 mm de comprimento foi aplicada por secção do ligamento interanular, porém sem o uso da vídeo traqueobroncoscopia. Aos 15 e aos 30 dias de observação pós-operatória os animais foram eutanasiados. Após cervico e esternotomia 37 e dissecção da traquéia cervical e torácica, observações foram feitas acerca da presença ou não de aderências e rupturas em todo seu trajeto. Posteriormente a tráqueia foi incisionada em seu eixo longitudinal e sua mucosa inspecionada a fim de melhor se observar prováveis alterações ocasionadas pela permanência da prótese. Para aplicação terapêutica da prótese idealizada foram triados nove animais para o desenvolvimento desta pesquisa, por serem considerados de grau III ou IV. Durante o exame físico foram avaliados a atividade e o tipo respiratório, ruídos adventícios e mecanismos compensatórios, tosse (tipo, freqüência, intensidade e timbre) e presença de cianose, sendo estes indícios examinados sempre pelo mesmo avaliador em ficha própria e única para cada animal (Anexo I). Somente foram admitidos para cirurgia os animais portadores de colapso traqueal grau III ou IV. Foram solicitados hemograma e leucograma, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina, uréia, creatinina, eletrocardiograma, ecocardiograma e radiografia cérvico-torácica látero-lateral esquerda com aparato de compressão cervical, seguindo um método modificado, originado a partir do indicado por Canola e Borges (2005), além de radiografia cérvico-torácica em projeção látero-lateral esquerda, sem uso do aparato de compressão. Para mensuração da traquéia dos cães portadores de colapso traqueal, a técnica realizada foi ajustada para apenas duas medições, uma a 10 mm da laringe e outra a 10 mm da carina, obtidas a partir da projeção radiográfica látero-lateral. A média aritmética resultante norteou o diâmetro da prótese. O comprimento ideal do dispositivo e as diretrizes para sua confecção tomaram por base o mesmo método utilizado nos cadáveres. Estando o animal apto, realizou-se vídeo traqueobroncoscopia avaliativa e confirmatória para análise do trato respiratório superior, observando possíveis alterações macroscópicas. Averiguou-se também a manutenção do diâmetro luminal em toda extensão traqueal, da rima da glote até a entrada dos brônquios principais. A graduação do colapso foi realizada de acordo com os preceitos de Tangner e Hobson (1982). 38 Nenhum tipo de terapia medicamentosa foi prescrita no intuito de observar os sinais macroscópicos do estresse traqueal o mais fidedignamente possível durante a vídeo traqueobroncoscopia. Cerca de 60 minutos antes da cirurgia os animais receberam terapia antimicrobiana e antiinflamatória, sendo utilizada por via subcutânea cefalotina sódica2 (30 mg/Kg) e meloxicam3 (0,1 mg/Kg). Após 1 hora de procedimento cirúrgico a cefalotina foi reaplicada. O protocolo anestésico incluiu cloridrato de clorpromazina4 (0,3 mg/kg) associada ao cloridrato de petidina5 (2 mg/kg) por via intramuscular, como medicação pré-anestésica. A indução foi realizada com propofol6 em bolus (4mg/kg) e a manutenção com isofluorano7 em circuito semi-aberto. O procedimento cirúrgico foi realizado utilizando a técnica de acesso traqueal por secção do ligamento interanular. Uma incisão cutânea de aproximadamente 5 cm foi realizada na região cervical ventral, tomando como guia a palpação da cartilagem tireóide. Ato contínuo foi executada divulsão romba da tela subcutânea até a perfeita visibilização dos músculos esternoióideos. Em seguida, seccionando-se a bainha que se interpunha entre estes, obteve-se acesso direto à traquéia. As estruturas do entorno traqueal foram ao máximo preservadas. A traquéia foi isolada do contato íntimo com o esôfago em sua porção dorsal através do uso de compressa de gaze (Figura 14A). Tomando por base a cartilagem tireóide, cerca de 1 cm após a porção mais caudal desta cartilagem, ao nível do 3º ou 4º anel traqueal cervical, uma pequena incisão foi realizada no ligamento interanular, transversalmente à traquéia, paralelamente aos seus anéis (Figura 14B). Nesse momento a sonda endotraqueal foi retraída até a proximidade da incisão. Só então a prótese estéril foi inserida, empregando-se movimentos de rotação, de forma progressiva até a vizinhança da Carina (Figura 14C). Em seguida, o vídeo traqueobroncoscópio foi inserido pela linha de incisão, penetrando o interior da prótese (Figura 14D). Caso a prótese estivesse mal posicionada 2 Keflin - 1g - ABS Maxicam 0,2%- Ourofino 4 Longactil 5mg/mL - Cristália 5 Dolosal 50mg/mL - Cristália 6 Diprivan 1% - Cristália 7 Isoforine - Cristália 3 39 ou comprimida, a correção se procedia com uso de fórceps de biópsia8, utilizado na otorrinolaringoscopia, inserido através da incisão. O fechamento da traquéia se iniciou com a realização de um único ponto sutura de relaxamento de tensão, segundo técnica descrita por Orton (1995). A incisão direta no ligamento interanular se deu com padrão de sutura simples interrompido sem atingir o lúmen traqueal, e ambos os fechamentos, tanto a sutura de relaxamento de tensão quanto os pontos simples, ocorreram com a utilização de fio de poliamida9, numeração 3-0, com agulha de 20 mm (Figura 14F). A prótese foi fixada à traquéia por um único ponto simples realizado na sua extremidade proximal com fio de poliamida 3-0. Esta sutura, em especial, trespassou o ligamento interanular e a mucosa traqueal, a cerca de 1 cm da incisão na traquéia, laçando a prótese a fim de evitar a ocorrência de futuras migrações. O hermetismo traqueal foi avaliado através de teste de imersão com utilização de cloreto de sódio a 0,9% (Figura 14E). Pressão positiva foi instituída de forma progressiva, conforme proposto por Fingland (2005), variando de 25 cmH2O até 30 cmH2O e em caso de escape, realizava-se enxerto muscular pediculado no local e novo teste era realizado sucessivamente até a certeza da completa aeroestasia. Para sutura da musculatura se utilizou fio de poliamida 3-0, com padrão de sutura simples interrompido. O espaço morto foi reduzido da maneira usual e a pele foi suturada com fio de poliamida, numeração 2-0, com padrão de sutura simples interrompido de forma a aposicionar a incisão. Ao final do procedimento cirúrgico os animais foram submetidos à nova vídeo traqueobroncoscopia e exame radiográfico cervical e de tórax, nas incidências látero-lateral e ventrodorsal. Os animais foram acompanhados intensivamente nas primeiras 6 horas de pós-operatório, continuando em internamento de suporte por mais 18 horas, totalizando 24 horas de acompanhamento primário. Ainda foram submetidos a exame clínico a cada 24 horas, nos primeiros 7 dias de observação pósoperatória e a cada 15 dias até o período de 60 dias. Observou-se se havia 8 9 Stema - Medzintechnik GmbH - Fórceps de biópsia ação simples, oval, diâmetro 0,3mm Technofio – Monofilamento preto – Fio de sutura não-absorvível 40 alterações na mobilidade cervical, enfisema subcutâneo, ruídos adventícios, tosse, dispnéia, cianose e síncope. A alimentação e a água no pós-cirúrgico imediato só foram servidas após a completa recuperação anestésica. Ambas em pequena quantidade e alta freqüência (cerca de seis vezes ao dia) até a liberação do animal. Para tratamento domiciliar foi recomendado o uso de alimentação pastosa por uma semana e retorno gradual a alimentação habitual. 41 Figura 14. Imagens fotográficas demonstrando passos do procedimento de inserção da prótese helicoidal de aço inoxidável 316 L. Em A. Gaze interposta entre esôfago e traquéia. B. Secção transversal do ligamento interanular. C. Inserção da prótese por rotação. D. Vídeo traqueobroncoscopia direta E. Teste de imersão F. Aspecto final da traquéia com sutura de relaxamento de tensão e padrão simples interrompido para fechamento da linha de incisão. 42 Foi instituída como terapia alternativa adjuvante para os pacientes, na dependência da sintomatologia clínica, a prednisolona10 na dose de 1 mg/kg SID, pela pela via oral, por 5 dias consecutivos, 0,5 mg/kg SID por mais 5 dias e finalmente 0,25 finalmente 0,25 mg/kg SID por mais cinco dias; aminofilina diidratada11 na dose de 11 mg/kg TID, via oral, por 7 dias consecutivos e fosfato de codeína12, 1 mg/kg, QID, via oral por 30 dias consecutivos. A N-acetilcisteína13 foi utilizada somente em casos de apresentação de mucostase evidente na dose de 10 mg/kg, SID, 10 dias e o uso de béquicos e antinflamatórios era imediatamente suspenso. O uso de cefalexina 30 mg/Kg, TID, por 10 dias foi mandatório para todos os animais. Adicionalmente, os animais foram submetidos à avaliação vídeo traqueobroncoscópica, aos 7, 15, 30, 45 e 60 dias, sendo feitas observações especialmente relacionadas à integridade e fixação da prótese, lacerações da mucosa traqueal, assim como presença de reações tipo corpo estranho, promoção de tecido de granulação ou infecção, além da preservação da depuração mucociliar. Observando-se casos suspeitos de formação de tecidos de granulação terapia com corticoesteróide por 15 dias era novamente instituída. Foram realizados os acompanhamentos clínico e laboratorial mensal do paciente, durante os 2 primeiros meses de avaliação, passando para bimestral por 4 meses e semestral por todo o período de sobrevida, de forma a avaliar a estabilização do quadro e o estado geral do paciente, principalmente quanto a função respiratória. O tempo de sobrevida foi definido em dias, como sendo o período entre a implantação da prótese e a data prevista para o último acompanhamento ou óbito do animal em consequência da patologia ou de causas naturais. 10 Dermacorten 5mg - Ourofino Aminofilina Sandoz 240mg/mL - Novartis 12 Codein 3mg/mL - Cristália 13 Mucomucil xarope 50 mL - Vetnil 11 43 6. Resultados e discussão Atualmente na Medicina Veterinária não existem alternativas totalmente eficazes e acessíveis para o tratamento cirúrgico protético do colapso traqueal em sua totalidade. Basta verificarmos o índice de complicações pós-operatórias, decorrentes da manipulação tecidual, quando a traquéia cervical e em especial o tórax são acessados para utilização das técnicas extraluminais (WHITE e WILLIAMS, 1994; BUBACK, BOOTHE e HOBSON, 1996; SUN et al., 2008; BECKER et al., 2012) e o custo proibitivo das próteses intraluminais (LEE, KIM e HYUN, 2007; SUN et al., 2008). Adicionalmente Mittleman et al. (2004) e Culp et al. (2007) afirmam que as próteses intraluminais são uma alternativa sensata para tratamento de estreitamentos que envolvam segmento traqueais muito longos ou acesso ao tórax. O dispositivo idealizado neste estudo é de fácil fabricação, fácil preparo, não faz uso de aplicador específico, mantém a patência traqueal conforme proposto e não sofreu fratura no período avaliado. No entanto a prótese desenvolvida possui desvantagem comum a todo stent metálico: uma vez inserida e recoberta por tecido é de difícil remoção. Zakaluzny, Lane e Mair (2003) concluíram que quanto mais tempo o stent metálico permanece, mais difícil é a sua remoção. Madden, Loke e Sheth (2006) também afirmam que os stents metálicos uma vez inseridos são difíceis de retirar e levam a complicações caso o sejam. A escolha da conformaçâo helicoidal da prótese se baseou nos trabalhos de Coyne et al., (1993) e Fingland, Weisbrod e Dehoff (1989) e Fingland (2005) e nos stents helicoidais de aplicação vascular14 e não-vascular15, para aplicações na artéria femoral superficial e poplítea e uretra, respectivamente (STOECKEL, PELTON e DUERIG, 2004). De acordo com os estudos de Coyne et al., (1993), Fingland, Weisbrod e Dehoff (1989) e Fingland (2005) a técnica extraluminal com uso de prótese em espiral confeccionada com seringa de polipropileno não demonstrou indícios de afetar a mobilidade cervical. 14 15 Endocare´s Horizon Stent IntraCoil Stent - Intratherapeutics 44 O uso de cadáveres é o ideal quando se tenciona treinar ou adequar técnicas cirúrgicas para execução posterior em animais vivos (SILVA, 2003). Dessa maneira utilizamos doze cadáveres conservados em solução de Larssen modificada, onde se pôde aperfeiçoar a prótese, quanto ao seu formato e diâmetro e adequar a técnica de inserção. A técnica de mensuração traqueal para escolha do diâmetro da prótese proposta por Moritz, Schneider e Bauer (2004), inicialmente testada, mostrou-se inadequada, necessitando ser adaptada, já que as medições traqueais na radiografia de incidência ventrodorsal não foram passíveis de serem realizadas. A modificação consistiu da exclusão desta incidência para efeito de cálculo, devido a não visibilização da traquéia. Nos cadáveres, as cinco medidas para obtenção da média aritmética que norteou o diâmetro da prótese, puderam ser utilizadas sem maiores influências na média calculada. Houve tentativa de mensuração indireta em pontos traqueais específicos, através da vídeo traqueobroncoscopia, mas a característica plana da imagem e as deformações naturais da perspectiva não permitam cálculo simples e confiável, sendo necessário uso de aparato e aplicativo computacional específico, o que inviabilizou sua utilização (LUCESOLI et al., 2008). O ponto de maior dificuldade para passagem da prótese, nos cadáveres, foi a entrada do tórax. O posicionamento correto do animal em decúbito dorsal e o uso da vídeo traqueobroncoscopia foram cruciais para a passagem do artefato sem provocar lesões à mucosa traqueal. Estudos de biocompatibilidade são rotineiramente conduzidos em coelhos. Esta espécie em particular, é de fácil manejo, metabolismo rápido e possui ciclo vital relativamente curto, mostrando-se como modelo animal principal em diversos testes preliminares (BANDEIRA et al., 2000; PANERARI et al., 2008; FARIA et al., 2012). No estudo piloto realizado em coelhos a vídeo traqueobroncoscopia não foi realizada devido ao diminuto lúmen da traquéia e principalmente da rima da glote destes animais. A análise macroscópica dos espécimes coletados demonstrou que a mucosa traqueal dos animais eutanasiados aos 15 dias de pós-operatório apresentava hiperemia e edema discreto e aos 30 dias havia presença discreta de material mucóide no entorno do dispositivo. Tanto aos 15 dias, quanto aos 30 dias, já havia recobrimento tecidual da prótese nos pontos de maior contato, região dorsal e ventral da traquéia, corroborando 45 com os resultados encontrados por Faria et al. (2012), que encontraram 84 % de aderência quando empregaram stent de nitinol. No entanto, não havia diminuição do lúmen por crescimento de tecido de granulação aparente, diferente dos 77 % encontrados por Faria et al. (2012). De modo análogo o estudo de Ruegemer et al. (1999) não evidenciou complicações em decorrência da aplicação de stents de Palmaz16 na traquéia de porcos. Os stents foram recobertos com mucosa e o tecido de granulação existente era meramente cicatricial e não-obliterante. A triagem radiográfica e a confirmação vídeo traqueobroncoscópica dos graus de colapso nos animais selecionados, permitiu a confirmação das suspeitas do exame físico. Contudo a identificação do colapso nos animais portadores através de radiografias simples é eficaz em apenas 59 % dos casos, segundo Tangner e Hobson (1982). Johnson e Pollard (2010) obtiveram maior acurácia, cerca de 73 % de identificação correta. Neste estudo as radiografias de triagem demonstraram os graus de colapso traqueais equivalentes aos vistos nas vídeo traqueobroncoscopias confirmatórias, não havendo divergências também quanto a localização. Os graus dos colapsos traqueais dos animais admitidos eram III ou IV, o que equivale a 50 % de obstrução no mínimo, graus menores são difíceis de identificar na radiografia convencional e há vários fatores que podem induzir ao erro diagnóstico, como posicionamento e sobreposição de tecidos moles (CANOLA e BORGES, 2005). O aparato de compressão utilizado para confirmar a presença de colapso se mostrou útil na detecção de fragilidade dos anéis traqueais como método de triagem para qualquer grau, confirmando a condição em todos os animais, à semelhança dos resultados obtidos por Canola e Borges (2005). As vídeo traqueobroncoscopias confirmatórias tiveram papel preponderante em confirmar os graus dos colapsos em todos os casos, corroborando com os achados de Tangner e Hobson (1982). O exame tem como vantagem sobre a estimativa radiográfica a avaliação dinâmica e a não 16 Cordis Corp, Johnson & Johnson Company 46 ocorrência de falso-positivos por sobreposição de tecidos moles, tal qual afirmam Johnson (2000) e Gibson (2009), no entanto demandam anestesia para sua realização (CREEVY, 2009). Dos animais triados e admitidos a raça mais frequentemente acometida foi o poodle (cinco cães), seguida do yorkshire terrier (três cães) e de um cão sem raça definida, todos de pequeno porte, com peso médio de 4,9 Kg (intervalo de 1,9 Kg a 9 Kg), sendo três dos nove animais considerados obesos. A média de idade dos animais quando do início dos sinais clínicos foi de 5,8 anos (intervalo de 1 a 9 anos). Não havendo predileção por sexo. Esses achados corroboram com a literatura consultada que descreve os poodles toy e miniatura e yorkshires, de meia-idade, sem predileção sexual, como maiores representantes de portadores da doença (WHITE e WILLIAMS, 1994; BUBACK, BOOTHE e HOBSON, 1996; JOHNSON, 2000). Dois animais tiveram os sinais percebidos pelos proprietários já com um ano de idade. White e Williams, (1994) afirmam que aproximadamente 25 % dos animais portadores apresentam sinais a partir dos seis meses (Tabela 3). Tabela 3. Dados dos animais, localização e grau do colapso traqueal. T - torácico. CT cérvico-torácico. Fonte: Arquivo pessoal. O sintoma tosse e mimetismo de vômito ao fim dos episódios de tosse estava presente em todos os animais. Eventos estes ocorridos com frequência após ingestão de água e alimentos (Tabela 4). O mimetismo de vômito é um achado comum e bastante confundido pelos proprietários com engasgo, corpo estranho ou vômito (JOHNSON, 2000). Neste estudo a inserção do dispositivo não interferiu na deglutição de água ou alimento. Todos os animais, antes do procedimento corretivo tossiam com alta intensidade e alta freqüência. 47 Buback, Boothe e Hobson (1996) relataram que a tosse foi a queixa mais comum em ambos os períodos anterior e posterior a cirurgia, mas que houve normalização ou melhora dos animais, segundo os proprietários. Neste trabalho, dispnéia e cianose estavam presentes em oito dos nove animais e síncope em seis dos nove animais. Este achado vai de encontro ao estudo realizado por Buback, Boothe e Hobson (1996), onde apenas 1 % de animais tinha episódios de síncope. No entanto, no mesmo estudo tosse e dispnéia representavam 73,8 % e 72,8 % dos sinais respectivamente. Já Tangner e Hobson (1982) evidenciam que a queixa tosse representa 90 % dos casos, seguida por dispnéia (75 %) e cianose (33 %). Tabela 4. Sinais clínicos apresentados pelos cães portadores de colapso traqueal antes da cirurgia. P – presemte. A - ausente Fonte: Arquivo pessoal. Os hemogramas, leucogramas, uréia e creatinina de acompanhamento dos animais não apresentaram anormalidades significativas, em conformidade com Ettinger, Kantrowitz e Brayley (2004), porém alanina aminotransferase e fosfatase alacalina apresentaram discreto aumento na análise de 15 dias de pósoperatório. Esta elevação provavelmente se deu pelo uso de corticosteróide nesta quinzena de terapia pós-cirúrgica. É sabido que os corticosteróides elevam a alanina aminotransferase e a fosfatase alcalina (BAUER et al., 2006; PEREIRA et al., 2011). Ainda, segundo Bauer et al. (2006), o aumento destas enzimas guarda relação com congestão hepática e lipidose. Os três animais que possuíam hepatomegalia como achado adicional antes da cirurgia, não apresentaram os marcadores hepáticos (fosfatase alcalina e alanina aminotransferase) fora da normalidade, entretanto tais valores estavam próximos do limite superior. Hepatomegalia é um achado relativamente comum 48 em cães com colapso traqueal e pode resultar do aumento da resistência das vias aéreas resultando em esforço do coração direito e congestão hepática (RA e JOHNSON, 2004; CAMPBELL 2007). Segundo Johnson e Pollard, (2010) a obesidade é fator complicador mecânico para os animais portadores de colapso traqueal e afeta o volume torácico facilitando o colapso das vias aéreas. No estudo três animais eram obesos e um estava no sobrepeso, mas não possuíam alterações significativas das enzimas hepáticas. Este achado está em desacordo com o proposto por Bauer et al. (2006). Seis animais possuíam algum grau de cardiopatia, desses seis, três possuíam colapso do brônquio principal esquerdo. Johnson e Pollard (2010) afirmam que quando há colapso bronquial, cardiomegalia está significativamente envolvida. Neste estudo não houve indícios radiográficos ou ecocardiográficos de cardiomegalia ou aumento do coração esquerdo que justificassem compressão bronquial esquerda. Adamama-Moraitou (2012) e Johnson e Pollard (2010) afirmam que o brônquio principal esquerdo está mais envolvido que o direito. Neste estudo dois animais possuíam colapso total do brônquio em questão, e um possuía colapso parcial. Um dos animais com colapso bronquial esquerdo total desenvolveu colapso bronquial direito parcial, detectado na vídeo traqueobroncoscopia de 60 dias. Esse resultado em especial reforça o aspecto progressivo da doença (JOHNSON, 2000; SUN et al., 2008: JOHNSON e POLLARD, 2010). Todos os animais operados já haviam passado por tratamento medicamentoso ineficaz e os eventos do colapso representavam risco iminente de morte. A cirurgia é considerada um procedimento de salvamento (WHITE e WILLIAMS, 1994) e Sun et al. (2008) afirmam que é reservada aos pacientes que foram refratários ao tratamento com medicamentos. Desta forma, os animais em grau III ou IV são potenciais candidatos ao procedimento cirúrgico (FOSSUM, 2008). O grau III foi o mais observado, ocorrendo em seis de nove animais, enquanto que o grau IV estava presente em três dos nove animais. Oito dos nove animais possuíam colapso traqueal em localização cérvicotorácica, apenas um o possuía somente em localização torácica. A seleção do diâmetro ideal da prótese para posterior inserção cirúrgica se deu a partir da mensuração da radiografia látero-lateral obtida na triagem. Apenas duas mensurações foram utilizadas, uma a 10 mm da cartilagem tireóide e outra a 10 mm da 49 carina. Estes dois únicos pontos de medida foram estipulados como padrão, devido a um viés no cálculo de cinco pontos estabelecido em cadáveres. Quando a traquéia do primeiro animal a ser operado foi medida, observou-se que as áreas colapsadas influenciavam a média para próximo do menor valor obtido, de forma a subestimar o tamanho correto da prótese. Aparentemente as regiões da carina e da cartilagem tireóide, apresentam menor influência do colapso pela sua forma e pela quantidade de massa cartilaginosa, decerto que em todos os animais, as radiografias látero-laterais apresentavam colapso em toda extensão ou em parte da traquéia, mas mantinham diâmetro satisfatório na circunvizinhança das estruturas citadas. Por questões de segurança, no trans-operatório, próteses de numeração inferior e superior eram mantidas para quaisquer eventualidades. A técnica de inserção por secção do ligamento interanular se mostrou mais adequada para realização in vivo, pela facilidade de inserção e visibilização direta da traquéia. As demais técnicas apresentaram dificuldades proibitivas de seu uso. Na técnica por acesso puntiforme ocorreram pontos de inflexão e deformação da prótese, bem como impedimento da passagem livre do vídeo traqueobroncoscópio pelas hélices do dispositivo. A instalação da prótese pela orofaringe, num primeiro momento, induz a pensar ser uma opção menos invasiva, semelhante a aplicação dos stents (LEE, KUPELI e MEHTA, 2010; CHUNG et al.; 2011; DURANT et al., 2012), todavia na inserção pela orofaringe a prótese requerida deveria ser demasiado menor que o diâmetro traqueal, em decorrência do menor calibre da rima da glote. Tamanhos compatíveis com o lúmen traqueal causaram lesão nas pregas vocais e nas cartilagens aritenóides, além de impedir o correto avanço do dispositivo. O procedimento cirúrgico demandou acesso cervical pela linha média ventral, em conformidade com o que as técnicas extraluminais preconizam (AYRES e HOLMBERG, 1999; FINGLAND, 2005). Mesmo em animais obesos a quantidade de tecido é exígua e a divulsão é de fácil execução, devendo-se tomar cuidado para não lesionar a musculatura delgada imediatamente abaixo. 50 Baseando-se na cartilagem tireóide é possível delimitar precisamente a área e o tamanho da incisão, diminuindo assim os riscos causados pela manipulação excessiva observadas na execução de técnicas extraluminais, pois segundo Fingland, Weisbrode e DeHoff (1989) estas demandam manipulação tal que podem resultar em paralisia laríngea por secção do nervo laríngeo recorrente, necrose tecidual ou erosão dos anéis cartilaginosos pelos rebordos das próteses. Não obstante a traquéia possua rigidez própria de um órgão cartilaginoso, a perda do tônus do músculo traqueal e a degeneração e necrose dos anéis traqueais nos animais doentes demandou suavidade nas manobras executadas. Para evitar danos por excessiva tração, torção ou compressão, um artifício foi utilizado com intuito de permitir o manuseio apurado. Uma gaze enrolada sobre seu próprio eixo longitudinal foi perpassada por uma janela artificial no tecido conjuntivo interposto entre esôfago e traquéia. A secção do ligamento interanular não foi maior que 1/3 da circunferência traqueal, a literatura demonstra que a traquéia mesmo quando seccionada em 100 % do diâmetro e anastomosada permite que haja crescimento da mucosa sobre a linha de incisão (HABAL, PIZZOFERRATO e VESPUCCI, 1985) e que as células ciliadas retornem a sua função de remoção do muco (PAZZETI et al., 2008). O transporte mucociliar recomeça entre o 6° e o 10° dia e se estabelece no 21° dia na ausência de estenoses moderadas ou severas. O fenômeno ocorre independentemente da presença de células ciliadas na linha de incisão. Sabe-se que a mucosa adjacente aumenta sua taxa de remoção de muco para compensar a área afetada (FINGLAND et al., 1995). Embora já fosse esterilizada no tamanho correto para cada animal, caso fosse necessário, a prótese era passível de ajustes de comprimento no pré-operatório imediato. Estes ajustes originavam extremidade pontiaguda em decorrência do cisalhamento com alicate de corte17, mas tal problema foi facilmente resolvido encurvando as extremidades livres internamente com alicate de bico18. Essa manobra impediu que houvesse lacerações durante a inserção da prótese no lúmen traqueal. O método de inserção da prótese por rotação não permitiu que a seleção fosse realizada seguindo a estimativa de que a mesma deve ser de 3 mm a 5 mm maior que a 17 18 Alicate de corte diagonal – 6 polegadas - Tramontina Alicate de bico meia cana – 6 polegadas - Tramontina 51 traquéia, conforme indicado para próteses auto-expansíveis por Lee, Kim e Hyun (2007) e Woo et al., (2007). O dispositivo desenvolvido é rígido e não expande radialmente, portanto durante a manobra de rotação progressiva, tamanhos superiores ao diâmetro traqueal causariam lesão na mucosa ou fratura dos anéis ao contrário dos stents que são expansíveis por balão ou autoexpansíveis. Em cadáveres, os movimentos rotacionais aplicados para inserção da prótese no lúmen traqueal, mostraram-se, mais eficazes que a técnica de avanço longitudinal utilizado para inserção pela orofaringe, uma vez que nesta última o avanço progressivo da prótese causava maior atrito com a mucosa traqueal e consequente compressão das hélices com diminuição do passo e mau posicionamento da mesma, particularmente na entrada do tórax. Nos cães portadores de colapso traqueal, optamos pelos movimentos rotacionais para inserção da prótese e reafirmamos a eficácia da técnica. Quando havia algum erro de posicionamento, como compressão de hélices, o mesmo erra facilmente corrigido empregando-se fórceps de biópsia utilizado na otorrinolaringologia, através da vídeo traqueobroncoscopia. Com intuito de minorar a tensão nos rebordos da incisão no ligamento interanular, um único ponto de relaxamento de tensão foi realizado seguindo o método de sutura preconizado por Orton (1995) e em concordância com Fingland (2005), Nelson (2007) e Fossum (2008). Para a sutura da incisão no ligamento interanular se utilizou padrão simples interrompido conforme sugerido por McKeown et al. (1991) e sem penetrar o lúmen traqueal, à maneira evidenciada por Mazzanti et. al (2000). Fingland et al. (1995) afirmam que há diferenças estatísticas significativas, mas clinicamente desprezíveis quanto à estenose pós-cicatricial em decorrência do padrão de sutura utilizado nas anastomoses traqueais, seja simples ou contínuo, ocorrendo com maior frequência neste último. Embora o tempo de fechamento da sutura contínua tenha sido menor, a aposição tecidual do padrão interrompido é melhor. Mazzanti et. al. (2000) afirmam que o fio de poliamida se mostrou resistente, sem ocasionar deiscência ou promover tecido de granulação na região 52 da anastomose, conquanto não atingisse o lúmen traqueal. Este estudo norteou a utilização dos fios de poliamida utilizados nas suturas de fechamento e alívio de tensão, corroborando com achados dos autores. O ponto simples utilizado para evitar migração da prótese trespassou a mucosa, mas foi recoberto com tecido. O teste de imersão realizado estava de acordo com o proposto por Pinto Filho (2003) e avaliou o hermetismo da sutura traqueal de maneira eficiente, desde quando aliado a submissão a variações dos níveis pressóricos normais de 25 cmH2O até 30 cmH2O, conforme sugerido por Fingland (2005). Esta técnica combinada não permitia a indução de barotrauma e o mero escape de ar foi o suficiente para recobrir o local com pedículo do músculo esternoióideo para evitar formação de enfisema subcutâneo. Mazzanti et al. (2000) o fizeram preventivamente e observaram que aos 30 dias de pósoperatório a lesão traqueal estava totalmente vedada por uma membrana fibrosa. Nas avaliações pós-operatórias as primeiras 24 horas após a cirurgia foram cruciais no estabelecimento da melhora clínica dos animais. Os pacientes foram acompanhados clinicamente em internamento quanto à mobilidade cervical, enfisema subcutâneo, ruídos adventícios, tosse, dispnéia, cianose e síncope. Não houve presença de enfisema subcutâneo. Os ruídos adventícios encontrados (sibilo e ronco) anteriormente e a tosse tiveram remissão, ocorrendo esporadicamente com baixa intensidade. A melhora da dispnéia e cianose foi imediata, não ocorreram eventos de síncope e a mobilidade cervical permaneceu inalterada. O escopo de medicações utilizadas na terapêutica do colapso traqueal é pequeno e a escolha se baseia no uso de béquicos, broncodilatadores e antiinflamatórios. Este estudo previu o uso destas medicações para obter o melhor resultado possível em associação ao tratamento cirúrgico. O edema da mucosa traqueal no pós-operatório imediato é uma complicação esperada e manejável eficientemente com corticosteróides em animais com tosse crônica (JOHNSON, 2003). Fez-se uso de antiinflamatório corticosteróide logo após a cirurgia, consciente do seu efeito deletério sobre a cicatrização tecidual quando usados em altas doses (TALAS et al., 2002). Neste trabalho a dose utilizada foi a menor recomendada na literatura e o desmame progressivo foi realizado (ANDRADE, 2002). De modo análogo a este trabalho, Lee, Kim e Hyun (2007) se utilizaram de terapia pós-operatória com corticosteróides por 15 dias. A associação com o béquico codeína e o broncodilatador 53 aminofilina foram úteis para evitar que o ciclo vicioso de tosse se instalasse e para aumentar a área de hematose e consequentemente o aporte de oxigênio (BUENO; 2003; LEE, KIM e HYUN, 2007; NELSON, 2007). As vídeo traqueobroncoscopias foram realizadas em três momentos: no pré-cirúrgico, transcirúrgico e pós-cirúrgico. A vídeo traqueobroncoscopia realizada após a inserção da prótese pela linha de incisão teve como objetivo a visibilização do posicionamento e integridade da prótese, além de averiguação de possíveis lesões na mucosa traqueal. Pode-se inferir que a vídeo traqueobroncoscopia realizada da maneira usual, pela orofaringe, seria menos sujeita a complicações, entretanto o pequeno diâmetro da sonda de Magill utilizada para os animais de pequeno porte e o posicionamento do animal não permitiam sua condução dessa maneira. O uso da vídeo traqueobroncoscopia tanto para implantação, quanto para avaliação pós-implantação de stents é prática já utilizada e relatada na literatura (RUEGEMER et al. 1999). Para avaliar posicionamento e integridade da prótese e possíveis lesões, vídeo traqueobroncoscopia e exame radiográfico em duas incidências, láterolateral e ventrodorsal foram realizados imediatamente após o procedimento cirúrgico. Neste aspecto a radiografia ventrodorsal foi útil para avaliação devido às características radiopacas do material da prótese. Diversos estudos utilizam vídeo traqueobroncoscopia e radiografia como exames para averiguar a prótese e a mucosa traqueal (MADDEN; LOKE e SHETH, 2006; CHUNG et al., 2011; FARIA et al., 2012). As próteses respeitaram a distância mínima de cerca de 1 cm da laringe e carina, conforme recomendado por Moritz, Schneider e Bauer (2004) para evitar espasmos laríngeos persistentes e lesão erosiva da mucosa da bifurcação traqueal. Em todas as traqueobroncoscopias realizadas imediatamente após a colocação da prótese se verificou contato íntimo do dispositivo com a mucosa traqueal. Não foi verificada laceração da mucosa pela aplicação do dispositivo em nenhum caso. A prótese não teve sua integridade afetada pela inserção, mantendo sua morfologia helicoidal em todo o trajeto traqueal em que foi alocada. A distância entre hélices se manteve regular ao longo do trajeto traqueal. 54 Nas vídeo traqueobroncoscopias diagnósticas todos animais apresentavam regiões de edema e hiperemia (Figura 15A) da mucosa traqueal e um apresentava discreta quantidade de secreção, achados condizentes com a cronicidade do colapso e dos eventos de tosse (RHA e MAHONY, 1999). Já nas vídeo traqueobroncoscopias controle se observou que as próteses mantiveram sua integridade sem inflexões ou fraturas do material em decorrência da movimentação cervical até a avaliação final. O crescimento tecidual sobre as próteses fez com que se mantivessem fixadas no local primordial sem variações significativas de posicionamento (Figura 15F). 55 Figura 15. Imagens fotográficas das vídeo traqueobroncoscopias diagnóstica e de acompanhamento. Em A. Diagnóstica. Demonstrando colapso traqueal de grau III. B. Imediatamente após a inserção da prótese. C. Aos 7 dias de pósoperatório. D. Aos 15 dias de pós-operatório. Notar pequeno acúmulo de secreção e recobrimento inicial da prótese com mucosa. E. Aos 30 dias de pós-operatório. Recobrimento nas porções dorsal e ventral da prótese. F. Aos 60 dias de pós-operatório. Recobrimento em 360°. Notar aspecto mais uniforme da mucosa. Fonte: Arquivo pessoal. 56 O recobrimento tecidual ocorreu com média de 29 dias após a inserção da prótese (intervalo de 15 a 39 dias). Achado em acordo com Mazzanti et al. (2000) que verificaram crescimento tecidual em 30 dias. O crescimento ocorre inicialmente nas regiões dorsal e ventral evoluindo para região lateral, devido ao colapso ocorrer de forma dorso-ventral e o contato da mucosa com a prótese ser maior nessas regiões. O recobrimento ocorreu mais rápido (em 15 dias - Figura 15D) no animal mais jovem (3 anos) e mais lentamente (39 dias) no animal mais idoso (14 anos), corroborando com os dados de Fossum, (2008) e Fingland (2005) que informam que a cicatrização tecidual é mais rápida em animais mais jovens. O crescimento tecidual sobre a prótese foi monitorado quanto a manutenção da patência traqueal através das vídeo traqueobroncoscopias subseqüentes. Houve suspeita de tecido de granulação exuberante em função de estreitamento do lúmen traqueal em dois animais. Os achados ocorreram nas avaliações de 60 dias em um animal e aos 180 e 360 dias em outro (Tabela 5). Sucedeu-se remissão do crescimento tecidual com o uso de protocolo com corticosteróide por 15 dias em doses decrescentes. (MORITZ, SCHNEIDER e BAUER, 2004; LEE, KIM e HYUN, 2007). Moritz, Schneider e Bauer (2004) evidenciam que a ocorrência de granulomas pós-inserção é achado bastante comum após a instalação de stents de aço inoxidável. Adicionalmente Zhang et al., (2010) afirmam que lesões e o estímulo do tipo corpo estranho são fatores que levam ao crescimento do tecido de granulação. Habal, Pizzoferrato e Vespucci (1985) afirmam que a total maturação da mucosa com reorganização completa do tecido de granulação em epitélio pseudoestratificado colunar ciliado ocorre ao fim de 6 a 8 semanas. Segundo Lau, Schwartz e Buergelt (1980) o sucesso do procedimento de restauração de defeitos traqueais depende de vários fatores, dentre eles, a ausência da deposição de muco na região do implante. As avaliações vídeo traqueobroncoscópicas revelaram ainda que acúmulo de secreção esteve ausente ou presente em momentos distintos, em animais distintos após inserção da prótese, sugerindo que a resposta hipersecretória é inconstante e variável (Figura 15D). Dois animais não tiveram resposta hipersecretória e três a exibiram. Um animal já apresentava secreção discreta no momento diagnóstico, para este animal em específico foi prescrito mucolítico duas vezes ao dia por 10 dias, como indicado por Ondani, Carvalho e Galvão (2011). Apesar da melhora na segunda 57 avaliação, manteve-se assim até o final das avaliações. Por ser um animal idoso com sinais crônicos é possível que existisse comprometimento prévio do aparato mucociliar, de modo que a manutenção do clearence em níveis aceitáveis, mas não normais, foi mantida em função da secreção de muco de qualidade alterada ou ainda remoção imperfeita do muco (COHN e REINERO, 2007; LEE et al., 2011). Em humanos a hipersecreção de muco é uma resposta a injúrias agudas e permanece se a causa base não for retirada (FOSTER, 2002). O segundo animal embora tenha sido tratado com uso de mucolítico e retirada do antitussígeno e corticosteróide (TOMKIEWICZ et al., 1995; ONDANI, CARVALHO e GALVÃO, 2011), evoluiu negativamente desenvolvendo pneumonia. O terceiro animal apresentou remissão da resposta hipersecretória após uso de mucolítico e suspensão do béquico e antiinflamatório. Tabela 5. Video traqueobroncoscopias diagnóstica e controle. G – Tecido de granulação (suspeito); H – Hiperemia; Ed – Edema; Se – Secreção (+discreta, ++moderada, +++intensa); S – Solução de continuidade; R – Recobrimento com mucosa; N – Nenhuma alteração. Fonte: Arquivo pessoal. Dois dos animais triados (grau III e grau IV) e que aguardavam cirurgia foram internados com queixa de dispnéia, cianose e síncope e provavelmente vieram a óbito em decorrência da patologia, entretanto os proprietários não permitiram a realização de necropsia para determinação da causa mortis. Segundo White e Williams (1994) a cirurgia protética é um procedimento de salvamento. Dois animais vieram a óbito após a inserção da prótese um com colapso grau III e o outro IV. O animal portador de grau III, apresentou aos 7 dias discreta quantidade de secreção. Atribuiu-se esse aumento incial à hipersecreção pós-inserção da prótese. Foi instituída terapia com mucolítico e recomendada a 58 suspensão do antitussígeno e do corticosteróide. Aos 15 dias, o animal já apresentava moderada quantidade de secreção e como conseqüência uma piora no quadro de tosse e dispnéia. Amostra da secreção foi coletada e enviada para avaliação citológica e para realização de cultura e antibiograma. Nesse ínterim terapia com amoxicilina, aminofilina e nebulização com gentamicina foi instituída e a manutenção do mucolítico foi recomendada. A evolução do quadro foi parca e culminou com a morte do animal. Posteriormente ao óbito, o resultado da cultura e antibiograma acusou presença de Citrobacter sp. e Enterobacter sp., resistentes a quase todos os antibióticos testados, exceto imipenem. O cadáver foi enviado ao setor de Patologia Veterinária da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. A necropsia constatou a presença de secreção purulenta nos brônquios, bronquíolos e árvore traqueobrônquica associada à líquido viscoso brancacento - edema - permeando pulmões e as vias aéreas levando a insuficiência respiratória. Já Fingland et al. (1995) alertam que a mucostase propicia ambiente favorável ao crescimento bacteriano e aumenta a ocorrência de infecção. Johnson e Fales (2001) afirmam que Citrobacter sp. e Enterobacter sp são bactérias encontradas em caninos portadores de colapso traqueal, enquanto que Brady (2004) afirma que pneumonia ocorre por crescimento exacerbado da microbiota residente e a falha do tratamento pode ocorrer por inúmeras causas inclusive a resistência a antibioticoterapia. Outro ponto importante elucidado por Brady (2004) é que algumas bactérias conseguem interromper o mecanismo de remoção do muco por interferir nos cílios do epitélio. Em um dos animais submetidos à cirurgia ocorreu o fenômeno de encurtamento da prótese, ainda no intra-operatório, em função do estreitamento anatômico na entrada do tórax e ao colapso grau IV. Embora a traquéia diminua ligeiramente no seu trajeto crânio-caudal, o ponto de maior inflexão é a traquéia na entrada do tórax, justamente neste local, as traquéias colapsadas sofrem maior estresse radial, dificultando sobremaneira a passagem do ar e do dispositivo idealizado. Atipicamente, devido a problemas técnicos, a vídeo traqueobroncoscopia trans e pós-operatória imediata não pode ser realizada para avaliar a correta progressão da prótese. 59 Video traqueobroncoscopia post mortem foi realizada e acusou migração cranial do dispositivo. O exame necorscópico revelou que a causa mortis foi insuficiência respiratória aguda decorrente de pneumonia supurada e edema grau II. Zakaluzny Lane e Mair (2003) evidenciam que a instalação de stents pode simplesmente ser dificultada por doenças respiratórias inerentes, escolha incorreta do stent ou falta de material necessário para inserção apropriada. Todos os animais participantes desta pesquisa tossiam de forma intensa e frequente com timbre característico das tosses paroxísticas improdutivas do colapso traqueal. Todos eles também possuíam como sinal clínico mimetismo de vômito após os episódios de tosse. Após a cirurgia os animais permaneceram com tosse de baixa intensidade e moderada freqüência, sendo considerado como melhora do sinal clínico pelos proprietários, quando comparado ao período précirúrgico. O mimetismo de vômito, antes presente após a maioria dos episódios de tosse, diminuiu em frequência sendo também classificado como melhora. Nos animais afetados os episódios de dispnéia e síncope tiveram total remissão. Em especial a remissão progressiva do quadro de cianose já foi vista durante o transoperatório, donde os animais eram monitorados por aparelho oxímetro e perdurou por todas as avaliações. Os mecanismos compensatórios de taquipnéia e hiperpnéia não foram mais observados. O tipo respiratório predominantemente abdominal se alterou para costoabdominal. A capacidade de se alimentar ou ingerir água também fora afetada pelo colapso traqueal. Antes da cirurgia, invariavelmente após a deglutição os animais tossiam. O ato de curvar o pescoço somado ao grau de estenose e a passagem da ingesta serviam de gatilho para início dos ciclos de tosse. Após o procedimento a melhora foi notada pelos proprietários. A prótese em estudo não interferiu na movimentação lateral, na extensão, na flexão do pescoço ou na combinação destes movimentos espontâneos. Quando examinados e auxiliados a repetir movimentação natural os animais não apresentaram sinais de dor. Houve alterações particulares a cada animal que entraram em remissão, a exemplo do cão que não conseguia vocalizar e após o procedimento cirúrgico recuperou gradativamente esta capacidade. Outro animal possuía alteração 60 bastante peculiar, respirava somente pela boca. Logo após a cirurgia passou a respirar majoritariamente pelas narinas. O fato do aço inoxidável 316 L ter seu uso na ortopedia e odontologia desde 1926, permitiu a verificação de sua biocompatibilidade em diversos estudos. O aço inoxidável, em especial o 316 L, possui excelente resistência a corrosão nos líquidos corpóreos, ductibilidade e maleabilidade (MEARS, 1977; BARBEIRO et al., 1994; VILLAMIL, 2002) O aço inoxidável já é utilizado em stents, mais especificamente os de Palmaz e Gianturco19 e Wallstent20, com aplicações na traquéia. Os stents citados têm aprovação em testes de biocompatibilidade do Food and Drug Administration (FDA). O dispositivo avaliado neste trabalho não apresentou indícios de corrosão local ou generalizada. O colapso traqueal é considerado uma doença degenerativa e progressiva (JOHNSON, 2000), o que justifica a severidade dos sinais respiratórios nos casos mais graves (grau III e grau IV), por conseguinte trazem risco de morte iminente. O tratamento proposto deve ser considerado paliativo, uma vez que com a restauração da patência traqueal há a regressão de sinais clínicos graves responsáveis pelo desconforto respiratório. Tal conduta diminui o risco de óbito, evidenciado nos pacientes que não obtiveram êxito no tratamento medicamentoso. Naqueles em que a prótese foi corretamente implantada foi possível verificar uma significativa melhora da qualidade de vida. 19 Cook 20 Medical Boston Scientific Corporation 61 7. CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos e nas condições em que foi delineado e executado este trabalho, as seguintes conclusões podem ser emitidas: A prótese intraluminal desenvolvida para o tratamento do colapso traqueal em cães restaurou a patência traqueal, não interferindo na mobilidade cervical, favorecendo a regressão dos sinais clínicos causadores do desconforto respiratório característicos dessa patologia. A técnica proposta diminuiu sobremaneira o risco de morte iminente e garantiu melhora na qualidade de vida dos pacientes portadores de colapso traqueal grau III ou IV. A utilização da prótese mediante a técnica cirúrgica aplicada neste trabalho abre novas perspectivas para seu emprego na rotina cirúrgica e representa uma alternativa na recuperação de pacientes portadores de colapso traqueal. 62 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMAMA-MORAITOU, K. K.; PARDALI, D.; ATHANASIOU, L. V.; PRASSINOS; N. N.; KRITSEPI, M.; RALLIS, T. S. Conservative management of canine tracheal collapse with stanozolol: a double blinded, placebo control clinical trial. International Journal of Immunopathology and Pharmacology, V. 24, n. 1, p. 11118, 2011. ADAMAMA-MORAITOU, K. K.; PARDALI, D.;.DAY, M. J.;. PRASSINOS, N. N.; and Disease Veterinary Clinics Small Animal Practice, v. 37, p. 845-60, 2007 ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária, 2ª ed., São Paulo, Roca Ltda., 2002, 697 p. ANJOS, D. M.; JUNQUEIRA, J. J. M.; GOMES, D. B. D.; TERRA, R. M.; MINAMOTO, H., JATENE, F. B. Endopróteses: opção terapêutica para estenoses traqueobrônquicas adquiridas Revista Medicina, São Paulo, v. 86, n. 3, p. 174-84, jul.set. 2007 ARAÚJO, C. A. A.; AGUIAR, J. L. A.; LIMA, F. P.; AZEVEDO, I. M.; MEDEIROS, A. C. Influência do corticóide na cicatrização da anastomose traqueal sob tensão em cães Acta Cirúrgica Brasileira, v. 18, n. 1, p. 33-39, 2003. BANDEIRA, C. O. P.; NIGRO, A. J. T.; NETTO, M. Z.; PRADO FILHO, O. R.; SALES, K. P. Comparação da anastomose traqueal suturada com fio absorvível e inabsorvível em coelhos Acta Scientiarum, v. 22, n. 2, p. 615-21, 2000 BAUER, N. B.; Schneider, M. A.; NEIGER, R.; MORITZ, A. Liver Disease in Dogs with Tracheal Collapse Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 20, p. 845-49, 2006 63 BECKER, W. M.; BEAL, M.; STANLEY, B. J.; HAUPTMAN, J. G. Survival after Surgery for Tracheal Collapse and the Effect of Intrathoracic Collapse on Survival Veterinary Surgery, v. 41, p. 501-06, 2012 BRADY, C. A. Bacterial Pneumonia in Dogs and Cats In: KING, L. G. Textbook of Respiratory Diseases in Dogs and Cats. 1a ed., St Louis, Missouri, Saunders-Elsevier, 2004, 665 p., p.412-21 BROWN, S.A.; WILLIAMS, J.E.; SAYLOR, D.K. Endotracheal Stent Granulation Stenosis Resolution after Colchicine Therapy in a Dog Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 22, p1052-55, 2008 BUBACK, J.L.; BOOTHE, H.W.; HOBSON, H.P. Surgical treatment of tracheal collapse in dogs: 90 cases (1983-1993). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 208, n. 3, p. 380-84, 1996 BUENO, M. A. S. Efeitos dos broncodilatadores aminofilina e teofilina nos portadores de doenças pulmonares Einstein, v. 141, n. 1, p. 141-142, 2003 CAMPBELL, F. E. 2007 Cardiac Effects of Pulmonary Disease Veterinary Clinics Small Animal Practice, v. 37, 949-62, 2007 CANOLA, J. C., BORGES, N. C. Compressão traqueal como método auxiliar no diagnóstico radiológico do colapso de traquéia cervical. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science São Paulo v. 42, n. 6, p. 414-418, 2005 CARARETO, R; ROCHA, L. S; GUERRERO, P. N. H.; SOUSA, M. G.; NUNES, N.; PAULA, D. P.; NISHIMORI, C. T. Estudo retrospectivo da morbidade e mortalidade associada com anestesia geral inalatória em cães Semina: Ciências Agrárias, Londrina v. 26, n. 4, p. 569-74, out-dez 2005 64 CHUNG, F.; CHEN, H., CHOU, C.; YU, C.; KUO, C.; KUO, H.; LIN, S. An outcome analysis of self-expandable metallic stents in central airway obstruction: a cohort study Journal of Cardiothoracic Surgery, v. 46, n.6; 2011 COHN, R. A.; REINERO, C. R. Respiratory Defenses in Health and Disease Veterinary Clinics Small Animal Practice, v. 37, p. 845-60, 2007 CONTESINI, E. A. ; PIPPI, N. L.; SANTOS, S.C. PIGATTO, J. A.; POLYDORO, A; SALLES, M.; WITZ, M. I. Implante de placa de silicone na substituição parcial da parede traqueal em caninos. Ciência Rural [online]. v. 25, n. 3, p. 417-420, 1995 COYNE, B.E.; FINGLAND, R. B.; KENNEDY, G. A., DEBOWES, R. M. Clinical and pathologic effects of a modified technique for application of spiral prostheses to the cervical trachea of dogs. Veterinary Surgery, v. 22, n. 4, p. 269-75, jul.-aug. 1993 CREEVY, K. E. Airway Evaluation and Flexible Endoscopic Procedures in Dogs and Cats Laryngoscopy, Transtracheal Wash, Tracheobronchoscopy, and Bronchoalveolar Lavage Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, v. 39, p. 86980, 2009 CULP, W. T. N.; WEISSE, C.; COLE, S. G.; SOLOMON, J. A. Intraluminal Tracheal Stenting for Treatment of Tracheal Narrowing in Three Cats Veterinary Surgery, v. 36 p.107-13, 2007 DABANOGLU; ÖCAL M. K.; KARA, M. E. A quantitative study on the trachea of the dog. Anatomia, Histologia, Embryologia, v. 30, n. 1, p. 57-59, 2001 Dog Pulmonary Pharmacology v. 8, p. 259-65, 1995 DONDI, M., SALERI, R., BIANCHI, R., PEDRAZZI, G., ZANNETTI, G. Il collasso tracheale del cane – un nuovo aproccio terapeutico. Veterinaria, v. 16, n. 1, p. 61-67, 2002 65 DURANT, A. M.; SURA, P.; ROHRBACH, B.; BOHLING, M. W.; Use of Nitinol Stents for End-Stage Tracheal Collapse in Dogs, Veterinary Surgery, v. 41, p. 807-17, 2012 DYCE, K.M.. Aparelho respiratório. In: ______ Tratado de Anatomia Veterinária. 3 ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. Cap. 4. p. 146-63. ELKINS, A. D: Tracheal surgery in dogs a review Modern Veterinary Practice, v. 65, n.10, p. 787-790, 1984 EOM, K.; MOON, K.; SEONG, Y.; OH, T.; YI, S.; LEE, K.; JANG, K. Ultrasonographic evaluation of tracheal collapse in dogs. Journal of Veterinary Science, v. 9, n. 4, p. 401-05, 2008. ETTINGER, S. J.; KANTROWITZ, B.; BRAYLEY K. Doenças da traquéia. In:______Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. v. 2, Cap. 126, p. 1096-1112. FARIA, C. M. N M.; RODRIGUES, O. R.; MINAMOTO, H.; CURY, P. M.; COSTA NETO, J. M.; BRAILE, D. M. Novo modelo de endoprótese traqueal autoexpansível de fabricação nacional: estudo experimental em coelhos Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 38, n. 2, p. 214-17, 2012 FARROW, C. S. In:______ Veterinary Diagnostic Imaging: The dog and Cat. 1 ed, Missouri; Mosby, 2003. Cap. 5. p. 391-406. FERIAN, P. E. Avaliação histológica, histoquímica, morfométrica e radiográfica de traquéias de cães portadores de colapso traqueal. 2009. 101f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 66 FERIAN, P. E.; TORRES, R. C. S.; ARAÚJO, R. B. Abordagem diagnóstica e terapêutica do colapso traqueal (condromalácia traqueal) em cães. Clínica Veterinária, v. 15, n. 88, p. 36-42, 2010 FERRON, G. A.; ERBE, F.; FÜRST, G.; HEILMANN, P.; KREYLING, W. G.; MÖLLENSTÄDT, S.; NEUNER, M.; SCHUMANN, G. Measurement on mucociliary clearance in the upper airways of beagle dogs Journal of Aerosol Science, v. 22, n. 1, p. 867-70, 1991 FINGLAND, R. B. Distúrbios Obstrutivos de Vias Aéreas Superiores In: BICHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders – Clínica de Pequenos Animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2003. Seção 7, Cap. 89, p. 683-96. FINGLAND, R. B. Trachea and bronchi. In: BOJRAB, M. J., Disease mechanism in small animal surgery 2. ed, Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. Cap. 6, p. 350-69. FINGLAND, R. B. Traquéia In: BOJRAB, M.J. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, 2005. Cap. 21, p. 323-32. FINGLAND, R. B.; LAYTON, C. J.; KENNERDY, G. A. A Comparison of Simple Continuous Verusu Simple Interrupted Suture Patterns for Tracheal Anastomosis After Large-Segment Tracheal Resection in Dogs Veterinary Surgery, v. 24, p 320-30, 1995 FINGLAND, R. B.; WEISBRODE, S. E.; DEHOFF, W. D. Clinical and pathologic effects of spiral and total ring prostheses applied to the cervical and thoracic portions of the trachea of dogs American Journal of Veterinary Research, v. 50, p. 2168–75, 1989 FOSSUM, T. W. Cirurgia do sistema respiratório. In:______ Cirurgia de Pequenos Animais. 3 ed. Rio de Janeiro: Mosby-Elsevier. 2008, Cap. 30. p. 817-51 GIBSON, A. Tracheal collapse in dogs: to ring or to stent? Irish Veterinary Journal, v. 62, n. 5, p.339-41, 2009. 67 GUIMARÃES, G. C.; POLEGATO, B. R. L.; ROSA, M. C. B.; GUIMARÃES, C. S. O.; NASCIMENTO, L. R.; SANTOS, A. L. Q.; MACHADO, M. R. F.; OLIVEIRA, F. S. Parâmetros métricos da traqueia e suas correlações com o perímetro torácico, peso e comprimento corporal de cães (Canis familiaris, Linnaeus, 1758) sem raça definida Bioscience Journal, Uberlândia, v. 28, n. 2, p. 270-76, mar.-abr. 2012 HAAGEN, A. J. V. Ear, Nose, Throat and Tracheobronchial Diseases in Dogs and Cats 1ªed, Hannover, Germany, Schluttersche, 2005, 237 p. HABAL, D. L. M; PIZZOFERRATO, A.; VESPUCCI, A. Prosthetic replacement of large defects of the cervical trachea in dogs Biomaterials, v.6, p. 17-22, Jan. 1985 HAMLIN R.L. Physical examination of the pulmonary system Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 30, n. 6, 1175-85, nov. 2000 HARE, W.C.D. Sistema respiratório geral. In: GETTY, R. Anatomia dos Animais Domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. v.1, Cap. 8, p.108-135 HOROWITZ, A. C. N. D. Uso do sulfato de condroitina no tratamento de colapso de traquéia em cães: relato de seis casos, Brasília, DF, 201. Originalmente apresentada como monografia para conclusão de curso, Universidade de Brasília, 2011 JOHNSON, L. R. Tracheal collapse diagnosis and medical and surgical treatment Veterinary clinics of north america: small animal practice v.30, n. 6, p.1253-1266, 2000 JONHSON, L. R. Diagnóstico y tratamento del colapso traqueal em los perros Revista electronica veterinária, n. 20, 2003 disponível em <http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n070703.html> Acesso em: 01 set. 2010 68 JONHSON, L. R.; FALES, W. H., Clinical and microbiological findings in dogs with bronchoscopically diagnosed tracheal collapse: 37 cases (1990-1995). Journal of the American Veterinary Medical Association, Davis, v. 219, n. 9, p. 1247-50, 2001 JOHNSON, L.R.; POLLARD, R.E. Tracheal Collapse and Bronchomalacia in Dogs: 58 Cases (7 /2001 –1 /2008) Journal of Veterinary Internal Medicine v. 24, p.298-305, 2010 KEALY, J.K.; McALLISTER, H. Cavidade torácica. In______ Radiologia e ultrasonografia do cão e do gato. Barueri: Manole, 2005. p. 155-58 KIM, J.; HAN, H.; YUN, H.; LEE, B.; JANG, H.; EOM, K.; PARK, H.; JEONG, S. The Safety and efficacy of a new self-expandable intratracheal nitinol stent for the tracheal collapse in dogs Journal of Veterinary Science, Seoul, v. 9, n. 1, p. 91-3, 2008 KING, LG Textbook of Respiratory Disease in Dogs and Cats 1a ed., St Louis, Missouri, Saunders-Elsevier, 2004, 665 p. KNELLER, S. K. Laringe, faringe e traquéia In: THRALL, D. E. Diagnóstico de radiologia veterinária. 5a. ed. São Paulo: Saunders-elsevier, 2007. p. 489-94 LAU, R. E.; SCHWARTZ, A.; BUERGELT, C. D. Tracheal resection and anastomosis in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 176, n. 2, p. 134-139, 1980. LEE P.; KUPELI E.; MEHTA A.C.. Airway stents Clinics in Chest Medicine, v. 31, n. 1, p. 141-50, mar. 2010 LEE, S.G.; KIM, M.J.; HYUN, C. Management of refractory tracheal collapse in a dog using self-expanding intraluminal prosthesis. Journal of Animal and Veterinary Advances, v. 6, n. 4, p.490-95, 2007. 69 LEE, W.L.; JAYATHILAKE, P.G.; TAN, Z.; LE, D.V.; LEE, H.P.; KHOO, B.C., Muco-ciliary transport: Effect of mucus viscosity, cilia beat frequency and cilia density Computers & Fluids, v. 49, 214-21, 2011 LUCESOLI A.; CRIANTE, L.; FARABOLLINI, B.; BONIFAZI, F.; SIMONI, F.; ROZZI, T. Distance optical sensor for quantitative endoscopy Journal of Biomedical Optics, v. 13, n. 1, jan-feb 2008. MADDEN, B. P.; LOKE, T.; SHETH, A. C. Do Expandable Metallic Airway Stents Have a Role in the Management of Patients With Benign Tracheobronchial Disease? The Annals of Thoracic Surgery, v. 82, p. 274-78, 2006 MASON, R. A., JOHNSON, L. R. Tracheal collapse. In: KING, L. G. Textbook of Respiratory Diseases in Dogs and Cats. 1a ed., St Louis, Missouri, Saunders-Elsevier, 2004, 665 p., p.346-55 MAZZANTI, A.; PIPPI, N. L.; RAISER, A. G.; GRAÇA, D. L.; SILVEIRA, A. F.; STEDILE, R.; GUEDES, A. G. P.; BRAGA, F. A.; RYCHESKY, M. Reparação da traquéia de cão com segmento muscular homólogo de diafragma conservado em glicerina a 98 % Ciencia Rural, Santa Maria, v. 30, n. 6, P. 1011-16, dez. 2000 McREADY, D.M.; JOHNSON, L.R.; POLLARD, R.E. Fluoroscopic and radiographic evaluation of tracheal collapse in dogs: 62 cases (2001-2006). Journal of the American Veterinary Association, San Leandro, v. 230, n. 12, p. 1870-76, 2007 MEARS, D.C. Metals in medicine and surgery International Metals Reviews, v. 22, p. 119-55, jun. 1977 MORITZ, A.; SCHNEIDER, M.; BAUER, N. Management of advanced tracheal collapse in dogs using intraluminal self-expanding biliary wallstents. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 18, n. 1, p. 31-42, 2004 70 NELSON, A. W. Afecções das traquéias e dos brônquios In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais 3 ed. São Paulo: Manole, 2007, p. 858-79 ONDANI, A. C.; CARVALHO, M. B.; GALVÃO, A. L. B. N-acetilcisteína - ação antioxidante e utilização na clínica de pequenos animais Archives of Veterinary Science, v. 16, n. 2, p.1825, 2011 ORTON, E. C. Small animal thoracic surgery 1a ed., Field Parkway Malvern, PA, USA Williams et Wilkins Chester, 1995, 256 p. PANERARI, A. D.; COSTA, H. O.; SOUZA, F. C.; CASTRO, M.; SILVA, L.; SOUSA NETO, O. M. Avaliação da resposta inflamatória traqueal ao curativo de celulose bacteriana após escarificação cirúrgica em coelhos Revista Brasileira de Otorrinolaringologia; v. 74, n. 4, p. 512-22, 2008 PAZETTI, R.; PÊGO-FERNANDES, P. M.; LORENZI-FILHO, G.; SALDIVA, P. H. N.; MOREIRA, L. F. P.; JATENE, F. B. Effects of Cyclosporine A and Bronchial Transection on Mucociliary Transport in Rats The Annals of Thoracic Surgery v.85, p.1925-9, 2008 PEREIRA, B. J.; NUNES, L. C.; MARTINS FILHO, S.; COSTA, F. S. Avaliação dos efeitos da terapia com prednisona em cães utilizando análises ultranossonográfica, citopatológica e histopatológica. Revista Ceres, v. 58, n. 5, p. 561-66, 2011 PINTO FILHO, D. R.. Estudo sobre a eficácia da aerostasia pulmonar, em modelo animal, utilizando diferentes tipos de suturas Jornal de. Pneumologia, São Paulo, v. 29, n. 5, p. 295-301, out 2003 RHA, J.; MAHONY, O. Bronchoscopy in Small Animal Medicine: Indications, Instrumentation, and Techniques Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 14, n. 4 , p. 207-212, nov 1999 71 ROBINSON, N.E. Visão geral da função respiratória: ventilação pulmonar. In: CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 3. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. Cap. 44, p. 481-491. ROUDEBUSH, P.; RYAN, J. Breath sound terminology in the veterinary literature Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 194, n. 10, maio 1989 RUEGEMER, J. L.; PERKINS, J. A.; AZAROW, K. S.; O’BRYANT, L. K. NIELSEN, R. E.; THOMAS, R. W. Effect of the Palmaz balloon-expandable metallic stent in the trachea of pigs Otolaryngology Head and Neck Surgery, v. 121, n. 1, p. 92-7, 1999 SAITO; T. B.; Oliveira M. Y. D.; NAGAI; A. M.; ITO; A. M.; HEADLEY, S. A. Utilização de sulfato de condroitina em cães com colapso traqueal: um relato de caso, Labyes, 2003 Disponível em:<http://www.labyes.com.ar/espanol/info/sulfato_condroitina_caninos_colapso_traqu eal.pdf> Acesso em: 21 nov. de 2011. SILVA, R. M. G. Avaliação do método de ensino da Técnica Cirúrgica utilizando cadáveres quimicamente preservados São Paulo-SP, 2003. Originalmente apresentada como dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo SMITH, F. W. K.; KEENE, B. W.; TILLEY, L. P. Rapid Interpretation of heart and lung sounds – a guide to cardiac and respiratory auscultation in dogs and cats 2a ed., St. Louis, Missouri, Saunders-Elsevier, 2006, 93 p. STANLEY, H. Color atlas of veterinary anatomy-The dog and cat. Mosby, 1996. 540 p. STOECKEL, D.; PELTON, A.; DUERIG, T Self-expanding nitinol stents: material and design considerations European Radiology, v.14, n. 2, 2004 72 SUN F., USÓN, J.; EZQUERRA, J.; CRISÓSTOMO, V.; LUIS, L.; MAYNAR, M. Endotracheal stenting therapy in dogs with tracheal collapse. The Veterinary Journal, Cáceres, v. 175, n. 2, p.186-193, 2008. TALAS, D. U.; NAYCI, A; ATIS, S. POLAT, A. COMELEKOGLU, U.; BAGDATOGLU, C.; RENDA, N. The effects of corticosteroids on the healing of tracheal anastomosis in a rat model Pharmacological Research, v. 45, n. 4, 2002 TANGNER, C.H.; HOBSON, H.P. A retrospective study of surgically managed cases of collapsed trachea. Veterinary Surgery, v. 11, n. 4, p. 146-49, 1982 TOMKIEWICZ, R. P.; APP, E. M.; DE SANCTIS, G. T.; COFFINER, M.; MAES, P.; RUBIN, B. K.; KING, M. A Comparison of a New Mucolytic N-acetylcysteine Llysinate with N-Acetylcysteine: Airway Epithelial Function and Mucus Changes in Dog Pulmonary pharmacaology, v.8, p.259-65, 1995 WEISSE, C. Intraluminal traqueal stenting [ mensagem pessoal ] University of Pennsylvania School of Veterinary Medicine Philadelphia PA Mensagem recebida por <[email protected]> em 27 mar. 2010. WELSBY, P.D.; EARIS, J.E Some high pitched thoughts on chest examination Postgraduate Medical Journal, v. 77, p. 617-620, 2001 WHITE R. A. S., WILLIAMS, J.M. Tracheal collapse in the dog – is there really a role for surgery? A survey of 100 cases Journal of Small Animal Practice; v. 35, p. 19196, 1994 WOO, H.; KIM, M.; LEE, S.; NAM, H.; KWAK, H.; LEE, J.; PARK, I.; HYUN, C. Intraluminal tracheal stent fracture in a Yorkshire terrier Canadian Veterinary Journal; v. 48, p. 1063-66, 2007 ZAKALUZNY, S. A.; LANE, J.; MAIR, E. A. Complications of tracheobronchial airway stents Otolaryngology Head and Neck Surgery, v. 128, n. 4, P. 478-88, 2003 73 ZHANG, J.; WANG, T.; WANG, J.; PEI, Y.; XU, M.; WANG, Y.; ZHANG, X.; WANG, C. Effect of three interventional bronchoscopic methods on tracheal stenosis and the formation of granulation tissues in dogs Chinese Medical Journal, v.123, n. 5, p. 621-27, 2010 74 ANEXO I Local Data Acompanhamento Animal Idade Raça Sexo Peso RG (Hospital) Patologia R-X tórax Sim Não Colapso I II III IV Béquico Anti-inflamatório Outros Dose Dose Dose Frequência Frequência Frequência Proprietário Tel Bairro Obs: Inspeção 1 (inspiração) : 1,2 (expiração) Atividade respiratória Tipo respiratório Eupnéia / Dispnéia insp / Dispnéia exp / Dispnéia mista Costoabdominal / Costal / Abdominal Frequência respiratória Tipo de tosse Produtiva / Improdutiva Freqüência da tosse Ausente / Raro / Moderada / Alta Intensidade da tosse Leve / Moderada / Alta 75 Timbre da tosse Tosse de cachorro (grasnado de ganso) Outra (descrever) Fluxo de ar exalado Similar / Desigual Predominância do fluxo de ar exalado Esquerda / Direita Coloração da mucosa nasal Escura / Rósea / Pálida /Amarelada Aspecto da mucosa nasal Íntegro / Lesionado Oscilações patológicas da frequência Taquipnéia (frequência) / Bradipnéia / respiratória / Mecanismos compensatórios Hiperpinéia (amplitude) Corrimento nasal Seroso / Mucoso / Sanguinolento/ Purulento Obs: Palpação Sensibilidade ao toque traqueal (reflexo de Leve / Moderada / Alta tosse) Integridade dos anéis cervicais Íntegros / Fratura (posição) Integridade das costelas Íntegras / Fratura (posição) Frêmito laríngeo Ausente / Presente +++ Frêmito traqueal Ausente / Presente +++ Frêmito torácico Ausente / Presente +++ Percussão Campo pulmonar direito Campo pulmonar esquerdo Auscultação Sons respiratórios Traqueal +++ / Broncovesiculares +++ / Adventícios +++ Adventícios Crepitação / Sibilo / Ronco Olfação 76 Odor (anormal) Ausente / Presente (descrever) Outros achados 77 ANEXO II UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA HOSPITAL RENATO RODEMBURG DE MEDEIROS NETTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL NOS TRÓPICOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da Pesquisa: Emprego de prótese intraluminal de aço inoxidável 316L no reparo do colapso traqueal em cães Pesquisador Principal: Vinícius de Jesus Moraes Orientador: João Moreira da Costa Neto Pesquisadores assistentes/alunos: Rodrigo Lima Carneiro, Emanoel Ferreira Martins Filho, Deusdete Conceição Gomes Junior, Diana Mello Teixeira, Joelma de Jesus Silva, Giovani Castro, Lucas Fontoura, Vanessa Moraes da Silva 1. Natureza da pesquisa: o Sr. (Sra.) está sendo convidado (a) a participar desta pesquisa que tem como finalidade desenvolver e avaliar prótese intraluminal de aço inoxidável 316L para reparo do colapso traqueal em cães. 2. Participantes da pesquisa: serão 8 (oito) animais portadores de colapso traqueal. 3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo o Sr. (Sra.) permitirá que os pesquisadores envolvidos no projeto, desenvolvam e avaliem a prótese em questão, de modo a estabelecer método seguro de aplicação, bem como sua manutenção no organismo dos cães. O Sr. (Sra.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr. (Sra.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. 78 4. Protocolo experimental: inicialmente os animais serão submetidos a exame clínico, com especial ênfase ao sistema respiratório, quando serão qualificados e quantificados em planilha própria, os principais sinais clínicos patológicos. Em seguida serão submetidos a exame radiográfico e a vídeo-traqueobroncoscopia para averiguação do diâmetro e comprimento do lúmen traqueal e subsequente determinação do diâmetro e tamanho da prótese a ser empregada. Para implantação da prótese, seguindo-se preceitos pré-operatórios que incluem jejum alimentar de oito horas e hídrico de pelo menos duas horas, os animais serão submetidos à protocolo anestésico tendo-se como medicação pré-anestésica a clorpromazina (0,3 mg/kg) associada a meperidina (2 mg/kg) por via intramuscular, indução anestésica com propofol em bolus (4mg/kg) e manutenção empregando-se infusão continua de propofol (0,05 mg/kg/min) por via intravenosa. Após preparação da região cervical para cirurgia asséptica, será realizada implantação da prótese, conforme técnica já estabelecida em cadáveres. Ao final do procedimento cirúrgico os animais serão submetidos a exame radiográfico, nas incidências látero-lateral e ventro-dorsal. Os animais terão acompanhamento intensivo nas primeiras 06 horas de pósoperatório e serão submetidos a exame clínico a cada 24 horas, nos primeiros sete dias de observação pós-operatória, sendo mantidos em regime de internamento hospitalar. Após esse período serão liberados para tratamento em regime domiciliar, sendo reavaliados a cada quinze dias até o período de 60 dias. Adicionalmente, os animais serão submetidos à avaliação vídeo- traqueobroncoscópica, aos 07, 15, 30, 45 e 60 dias, sendo feitas observações especialmente relacionadas à resistência, integridade e fixação da prótese, assim como presença de reações tipo corpo estranho, promoção de tecido de granulação ou infecção, além da preservação da depuração mucociliar. Observando-se casos de formação de tecidos de granulação, durante a realização do exame, serão realizadas coletas de amostras para posterior exame histopatológico. 79 Será instituída como terapia alternativa adjuvante para os animais, na dependência da sintomatologia clínica, a dexametasona (0,2 mg/kg bid) via oral por 5 (cinco) dias consecutivos, aminofilina (11 mg/kg tid) via oral por 7(sete) dias consecutivos e codeína (4 mg/kg, QID) via oral por 7 (dois) dias consecutivos. Será realizado o acompanhamento clínico e laboratorial mensal do paciente, durante todo o período de sobrevida, de forma a avaliar a estabilização do quadro e o estado geral do paciente, principalmente quanto à função respiratória. O tempo de sobrevida será definido (em dias) como sendo o período entre a implantação da prótese e a data prevista para o último acompanhamento ou óbito do animal em consequência da patologia ou de causas naturais. Neste caso, imediatamente após o óbito será realizada a necropsia e a retirada de fragmentos do epitélio traqueal destinados a análise histopatológica que será realizada no Laboratório de Anatomia Patológica - LABAP/HOSPMEV-UFBA. 5. Riscos e desconforto: existem referências científicas, relacionadas a próteses intraluminais, que relatam a ocorrência de formação de tecido cicatricial de granulação exacerbado nas extremidades das próteses, bem como sua migração cranial ou caudal no interior traqueal. É possível que haja desconforto imediatamente após a inserção da prótese. Ademais, é importante salientar que a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. 6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente os pesquisadores envolvidos, o orientador e os médicos veterinários envolvidos terão conhecimento dos dados. 7. Benefícios: ao participar desta pesquisa o Sr. (Sra.) não terá nenhum benefício direto, entretanto esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o colapso traqueal em cães, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possibilite a aplicação dos conhecimentos teóricos na rotina clínica cirúrgica. Dessa maneira correlacionando tanto os resultados clínicos, quanto os resultados cirúrgicos, para melhor padronização de atendimento do 80 paciente portador de colapso traqueal. Os pesquisadores se comprometem a divulgar os resultados obtidos através de artigos ou comunicações científicas. 8. Pagamento: o Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. 9. Cláusula restritiva: os proprietários participantes da pesquisa não poderão ceder ou emprestar a prótese ou ceder informações relativas à pesquisa a quaisquer pessoas, senão aos pesquisadores do projeto, ora representados pelo pesquisador principal Vinícius de Jesus Moraes ou seu orientador João Moreira da Costa Neto. O descumprimento desta cláusula ocasionará a exclusão do participante neste projeto 10. Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: o Sr. (Sra.) tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem penalidades. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima _________________________________________________, ________________________, da raça apresentados, proprietário ____________________________ do com eu, animal idade _________________, do sexo __________________________de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. ___________________________________ Responsável pelo Animal Participante da Pesquisa ___________________________________ Vinícius de Jesus Moraes – Pesquisador Principal ___________________________________ João Moreira da Costa Neto – Orientador Pesquisador Principal: Vinícius de Jesus Moraes - Tel: (71) 8753-9015 Orientador: João Moreira da Costa Neto - Tel: (71) 9104-1182