PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Área de Concentração: Ensino de Biologia ENSINO DE EMBRIOLOGIA: MATERIAL DIDÁTICO UTILIZANDO IMAGENS E TEXTOS COM BASE NA TEORIA COGNITIVA DA APRENDIZAGEM SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO CRISTIANA SOAVE Belo Horizonte 2010 Cristiana Soave ENSINO DE EMBRIOLOGIA: MATERIAL DIDÁTICO UTILIZANDO IMAGENS E TEXTOS COM BASE NA TEORIA COGNITIVA DA APRENDIZAGEM SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientador: Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves Co-Orientador: Prof. Dr. Francisco Ângelo Coutinho Belo Horizonte 2010 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais S676e Soave, Cristiana Ensino de embriologia: material didático utilizando imagens e textos com base na teoria cognitiva da aprendizagem sobre a implantação do embrião no útero / Cristiana Soave. Belo Horizonte, 2010. 105f.. : il. Orientadora: Andréa Carla Leite Chaves Co-Orientador: Francisco Ângelo Coutinho Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática 1. Embriologia – Estudo e Ensino. 2. Material Didático. 3. Aprendizagem cognitiva. I. Chaves, Andréa Carla Leite. II. Coutinho, Francisco Ângelo. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título. CDU: 591.3:37.02 Cristiana Soave ENSINO DE EMBRIOLOGIA: MATERIAL DIDÁTICO UTILIZANDO IMAGENS E TEXTOS COM BASE NA TEORIA COGNITIVA DA APRENDIZAGEM SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. _____________________________________________________________ Profa Dra Andréa Carla Leite Chaves (Orientadora) – PUCMINAS _____________________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Ângelo Coutinho (Co-Orientador) – PUCMINAS _____________________________________________________________ Profª Drª Rosemary Rodrigues Silva – UNIBH _____________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Costa Amaral – PUCMINAS Belo Horizonte, 18 de agosto de 2010. Aos meus grandes incentivadores, meus pais, Rosa e Luiz – exemplos de vida, de tolerância, de amor e de tantas qualidades que todos os seres humanos deveriam possuir – minha eterna gratidão! Amo vocês! AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, fonte de energia e paciência para que eu pudesse superar, principalmente, as minhas próprias limitações. A minha orientadora, Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves, por me corrigir quando foi necessário e por ter persistido em compartilhar seu conhecimento, com paciência e segurança, não desistindo de mim e nem desta pesquisa. Muito obrigada, Andréa! Ao meu co-orientador Prof. Dr. Francisco Ângelo Coutinho por ter me apresentado temas tão interessantes e importantes para o processo de ensino e aprendizagem como a neurociência, a psicologia cognitiva e a teoria da aprendizagem multimídia e pelas idéias que nortearam este trabalho. À professora Profa. Dra. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino, pelo grande auxílio na estatística e por ter sido nossa professora no mestrado, em disciplinas que fizeram a diferença no meu modo de ensinar. Aos professores Talitha Araújo Faria e Evaldo Cardoso Gomes, sem os quais esta dissertação não teria sido possível. A todos os professores (grandes mestres!), funcionários, estagiários e tantos outros que fazem este mestrado funcionar e produzir bons resultados. Aos queridos colegas do mestrado, Cláudio, Cloves, Danielle, Felipe, Luana, Ludmila, Maria Rita, Natália, Otávio, Patrícia, Rodrigo da Penha, Rodrigo Garófalo, Rosenele e Rosiney, inesquecíveis! Aprendi muito convivendo com todos vocês! A tantas pessoas como Dona Nina (que me acolheu em sua casa), Anderson e Josafá (amigos maranhenses), Humberto, aos meus amigos e colegas de profissão, aos meus alunos, da escola e da faculdade, por terem me ensinado, mais do que eu os ensinei. À banca examinadora pela leitura e avaliação desta dissertação. À Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais por possibilitar aos educadores a continuidade de seus estudos, em busca de uma educação melhor. A toda a minha família e à família do Fred, pelo apoio, direto ou indireto. E, por último, a minha motivação para acreditar que a vida vale a pena, aos meus pais, Rosa e Luiz, irmãos, Lizandra, Fabiana e Luiz Otávio, sobrinhos, Giovane e Íris, e, é claro, ao Frederico, meu companheiro de vida e de profissão! Amo muito vocês! Somos aquilo que lembramos. Norberto Bobbio ... e também somos o que decidimos esquecer. Iván Izquierdo RESUMO O uso de recursos multimídia é fundamental no ensino de embriologia, pois, trata-se de uma ciência visual que exige dos alunos um grande esforço para o entendimento de uma gama de conceitos e significados complexos e muitas vezes abstratos. No presente trabalho foi desenvolvido um material didático sobre a implantação do embrião no útero apoiado em pesquisas da área da psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva, principalmente na Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) de Mayer, Sweller e outros autores. Assim, foi produzido um material constituído de imagens e texto escrito, produto desta dissertação, aplicando-se os princípios da TCAM de sequência figura-texto, de contiguidade espacial, de coerência e de sinalização. Este material didático foi experimentado por alunos de graduação em Ciências Biológicas, Enfermagem e Fisioterapia, de uma instituição de ensino privada. A análise qualitativa da aprendizagem dos alunos, através de testes de retenção e transferência, nos permitiu concluir que a observação dos princípios da TCAM na elaboração de material didático multimodal, especialmente para alunos com baixo conhecimento prévio, diminui a sobrecarga cognitiva, facilita a entrada e organização das informações na memória operacional e facilita a construção de modelos e esquemas mentais contribuindo assim para uma aprendizagem efetiva. Desta forma, nosso trabalho apontou caminhos, que mesmo devendo ser aprimorados, podem colaborar no sentido de minimizar dificuldades associadas ao ensino de embriologia e evidenciou a importância de se considerar os princípios da multimídia na produção de material didático, pois, eles podem evidentemente trazer benefícios ao processo ensino/aprendizagem. Palavras-chave: Material didático. Ensino de Embriologia. Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia. ABSTRACT The use of multimedia resources is essential in teaching embryology, because it is a visual science that requires the students a great effort to understand a range of complex concepts and meanings and often abstract. In the present work a didactic material was developed about embryo implantation in the uterus supported by researches in the field of cognitive psychology and cognitive neuroscience, especially in the Cognitive Theory of Multimedia Learning (CTML) Mayer, Sweller and others. Thus a material was produced consisting of images and written text, the product of this work, applying the principles of CTML: picture-text sequencing, spatial contiguity, coherence and signaling. This educational product was tested by undergraduate students in Biological Sciences, Nursing and Physiotherapy, a private educational institution. With the qualitative analysis of student learning, through tests of retention and transfer, we concluded that the observation of the principles of CTML in the elaboration of multimodal didactic material, especially for students with low prior knowledge, reduces cognitive overload, facilitates the entry and organization of information in working memory and facilitates the construction of the mental models and thus contribute to effective learning. Thus, our work indicates ways, that even should be improved, can help to minimize difficulties associated with the teaching of embryology and highlighted the importance of considering the multimedia principles on the production of didactical materials, because they can obviously benefit the teaching/learning process. Key-words: Didactical material. Embryology teaching. Cognitive Theory of Multimedia Learning. LISTA DE FIGURAS Figura 1: A operação dos sistemas de memória pode ser esquematicamente representada por uma sequência de etapas, a partir da entrada de um evento novo..................................................................................29 Figura 2: Modelo mental de memória de Atkinson e Shiffrin. ...................................33 Figura 3: Principais componentes do sistema da memória operacional de Baddeley. .............................................................................................................35 Figura 4: Teoria cognitiva da aprendizagem multimídia. ..........................................38 Figura 5: Modelo da compreensão integrada de texto e figura. ...............................41 Figura 6: Exemplo de figura com mais de uma imagem e legenda contendo excesso de informação, sendo algumas informações irrelevantes nesse momento.........................................................................................................48 Figura 7: Exemplo de imagem com presença excessiva de termos complexos, configurando uma sobrecarga cognitiva....................................................................49 Figura 8: Imagem que segue o princípio da coerência.............................................50 Figura 9: Exemplo de figura onde foi utilizado o princípio da sinalização. ...............51 Figura 10: Imagem do texto controle, sem modificações. ........................................54 Figura 11: Imagem do texto teste modificada de acordo com os princípios de coerência e da sinalização evidenciando a origem de estruturas importantes no desenvolvimento. ......................................................................................................55 Figura 12: Imagem do texto teste modificada de acordo com os princípios da coerência e da sinalização. .......................................................................................55 Figura 13: Distribuição das notas das questões 2 e 6 dos alunos com alto conhecimento prévio que utilizaram o material não modificado (A) e o modificado (B). ..........................................................................................................70 Figura 14: Distribuição das notas das questões 2, 3 e 6 dos alunos com baixo conhecimento prévio, que utilizaram o material não modificado (A) e o modificado (B). ..........................................................................................................72 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição normal das notas referentes à Questão 1 do Grupo 1C.......66 Gráfico 2: Média dos alunos com alto conhecimento nos testes..............................67 Gráfico 3: Média dos alunos com baixo conhecimento nos testes...........................67 Gráfico 4: Média das notas dos alunos nos testes...................................................68 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Frequência dos princípios seguidos em relação ao total de imagens de cada livro didático sobre a implantação do embrião no útero...............................47 Quadro 2: Critérios para a avaliação das questões de retenção e de transferência do teste de aprendizagem sobre implantação do embrião. .................61 Quadro 3: Análise da Questão 1 para todos os grupos............................................66 LISTA DE SIGLAS TCAM – Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia TCC – Teoria da Carga Cognitiva OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos CITF – Compreensão Integrada de Texto e Figura ICTP – Integrated Comprehension of Text and Pictures PNLDEM/MEC – Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio do Ministério da Educação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................15 2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................22 2.1 Percepção e Atenção.......................................................................................26 2.2 Memória e aprendizagem ................................................................................28 2.3 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) ...................................30 2.3.1 A Teoria do Código Duplo de Paivio ..........................................................32 2.3.2 Múltiplos sistemas de memória de Atkinson e Shiffrin ...............................32 2.3.3 Memória operacional (ou de trabalho) proposta por Baddeley ..................34 2.3.4 Teoria da Carga Cognitiva de Sweller .......................................................35 2.3.5 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) .............................37 2.3.6 Modelo da Compreensão Integrada de Texto e Figura (CITF) de Schnotz..........................................................................................................39 2.3.7 Princípios para a elaboração de material instrucional multimídia ..............41 3 ANÁLISE DAS RESTRIÇÕES COGNITIVAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE EMBRIOLOGIA HUMANA SOBRE O TEMA “IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO”..............................................................................................................46 4 PROCESSO DA ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO ..............................53 5 AVALIAÇÃO DO MATERIAL PRODUZIDO..........................................................57 5.1 Metodologia .....................................................................................................57 5.1.1 Sujeitos da pesquisa..................................................................................57 5.1.2 O teste avaliativo .......................................................................................58 5.1.3 Procedimentos da pesquisa.......................................................................59 5.2 Resultados e discussão ...................................................................................60 5.2.1 Critérios e comentários sobre a análise das respostas dos alunos nas questões de avaliação de aprendizagem............................................................60 5.2.2 Análise quantitativa dos resultados dos testes de avaliação de aprendizagem sobre a implantação do embrião .................................................65 5.2.3 Análise qualitativa das dificuldades e sugestões dos alunos sobre o material didático e sobre o teste avaliativo .........................................................73 5.2.4 Avaliação qualitativa do material didático por professor da área ...............77 5.3 Apontamentos para a construção de material didático para o ensino de embriologia a partir da análise dos resultados.......................................................79 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................81 REFERÊNCIAS.........................................................................................................83 APÊNDICE A – O MATERIAL DIDÁTICO PRODUZIDO .........................................87 APÊNDICE B – CD-ROM COM O PRODUTO DA DISSERTAÇÃO ........................93 APÊNDICE C – TEXTO CONTROLE .......................................................................94 APÊNDICE D – TESTES DE RETENÇÃO, DE TRANSFERÊNCIA E SOBRE DIFICULDADES E SUGESTÕES DOS ALUNOS QUANTO AO TEXTO E QUANTO AOS TESTES.........................................................................101 APÊNDICE E – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .........103 APÊNDICE F – FICHA PESSOAL DO ALUNO......................................................105 15 1 INTRODUÇÃO A Embriologia Humana é uma ciência que estuda o desenvolvimento pré-natal de embriões e fetos, integrando esse conhecimento com a obstetrícia, a medicina perinatal, a pediatria e a anatomia clínica. Além disso, permite entender as causas de alterações na estrutura humana, explicando como se desenvolvem as relações anatômicas normais e anormais (MOORE & PERSAUD, 2004). É uma disciplina de conteúdo essencial, porém complexo, pois trabalha com uma nomenclatura muito específica e com detalhes que surgem a cada momento do desenvolvimento em ordem cronológica. Sem dúvida é de fundamental importância para entendimento de outras disciplinas dos cursos de graduação da área da saúde, pois serve de base e fundamenta a compreensão principalmente da fisiologia e da anatomia, entre outras. As pesquisas relativas ao ensino de Embriologia apresentadas a seguir evidenciam as dificuldades encontradas para desenvolver materiais ou métodos de ensino que favoreçam uma melhora significativa no aprendizado dos alunos dessa disciplina, sendo escassos os materiais didáticos produzidos com base nos princípios multimídia que, como veremos adiante, têm se mostrado eficazes no aprimoramento do processo de aprendizagem (AZEVEDO et al., 2007; FREITAS et al., 2008; MORAES et al., 2004; PETERS et al., 2004; FERREIRA; KEMPINAS, 2008; ABREU et al, 2009; DUARTE, 2007; GOMES, 2009). Na maioria das vezes, os recursos didáticos utilizados para o ensino/aprendizagem de embriologia envolvem apostilas e modelos anatômicos que permitem acompanhar o desenvolvimento inicial do embrião. A utilização de vídeos, animações, softwares e de aulas expositivas com data show são outros meios possíveis de transmissão destes conteúdos, oportunizando a interação e experimentação com conceitos abstratos aprendidos. A seguir descreveremos alguns trabalhos realizados no sentido de construir materiais multimodais que facilitem o processo de ensino/aprendizagem de embriologia. Azevedo e colaboradores (2007) desenvolveram um modelo didático alternativo para o ensino de Embriologia, utilizando massa de porcelana fria e isopor. Embora estático, esse modelo busca facilitar o processo de ensino/aprendizagem, possibilitando maior entendimento e clareza de estruturas de difícil visualização in 16 vivo. Segundo os autores desse trabalho, “a elaboração do modelo didático proposto é prazerosa, de baixo custo, envolve a exploração tátil, a descoberta de novas habilidades, promove a socialização, além de auxiliar na compreensão das fases da embriogênese” (AZEVEDO et al., 2007). Freitas e colaboradores (2008), também utilizaram a construção de modelos embriológicos tridimensionais com material reciclável. Segundo os autores, isto diminui o custo desse recurso considerado excelente no ensino de Embriologia, além de desenvolver a conscientização ecológica e a adequação às normas de reciclagem de lixo. Esses autores demonstraram ser possível a construção desse material didático de baixo custo, com boa qualidade e resistente a choques mecânicos. Moraes e colaboradores (2004) afirmam que as dificuldades do ensino de Embriologia são devidas às mudanças rápidas tridimensionais que ocorrem simultaneamente em uma escala microscópica. Esses autores desenvolveram um método para aumentar a compreensão da embriologia humana e suas malformações, utilizando documentos digitais microscópicos e macroscópicos de embriões, fetos e neonatos submetidos a autópsia no Departamento de Patologia Anatômica da Universidade Estadual de Campinas, organizados em 95 estudos de casos, obtendo bons resultados nos testes e aprovação do método pelos alunos. Peters e colaboradores (2004) desenvolveram um software que aborda os conteúdos básicos da embriologia, trazendo ilustrações, animações e textos que ajudam no entendimento do conteúdo, sendo as informações organizadas em tópicos e links, de modo que o usuário possa navegar livremente pelo assunto desejado, sem ter que obedecer a uma sequência rígida. O software disponibiliza também testes sobre cada tema e as respostas para o aluno conferir após tentar respondê-los. Esse software reúne outros assuntos, além da Embriologia, desenvolvidos por alunos e professores do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas – IB/Unicamp, sendo a maioria dos projetos um produto da disciplina “Informática Aplicada ao Ensino de Biologia”, oferecida pelo Prof. Eduardo Galembeck desde 1998. Outras duas pesquisas (FERREIRA & KEMPINAS, 2008; ABREU et al., 2009) investiram no desenvolvimento de ambientes virtuais, que prometem ser ferramentas educacionais interessantes na otimização do tempo gasto no processo ensino/ 17 aprendizagem de Embriologia, tanto no ensino presencial, quanto no ensino à distância. O ambiente educacional desenvolvido por Ferreira e Kempinas (2008) é participativo, possibilitando um alto grau de interatividade dos alunos com o produto. Ele foi organizado em módulos em forma de hipermídias educacionais, onde os estudantes são incentivados a buscar e gerar informações. Esse ambiente dispõe de aulas gravadas por professores com apresentação de slides; chat para reuniões, tira-dúvidas; uso de e-mail; várias formas de avaliação dos alunos; vídeo-aulas; biblioteca com material para download e aulas através de web conferência. As autoras enfatizam a deficiência quanto à produção de conteúdo didático não presencial e por este motivo esse projeto tem alcançado êxito, agradando os professores que dele participam e alunos de graduação das áreas de Biologia, Medicina Veterinária e Medicina Humana. O trabalho desenvolvido por Abreu e colaboradores (2009) propõe a Construção e Análise de Ambientes Virtuais Multiusuário aplicados ao Ensino de Embriologia, também justificado pelas limitações encontradas nos recursos estáticos amplamente utilizados no ensino tradicional de embriologia, como lâminas e microscópios, muitas vezes insuficientes para passar corretamente ao aluno todo o conteúdo necessário. Esse ambiente virtual contém vídeos, textos, áudio, animações, além de o aluno poder interagir com modelos de embriões tridimensionais em suas fases de desenvolvimento, explorar o desenvolvimento de órgãos internos e seguir as explicações do professor. Duarte (2007) enfatiza as qualidades dos recursos multimídia, pois, além de auxiliarem na aprendizagem, estimulam a criatividade, possibilitando também soluções para problemas. A autora decidiu então utilizar quizzes (testes de múltipla escolha), que são métodos objetivos comumente usados como ferramenta de aprendizagem, mas de forma eletrônica, confeccionando-os para o ensino de Embriologia Humana, para que os alunos conseguissem relacionar conceitos de Embriologia básica com a gênese, o diagnóstico e o tratamento dos defeitos congênitos mais frequentes. Esse recurso multimídia foi construído de maneira a apresentar uma parte teórica (composta por animações e esquemas ilustrativos) seguida de uma ou mais questões de múltipla escolha, os quizzes. A parte teórica continha imagens macroscópicas e microscópicas de embriões, fetos e neonatos encaminhados para autópsia, bem como de recém-nascidos e crianças portadores 18 de defeitos congênitos, e de seus exames de imagens (ultrassonografias e radiografias). Já os quizzes foram desenvolvidos para que o aluno pudesse saber a extensão do seu conhecimento e suas deficiências, pois esses testes possibilitam o gerenciamento dos erros ao explicar as alternativas incorretas. A palavra multimídia pode ter vários significados e muitos pensam que ela está sempre relacionada a imagens em movimento em uma tela de computador, ou projetadas, ou a imagens junto a sons, caracterizando o uso de vários recursos para transmitir informações. Segundo Mayer (2005a), o termo multimídia indica o uso tanto de palavras (tais como texto narrado ou texto impresso), quanto de figuras (tais como ilustrações, fotos, animações ou vídeo). Dessa forma, um livro texto que contenha figuras e texto escrito também pode ser caracterizado como um recurso multimídia. E, é neste contexto proposto por Mayer, que iremos trabalhar nesta dissertação. Em trabalho recente, Gomes (2009) elaborou uma apresentação PowerPoint, apoiada nas pesquisas da neurociência e da psicologia cognitiva, utilizando alguns princípios da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM), como os princípios da representação múltipla, sinalização, coerência, contiguidade e redundância. Esse produto educacional foi experimentado em aulas da disciplina de Histologia e Embriologia Médica II de um curso de Medicina, mostrando que a análise da aprendizagem dos alunos, através de testes de retenção e transferência, evidenciou que o material, em comparação a materiais convencionais, permitiu minimizar as sobrecargas cognitivas extrínsecas e intrínsecas e facilitou a aprendizagem, principalmente para alunos com pouco conhecimento prévio sobre o tema. Os trabalhos descritos acima evidenciam, portanto, a importância da utilização de material multimodal diversificado para o ensino de Embriologia. Por outro lado, muito frequentemente, o ensino da Embriologia utiliza-se muito de aulas teóricas com figuras e textos extraídos de livros didáticos, pois estes sempre estão disponíveis nas instituições de ensino (que apresentam, no mínimo, este recurso). Neste caso, a utilização de figuras bidimensionais e sem movimento, segundo esses trabalhos e também segundo a vivência das dificuldades dos alunos assistida por nós professores, exige um grande esforço por parte do aluno para entender como acontece o processo de desenvolvimento de estruturas tridimensionais, prejudicando muitas vezes o entendimento dos cortes e das posições, principalmente no período 19 embrionário. Apesar de bastante utilizado, poucas pesquisas são encontradas sobre melhorias ou inovações no ensino utilizando livros didáticos tradicionais com figuras estáticas. Pelo fato de figuras associadas aos textos serem de uso tão comum no ensino de Embriologia, estes deveriam apresentar características que possibilitassem o entendimento das mudanças ocorridas, sendo analisadas e modificadas caso gerassem dúvidas e interpretações distorcidas. Essas modificações, segundo trabalhos de Mayer (2003, 2005a) e de pesquisadores de área, possibilitariam melhor compreensão do processo de desenvolvimento embrionário, sem tanto esforço e com maior clareza, de acordo com o processo cognitivo do aprendiz. Mayer (2003) defende que a utilização de imagens em conjunto com palavras promove uma aprendizagem mais profunda ou significativa do que o uso apenas de palavras ou imagens isoladamente, sendo este o foco da Teoria da Aprendizagem Multimídia. Esta teoria, também conhecida como Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM), foi utilizada como referencial teórico no presente trabalho junto a referenciais da Teoria da Carga Cognitiva (TCC) elaborada por van Merriënboer e Sweller (2005), além de outros colaboradores, na década de 1980 e aperfeiçoada ao longo dos anos através de novas pesquisas. A aplicação do conhecimento dessas teorias, associada às da psicologia cognitiva e da neurociência de como é o aprendizado dos alunos, pode levar a produção de um material didático com imagens e texto, relativamente simples, mas eficaz no processo de ensino e aprendizagem da Embriologia, assim como de qualquer outra disciplina. Dessa forma, entendemos que é preciso melhorar as imagens bidimensionais e os textos (narrados ou impressos) utilizados no ensino de embriologia, no intuito de minimizar os efeitos e as limitações que eles podem impor no processo de aprendizagem desta ciência que envolve processos complexos e uma nomenclatura difícil. Alguns entraves descritos acima presentes no ensino de Embriologia foram vivenciados pela autora desta dissertação ao longo de quase três anos ministrando a disciplina de Embriologia Geral Humana para cursos de graduação como Ciências Biológicas, Fisioterapia e Enfermagem. Foi possível perceber as dificuldades dos alunos para entender os processos de modificação do embrião e do feto, os termos utilizados na identificação de suas estruturas e as figuras do livro texto. Dificuldades 20 estas evidenciadas pelos questionamentos e resultados nas avaliações dos aprendizes. Frequentemente, os alunos solicitam à professora que disponibilize suas aulas montadas em PowerPoint (com resumo dos principais tópicos e figuras modificadas), pois, segundo eles, este material possibilita maior compreensão da matéria do que a utilização dos livros textos de embriologia. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo principal a construção de material didático utilizando a adequação entre textos e figuras do livro didático de acordo com a Teoria da Carga Cognitiva (TCC) e a Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) visando o ensino/aprendizagem de Embriologia, especificamente do processo de implantação do embrião no útero. Espera-se, com esta pesquisa, que o material proposto, produto desta dissertação, possa contribuir e facilitar a aprendizagem deste conteúdo. Para atingir esse objetivo principal, foram propostos os seguintes objetivos específicos: (1) Analisar as restrições cognitivas existentes nos textos e imagens sobre o processo de implantação do embrião no útero nos livros didáticos de Embriologia; (2) Promover modificações nas imagens e nos textos dos livros didáticos, produzindo um material que siga alguns dos princípios das teorias que suportam este trabalho; (3) Testar o material modificado, confrontando os resultados de desempenho de alunos que utilizaram este material e de alunos que utilizaram um material construído com conteúdo extraído dos livros textos de embriologia. Assim, esta dissertação foi organizada em capítulos, da seguinte forma: − Capítulo 1: Neste capítulo, situamos o problema e esclarecemos os objetivos e a organização da pesquisa. − Capítulo 2: Neste capítulo, apresentamos conceitos importantes como os de aprendizagem, atenção, memória, os tipos de memória e os fatores que influenciam a aprendizagem dos estudantes. Além disso, as bases da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) e os principais autores da 21 neurociência e da psicologia cognitiva são apresentados, sendo estes os referenciais sobre os quais nossa pesquisa se assenta. − Capítulo 3: Traz a análise, segundo alguns princípios da TCAM, das restrições cognitivas de texto e imagens de dois livros didáticos comumente utilizados por alunos e professores nos cursos de graduação para o ensino de Embriologia. − Capítulo 4: Descreve o processo de desenvolvimento do material didático, produto desta pesquisa, e sugestões de questões para avaliação do conteúdo trabalhado. − Capítulo 5: Trata da avaliação do material produzido. Este capítulo apresenta a trajetória de acesso aos sujeitos da pesquisa e suas características, ou seja, quem foram os participantes que testaram o material desenvolvido (grupo teste) e o material controle (grupo controle). São apresentados também a metodologia utilizada na coleta de dados, os resultados dos testes de avaliação do material produzido e a discussão dos resultados obtidos nesta pesquisa com base em dados descritos na literatura. − Capítulo 6: As conclusões do trabalho e as possibilidades surgidas através dele são dispostas nas considerações finais, deixando em aberto oportunidades de estudo sobre outros materiais didáticos com base na TCAM. 22 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para melhorar o ensino de Embriologia, assim como qualquer ensino, deve-se entender que os alunos aprendem melhor quando se adequam técnicas e metodologia que potencializam sua aprendizagem. Por isso, este trabalho se baseou em pesquisas da área da psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva, principalmente na Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) de Mayer, Sweller e outros autores, cujos trabalhos são descritos neste capítulo. Pelos trabalhos citados neste capítulo (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007; GAZZANIGA, IVRY E MANGUN, 2006; LENT, 2005; ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS, 2003; STERNBERG, 2008), a aprendizagem depende de vários fatores como, por exemplo: percepção, atenção, capacidade de memorização de algumas informações, interesse pelo assunto, o modo como as informações são veiculadas e como são captadas e assimiladas. Segundo o Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (2007), os cenários culturais e sociais também influenciam a aprendizagem de maneira marcante e, além disso, a neurociência mostra que a aprendizagem modifica a estrutura física do cérebro e sua organização funcional. Para a nova ciência da aprendizagem, o mais importante é que haja aprendizagem com entendimento e não apenas a memorização de fatos. O conhecimento prévio do aluno também é importante por influenciar no que percebe sobre o ambiente e no modo como organiza e interpreta essa percepção. Isso influencia na capacidade de recordação, raciocínio, solução de problemas e aquisição de novo conhecimento. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 27). É importante também ajudar o aluno a assumir o controle de sua própria aprendizagem, chamada por isso de aprendizagem ativa, que remete à metacognição, que é a capacidade de uma pessoa de prever seu desempenho em várias tarefas e de monitorar seus níveis atuais de domínio e compreensão. Práticas que visam a metacognição focalizam a criação de sentido, a auto-avaliação e a reflexão sobre o que funciona e o que precisa ser melhorado. Isso permite aos 23 alunos transferirem sua aprendizagem para novos cenários e eventos. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 30). As principais descobertas sobre aprendizes e aprendizagem, sobre professores e ensino são resumidas pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (2007) em três: (1) Os alunos têm ideias preconcebidas e se isso não for considerado no processo ensino aprendizagem é possível que eles não entendam novos conceitos ou que aprendam apenas para fazer uma prova e depois recaiam nessas ideias novamente; (2) Para desenvolverem uma competência numa área de investigação, os alunos devem possuir uma base sólida de conhecimento factual, entender os fatos dentro de um contexto e organizar esse conhecimento para recuperá-lo e aplicá-lo posteriormente; (3) A abordagem metacognitiva da instrução ajuda ao estudante assumir o controle da sua aprendizagem através da sua capacidade de definir os objetivos da aprendizagem e seu próprio progresso em alcançá-lo. Para que se possam seguir os princípios dessas descobertas, tornam-se necessárias mudanças no ensino: os professores devem descobrir a compreensão preconcebida dos alunos e trabalhar com ela; os professores devem ensinar determinados assuntos em profundidade, proporcionando uma base sólida de conhecimentos factuais; o ensino de habilidades metacognitivas deve ser integrado no currículo de diversas áreas temáticas, podendo desenvolver nos alunos a capacidade de aprender sozinhos. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 38-40). Conhecendo-se as diferenças entre pessoas especialistas e principiantes é possível descobrir suas implicações para a aprendizagem e a instrução. Os especialistas, que são pessoas com um bom conhecimento sobre determinado assunto, possuem algumas características estudadas: eles percebem padrões significativos de informação que não são percebidos pelos principiantes; adquiriram muito conhecimento de conteúdo, este organizado para haver uma compreensão profunda de seus assuntos; relacionam seu conhecimento ao contexto, às circunstâncias; recuperam aspectos importantes de seu conhecimento com pouco 24 esforço de atenção; mesmo que conheçam bem um assunto, não significa que são capazes de ensinar outras pessoas; apresentam flexibilidade variável em abordagem de novas situações. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 51-52). A capacidade de recordação dos especialistas é superior, pois eles agrupam diversos elementos de uma configuração, relacionado por uma função ou estratégia subjacente. Eles agrupam informações em padrões familiares, significativos. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 53). Outra característica do conhecimento especializado, capaz de identificar tipos de problemas, é o desenvolvimento de estruturas ou esquemas conceituais organizados, que orientam o modo de representar e entender os problemas. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 51-54). Os especialistas também apresentam a grande capacidade de segmentação do campo perceptivo (aprender a ver). Isso pode ser melhorado, proporcionando aos estudantes experiências de aprendizagem que aumentem suas capacidades de identificar padrões significativos de informações. (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 57). Além disso, possuem uma organização eficiente do conhecimento, pois conseguem agrupar elementos afins em unidades afins, coordenados por conceitos e princípios básicos. Assim, “saber mais” significa ter mais agrupamentos afins, recuperar de maneira eficiente esses agrupamentos e considerar o contexto para a resolução de problemas utilizando esses agrupamentos (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 59). Esses dados favorecem a organização dos currículos, pois muitos não valorizam o tempo para o desenvolvimento de ideias pelos alunos, sendo organizados de acordo com a quantidade de fatos que os alunos têm que saber, mesmo sem entendê-los como deveriam. Para que a aprendizagem seja significativa, o aluno precisa entender o que está aprendendo para saber como usar o que realmente aprendeu em novas situações, ou seja, fazer a transferência desse conhecimento e não apenas memorizá-lo. Por isso, é importante que este seja ensinado em diversos contextos, para que o aprendiz consiga extrair informações relevantes dos conceitos e desenvolvam uma representação do conhecimento mais flexível. E cabe ao professor ajudar os alunos a construir caminhos para que essa transferência seja 25 efetiva, a partir dos conhecimentos prévios desses alunos sobre um assunto e não apenas mostrando as concepções incorretas, para depois explicar o que é correto (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p. 297298). O modo como é veiculada a informação, seus contextos, a capacidade dos alunos de criar representações (esquemas) mentais e a memória influenciam na aprendizagem, assim como as emoções. Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos – OCDE (2003, p. 92), a educação e a criação da criança influenciam no desenvolvimento do seu cérebro e em sua competência natural. A neurociência cognitiva pode contribuir para o conhecimento de variáveis da personalidade, permitindo a evolução dos sistemas educacionais em direção ao ensino do autocontrole e da competência emocional. O sistema límbico, que contém a amígdala e o hipocampo como estruturas principais, é também conhecido como “cérebro emocional”, apresentando conexões com o córtex frontal. Isso é importante para o aprendizado, pois se estas conexões forem danificadas (pela tensão ou pelo medo), o desempenho cognitivo e o discernimento social ficam prejudicados (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS, 2003, p. 92). A escola, assim como todos os ambientes sociais, exige que a criança obtenha “competência emocional” para atuar adequadamente e isso inclui a capacidade de ela estar consciente de si mesma, de autocontrole e compaixão, de resolver conflitos e cooperar. Os aspectos do processo emocional constituem o temperamento ou a personalidade do indivíduo, sendo importantes quando uma situação educacional nova é enfrentada e podem ajudar ou atrapalhar o processo educacional. A OCDE (2003, p. 95) afirma que o sistema educacional poderia descobrir como trabalhar eficientemente com estudantes com diferentes personalidades emocionais, conhecendo as descobertas da neurociência. Algumas dessas descobertas “indicam que os aprendizes podem alterar seu estado emocional construindo determinadas imagens mentais” (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS, 2003, p. 96). Essa construção de imagens mentais poderia ajudar a memória a lembrar de palavras pela associação de objetos ou ajudar a vencer fobias ou ansiedade diante de exames. Segundo o Dr. Stephen Kosslyn (apud ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS, 2003, p. 96), essa criação 26 de imagens mentais pode agir como um regulador hormonal, afetando diretamente as capacidades cognitivas, mas esses trabalhos ainda estão em andamento. O papel das emoções na educação contribui para o sucesso da aprendizagem, contribuindo para que o indivíduo tenha relacionamentos compensadores e projetos de carreira, tornando-se um cidadão responsável (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS, 2003, p. 98). 2.1 Percepção e Atenção Percepção “é a capacidade de associar as informações sensoriais à memória e à cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e orientar o nosso comportamento” (LENT, 2005, p. 557). Há vários tipos de percepção: visual, auditiva, somestésica, entre outras. Sternberg (2008, p. 115) cita vários autores, resumindo suas ideias sobre percepção: “é o conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações que recebemos dos estímulos ambientais”. Já a atenção é a focalização da consciência, “concentrando os processos mentais em uma única tarefa principal e colocando as demais em segundo plano” (LENT, 2005, p. 579). A atenção tem dois aspectos principais: a criação de um estado geral de sensibilização (alerta) e a focalização desse estado de sensibilização sobre certos processos mentais e neurobiológicos (a atenção propriamente dita). A atenção mental pode ser chamada de cognição seletiva e a atenção sensorial de percepção seletiva. Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006) lembram o que William James, um psicólogo da Universidade de Harvard, escreveu sobre a atenção ainda no século XIX e que a resume muito bem: Todo mundo sabe o que é a atenção. Vai tomando conta da mente, de forma clara e viva, e para aquele que assim não se encontra, vários objetos ou raciocínios parecem simultaneamente possíveis. Focalização, concentração da consciência são sua essência. Isso implica a retirada de algumas coisas de forma a lidar efetivamente com outras, e é uma condição que é oposta ao estado confuso, aturdido, dispersivo... (JAMES, 1890 apud GAZZANIGA, IVRY E MANGUN, 2006, p. 263). 27 Para Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006), da mesma forma que para Lent (2005), a atenção é um mecanismo cerebral cognitivo que faz com que alguém processe informações, pensamentos ou ações relevantes em detrimento de outros, considerados irrelevantes ou dispersivos, caracterizando assim, a atenção seletiva. Esses autores ainda dividem a atenção em duas categorias: a atenção voluntária ou endógena, em que há habilidade ou intencionalidade em prestar atenção em algo, e a atenção reflexa ou exógena, quando algo, como um evento sensorial, capta nossa atenção. Cada uma dessas formas de atenção apresenta diferentes propriedades e mecanismos neurais. Eysenck e Keane (2007, p. 142) enfatizam que a pesquisa sobre a atenção focalizada (ou atenção seletiva) permite indicar com que eficácia as pessoas selecionam alguns estímulos e não outros, bem como o destino dos estímulos não captados. Esses autores também diferenciam este tipo de atenção da atenção dividida, cujos estudos proporcionam informações sobre as limitações de processamento de um indivíduo e sobre a capacidade dos seus mecanismos de atenção. Para esses autores a atenção dividida ocorre em uma “situação em que duas tarefas são realizadas ao mesmo tempo”, havendo “alocação da atenção em duas regiões não-adjacentes do espaço visual.” (p. 574). É possível perceber a importância da atenção seletiva para a aprendizagem, pois possibilita aos alunos o foco e o processamento de informações que serão importantes para a formação de esquemas que poderão ser lembrados mais tarde, quando necessárias. Sternberg (2008) afirma, assim como os outros autores, que a atenção é um modo de processarmos determinada quantidade de informações entre muitas disponíveis, usando os sentidos, as memórias armazenadas e outros processos cognitivos (que podem ser conscientes ou inconscientes). Além disso, o autor também considera que há vantagens em possuirmos processos de atenção de algum tipo, mesmo havendo limitação na quantidade de informação concentrada em nossos recursos mentais, pois, ao diminuirmos a atenção sobre muitos estímulos exteriores e interiores, podemos nos concentrar nos estímulos que mais nos interessam. Essa atenção facilita também os processos de memória, já que “é mais provável que nos lembremos de informações às quais prestamos atenção do que das que ignoramos” (p. 72). 28 A atenção consciente ajuda a monitorar nossas interações com o ambiente, para sabermos se estamos nos adaptando a ele naquele momento; nos ajuda a relacionar passado (memórias) e presente (sensações) para termos sentido de continuidade de determinada experiência, podendo influenciar na identidade pessoal; e, por fim, ajuda a controlar e planejar nossas ações futuras. Ela tem três funções: na detecção de sinais, identificamos um estímulo específico; na atenção seletiva, escolhemos prestar atenção em alguns estímulos e ignorar outros; e na atenção dividida, alocamos adequadamente nossos recursos de atenção para controlar o desempenho de mais de uma tarefa de cada vez. (STERNBERG, 2008). Dentre os objetivos da neurociência cognitiva ao estudar a atenção está o de “compreender como ela possibilita e influencia a detecção, a percepção e a codificação dos eventos do estímulo, assim como a geração de ações baseadas nos estímulos”. (GAZZANIGA, IVRY E MANGUN, 2006). 2.2 Memória e aprendizagem Segundo Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006, p. 367), “o aprendizado e a memória são definidos como a habilidade de adquirir novas informações e de mantêlas com o tempo”. Assim também afirma Lent (2005), que a aprendizagem é o processo de aquisição de informações, enquanto a memória é a capacidade de armazenar essas informações, recuperá-las e utilizá-las posteriormente. A aquisição da informação (aprendizagem) faz parte dos processos da memória, seguindo-se da retenção por tempos, que podem ser curtos ou de longa duração. Mas em ambos os casos pode haver evocação ou esquecimento das informações memorizadas, como representado na Figura 1. (LENT, 2005). 29 Figura 1: A operação dos sistemas de memória pode ser esquematicamente representada por uma sequência de etapas, a partir da entrada de um evento novo. Fonte: LENT, 2005, p. 592. Lent (2005) classifica a memória de acordo com o tempo de retenção (memória ultrarrápida, memória de curta duração e memória de longa duração) e de acordo com a natureza da memória (memória implícita, memória explícita e memória operacional). Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006) afirmam que o aprendizado se refere à aquisição de informação enquanto a memória reflete a persistência do aprendizado evidenciada depois de um tempo. A memória é, então, um resultado do aprendizado e tanto um quanto outro pode se dividir em estágios: codificação (processamento da informação), armazenamento (cria um registro permanente) e evocação (cria uma representação ou executa um comportamento aprendido a partir de uma informação). Assim como Lent (2005) e Sternberg (2008), Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006) também enfatizam a existência da memória sensorial (ultrarrápida), que decai rapidamente, sendo “esquecida” após poucas centenas de milissegundos; a memória de curta duração, a qual tem duração de segundos a minutos e está prontamente acessível ao processamento consciente, sendo também considerada por esses autores como a memória de trabalho (ou operacional) e a memória de longa duração, que pode ser mantida por um tempo significativo. 30 Para Mayer (2005a, p. 32), a aprendizagem pode ser medida por testes de retenção, quando a pessoa se lembra da informação que foi apresentada, e por testes de transferência, sendo a pessoa capaz de usar a informação para resolver novos problemas. Os testes de transferência podem ajudar a mostrar o quanto as pessoas entendem daquilo que elas aprendem. Através desses testes é possível desenvolver materiais para o ensino adequados às necessidades dos aprendizes, baseados nas teorias aprendizagem. Saber como as pessoas aprendem através de palavras e figuras, baseando-se em evidências de pesquisas empíricas consistentes é um dos focos da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM). 2.3 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) Essa teoria, baseada em pesquisas na área da ciência cognitiva, foi desenvolvida por Richard Mayer, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, e colaboradores, sendo influenciada por pesquisas como a Teoria dos Códigos Duplos de Paivio (1986 apud CARVALHO, 2002; MAYER, 2005a), a Teoria da Memória Operacional (ou de trabalho) de Baddeley (1986, 1999 apud MAYER, 2005a; BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009) e a Teoria dos Múltiplos Sistemas de Memória de Atkinson e Shiffrin (1968 apud MAYER, 2005a; EYSENCK & KEANE, 2007; BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009). Além disso, componentes importantes da TCAM são consistentes com outras teorias de design instrucional multimídia, tais como a Teoria da Carga Cognitiva de Sweller (1999, 2003 apud MAYER, 2005a; SWELLER, 2005; VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005) e o Modelo Integrado de Compreensão de Texto e Figura de Schnotz e Bannert (2003 apud MAYER, 2005a; SCHNOTZ, 2005). Para Schnotz (2005, p. 52), a aprendizagem multimídia ocorre quando um indivíduo entende o que é apresentado, ou seja, utiliza as representações externas como fontes de informação para construir na memória operacional representações internas (mentais) do conteúdo de aprendizagem, armazenando estas representações na memória de longo prazo. Essas representações (esquemas ou modelos) mentais são para Sternberg (2008, p. 496) “estruturas de conhecimento que os indivíduos constroem para entender e explicar suas experiências; representação interna da informação que 31 corresponde de forma análoga ao que esteja sendo representado”. Assim também para Eysenck e Keane (2007, p. 576), esquemas são “pacotes organizados de informações sobre o mundo, eventos ou pessoas, armazenados na memória de longo prazo”. Mayer e Gallini (1990) mostraram que uma das funções das ilustrações em um texto (ilustrações explicativas) é ajudar os leitores a construir modelos mentais (elas ajudam o aprendiz a interpretar e entender o texto, através da construção desses esquemas) e que várias condições devem ser consideradas para essas ilustrações serem eficazes, como: (1) O texto referente à ilustração deve ser explicativo, apresentando um sistema de causa e efeito, que permite um raciocínio qualitativo; (2) A forma de medir o desempenho do aprendiz deve avaliar a sua compreensão e seu raciocínio qualitativo sobre o sistema; (3) As ilustrações devem ajudar o aprendiz a construir modelos mentais sobre o sistema; e (4) Os estudantes podem ser inexperientes – estes não precisam se engajar espontaneamente em processos de aprendizagem ativa, tais como a construção de modelos mentais sobre o sistema. Assim, respondendo à questão sobre quando “uma imagem vale mais que mil palavras”, Mayer e Gallini (1990) mostraram, através de seus experimentos, que isto acontece quando: o texto é potencialmente compreensível; o valor das ilustrações é medido em termos de entendimento do aprendiz; a ilustração explica; e o aprendiz não tem experiência prévia sobre o assunto. Dessa forma, as ilustrações auxiliam na construção de esquemas mentais. Além do conhecimento do conceito de esquemas mentais, outras informações relativas à aprendizagem multimídia devem ser conhecidas para o desenvolvimento de materiais instrucionais eficientes, uma vez que este é o foco da presente dissertação. Para melhor compreensão da TCAM de Mayer e seus princípios, as outras teorias são primeiramente explicadas nas próximas seções. 32 2.3.1 A Teoria do Código Duplo de Paivio Essa teoria apresenta dois sistemas cognitivos: um especializado na representação e processamento da linguagem não verbal (sistema visual), como objetos, eventos e imagens; e outro especializado na representação e processamento da linguagem verbal (sistema verbal), que inclui palavras ou textos impressos ou falados (CLARK E PAIVIO, 1989 apud CARVALHO, 2002). Através de estudos realizados por Paivio e colaboradores, foi possível concluir que esses sistemas se relacionavam, pois, palavras poderiam lembrar imagens e vice-versa, fazendo com que fossem criadas internamente representações verbais e não verbais das imagens (representações verbais e pictóricas), que serviriam para recuperar itens da memória. Assim, o código pictórico de palavras e o código verbal de imagens seriam úteis nos processos de lembrança, sendo perfeitamente explicável, com base nessas descobertas, por que pessoas tinham mais dificuldades de se lembrar de substantivos abstratos do que substantivos concretos (estes são mais facilmente armazenados como imagens) (CARVALHO, 2002, p. 256). Outra descoberta interessante foi a de que representações pictóricas das palavras ou representações nominais das imagens poderiam ser ativadas, mas se uma imagem e sua designação verbal fossem apresentadas, seriam mais facilmente lembradas do que se a imagem fosse apresentada duas vezes ou se uma palavra fosse repetida. E que o sistema de representação verbal é superior ao sistema visual em casos de processamento sequencial, por isso a linguagem é relembrada sequencialmente, mas as informações visuais podem ser ativadas por qualquer pormenor (CARVALHO, 2002, p. 256). Esses sistemas, verbal e não verbal, funcionam de forma independente, mas podem se conectar, dependendo da situação, sendo mais fácil a lembrança de algo que está armazenado nos dois sistemas do que daquilo que está armazenado em apenas um (CARVALHO, 2002, p. 257). 2.3.2 Múltiplos sistemas de memória de Atkinson e Shiffrin Baddeley, Eysenck e Anderson (2009, p. 41) explicam que Atkinson e Shiffrin, em 1968, consideravam a ideia de que a memória de curto prazo serviria como uma 33 memória operacional, sendo chamado este modelo de modelo modal. Este modelo afirma que a informação vem do meio e é processada primeiramente por séries paralelas de sistemas de memória sensorial temporária breve, incluindo os processos de memória icônica (visual) e ecóica (auditiva). Então, a informação passa para o armazenamento de curto prazo, que forma uma parte crucial do sistema, não somente mantendo a informação dentro e fora do armazenamento de longo prazo, mas também agindo como uma memória operacional, responsável por estratégias de seleção e operação, para ensaio, e, geralmente, servindo como um espaço de trabalho global (Figura 2). Figura 2: Modelo mental de memória de Atkinson e Shiffrin. Fonte: GAZZANIGA, IVRY E MANGUN, 2006, p. 327. Mas surgiram problemas nessa teoria, como o de afirmar que simplesmente guardar itens no armazenamento de curto prazo garantiria a aprendizagem e de apresentar dificuldades em explicar algumas evidências neurofisiológicas. Para esse modelo, o armazenamento de curto prazo desempenha um papel crucial na transferência de informação para dentro e para fora da memória de longo prazo, agindo como uma memória operacional geral. Então, pacientes com defeitos no armazenamento de curto prazo deveriam sofrer rupturas severas de atividades cognitivas complexas, como raciocínio e compreensão. Mas isto não acontece; esses pacientes não apresentam nenhum sinal de sofrer de déficit de memória operacional geral (BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009, p. 42). 34 Assim, outros autores, incluindo Baddeley e Hitch (1974 apud BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009) propuseram outro modelo que explicasse melhor a memória operacional. 2.3.3 Memória operacional (ou de trabalho) proposta por Baddeley Segundo Baddeley, Eysenck e Anderson (2009, p. 09), memória de curto prazo é um termo aplicado à retenção de pequenas quantidades de material por períodos de uns poucos segundos, enquanto memória de trabalho ou operacional é um sistema de memória que sustenta nossa capacidade de “guardar coisas na mente” quando estamos desempenhando tarefas complexas. O modelo para explicar a memória operacional, proposto por Baddeley e Hitch (1974 apud BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009), apresentava três componentes: a alça fonológica, especializada em guardar sequências de itens acústicos ou baseados na fala; o esboço visuo-espacial (ou bloco de esboço visuoespacial), que desempenha uma função semelhante para itens e conjuntos codificados visualmente e/ou espacialmente. O sistema inteiro é controlado pelo executivo central, um sistema que seleciona e manipula materiais nos subsistemas, servindo como um controlador. Posteriormente, Baddeley (2001 apud EYSENCK & KEANE, 2007) incluiu nesse modelo o buffer episódico, “que é um sistema de armazenamento temporário que pode reter e integrar as informações da alça fonológica, do esboço visuoespacial e da memória de curto prazo” (EYSENCK & KEANE, 2007, p. 195). Além disso, o buffer episódico envolve um código multidimensional que permite que vários componentes da memória operacional interajam e se liguem com a percepção e com a memória de longo prazo, sendo por isso, um modelo multicomponente (BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009; EYSENCK & KEANE, 2007). A Figura 3 resume o modelo de memória operacional proposto por Baddeley. 35 Figura 3: Principais componentes do sistema da memória operacional de Baddeley. Fonte: EYSENCK & KEANE, 2007, p. 195. Eysenck e Keane (2007, p. 58) afirmam que, embora o modelo multicomponente tenha prosperado nos 30 anos desde que foi proposto, ele não é, de modo algum, o único modelo de memória operacional. De fato, uma grande quantidade de pesquisas sobre memória operacional, particularmente na América do Norte, tem usado abordagem muito diferente, menos influenciada por estudos de memória de curto prazo e dados de pacientes neurofisiológicos, e fortemente influenciada por métodos baseados nas diferenças individuais entre participantes normais. 2.3.4 Teoria da Carga Cognitiva de Sweller Segundo Sweller (2005, p. 28), a Teoria da Carga Cognitiva (TCC) é uma teoria instrucional baseada no conhecimento da arquitetura cognitiva humana que trata especificamente das limitações da memória operacional. Essa teoria usa a interação de estruturas de informação e o conhecimento da cognição humana para determinar modelos instrucionais. Ela admite também uma memória operacional limitada que processa cerca de 7±2 elementos por vez e que é capaz de lidar com informações por não mais que poucos segundos, sendo quase toda a informação perdida após 20 segundos, ao menos que seja reforçada por ensaio. Mas essa limitação da duração e capacidade da memória operacional somente se aplica a novas informações obtidas através da memória sensorial. (VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005, p. 148). 36 A memória operacional não tem limitações conhecidas quando lida com informações recuperadas da memória de longo prazo. Esta memória altera as características da memória operacional. Guarda esquemas cognitivos que variam em seus graus de complexidade e automação. A expertise humana vem do conhecimento armazenado nestes esquemas e não da habilidade de se empenhar em um raciocínio com muitos elementos que não foram organizados na memória de longo prazo. A memória operacional humana simplesmente não é capaz de processar muitos elementos. (VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005, p. 148149). Os esquemas organizam e armazenam conhecimento, mas também reduzem muito a carga da memória operacional. Neste sentido, esquemas podem agir como uma central executiva, organizando informações ou conhecimentos que precisam ser processados nessa memória. Esquemas construídos devem se tornar automáticos, se eles forem repetidamente aplicados. (VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005, p. 149). Uma informação nova deve ser processada na memória operacional para construir esquemas na memória de longo prazo. A facilidade com que cada informação pode ser processada na memória operacional é um foco da TCC. A carga de memória cognitiva pode ser afetada também pela própria natureza de tarefas de aprendizagem, ou seja, carga cognitiva intrínseca. Esta não pode ser alterada por intervenções instrucionais porque é determinada pela interação entre a natureza dos materiais a serem aprendidos e a expertise dos estudantes. A carga cognitiva extrínseca, em contraste, é a carga que não é necessária para a aprendizagem (isto é, para a automação e construção de esquemas) e que pode ser alterada por intervenções instrucionais. (VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005, p. 150). Além disso, Sweller (2005, p. 26) afirma que instrutores precisam ter em mente que, antes de os aprendizes poderem organizar um material novo e incorporá-lo na memória de longo prazo, eles devem processá-lo usando uma memória operacional limitada, que inclui canais parcialmente independentes para informação auditiva e visual. Estas características da arquitetura cognitiva humana têm implicações para o desenvolvimento de instruções, especialmente instruções multimídias. 37 Para Santos e Tarouco (2007), a TCC pode ser aplicada a todos os tipos de conteúdos, todos os tipos de mídias, e a todos os estudantes, visto que, tem como fim saber como é possível elaborar as ferramentas de ensino e como aplicá-las a todo conteúdo. A TCC defende a elaboração de materiais didáticos que sigam alguns princípios para minimizar a sobrecarga cognitiva do aluno, potencializando seu aprendizado. Esses princípios foram criados por Richard Mayer, professor pesquisador da Universidade de Califórnia, Santa Bárbara, complementando e aprimorando a pesquisa sobre a TCC de Sweller. Esses princípios são descritos nos próximos tópicos. 2.3.5 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) Uma hipótese fundamental, que embasa pesquisas em aprendizagem multimídia, é a de que mensagens instrucionais multimídias que são projetadas à luz de como a mente humana funciona levam mais comumente a uma aprendizagem significativa do que aquelas que não foram assim projetadas. A Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM) é baseada em três princípios da ciência cognitiva de aprendizagem: o sistema de processamento de informação inclui canais duplos para processamentos visual/pictórico e verbal/auditivo; cada canal tem capacidade limitada para processamento; e a aprendizagem ativa acarreta a realização de um conjunto coordenado de processos cognitivos durante a aprendizagem (MAYER, 2001, p. 41; MAYER, 2005, p. 31). Essa teoria especifica cinco processos cognitivos na aprendizagem multimídia: a seleção de palavras relevantes de um texto ou narração apresentada; a seleção de imagens relevantes de uma ilustração apresentada; a organização das palavras selecionadas dentro de uma representação verbal coerente; a organização de imagens selecionadas dentro de uma representação pictórica coerente; e a integração de representações pictórica e verbal com o conhecimento prévio (MAYER, 2001, p. 41; MAYER, 2005a, p. 31). Os processos apresentados estão relacionados às memórias sensorial, operacional e de longo prazo. A Figura 4 apresenta um resumo dessa teoria. 38 Figura 4: Teoria cognitiva da aprendizagem multimídia. Fonte: adaptado de MAYER, 2005, p. 37. De acordo com a Figura 4, figuras e palavras chegam do mundo externo como uma apresentação multimídia (indicada no lado esquerdo da figura) e entram na memória sensorial através dos olhos e ouvidos (indicados no quadro da memória sensorial). A memória sensorial permite que figuras e texto impressos sejam guardados como imagens visuais exatas, por um período de tempo muito breve, em uma memória sensorial visual (na base da figura) e que palavras narradas e outros sons sejam guardados como imagens auditivas exatas, por um período de tempo muito breve, em uma memória sensorial auditiva (no topo da figura). A seta das figuras para os olhos corresponde à figura sendo registrada nos olhos, a seta das palavras para os ouvidos corresponde ao texto narrado sendo registrado nos ouvidos, e a seta das palavras para os olhos corresponde ao texto impresso sendo registrado nos olhos (MAYER, 2005a, p. 37-38). O lado esquerdo da memória operacional, na Figura, representa o material que entra nessa memória – imagens visuais de figuras e imagens de sons de palavras – baseado em duas modalidades sensoriais, chamadas de visual e auditiva. Em contraste, o lado direito da memória operacional na Figura representa o conhecimento construído na memória operacional – modelos pictórico e verbal e ligações entre eles – baseado em dois modos de representação, chamados de pictórico e verbal. A seta dos sons para imagens representa a conversão mental de um som (tal como a palavra narrada gato) em uma imagem visual (tal como uma imagem de um gato), ou seja, quando você ouve a palavra “gato”, você deve 39 também formar uma imagem mental de um gato. A seta das imagens para sons representa a conversão mental de uma imagem visual (por exemplo, uma figura mental de um gato) em um som (por exemplo, o som da palavra “gato”), ou seja, você mentalmente ouve a palavra gato quando você vê a figura de um gato. Os principais processos cognitivos requeridos para a aprendizagem multimídia são representados pelas setas indicadas por seleção de imagens, seleção de palavras, organização de imagens, organização de palavras e integração (MAYER, 2005a, p. 38). Finalmente, no quadro da direita está indicada a memória de longo prazo e corresponde ao depósito de conhecimento do aprendiz. Ao contrário da memória operacional, a memória de longo prazo pode armazenar grandes quantidades de conhecimento por longos períodos de tempo. Mas para pensar ativamente sobre material que está na memória de longo prazo, ele deve ser levado para a memória operacional, como indicado pela seta da memória de longo prazo para a memória operacional (MAYER, 2005a, p. 38). Segundo essa teoria, as pessoas aprendem mais profundamente de palavras e figuras do que de palavras somente. Essa afirmação pode ser chamada de princípio multimídia. Contudo, simplesmente adicionar figuras às palavras não garante uma melhoria na aprendizagem, ou seja, nem todas as apresentações multimídia são igualmente eficazes (MAYER, 2005, p. 31). Por isso, para se desenvolver um material instrucional, deve-se levar em consideração, além dos processos cognitivos já explicados e do princípio multimídia, outros princípios da Teoria da Aprendizagem Multimídia. Alguns desses princípios são apresentados na seção 2.3.7, sobre princípios para a elaboração de material instrucional multimídia. 2.3.6 Modelo da Compreensão Integrada de Texto e Figura (CITF) de Schnotz Este modelo (Integrated Comprehension of Text and Pictures – ICTP) integra os conceitos de sistemas de memórias múltiplas, de Atkinson & Shiffrin (1971 apud BADDELEY, EYSENCK e ANDERSON, 2009), de memória operacional, de Baddeley (2001 apud BADDELEY, EYSENCK E ANDERSON, 2009; EYSENCK & KEANE, 2007) e do código duplo de Paivio (1986 apud CARVALHO, 2002). Além de compartilhar ideias da TCAM de Mayer e do Modelo da Compreensão Integrada de 40 Texto e Figura de Schnotz e Bannert (2003 apud SCHNOTZ, 2005), baseia-se nas seguintes afirmações: − A compreensão de texto e figura acontece na arquitetura cognitiva incluindo uma memória operacional de capacidade limitada, registros sensoriais modalidade-específicos como sistemas de entrada de informação e memória de longo prazo; − A informação verbal (por exemplo, informação de textos escritos ou textos narrados) e a informação pictórica (por exemplo, informação de figuras visuais e de figuras auditivas, ou de sons, respectivamente) são transmitidas para a memória operacional através do canal visual e do canal auditivo. Os canais têm capacidade limitada de processar e armazenar informação; − Processamento de informações adicionais na memória operacional acontece em dois diferentes canais representacionais: o canal verbal e o canal pictórico. A informação de texto escrito ou narrado é processada no canal verbal. A informação de figuras visuais ou de sons é processada no canal pictórico. Os canais têm capacidade limitada para processar e armazenar informação; − A compreensão de texto e figura é um processo ativo de formação de coerência. Na compreensão, indivíduos se engajam em construir estruturas de conhecimento coerente de informação pictórica e verbal externa disponível (viável) e de seus conhecimentos prévios. O nível perceptivo e o nível cognitivo de processamento podem ser diferenciados dentro deste modelo. O nível perceptivo refere-se à transferência de informação entre o meio externo e a memória operacional. Este nível é caracterizado pelo funcionamento dos canais sensoriais. O nível cognitivo se refere ao processamento de informações dentro da memória operacional e a troca de informação entre a memória de longo prazo e a memória operacional. Este nível é caracterizado pelo funcionamento do canal verbal e do canal pictórico (SCHNOTZ, 2005). Este modelo é mostrado esquematicamente pela Figura 5. 41 Figura 5: Modelo da compreensão integrada de texto e figura. Fonte: adaptado de SCHNOTZ, 2005, p. 57. Esse modelo utiliza-se também de princípios da TCAM de Mayer, além de propor outros princípios que são apresentados na próxima seção. 2.3.7 Princípios para a elaboração de material instrucional multimídia Existem muitos princípios para se desenvolver um material instrucional multimídia além do princípio multimídia, como os princípios da coerência, da sinalização, da redundância, da contiguidade espacial, da contiguidade temporal, da modalidade, das diferenças individuais, mas apenas alguns deles são descritos nesta seção, por terem sido diretamente utilizados na elaboração do produto desta dissertação. 2.3.7.1 Princípio Multimídia Mayer (2001, p. 63) resume o princípio multimídia com a seguinte afirmação: estudantes aprendem melhor através de palavras e figuras do que através de 42 palavras somente. Assim, quando palavras e figuras são ambas apresentadas, estudantes têm a oportunidade de construir modelos mentais verbais e pictóricos e de construir conexões entre eles. Quando palavras são apresentadas sozinhas, estudantes têm uma oportunidade de construir um modelo mental verbal, mas têm menor possibilidade de construir um modelo mental pictórico e fazer conexões entre os modelos mentais verbais e pictóricos. Fletcher e Tobias (2005) afirmam que adicionar figuras aos textos não é igualmente útil para todas as situações ou todas as pessoas. Exemplificam isto pelo fato de que as figuras nos livros diminuem marcadamente conforme a idade dos leitores aumenta. Esse decréscimo reflete a noção de que figuras são mais úteis para indivíduos, tais como as crianças, com baixo conhecimento prévio. Esses autores afirmam também que muitos livros texto incluem material irrelevante, citando a pesquisa feita por Mayer (2001, p. 76); uma análise de como o espaço era utilizado em livros texto de ciências de sexta série mostrou que metade do espaço da página era usado para ilustrações e metade para palavras. A esmagadora maioria das ilustrações não servia para uma proposta instrucional importante. Esse resultado foi encontrado também em outras pesquisas desenvolvidas por Mayer (2001) e por Britton, Woodward e Binkley (1993 apud Fletcher e Tobias, 2005). 2.3.7.2 Princípio da Contiguidade Espacial Este princípio refere-se ao fato de que pessoas aprendem melhor quando palavras e figuras correspondentes são apresentadas próximas umas das outras do que quando estão distantes umas das outras em uma página ou tela de computador. Quando palavras e figuras correspondentes estão próximas umas das outras, os aprendizes não têm que usar seus recursos cognitivos para procurá-las visualmente na página ou tela, podendo guardar essas palavras e figuras na memória operacional ao mesmo tempo, ao contrário do que aconteceria se elas estivessem distantes (MAYER, 2001, p. 81; MAYER, 2005b, p. 184). Este princípio também é utilizado pelo modelo da Compreensão Integrada de Texto e Figura (CITF) de Schnotz (2005, p. 65), como recomendação para a produção de materiais instrucionais. Segundo Mayer (2005b, p. 189), uma técnica para seguir esse princípio seria criar uma apresentação integrada, onde cada ilustração é colocada próxima ao 43 parágrafo que a descreve e palavras do parágrafo são inseridas na ilustração. Deste modo, o aprendiz tem uma oportunidade para combinar figuras e palavras correspondentes e não precisa usar o processo cognitivo pela busca em torno da página. 2.3.7.3 Princípio da Coerência Algumas vezes uma mensagem multimídia contém palavras e/ou figuras que não são relevantes para a finalidade instrucional. Um exemplo citado por Mayer (2005b, p. 187) é o de incluir frases adicionais em cada parágrafo de uma lição de um livro texto sobre a formação de raios, descrevendo histórias interessantes como a de um incidente no qual um estudante foi eletrocutado por um raio enquanto jogava futebol. Considerando uma lição sobre o mesmo assunto, mas no computador, usando narração e animação, poderiam ser adicionados vídeos curtos de tempestades, ou música de fundo e sons ambientais. Tudo isso poderia causar uma sobrecarga extrínseca, cuja solução seria a eliminação de palavras, figuras e sons que não são relevantes para a finalidade instrucional, obedecendo ao princípio de coerência, que mostra que estudantes aprendem melhor quando material extrínseco é excluído ao invés de incluído do material instrucional, pois esse compete por recursos cognitivos na memória operacional, podendo desviar a atenção de informações importantes, romper o processo de organização do material e instruir o estudante a aprender a organizá-lo em volta de um tema inapropriado (MAYER, 2001, p. 113, 2005b, 187). Esse princípio alerta para que designers de material instrucional resistam à tentação de adicionar sinos e assobios irrelevantes aos meios de aprendizagem multimídia, mostrando que “menos pode ser mais” (SCHNOTZ, 2005, p. 65). 2.3.7.4 Princípio da Sinalização Pessoas aprendem mais profundamente através de mensagens multimídia quando informações que ressaltem a organização do material essencial são adicionadas: este é o princípio da sinalização (MAYER, 2005b, p.198). Uma técnica para seguir esse princípio na preparação de um material instrucional é a de direcionar a atenção do aprendiz através do uso de sinais, tais 44 como, uma frase sublinhada que lista os principais passos de uma lição ou palavras em negrito, por exemplo, enfatizando informações para as quais ele deve dar atenção e como deve organizá-las (MAYER, 2005b, p. 184,185, 188). 2.3.7.5 Princípio da Sequência Figura-Texto Embora este princípio não seja da TCAM de Mayer, ele é apresentado no modelo da Compreensão Integrada (CITF) de Schnotz (2005, p. 65, 67), sendo considerado importante para a produção de material instrucional. Segundo este princípio, se um texto escrito e uma figura não puderem ser apresentados simultaneamente, é melhor apresentar a figura antes do texto do que depois. 2.3.7.6 Princípio da Sequência Este princípio indica que, geralmente, é melhor sequenciar tarefas de aprendizagem ou peças complexas de informação das mais simples para as mais complexas, do que apresentá-las em sua total complexidade de uma só vez (VAN MERRIËNBOER E KESTER, 2005). Mayer e Moreno (2003 apud VAN MERRIËNBOER E KESTER, 2005, p. 77-79) revisaram estudos que mostraram um melhor desempenho nos testes de transferência, quando aprendizes puderam estudar primeiro quais componentes constituíam um determinado sistema e somente depois estudaram como este sistema funcionava. 2.3.7.7 Princípio da Segmentação Mayer (2005c) mostrou que pessoas aprendem mais profundamente quando uma mensagem multimídia é apresentada em segmentos controlados ou conduzidos pelo aprendiz do que quando é apresentada como uma unidade contínua. Isso foi comprovado em pesquisas realizadas por Mayer e Dow & Mayer (2003 apud Mayer 2005c), onde animações ou simulações eram apresentadas de duas formas: para um grupo de alunos, de forma contínua na tela de um computador e para outro grupo, de forma segmentada, onde cada parte do funcionamento de motores elétricos era explicada, quando o aluno clicava em determinada questão. 45 Os alunos do grupo que ficou com a animação segmentada obtiveram um desempenho muito melhor em testes de transferência do que os alunos do grupo com a animação contínua, provando a importância do princípio da segmentação. Com base nesses referenciais foi possível, através do conhecimento dos processos cognitivos, dos princípios da TCAM e da TCC, analisar algumas restrições cognitivas de livros didáticos de Embriologia, modificar figuras e textos sobre a implantação do embrião para elaborar materiais didáticos e testá-los, buscando saber assim, se isso possibilitou ou não uma melhoria na aprendizagem. 46 3 ANÁLISE DAS RESTRIÇÕES COGNITIVAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE EMBRIOLOGIA HUMANA SOBRE O TEMA “IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO” Para evidenciar problemas existentes nos livros didáticos de Embriologia Humana que poderiam dificultar a aprendizagem dos estudantes, foram analisados dois livros didáticos bastante utilizados por professores e alunos da instituição onde foram realizados os testes deste estudo. Esta análise considerou alguns princípios da TCAM e do modelo CITF: da sinalização, da coerência, da sequência figura-texto e da contiguidade espacial. O conteúdo analisado nos livros foi a implantação do embrião no útero. Os dois livros analisados foram: − MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. − SADLER, T.W. Langman – Embriologia Médica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. O direito autoral regula as relações jurídicas provenientes da criação e utilização das obras intelectuais originadas nos diferentes meios, artístico, literário e científico. O titular da obra tem direito a proteção no que tange a questão patrimonial e moral (PUCMINAS, 2009). É direito de o autor ter seu nome sempre vinculado a sua obra, tendo direito também a se opor a quaisquer mudanças que nela se pretenda. Sendo assim, para se utilizar figuras do livro didático, como é o caso deste trabalho, dois procedimentos são fundamentais e obrigatórios: a citação da fonte (autoria da figura) e também autorização dos interessados, neste caso das editoras, para uso e modificação das figuras. Sendo assim, neste trabalho, citamos a fonte das figuras e pedimos a autorização para o uso das mesmas. A editora respondeu que as instruções para uso das imagens estavam em sites indicados. Neste caso, as instruções diziam que somente seriam respondidos e-mails de pedidos de reuso de imagens se a imagem desejada não estivesse disponível online. Como os livros, e consequentemente, as imagens aqui utilizadas estavam disponíveis online, decidimos utilizá-los. 47 Salientamos que não há nenhum interesse comercial, nem intenção de prejuízo dos direitos autorais envolvidos neste uso. No livro Embriologia Clínica, de Moore e Persaud (2004), foram analisadas 15 figuras, das quais quatro eram fotografias ou fotomicrografias e duas eram sonogramas de embriões reais, sendo que o restante eram desenhos. No livro Langman – Embriologia Médica (SADLER, 2005) foram analisadas 14 figuras, das quais cinco eram fotografias ou fotomicrografias de embriões reais, enquanto as outras eram desenhos. Os resultados da análise encontram-se sumarizados no Quadro 1: Quadro 1: Frequência dos princípios seguidos em relação ao total de imagens de cada livro didático sobre a implantação do embrião no útero. Fonte: Dados da pesquisa, 2010. No livro Embriologia Clínica, de Moore e Persaud (2004) as figuras analisadas foram colocadas após o texto que as explicam, não seguindo, portanto, o princípio da sequência figura-texto (0%). Quanto ao princípio da contiguidade espacial, apenas 13% das figuras (duas figuras) foram citadas próximas ao texto referente a elas. Algumas figuras vinham até três páginas distantes do texto. Isto pode prejudicar a atenção seletiva, que é a escolha de prestar atenção a alguns estímulos em detrimento de outros (STERNBERG, 2008; EYSENCK & KEANE, 2007; GAZZANIGA, IVRY E MANGUN, 2006; LENT, 2005), pois o fato de o aprendiz parar de ler ou de seguir um raciocínio para virar uma página, ler a figura e voltar, demandaria que ele deixasse de prestar atenção no texto, buscasse a figura e a relacionasse com o texto para a compreensão do mesmo. Segundo Mayer (2001, 2005b), quando palavras e figuras correspondentes estão próximas umas das outras na página, os aprendizes não têm que usar seus recursos cognitivos para procurá-las visualmente, podendo guardar 48 essas palavras e figuras na memória operacional ao mesmo tempo, ao contrário do que aconteceria se elas estão distantes. Das 15 figuras analisadas, muitas apresentavam mais de uma imagem, sendo observada a presença de legendas com grande quantidade de informação de uma só vez, como observamos no exemplo da Figura 6. Figura 6: Exemplo de figura com mais de uma imagem e legenda contendo excesso de informação, sendo algumas informações irrelevantes nesse momento. Fonte: MOORE; PERSAUD, 2004, p. 44. Além disso, algumas figuras traziam um grande número de termos (foram detectados 11 termos em uma única imagem de uma das figuras), sendo muitos deles bastante complexos (para exemplo, veja Figura 7). Portanto, observamos que neste caso foi excedido o número de 7 ± 2 elementos, o que, de acordo com Van Merriënboer e Sweller (2005), provocaria uma sobrecarga cognitiva. Neste caso, principalmente da carga cognitiva extrínseca, ou seja, a carga cognitiva que não é 49 necessária para a aprendizagem e que pode ser alterada por intervenção instrucional. Desta forma, o princípio da coerência foi seguido em 47% das figuras analisadas, ou seja, em sete figuras. Figura 7: Exemplo de imagem com presença excessiva de termos complexos, configurando uma sobrecarga cognitiva. Fonte: MOORE; PERSAUD, 2004, p. 51. O princípio da sinalização não foi seguido na construção de nenhuma das 15 figuras do livro Embriologia Clínica (MOORE; PERSAUD, 2004). Segundo Mayer (2005b), a sinalização é muito importante para a aprendizagem, pois ajuda o aprendiz a focar a atenção em aspectos críticos da informação apresentada. Essa sinalização pode ser feita de várias formas, dependendo do texto ser escrito ou narrado, no caso do texto escrito por mudanças nas cores das palavras, criando-se um código entre palavras ou estruturas e cores. 50 A análise do livro Langman – Embriologia Médica (SADLER, 2005), mostrou que nenhuma das figuras investigadas seguiu o princípio da sequência figura-texto, sendo que o texto vinha sempre antes da figura. O princípio da contiguidade espacial foi seguido mais vezes neste livro do que no livro de Moore e Persaud (2004), sendo detectadas seis figuras, ou seja, 43% delas, na mesma página do texto que as explicava. Neste livro também muitas figuras continham termos técnicos complexos, variando de três até 18 termos por figura. Entretanto, oito figuras (57%) seguiram o princípio da coerência, não excedendo o número de 7±2 elementos, nem sobrecarregando de informações desnecessárias para a aprendizagem naquele momento, evitando assim, o aumento da carga cognitiva extrínseca, para exemplo veja Figura 8. Figura 8: Imagem que segue o princípio da coerência. Fonte: SADLER, 2005, p. 37. Diferente do livro de Moore e Persaud (2004), este apresentou o princípio da sinalização em duas figuras (14%), sendo que em uma houve a indicação na legenda das cores que estavam representando as estruturas da figura, por exemplo: “Em azul, nó embrionário ou embrioblasto; em verde, trofoblasto.” (Figura 9) e em 51 outra, a legenda apresentou palavras em negrito para indicar uma mudança de nome importante de determinada estrutura (por exemplo: “Notar as vilosidades primárias e o celoma extra-embrionário ou cavidade coriônica”). Figura 9: Exemplo de figura onde foi utilizado o princípio da sinalização. Fonte: SADLER, 2005, p. 29. Esta análise mostra, portanto, que, nos livros analisados alguns princípios importantes para facilitar aprendizagem não foram considerados na sua elaboração. A existência das impropriedades encontradas nas figuras dos livros texto de Embriologia (recurso muito utilizado no preparo das aulas teóricas e no estudo individual do aluno) pode certamente prejudicar e comprometer o processo de aprendizagem do seu conteúdo pelos alunos. Assim, identificamos para esse tópico específico (e acreditamos que tais achados podem ser extrapolados para outras unidades didáticas) a necessidade de adaptação ou reformulação dos livros didáticos quanto aos princípios da TCAM, do modelo CITF e da TCC, já que os estudos da neurociência e da psicologia cognitiva, relatados no referencial teórico, 52 objetivam a melhoria da aprendizagem, não só através da compreensão de como as pessoas aprendem, mas também de como aprimorar as técnicas e os recursos para facilitar esse processo. Resultados semelhantes foram descritos por Matos e colaboradores (2010) ao avaliarem imagens do capítulo de embriologia de quatro coleções de livros de Biologia do Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio do Ministério da Educação (PNLDEM/MEC). Portanto, nossa pesquisa e a destes autores mostram que existe um planejamento inadequado na forma de apresentação da informação nos livros didáticos de embriologia do ensino médio, que pode ser reflexo ou influência dos livros de graduação e que sobrecarrega os recursos cognitivos dos alunos, podendo dificultar a aprendizagem. Sendo assim, justifica-se mais uma vez, o desenvolvimento do produto desta dissertação, por trazer uma proposta consonante com a realidade aqui apontada. Baseando-se nos resultados desta análise e seguindo os princípios da TCAM, propomos um material didático para o ensino/aprendizagem da implantação do embrião no útero, onde procuramos reduzir principalmente a sobrecarga cognitiva e a atenção dividida. 53 4 PROCESSO DA ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO O produto desenvolvido nesta dissertação foi um material didático com texto e figuras sobre a implantação do embrião no útero (APÊNDICE A). Para a produção deste material utilizamos e adaptamos o conteúdo do livro Embriologia Clínica, de Moore e Persaud (2004). Nosso objetivo, ao construir este material, foi o de tentar melhorar o processo de aprendizagem dos alunos sobre esse assunto. Para isto, nos baseamos no referencial teórico descrito no Capítulo 2 desta dissertação, principalmente em alguns princípios da TCAM e da TCC. Este material consta também de algumas questões elaboradas para a validação do material didático que podem ser utilizadas como sugestão de avaliação dos aprendizes. O produto, contendo o texto e os testes, está disponibilizado em um CD-ROM (APÊNDICE B). Inicialmente, montamos um material que chamamos de texto controle (APÊNDICE C), seguindo a ordem apresentada no livro didático utilizado. O texto escrito do controle foi ligeiramente modificado em relação ao do livro didático, pois este trazia muitas informações sobre outros assuntos, intermediando as informações realmente importantes sobre a implantação do embrião. Isto mostra que o livro didático sobrecarrega a capacidade da memória operacional com quadros e textos desnecessários que dispersam a atenção do aprendiz do foco (a implantação do embrião). Embora o texto escrito tenha sido adaptado, as figuras do texto controle foram originais, ou seja, exatamente as mesmas encontradas no livro. Posteriormente, elaboramos outro material que chamamos de texto teste (APÊNDICE A). Neste caso foram feitas modificações na sequência do texto escrito (somente na sequência, pois, a parte escrita era a mesma do controle) e nas figuras. Estas modificações foram feitas para atender aos seguintes princípios: sequência figura e texto, contiguidade espacial, coerência e sinalização. Sendo assim, as figuras foram escaneadas do livro e editadas para a retirada de termos (nomes), setas ou legendas, que não seriam necessários e para a reestruturação da figura (refazer parte da figura, colocar cores nos nomes das estruturas, etc.). Neste texto teste, para ressaltarmos os pontos mais importantes da implantação, partimos de informações mais simples para as mais complexas, segundo orienta o princípio da sequência (VAN MERRIËNBOER; KESTER, 2005). As primeiras modificações feitas neste texto foram no sentido de contemplar os 54 princípios de sequência figura-texto e de contiguidade espacial. Para isto, as figuras foram colocadas antes do texto (princípio de sequência figura-texto) e próximas a ele (princípio de contiguidade espacial). Em seguida foram inseridas figuras modificadas que seguiam os princípios de coerência, ou seja, foram retiradas delas as informações desnecessárias para o entendimento do conteúdo ensinado naquele momento, e o de sinalização, ou seja, foram colocadas cores (ou negrito) nos nomes das estruturas e a cor correspondente no texto, quando se referia àquela estrutura. Foram também sublinhadas informações no texto que mostravam os acontecimentos mais importantes apresentados na figura. Salientamos que o texto teste constitui o produto principal desta dissertação. Para exemplificar, mostramos a seguir uma figura utilizada no texto controle (Figura 10) e a mesma figura, com as modificações feitas, utilizada no texto teste (Figuras 11 e 12). Ressaltamos que, no texto controle, a parte escrita referente à Figura 10 foi colocada na primeira página, enquanto a própria figura foi colocada na terceira página, simulando o que acontece no livro didático. Figura 10: Imagem do texto controle, sem modificações. Fonte: MOORE; PERSAUD, 2004, p. 44. 55 Figura 11: Imagem do texto teste modificada de acordo com os princípios de coerência e da sinalização evidenciando a origem de estruturas importantes no desenvolvimento. Fonte: Adaptação da Fig. 2-22 de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 44, 2004. Figura 12: Imagem do texto teste modificada de acordo com os princípios da coerência e da sinalização. Fonte: Adaptação da Fig. 2-22 de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 44, 2004. 56 Observamos na Figura 10 uma figura do livro didático com sua legenda, mostrando duas imagens (A e B) em um mesmo espaço, além de conter uma legenda extensa e com informações em excesso, além de não observarmos nenhum tipo de sinalização. Estes fatos podem acarretar uma sobrecarga cognitiva, principalmente da carga cognitiva extrínseca, além de exceder o número de 7±2 elementos de uma só vez para serem analisados, sobrecarregando a memória operacional e dificultando a formação de esquemas (VAN MERRIËNBOER E SWELLER, 2005). As Figuras 11 e 12 representam o mesmo desenho mostrado na Figura 10. Entretanto, retiramos a legenda extensa e dividimos o mesmo em duas figuras separadas, com textos segmentados para facilitar a assimilação pelo aprendiz de informações de forma sequencial. Além disso, a sinalização com cores e o sublinhado enfatizando acontecimentos importantes ajudam o aprendiz a focar sua atenção em informações relevantes. Todas as outras figuras do texto teste sofreram modificações semelhantes ao exemplo dado acima, ou seja, foram modificadas levando-se em conta os princípios citados e buscando a melhoria da aprendizagem do aluno. Após a construção dos textos controle e teste foram elaboradas questões para avaliação da aprendizagem sobre o conteúdo e avaliação do material produzido (APÊNDICE D). 57 5 AVALIAÇÃO DO MATERIAL PRODUZIDO De acordo com Stake (1995), todo estudo de avaliação constitui um estudo de caso. Desta forma, os trabalhos que aplicam materiais didáticos e os avaliam devem ser considerados estudos de caso. Segundo ele, nesse tipo de estudo, o próprio pesquisador atua como um avaliador e escolhe critérios específicos ou interpretações que lhe permitam acessar o sucesso, as fragilidades e a deficiência destes materiais no estudo. Neste caso, muitas vezes, as interpretações do próprio pesquisador constituem a maior parte da pesquisa. Dependendo da escolha do pesquisador, os critérios e metodologias podem privilegiar aspectos mais quantitativos – que enfatizam critérios de efetividade medidos em escalas – ou aspectos mais qualitativos – que enfatizam a qualidade dos materiais e do seu processo de uso. Além das interpretações do pesquisador, Stake também considera que as interpretações dos sujeitos estudados devem ser consideradas, uma vez que estes, na condição de atores do estudo, podem fornecer interpretações e observações críticas importantes sobre o material avaliado. Sendo assim, em nosso estudo optamos por utilizar as duas abordagens de avaliação: quantitativa e qualitativa que passamos a descrever a seguir. 5.1 Metodologia 5.1.1 Sujeitos da pesquisa Os participantes da pesquisa foram 54 alunos do Ensino Superior, dos cursos de Graduação em Ciências Biológicas e Biomedicina, de uma instituição de ensino privada, da cidade de Paracatu, Minas Gerais. Este público-alvo foi escolhido por se tratar de alunos que estavam cursando (segundo período) e alunos que já haviam cursado (quinto e sexto períodos) a disciplina de Embriologia, sendo de fácil acesso à pesquisadora. O período da coleta de dados foi de 08 a 23 de março de 2010, sendo que os testes da pesquisa foram aplicados em três momentos: dia 08/03 (14 alunos), 12/03 (31 alunos) e 23/03 (09 alunos). 58 Os alunos foram divididos em dois grupos: alunos com alto conhecimento prévio sobre o assunto, ou seja, que já haviam cursado a disciplina de Embriologia Humana e alunos com baixo conhecimento prévio sobre o assunto, ou seja, que estavam cursando essa disciplina e ainda não haviam estudado o conteúdo sobre implantação do embrião. Para facilitar a análise dos resultados, chamaremos o primeiro grupo de Grupo 1 e o segundo grupo de Grupo 2. O Grupo 1 era constituído por 23 alunos e o Grupo 2 era constituído por 31 alunos. Posteriormente, os Grupos 1 e 2 foram divididos em dois outros grupos: o grupo controle (C), que recebeu o texto controle baseado no livro didático, ou seja, sem as modificações das figuras e não leva em consideração o princípio da sequência figura e texto; e o grupo teste (T), que recebeu o texto teste, que utiliza as figuras modificadas e considera o princípio da sequência figura e texto. Então, para a análise final teremos quatro grupos: − Grupo 1C: alunos com alto conhecimento prévio que receberam o texto controle – 11 alunos; − Grupo 1T: alunos com alto conhecimento prévio que receberam o texto teste – 12 alunos; − Grupo 2C: alunos com baixo conhecimento prévio que receberam o material controle – 15 alunos; − Grupo 2T: alunos com baixo conhecimento prévio que receberam o material teste) – 16 alunos. Essa divisão dos grupos baseou-se na metodologia descrita em um artigo de Mayer e Gallini (1990), onde eles testaram vários tipos de textos (sobre freios, bombas de encher pneu e geradores elétricos) em grupos de alunos com alto conhecimento prévio e com baixo conhecimento prévio sobre o assunto. Os resultados encontrados por esses autores são comparados aos desta pesquisa na análise dos resultados. 5.1.2 O teste avaliativo O teste para avaliação dos materiais didáticos produzidos foi feito a partir da aplicação de questões de retenção e transferência para avaliar a aprendizagem 59 sobre a implantação do embrião no útero (APÊNDICE D). As quatro primeiras questões do teste eram de retenção e tinham o objetivo de avaliar se os alunos se lembravam de determinadas informações dos textos (controle e teste). Ou seja, se as informações foram armazenadas na memória de curto prazo. Lembramos que a memorização no ensino de Embriologia auxilia na compreensão das mudanças ocorridas ao longo do desenvolvimento embrionário e fetal. Então, as perguntas foram bem diretas e as respostas estavam muito claras nos textos utilizados. As questões 5 e 6 eram questões de transferência, ou seja, que visavam avaliar a compreensão das informações dos textos (controle e teste), aplicando-as em situações problema, mostrando que, se o aluno tivesse aprendido o conteúdo, seria capaz de transpor esse conhecimento para a situação apresentada na questão, podendo resolvê-la. Duas outras questões foram colocadas no teste para saber se os alunos tiveram alguma dificuldade em compreender os textos ou em responder as questões e se gostariam de deixar alguma sugestão de modificação nos textos escritos ou nas figuras dos materiais testados. Essas questões tinham o objetivo de deixar que os alunos se expressassem quanto à situação vivenciada, podendo contribuir com sugestões de acordo com a sua necessidade real. Estas questões não foram incluídas no CD-ROM, pois, não tem o objetivo de avaliar conhecimento sobre o tema. 5.1.3 Procedimentos da pesquisa Antes de iniciarmos os testes, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE E) foi apresentado aos alunos, para que ficassem cientes dos objetivos e procedimentos da pesquisa e concordassem em participar de forma voluntária da mesma. Quem se dispôs a participar assinou o termo em duas vias (já assinadas pela pesquisadora que aplicou os testes), ficando com uma via para si e entregando a outra via para a pesquisadora. Foram entregues aos alunos os textos (teste e controle) e uma ficha (APÊNDICE F) para que o aluno colocasse sexo, idade e tipo de texto recebido (TIPO A ou TIPO B). Esta identificação (A e B) foi colocada para que os alunos não soubessem se estavam usando o texto controle ou o texto teste, para não interferir nos resultados. Os textos A e B eram, respectivamente, os textos teste e controle. 60 Em seguida, os alunos foram informados de que leriam o texto e depois responderiam às questões relativas ao conteúdo presente no mesmo, mas sem a possibilidade de consultá-lo, pois, os textos seriam recolhidos após o tempo da leitura de aproximadamente 20 a 25 minutos. Esse tempo foi determinado com base no número de informações contidas nos textos e figuras, sendo um tempo relativamente maior do que Mayer e Gallini (1990) utilizaram em sua pesquisa, mesmo contendo menos palavras do que os textos desses autores, devido à complexidade dos termos usados em Embriologia. Após a leitura e o recolhimento dos textos, os alunos começaram a responder as questões do teste (APÊNDICE D). Cada questão foi colocada em uma folha separada, exceto as questões 1 e 2, que foram entregues na mesma folha, por serem de respostas muito curtas. As últimas duas questões (7 e 8) também foram entregues em uma mesma folha, pois, não eram diretamente relacionadas ao conteúdo, mas sim relacionadas à visão do aluno sobre o teste e sugestões para modificação de texto ou figuras, ou seja, não foram avaliadas quantitativamente e sim, qualitativamente. O método de colocar as questões em folhas separadas também seguiu o proposto por Mayer e Gallini (1990), para que os alunos não voltassem atrás nas respostas dadas anteriormente. Então, para cada questão foi dado um tempo de dois a cinco minutos para responder. Após este tempo, recolhiase a questão respondida e a próxima era entregue. As respostas para as oito perguntas de cada estudante eram colocadas juntas, assim como sua ficha individual de identificação. 5.2 Resultados e discussão 5.2.1 Critérios e comentários sobre a análise das respostas dos alunos nas questões de avaliação de aprendizagem Para a análise das respostas do teste, foram utilizados modelos de respostas corretas para comparar e quantificar as respostas dos alunos (atribuir pontos), sendo algumas delas exemplificadas para esclarecer a forma de avaliação dos resultados. As questões de retenção e de transferência foram avaliadas atribuindo-se pontos de 0,0 a 1,0 para cada questão, de acordo com os critérios apresentados no Quadro 2. 61 Quadro 2: Critérios para a avaliação das questões de retenção e de transferência do teste de aprendizagem sobre implantação do embrião. Questão 1: O que será formado a partir do trofoblasto? Notas 1,0 0,5 0 Respostas corretas − A parte embrionária da placenta. − A placenta. − O sinciciotrofoblasto e o citotrofoblasto. − Sinciciotrofoblasto. − Citotrofoblasto. Qualquer resposta que não se encaixasse nas anteriores ou que estivesse em branco. Exemplos de respostas dos alunos “Uma parte da placenta.” “Será formada a placenta.” “O sinciciotrofoblasto e o citotrofoblasto.” “Sinciotrofoblasto.” “A estrutura que reveste o embrião.” “Zigoto.” “Será formado o blastócito.” “gameta.” Questão 2: O que será formado a partir do embrioblasto? Notas Respostas corretas Exemplos de respostas dos alunos “O embrioblasto dará origem ao embrião.” “Discos embrionários (embrião).” “O futuro embrião.” “Ovócito.” Qualquer resposta que não se “Mórula.” 0 encaixasse nas anteriores ou que “Trofoblasto.” estivesse em branco. “Saco vitelino.” Questão 3: Como é realizada a nutrição do embrião enquanto a placenta não está completamente formada? 1,0 − O embrião. − O disco embrionário. Notas Respostas corretas 1,0 − O sangue materno e os restos celulares das glândulas erodidas (do endométrio) formam um fluido que irá nutrir o embrião através da rede lacunar (ou lacunas do sinciciotrofoblasto). − O sangue materno entra e sai das redes lacunares, estabelecendo a circulação uteroplacentária. 0,6 0,3 0 Quando houver duas alternativas das descritas para 0,3. − Sangue materno. − Do endométrio. − Das lacunas do sinciciotrofoblasto. − Dos restos celulares das glândulas. Qualquer resposta que não se encaixasse nas anteriores ou que estivesse em branco. Exemplos de respostas dos alunos “Quando o blastocisto penetra no epitélio endometrial, formam-se lacunas que se fundem, por onde passa o sangue materno constituindo a circulação uteroplacentária. Antes das lacunas se fundirem passam por elas sangue materno misturado ao que sobrou das células erodidas formando um líquido nutritivo.” “A nutrição é feita pela rede lacunar, onde há o contato do sinciciotrofoblasto com o endométrio.” “A nutrição é feita através do sangue da mãe.” “É realizada através do embrioblasto.” “A nutrição do embrião é através do cordão umbilical.” Questão 4: Marque com um X a figura em que os nomes das estruturas estão corretos. Notas Respostas corretas Exemplos de respostas dos alunos 1,0 Primeiro desenho. -- 0 Segundo desenho. -- Questão 5: Explique o que poderia acontecer com o embrião se não houvesse a formação do sinciciotrofoblasto. 62 Notas Respostas corretas 1,0 − O embrião não se implantaria, pois o sinciciotrofoblasto é o responsável por produzir enzimas que erodem o endométrio, permitindo a implantação do blastocisto. − O embrião morreria, pois se o sinciciotrofoblasto não fosse formado, não haveria implantação. 0,8 − O embrião morreria, pois não haveria a implantação. − O embrião morreria (ou não se desenvolveria), pois não haveria nutrição. 0,5 − O embrião morreria. − Não haveria gravidez. − Aconteceria um aborto espontâneo. 0,3 − Não haveria nutrição, pois não formariam as lacunas do sinciciotrofoblasto. Exemplos de respostas dos alunos “Morrer. É através dessa estrutura que ele se implanta a procura de nutrientes, oxigênio e proteção.” “Morreria, pois é o sinciciotrofoblasto que se invagina no endométrio, ’anexando-se’ ao mesmo, permitindo que o embrião se desenvolva.” “Ele poderia ficar solto na cavidade uterina já que o sinciciotrofoblasto o fixa ao endométrio.” “O blastocisto não entraria em contato com o endométrio, não havendo a implantação do embrião.” “Não ocorreria a formação da placenta, e o embrião não poderia se alimentar e se desenvolver.” “Ele não se formaria por completo nem se desenvolveria.” “O embrião não implantaria na parede uterina.” “Ele não se implantaria no útero e a mãe sofreria um aborto espontâneo.” “O embrião não teria a nutrição adequada.” “Não haveria a nutrição do embrião até que a placenta se formasse completamente.” “Não ia ter a formação da placenta.” Qualquer resposta que não se encaixasse nas anteriores ou que “Não teria a medula óssea.” estivesse em branco. Questão 6: Explique o que poderia ser afetado(a) na relação mãe/embrião se não surgissem as lacunas de sangue no sinciciotrofoblasto. 0 Notas 1,0 0,5 0 Respostas corretas − A troca de nutrientes, gases e resíduos poderiam ser afetados, pois não se estabeleceria a circulação uteroplacentária, pela ausência dessas lacunas. − Faltaria a nutrição ou o embrião não se desenvolveria por falta de nutrição, pois as lacunas contêm o sangue materno, que leva a nutrição para o embrião. − A nutrição seria afetada. − Não se estabeleceria a circulação uteroplacentária ou não seria formada a placenta posteriormente. − O embrião morreria. − Não haveria gravidez (haveria um aborto espontâneo). Qualquer resposta que não se encaixasse nas anteriores ou que estivesse em branco. Exemplos de respostas dos alunos “A mãe não conseguiria passar os nutrientes necessários para o embrião sobreviver, porque não haveria comunicação nem as trocas de substâncias, porque é nessas lacunas que ficam depositado o sangue da mãe e os nutrientes.” “Não haveria a circulação sanguínea na fase inicial entre a mãe e o embrião. Porque são através dessas lacunas que o feto nutre e desenvolve.” “O embrião não receberia os nutrientes necessários principalmente o oxigênio.” “Esse embrião seria abortado.” “A mãe não forneceria nutrientes e oxigênio ao embrião até a formação da placenta.” “A alimentação do embrião ficaria prejudicada.” “Haveria uma contaminação, ou seja, o embrião não teria proteção contra as substâncias infecciosas.” Fonte: Dados da pesquisa, 2010. 63 Algumas observações sobre as respostas dos alunos devem ser mencionadas para que fiquem mais claros os critérios da avaliação. Na questão 1, alguns alunos colocaram respostas como “Será formada a parte placentária do embrião.” ou “a placenta embrionária”. Essas respostas receberam 1,0 ponto, pois, palavras como “parte embrionária da placenta” podem ser confundidas com “parte placentária do embrião”, o que não quer dizer que o aluno não tenha entendido, mas trocado a ordem das palavras. O mesmo vale para respostas que receberam 0,5 ponto, como por exemplo, ao invés de ter escrito “sinciciotrofoblasto” ou “citotrofoblasto”, vários alunos escreveram “trofocicioblasto” ou “citrofoblasto”, mas ganharam 0,5 ponto, pois, eram palavras bem parecidas e não houve uma discrepância tão grande na escrita. Isso mostra como são difíceis os termos usados em Embriologia e o quanto um tempo curto talvez não seja o suficiente para gravá-los. Por isso, é importante, além do tempo, haver no texto ou durante a exposição da aula, o significado das palavras, sua etimologia, pois são artifícios que auxiliariam na memorização e também na aprendizagem dos conteúdos dessa disciplina. Na questão 2, dois alunos responderam “Parte do embrião”, talvez porque na questão anterior falasse em “parte embrionária da placenta”, então, isso pode ter levado esses alunos a pensarem que a resposta certa seria “parte do embrião” também. Neste caso, eles também receberam 1,0 ponto. A questão 3 tinha sua resposta no próprio texto, já que se trata de uma questão de retenção. Mesmo assim, vários alunos simplificaram muito as respostas, como nos exemplos citados no Quadro 2, e, outros misturaram as várias respostas, como por exemplo: “Acontece por um fluido de nutrição pelas enzimas, acontece pelo uteroblasto ou blastoutero, que passa para o embrião todo o sangue nutrido”. Neste caso, é possível que o aluno tenha relacionado o fluido formado por restos celulares das glândulas erodidas (“por um fluido de nutrição pelas enzimas”), as lacunas do sinciciotrofoblasto e a circulação uteroplacentária (“acontece pelo uteroblasto ou blastoutero”), por onde o sangue entra e sai levando nutrientes (“que passa para o embrião todo o sangue nutrido.”). Então, a essência da resposta estava correta, mas houve dificuldade em montá-la. Novamente, o excesso de informação dada de uma só vez e palavras complexas podem dificultar a formação de esquemas e, consequentemente, dificultar a aprendizagem. 64 Foi possível perceber certo alívio por parte dos alunos de todos os grupos ao receberem a questão 4, pois, muitos ao perceberem que continha figura e era uma questão objetiva, exclamaram que era fácil, que todas as questões poderiam ser como aquela e que as provas poderiam ser daquela maneira: aplicando um texto e depois questões que, de preferência, tivessem figuras. As evidências relatadas em muitas pesquisas citadas no referencial teórico (MAYER, 2001; 2005b) ficam claras aqui: as pessoas aprendem muito melhor com palavras e figuras, do que somente com palavras ou somente com figuras. Então, o princípio multimídia, que foi seguido tanto pelo texto controle, quanto pelo texto teste, realmente promoveu aprendizagem, não apenas pela leitura de textos didáticos, como também na forma de avaliar, sendo uma estratégia produtiva e uma sugestão para ser utilizada no momento da avaliação em sala de aula. As questões de transferência (questões 5 e 6 do teste) são muito importantes, pois permitem avaliar o aprendizado do aluno, já que possibilitam ao aprendiz a utilização dos conhecimentos adquiridos para a solução de problemas, transpondo o que aprendeu para uma situação concreta ou que simularia uma situação possível. A avaliação das respostas para estas questões exigiu bastante cuidado, pois muitos alunos não interpretaram o comando da questão (“Explique o que poderia acontecer...” ou “Explique o que poderia ser afetado...”) de forma correta, pois, explicar não é apenas citar o que aconteceu, mas sim, justificar o que aconteceu (como, porque...). A questão 5 talvez tenha sido a mais difícil de avaliar, pois, além de não entenderem o comando da questão, os alunos enfatizaram o papel do sinciciotrofoblasto na nutrição do embrião e não no papel anterior a este, que seria o de implantar o embrião no útero. Isto ocorreu devido ao próprio texto que foi falho ao tratar da implantação em si. Ao se rever os textos utilizados, tanto o teste quanto o controle, é possível perceber que o trecho que fala sobre o papel do sinciciotrofoblasto na implantação está “escondido” entre palavras que o aluno pode considerar difícil, como no exemplo: “Os tecidos endometriais são erodidos por enzimas produzidas pelo sinciciotrofoblasto, permitindo que o blastocisto penetre no endométrio”. Neste trecho do texto, a palavra sinciciotrofoblasto fica desconectada da sua função de permitir a implantação. Um aluno chegou a circular a palavra "erodidos" no texto, talvez, mostrando que não tenha entendido seu significado. 65 A experiência da pesquisadora também corrobora esta suposição, pois, ao perguntar aos alunos de várias turmas de diferentes cursos de graduação sobre o que significava os tecidos serem erodidos pelo sinciciotrofoblasto, a maioria deles não soube responder ou respondeu errado, não relacionando a palavra erodidos à palavra erosão, que é relativamente comum, e significa "corroer pouco a pouco". Então, no caso do presente estudo, se o texto estivesse mais claro quanto ao papel do sinciciotrofoblasto na implantação e se os alunos tivessem entendido que o sinciciotrofoblasto corrói o endométrio para a penetração do embrião, provavelmente relacionariam a ele o importante papel na implantação. Na questão 6, não houve nenhum outro problema além daquele já discutido quanto à interpretação do comando da questão. Talvez o fato desta pergunta relacionar as lacunas à nutrição do embrião possa ter provocado uma dúvida sobre a questão anterior ou sobre esta mesma, pois ambas, na visão do aluno, falariam sobre a mesma coisa: a nutrição do embrião. Se o aluno pudesse voltar atrás na questão anterior, talvez mudasse sua resposta, ou mudaria a forma como respondeu cada questão. Por isso, o método de entregar as questões separadamente obriga o aluno a responder o que realmente entendeu ou gravou em sua memória naquele momento, sem se influenciar pelas outras, a não ser no caso de responder a próxima questão, pois já teria respondido à anterior. Portanto, enfatizamos que esse método de entregar as questões separadas é bom apenas para situações de pesquisa, onde se pretende saber o que o aluno entendeu, ou o que ficou em sua memória de curto prazo. Isto não seria útil em avaliações em sala de aula, pois não beneficiaria o aluno, por não permitir que ele corrija uma ideia ou resposta ao ter nova informação através de outra pergunta. As avaliações devem permitir que o aluno consiga ver em que está errando, se a sua linha de raciocínio ou estratégia do uso dos conhecimentos estão corretas, ou se sua aprendizagem foi significativa. 5.2.2 Análise quantitativa dos resultados dos testes de avaliação de aprendizagem sobre a implantação do embrião Os valores das respostas de cada questão analisada de cada grupo apresentaram distribuição normal. Para exemplificar, apresentamos a seguir o Gráfico Q-Q da Questão 1 do Grupo 1C. 66 Gráfico 1: Distribuição normal das notas referentes à Questão 1 do Grupo 1C. Fonte: Dados da pesquisa, 2010. O fato de a distribuição ser normal permite a utilização do teste t para a análise dos dados. Quando o valor de Sig (2-tailed) é menor do que 0,05 as amostras são diferentes e quando o valor de Sig (2-tailed) é maior do que 0,05 as amostras são iguais. A análise dos dados utilizando a média das notas obtidas em cada questão (Gráfico 4) não mostrou diferença estatisticamente significativa entre elas, pois, para todas as análises o valor de Sig foi maior do que 0,05. Para exemplificar, apresentamos a análise da questão 1 para todos os grupos (Quadro 3). Quadro 3: Análise da Questão 1 para todos os grupos. Questão 1 Soma dos quadrados df Quadrado da média F Sig. Entre grupos 0,613 3 0,204 1,171 0,330 Dentro dos grupos 8,721 50 0,174 Total 9,333 53 Fonte: Dados da pesquisa, 2010. Nos Gráficos 2 e 3 apresentamos as médias das respostas para o grupo de alunos com alto conhecimento e com baixo conhecimento, respectivamente. 67 Gráfico 2: Média dos alunos com alto conhecimento nos testes. 1,2 1 1 0,818 0,912 0,818 0,833 0,8 0,6 0,727 0,582 0,583 0,525 0,442 0,4 0,667 Grupo 1C 0,309 Grupo 1T 0,2 0 Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Questão 6 Fonte: Dados da pesquisa, 2010. Gráfico 3: Média dos alunos com baixo conhecimento nos testes. 1,2 1 1 0,8 0,6 0,4 0,933 0,75 0,6 0,612 0,533 0,567 0,531 0,5 0,598 0,5 Grupo 2C Grupo 2T 0,387 0,2 0 Questão Questão Questão Questão Questão Questão 1 2 3 4 5 6 Fonte: Dados da pesquisa, 2010. A análise do Gráfico 2 mostra que o material modificado (texto teste) não alterou o desempenho dos alunos com alto conhecimento, pelo contrário, o desempenho foi ligeiramente inferior com o uso do material modificado (com exceção das questões 2 e 3). Isso acontece, segundo Mayer & Gallini (1990) e Schnotz (2005), assim como outros autores que falam sobre formação de esquemas mentais, porque os aprendizes com alto conhecimento prévio já vêm para a situação de aprendizagem com um repertório de técnicas para usar estrategicamente seus 68 conhecimentos. Possuem estratégias para representar visualmente a informação no texto e podem coordenar estratégias de imagens mentais com outros procedimentos. Essas técnicas ajudam os aprendizes com alto conhecimento prévio a focar a informação explanativa durante a aprendizagem, assim como constroem espontaneamente modelos mentais que podem ser usados nas resoluções de problemas. Desta forma, as alterações feitas no material didático não influenciaram na aprendizagem, pois o modelo mental destes alunos para este conteúdo já estava elaborado. A análise das respostas dos alunos com baixo conhecimento mostra resultados diferentes. Observamos no Gráfico 3 que, para a maiora das questões, o uso do material modificado iguala ou aumenta o desempenho destes alunos no teste. O aumento do desempenho pode ser observado especialmente nas questões 2 e 3 de retenção e 6 de transferência, embora, segundo o teste estatístico aplicado isto não seja significativo. O Gráfico 4, a seguir, apresenta a média de notas alcançadas pelos alunos de todos os grupos para as questões 1 a 6 e permite a comparação entre todos os grupos. Gráfico 4: Média das notas dos alunos nos testes. 1,2 1 Grupo 1C 0,8 Grupo 1T 0,6 Grupo 2C 0,4 Grupo 2T 0,2 Fonte: Dados da pesquisa, 2010. Questão 6 Questão 5 Questão 4 Questão 3 Questão 2 Questão 1 0 69 Ao analisarmos o Gráfico 4, veremos que, de modo geral, os alunos com alto conhecimento prévio (1C e 1T) obtiveram melhor desempenho no teste independente do material didático utilizado. Interessante perceber que, na questão 4 o desempenho dos alunos foi bastante elevado para os dois grupos de alunos. Na questão 4 (APÊNDICE D), temos a particularidade da presença da imagem. Este fato foi notado pelos alunos e comentado por eles ao receberem esta questão, mostrando que consideravam as perguntas que continham figuras mais fáceis de responder do que as que não possuíam figuras. Isso mostra que o princípio multimídia auxilia não só na aprendizagem de um conteúdo, mas na forma de avaliar essa aprendizagem através de perguntas contendo imagens. Ao consultarmos um profissional especializado em análise estatística, este colocou que, muito provavelmente, esta falta de diferença significativa entre as médias esteja diretamente relacionada com o fato do n ser pequeno, ou seja, o tamanho da amostra ser reduzido. Neste caso, sugeriu que fizéssemos gráficos de distribuição das notas individuais para visualizarmos melhor o que aconteceu em cada grupo. As representações gráficas dos valores individuais das notas das questões 2 (de retenção) e 6 (de transferência) apresentadas na Figura 13 também mostram que a utilização do material modificado não altera o desempenho dos alunos com alto conhecimento. O mesmo aconteceu para todas as questões avaliadas. Desta forma, fica confirmado que as modificações no material não alterou o desempenho destes alunos. 70 Figura 13: Distribuição das notas das questões 2 e 6 dos alunos com alto conhecimento prévio que utilizaram o material não modificado (A) e o modificado (B). Fonte: Dados da pesquisa, 2010. 71 Por outro lado, a representação gráfica das notas individuais das questões 2, 3 e 6 apresentada na Figura 14 evidencia que o uso do material modificado proporcionou um aumento no desempenho dos alunos que utilizaram o material modificado (texto teste). Este resultado foi melhor observado nestas três questões do que nas outras. Observe nos gráficos desta figura que muitos alunos passaram da nota zero obtida quando utilizaram o material não modificado, para notas maiores quando utilizaram o material modificado, ou passaram de notas mais baixas obtidas através do uso de material não modificado, para notas mais altas, utilizando material modificado. Desta forma podemos inferir que as modificações promovidas no texto teste parecem ter interferido na aprendizagem dos alunos com baixo conhecimento prévio. Nossos resultados corroboram os de Mayer e Gallini (1990). Estes autores mostraram em sua pesquisa que ilustrações explicativas, como as utilizadas no texto teste (modificado), melhoram tanto a recordação de palavras como o desempenho na resolução de problemas de aprendizes com baixo conhecimento prévio, e que o mesmo não ocorre com os aprendizes com alto conhecimento prévio. 72 Figura 14: Distribuição das notas das questões 2, 3 e 6 dos alunos com baixo conhecimento prévio, que utilizaram o material não modificado (A) e o modificado (B). Fonte: Dados da pesquisa, 2010. 73 Podemos deduzir que, ao contrário dos aprendizes com alto conhecimento prévio, faltam aos aprendizes com baixo conhecimento prévio habilidades na visualização da informação e na seleção das informações que devem entrar na memória operacional. O texto simplificado e as imagens adaptadas no material modificado proporcionaram melhor desempenho aos aprendizes com baixo conhecimento prévio, pois: (1) foram excluídas as informações que não eram tão importantes naquele momento (princípio da coerência); (2) as informações importantes foram segmentadas e sinalizadas no texto e nas figuras através de cores, negritos e sublinhados (princípios da segmentação e da sinalização); (3) contém um número menor de informações, ou seja, consideram o número 7±2 elementos descritos em cada figura e (4) permitem uma melhor visualização das informações importantes tanto na figura quanto no texto (princípio da contiguidade espacial). 5.2.3 Análise qualitativa das dificuldades e sugestões dos alunos sobre o material didático e sobre o teste avaliativo A questão 7 teve o objetivo de saber se os alunos tiveram alguma dificuldade para compreender o texto e as figuras do material didático ou para responder às questões do teste. Alunos com alto conhecimento prévio, que utilizaram texto controle (Grupo 1C) tiveram várias dificuldades, dentre elas destacamos: − O curto tempo para estudar o texto; − A memorização pode ter interferido na resolução das questões, − A não compreensão de algumas questões com clareza; − A presença de palavras complicadas e grandes; − A facilidade de confundir as palavras; − A distância entre figuras e seu texto explicativo; − A necessidade de ter uma aula para tirar as dúvidas. Neste grupo dois alunos afirmaram que não houve dificuldades. Os alunos com baixo conhecimento prévio e que utilizaram o texto controle (Grupo 2C) relataram as seguintes dificuldades: 74 − A impossibilidade de absorver todas as informações; − A dificuldade de recordação de nomes e processos, sendo a memorização relatada várias vezes como fator de interferência na resolução das questões ou entendimento do texto; − O tempo curto para memorizar o assunto; − O fato de as questões serem abertas, pois, eram específicas e eles tinham pouco conhecimento; − A dificuldade de compreender o texto; − A falta de estudo e de interesse pelo assunto; − A presença de muitos nomes difíceis para lembrar. Então, a dificuldade de memorização, seja ligada ao tempo ou à complexidade do texto ou das palavras, foi citada várias vezes, mostrando a importância da memória de curto prazo para o aprendizado de embriologia. Cinco alunos desse grupo afirmaram não ter havido dificuldades. Os alunos com alto conhecimento prévio e que utilizaram o texto teste (Grupo 1T) relataram: − A dificuldade para recordar a matéria; − O pouco tempo para memorizar figuras e conteúdo; − A presença de nomes complexos e de difícil memorização; − A dificuldade das questões e da interpretação das mesmas; − A dificuldade de responder às questões sem ver as figuras. Três alunos afirmaram não haver dificuldades, afirmando que as figuras ilustram o texto e facilitam seu entendimento. E por fim, os alunos com baixo conhecimento prévio e que utilizaram o texto teste (Grupo 2T) relataram: − A dificuldade em relação ao entendimento das perguntas; − A dificuldade de focar a atenção; − O pouco tempo para estudar o texto; − A dificuldade de memorizar as figuras eficientemente; − A dificuldade na fixação de nomes complicados. 75 Oito alunos afirmaram não ter tido dificuldades. De modo geral, as dificuldades apontadas pelos alunos de todos os grupos foram bem parecidas, principalmente quanto ao tempo para memorizar ou compreender o assunto, a presença dos nomes complexos (típica do conteúdo de embriologia), e a dificuldades de entendimento das questões. Chama a atenção o fato de alguns alunos que utilizaram o texto controle enfatizarem a necessidade das figuras estarem junto do seu texto explicativo, ou seja, a necessidade de obedecer ao princípio da contiguidade espacial na elaboração de material didático. É interessante perceber que isto não foi relatado pelos alunos que utilizaram o texto teste modificado. Na questão 8 pedimos aos alunos que apontassem sugestões de modificação do texto ou das figuras e das questões do teste. A seguir, apresentamos as sugestões dos alunos do Grupo 1C: − Dar ao aluno mais tempo para estudar texto e figuras; − Tornar mais claras as legendas das figuras, quanto a qual estrutura ela se refere (as legendas deixadas no texto controle tinham muita informação desnecessária); − Incluir as figuras no texto; − Fazer perguntas de múltipla escolha; − Detalhar mais as explicações das figuras. Cinco alunos desde grupo não deram sugestões. Os alunos do Grupo 2C deixaram as seguintes sugestões: − Elaborar perguntas com figuras, ilustrações, pois, são de fácil entendimento; − Conciliar mais as figuras com o texto; − Tornar o texto menor e com linguagem mais simples. Isso mostra que o texto controle ficou grande e pouco claro, já que as figuras eram as mesmas do livro didático, com muita informação, inclusive informações desnecessárias, o que pode sobrecarregar a memória do o aluno. Além disso, a linguagem utilizada é muito complexa, podendo ser facilitada, acrescentando-se ao 76 texto o significado de cada palavra menos comum, para que o aluno a associe com as outras informações presentes. Como foi dito anteriormente, a distância entre figuras e texto também foi um fator negativo no texto controle. Os testes com figuras foram considerados mais fáceis de entender pelos alunos, talvez por utilizarem tanto o canal visual quanto o canal verbal, possibilitando uma melhor aprendizagem. Por isso houve o pedido de que houvesse mais figuras nas perguntas. Onze alunos deste grupo não deram sugestões. Para os alunos do Grupo 1T, as sugestões foram: − Fazer questões somente de múltipla escolha; − Dar mais informações no texto (talvez por já possuírem maior conhecimento, consideraram insuficientes as informações simplificadas); − Dar mais tempo para estudar o texto; − Tornar os textos mais claros e objetivos. Seis alunos deste grupo não deram sugestões. E, por fim, os alunos do Grupo 2T deixaram as seguintes sugestões: − Colocar legendas por cores, seguindo uma ordem cronológica para cada evento na figura (não foi possível entender o que o aluno quis dizer com isso); − Tornar os textos expostos de forma mais simples. Catorze alunos não deixaram sugestões neste grupo. De modo geral, percebemos que os alunos com alto conhecimento prévio tiveram mais condições de apontar dificuldades para o entendimento do material, ou seja, por possuírem um esquema mental sobre o conteúdo conseguem racionalizar sobre ele com mais propriedade. Não é possível saber se a ausência de dificuldades e sugestões pelos grupos que utilizaram o texto teste ocorreu porque o material estava realmente mais fácil de entender ou porque os alunos não conseguiram articular críticas sobre o material. Quanto à limitação do tempo, citado por quase todos os alunos, talvez não seja necessariamente a falta de tempo naquele momento um fator limitante para a leitura do texto ou resolução dos testes, mas a necessidade de recapitulação das informações várias vezes, em tempos diferentes, como vários dias de aula e estudo 77 em casa, por exemplo. Seria então, a necessidade do reforço para levar a informação para a memória de longo prazo, sendo possível também, a construção de esquemas mentais próprios de cada aluno. O efeito negativo de se combinar texto com figuras pode estar presente pelo efeito da redundância geral (CHANDLER & SWELLER, 1996 apud SCHNOTZ, 2005; SWELLER, VAN MERRIËNBOER, & PAAS, 1998 apud SCHNOTZ, 2005), que mostra que aprendizes com alto conhecimento prévio frequentemente não necessitam tanto de texto e figura como fontes de informação, porque uma fonte provê toda a informação requerida para a construção de um modelo mental. Assim, adicionar uma figura a um texto escrito ou um texto escrito a uma figura significa adição redundante, informação desnecessária, pois os olhos vagueiam entre as duas fontes, implicando em atenção dividida. O aprendiz, então, perde tempo e esforço mental com a procura por informação redundante, havendo um impacto negativo na aprendizagem, já que a capacidade da memória operacional para processar informação fica comprometida. O modelo integrado (CITF) de Schnotz (2005) resume esse efeito como o princípio da redundância geral: não combinar texto e figuras se aprendizes têm conhecimento prévio suficiente e habilidade cognitiva para construir um modelo mental de uma fonte de informação. 5.2.4 Avaliação qualitativa do material didático por professor da área Foi solicitado a um professor de Embriologia que avaliasse os materiais produzidos (texto teste e controle) para que pudéssemos perceber como outro profissional o aplicaria e até mesmo para aperfeiçoá-lo futuramente, caso fosse necessário. Os textos teste e controle foram enviados por e-mail para este professor, que respondeu as seguintes perguntas: (1) O que você achou das alterações feitas no material (texto tipo A)? Tornou o conteúdo mais claro? (2) Você acha que estas alterações facilitariam o trabalho em sala de aula e facilitariam o entendimento do conteúdo dos alunos? Por quê? (3) Você sugere outras alterações para tornar o material mais efetivo? Que alterações seriam essas? 78 Na primeira questão, o professor afirmou que texto e figura no texto A (material modificado) estavam mais fáceis de serem processados cognitivamente pelo aluno, pois, havia uma sequência didática, importante para compreensão do todo naquele conteúdo. Além disso, o texto e, principalmente, as figuras não estavam densos em informações, que poderiam provocar sobrecarga cognitiva, dificultando a aprendizagem. Para ele, o texto A estava bem mais claro que o texto B (material controle). Na segunda questão, o professor mencionou os diversos problemas existentes no ensino de Embriologia, mas principalmente, “a quantidade de termos técnicos e a complexidade das figuras, desencorajam os alunos em sua busca pela compreensão deste conteúdo”. Assim, considera importante haver pesquisas sobre o desenvolvimento de ferramentas didáticas que permitam a compreensão de determinado assunto, minimizando o stress cognitivo provocado pelo próprio conteúdo. Ele apontou vantagens existentes no texto A (modificado), tais como: permite uma compreensão mais rápida do conteúdo abordado; tem uma redução no número de informações em comparação com o texto B, deixando aquelas de maior relevância para a compreensão do assunto; a melhor posição das figuras, pois o aluno não precisa procurar por elas no texto, diminuindo o tempo para encontrar a informação. O material didático produzido nesta dissertação (texto teste) foi considerado pelo professor, como “uma ferramenta didática, que alivia a densidade de informações, característico do conteúdo de embriologia”. Quanto às sugestões de alteração do material, o professor indica que poderiam ser acrescentadas mais algumas explicações no texto, sem que determinasse uma sobrecarga cognitiva, por se tratar de um material usado no ensino superior. Podem-se introduzir informações que poderiam responder dúvidas que os alunos teriam ao lerem o texto, como por exemplo: da Figura 2 para Figura 3, aparece um blastocisto sem uma explicação de sua cavidade e da formação do embrioblasto. Além da informação presente no texto, poderia ser explicado que o embrioblasto se forma também pela “migração de células para periferia delimitando uma cavidade e formando um condensado de células denominado embrioblasto”. Ele sugere isto porque, na Figura 4 já aparece o termo embrioblasto, que não é explicado no texto, mas existe na figura. Já na explicação da Figura 4, pode-se 79 acrescentar “o embrioblasto delamina-se e forma o trofoblasto”, continuando na frente, entre parênteses: (parte do blastocisto que irá formar a parte embrionária da placenta). Segundo as sugestões do professor, “o aumento destas informações no texto não sobrecarregaria cognitivamente o processamento da informação e deixaria mais evidente o princípio da coerência entre texto e figura”. Mas, para ele, essas sugestões devem ser analisadas a partir da aplicação do texto nos alunos. Esta avaliação mostra que as modificações produzidas no nosso material foram consideradas positivas, mas, evidentemente não conseguiram eliminar todos os entraves para uma aprendizagem mais efetiva. Isto deixa claro que a avaliação do material didático produzido é essencial para promover o seu aperfeiçoamento. 5.3 Apontamentos para a construção de material didático para o ensino de embriologia a partir da análise dos resultados A construção dos materiais didáticos para o ensino de Embriologia, em especial dos livros didáticos, deve levar em conta que os alunos aprendem muito mais se entenderem o que estão aprendendo, do que se apenas memorizarem as informações a partir de um texto ou de uma aula expositiva (CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA DOS ESTADOS UNIDOS, 2007, p.298). Para favorecer essa compreensão, é necessário que textos complexos como os de Embriologia contenham explicações de algumas palavras de difícil memorização, o que permitiria relacionar e diferenciar palavras que poderiam ser confundidas. Seria interessante também levar em consideração os princípios que envolvem a aprendizagem multimídia especialmente quando se constrói material para alunos sem ou com baixo conhecimento prévio. Sendo assim, além dessas explicações, as figuras deveriam vir antes dos textos, caso não pudessem vir simultaneamente. Elas deveriam também estar próximas a eles, sendo esta uma sugestão dos próprios alunos desta pesquisa, em especial dos que utilizaram o texto controle. Tanto as figuras quanto o texto devem explicar primeiramente o que se deseja que o aluno aprenda para depois fornecer informações adicionais sobre curiosidades, exemplos e casos clínicos, pois isso faria com que ele focasse sua 80 atenção no assunto principal e depois de compreendê-lo, poder transferir seu conhecimento na resolução de problemas. Assim, o princípio da coerência deve ser seguido, através da exclusão de informações irrelevantes para o aprendizado em determinados momentos, havendo maior clareza e objetividade nos textos. A sinalização foi uma das sugestões dos alunos, pois chama a atenção para determinada estrutura de uma figura e sua relação com o texto, onde a palavra relacionada à estrutura também vai estar sinalizada, seja com cores, com sublinhado ou em negrito. Isto reforça o que foi proposto pelos autores como Van Merriënboer e Kester (2005) no princípio de sinalização. A complexidade do tema também faz com que o processo de memorização mínima, necessária para a aprendizagem, dependa do tempo de exposição ao assunto e de reforço do mesmo. Assim, é possível melhorar a aprendizagem com a utilização correta dos princípios multimídia na elaboração do material didático e com o tempo necessário para que sejam reforçadas as informações que entram pela memória sensorial e chegam até a memória operacional, sendo posteriormente armazenadas na memória de longo prazo, podendo ser acessadas posteriormente, até mesmo para relacioná-las a novas situações. Essas sugestões incluem também a forma de avaliar, pois questões mais claras, mais objetivas e com figuras diretas, sem sobrecarga que possam resgatar informações que também entraram pelo canal pictórico, poderão auxiliar o aluno a testar se o conhecimento foi apenas memorizado sem significado algum, ou se foi compreendido, havendo uma aprendizagem significativa. 81 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS É possível concluir a partir desta pesquisa que, no ensino de embriologia – e acreditamos que também no ensino de outras disciplinas –, é necessário e fundamental levar em consideração como o aluno aprende e o que pode facilitar sua aprendizagem. Especialmente, no momento de se produzir livros, materiais didáticos e de preparar e ministrar uma aula. Acreditamos que algumas mudanças, expostas a seguir, e discutidas nesta dissertação, podem ser feitas para elucidar uma explicação ou fazer com que o aluno consiga produzir esquemas mentais, por si próprio. Entre elas destacamos: (1) É importante simplificar ou reduzir o vocabulário de um material didático. Entretanto, isto não deve ser feito de forma a prejudicar o aluno em sua formação; (2) É necessário explicar o significado de palavras complexas, sua etimologia, para facilitar a compreensão do conteúdo de Embriologia; (3) O tempo para o aprendizado é essencial, pois, com linguagem complexa, torna-se necessário o reforço da exposição àquela situação, através do estudo minucioso, da leitura e da análise das figuras, confrontando-as com o texto, para maximizar a memória operacional, a formação de esquemas e seu armazenamento na memória de longo prazo; (4) A grande quantidade de informações dada de uma só vez também dificulta a aprendizagem. Então, as informações devem seguir o princípio da sequência, sendo apresentadas das mais simples para as mais complexas, possibilitando maior rendimento na aprendizagem; (5) A forma de avaliar a aprendizagem dos alunos, o tipo de questões, seus enunciados e até mesmo as diferenças individuais dos alunos interferiram nos resultados, já que algumas questões foram interpretadas de maneira incorreta ou superficial, o que pode ser um sinal de uma elaboração insatisfatória dos testes para se atingir o resultado esperado e do próprio material produzido, por falhas em enfatizar determinadas informações consideradas importantes e que estavam presentes nos testes. 82 Nossa pesquisa permitiu concluir também que a observação dos princípios da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia na elaboração de material didático multimodal, especialmente para alunos com baixo conhecimento prévio, diminui a sobrecarga cognitiva, facilita a entrada e organização das informações na memória operacional, facilita a construção de modelos e esquemas mentais e contribui, assim, para uma aprendizagem efetiva. Dessa forma, seria importante considerar os princípios da multimídia na produção de material didático, pois podem evidentemente trazer benefícios ao processo ensino/aprendizagem. Baseando-se principalmente na análise qualitativa dos dados referentes à avaliação do material didático produzido nesta dissertação, consideramos que este trabalho atingiu o seu objetivo principal de construir um produto capaz de aprimorar o ensino de embriologia, promovendo aprendizagem dos alunos. Nossa pesquisa também significou um avanço na produção de materiais didáticos, pois apontou caminhos que, mesmo que devam ser aprimorados, promoveram a compreensão dos estudantes de um conteúdo complexo como a embriologia. Acreditamos que este trabalho, além de trazer apontamentos, abre perspectivas interessantes na direção da melhoria do ensino não só de Embriologia, mas de outros conteúdos da Biologia. Seria interessante, por exemplo, a realização de pesquisas que confrontassem os textos integrais de livros didáticos e textos modificados para se obter um resultado mais próximo do real, pois, como comprovado por esta pesquisa, os livros didáticos deixam de seguir muitos dos princípios multimídia que contribuem para a aprendizagem significativa, sobrecarregando a memória operacional do aluno, dificultando a formação de esquemas. Concordamos com sugestão dada por Moreno & Valdez (2005) de que é necessário que sejam realizados estudos que combinem e coordenem explicações verbais com apresentações visuais para reduzir a carga cognitiva de estudantes e melhorar a aprendizagem. Os autores sugerem ainda que estes estudos devem tirar vantagem das capacidades de transformação de computadores em auxiliar os aprendizes na elaboração de seus modelos mentais. Nesta perspectiva, seria interessante avaliar também o uso de objetos de aprendizagem virtuais no ensino de embriologia. 83 REFERÊNCIAS ABREU, Simone de et al. Suporte a Ambientes Virtuais Multiusuário Integrados a Sistemas de Ensino a Distância através do MPEG-4. Disponível em: <http://www.niee.ufrgs.br/eventos/SBC/2000/pdf/semish/semi007.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2009. AZEVEDO, Simone G. et al. Modelo Didático de Embriologia: fertilização e implantação. In: XVII Semana da Biologia, 03 a 06 de Setembro de 2007. UNIOESTE, Campus Cascavel-PR. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/ eventos/OLD_mesmo_antigos/semanadabio2007/resumos/EE_06.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2010. BADDELEY, Alan; EYSENCK, Michael W.; ANDERSON, Michael C. Memory. New York: Psychology Press, 2009. 451 p. CARVALHO, Ana Amélia Amorim. Multimídia: um conceito em evolução. Universidade do Minho Braga, Portugual: Revista Portuguesa em Educação. v. 15, n. 001. 2002. 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Figura 1 – O ovócito liberado na tuba uterina é penetrado pelo espermatozoide, formando o zigoto, que irá sofrer clivagem (divisão), passando por vários estágios até chegar ao estágio de blastocisto, o qual se implantará no endométrio (revestimento interno do útero). (Fig. 2-23 adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 45, 2004.) Figura 2 – A zona pelúcida (camada glicoproteica que envolve o blastocisto) se degenera (dia 5). Seu desaparecimento resulta do crescimento do blastocisto e da degeneração causada por lise enzimática. (Fig. 2-19 adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 42, 2004.) 1 Texto modificado de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 58-61, 2004. 89 Figura 3 – O blastocisto adere ao epitélio endometrial (dia 6). O trofoblasto é a parte do blastocisto que formará a parte embrionária da placenta e o embrioblasto é a parte do blastocisto que formará o embrião. (Fig. 2-22 adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 44, 2004.) Figura 4 – O trofoblasto se diferencia em duas camadas – sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto (dia 7). (Fig. 2-22 adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 44, 2004.) 90 Figura 5 – Os tecidos endometriais são erodidos por enzimas produzidas pelo sinciciotrofoblasto, permitindo que o blastocisto penetre no endométrio (dia 8). (Fig. 3-1A adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 51, 2004.) Figura 6 – Surgem lacunas cheias de sangue no sinciciotrofoblasto (dia 9). O disco embrionário formará o futuro embrião. (Fig. 3-1C adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 51, 2004.) 91 Figura 7 – O blastocisto penetra no endométrio e a falha neste endométrio é preenchida por um tampão (dia 10). O sangue materno e os restos celulares das glândulas erodidas formam um fluido que irá nutrir o embrião através da rede lacunar, até que se desenvolva completamente a placenta. (Fig. 3-2A adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 52, 2004.) Figura 8 – Lacunas adjacentes se fundem e formam redes lacunares (dias 10 e 11). O sangue materno entra e sai dessas redes, estabelecendo a circulação uteroplacentária (dias 11 e 12). (Fig. 3-2B adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 52, 2004.) 92 Figura 9 – A, A falha no epitélio endometrial desaparece gradualmente com a reparação do epitélio (dias 12 e 13) e surgem as vilosidades coriônicas primárias, que também formarão a placenta (dias 13 e 14). B, Ao mesmo tempo em que ocorre a implantação, inicia-se o desenvolvimento de alguns anexos embrionários e o disco embrionário sofre modificações. Esses detalhes serão estudados posteriormente. (Fig. 3-5A e B adaptada de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 52, 2004.) 93 APÊNDICE B – CD-ROM COM O PRODUTO DA DISSERTAÇÃO 94 APÊNDICE C – TEXTO CONTROLE A IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO TIPO B 95 IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO NO ÚTERO1 A implantação do embrião inicia-se no fim da primeira semana a partir da fecundação, completando-se durante a segunda semana. O ovócito liberado na tuba uterina é penetrado pelo espermatozoide, formando o zigoto, que irá sofrer clivagem (divisão), passando por vários estágios até chegar ao estágio de blastocisto, o qual se implantará no endométrio (revestimento interno do útero) (Fig. 2-23). A implantação pode ser resumida da seguinte maneira: • A zona pelúcida (camada glicoprotéica que envolve o blastocisto) se degenera (dia 5). Seu desaparecimento resulta do crescimento do blastocisto e da degeneração causada por lise enzimática (Figura 2-19). • O blastocisto adere ao epitélio endometrial (dia 6) (Figura 2-22). • O trofoblasto (parte do blastocisto que irá formar a parte embrionária da placenta) se diferencia em duas camadas – sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto (dia 7). O embrioblasto formará o embrião. (Figura 2-22). • Os tecidos endometriais são erodidos por enzimas produzidas pelo sinciciotrofoblasto, permitindo que o blastocisto penetre no endométrio (dia 8) (Figura 3-1A). • Surgem lacunas cheias de sangue no sinciciotrofoblasto (dia 9). O disco embrionário formará o futuro embrião. (Figura 3-1C). • O blastocisto penetra no endométrio e a falha neste endométrio é preenchida por um tampão (dia 10). O sangue materno e os restos celulares das glândulas erodidas formam um fluido que irá nutrir o embrião até que se desenvolva completamente a placenta. (Figura 3-2A). • Lacunas adjacentes se fundem e formam redes lacunares (dias 10 e 11). O sangue materno entra e sai dessas redes, estabelecendo a circulação uteroplacentária (dias 11 e 12). (Figura 3-2B). • A falha no epitélio endometrial desaparece gradualmente com a reparação do epitélio (dias 12 e 13) e as vilosidades coriônicas primárias, que também formarão a placenta, são formadas (dias13 e 14). Ao mesmo tempo em que ocorre a implantação, inicia-se o desenvolvimento de alguns anexos embrionários e o disco embrionário sofre modificações. (Figura 3-5A e B). 1 Texto modificado de MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, p. 58-61, 2004. 96 97 98 99 100 101 APÊNDICE D – TESTES DE RETENÇÃO, DE TRANSFERÊNCIA E SOBRE DIFICULDADES E SUGESTÕES DOS ALUNOS QUANTO AO TEXTO E QUANTO AOS TESTES TESTES DE RETENÇÃO: 1- O que será formado a partir do trofoblasto? 2- O que será formado a partir do embrioblasto? 3- Como é realizada a nutrição do embrião enquanto a placenta não está completamente formada? 4- Marque com um X a figura em que os nomes das estruturas estão corretas: 102 TESTES DE TRANSFERÊNCIA: 5- Explique o que poderia acontecer com o embrião se não houvesse a formação do sinciciotrofoblasto. 6- Explique o que poderia ser afetado(a) na relação mãe/embrião se não surgissem as lacunas de sangue no sinciciotrofoblasto. DIFICULDADES E SUGESTÕES DOS ALUNOS: 7- Você teve alguma dificuldade para compreender o texto e as figuras ou para responder às questões? Se sim, qual(is) dificuldade(s)? 8- Por favor, caso você ache necessário, deixe alguma sugestão para modificação do texto e das figuras. 103 APÊNDICE E – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do estudo: Proposta de figuras e texto sobre a implantação do embrião no útero para o ensino de Embriologia Humana. Prezado(a) Senhor(a): Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao pesquisador que explique as palavras ou informações não compreendidas completamente. Introdução: Você está sendo convidado(a) a participar de forma totalmente voluntária. 1. 2. 3. Antes de concordar em participar desta pesquisa é muito importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste documento. Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes de você se decidir a participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito. Objetivo do estudo: propor modificações em imagens e texto de livros de Embriologia Humana para a melhoria do processo de ensino aprendizagem desta disciplina. Especificamente, analisar as restrições cognitivas existentes nos conteúdos sobre o processo de implantação do embrião no útero; analisar a carga cognitiva de determinadas imagens; promover modificações nas imagens, produzindo um material mais eficaz para a aprendizagem do aluno e por fim, testar o material modificado. Procedimentos. Sua participação nesta pesquisa consistirá na leitura de um texto sobre a implantação do embrião no útero e na resposta às questões feitas antes e depois da leitura do texto, sendo essas questões relacionadas ao conteúdo proposto. Benefícios. O provável benefício será a contribuição para a melhoria do ensino de Biologia, especificamente para o ensino de Embriologia Humana. Riscos. O risco possível seria a divulgação de algum dado sobre as respostas dadas nas questões, que fosse pessoal. Como as respostas são anônimas, não haverá um risco maior, pois os resultados do estudo serão sempre apresentados como o retrato de um grupo e não de uma pessoa. Dessa forma, você não será identificado quando o material de seu registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica ou educativa. Mesmo assim, os pesquisadores terão o verdadeiro cuidado com o arquivamento dos questionários coletados e este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Sigilo. As informações fornecidas por você serão confidenciais e de conhecimento apenas dos pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo poderão fornecer qualquer esclarecimento sobre o estudo, assim como tirar dúvidas, bastando contato no seguinte endereço e/ou telefone: Nome do pesquisador: Cristiana Soave Endereço: Rua Durval Batista de Oliveira, 44 – Vila Mariana, Paracatu – Minas Gerais. Telefone: (38) 3671 0904/ 8824 0224 104 Declaração de consentimento Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este termo de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem perda de benefícios ou qualquer outra penalidade. Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo. Nome do participante (em letra de forma) --Assinatura do participante ou representante legal Data Obrigada pela sua colaboração e por merecer sua confiança. --Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador Data 105 APÊNDICE F – FICHA PESSOAL DO ALUNO Idade: _____________ Sexo: ( ) feminino Tipo de texto: ( ( ) masculino ) TEXTO A ( ) TEXTO B (O tipo de texto está escrito na capa do mesmo.)