País dos himalaias - Fátima Missionária

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ACTUALIDADE
Nepal prepara futu
Num acto de loucura alimentado pelo álcool e por um
obcecado com a astrologia e que nunca conseguiu cativar
desgosto amoroso, o príncipe herdeiro assassinou numa
verdadeiramente o seu povo. A necessidade de um acordo
noite de Junho de 2001 o seu pai, o rei Birendra, e quase
de paz com os poderosos rebeldes maoistas forçou agora
toda a família. Depois suicidou-se com a metralhadora
a imposição da república no pequeno país dos Himalaias,
que trazia consigo. Sete anos passados, o Nepal deixou
mas os verdadeiros desafios continuam em aberto:
de ser uma monarquia. Ao popular Birendra sucedera o
contrariar a pobreza extrema que afecta ainda dois em
seu irmão, o novo rei Gyanendra, um homem de negócios
cada cinco nepaleses
texto Leonídio Paulo Ferreira* foto Lusa
O
dia 11 de Junho de 2008 foi histórico: Gyanendra abandonou o
palácio real em Catmandu e voltou a ser um cidadão comum. O Nepal
deixava de ser uma monarquia e transformava-se numa república. Desde 1979,
quando o Xá da Pérsia foi deposto pela
Revolução Islâmica no Irão, que nada do
género acontecia no mundo. Agora, com
o impopular monarca forçado a regressar
à sua vida de homem de negócios, os 28
milhões de nepaleses esperam que os pro-
blemas do país comecem a ser resolvidos.
A última década tem sido tumultuosa para o Nepal, país encravado
entre as gigantes Índia e China. Uma
rebelião maoista, inspirada no ideal comunista do falecido líder chinês Mao
Tsé-tung, fez 12 mil mortos e mais de
cem mil desalojados desde meados da
década de 1990 até ser concluído um
acordo de paz em 2006. E em 2001, o
massacre da família real pelo próprio
príncipe herdeiro deixou fragilizada a
País dos himalaias
GEOGRAFIA Situado entre a Índia e
a China, o Nepal é um pequeno país
dos Himalaias que tem no seu território a mais alta montanha do mun-
China
Hi
Nepal
Índia
ma
lai
as
Monte Evereste
Catmandu
do, o monte Evereste (8848 metros).
ÁREA 147 181 quilómetros quadrados.
POPULAÇÃO 28 milhões de habi­
tantes.
CAPITAL Catmandu.
LÍNGUA Nepalês.
RELIGIÃO Hinduísmo (maioritário) e
budismo.
ESPERANÇA DE VIDA 63 anos (Homens), 64 anos (Mulheres).
RENDIMENTO POR HABITANTE 290
dólares/ano.
ECONOMIA Turismo atrai muitas divisas. Exporta tapetes, vestuário, artigos
em couro e em juta.
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monarquia de uma forma que se viria
a revelar fatal. Agora, após umas eleições para uma assembleia constituinte, onde os ex-rebeldes se revelaram o
principal partido do país, a monarquia
foi formalmente abolida e discutem-se
os moldes da nova república asiática.
País de maioria hindu, o Nepal depende muito do turismo, sobretudo motivado pela atracção pelo Monte Evereste
e os seus 8848 metros de altitude, e pelo
exotismo de Catmandu. São os turistas
que trazem o essencial das divisas e dinamizam uma economia ainda muito
agrícola. Mas, com 40 por cento da população a viver na pobreza, a rebelião
maoista ganhou muitos adeptos ao longo dos anos, sobretudo nas zonas rurais.
A impopularidade do governo foi crescendo à medida que o exército cometia
abusos e que o próprio rei Gyanendra,
cansado da ineficácia dos políticos, se
apoderava do poder executivo (em 2002
e depois em 2005-2006). Senhores de
vastas regiões do país e com aliados nas
classes operária e estudantil das grandes
cidades, os maoistas liderados por Prachanda, o Irredutível, foram impondo a
sua força e conseguiram um acordo de
paz em 2006 que os transformou em partido do governo. Depois, numa prova de
força, impuseram eleições constituintes
para se abolir a monarquia, conseguindo
ro sem rei
Agricultores manifestam-se nas ruas de Catmandu, capital do Nepal, pelo direito ao pão e à terra
um surpreendente resultado que lhes deu
220 dos 601 assentos e os transformou
na principal força política do país. Agora, derrubado Gyandendra, o debate é em
torno do cargo de presidente. Os outros
partidos, com destaque para o influente
Congresso, defendem uma função essen-
cialmente cerimonial. Mas os maoistas
exigem um presidente com poderes efectivos e sonham em ver o seu chefe, um
engenheiro agrónomo, no cargo.
Habitantes de um dos países
mais pobres do mundo, os nepaleses
esperam que a mudança de regime
Habitantes de um dos países mais pobres
do mundo os nepaleses esperam que a mudança
de regime lhes traga melhorias
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lhes traga melhorias. Para já a paz é
só por si uma boa notícia, até porque os próprios guerrilheiros maoistas
praticavam também muitos abusos,
inclu­sive recrutando à força jovens nas
aldeias. E o fim de uma dinastia com
dois séculos, adorada até à chegada do
im­popular Gyanendra ao poder, terá for­
çosamente de trazer compensações a
um povo que está cansado de assistir
a lutas de poder.
* jornalista do Diário de Notícias
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