Ereignisse – pequenas histórias do destruidor de histórias Thomas Bernharda Marcelo Paiva de Souza∗ Ruth Bohunovsky∗∗ Yuri Kulisky∗∗∗ Tradução recebida em: 30/03/2013 Tradução aceita em: 08/04/2013 Thomas Bernhard (1931-1989) é um dos nomes mais importantes da literatura de língua alemã pós-1945, o artista do exagero, o autor negativo par excellence. No Brasil, vários livros da sua autoria têm sido traduzidos e publicadosb, porém (ainda) há pouca discussão acadêmica sobre sua obra, e o destino desse autor em nosso país parece ser o mesmo que lhe foi reservado em outros contextos: um escritor muito lido – porém, não pelo público em geral, mas por outros escritores: Jonathan Franzen, Enrique Vila-Matos, Italo Calvino e, no Brasil, Cristóvão Tezza são apenas alguns escritores que ressaltam sua fascinação pelo polêmico autor austríaco e sua linguagem vertiginosa, radical e hiperbólica.c A partir de 1963, ano do sucesso do seu primeiro romance, Frost, Thomas Bernhard produziu nove romances, mais de vinte peças teatrais, vários contos e ensaios, assim como os cinco volumes que compõem sua autobiografia. Recebeu, ao longo da vida, um grande número de prêmios literários – eventos retratados por Bernhard de maneira hilariante em Meine Preise [Meus prêmios, 2011]. Embora Bernhard seja geralmente associado a uma visão extremamente pessimista em relação ao mundo, ao seu país e à UFPR, docente adjunto III, [email protected] ∗ UFPR, docente adjunto III, [email protected] ∗∗ UFPR, aluno de graduação, [email protected] ∗∗∗ In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 240 espécie humana em geral, esse último livro traduzido no Brasil deve contribuir para trazer à tona de maneira mais clara o lado humorístico e cômico do autor – presente, de um modo ou outro, em todos os trabalhos, mas percebido pela crítica apenas tardiamente. A seguir apresentamos traduções de alguns contos de Bernhard, reunidos originalmente sob o título de Ereignisse (1969). Trata-se de contos muito curtos, de um parágrafo só, que lembram, pelo menos à primeira vista, outros contos também curtíssimos e já publicados no Brasil: aqueles reunidos em Der Stimmenimitator (1978) (O imitador de vozes, 2009). Tanto os contos de Ereignisse quanto aqueles de Der Stimmenimitator parecem não se encaixar muito bem no restante da obra bernhardiana em prosa. O escritor ficou conhecido, sobretudo, pelos seus romances que são nada mais que monólogos aparentemente intermináveis e praticamente sem divisão em parágrafos, com frases extremamente compridas, repetitivas, hiperbólicas, cheias de estruturas sintáticas vertiginosas; livros com fábulas muito simples, reduzidos apenas à reflexão de um personagem ou narrador no limite entre a perturbação e a loucura. Assim, quando Thomas Bernhard publicou, em 1978, o livro Der Stimmenimitator, crítica e público ficaram surpresos. O escritor famoso pelas idiossincrasias linguísticas e por revelar as trevas da alma humana e da sociedade (austríaca), ofereceu com o referido título uma coletânea de contos sucintos, geralmente com um fechamento surpreendente e de humor mordaz. Um Thomas Bernhard “para iniciantes”d como considerou um crítico (apud SCHMIDT-DENGLER, 2010, p. 61). A recepção foi ambígua, não houve concordância nem em relação à definição do gênero literário ao qual poderiam pertencer os mais de cem pequenos textos, nem se seria um novo Thomas Bernhard ou o Thomas Bernhard de sempre – a concordia discors usual da crítica acerca desse escritor. Poucos críticos viram que Bernhard já havia publicado textos formalmente parecidos, justamente em Ereignisse (1969), ainda sem tradução no Brasil, e dos quais apresentamos, a seguir, alguns textos selecionados e suas traduções para o português. In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 241 Apesar da semelhança formal e temática entre os contos de Ereignisse e aqueles do Der Stimmenimitator, Schmidt-Dengler (2010) chama a atenção para uma diferença importante: enquanto os contos do Imitador de Vozes revelam uma relação óbvia, embora velada, com a geografia e com pessoas históricas reais, os textos reunidos em Ereignisse constituem muito mais parábolas, que sugerem a procura por algum significado, mas não a procura por um modelo ou um referente real (Schmidt-Dengler, 2010). Os temas, por sua vez, são os mesmos que dominam toda a obra de Thomas Bernhard: morte, loucura, doença, medo, nojo, violência, indiferença, desespero. São contos que ressaltam o caráter paradoxal e absurdo da vida, narrativas que se encerram muitas vezes com uma ou mais mortes banais – “[...] cadáveres em liquidação [...]”e(REICH-RANICKI, 1969, apud DITTMAR, 1990, p. 109). O que torna a tradução de qualquer texto de Thomas Bernhard um desafio extraordinário é a sua linguagem, sobretudo no que tange aos recursos retóricos, à sintaxe – que vai até, ou além dos limites e das possibilidades da língua alemã – e aos neologismos. Como aponta o tradutor espanhol de Bernhard, Miguel Sáenz, em seu trabalho ele se via constantemente dividido entre a vontade de “[...] alisar, banalizar, simplificar [...]” a linguagem do escritor austríaco e torná-la assim mais acessível e legível – tendência exigida também pela editora – e sua própria vontade de manter o “[...] estilo de Bernhard [...]”f (SÁENZ, 1995, p. 88). Ao traduzir os contos a seguir, buscamos produzir textos que mantenham o estilo lacônico dos textos de partida – laconismo que remete já à faceta humorística do autor –, a linguagem marcadamente ritmada, as características retóricas, sonoras (aliterações, assonâncias, por exemplo) e (a)gramaticais, assim como as ambiguidades semânticas e os paradoxos, e procuramos seguir uma sintaxe que desafie e ultrapasse os limites das convenções também em português (por exemplo, pondo o verbo no final da frase). Os contos reunidos em Ereignisse representam textos menos complexos da autoria de Bernhard para um tradutor, se comparados, por exemplo, com romances como Das Kalkwerk ou Korrektur, ambos ainda sem tradução no In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 242 Brasil. Eles podem ser lidos – e traduzidos – como um exercício inicial para um mergulho posterior mais aprofundado na obra fascinante de Thomas Bernhard, pois – como disse Peter Hamm –, “[...] uma vez que se tenha contato com o mundo de Thomas Bernhard, este mundo se torna integralmente inevitável [...]”g (BERNHARD, 1973, quarta página). Os contos de Bernhard são mais legíveis que os seus romances, a trama é reconhecível e a linguagem menos redundante. Nesses textos curtos, o destruidor de histórias – como Bernhard se autodenominou – produziu narrativas mais tradicionais, mas que não deixam de ser relevantes e expressivas no contexto do restante da sua obra. Nesse sentido, antes de apresentar alguns contos e suas traduções, permitamo-nos ainda citar uma passagem maior de Bernhard Sorg que não apenas comenta acerca do papel dos contos de Ereignisse dentro do todo da obra de Bernhard, mas resume também algumas características da sua linguagem tão característica e inseparável dos conteúdos temáticos dos seus livros. Sorg destaca que os contos de Ereignisse [...] apresentam, numa concentração exemplar, aqueles temas que fundam a obra dos anos seguintes. As cenas, que não ocupam mais de uma página, são, num sentido estrito, sem relação entre si, mas têm algo em comum nos motivos que são iguais ou parecidos e no estilo linguístico sucinto que, num primeiro momento, pode ser sentido como contraste irritante aos fatos horríveis ou banal-horríveis relatados, mas que se revela, ao leitor mais paciente, como a forma adequada da apresentação; o horror descrito, seja ele inusitado ou cotidiano, torna-se ainda mais intenso através da maneira simples e sem adorno da descrição, a ausência de qualquer tentativa de explicação ou explicitação do contexto de desespero sem saída e de brutalidade, da falta de saída da vida, que se manifesta em brutalidade e a brutalidade de uma falta de saída sentida constantemente. (SORG, 1977, apud DITTMAR, 2002, p. 38)h In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 243 Referências bibliográficas BERNHARD, Thomas. Das Kalkwerk. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1973. BERNHARD, Thomas. Ereignisse. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1991. DITTMAR, Jens (Org.). Thomas Bernhard Werkgeschichte. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1990. SÁENZ, Miguel. „Transtorno“ versus „Verstörung“. In: BAYER, Wolfram. Kontinent Bernhard: zur Thomas-Bernhard-Rezeption in Europa. Viena, Köln, Weimar: Böhlau, 1995, p. 83-90. SCHMIDT-DENGLER, Wendelin. Der Übertreibungskünstler – Zu Thomas Bernhard. Viena: Sonderzahl Verlagsgesellschaft, 2010. SORG, Bernhard. Thomas Bernhard. Munique: Beck, 1977. In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 244 (p. 7-8)i Dois jovens fogem para uma torre, que servia à defesa da cidade, e a escalam sem dizer uma palavra. Não querem extinguir seu silêncio com uma traição, e se dirigem com impensada rapidez a seu propósito. Na metade da altura da torre observam uma fração incalculável da paisagem, na qual a torre está. O frio dos muros os deixa como se estivessem cambaleando para cima em um pedaço de gelo: com bocas abertas e braços estirados à frente, na ideia de que com estes gestos semi-sinceros pudessem reduzir artificialmente a distância que querem cobrir. Agora se mostra que a moça, através de sua fantasia, consegue avançar com maior rapidez que o jovem rapaz, mentalmente limitado, e, é importante observar, a moça, apesar de subir oito ou dez lances atrás do jovem rapaz, seu amante, sobe, na verdade, quinze ou vinte lances à frente dele. A torre inteiramente sem janelas é uma introdução às trevas, e como tal é claramente reconhecível. Quando finalmente chegam ao topo, se despem e caem nus nos braços um do outro. (p. 8-9) A moça está num banco debaixo de uma macieira próxima ao portão principal de um edifício semelhante a um castelo, que fica num vale alto e que um distinto cavalheiro, em uma de suas caminhadas, que o levava de igreja em igreja e de uma à outra das construções excepcionais, descobriu. Ele permanece de pé na cerca do jardim e está fascinado pela beleza da moça, que tem longas tranças. Ele faz como se escrevesse algo em seu caderno de notas, mas na verdade observa a moça ininterruptamente. Ele está sendo observado pelas irmãs do convento, que trabalham na horta; mas não se dá conta. Ele não quer destruir a tensão que há entre a moça e ele; por isso também não avança para falar com ela. Mas num determinado momento ele vai se apresentar, pensou, e conversar com a moça. Ele vai contar de suas viagens, e o contato está desta maneira rapidamente estabelecido. Vai discursar sobre o mundo, no qual vive. Mas no instante em que ele decide In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 245 postar-se diante da moça, a moça estica uma longa perna com meia-calça no ar e estira suas tranças com ambas as mãos. Como ela não sabe falar, profere sons incompreensíveis. Ela puxa tanto as tranças que o sangue de seus olhos enegrece. Só agora o cavalheiro percebe que se encontra nas imediações de um hospício, e as abandona rapidamente, ignorando as irmãs do convento, que seguram a moça e a arrastam para dentro da casa. (p.15) A violoncelista sabe, entre ela e o regente da opereta só há o asco. Apesar disso ela se enfia todo dia à mesma hora através da porta do quarto dele e na cama dele. O mal dos trinta anos toma posse dela e quanto mais ela se defende disso, mais o processo de sua destruição caminha desimpedidamente à frente. Sob o telhado do conservatório ela toca as frases intermináveis da sonata, nas quais se lança como um animal, para rasgá-las. Com inacreditável brutalidade ela se esfomeia, passa o dia bêbada na cama, para então exercer seu trabalho de aniquilamento com uma energia ainda maior. Ela vende tudo, e de repente fica com um único vestido, preto e de golaalta. Despedaça, segurando com ambas as mãos seu braço, o instrumento. Ela apressa tudo. Ri. Se cala. Depois do último encontro com o regente da opereta, senta sobre uma maleta de artista no corredor escuro e chora. (p. 20-1) O ator toma parte na representação de um conto de fadas, na qual ele atua como o feiticeiro mau. Enfiam-no em uma pele de ovelha e em um par de sapatos pequenos demais, que esmagam seus pés. O traje todo é tão desconfortável que ele se esvai em suor mas ninguém vai ver e, aliás, atuar para crianças é a melhor coisa, pois elas são o público mais grato. As crianças, trezentas, se assustam com sua entrada, pois estão totalmente fascinadas com o jovem casal, que ele transforma em dois animais diferentes. Elas prefeririam ver apenas o casal, jovem, envolvido em roupas coloridas, e mais nada, mas In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 246 nesse caso a peça não seria realmente uma peça e em pouco tempo seria monótona; pois pertence desde sempre aos contos de fada uma figura maligna e incompreensível que tem como objetivo destruir os bons, os compreensíveis, ou ao menos fazer deles figuras ridículas. Agora a cortina se ergue pela segunda vez, e as crianças não se controlam mais. Elas despenham das poltronas para o palco e é como se não houvesse apenas trezentas, mas muitas vezes esse número e apesar de o ator choramingar e lhes suplicar por debaixo da máscara para não continuarem com os chutes e os socos, que elas lhe aplicam com objetos duros, metálicos, elas não se deixam influenciar e o arrebentam por tanto tempo e o pisoteiam por tanto tempo, que ele não se move mais e suas mãos pálidas e mutiladas se projetam no ar empoeirado em direção às luzes do palco. Quando os outros atores vêm correndo e descobrem que seu colega ator está morto, as crianças rebentam num riso monstruoso e tão alto que ali mesmo todos perdem a sanidade. (p. 26-7) O professor ficou louco enquanto estudava as borboletas. Primeiro, ele é trazido à instituição, que deixa novamente dois anos depois, pois chega-se à conclusão de que sua loucura não é perigosa para o mundo. Ele tinha a peculiaridade de dançarolar pelo parque com uma rede de borboleta, o que é muito engraçado; pois o professor tem uma figura graciosa. Ele quase não come, e, por desejo dele, deixa-se um grande quadro-negro em seu quarto, no qual ele escreve a palavra ALEGRIA. Sempre que ele escreve ali a palavra ALEGRIA, chama o zelador da instituição, e o manda apagá-la com uma grande esponja. Toda vez recebe do professor uma moeda pelo serviço, de modo que já tem um saco inteiro dessas moedas reunidas. Quando o professor precisa deixar a instituição, pelo que ele fica muito triste, pergunta se não poderiam deixar a palavra ALEGRIA escrita no quadro. Diz que dará ao zelador a ordem do apagamento, num momento ainda muito distante. De fato, os empregados da instituição ficam inconsoláveis quando vão buscar o professor e o levar à quinta de sua irmã. Embora lá ele possa se mover livremente, ele In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 247 vive apenas da lembrança de sua estada na instituição. Tudo que houve antes ele já esqueceu há muito. Aqui na quinta, no verão, ele veste roupas de cor branca e creme. Os camponeses fazem troça dele quando o veem subir a colina agitando a rede de borboleta. No entanto, a partir de um certo dia ele quer deixar a casa somente durante a noite, o que sua irmã e o médico da família, que dedicam a ele toda a sua existência, não querem permitir. Mas ele leva a cabo sua vontade. Diz que quer capturar as luzes, toda luz, pois não há nada tão valioso como a luz. Diz que quer colecionar as luzes, as guardar em um lugar seguro e publicar um livro sobre elas. Então passeia tranquilo durante as noites e captura as luzes. Numa noite, chega à linha do trem. Ele segura a rede de borboleta contra ambas as rápidas grandes emergentes luzes do tremexpresso. Quando elas estão quase em sua frente, ele as captura com um rápido movimento de suas pequenas mãos ajuntadas. (p. 37-8) Uma máquina, que é como uma guilhotina, corta grandes pedaços de uma massa de borracha que se move lentamente diante dela, e os deixa cair numa linha de montagem que se movimenta no andar de baixo, onde estão sentadas as ajudantes, que têm de controlar os pedaços cortados e finalmente os embalar em grandes caixas. A máquina opera há apenas nove semanas, e ninguém que compareceu à comemoração esquecerá o dia em que ela foi entregue à direção da fábrica. Ela foi trazida à fábrica em um vagão de trem construído só para ela, e os oradores enfatizaram que esta máquina representava um dos maiores avanços da técnica. Ela foi saudada por uma banda de música quando chegou à fábrica, e os operadores e os engenheiros receberam a máquina tirando os chapéus. Sua montagem tomou quinze dias, e os donos puderam se convencer de sua eficiência e confiabilidade. Ela só precisa ser lubrificada regularmente, de quinze em quinze dias, com óleos especiais. Para esse propósito, uma empregada deve subir por uma escada de aço em espiral e deixar o óleo fluir lentamente através de uma válvula. A empregada foi informada de tudo nos mínimos detalhes. Mesmo assim, essa In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 248 moça escorrega tão desafortunadamente que acaba decapitada. Sua cabeça rebenta lá embaixo, como os pedaços de borracha. As ajudantes, que estão sentadas na linha de montagem, ficam tão horrorizadas que nenhuma delas consegue gritar. Elas manejam a cabeça da moça de forma rotineira, como os pedaços de borracha. A última pega a cabeça e a embala em uma caixa. (p. 58-9) O ditador selecionou, entre mais de cem candidatos, um engraxate. Ele não o encarrega de nada além de limpar seus sapatos. Isso agrada o homem simples do campo, e ele ganha peso rapidamente e, com os anos, tornou-se idêntico a seu superior – e é subordinado apenas ao ditador – por um fio de cabelo. Talvez isso se atribua, em parte, ao fato de que o engraxate come a mesma comida que o ditador. Ele logo adquire o mesmo nariz gordo e, depois que perdeu seu cabelo, também a mesma cabeça. Uma boca balofa sai dali, e quando esgarça um sorriso, dão-se os dentes. Todos, mesmo o ministro e os confidentes mais próximos, temem o engraxate. De noite ele cruza as botas e toca um instrumento. Escreve longas cartas à família, que espalha sua fama por todo o campo. “Quando se é o engraxate do ditador”, dizem eles, “também se é o mais próximo do ditador”. E realmente o engraxate é o mais próximo do ditador; pois sempre tem de sentar diante da porta dele e até mesmo dormir ali. De modo algum deve se distanciar de onde ele está. Uma noite, no entanto, quando se sente forte o suficiente, entra repentinamente no quarto, acorda o ditador e o espanca com socos, matando-o. O engraxate se livra rápido de suas roupas, despe o ditador morto e se mete ele mesmo nas roupas do ditador. Constata diante do espelho do ditador que ele realmente se parece com o ditador. Decide num átimo, precipita-se para a porta e grita, que seu engraxate o atacou. Que em legítima defesa o espancou e o matou. Que ele deve ser removido e a família, avisada. In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 249 (p. 7-8) Zwei junge Leute flüchten in einen Turm, der zur Verteidigung der Stadt diente, und besteigen ihn, ohne ein Wort zu sprechen. Sie wollen ihr Schweigen nicht durch einen Verrat auslöschen und gehen mit gedankenloser Schnelligkeit an ihr Vorhaben. In halber Höhe des Turms erblicken sie einen nicht errechenbaren Ausschnitt der Landschaft, in welcher der Turm steht. Die Kälte der Mauern läßt sie wie in einem Eisklumpen zur Höhe taumeln: mit offenen Mündern und nach vorn ausgestreckten Armen, in der Idee, daß sie durch diese halbwahren Gebärden die Entfernung, die sie zurücklegen wollen, künstlich verringern könnten. Nun zeigt sich, daß das Mädchen durch ihre Phantasie größere Schnelligkeit betreiben kann als der geistig beschränkte junge Mann, und es ist wichtig festzustellen, daß das Mädchen, obwohl es acht oder zehn Treppen hinter dem jungen Mann, ihrem Liebhaber, emporsteigt, in Wahrheit ihm um fünfzehn oder zwanzig Treppenlängen voraus ist. Der völlig fensterlose Turm ist eine Vorstufe der Finsternis und als solche ganz deutlich erkennbar. Als sie endlich oben angekommen sind, ziehen sie sich aus und fallen sich nackt in die Arme. (p. 9-10) Das Mädchen sitzt auf einer Bank unter einem Apfelbaum neben dem Haupttor zu einem schloßähnlichen Gebäude, das in einem Hochtal liegt und das ein vornehmer Herr auf einer seiner Wanderungen, die ihn von Kirche zu Kirche und von einer besonderen Baulichkeit zur anderen führt, entdeckt hat. Er bleibt am Gartenzaun stehen und ist von der Schönheit des Mädchens, das lange Zöpfe trägt, fasziniert. Er tut so, als schriebe er etwas in sein Notizbuch, in Wirklichkeit aber beobachtet er das Mädchen ununterbrochen. Er wird von den Klosterschwestern, die im Gemüsegarten arbeiten, beobachtet; aber das bemerkt er nicht. Er will die Spannung, die zwischen dem Mädchen und ihm besteht, nicht zerstören; darum geht er auch nicht hin, um es anzusprechen. Aber zu gegebenem Zeitpunkt wird er sich vorstellen, denkt er, und eine In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 250 Unterhaltung mit dem Mädchen herbeiführen. Er wird von seinen Reisen erzählen, und der Kontakt ist auf solche Weise bald hergestellt. Er wird von der Welt, in der er lebt, berichten. In dem Augenblick aber, in welchem er sich entschließt, vor das Mädchen hinzutreten, streckt das Mädchen ein lang bestrumpftes Bein in die Luft und zerrt mit beiden Händen an ihren Zöpfen. Da es nicht sprechen kann, stößt es unverständliche Laute hervor. Es zieht so lange an den Zöpfen, bis ihm das Blut die Augen verfinstert. Jetzt erst bemerkt der Herr, daß er sich auf dem Grundstück eines Irrenhauses befindet, und er verläßt dieses augenblicklich, ohne von den Klosterschwestern Notiz zu nehmen, die das Mädchen packen und in das Haus hineinziehen. (p. 15) Die Cellistin weiß, zwischen ihr und dem Operettenkapellmeister ist nur der Ekel. Trotzdem schlüpft sie jeden Tag zur gleichen Stunde durch die Tür seines Zimmers und in sein Bett. Das Übel der Dreißigjährigen hat von ihr Besitz ergriffen und so sehr sie sich dagegen wehrt, der Prozeß ihrer Zerstörung schreitet unaufhaltsam fort. Unter dem Dach des Konservatoriums spielt sie die unaufhörlichen Sonatensätze, in die sie wie ein Tier hineinstürzt, um sie zu zerreißen. Mit unglaublicher Rücksichtslosigkeit hungert sie, tagelang liegt sie betrunken im Bett, um dann mit um so größerer Energie ihr Vernichtungswerk zu betreiben. Sie verkauft alles, steht plötzlich mit einem einzigen schwarzen, hochgeschlossenen Kleid da. Zerschlägt, es mit beiden Händen am Hals packend, das Instrument. Sie beschleunigt alles. Lacht. Ist schweigsam. Nach dem letzten Zusammensein mit dem Operettenkapellmeister sitzt sie im finsteren Gangloch auf einem Artistenkoffer und weint. (p. 20-1) Der Schauspieler tritt in einem Märchenspiel auf, in dem er die Rolle des bösen Zauberers spielt. Er wird in einen Schafspelz gesteckt und in ein Paar viel zu kurze Schuhe, die ihm die Füße zusammenpressen. Das ganze Gewand In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 251 ist so unangenehm, daß er in Schweiß ausbricht, aber das sieht ja niemand und überhaupt spielt er vor keinem so gern wie vor Kindern; denn sie sind das dankbarste Publikum. Die Kinder, dreihundert, erschrecken bei seinem Auftritt, denn sie sind ganz für das junge Paar eingenommen, das er in zwei ungleiche Tiere verzaubert. Am liebsten würden sie nur das junge, in bunte Kleider gehüllte Paar sehen, sonst nichts, aber dann wäre das Spiel kein richtiges Spiel und schon nach kurzer Zeit langweilig; denn zu einem Märchenspiel gehört seit jeher eine bösartige undurchschaubare Gestalt, die das Gute, Durchschaubare, zu zerstören oder wenigstens lächerlich zu machen trachtet. Da nun zum zweitenmal der Vorhang aufgeht, sind die Kinder nicht mehr zu halten. Sie stürzen aus den Sesseln und auf die Bühne und es ist, als wären es nicht mehr nur dreihundert, sondern ein Vielfaches dieser Zahl und obwohl der Schauspieler unter der Maske weint und sie anfleht, doch einzuhalten mit ihren Fußtritten und Schlägen, die sie ihm mit harten, metallenen Gegenständen versetzen, lassen sie sich nicht beeinflussen und schlagen so lange auf ihn ein und trampeln so lange auf ihm herum, bis er sich nicht mehr rührt und seine bleichen verstümmelten Hände in die staubige Luft des Schnürbodens hineinragen. Als die anderen Schauspieler herbeigeeilt kommen und feststellen, daß ihr Mitspieler tot ist, brechen die Kinder in ein ungeheures Gelächter aus, das so groß ist, daß sie darin alle ihren Verstand verlieren. (p. 26-8) Der Professor ist über dem Studium der Schmetterlinge verrückt geworden. Er wird zuerst in die Anstalt gebracht, nach zwei Jahren jedoch wieder entlassen, weil man darauf gekommen ist, daß seine Verrücktheit für die Welt nicht gefährlich ist. Er hatte die Eigenart, mit einem Schmetterlingsfänger im Park herumzutänzeln, was sehr lustig aussieht; denn der Professor hat eine zierliche Figur. Er nimmt fast keine Mahlzeiten zu sich und auf seinen Wunsch läßt man in seinem Zimmer eine große schwarze Schultafel aufstellen, auf die er das Wort FREUDE schreibt. Immer, wenn er das Wort FREUDE darauf geschrieben hat, läutet er dem Anstaltsgehilfen, der es mit einem großen In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 252 Schwamm wieder auslöschen muß. Jedesmal bekommt er dafür von dem Professor eine Münze, so daß er schon einen ganzen Sack solcher Münzen beisammen hat. Als der Professor die Anstalt verlassen muß, worüber er sehr traurig ist, bittet er, man möge das Wort FREUDE auf der Tafel stehen lassen. Er werde dem Gehilfen den Befehl zum Auslöschen zu einem Zeitpunkt geben, der noch sehr ferne sei. Tatsächlich sind die Angestellten der Anstalt nicht zu trösten, als der Professor abgeholt und auf das Landgut seiner Schwester gebracht wird. Dort kann er sich zwar frei bewegen, aber er lebt nur noch in der Erinnerung an den Aufenthalt in der Anstalt. Alles, was vorher war, hat er längst vergessen. Hier auf dem Landgut, zur Sommerzeit, trägt er weiße und cremefarbene Kleider. Die Bauern machen sich über ihn lustig, wenn sie ihn, den Schmetterlingsfänger schwingend, über den Hügel spazieren sehen. Von einem bestimmten Tag an jedoch will er das Haus nur noch in der Nacht verlassen, was ihm seine Schwester und der Hausarzt, die ihr ganzes Dasein ihm widmen, nicht gestatten wollen. Aber er setzt seinen Willen durch. Er sagt, er wolle die Lichter einfangen, jedes Licht, denn es gibt nichts Kostbareres als Licht. Er wolle die Lichter sammeln, sie an einem sicheren Ort aufbewahren und ein Buch über sie veröffentlichen. So spaziert er ungestört durch die Nächte und fängt die Lichter ein. Nachts kommt er auf das Bahngeleise. Er hält seinen Schmetterlingsfänger gegen die beiden rasch größer werdenden Lichter des Expreßzuges. Als sie knapp vor ihm sind, fängt er sie mit einer raschen Bewegung seiner kleinen zusammengepreßten Hände ein. (p. 37-8) Eine Maschine, die wie eine Guillotine ist, schneidet von einer sich langsam fortbewegenden Gummimasse große Stücke ab und läßt sie auf ein Fließband fallen, das sich einen Stock tiefer fortbewegt und an welchem Hilfsarbeiterinnen sitzen, die die abgeschnittenen Stücke zu kontrollieren und schließlich in große Kartons zu verpacken haben. Die Maschine ist erst neun Wochen in Betrieb, und der Tag, an welchem sie der Fabrikleitung übergeben wurde, wird niemand, der bei dieser Feierlichkeit anwesend war, vergessen. Sie In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 253 war auf einem eigens für sie konstruierten Eisenbahnwaggon in die Fabrik geschafft worden, und die Festredner betonten, daß diese Maschine eine der größten Errungenschaften der Technik darstelle. Sie wurde bei ihrem Eintreffen in der Fabrik von einer Musikkapelle begrüßt, und die Arbeiter und die Ingenieure empfingen sie mit abgenommenen Hüten. Ihre Montage dauerte vierzehn Tage, und die Besitzer konnten sich von ihrer Arbeitsleistung und Zuverlässigkeit überzeugen. Sie muß nur regelmäßig, und zwar alle vierzehn Tage, mit besonderen Ölen geschmiert werden. Zu diesem Zweck muß eine Arbeiterin eine Stahlwendeltreppe erklettern und das Öl durch ein Ventil langsam einfließen lassen. Der Arbeiterin wird alles bis ins kleinste erklärt. Trotzdem rutscht das Mädchen so unglücklich aus, daß es geköpft wird. Sein Kopf platzt wie die Gummistücke hinunter. Die Arbeiterinnen, die am Fließband sitzen, sind so entsetzt, daß keine von ihnen schreien kann. Sie behandeln den Mädchenkopf gewohnheitsmäßig wie die Gummistücke. Die letzte nimmt den Kopf und verpackt ihn in einen Karton. (p. 58-9) Der Diktator hat sich aus über hundert Bewerbern einen Schuhputzer ausgesucht. Er trägt ihm auf, nichts zu tun als seine Schuhe zu putzen. Das bekommt dem einfachen Manne vom Land, und er nimmt rasch an Gewicht zu und gleicht seinem Vorgesetzten – und nur dem Diktator ist er unterstellt – mit den Jahren um ein Haar. Vielleicht ist das auch zu einem Teil darauf zurückzuführen, daß der Schuhputzer dieselbe Kost ißt wie der Diktator. Er hat bald dieselbe dicke Nase und, nachdem er seine Haare verloren hat, auch denselben Schädel. Ein wulstiger Mund tritt heraus, und wenn er grinst, zeigt er die Zähne. Alle, selbst die Minister und die nächsten Vertrauten des Diktators fürchten sich vor dem Schuhputzer. Am Abend kreuzt er die Stiefel und spielt auf einem Instrument. Er schreibt lange Briefe an seine Familie, die seinen Ruhm im ganzen Lande verbreitet. “Wenn man der Schuhputzer des Diktators ist”, sagen sie, “ist man dem Diktator am nächsten.” Tatsächlich ist der Schuhputzer auch dem Diktator am nächsten; denn er hat immer vor seiner In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 254 Türe zu sitzen und sogar dort zu schlafen. Auf keinen Fall darf er sich von seinem Platz entfernen. Eines Nachts jedoch, als er sich stark genug fühlt, betritt er unvermittelt das Zimmer, weckt den Diktator und schlägt ihn mit der Faust nieder, so daß der tot liegen bleibt. Rasch entledigt sich der Schuhputzer seiner Kleider, zieht sie dem toten Diktator an und wirft sich selbst in das Gewand des Diktators. Vor dem Spiegel des Diktatores stellt er fest, daß er tatsächlich aussieht wie der Diktator. Kurz entschlossen stürzt er vor die Tür und schreit, sein Schuhputzer habe ihn überfallen. Aus Notwehr habe er ihn niedergeschlagen und getötet. Man solle ihn fortschaffen und seine hinterbliebene Familie benachrichtigen. a Neste trabalho, Marcelo Paiva de Souza orientou a tradução, feita por Yuri Kulisky, das passagens literárias de Ereignisse, de Thomas Bernhard. Ruth Bohunovsky é autora do texto introdutório às traduções. b O primeiro, em 1991, foi Árvores Abatidas (Holzfällen), traduzido por Lya Luft – justamente o livro citado por George Steiner e Harold Bloom nas suas listas do cânone literário mundial (apud SchmidtDengler, 2010, p. 264). Em 1992, seguiu O sobrinho de Wittgenstein – uma amizade (Wittgensteins Neffe, tradução por Ana Maria Scherer); em 1999, Perturbação (Verstörung, tradução por Hans Peter Welper e José Laurenio de Melo), e, em 2000, o último romance lançado pelo autor, Extinção (Auslöschung, tradução por José Marcos Mariani de Macedo). Em 2006, publicou-se o romance O náufrago (Der Untergeher) e, reunido num único livro, os cinco volumes da autobiografia, com o título Origem. Os textos autobiográficos foram publicados separadamente por Bernhard entre 1975 e 1982, com os títulos Die Ursache, Der Keller, Der Atem, Die Kälte, Ein Kind. Em 2009, é lançada no Brasil a coletânea de contos curtos O imitador de vozes (Der Stimmenimitator) e, recentemente em 2011, Meus Prêmios (Meine Preise). Todos esses últimos títulos foram traduzidos por Sergio Tellaroli. c Não deve ser ignorada também a presença bernhardiana no teatro brasileiro. A primeira montagem de que temos notícia data de 1996. A encenação (da peça No alvo, com tradução de Wolfgang Pannek e Annette Ramershoven), realizada no Instituto Goethe de São Paulo, foi dirigida por A. Ramershoven e Luciano Chirolli, e contou, entre outros, com a grande atriz Maria Alice Vergueiro. Também merece menção uma montagem dirigida por Luciano Alabarse, que estreou no Festival de Teatro de Curitiba, em 2002 (e em seguida fez apresentações noutras capitais, São Paulo entre elas), sob o título Almoço na casa do sr. Ludwig. Por fim, um espetáculo apresentado no Rio em meados de 2009: Exercício nº 2: formas breves, dirigido por Bia Lessa. A diretora costurou textos de vários autores – Dostoievski, Tchekhov, Kafka, Musil, Canetti, Joyce, Sérgio Sant’Anna, Almodóvar, Bernhard – em uma montagem fascinante. Isto não esgota a lista do que já se fez, mas indica um dado significativo: o processo de assimilação da In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 255 obra de Bernhard à cultura brasileira parece se dar em via dupla – editorial e cênica – , em uma dinâmica de permanente retroalimentação entre essas duas dimensões. d “für Anfänger” e „Leichen im Ausverkauf“ f “Bernhards Stil” g „Thomas Bernhards Welt, ist man erst einmal mit ihr in Berührung gekommen, ist ganz und gar unausweichlich.“ h „[...] präsentieren in beispielhafter Konzentration jene Themen, die das Werk der folgenden Jahre begründen. Kaum länger als eine Seite sind die Szenen, die, im strengen Sinn unverbunden, doch ihr Gemeinsames haben in ähnlichen oder gleichen Motiven, dem knappen Sprachduktus, der angesichts des geschilderten Entsetzlichen oder Banal-Entsetzlichen zunächst als irritierender Gegensatz empfunden werden mag, sich geduldigerem Zusehen jedoch als angemessene Form der Darbietung enthüllt: der dargestellte Schrecken, sei er ungewöhnlich oder alltäglich, erfährt durch die karg-schmucklose Art der Beschreigung eine ungemeine Intensivierung, die Abwesenheit jeden Versuchs einer Erklärung oder Verständlichmachung verstärt die Aura von Ausweglosigkeit und Brutalität, der Ausweglosigkeit des Lebens, die sich in Brutalität niederschlägt und der Brutalität einer stets sich neu erfahrenen Ausweglosigkeit.“ i Na edição consultada, os contos de Ereignisse não contam com um título destacado do corpo do texto. Os títulos correspondem às primeiras palavras do conto – substantivos referentes a personagens – formatadas em versalete. Tais destaques figuram como título apenas no Inhalt do livro. Para melhor localizar os textos, as páginas dos respectivos contos antecedem sua apresentação, e a marcação do título em versaletes foi substituída por itálicos. In‐Traduções, ISSN 2176‐7904, Florianópolis, v. 5, n. 8, p.240‐256, ene./jun., 2013. 256