O Quatro é um Quadrado Série Mátema Objetivos 1. Contar um pouco da história do número quatro e dos números quadrados; 2. Fazer algumas considerações sobre o famoso teorema de Fermat. O Quatro é um Quadrado Série Mátema Conteúdos História da matemática. Duração Aprox. 10 minutos. Objetivos 1. Contar um pouco da história do número quatro e dos números quadrados; 2. Fazer algumas considerações sobre o famoso teorema de Fermat. Sinopse Através da história O quatro é um quadrado, a professora apresenta a Joãozinho e Sofia uma parte da longa história do número quatro e dos números quadrados. O programa mostra ainda alguns fatos marcantes da intrigante história envolvendo o último teorema de Fermat. Material relacionado Áudios: Teorema de Fermat; Experimentos: Qual é a área do quadrilátero; Introdução Sobre a série A série Mátema levanta aspectos históricos dos fundamentos da matemática. O contexto da ficção tem o objetivo de tornar o programa interessante para o ensino médio e para adolescentes, uma vez que faz uso do estereótipo do Joãozinho, da Sofia e da professora. Em geral, os assuntos são mais elaborados do que os que são vistos nos programas de ensino médio. No entanto, o programa traz ricas informações e tem o devido cuidado com as definições e conclusões matemáticas. Sobre o programa Aqui reproduzimos parte de uma versão do roteiro original do prof. Dicesar Fernandes que deu origem ao programa. Primeira Parte: Oi, gente, estamos novamente com vocês de volta com o Joãozinho, aquele menino terrível, a Sofia, aquela aluna aplicada, mas que tem uma queda por atormentar o Joãozinho, e nossa gentil e simpática professora, para contar mais uma das muitas histórias da história da matemática. Hoje, vamos conversar sobre o número quatro, sobre os números quadrados e sobre um problema relacionado que levou mais de 350 anos para ser resolvido. Esse problema é conhecido como o último teorema de Fermat. Vamos também falar do notável Euler, de Gauss e de um nome estranho, Andrew Wiles, aliás, Sir Andrew Wiles. Agora, acompanhe-nos com nossa história: O QUATRO É UM QUADRADO Joãozinho: Chega! Não aguento mais essa música! Professora: O que foi Joãozinho? ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 3/14 Sofia: Não foi nada, professora, ele é um estraga prazeres mesmo. Joãozinho: Essa música é de criança! Quem inventou isso? Um, dois, feijão com arroz... Professora: Calma, gente! Quem inventou isso não sei. Mas é muito interessante que existam tantas expressões envolvendo o número quatro. Pensem só: gritar aos quatro ventos, procurar nos quatro cantos do mundo, tão certo quanto duas vezes dois é igual a quatro. Sofia: Tem outra, professora: melhor um pássaro na mão que quatro Joãozinhos sentados. Professora: Sofia, não comece com provocações. O Joãozinho levantou um assunto muito interessante, que dá muito pano pra manga e vai acabar no infinito. Joãozinho: O que, dona? Só não queria mais ouvir cantar essa música, não quero acabar no infinito. Professora: Acalme-se Joãozinho, isso vai ser em outra aula. Sofia: Sei, professora, isso do infinito é meio complicado, mas o quatro não é um simples número? Professora: É um simples número, mas é também o primeiro quadrado perfeito maior que um. Quatro é dois ao quadrado. Para os pitagóricos, era um número místico, representava os elementos essenciais: ar, água, terra e fogo. Joãozinho: Ei, dona, eu sei que a gente fala dois ao quadrado. Mas que sentido tem isso? Professora: Essa linguagem é uma herança dos gregos, Joãozinho. Os gregos tinham uma visão geométrica das coisas. Pitágoras, e talvez outros antes dele, contava e calculava com pequenas pedras. Veja que com quatro pedras você pode formar um quadrado. Cada lado é definido por duas pedras. Você sabe quando um número é chamado um quadrado perfeito? ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 4/14 Joãozinho: Ah, sei lá! Sofia: Eu sei! Um número é um quadrado perfeito se for o produto de outro número por ele mesmo! Professora: Muito bem, Sofia! Mas você imagina porque esses números são chamados quadrados perfeitos? Sofia: Bem... Isso eu não sei. Joãozinho: Se deu mal, sabichona! Professora: É porque, a exemplo do quatro, pegando pedrinhas ou fazendo pontos num papel, podemos construir outros quadrados, completando o quadrado do quatro. Aliás, os gregos estudavam não só os números quadrados, mas também os triangulares, os retangulares, os pentagonais e assim em diante. Mas hoje estamos falando apenas dos números quadrados. Sofia: Mas, professora, o que é estudar um número quadrado, ou outro qualquer? Professora: Estudar esses números é procurar propriedades dos mesmos, Sofia. Por exemplo, note que quatro é igual a um mais três. Nove é três ao quadrado, mas também é um mais três mais cinco. Qual é então o próximo número quadrado? Sofia: Bem... Vamos ver é... Joãozinho: Vai, sua espertalhona, vai... Sofia: DEZESSEIS! Dezesseis, que é quatro ao quadrado e é também um mais três mais cinco mais sete. Joãozinho: Exibida... Professora: Por favor, Joãozinho, chega de provocações. ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 5/14 Sofia: Professora! Eu calculei o próximo quadrado perfeito. É vinte e cinco. Cinco ao quadrado. Professora: Muito bem, mas note que vinte cinco também é um mais três mais cinco mais sete mais nove. A soma dos cinco primeiros números ímpares. Sofia: Que interessante! Os números quadrados são somas de números ímpares! Professora: Isso é um exemplo da aritmética que os gregos faziam. Uma outra propriedade é que todo número retangular é soma de dois números triangulares. Joãozinho: disso? Professora, isso é lindo, mas o que eu ganho sabendo Professora: Já te mostro o que você vai ganhar, Joãozinho... Mas, apesar de que estudar as propriedades dos números, ou seja, a teoria dos números, tenha sido por um bom tempo uma das partes da matemática sem aplicações, hoje as coisas estão completamente mudadas. A teoria dos números é muito importante, por exemplo, na criptografia. Sofia: Essas histórias de criptas me assustam! Professora: Nada haver, Sofia. Criptografia é uma ciência. Por exemplo, vocês já viram, nos supermercados, que todos os produtos têm uma etiqueta com muitas barrinhas. Aquelas barrinhas contém várias informações, como o preço do produto. Isso é uma informação criptografada. As barrinhas são distribuídas de acordo com leis baseadas na teoria dos números. Sofia: Puxa, professora, a teoria dos números parece muito interessante. Professora: É verdade. Além disso, as propriedades dos números que são usadas nas barrinhas já tinham sido estudadas por Gauss. No ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 6/14 entanto, Gauss não tinha idéia para que essa propriedades serviam. E vejam que Gauss era um homem prático, pois era também astrônomo. Joãozinho: Sofia: Prático? Mas astrônomo não vive no mundo da lua? Eu disse, é melhor ter um pássaro na mão que... Bem, amigos, acho melhor fazermos um pequeno intervalo para o Joãozinho e a Sofia esfriarem os ânimos. Depois voltaremos a falar de quadrados. Aproveitem esse tempo e desenhem os primeiros quadrados perfeitos, começando com o um e depois conservando o anterior no canto esquerdo inferior completem em novos quadrados. Depois, contem os pontos que formam esses quadrados. Bem, façam isso que nós voltamos logo! Segunda Parte: Estamos de volta. O Joãozinho e a Sofia se entenderam depois que a professora teve uma longa conversa com cada um. E agora, o que será que eles descobrirão? Bom, ouçam a seguir o segundo bloco do nosso programa de hoje. Sofia: Professora, por falar em quadrados, eu ouvi dizer que o teorema de Pitágoras não é do Pitágoras. É verdade? Professora: Parece que sim, Sofia. Casos particulares do chamado teorema de Pitágoras já eram conhecidos desde, pelo menos, 1600 anos antes de Cristo, tanto no Egito quando na Mesopotâmia. A tripla 3, 4 e 5 era usada no Egito para construir triângulos retângulos. Na Mesopotâmia, pelo menos o caso dos triângulos isósceles era conhecido. Joãozinho: professora? Mas porque então é chamado teorema de Pitágoras, Professora: Para ser sincera eu não sei, e não acredito que alguém saiba, Joãozinho. Pitágoras formou uma seita mística, com umas regras curiosas que seus membros deviam respeitar. Depois da morte de Pitágoras, a seita foi desfeita por problemas de poder. Mas ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 7/14 pequenos grupos ou indivíduos, que se denominavam pitagóricos, continuaram existindo, pelo menos até o século cinco depois de Cristo. Como a geometria euclidiana continuava em moda e o teorema da hipotenusa é um dos teoremas mais importantes, provavelmente foi uma maneira dos pitagóricos homenagearem o mestre. Mesmo nos Elementos de Euclides não há qualquer referência ao nome de Pitágoras. Mas o que é realmente importante é o teorema e os problemas associados. Por exemplo, achar triplas de números naturais como x, y e z, tais que o quadrado de z seja decomposto na soma do quadrado de x mais o quadrado de y. Sofia: Eu só conheço uma tripla, professora: 3, 4 e 5. Professora: Mas existem muitas, Sofia. 15, 20 e 25 é uma tripla. 7, 24 e 25 é outra ... Na realidade, a construção dessas triplas, chamadas triplas pitagóricas, têm uma história muito interessante. Joãozinho: Ah, é? E que história é essa, professora? Professora: Olha, Joãozinho, por volta de 1650, havia em Toulouse, na França, um advogado que era representante da justiça real chamado Pierre de Fermat. Fermat, apesar de ser advogado e de viver envolvido com leis, gostava muito de matemática. Na verdade, ele gostava tanto de estudar matemática que acabou entrando para a história da matemática, por vários motivos. Um deles está ligado aos quadrados e triplas pitagóricas. Um dos teoremas que Fermat provou é o seguinte: se um número primo tem a forma 4n+1, então é a hipotenusa de apenas uma tripla pitagórica, mas seu quadrado é a hipotenusa de duas triplas, seu cubo a hipotenusa de três triplas, e assim por diante. Mas na realidade, ele é mais conhecido por um teorema que ele não provou. Sofia: Que teorema é esse, professora? Joãozinho: Que mania de querer saber teoremas dessa menina. Professora: Joãozinho! Bem, o livro que Fermat mais gostava tinha por título justamente a palavra Aritmética. Esse livro foi escrito por Diofanto de Alexandria. Diofanto viveu no século dois ou três depois ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 8/14 de Cristo. A Aritmética de Diofanto trata de vários problemas envolvendo números, e a edição que Fermat possuía tinhas generosas margens. Exatamente nessas margens é que Fermat escreveu a maioria de seus teoremas, sem demonstrações. Sofia: Se fosse o Joãozinho sabe-se lá o que ele ia escrever nas margens! Joãozinho: Você tem certeza que quer saber? Professora: Meninos! Bem, um dos problemas proposto no livro de Diofanto era sobre as triplas pitagóricas: dividir um quadrado na soma de dois quadrados. Em outras palavras, dado um número quadrado, decompô-lo na soma de dois quadrados. Fermat escreveu ao lado: “Mas um cubo não pode ser decomposto na soma de dois cubos; um número elevado a quatro não pode ser decomposto na soma de dois números elevado a quatro, e assim por diante”. Em outras palavras, não existem triplas pitagóricas para potências maiores que dois. Simples, não é? Sofia: Parece simples, professora, mas Fermat demonstrou isso em algum lugar? Professora: Na margem, ao lado do problema de Diofanto, Fermat escreveu em seguida: descobri uma demonstração maravilhosa desse teorema, mas é muito extensa e não cabe nesta margem. Ninguém viu essa demonstração Joãozinho: gigantesca? Ah, não acredito! Essa demonstração por acaso era Sofia: Mas, professora, como é que a gente vai confiar que um número cubo não pode ser decomposto na soma de dois números cubos? Professora: Bem, depois da morte de Fermat, seu filho publicou uma nova edição da Aritmética de Diofanto, incluindo todas as 48 anotações feita pelo seu pai. A partir disso, os matemáticos ficaram intrigados com as observações e logo começaram a fazer as ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 9/14 demonstrações dessas observações, uma por uma. Mas uma delas resistiu. Justamente aquela em que Fermat afirmava não existir triplas pitagóricas para potências maiores que dois. Alguns começaram a duvidar se ele tinha mesmo demonstrado o teorema ou ainda se ele era válido ou não. E ficou conhecido como o último teorema de Fermat. Sofia: Mas alguém conseguiu demonstrar, professora? Professora: Muitos tentaram! Euler, um dois mais notáveis matemáticos da história demonstrou os casos n=3 e n=5. Já Gauss desdenhou do assunto. Alguns chegaram a oferecer fortunas para quem conseguisse demonstrar o último teorema de Fermat. Um alemão, no começo do século vinte, ofereceu uma recompensa de cem mil marcos, uma fortuna então. Sofia: E ninguém conseguiu provar o teorema de Fermat e desistiram de tentar? Professora: Pelo contrário, Sofia. Mesmo os insucessos nas tentativas contribuíam para o avanço da matemática. E como Euler, outros também deram suas contribuições. Por exemplo, um matemático chamado Wagstaff demonstrou que o teorema era verdadeiro de n=3 até n=125.000. Incrível, não? Posteriormente, em 1983, um matemático de nome Faltings demonstrou que para n maior que três, se existissem as triplas, elas seriam em número finito. Sofia: difícil. Pelo jeito a demonstração do teorema de Fermat é muito Professora: Dificílima. No entanto, apareceu um matemático inglês, nascido em 1953, chamado Andrew Wiles, professor numa importante universidade americana. Wiles era bem conhecido entre especialistas. Em 1993, ele agendou três conferências na universidade de Cambridge. Mesmo sem ter anunciado o tema sobre o qual iria falar, suas conferências foram bastante concorridas. Surpreendentemente, Wiles anunciou que tinha a demonstração completa do último teorema de Fermat! Tinha trabalhado sete anos quase em segredo e a demonstração ocupava nada menos que duzentas páginas. Certamente ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 10/14 não caberia na margem do livro de Diofanto, como observou o próprio Fermat. Sofia: Então a história teve um final feliz? Professora: Sabe que ainda não? Encontraram uma falha na demonstração de Andrew Wiles. Joãozinho: Nossa, essa história não tem fim! Professora: É, mas Wiles não desistiu. Trabalhou mais um ano e conseguiu corrigir a falha. Os especialistas concordaram. Finalmente, em 1994, 358 anos depois de Fermat ter escrito sua observação na margem do livro de Diofanto, o último teorema de Fermat estava demonstrado. A demonstração é tão difícil que somente poucos especialistas conseguem acompanhar as idéias de Andrew Wiles. Joãozinho: Professora, eu não entendo o porquê de tanto esforço por causa de um teoreminha, de um mísero teoreminha! Pois é, Joãozinho, você pode não entender, mas esse teorema colocou Andrew Wiles na história da matemática. Foi um feito tão extraordinário que a rainha da Inglaterra fez dele um cavaleiro do reino. Agora o professor de matemática Andrew Wiles chama-se Sir Andrew Wiles. Bem, amigos, essa foi mais uma das histórias da professora, da Sofia e do Joãozinho. Muito obrigado pela atenção e até a próxima história das muitas histórias da matemática. Sugestões de atividades Antes da execução Sugere-se antes da execução do áudio que o professor aborde questões referentes aos referentes aos números quadrados ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 11/14 Definições: Quadrado perfeito: É um número inteiro que representa o produto de um outro número inteiro por ele mesmo. Propriedades: Os números quadrados podem ser formados por somas de números ímpares. 1 = 12 1 + 3 = 22 1 + 3 + 5 = 32 1 + 3 + 5 + 7 = 42 1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 52 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 = 6 2 M 1 + 3 + 5 + 7 + 9 + 11 + L + ( 2n − 1) = n 2 Ou seja, a soma dos primeiros n números ímpares é igual a n 2 . Depois da execução Sugere-se ao professor, após a execução do áudio, construir as formas quadráticas propostas no intervalo dos blocos. Exercício proposto: O primeiro quadrado perfeito é o um: Total de pontos = 1 x 1 = 1. Aumentando-se uma unidade a cada lado temos o próximo quadrado perfeito, o quatro: Total de pontos do quadrado = 2 x 2 = 4. Acrescentando mais uma unidade a cada lado do quadrado temos: ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 12/14 Total de pontos do quadrado = 3 x 3 = 9. Seguindo a mesma lógica teremos: Total de pontos do quadrado = 4 x 4 = 16 Total de pontos do quadrado = 5 x 5 = 25 Desafio: Sabendo que o quadrado de 102 é 10404 calcular o quadrado de 103: Solução: Recorrendo-se a forma quadrado perfeito temos: (a + b )2 algébrica do = a 2 + 2ab + b 2 Fazendo a = 102 e b = 1 , temos: 1032 = (102 + 1)2 2 2 1032 = 102 { + 2 ⋅ 102 ⋅ 1 + 1 10404 1032 = 10404 + 204 + 1 1032 = 10609 Sugestões de leitura H. Eves (2007). Introdução à história da matemática. Editora Unicamp. S. Singh (2010). O Último Teorema de Fermat. Editora Record. ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 13/14 Sites recomendados: O último teorema de Fermat, (Pág. Visitada em 20/07/2011, 10:00h) http://www.archive.org/details/Pfilosofiao_ultimo_teorema_de_fermat284; Ficha técnica Autor William Martins Vicente Revisão Samuel Rocha de Oliveira Coordenação de Mídias Audiovisuais Prof. Dr. Eduardo Paiva Coordenação Geral Prof. Dr. Samuel Rocha de Oliveira Universidade Estadual de Campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Vice-reitor Edgar Salvadori de Decca Pró-Reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita Neto Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica Diretor Caio José Colletti Negreiros Vice-diretor Verónica Andrea González-López ÁUDIO O Quatro é um Quadrado I 14/14