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III Encontro da ANPPAS
23 a 26 de maio de 2006
Brasília – DF
A utilização da ovitrampa como prevenção do Aedes e controle
do Dengue no Distrito de Martinésia, Uberlândia (MG).
João Carlos de Oliveira(1), Samuel do Carmo Lima(2), Jureth Couto Lemos(3),
Baltazar Casagrande(4), Elaine Aparecida Borges(5), Daniela Belo Silva(6), Jakson
Arlam Ferrete(7), Kênia Rezende(8)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA MÉDICA E VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM
SAÚDE (LAGEM – IG/UFU)
RESUMO
Martinésia é um Distrito rural que está distante 32 Km da sede da cidade, possui 871 habitantes na
área urbana, em 124 imóveis. O Dengue é uma das mais importante arbovirose que afeta o homem
e constitui um sério problema de saúde pública em regiões tropicais, que favorecem os focos de
Aedes aegypti e Aedes albopictus. O Dengue é uma doença febril, aguda e de etiologia viral. A
fonte de infecção e reservatório vertebrado é o homem. A ovitrampa é uma armadilha artificial
adaptada em vasos pretos de floricultura de 500 ml, com uma palheta de eucatex imersa em água,
onde permite identificar a oviposição da fêmea do mosquito Aedes. As ovitrampas foram instaladas,
entre fevereiro e julho de 2005, o que detectou de forma precoce os focos de Aedes. Com o
aumento do índice de positividade de ovos (IPO), realizou uma gincana educativa e pedagógica
com a participação dos estudantes e dos professores da Escola Municipal Antonino Martins da
Silva, que retirou e eliminou, aproximadamente, 350 Kg de resíduos sólidos, potenciáveis
criadouros de Aedes. As ovitrampas ampliaram a Educação e a Vigilância Ambiental em Saúde,
sensibilizou a população para o problema, com informações sobre a doença (modo de transmissão,
quadro clínico e tratamento), sobre o vetor (hábitos, criadouros domiciliares e naturais) e medidas
de prevenção e controle. A gincana reduziu o IPO e o mais importante, não houve registro de casos
de Dengue.
Martinésia é um Distrito rural do município de Uberlândia (MG), que está distante 32 Km da
sede da cidade e possui uma população total de 1.412 habitantes, sendo 871 residindo na área
urbana. Situada na porção noroeste da sede da cidade Uberlândia (MG), que também faz limites
com os municípios de Tupaciguara (Oeste), Araguari (Leste) e com o Distrito de Cruzeiro dos
Peixotos (sudeste) (cf. figura 01).
Figura 01 – Localização geográfica do Distrito, 2006.
Fonte: NASCIMENTO, Dorivaldo Alves do. Histórias de Uberlândia. Uberlândia –
MG: Grafy, 2000.
Em 27 de setembro de 1926 foi criado o Distrito de Martinópolis, pela Lei 935 de 27 de
setembro de 1926. Já em 31 de dezembro de 1943, pelo Decreto Lei Nº 1.058, Martinópolis foi
mudado para o nome de Martinésia. No final da década de 1930, do século XX, contava com uma
população total de 5.250 habitantes, com uma produção abundantemente algodão, cana-de-açúcar,
café e outros cereais, também havia ricas pastagens nos vales dos rios Uberabinha e das Velhas
(hoje rio Araguari).
As estruturas e coberturas geomorfológicas do Distrito correspondem a áreas de relevos
intensamente dissecados, com topos aplainados e chapadas por toda a região, com altitudes entre
640 a 700 m (BACCARO, 1999).
Quanto ao ambiente climático ROSA, LIMA e ASSUNÇÃO (1991, p. 92-93), indicam que:
O clima do município de Uberlândia é subtropical de altitude, sendo caracterizado
por dois períodos sazonais. Um deles, o inverno seco, quando a temperatura média
mensal atinge 18ºC e a precipitação pluviométrica do mês mais seco fica em torno
de 60 mm. O outro período sazonal, o verão, há grande concentração pluviométrica
entre outubro a março. Os meses de dezembro a fevereiro são responsáveis por
cerca de 50% da precipitação anual que é de 1500 a 1600 mm. Outubro a fevereiro
são os meses mais quentes, com temperatura média mensal variando de 21ºC a
23ºC, enquanto que a média anual das máximas encontram-se em torno de 28ºC a
29ºC. (ROSA, LIMA e ASSUNÇÃO, 1991, p. 92-93).
O Distrito possui uma vegetação natural de Cerrado, típico de savana arbórea nos topos e
chapadas, com presença de matas de galeria nas encostas (fundos de vales) (BACCARO, 1989;
LIMA, ROSA & FELTRAN FILHO, 1989; SCHIAVINI & ARAÚJO, 1989), mas atualmente estão
ocupadas por diversas atividades agropecuárias, principalmente nos cultivos de soja e pastagens
extensivas, sendo reduzidas a poucas áreas nativas isoladas, principalmente nas vertentes.
A área urbana do Distrito possui uma extensão territorial de, aproximadamente, 562 Km²,
com 124 imóveis e distribuídos em 22 quarteirões (cf. figura 02).
Figura 02 – Mapa da área urbana do Distrito de Martinésia, 2006.
FONTE: Centro de Controle de Zoonozes da Prefeitura Municipal de Uberlândia, MG, 2000.
Quase toda a extensão territorial da área urbana do Distrito já está ocupada, onde há apenas
alguns lotes vagos (baldios), principalmente na área mais recente da expansão da malha urbana. O
Distrito apresenta duas áreas urbanas bastante distintas do ponto de vista ambiental e social. De um
lado, tem-se a área mais antiga, que pertence aos quarteirões 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,
18, 19, 20, 21e 22, construída desde a sua fundação, com ambientes de quintais bastante
arborizados e presença mais intensa de resíduos sólidos dispostos inadequadamente (cf. figura 03).
Foto: João Carlos de Oliveira
Figura 04 – Quintal na Rua Aniceto Antonio da Silva (Q16), dezembro de 2005.
O outro ambiente da área urbana do Distrito apresenta uma ocupação mais recente, segundo
os moradores de dez anos para cá, com quintais pouco arborizados e com uma presença pequena de
lixos armazenados e jogados nos quintais (cf. figura 05). Esta área corresponde aos quarteirões (01,
Foto: Jaksom Aran Ferrete
02, 03, 04, 05, 06 e 07).
Figura 05 – Vista panorâmica do lote na Rua da Cooperação (Q 04),
junho de 2005.
A Dengue é hoje uma das mais importante arbovirose que afeta o homem e constitui um sério
problema de saúde pública no mundo, especialmente na maioria dos países tropicais, onde as
condições ambientais, principalmente a temperatura, a precipitação, a cobertura vegetal e a
presença de criadouros favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti, principal
mosquito vetor da doença, também, transmissor da Febre Amarela, que nestes últimos anos em
função dos hábitos populacionais foi (re) introduzida no Brasil. Na verdade as pesquisas
entomológicas, direcionadas para detectar e monitorar os focos de Aedes aegypti, são desenvolvidas
para a erradicação da Febre Amarela Urbana e a Dengue, por isso a prioridade com o
monitoramento do Aedes aegypti. Além da grande preocupação com o Aedes aegypti, também há
uma necessária atenção para com o Aedes albopictus, tendo em vista que já foi comprovada em
laboratório a sua capacidade de transmissão do vírus do Dengue, por isso sendo uma espécie vetora
e que pode ser potencialmente responsável por epidemias (BRASIL, 1997).
As condições ambientais da maioria dos países tropicais favorecem o desenvolvimento e
a proliferação do Aedes aegypti, principal mosquito vetor. Esta intensa preocupação com o
Aedes aegypti se deve pela sua área geográfica de abrangência, que de acordo com BRASIL (2001,
p. 11):
O Aedes aegypti é uma espécie tropical e subtropical, encontrada em todo mundo,
entre as latitudes 35ºN e 35ºS. Embora a espécie tenha sido identificada até a
latitude 45ºN, estes têm sido achados esporadicamente apenas durante a estação
quente, não sobrevivendo ao inverno. A distribuição do Aedes aegypti também é
limitada pela altitude. Embora não seja encontrado acima dos 1000 metros, já foi
referida a sua presença a 2132 e 2200 metros acima do nível do mar, na Índia e na
Colômbia (OPS/OMS) (BRASIL, 2001, p. 11).
Além da importância entomológica do Aedes aegypti pela sua particularidade urbana, sobre o
Aedes albopictus não se dispõe de conhecimento suficiente, sobre a sua biologia e comportamento,
apesar da comprovação em laboratório da sua capacidade de transmissão, por isso as operações da
sua identificação merecem medidas no seu combate, isto porque BRASIL (2001, p. 18), lembra
que:
Aedes albopictus é uma espécie que se adapta ao domicílio e tem como criadouros
recipientes de uso doméstico como jarros, tambores, pneus e tanques. Além disso,
está presente no meio rural, em ocos de árvores, na imbricação das folhas e em
orifícios de bambus. Essa amplitude de distribuição e capacidade de adaptação a
diferentes ambientes e situações determina dificuldades para a erradicação através
da mesma metodologia seguida para o Aedes aegypti. Além da sua maior valência
ecológica, tem como fonte alimentar tanto o sangue humano como de outros
mamíferos e até aves. Ademais disso, é mais resistente ao frio que o Aedes aegypti.
É necessário que se promovam levantamentos regulares para a detecção de sua
presença e o aprofundamento de estudos sobre hábitos naturais e artificiais.
(BRASIL, 2001, p. 18).
A intensa urbanização do Aedes se deve pelas trocas comerciais entre países, os fluxos
migratórios, as altas densidades populacionais, os hábitos culturais em armazenar inadequadamente
os resíduos sólidos que servem de criadouros para o vetor (LO, 1993 apud MONTEIRO, 2000).
A situação epidemiológica do Dengue no Brasil, nestes últimos anos, tem tornado alarmante
porque há uma intensidade de casos, e o mais agravante é que algumas Unidades Federativas estão
na área endêmica para Febre Amarela Silvestre. Diante disto, é preciso uma somatória de ações que
permeiem todas as faces do problema, para evitar (novas) epidemias de Febre Hemorrágica do
Dengue no país, de conseqüências imprevisíveis, aumentando também o risco da urbanização da
Febre Amarela. Algumas regiões brasileiras estão mais suscetíveis aos focos e à epidemias,
principalmente, os estados da região Sudeste, que de acordo com ANTUNES & JOLY &
LINHARES (2004, p. 30) e o ESTADO DE MINAS (2004, p. 26):
Minas Gerais, é o Estado de menor redução de casos de dengue da região Sudeste. O
país reduziu o número de casos, que em 2004 apresentou 14,5% a menos, se
comparado 2003 com 23.972 casos. São Paulo com 64,8% de 2.950 casos; Rio de
Janeiro com 83,1% de 1304 vítimas; Espírito Santo com 6328 casos, 80,9% menor
2003 e Minas Gerais com 20% de 19.068 em 2004, contra 23.972 em 2003. O maior
surto foi em 2002, com 794.000 casos, com 2.714 casos febre hemorrágica. A
previsão de contaminações será de 225.000 para o ano de 2005, com 35 casos febre
hemorrágica, onde as áreas de maior risco são a região Sudeste em particular Minas
Gerais e Espírito Santo, com 35% (ANTUNES & JOLY & LINHARES, 2004, p. 30
e ESTADO DE MINAS, 2004, p. 26).
No caso de Uberlândia, a ocorrência de Aedes aegypti foi registrada inicialmente em 1986
(SANTOS e MARÇAL JUNIOR, 2004). Mas conforme reforça MARÇAL JUNIOR e SANTOS
(2004, p. 235):
Em Uberlândia, as primeiras notificações de dengue ocorreram em 1993. Desde
então, novos casos têm sido registrados a cada ano em 1999, foram identificados
2.424 casos novos de dengue na área urbana, correspondendo a um coeficiente
geral de incidência de 52,67%ºº, todos de forma clássica da doença. A análise da
distribuição espacial da incidência do dengue nesse ano revelou que a transmissão
se processa de modo desigual, sendo que o índice mais elevado foi registrado no
setor Norte da cidade (MARÇAL JUNIOR e SANTOS, 2004, p. 235).
A situação epidemiológica do Dengue no Distrito de Martinésia pode ser considerada
tranqüila, talvez seja pelo seu “isolamento”. Mas os contatos intraurbanos são constantes,
realizados em veículos particulares, “Rodovia Municipal – Neuza Resende” e através do Sistema
Integrado de Transporte (SIT), linha D280, que circula entre Martinésia/Cruzeiro dos
Peixotos/Terminal Umuarama que liga o Terminal “Umuarama” ao Distrito, o que permite a
instalação ou a importação de casos, vetores e/ou ovos. Portanto, o seu isolamento não comprova a
ausência do vetor, pois durante as pesquisas de ovitrampas identificamos ovos de Aedes aegypti e
de Aedes albopictus.
Em função do perfil epidemiológico no Distrito, a instalação e manutenção de ovitrampas, se
deram a partir de um projeto realizado, desde 2003, num conjunto de ações de manejo integrado
como prevenção e controle do Dengue, a partir dos contatos com as lideranças, censo sócioambiental, pesquisa larvária, instalação e manutenção de ovitrampas e educação e vigilância
ambiental em saúde. A escolha do Distrito de Martinésia se deu pela impossibilidade de
desenvolvê-lo em um bairro de Uberlândia, sendo que o mosquito migra de um local para outro,
neste caso, principalmente, entre as áreas periféricas de um bairro para outro. Enquanto que no
Distrito a possibilidade de migração é mais difícil porque o mesmo fica isolado de outras áreas
urbanas. Logo, é necessário demonstrar que uma das soluções para prevenir e controlar o Aedes é
por meio de um conjunto de ações integradas, que cria uma sinergia entre as pessoas e ao mesmo
tempo substitui algumas práticas mais agressivas para o meio ambiente e pessoas, por exemplo, o
uso do fumaçê.
A instalação e manutenção das ovitrampas ocorreram semanalmente, entre fevereiro e julho
de 2005, em 19 (de 22) quarteirões, com um total de 24 coletas, com um monitoramento até
dezembro de 2005, em função do manejo integrado como prevenção e controle do Dengue. As
armadilhas foram instaladas em diferentes alturas e locais (dentro e fora das residências – cf.
Fotos: João Carlos de Oliveira
figuras 06 e 07), exatamente para obter um melhor perfil e mapeamento dos focos do vetor.
Figura 06 – Ovitrampas instaladas (Q 05), julho de 2005.
Figura 07– Ovitrampas instaladas (Q 16), julho de 2005.
Nestes últimos anos têm surgido diferentes pesquisas sobre o mapeamento do Aedes. Estas
pesquisas são feitas periodicamente com o intuito de detectar de maneira eficiente e precoce a
presença do vetor em diferentes períodos sazonais. Sabendo da sensibilidade do método como
forma de vigilância epidemiológica, FAY & ELIASON (1966) apud RODRIGUES (2005, p. 09)
aponta que:
Com a utilização da armadilha ovitrampa permitiram o conhecimento da população
fêmeas numa localidade. Esta armadilha de oviposição vem demonstrando ser um
método sensível e econômico para detectar a presença de Aedes aegypti e Aedes
albopictus, principalmente quando os níveis de infestação das localidades estão tão
baixos que o levantamento larvário não os revela (RODRIGUES, 2005, p. 09).
As ovitrampas são Armadilhas Artificiais, onde BRASIL (2001, p. 49), apresenta algumas
características:
São depósitos de plástico preto com capacidade de 500 ml, com água e uma palheta
de eucatex, onde serão depositados os ovos do mosquito. A inspeção das ovitrampas
é semanal, quando então as palhetas serão encaminhadas para exames em
laboratório e substituídas por outras. As ovitrampas constituem método sensível e
econômico na detecção da presença de Aedes aegypti, principalmente quando a
infestação é baixa e quando os levantamentos de índices larvários são pouco
produtivos. São especialmente úteis na detecção precoce de novas infestações em
áreas onde o mosquito foi eliminado. Devem ser distribuídas na localidade na
proporção média de uma armadilha para cada nove quarteirões, ou uma para cada
255 imóveis, o que representa três ou quatro por zona (BRASIL, 2001, p. 49).
As metodologias usadas na instalação das ovitrampas em Martinésia foram de acordo com as
observações de RODRIGUES (2005, p. 14):
Fotos: Malaquias José de Souza
Na instalação das ovitrampas, foi colocada água da torneira nos potes até altura dos
furos, a palheta de eucatex com a parte enrugada voltada para a parte interna em
contato com a água e presa a um clips nº 08 (cf. figura 08). A superfície rugosa foi
colocada de forma a possibilitar a oviposição dos mosquitos (RODRIGUES, 2005,
p. 14).
Figura 08 – Modelo de ovitrampa, outubro de 2004.
Não foram instaladas ovitrampas nos quarteirões 01, 04, 07 e 13, em função de vários fatores,
tais como: não há residências (quarteirão 04), só há uma residência e o morador não aceitou a
instalação (quarteirão 13). No quarteirão 01, os moradores trabalham o dia todo e ficam ausentes de
sua residência.
As instalações das ovitrampas ocorreram a partir de conversas com alguns moradores, com
explicações dos procedimentos de instalação e manutenção do equipamento, que houve uma boa
aceitação. Para a escolha e a definição da residência para instalação da ovitrampa considero-se: a
aceitação, a presença e cuidados do(a) morador(a) com a armadilha e ambiente adequado. Após a
autorização do morador, a equipe registrou o endereço (Rua/avenida/número) da residência, nome
do morador, o número da palheta sempre foi o mesmo do vaso e a data de cada coleta. Estes dados
permitiram, semanalmente, executar os trabalhos de (instalação, manutenção e anotação das
condições das Ovitrampas e das palhetas), bem como os contatos com os moradores. Depois da
instalação e preparação de cada ovitrampa em seu lugar, verificava as condições ambientais dos
quintais e realizava uma conversa com os moradores sobre as condições das ovitrampas (presença
ou não de água, quedas, presença de resíduos, etc), em seguida as palhetas foram armazenadas
numa prancheta para maior proteção dos ovos. No final da coleta as pranchetas foram trazidas para
o LAGEM (IG/UFU) para contagem e identificação, em Lupa estereomicroscópica, porque a olho
nu não é possível realizar a contagem dos ovos nas palhetas (cf. figuras 09 e 10).
Foto: Baltazer Casagrande
Figuras 09 e 10 – Palhetas armazenadas e verificação dos ovos em Lupa Microscópica, fevereiro de 2005.
De posse das palhetas, em laboratório, houve a quantificação dos ovos por quarteirão para
obter um mapeamento da presença do vetor (cf. quadro 01).
Q
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
EE
TT
QUADRO 01
Total de ovos por mês/quarteirão, fevereiro a julho de 2005.
FEV
MAR
ABR
MAIO
JUN
00
00
00
00
00
00
04
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
00
20
47
17
01
00
00
00
00
00
00
150
129
51
18
87
402
162
40
00
26
418
45
22
55
02
53
00
03
11
113
302
68
25
10
00
00
00
00
00
11
277
32
29
23
03
705
00
220
01
132
462
210
61
13
70
349
408
147
27
01
06
00
38
00
00
72
55
00
04
22
22
09
00
00
49
370
279
149
124
00
130
121
75
00
00
343
145
66
00
516
4085
1710
943
287
Fonte: Pesquisa do autor, 2005.
JUL
00
00
00
00
00
00
00
84
00
00
00
00
00
04
00
00
20
00
22
00
95
00
00
225
TT
00
04
00
00
00
85
00
432
691
566
69
518
00
376
929
878
1021
45
153
53
1066
326
554
7766
A tabulação dos ovos das palhetas das ovitrampas por quarteirão evidenciou que os ambientes
com moradias da área urbana mais antiga apresentaram, em ordem crescente, uma maior
quantidade de ovos, principalmente os quarteirões 21, 17, 16 e 14. Estes resultados, mais uma vez,
confirmam as relações que existem entre alguns fatores determinantes tais como a densidade
populacional, a densidade habitacional, a urbanização não planejada e as condições sócio-
econômicas e culturais dos moradores, o que propiciaram a rápida circulação e as condições
necessárias à reprodução do vetor.
Os ovos, também, foram quantificados por categorias viáveis, eclodidos e danificados, com
um total de 7766, durante 24 coletas (cf. quadro 02). Esta tabulação foi realizada com o objetivo de
verificar, mensalmente, a quantidade de ovos com viabilidade ou não de eclosão.
Mês
Total
Fevereiro
516
Março
4085
Abril
1710
Maio
943
Junho
287
Julho
225
TOTAL
7766
Fonte: Pesquisa do autor, 2005.
QUADRO 02
PESQUISAS DAS OVITRAMPAS, 2005.
Ovos viáveis
Ovos eclodidos
371
44
2793
606
813
392
225
440
256
00
145
31
4603
1513
Ovos danificados
101
686
505
278
31
49
1650
Depois da quantificação dos ovos, realizou-se o cálculo do Índice de Positividade de
Ovitrampa (IPO). O IPO foi descrito por (FAY & ELIASON, 1966 apud GOMES, 2002),
considerando:
Que é um método baseado na armadilha de oviposição denominada de ovitrampa, a
qual permite a contagem e identificação dos ovos de Aedes aegypti e Aedes
albopictus em palhetas, permite calcular a infestação de um local (FAY &
ELIASON, 1966) apud GOMES (2002) (cf. cálculo 01e quadro 03).
Cálculo 01
IPO = Nº de armadilhas positivas X 100
Nº de armadilhas examinadas
QUADRO 03
IPO DAS OVITRAMPAS, 2005.
MÊS
Nº DE ARMADILHAS EXAMINADAS
Fevereiro
12
Março
65
Abril
36
Maio
23
Junho
16
Julho
08
Fonte: Pesquisa do autor, 2005.
IPO (%)
63,15
342,10
189,47
120,05
84,21
42,10
Com a instalação das ovitrampas e os cálculos de IPO, observou-se que houve uma maior
infestação de ovos nas palhetas, entre fevereiro e março. Importante destacar que este período
sazonal, para a região de Uberlândia (MG), já corresponde ao término do verão com uma redução
nos índices pluviométricos, mas com presença de dias isolados de precipitação (cf. quadro 04). Mas
este período é exatamente o mais propício para a oviposição, o que possibilita na presença de
vetores e na possibilidade de casos de Dengue.
QUADRO 04
DIAS DE CHUVAS E MÉDIA TOTAL DE PRECIPITAÇÃO, 2005.
MÊS
Nº DE DIAS COM CHUVAS
MÉDIA TOTAL (mm)
Fevereiro
12
63,8
Março
18
273,6
Abril
06
22,1
Maio
04
47,1
Junho
03
44,1
Julho
00
00
Fonte: Pesquisa do autor, 2005.
A partir do momento em que se verificou o aumento significativo de ovos, realizou, em abril,
uma gincana com estudantes e professores da Escola Municipal Antonino Martins da Silva. A
formação de 22 das equipes foi conduzida por professores da Escola, realizada a partir de sorteio
Foto: Jakson Arlam Ferrete
dos estudantes, misturados, do Ensino Fundamental e um professor coordenador (cf. figura 11).
Figura 11 – Equipe formada para a gincana, abril de 2005.
Logo após a formação das equipes, acompanhadas de sacos de lixo de 100 litros e luvas,
percorriam os quarteirões e visitavam e coletavam material dos quintais. Além de retirar os
criadouros, houve uma explicação para os moradores dos devidos cuidados necessários para evitar
o acúmulo de lixo em períodos chuvosos. Cada equipe, após a coleta dos resíduos dos quintais,
retornavam para a Escola e depositavam o material na quadra (cf. figuras 12, 13 e 14).
Foto: Jakson Arlam Ferrete
Foto: João Carlos de Oliveira
Figura 12 – Equipe coleta criadouros em quintal, abril de 2005.
Figura 13 – Retorno das equipes com os sacos de lixos, abril de 2005.
Foto: João Carlos de Oliveira
Figura 14 – Sacos de lixos depositados na quadra, abril de 2005.
As equipes retiraram, aproximadamente, 350 Kg de resíduos sólidos – principalmente
plásticos, pneus, garrafas, papelão, latas, que foram quantificados e utilizados pelos professores
como venda para reciclagem e para fazer presentes para o dia das mães do Distrito.
Ao eliminar boa parte destes criadouros dos quintais, verificou-se que houve uma redução
significativa de ovos nas palhetas, apesar da presença de água dentro das ovitrampas. Portanto
acredita-se que há uma estreita relação entre água depositada e parada em criadouros e a presença
do vetor de Aedes. Também, é importante destacar que em função da relevância dos resultados de
mobilização dos moradores do Distrito e redução do IPO, um canal de televisão local (TV
Integração – afiliada da Rede Globo), numa tarde de junho de 2005, acompanhou e divulgou os
trabalhos de monitoramento das ovitrampas, entrevistou os moradores e responsáveis pelo trabalho.
Em suma, concluímos que a retirada (ou eliminação) de criadouros é um procedimento
relevante no manejo integrado como prevenção e controle do Dengue. As múltiplas ações
integradas permitem uma sinergia de Vigilância Ambiental em Saúde. Consideramos que a
ovitrampa é uma armadilha eficiente e barata para verificar a presença e os focos de ovos de Aedes
em diferentes períodos sazonais, conforme confirmação dos dados. Elas mapearam a oviposição e a
distribuição espacial de ovos nos 19 quarteirões em diferentes períodos sazonais. Possibilitaram um
maior contato com os moradores, ampliaram a Educação e a Vigilância Ambiental em Saúde, onde
a população está sensibilizada para o problema, está informada sobre a doença (modo de
transmissão, quadro clínico e tratamento), sobre o vetor (hábitos, criadouros domiciliares e
naturais) e medidas de prevenção e controle. E o mais importante, durante as pesquisas, não ocorreu
casos de Dengue.
(1) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (IG/UFU)
(2)Prof. Dr. Orientador do Programa de Pós-Graduação em Geografia (IG/UFU)
(3) Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (IG/UFU). Professora da Escola Técnica em
Saúde (ESTES/UFU)
(4) Aluno do Curso de Geografia (IG/UFU) e Bolsista do CNPq
(5) Aluna do Curso de Geografia (IG/UFU) e estagiária do LAGEM (IG/UFU)
(6) Aluna do Curso de Geografia (IG/UFU) e estagiária do LAGEM (IG/UFU)
(7) Aluno do Curso de Geografia (IG/UFU) e estagiária do LAGEM (IG/UFU)
(8) Aluna do Curso de Geografia (IG/UFU) e estagiária do LAGEM (IG/UFU)
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