A Essência Vital do Gigante O céu se fragmenta em feixes esparsos de luz, tangenciando a linha do horizonte e inaugurando um novo dia. É o despertar do gigante continental, da terra mais amada entre outras mil, o grande país tropical. A vida começa a pulsar nas grandes cidades, nos vastos pampas, na grande hileia amazônica e em todos os lugares, irrigados pelas infinitas artérias de água que se estendem, até poeticamente, pelo corpo desse gigante. Por toda a esfera global, em todas as perspectivas e óticas possíveis, não há nem haverá outro gigante continental a despertar com seu inigualável e invejável impulso de água, que circula como sangue e como energia elementar à essência vital. Águas que levam vida e impulso, atravessando territórios como estradas axiais, desenhando bacias e rios. É o sangue que se deixa levar pelas leis da inércia e da gravidade para converter sua queda em luz. É a água que se camufla, refletindo o azul do céu e abrigando toda a riqueza de vida gerada pelo quinto dia da Criação. São os rios que tornam possível o fluxo logístico que movimenta o país, movimentando sua economia e refletindo sua postura no complexo cenário internacional. O gigante continental reconhece todo esse patrimônio invejável e admirado pelo mundo. Desse modo, conferiu aos marinheiros e aos sentinelas dos mares a nobre missão de estender a sua soberania sobre essa riqueza, patrimônio a ele outorgado unicamente pela graça do Criador e pertencente a mais ninguém. Graças à Marinha, nossos rios são resguardados da ambição alheia, garantindo a nossa soberania nacional. Afinal, precisamos ser soberanos sobre esse grande patrimônio, que confere aos rios brasileiros uma riqueza muito mais valiosa do que simples porções de água que atravessam o território. Eles são estradas históricas, que registraram os importantes vultos do passado. Contrariando a tese filosófica de Parmênides, podemos dizer que foram essas águas que testemunharam não só o grito da independência, como também reduziram Tordesilhas a uma simples e recôndita linha que, por isso, jamais existiu de fato. Essas águas guardam os gritos de guerra de marinheiros e de combatentes, tingindo-a com o seu sacrifício em prol da unidade e da completa emancipação nacional. Foram essas águas que desenharam as fronteiras do Brasil e testemunharam as nossas conquistas, imortalizando o nome de seus heróis em cidades, fortalezas e na própria geografia. Assim, ao percorrer nossos rios, é possível desafiar as leis da física e transcender as fronteiras temporais, remontando a nossa história, voltando ao tempo das entradas e das bandeiras, contemplando os fatos que, apesar das dores, trouxeram glória ao nosso passado. Depois das águas brasileiras testemunharem a luta para conquistarmos a nossa unidade, elas possibilitaram o primeiro passo da nação para se tornar o atual gigante continental. As primeiras sesmarias cercaram o Velho Chico e deram início à cultura latifundiária, tornandose o primeiro capítulo de uma longa história marcada pela ascensão de impérios de café e demais produtos agrícolas monopolizados pelos barões. As águas do Amazonas saudaram a chegada de Mauá, recebendo a Companhia de Rebocadores do Rio Grande e consolidando o tráfego na região, integrando ainda mais o nosso território, de modo a formar a identidade de um povo sonhador e perseverante. Assim, nossos rios se tornaram verdadeiras estradas rumo à ordem e ao progresso de nosso gigante tropical, saciando a sede da terra e permitindo sua fertilidade, testemunhando a ascensão de nossa matriz produtiva, promovendo o desenvolvimento e prosperidade. Os rios brasileiros desenharam a nossa história, povoaram e integraram o nosso território e trouxeram perspectivas para a nossa economia ao tornar exequível a nossa cadeia produtiva. Além disso, enquanto a maior parte do mundo despeja o veneno carbônico pelos ares, de modo a nos fazer confundir os cumulus nimbus com os vórtices de poluição, o nosso gigante adorado mostra ao planeta que desenvolvimento sustentável não é tese utópica. A nossa nação soube perceber que os nossos rios, muito mais do que porções de água, são verdadeiras estradas que nos conduzem a um progresso cíclico, lançando uma perspectiva mais otimista e sustentável às gerações futuras. Como se não bastasse, Itaipu se tornou um grande reflexo desse ideal, que associa não só a estratégia de adotar uma matriz energética limpa, como também a consciência de que as relações internacionais são capazes de trazer grandes mudanças e desenvolver paradigmas ao mundo. O gigante pela própria natureza teve sua história e o seu desenvolvimento escritos pelos rios, tornando-se um modelo a ser seguido pelas outras nações. Desse modo, podemos observar que nossos rios não são apenas estradas de água, mas sim, estradas de progresso e de ordem, que deixaram heranças indeléveis em nosso passado, que continuam a mover o nosso país e que continuarão a impulsionar a nossa nação. É no crepúsculo que as cidades voltam a adormecer e o mapa estrelar volta a cair sobre o campo. Porém, o nosso gigante continua desperto, sentindo as águas pulsarem fortemente por suas veias e artérias do mesmo modo que sempre pulsaram e do mesmo modo que sempre continuarão a pulsar. Rios brasileiros, estradas multidimensionais, reflexos e vultos que ecoam por nossa história, reflexos e vultos que continuarão a nos guiar pela estrada do progresso.