Revista de Administração e Comércio Exterior Volume 1, número 2, 2015. ISSN 2447- 2719 http://seer.faculdadejoaopaulo.edu.br/index.php/racex/index ESTRUTURAÇÃO DO BALANCED SCORECARD: O CASO DE UMA EMPRESA DE EMBALAGENS DO SUL DO BRASIL Viviane Rossato Laimer a, Queli Sensolo b a Faculdade João Paulo II, Passo Fundo, RS, Brasil. [email protected] b Faculdade Anhanguera de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil. [email protected] Informações do artigo Resumo Submissão em 17/05/2016 Aceito em 26/07/2016 Este trabalho objetiva apresentar o processo de utilização da ferramenta Balanced Scorecard em uma empresa do setor industrial. Atualmente as empresas buscam um posicionamento no mercado mais seguro e duradouro. A partir disto as empresas buscam criar estratégias, capazes de auxiliar na construção desta permanência e solidificação do negócio. Utilizou-se como metodologia de trabalho, a técnica de estudo de caso, contando com uma revisão bibliográfica para melhor aprofundamento do tema. A empresa objeto de estudo encontra-se no sul do brasil, e se propõe a fabricar soluções em embalagens de papelão. Como contribuição acadêmica, este estudo apresenta um estudo de caso, aproximando a teoria da prática, no entanto como contribuição gerencial, fornece um panorama acerca das condições de implantação da ferramenta para realização do planejamento estratégico. Ao concluir o estudo percebeu-se que a empresa independente do tamanho, possui condições de utilizar a ferramenta BSC. Endereço para correspondência Viviane Rossato Laimer Rua Carlos Gomes, 526 Passo Fundo, RS, Brasil. CEP: 99070-060 Palavras-chave Balanced Scorecard. Planejamento estratégico. Alinhamento estratégico. Keywords Abstract Balanced Scorecard. Strategic planning. Strategic alignment. This study aims to present the process of using the Balanced Scorecard tool in a company in the industrial sector. Currently companies seeking a position in the most safe and durable market. From this companies seek to create strategies, able to assist in the construction of this residence and business solidification. It was used as a working methodology, the case study technique, with a literature review for best theme deepening. The study subject company is in southern Brazil, and aims to produce solutions in cardboard packaging. As academic contribution, this study presents a case study, approaching the theory of practice, but as a management contribution provides an overview about the tool's implementation of conditions for realization of strategic planning. By completing the study it was observed that the independent company size, has a position to use the tool BSC. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 55 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de novas tecnologias vem contribuindo para o aumento da concorrência em áreas diferentes da ciência. A facilidade de comunicação entre os mercados proporcionada pela globalização, exige novas formas e posturas organizacionais. Diante disso, o domínio do conhecimento é fundamental, é através deste recurso que as empresas tornam possível a estruturação de vantagem competitiva, possibilitando a criação de um diferencial para a organização. Nesta perspectiva, os gestores preocupam-se cada vez mais em saber e identificar indicadores capazes de retratar a organização de forma real e atualizada. Diante desta demanda, Kaplan e Norton, (1997) ofertam o Balanced Scorecard (BSC) como uma alternativa adequada para atender a necessidade de conhecimento de indicadores que possibilitem a mensuração de desempenho organizacional. Esta ferramenta conta basicamente com quatro perspectivas, financeira, cliente, processos internos, aprendizado e crescimento. A partir das quatro perspectivas torna-se possível o monitoramento dos aspectos financeiros da organização, bem como sua estruturação de novas capacidades, além da compra de ativos importantes para o desenvolvimento organizacional (KAPLAN; NORTON, 1997). Atualmente vários estudos são desenvolvidos com este enfoque, Walter, Vedovatto e Bach (2013) propõe um estudo cujo objetivo é desenvolver, a partir das perspectivas tradicionais do Balanced Scorecard e da perspectiva do meio ambiente, um mapa estratégico para uma indústria do setor lácteo. Ao concluir o estudo os autores identificaram que como implicação gerencial, pode ser destacado, a criação de um mapa estratégico, foi incluído mais uma perspectiva a do meio ambiente e a proposição de medidas para empresas específicas do setor lácteo. A análise da aplicação de ferramenta de suporte embasada no Balanced Scorecard para consórcios intermunicipais de saúde, também foi foco de investigação, pelos estudiosos Guimarães e Tavares (2012). A partir desta iniciativa, foi possível identificar quais etapas são as mais importantes e prioritárias para que novos procedimentos sejam adotados, além de oportunizar a verificação dos prováveis impactos causados a partir da implantação do BSC em empresas públicas. Sendo assim este estudo apresenta-se relevante, pois, segundo Walter, Vedovatto e Bach (2013) é latente a necessidade de maior investigação abordando a ferramenta BSC. Estudo tendo como objeto empresas de ramos diferentes possibilitando uma divulgação do comportamento organizacional frente a aplicação desta ferramenta, são oportunos. Os Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 56 estudiosos, Souza, Souza, Dantas, Barreto e Rocha Neto, (2016) sugerem a necessidade de uma verificação real em relação a aplicabilidade do BSC em empresas concretas, assim podendo observar o comportamento da empresa frente a esta ferramenta. Xavier, Silva e Silva (2011), investigaram a possibilidade de uma proposta para implantação do BSC no ramo industrial. Com o termino do estudo foi possível identificar que a ferramenta contribui com a empresa a medida em que fornece informações indispensáveis para uma gestão profissionalizada. Contudo ainda, possibilita que posteriormente estas informações sejam utilizadas para abastecer inicialmente o sistema de informatizado da empresa. Existem fatores capazes de inibir ou facilitar a implantação do BSC, pesquisa bibliométrica realizada por Rocha e Lavarda (2011), apresentam que dentre os fatores responsáveis, é possível destacar a cultura organizacional, motivação dos funcionários e principalmente envolvimento da alta direção. Diante disto, este estudo busca a responder a seguinte pergunta: é possível utilizar o BSC como ferramenta estratégica na empresa “B” Embalagens Ltda, com a finalidade de levantar indicadores para verificar a situação real e projetar situações futuras? A ferramenta Balanced Scorecard, pode ser utilizada em diferentes áreas da empresa, citando-se a possibilidade de uso como uma perspectiva integradora de logística. O BSC contribui a medida em que, fornece informações adequadas para que a gestão possa obter um conhecimento em relação a sua postura estratégica. Oferta opções de um conhecimento mais sistemático em relação ao negócio que a empresa se propõe, bem como facilitando o atendimento dos objetivos previamente determinados (SOUZA, SOUZA, DANTAS, BARRETO E ROCHA NETO, 2016). Diante disto, este estudo objetiva desenvolver um plano para implantação do Balanced Scorecard (BSC) na empresa “B” Embalagens Ltda como ferramenta estratégica. Com a aplicação em uma empresa real, a análise é possível a partir dos indicadores ofertados pela empresa, apresentando a situação empresarial, possibilitando a prospecção de desenvolvimento de melhorias, inovações e crescimento, para que através destas ações sejam sinalizadas iniciativas de desempenho adequado e de competitividade no mercado de atuação. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 57 2 REVISÃO TEÓRICA 2.1 BALANCED SCORECARD O Balanced Scorecard (KAPLAN; NORTON, 1997) é identificado como uma ferramenta para suporte e execução do planejamento estratégico da empresa. A metodologia fornecida pelo Balanced Scorecard torna possível que a estratégia da empresa seja colocada em prática. Além disso, o BSC possibilita o monitoramento através de seus indicadores. Este monitoramento ocorre em virtude da colocação da estratégia no centro do negócio de forma integradora, no cotidiano operacional das pessoas. Com isso, assegura a compreensão por todos os colaboradores para que melhor possam desempenhar seus papéis. A linguagem utilizada nesta ferramenta é de fácil entendimento, a fim de estimular a troca de informações e o envolvimento de ambas as partes, gerando valor para a organização. BSC é uma sigla que, traduzida, significa Indicadores Balanceados de Desempenho (KAPLAN; NORTON, 1997). Tanto é que o Balanced Scorecard é uma das principais ferramentas de gestão da década de 90 e do início do século XXI, e muitos executivos não tem conhecimento do seu potencial estratégico, pois medir apenas a saúde financeira de uma empresa não é mais suficiente. Para avaliar se a posição competitiva de uma empresa está se fortalecendo ou não, é preciso antes responder algumas questões, conforme Herrero (2005, p. 25), menciona: a. Dadas a missão e a visão de uma empresa, qual é a sua estratégia competitiva? b. Tomando como referência essa estratégia, que indicadores de desempenho são os mais importantes? c. Como esses indicadores quantitativos e qualitativos se relacionam entre si? d. Que indicadores efetivamente demonstram o sucesso do negócio em gerar valor a longo prazo? A partir desta análise empresários e executivos são capazes de observar quais das atividades na empresa realmente geram valor para os acionistas, clientes, colaboradores, fornecedores e a comunidade no entorno. Sendo assim, serão estas as atividades que devem receber maior investimento e maior monitoramento, sob pena de desviar a atenção do foco do negócio. Possui como proposta auxiliar a empresa na geração de valor, proporciona um equilíbrio entre as variáveis estratégicas, observando a duração destas variáveis, curto, médio e longo prazo, observa o ambiente interno e externo, e também as medidas financeiras e o capital intelectual disponível na organização. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 58 Como toda nova ferramenta estratégica com o BSC também não seria diferente, existem algumas barreiras naturais, surgem a partir da necessidade de conquistar novos mercados, e ou até mesmo manter aqueles já adquiridos. Diante destas constatações observa-se que, uma pequena parcela das empresas, aplicam de forma plena as estratégias desenvolvidas. Esta limitação ocorre por vários motivos, dentre estes, ausência de visão de futuro ou até mesmo uma visão míope e limitada, desconhecimento dos objetivos e dificuldade de gerenciamento das equipes (operacional) (SILVA; TEJEDOR; TEJEDOR, 2014). Com o propósito de amenizar as dificuldades, a ferramenta BSC se estrutura e apresenta de forma relevante etapas para que seja implantada corretamente a ferramenta na empresa. Inicialmente torna-se indispensável a sensibilização das pessoas que terão contato com a ferramenta, definição de metas claras e objetivas, avaliação detalhada dos processos internos, determinação dos indicadores que se deseja avaliar, implementação da ferramenta e finaliza-se com o controle e monitoramento da estratégia e dos indicadores (ARAÚJO, 2010). Araújo (2010), ainda observa que das empresas que se utilizam do BSC como ferramenta estratégica, menos da metade de seus funcionários conhecem os objetivos da organização, observa-se a partir desta constatação que ocorrem desperdícios de energia e tempo de mão de obra em atividades não fundamentais ao atendimento da visão projetada da empresa. O mesmo autor citado acima, ainda reforça que a visão projetada para o futuro da empresa, trata da direção que a empresa deseja seguir, para tanto a avaliação dos processos internos, são determinantes para que estejam alinhados, ou seja na mesma direção e mesmo enfoque determinado pela visão. Após, deve ser realizada uma avaliação dos processos internos para definir os indicadores de desempenho, facilitando a identificação de qual ou quais são os procedimentos organizacionais que estão de acordo com as metas traçadas. Na etapa de implementação da estratégia, é o momento efetivo de colocar a estratégia em prática. Finalizando o processo na última etapa é necessária a verificação se as metas estão sendo atingidas, esta visualização somente é possível quando o capital humano estiver preparado e aderido a proposta do Balanced Scorecard (ARAÚJO, 2010). A aplicação do BSC, é importante a medida em que é uma ferramenta completa, visto que engloba desde seus indicadores de desempenho até a formulação de uma visão projetada de futuro amplamente definida frente a outros métodos de gestão. A ferramenta ainda, gera benefícios para as pessoas envolvidas no processo, aumentando a produtividade, criando sinergia e comprometimento no momento em que cada um sabe do papel que deve desempenhar para que a estratégia de negócio seja atendida (FREZATTI; BIDO; CRUZ, 2014). Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 59 2.2 AS PERSPECTIVAS DO BSC REFLETEM A ESTRATÉGIA DA EMPRESA A ferramenta BSC, conta com quatro perspectivas para monitoramento, cada qual com seu enfoque específico. A primeira trata dos aspectos financeiros, para que a visão proposta possa ser atendida, importante será identificar quais resultados financeiros serão necessários. A perspectiva dos clientes, trata especificamente do valor percebido pelo cliente, ou seja, que expectativa deve ser gerada em cada cliente da empresa. Os processos internos, compõe a terceira perspectiva, neste caso, trata da identificação dos processos mais importantes da empresa e especificamente quais destes precisam obter excelência operacional. Finalizando as perspectivas, a aprendizagem organizacional, trata especificamente do conhecimento, competências indispensáveis para o desenvolvimento das estratégias e atendimento da visão da empresa (ARAUJO, 2010). Ao iniciar e no decorrer da implantação do BSC, torna-se possível formular e descrever as estratégias para analisar cada perspectiva, possibilitando um diálogo entre os atores participantes do processo de formulação e também os grupos interessados no sucesso das mesmas. Como normalmente ocorre, esta ferramenta possui cinco princípios bem objetivos que devem ser observados. Estes princípios iniciam pela tradução da estratégia, ou seja, trazer a estratégia para o alcance de todos na organização, através da elaboração de uma tradução operacional (HERRERO, 2005). Em seguida é fundamental um alinhamento preciso entre a organização e a estratégia, em decorrência disso, a estratégia precisa ser aceita e participada por todos na organização. Como quarto princípio, tem-se a possibilidade de conversão da estratégia como um processo contínuo, finalizando os princípios com o papel da liderança neste estilo de gestão, sendo assim a mobilização das lideranças como fomentadores da mudança em seus aspectos construtivos, reduzindo as resistências e prováveis conflitos. As medidas ou indicadores, permitem identificar e avaliar até onde as atividades e ações que deveriam estar sendo desenvolvidas estão progredindo, ou ainda, devam receber maior atenção dos colaboradores. Depois de delineadas as medidas, as metas devem ser projetadas baseadas em dados estatísticos, fórmulas ou por meio de textos que representem análises qualitativas, julgamentos, percepções, conforme retrata a Ilustração 1. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 60 Ilustração 1: Perspectivas do Balanced Scorecard bem como suas medidas e metas desejadas. Perspectiva Medidas adotadas Metas desejadas Financeira Retorno sobre o investimento e ROI de 18% aumento da produtividade. Aumento de 5% ao ano. Clientes Aumento na capacidade de Clientes satisfeitos 90% satisfazer os clientes, naturalmente 15% dos prospects. outros clientes serão atraídos pela propaganda boca a boca. Processos Diminui o tempo das atividades, De quatro semanas redução para três semanas, organizacionais possibilitando tempo para inovações liderando o mercado no lançamento de produtos de produtos. inovadores. Renovação e Motivação da equipe de Melhora o clima de trabalho, cria cultura de aprendizagem funcionários, geração de compartilhamento de conhecimento e informação. conhecimentos novos e atualizados. Fonte: Adaptado de Herrero (2005). Quando são definidos os indicadores e as metas, dá-se o início da elaboração das iniciativas. Para Herrero (2005) estas iniciativas precisam receber maior atenção em função do impacto que causarão a curto, médio e longo. Também refletirão especificamente na geração de valor e fortalecimento da posição competitiva da empresa em seu mercado de atuação. As iniciativas são respectivamente as ações que uma empresa deve realizar observando as quatro perspectivas de valor. Desta forma, será possível alcançar os objetivos estratégicos. Outro aspecto fundamental é a estruturação de um orçamento estratégico, que determina onde e como os recursos de capital humano e de capital estrutural da empresa serão alocados, durante o planejamento estratégico estruturado (HERRERO, 2005). 2.3 ESTRUTURAÇÃO DO BALANCED SCORECARD Para iniciar a estruturação do BSC, importante e fundamental é a composição da missão da empresa, é esta responsável por detalhar especificamente qual a razão da existência do negócio. Retrata, especificamente o que é produzido (produtos ou serviços) reflete a atividade principal da empresa. Outro aspecto importante a ser considerado, trata-se da análise de cenário. A análise do cenário, oportuniza uma verificação no ambiente da empresa, percebendo se esta possui as competências necessárias para manter-se no mercado, levando em consideração as competências existentes na concorrência. Na elaboração do BSC segundo Herrero (2005) ocorre uma análise dos pontos fortes e fracos da organização. Esta análise por vezes é esquecida durante o processo de estruturação e Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 61 implantação do BSC, (HERRERO, 2005) podendo ser responsável pela qualidade dos resultados obtidos com esta ferramenta estratégica. A partir do delineamento estratégico, são estruturados os grupos de estratégias. Estes grupos são fundamentais a medida em que possibilitam a concentração de recursos e esforços pessoais, nos objetivos considerados prioritários, criando maior valor aos clientes, e como consequência destaque no mercado de atuação (HERRERO, 2005). Em virtude da avaliação de diversos aspectos tais como, visão, missão, objetivos, os recursos e competências, oportunidades e ameaças, pontos fortes e pontos fracos, é possível um favorecimento da equipe na identificação das principais alternativas estratégicas que devem e podem ser adotadas pela organização. A ferramenta possui uma rotina para estruturar-se, conforme detalhamento na Ilustração 2 abaixo: Ilustração 2: Rotina para estruturação do Balanced Scorecard. Atividade 1 2 3 4 5 6 7 Arquitetura do programa de medição. Definição dos objetivos estratégicos. Escolha dos indicadores estratégicos. Elaboração do plano de implementação. Fonte: Adaptado de Kapkan e Norton (1997). 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Na primeira etapa, serão definidas da arquitetura de indicadores, bem como possibilita a criação de medidas agregadas ao desempenho financeiro. Entrevista com os executivos objetivando coletar as seguintes informações: quais os objetivos financeiros (lucratividade, crescimento...), quais os temas corporativos mais importantes (qualidade, competitividade em preços, meio ambiente) e quais as relações com outras unidades se houver (clientes em comum, relacionamento com fornecedores, competências essenciais) (KAPLAN; NORTON, 1997). A segunda etapa compreende atividades tais como, o consenso em função dos objetivos estratégicos. Kaplan e Norton (1997) reforçam que neste caso são entrevistados os executivos, mas antes explicar o conceito do BSC, para obter informações referentes a estratégia competitiva da empresa. Feito isso, selecionar as questões mais importantes, e preparar uma relação de objetivos e medidas das quatro perspectivas do BSC, para ser apresentado à cúpula da empresa discutindo-se os objetivos para verificação de quais permanecerão. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 62 Escolha e elaboração dos indicadores compõe a terceira etapa, neste caso serão realizadas reuniões para refinar a descrição dos objetivos estratégicos, sendo que para cada objetivo deve-se identificar os indicadores que melhor transcrevam e comuniquem a intenção do objetivo. Para cada indicador, identificar as fontes de informações necessárias e as ações essenciais para tornar essas informações acessíveis. Para cada perspectiva, identificar as relações críticas entre os indicadores dessa perspectiva, e entre ela e as outras perspectivas do Balanced Scorecard, identificando de que maneira cada medida influencia a outra (KAPLAN; NORTON, 1997). Finalizando o processo, chega o momento de elaboração do Plano de Implementação como etapa final. Desenvolver o plano de implantação, onde os líderes de cada grupo passam a incluir a forma de como os indicadores se vinculam ao banco de dados e sistemas de informação, comunicando o BSC a toda organização. Equipe executiva se reúne para a decisão final sobre visão, objetivos, indicadores desenvolvidos, e para validar as metas de superação propostas (KAPLAN; NORTON, 1997). 2.4 A CONSTRUÇÃO DE MAPAS ESTRATÉGICOS Inicialmente na década de 1990, os mapas estratégicos procuram transcrever os objetivos estratégicos das quatro perspectivas, atualmente, explicita a hipótese estratégica. Segundo Kaplan e Norton (2000, p. 81), “essa ferramenta fornece aos executivos um referencial para a descrição e gerenciamento da estratégia na economia do conhecimento”. Os mapas auxiliam as organizações a observar suas estratégias de maneira coesiva, integrada e sistemática, construindo os alicerces do sistema gerencial para a implementação da estratégia com eficácia e rapidez. Todas as qualidades e capacidades do BSC, são compactadas em um relatório único (mapa estratégico), que contém objetivos, metas e ações, interligados por uma relação de causa e efeito ao longo do tempo, distribuídos em quatro dimensões de gestão (COSTA, 2008). A estratégia não está isolada e nem é um processo gerencial isolado, ao contrário está interligada no processo que se inicia com a missão, visão, detalhamento dos valores essenciais da organização (KAPLAN; NORTON, 1997). Segundo Kaplan e Norton (2000), estes mapas estratégicos ofertam recursos para a compreensão das declarações estratégicas, tais como, hipóteses, objetivos, indicadores e metas específicas. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 63 A essência da estratégia é a opção por executar atividades de forma diferente dos concorrentes, a fim de oferecer uma proposição de valor exclusiva, um diferencial dos concorrentes que buscar mensurar e analisar indicadores ainda não mencionados por possíveis detentores de um produto similar, que venha a dar uma maior credibilidade às ações corretivas. Segundo Kaplan e Norton (2000), em virtude da empresa nunca ter estado nesta condição almejada, da mesma forma a trajetória tem consigo várias hipóteses interligadas. O Balanced Scorecard possibilita a descrição de hipóteses estratégicas como um grupo de relações de causa e efeito claros e objetivos, que podem a qualquer momento serem testados. O medo do novo, é uma reação inicial e natural, a resistência e o desconhecimento que fazem com que muitas vezes a proposta de implantação de uma nova ferramenta estratégica seja abandonada. Por isso, é que a conscientização da equipe da alta administração deve ser constante tarefa do responsável pelo projeto. Conforme Kaplan e Norton (2000), a ferramenta contribui fortemente para a percepção das oportunidades possíveis para que o desempenho financeiro seja melhorado. Esta melhora ocorre em virtude do aumento das receitas, e não ou somente pela diminuição das despesas. 2.5 ALINHAMENTO ESTRATÉGICO DO BALANCED SCORECARD Para que ocorra a implementação estratégica torna-se necessário a capacitação e o envolvimento das pessoas envolvidas. Algumas empresas mantêm suas estratégias em segredo, compartilhando somente para a alta administração, dessa forma o processo já inicia com falhas. As organizações que almejam a contribuição de seus funcionários transmitirão suas visões e estratégias de longo prazo, e instigarão novas ideias de como alcançar a visão e a estratégia, alinhando os processos necessários a transformação. É fundamental que cada pessoa no conjunto, saiba qual sua participação no atendimento das estratégias em cada unidade de negócio (KAPLAN; NORTON,1997). No alinhamento estratégico conta-se com três mecanismos para influenciar as prioridades das pessoas envolvidas no processo, contribuindo assim para a tradução da estratégia em objetivos e medidas. Os programas de comunicação e educação são a base do alinhamento, além de programas de estabelecimento de metas, e a vinculação de sistemas de remuneração de incentivo. O alinhamento estratégico é fundamental no atual ambiente de negócios, devido à concorrência e mudanças crescentes, se faz necessário uma interligação entre a tecnologia da Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 64 informação e a comunicação para alavancar as vantagens competitivas. O não alinhamento pode comprometer todo o planejamento estruturado (KAPLAN; NORTON, 1997). 3 COLETA E ANALISE DE DADOS Realizou-se entrevista com sócio administrador num primeiro momento, através das questões descritas abaixo, buscou-se identificar a visão, rever e reformular a missão, delimitando os temas estratégicos e as quatro perspectivas de valor do BSC. 1ª Etapa Definição dos objetivos estratégicos Entrevista com o sócio-administrador: 1- Qual a razão de ser da empresa “B”? Por que existimos? 2- O que queremos ser? 3- O que é importante para a empresa? Quais os temas corporativos mais importantes (qualidade, competitividade em preços, meio ambiente...)? 4- Quais são os objetivos financeiros (lucratividade, crescimento...)? 5- Qual é o nosso plano de jogo perante o mercado no qual estamos inseridos? 6- Como gerar, manter ou criar valor para o cliente? 7- Em que devemos ter excelência? Como? 8- O que desejam os clientes da empresa? Quanto? Quando? Como satisfazê-los? 9- O que desejam os acionistas/ sócios de nós? Quanto? Quando? 10- O que esperam os funcionários em relação a empresa? Como atendê-los? 11- Os processos internos estão de acordo com os objetivos estratégicos? De que forma? Elaboração da visão da empresa: Visão: Ser líder em embalagens de papelão no Sul do Brasil. Revisão e reformulação da missão da empresa: Missão antiga: Inovar o atendimento no segmento da embalagem, oferecendo soluções rápidas e inovadoras, que venham de encontro com a necessidade do mercado nos dias de hoje. Busca excelência com organização, perseguindo a rentabilidade e satisfação de nossos clientes. Missão atual: Produzir embalagens de papelão, ofertando opções para melhor satisfazer os clientes. Missão + Visão: Elaboração de temas estratégicos Temas estratégicos: Reformular o modelo estratégico de negócio; Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. Inovar o processo produtivo, gerando maior rentabilidade e qualidade; Ser a melhor opção de investimento dos sócios; Utilizar os ativos (fluxo de caixa) e reduzir custos; Desenvolver um ambiente de trabalho atrativo; Oferecer produto de qualidade e valor diferenciado para clientes; Atender o cliente em tempo hábil e sem danos na entrega da mercadoria. 65 Objetivos estratégicos das perspectivas de valor: Perspectiva Financeira: crescimento de vendas e receita, rentabilidade de produto, aumento da lucratividade. Perspectiva dos Clientes: excelência no atendimento, buscar a satisfação dos clientes, retenção e captação de clientes. Perspectiva dos processos internos: gerar produtos e serviços de qualidade, eficiência e agilidade na entrega, prestar assistência ao cliente. Perspectiva do Aprendizado e Crescimento: satisfação e retenção de funcionários, aprendizado contínuo. 2ª Etapa: Escolha dos indicadores estratégicos Realizou-se reunião com a equipe administrativa incluindo todos os departamentos (financeiro, RH, compras, vendas, faturamento, produção...) com a meta que com a contribuição de todos os indicadores de desempenho fossem formulados. Com a contribuição de todos é possível identificar quais indicadores são capazes de comunicar o objetivo ou intenção da estratégia de cada perspectiva de valor. Perspectivas Mapa da Estratégia Lucros Receitas Objetivos Estratégicos Crescimento de vendas e receita; Aumento da lucratividade Qualidade do produto; Atendimento Satisfação e captação de clientes; Excelência no atendimento. Financeira Clientes Indicadores Lucro operacional; Crescimento do negócio; % retenção e captação de clientes; % satisfação de clientes; Crescimento de vendas/ ano. Metas Ações Aumento de 15% no lucro; Aumento de 11% no faturamento. Aumento de 30% na retenção e captação de clientes; Aumento65% satisfação de clientes; Aumento de 25% vendas/ ano. Aumento dos pontos de vendas; Expansão do crédito; Novos representantes; Intensificação de divulgação dos produtos; Setor voltado ao atendimento do cliente pré e pósvendas. Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. Excelência na produção Gerar produtos e serviços de qualidade. 85% de produtos fabricados sem defeitos; 90% sem atraso na entrega. Capacitação e satisfação das pessoas Aprendizado contínuo; Satisfação de pessoas. Produtividade do pessoal; Melhoria no clima organizacional. Processos Internos Aprendizado e Crescimento Melhoria de 40% na qualidade; Aumento de 25% na eficiência. Aumento 20% na produtividade; Melhoria clima organizacional. 66 Programa de qualidade total Programa de produtividade. Programa Aprendizagem organizacional. Aumento do treinamento. 4 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Diante ao estudo realizado e aos dados coletados como objetivo de implantação da ferramenta estratégica BSC, sugere-se a aplicação do mapa estratégico. Após a aplicação do mapa estratégico, uma análise sobre os indicadores estratégicos de forma detalhada será capaz de mensurar os percentuais e valores que se pretende atingir, para concretização da estratégia organizacional. Ilustração 3: Mapa estratégico corporativo da empresa “B” Ser líder em embalagens de papelão do sul do Brasil. Financeira Rentabilidade e Lucratividade Clientes Satisfação do cliente Processos Internos Aprendizado e Crescimento Gerar serviço de qualidade Desenvolver competências estratégicas Excelência no atendimento Excelência na produção Crescimento das vendas Fortalecer o relacionamento organizacional e mercadológico Implementar novas tecnologias, informação integrada Proporcionar satisfação colaboradores. a dos Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 67 Após construção do mapa estratégico a empresa passa a ter uma visão ampla da estratégia. Através disso torna-se possível o atendimento da visão, que neste caso é a liderança no segmento de embalagens em papelão no Sul do Brasil. De acordo, com a necessidade e com os objetivos empresariais foram elencados os objetivos estratégicos. Estes objetivos estratégicos estão detalhados na Ilustração 3, sendo assim colocados no mapa estratégico representando relação de causa e efeito entre todos os elementos da estratégia. A empresa “B” possui um planejamento estratégico, no entanto muito estático, havendo algumas resistências para aceitar a importância de um bom planejamento constante. Esta resistência ocorre em virtude do novo, ou seja, da necessidade de rever conceitos. Portanto, conseguiu-se chegar até a construção do mapa estratégico e para dar continuidade cada indicador de desempenho lançado no mapa estratégico e contido na tabela dos indicadores estratégicos deve ser revisto e aplicado as metas de maneira estatística, para chegar a um denominador numérico, contribuindo para a determinação das metas e favorecendo o desempenho empresarial adequado. 5 CONCLUSÃO A relevância deste artigo reside em apresentar uma proposta de implantação da ferramenta de gestão estratégica BSC para a empresa do setor privado “B” Embalagens. Esta proposta visa analisar, planejar para então construir uma estratégia competitiva que gere valor superior aos grupos de interesse (executivos, clientes, colaboradores...), e criando um conjunto de objetivos estratégicos integrados entre si. Apesar de que, no início tenha gerado certa resistência ao conhecimento e a uma possível implantação de novos processos gerenciais como é o caso do Balanced Scorecard. Pois, os executivos em específico o sócio administrador acredita que o importante é a empresa estar bem financeiramente. Correto em partes, mas a organização pode estar perdendo de ter uma saúde financeira ainda melhor, porque não está sendo diagnosticado todo o processo, ou em departamentos separados. Neste ponto, é que está mascarada a falha do processo estratégico, a falta de planejamento ou a existência, mas o fato de estar engavetado torna o sistema lento, com déficit. No momento, em que a nova ferramenta estratégica é demonstrada à equipe executiva surge questionamentos, e para sanar essas dúvidas são dados exemplos de outras empresas que Revista de Administração e Comércio Exterior, v. 1, n. 2, p. 54-69, 2015. 68 utilizam essa metodologia. Porque o objetivo é mostrar a importância desse método aplicado na organização, quais os resultados e benefícios ele vai gerar em prol da aplicação da estratégia. Quando foi realizada a entrevista e a reunião os executivos puderem rever seus conceitos e optar pela melhor forma de atingir sua missão e visão através de seus objetivos estratégicos detalhados nas quatro perspectivas de valor, indicadores estratégicos, metas e ações. Após os dados coletados foram aplicados no mapa estratégico alinhando os objetivos interligados numa relação causa e efeito, para a concretização da visão organizacional. Na demonstração dos dados coletados à equipe administrativa, houve real interesse na ferramenta estratégica BSC, para sequência do processo será necessário a partir desta etapa coletar os indicadores de desempenho e transpor em dados estatísticos, elencando as metas a serem atingidas por um período pré-determinado pelo responsável pelo projeto estratégico. O BSC é uma ferramenta capaz de atender às novas exigências de gerenciamento dentro dos cenários econômicos em constante mudança, sendo um instrumento para a construção de uma estrutura de indicadores de desempenho compatível com o mercado atual. Como contribuição gerencial, auxilia a empresa no desenvolvimento e projeção no mercado de atuação, em relação a contribuição acadêmica, o estudo de caso contribui a medida que apresenta oportunidades de aplicação em empresas que conquistaram êxito em virtude da adoção desta ferramenta estratégica. Como propostas de estudos futuros, seria interessante desenvolver dos estudos em empresas do mesmo ramo, mas, no entanto, estivesse se utilizando de ferramentas estratégicas distintas, para que seja possível uma avaliação de qual se adaptou melhor ao ramo de atividade experimentado. 6 REFERÊNCIAS ARAUJO, Luis César G. de. Organização, sistemas e métodos e as tecnologias de getão organizacional. 3ª ed – São Paulo: Atlas, 2010. 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