CULTURA ORGANIZACIONAL E AMBIENTE CRIATIVO: ELEMENTOS FORMADORES DA CULTURA COMO BARREIRA OU ESTÍMULO À CRIATIVIDADE. Andresa Paula de Sousa1 João Francisco Lins Brayner Rangel Junior2 RESUMO Este estudo analisa a influência da cultura organizacional para a formação de um ambiente criativo. Foram considerados elementos formadores da cultura e sua relação com estímulos e barreiras à criatividade. A amostra foi constituída por discentes de bacharelado em Administração e o método foi quanti-qualitativo, através de um instrumento em escala Likert, com 77 afirmativas, onde os dados foram tratados com o software SPSS- Statiscs, para a obtenção do Qui-quadrado de Pearson. Como resultado, foi identificado que a cultura não está fortemente ligada a criatividade como estímulo e nem como barreira. Palavras chave: Criatividade. Cultura organizacional. Estímulos e Barreiras. ABSTRACT This study examines the influence of organizational culture to the formation of a creative environment. Were considered formative elements of culture and its relation to incentives and barriers to creativity. The sample consisted of students of Bachelor in Business Administration and the method was quantitative and qualitative, using a Likert scale instrument with 77 statements, where the data were treated with SPSSStatiscs software, to obtain the chi-square test. As a result, it was identified that culture is not strongly linked to creativity as a stimulus and not as a barrier. Keywords: Creativity. Organizational culture. Incentives and Barriers. 1 Graduanda do Bacharelado em Administração no Centro Universitário do Vale do Ipojuca - UNIFAVIP, na cidade de Caruaru –PE. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, na cidade de Recife –PE. E-mail: [email protected] 1 INTRODUÇÃO O cenário atualmente enfrentado pelas organizações requer das mesmas um maior dinamismo; é necessário que elas sejam administradas de modo que facilite sua adaptação às mudanças ocorridas no ambiente externo em que estão inseridas. Cada empresa possui singularidades, podendo-se relacionar a cultura organizacional a tais particularidades, que por sua vez formam a essência da cultura de cada empresa. Para Schein (2009, p. 16), a cultura organizacional está relacionada a um padrão de suposições básicas compartilhadas. O conceito de Schein propõe que a cultura de uma empresa é algo padronizado e compartilhado pelos membros que a compõe. Desta forma, há um padrão de suposições que influencia o comportamento das pessoas envolvidas. O estudo da cultura corporativa pode apresentar indícios do tipo de ambiente interno da empresa e, por conseguinte, evidenciar a influência da mesma sobre os indivíduos formadores do quadro funcional. Tal influência pode facilitar ou dificultar a promoção da criatividade nas organizações, de modo que este assunto despertou o interesse de pesquisadores e gestores, pois para que se obtenha uma organização competitiva é necessário, entre outros fatores, um ambiente promotor de iniciativa e inovação. O presente estudo tem como objetivo identificar a influência exercida pela cultura organizacional para a formação de um ambiente criativo sob o ponto de vista de discentes de um curso de bacharelado em Administração, além de associar a cultura organizacional à criatividade e evidenciar a relevância da criatividade no ambiente organizacional. Diante desta prerrogativa, pode-se indagar qual a influência da cultura organizacional sobre a criatividade no ambiente corporativo, na percepção dos discentes do bacharelado de Administração de uma instituição de ensino superior? 2 CULTURA ORGANIZACIONAL Ao observar a rotina de uma empresa, é possível constatar o cotidiano de processos que formam a organização, assim como os hábitos e rituais que identificam a cultura de cada empresa, tornando cada uma delas única perante as outras e evidenciando que existem elementos que formam esta cultura e que a mesma pode representar uma vantagem ou um entrave para uma organização, com relação a Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 77 aspectos como criatividade, competitividade, entre outros. De acordo com Daft (2008, p. 351), cultura organizacional se constitui como um conjunto de valores, normas, crenças-guia e conhecimentos que são compartilhados pelos membros de uma organização e transmitidos para os seus novos membros. Tais características fazem com que as empresas possuam particularidades, as quais formam seus hábitos e norteiam o comportamento de seus integrantes, além de serem repassadas para os colaboradores que entram na organização. A cultura organizacional possui influências externas, pois as organizações estão inseridas em um ambiente e têm uma interação com o mesmo, e, por conseguinte os colaboradores trazem os seus hábitos e incrementam os valores que constituem a cultura de uma organização (PIRES e MACEDO, 2006). Tomando como norteador o pensamento de Schein (2009), a cultura organizacional advém da aprendizagem acumulada e compartilhada de elementos, que se sobressaem ao comportamento dos colaboradores, a partir do momento em que há consistência e precedentes de tal compartilhamento, formam-se padrões que originam a cultura de uma organização. Descrever os elementos que integram a cultura organizacional permite que a abordagem do tema seja feita de forma mais concreta. Para Motta (2010), a cultura organizacional possui elementos que a constituem e podem permitir sua melhor observação. A figura 1 mostra os elementos que integram a cultura organizacional e permitem sua observação e estudo, são eles: Mitos: histórias sobre os fundadores da organização que circulam dentre os colaboradores sem determinar a origem; Tabus: assuntos que não devem ser abordados devem ser observados, pois revelam traços da cultura organizacional; Ritos coletivos: a forma de tratamento, recepção de novos colaboradores, hábitos coletivos em geral, diferenciação entre chefes e funcionários com relação a grupos e formas de se portar. Valores: tanto os valores repassados pelos gestores, quanto os valores propagados pelos colaboradores; Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 78 Normas: quais são as normas e como elas influenciam o comportamento dos colaboradores formam aspectos importantes para a cultura da organização; Linguagem: a existência de dialetos em comum, formas de se expressar que são típicas de determinado ambiente organizacional. Figura 1 – Elementos formadores da cultura da organização TABUS MITOS RITOS COLETIVOS LINGUAGEM CULTURA ORGANIZACIONAL NORMAS VALORES É importante evidenciar que tais elementos também trazem consigo a influência dos hábitos pessoais de cada colaborador e consequentemente a região que a organização está inserida, e a educação dos mesmos exerce interferência na formação da cultura organizacional. Ou seja, a cultura de uma organização possui elementos que integram duas perspectivas: os elementos formais, repassados pelos gestores, e os elementos informais, advindos das pessoas que formam a organização e suas subculturas, Motta (2006, p. 293). 3 CRIATIVIDADE NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL O atual contexto enfrentado pelas organizações, onda há alta competitividade e os consumidores cada vez mais exigentes por qualidade, desenha um cenário aonde cada organização deve primar por ter um diferencial, o que gera o interesse pelo Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 79 estímulo da criatividade dos colaboradores por parte dos gestores. O ambiente das empresas competitivas necessita de profissionais que pensem e apresentem rapidamente as decisões e/ou soluções a fim de alavancar o resultado operacional. Bruno-Faria et al (2013, p. 63). Para Bruno-Faria (2003, apud ALENCAR et al, 2010, p. 115) a criatividade nas organizações é a geração de novas ideias que contribuam de forma valiosa e que possam ser implementadas. É importante ressaltar que neste conceito a criatividade possibilita a inovação, e esta última possui uma relação com a criatividade, porém a inovação seria a implementação do que foi gerado com a criatividade e, por conseguinte, gera uma mudança na organização. Faz-se necessária também a percepção de que o ambiente interno e externo da organização onde os colaboradores estão envolvidos interfere no seu estado criativo. Para Hill e Amabile apud Bruno-Faria e Alencar (1996) é importante que além do aspecto individual da criatividade, seja analisado também o ambiente social que envolve o indivíduo. Ainda de acordo com estes, o ambiente de trabalho possui características que podem servir de estímulos ou de barreiras à criatividade do colaborador, de modo que tais características compõem os Indicadores de Clima para a Criatividade (ICC), como demonstra o quadro a seguir: Quadro 1- Estímulos e barreiras à criatividade ESTÍMULOS NAS ORGANIZAÇÕES NO AMBIENTE TRABALHO Estrutura organizacional Liberdade e autonomia Salário e benefícios Suporte da chefia Suporte do grupo de trabalho Suporte organizacional DE Desafios Participação Suporte da chefia Suporte do grupo de trabalho Suporte organizacional BARREIRAS Características da chefia Comunicação Cultura organizacional Estrutura organizacional Relações interpessoais Comunicação Cultura organizacional Estrutura Organizacional Influências político administrativas Relações interpessoais Volume de serviços Fonte: Fonseca e Bastos (2003) O Quadro 1 evidencia, tal como foi constatado na pesquisa de Bruno-Faria e Alencar (1996), na qual as autoras apontam as características que representam Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 80 estímulos e barreiras à criatividade, abordando tanto o ambiente de trabalho de cada indivíduo, como o ambiente organizacional como um todo. 4 AMBIENTE CRIATIVO É importante que, para o sucesso da organização, a mesma possua características adaptáveis às mudanças e a instabilidade advinda do mercado. A adaptabilidade de uma organização requer dela criatividade para a superação de momentos difíceis, assim como para a conquista de um diferencial de mercado. Para que este feito seja possível, é necessário que os gestores promovam um ambiente favorável a criatividade dentro de suas organizações. De acordo com Bruno-Faria e Alencar (1996, p. 25), um ambiente favorável à criatividade forma-se com as seguintes características: Suporte da organização (reconhecimento do trabalho que apresente criatividade); Estrutura Organizacional (menores níveis hierárquicos, flexibilidade); Apoio da chefia (aceitação e estímulos à criatividade) e Suporte do grupo de trabalho (diálogo, bons relacionamentos, troca de experiência entre as equipes). Os elementos apontados pelas autoras como promotores da criatividade levam a uma concepção de que os mesmos estão bastante relacionados à cultura organizacional, pois tais elementos podem estar presentes ou não na formação de uma cultura e sua ausência ou presença vai definir a cultura como estímulo ou barreira à criatividade na organização. 5 CULTURA ORGANIZACIONAL X AMBIENTE CRIATIVO Entende-se que algumas características do ambiente corporativo podem interferir no comportamento e/ou nas atitudes dos colaboradores que nela estão inseridos. Tais características advêm da formação cultural de cada organização. Existem culturas organizacionais adaptativas e não-adaptativas, as quais são definidas como de alta flexibilidade e bastante mutável, promovendo e se adaptando bem às mudanças e inovações, e outra como conservadora e favorável a permanência no status quo, respectivamente, Chiavenato (2010, p. 177). Empresas que possuem uma cultura não-adaptativa, ou seja, conservadora, tendem a propiciar a formação de barreiras à criatividade de seus colaboradores. Tais organizações apresentam grandes apegos a seus valores e hábitos que permanecem imutáveis ao passar do tempo e fazem com que as mesmas acabem não se adaptando às mudanças que ocorrem nos Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 81 cenários em que estão constituídas. Fato este, que vai de encontro ao conceito de que uma companhia pode ser analisada como um sistema, porque a organização está continuamente submetida a mudanças dinâmicas que requerem balanço e equilíbrio (CHIAVENATO, 2003, p. 482). Já empresas que têm culturas adaptativas optam por atualizar-se, fazem com que seu ambiente interno seja de constante mudança, permitindo com que haja uma melhor adequação com o ambiente externo. Este fato faz com que seja possível associar as empresas de culturas adaptativas com ambientes promotores da criatividade organizacional. De acordo com Chiavenato (2010, p. 178) “[...] culturas adaptativas se caracterizam pela criatividade, inovação e mudança”. Observa-se então uma relação da cultura organizacional com a formação de barreiras e/ou estímulos à criatividade no ambiente corporativo, de modo que a depender das características culturais de uma empresa, é possível que haja uma promoção da criatividade. 6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa caracteriza-se como quanti-quali descritiva, na qual a interpretação ocorre na forma de escalas numéricas, mas trata-se da análise de fatores subjetivos como, no caso, elementos formadores da cultura organizacional e ao mesmo tempo tem-se o objetivo de descrever/delinear características de determinado fenômeno, ou seja, como a cultura pode contribuir ou não para um ambiente promotor da criatividade. Para esta pesquisa foi selecionada uma instituição de ensino de grande influência na região, sendo o primeiro centro universitário do interior da região Nordeste do Brasil, o qual conta, atualmente, com 6.500 alunos na graduação e pósgraduação (lato sensu), distribuídos em mais de 30 cursos, na cidade de Caruaru, em Pernambuco, e também faz parte de uma rede com outras unidades de ensino nas cidades de Fortaleza (CE), Salvador (BA), Recife (PE) e em Teresina (PI). E como amostra, foram utilizados estudantes dos 8º períodos do bacharelado de Administração de Empresas, pelo fato de possuírem um grau de conhecimento interessante para uma avaliação mais precisa acerca do assunto. O instrumento para coleta de dados foi composto por um questionário contendo 77 afirmativas, no qual se utilizou uma escala de Likert de 4 pontos Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 82 dispostos entre “Discordo totalmente” e “Concordo totalmente”. A tabulação dos dados foi realizada com o software SPSS Statistics, versão 22. Anteriormente à aplicação definitiva do questionário foi realizado um préteste, com uma amostra composta por 10 respondentes, objetivando verificar a viabilidade e a operabilidade do mesmo, afim de que fossem constatadas possíveis oportunidades de melhora do instrumento e deste modo, os resultados obtidos fossem mais confiáveis e relevantes. O instrumento de pesquisa, em forma definitiva, foi aplicado com as duas turmas de 8º períodos do bacharelado em Administração, com uma amostra de 51 respondentes, composta pelos alunos concluintes da graduação que já estão inseridos no mercado de trabalho, por terem um grau de conhecimento interessante, o que os permite uma percepção coerente sobre os aspectos analisados na pesquisa. 7 EXPOSIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos dados foi realizada em duas etapas, cuja primeira consistiu em verificar os elementos formadores da cultura organizacional mais presentes, na percepção dos respondentes, através dos percentuais de respostas das questões que se relacionavam a estes elementos. A segunda parte da análise dos dados obtidos tratou de relacionar a cultura organizacional com a formação de barreiras ou estímulos à criatividade. O perfil da amostra é descrito através de questões que abordavam sexo, faixa etária e tempo de empresa de cada respondente, caracterizando-se pela maioria do sexo feminino (56,9%), entre 18 e 29 anos (88,20%) e com 1 a 3 anos de empresa (43,10%). Para avaliar quais elementos formadores da cultura organizacional estão mais persentes na percepção dos respondentes, foi feita a soma do percentual de respostas do tipo “Concordo totalmente” e “Concordo parcialmente” de cada questão sobre tais elementos, considerando que concordando totalmente ou parcialmente o respondente afirma a existência de tal elemento na cultura organizacional em que está inserido, vale ressaltar que os respondentes estão inseridos em diversas culturas, diante do fato de que trabalham em empresas diferentes, o que poderia resultar na percepção de vários elementos da cultura, de forma heterogênea. Porém, os resultados mostram a maior percepção de alguns valores especificamente, o que pode Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 83 evidenciar uma influência cultural de uma microrregião em que os respondentes estão inseridos, já que os mesmos trabalham, em sua maioria, nas empresas da cidade de Caruaru e cidades circunvizinhas como: Bezerros, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe. Como a cultura organizacional recebe influências externas, ao estudar a cultura de empresas de uma mesma microrregião, pode-se constatar uma percepção comum à maioria dos envolvidos. Os valores mais percebidos estão listados no quadro 2: Quadro 2 – Elementos culturais mais percebidos ELEMENTOS PERCENTUAL PERCEBIDO VALORES 80,30% NORMAS 62,30% RITOS COLETIVOS 55,70% TABUS 51,20% LINGUAGEM 44,80% MITOS 32,70% Fonte: dados da pesquisa Os elementos mais percebidos pelos respondentes são: Valores (80,30%), Normas (62,30%), Ritos Coletivos (55,70%) e Tabus (51,20%). No quesito “Valores” estava intrínseca a ideia de que os valores de uma organização norteiam o comportamento dos envolvidos. O fato dos respondentes evidenciarem a sua percepção sobre esses valores reitera a perspectiva de Schein (2009, p. 15) de que os valores, a partir do esforço continuado da gestão para que sejam absorvidos pelos colaboradores, acabam sendo tratados como suposições não negociáveis, ou seja, acabam sendo totalmente acatados. Ao constatar o elemento “Normas” com 62,30% de nível de percepção, pode-se supor uma cultura alicerçada em regras a serem cumpridas pelos colaboradores, de forma que os colaboradores tenham que se adaptar a elas para viabilizar sua permanência na organização e também suas ideias sejam sempre elaboradas de forma a não infringir estas normas, o que pode significar uma barreira para a criatividade. Em seguida, o elemento “Ritos coletivos” com 55,70% de percepção aponta uma cultura onde há presença de valores importantes repassados a todos, originando Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 84 atitudes coletivas em comum, o que remete mais uma vez ao elemento “valores” que teve o maior índice de percepção, pois os valores tão enraizados podem ter relação com a presença de ritos coletivos tão presentes. Por fim, dentre os mais percebidos, há o elemento “Tabus” com 51,20%, o que pode significar uma relação com a percepção das normas, pois assuntos que não devem ser comentados dentro da organização, ou seja, tabus, evidenciam que a organização preza por moldar o comportamento de seus membros, evitando atitudes consideradas inadequadas por eles, tal modo de gestão também pode representar uma barreira para a criatividade no tocante a liberdade de expressão que é um fator importante para obtenção de um ambiente criativo em uma organização. 7.1 Relacionando os resultados: cultura x ambiente criativo. Para a segunda fase da pesquisa buscou-se analisar a relação de interferência da cultura organizacional sobre o ambiente promotor de criatividade em uma empresa, e para tal feito, com o auxílio do software SPSS Statistics, versão 22, foi utilizado o teste de Qui-Quadrado de Pearson, que, de acordo com Conti (2009, p. 1), define-se como: “[...] um teste de hipóteses que se destina a encontrar um valor da dispersão para duas variáveis nominais, avaliando a associação existente entre variáveis qualitativas.” O objetivo do X² - Qui- Quadrado é medir as proporções, de forma a verificar a diferença entre as frequências esperadas e as observadas, deste modo, é possível estabelecer uma relação entre a proporção de respostas de determinadas variáveis. Como valor alfa para o cálculo do X² adotou-se 0,05, ou seja, resultados de até 0,05 significam forte semelhança no comportamento de dois grupos de variáveis, no tocante as frequências observadas e as esperadas, quanto mais próximos de zero forem os resultados, mais forte a semelhança. Ao analisar os elementos culturais separadamente, com estímulos e barreiras a criatividade, o teste X² mostrou resultados diferentes para cada elemento, como demonstra o quadro 3, no qual vemos os resultados de todos os elementos culturais no que diz respeito a estímulos e barreiras à criatividade. Quadro 3 – Resultados dos testes Qui-Quadrado dos elementos culturais em relação a estímulos e barreiras à criatividade Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 85 ELEMENTO Valores Normas Ritos coletivos Tabus Linguagem Mitos Estímulo Barreira Estímulo Barreira Estímulo Barreira Estímulo Barreira Estímulo Barreira Estímulo Barreira QUI-QUDRADO DE PEARSON 0,088 0,403 0,055 0,634 0,013 0,178 0,546 0,288 0,016 0,131 0,028 0,164 Fonte: dados da pesquisa Começando com a análise do elemento cultural “Valores” em relação aos estímulos e a criatividade, cujo resultado obtido foi 0,88, o que aponta baixa semelhança. Neste caso, os valores não necessariamente favorecem a um ambiente promotor de criatividade, pelo menos no que diz respeito à cultura em que os respondentes estão inseridos, possivelmente valores da microrregião, que acabam refletindo no modo de gestão destas empresas, não são facilitadores no contexto necessário para criatividade no ambiente corporativo. No que diz respeito ao mesmo elemento “Valores”, sendo analisado frente às barreiras para o ambiente criativo, o resultado encontrado é de X² 0,403 evidenciando uma semelhança ainda mais baixa com relação a estímulos. Infere-se então que o elemento valores, apesar de não ter o papel de influenciar os estímulos à criatividade, também não representa necessariamente uma barreira, pois estatisticamente possui ainda mais fraca semelhança. Em seguida, ao verificar o elemento “Normas” e seu grau de semelhança no que se refere aos estímulos à criatividade, foi constatado o X² 0,55, o que direciona a análise ao fato de que as normas não favorecem a obtenção de ambiente criativo, pois quando muito rígidas, as normas podem fazer com que os colaboradores não se sintam à vontade para arriscar, tentar desenvolver novas formas de trabalho. Com relação ao elemento “Normas” mediante a contribuição como barreira à criatividade, o X² resultou em 0,634, evidenciando que nesta conjectura as normas não representam necessariamente uma barreira, pois o resultado do teste é muito Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 86 distante do valor alfa de 0,05, apesar de tal elemento também ter sido o segundo mais percebido pelos respondentes, o que direciona a acreditar que, as mesmas como um elemento muito presente nas culturas avaliadas, podem caracterizar uma cultura organizacional rígida. O resultado, de acordo com os tipos de culturas vivenciadas pelos respondentes, vai de encontro ao que afirmam Alencar e Bruno-Faria (1996, p. 53) quando apontam que a forte presença de normas em uma organização funciona como uma barreira à criatividade em um ambiente corporativo, podendo apontar a necessidade de uma pesquisa mais aprofundada para averiguar este fato, pois o elemento “Normas” pode não necessariamente representar uma barreira no contexto da microrregião analisada, tendo em vista suas características, que representam influência na formação da cultura local e organizacional. Na análise do elemento “Ritos Coletivos” referindo-se à estimulação da criatividade foi observado o X² 0,013, o qual não representa semelhança, porém a disparidade entre este resultados e outros já obtidos é significativa, pois este se aproxima mais do valor que poderia representar alguma semelhança, o que pode ser avaliado de forma que, mesmo não sendo um elemento cultural promotor do ambiente criativo para todos os envolvidos na pesquisa, infere-se que em alguns casos pode significar sim uma forma de estimulá-los. Observando a análise do mesmo elemento no que diz respeito às barreiras ao ambiente criativo, o teste X² foi 0,178 e não há semelhança e o número é ainda mais distante do valor alfa, induzindo ao fato de que para a situação avaliada, os ritos coletivos podem sim estimular à criatividade de alguns colaboradores envolvidos. Os ritos coletivos podem representar uma maneira comum de comportamento, proporcionando interação entre os membros e, por conseguinte, relacionamentos que permitem aos envolvidos a liberdade de se expressar e criar. Ao verificar o elemento “Tabus” mediante estímulos à criatividade, o X² 0,546 representa que não há semelhança entre eles, ou seja, que a existência de tabus na cultura corporativa sob a percepção dos respondentes não propicia um ambiente criativo, o que indica a falta de liberdade de expressão, devido aos tabus da organização poderem dificultar a promoção da criatividade. Já no tocante ao elemento “Tabus” frente às barreiras à criatividade, o teste aponta um X² 0,288, a semelhança também não existe, o que tendencia a ideia de Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 87 que os tabus, nesta perspectiva cultural dos respondentes, não representa exatamente uma barreira, porém a discrepância é menor do que quando o mesmo elemento é avaliado mediante a estímulos à criatividade, tal fato pode significar que os tabus não têm tanta representatividade, quando se trata de criatividade, pelo menos para a maioria dos envolvidos. Analisando a “Linguagem” no que se refere a estímulos à criatividade, o teste X² resultou em 0,016, indicando que não há semelhança entre as variáveis. Nesta perspectiva, pode-se inferir que, além deste elemento não ser fortemente percebido pelos envolvidos sendo o segundo menos percebido, também não se faz relevante no que diz respeito à estimulação da criatividade, quando analisado na cultura que envolve os respondentes. O mesmo elemento, desta vez sendo analisado referente às barreiras à criatividade, apresentou um X² 0,131, representando uma semelhança ainda mais baixa, este resultado traz a ideia de que o elemento “Linguagem” não exerce relevante influência sobre a formação do ambiente criativo para os respondentes, pois não representa barreira nem estímulo à criatividade. Ao observar o teste Qui-Quadrado do elemento “Mitos”, último abordado neste estudo, no que se refere a estímulos à criatividade, o número apresentado foi 0,028, não evidenciando semelhança, pode ter alguma relação com o fato de que este elemento foi o menos percebido pelos respondentes, ou seja, o mesmo não se faz presente de forma relevante nas culturas analisadas e desta forma não representa estímulo. Já quanto a este mesmo elemento em relação às barreiras à criatividade, o X² 0,164 mostra que os mitos também não representam uma barreira à promoção da criatividade organizacional, possivelmente pelo fato de sua irrelevância no contexto analisado. Após a análise dos elementos separadamente frente aos estímulos ou barreiras à criatividade, foi feita a análise geral da cultura sob a percepção dos envolvidos em relação aos estímulos e foi obtido um X² 0,172, caracterizando a não existência de semelhança, ou seja, as culturas analisadas não apontam a formação de um ambiente que estimule a criatividade. Isto pode significar que estas empresas não atentaram ainda para o fato de que estão contribuindo para que seus colaboradores não desenvolvam o seu potencial criativo, o que traz competitividade para as organizações, ou que os aspectos culturais empresariais podem sim estimular ou barrar a criatividade. Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 88 Quadro 4 - Teste Qui-Quadrado cultura estímulos 700 células (100,0%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada é ,02. Qui-Quadrado de Pearson Razão de verossimilhança Valor Significância Sig. (2 lados) df 681,917 648 ,172 230,788 648 1,000 Associação Linear por Linear 2,752 N de Casos Válidos 1 ,097 49 Fonte: dados da pesquisa Fonte: dados da pesquisa Quanto a análise da cultura com relação às barreiras à criatividade, o teste resultou em um número que representa ainda mais baixa semelhança, X² 0,331, este número indica que esta cultura não representa uma barreira à criatividade e com uma semelhança ainda menos que o número apresentado na análise em relação a estímulos. É possível inferir que a cultura como um todo não seja um empecilho para Quadro 5- Teste Qui-Quadrado cultura barreiras 840 células (100,0%) esperavam uma contagem menor que 5. A contagem mínima esperada é ,02. Qui-Quadrado de Pearson Razão de verossimilhança Associação Linear por Linear Valor df 798,700 782 254,887 782 11,486 Significância Sig. (2 lados) ,331 1,000 1 ,001 N de Casos Válidos 49 um ambiente criativo, e sim, um ou mais elementos formadores da mesma façam este papel. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado obtido neste estudo chama a atenção para o fato de que não foi encontrada uma semelhança em nenhuma das análises dos elementos das culturas abordadas quanto a estímulos ou barreiras à criatividade, isto pode advir do fato de estas empresas estarem inseridas em determinada microrregião e as características culturais desta microrregião influenciar a formação da cultura organizacional de forma que seus ambientes internos não sejam promotores e também não seja Veredas Favip ano 10 | volume 7 | número 1 | 2014 89 formadora de uma barreira para a criatividade. Não se podem generalizar os resultados evidenciando que todas as empresas que os respondentes trabalham tenham estas características cultural, pois para isso seria necessário um estudo mais aprofundado das características da microrregião e destas organizações. É provável que, no caso das barreiras não terem se relacionado com aspectos culturais, advenha de algum outro elemento importante da cultura dessas corporações, que não tenha sido analisado, represente essa barreira, ou algum elemento abordado no estudo esteja exercendo este papel, mas de forma muito intrínseca, não evidente e por isso a dificuldade de encontrá-lo nesta pesquisa. A presente pesquisa é apenas uma possibilidade de abordagem do tema que é tão vasto. Fica clara a importância de um estudo mais aprofundado sobre o assunto para que se tenha um diagnóstico mais preciso. 9 REFERÊNCIAS ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de; BRUNO-FARIA, Maria de Fátima; FLEITH, Denise de Souza. Medidas de Criatividade: Teoria e Práticas. 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