secretaria de estado da saúde programa de aprimoramento

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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
MARÍLIA REGINA DOS SANTOS VALENÇA
ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA: SUA INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS AFETADOS E CONHECIMENTO DOS
PROFISSIONAIS D A ÁREA DA SAÚDE A RESPEITO DESTE TEMA
Marília
2014
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
MARÍLIA REGINA DOS SANTOS VALENÇA
ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA: SUA INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS AFETADOS E CONHECIMENTO DOS
PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE A RESPEITO DESTE TEMA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa
de Aprimoramento Profissional/SES-Fundap, elaborado na
Faculdade de Medicina de Marília, sob a orientação da
Nutricionista Karen de Barros Lima Longo.
Área: Nutrição Clínica.
Marília
2014
V152
Valença, Marília Regina dos Santos
Alergia à proteína do leite de vaca: sua influência na qualidade de
vida de indivíduos afetados e conhecimento dos profissionais da área
da saúde a respeito deste tema. - - Marília, SP: [s.n.], 2014.
Orientador: Karen de Barros Lima Longo
Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de Aprimoramento
Profissional) – Secretaria de Estado da Saúde-Fundap, elaborado na
Faculdade de Medicina de Marília.
Área: Nutrição Clínica.
1. Hipersensibilidade alimentar. 2. Hipersensibilidade a leite.
3. Qualidade de vida
MARÍLIA REGINA DOS SANTOS VALENÇA
ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA: SUA INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS AFETADOS E CONHECIMENTO DOS
PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE A RESPEITO DESTE TEMA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Programa de Aprimoramento Profissional/SESFundap,
elaborado na Faculdade de Medicina de Marília em
Nutrição Clínica.
Área: Nutrição Clínica
Comissão de Aprovação:
_______________________________
Karen de Barros Lima Longo
Orientador
_______________________________
Mércia Santana Rezende
Coordenadora PAP (SES/Fundap) – FAMEMA
Área: Nutrição Clínica
_______________________________
Profª. Drª. Roseli Vernasque Bettini
Coordenadora PAP (SES/Fundap) – Famema
Data de Aprovação: _______________
AGRADECIMENTO
Primeiramente e especialmente a Deus, minha fonte de alegria, força, proteção e por ter me
mostrado esperança onde não havia esperança.
Aos meus filhos, meu orgulho e razão da minha vida, pelo incentivo, confiança, carinho,
cuidado, amor e compreensão de sempre.
À nutricionista Karen, pela disposição em orientar-me e pela grandeza em partilhar seus
conhecimentos valorosíssimos, a quem admiro, pela sabedoria, competência, dedicação e
tranquilidade que transmite como profissional e ser humano.
A todas as nutricionistas do Hospital das Clínicas de Marília, pela oportunidade, respeito,
aprendizado e por fazerem parte dessa etapa tão importante e especial em minha vida.
E aos funcionários da Unidade de Alimentação e Nutrição, por me acolherem e por cada
abraço que se traduzia em afeto, respeito e carinho.
Mas os que confiam no Senhor recebem sempre novas forças. Voam nas alturas
como águias, correm e não perdem as forças, andam e não se cansam.
Isaías 40:31.
RESUMO
MARÍLIA REGINA DOS SANTOS VALENÇA. Alergia à proteína do leite de vaca: sua
influência na qualidade de vida de indivíduos afetados e conhecimento dos profissionais da
área da saúde a respeito deste tema. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Nutrição
Clínica do Programa de Aprimoramento Profissional/SESFundap/FAMEMA). Faculdade de
Medicina de Marília. Marília. 2014. 33 p.
A alergia alimentar é caracterizada por um conjunto de manifestações clínicas consequentes
de mecanismos imunológicos decorrentes da ingestão, inalação ou contato com determinado
alimento. Entre os alimentos que desencadeiam sintomas alérgicos na faixa etária pediátrica, o
mais significativo é o leite de vaca, tendo prevalência de 2 a 3% em crianças menores de um
ano. O leite de vaca é frequentemente utilizado em substituição ao leite materno e seu uso
abusivo elevou a incidência dessa doença. Estudos demonstram que as alergias alimentares
afetam negativamente a qualidade de vida dos pacientes e familiares, especialmente por ser
uma doença na qual a restrição alimentar é a principal forma de tratamento, com necessidade
constante de vigilância para as reações alérgicas. O tratamento consiste na eliminação do leite
de vaca e seus derivados da dieta, além de produtos e preparações contendo esses alimentos.
Crianças submetidas a essa dieta sem orientação adequada estão sob risco nutricional e podem
apresentar repercussões no crescimento ponderoestatural e no desenvolvimento. O
diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca deve ser feito de maneira criteriosa, evitando
expor a criança e sua família à restrição alimentar desnecessária, exigindo dos profissionais da
área da saúde, conhecimento e habilidade no manejo desta patologia. Esse estudo teve como
objetivo realizar uma revisão de literatura sobre alergia à proteína do leite de vaca e seus
efeitos na qualidade de vida dos indivíduos afetados, bem como o conhecimento de
profissionais da área da saúde sobre o tema. A metodologia baseou-se na seleção de textos
originais e publicações científicas através das bases de dados Lilacs e PubMed, além de
pesquisa em livros e consenso. Este estudo permitiu concluir que a alergia à proteína do leite
de vaca tem prevalência elevada e potencial debilitante na qualidade de vida dos pacientes.
Mostrou também que os profissionais da área da saúde, pediatras e nutricionistas,
demonstraram erros nos conceitos das principais recomendações terapêuticas, cujas
discordâncias observadas em orientações ou condutas, ressaltam a importância de se elaborar
estratégias educacionais que ampliem os conhecimentos destes profissionais.
Descritores: Hipersensibilidade alimentar. Hipersensibilidade a leite. Qualidade de vida.
ABSTRACT
MARÍLIA REGINA DOS SANTOS VALENÇA. Allergy to cow’s milk protein: its
influence on quality of life in affected individuals as well as the ability of health area
professionals on this subject. Paper work of course conclusion (clinical nutrition course of the
professional enhancement program/SES Fundap/FAMEMA). Faculdade de Medicina de
Marília. Marilia. 2014. 33 p.
Food allergy is characterized by a set of clinical manifestations consequent from
immunological mechanisms arising from ingestion, inhalation or contact with certain food.
Among the foods that trigger allergic symptoms in pediatric age group, the most significant is
the cow's milk, with a prevalence of 2 to 3 percent in children under one year old. Cow's milk
is often used as a replacement for breast milk and its abuse has raised the incidence of this
disease. Studies show that food allergies affect negatively the quality of life of patients and
their families, especially for being a disease in which the food restriction is the main measure
of treatment, with constant need for vigilance to allergic reactions. The treatment consists of
elimination of cow's milk and dairy products from the diet, as well as products and
preparations containing these foods. Children subjected to this diet without proper guidance
are under nutritional risk and may have repercussions on ponderoestatural growth and
development. The diagnosis of allergy to cow's milk protein must be done carefully, avoiding
exposing the child and his family to an unnecessary food restriction , requiring pediatricians
and nutritionists, knowledge and skill on the management of this pathology. This study aims
to carry out a review of literature on allergy to cow's milk protein and its effects on quality of
life of the affected individuals, as well as the ability of the healthcare professionals on the
topic. The methodology was based on the selection of original texts and scientific publications
via PubMed and Lilacs databases as well as in books and consensus research. This study
allowed to conclude that the allergy to cow's milk protein has high prevalence and potential
debilitating on patients' quality of life. Beside that, healthcare professionals, pediatricians and
nutritionists, showed errors in the main therapeutic recommendations, concepts whose
disagreements observed in guidelines or ducts, underscore the importance of applying
educational strategies that broaden the knowledge of these professionals.
Keywords: Food hypersensitivity. Milk hypersensitivity . Quality of life.
SUMÁRIO
1 Introdução..........................................................................................................................07
2 Objetivo.............................................................................................................................09
3 Metodologia......................................................................................................................10
4 Desenvolvimento...............................................................................................................11
4.1 Função do sistema imune...............................................................................................11
4.2 Reações excessivas do sistema imune............................................................................11
4.3 Mecanismos efetores da imunidade mediada por células..............................................12
4.4 Mecanismos efetores da imunidade humoral.................................................................13
4.5 Classificação das reações de hipersensibilidade............................................................14
4.5.1 Tipo I: hipersensibilidade imediata (anafilática)........................................................14
4.5.2 Tipo II: hipersensibilidade..........................................................................................14
4.5.3 Tipo III: hipersensibilidade por imunocomplexos......................................................14
4.5.4 Tipo IV: hipersensibilidade mediada por células (tardia)...........................................15
4.6 História natural da alergia à proteína do leite de vaca...................................................16
4.7 Permeabilidade da mucosa intestinal e sua influência no processo alergênico.............17
4.8 Importância do aleitamento materno exclusivo.............................................................18
4.9 Impacto da APLV na qualidade de vida........................................................................20
4.10 Manifestações alérgicas alimentares...........................................................................20
4.10.1 Sintomas relacionados à alergia à proteína do leite de vaca....................................21
4.10.2 Sintomas de alergia à proteína do leite de vaca de acordo com a faixa etária.........22
4.11 Conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre alergia ao leite de vaca.................23
4.12 Diagnóstico de APLV.................................................................................................24
4.12.1 Teste salivar para alergia tardia...............................................................................26
4.13 Tratamento..................................................................................................................27
4.13.1 Orientação nutricional..............................................................................................28
5 Considerações finais........................................................................................................30
Referências .........................................................................................................................31
7
1 INTRODUÇÃO
Alergia alimentar é um termo utilizado para descrever reações adversas a
alimentos, dependentes de mecanismos imunológicos, mediadas por imunoglobulinas E (IgE),
não mediadas por (IgE) e mistas (MENDONÇA et al., 2011).
As crianças são mais comumente acometidas pelas alergias alimentares, com
prevalência estimada em aproximadamente 6% em menores de três anos e 3,5% em adultos,
valores que parecem estar crescendo (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA;
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007).
Muitas doenças na infância podem ser geradas por alergia alimentar, cujas
manifestações clínicas incluem: enxaqueca, eczema, asma, rinite, urticária, angioedema,
anafilaxia, epilepsia, distúrbios de comportamento, diarreia, cólica, etc (TIRAPEGUI, 2013).
Estudos alertam quanto à correlação entre alergia alimentar e redução da
qualidade de vida dos pacientes e familiares, pois seu tratamento baseia-se na restrição
alimentar e monitoração sistemática das reações alérgicas (YONAMINE et al., 2013).
Há evidências de que as crianças com alergia alimentar, seguida de anafilaxia,
sofrem mais do que os doentes crônicos com doenças reumatológicas ou diabetes mellitus
insulino dependente, visto que, o medo permanente de novas reações anafiláticas e o risco de
morte provocam elevado grau de ansiedade e estresse para o paciente e sua família
(YONAMINE et al., 2013).
Alguns alimentos apresentam maior risco de provocar alergias alimentares como
leite de vaca, ovo, soja, amendoim, frutos do mar e peixes (WAITZBERG, 2009).
A alergia alimentar por leite de vaca, ovo, trigo e soja desaparecem, geralmente,
na infância ao contrário da alergia a amendoim, nozes e frutos do mar que podem ser mais
duradouras e algumas vezes por toda vida (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA;
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007).
O leite de vaca é considerado o principal desencadeador de alergia alimentar em
lactentes, tendo prevalência de 2 a 3% em crianças com idade inferior a um ano
(MENDONÇA et al., 2011; MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013). Por ser frequentemente
utilizado como substituto do leite materno, as suas proteínas são os primeiros antígenos
alimentares com os quais os lactentes são expostos. Portanto, o leite de vaca está fortemente
envolvido na gênese da alergia alimentar nesta faixa etária e os sintomas ocorrem
normalmente no trato gastrointestinal, trato respiratório e pele (CORTEZ et al., 2007).
8
Devido ao alto valor nutritivo do leite de vaca e seus derivados, a dieta de
exclusão deve ser muito bem conduzida para que forneça todos os nutrientes necessários para
o crescimento e o desenvolvimento da criança (WEBER et al., 2007). Dessa forma, torna-se
fundamental o conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre o tratamento da alergia ao
leite de vaca (CORTEZ et al., 2007).
O diagnóstico de alergia à proteína do leite de vaca representa um enorme impacto
socioeconômico e nas políticas públicas de saúde. Assim, é de grande importância que os
profissionais que atuam na área da saúde estejam aptos a reconhecer as manifestações clínicas
compatíveis com alergia alimentar, confirmar sua suspeita diagnóstica e recomendar o
tratamento adequado para cada caso (MORAIS et al., 2010).
9
2 OBJETIVO
Revisão de literatura sobre alergia à proteína do leite de vaca e seus efeitos na
qualidade de vida dos indivíduos afetados, bem como o conhecimento dos profissionais da
área da saúde a respeito deste tema.
10
3 METODOLOGIA
Foram selecionados textos originais e publicações científicas através das bases de
dados Lilacs e PubMed em descritor de assunto, utilizando as palavras-chave:
hipersensibilidade a leite e Milk Hypersensitivity, respectivamente. Além de pesquisa em
livros e consenso.
11
4 DESENVOLVIMENTO
4.1 Função do sistema imune
O sistema imune é caracterizado por sua versatilidade e tem como finalidade
proteger o indivíduo contra micro-organismos patogênicos e células tumorais, ao mesmo
tempo que, apresenta grande variedade de células e de moléculas que possuem capacidade
específica de reconhecimento e de eliminação de antígenos. Essas células e moléculas atuam
de modo conjunto em uma rede dinâmica, cuja complexidade assemelha-se àquela observada
no sistema nervoso central (COZZOLINO, 2012).
Funcionalmente, uma resposta imune apresenta duas etapas relevantes:
reconhecimento e resposta. O reconhecimento imune é caracterizado por sua especificidade,
sendo capaz de reconhecer sutis diferenças químicas, que distinguem um micro-organismo de
outro. Além disso, o sistema imune tem capacidade de discriminar moléculas estranhas de
proteínas e células do próprio organismo (COZZOLINO, 2012).
4.2 Reações excessivas do sistema imune
O sistema imune precisa reconhecer a diferença entre os componentes
moleculares de um patógeno e do corpo humano para exercer suas funções protetoras. Muitas
dessas moléculas provém de animais e plantas que fazem parte da nossa alimentação
(PARHAM, 2001).
Alguns organismos predispostos apresentam resposta imune adaptativa e
desenvolvimento de memória imunológica ao entrarem em contato com algumas moléculas,
reconhecidas pelo corpo humano como estranhas. Após exposições subsequentes ao antígeno
ocorre a produção de inflamação e lesão tecidual seguida de irritação ou até ameaça à vida.
Mesmo sem a instalação de um quadro infeccioso a pessoa sente-se doente, como se estivesse
combatendo uma infecção. Essas reações exacerbadas do sistema imune são denominadas
reações de hipersensibilidade ou alérgicas (PARHAM, 2001). São os mecanismos efetores da
imunidade mediada por células e mecanismos efetores da imunidade humoral (ABBAS;
LICHTMAN; POBER, 2003).
As respostas imunes são elaboradas primariamente pelos leucócitos, que
compreendem diferentes tipos celulares (Quadro 1). Os leucócitos são encontrados em
diversos órgãos e tecidos linfoides, bem como na circulação sanguínea e linfática. Essas
12
células se originam a partir de células-tronco presentes na medula óssea e, posteriormente,
sofrem maturação e diferenciação em tecidos linfoides primários, como o timo (linfócitos T) e
a medula óssea (linfócitos B). Além disso, essas células interagem com outras células e
agentes estranhos
em
tecidos
linfoides secundários (linfonodos,
baço,
intestino)
(COZZOLINO, 2012). Os macrófagos, linfócitos B e linfócitos T são os três tipos de células
que reagem aos antígenos apresentados. Os linfócitos T e os linfócitos B são elementos base
para o desempenho da imunidade mediada por células e imunidade humoral. Os macrófagos,
provenientes de monócitos no sangue, através do processo de fagocitose, absorvem e
destroem antígenos. Desta forma, expressam importante atribuição no reconhecimento,
eliminação e apresentação de antígeno (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
Quadro 1 – Leucócitos presentes na circulação sanguínea
Células
% leucócitos circulantes
Granulócitos:
60 a 70
Neutrófilos
90% dos granulócitos
Eosinófilos
2,5% dos granulócitos
Basófilos
0,2% dos granulócitos
Funções primárias
Fagocitose
Fagocitose de parasitas
Produção de fator
quimiotático
Reações alérgicas
Fagocitose
Monócitos
10-15
Apresentação de antígenos
Produção de citocinas
Citotoxicidade
Ativação de linfócitos
Produção de citocinas
Linfócitos
20-25
Citotoxicidade
Memória
Reconhecimento de antígenos
Fonte: COZZOLINO, 2012.
4.3 Mecanismos efetores da imunidade mediada por células
A imunidade mediada por células envolve a ação dos linfócitos T (células T), que
atua como um mecanismo de defesa contra os micro-organismos que infectam células nãofagocíticas ou que sobrevivem dentro dos macrófagos (ABBAS; LICHTMAN; POBER,
2003). Nesse tipo de imunidade, os linfócitos T reconhecem os antígenos proteicos dos micro-
13
organismos presentes na superfície das células infectadas. Qualquer erro nesse processo
resulta no aumento da probabilidade de infecção por vírus e por bactérias intracelulares
(ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003).
Após o reconhecimento dos antígenos pelas células T, dois tipos principais de
reações podem ser observadas:
a) Na imunidade mediada por células, os fagócitos, principais células de defesa logo após uma
infecção, têm suas ações potencializadas pela ação das células T CD4+ e T CD8+,
responsáveis por secretar a citocina interferon-y que ativa os macrófagos. Estas células
produzem também o fator de necrose tumoral (TNF) e a linfotoxina que atraem os leucócitos
e estimulam a inflamação. Todas essas substâncias são recrutadas para atuar na eliminação
dos micro-organismos (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003).
b) Reação mediada pelos linfócitos T CD8+ citotóxicos(CTLs), que agem contra os microorganismos que infectam vários tipos de células e se replicam no citosol. Esses linfócitos
matam essas células e eliminam os reservatórios de infecção, bem como os micro-organismos
que escaparam do processo de fagocitose, descrito no item (a) (ABBAS; LICHTMAN;
POBER, 2003).
4.4 Mecanismos efetores da imunidade humoral
A imunidade humoral é mediada por anticorpos produzidos pelos linfócitos B.
Esses anticorpos atuam na defesa contra micro-organismos extracelulares e suas toxinas. Eles
utilizam vários mecanismos no combate às infecções como fagocitose e proteínas do
complemento (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003). Neutralizam as toxinas dos microorganismos e inativam seus efeitos deletérios; opsonizam os micro-organismos facilitando a
sua fagocitose; unem-se a vírus e diminuem sua invasão às células do hospedeiro (JAWETZ;
MELNICK; ADELBERG, 2001).
O sistema do complemento é constituído por proteínas plasmáticas ligadas à
membrana, de origem hepática e por células fagocíticas, sendo também um importante
mecanismo de defesa da imunidade inata. São altamente reguladas e interagem entre si e com
outras células imunológicas, tem capacidade de complementar os efeitos dos anticorpos e
exercem funções de lise celular, produção de mediadores que participam na inflamação e
atraem os fagócitos, opsonizam micro-organismos e imunocomplexos para serem fagocitados
e intensificam as respostas imunológicas mediadas pelos anticorpos (JAWETZ; MELNICK;
ADELBERG, 2001).
14
4.5 Classificação das reações de hipersensibilidade
As reações de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos, de acordo com
os mecanismos efetores que produzem a reação, assim sendo, reações de hipersensibilidade
tipo I, II, III (causadas por anticorpos) e IV (hipersensibilidade celular) (quadro 2)
(PARHAM, 2001).
4.5.1Tipo I: hipersensibilidade imediata (anafilática)
A hipersensibilidade tipo I caracteriza-se por reações teciduais que acontecem
poucos minutos após a união do antígeno ao anticorpo correspondente. Pode acontecer por
anafilaxia sistêmica (alérgenos no sangue) pela constrição das vias aéreas e edema de
epiglote; ou reação localizada, causando desde coriza a dificuldades respiratórias e até morte
por asfixia. Na hipersensibilidade imediata o antígeno provoca a produção do anticorpo IgE,
que se liga a um receptor nos basófilos e mastócitos, que contém grânulos com mediadores
inflamatórios pré-formados como histamina, prostaglandina, tromboxanos, heparina e fator de
necrose tumoral, que são liberados imediatamente após o mastócito ser estimulado pela
ligação ao antígeno. A liberação da histamina provoca vasodilatação, aumento da
permeabilidade capilar e contração da musculatura lisa (ex. broncoespasmo) (JAWETZ;
MELNICK; ADELBERG, 2001; PARHAM, 2001).
4.5.2 Tipo II: hipersensibilidade
As reações de hipersensibilidade tipo II são causadas pela ligação de anticorpos
(IgG ou IgM) a antígenos presentes na superfície das células ou a moléculas da matriz
extracelular, que pode provocar sua destruição através da ativação do complemento
(JAWETZ; MELNICK; ADELBERG, 2001).
4.5.3 Tipo III: hipersensibilidade por imunocomplexos
As reações de hipersensibilidade do tipo III são devidas a imunocomplexos
formados por antígenos ligados à IgG que, habitualmente são retirados pelo sistema
reticuloendotelial, entretanto, ocasionalmente, alguns desses imunocomplexos depositam-se
15
nos tecidos, ativam o complemento, iniciam uma resposta inflamatória, lesando os tecidos
(JAWETZ; MELNICK; ADELBERG, 2001; PARHAM, 2001).
4.5.4 Tipo IV: hipersensibilidade mediada por células (tardia)
Este tipo de hipersensibilidade é específica dos linfócitos T, e não dos anticorpos.
Caracterizada por resposta tardia, iniciando horas ou dias após a conexão com o antígeno e,
constantemente permanece vários dias. São causadas na sua maioria pelas células CD4 e uma
minoria das reações de hipersensibilidade é devida às células T CD8 citotóxicas (JAWETZ;
MELNICK; ADELBERG, 2001; PARHAM, 2001)
Quadro 2 – classificação, mecanismos e exemplo de reação de hipersensibilidade
Exemplo de reação
Reagente imune
Mecanismo
de
hipersensibilidade
Tipo I
IgE
Ativação dos
Rinite alérgica, asma,
mastócitos
anafilaxia sistêmica
Complemento
Tipo II
IgG ou IgM
Fagócitos
Algumas alergias a
Células NK
drogas, urticária
O anticorpo altera a
crônica
sinalização
Tipo III
IgG
Células Th1 (CD4)
Tipo IV
Células Th2 (CD4)
CTL (CD8)
Fonte: PARHAM, 2001.
Complemento
Fagócitos
Macrófagos
Eosinófilos
Citotoxicidade
Reação de Arthus
(excesso de
anticorpos)
Dermatite de contato
Asma crônica
Rinite alérgica
crônica
16
4.6 História natural da alergia à proteína do leite de vaca
A primeira descrição de reação alérgica ao leite de vaca foi realizada por
Hipócrates, há mais de 2.000 anos, com manifestações de urticária, cefaleia e desconforto
abdominal. Na década de 1960, vários casos foram relatados por Goldman, que considerava
fundamental para a confirmação do diagnóstico, o total restabelecimento do paciente com a
retirada do leite de vaca e o subsequente retorno dos sintomas após a reintrodução do leite de
vaca na alimentação caracterizado como teste de desencadeamento (WAITZBERG, 2009).
A evolução da alergia à proteína do leite de vaca (APLV) seguiu simultaneamente
ao desenvolvimento da civilização, à revolução industrial e à presença da mulher no mercado
de trabalho, que colaboraram para a introdução de alimentos artificiais em substituição ao
leite materno (CARVALHO JUNIOR, 2001). Neste cenário, o leite de vaca aparece como a
primeira proteína estranha em contato com o organismo humano, ainda em processo de
maturação do mecanismo de tolerância oral às proteínas heterólogas, tornando o corpo
humano mais propenso à ocorrência de alergias alimentares (LINS et al., 2010). A prevalência
estimada de alergia às proteínas do leite de vaca é de 2 a 3% em crianças com idade inferior a
um ano (MENDONÇA et al., 2011).
A alergia alimentar não mediada por IgE desenvolve tolerância em idade mais
precoce quando comparada àquela secundária ao mecanismo IgE mediado, com o
aparecimento de oitenta por cento dos sintomas no primeiro ano de vida. Dentre os alérgenos
alimentares, o leite, o ovo, a soja, o trigo e o amendoim são os que mais frequentemente
provocam alergia. E os alimentos mais observados quanto a sua persistência são amendoim,
as castanhas, as nozes e os frutos do mar. Além de que, há maior chance de persistência entre
as crianças diagnosticadas a partir dos três anos de idade, e aquelas portadoras de alergia
alimentar mediada por IgE apresentam maior probabilidade de desenvolver alergias a outros
alimentos, bem como a alérgenos inalados (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA;
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007).
A maioria das crianças com diagnóstico de APLV tem bom prognóstico, das
quais, aproximadamente oitenta por cento adquire tolerância naturalmente por volta dos
quatro anos de idade (CANANI; CONSTANZO, 2013). No entanto, estudos recentes apontam
para uma mudança na história natural da APLV através do tempo, com menores taxas de
resolução e maior proporção de crianças com a doença persistindo na adolescência e até
mesmo na idade adulta, estimando tolerância em apenas cinquenta por cento das crianças com
APLV em torno dos cinco anos de idade (WOOD et al., 2013).
17
Dentre as proteínas contidas no leite de vaca, as que frequentemente provocam
alergia são caseína, a-lactoalbumina, b-lactoglobulina, globulina e albumina sérica bovina,
podendo apresentar tanto reações alérgicas IgE mediadas quanto não IgE mediadas (MORAIS
et al., 2010), destacando-se a beta-lactoglobulina como a mais relevante, que pode ser
identificada pelas células T dos organismos alérgicos em seus vários epítopos (MACHADO
et al., 2003).
4.7 Permeabilidade da mucosa intestinal e sua influência no processo alergênico
O intestino é o maior órgão linfoide do nosso organismo, lugar de contato com
diversas proteínas da alimentação. No decorrer da vida, são ingeridas expressivas quantidades
de alimentos com elevada concentração proteica, no entanto, somente uma pequena parcela
dos indivíduos desenvolve alergia alimentar, devido à competência dos mecanismos de defesa
do trato gastrointestinal, que podem ser específicos ou inespecíficos e colaboram para o
desenvolvimento de tolerância oral. Após serem ingeridos, estima-se que apenas 2% dos
antígenos alimentares sejam absorvidos e atravessem a barreira intestinal de forma íntegra
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007).
Os mecanismos inespecíficos abrangem o epitélio intestinal e a junção firme entre
as células epiteliais que constituem a barreira mecânica, a flora intestinal, as secreções biliares
e pancreáticas, o ácido gástrico e a motilidade intestinal. O muco, constituinte das células
epiteliais, contém diversas mucinas que atuam na formação da barreira e facilitam a adesão de
bactérias e favorecem sua eliminação através da peristalse. Os mecanismos específicos ou
imunológicos são constituídos pela IgA secretora, pelo tecido linfoide associado ao trato
gastrointestinal (GALT- Gut Associated Lymphoid Tissue) e seus componentes. A IgA
secretora associada ao muco de revestimento desempenha várias funções de defesa, dentre
elas destaca-se a prevenção da penetração de antígenos alimentares na barreira epitelial, sendo
maior a prevalência de alergia alimentar em pacientes com deficiência deste tipo de
imunoglobulina, evidenciando sua importância na mucosa intestinal. A maior formação de
anticorpos do organismo acontece na lâmina própria do intestino, com a presença de
aproximadamente 80 por cento de células B ativadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA,
2007).
18
Em estado de normalidade, as barreiras imunológicas e funcionais da mucosa
intestinal distinguem os alimentos e suas proteínas das substâncias patogênicas, mecanismo
denominado tolerância imunológica. A interrupção desse mecanismo de tolerância direciona o
sistema imunológico a identificar as proteínas dos alimentos como substâncias alergênicas
desencadeando o processo de alergia alimentar (MORAIS et al., 2010).
Alguns fatores rompem o mecanismo de tolerância e otimizam o aumento do risco
de surgir alergia alimentar (MORAIS et al., 2010):
 perda da integridade da mucosa por infecções intestinais ou medicamentos, causando
permeabilidade intestinal aumentada e aumento da reabsorção de antígenos
alimentares;
 imaturidade do sistema imunológico da mucosa;
 introdução precoce de alimentos sólidos na primeira infância;
 permeabilidade da mucosa intestinal aumentada devido a fatores genéticos;
 dosagem e frequência de exposição a vários alérgenos alimentares;
 interação inadequada do sistema imunológico com a microbiota intestinal;
 grau de alergenicidade das várias proteínas alimentares;
 deficiência dos fatores de proteção da mucosa (IgA ou linfócitos T supressores CD8+).
Entretanto, para que se desenvolva a alergia alimentar, além da quebra dos
mecanismos de defesa do tratogastrointestinal, outros fatores são necessários como substrato
genético, dieta com proteína com capacidade alergênica, entre outros (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E
IMUNOPATOLOGIA, 2007).
4.8 Importância do aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva
nos seis primeiros meses de vida e complementação até os dois anos de idade. As estatísticas
mostram um percentual de crianças amamentadas ainda pequeno em nosso meio, e a
introdução de outros tipos de leite é inevitável, com predominância do leite de vaca
(CORTEZ et al., 2007).
O leite materno contém nutrientes específicos para os lactentes, promove
crescimento e nutrição adequados, possui anticorpos maternos protetores contra doenças e
19
infecções e previne alergias alimentares, além de estreitar o vínculo entre mãe e filho
(CORTEZ et al., 2007; MORAIS et al., 2010).
O TGF-beta, citocina encontrada no leite materno, promove a produção de
Imunoglobulina A (IgA) pela mucosa intestinal e a supressão celular na resposta imune. O
aleitamento materno exclusivo está envolvido na colonização das bifidobactérias, que
participam efetivamente na tolerância oral (LINS et al., 2010). Além disso, a presença no
intestino de um aumento de bifidobactérias e menor número de Staphylococcus aureus podem
proteger as crianças do sobrepeso e da obesidade (NAVES, 2009). Sendo assim, o aleitamento
materno, com seus protetores imunológicos ou não imunológicos, colaboram para a
manutenção de uma microbiota saudável neste momento precoce da vida (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E
IMUNOPATOLOGIA, 2007).
Considerando que a mucosa intestinal apresenta maior permeabilidade a
macromoléculas nos primeiros meses de vida, as crianças em desmame precoce são mais
vulneráveis à APLV mediante o uso abusivo do leite de vaca nesta população (MACHADO
et al., 2003; CARVALHO JÚNIOR, 2001). As crianças em aleitamento artificial estão
permanentemente em contato com proteínas estranhas nesse período de permeabilidade
intestinal frágil, possuem níveis reduzidos de IgA e retardo da maturação da função motora
gastrointestinal, portanto, não se beneficiam dos agentes bioativos do leite materno (LINS et
al., 2010).
O papel da amamentação na prevenção primária das alergias ainda é objeto de
debates. A deficiência do efeito protetor do leite humano contra alergias é observada por
pediatras e pesquisadores na prática clínica. Alguns estudos relatam o crescente risco do
desenvolvimento de doença atópica em crianças amamentadas por mães atópicas. Como a
imunidade materna influencia fortemente o desenvolvimento gastrointestinal e sistema imune
nas crianças, essa controversa pode ser explicada pela variabilidade individual dos fatores
imunes que contém o leite materno, particularmente aqueles associados ao desenvolvimento
da tolerância oral (HOGENDORF et al., 2013).
Estudos demonstraram concentrações similares de IgA secretora e lactoferrina no
leite materno tanto de mães de crianças com alergia alimentar como em mães de crianças
sadias. Porém, o nível de IgA no leite de mães alérgicas estava significativamente baixo. A
lactoferrina do leite humano é um importante fator de imunidade inata com atividades
imunomoduladoras e suas propriedades antioxidante, bacteriostática e bactericida podem agir
como reguladoras de respostas imunes e inflamatórias (HOGENDORF et al., 2013).
20
O conhecimento da presença de manifestações atópicas nos pais e irmãos de
lactentes permite orientação de maneira adequada para que o novo membro da família não
entre em contato precocemente aos alérgenos mais comuns, pelo menos nos primeiros quatro
meses de vida. Pois é evidente o risco que existe na exposição à proteína do leite de vaca
diante da presença de antecedentes alérgicos nos parentes consanguíneos de primeiro grau
(CELADA QUESADA; CELADA RAMON, 2010).
4.9 Impacto da APLV na qualidade de vida
Os princípios terapêuticos da APLV baseiam-se na exclusão das proteínas do leite
de vaca da alimentação, portanto, sem oferta de leite e seus derivados (WEBER et al., 2007).
Nesse contexto, a alergia alimentar, em especial a APLV, exerce grande impacto
psicossocial visto que, afeta negativamente a qualidade de vida de alguns grupos desta
população predominantemente infantil, bem como de seus familiares, ao considerarmos sua
exclusão extremamente difícil, diante da ampla distribuição do leite de vaca em produtos
alimentícios e sua importância nutricional na alimentação da criança, assim como a
dificuldade financeira para adquirir os alimentos substitutos. Além disso, pacientes que
apresentaram anafilaxia relatam constante ansiedade e estresse pelo medo da ocorrência de
novos episódios (YONAMINE et al., 2013). A baixa especificidade dos sintomas da APLV
dificulta o diagnóstico, pois muitos desses sintomas assemelham-se aos de outras doenças
como refluxo gastroesofágico, diarreia infecciosa, constipação orgânica, alterações
anatômicas, promovendo danos para a nutrição da criança e para a qualidade de vida da
família (LINS et al., 2010). Assim, é preciso considerar a importância de se fazer o
diagnóstico com a devida cautela e a necessidade de acompanhamento especializado, para
evitar transtornos desnecessários ao paciente e colaborar para a manutenção de sua qualidade
de vida (CORTEZ et al., 2007; MENDONÇA et al., 2011).
4.10 Manifestações alérgicas alimentares
As manifestações alérgicas alimentares na maioria dos casos são tardias e liberam
histamina, que promovem sensação de prazer, conforto e relaxamento gerando um ciclo de
dependência do organismo ao alimento alergênico ou de seus derivados como chocolates,
laticínios, doces e álcool. Por isso, as alergias alimentares tardias são frequentemente
relacionadas à causa de obesidade. Além disso, a sintomatologia desse tipo de alergia pode ser
21
confundida com outras doenças dificultando o diagnóstico, induzindo um tratamento
inadequado com possível remissão temporária dos sintomas sem correção da causa
(CARREIRO, 2007).
Alguns sinais e sintomas que podem ser decorrentes de alergias alimentares
tardias, também chamados de manifestações alérgicas (CARREIRO, 2007):

Asma, rinite, otite, amigdalite, bronquite;

Cistite de repetição, candidíase, infecções urinárias, enurese noturna;

Diarreia, constipação, colite, gastrite, má absorção, doença celíaca, refluxo;

Obesidade, baixo peso, celulite, perda de apetite, anorexia nervosa, bulimia, diabetes,
hipertensão arterial, hipercolesterolemia;

Cefaleia, enxaqueca, convulsão;

Insônia, sonolência, depressão, agitação, ansiedade, fadigas inexplicáveis;

Hiperatividade,
falta
de
concentração,
alteração
de
humor,
distúrbios
de
aprendizagem;

Artrite reumatoide, tireoidite, lúpus eritematoso sistêmico, psoríase, alopecia,
fibromialgia;

Acne, eczema, caspa, urticária, dermatite seborreica, dermatite.
4.10.1 Sintomas relacionados à alergia à proteína do leite de vaca
 Manifestações gastrointestinais
As principais manifestações gastrointestinais da APLV são: regurgitação e
vômitos, diarreia com ou sem sangue, cólica, constipação intestinal e presença de sangue em
fezes não diarreicas (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).

Manifestações cutâneas
São manifestações cutâneas: urticária, prurido, angioedema, hiperemia e eritema
perioral (MENDONÇA et al., 2011).
22
 Manifestações respiratórias
Coriza, prurido nasal, espirros, hiperemia e prurido ocular, broncoespasmo
agudo, tosse e edema de laringe (MENDONÇA et al., 2011).

Manifestações sistêmicas
Anafilaxia com hipotensão e choque (MENDONÇA et al., 2011).
4.10.2 Sintomas de alergia à proteína do leite de vaca de acordo com a faixa etária
Lactentes
 Cólica do lactente: com manifestações de choro, irritabilidade, agitação (MORAIS;
SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Refluxo gastroesofágico: caracterizado por regurgitações e vômitos e consequente
déficit de crescimento e desnutrição energético-proteica (WAITZBERG, 2009;
MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Proctocolite/colite eosinofílica: caracterizada pela presença de sangue em fezes
diarreicas ou normais e deficiência de ferro (WAITZBERG, 2009; MORAIS;
SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Constipação intestinal crônica (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Enterocolite: diarreia crônica, desnutrição e/ou déficit do crescimento, considerada
recentemente como reação sistêmica (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Enteropatia: diarreia crônica, má absorção intestinal, distúrbios hidroeletrolíticos,
desnutrição
e/ou
déficit
do
crescimento
(WAITZBERG,
2009;
MORAIS;
SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Esofagite eosinofílica: regurgitações, vômitos, dificuldade à alimentação e diminuição
no crescimento (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
Pré-escolares
 Gastroenteropatia eosinofílica: perda de proteínas pela mucosa gástrica e intestinal
(WAITZBERG, 2009; MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Esofagite eosinofílica (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
23
 Hipersensibilidade gastrointestinal imediata (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS,
2013).
 Constipação intestinal crônica (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
Escolares
 Esofagite eosinofílica: dor na região esternal, impactação de alimento no esôfago e
disfagia (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
 Constipação intestinal crônica. (MORAIS; SPERIDIÃO; SILLOS, 2013).
4.11 Conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre alergia ao leite de vaca
Após a introdução da dieta de exclusão do leite de vaca e seus derivados o
profissional de saúde deve orientar detalhadamente os pais ou responsáveis a manterem uma
dieta isenta desses componentes, porém, nutricionalmente adequada, além de treiná-los
quanto à leitura minuciosa dos rótulos dos produtos industrializados. Muitas vezes a proteína
do leite, presente inclusive em certas drogas, é descrita por termos nem sempre reconhecidos
pela maioria da população como: laticínio, soro, whey, caseína, lactoglobulina, lactoferrina ou
caseinatos significando presença de leite no alimento. Isso pode representar importante
obstáculo na identificação do leite como ingrediente de um determinado produto (CORTEZ et
al., 2007; BINSFELD et al., 2009; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA;
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007).
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determina que,
todos os tipos de caseinatos sejam informados na descrição dos ingredientes. No entanto,
pequenas quantidades dos componentes podem ser apresentadas somente como “quantidades
não significativas”, dificultando ainda mais a compreensão (BINSFELD et al., 2009).
Indiscutivelmente, o nível de conhecimento dos profissionais que atendem os pacientes com
APLV, nos vários aspectos da alergia alimentar, é de extrema importância (SOLE et al.,
2007).
Cortez et al. (2007) em um estudo de entrevista com pediatras e nutricionistas,
observaram que estes prescreveriam pelo menos um produto não recomendados na terapêutica
da APLV, dentre os quais: bebidas/sucos à base de extrato de soja, leite de cabra, fórmula
láctea sem lactose e fórmula láctea parcialmente hidrolisada, considerando-os adequados ao
24
tratamento. Observaram também que, uma porcentagem considerável dos profissionais não
mencionaram as fórmulas à base de hidrolisados proteicos e fórmulas à base de aminoácidos
como possibilidade de tratamento.
Muitos pediatras prescrevem extrato de soja para crianças menores de dois anos
de idade, possivelmente pelo baixo custo, se comparadas às fórmulas infantis. Sendo
fundamental a adequação dos substitutos de acordo com a idade da criança (SOLE et al.,
2007).
A recomendação adequada para substituir o leite de vaca se baseia em proteínas
extensamente hidrolisadas (semi-elementares) ou fórmulas à base de aminoácidos livres
(elementares). Fórmulas parcialmente hidrolisadas são contra indicadas por conterem
alergenicidade residual, bem como as fórmulas com proteínas intactas de leite de cabra e
ovelha, pois possuem as frações de caseína semelhantes as do leite de vaca (87% a 98%). Em
relação às fórmulas de soja, segundo a Sociedade Europeia de Gastroentrologia, Hepatologia
e Nutrição Pediátrica e a Sociedade Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica, o uso
deste produto não é recomendado no tratamento da alergia alimentar, mesmo porque existe
possibilidade de se desenvolver sensibilização contra essas proteínas, reconhecida como
sensibilidade cruzada (MORAIS et al., 2010; MACHADO et al., 2003)
4.12 Diagnóstico de APLV
O diagnóstico da APLV é eminentemente clínico, baseado na dieta de exclusão e
no teste de provocação oral após um período de remissão dos sintomas, denominado critério
de Goldman (MACHADO et al., 2003).
Os testes de provocação oral (TPO) são os mais indicados para o diagnóstico por
serem os únicos métodos fidedignos na confirmação de alergias alimentares, que consiste na
oferta do alimento ao paciente, em doses progressivas, sob supervisão médica, realizado após
um período de dieta de exclusão do alimento suspeito (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007;
MENDONÇA et al., 2011).
Existem três tipos de TPO: aberto (quando paciente, familiares e médico são
cientes), simples cego (apenas o médico conhece o que está sendo administrado) e duplo cego
controlado por placebo (DCCP) (nenhuma das pessoas envolvidas na avaliação do paciente
tem conhecimento do preparado a ser testado pelo paciente). O duplo cego é o mais confiável,
sendo o mais apontado nos protocolos científicos e estabelecido como padrão ouro para o
25
diagnóstico das alergias alimentares. Porém, sua utilização na prática clínica é limitada pelo
tempo necessário para sua realização e pelos custos e recursos humanos envolvidos.
Considerando tamanha complexidade do método duplo cego, primeiramente utiliza-se o
método aberto, pela sua maior praticidade, quando da necessidade da realização do TPO,
exceto em crianças maiores de três anos ou adultos na vigência de sintomas subjetivos
(MENDONÇA et al., 2011).
O desencadeamento é contra indicado nos casos de anafilaxia grave com alimento
isolado na presença de IgE específico para o mesmo. Se houver real necessidade da realização
do teste, este deverá acontecer em ambiente hospitalar e com possibilidade de socorro
imediato. Na ausência de anticorpos IgE específico, nem episódios de reações imediatas ou
graves, o desencadeamento pode ser realizado em casa (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA,
2007).
Alguns exames podem ser utilizados como teste cutâneo e dosagem de IgE. No
entanto, identificam somente possível reação imediata, sendo negativos nas reações mediadas
por células (LINS et al., 2010).
A APLV compromete a mucosa gástrica em graus variáveis, desde gastrite
histológica a gastrite hemorrágica, sua expressão máxima de gravidade. A gastrite por APLV
pode estar presente em lactentes com sintomas como vômitos, irritabilidade, falha em ganhar
peso, mesmo na ausência de hemorragia digestiva aparente. O diagnóstico é eminentemente
clínico, e o tratamento deve ser rapidamente instituído, em casos suspeitos. Caso a progressão
não confirmar o diagnóstico, a endoscopia digestiva alta com biópsia deverá ser realizada
(MACHADO et al., 2003).
Auxiliam no diagnóstico a busca por elementos de inflamação gastrointestinal
como sangue e eosinófilos em deposição e a leucocitose de predomínio polimorfonuclear em
hemograma, que compreendem os granulócitos neutrófilos, eosinófilos e basófilos. A biópsia
de cólon revela abscessos nas criptas e infiltrado inflamatório difuso com células plasmáticas.
A biópsia de intestino delgado revela edema, inflamação aguda e leve injúria das vilosidades
(VERDUGO; ROJAS; RUZ, 2011).
Na avaliação diagnóstica das reações adversas a alimentos, especialmente nas
reações não mediadas por IgE, a história clínica tem papel fundamental. O seu valor depende
muito da capacidade de recordação dos sintomas por parte dos pacientes e da habilidade do
profissional em diferenciar as manifestações causadas por hipersensibilidade alimentar
daquelas relacionadas a outras condições. Isso nem sempre é tarefa fácil e pode propiciar
26
muitos erros diagnósticos. Alguns testes estão disponíveis para o diagnóstico de
hipersensibilidade mediada por IgG (tardia) (SILVA, G. P., 2011):
 Testes imunossorológicos de anticorpos IgG específicos contra alimentos;
 Teste cutâneo de alergia tardia a alimentos, conhecido como testes de contato ou atopy
patch test (APT);
 Testes citotóxicos, conhecidos como Bryan Test;
 Teste de anticorpos antígeno leucocitário celular (ALCAT), uma versão modificada do
teste citotóxico.
Apesar de muito contestado, o mais utilizados para o diagnóstico de
hipersensibilidade alimentar mediada por IgG é o teste imunossorológico de IgG específica
contra alimentos, por meio do qual se pode dosar a quantidade total de IgG contra um ou
vários alimentos. Alguns autores verificaram que, após a retirada do alimento, os níveis de
IgG contra aquele alimento também diminuem. No entanto, alguns autores defendem que os
anticorpos IgG refletem apenas a exposição prolongada aos componentes dos alimentos, o que
seria uma reação fisiológica e não uma sensibilização alérgica. Uma recente revisão
bibliográfica apontou que o teste de IgG contra alimentos pode ser promissor, já que o mesmo
demonstrou ser útil como guia para a dieta de exclusão, com impacto clínico significativo
para diversas patologias como obesidade, aterosclerose, enxaqueca, autismo, aftas recorrentes,
asma, síndrome de intestino irritável, transtornos gastrintestinais e problemas respiratórios
(SILVA, G. P., 2011).
4.12.1 Teste salivar para alergia alimentar tardia
No último Congresso de Nutrição Funcional realizado na cidade de São Paulo em
2013, foi apresentado o Teste Salivar para Alergia Alimentar Tardia com trabalho científico
sobre o mesmo realizado pela Dra. Clarice Luz, pelo Dr. Gabriel Carvalho e pelo Dr. José
Irineu Golbspan , que evidenciou várias vantagens para sua utilização. As principais foram:
 Não invasivo: a coleta da saliva é simples, indolor, não invasiva e pode ser realizada
em qualquer idade, sem qualquer restrição, tanto no consultório como no conforto da
residência do paciente;
 Alta sensibilidade: mostra a quais alimentos e em que grau de sensibilidade o paciente
apresenta resposta imunológica mediada por IgG (alergia tardia);
27
 Estabilidade: as amostras de saliva apresentam maior estabilidade pós coleta que as
amostras sanguíneas;
 Custo acessível.
Alimentos testados
 Leite e ovos: leite de vaca, ovo total;
 Peixes, crustáceos e frutos do mar: atum, mix peixe carne branca (bacalhau, hadoque e
linguado), mix peixe água doce (truta e salmão), mix crustáceos (camarão, lagosta,
caranguejo, mexilhão, marisco);
 Carnes: bovina, cordeiro, frango, porco;
 Frutas: laranja, limão, maçã, melão, melancia, morango;
 Grãos e cereais: aveia, arroz, centeio, cevada, glúten, milho, trigo, trigo duro;
 Castanhas e sementes: amêndoas, amendoim, cacau, castanha de caju, castanha do
pará, gergelim e nozes;
 Vegetais: tomate, aipo, alho, alho poró, batata, brócolis, cenoura, couve, repolho,
pimentões (amarelo, verde, vermelho), mix leguminosas (feijão, ervilha, lentilha,
soja), azeitona;
 Diversos: café, chá, fermentos/leveduras.
A partir do Teste Salivar o nutricionista poderá prescrever o plano alimentar mais
adequado a cada paciente determinando quais alimentos devem ser eliminados, quais devem
ser evitados parcialmente, substituídos ou rodiziados e quais podem ser consumidos
livremente (LABIVITRUS, 2013).
4.13 Tratamento
O tratamento dos pacientes com alergia à proteína do leite de vaca é
essencialmente nutricional e é caracterizado pela exclusão do leite e seus derivados da dieta,
além de preparações e produtos que contenham esses alimentos. Nos lactentes inicia-se com
introdução de fórmulas extensamente hidrolisadas, e em caso de resposta negativa será
necessária prescrição de fórmulas de aminoácidos como fonte alimentar (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E
IMUNOPATOLOGIA, 2007; MORAIS et al., 2010; MENDONÇA et al., 2011 ).
Atualmente, a única forma comprovada de tratamento disponível é a retirada
absoluta do alimento alergênico (MORAIS et al., 2010).
28
4.13.1 Orientação nutricional
A administração de prebióticos e probióticos é relevante, pois são componentes
envolvidos na modulação da microbiota intestinal, que age efetivamente na regulação
intestinal, no sistema imune e no desenvolvimento da tolerância oral (MORAIS et al., 2010).
A origem da APLV, bem como a tolerância oral, são complexas e não são
totalmente conhecidas. Porém, muitos estudos envolvem a imunidade relacionada ao intestino
com a microbiota intestinal e sugerem que uma alteração na composição da microbiota
intestinal resulta em desequilíbrio local e reação do sistema imune para alérgenos alimentares.
Associado a isso, existem diferenças quantitativas e qualitativas na composição da microbiota
intestinal entre os pacientes afetados e crianças saudáveis. Isso remete ao conceito que
probióticos podem restaurar a homeostase intestinal e prevenir ou minimizar alergias. Pelo
menos através da interação com as células do sistema imune. Os probióticos produzem efeitos
que ocorrem no lúmen e na mucosa intestinal, podendo ser locais como hidrólise de peptídeos
antigênicos no lúmen, modulação da permeabilidade intestinal e redução da penetração
sistêmica de antígenos, aumento local da produção de IgA e modulação da inflamação local e
estimulação do crescimento e diferenciação das células epiteliais, e algumas atividades
sistêmicas que consistem em efeitos anti-inflamatórios(CANANI; COSTANZO, 2013).
A glutamina é o aminoácido mais abundante no organismo, além de ser precursor
dos ácidos nucleicos, carreador interórgãos de nitrogênio e substrato energético preferencial
de células de replicação rápida como os enterócitos, linfócitos e macrófagos, implicando na
manutenção da integridade da mucosa intestinal. Assim, em situações de lesão aguda, a
glutamina torna-se um aminoácido condicionalmente essencial para o organismo (CUPPARI,
L., 2014).
Numerosos dados experimentais e estudos em humanos confirmam a importância
da glutamina na função imune, muscular e gastrintestinal (SOBOTKA, 2008).
Considerando que, a mucosa íntegra e o sistema imune funcional são necessários
para o desempenho satisfatório da função de barreira contra germes e toxinas, torna-se
relevante a manutenção das concentrações adequadas desse aminoácido nos pacientes
portadores de alergia ao leite de vaca (CUPPARI, L., 2014).
O cuidado nutricional na APLV é complexo e exige muito além da retirada do
componente alérgeno da alimentação. É uma doença que apresenta má absorção com
frequência, e associado ao fato do leite ser importante fonte de nutrientes, torna-se essencial a
avaliação da qualidade da ingestão alimentar e do estado nutricional desses pacientes, que
29
correm o risco de ingerir uma dieta deficiente em energia, proteínas, lipídios, cálcio e fósforo,
quando comparadas àqueles sem alergia. Portanto, deve-se cuidar para que esses nutrientes,
além do ferro, zinco, vitaminas A, C e D e complexo B, entre outros, sejam ofertados
adequadamente na dieta (MORAIS et al., 2010; MACHADO et al., 2003; CORTEZ et al.,
2007; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2007; SOLE et al., 2007).
30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alergia à proteína do leite de vaca é um problema frequente e de importância
inquestionável na clínica pediátrica. Apresenta difícil diagnóstico e potencial debilitante na
saúde física e emocional. A compreensão dos pacientes e familiares em relação aos rótulos de
alimentos industrializados que contém leite é deficiente, devido aos rótulos pouco claros e
precisos e às orientações ainda insuficientes por parte dos médicos e nutricionistas. Este
estudo mostra a necessidade de um alerta obrigatório sobre ingredientes potencialmente
alergênicos nos rótulos nutricionais, com informações detalhadas e claras. Outra forma de
alerta interessante seria a criação de um símbolo de fácil identificação que auxilie o
consumidor a identificar produtos com leite de vaca ou outros alergenos alimentares comuns
entre os componentes, à semelhança do que acontece com o glúten.
Pediatras e nutricionistas demonstraram erro nos conceitos das principais
recomendações terapêuticas da alergia às proteínas do leite de vaca. As discordâncias
observadas em algumas orientações ou condutas ressaltam a necessidade de se elaborar
estratégias educacionais, pelas quais, sejam ampliados os conhecimentos sobre o diagnóstico
e tratamento.
Esses profissionais devem ter o cuidado com recomendações de dietas de
exclusão que podem acarretar em déficits nutricionais que interfiram no crescimento,
desenvolvimento e convívio social.
Conforme foi exposto o desenvolvimento do processo alergênico e os possíveis
mecanismos de proteção, fica claro a importância em incentivar o aleitamento materno
exclusivo até os seis meses de idade.
31
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32
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