A FILOSOFIA FENOMENOLÓGICA SOBRE A VERDADE SEGUNDO EDITH STEIN Ms. Kátia Gardênia da Silva Coelho* Ms. Marlene Gomes Guerreiro* RESUMO: A presente pesquisa tem por objetivo trabalhar o tema da filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein (1891-1942) não ficou indiferente aos problemas de sua época e procurou fundamentar a filosofia como ciência rigorosa propondo o procedimento apresentado por Husserl. Adentrou no campo das investigações da verdade plena que explica o homem, favorecendo uma compreensão a essencialidade do ser humano através das diversas experiências, isto é, consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com Deus. Desse modo, o sistema filosófico steiniano guarda sua atualidade e sua pertinência para uma ampla compreensão do ser humano. O conjunto dessas considerações acerca da verdade perpassa o horizonte fenomenológico, no interior do qual para captar diretamente dimensões que a transcendam, como possibilidade de conhecimento verdadeiro. Por isso, Stein sente a necessidade para uma fundamentação filosófica intelectual da fé em conciliação com o método fenomenológico para uma investigação filosófica que toma novas formas de conhecimento. PALAVRAS-CHAVES: Fenomenologia, Filosofia, Verdade. ABSTRACT: To present research has for objective to work the theme of the philosophy phenomenological about the truth according to Edith Stein (1891-1942) it was not indifferent to the problems of time and it tried to base the philosophy as rigorous science proposing the procedure presented by Husserl. It penetrated in the field of the investigations of the full truth that it explains to the man, favoring an understanding the human being's essentiality through the several experiences, that is, I do get, with the other, with the world and with God. This way, the system philosophical steinian keeps present time and his/her pertinence for a wide understanding of the human being. The group of those considerations concerning the truth in the horizon phenomenological, inside which to capture dimensions directly to transcend her, as possibility of true knowledge. Therefore, Stein feels the need for a grounds philosophical intellectual of the faith in conciliation with the method phenomenological for a philosophical investigation that it takes new knowledge forms. KEYWORD: Phenomenology, Philosophy, Truth. *Mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará – UECE; Professora no Centro Universitário Católica de Quixadá – UNICATÓLICA. E-mail: [email protected] * Mestrado em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Lateranense. Especialização em Psicopedagogia - Faculdade INTA. Graduação em Teologia - UNICATÓLICA. Graduação em Psicologia – UNICATÓLICA. E-mail: [email protected] ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein INTRODUÇÃO O objetivo da presente pesquisa é a análise fenomenológica que Edith Stein (1891 – 1942) percorreu na busca da verdade plena que explica o homem, favorecendo uma compreensão a essencialidade do ser humano através das diversas experiências, isto é, consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com Deus. Desse modo, o sistema filosófico steiniano guarda sua atualidade e sua pertinência para uma ampla compreensão do ser humano. Somos parentes na busca, nossa meta é alcançar a verdade, no entanto cada qual escolhe um caminho; os caminhos são diversos, mas o objetivo é o mesmo: a verdade plena. Trata-se de uma filosofia aberta ao desconhecido, ao estranho, Deus, que o sujeito fascina nessa empreitada na busca da verdade total, a filosofia tem essa pretensão de compreender o mundo em toda sua abrangência possível, sem preconceitos. Segundo Montaigne, a sabedoria, o conhecer-se a si mesmo não alcança à esfera da essência humana, mas ao que concerne ao campo do homem singular, logo cada um deve construir sua própria sabedoria, o seu método sem esquecer sua limitação e sua finitude. É somente para si mesmo que o homem pode dirigir-se para se conhecer. Ele é o ponto de partida e o ponto de chegada, experimenta todas as coisas como se realmente houvesse algo novo, como se acabasse de despertar pata a vida. Eterno pesquisador, o homem está sempre em busca de novos conhecimentos, para ele tudo se torna objeto de meditação. (REALE, 2004, p. 61). É nesse sentido que a filosofia procura incessantemente a verdade, uma sabedoria que possa ajudar o homem nos questionamentos sobre o sentido absoluto, nessa constante busca interior da verdade, essas palavras são expressas por Edith Stein na obra em Espanhol Ser Finito y Ser Eterno: Ensayo de una ascension al sentido del ser. A verdade é uma, porem se decompõem em diversas verdades que pretendemos conquistar uma atrás da outra. Aprofundar em uma delas nos fará ver mais longe, e quando descobrirmos um horizonte mais vasto, encontraremos também deste nosso ponto de partida uma nova profundidade (STEIN,1994, p.19). Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 2 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein A reflexão proposta por Stein acerca faz uso do método fenomenológico de Edmund Husserl diante dos diversos caminhos para uma aproximação da verdade plena faz parte do fascínio das estruturas intelectuais a procura de um novo recurso para compreender o absoluto, é uma contínua busca entusiasmada para transpor continuamente novas fronteiras da filosofia, ou seja, a possibilidade do filósofo acolher os dados da fé como conhecimento seguro para verdade; a razão ao se deparar com a luz da revelação divina divina, inflama a alma impelida ao absoluto, e levemente percebido, desconhecido e conhecido ao mesmo tempo. Assim a fé paradoxalmente ajuda a lembrar aquilo que de modo inconsciente sempre procuramos, a verdade. O método fenomenológico de Husserl. A fenomenologia permite através da análise, desvencilhar-se de conceitos duvidosos (HUSSERL, 2008, p. 31). Estes significam a não clareza do conhecimento nas ciências objetivas. As ciências objetivas recorrem à fundamentação de uma clareza que ainda faz referência à transcendência, ao natural, ao psicofísico. Sendo assim não são considerados conhecimentos seguros no âmbito da essência do conhecimento. A filósofa refere-se ao método fenomenológico seguindo fielmente Edmund Husserl. Mais precisamente, quanto à busca da essência (o sentido) dos fenômenos que se apresentam à nossa consciência. Entretanto, amplia o pensamento fenomenológico ao debruçar-se sobre uma investigação acerca do pensamento escolástico partindo dessa busca pela verdade plena para captar a verdade que explica o ser humano. Portanto, acolhe o dado da revelação divina como um instrumento, que possibilita ao indivíduo um conhecimento de si mesmo, do outro e do mundo. O problema é o mesmo, apenas muda de fisionomia. A busca pelo absoluto perpassa o pensamento grego, da Idade Média e aquele da Modernidade, embora na Modernidade essa necessidade pelo absoluto esteja sob o véu, ela se desvela quando o homem levanta questões na busca verdade radical, quando ele reflete sobre a totalidade da realidade. A filosofia fenomenológica sobre a verdade Nosso itinerário parte sob o aspecto polêmico no começo do século XX, sobre a discussão: o que era filosofia e o que era filosofia da história, se há uma filosofia ou várias filosofias, se é possível que exista uma filosofia religiosa do ponto de vista da Igreja; perguntase sobre a questão de uma ou mais filosofias que à represente. Entretanto, como falar de uma Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 3 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein filosofia religiosa ou propriamente de caráter cristão se a filosofia nasce na Grécia, de uma tradição racional com argumentos lógicos e sistemáticos próprio do pensamento grego? Como a filosofia poderia apelar, ao mesmo tempo, para algum tipo de revelação divina e conseguir sua autonomia? Logo, cria-se um ambiente contraditório, uma “confusão babilônica”. Tal problema foi objetivo de várias controvérsias, sobretudo em 1933 (data de uma reunião da sociedade francesa de filosofia dedicada ao tema), (STEIN,1994, p.43) (poderia-se citar os nomes mais relevantes dessas discussões: E. Brehier, León Brunschvicg, E. Gilson, Jacques Maritain, Edith Stein e outros. Queremos apresentar uma breve noção sobre a expressão filosófica cristã, algumas das divergentes posições para nos deter na referida concepção, não tanto para resolver, mas para refletir sobre o conceito de filosofia cristã, mas essa problemática da relação entre fé e razão aparece em vários autores antigos dentre eles São Justino e Santo Agostinho, para eles filosofia cristã seria a autêntica sabedoria teológica, na qual a verdade revelada poderia se articular com a razão num único corpo doutrinário. Na visão de Santo Agostinho – seu modo de pensar após a sua conversão –, a fé adquiriu-lhe novos horizontes; a partir daí nascia a filosofia cristã começando com os Padres gregos. Entretanto Agostinho começou um amadurecimento com esses nomes de forma que com Tomás aconteceu propriamente uma verdadeira reviravolta no pensar filosófico cristão. Tomás tinha a convicção de que o homem e o mundo possuem autonomia, portanto o indivíduo é capaz de fazer uso da reflexão racional pura para compreender e dominar o mundo. Segundo Tomás, tanto a fé quanto a razão provêm de Deus porque ele é o ser supremo e perfeito, criador do ser enquanto tal, não só das formas do ser. (STEIN,1994, p. 43) Santo Tomás percebeu que a natureza, objeto próprio da filosofia, pode contribuir para a compreensão da revelação divina. Desse modo, a fé não teme a razão, mas solicita-se e confia nela como a graça supõe a natureza e leva-a a perfeição, assim, também à fé supõe e aperfeiçoa a razão. Está iluminada pela fé, fica liberta das fraquezas e limitações causadas pela desobediência do pecado, e recebe a força necessária para elevar-se até ao reconhecimento do mistério de Deus Uno e Trino. Embora sublinhado o caráter sobrenatural da fé, o Doutor angélico não esqueceu o valor da racionalidade da mesma; antes, consegue penetrar profundamente e especificar o sentido de tal racionalidade. Efetivamente, é de algum modo “exercitação do pensamento”, a razão do homem não é anulada nem humilhada, quando presta assentimento ao conteúdo da fé. (Fides et Ratio, 2005, p. 81) Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 4 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Diante das controvérsias acerca da expressão filosófica cristã, há aqueles que concordam e aqueles que discordam, há os acreditam nos dados da revelação divina, como os que não acreditam, por exemplo: Brunschvicg acredita que a verdade é a mesma, com isso não há necessidade do objetivo cristã a realidade da filosofia, pois o objetivo cristão negaria o substantivo filosofia (MOLINARO, 2000, p.337) porque o dado divino se apresenta como uma verdade inquestionável. Enquanto que, a filosofia busca inquietamente a verdade. Também Brehier busca uma filosofia cristã conforme o magistério da Igreja, a qual seria a perca da liberdade filosófica. Assim esses pensadores e outros defendem a tese de que não há a possibilidade de uma filosofia cristã, em contrapartida Gilson e Maritain concordam com a existência de uma filosofia cristã, vejamos o que diz E. Gilson: “Chamo, pois, de filosofia cristã, toda filosofia que, embora distinga formalmente as duas ordens, considere a revelação cristã uma auxiliar indispensável da razão” (MOLINARO, 2000, p. 337). Dessa maneira a filosofia cristã aspira um olhar mais ampliado acerca da realidade no sentido de reunir a teologia e a filosofia numa visão harmoniosa diante das questões do mundo, ou seja, a revelação proporciona ao pensador cristão uma visão geral da reflexão filosófica (ETIENNE, 1985, p.11). Etienne Gilson defende que o espírito de toda filosofia cristã é teológico. Enquanto para Maritain a filosofia, pelo menos a filosofia moral, tem uma dependência essencial da teologia pelo qual deve estar em submissão à fé, para que possa tornar-se uma autentica ciência e esteja preparada ao seu objetivo de natureza humana (MALINARO, 2000, p. 338). Em princípio, a filosofia cristã mantém-se aberta a toda e qualquer questão filosófica tendo o olhar no passado para erguer um edifício em bases novas com o objetivo de melhorara e aprofundar o conhecimento, para então, enfrentarmos os problemas contemporâneos, já que a filosofia cristã possui este caráter de uma visão total da realidade, empenhando-se em penetrar mais profundamente nos problemas gerais e não em questões isoladas. Assim, a revelação divina proporciona ao pensador um conjunto harmonioso acerca da realidade resultando em beneficio a filosofia. Edith Stein tanto concorda com o que fora dito em beneficio sobre a expressão filosófica cristã, quanto do pressuposto da doutrina do conhecimento elaborado unicamente da razão natural proposto por Tomás de Aquino, pelo qual ela procura estabelecer um diálogo Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 5 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein com o pensamento filosófico medieval e aquele da modernidade com a pretensão de analisar o sentido e a possibilidade de uma filosofia cristã Entretanto, é possível haver um diálogo comum tendo em vista algo tão discrepante em relação a fé e a razão? A filosofia poderia falar do Deus revelado da fé, e continuar sendo livre ou há aqui uma contradição? Assim Edith Stein põe em confronto a Idade Média e a Modernidade para daí extrair um conceito de filosofia cristã fazendo uso do método fenomenológico, mas aqui toca a “espinha dorsal” da questão, porque a filosofia medieval parte do ponto reflexivo tendo Deus como centro e critério de seu fundamento filosófico, enquanto que, a filosofia moderna parte do pressuposto do exercício da razão sem a ajuda da revelação divina, marcado pelo preconceito racional desde Descartes, o qual põe a divisão clara entre dois campos de conhecimentos independentes: fé e razão; Kant ao falar sobre a fé, diz que esta faz aparte do ato da vontade, e não há racionalidade dito de outra maneira, o indivíduo acredita se quiser, porque do ponto de vista da razão não temos experiências empíricas que comprovem, como por exemplo; se o mundo foi criado ou não, pois o mundo tem uma causa, mas não necessariamente um começo, enquanto que para a fé, o mundo tem um começo e uma causa como nos explica Herrero Francisco: Se agora se fala de uma revelação e de fatos históricos que fundamentam uma crença histórica, está só pode ter por base fatos em si indiferentes, que como tais são contingentes e que podiam ter sido de outro modo a crença histórica. “Contém em si, como todo conhecimento de experiência, não a consciência de que o objeto acreditado tem de ser assim e não de outra maneira, mas só que ele é assim. Com isso ela contém ao mesmo tempo a consciência de sua contingência. ” (Rel B, 167). Por isso Kant vê esse fenômeno num primeiro momento como uma realidade cuja origem é irrelevante. A crença histórica, fundada sobre uma revelação empírica, é fruto de um acaso. Ele não nega propriamente a possibilidade interna de uma revelação divina, mas o que interessa acentuar é que sua origem, enquanto contingente, não pode ser determinada pela razão, da incondicionalidade. (JAVIER, 1991, p. 167). Sabe-se, no entanto, que a fé traz questões novas para a filosofia, ou seja, o filósofo que crê na verdade revelada teria mais uma fonte e conhecimento, um conhecimento novo, isto é, alargaria seu campo de análise intelectual racional. “Além disso, o mundo, visto pelos olhos da fé, adquire um novo significado” (STEIN, 1994, p.40). Poderia-se dizer que existe razão na fé, por exemplo, quando o indivíduo crê no dado da revelação divina, primeiro ele acredita com a Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 6 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein razão, embora não signifique que o indivíduo não possua emoção, sentimento, porém não é com o coração que ele fala sobre a Trindade, nesse ponto é a razão quem diz os motivos por que o indivíduo acredita em Deus, ou seja, junto com o sentimento vai a razão, pois segundo Tomás, há razão na fé. “É necessário recorrer a razão, a qual todos devem assentir” (REALE, 2005, p. 213) portanto, é dessa base que podemos encontrar argumentos para um discurso teológico, além do mais, a possibilidade de uma abertura de diálogo tanto para os que crêem ou não nos dados da fé. “Existem dois caminhos que conduz a verdade, se bem que a razão natural não pode chegar até a verdade suprema e elevada, pelo qual se possa alcançar um grau que seja possível excluir certos erros e demonstrar a harmonia da fé”. (STEIN, 1994, p. 31). A razão seria um caminho de diálogo para todo aquele que busca a verdade. Edith Stein ao construir o arcabouço filosófico fenomenológico, investiga a natureza filosófica entendida por Maritain ao apresentar a importância para a construção do sentido e da possibilidade de uma filosofia cristã, distingue a natureza e o estado da filosofia. A natureza da filosofia seria o qual ela é em si, enquanto que o estado da filosofia seria como a filosofia se encarna em diversos contextos, dessa maneira Maritain concebe a filosofia como ato e hábito, cito no sentido em que realiza o pensamento dito de formar o ato intelectual na medida em que o indivíduo ao exercitar o pensamento torna-o ato e ao repetílo, este saber adquirido pouco a pouco vai tornando-se um hábito. Stein de início concorda com o pensamento maritaniano de que a natureza da filosofia nos abre à perspectiva de falar de ato e habito filosófico, entretanto, se distancia de Maritain, e parte de uma terceira concepção de filosofia como ciência, a noção de ciência como ato, hábito e um corpo de saberes no sentido de um arcabouço, forma de exprimir resultado numa filosofia que seja uma ciência cristã. Por filosofia se podem entender estes dois significados. Fazer filosofia é ser ou ter uma vida espiritual. (O filósofo é filósofo ainda nos momentos em que não esteja num ciclo da filosofia). Além disso há um terceiro significado – e eu diria incluso que este terceiro significado é o que mais vale – a filosofia é uma ciência, a palavra latina scientia significa saber (no sentido de hábito e ato) e ciência, a linguagem teológica emprega a palavra ciência no sentido de saber (quando se fala de ciência como dom do Espírito Santo) (STEIN,1994, p. 32). Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 7 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Assim Stein elabora uma filosofia fenomenológica como um corpo de conhecimento em que ela não faz um recorte do mundo, mas visa ao todo, uma disciplina do qual levaria as outras ciências a um “acabamento”, na medida em que busca os princípios fundamentais, poderia-se extrair o estado cristão da filosofia fenomenológica já que a fé representa uma abertura de horizonte para a filosofia, pois quando ela toma a sério o dado da revelação divina como um corpo de investigação do cristianismo, com efeito a filosofia trata dos dados da realidade que estão cheios, mesclados com os da religião. Logo, se o filósofo crê no Deus da fé, tem uma certeza interior ao analisar o mundo do qual não excluiria essa certeza possibilitando uma nova visão do mundo, do ser e de suas relações com seus semelhantes sem necessariamente tornar-se teologia. Se a tarefa da teologia é constatar os fatos da revelação enquanto tais e elaborar seu sentido e causalidade, incumbe a filosofia pôr em acordo com a fé e a teologia o que ela elaborou por seus próprios meios no que concerne a compreensão do ente por suas últimas causas (STEIN, 1994, p. 229). Uma filosofia fenomenológica que acolhe a fé como uma verdade segundo Stein, não se trata, apenas, só para aqueles que crêem, mas defende que também a verdade revelada possa ser objeto de análise fenomenológica que mira seu olhar para todas as manifestações do ser humano, ao mesmo tempo possibilitando não só o diálogo como também um campo reflexivo para o filósofo não-crente, na medida em que os dados da revelação são disponíveis à razão, assim não poderia negar como atitude fenomenológica a fé como fonte de verdade resultando “O perfectum opus é da consciência, a experiência interior em sua unidade, sem cisões” (SAVIAN, 2003,p. 229) , a consciência interior é quem atinge a totalidade; uma filosofia crista que possa revelar algo sobre o ser. Desde o ponto de vista da filosofia cristã, não existe nenhum inconveniente para um trabalho comum. Pode ela tirara ensinamentos dos gregos e dos modernos para enriquecer-se segundo o princípio: examinar tudo e conservar o melhor. Por outra parte, pode pôr à disposição de outros que ela tenha que dar, deixando aos outros o ícone e a seleção. Paro o incrédulo, não há motivos reais de desconfiança em relação com os resultados de seu método natural, posto que são a medida das amais abrangentes verdades da razão e ainda da verdade da fé. Ele é, pois, livre de empregar a marca da razão com todo rigor e recusar tudo o que não seja suficiente. Além do mais, dele depende seguir o caminho, tomando igualmente conhecimento dos resultados adquiridos por meio da revelação, não aceitará as verdades da fé empregadas como tese, contrariamente como o faz o crente, mas somente como ponto de partida. (Hipótese). (STEIN, 1994, p. 47) Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 8 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Para isso contribui também o fato de sustentar a exigência de apresentar diante dos novos conhecimentos sem o preconceito racional, estando aberto para aquilo que lhe é além da razão natural desvelando uma maior compreensão do mundo. Desse modo a tarefa não consiste aqui em examinar em detalhes a concepção da verdade, trata-se de esclarecer a questão prévia concerne ao pensamento stainiano, este assunto preliminar, por sua vez, pressupõe o esclarecimento fundamental que indaga a filosofia fenomenológica no sentido de ser possível acolher o estranho, ou seja, uma filosofia aberta à revelação divina sem perder sua autenticidade, seu caráter crítico; desse modo nos possibilita um olhar mais abrangente sob a realidade. Para a autora, “a filosofia é coisa da razão (entendida no sentido amplo, que compreende tanto razão natural como supranatural)” (STEIN, 2005, p.309), partindo da análise fenomenológica que possibilita o filósofo adquirir uma nova maneira de olhar o mundo, haja vista que a atitude fenomenológica consiste em evitar afirmações prévias diante dos fenômenos que estão impregnados em qualquer atitude natural, e assumir uma postura de espectador, interessado em obter a essência dos atos através dos quais a consciência se volta à realidade. Suspendendo a afirmação da realidade, do mundo, este se torna um puro fenômeno de consciência, mas não se anula, antes continua presente na base da investigação que é feita, com todas as suas determinações e as suas verdades (que se mantém como tais), mas ao mesmo tempo a atenção do investigador desloca-se do próprio mundo (da sua realidade) para os fenômenos que o anunciam e o apresentam à consciência, isto é, a própria consciência e as suas estruturas essenciais (ABBAGNANO, 2003, p. 13). O conceito da verdade, segundo a concepção filosófica fenomenológica stainiana, consiste em que a verdade é conhecer as coisas como elas são não só na consciência, como também fora dela. “Agora, porém, ela queria saber onde essa possibilidade tinha suas origens, onde ficava a instancia que garantia a objetividade e a verdade” (FELDMANN, 2001, p. 54), assim entregou-se a essa tarefa na busca pela verdade aceitando a fé, a mística como fonte da verdade. Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 9 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Para uma maior compreensão da verdade, poderia-se começar da concepção da verdade lógica e transcendental entendido por Stein, partindo da expressão empregada por Tomás da “relação puramente pensada”, atribuindo a relação do objeto com o saber do qual se torna real porque depende do objeto, já que, o saber não possui a capacidade de aperfeiçoar-se em seu quid, apenas na relação com o objeto real no sentido da transcendência do saber mesmo que se volta para o objeto, da representação do objeto que dessa maneira torna-se parte essencial da expressão do conhecimento, embora não percebamos nenhum rastro de analogia do objeto. Mas está relação não é, todavia, a conformidade do saber com seu objeto, o que nós chamamos a verdade. Pode-se falar somente de correspondência e de verdade quando o objeto que pensamos como sua representação real, existe também realmente: quando o objeto que nosso saber pensa como quid, e quando é tal como este saber o representa. Aqui trata-se da verdade lógica que põe o ente nessa relação com o pensamento que se forma nele em um processo temporal enquanto que a verdade transcendental, (ABBAGNANO 2003, p. 971) seria a conformidade do pensamento que possui seu fundamento no ente mesmo dito de outra maneira, o título da verdade transcendental seria a correspondência de uma coisa verdadeira com forma pura. “Que todo ente possui um sentido ou para expressar-se de uma maneira escolástica um inteligível: uma coisa que pode entrar em um espírito que conhece ser captado por ele, estas duas coisas me parecem identificar-se com a verdade transcendental” (STEIN,1994, p. 313). O conhecimento é independente de sua existência e ao mesmo tempo dizer que a verdade transcendental não está apenas limitada ao pensamento, pois nada acrescenta ao ente em sua totalidade ao que lhe confere manifestar-se seu ser ao espírito. A interpretação sob a verdade transcendental que corresponde ao que existe em verdade, contribui ao fundamento da verdade lógica enquanto correspondência com um objeto que lhe é conhecido. A verdade divina, o conhecimento divino, no sentido do Espírito de Deus, único criador de todas as coisas, é um saber que existe desde toda a eternidade, ao contrário do saber, do conhecimento humano, que tem necessidade de plenitude. Tratando-se da questão das ideias no pensamento de Deus, pode-se dizer que nada do exterior ao Espírito divino acrescenta, enquanto que, para as coisas criadas, elas se identificam com a essência divina no qual serve de modelo. Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 10 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein As ideias não podem ser mais que verdadeiras. Não há nada com o qual se possam medir melhor que como o pensamento divino conforme as coisas a estas ideias. São o que o que elas são e estão presentes no espírito divino, apenas se pode haver aqui uma correspondência, posto que as ideias não são outra coisa que o espírito divino, que enquanto tal, está presente para si mesmo. Aqui coincidem a verdade transcendental e a verdade lógica. Estão incluídas no ser divino. (STEIN, 1994, p. 323) Com isso Stein, pretende demonstrar que há possibilidade entre a simplicidade do ser divino com a variedade das ideias que estão no campo da razão, natural sustentada pela luz da fé, “Esta razão guiada pela palavra revelada, trata de conceber os mistérios ante os quais eram estranhos aos conceitos humanos” (STEIN,1994, p. 325). Embora não signifique que o mistério se esgote nas mãos da investigação filosófica, entende-se como uma verdade que se mostra, e que ilumina a razão natural através da fé, mas ao mesmo tempo, esconde-se do qual possuímos linguagem adequada para expressar. A mística como verdade parte da manifestação do Ser Eterno ao ser finito (da relação do criador com a criatura) que se revela gradativamente como feixes luminosos onde a razão se encontra mergulhados na neblina, tendo diante de si uma luz que transcende a compreensão do intelecto, e ao mesmo tempo desvela por ação da graça, verdade que a razão desconhece. Segundo o pensamento stainiano, a experiência mística comunica ao entendimento um conhecimento certo, porém obscuro que a filosofia não poderia fechar os olhos para tal conhecimento, seja para o filósofo crente ou para o filósofo incrédulo, visto que ao filósofo crente proporciona-lhe uma visão do mundo mais abrangente, uma certeza interior, enquanto que, para o não-crente, como atitude fenomenológica não poderia negar a questão da mística na medida em que: “A percepção dos limites insuperáveis da linguagem abre por conseguinte para um inefável que, embora permanecendo intacto na sua irredutibilidade, não perde por isso relevância. Com efeito, a razão “ao tornar-se consciente do próprio limite e da própria finitude diante do infinito da questão, sabe guardar o poder de interrogar”(CRESPI, 1999,p. 27). Entretanto para o filósofo crente a experiência acontece como um choque na revelação que inflama a alma, induzido a projetar-se apara o alto, impelido ao absoluto livremente Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 11 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein percebido, desconhecido e conhecido ao mesmo tempo. Recebe uma luz que tem a natureza de um impacto, justamente por que entra em contato com o divino, mesmo sendo percebido de modo obscuro no mundo sensível, acaba reconhecendo agora como própria da grande luz que emana da divina razão. Mostra Deus como luz inacessível, ser inconcebível e finito que está acima de toda a capacidade natural, e por isso mesmo, a fé reduz a razão ao nada, levando-a a reconhecer sua incapacidade diante da grandeza de Deus (...) observamos ainda que o simples toque no íntimo não exige como condição necessária a inabilitação pela graça. Esse toque pode ser dado ao incrédulo para o despertar da fé, e a preparação a graça santificante. Pode servir também para tornar-se um incrédulo capaz de se prestar como instrumento para determinadas finalidades. (STEIN, 2004, p. 149). Stein pretende esclarecer a diferença entre a unção pela graça dado a qualquer indivíduo, e a união mística para o indivíduo que se abre ao mistério. Entretanto, não significa que a união pela graça exclua a possibilidade para a união mística, visto que o suporte para de tal união está no íntimo da alma, o lugar do contato pessoal e de união. A verdade mística se apresenta a investigação filosófica como conhecimento verdadeiro por meio da visão eidética que significa a posse de um eidos, de forma que nos oferece uma análise intencional para captar uma essência. A intuição eidética não é fácil porque exige de nós um grande esforço para imaginar o impossível que nos impulsionam a sermos capazes de ir além das coisas que está acostumado, das coisas que regularmente experiência pela intuição empírica. A filosofia tem essa tarefa de proteger a atitude natural racional, mas além dessa tarefa, a filosofia pode abrir-se ao campo da imaginação, da intuição eidética e a qual emprega a imaginação pata trazer à luz ao mundo como as coisas devem ser (SOKOLOWSKI, 2004 p. 189). Ela não está preocupada com as experiências e os objetos que por acaso temos, mas com as estruturas eideticamente necessárias dessas experiências e desses objetos, como poderíamos ser consideradas por uma consciência qualquer. A fenomenologia visa descobrir como as coisas e a mente têm de ser para a descoberta tomar lugar. (SOKOLOWSKI, 2004, p. 196). Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 12 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Na tentativa de captar o caráter próprio da verdade plena e de apresentar um olhar mais abrangente sob as verdades, Stein apresenta a possibilidade uma abertura ao estranho, ou seja, acolhe os dados da revelação divina como conjuntura para a análise filosófica tanto para o crente, como para o não-crente. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conjunto dessas considerações acerca da verdade perpassa o horizonte fenomenológico, no interior do qual encontram, para captar diretamente dimensões que a transcendam, como possibilidade de conhecimento verdadeiro. Por isso, Stein sente a necessidade para uma fundamentação filosófica intelectual da fé em conciliação com o método fenomenológico para uma investigação filosófica que toma novas formas de conhecimento. Portanto qualquer fonte pode ser uma fonte para a verdade, não exclui a fé e nem a mística, já que a filosofia busca compreender o mundo da forma mais abrangente possível. Uma filosofia fenomenológica que a fé, tendo como tarefa o caminho da revelação divina do qual Tomás assegura uma filosofia na razão natural, então, poderíamos adquirir um caminho comum tanto para o filósofo crente, como para o incrédulo, pois a meta é a mesma, a busca pela verdade plena, tornando-nos parentes da busca. Para Stein a concepção de filosofia cristã tem como pretensão em favorecer uma abertura à totalidade, ou seja, um saber que abrace a totalidade, aceitando as questões teológicas para serem examinadas fenomenologicamente. Isso resulta na ação do sujeito que se abre ao que lhe é oferecido: o ser consultado, avaliado e oportunamente aberto ao estranho (ser eterno) para sua realização e para a sua participação mais plena na história. Querer-se especificar desde já que, quando se refere a obra Ser finito e Ser Eterno, tem-se em mente, especificamente, mostrar o problema da possibilidade de uma filosofia fenomenológica que possa acolher sem preconceitos racionais os dados da fé. Para isso, foi necessário partir da reflexão sobre o sentido da relação desse ser finito com o Ser Eterno, e como este se revela ao homem, ou seja, a imagem do Criador na criatura. Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 13 ISSN: 2447-8806 A filosofia fenomenológica sobre a verdade segundo Edith Stein Referências Bibliográficas ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 1 ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003. CRESPI, F. A experiência religiosa na pós-modernidade. EDUSC, São Paulo, 1999 (Coleção filosofia e Política). ETIENNE, G. História da filosofia cristã: desde as origens até Nicolau de Cusa. 3 ed. Vozes, Petrópolis, 1985. FELDMANN, C. Edith Stein; Judia, ateia e monja. EDUSC, São Paulo, 2001. HUSSERL, E. A ideia da fenomenologia. Lisboa: 70, 2008. JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Fides et Ratio: Aos bispos da Igreja católica sobre as relações entre fé e razão. 8 ed. Paulinas, São Paulo, 2005. MOLINARO, A. Léxico de metafísica. Paulus, São Paulo, 2000 (Coleção Filosofia). REALE, G. e ANTISERI, D. História da filosofia: do Humanismo a Descartes. Vol. 3, Paulus, São Paulo, 2004. __________________. História da filosofia: patristica e escolástica. Vol. 2, Paulus, São Paulo, 2005. STEIN, E. A ciência da Cruz. 4 ed. Loyola, São Paulo, 2004. __________________. Ser finito y Ser eterno; ensayo de una ascención al sentido del ser. Fondo del cultura econômica. Ciudad de México, 1994. __________________. O que é filosofia. Vol.2, Scintilla Nº2. Curitiba, 2005. SOKOLOWSKI, R. Introdução à fenomenologia. Loyola, São Paulo, 2004. SAVIAN, J. F. Sentido e possibilidade de uma filosofia cristã segundo Edith Stein. Coletânea, Belo Horizonte, Nº4 – 2003. Dialogando, Quixadá, v. 1 – n. 2, Jul./Dez. 2016 www.revistadialogando.com.br 14