Carolina Rebouças Marcia Veloso Sandra Mara M. Wagtsuma Inclusão de portadores de deficiência mental Curso de Psicologia Disciplina: Psicologia dos Processos de Inclusão Professora:Marlene Bride UNIVERSIDADE IBIRAPUERA SÃO PAULO Agosto de 2010 Carolina Rebouças Marcia Veloso Sandra Mara M Wagtsuma Inclusão de portadores de deficiência mental UNIVERSIDADE IBIRAPUERA SÃO PAULO Agosto de 2010 Introdução: Presenciamos nas últimas décadas, que as escolas e seus educadores têm se deparado com uma nova e desafiadora questão: a de incluir as pessoas com necessidades educacionais especiais nas salas de aulas da rede regular de ensino. O estudo de diversas obras revela que historicamente, até o século XVI, não existia a preocupação da sociedade em oferecer atendimento às pessoas consideradas ´´diferentes`` dos ditos´´normais``. A história é, geralmente, a melhor mestra. Pensar historicamente nos ajuda a compreender a gênese e o movimento dos processos estudados. Lancemos mão da história, então, para entender a integração/inclusão/exclusão da pessoa com deficiência mental. Se adentrarmos a fundo na história anterior ao século XVI, certamente ficaremos horrorizados com a tamanha injustiça feita com as pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência ou diferença. Tais pessoas eram estupidamente queimadas em fogueiras em praça pública ou jogadas à própria sorte, pois se acreditava que eram uma obra maligna. Conforme foram ocorrendo as mudanças na organização das sociedades, começaram a ter mais zelo para com as pessoas com deficiência. E foi durante o século XX, que as instituições sociais estenderam o atendimento especializado a este grupo de excluídos, os deficientes. A polêmica sobre a inclusão de alunos com deficiências/necessidades especiais nas escolas regulares acontece no sentido de que a depauperada escola brasileira e seus professores assentes numa sociedade em que o modo de produção capitalista produz mais e mais concentração de renda e enormes contingentes de excluídos e, por conseqüência, mais e mais desigualdade social receberam a incumbência de fazer a inclusão, mas, não receberam as condições materiais para tal. O que a história recente da educação escolar dos alunos com deficiência mental tem demonstrado, é que eles passam anos de suas vidas estudando e acabam saindo da escola, na maioria das vezes, sem certificação de conclusão de escolaridade, principalmente os que têm comprometimentos mais acentuados. Vale lembrar que desde Salamanca,(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais), o termo necessidades educacionais especiais, assim como a expressão educação inclusiva passaram a abranger desde pessoas com dificuldades de aprendizagem decorrentes de condições econômicas e socioculturais, até pessoas com algum tipo de deficiência, altas habilidades ou condutas típicas. Neste trabalho ênfase será dada ao sujeito com deficiência mental que constitui em âmbito escolar, o maior grupo entre as deficiências atendidas nas escolas especiais e nas redes regulares de ensino. Estatísticas recentes do Ministério da Educação (BRASIL, 2007) indicam que das 700.824 matrículas efetuadas na Educação Especial, em suas possibilidades de classes e ou escolas especiais ou escolas comuns em 2006, 330.794 eram compostas de alunos identificados com deficiência mental e Síndrome de Down, o que representa praticamente 50% do universo total de matrículas. Ademais, acompanhar pedagogicamente o aluno com déficit cognitivo tem sido apontado por diferentes autores como um dos grandes desafios para a educação, que se habituou a trabalhar com o aluno “ideal”, dentro de um padrão predominantemente racional, baseado em um modelo único de ensino-aprendizagem, sem considerar a diversidade humana e as possibilidades de escolarização de pessoas com deficiência mental (PADILHA, 2001; CARNEIRO, 2007; PLETSCH, 2008). Observamos que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de um outro modo as diferenças. Assim, uma pessoa é considerada normal quando atende aos padrões que previamente são estabelecidos. A transgressão desses padrões caracteriza o estigmatizado, que, por sua vez, expressa desvantagem e descrédito diante de oportunidades concernentes aos padrões de qualidade, de acordo com o estádio mais avançado das criações humanas. O estigma se interpõe, atualmente, em todas as relações, como um constructo social que é internalizado pela maioria das pessoas como “coisa anormal”. Nesse enfoque, podemos entender a análise de Goffman (1988, p.15) “Por definição é claro, acreditamos que alguém com estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminação, através das quais efetivamente e, muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria de estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo, racionalizando algumas vezes uma animosidade, baseada em outras diferenças, tais como as de classe social.” Assim sendo, discutir o conceito e o tipo de integração/inclusão/exclusão implica delinear os contornos deste novo paradigma de escola inclusiva. O termo integração tem sido utilizado com o objetivo de demarcar as práticas de segregação, que consistem em agrupar e retirar do ensino regular os alunos deficientes que apresentem dificuldades de adaptação ou de aprendizagem . Conceito de Inclusão A mobilização das pessoas com necessidades educacionais especiais por educação no ensino regular, junto com todos os outros alunos, é um processo chamado “inclusão escolar”. Este conceito vem sendo tratado, desde que surgiu no Brasil, como uma nova panacéia capaz de dar conta dos inúmeros problemas afetos à educação especial e vem exigindo uma revisão dos parâmetros até então colocados. Para viabilizar realmente o processo de inclusão cuja discussão, normalmente eivada de idealismo e voluntarismo, tem mascarado os reais determinantes históricos que limitam e condicionam sua efetivação são necessárias mudanças estruturais na sociedade e na escola. Nesta última exige se, entre outras medidas, uma nova política de formação de professores, quebra de barreiras arquitetônicas e atitudinais, equipamentos, materiais e currículos adaptados e equipe técnica de apoio, formada por profissionais das áreas da saúde e educação. No contexto das diferentes áreas que compõem a educação especial deficiência visual, mental, auditiva e física, condutas típicas e altas habilidades/superdotação a educação de alunos com deficiência mental, tem sido um desafio constante não só para os profissionais que trabalham nesta área, como para os pais destes alunos. Historicamente, a educação de pessoas com deficiência mental aconteceu mais tarde que a educação das pessoas das demais áreas de deficiência. Conforme declara a Lei 9394/96, inclusão é uma proposta que condiz com a igualdade de direitos e oportunidades educacionais para todos em ambientes favoráveis já ´garantidos`por ela.Mas, nem sempre esse direito é de fato uma garantia aos cidadãos. Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais têm promovido e implementado a inclusão nas escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidade especial,visando resgatar o respeito humano e a dignidade,no sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento. Estudos e pesquisas realizadas têm constatado que o preconceito existe dentro de cada ser humano, porque são as pessoas que levam a sua reprodução, isto é, os seres humanos são produtos das relações sociais e, nesta condição, reproduzem suas distorções. Esta “anomalias” que existe na sociedade humana,é fruto de uma consciência capitalista onde impera o individualismo. E o que significa inclusão/exclusão? O termo inclusão é um conceito é um conceito bastante utilizado no âmbito educacional, para referir-se ao processo pelo qual a sociedade e os portadores de necessidades especiais procuram adaptar-se mutuamente, tendo em vista a equiparação de oportunidade e , conseqüentemente uma sociedade para todos (DIEB,2006). Exclusão ( do latim exclusiõ-õnis),etimologicamente significa ser Incompatível, afastar, recusar (Cunha, 1986, p.341). No contexto de uma educação para todos os deficientes mental tem sofrido discriminação. Existem de um lado, escolas especiais e, de outro, uma tendência a integrá-lo às escolas de ensino regular. Não adianta ter um processo de inclusão nas escolas, se não houver uma equipe de profissionais na área da educação, devidamente preparados para receber o deficiente mental ao meio escolar. As pessoas portadoras de necessidades educativas especiais não têm só a necessidade de um processo no âmbito escolar, mas sim em todos os níveis sociais. O social para um deficiente mental não se resume somente os limites dos muros da escola, cabe a todos os profissionais da área da educação e saúde criar mais estratégias e mobilizando discussões no sentido de viabilizar um processo de inclusão social. "Conceitua-se a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade"SASSAKI (1997, p. 41). Assim, a pessoa com necessidades especiais deve encontrar, na sociedade, caminho propício para o seu desenvolvimento através de sua educação e qualificação para o trabalho. Estando ele já inserido no processo, a sociedade se adapta as suas limitações. Conceito de deficiência mental Portador de deficiência e de necessidades especiais é aquele que apresenta em caráter temporário ou permanente, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrente de fatores inatos ou adquiridos, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio social, necessitando por isso, de recursos especializados para desenvolver seu potencial e superar ou minimizar suas dificuldades A partir do século XX começou-se a estabelecer uma definição para o Deficiente Mental e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de adaptação ao entorno. Segundo a descrição do DSM.IV, a característica essencial do Retardo Mental é quando a pessoa tem um “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, auto-cuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”. Essa é também a definição de Deficiência Mental adotada pela AAMR (Associação Americana de Deficiência Mental). Na Deficiência Mental, como nas demais questões da psiquiatria, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente relacionado à noção de normal. Teoricamente, deveriam ficar em segundo plano as questões mensuráveis de QI, já que a unidade de observação é a capacidade de adaptação. Acostumamos a pensar na Deficiência Mental como uma condição em si mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, na grande maioria das vezes a Deficiência Mental é uma condição mental relativa. A deficiência será sempre relativa em relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois, a existência de alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria suficiente para caracterizar um diagnóstico de Deficiência Mental, se não existir um mecanismo social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo. Como vimos nas definições acima, Deficiência Mental é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente em uma determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo. Academicamente, é possível diagnosticar o Retardo Mental em indivíduos com QIs entre 70 e 75, porém, que exibam déficits significativos no comportamento adaptativo. Cautelosamente o DSM.IV recomenda que o Retardo Mental não deve ser diagnosticado em um indivíduo com um QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo. Na Deficiência Mental, como nas demais questões da psiquiatria, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente ligado à noção de normal. Teoricamente, já que a unidade de observação é a capacidade de adaptação, deveriam ficar em segundo plano as questões mensuráveis de QI. Segundo critérios das classificações internacionais, o início da Deficiência Mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento e não uma alteração cognitiva como é a Demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de Inteligência (QI ou equivalente). Academicamente, é possível diagnosticar o Retardo Mental em indivíduos com QIs entre 70 e 75, porém, que exibam déficits significativos no comportamento adaptativo. Cautelosamente o DSM.IV recomenda que o Retardo Mental não deve ser diagnosticado em um indivíduo com um QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo.Classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) Coeficiente Denominação Nível cognitivo intelectual segundo Piaget Idade mental correspondente Menor de 20 Profundo Período 0-2 anos Sensório-Motriz Entre 20 e 35 Agudo grave Período 0-2 anos Sensório-Motriz Entre 36 e 51 Moderado Período Préoperativo 2-7 anos Entre 52 e 67 Leve Período das Operações Concretas 7-12 anos De um modo geral, resumindo, costuma-se ter como referência para avaliar o grau de deficiência, mais os prejuízos no funcionamento adaptativo que a medida do QI. Por funcionamento adaptativo entende-se o modo como a pessoa enfrenta efetivamente as exigências comuns da vida e o grau em que experimenta uma certa independência pessoal compatível com sua faixa etária, bem como o grau de bagagem sócio-cultural do contexto comunitário no qual se insere. O funcionamento adaptativo da pessoa pode ser influenciado por vários fatores, incluindo educação, treinamento, motivação, características de personalidade, oportunidades sociais e vocacionais, necessidades práticas e condições médicas gerais. Em termos de cuidados e condutas, os problemas na adaptação habitualmente melhoram mais com esforços terapêuticos do que o QI cognitivo. Este tende a permanecer mais estável, independente das atitudes terapêuticas, até o momento. Baseado nos critérios adaptativos, mais que nos índices numéricos de QI, a classificação atual da Deficiência Mental não aconselha mais que se considere o retardo leve, moderado, severo ou profundo, mas sim, que seja especificado o grau de comprometimento funcional adaptativo. Importa mais saber se a pessoa com Deficiência Mental necessita de apoio em habilidades de comunicação, em habilidades sociais, etc, mais que em outras áreas. Estes critérios qualitativos (adaptativos) constituem descrições muito mais funcionais e mais relevantes que o sistema quantitativo (de QI) em uso ate agora. Esse novo enfoque centraliza-se mais no indivíduo deficiente, independentemente de seu escore de QI, sob o ponto de vIsta das oportunidades e autonomias. Trata-se de uma avaliação qualitativa da pessoa. O sistema qualitativo de classificação da Deficiência Mental reflete o fato de que muitos deficientes não apresentam limitações em todas as áreas das habilidades adaptativas, portanto, nem todos precisam de apoio nas áreas que não estão afetadas. Não devemos supor, de antemão, que as pessoas mentalmente deficientes não possam aprender a ocupar-se de si mesmos. Felizmente a maioria das crianças deficientes mentais pode aprender muitas coisas, chegando à vida adulta de uma maneira parcialmente e relativamente independente e, mais importante, desfrutando da vida como todo mundo. Classificações A Deficiência Mental se caracteriza assim, por um funcionamento global inferior à media, junto com limitações associadas em duas ou mais das seguintes habilidades adaptativas: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades escolares, administração do ócio e trabalho. Para o diagnóstico é imprescindível que a Deficiência Mental se manifeste antes dos 18 anos. As áreas de necessidades dos deficientes devem ser determinadas através de avaliações neurológicas, psiquiátricas, sociais e clínicas e nunca numa única abordagem de diagnóstico. Tipo de classificação baseado na intensidade dos apoios necessários: Intermitente: O apoio se efetua apenas quando necessário. Caracteriza-se por sua natureza episódica, ou seja, a pessoa nem sempre está precisando de apoio continuadamente, mas durante momentos em determinados ciclos da vida, como por exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença. Os apoios intermitentes podem ser de alta ou de baixa intensidade. Limitado: Apoios intensivos caracterizados por sua alguma duração contínua, por tempo limitado, mas não intermitente. Nesse caso incluem-se deficientes que podem requerer um nível de apoio mais intensivo e limitado, como por exemplo, o treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta. Extenso: Trata-se de um apoio caracterizado pela regularidade, normalmente diária em pelo menos em alguma área de atuação, tais como na vida familiar, social ou profissional. Nesse caso não existe uma limitação temporal para o apoio, que normalmente se dá em longo prazo. Generalizado: É o apoio constante e intenso, necessário em diferentes áreas de atividade da vida. Estes apoios generalizados exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado. Ainda baseada na capacidade funcional e adaptativa dos deficientes, existe uma outra classificação bastante interessante para a Deficiência Mental. Trata-se da seguinte: Dependentes: geralmente QI abaixo de 25; casos mais graves, nos quais é necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas. Treináveis: QI entre 25 e 75; são crianças que se colocadas em classes especiais poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiênicos, etc. Poderão aprender a ler e a escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita compreensão e afeto e com metodologia de ensino adequada. Educáveis: QI entre 76 e 89; a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e estas crianças podem permanecer em classes comuns, embora necessitem de acompanhamento psicopedagógico especial. Essa classificação bastante simples é extremamente importante na prática clínica, pois, sugere o que pode ser proporcionado à criança com Deficiência Mental. Por outro lado, a classificação da OMS - CID.10 (Organização Mundial da Saúde) é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação a gravidade da deficiência seria: Profundo: São pessoas com uma incapacidade total de autonomia. Os que têm um coeficiente intelectual inferior a 10, inclusive aquelas que vivem num nível vegetativo. Agudo Grave: Fundamentalmente necessitam que se trabalhe para instaurar alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. Sua capacidade de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear, são crianças que necessitam revisões constantes. Moderado: O máximo que podem alcançar é o ponto de assumir um nível pré-operativo. São pessoas que podem ser capazes de adquirir hábitos de autonomia e, inclusive, podem realizar certas atitudes bem elaboradas. Quando adultos podem freqüentar lugares ocupacionais, mesmo que sempre estejam necessitando de supervisão. Leve: São casos perfeitamente educáveis. Podem chegar a realizar tarefas mais complexas com supervisão. São os casos mais favoráveis. Portanto, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em sua classificação desde 1976, as pessoas deficientes eram classificadas como portadoras de Deficiência Mental leve, moderada, severa e profunda. Essa classificação por graus de deficiência deixava claro que as pessoas não são afetados da mesma forma, contudo, atualmente, tende-se a não enquadrar previamente a pessoa com Deficiência Mental em uma categoria baseada em generalizações de comportamentos esperados para a faixa etária (Referência). O grau de comprometimento da Deficiência Mental irá depender também da história de vida do paciente, particularmente, do apoio familiar e das oportunidades vivificadas, bem como das necessidades de apoio e das perspectivas de desenvolvimento. Incidência Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de Deficiência Mental, propriamente dita. Calcula-se que o numero de pessoas com retardo mental guarda relação com o grau de desenvolvimento do país em questão e, segundo estimativas, a porcentagem de jovens de 18 anos e menos que sofrem retardo mental grave se situa em torno de 4,6%, nos países em desenvolvimento, e entre 0,5 e o 2,5% nos países desenvolvidos (veja Relatório da ONU sobre Doenças Mentais em PsiqWeb). Esta grande diferença entre o primeiro e o terceiro mundo demonstra que certas ações preventivas, como por exemplo a melhora de a atenção materno-infantil e algumas intervenções sociais específicas, permitiria um decréscimo geral dos casos de nascimentos de crianças com Deficiência Mental. Os efeitos da Deficiência Mental entre as pessoas são diferentes. Aproximadamente o 87% dos portadores tem limitações apenas leves das capacidades cognitivas e adaptativas e a maioria deles pode chegar a levar suas vidas independentes e perfeitamente integrados na sociedade. Os 13% restantes pode ter sérias limitações, mas em qualquer caso, com a devida atenção das redes de serviços sociais, também podem integrar-se na sociedade. No Estado de São Paulo, a Federação das APAEs, através de censo próprio realizado em 110 municípios, calcula ser de 1% da população o número de pessoas que necessitam de atendimento especializado (referência). Causas e Fatores de Risco Inúmeras causas e fatores de risco podem levar à Deficiência Mental, mas é muito importante ressaltar que muitas vezes não se chega a estabelecer com clareza a causa da Deficiência Mental. A. Fatores de Risco e Causas Pré Natais: São os fatores que incidirão desde a concepção até o início do trabalho de parto, e podem ser: Desnutrição materna; Má assistência à gestante; Doenças infecciosas na mãe: sífilis, rubéola, toxoplasmose; Fatores tóxicos na mãe: alcoolismo, consumo de drogas, efeitos colaterais de medicamentos (medicamentos teratogênicos), poluição ambiental, tabagismo; Fatores genéticos: alterações cromossômicas (numéricas ou estruturais), ex.:síndrome de down, síndrome de matin bell; alterações gênicas, ex.:erros inatos do metabolismo (fenilcetonúria), síndrome de williams, esclerose tuberosa, etc. B. Fatores de Risco e Causas Peri-Natais: São os fatores que incidirão do início do trabalho de parto até o 30º dia de vida do bebê, e podem ser: má assistência ao parto e traumas de parto; hipóxia ou anóxia (oxigenação cerebral insuficiente); prematuridade e baixo peso (PIG - Pequeno para idade Gestacional). icterícia grave do recém nascido - kernicterus (incompatibilidade RH/ABO) C. Fatores de Risco e Causas Pós-Natais: Aqueles que incidirão do 30º dia de vida até o final da adolescência e podem ser: desnutrição, desidratação grave, carência de estimulação global; infecções: meningoencefalites, sarampo, etc; intoxiações exógenas (envenenamento): remédios, inseticidas, produtos químicos (chumbo, mercúrio); acidentes: trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas, etc. infestações: neurocisticircose (larva da Taenia Solium). O atraso no desenvolvimento dos portadores de Deficiência Mental pode se dar em nível neuro-psicomotor, quando então a criança demora em firmar a cabeça, sentar, andar, falar. Pode ainda dar-se em nível de aprendizado com notável dificuldade de compreensão de normas e ordens, dificuldade no aprendizado escolar. Mas, é preciso que haja vários sinais para que se suspeite de Deficiência Mental e, de modo geral, um único aspecto não pode ser considerado indicativo de qualquer deficiência. A avaliação da pessoa deve ser feita considerando-se sua totalidade. Isso significa que o assistente social, por exemplo, através do estudo e diagnóstico familiar, da dinâmica de relações, da situação do deficiente na família, aspectos de aceitação ou não das dificuldades da pessoa, etc. analisará os aspectos sócio-culturais. O médico, por sua vez, procederá ao exame físico e recorrerá a avaliações laboratoriais ou de outras especialidades. Nesse caso, serão analisados os aspectos biológicos e psiquiátricos. Finalmente psicólogo, através da aplicação de testes, provas e escalas avaliativas especificas, avaliará os aspectos psicológicos e nível de Deficiência Mental. Mesmo assim, o diagnóstico de Deficiência Mental é muitas vezes difícil. Numerosos fatores emocionais, alterações de certas atividades nervosas superiores, alterações específicas de linguagem ou dislexia, psicoses, baixo nível sócio econômico ou cultural, carência de estímulos e outros elementos do entorno existencial podem estar na base da impossibilidade do ajustamento social adaptativo adequado, sem que haja necessariamente Deficiência Mental. (Veja o site Entre Amigos) Principais Diferenças entre Deficiência Mental e Autismo Infantil CONDUTA DEFICIÊNCIA AUTISMO Graves alterações na Pouco freqüente Muito freqüente, sendo conduta de interação. parte da definição do quadro autista. Coordenação visualmotriz Ma habilidade Boa habilidade Memória na aprendizagem de palavras. Pouco freqüente Muito freqüente Ecolalia Pouco freqüente Muy freqüente Adquisição de hábitos de limpeza Dificultosa Mais dificultosa ainda Comportamento autoagressivo. Pode ocorrer Muito freqüente Capacidade de narração Depende do nível do déficit Pode ocorrer Capacidade de atenção Pode se conseguir Conduta alterada Evolução da linguagem Depende do nível do déficit Possível perda funcional da lenguagem Coeficiente Intelectual Homogeneidade Baixo mas pode ser superior ao dos deficientes Conduta de relação Depende do nível do déficit Pouco freqüente Alterações morfológicas Freqüente Não ocorre Características de acordo com o grau de DM A Deficiência Mental Leve (Limítrofe) O bebê com Deficiência Mental pode se apresentar muito tranqüilo (demasiado, em algumas ocasiões), o que pode causar certa inquietação nas pessoas que cuidam dele. Ele é capaz de sorrir, conseguir os movimentos oculares adequados e olhar com aparente atenção. Pode também desenvolver alguma aptidão social, de relação e de comunicação. As diferenças com a criança normal são pouco notáveis durante os primeiros anos, mas é no inicio da escolaridade que os pais começam a perceber as diferenças existentes através das dificuldades que a criança apresenta. Em relação à evolução psicomotora, alguns autores observam um quadro de hipotonia muscular nas crianças deficientes, mas não se notam diferenças significativas na coordenação geral, nem na coordenação óculo-manual e nos transtornos da lateralidade. Por outro lado, o equilíbrio, a orientação espaço-temporal e as adaptações a algum ritmo podem estar prejudicados. Quanto à fala, algumas crianças com Deficiência Mental se expressam bem e utilizam palavras corretamente, aparentando um discurso até mais desenvolvido do que se poderia esperar no rebaixamento mental. Em outros casos, quando existem transtornos emocionais associados, as crianças podem apresentar também uma deficiência da linguagem. É sempre bom lembrar que a criança deficiente passa pelos estágios sucessivos do desenvolvimento em um ritmo mais lento que a criança normal. Não obstante, os resultados das operações concretas são muito semelhantes entre as crianças deficientes e as normais mas, nas deficientes não aparecem indícios das operações formais (veja Inteligência, Pensamento e Raciocínio). Aliás um dos fatores típicos da deficiência é a dificuldade em alcançar o pensamento abstrato e, evidentemente, quanto mais grave for a deficiência, maior será esta incapacidade. Na Deficiência Mental Grau Leve os pacientes podem alcançar níveis escolares até, aproximadamente, a sexta série do primeiro grau, embora em um ritmo mais lento que o normal. No segundo grau, entretanto, apresentarão grande dificuldade, necessitando de uma aprendizagem especializada. Sendo Leve a deficiência, esses pacientes podem alcançar uma adaptação social adequada e conseguir, na idade adulta, uma certa independência. No entanto, essa evolução mais otimista só ocorrerá quando a Deficiência Mental não apresentar, concomitantemente, algum transtorno emocional grave que possa dificultar a adaptação. A noção de que outros transtornos emocionais possam ser concomitantes com a DM, principalmente a depressão emocional, é muito importante. As pessoas com DM, principalmente de grau leve, apresentam sempre uma maior sensibilidade diante do fracasso e uma baixa tolerância às frustrações, especialmente às frustrações afetivas. O desenvolvimento global das crianças com DM leve pode ser considerado satisfatório pois, quanto menor a deficiência, menos lento será o desenvolvimento, entretanto, de acordo com a norma geral, será sempre mais lento que as crianças normais. Quando a DM é leve, o bebê costuma ser tranqüilo, o desenvolvimento mental evolui em um ritmo lento e a criança aparenta a deficiência mais adiante, durante o crescimento. Mas, nos casos mais graves o retardo se evidência facilmente durante as primeiras semanas, durante os primeiros dias em alguns casos, quando já se nota uma atitude demasiadamente passiva. A Deficiência Mental Moderada As pessoas com DM em grau moderado também podem se beneficiar dos programas de treinamento para a aquisição de habilidades. Elas chegam a falar e aprendem a comunicar-se adequadamente, ainda que seja difícil expressarem-se com palavras formulações verbais corretas. Normalmente o vocabulário é limitado mas, em determinadas ocasiões, principalmente quando o ambiente for suficientemente acolhedor e carinhoso, conseguem ampliar sua habilidade de expressão até condições realmente surpreendentes. É extremamente importante a estimulação ambiental que portadores de DM moderada recebem durante os primeiros anos de vida, sendo isto um fator decisivo para uma evolução mais favorável ou menos. De qualquer forma, a estrutura da linguagem falada é muito semelhante à estrutura de crianças normais mais jovens. A evolução do desenvolvimento psicomotor é variável, dependendo também da estimulação precoce mas, de modo geral, costuma estar alterado. O que, surpreendentemente, não costuma estar alterada na DM moderada é a percepção elementar da realidade. Embora existam dificuldades de juízo e raciocínio, esses pacientes podem fazer generalizações e classificações bastante satisfatórias, ainda que tenham significativas dificuldades para expressarem essas classificações em nível verbal. As dificuldades sociais são importantes na DM moderada mas, dentro de um grupo social estruturado os pacientes podem desenvolver-se com certa autonomia. Muito embora eles necessitem sempre de supervisão social adequada, é importante a noção de que se beneficiam bastante com o treinamento e se desenvolvem com bastante habilidade em situações e lugares familiares. Em condições ambientais favoráveis e mediante treinamento prévio, os portadores de DM moderada podem conseguir trabalhos semiqualificados ou não qualificados. A Deficiência Mental Grave (ou Severa) A DM Grave, ao contrário da Leve e Moderada, se evidencia já nas primeiras semanas de vida, mesmo que nas crianças que não apresentem características morfológicas especiais (como é o caso dos mongolóides). Fisicamente, em geral, o desenvolvimento físico é normal em peso e estatura mas, não obstante, podem apresentar hipotonia abdominal e, conseqüentemente, leves deformações torácicas e escoliose. Por causa dessa hipotonia podem ter insuficiência respiratória (respiração curta e bucal) com possibilidade de apnéia. A psicomotricidade de crianças com DM grave geralmente está alterada, afetando a marcha, o equilíbrio e a coordenação. A maioria delas tem consideráveis dificuldades na coordenação de movimentos, incluindo o controle da respiração e os órgãos de fonação. Embora essas crianças possam realizar alguma aquisição verbal, a linguagem, quando existe, é muito elementar. O vocabulário é bastante pobre, restrito e a sintaxe é simplificada. Há também incapacidade para emissão de certo número de sons, em especial algumas consoantes. Faltam à língua e aos lábios a necessária mobilidade e coordenação, tornando a articulação dos fonemas errônea e fraca. Para que essas crianças consigam utilizar a palavra, devem vencer essas incapacidades. Embora existam muitas características comuns entre portadores de DM grave, como por exemplo os estados de agitação ou cólera súbita, crises de agressividade alternadas com inibição e mudanças bruscas e inesperadas do estado de ânimo, as diferenças individuais também são muitas. A Deficiência Mental Grave não exclui a possibilidade da percepção de angustia generalizada por parte desses pacientes. Costuma haver importante insegurança e falta de confiança em si mesmos em todas as situações, sobretudo em atividades e situações que não lhes seja familiar. Muito pouco se pode esperar de positivo na evolução da DM Grave, mas os pacientes conseguem, de certa forma, desenvolver atitudes mínimas de autoproteção frente aos perigos mais comuns e, como sempre, podem se beneficiar de um ambiente propício. Eles podem ainda realizar alguns trabalhos mecânicos e manuais simples, porém, sempre sob supervisão direta. A Deficiência Mental Profundo As pessoas com DM Profunda podem apresentar algum tipo de malformação encefálica ou facial. Normalmente, a origem desses déficits é orgânica e sua etiologia nem sempre é conhecida. Este estado se caracteriza pela persistência dos reflexos primitivos devido à falta de maturidade do Sistema Nervoso Central (SNC), resultando numa aparência primitiva (protopática) da criança. Sabe-se muito pouco sobre as atividades psíquicas das pessoas com esse tipo de DM devido às dificuldades de investigação semiológica. Dos primeiros anos até a idade escolar as crianças com este déficit desenvolvem mínima capacidade de funcionamento sensório-motor. Em alguns casos elas podem adquirir mecanismos motores elementares e acanhadíssima capacidade de aprendizagem. Em outros casos nem se alcança este grau mínimo de desenvolvimento, necessitando permanentemente de cuidados especiais. As necessidades intensivas de cuidados especiais persistem durante toda a vida adulta. Em poucos casos esses pacientes são capazes de desenvolver algum aspecto muito primitivo da linguagem e conseguir, mesmo precariamente, um grau mínimo de autodefesa. Inclusão de deficientes mentais As pessoas com deficiência mental passaram a ser consideradas passíveis de serem educadas somente no século XIX, graças ao trabalho do médico Jean Itard 2(17741838) — considerado o primeiro teórico de Educação Especial — com o menino Victor de Aveyron, conhecido como “menino selvagem”. O trabalho de Itard se baseava na teoria empirista do conhecimento. Contudo, a importância atribuída aos fatores biológicos em detrimento dos fatores socioambientais perdurou até os anos cinqüenta, quando a noção de “irrecuperabilidade e constitucionalidade da condição de deficiente mental” começou a inserir em suas proposições aspectos sócio-educacionais, inicialmente publicadas na quinta edição do manual da Associação Americana de Retardo Mental (American Association on Mental Retardation – AAMR) (p.34), Segundo Vygotsky, as leis que regem o desenvolvimento da pessoa com deficiência mental são as mesmas que regem o desenvolvimento das demais pessoas. Aspecto este também presente nos processos educacionais (VYGOSTKY, 1997, 2003). Para ele, a criança cujo desenvolvimento foi comprometido por alguma deficiência, não é menos desenvolvida do que as crianças ‘normais’, porém é uma criança que se desenvolve de outra maneira. Isto é, o desenvolvimento, fruto da síntese entre os aspectos orgânicos, socioculturais e emocionais, manifesta-se de forma peculiar e diferenciada em sua organização sociopsicológica. Assim, não podemos avaliar suas ações e compará-las com as demais pessoas, pois cada pessoa se desenvolve de forma única e singular. Nesta direção, cabe apontar ainda, que as pessoas com deficiência mental não formam um grupo homogêneo entre si. Em outros termos, é preciso ter clareza que são diferentes entre si e, existindo a diferença, é necessário estar atento às singularidades de cada pessoa e conhecer as suas histórias de vida (OLIVEIRA, 2006). Dito de outra forma é preciso considerar que a criança com deficiência mental tem alterações nos processos mentais que interferem na aquisição da leitura, dos conceitos lógicomatemáticos, na realização das atividades da vida diária, no desempenho social, entre outras habilidades. Para Ferreira (2003), estes aspectos podem se tornar ainda mais deficitários, na medida em que se destina para estes alunos experiências de aprendizagem “que mobilizam basicamente as funções psicológicas elementares com um significativo distanciamento da cultura” (p.136). A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambiente fisicos (espaços interno e externo, equipamentos, aparelho e utensílio, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto do próprio portador de necessidades especiais. A maior parte dos professores afirma que sente muitas dificuldades de trabalhar não apenas com o deficiente mental, mas com todos os tipos de deficiência, inclusive com a recepção dos alunos “normais” em relação aos alunos deficientes. A dificuldade mais apontada por esses professores que ensinam turmas heterogêneas, ou seja, com turmas onde há alunos deficientes, é a falta de capacitação deles para lidar com esse tipo de alunado, o qual requer, segundo eles, mais trabalho. Em apenas três das seis escolas pesquisadas, os professores nos relataram ter participado de algum curso de capacitação promovido pela Secretaria de Educação do Estado. No entanto, nos disseram que esses cursos não são realizados por todos os professores da escola indicada, e que não são contínuos, ou seja, começam e não terminam. Com essa falta de preparação dos professores, muitos nos afirmaram que se sentem angustiados e com medo na hora de lidar com os deficientes, principalmente no que se refere às questões da sexualidade aguçada e da lentidão na aprendizagem dos deficientes mentais, características específicas da deficiência. Outra dificuldade levantada pelos professores é a falta de material didático e pedagógico, o que prejudica a aprendizagem do aluno com deficiência, já que o ele necessita de um livro adaptado a sua dificuldade. No caso das escolas, muitas estão despreparadas estruturalmente para atender os portadores de necessidades especiais. Numa visão geral, posso dizer que as escolas não possuem recursos didáticos e pedagógicos para trabalhar com os deficientes mentais; não possuem intérpretes para auxiliar os professores nas turmas com deficientes auditivos. Não há rampas, banheiros, corrimãos adequados para os deficientes físicos; e não possuem livros e materiais didáticos em Braille para os deficientes visuais. Creio que nem os professores e nem nossa sociedade estão preparados para lidar com os deficientes. Apesar de não haver mais torturas, castigos e assassinatos aos recémnascidos com deficiência, como já existiu em outros momentos da história, podemos perceber muita discriminação das pessoas, seja num olhar, numa palavra, na hora de um contrato de trabalho, no esporte ou na escola. O papel do psicólogo na inclusão do Deficiente Mental O atendimento aos portadores de deficiência, em particular da deficiência mental, sempre foi uma área negligenciada pela Psicologia. Os poucos psicólogos que trabalham nesse campo, em relação ao número de psicólogos praticantes, principalmente, nos grandes centros, geralmente restringem sua atuação às equipes de Educação Especial das Secretarias de Educação, ou estão inseridos diretamente nas clínicas e escolas especializadas, dando ênfase, frequentemente, às atividades de triagem e avaliação. Conforme comentado no início deste trabalho, o papel que a Psicologia tem assumido no campo da Educação Especial tradicionalmente tem se restringido às equipes de avaliação e triagem das Secretarias de Educação e Instituições especializadas. Em outras palavras, tem sido considerada função prioritária do psicólogo estabelecer um diagnóstico e encaminhar as crianças classificadas como excepcionais ou deficientes mentais para as escolas ou classes especiaisEu vejo o psicólogo inserido na Educação Especial em diversos níveis ou atuações complementares. Primeiro, trabalhando diretamente com a pessoa portadora de deficiência, e/ou orientando sua família e professores, assim como os demais profissionais envolvidos, no sentido de ensinar as habilidades ou comportamentos adaptativos que faltam em seu repertório e que impedem o seu desenvolvimento e autonomia. Pois, como já ressaltado, e ao contrário do que geralmente se acredita, não é a deficiência cognitiva ou intelectual em si que é responsável pela estigmatização e baixa auto-estima que pessoas com deficiência mental sofrem, mas sim a incapacidade de agir quotidianamente como seus companheiros da mesma faixa etária. Esses comportamentos adaptativos variam de indivíduo para indivíduo, incluindo desde atividades de vida diária básica, como por exemplo, se vestir e comer sozinho, até habilidades inerentes à vida independente na comunidade, como por exemplo, fazer compras, pegar condução, usar telefone, etc.. É fundamental também orientação em termos de comportamentos apropriados às diversas situações sociais, para evitar que estas pessoas venham a desenvolver distúrbios de conduta (Nunes, 1994), que restringirão ainda mais sua adaptação e integração social e escolar. Assim, a atuação do psicólogo se faz também através do estabelecimento de uma relação "saudável" em que exista a aceitação do indivíduo e valorização de seus pontos positivos, e ao mesmo tempo estabelecimento de limites e conscientização de suas áreas de dificuldade. Com este tipo de atendimento, que não difere do que é feito com qualquer outro cliente, o psicólogo pode aumentar a auto-estima e ajudar a resgatar a subjetividade e individualidade destes indivíduos tão fragmentados. Pode também auxiliá-los em seu processo de crescimento pessoal e compreensão de seu mundo interior, assim como prepará-los para as dificuldades que enfrentarão no seu processo de adaptação e integração à comunidade, onde certamente sofrerão discriminação e rejeição. Finalizando esta reflexão, é preciso compreender que não é apenas por falta de interesse ou capacitação prévia que muitos profissionais gabaritados evitam trabalhar com o portador de deficiência mental. A questão é demais profunda. O trabalho com o deficiente mental, ou qualquer outro tipo de deficiente, pode ser altamente estressante e ameaçador, porque, como lembra o eminente psicanalista francês Pierre Fédida (1984), o deficiente nos remete à nossa própria fragilidade, à nossa própria deficiência, à percepção de nossa própria experiência fragmentada. Esta representação simbólica que o relacionamento com o deficiente provoca, ocasiona no terapeuta, como não poderia deixar de ser, um processo de contra-transferência que traz à tona uma série de emoções que interferem -- principalmente se delas ele não tem consciência -- em sua relação com o cliente. Conclusão A verdadeira inclusão deverá ter como alicerce um processo de construção de consensos ( valores, políticas e princípios ) proveniente de uma reflexão coletiva sobre o que é a escola, quais as suas funções, os seus problemas e a maneira de solucioná-los. Deve-se buscar uma reflexão orientada para o diagnóstico e para a ação, e isso não se limita ao atendimento dos princípios normativos legais que justificam a inclusão. É preciso, como sublinhamos anteriormente, adotar a concepção de homem que traça as ações e orienta as formas para pensar na própria integração. Apoiados neste referencial, poderemos atingir a globalidade da organização escolar. Se não for assim, estaremos na presença de um processo de inclusão individual, reforçando sobremaneira o paradigma da integração norteado pelo princípio de normalização, isto é, estaremos desenvolvendo as habilidades em ambientes segregados (escola especial e/ou classe especial) . Conclui-se que os valores, os princípios e as políticas devem priorizar tais fatores para fomentar o princípio da inclusão. Isso significa que cada comunidade, para gerar o processo de inclusão, deverá ter liderança forte e mediadora, bem como estabelecer e impulsionar os valores, a cultura e os princípios do processo de inclusão. Conforme Fonseca (1995, p.207): “é necessário munir os professores de ensino regular com novas atitudes, novas aquisições e novas competências. Fazer a integração esquecendo os professores do ensino regular poderia ser desastroso em nosso entender.” É necessária uma mudança geral na sociedade, vemos na televisão casos de alunos com deficiências sendo discriminados por professores, por alunos, precisa ter um investimento nos professores qualificá-los para lidar com os deficientes, uma mudança na estrutura das escolas, afinal as políticas públicas fazem leis para mudar a situação dos deficientes mentais, mas colocar isto na nossa realidade falta muito é necessário uma reformulação de pensamentos, atitudes de toda uma sociedade, não nego que algumas mudanças são feitas mas ainda muito tímidas. Referencia bibliográfica AQUINO, J. G. (org.) Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997. DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pósmodernas da teoria vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. MARX, K. 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