12 Tribuna da Bahia Segunda, 29/06/2015 Cidade SAÚDE Falta Benzetacil em postos, hospitais e farmácias “ Espero que este seja um período curto, mas imagino que, devido sua importância, o Ministério já está providenciando a regularização da situação YURI ABREU REPÓRTER A crise de abastecimento que afeta todo o país, da penicilina benzatina, conhecida comercialmente como benzetacil, também vem tendo seus reflexos no estado da Bahia. Seja em postos de saúde, hospitais e até mesmo em farmácias, é grande a dificuldade para se encontrar o produto. O antibiótico é usado para tratar sífilis, amigdalites, infecções cutâneas e no tratamento da febre reumática. A equipe da Tribuna da Bahia percorreu alguns locais da cidade na tentativa de encontrar o produto. Na farmácia do posto de saúde que fica no bairro Sete Portas, a funcionária informou que não havia o medicamento. A mesma resposta foi dada em outro posto, próximo ao Campo da Pólvora, em Nazaré. Já no Quinto Centro de Saúde Professor Clementino Fraga, na Avenida Centenário, um pequeno lote da benzetacil havia chegado na última segunda-feira. No entanto, na terça, de acordo com uma funcionária, já havia acabado. Também não está fácil encontrar a penicilina nas farmácias da capital baiana, seja em bairros nobres, como a Pituba, ou em bairros periféricos, como Paripe. O item, apesar de barato – custa entre R$ 10 e R$ 12 – já está em falta há dois meses, segundo os funcionários que alegam que, quando o produto chega, é em pouca quantidade e acaba rapidamente. Eles alegam também que Jacy Andrade País sofre desabastecimento BAHIA O governo estadual enfrenta um impasse no contrato de compra do medicamento as empresas farmacêuticas vêm tendo dificuldades em repassar o produto. Para especialistas, a depender do caso, até existem alternativas para substituir o benzetacil, mas que o tratamento é mais trabalhoso. “Essas medicações são utilizadas por um tempo mais prolongado, por intervalos de tempo menores, e não tem a praticidade da própria benzetacil, que tem uma característica de se manter em um nível baixo e por tempo prolongado no sangue, diferentemente das alternativas. Isso não é pratico, dá mais trabalho, acaba sendo mais custoso, mesmo tendo o mesmo efeito que a principal”, disse a médica infectologista e professora da Universida- de Federal da Bahia (UFBA), Jacy Andrade. Os indivíduos que deixam de tomar o medicamento, segundo Jacy, correm o risco de recidivar, que é quando a doença volta mesmo depois do paciente estar curado. Nesse caso, elas devem procurar o médico para buscar outra solução. A também infectologista, Nanci Silva, alerta para os problemas que grávidas podem ter por conta da falta do tratamento, principalmente com relação à sífilis. “A benzetacil é a substância mais indicada para tratar essa doença. Caso contrário, a gestante não é considerada tratada, segundo a Organização Mundial de Saúde. Com isso, há o risco de o bebezinho passar a ter sífilis congênita. Ele pode nascer com problemas auditivos ou até mesmo cego”, relatou. De acordo com as médicas, a expectativa é de que a situação se resolva o mais rápido possível. “A principal questão é por que está faltando penicilina. Nós temos, como disse, as alternativas, mas temos que cobrar as autoridades. Já soube, através de colegas de outros estados, que não é só a penicilina benzatina como também a cristalina está em falta”, falou Nanci. “Espero que este seja um período curto, mas imagino que, devido sua importância, o ministério já está providenciando a regularização da situação”, acredita Jacy. Contatada pela reportagem da Tribuna, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), informou, através de nota enviada pela sua assessoria de comunicação, que a já foi feito um pregão para a compra da medicação, mas a empresa vencedora, por problemas de documentação, não pode entregar o produto. Em função disso, o órgão de saúde está realizando uma compra de entrega única, que vai facilitar a chegada da medicação. Além disso, também está aguardando a análise do processo pela Procuradoria Geral do Estado para finalizar a compra anual. Já o Ministério da Saúde emitiu um comunicado informando que vem monitorando a produção e o abastecimento nacional do medicamento penicilina benzatina desde o segundo semestre de 2014, quando começou a receber várias notificações de municípios sobre atraso na entrega e problemas com licitações sem oferta. De acordo com o órgão federal, foi identificado que há escassez mundial no suprimento de matéria-prima utilizada para a produção de penicilina, que é importada. Diante do atual cenário, o Ministério da Saúde já vinha orientando, desde o ano passado, estados e municípios a preservarem a penicilina para o tratamento das gestantes. A previsão é de que, para o próximo mês, haverá disponibilidade de pouco mais de um milhão de ampolas, número que supre, segundo o órgão, a demanda nacional. APLICAÇÃO Apesar de estar em falta na rede pública, quem precisa da aplicação de benzetacil pode encontrar clínicas particulares que fazem o procedimento, mas desde que o paciente leve a receita médica juntamente com o frasco do produto, além do valor de R$ 20 que cobrado. A mesma aplicação pode ser feita até mesmo em farmácias, que cobram um valor menor para fazer a aplicação: R$ 12, levando também a receita médica e o frasco. No entanto, de acordo com a Portaria 3161, de 27 de dezembro de 2011, tal procedimento, nas farmácias, é ilegal, já que a aplicação deve ser feita, segundo a norma, em unidades de atenção básica à saúde, já que há risco do paciente ter reações adversas ao produto, entre elas, choques anafiláticos, é uma reação alérgica grave que surge poucos minutos após estar em contato com um alergênio, provocando sintomas como dificuldade para respirar, inchaço da boca e colocando em risco a vida do paciente. FORTE CHUVA Após tragédia, moradores da Vila Santinha temem novos deslizamentos MATHEUS FORTES REPÓRTER O último sábado, 27, foi um dos dias mais difíceis para a Vila Santinha – comunidade localizada na Rua Procurador Nelson Castro, no Trobogy. Com a intensidade das chuvas, o muro que separa a vila de um condomínio residencial cedeu, provocando a morte de Evani Pereira dos Santos, de 28 anos, que tornou-se 22ª vítima das chuvas que incidem na capital desde abril. Temendo novas tragédias, os moradores do local agora querem a contenção da encosta que divide o condomínio e a comunidade. De acordo com o morador Cláudio Santos Pereira – que teve parte de sua casa engolida pela terra no acontecimento do sábado – essa não foi a primeira vez que um deslizamento de terra causa transtornos à comunidade. Há três anos, outro deslizamento fez ele perder parte da residência, de forma semelhante à atual. “Eu poderia ter sido uma vítima, caso não tivesse saído minutos antes do deslizamento ocorrer”, relatou. Após a queda do muro na casa de Evani, a Defesa Civil notificou seis barracos que estão em situação de risco eminente, devendo ser evacuados o quanto antes. Cláudio, contudo, afirma que ninguém da Defesa Civil, ou da prefeitura o procurou para dar qualquer assistência. “Estou disposto a sair, desde que me orientem, e me digam para onde irei morar a partir de agora”. Ele perdeu a maioria dos bens que possuía na casa, que também foi afetada com a queda do muro. Moradores como Luiz Antônio Alves também relataram uma “invasão” do condomínio, em área que pertenceria à comunidade, com o muro recuado. Segundo ele, também houve descaso da construtora ao utilizar materiais inadequados para erguer a divisa. Ele explica agora que os demais residentes da Vila Santinha tentarão um diálogo a fim de viabilizar a contenção de pedra na encosta que divide os dois locais, como forma de amenizar os danos para a comunidade. “Estamos temendo novas tragédias já que as chuvas não estão dando trégua, e apesar de sabermos que há imóveis condenados aqui, ninguém explica para onde devemos ir, ou a quem recorrer”, afirmou Luiz, que também é presidente da associação de moradores da comunidade. Na manhã de ontem, um grupo de moradores do Condomínio Brisas também compareceu ao local para prestar apoio aos residentes da Vila Santinha. “Viemos para cá no sentido de prestar todo apoio às famílias, não como condôminos, mas sim como vizinhos, vendo o que os moradores da vila Fotos: Francisco Galvão IPITANGA Moradores ficaram ilhados no condomínio Mar & Sol DESABAMENTO Comunidade do Trobogy contabiliza os prejuízos RIO JOANES Lotes alagados no condomínio Encontro das Águas estão precisando neste momento”, explica Elaine Portela, que reside no condomínio há três anos. Durante a manhã de ontem, a Tribuna tentou fazer contato com a administração do condomínio, contudo, foi informada de que o conselho de moradores estava em reunião no momento, e não poderiam se pronunciar. contrava do lado de fora de casa. Segundos após sair de casa, o muro caiu em cima de um cômodo da casa, vitimando Evani. A Defesa Civil informou que o Condomínio Brisas foi notificado por irregularidades na construção do muro de contenção. O órgão afirmou ainda que a obra era inadequada porque foi feito de bloco cerâmico – material não Na manhã do último sábado, a balconista Evani Pereira dos Santos, morreu após um muro desabar no barraco de madeira onde ela residia com o filho Igor, de 10 anos, na Vila Santinha. Por volta das 7h, Evani e seu filho foram acordados com os latidos do cachorro de estimação. A balconista então pediu para que Igor fosse pegar o cão, que se en- indicado para esse tipo de construção. Em nota, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Sucom) afirmou que vai autuar o condomínio por falta de manutenção predial e destacou que também que “os moradores da comunidade já haviam sido notificados por agentes da Sucom para sair do local. O processo está no Ministério Público”. Condomínios ficam alagados em Lauro de Freitas As fortes chuvas dos últimos dias deixaram rastros de destruição na Região Metropolitana de Salvador. Em Ipitanga, Lauro de Freitas, os moradores do Condomínio Mar & Sol, localizado na rua Engenheiro Carlos Berenhauser, no Loteamento Marisol, ficaram ilhados. A situação, que já era crítica, piorou e a lama só não invadiu as casas, que ficam em nível mais alto, porque instalaram uma bomba e mangueira para escoar a água para um terreno vazio. O condomínio fica no final do loteamento, bem em frente à cerca da área per- tencente ao aeroporto, onde tem um minadouro que não para de lançar água na rua e, consequentemente, nas casas. Segundo Sóstenes Brito Gomes, para chegar ou sair de casa os moradores precisam passar por dentro da água, já que o portão é o único acesso ao local. Moradores de outro condomínio também sofre as conseuências da chuva, desta vez, com o aumento do nível do Rio Joanes. No Encontro das Águas, também em Lauro de Freitas, a chegou a invadir terrenos ribeirinhos e moradores tiveram que retirar mó- veis, eletrodomésticos e pertences das áreas alagadas. MAU TEMPO O domingo amanheceu com mais pancadas de chuva na capital baiana, alagando diversas localidades, gerando prejuízos e transtornos à população. Até 12h deste domingo, 28, a Defesa Civil da capital havia registrado 20 solicitações de emergência. Foram quatro alagamentos de imóvel, seis deslizamentos de terra, seis ameaças de desabamento, duas avaliações de imóvel alagado, um desabamento de imóvel e uma ameaça de queda de muro. Na região da Brasilgás, próximo à BR-324, a Secretaria Municipal de Manutenção (Seman) executaram uma obra emergencial na comunidade de São Francisco Xavier. A intervenção foi motivada pela ocasião de outra obra no local realizada pela Viabahia, que estrangulou a passagem de água pela comunidade, podendo ocasionar novas tragédias na cidade. A travessia marítima do Sistema Salvador-Mar Grande ficou suspensa neste domingo, 28, em consequência do mau tempo. As escunas de turismo também não operaram.