Resumo do Projeto: “Estudo da Interação Materno Fetal, com Ênfase nas Alterações Maternas Sistêmicas durante a Gestação” Bolsista: Erika Balassiano A gestação é um processo de alta complexidade devido à embriogênese do concepto e às adaptações maternas necessárias ao seu sucesso. Seu estudo concentra-se em situações patológicas, havendo poucos relatos sobre alterações fisiológicas. Sabe-se pouco sobre os mecanismos envolvidos na migração de células hematopoéticas fetais para o sangue materno e em que fase gestacional ocorrem. As razões pelas quais células hematopoéticas fetais são capazes de se estabelecer em órgãos maternos e constituir hematopoese eficiente por anos, inexistindo rejeição materna, não estão esclarecidas. Há possibilidade destas atuarem como “desarticuladores imunes” e terem relação com o surgimento de algumas doenças auto-imunes pós gestacionais. Nesse contexto, são importantes estudos sobre alterações maternas necessárias ao sucesso da gravidez e a interação materno-fetal, a qual é essencial e ainda pouco explorada. Nosso objetivo é estudar as alterações histopatológicas encontradas no transcurso de gestação em camundongos, especialmente em fígado, pulmão, coração, pâncreas, rim, cérebro, cerebelo, baço, timo, linfonodos e medula óssea, além de analisar a evolução dessas alterações no pósparto. Buscamos também identificar, in situ, células fetais nos tecidos maternos, associadas ou não a modificações histológicas, e avaliar o potencial da placenta enquanto órgão linfo-hematopoético. Para isso, camundongos Swiss Webster fêmeas grávidas primigestas com diferentes idades gestacionais foram sacrificadas e tiveram os órgãos mencionados colhidos, fixados e incluídos em parafina. Cortes (5µm) foram corados com diversos corantes histológicos e analisados à microscopia de campo claro. Os resultados obtidos foram: a) fígado: aumentos linfocitário e monocitário nos sinusóides, metaplasias neutrofílica e eosinofílica, plasmocitose portal e vacuolizações citoplasmáticas e nucleares hepatocitárias; b) baço: aumento da zona marginal, formação de centros germinativos, plasmocitose intensa associada ao manguito periarteriolar T, aumento de mielopoese neutrofílica e eosinofílica, megacariopoese e linfocitose em linfáticos septais; c) timo: as alterações mais significativas foram encontradas nas fases gestacionais mais avançadas e se caracterizaram por: atrofia variável da cortical, expansão do compartimento extraparenquimatoso, com acentuado alargamento dos espaços perivasculares, maciça plasmocitose na medular, formação de centros germinativos, presença de metaplasia mielóide neutrofílica e eosinofílica, aumento do número de mastócitos e macrófagos e presença de vasos linfáticos calibrosos, repletos de pequenos linfócitos; d) linfonodos: acentuado aporte de linfócitos pelas vênulas de endotélio alto e vasos linfáticos, metaplasia mielocítica e megacariocítica, aumento de mastócitos nos seios e exuberante plasmocitose cordonal; e) medula óssea: exarcebação da linhagem neutrofílica e plasmocitose; f) pulmão: mais tardiamente, identificamos áreas de atelectasia e neutrófilos e plasmócitos nas paredes alveolares; e g) mesentério: condensamento perivascular e em linfáticos com predomínio de linfócitos e áreas de mastócitos. Em conclusão, o sistema imunológico materno sofre diversas modificações no decorrer da gestação. Dentre estas, as principais caracterizam-se por atrofia tímica marcante e plasmocitogênese acentuada, sendo esta última encontrada em todos os órgãos que se mostraram alterados. Nesse sentido, torna-se extremamente intrigante e necessário o estudo fisiológico do período gestacional.