Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Leitura e Produção de Textos A AMBIGUIDADE CLASSIFICATÓRIA DA CLASSE ADVERBIAL Autor: Karla Cristina Moreira Soares Orientador: MSc. Deise Ferrarini Brasília - DF 2014 1 KARLA CRISTINA MOREIRA SOARES A AMBIGUIDADE CLASSIFICATÓRIA DA CLASSE ADVERBIAL Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Leitura e Produção de Texto da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Pós-graduada. Orientadora: MSc. Deise Ferrarini Brasília – DF 2014 2 Monografia de autoria de Karla Cristina Moreira Soares, intitulada “A AMBIGUIDADE CLASSIFICATÓRIA DA CLASSE ADVERBIAL”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Pós-Graduada em Leitura e Produção de Textos da Universidade Católica de Brasília, em 13/05/2014, defendida e aprovada pela Banca Examinadora abaixo assinada: ______________________________________________________________________ Prof. MSc. Deise Ferrarini (Orientadora) Curso de Letras – UCB ______________________________________________________________________ Prof. MSc. Vera Lúcia Cordeiro da Conceição (Membro) Curso de Letras – UCB ______________________________________________________________________ Prof. MSc. Rosângela de Nazareth Sousa Costa (Membro) Curso de Letras - UCB Brasília –DF 2014 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me incluir em uma família em que recebo total apoio em relação aos meus estudos e por me dar a oportunidade de fazer uma graduação e dar uma continuidade a ela em uma ótima Universidade com excelentes professores. Agradeço a minha família, por todo apoio, luta e sacrifícios que fizeram para eu poder realizar o meu sonho. Agradeço também, à Universidade Católica de Brasília que está me dando a oportunidade de mostrar o meu trabalho e a todos os meus professores, pois tudo o que sei aprendi com eles. 4 “As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não encontram, as criam.” (Bernard Shaw) 5 RESUMO Referência: Soares, Karla Cristina Moreira. Título: “A Ambiguidade Classificatória da Classe Adverbial”. 2014. 34 folhas. Monografia (Leitura e Produção de Textos) – Universidade Católica de Brasília, Brasília 2014. Este é um trabalho de pesquisa e de análise de dados, com a temática da ambiguidade classificatória do advérbio. Primeiramente a pesquisa se volta para uma visão da linguística em relação à noção do que é ser normativo, formalista, em que se nota que na linguística também existe essa termologia, contudo com outro conceito. Posteriormente tratar-se-á de analisar a discussão da linguística com a gramática sobre a forma como a gramática faz para classificar as palavras do léxico, além de conter uma breve história do surgimento da gramática formal. Observa-se, portanto, que alguns modelos contrários ao da gramática normativa foram apresentados para que essa classificação ocorra de forma diferente, entretanto, nenhum modelo foi aceito. Isso porque, a forma como a gramática normativa classifica ainda é a mais eficaz. Esse modelo não é isento de falhas, uma delas é a questão da ambiguidade, algumas palavras podem pertencer a mais de uma classe, o que vai depender é o contexto e a posição que ela assume na frase. Com o advérbio essa ambiguidade também vai acontecer, dependendo da frase em que ele esteve, nem sempre funcionará como advérbio, por mais que sua classificação primeira seja essa. Neste trabalho foram analisadas quatro gramáticas, sendo que uma delas é da linha sociolinguística, contudo, independente da linha teórica, nenhuma gramática explica claramente o que é um advérbio e o que se pode entender por circunstância. São poucos os gramáticos que mostram a ambiguidade classificatória em suas gramáticas, Bechara (2010), por exemplo, não desmembra em sua gramática a visão de advérbio, e isso prova que a classe advérbio é complexa e ambígua. Palavras-chave: Advérbio. Ambiguidade. Normativo. 6 ABSTRACT This is a research and data analysis , with the theme of the classification ambiguity of the adverb . First search turns to a vision of language in relation to the notion of being a normative , formalistic , in which it notes that there is also language in this thermology , yet with another concept . Later it will be treat to analyze the discussion of language with grammar on how the grammar is to sort the words in the lexicon , and contain a brief history of the emergence of formal grammar . Look is therefore contrary to some models of normative grammar were presented for that classification occurs differently , however, no model has been accepted . This is because the way the normative grammar ranks is still the most effective . This model is not without failures , one of them is the issue of ambiguity , some words may belong to more than one class , which is will depend on the context and position it takes in the sentence. With the adverb this ambiguity will also happen , depending on the sentence that he was not always function as an adverb , for what its initial classification is this . This work, four grammars were analyzed , one of which is the sociolinguistic line, however, independent of the theoretical line , no grammar clearly explained what an adverb is and what one can understand the circumstance. Few grammatical showing classificatory ambiguity in their grammar, Bechara (2010) , for example , hardly works with the vision of adverb , and it proves that the adverb class is complex and ambiguous . Keywords: Adverb. Ambiguity. Normative . 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO 1 – TEORIA LINGUÍSTICA 10 1.1 CORRENTES LINGUÍSTICAS 10 1.1.1 A LINGUÍSTICA E O FORMALISMO 11 1.2 UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A GRAMÁTICA TRADICIONAL 11 1.3 CLASSES DE PALAVRAS 13 1.4 CONCLUSÕES PRELIMINARES 16 CAPÍTULO 2 – OS CLASSIFICATÓRIOS DO PORTUGUÊS 17 2.1 A AMBIGUIDADE CLASSIFICATÓRIA 17 2.2 A CLASSE ADVERBIAL 18 2.3 CONCLUSÕES PRELIMINARES 21 CAPÍTULO 3 – O ADVÉRBIO 22 3.1 O PROBLEMA DA CLASSE ADVÉRBIO 22 3.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 24 3.3 GRAMÁTICA PEDAGÓGICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (MARCOS BAGNO, 2011) 28 3.4 CONCLUSÕES PRELIMINARES 31 CONCLUSÃO 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34 8 INTRODUÇÃO A discussão deste trabalho será em torno da classe adverbial, contudo vários outros assuntos devem ser analisados e observados para que haja um estudo válido. No primeiro capítulo, será realizado um estudo sobre a linguística e suas correntes. Algumas questões serão discutidas como “o que seria a linguística?” e “como ela se divide?”, com isso partir-se-á para um estudo sobre o formalismo, se há e qual é a relação do formalismo com a linguística e como esses dois influenciaram, principalmente, a gramática tradicional. Será relatado também, um pouco da história da gramática tradicional, como e porque se tem a gramática mais utilizada no mundo (lusófono), a tradicional. Haverá em seguida uma pesquisa sobre como a gramática trabalha as classes de palavras, o que ela traz e como ela as classifica. Dessa forma observaremos se há algum problema com essas classificações que a gramática tradicional realiza constantemente, dessa forma observaremos os estudos de Maria Tereza C. Biderman (2001), entre outros, e como é realizada essa discussão. No capítulo que se segue, falaremos sobre a classe advérbio; sendo assim, será realizada uma pesquisa profunda sobre o que a linguística traz como conceito dessa classe e principalmente o que a gramática tradicional diz sobre ela. Com isso partiremos para outra pergunta “há algum problema com essa classificação ‘advérbio’?”, essa pergunta será discutida e resolvida no terceiro e último capítulo deste trabalho. Várias gramáticas tradicionais, Cunha e Cintra (2008), Bechara (2010) e Rocha Lima (2000), e algumas da linguística, Marcos Bagno (2012), serão analisadas e observaremos como essas gramáticas trabalham a questão do advérbio, se todas seguem um mesmo padrão para explicá-los. Ainda passaremos pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), observando como ela conceitua o advérbio. Este trabalho será realizado por análise de dados, que serão retirados dos próprios livros pesquisados, para assim mostrar a veracidade da pesquisa e tornar palpável toda a discussão sobre a classe advérbio. 9 CAPÍTULO 1 ______________________________________________________________________ TEORIA LINGUÍSTICA Neste capítulo serão tratados alguns aspectos teóricos sobre a Linguística, como alguns estudiosos a veem e qual a sua relação com aquilo que é formal e principalmente com a gramática normativa. 1.1 - Correntes Linguísticas Muitos autores consideram a linguística como uma ciência, mas para esta ser considerada um estudo científico, é necessário que seus estudiosos relacionem a teoria existente na área com as observações de alguma língua para assim, se criarem métodos para sua descrição. Sendo assim a Linguística é empírica, ela se baseia inteiramente na observação e experiência. Dessa forma a Linguística pode ser vista como uma ciência descritiva e analítica. “Para tanto, examina e analisa as línguas sem preconceitos sociais, culturais e nacionalistas, normalmente ligados a uma visão leiga acerca do funcionamento das línguas.” (MANUAL DE LINGUÍSTICA, 2008) Para ela não existem línguas melhores e nem línguas piores, pois cada língua faz parte de uma cultura e elas representam isso, respeitando assim toda variação que possa existir. Pode-se, portanto, dizer que a linguística executa duas tarefas principais: o estudo das línguas particulares como um fim em si mesmo, com o propósito de produzir descrições adequadas de cada uma delas, e o estudo das línguas como um meio para obter informações sobre a natureza da linguagem de um modo geral. ( MARTELOTTA, 2008 p. 21) Nota-se que a linguística cria métodos se descrever e identificar elementos de línguas separadamente, entendendo o seu funcionamento, mas também tem o objetivo de entender o que há em comum nos elementos das línguas em geral, O objeto de estudo da linguística nada mais é do que a língua e mais tardiamente a linguagem humana, que tanto faz ser representada pela oralidade ou pela escrita. Outro objetivo é que a partir dos estudos das línguas se consiga perceber as características da faculdade da linguagem. 10 1.1.1 – A linguística e o formalismo Existem várias linhas de pensamento, na linguística contemporânea, que fazem referência ao termo formal. Há três maneiras de pensar o formal: o que é científico, aquilo que é sinônimo de autônomo, e o que remete a cálculo. Quando se pensa em formal têm-se uma oposição, formalismo, que seria a forma de ser independente da função, e funcionalismo, que seria a função fazer parte da forma. Existem teóricos que defendem que formalismo é o mesmo que gerativismo, a questão é que gerativismo é formalismo, mas nem todo formalismo pode ser considerado gerativo. Isso porque os gerativistas são defensores da sintaxe, mas outros formalistas também estudam línguas naturais. “...Chomsky propõe, ao mesmo tempo, que a linguística se submeta aos preceitos do fazer científico e que o objeto do gramático é a sintaxe (a forma).” (FIORIN, 2011, p. 220). Essa ideia de Chomsky acontece quando se pensa em formal como sinônimo de hipotético-dedutivo. Fiorin (2011) mostra que Newmeyer apresenta uma temática formalista, a Linguística tem como foco a investigação das línguas naturais. Ele mostra que ao definir formal, o modo formal da gramática é equivocado, pois nas ciências contemporâneas este termo é usado para “procedimento científico que entende que uma teoria científica deve ser passível de matematização.” Com isso todo cientista pode ser considerado formalista, isso faz com que essa seja uma visão diferente da Linguística, pois sendo assim só existiriam duas linhas, os formalistas e os funcionalistas. 1.2 – Uma breve história sobre a Gramática Tradicional Antes de entramos no assunto da gramática tradicional, devemos lembrar que os falantes nativos já conhecem a língua e isso acontece não pelo fato de combinarem os elementos dela, e da forma que quiserem, pois a língua não permite isso, existem restrições. Outra questão é que esses falantes possuem um conhecimento geral da língua e por isso fazem combinações de acordo com tais regras. O importante é saber como surgem essas combinações e restrições. 11 Há muito tempo existem estudiosos da linguagem e eles discutem sobre o funcionamento e a natureza das línguas. Muitas vezes esses estudos vingaram, em outras não, mas graças a esses estudos e ao que o conjunto dessas descrições sobre o funcionamento da língua é que se chegou ao que se conhece como “Gramática”. Existem dois sentidos para “gramática”. O primeiro é o funcionamento da própria língua, ou seja, o objeto de estudo do cientista. O segundo são estudos que descrevem a natureza dos elementos, as restrições e as combinações. Exemplos desse segundo sentido para o termo “gramática” é a gramática tradicional e a histórico-comparativa. A gramática que mais estamos habituados a usar, e que mais conhecemos é a gramática tradicional que pode ser chamada de normativa ou escolar. É com ela que se aprendem as classes gramaticais, os sufixos e afixos, a concordância verbal e nominal, entre outras do campo morfológico, semântico e sintático. Apesar de parecer que a gramática tradicional descreve tudo o que acontece na língua, ela não consegue descrever o funcionamento gramatical das línguas. Entretanto, ela é a mais utilizada principalmente nas escolas, por conta de uma tradição que foi iniciada na Grécia antiga por meio de estudos de cunho filosófico. Uma visão de Aristóteles caracteriza perfeitamente a questão da Gramática tradicional, pois revela uma forte relação entre a linguagem e a lógica. A partir de então, a gramática é considerada um estudo que trata de leis de elaboração do raciocínio. Seguindo essa lógica, a linguagem pode ser considerada como um reflexo da organização do pensamento humano, que é universal, ou seja, acontece em todas as línguas. Essa gramática grega tinha a necessidade de ditar regras, de ter uma norma, que seria considerada a forma certa de utilizar a língua, o que demonstra uma tendência normativa. Esses princípios foram aceitos e copiados pelos romanos, pois o império crescia e com isso era de suma importância a unificação linguística dos povos dominados O latim, na época medieval, foi adotado pela Igreja, o que o tornou muito mais importante. Havia dois tipos de latim, o clássico (literário) e o vulgar, falado pelo povo.. O latim que tinha mais características normativas era o literário, pois havia a necessidade de torná-lo uma língua universal de cultura. Depois do século XVI, foram criadas as primeiras gramáticas de línguas faladas no mundo, sendo assim, como o latim era uma língua de prestígio, ela foi usada 12 como modelo para a gramática das novas línguas, cujo maior exemplo são as línguas Vernáculas da Europa. Após isso, nos séculos XVII e XVIII, as ideias sobre a natureza da linguagem continuaram as mesmas das propostas gregas. Baseada na forte visão aristotélica foi criada a “gramática de Port Royal”, que só vai perder força no século XIX com o aparecimento dos primeiros linguistas, mas que será retomada após algum tempo pelos linguistas gerativistas e principalmente por Chomsky. Foi assim que se chegou ao que hoje conhecemos como gramática normativa, que por muitas vezes é criticada pela linguística por conta do seu caráter normativo. Não há como negar que existe uma influência dos padrões de correção impostos pela gramática sobre as restrições de combinação dos elementos linguísticos, que tende a crescer à medida que aumenta o nível de escolaridade do falante ou o grau de formalidade exigido pelo contexto de uso. Entretanto, propor que as restrições de combinação se explicam basicamente pelos ideais de correção não parece ser uma boa estratégia, já que todas as línguas do mundo apresentam, em número extremamente elevado, construções alternativas aos padrões gramaticais, como é o caso de construções portuguesas como ‘A gente vamos lá’, ‘Isso é pra mim fazer’, entre outras que são combatidas pelas normas gramaticais. Isso significa que o uso da língua não está regido, pelo menos em sua essência, pelos padrões de correção. (MARTELOTTA. 2008, P. 47) É totalmente normal e natural que as línguas sofram mudanças com o tempo e que assim existam variações sobre os seus elementos. Quando se valoriza uma dada variação da língua e se excluem as demais, o critério utilizado para isso é sociocultural e não linguístico. Sendo assim quem fala correto, ou se utiliza da forma correta de falar são os falantes de classes sociais privilegiadas, que deixam de lado algumas formas consideradas erradas, mas que são repetidas diariamente, pelo grosso da população, fazendo com que a gramática tenha uma visão parcial da língua, o que a torna incapaz de explicar toda a natureza da linguagem. 1.3 – Classes de Palavras Nem sempre e nem todas as línguas usavam a terminologia “Classes de Palavras” para determinar as descrições da gramática. Foi a gramática latina que rotulou essa divisão em “Parties Orationis” (partes da oração); classificação essa que teve continuidade em algumas outras culturas como nas da península Ibérica e hispanoamericanas. Já as gramáticas francesas preferiram rotular essas divisões como “parties du discours” (parte do discurso). Nas próprias gramáticas da língua portuguesa há de se 13 encontrar diferentes nomenclaturas para essa parte léxico-gramatical, por exemplo, nas Gramáticas dos autores Celso Cunha (2008) e Evanildo Bechara (2010) é possível encontrar praticamente o mesmo rótulo “Classes de Palavras”, contudo em Mattoso Câmara Jr. (1997) O nome dado é “espécies de vocábulos”. Neves (2002) mostra que o que ainda se vê atualmente nas gramáticas normativas e também na linguística, é a continuação de uma tradição Greco-latina, como já foi discutido no item anterior. Relembrando que a gramática latina se baseou nas gramáticas do grego e por isso o enfoque é nas descrições. Essas duas línguas tinham muito em comum, pois tinham a mesma família linguística, o indo-europeu. Sendo assim o latim mais antigo descrevia oito partes da oração: nomes, pronomes, verbos, advérbios, particípios, conjunções, preposições e interjeições. Duas novas classes foram incluídas nessa lista pelos gramáticos do latim medieval quando separaram os adjetivos dos substantivos na classe nominal e assim criaram a classe dos numerais. Já os gramáticos gregos mais antigos, tendo como exemplo Dionísio da Trácia, descreviam essas classes como: nome, pronome, verbo, advérbio, particípio, conjunção, preposição e artigo. A grande diferença entre os gregos e os latinos foi que os gregos classificaram também o artigo, pois este existia em sua língua, o que não aconteceu com os latinos. Mas os latinos acrescentaram também outras classes que não existiram no grego, como a das interjeições, adjetivos e numerais. Sendo assim, percebe-se que o que aconteceu com as línguas europeias ocidentais foi uma adaptação das classificações das gramáticas do grego e do latim, e um exemplo dessas línguas é o português, o francês, o inglês e o espanhol, que têm como classificação: substantivo, adjetivo, pronome, artigo, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. O particípio foi rotulado como uma subclasse da classe verbal e/ou adjetiva. Existem diversas críticas sobre este modelo classificatório. Umas dessas críticas mostradas por Biderman (2001), veio do teórico Hermann Paul, pois, para ele, a classificação deveria obedecer a alguns critérios como a significação, a função dos vocábulos na estrutura da oração e “o seu comportamento no que se refere à flexão e à formação de palavras”. Trata-se evidentemente de uma taxonomia eclética. Paul demonstrava, por exemplo, que a identificação de uma classe de pronomes e de uma classe de numerais se fundamenta na face significativa da linguagem. Também as 14 classes do substantivo e do adjetivo como têm como critério a significação. Por outro lado, classes como o pronome e o advérbio relativo, a preposição e a conjunção são individualizadas por causa da sua função na oração. O adjetivo foi isolado dentro da classe nominal, tendo em vista o seu valor funcional. Ele se opõe ainda ao substantivo em certos aspectos flexionais e derivacionais. (BIDERMAN, 2001 P. 219). Segundo Maria Tereza C. Biderman (2001), essas críticas sobre esse sistema de classificação são válidas, pois já no modelo Greco-latino existiam imprecisões e incoerências, o que fez com que as novas gramáticas ocidentais os herdassem sem questionamentos. Como as línguas europeias modernas são diferentes dos idiomas clássicos não seria possível que esse modelo insatisfatório para os gregos se tornasse adequado para essas novas línguas. A grande questão é que se critica esse modelo de classificação, mas não existe outro para substituí-lo, não se chegando a um modelo universal. Sendo assim, o melhor é seguir com a terminologia tradicional, pois não será de grande ajuda mudar os nomes de todas as classes, mas é possível reformular o enfoque da classificação categorial do léxico. “[Essa classificação] possui por isso um caráter arbitrário. Podemos facilmente apontar as suas falhas. Mas não poderemos incluir cada palavra numa classe. A tentativa de organizar um sistema rígido, de divisão lógica, é absolutamente impraticável.” (PAUL, 1880 apud BIDERMAN, 2001 p. 220) Biderman (2001) continua discutindo em seu livro que não se pode dizer que vários autores não tentaram criar modelos de classificação do léxico. Tem-se como exemplo na língua inglesa a gramática de Nesfield (2010) que descreve de forma diferente o advérbio e utiliza outra forma de rotular as classes. Sweet (2010) também propõe outra distribuição, pois separa palavras declináveis das palavras indeclináveis (partículas). Segundo Biderman (2010), um terceiro autor que vai recategorizar as classes gramaticais é Vendryès (1921). Ele divide as classes em três: nome, verbo e vocábulosmorfema. Isto faz com que os substantivos e adjetivos tenham empregos muito próximos por pertencerem à mesma classe, a dos nomes. Podendo o substantivo funcionar como adjetivo e o adjetivo como substantivo. Biderman (2010) apresenta que dessa forma tem-se outros pesquisadores como Jespersen (1928), Hjelmslev (1935), Pottier (1967), Lyons (1968) e H. Paul (1989). Contudo nenhuma teoria foi aceita como modelo universal por não serem consideradas ideais para a classificação dos elementos do léxico. 15 1.4 Conclusões preliminares Neste capítulo foi discutido sobre como é vista a linguística segundo alguns pontos de vista, qual a relação desta com o formalismo e com a gramática, fazendo dessa forma uma ligação para algumas observações em relação ao que a gramática tradicional traz sobre classes de palavras. 16 CAPÍTULO 2 ______________________________________________________________________ OS CLASSIFICATÓRIOS DO PORTUGUÊS. Faz-se neste capítulo uma discussão sobre como é o método da gramática tradicional de classificar as classes gramaticais, além de um estudo sobre o advérbio. 2.1 A Ambiguidade Classificatória. Como já foi mencionado neste trabalho, o português brasileiro herdou o modelo tradicional da gramática Greco-latina, como diversas línguas ocidentais. Da mesma forma que em alguns países, alguns autores decidiram criticar a gramática normativa de sua época. No Brasil, um exemplo é José Oiticica, pois não concordava com a parte intelectiva da linguagem e achava que a gramática tinha que tratar também da parte afetiva e da expressiva. Dessa forma ele criou o seguinte modelo de classificação: ideativas, emotivas e denotativas. Segundo Biderman (2001), dentre os linguistas brasileiros contemporâneos, encontra-se J. Mattoso Câmara Jr., 1997, para que as palavras se separam em: nomes, verbo e pronomes. Já do lado funcional tem-se: substantivos, adjetivos e advérbios, divisão muito parecida com o modelo funcional de Jespersen (1928). Biderman (2001) mostra que há um esquema proposto por Gladstone Chaves de Melo (1978) seria assim: palavras lexicográficas: nome- substantivo, qualificativo, numeral, adverbial; pronome- pessoal, demonstrativo, possessivo, indefinido, relativo; verbo; instrumentos gramaticais- determinantes: artigo, demonstrativo, possessivo, indefinido, numeral, adverbial; pronome (morfema de pessoa); conectivo (preposição, conjunção, correlativos). Ainda em meados do séc. XX, havia uma polêmica muito grande em relação a essas classificações, com isso no Brasil decidiu criar uma legislação para organizar essas questões, que ficou conhecido como Nomenclatura Gramatical Brasileira. Alguns autores participaram do anteprojeto da NGB: Antenor Nascente, Clóvis Monteiro, Cândido Jucá Filho, Celso Ferreira da Cunha e Carlos Henrique da Rocha Lima. Vários gramáticos e linguistas opinaram sobre esse anteprojeto, e o que aconteceu foi que adotaram uma postura política e não-científica. Na classificação do léxico em classes de palavras, o que ficou instituído na NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) foi: as dez classes de palavra, e o advérbio voltou a ser: de lugar, tempo, 17 negação, afirmação, dúvida, intensidade, interrogação, modo, causa e locuções adverbiais. Tendo como nota que: “a) Podem alguns advérbios estar modificando toda a oração; b) certas palavras, por não poderem se enquadrar entre os advérbios, terão classificação à parte. São palavras que denotam exclusão, inclusão, situação, designação, retificação, realce, afetividade, etc.” (BIDERMAN, p 255) Isso resultou em uma classificação não definitiva dos elementos do léxico. Pois as palavras são classificadas pelo dicionário e pelos gramáticos segundo a classe na qual é mais utilizada e com isso essa classificação realizada por ambos é incompleta. “A ambiguidade léxica tem duas feições típicas: a) polissemia de determinados significantes; b) o valor duplo de uma forma do ponto de vista sintático, ou polissemia sintática.” (BIDERMAN.2001, p. 296) O que se diz em a) é que só se conhece a classificação de uma palavra a partir do contexto em que ela está inserida. Em b) ter apenas uma classificação para cada palavra a torna sintática e semanticamente incompleta. É comum na linguagem acontecer que um determinado lexema dependendo do seu uso, tenha variadas e diferentes classes. Alguns exemplos apontados no livro Teoria Linguística (BIderman, 2001) é o uso do “mais”, que pode ser considerado um advérbio, substantivo, pronome indefinido, preposição e conjunção aditiva. O uso do “mesmo” também pode ser: adjetivo, substantivo e advérbio. Sendo assim, para que se possam classificar tais palavras, é necessário muita pesquisa e uma observação minuciosa das conotações contextuais, caindo no campo da semântica contextual. Uma observação feita por Biderman (2001) é que a identificação do significante não pode prescindir unicamente do significado, e isto é, o meio social é fator fundamental para a compreensão do texto. Quem tem a necessidade de classificar as palavras segundo a gramática é a língua, ela as distribui e as organiza. Já a fala desorganiza tudo isso fazendo com que haja uma nova recategorização. 2.2 – A classe adverbial Biderman (2001) mostra que B. Pottier (1968) diz que foram classificadas como advérbio todas as palavras que não se sabiam como classificar. De fato a classificação de advérbio foi a mais insatisfatória de toda a gramática. 18 O que acontece algumas vezes é que alguns gramáticos, para tentar solucionar o problema dos advérbios, retiram daí subconjuntos que não são bem ajustados. Outros gramáticos tentam ampliar a definição do advérbio, mantendo as subclasses já existentes. Entretanto, diferentes advérbios que vão ser derivados de preposições, isso faz com que algumas línguas não distingam essas duas classes gramaticais, como o francês arcaico. No francês contemporâneo existe essa diferenciação, mas na linguagem coloquial é comum notar algumas confusões no emprego das preposições e dos advérbios. Segundo Biderman (2001) o modelo de Jespersen, as classes gramaticais se dividem em três: 1° grau – substantivo; 2° grau – verbo e adjetivo; 3° grau – advérbio. Dessa forma uma categoria só pode sofrer modificações de uma categoria inferior. Então seria assim: o advérbio modifica o verbo que modifica o substantivo ou o advérbio modifica um adjetivo que modifica um substantivo. Jespersen adianta as duas funções principais do advérbio, faltando apenas o que a gramática costuma descrever, a de que o advérbio modifica outro advérbio, e isso realmente acontece, pois ele pode ser o determinante de outro determinante. Do ponto de vista sintático o advérbio exerce duas características. Na primeira, ele funciona como modificador do verbo, adjetivo ou outro advérbio, atuando assim como disjuntivo, na maioria das vezes. Na segunda, ele tem duas funções: a de modificador e a de conectivo de duas orações, funcionando como conjuntivo. Segundo Biderman (2001) quando se observa o advérbio do ponto de vista da morfologia percebe-se que há nele diversas características. Os advérbios mais simples admitem variações no grau e são invariáveis em todos os outros aspectos. Essas variações no grau são: comparativo – superioridade, igualdade e inferioridade; superlativo – sintético e analítico. Nesses casos o advérbio acaba funcionando como intensificador da predicação verbal, e pode ter conotações amplificadoras ou enfatizadoras. 1 Ex.1: Ela anda rápido demais. – amplifica a qualidade do processo verbal para mais O advérbio não modifica somente o adjetivo, o verbo e outro advérbio, ele pode modificar também outras classes de palavras como pronomes indefinidos, numerais, 1 Os exemplos deste trabalho foram retirados dos livros a que se referem. 19 nomes substantivos, preposições, e conjunções. Ele só não modifica artigos e interjeições. Ex.2: Ele recebeu quase o dobro do que esperava. Neste exemplo, o advérbio “quase” está modificando o numeral “dobro”, provando que os advérbios podem modificar outras classes gramaticais além das apresentadas pelas gramáticas tradicionais. Existem algumas línguas em que o uso do adjetivo e do advérbio pode acontecer com o mesmo significado. Veja esse exemplo em português: Ex.3: O dia amanhecia calmo O dia amanhecia calmamente O que diferencia o advérbio do adjetivo é a questão de o advérbio qualificar o processo verbal, já o adjetivo qualifica o agente do processo verbal, ou seja, há uma transferência de qualificação. Para o substantivo isso explica o porquê de o adjetivo poder ser pluralizado e o advérbio não. Existem alguns advérbios que funcionam como intensificadores de qualidade e que são derivados de adjetivos. Normalmente há alguns adjetivos em que é possível acrescentar o sufixo “-mente” e este logo vira um advérbio. Esse processo é chamado de adverbialização. Existem diversos estudos para explicar esse fenômeno, que não será aprofundado neste trabalho. Existem alguns principais tipos de advérbio. Começaremos pelo mais numeroso: a) Modo: Esta é considerada a classe mais numerosa por ser aberta, pois deriva de adjetivo que também é considerado uma classe aberta. Além disso, esta é uma classe que se aproxima da classe nominal. Ex.4: Os cabelos da menina eram ligeiramente dourados. Os advérbios de modo nem sempre são terminados em “–mente”. Ex.5: “Era o fim que ela não esperava que chegasse assim.” (J. Lins do Rego, Fogo Morto) b) Tempo: Esses também são muitos, mas podem indicar três coisas: a momentaneidade, a sucessão temporal do discurso e a sucessão temporal em relação à pessoa do locutor. Ex.6: “Um minuto atrás, era só limão.” (propaganda) c) Intensidade: Aqui acontece um processo de intensificação, como já foi mencionado anteriormente. 20 Ex.7: Ela fala excessivamente. d) Afirmação: Ex.8: Com certeza havia um erro naquela conta Existem outros tipos de advérbio como os de negação, dúvida, lugar, preço e etc. 2.3 – Conclusões Preliminares Foi realizada uma pesquisa sobre a classificação das classes gramaticais feita pela gramática tradicional, e o que pôde ser observado é que há muitas críticas em relação a esse método, contudo não existe outro para substituí-lo. 21 CAPÍTULO 3 ______________________________________________________________________ O ADVÉRBIO Neste capítulo será feito um estudo mais aprofundado sobre o advérbio, se há e quais são os problemas dessa classe, além de se analisar o que algumas gramáticas tradicionais falam sobre o advérbio. 3.1 O problema da classe “advérbio” O advérbio, segundo os gramáticos, é uma palavra invariável e tem caráter de modificador. Segundo a sintaxe, o advérbio é uma palavra que se relaciona diretamente com o verbo, com o adjetivo ou com outro advérbio. Segundo o critério nocional, o advérbio é a palavra que indica circunstância e modificação. Essas três classificações do advérbio não são totalmente precisas, pois conseguem abranger apenas uma pequena parte de palavras adverbiais. Essas classificações muitas vezes podem ser conflitantes para alguns gramáticos, o que os faz associar às palavras adverbiais algumas características que vão ser próprias apenas para algumas ocorrências contextualizadas. Rodolfo Ilari (1996), mostra que alguns dêiticos possuem propriedades sintáticas próprias, e assim se tornam invariáveis, com isso a gramática tradicional os tem classificado como “advérbios”. Esses dêiticos seriam os tradicionalmente chamados de “advérbios de lugar e advérbios de tempo”. Esses dêiticos admitem dois usos, quais sejam: Ex.9: Mas a cadeia de supermercados aqui é do Recife. [Recife, 1180] E argumental: Ex.10: Aqui tem brisa marinha. [Recife, 1190] Outro problema visto nessa classificação do advérbio se encontra em relação à palavra “lá”. Existem ocorrências em que não se é possível descobrir sua classificação. Ex.11: Ele tem lá seus defeitos. Outro grupo de palavras que também contradiz sua classificação de advérbio é a dos intensificadores, que são comparados a pronomes e adjetivos indefinidos. Esses advérbios compartilham a invariabilidade com os indefinidos neutros; quando há motivos igualmente fortes para encarar o verbo como transitivo ou intransitivo, uma forma invariável como muito, pouso, bastante... pode ser analisada ora como SN em função de objeto direto, ora como advérbio. (ILARI, p. 72 e 73) 22 A questão da ambiguidade nos advérbios é bem forte. Por exemplo, quando se oberva a palavra “bastante” percebe-se que ela é usada, na maioria das vezes, no singular, não apenas diante de substantivos incontáveis mas também diante de substantivos contáveis no plural. Ex. 13: Realmente deve ser uma delícia ter uma família bem grande com bastante gente. Ex 14: Uma família bem grande com bastante filhos [não atestado] Portanto, existem adjetivos considerados “invariáveis” ou “que não concordam”, que podem ser usados com verbos, adjetivos ou nomes. Por isso deve-se classificar “bastante” como advérbio ou como pronome adjetivo e, as duas contrariam intuições de se tratar da mesma palavra, ou de não se aplicarem a substantivos e não ocuparem posições argumentais. Outra ambiguidade, é o que ocorre entre preposição e advérbio. Na língua latina, via de regra, o que originou os advérbios foram as preposições, o que aconteceu também nas língua românicas. Ex. 15: Voltaremos depois das férias. (preposição) (de + post) Um minuto depois os outros chegaram. (advérbio) O que pode acontecer é que algumas preposições primitivas ou advérbios são reforçadas por outras preposições, ocasionando em novas locuções prepositivas ou adverbiais, exemplos disso são: diante de, depois de, em vez de, junto a, de fora, de dentro. As preposições que mais fazem parte dessas locuções são: a e de É diferente o valor das preposições e dos advérbios no discurso: Ex. 16: Todos se manifestaram contra esta medida. (preposição) Quando esta proposta foi feita, todo mundo se manifestou contra. (advérbio). Outra confusão se dá entre as conjunções e os advérbios. Os advérbios interrogativos “como” e “quando”, também podem ser considerados conjunções. A diferença é que as conjunções funcionam como conectivos enquanto os advérbios têm função de modo e tempo. Isso também acontece com outros advérbios como: contudo, entretanto, todavia, que podem modificar um verbo ou funcionar como conectivos de duas orações. Ex.17: Você disse que ele viria, contudo, não veio. (conjunção) Ele não veio contudo. (advérbio) 23 O que diferencia o valor dessas duas classes é que as conjunções não exercem um valor sintático interno na oração, já os advérbios exercem valor sintático como semântico na oração. Em um contexto maior, alguns advérbios podem manter uma relação de conectivo e também permanecem com seus valores de modo e tempo. Ex18: Ele é tão grande quanto seu irmão Estudamos tanto quanto podemos Agimos assim como nos ensinaram As palavras tão, quanto e assim possuem uma dupla função, pois determinam uma intensidade e anunciam outra que articula o período. Há alguns advérbios que não correspondem em nada à classificação sintática e nocional realizada pelos gramáticos. Esses advérbios são: exatamente e justamente. Ex. 19: [a informante acaba de dizer que esperava ter muitos filhos, e confirma] :...exatamente nove ou dez. Ex. 20: - [seus filhos são] filhos da tabela? - não, justamente porque a tabela não deu certo é que [os filhos] vieram ao acaso. Apesar das duas palavras terminarem em –mente, e isso ser uma característica única dos advérbios, o primeiro exemplo mostra que “exatamente” aplica-se a um numeral e, no segundo exemplo, o papel é semântico e de uma oração subordinada causal. 3.2 – Análise e discussão dos dados Alguns gramáticos passam por dificuldades ao tentar classificar palavras em advérbios, pois como já foi mencionado, o que parece é que as palavras que não têm classificação acabam entrando na classe dos advérbios. Para isso serão analisadas a definição e os exemplos de algumas gramáticas normativas do português brasileiro Para Cunha e Cintra (2008) a principal função do advérbio é de modificador do verbo, tomando como exemplo: Ex. 21: Logo depois, recomeçara a chover. (O. Lins, FP, 63.) Continuando nessa linha de pensamento, os advérbios podem agregar outras funções que também lhe são únicas. Os advérbios de intensidade podem, 24 semanticamente, reforçar o sentido de um adjetivo, de um advérbio ou modificando toda uma oração. Ex. 22: Ficara completamente imóvel. (Branquinho da Fonseca, B, 70) Ex. 23: Mas passei a noite mal! Bem mal! (J. Régio, JÁ, 102) Ex.: 24: - Eu me recuso, simplesmente. ( F. Sabino, EM, 84) Em sua gramática há uma observação que diz que a classe advérbio é heterogênea e que suas palavras têm uma natureza nominal e pronominal com diversas funções. Esse fato é que alguns linguistas modernos gostam de reexaminar o conceito de advérbio. A classificação dos advérbios acontece de acordo com a NGB. Advérbio de afirmação, de dúvida, de intensidade, de lugar, de modo, de negação e de tempo. E ainda há mais três classificações segundo a NGB: advérbio de ordem (primeiramente, ultimamente, etc); advérbio de exclusão (exceto, salvo, e); advérbio de designação (eis). Esses dois últimos podem ter pouco ou nenhum exemplo talvez por conta de serem acrescidos à classe dos advérbios pela NGB sem terem características normais dos advérbios. Dessa forma, Cunha e Cintra (2008) separam uma parte de sua gramática para “palavras denotativas” onde vão explicar esses fenômenos. A classe dos advérbios interrogativos agrupam subclasses: causa, lugar, modo e tempo. Ex. 25: Por que não vieste à festa? (causa) Ex. 26: Onde está o livro? (lugar) Ex. 27: Como vais de saudade? (modo) Ex. 28: Quando voltas aqui? (tempo) Cunha e Cintra relatam ainda a existência do advérbio relativo, o onde, que é considerado normalmente como adjunto adverbial, isso se dá por ser o “onde”, sintaticamente, adjunto adverbial de lugar e, como relativo, iniciar uma oração subordinada adjetiva, classificação que não existe na NGB. As locuções adverbiais são formadas por preposição mais um substantivo, adjetivo ou advérbio, sendo obrigatório o valor de advérbio. Ex. 29: Fernanda sorriu em silêncio. (É. Veríssimo, LS, 133) Assim como os advérbios, as locuções adverbiais podem ser: de afirmação, intensidade, lugar, modo, negação e tempo. 25 Uma explicação que a gramática normativa traz sobre a diferença entre as locuções adverbiais e as locuções prepositivas é a posição da preposição. Se a preposição vier antes do advérbio é locução adverbial, se a preposição vier depois é locução prepositiva. Ainda segundo os gramáticos normativos, a posição do advérbio também é importante para a sua própria classificação. Por exemplo, se um advérbio modifica um adjetivo ou um particípio isolado ou outro advérbio, o certo é colocá-lo antes destes. Se o advérbio modificar o verbo, o comum é colocá-lo depois dele (se for de modo). Já os de tempo e de lugar se modificarem um verbo, serão colocados antes ou depois dele. Os de negação sempre antecedem o verbo. Contudo, para os adjuntos adverbiais, a regra é uma só, virem antes do verbo. O que a gramática traz sobre os advérbios terminados em –mente é unicamente em relação a se dois advérbios vierem no mesmo enunciado e estes forem terminados em –mente, pode-se juntar o sufixo apenas ao último. Mas se o objetivo é realçar as circunstâncias, pode-se omitir a conjunção e manter o sufixo em cada um dos advérbios. Os advérbios podem variar em grau, isso é conhecido como gradação dos advérbios. Sendo assim, podem apresentar um comparativo e um superlativo, essa flexão corresponde à dos adjetivos. O grau comparativo pode ser dividido em: de superioridade: Ex. 30: O filho andava mais depressa que (ou do que) o pai. De igualdade: Ex. 31: O filho andava tão depressa como (ou quanto) o pai. De inferioridade: Ex. 32: O pai andava menos depressa do que (ou que) o filho. O grau superlativo pode ser divido em: absoluto sintético: muitíssimo e analítico: muito mal. Existem outros advérbios que podem ser usados tanto como comparativos dos adjetivos quanto dos advérbios. É o exemplo de “melhor “ e “pior”. A repetição dos advérbios acontece pelo mesmo motivo da repetição dos adjetivos, isto é, para enfatizá-lo. Ex. 33: Vê-se logo logo a intenção!... (M. da Fonseca, SV, 30.) É comum também, na linguagem coloquial, alguns advérbios se apresentarem com uma forma diminutiva, mas ainda tendo valor superlativo. 26 Ex. 34: Vem cedinho, vem logo que amanheça! (E. de Castro, UV, 59) Existem ainda alguns advérbios que não permitem a flexão em grau, isso porque o significado não admite variação de intensidade. Esses são: aqui, aí, ali, lá, hoje, amanhã, diariamente, anualmente, entre outros. Cunha e Cintra (2008) ainda discutem uma questão muito interessante, pois para eles existem certas palavras que são classificadas de forma imprópria como advérbio pela NGB, essas palavras são as que dão ideia de: Inclusão: até, inclusive, mesmo, também, etc. Exclusão: apenas, salvo, senão, só, somente, etc. Designação: eis. Realce: cá, lá, é que, só, etc. Retificação: aliás, ou antes, isto é, ou melhor, etc. Situação: afinal, agora, então, mas, etc. Para eles, essas palavras não deveriam estar incluídas na classe dos advérbios, pois não modificam o verbo, nem os adjetivos, nem outro advérbio. Por isso a classificação se torna muito difícil, sendo assim Cunha e Cintra (2008) dizem apenas que são palavras ou locuções denotadoras de exclusão, de realce, de retificação, etc. Para a NGB existem os advérbios de exclusão e inclusão, e aqueles que são denominados de situação ela os classifica como de oração. Para Bechara (2010) o advérbio é aquele que modifica um verbo, apresenta uma circunstância e que na oração desempenha função de adjunto adverbial. O que Bechara (2010) fala de diferente de Cunha e Cintra (2008) é em relação ao fato de o advérbio pode modificar um substantivo, mas somente quando o substantivo não for entendido como uma substância, mas como qualidade da substância. Ex. 34: Gonçalves Dias é verdadeiramente poeta. Alguns advérbios podem também funcionar como predicativo, da mesma forma que os adjetivos. Ex. 35: A vida é assim. Bechara (2010) classifica os advérbios e as locuções adverbiais da mesma forma: assunto, causa, companhia, concessão, condição, conformidade, dúvida, fim, instrumento, intensidade, lugar, modo, negação, referência e tempo. Existem alguns advérbios que não podem ser caracterizados pela teoria canônica, pois não estão presos a um núcleo verbal. O “sim, não, talvez, também” 27 quando funcionam como resposta de um enunciado, não são considerados advérbios, mas, sim, substitutos da oração. Ex. 36: Você vai ao cinema? – Sim. De fato nós saímos cedo. Isto, sem dúvida, está errado. Estes casos de retomada ou substituição se combinam com o fenômeno da hipertaxe, pelo qual uma unidade de camada inferior pode funcionar sozinha em camadas superiores. É o caso de advérbios em –mente quando saem da camada no nível da palavra para funcionar no nível da cláusula e daí no nível da oração ou do texto, em exemplo como: Certamente! Naturalmente! (BECHARA, 2010) Rocha Lima (2000) também descreve os advérbios como palavras que modificam o verbo e que também expressam uma circunstância. Os advérbios de intensidade podem também modificar um adjetivo ou outro advérbio, alguns acompanham somente adjetivos e advérbios como: tão, quão, que. Ex. 37: Nunca vi olhos tão lindos! O advérbio de intensidade “que” muitas vezes atua como figurante em frases exclamativas, pois a questão emotiva ofusca qualquer adjetivo: Ex. 38: Que generoso coração! Dessa forma o “que” funciona como qualificador e intensificador. Rocha Lima (2000) classifica os advérbios apenas em: dúvida, intensidade, lugar, modo e tempo. Ele trata tanto da questão das locuções adverbiais quanto dos advérbios relativos, da mesma forma que Cunha e Cintra (2008). Para ele os advérbios interrogativos podem aparecer tanto em perguntas diretas como em perguntas indiretas. São eles: onde, quando, porque, quando denotam lugar, tempo, modo e causa. Ex. 39: Onde dormirão os hóspedes? Ex. 40: Não me disseste quando se realizou o concurso. Rocha Lima (2000) mostra também que palavras que indicam afirmação, negação, exclusão, inclusão, avaliação, designação, explicação, retificação, etc, não podem ser consideradas advérbios, pois não designam nenhuma circunstância e modificam a frase por inteiro e não o verbo em particular. Já a partícula “não” incide sobre qualquer palavra que se queira marcar negativamente. 3.3 – Gramática Pedagógica do Português Brasileiro (Marcos Bagno, 2012) 28 Nesta parte do capítulo será mostrada a visão de uma gramática da linha sociolinguística sobre a mesma questão, “o advérbio”, para que haja uma comparação com a gramática tradicional que foi analisada anteriormente. Para Bagno (2012) ao se classificar um advérbio, deve-se “agir por eliminação”, isso significa que se a palavra não couber em nenhuma outra classe de palavras, essa será considerada advérbio. O advérbio é tão complexo do ponto de vista morfológico, sintático, semântico e pragmático, que se pode classificar como advérbios palavras que pertencem a outras classes gramaticais como verbo, substantivo, adjetivo, e preposição. E ainda, as locuções adverbiais têm infinitas combinações. Uma das características do advérbio é ele ser invariável, ou seja, não sofrer modificações em gênero, número e grau. A maioria das palavras dessa classe gramatical obedece a essa característica, porém alguns advérbios derivados de adjetivos permitem marcas formais. É o exemplo de “meio” e “todo”. “Meio” pode aparecer no feminino e também no plural. O uso é tão corriqueiro que não vale a pena recriminá-lo. Já o “todo” é utilizado e é menos recriminado pelos gramáticos. Nossos dois maiores dicionários de referência, o Aurélio e o Houaiss, procedem de forma exatamente oposta com relação a esses dois adjetivos/advérbios: o Aurélio traz uma boa explicação do uso do meio no feminino e no plural, mas nada diz a respeito de todo; já o Houaiss explica o emprego flexionado de todo, mas silencia completamente quanto a meio. Repito: a coerência teórica e metodológica exige que dê o mesmo tratamento a fenômenos idênticos. (MARCOS BAGNO, 2012, P. 839) Um critério meramente semântico é que quando se diz que a função do advérbio é modificar um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, não abrange todas as funções do advérbio. Por conta disso alguns linguistas modernos subdividem o advérbio em outras classes semânticas: predicadores, verificadores e dêiticos. Quando o advérbio atribui qualidades aos elementos sobre os quais incidem, é chamado de predicador. Ex.41: Ana trabalha incansavelmente. Se o advérbio enunciar uma avaliação dos elementos sobre os quais incidem, é considerado verificador. Ex.: não. Mas se o advérbio remeter a situações no tempo e no espaço, esse será considerado dêitico. 29 Ex.42: Hoje está mais quente que ontem. Dessa forma se faz necessário ainda verificar o escopo dos advérbios. Escopo deriva do grego Skópos que significa “alvo, objetivo” e que também pode ter o sentido de “ver”. No caso dos advérbios, esse escopo seria o elemento sobre o qual eles incidem, assim pode-se separar os advérbios em dois, os de constituinte (escopo é o verbo, adjetivo ou outro advérbio) e os de sentença (escopo é a sentença inteira). Ex. 43: Seria muito importante para o Brasil que o Nordeste crescesse. (NURC/REC/005) – Ex. 44: normalmente é difícil você fazer um experimento de laboratório. (NURC/REC/355) No exemplo 43, tem-se um advérbio de constituinte, pois o seu escopo é um adjetivo. Já no exemplo 44, tem-se um advérbio de sentença, pois seu escopo é toda a sentença. Entre esses dois tipos de advérbio há uma diferença sintática, sua colocação. Enquanto o advérbio de constituinte gira em torno do seu escopo, podendo ficar antes ou depois dele, o advérbio de sentença pode aparecer em qualquer lugar da oração. Segundo Bagno (2012), a origem dos advérbios derivados em –mente foi por conta de um processo de gramaticalização. O significado no latim de “mens”, “mentis” é faculdade intelectual, raciocínio ou espírito; dessa forma, dizer que alguém agiu forte -mente é o mesmo que dizer de mente forte. No latim o substantivo mens, mentis era feminino, sendo assim o adjetivo obrigatoriamente concordava com ele, e é por isso que quando se forma qualquer advérbio terminado em –mente, derivado de um adjetivo, este vem na forma feminina. Dizer que todos os advérbios que tiverem essa terminação funcionam como advérbios de modo é um equívoco, como questionam alguns linguistas. Ex. 45: Felizmente parou de chover. Não há a possibilidade de trocar “felizmente” por “de modo”. “De modo parou de chover”. Esses advérbios aparecem com muita frequência na fala, acabando por exercer uma função discursivo-pragmática, pois são utilizados justamente para organizar o discurso. Outros advérbios também são utilizados com a função de discursivização, esses são: então (naquele tempo), que funciona como um preenchimento de pausa; assim (desse modo), tem função dêitica, quando aponta para algo; anafórica, quando retoma 30 algo mencionado anteriormente, ou catafórica, quando anuncia algo que vai ser dito; tipo, ainda está em processo de gramaticalização, podendo ser descriminado por alguns linguistas; aí (designa lugar, tempo, lugar no texto), apenas alguns linguistas admitem o aí com o uso dêitico e anafórico. Algumas palavras que são classificadas como advérbio, por alguns linguistas, são consideradas conjunção. Assim, na classe dos advérbios, são conhecidos como juntivos, é aquele que tem valor anafórico e que aparece em uma oração ou sintagma e que faz referência a uma parte ou a toda oração ou sintagma anterior. Os advérbios juntivos podem ser de contraste (contudo, todavia, porém, entretanto no entanto) e conclusão (portanto, então, por conseguinte, logo). Esses advérbios também passaram por um processo de gramaticalização, com tudo, toda via, entre tanto, no entanto, o porém é um pouco diferente, pois foi derivado do latim “proinde”, que no grego arcaico era “por ende”, assim o “porende” perdeu a sílaba final e virou “porém”. O primeiro sentido, quando se escrevia “proinde” e “por ende” era, igualmente, por isso, etc.; depois de modificações semânticas o “por isso” começou a significar “apesar disso”, ou seja, quase que o contrário. Existe ainda outra classe dos advérbios, esta é conhecida como proadvérbios. O que isso significa é que alguns advérbios exercem função anafórica, ou seja, retomam o que foi dito anteriormente. O proadvérbio mais usado é o assim, mas ele pode funcionar também como dêitico, mostrando algo e se referindo a qualidades desse algo. Ex. 46: Quero meu vestido exatamente assim. (Aponta para outro vestido) 3.4 Conclusões Preliminares Neste capítulo foi realizado um estudo sobre os problemas da classe adverbial, e foi encontrado, então, um problema de ambiguidade, justamente por essa questão classificatória que a gramática tradicional faz. Foram também pesquisados e observados algumas gramáticas tradicionais e como elas analisam e conceituam essa classe de palavra. 31 CONCLUSÃO Este trabalho foi realizado por meio de análise de dados, sendo observado, portanto, que a Linguística muitas vezes não está de acordo com a gramática tradicional. O primeiro capítulo foi mais teórico, explicando quais são as correntes da linguística e o que seria o formalismo que há na linguística e que influência de forma direta a gramática tradicional. Posteriormente houve um estudo sobre a história da gramática tradicional, e vimos que a tradição normativa começou quando surgiram as primeiras gramáticas gregas. Elas eram fundamentadas no campo filosófico, e passaram a existir regras e normas para se utilizar a língua. Em seguida, veio o latim com a sua divisão entre o clássico e o vulgar, e as gramáticas que explicavam as regras do latim como língua de prestígio que era, tinham um caráter normativo. Como diversas línguas do mundo ocidental derivaram de uma dessas duas línguas, a grego e a latina, herdaram também o caráter formal de suas gramáticas, e é justamente desse caráter formal que a linguística muitas vezes discorda. Logo após, há um estudo sobre as classes de palavras e vimos que essa é outra herança das gramáticas greco-latinas. Muitos linguistas não concordam com essa forma de se classificar o léxico e alguns estudiosos tentaram desenvolver técnicas para substituir esse método de classificação utilizado pela gramática tradicional, mas nenhum foi amplamente aceito por esbarrar em problemas estruturais, semânticos e pragmáticos que norteiam as línguas. O que se discute em relação ao problema dessa classificação, é que ela pode trazer ambiguidade. Tudo isso, quanto ao uso dos advérbios foi reforçado quando, no Brasil, criou-se a NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira); que seria responsável por classificar e conceituar o léxico do português brasileiro; contudo, ficou uma classificação muito simplória, pois não abrange a questão de uma palavra poder mudar sua classe gramatical dependendo do contexto em que ela se encontra. Essa ambiguidade vai acontecer também com a classe gramatical “advérbio”, já que alguns advérbios podem ser confundidos com pronomes e adjetivos, entre outras classes, justamente por não haver uma definição clara sobre o que é essa classe gramatical e, principalmente, o que pode ser considerado uma circunstância. Quando foi realizada a análise de dados, pôde-se perceber que os gramáticos também sentem dificuldade ao dizer o que seria um advérbio, uma vez que alguns 32 exemplos também podem apresentar ambiguidade classificatória, ou seja, tendo mais de uma classe gramática. Essa ambiguidade também pode ser semântica, tornando-se palavras polissêmicas, mas são poucos os gramáticos normativos que admitem isso. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo, SP: Parábola Editorial, 2012. 1053 p. BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2010. xi, 707 p. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Teoria lingüística: (teoria lexical e lingüística computacional). 2. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2001. 356 p. CUNHA, Celso Ferreira da; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro, RJ: Lexikon Editora Digital, 2008. xxv, 762 p. FIORIN, José Luiz (Coord.). Introdução à linguística. 5. ed. São Paulo, SP: Contexto, 2012. 2 v. ILARI, Rodolfo (Org.). Gramática do português falado. 3. ed Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1996. 447 p. MARTELOTTA, Mário Eduardo (Coord.). Manual de lingüística. São Paulo, SP: Contexto, 2008. 254 p. NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: UNESP, 2002. 282 p. PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática: ensaios sobre a linguagem. 3. ed. São Paulo: Ática, 2000. 102 p. ROCHA LIMA,. Gramática normativa da língua portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 2000. 553 p. 34