ATLAS AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Secretaria do Verde e do Meio Ambiente – SVMA/PMSP Secretaria de Planejamento – SEMPLA/PMSP FASE I: “Diagnósticos e Bases para a Definição de Políticas Públicas para as Áreas Verdes no Município de São Paulo”. Unidades Climáticas Urbanas da Cidade de São Paulo (1a aproximação) Prof. Dr. José Roberto Tarifa Geógrafo Gustavo Armani [email protected] Laboratório de Climatologia Departamento de Geografia / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFCLH Universidade de São Paulo – USP - Primavera de 2000 - Sumário Lista de Quadros.........................................................................................................ii Lista das Fotografias..................................................................................................iii Resumo........................................................................................................................iv 1. Introdução..............................................................................................................1 2. Metodologia............................................................................................................8 3. O Sítio Urbano........................................................................................................9 4. Do Regional aos Climas Locais..........................................................................12 5. As Unidades Climáticas Naturais.......................................................................17 6. As Unidades Climáticas Urbanas.......................................................................27 6.1. A Unidade Climática Urbana Central (I)..................................................31 6.1.1. O Núcleo da Unidade Central (IA)......................................................31 6.1.2. As Unidades Climáticas da Expansão do Núcleo da Metrópole.....39 6.2. As Unidades Climáticas Urbanas da Periferia (II)..................................51 6.3. A Unidade Climática do Urbano Fragmentado (III)................................63 6.4. A Unidade Climática não Urbana (IV)......................................................64 7. Considerações Finais..........................................................................................64 8. Bibliografia...........................................................................................................65 ANEXOS Mapa 01 – As Unidades Climáticas Naturais.........................................................68 Mapa 02 – Uso do Solo Predominante por Quadra Fiscal....................................69 Mapa 03 – Distribuição Espacial das Áreas Verdes na Cidade de São Paulo....70 Mapa 04 – Distribuição Espacial da Temperatura do Solo – 03/09/1999.............71 Mapa 05 – Distribuição Espacial da Temperatura do - 30/04/2000.....................72 Mapa 06 – Distribuição Espacial das Favelas no Município de São Paulo.........73 Mapa 07 – As Unidades Climáticas Urbanas.........................................................74 i Lista de Quadros Quadro 1 – Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP)........................15 Quadro 2 – Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (Congonhas)............17 ii Lista das Fotografias Foto 1 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA1h / IA2f / IE2............27 Foto 2 – Unidade Climática Urbana IB2a..............................................................29 Foto 3 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................32 Foto 4 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA2d / IA2f.....................33 Foto 5 – Unidade Climática Urbana IA1a..............................................................35 Foto 6 – Unidade Climática Urbana IA2a..............................................................37 Foto 7 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IA5 / IA1f / IC2...............39 Foto 8 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IB1 / IF1.........................40 Foto 9 – Tentativa da Vista da Serra da Cantareira (poluição)...........................41 Foto 10 – Unidade Climática Urbana IC1..............................................................43 Foto 11 – Unidade Climática Urbana IC1 (Favela Heliópolis).............................44 Foto 12 – Unidade Climática Urbana IF2..............................................................47 Foto 13 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IF3 / IF1.......................47 Foto 14 – Unidade Climática Urbana IF1..............................................................48 Foto 15 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................51 Foto 16 – Unidade Climática Urbana IIA6.............................................................54 Foto 17 – Unidade Climática Urbana IIA4.............................................................55 Foto 18 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................56 Foto 19 – Transição das Unidades Climáticas Urbanas IIA5 / IIA6....................58 Foto 20 – Unidade Climática Urbana IIA5.............................................................58 Foto 21 – Unidade Climática Urbana IIB4.............................................................60 Foto 22 – Unidade Climática Urbana IIE3.............................................................61 Foto 23 – Unidade Climática Urbana IIE5.............................................................63 iii Resumo A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na metrópole de São Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à compreensão do fenômeno. O primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar a realidade urbana como uma totalidade. Os múltiplos e diversos aspectos, propriedades, graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine globalmente todo o conjunto de suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no cotidiano desta sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e objetivos a serem alcançados são: a) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. O primeiro deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da Metrópole, incluindo portanto, todo o conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê ou da RMSP; b) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as diferenças estariam associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às diferenças constatadas na concentração dos poluentes atmosféricos decorrentes dos meso e topoclimas naturais e urbanos; c) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde interessa sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, como externo a elas, na rua, na praça ou no trabalho, em termos de alterações qualitativas nas propriedades dos estados atmosféricos. A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de aproximadamente 16 2 milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km . No entanto, a distribuição nesse território de 2 8.051km é bastante desigual. De fato, a maior concentração está no município de São Paulo, que abriga 2 9,8 milhões (61% do total) numa área de 1.051 km . Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo André e São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, São Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto interno bruto dessa metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB metropolitano é quase a metade do PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda brasileira. Existe ainda, dentro desse território, aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veículos particulares (21% do total nacional). Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 milhões de transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas ruas, praças e avenidas da Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo (onde vivemos e respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. Isto eqüivale a que cada um dos 16 milhões de habitantes da Grande São Paulo está sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos nocivos à saúde. Hoje, os veículos automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande São Paulo, produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, segundo os dados da CETESB iv (1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de Enxofre e 4% de particulados. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. Heliópolis, a maior favela da Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de favelas e cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 35,3 milhões de megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma aparente riqueza, a Grande São Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores desempregados. A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, assoreamento, desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, esgoto industrial e domiciliar lançados nos rios) tem aumentado o problema das enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com aproximadamente 600 pontos. Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das realidades climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos trabalhos são pontuais (nível regional ou local) e não respondem pela necessidade do conhecimento em termos do espaço e do tempo (cronológico). As escalas de tratamento, no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, e baseadas em concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à vida ou ao desempenho do organismo urbano. A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento existente sobre o clima da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Além deste material cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante de Santana (1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções do vento para o Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta estação estar localizada numa posição central em relação à mancha urbana da cidade, bem como pelo fato das leituras de vento serem realizadas 24 horas por dia, e não apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a distribuição anual da pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e no seu entorno. Com base neste material e combinando observações topo e mesoclimáticas de campo com análises integradas com o relevo (forma, orientação, declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em mapeamento quadra a quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura (SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia do uso do solo foram transformados e simplificados visando entender suas relações com a distribuição do campo térmico e na poluição do ar (MAPA 02). Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas Urbanas foi a presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso do solo os Parques e Reservas estejam mapeados, as manchas menores e a arborização de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). v Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos espaços microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7, referente às cenas dos dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para análise e compreensão dos espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) (MAPAS 04 e 05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para um realce das áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das áreas verticalizadas. Essas imagens foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências da USP, e pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e Luís Roberto de Campos Jacintho. Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base cartográfica do uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As imagens que mostraram maior correlação com a representação espacial dos fenômenos climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal (MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores encontrados devem ser considerados como uma aproximação genérica da distribuição térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da temperatura do ar. Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação das Unidades Climáticas Urbanas. Tratase da distribuição das favelas no Município de São Paulo (MAPA 06). A análise de sua densidade e relação com o uso do solo, as áreas verdes e o campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centroperiferia do Sistema Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. o o A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23 21’ e longitude de 46 44’, junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional. Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, recorreu-se à 1 normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do Mirante de Santana (latitude o o 23 30’, longitude 46 37’ e altitude 792 m) cujos dados encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se percebe a existência nítida de dois períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro a março (grosso modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro (OutonoInverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os atributos climatológicos constantes do Quadro 01. O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 850 metros predominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto apresenta as mais variadas feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros e serras e maciços com as mais variadas orientações. A poucos quilômetros de distância (45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse quadro físico define um conjunto de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos sistemas atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de diferentes vi tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento de todo este trabalho é aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos (tipos de tempo) sobre um determinado lugar” (SORRE, 1934). A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann (1883) é o dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto que para Hann o que definia o clima de um lugar era o estado médio da atmosfera (fenômeno estático e abstrato), o movimento e o encadeamento de tipos de tempo vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e mesoclimas (unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, com suas diferentes formas e orientações. Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram subdivididos em meso ou topoclimas em função das diferentes características topográficas de cada clima local (MAPA 01). O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do Planalto Atlântico (Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São Paulo, onde a urbanização se instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e patamares; e (IC) as várzeas e baixos terraços. O segundo clima local do Município de São Paulo foi definido como Clima Tropical Úmido Serrano da Cantareira – Jaraguá (II). Este clima foi subdividido em dois mesoclimas: (IIA1) os maciços e serras da face meridional da Cantareira e Jaraguá, onde está inserido o Parque da Cantareira, e (IIA2) os maciços e serras da face setentrional da Cantareira e Jaraguá, ocupando os topos voltados para a Bacia do Juquerí. A face Norte (setentrional) da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá, nas vertentes que drenam para o Rio Juquerí (NW do Município), nas altitudes entre 720 a 800 metros foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Úmido de Altitude do Alto Juquerí (III). Este clima local foi subdividido em dois mesoclimas, sendo (IIIA) referente aos morros e espigões do Alto Juquerí – Tietê e (IIIB) aos terraços e as várzeas do Vale do Juquerí. Ao Sul da represa de Guarapiranga foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Sub-oceâncio Superúmido do Reverso do Planalto Altântico (IV), cuja principal característica é a maior proximidade com o oceano em relação aos outros três climas locais já analisados (I, II, III). Este clima local (IV) foi subdividido em dois mesoclimas: (IVA) os morros e espigões elevados do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu, e (IVB) morros e nascentes do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu. Este segundo mesoclima (IVB) foi subdividido em dois topoclimas, (IVB1), referente aos próprios morros e nascentes, e o (IVB2), referente ao espelho d’água da represa Billings. O último clima local definido para o Município de São Paulo foi denominado Clima Tropical Oceânico Super-úmido da fachada Oriental do Planalto Atlântico (V), sendo que ele foi subdividida em três mesoclimas a saber: (VA) serras e altos espigões da Fachada Oriental do Planalto Atlântico, (VB) morros, serras e escarpas do Alto Capivari-Monos, e (VC) escarpa oriental do Planalto Atlântico (Serra do Mar). Este 1 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. vii clima local, bem como seus mesoclimas, tem sua característica fundamental definida pela máxima influência oceânica. A cidade e o município de São Paulo foi estruturado em quatro macro-unidades climáticas urbanas. Estas unidades podem ser consideradas como “homogêneas” para cada dimensão das relações entre os controles climáticos urbanos (uso do solo, fluxo de veículos, densidade populacional, densidade das edificações, orientação e altura das edificações, áreas verdes, represas, parques e emissão de poluentes) e os atributos (temperatura da superfície, do ar, umidade, insolação, radiação solar, qualidade do ar, pluviosidade, ventilação). Portanto, existe uma série de níveis e dimensões destas unidades hierarquizadas numa “rede” de relações que se definem no espaço (comprimento, altura, largura) e no tempo (sazonal, mensal, diário e horário). A Unidade Climática Urbana Central (I) tem uma identidade estruturada em um núcleo, representado pela letra A no Mapa 06, e seis Unidades Marginais ou periféricas ao núcleo, representadas pelas letras B, C, D, E, F, G (Mapa 06). De forma geral, o núcleo (A) abrange o centro histórico, a verticalização densa e contínua que se estende para a Zona Sul, passando pela Liberdade, Vila Mariana, até as proximidades com o Parque do Estado. Este sentido da verticalização corresponde aproximadamente à área de influência da linha Sul do Metrô. A transição deste núcleo parece ocorrer entre o Brooklin e a verticalização da Av. Luís Carlos Berrini. Para Norte, Leste e Oeste-Sudoeste a envoltória deste núcleo seriam as marginais, as várzeas e os terraços baixos urbanizados do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Incluise neste núcleo o sistema de colinas e o espigão central, ocupado pelos principais corredores de trânsito, interligando os bairros verdes e os centros do poder econômico, industrial, comercial e de serviços da metrópole, concentrados nos canyons urbanos da Paulista e Faria Lima. O principal controle climático da unidade IA se expressa pela alta densidade de edificações, pessoas, veículos e atividades. A forma urbana mais evidente são os “arranha-céus”, a verticalização. Mas qual seria hoje o conteúdo mais importante para o clima ou os climas deste núcleo? Sem dúvida, um dos mais graves é a poluição do ar. Os maiores corredores de tráfego da região metropolitana circundam esta unidade. A somatória do fluxo diário das marginais (Tietê, Pinheiros) com o da Av. dos Bandeirantes e da Av. do Estado (Vale do Tamanduateí) contribuem diariamente para a passagem de mais de 1.200.000 veículos – calhas de tráfego pesado. Além deste volume enorme de emissões, todo o anel interno é composto de vias de trânsito com elevado volume e lentidão (velocidade) variável ao longo do dia e da noite. Resulta desta forma, fontes múltiplas e permanentemente móveis de elevada emissão de poluentes atmosféricos, cujos danos à saúde já foram discutidos anteriormente. Além deste fato, o “núcleo central” recebe das unidades periféricas (IB a G e da Unidade II) o transporte de gases e material particulado emitido por fontes industriais e pela circulação dos veículos. A urbanização dos vales do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros se deu em tempos diferenciados. A observação cuidadosa das várzeas e terraços destes rios guarda segredos, cria diferenças microclimáticas, mas hoje eles se assemelham climatologicamente como grandes bacias produtoras de toneladas de poluentes. Os volumes de tráfego pesado fluem dia e noite e deixam nestes vales as maiores concentrações de poluentes de origem industrial e de veículos da metrópole. Entretanto, não apenas produzem, mas recebem diariamente grande fluxo de poluentes oriundos do ABCD (no caso principalmente viii o Tamanduateí). O vale do Pinheiros também recebe grande parte dos fluxos produzidos em Santo Amaro (de origem industrial e veicular) quando os ventos são de Sul-Sudeste, ou de Barueri-Osasco, sob regimes de ventos de noroeste (Unidade IB). A ligação da Vergueiro com a Anchieta (antigo Caminho do Mar) passando por parte do Jabaquara, Saúde, Ipiranga até os limites com o Parque do Estado e São Caetano do Sul se constituem na Unidade Climática IC1. A principal característica deste espaço urbano é o predomínio do residencial baixo (aqui considerado como casas ou edificações de 1 a 2 andares de classe média ou média baixa geralmente com cobertura de telhas de cerâmica de cor avermelhada). Dentro deste espaço surgem “núcleos” ou novos centros de comércio e verticalização, cuja representação cartográfica não foi possível. Existem também, dentro deste padrão residencial baixo ou intermediário, um número significativo de edifícios ou prédios (de 3 ou mais pavimentos). Quando a extensão em área já alcança dimensões consideráveis foi possível criar sub-unidades. A travessia do Rio Pinheiros a caminho da Zona Oeste (Raposo Tavares e Br116) entre altitudes que vão de 720m (Raia Olímpica da USP) à aproximadamente 800 metros, uma unidade climática privilegiada pelo verde. Principalmente aquele “verde” dos Bairros Cidade Jardim e Morumbi. As evidências são nítidas e claramente definidas se tratar de uma expansão dos bairros nobres e verdes (Unidade Climática ID1), onde a enorme área verde com densa arborização cria microclimas perfeitos para a reprodução da vida, tanto à nível biológico como social. Entre a verticalização atual da Av. Luís Carlos Berrini até o contato (transição) para a zona industrial (Unidade IB4 já analisada) existe um “núcleo” adensado, quase um novo “clima urbano” independente do Bairro de Santo Amaro. Não estivesse ele dentro da metrópole sua identidade e relações seriam mais simples; no entanto, ele ainda mantém o caráter de uma temporalidade diferenciada e seu arranjo de formas e conteúdo ainda mostra esta evolução. Possui um núcleo bem definido, comercial - residencial baixo (Unidade IE3) ao lado do industrial ou via de circulação (Marginal). Logo se passa mais ao longe, protegido pelo verde para a Chácara Santo Antônio, bairro verde residencial (Unidade IE3). No bairro verde a temperatura da superfície oscila entre 27 e 29ºC (setembro) ou de 27 a 30ºC (abril). A forte verticalização existente na Av. Luís Carlos Berrini, bem como uma extensa área de forma circular ao Sul da Chácara Santo Antônio define a Unidade topoclimática IE2. A expansão urbana para o além Tamanduateí produziu bairros (Mooca, Tatuapé, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Penha, Vila Matilde) com altíssima densidade de pessoas e porcentagem muito pequena de áreas verdes. A aridez reflete temperaturas altas nas superfícies edificadas (30 a 33ºC). A forma urbana mostra uma homogeneidade considerável, tanto no forte aquecimento, na ausência do verde e na poluição atmosférica elevada, caracterizando um espaço urbano muito homogêneo nas transformações climáticas pelas práticas espaciais e sócio-econômicas. Assim, todo este território entre rios, cuja identidade já desapareceu, a metrópole determina novas leis, onde a produção e reprodução do espaço das pessoas e do clima é determinado pelo econômico, pelo valor de mercado e não de uso do território. Por isto, praticamente inexistem hoje parques, jardins, áreas verdes, campos de futebol, onde as mínimas ix necessidades fisiológicas ou vitais do corpo e da cultura possam ser alcançados. Todo este conjunto foi identificado como uma unidade mesoclimática urbana, denominada IF. A Zona Norte ou Além Tietê se constitui climatologicamente em uma extensa faixa urbana com orientação Leste-Oeste. Alinhada estruturalmente pelo vale do Tietê, recebe permanentemente influências dos maciços serranos da Cantareira e do Jaraguá. Este extenso divisor de águas das bacias do Tietê – Juquerí (900 a 1.000 metros), e seu bloco de terras elevadas melhora a dispersão dos poluentes e altera os fluxos atmosféricos nos transportes verticais e horizontais na proximidade do solo (camada limite planetária). A ocupação urbana, historicamente muito antiga (núcleos de Santana, Taipas, Pirituba) era pontual e acompanhava caminhos, vias, estradas de ferro (ingleses da ligação Santos - Jundiaí) e mais recentemente tem muita influência do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, Fernão Dias e da própria linha Norte do metrô paulistano. Assim, esta franja entre o Tietê e a Cantareira-Jaraguá hoje é um grande universo urbano, que certamente já criou inúmeros núcleos e sub-núcleos de diversos “climas urbanos”. Os próprios nomes de alguns dos principais bairros da Zona Norte, tais como São Domingos, Jaraguá-Pirituba, Freguesia do Ó, Limão, Casa Verde, Santana, Vila Guilherme, Vila Maria, Tucuruvi, Jacanã, Tremembé, identifica lugares ontem (passado recente até a década de 1940-1960) associados às várzeas ou serras, hoje se identificam os nomes das pontes ou com a qualidade do ar dos bairros mais elevados, onde já se vende um clima com qualidade melhor. Existe aí também uma relativa homogeneidade de ser uma área com tendência à um predomínio de casas residenciais de até 2 pavimentos (residencial baixo ou intermediário) intercalados por áreas com centros comerciais e de verticalização muito intensa. Este conjunto (Unidade IG) foi estruturada em 6 sub-unidades, de acordo com as variações do uso do solo, em combinação com a distribuição do campo térmico identificada pelo satélite. O processo de favelização, com amontoamento de casebres e seres humanos, quase sem as mínimas condições ambientais para a reprodução da vida foi o principal critério adotado para a delimitação destas unidades. A observação da realidade através do sobrevôo feito de helicóptero no dia 22-08-2000 deixou claro a importância de como são os microclimas dos “casebres” da periferia urbana da metrópole. Ora parecem desertos, unidades climáticas extremas, ora rios de lama, sujeira e inundações, ora calor insuportável, ora frio demais, poluição, asma, bronquite, pneumonia de milhões de seres humanos, trabalhadores, operários deste país. São estes os “climas urbanos”, ou seja, o calor extremo, evidente nas imagens de satélite, são substituídos por áreas termicamente mais “amenas” dos altos declives dos morros, ou pelo sombreamento dos fundos de vale. Mudam-se os lugares, mas os “riscos” climáticos contra a vida são os mesmos nos morros mais elevados. As temperaturas e o aquecimento e as amplitudes térmicas são menores, mas os impactos pluviais são mais elevados e mais intensos, aliados às altas declividades, bem como à fragilidade da estrutura superficial (solo-rocha-relevo e tipo de ocupação) da paisagem, os riscos se tornam permanentes de perdas de vida. As favelas e cortiços das várzeas e fundos de vale vão receber sazonal e rotineiramente, como se fizesse parte do cotidiano determinado pelo econômico, a inundação das casas e a proliferação de doenças daí advindas. Torna-se necessário compreender que mesmo as oscilações climáticas de pequena variabilidade (uma chuva habitual, uma onda de calor seguida por um tipo de tempo um pouco mais frio, etc.) são capazes de provocar danos à saúde ou às necessidades mínimas dos x desempenhos do corpo e da mente para o trabalhar, estudar ou viver. O clima, assim encarado, mostra suas “faces sociais” perversas, mas muito reais para mais de 2.500.000 de favelados desta cidade, ou mais de 600.000 encortiçados desta metrópole tão rica na sua produção de riqueza econômica e monetária, e tão pobre ou miserável na sua dignidade humana e social. Portanto, os fenômenos climáticos devem ser redimensionados pelas práticas sociais e espaciais existentes em cada unidade climática, pois elas são representações da realidade urbana. Os efeitos e os danos provocados pelo clima (variabilidade, poluição, extremos, etc.) devem ser reavaliados em função de como cada classe social, ou cada segmento de uma classe (crianças, idosos, desnutridos) os recebem. A “causa mortis” muitas vezes é do sistema circulatório ou do coração, mas o agravamento vem de uma totalidade, onde certamente a poluição do ar, o calor extremo, a falta de ventilação ou insolação, as enchentes, ou a ansiedade provocada por estes fatores são controles tão ou mais importantes que a “causa mortis” em si mesma. Mesmo assim, nas últimas décadas, os estudos de saúde pública indicam a morte por problemas relacionados com doenças respiratórias como a segunda causa. A discriminação fica tão evidente que mesmo a rede de monitoramento da CETESB deixa este fato bem claro; só existe uma estação em funcionamento nesta macro-unidade Climática Periférica (Unidade II), ou seja, em São Miguel Paulista, e mesmo assim, sua localização específica não é representativa da área dominada pela favelização. As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. xi 1. Introdução A análise do clima de uma cidade com as dimensões do fato urbano existentes na metrópole de São Paulo exige a adoção de princípios, métodos e técnicas adequados à compreensão do fenômeno. O primeiro deles, e talvez o mais importante, seja considerar a realidade urbana como uma totalidade. Os múltiplos e diversos aspectos, propriedades, graus de intensidade do fenômeno metropolitano redefine globalmente todo o conjunto de suas partes constituintes. Desta forma, o clima ou os climas urbanos da metrópole não podem ser tratados como processos puramente físicos, mas em todas as suas interações com os fatos associados à produção do espaço através das práticas sociais vigentes no cotidiano desta sociedade urbana. Associado a este princípio, os procedimentos e objetivos a serem alcançados são: d) delimitar e analisar as unidades climáticas urbanas em três níveis de análise. O primeiro deles seria aquele que engloba toda a mancha urbana contínua da Metrópole, incluindo portanto, todo o conjunto de climas locais da Bacia do Alto Tietê ou da RMSP; e) O segundo nível seria aqueles das unidades topoclimáticas, onde as diferenças estariam associadas aos padrões de uso do solo vigente, bem como às diferenças constatadas na concentração dos poluentes atmosféricos decorrentes dos meso e topoclimas naturais e urbanos; f) O terceiro nível seria aquele do habitar, do viver e do trabalhar, onde interessa sobremaneira os ambientes microclimáticos, tanto interno das edificações, como externo a elas, na rua, na praça ou no trabalho, em termos de alterações qualitativas nas propriedades dos estados atmosféricos. A Região Metropolitana da Cidade de São Paulo, tem uma população de aproximadamente 16 milhões de habitantes em uma área urbanizada de 1.747 km2. No entanto, a distribuição nesse território de 8.051km2 é bastante desigual. De fato, a maior concentração está no município de São Paulo, que abriga 9,8 milhões (61% do total) numa área de 1.051 km2. Além disto os municípios de Guarulhos, Osaco, Santo André e São Bernardo do Campo têm, cada um, mais de 500 mil habitantes. Com estes números, São Paulo continua sendo o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. O produto interno bruto dessa metrópole (Grande São Paulo) é de 64,5 bilhões de dólares. Este PIB 1 metropolitano é quase a metade do PIB estadual e representa cerca de 1/6 da renda brasileira. Existe ainda, dentro desse território, aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veículos particulares (21% do total nacional). Na Grande São Paulo são realizadas 30,5 milhões de viagens por dia, sendo 12 milhões de transporte coletivo, 8,1 milhões no modo individual e 10,4 milhões a pé. Nas ruas, praças e avenidas da Capital circulam 2,5 a 3,0 milhões de veículos por dia. As indústrias e veículos são responsáveis pelo lançamento no ar próximo do solo (onde vivemos e respiramos), diariamente, por perto de 6.000 toneladas de poluentes. Isto eqüivale a que cada um dos 16 milhões de habitantes da Grande São Paulo está sujeito a respirar, por dia, 350 gramas de elementos nocivos à saúde. Hoje, os veículos automotores são os principais causadores da poluição do ar na Grande São Paulo, produzindo 90% da poluição atmosférica, enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 10%. Os principais poluentes lançados sobre a atmosfera da metrópole são, segundo os dados da CETESB (1999): 68% de monóxido de Carbono, 11% de Óxidos de Enxofre e 4% de particulados. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abriga 4,4 milhões de domicílios, sendo que possui 1.080 favelas. Heliópolis, a maior favela da Capital, abriga 35 mil habitantes em 8 mil barracos. Somando-se moradores de favelas e cortiços, estima-se um total aproximado de 3,5 a 4,0 milhões de pessoas. O consumo de energia elétrica na Região Metropolitana encontra-se na marca de 35,3 milhões de megawatts/hora (17% do total nacional). Apesar destes números de uma aparente riqueza, a Grande São Paulo convive com a expressiva taxa de 14% de desemprego, equivalente a 1,1 milhão de trabalhadores desempregados. A extensa área de ocupação urbana, associada a vários outros agravantes (lixo, assoreamento, desmatamento nas áreas de cabaceiras de nascentes, canalização, esgoto industrial e domiciliar lançados nos rios) tem aumentado o problema das enchentes e inundações, contando atualmente (1999) com aproximadamente 600 pontos. Apesar de toda esta importância demonstrada, a RMSP se constitui em uma das realidades climáticas urbanas menos conhecida e estudada no Brasil. A maioria dos trabalhos são pontuais (nível regional ou local) e não respondem pela necessidade do conhecimento em termos do espaço e do tempo (cronológico). As escalas de tratamento, no geral, são muito amplas, em torno de 1:1.000.00 a 1:2.500.000, e baseadas em 2 concepções médias, que não mostram as variabilidades reais dos fenômenos, ligados à vida ou ao desempenho do organismo urbano. O Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo – USP vem trabalhando desde a década de 1970 através de teses (iniciação à pesquisa, mestrado e doutorado) e projetos financiados pelo CNPq, ou em colaboração com órgãos e entidades estaduais (EMPLASA) e municipais (SEMPLA, SVMA), no sentido de contribuir para o conhecimento desta realidade. Em 1975 foi proposto um programa de Climatologia Experimental na RMSP que vislumbrava a necessidade de realizar trabalhos de campo e mapeamentos (uso do solo, balanço de radiação solar, chuva, temperatura e poluição do ar) em três universos, ou níveis de organização hierárquica do espaço urbano: 1- Nível Regional Metropolitano ou Bacia do Alto Tietê; 2- Nível Local, composto pelo espaço continuamente urbanizado da Grande São Paulo; 3- Nível Microclimático, composto pelo espaço urbanizado na cidade de São Paulo. Imaginava-se até mesmo um veículo, uma pick-up, com um conjunto de equipamentos meteorológicos para o trabalho de campo (TARIFA, 1976). Infelizmente, uma série de dificuldades burocráticas e de financiamento não permitiram o desenvolvimento integral deste programa de pesquisa (CLIMEX-SP). No entanto, alguns resultados foram sendo construídos, conforme passa-se a relatar. Usando dados de Radiação Solar Global (Qg), insolação (n), temperatura do ar, umidade e nebulosidade do Parque do Estado (Estação Meteorológica do IAG-USP) para o ano de 1974, MORAES, COSTA & TARIFA (1977) calcularam o balanço de energia na cidade de São Paulo. As estimativas diárias da Radiação Líguida (net radiation) foram associadas aos tipos de tempo. Neste estudo já ficou evidente a importância do processo de urbanização-industrialização na modificação do balanço de radiação solar. Na elaboração do Plano Diretor do Município de São Paulo (versão para debate, fev. de 1985) elaborou-se (TARIFA, 1984) os primeiros mapeamentos dos elementos climáticos (temperatura e chuva) naturais e urbanos (isotermas da metrópole, ilhas de calor, poluição e qualidade do ar). A preocupação fundamental para a elaboração de um dignóstico da qualidade do ar para o Município foi integrar os insumos naturais do clima 3 com aqueles produzidos pelo processo de urbanização-industrialização (TARIFA, 1984). A observação do cartograma referente à distribuição da temperatura na cidade com base na imagem do dia 16/07/1981 (17:47 GTM) (LOMBARDO, CÂMARA, MONTEIRO & TARIFA, 1982) “checada” com trabalho de campo e ampliada cartograficamente já revelava que: • A isoterma de 28 a 30ºC abrange boa parte da área central da metrópole (indústrias, bairros áridos e Zona Leste); • A faixa abrangida pelas isotermas de 27 a 28ºC engloba praticamente quase toda a mancha continuamente urbanizada; o anel externo em relação a essa mancha urbana (menor densidade de ocupação), bem como alguns bairros verdes (por exemplo os Jardins) e outros serranos (Cantareira), ficam entre 26 a 27ºC; as áreas com temperaturas menores que 26ºC apresentam pequena interferência da estrutura urbana da cidade (TARIFA, 1984). Naquele mesmo estudo, foi feito um diagnóstico da qualidade do ar, mostrando a enorme gravidade do problema e apontando algumas sugestões sobre filtros, catalizadores, mudança no uso do diesel nas indústrias, mudanças nos transportes urbanos, etc. Naquele momento, o mapeamento usando dados de SO2 e Material Particulado para o ano de 1982 mostrava que os maiores valores de poluição do ar estavam acompanhando os vales do Tamanduateí e Tietê. No entanto, já havia clareza de que nos dados horários o CO, o SO2 e o Material Particulado já estavam fora do padrão primário e com nítida tendência de elevação, ou seja, na década de 1970 já haviam sido detectados vários episódios gravíssimos com doenças para a população em geral, o início dos anos 80 também não revelou nenhuma perspectiva de melhora. Em trabalho apresentado no 3º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (TARIFA & MELLO, 1984) fizemos uma síntese sobre os principais problemas do Clima Urbano da Cidade de São Paulo, cuja íntegra passamos a transcrever: “Um dos mais graves eventos climáticos extremos que periodicamente atinge a área metropolitana de São Paulo são as inundações. De acordo com um levantamento feito por PASCHOAL de 1961 a 1970 ocorreram 13 casos de inundações urbanas. No entanto, esse número cresceu para 52, entre os anos de 1971 a 1978. Além desse acréscimo, nos anos sessenta, os casos de enchentes ficaram restritos aos meses de primavera-verão, quando as chuvas eram mais 4 intensas. A partir de 1971, episódios moderados de chuva, no outono e mesmo no inverno passaram a provocar inundações. Assim sendo, mesmo que o organismo urbano dê origem a uma ilha de calor com 5 a 8ºC de temperatura na área central mais elevada que as da redondeza e que parece ser capaz de intensificar as pancadas de chuva; as enchentes devem ser classificados como eventos extremos do tipo diretamente provocados pela irracionalidade da organização humana no espaço geográfico. Desde meados da década de 60, que a deterioração da qualidade do ar na área metropolitana de São Paulo, alcançou índices mensais e anuais superiores àqueles recomendados pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, os estudos pioneiros só começam a surgir com o agravamento da poluição do ar no final da década de 60 e início de 70. Um dos primeiros estudos foi o de RIBEIRO, realizado para a região do ABC Paulista. Trabalhando com menores de 12 anos ele encontrou correlações significativamente positivas entre as taxas médias anuais de sulfatação e a freqüência anual de infecções das vias aéreas superiores. Nessa mesma linha de pesquisa ALTERTHUM & WANDALSEN & AGOSTINHO constataram aumento de casos de asma brônquica em crianças de Santo André. O constante aumento dos valores de material particulado e SO2 provocaram vários episódios agudos nos invernos de 1975/76. Um desses episódios mereceu um estudo especial sobre o efeito da poluição do ar na morbidade diária em São Caetano do Sul, em junho de 1976. Esse estudo constatou um aumento da morbidade da ordem de 65% por doenças respiratórias e de 187% por doenças cardiovasculares. Alguns estudos mais recentes desenvolvidos pela Divisão de Toxicologia da CETESB têm demonstrado os efeitos de vários poluentes de alta toxidade sobre os residentes da cidade de São Paulo. Dentre esses estudos destacam-se diferenças significativas de COHb entre os que vivem e trabalham em São Paulo e do grupo de controle. Foram também realizadas determinações de fluoretos na urina e da presença de chumbo no sangue. Esses resultados são corroborados pelo estudo de ORSINI & BOUERES, que em média 80% da massa dos elementos S, Zn, Br e Pb concentram-se no particulado fino e, portanto, são preferencialmente retidos pelos pulmões, podendo provocar sérios danos à população de São Paulo.” Durante o período de 1989 a 1992 foi realizado um novo Diagnóstico da Qualidade do Ar e do Clima Urbano do Município de São Paulo (TARIFA, 1991). Parte deste trabalho foi publicado sob a forma de Atlas ”Diagnóstico Cartográfico Ambiental” editado pela Prefeitura de São Paulo em 1992. O estudo completo “Qualidade do ar no Município de São Paulo” (TARIFA, 1991) envolveu a elaboração de 11 (onze) cartogramas na 5 escala 1:50.000, onde se procurou trabalhar com a variação média da poluição do ar (período de janeiro de 1982 a dezembro de 1989), mas incluiu também a análise das variações horárias de SO2, Material Particulado (inalável), Ozônio, Material Carbonáceo e a poluição por veículos. A preocupação em se operar com dados reais, já que é este o ar que respiramos e não as médias ou padrões, foi feito um cálculo da freqüência em hora e em porcentagem do tempo (dia, mês, ano) que os padrões são ultrapassados. Pode-se, assim, obter uma análise mais realista sobre a relação qualidade do ar e o “tempo real” a que somos submetidos aos diferentes níveis de concentrações. Com base nos resultados e na síntese de Unidades da Qualidade do Ar para o Município de São Paulo, apontamos alguns problemas críticos e algumas recomendações para melhorar a qualidade do ar (TARIFA, 1991), cujo teor passamos a transcrever: “Nos últimos anos (1985-1991) ocorreu um expansão das áreas críticas com relação ao problema da poluição do ar, este fato se deve ao aumento das fontes móveis de poluição do ar. Por outro lado, a metrópole em seu processo de rápida expansão para a periferia tem aumentado substancialmente os níveis de material particulado no ar. Além do que, não tem preservado áreas verdes (principalmente na periferia) e nem conseguiu controlar ou evitar fontes emissoras de poeira e particulado em geral. Apesar da diminuição dos índices de SO2, a situação nos parece hoje mais crítica do que há 10 anos atrás, uma vez que a combinação dos efeitos de diferentes tipos de poluentes (particulado, ozona, monóxido de carbono e SO2 em certas horas do dia) se traduziria em uma interação crítica e de efeitos extremamente danosos à saúde da população. Além do que, resta lembrar que desde 1985 o Brasil tem passado por sucessivas ‘crises’ econômicas com recessões de maior ou menor grau que tem estagnado ou feito crescer à níveis inferiores ao esperado o crescimento econômico industrial, e que logicamente o parque industrial da área metropolitana de São Paulo não tem operado em plena capacidade instalada. Assim sendo, é de se esperar que passado este período de recessão atual (1990/1991) as emissões industriais e a poluição por veículos se tornem ainda mais graves nos próximos anos. Do ponto de vista da legislação atual, que segue as recomendações da EPA (USA), percebe-se que os valores são estabelecidos em valores médios de 24 horas. Esta média é questionável do ponto de vista do tempo da exposição das pessoas a níveis baixos e médios de poluição do ar, mas por longos períodos de 6 tempo. O ideal seria o estabelecimento de padrões primários e secundários para o nível horário, tais como já existe para o monóxido de carbono e ozônio (O3). Considerando o município como um todo, este poderia ter uma significativa melhoria da qualidade do ar se: • Estabelecesse um programa de arborização que visasse um aumento significativo de áreas verdes e arborização nas ruas, praças e quintais das residências. Principalmente na Zona Leste, e em trechos de periferia onde o principal poluente é o material particulado, a vegetação traria uma melhora importante na qualidade do ar. Além de poder contribuir para melhorar outros problemas críticos como enchentes, deslizamentos e também melhorar esteticamente a cidade; • Utilizasse diesel de melhor qualidade, com menor teor de enxofre; • Utilizasse outras fontes de energia para movimentar os ônibus urbanos: energia elétrica, gás metano, etc.; • Maior controle dos veículos da frota da CMTC e das Cias particulares; • Aumentasse a velocidade do fluxo de veículos nos principais corredores e vias, especialmente naquelas destinadas aos coletivos urbanos, e às áreas críticas de passagem de veículos de longe (marginais, saídas para rodovias, etc.); • Diminuísse as emissões por veículos à gasolina, principalmente em certas áreas centrais da cidade, onde as concentrações de monóxido de carbono já são extremamente críticas. Uma das soluões, talvez, pudesse ser impedir ou dificultar o acesso de veículos do modo individual em certas áreas da cidade; • Autorizasse novas instalações industriais, em unidades ou compartimentos, cuja localização não implicasse em transporte pelo vento (dos poluentes) para as áreas já críticas de qualidade do ar. Desta forma, deveriase priorizar novas instalações industriais na vertente Noroeste (além Jaragá), ou na Zona Oeste-Sudoeste em relação ao município; • Executasse maior fiscalização no programa de instalação de equipamentos antipoluentes pelas montadoras nacionais (fabricantes de veículos); • Aumentasse substancialmente a rede de monitoramento de CO, O3, NOx e HCC, estendendo pelo menos o controle destes poluentes para toda a rede telemétrica da CETESB.” 7 Portanto, o objetivo principal deste novo estudo de clima urbano é o de atualizar o conhecimento e utilizar todo o desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de observação da cidade através dos sensores remotos, feitas em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) e com a Secretaria de Planejamento (SEMPLA) da Prefeitura do Município de São Paulo. 2. Metodologia A abordagem em pregada procurou utilizar todo o acervo de conhecimento existente sobre o clima da cidade de São Paulo no Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Além deste material cartográfico, foram utilizados os dados da Normal Climatológica do Mirante de Santana (1961-1990) (INMET, 1991) para a caracterização do Clima Local da Bacia Paulistana. A análise da circulação dos ventos foi realizada usando dados de freqüências e direções do vento para o Aeroporto de Congonhas (período de 1987 a 1993), em função desta estação estar localizada numa posição central em relação à mancha urbana da cidade, bem como pelo fato das leituras de vento serem realizadas 24 horas por dia, e não apenas 3 leituras como no Mirante de Santana. Este material se constitui num conjunto de mapas na escala 1:50.000, sobre a distribuição anual da pluviosidade e máximos em 24 horas no Município de São Paulo e no seu entorno. Com base neste material e combinando observações topo e mesoclimáticas de campo com análises integradas com o relevo (forma, orientação, declividade) e a drenagem, a distância do oceano foi possível construir a carta de Unidades Climáticas Naturais do Município de São Paulo (MAPA 01). O estudo específico do uso do solo (na escala 1:50.000) foi baseado em mapeamento quadra a quadra elaborado pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura (SEMPLA, 1999). Os padrões e a tipologia do uso do solo foram transformados e simplificados visando entender suas relações com a distribuição do campo térmico e na poluição do ar (MAPA 02). Um dos elementos mais importantes na delimitação das Unidades Climáticas Urbanas foi a presença ou não de áreas verdes, muito embora no próprio mapa de uso do solo os Parques e Reservas estejam mapeados, as manchas menores e a arborização 8 de quintais e ruas não aparecem. Neste caso foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7 (MAPA 03). Por outro lado, considerando as dificuldades inerentes à complexidade dos espaços microclimáticos urbanos foi necessário recorrer às imagens do Satélite LANDSAT 7, referente às cenas dos dias 03-09-1999 e de 30-04-2000 (aproximadamente às 10:00 horas da manhã). As imagens utilizadas para análise e compreensão dos espaços topo e microclimáticos urbanos foram o canal termal (banda 6) (MAPAS 04 e 05), uma composição das bandas 3, 4, e 5 para um destaque no porte da vegetação e contraste com as áreas urbanizadas, uma outra composição com as bandas 3, 4 e 2 para um realce das áreas verdes, e o canal 8 (pancromático) para melhor visualização das áreas verticalizadas. Essas imagens foram tratadas e processadas pelo Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida, do Instituto de Geociências da USP, e pelos técnicos da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) Flavio Laurenza Fatigati e Luís Roberto de Campos Jacintho. Após o tratamento digital, as imagens foram impressas na mesma escala da base cartográfica do uso do solo e das Unidades Climáticas Naturais do Clima (1:50.000). As imagens que mostraram maior correlação com a representação espacial dos fenômenos climáticos foi a banda 6, ou seja, do termal (MAPAS 04 e 05), entretanto, os valores encontrados devem ser considerados como uma aproximação genérica da distribuição térmica referente à emissividade da superfície do solo, e não propriamente da temperatura do ar. Um outro mapeamento foi fundamental para a delimitação das Unidades Climáticas Urbanas. Trata-se da distribuição das favelas no Município de São Paulo (MAPA 06). A análise de sua densidade e relação com o uso do solo, as áreas verdes e o campo térmico permitiu entender melhor a relação núcleo-centro-periferia do Sistema Clima Urbano (SCU) da metrópole paulista. 3. O Sítio Urbano O sítio urbano da cidade de São Paulo está inserido no Planalto Atlântico do Sudeste do Brasil, a uma distância média de 45 km do Oceano Atlântico, abrangendo os 9 compartimentos geomorfológicos da Serra da Cantareira, Bacia Sedimentar de São Paulo e Reverso do Planalto Atlântico (Mares de Morros). A Serra da Cantareira ocupa a porção Norte do Município de São Paulo. A orientação geral desta serra é Leste-Oeste. O principal divisor de águas da Serra da Cantareira coincide com o limite de Município entre São Paulo e Mairiporã, sendo que as vertentes voltadas para Sul/Sudeste estão no lado Paulistano. As altitudes neste compartimento são atingem 1200 metros. Uma área interessante de se ressaltar é onde estão os bairros de Perus e Anhanguera (NNO do Município de São Paulo), pois pertencem à vertente da Serra da Cantareira voltada para o continente (Norte). É uma área que drena para a bacia do Rio Juqueri e compreendem faixas altimétricas que vão desde 740 a mais de 800 metros. Uma outra área que se individualiza na Serra da Cantareira é o vale do Córrego Cabuçu, orientado no sentido Leste-Oeste (paralelo à orientação da Serra neste trecho) e depois segue em direção Norte-Sul rumo ao vale do Rio Tietê, já na Bacia Sedimentar de São Paulo. No trecho Leste-Oeste deste Rio o vale é bem encaixado. A bacia do Ribeirão Engordador apresenta também um vale bem encaixado com orientação SW-NE (paralelo à orientação da Serra neste trecho). Os outros vales da Serra da Cantareira em geral tem sua orientação principal de Norte para Sul, drenando para o Rio Tietê. No compartimento da Bacia Sedimentar de São Paulo, o principal rio é o Tietê, com seu vale orientado no sentido Leste-Oeste e a uma altitude de aproximadamente 720 metros e com uma ampla planície de inundação. Ele recebe as águas dos rios que nascem na vertente Sul da Serra da Cantareira (Cabuçu de Baixo e Cabuçu de Cima) e daqueles que nascem no reverso do Planalto Atlântico (Pinheiros, Tamanduateí, Aricanduva). Os Rios Pinheiros (na Zona Oeste do Município) e Tamanduateí (Na Zona Central e Leste do Município) são os principais afluentes do Rio Tietê. Ambos possuem vales largos, com uma ampla planície de inundação e orientados no sentido Sudeste-Noroeste, coincidentes com a direção predominante dos ventos em São Paulo. Através da reversão do curso do Rio Pinheiros é que se possibilitou a construção dos Reservatórios de Guarapiranga e Billings, situados ao Sul da Cidade de São Paulo, sendo que o 10 Guarapiranga é utilizado para o abastecimento de água de alguns bairros do Município e o Billings para a Geração de energia elétrica na Usina Henry Borden em Cubatão. O vale do Rio Aricanduva (na Zona Leste) também é um importante tributário do Rio Tietê. Ele apresenta a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí (SENW), entretanto, sua planície de inundação não é tão ampla quanto à dos outros dois; as cabeceiras do Aricanduva fazem divisa com o município de Mauá e o seu vale nesta área é bem encaixado. Mais a Leste do Município, e também afluentes do Rio Tietê, estão os Córregos Jacu e Itaquera, que são de menores dimensões que os anteriores, mas também importantes. As cabeceiras destes dois córregos são próximas das do Aricanduva e com vales bastante encaixados neste trecho. Próximos ao Rio Tietê eles apresentam uma planície de inundação considerável e a orientação deste dois vales é Norte-Sul. Os principais afluentes do Rio Pinheiros estão na margem esquerda dele, sendo os Ribeirões Jaguaré e Pirajussara. Suas orientações são SW-NE e são rios de menores proporções que os citados anteriormente. Já o principal afluente do Rio Tamanduateí é o Ribeirão Ipiranga, sendo que sua orientação geral é Norte-Sul e sua planície de inundação é relativamente pequena, muito embora hoje ela esteja totalmente canalizada. Um importante componente do sítio urbano de São Paulo é o divisor de águas entre o Rio Pinheiros e o Tamanduateí, denominado pelo Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber por Espigão Central. A altitude aí é superior a 800 metros e a orientação deste divisor, do Jabaquara até a Vila Mariana, é Norte-Sul e, da Vila Mariana até a Lapa, é SudesteNoroeste, a mesma orientação dos Rios Pinheiros e Tamanduateí. Uma característica importante deste divisor é que a vertente voltada para o Rio Tamanduateí tem uma declividade menor que a vertente voltada para o rio Pinheiros (mais abrupta no lado Oeste), que acaba cedendo lugar à várzea e terraços do Rio Pinheiros. As áreas a Oeste do Rio Pinheiros são predominantemente marcadas por colinas e em alguns trechos por platôs acima de 800 metros, por exemplo, onde se localiza o Bairro do Morumbi. A área a Leste do Tamanduateí, onde estão os Bairros da Mooca, Brás, Belenzinho e Tatuapé são predominantemente marcadas por terraços planos a sub-planos e por colinas amplas, e ,em direção às margens do Aricanduva, começam a aparecer os Platôs 11 acima de 800 metros, onde estão os Bairros de Sapopemba, São Mateus, Itaquera e Guaianazes (este mais próximo do Córrego Itaquera). Ao Sul da Represa de Guarapiranga encontram-se uma área de mares de morros do Reverso do Planalto Atlântico com drenagem de padrão dendrítico. Grande parte desses morros ultrapassam as cotas de 800 metros, sendo que aí se encontram os divisores de águas das bacias que drenam para a Guarapiranga e para a Billings. Ao Sul da Represa Billings estão as nascentes do Rio Capivari-Monos, que drena para o Litoral. Seu vale é encaixado na escarpada Serra do Mar, bem no limite Sul do Município. A configuração desses três grandes compartimentos, a Serra da Cantareira a Norte do Município e com altitudes superiores até 1200 metros, a Bacia sedimentar de São Paulo na área central com maior densidade urbana e com altitudes predominantes entre 720 a 780 metros, e o Reverso da Serra do Mar ao Sul, com altitudes normalmente superiores a 800 metros, criam uma condição de tipologia de sítio urbano convergente do ponto de vista físico (geométrico). Essas condições naturais, principalmente na Bacia Sedimentar de São Paulo, mais os fatos históricos e econômicos propiciaram o crescimento urbano da cidade de São Paulo, que atualmente atingiu dimensões metropolitanas, estando conurbada com vários outros municípios aos seu redor, como por exemplo com o ABC a Sudeste; Osasco, Carapicuíba e Barueri a Oeste; Poá e Ferraz de Vasconcelos a Leste. 4. Do Regional aos Climas Locais A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23o21’ e longitude de 46o 44’, junto ao trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional. MONTEIRO (1973) justifica a existência desta faixa de transição da seguinte forma: “Ao sul desta faixa temos a ver com um clima regional em latitude subtropical, permanentemente úmido pela atividade frontal. Mesmo nos anos de atuação mais reduzida do ar polar, a sua participação não é inferior a 40%, podendo elevar-se a 75% nos anos de maior atividade. Ao norte define-se com maior ou menor intensidade a existência de um período seco, coincidente com o Outono-Inverno, embora isto se apague no litoral. A menor penetração 12 do ar polar no setor setentrional reduz a quantidade de chuvas frontais de sul para norte, conduz o mais das vezes ao bom tempo”. Portanto uma das principais características climáticas desta transição zonal é a alternância das estações (quente - úmida e a outra fria e relativamente mais seca) ao lado das variações bruscas do ritmo e da sucessão dos tipos de tempo. Pode-se ter situações meteorológicas (estados atmosféricos) de intensos aquecimentos bem como de intensos resfriamentos em segmentos temporais de curta duração (dias a semanas).” Esta alternância explica, regionalmente, tanto a ocorrência de fortes impactos pluviométricos, como a existência, em determinados anos, de longas seqüências de períodos secos. Principalmente nos anos de máxima oscilação sul (El Niño) – como 1976/77, 82/83, 91/92 e 94 – quando então, a bacia do Alto Tietê (RMSP) passa por impactos pluviométricos muito fortes, tanto na primavera-verão, como por um acréscimo substancial, principalmente no outono. Esta proximidade com o subtrópico, com forte resfriamento de Outono-Inverno e acompanhada por situações meteorológicas mais secas e estáveis, deve-se, principalmente, à freqüência elevada de sistemas anticiclônicos polares, bem como, pelo avanço sobre o continente da alta subtropical. Estando, também, a superfície do solo e do Atlântico Sul, com temperaturas mais baixas, ocorre uma freqüência substancialmente maior de estados atmosféricos estáveis, implicando condições piores para a dispersão horizontal e vertical dos poluentes atmosféricos. Para a caracterização sazonal do clima local da área recorreu-se a um enquadramento regional na escala de 1:200.000, onde se pode delimitar as Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo2. Nota-se, nesta escala, que a área metropolitana encontra-se entre as Unidades Climáticas VII (tropical de altitude do Vale do Tietê e afluentes) e VI (tropical de altitude das serras e morros do além Tietê e Juqueri). O principal fator ou controle climático que diferencia estas unidades é o relevo. Assim sendo, a altitude, a forma e a orientação do relevo redefinem, dentro deste conjunto regional, “climas locais”, com mudanças nos valores térmicos e pluviométricos. 2 TARIFA, J.R. “Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo”, Laboratório de Climatologia. Depto. de Geografia USP, 1993. 13 Para efetuar a descrição das variações médias mensais dos atributos climáticos, recorreu-se à normal climatológica do período 1961-1990, da Estação Meteorológica do Mirante de Santana3 (latitude 23o 30’, longitude 46o 37’ e altitude 792 m) cujos dados encontram-se sintetizados no Quadro 01. Nele se percebe a existência nítida de dois períodos ou estações bem definidas, uma quente e chuvosa de outubro a março (grosso modo primavera-verão) e outra fria e relativamente mais seca, de abril a setembro (Outono-Inverno). Este fato fica evidenciado no comportamento de quase todos os atributos climatológicos constantes do Quadro 01. A pressão atmosférica, cuja média anual é de 926,0 Mb, oscila no Outono-Inverno entre 926,2 (abril) e 929,4 (julho), e na primavera-verão, entre 923,2 Mb (dezembro) e 925,4 (outubro). O comportamento térmico mostra variação sazonal muito semelhante, com o período de maio a outubro, registrando os menores valores médios da temperatura, com uma variação entre 15,8oC (julho, mês mais frio) a 19,0oC (outubro). Na estação quente, os valores oscilam entre 22,4oC (fevereiro, mês mais quente) e 20,3oC (novembro), ficando abril com 19,7oC (transição para o inverno) conforme dados constantes do Quadro 01. A média anual das temperaturas máximas foi de 24,9oC, com o mês mais frio (julho) registrando 21,8oC e o mês mais quente (fevereiro) 28,0oC. A máxima absoluta (para a normal 1961-1990) foi de 35,3oC registrada no dia 15 de novembro de 1985. A média anual das temperaturas mínimas foi de 15,5oC, registrando-se no mês mais frio (julho), um valor médio de 11,7oC, enquanto no mês mais quente (fevereiro), tem-se uma média de 18,8oC. A mínima absoluta ocorreu no dia 1o de junho de 1979, atingindo 1,2oC. 3 Trata-se da estação meteorológica representativa do Clima Local da Cidade de São Paulo. 14 Quadro 1 Normais Climatológicas – Mirante de Santana (SP) Lat. 23º30’, Long. 46º37’, Alt. 792 metros. Meses pres atm 1987 (mb) md max md min max abs max abs data min abs min abs md data comp umd relativa nebo (C10) prec tot max prec (mm) max data evap total insol jan 923,5 27,3 18,7 34,2 19/88 11,9 01/62 22,1 80 8,1 238,7 103,5 19/77 99,9 4,8hs fev 924,2 28,0 18,8 34,7 03/84 12,4 01/62 22,4 79 7,5 217,4 121,8 02/83 86,9 5,2hs mar 924,9 27,2 18,2 33,5 15/86 12,1 30/61 21,7 80 7,7 159,8 90,8 09/72 88,4 4,7hs abr 926,2 25,1 16,3 31,4 06/90 6,8 25/71 19,7 80 7,4 75,8 57,9 20/68 80,7 4,7hs mai 927,4 23,0 13,8 29,7 08/84 2,2 31/79 17,6 79 6,6 73,6 71,8 16/68 79,8 4,6hs jun 928,7 21,8 12,4 28,6 29/72 1,2 01/79 16,5 78 6,2 55,7 74,0 15/87 78,2 4,8hs jul 929,4 21,8 11,7 29,3 15/87 1,5 18/75 15,8 77 6,1 44,1 70,8 03/76 91,1 5,3hs ago 928,3 23,3 12,8 33,0 31/63 3,4 27/84 17,1 74 6,2 38,9 42,3 08/82 104,8 5,2hs set 927,2 23,9 13,9 35,2 20/61 3,5 04/64 17,8 77 7,2 80,5 62,6 20/84 100,0 4,0hs out 925,4 24,8 15,3 34,5 12/63 7,0 31/74 19,0 79 7,7 123,6 63,7 07/69 99,9 4,5hs nov 923,8 25,9 16,6 35,3 15/85 7,0 01/74 20,3 78 7,7 145,8 82,8 15/79 101,4 4,8hs dez 923,2 26,3 17,7 33,5 01/61 10,3 24/63 21,1 80 8,2 200,9 151,8 21/88 96,9 4,2hs ano 926,0 24,9 15,5 35,3 15/11/85 1,2 01/06/79 19,3 78 7,2 1454,8 151,8 21/12/88 1108,0 4,7hs Fonte: INMET. Org.: José Roberto Tarifa Gustavo Armani Laboratório de Climatologia – USP Primavera, 2000. A umidade do ar se mantém relativamente elevada (na média) durante o ano todo, variando entre um mínimo de 74%, em agosto, e um máximo de 80%, nos meses de janeiro, março, abril e novembro. A cobertura do céu (nebulosidade em décimos) varia de um mínimo de 6,1/10, no mês de julho, a um máximo de 8,2/10, em dezembro. O número de horas de insolação é relativamente baixo, apresentando uma variação entre 4,2 horas de brilho solar, em dezembro, e 5,3 horas, em julho. A evaporação (capacidade evaporativa do ar medida em evaporímetro de Piché) varia entre um total médio de 104,8 mm, em agosto, e um total de 78,2 mm, em julho. A pluviosidade média anual (para o período 1961-1990) foi de 1454,8 mm, sendo o mês mais chuvoso (janeiro), com 238,7 mm, e o mês mais seco (agosto), com apenas 38,9 mm. O máximo pluviométrico, em 24 horas (para o posto meteorológico do Mirante 15 de Santana), ocorreu no dia 21 de dezembro de 1988, tendo sido registrado um valor de 151,8 mm. A circulação regional dos ventos A estação meteorológica do Aeroporto de Congonhas registra uma média anual de calmarias de 33,7%. A primeira predominância anual é a direção sudeste com 19,6%, a segunda é o vetor Sul, com 16%, e a terceira é a direção Leste, com 8,8%. As calmarias oscilam entre 24,4% (novembro) e um máximo, em outubro, de 29,1% e, um mínimo, de 13,9 a 14%, em maio e junho. A componente Sul (2a predominância) tem o mesmo tipo de variação sazonal, com um máximo de participação nos meses de setembro a dezembro e um mínimo no inverno. Os dois octantes mais inativos são o Oeste, com 1,8%, e o Sudoeste, com 2,1%. É importante, ainda, mencionar o aumento das calmarias (ventos menores que 1km/h) no inverno, principalmente nos meses de maio (41%), junho (43,4%) e julho (41,1%) muito embora ela esteja presente durante o ano todo, não caindo (em termos de média) abaixo de 23% de participação horária no mês. Outro dado importante, é a participação da direção Noroeste com 6,3% de média anual, alcançando um máximo de freqüência no verão (8,6% em dezembro e 9,0% em janeiro) e um mínimo no invernoprimavera (oscilando entre 3,2% em setembro e 6,7% em junho) conforme dados constantes do Quadro 02. 16 Quadro 02 Freqüência e Intensidade Média dos Ventos (1983-1992) – Aeroporto de Congonhas N NE E SE S SO O NO CALMO F I F I F I F I F I F I F I F I % JAN 9,6 11,0 5,4 9,3 8,3 9,9 18,1 11,7 13,7 12,0 2,4 9,9 2,5 9,3 9,0 10,8 30,9 FEV 6,4 9,0 5,3 9,0 8,5 8,6 17,1 10,5 13,6 10,7 1,9 9,7 1,8 8,5 7,2 9,1 38,2 MAR 4,7 10,1 5,2 9,2 9,4 10,0 20,0 11,9 15,7 11,7 2,1 9,5 1,9 9,3 5,6 9,8 35,3 ABR 4,6 10,8 5,3 9,8 8,4 10,1 19,4 11,6 15,7 11,3 3,0 9,5 2,1 9,3 7,7 10,2 32,9 MAI 6,0 11,2 5,9 9,1 8,1 9,5 13,9 10,5 12,9 10,0 2,7 8,9 2,3 9,1 6,1 10,9 41,0 JUN 7,2 11,1 6,4 9,1 9,1 9,8 14,0 10,2 9,7 10,0 1,6 9,5 1,7 8,9 6,7 11,1 43,4 JUL 6,1 11,3 7,3 9,3 9,8 10,5 15,1 10,7 12,8 10,3 1,5 8,2 1,2 10,0 5,0 11,2 41,1 AGO 4,3 10,2 6,1 9,5 10,0 10,8 18,9 11,9 16,5 11,3 1,4 10,7 1,8 9,8 5,5 11,3 35,9 SET 3,8 11,9 5,8 9,7 9,1 11,7 24,4 12,3 21,1 11,4 1,8 10,6 1,1 8,1 3,2 10,4 29,7 OUT 4,2 11,4 4,8 8,7 9,4 10,1 29,1 12,3 20,1 11,7 2,5 10,2 1,5 9,7 4,7 10,8 23,6 NOV 4,8 10,6 5,1 9,4 8,6 9,4 25,7 12,6 20,1 12,3 2,1 9,8 2,1 8,2 6,9 10,6 24,4 DEZ 7,9 10,8 5,0 9,6 7,1 10,3 19,4 11,6 19,8 11,7 2,0 9,8 1,8 9,7 8,6 10,8 28,1 ANO 5,8 10,8 5,6 9,3 8,8 10,0 19,6 13,8 16,0 11,2 2,1 9,7 1,8 9,1 6,3 10,6 33,7 Fonte: Estação Meteorológica do Aeroporto de Congonhas Org.: José Roberto Tarifa, 1993. 5. As Unidades Climáticas Naturais O Município de São Paulo está inserido num contexto de terras altas (entre 720 a 850 metros predominantemente), chamado Planalto Atlântico. A topografia deste planalto apresenta as mais variadas feições, tais como planícies aluviais (várzeas), colinas, morros e serras e maciços com as mais variadas orientações. A poucos quilômetros de distância (45km em média) encontra-se o Oceano Atlântico. Esse quadro físico define um conjunto de controles climáticos que, em interação com a sucessão habitual dos sistemas atmosféricos, irão dar identidade aos climas locais, produzidos pelos encadeamentos de diferentes tipos de tempo. Dessa forma, o conceito de clima que conduziu o pensamento de todo este trabalho é aquele referente à “sucessão habitual dos estados atmosféricos (tipos de tempo) sobre um determinado lugar” (SORRE, 1934). A grande vantagem deste conceito de clima sobre a definição clássica de Hann (1883) é o dinamismo que se atribuiu ao clima, dado pela sucessão habitual. Enquanto 17 que para Hann o que definia o clima de um lugar era o estado médio da atmosfera (fenômeno estático e abstrato), o movimento e o encadeamento de tipos de tempo vinculam-se mais com a vida e com as práticas sociais e econômicas. Para os primeiros colonizadores brancos oriundos de áreas temperadas do Hemisfério Norte, a adaptação às características climáticas do Planalto Paulistano foi relativamente fácil. Desenvolveu-se neste tempo de antanho a idéia de um clima estimulante e favorável à saúde (FRANÇA, 1958). Hoje em dia, em função dos problemas advindos da urbanização e industrialização essa idéia foi sendo esquecida ou trocada por uma antagônica, mais ligada à poluição. Neste item, mais especificamente, serão tratados apenas os aspectos naturais do clima, devendo-se abstrair a imensa metrópole que modifica de certa forma as propriedades naturais do clima, muito embora esta abstração total seja quase impossível, já que a estação meteorológica do Mirante de Santana (INMET), bem como grande parte dos postos pluviométricos utilizados estejam hoje submersos nesta atmosfera urbana. Os principais controles climáticos naturais para a definição dos climas locais e mesoclimas (unidades climáticas naturais) foram o Oceano Atlântico, a altitude e o relevo, com suas diferentes formas e orientações. Conjugando-se todos estes controles definiu-se cinco climas locais, que foram subdivididos em meso ou topoclimas em função das diferentes características topográficas de cada clima local (MAPA 01). O primeiro clima local foi definido como Clima Tropical Úmido de Altitude do Planalto Atlântico (Unidade I) e ocupa, grosso modo, a área da Bacia Sedimentar de São Paulo, onde a urbanização se instalou primeiramente. Neste clima local foram definidos diferentes mesoclimas a saber: (IA) os topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas; (IB) as colinas intermediárias, morros baixos, terraços e patamares; e (IC) as várzeas e baixos terraços. A Unidade IA (topos mais elevados dos maciços, serras e altas colinas) foi subdividida em três, sendo a IA1 referente aos maciços, serras e morros do alto Aricanduva e Itaquera, a IA2 referente ao Espigão Central, e IA3 referente aos altos espigões do Pirajussara, Embú e Cotia. Estas três sub-unidades (IA1, IA2 e IA3) tem um comportamento climático muito semelhante. As temperaturas são relativamente amenas pelo próprio efeito da altitude, 18 com as médias anuais girando em torno de 19,3ºC, a média anual das máximas em torno de 24,9ºC e as médias anuais das mínimas em torno de 15,5ºC. A pluviosidade aí representa um elemento importantíssimo, pois quando os sistemas atmosféricos produtores de chuva entram na área do município de São Paulo, a topografia destes morros mais elevados tendem a aumentar a instabilidade destes sistemas, aumentando os totais pluviais em relação às áreas mais baixas e planas. Como são áreas mais elevadas, com declividades médias a altas e que recebem um impacto pluviométrico significativo elas têm um potencial natural para deslizamentos, movimentos de massa e desmoronamentos relativamente elevado, principalmente nos morros da Zona Leste e Oeste, onde a estrutura geológica é frágil. Os totais anuais nestas unidades (IA1, IA2, IA3) variam de 1250 a 1450mm e os máximos em 24 horas oscilam entre 100 a 175mm. A altitude predominante (acima de 800 metros) propicia também uma maior ventilação destas unidades. Essa característica, aliada à instabilidade atmosférica induzida por estes morros, cria um bom potencial natural à dispersão de poluentes (MAPA 01). O mesoclima das colinas intermediárias, morros baixos, patamares e terraços (Unidade IB) foi subdividida em seis sub-unidades: (IB1) colinas intermediárias e morros baixos do além Tietê, (IB2) colinas, patamares e rampas do Pinheiros, (IB3) colinas, patamares e rampas da face Leste do Espigão Central, (IB4) terraços, colinas e patamares do Tamanduateí e Aricanduva, (IB5) terraços, colinas, patamares do Itaquera, e (IB6a) colinas, morros e espigões divisores do médio Pinheiros e Embú-Guaçu (Billings e Guarapiranga). A Unidades IB6b refere-se ao espelho d’água dos represas Billings e Guarapiranga. A situação topográfica destas unidades é intermediária, ou seja, entre as várzeas (Unidades IC) e os topos (Unidades IA), com as altitudes variando entre 740 a 800 metros. Devido a esse rebaixamento, as temperaturas sofrem um ligeiro aquecimento. As temperaturas médias anuais variam nestas unidades (IB1 a IB6a) de 19,6º a 19,3ºC, a média anual das máximas varia de 25,2º a 24,9ºC e a média anual das mínimas de 15,8º a 15,5ºC. Nos terraços e patamares planos a sub-planos, nos dias de céu claro, ocorre um forte aquecimento diurno, não só por se tratar de áreas relativamente baixas, mas por serem muito planas e que permitem uma maior recepção e absorção da radiação solar (Unidades IB4 e IB5). 19 Pluviometricamente, estas unidades são muito semelhantes às unidades IA (topos dos morros), pois as unidades IB estão ligadas aos topos (ou às unidade IA) praticamente pela mesma “vertente” ou “rampa”, que provoca a ascensão das parcelas de ar e instabilização local da baixa atmosfera. A proximidade com as áreas mais instáveis dos Climas Locais I e II (Serra da Cantareira e Jaraguá) farão com que os totais pluviométricos sejam praticamente da mesma intensidade. O exemplo mais evidente deste fato é demonstrado pela unidade IB1, cujos totais pluviométricos anuais oscilam entre 1350 a 1580mm. Este último valor (1580mm) é decorrente da proximidade da Unidade IB1 com a Serra da Cantareira (Unidade IIA1), cujos totais pluviométricos oscilam entre 1400 a 1590mm. No geral, os totais pluviométricos anuais oscilam entre 1250 a 1580mm e os máximos em 24 horas entre 100 e 200mm. A situação topográfica na qual as unidades IB estão (entre os topos e vales) favorecem a drenagem noturna de ar frio, possibilitando a ocorrência de baixas inversões térmicas sobre as várzeas (Unidades IC). Esta mesma condição topográfica intermediária faz com que a dispersão de poluentes seja razoável, entretanto, as condições de dispersão dos poluentes nestas unidades (IB) irão variar em função da altura da camada de mistura, que poderá, ora ocupar todas estas unidades (IB), ora apenas os setores mais rebaixados dela, tais como os terraços e patamares próximos às várzeas. As unidades mais próximas das Represas (IB6a e IB6b) ainda apresentam uma característica marcante: a presença freqüente de nevoeiros e névoas úmidas decorrentes, principalmente, da maior proximidade destas duas unidades com o oceano em relação às outras unidades (IB1 a IB5). O outro mesoclima definido para o clima local do Planalto Paulistano (I) foi o referente às várzeas e baixos terraços (IC) dos principais rios do Município. Para cada rio foi definida uma sub-unidade de acordo com o que segue: (IC1) várzeas e baixos terraços do Vale do Tietê, (IC2) várzeas e baixos terraços do Vale do Tamanduateí, (IC3) várzeas e baixos terraços do Vale do Pinheiros, (IC4) várzeas e baixos terraços dos Vales do Lajeado e Itaquera, e (IC6) várzeas e baixos terraços do Vale do Cabuçu de Cima. A posição topográfica destas unidades (áreas rebaixadas, com altitudes entre 720 a 740 metros – várzeas e baixos terraços) condiciona temperaturas relativamente elevadas, justamente por se tratarem de áreas mais baixas e planas, pois recebem e absorvem maior quantidade de radiação solar ao longo do dia, e sofrem também um 20 aquecimento por compressão adiabática. Durante os dias de céu claro, o aquecimento diurno destas várzeas e baixos terraços é bastante forte. Em compensação, no período noturno, as mínimas absolutas ocorrem nestas áreas, decorrente da drenagem e acumulação de ar frio nas partes mais baixas. A média anual das temperaturas para estas unidades variam de 19,7º a 19,6ºC, a média anual das máximas oscilam de 25,3º a 25,2º e a média anual das mínimas de 15,9º a 15,8ºC Em termos pluviométricos são áreas que sofrem uma redução dos totais de chuva em função da compressão adiabática e conseqüente aumento da estabilidade atmosférica decorrente da descida do ar em direção aos vales. Entretanto, em alguns casos, como por exemplo a unidade IC6 (várzeas e baixos terraços do Vale do Cabuçu de Cima), a proximidade com a serra da Cantareira (unidade IIA1) propicia totais mais elevados (de 1560 a 1500mm). O maior problema destas unidades é que se trata de áreas receptoras não só da pluviosidade que aí precipita, mas das águas caídas nas outras unidades, que inclusive são mais chuvosas, e que drenam para estas unidades (IC), ocasionando as cheias ou inundações naturais das várzeas. Em casos pluviométricos extremos até os terraços podem ser ocupados pelas águas. A urbanização, tanto das várzeas como das colinas e morros, além de impermeabilizarem e aumentarem a velocidade do escoamento superficial (run off) das águas pluviais, também criam formas (de natureza antropogênica) que represam ou dificultam o escoamento da água pluvial, acabando por gerar novos pontos de enchentes, além das áreas naturais de inundação, tornando-se um dos grandes problemas para estas unidades das várzeas e baixos terraços (IC). Os totais pluviométricos anuais oscilam, nestas unidades, de 1240 a 1560mm, e os máximos em 24 horas de 100 a 175mm. Outro grande problema destas unidades de várzeas (IC) é a elevada estabilidade atmosférica noturna e matinal. Por se tratarem de áreas rebaixadas e envolvidas por colinas, morros e serras há uma tendência de predomínio de calmaria e ventos muito fracos, possibilitando a ocorrência de inversões térmicas junto ao solo nos dias de sistemas atmosféricos estáveis. Durante o período noturno, o ar frio é drenado das áreas mais elevadas ao redor e acumulado nas áreas mais baixas dos fundos de vale (várzeas e terraços) formando ou intensificando as inversões térmicas. As condições naturais ruins para a dispersão dos poluentes nos fundos de vale e várzeas, aliado ao principal eixo rodoviário de fluxo pesado do Município de São Paulo 21 instalado sobre estes setores rebaixados e planos, criam a possibilidade de serem as áreas mais poluídas de toda a cidade de São Paulo. Em dias de enchentes, estas vias arteriais de fluxo intenso de veículos tornam-se verdadeiras “veias de sangue venoso”, porque o trânsito fica praticamente parado (freqüentemente os congestionamentos atingem mais de 150km), com grandes e constantes emissões de poluentes emitidos pelos automóveis estagnados em áreas com péssima vocação à dispersão de poluentes. Todo esse caos de poluição, trânsito e enchentes concentrados num pequeno espaço e num “curto” intervalo de tempo. O segundo clima local do Município de São Paulo foi definido como Clima Tropical Úmido Serrano da Cantareira – Jaraguá (II). Este clima foi subdividido em dois mesoclimas: (IIA1) os maciços e serras da face meridional da Cantareira e Jaraguá, onde está inserido o Parque da Cantareira, e (IIA2) os maciços e serras da face setentrional da Cantareira e Jaraguá, ocupando os topos voltados para a Bacia do Juquerí. Nestas unidades (IIA1 e IIA2) as altitudes variam de 800 a 1200 metros, o que indica uma condição térmica mais amena, com as temperaturas médias anuais variando de 19,3º a 17,7ºC, as médias anuais das máximas de 24,9º a 23,3ºC e a média anual das mínimas de 15,5, a 13,9ºC. Por outro lado, as elevadas altitudes (800 a 1200 metros) induzem um aumento nos totais pluviométricos, não só pelo fato de serem áreas elevadas, mas também por ser uma serra orientada principalmente no sentido Leste – Oeste, ou seja, praticamente perpendicular aos principais fluxos atmosféricos produtores de chuva, intensificando ainda mais os totais. Os valores de pluviosidade da média anual oscilam entre 1400 a 1590mm e os máximos em 24 horas de 150 a 220mm. São áreas que requerem especial atenção quanto à ocupação e uso do solo, pois as altas declividades, aliadas aos elevados totais pluviométricos que aí precipitam, fazem com que estas áreas tenham um grande potencial para a ocorrência de deslizamentos, movimentos de massa e desmoronamentos, exigindo edificações com uma estrutura profunda e que atinjam a rocha sã, bem como arruamentos bem planejados e estruturados, a fim de evitar problemas futuros. As cristas e os topos elevados da Serra da Cantareira e Jaraguá também são, geralmente, bem ventilados, aumentam da instabilidade atmosférica e devem provocar a elevação da camada de mistura, criando boas condições para a dispersão de poluentes. Essa condição topográfica elevada também favorece a drenagem noturna de ar frio, que consequentemente contribuirá para o acúmulo do mesmo ar frio nos baixos vales e 22 várzeas adjacentes à serra (Tietê, Juquerí), possibilitando a formação de nevoeiros e inversões térmicas matinais. A face Norte (setentrional) da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá, nas vertentes que drenam para o Rio Juquerí (NW do Município), nas altitudes entre 720 a 800 metros foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Úmido de Altitude do Alto Juquerí (III). Este clima local foi subdividido em dois mesoclimas, sendo (IIIA) referente aos morros e espigões do Alto Juquerí – Tietê e (IIIB) aos terraços e as várzeas do Vale do Juquerí. O mesoclima dos morros e espigões do Juquerí – Tietê (Unidade IIIA) abrange uma área relativamente elevada, cujas altitudes variam entre 740 a 800 metros. Como conseqüência disto, as temperaturas sofrem uma diminuição, principalmente nas áreas serranas mais elevadas, muito embora estas áreas sejam um pouco mais aquecidas que o Clima Local II, justamente porque são áreas ainda mais elevadas (800 a 1200 metros). As temperaturas médias anuais nesta unidade (IIIA) variam entre 19,6º a 19,3ºC, a média anual das máximas oscilam entre 25,2º a 24,9ºC, e a média anual das mínimas de 15,8º a 15,5ºC. Os totais pluviométricos são elevados por de se tratarem de áreas relativamente elevadas e, também, pela proximidade da Serra da Cantareira e do Jaraguá, valendo as mesmas considerações feitas para o Clima Local destas Serras (Unidade II). Os totais anuais nesta unidade (IIIA) variam entre 1400 a 1500mm, e os máximos em 24 horas entre 150 a 200mm. É uma área bem ventilada por conseqüência da altitude relativamente elevada (740 a 800 metros), principalmente quando os fluxos de vento são de Noroeste. A altitude também contribui para um aumento local da instabilidade e elevação da camada de mistura, cuja conseqüência destas características (boa ventilação, instabilidade local e elevação da camada de mistura) é um bom potencial para a dispersão dos poluentes. Entretanto, às noite, estes elevados espigões e morros favorecem o escoamento de ar frio, que se acumulará sobre o Vale do Rio Juquerí (Unidade IIIB), diminuindo a camada de mistura e aumentando (sobre o vale) a estabilidade, dificultando a dispersão de eventuais poluentes. O mesoclima IIIB refere-se às várzeas e terraços do Vale do Rio Juquerí, cujas altitudes variam entre 720 a 740 metros. 23 Por serem áreas relativamente baixas e planas, são preferencialmente mais aquecidas, principalmente em dias de céu claro. As temperaturas médias anuais variam entre 19,7º a 19,6ºC, as médias anuais das máximas entre 25,3º a 25,2ºC e, as médias anuais das mínimas entre 15,9º a 15,8ºC (MAPA 01). A estabilidade atmosférica decorrente da compressão adiabática sofrida pela parcela de ar ao descer as vertentes em direção ao fundo de vale reduz um pouco os totais pluviométricos, no entanto, em decorrência da proximidade das Serras da Cantareira e Jaraguá os totais se mostrem relativamente elevados, sendo possível notar apenas uma redução dos valores em relação às Unidades IIA1, IIA2 e IIIA. Os totais anuais nesta unidade (IIIB) giram em torno de 1400 a 1450mm, e os máximos em 24 horas oscilam entre 150 a 200mm. Entretanto, cabe uma especial atenção à esta unidade (IIB) no tocante ao potencial de inundação destas áreas, pois além de receberem totais pluviométricos, tanto diários quanto anuais, relativamente elevados (1400 a 1450 mm/ano e 150 a 200mm em 24 horas), estas áreas ainda recebem grande parte da água precipitada nas vertentes setentrionais da Serra da Cantareira e Jaraguá (nascentes do Rio Juquerí e afluentes), que são bastante chuvosas. Essas áreas de várzeas e terraços, em decorrência da posição topográfica rebaixada em relação ao entorno (serras e morros) apresenta uma grande freqüência de calmaria e ventos fracos, além de receberem todo o ar frio drenado durante toda a noite nos tipos de tempo estáveis. Como conseqüência disso, há uma diminuição da camada de mistura e aumento local da estabilidade atmosférica à noite e início da manhã, favorecendo a ocorrência de inversões térmicas junto ao solo e de nevoeiros matinais, criando um baixo potencial à dispersão de poluentes. Ao Sul da represa de Guarapiranga foi definido um outro clima local, denominado Clima Tropical Sub-oceâncio Superúmido do Reverso do Planalto Altântico (IV), cuja principal característica é a maior proximidade com o oceano em relação aos outros três climas locais já analisados (I, II, III). Este clima local (IV) foi subdividido em dois mesoclimas: (IVA) os morros e espigões elevados do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu, e (IVB) morros e nascentes do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu. Este segundo mesoclima (IVB) foi subdividido em dois topoclimas, (IVB1), referente aos próprios morros e nascentes, e o (IVB2), referente ao espelho d’água da represa Billings. 24 Na unidade IVA (morros e espigões elevados do Alto Pinheiros e Embú-Guaçu) as altitudes variam entre 800 a 850 metros e são responsáveis por uma redução nas temperaturas. A média anual das temperaturas oscilam entre 19,3º a 19,1ºC, a média anual das máximas entre 24,9º a 24,7ºC e a média anual das mínimas entre 15,5º a 15,3ºC. Já na unidade IVB1 e IVB2 as altitudes variam entre 740 (nível da represa) a 800 metros e com isso as temperaturas denotam um pequeno aumento em relação à unidade IVA. A média anual das temperaturas nesta unidade (IVB1) variam entre 19,6º a 19,3ºC, a média anual das máximas entre 25,2º a 24,9ºC e a média anual das mínimas entre 15,8º a 15,5ºC. No nível da represa (IVB2) essa variação tende a ser menor, justamente por se manter num nível altimétrico praticamente constante (740 metros), sendo que a temperatura média anual varia entre 19,4º a 19,3ºC, a média anual das máximas entre 25,0º a 24,9ºC e a média anual das mínimas de 15,6º a 15,5ºC. Pluviometricamente, o comportamento destes mesoclimas (IVA, IVB1 e IVB2) é muito semelhante em decorrência da grande influência oceânica a que estão submetidos. Os totais pluviométricos são elevados, tanto nos totais anuais, quanto nos máximos em 24 horas. Para todo o clima local IV, os totais pluviométricos anuais variam entre 1400 a 1800mm e os máximos em 24 horas oscilam entre 200 a 400mm, sendo que os maiores totais neste caso (máximos em 24 horas) ocorrem preferencialmente nas nascentes do rio Embú-Guaçu, justamente por estarem mais próximas do oceano. Qualquer ocupação que se aventure por este clima local deverá ser adaptada a esse grande volume de água que precipita nestas áreas, podendo gerar movimentos de massa, deslizamentos e desmoronamentos. Os riscos desses impactos pluviométricos podem ser grandes se não houver estrutura adequada para suportá-los. Este clima local também apresenta características de boa ventilação e elevada instabilidade, tanto pela proximidade com o oceano, quanto pela dissecação do relevo (Domínio dos Mares de Morros), que deixa essas áreas mais expostas aos fluxos de vento. Como resultado, é uma área com um bom potencial para a dispersão de poluentes. Além disso, a instabilidade e a proximidade com o oceano confere a esta unidade uma característica marcante: os nevoeiros e baixos estratos são muito freqüentes. O último clima local definido para o Município de São Paulo foi denominado Clima Tropical Oceânico Super-úmido da fachada Oriental do Planalto Atlântico (V), sendo que ele foi subdividida em três mesoclimas a saber: (VA) serras e altos espigões da Fachada Oriental do Planalto Atlântico, (VB) morros, serras e escarpas do Alto Capivari-Monos, e 25 (VC) escarpa oriental do Planalto Atlântico (Serra do Mar). Este clima local, bem como seus mesoclimas, tem sua característica fundamental definida pela máxima influência oceânica. Na unidade VA (serras e altos espigões da fachada oriental do Planalto Atlântico) as altitudes variam entre 800 a 850 metros, que acaba condicionando uma amenização na temperatura. A média anual das temperaturas variam entre 19,3º a 19,1ºC, a média anual das máximas de 24,9º a 24,7ºC e a média anual das mínimas de 15,5º a 15,3ºC. Já na unidade VB (morros, serras e escarpas do alto Capivari-Monos) as altitudes são um pouco mais baixas que na unidade anterior, variando entre 740 a 800 metros, gerando um ligeiro aumento na média das temperaturas. A média anual das temperaturas variam de 19,6º a 19,3ºC, a média anual das máximas de 25,2º a 24,9ºC, e a média das mínimas de 15,8º a 15,5ºC. Na escarpa da Serra do Mar (Unidade VC), que engloba altitudes desde a baixada litorânea a 50 metros até o topo da escarpa a 740 metros (50 a 740 metros), as temperaturas sofrem um aquecimento considerável pelo próprio efeito altimétrico, estando as temperaturas médias anuais entre 22,4º a 19,6ºC, a média anual das máximas de 28,0º a 25,2ºC, e a média anual das mínimas entre 18,6ºC a 15,8ºC. Da conjugação da máxima influência da máxima influência oceânica, que traz grande quantidade de umidade para o continente, com a proximidade da escarpa da Serra do Mar, que favorece uma elevada instabilidade atmosférica, tem-se uma área de elevados impactos pluviométricos por toda a extensão desta clima local (V). Os totais anuais variam entre 1600 a 2100mm, com exceção da escarpa da Serra do Mar (Unidade VC), onde os valores de precipitação são ainda mais elevados, variando entre 1800 a 2210mm. Os máximos em 24 horas para este clima local (V) oscilam entre 300 a 400mm. Estes altos valores de precipitação, aliados às altas declividades da Serra do Mar necessitam de especial atenção quanto a qualquer tipo de uso que se faça destas áreas, porque elas têm um enorme potencial para ocorrência de movimentos de massa, deslizamentos e desmoronamentos, mesmo com a cobertura vegetal natural (Mata Atlântica). Como se tratam de áreas elevadas e expostas (escarpa) apresentam uma boa ventilação, que aliada à elevada instabilidade propicia um bom potencial à dispersão dos poluentes. A proximidade com o oceano (máxima influência) também condiciona a ocorrência freqüente de nevoeiros e baixos estratos. 26 6. As Unidades Climáticas Urbanas A cidade e o município de São Paulo foi estruturado em quatro macro-unidades climáticas urbanas. Estas unidades podem ser consideradas como “homogêneas” para cada dimensão das relações entre os controles climáticos urbanos (uso do solo, fluxo de veículos, densidade populacional, densidade das edificações, orientação e altura das edificações, áreas verdes, represas, parques e emissão de poluentes) e os atributos (temperatura da superfície, do ar, umidade, insolação, radiação solar, qualidade do ar, pluviosidade, ventilação). Portanto, existe uma série de níveis e dimensões destas unidades hierarquizadas numa “rede” de relações que se definem no espaço (comprimento, altura, largura) e no tempo (sazonal, mensal, diário e horário). Foto 1 - Transição das Unidades IA1h (abaixo da foto)/IA2f (centro da foto)/IE2 (ao fundo) - Está bem visível o contato entre as unidades verticalizadas e as horizontalizadas e arborizadas. As áreas mais verticalizadas tendem a ser mais áridas neste caso. Densa camada de poluição sobre a cidade (-/+10:30 horas). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. 27 O primeiro nível estabelecido é o da passagem dos climas urbanos locais para as unidades mesoclimáticas urbanas. A extensão do fenômeno metropolitano ultrapassa o nível local, abrangendo o sub-regional, envolvendo, modificando e transportando energia, poluentes e sua atmosfera urbana para outros climas locais da Bacia do Alto Tietê. As diferentes formas, arranjos e conteúdos da urbanização dá origem a vários “núcleos” de unidades mesoclimáticas. Esta passagem ou transição não é absoluta, nem muito nítida são várias mudanças até alcançar-se o nível inferior ou superior. No nível I, onde se encontra o “núcleo” e a unidade central da metrópole, é onde teremos as maiores transformações de energia, massa e poluição ocasionadas pela urbanização (controles climáticos urbanos), provocando mudanças tanto no balanço de radiação solar quanto nas trocas aerodinâmicas (ligadas ao vento), bem como alterando a composição do ar e liberando grandes quantidades de calor antropogênico. Assim sendo, a passagem para a Unidade II (Unidade Climática Urbana Periférica) é acompanhada por uma diminuição (no geral) do fluxo de veículos, muito embora o fluxo de pessoas em trânsito seja localmente elevado e com constantes trocas com o núcleo e as áreas de expansão imediata do núcleo. A Unidade I concentra a maior parte dos bairros verdes (de médio e alto padrão), da verticalização (tanto em área como para os padrões de nível médio e alto), os centros históricos, administrativos e do poder. Concentra também a maior parte das indústrias, parques, jardins, universidades, hospitais e saneamento básico. Se as condições materiais são um pouco melhores, isto também não significa que os climas urbanos sejam homogêneos, em toda sua extensão, e que os problemas tampouco não sejam graves nesta unidade. As diferenças, os guetos, os cortiços, as favelas, a poluição, o calor elevado, as enchentes e a desorganização urbana decorrentes destes impactos também assolam tanto o núcleo, quanto as áreas de expansão. Naturalmente, existem graus, redefinições e magnitudes dos impactos em decorrência do entendimento da trama mais fina do tecido urbano e como ele é produzido e utilizado. Atinge-se assim, as Unidades Mesoclimáticas, que já são novas realidades ou dimensões do fenômeno, onde o uso do solo, o fluxo de veículos e pessoas, os padrões residenciais (habitar) e as formas de produção industriais, comércio e serviços criam células, bairros ou lugares e sítios com identidade específica no real. 28 Foto 2 - Unidade IB2a - Rio Tietê/Marginais – Anhembi e sambódromo à direita (orientação da foto – OESTE). Notar o topo da camada de inversão e a maior concentração de poluentes sobre o vale e planície do Tietê (+/- 10 horas). Temp. do solo – 33ºC (set) e 32ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. Por exemplo, as marginais (Tietê, Pinheiros e Tamanduateí) estão associadas ao processo produtivo e econômico da metrópole; entender seu clima urbano pressupõe entendimento dos seus fluxos (produtos, mercadorias, pessoas, calor energia, poluição, favelas, cortiços, inundações, prejuízos, doenças, etc.), identificando, portanto, a realidade concreta. O clima e o seu conjunto de interações físicas, biológicas, humanas e sociais faz parte desta totalidade e assim deve ser compreendido. Os jardins e bairros verdes é outro no seu conjunto, que podem ser tomados como unidades mesoclimáticas urbanas, porque possuem qualidades, afinidades e propriedades que lhe garantem historicamente um espaço apropriado pelos que tem mais recursos e poder econômico. No entanto, eles também não são todos iguais, ocupam situações topográficas e topológicas do sítio e do urbano que podem ser muito diferentes, por exemplo, em termos de ventilação e capacidade de dispersar poluentes. Estamos, assim, passando para uma nova transição do meso para o topo. A trajetória do sol (movimento aparente) e as variações diurnas e noturnas dos ventos, associadas à orientação das ruas, praças, avenidas, edificações baixas, prédios altos, cria um “desenho” ou uma superfície topológica cria volumes, rugosidades, materiais, inclinações e exposições redefinindo os topoclimas urbanos. As trocas de radiação e do vento, externas e internas são fundamentais para se compreender o aquecimento-resfriamento e a qualidade do ar neste volumes cada vez mais próximos da superfície do solo e dos lugares onde o homem vive, 29 trabalha e produz socialmente (microclimas urbanos). Desta maneira os ciclos diurnosnoturnos do sol e do vento são imprescindíveis para se compreender os topoclimas. Dentro desta superfície topológica começa a ganhar identidade um conjunto de espaços microclimáticos, que vão desde os ambientes fechados e internos das edificações até os espaços quase totalmente abertos de um estacionamento de um shopping center. Historicamente o termo ou conceito foi criado para definir a proximidade com o solo; os primeiros autores falavam em alturas de até dois metros da superfície. Posteriormente passou-se a utilizar 10 metros. Hoje, aceita-se volumes e alturas até o topo das árvores de uma formação florestal (30 a 40 metros) ou mesmo ambientes microclimáticos urbanos de até 40 a 50 metros. Por exemplo, todo o canyon urbano da Av. Paulista seria uma unidade topoclimática, no entanto, dentro deste espaço junto à superfície se redefinem inúmeros ambientes microclimáticos. Talvez o exemplo mais impermeável às trocas externas de energia seja o Parque Trianon (Siqueira Campos). Basta entrar e sentar em um dos bancos para sentir agradavelmente a proteção microclimática criada pelas árvores, atenuando as temperaturas e regularizando, no ambiente interno, harmonicamente os valores da umidade do ar. O canteiro central da Av. Paulista, em uma superfície de concreto, com carros, ônibus, pessoas e o sol a pino do meio dia dá a dimensão exata do “rigor” de um microclima aberto, permeável, exposto e poluído de um canyon urbano de alta densidade de energia por unidade de tempo. Os microclimas e seus atributos nestas condições, tem velocidade dos processos e mudanças muito rápidas e aceleradas. Enquanto os volumes de ar protegidos pela vegetação cria volumes e trocas de ar isolando termicamente o ambiente, formando as variações máximas e mínimas menores e mais harmônicas (sincrônicas) para o desempenho dos seres humanos. Se as velocidades e processos são muito rápidos, as possibilidades de introduzir ações e modificações também são mais viáveis, pelas próprias dimensões espaciais envolvidas. Trata-se naturalmente, de avaliar as extensões do fenômeno. As favelas e casebres baixos, grudados e abarrotados da Zona Leste são ambientes microclimáticos de alta absorção e transmissão de calor, sendo verdadeiros “fornos” quando faz muito calor e sol durante o dia (máximos à tarde) e verdadeiras “geladeiras” nas noites frias do inverno paulistano. A extensão e dimensão destas favelas onde se avalia viverem entre 2,5 a 3,0 milhões de seres humanos, ultrapassa em muito a possibilidade de uma solução técnica à nível microclimático, pois o próprio fenômeno 30 alcança e ultrapassa de forma fragmentada ou contínua, mas intensa, as unidades Topo e Meso da periferia urbana da metrópole. 6.1. A Unidade Climática Urbana Central (I) A Unidade Climática Urbana Central (I) tem uma identidade estruturada em um núcleo, representado pela letra A no Mapa 06, e seis Unidades Marginais ou periféricas ao núcleo, representadas pelas letras B, C, D, E, F, G (Mapa 06). De forma geral, o núcleo (A) abrange o centro histórico, a verticalização densa e contínua que se estende para a Zona Sul, passando pela Liberdade, Vila Mariana, até as proximidades com o Parque do Estado. Este sentido da verticalização corresponde aproximadamente à área de influência da linha Sul do Metrô. A transição deste núcleo parece ocorrer entre o Brooklin e a verticalização da Av. Luís Carlos Berrini. Para Norte, Leste e Oeste-Sudoeste a envoltória deste núcleo seriam as marginais, as várzeas e os terraços baixos urbanizados do Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Inclui-se neste núcleo o sistema de colinas e o espigão central, ocupado pelos principais corredores de trânsito, interligando os bairros verdes e os centros do poder econômico, industrial, comercial e de serviços da metrópole, concentrados nos canyons urbanos da Paulista e Faria Lima. 6.1.1. O Núcleo da Unidade Central (IA) O principal controle climático desta unidade se expressa pela alta densidade de edificações, pessoas, veículos e atividades. A forma urbana mais evidente são os “arranha-céus”, a verticalização. Mas qual seria hoje o conteúdo mais importante para o clima ou os climas deste núcleo? Sem dúvida, um dos mais graves é a poluição do ar. Os maiores corredores de tráfego da região metropolitana circundam esta unidade. A somatória do fluxo diário das marginais (Tietê, Pinheiros) com o da Av. dos Bandeirantes e da Av. do Estado (Vale do Tamanduateí) contribuem diariamente para a passagem de mais de 1.200.000 veículos – calhas de tráfego pesado. Além deste volume enorme de emissões, todo o anel interno é composto de vias de trânsito com elevado volume e lentidão (velocidade) variável ao longo do dia e da noite. Resulta desta forma, fontes múltiplas e permanentemente móveis de elevada emissão de poluentes atmosféricos, cujos danos à saúde já foram discutidos anteriormente. Além deste fato, o “núcleo central” 31 recebe das unidades periféricas (IB a G e da Unidade II) o transporte de gases e material particulado emitido por fontes industriais e pela circulação dos veículos. Foto 3 - Unidade IA1a - Início da Av. Ipiranga, Prédio (redondo) da Polícia Civil à direita. Notar o canyon da Av. Ipiranga formado pelos prédios (+/- 10:15 horas). /temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O fato do sítio ser convergente, bem como a extensão horizontal do fenômeno metropolitano supera atualmente um raio de 60 km, contribui também para que nas mudanças diurnas e noturnas do fluxo atmosférico, as áreas centrais recebam quase sempre (transportes elevados) concentrações elevadas de poluentes. No entanto, se o material particulado (faixa do inalável) e outros gases e poluentes primários acompanham as condições da estabilidade atmosférica, o ozona (O3) não acompanha este movimento. Por tratar-se de um poluente secundário, que tem necessidade de luz forte e calor para sua formação, suas maiores concentrações tendem a ocorrer no período da tarde e em locais relativamente distantes das fontes primárias de NOx e dos HC (poluentes primários que dão origem ao ozona - O3). Este fato torna este “núcleo central” um permanente 32 exportador de “ozônio”, sendo ainda relativamente difícil mapear e acompanhar as concentrações deste poluente. Observando-se a legenda do MAPA 06, pode-se observar que os padrões primários de O3, Material Particulado, NO, Fumaça e CO estão freqüentemente sendo excedidos. Foto 4 - Transição das Unidades IA2d/IA2f - O padrão de uso do solo aqui é predominantemente residencial com as ruas arborizadas. Notar o contato entre áreas verticalizadas e as horizontalizadas (10:30 horas). Temp. solo na Unidade IA2d 28ºC (set/abr) e na Unidade IA2f 30ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O segundo controle climático que dá identidade às unidades Meso e Topoclimáticas Urbanas é o uso atual do solo. Dois usos se destacam no conjunto deste núcleo: os Bairros Verticalizados e os Bairros Verdes. O contato entre estes ambientes urbanos é bem definido e provoca alterações e transformações na absorção, reflexão e 33 transmissão da radiação solar, bem como nos transportes horizontais do ar. A clássica idéia de que as áreas centrais (Downtown ou City Center) das grandes cidades e metrópoles são ilhas de calor talvez necessitem de algumas reformulações conceituais. A verticalização na zona do “núcleo central” da metrópole paulistana parece exercer um efeito de atenuar a temperatura, pois são áreas fortemente sombreadas com outras de forte absorção e reflexão da luz solar. No seu conjunto ou totalidade maior, e no horário (10:00 horas aproximadamente em que as imagens de satélites foram tomadas) as áreas verticalizadas parecem se aquecer 1 a 2 graus a menos do que outras áreas planas e de uso residencial baixo e com a mesma proporção de vegetação. No entanto, a realidade se mostra muito complexa. Esta superfície topológica dos prédios parece criar o seu arranjo volumétrico e espacial uma enorme variedade de diferenças. A distância entre os blocos, a altura de cada edifício (rugosidade da superfície topológica), bem como a combinação com áreas verdes e diferentes altitudes possibilitam enormes diferenças de aquecimento e na emissividade térmica destas unidades. Por outro lado, abaixo desta superfície cria-se uma infinidade de microclimas, dos quais os “canyons urbanos” parecem ser um dos mais importantes. A combinação destes espaços parcialmente confinados, pouco ventilados e pouco ensolarados, pode resultar em microclimas muito inóspitos ou altamente poluídos, já que estes “canyons” circundam, na maioria das situações, avenidas e corredores de tráfego intenso e pesado. 34 Foto 5 - Unidade IA1a - Adensamento de Prédios próximo ao centro histórico de São Paulo. Notar as áreas sobreadas criadas pelas edificações. Muitas dessas áreas não recebem luz solar em praticamente nenhum horário do dia, criando “ilhas de frio” (+/- 10:15 horas). Temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. Usando estes critérios de uso do solo predominante, porcentagem ou presença maior ou menor de áreas verdes, e a distribuição do campo térmico de superfície, esta unidade do núcleo central foi subdividida em 5 unidades topoclimáticas. A primeira delas se refere às áreas verticalizadas (Unidade IA1) (ver MAPA 06 e foto 05, representativas desta unidade). No entanto, dentro desta realidade dos bairros altamente verticalizados pode-se, de acordo com o lugar, seu conteúdo e sua história recente, definir novas hierarquias climáticas. Assim, o centro histórico e o seu entorno reúne atividades, pessoas, serviços e uma dinâmica própria, criando uma sub-unidade dentro do universo da verticalização. Neste sítio, as áreas verdes são praticamente inexistentes e quase tudo converge, até mesmo a degradação de certas áreas, onde os excluídos da sociedade 35 moram em cortiços insalubres e poluídos. Usando estas diferenciações, novas identidades de lugares (combinação do sítio com a urbanização atual) aparecem: o Bairro da Liberdade e seu caminho com a Vergueiro (uma velha ligação com o Sul/Caminho do Mar e do Porto de Santos) se constitui na sub-unidade IA1b. Este caminho muda algumas características, mas acompanha hoje a linha sul do metrô, passando pela Vila Mariana – Jabaquara, definindo um longo eixo Norte-Sul. A orientação e a própria forma destes eixos são importantes no entendimento da produção e da dispersão dos poluentes atmosféricos, pois associa fluxos oceânicos do vento, modificados pelos prédios e pela produção antropogênica de calor. Um outro eixo da verticalização é aquele que saindo da Sé vai em direção ao Bairro Santa Cecília, Barra Funda e finaliza próximo da Lapa. Estas sub-unidades já acompanham a orientação geral Leste-Oeste do Vale do Tietê4. Do centro histórico até o espigão central da Paulista reconhece-se um fantástico nível topoclimático, onde os fluxos de radiação e do vento são substancialmente alterados pela intensa verticalização. A maioria das ruas e avenidas, tanto as de orientação SO-NE (Consolação, Angélica, Brigadeiro), como as transversais (Paulista) com orientação SENO se constituem em enormes topoclimas. Esta área que engloba também uma parte do espigão central, bem como a face sudoeste, já voltada para o vale do Pinheiros, parece possuir uma condição termicamente de 1 a 3 graus inferior às áreas mais quentes e planas dos fundos de vale do Tietê e Tamanduateí (Unidade IA1c). A verticalização é interrompida por alguns bairros Jardins, mas grande parte do espigão central já está quase unido à Paulista através do Sumaré, Dr. Arnaldo, Heitor Penteado e Cerro Corá. Este conjunto arquitetônico dá contorno acentuado à cumeada do espigão central, revelando uma verticalização cada vez mais adensada (Unidade IA1e). O corredor da Consolação – Rebouças (após o cruzamento com a Paulista) se apresenta cada vez mais ligado com a verticalização da Faria Lima – Moema – Nove de Julho e, por outro lado, com o núcleo central da Zona Comercial de Pinheiros (Teodoro Sampaio e transversais), incluindo aí o próprio Largo de Pinheiros (Largo da Batata). No entanto, as diferenças logo aparecem, e o trecho da Teodoro até a altura da Henrique Shaumann e até o cruzamento da Faria Lima com a Rebouças, incluindo o Shopping Eldorado à ponte da Cidade Universitária se apresentam com um aquecimento topoclimático mais forte (ver Mapas 03, 04) do campo térmico de setembro de 1999 e de abril de 2000, o que nos levou a qualificar esta área como uma sub-unidade (IA1g). 4 Observar no Mapa 06 a localização destes bairros em relação às unidades climáticas naturais. 36 A nova Faria Lima, seguindo por Moema até os Limites com o Parque do Ibirapuera e o Brooklin (Bairro Verde) se constitui em uma sub-unidade (IA1h) orientada grosso modo no sentido Noroeste-Sudeste, quase acompanhando a própria orientação do vale do Rio Pinheiros. Os “canyons” urbanos e os jogos de sombra e luz definem uma forma e um conteúdo onde a presença de grandes Shoppings Centers (Eldorado, Carrefour, Ibirapuera, entre outros) evidencia um conjunto com grande diversidade interna de espaços microclimáticos e elevadíssima concentração de poder, pessoas e circulação de fluxos de energia (sub-unidade IA1h). Os bairros verdes (Pacaembú, Alto da Lapa, Pinheiros, Jardins e Brooklin) se constituem em unidades topoclimáticas com relativa homogeneidade no processo de transformação da energia solar, bem como na proteção exercida pelo verde nos ambientes microclimáticos. Foto 6 - Unidade IA2a – Bairros Verdes do Pacaembú e Perdizes. Notar a verticalização sobre o Espigão Central (11:00 horas). Temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. Portanto, as unidades IA2a, IA2b, IA2c, IA2d, IA2f mantém uma relativa homogeneidade advinda de lotes grandes com amplas áreas verdes, tanto nos quintais como nas ruas arborizadas. Sua forma é percebida, tanto no real, quanto na representação esquemática do campo térmico pelo satélite, onde geralmente indicam superfícies 3 a 4ºC menos aquecidas que os bairros pobres das favelas e autoconstruções quase sem áreas verdes da Zona Leste por exemplo. 37 Os microclimas destes ambientes urbanos tendem a mostrar não apenas variações quantitativas, mas qualidades associadas à capacidade de possuir conforto térmico e ambiental decorrente de seu poder de comprar e consequentemente de possuir dinheiro. Portanto, o verde e a qualidade melhor do clima decorrem do poder de troca (o espaço urbano como mercadoria) e não da necessidade para suprir o corpo e a própria reprodução da vida com qualidade e dignidade. Dentro desta Unidade Mesoclimática (IA2) ainda foi incluído o Parque do Ibirapuera, cujas propriedades topo e microclimáticas se assemelham aquelas dos Bairros Jardins. Encontra-se totalmente envolvido por trânsito intenso nas vias, o que faz com que a qualidade do ar seja semelhante àquela encontrada no núcleo central. É muito comum o Material Particulado, o Ozônio e o Monóxido de Carbono ultrapassarem o padrão primário recomendado pela EPA e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A área comercial e industrial da Lapa (sub-unidade IA3) aparece nas imagens infravermelho como um espaço urbano 2 a 3ºC mais aquecido que o seu entorno, por exemplo o Bairro Verde do Alto da Lapa ou Alto de Pinheiros, alcançando nos limites mais baixos das várzeas do Tietê o valor máximo de 32ºC da temperatura da superfície às 10:00 horas da manhã. Por esta razão ele foi caracterizado como uma sub-unidade (IA3). Outra unidade da mesma forma aquecida e diferenciada pelo uso e pela intensidade do seu movimento é aquela relacionada com o Aeroporto de Congonhas. Apesar da existência de gramados e alguns jardins, a forte pavimentação e densidade de pavilhões e prédios com cobertura escura forneceu, tanto em setembro como em abril, valores térmicos de superfície entre 30 e 32ºC (Mapas 03 e 04). Entre a área urbana do Aeroporto (IA5) e a verticalização que acompanha a linha Sul do metrô (Unidade IA1b) existe um bairro residencial baixo, com pequena porcentagem de área verde ao qual atribuímos uma condição de unidade climática intermediária (IA4), entre os Bairros Verdes e aqueles completamente áridos, seja pelo processo de favelização, industrialização ou verticalização. 38 Foto 7 - Transição das Unidades IA5/IA1f/IC2 - Aeroporto de Congonhas. À esquerda da foto Av. dos Bandeirantes. Ao fundo Parque do Estado (11:20 horas). Temp. solo 32ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. 6.1.2. As Unidades Climáticas da Expansão do Núcleo da Metrópole A urbanização dos vales do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros se deu em tempos diferenciados. A observação cuidadosa das várzeas e terraços destes rios guarda segredos, cria diferenças microclimáticas, mas hoje eles se assemelham climatologicamente como grandes bacias produtoras de toneladas de poluentes. Os volumes de tráfego pesado fluem dia e noite e deixam nestes vales as maiores concentrações de poluentes de origem industrial e de veículos da metrópole. Entretanto, não apenas produzem, mas recebem diariamente grande fluxo de poluentes oriundos do ABCD (no caso principalmente o Tamanduateí). O vale do Pinheiros também recebe grande parte dos fluxos produzidos em Santo Amaro (de origem industrial e veicular) quando os ventos são de Sul-Sudeste, ou de Barueri-Osasco, sob regimes de ventos de noroeste (Unidade IB). O vale e a marginal do Tietê, com orientação E-O, margeada ao Norte pela Serra da Cantareira e seus contrafortes, recebe todo o fluxo da Zona Leste (São Miguel, Guaianazes, Carrão, Penha, Tatuapé e parte da Mooca, além de toda a poluição advinda da zona industrial da Dutra-Guarulhos). As velhas fábricas do Brás, Belém, Bom Retiro e o eixo antigo da ligação com Santos através da Av. do Estado até hoje ainda se constituem em uma unidade urbana e obviamente, também, climatológica. 39 As imagens de satélite dão a esta realidade um forte aquecimento, resultado do vale plano, rebaixado e com telhados e superfícies (das avenidas, radiais, ferrovias) que absorvem muito a radiação solar. Grande parte desta confluência, Tamanduateí-Tietê, indica temperaturas superiores a 32ºC às 10:00 horas da manhã (ver foto 08), se constituindo na Unidade IB1, nas margens das grandes avenidas e corredores e nos centros antigos degradados são comuns cortiços e favelas onde a vida só pode ser segregada, excluída e finalmente destruída pela poluição, pela fome, pelo não emprego ou não morar. Foto 8 - Transição das unidades IB1/IF1 - Baixa Mooca/Brás (Zona Leste). Padrão de uso do solo marcado pela presença de indústrias na planície do Tamanduateí e residencial horizontal na maioria das colinas. Há áreas verticalizadas, mas não são tão adensadas quanto no centro de São Paulo (10:30 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 30ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. As várzeas do Tietê que se estendem até os limites com a Vila Maria, Guarulhos e o Parque Ecológico do Tietê evidencia hoje uma unidade climática marcada pelas pontes, viadutos e circulação. Contém os terminais rodoviários do Tietê, da Barra Funda, o Campo de Marte, o Parque Anhembi, a Lapa de Baixo (ligada à ferrovia e à indústria) fechando um anel até a vila Leopoldina, Jaguaré e o Ceasa. Esta descrição pouco dá conta de quantos fluxos e movimentos circundam neste território. Este movimento deixa um alto custo, e uma parte está associada à degradação ambiental através da progressiva perda da qualidade do ar. O campo térmico da superfície do solo mostra ser também uma área das mais aquecidas da metrópole, variando entre 29 a 32ºC. Esta unidade (IB2) de dimensões mesoclimáticas comporta várias sub-unidades topo e 40 microclimáticas. Um destes espaços urbanos é o Campo de Marte (IB2b). Existem vários outros espaços possíveis de serem identificados, como o próprio terminal rodoviário do Tietê, no entanto a representação deste novo conjunto exigiria uma mudança de escala da representação cartográfica para 1:25.000 ou 1:10.000. A poluição atmosférica composta de partículas de diferentes geometrias e graus de toxidade, junto com o “smog fotoquímico” envolve esta unidade como uma “gosma” escura conforme pode ser observado na foto 09, tomada de helicóptero no dia 22-08-2000 às 11:00 horas. Sua altura e densidade varia conforme o horário e as condições meteorológicas que controlam seu movimento vertical e horizontal, geralmente esta camada fica aprisionada entre a superfície e a inversão térmica. No caso da foto 09, tomada às 11:00 horas do dia 22-08-2000 segundo informações da CETESB a altura da camada de mistura (definida pela base da inversão) era de 153 metros às 8:00 horas da manhã. No entanto, mesmo a melhoria das condições meteorológicas pelo aquecimento e conseqüente elevação da altura desta camada, o ar, visualmente, mostrava uma pluma escura e negra, conforme a foto 09. Foto 9 - Tentativa da vista da Serra da Cantareira. A serra está encoberta pela poluição e só os topos mais altos, acima da camada de inversão, que são visíveis. Note que a poluição sobre o vale do Tietê é muito mais densa. Os ventos de sudeste e o anteparo imposto pela Serra da Cantareira, a estabilidade atmosférica inerente aos vales criam condições favoráveis para a maior concentração de poluentes dessa área (vale do Tietê). Esse é o lixo que respiramos.... (+/- 10:45 horas). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. 41 A Marginal Pinheiros ocupa uma situação diferenciada em relação aos vales do Tietê e do Tamanduateí. A orientação SE-NW até a altura da ponte Cidade Jardim muda gradativamente para NNE-SSO; este sentido permanece até a zona industrial de Santo Amaro (Unidade IB4), quando volta a ficar orientada de Sudeste para Noroeste. No entanto, as maiores diferenças entre as unidades anteriores (Tietê e Tamanduateí) está ligado à ocupação e uso do solo do seu entorno próximo. São áreas predominantemente comerciais e residenciais de médio e alto padrão com porcentagem média a alta de áreas verdes, incluindo aí, neste entorno próximo, o Campus da USP. Este fato faz com que, à exceção da área industrial de Santo Amaro (Unidade IB4), esta área fique inserida num meio que absorve menos a radiação solar. As imagens do infravermelho mostram este aspecto com muita nitidez (Mapas 03 e 04). No entanto, o enorme fluxo pesado de veículos, transforma a Marginal Pinheiros em um ambiente topoclimático muito semelhante aquele da Marginal Tietê e do vale do Tamanduateí. Além deste fato, deve receber volumes consideráveis da poluição do ar emitida em Santo Amaro, pelas indústrias e veículos. A unidade IB4 (Zona Industrial de Santo Amaro) aparece nitidamente como uma área urbana fortemente aquecida pela radiação solar. As temperaturas oscilam entre 30 a 32ºC às 10:00 horas da manhã aproximadamente, tanto em setembro de 1999 como em abril de 2000. O conjunto das áreas urbanas que envolvem o núcleo da Unidade Climática Central apresentam algumas semelhanças e diferenças em relação à área central. A principal diferença pode ser traduzida na densidade e intensidade da urbanização, mesmo que dentro de cada uma desta sub-unidades possam e existem núcleos tão adensados quanto a área central; no geral passa-se para um padrão de menor intensidade. Um dos fatos que evidencia esta diminuição de intensidade é a verticalização. Ela passa a seguir um padrão mais fragmentado e com dimensões espaciais muito menores que aquelas existentes no “núcleo central”. No entanto, fica claro que os mesmo tipos de problemas topo e micro climáticos existentes se repetem também nestas unidades. Um dos fenômenos que deve ser da mesma magnitude e intensidade é aquele referente à poluição do ar. As poucas estações telemétricas da rede de monitoramento (Tatuapé, Cambuci, Penha, Lapa) não permitem uma análise espacial do problema, no entanto seus dados de material particulado e ozônio (medido somente na Mooca) mostram gravidade semelhante àquela do “núcleo central”. 42 A ligação da Vergueiro com a Anchieta (antigo Caminho do Mar) passando por parte do Jabaquara, Saúde, Ipiranga até os limites com o Parque do Estado e São Caetano do Sul se constituem na Unidade Climática IC1. A principal característica deste espaço urbano é o predomínio do residencial baixo (aqui considerado como casas ou edificações de 1 a 2 andares de classe média ou média baixa geralmente com cobertura de telhas de cerâmica de cor avermelhada). Dentro deste espaço surgem “núcleos” ou novos centros de comércio e verticalização, cuja representação cartográfica não foi possível. Existem também, dentro deste padrão residencial baixo ou intermediário, um número significativo de edifícios ou prédios (de 3 ou mais pavimentos). Quando a extensão em área já alcança dimensões consideráveis foi possível criar sub-unidades. Foto 10 - Unidade IC1 - Bairro do Ipiranga, predominantemente construções horizontais de telhado cerâmico. Alguns prédios se destacam na foto. Abaixo nota-se um galpão, com telhado aparentemente de zinco. Camada de poluição bastante densa (+/- 10:45 horas). Temp. solo 31ºC (set) e 30ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. 43 Na Unidade IC1 existe uma das maiores favelas da Grande São Paulo, a Heliópolis, com altíssima densidade populacional. Sua estrututra sem verde e muito quente pode ser observada na foto 11. Foto 11 - Unidade IC1 - Favela Heliópolis. É um amontoado de casas, com telhados de amianto (péssimo para o conforto térmico), algumas das ruas são asfaltadas e as casas em sua maioria de alvenaria (algumas são sobrados) e os lote muito pequenos (+/- 10:45horas). Temp. solo 33ºC (set) e 32ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O uso residencial baixo (Unidade IC1) indica uma variação entre 29 a 32ºC, dependendo de cada condição específica da superfície, ligadas principalmente à densidade e altura das áreas verdes (arborização das ruas e quintais). Dentro desta unidade (IC1) também se encontra localizado o Parque do Estado (Unidade IC2). O 44 controle micro e topo exercido pela formação florestal reduz a temperatura da superfície para um mínimo de até 23ºC no outono (abril) e 25ºC entre o final do inverno e início da primavera (setembro). Nesta mesma unidade (IC) o efeito do uso do solo industrial aquece a superfície para valores entre 30 a 32ºC, conforme pode ser observado na legenda do Mapa 06. O tipo de uso do solo predominante neste trecho da Bacia do Ipiranga corresponde à Unidade IC4. A ocupação do solo existente cria bolsões ou manchas diferenciadas de verticalização, cuja identidade e descrição dos atributos climáticos urbanos corresponde aos da Unidade IC3. A travessia do Rio Pinheiros a caminho da Zona Oeste (Raposo Tavares e Br116) entre altitudes que vão de 720m (Raia Olímpica da USP) à aproximadamente 800 metros, uma unidade climática privilegiada pelo verde. Principalmente aquele “verde” dos Bairros Cidade Jardim e Morumbi. As evidências são nítidas e claramente definidas se tratar de uma expansão dos bairros nobres e verdes (Unidade Climática ID1), onde a enorme área verde com densa arborização cria microclimas perfeitos para a reprodução da vida, tanto à nível biológico como social. A atenuação térmica é marcada com até 2 a 3ºC da temperatura da superfície inferior à algumas favelas dentro ou próximas desta unidade (como o que fica evidenciado na Unidade ID3). Neste contexto desta realidade urbana, mesmo as áreas verticalizadas aparecem como ambientes microclimáticos harmônicos e intercalados com espaços verdes, com volumes suficientes de ar para facilitar as trocas horizontais e permitir melhor renovação e ventilação do ar (Unidade ID2). O campus Universitário da USP, com grandes áreas cobertas com árvores e gramados se delineia como uma unidade onde o aquecimento térmico de superfície já é maior que os bairros verdes. Provavelmente isto se deve às extensas coberturas de concreto dos prédios e ao asfaltamento nas vias e nos grandes estacionamentos de veículos. As diferenças térmicas constatadas dentro do campus – USP variam entre 27 a 31. As áreas menos aquecidas correspondem à mata da Biologia e à mata do Instituto Butantã. Entre a verticalização atual da Av. Luís Carlos Berrini até o contato (transição) para a zona industrial (Unidade IB4 já analisada) existe um “núcleo” adensado, quase um novo “clima urbano” independente do Bairro de Santo Amaro. Não estivesse ele dentro da metrópole sua identidade e relações seriam mais simples; no entanto, ele ainda mantém o caráter de uma temporalidade diferenciada e seu arranjo de formas e conteúdo ainda mostra esta evolução. 45 Possui um núcleo bem definido, comercial - residencial baixo (Unidade IE3) ao lado do industrial ou via de circulação (Marginal). Logo se passa mais ao longe, protegido pelo verde para a Chácara Santo Antônio, bairro verde residencial (Unidade IE3). No bairro verde a temperatura da superfície oscila entre 27 e 29ºC (setembro) ou de 27 a 30ºC (abril). A forte verticalização existente na Av. Luís Carlos Berrini, bem como uma extensa área de forma circular ao Sul da Chácara Santo Antônio define a Unidade topoclimática IE2. A expansão urbana para o além Tamanduateí produziu bairros (Mooca, Tatuapé, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Penha, Vila Matilde) com altíssima densidade de pessoas e porcentagem muito pequena de áreas verdes. A aridez reflete temperaturas altas nas superfícies edificadas (30 a 33ºC). A forma urbana mostra uma homogeneidade considerável, tanto no forte aquecimento, na ausência do verde e na poluição atmosférica elevada, caracterizando um espaço urbano muito homogêneo nas transformações climáticas pelas práticas espaciais e sócio-econômicas. Assim, todo este território entre rios, cuja identidade já desapareceu, a metrópole determina novas leis, onde a produção e reprodução do espaço das pessoas e do clima é determinado pelo econômico, pelo valor de mercado e não de uso do território. Por isto, praticamente inexistem hoje parques, jardins, áreas verdes, campos de futebol, onde as mínimas necessidades fisiológicas ou vitais do corpo e da cultura possam ser alcançados. Todo este conjunto foi identificado como uma unidade mesoclimática urbana, denominada IF. Dentro desta realidade tão complexa logo surgem diferenças em cada bairro, em cada via, em cada lugar se agregam elementos, compondo, por exemplo, conjuntos fortemente verticalizados e integrados em sistemas de Shoppings Centers, como o Anália Franco (Unidade IF2). Observar na foto 12, tomadas de helicóptero no dia 22-08-2000, a magnitude das torres dos prédios e a falta quase completa de áreas verdes. Esta unidade (IF2)se repete em vários outros lugares com o mesmo padrão de derivação e alteração antropogênica do clima. 46 Foto 12 - Unidade IF2 - Tatuapé (Anália Franco). Áreas de verticalização de alto padrão recentes (+/- 10:45 horas). Temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O residencial baixo ou intermediário da Mooca, Tatuapé (Unidade IF1) não mostra muita diferença do cemitérios da Vila Formosa, cuja magnitude e extensão areolar é compatível com sua identificação como uma unidade topo e microclimática bem definida (IF3). Foto 13 - Transição das Unidades IF3/IF1 - Cemitério da Vila Formosa. É uma área que se destaca na paisagem urbana pela vegetação , apesar de ser predominantemente baixa (10:30 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 28ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. 47 É interessante notar que o próprio cemitério reflete a redefinição das leis físicas pelas leis sócio-econômicas da reprodução do capital, ele se apresenta quase tão quente e “sem verde”, quanto as favelas e fábricas numa perversa contradição dialética entre o trabalho, o trabalhador e seu lucro, que nem depois da morte reflete em um canto com conforto térmico do verde. Um pouco triste, mas muito real. Foto 14 - Unidade IF1 - Radial Leste e linha Leste-Oeste do Metrô – próximo à Mooca. Note a imensa e contínua superfície cinza escuro formada pela radial leste, metrô e linha de trem (+/- 10:45 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 30ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O residencial baixo (intermediário) à medida que ultrapassa o vale do Aricanduva, vai progressivamente se tornando um pouco menos adensado, muito embora na Penha e imediações acompanhando a linha Leste do metrô existam fortes concentrações e vários “núcleos” intercalados de verticalização com verde praticamente inexistente (Unidade IF4). Este território urbano formado por esta mesounidade (IF) deve receber (em situações de ventos fracos de Noroeste e calmaria muito comuns em tipos de tempo préfrontais) grande quantidade de poluentes emitidos na Zona Central, bem como aqueles emitidos na área de tráfego pesado na Marginal Tietê. A Zona Norte ou Além Tietê se constitui climatologicamente em uma extensa faixa urbana com orientação Leste-Oeste. Alinhada estruturalmente pelo vale do Tietê, recebe permanentemente influências dos maciços serranos da Cantareira e do Jaraguá. Este extenso divisor de águas das bacias do Tietê – Juquerí (900 a 1.000 metros), e seu bloco de terras elevadas melhora a dispersão dos poluentes e altera os fluxos atmosféricos nos 48 transportes verticais e horizontais na proximidade do solo (camada limite planetária). A ocupação urbana, historicamente muito antiga (núcleos de Santana, Taipas, Pirituba) era pontual e acompanhava caminhos, vias, estradas de ferro (ingleses da ligação Santos Jundiaí) e mais recentemente tem muita influência do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, Fernão Dias e da própria linha Norte do metrô paulistano. Assim, esta franja entre o Tietê e a Cantareira-Jaraguá hoje é um grande universo urbano, que certamente já criou inúmeros núcleos e sub-núcleos de diversos “climas urbanos”. Os próprios nomes de alguns dos principais bairros da Zona Norte, tais como São Domingos, Jaraguá-Pirituba, Freguesia do Ó, Limão, Casa Verde, Santana, Vila Guilherme, Vila Maria, Tucuruvi, Jacanã, Tremembé, identifica lugares ontem (passado recente até a década de 19401960) associados às várzeas ou serras, hoje se identificam os nomes das pontes ou com a qualidade do ar dos bairros mais elevados, onde já se vende um clima com qualidade melhor. Existe aí também uma relativa homogeneidade de ser uma área com tendência à um predomínio de casas residenciais de até 2 pavimentos (residencial baixo ou intermediário) intercalados por áreas com centros comerciais e de verticalização muito intensa. Este conjunto (Unidade IG) foi estruturada em 6 sub-unidades, de acordo com as variações do uso do solo, em combinação com a distribuição do campo térmico identificada pelo satélite. A unidade IG1 está localizada na faixa de influência das Rodovias Bandeirantes e Anhanguera, embora ainda existam marcos urbanos da estrada velha de Campinas, bem como da estrada de ferro Santos-Jundiaí. Grosso modo abrange os bairros de São Domingos, Pirituba, Jaraguá e Freguesia do Ó. Esta posição à montante e à Noroeste do Rio Tietê, onde está o entroncamento das marginais Tietê e Pinheiros deve resultar em receber ventos carregados de poluentes, principalmente nas áreas topograficamente mais rebaixadas e planas. Nos contatos com os morros, colinas elevadas ou com as vertentes do Pico do Jaraguá, certamente deve ocorrer uma condição potencial melhor para dispersar os poluentes atmosféricos. A estação da Freguesia do Ó é a única que monitora a qualidade do ar, e mesmo assim só mede o material particulado, ficando muito difícil avaliar a situação real em relação às outras áreas e outros poluentes, como o O3, CO, HC, NOx, etc. Em termos de aquecimento da superfície por efeito da urbanização, esta unidade climática indica valores intermediários, ou seja, entre 29 a 31ºC (setembro) e entre 27 a 32ºC (abril). Uma das áreas verticalizadas (Unidade IG1a) de forma linear é aquela que 49 acompanha a rodovia Bandeirantes e cujo aquecimento da superfície é inferior ao seu entorno, entre 27 a 29ºC (setembro) e entre 27 a 30ºC (abril). A Segunda sub-unidade (IG2) dentro desta realidade urbana da Zona Norte da cidade de São Paulo é aquela que engloba os bairros do Limão, Casa Verde e parte de Santana. O limite setentrional desta unidade encosta na transição para o Parque Florestal, já no bairro do Mandaqui. A passagem desta unidade para a área com maiores declividades e maior impacto pluvial (já na unidade Climática Urbana Periférica ou da periferia da metrópole) da pré-Cantareira (altitudes acima de 800 metros) é marcada por profundas alteração no processo de ocupação e posse da terra urbana. Do residencial baixo ou intermediário (predominante na unidade IG2) passa-se ao predomínio das favelas ou casebres da autoconstrução, predominantes na Unidade IIB1a, tendo como exemplo mais marcante aquele existente na Vila Brasilândia. A verticalização é mais densa entre a Av. Caetano Alvarez até os limites com o Horto Florestal, já nas franjas mais instáveis e de ar mais puro da face Sul do maciço da Cantareira. No seu conjunto, entretanto, esta unidade (IG2) apresenta um predomínio das temperaturas entre 29 a 32ºC, tanto em setembro como em abril. O antigo núcleo de Santana encontra-se hoje fortemente verticalizado e com uma extensa área sob influência do metrô, o adensamento de pessoas, veículos e atividades é enorme, gerando um “núcleo” climático (Unidade IG3). Este núcleo possui no seu interior uma grande variedade de topoclimas, dependentes da altura da “canopy layer” e uma variedade ainda maior de microclimas em função do grau de confinamento dos ambientes e da cobertura superficial do solo. Está área verticalizada se mostra 1 a 2ºC menos aquecida que o seu entorno, podendo ser caracterizada como uma “ilha de frio”, ressalvada as condições de validade para o horário das 10:00 horas da manhã (horário aproximado de tomada da cena do Satélite LANDSAT 7). Entre os altos do Tucuruvi-Tremembé-Jacanã e os baixos terraços da Vila Guilherme e Vila Maria (já nos contatos com o Vale do Tietê) se estendem duas unidades climáticas urbanas a IG4 e a IG5. A principal diferenciação entre ambas parece ser o forte aquecimento do solo (29 a 33ºC) da Unidade IG4 (Vila Guilherme, Vila Maria) em relação à Unidade IG5 (Tucuruvi), onde as temperaturas oscilam entre 26 a 30ºC. As razões para estas diferenças são de natureza diversa. A primeira delas é que a Unidade IG4 é mais baixa e mais plana do que a IG5 (Tucuruvi). A segunda é que 50 enquanto os bairros da Vila Maria, Jacanã e Vila Guilherme são muito pouco arborizados e o do Tucuruvi possui uma razoável porcentagem de áreas verdes. Estes fatores aliados a uma verticalização mais espaçada e com maior rugosidade topoclimática também devem atenuar a absorção da radiação de ondas curtas provenientes diretamente do sol. É impressionante notar também que ao longo da rodovia Fernão Dias existe um cinturão de favelas margeando a rodovia. Estas unidades de ocupação deve receber de forma diferenciada os impactos climáticos, principalmente aqueles pertencentes à trama mais fina e excluída da sociedade, que são as pessoas idosas e as crianças. 6.2. As Unidades Climáticas Urbanas da Periferia (II) O processo de favelização, com amontoamento de casebres e seres humanos, quase sem as mínimas condições ambientais para a reprodução da vida foi o principal critério adotado para a delimitação destas unidades. Foto 15 - Unidades IIA5 - Mancha urbana de baixo padrão na Zona Leste (Cabeceiras do Aricanduva). Relevo mais dissecado (10:45 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 29ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. A observação da realidade através do sobrevôo feito de helicóptero no dia 22-082000 deixou claro a importância de como são os microclimas dos “casebres” da periferia urbana da metrópole. Ora parecem desertos, unidades climáticas extremas, ora rios de lama, sujeira e inundações, ora calor insuportável, ora frio demais, poluição, asma, 51 bronquite, pneumonia de milhões de seres humanos, trabalhadores, operários deste país. São estes os “climas urbanos”, ou seja, o calor extremo, evidente nas imagens de satélite, são substituídos por áreas termicamente mais “amenas” dos altos declives dos morros, ou pelo sombreamento dos fundos de vale. Mudam-se os lugares, mas os “riscos” climáticos contra a vida são os mesmos nos morros mais elevados. As temperaturas e o aquecimento e as amplitudes térmicas são menores, mas os impactos pluviais são mais elevados e mais intensos, aliados às altas declividades, bem como à fragilidade da estrutura superficial (solo-rocha-relevo e tipo de ocupação) da paisagem, os riscos se tornam permanentes de perdas de vida. As favelas e cortiços das várzeas e fundos de vale vão receber sazonal e rotineiramente, como se fizesse parte do cotidiano determinado pelo econômico, a inundação das casas e a proliferação de doenças daí advindas. Torna-se necessário compreender que mesmo as oscilações climáticas de pequena variabilidade (uma chuva habitual, uma onda de calor seguida por um tipo de tempo um pouco mais frio, etc.) são capazes de provocar danos à saúde ou às necessidades mínimas dos desempenhos do corpo e da mente para o trabalhar, estudar ou viver. O clima, assim encarado, mostra suas “faces sociais” perversas, mas muito reais para mais de 2.500.000 de favelados desta cidade, ou mais de 600.000 encortiçados desta metrópole tão rica na sua produção de riqueza econômica e monetária, e tão pobre ou miserável na sua dignidade humana e social. Portanto, os fenômenos climáticos devem ser redimensionados pelas práticas sociais e espaciais existentes em cada unidade climática, pois elas são representações da realidade urbana. Os efeitos e os danos provocados pelo clima (variabilidade, poluição, extremos, etc.) devem ser reavaliados em função de como cada classe social, ou cada segmento de uma classe (crianças, idosos, desnutridos) os recebem. A “causa mortis” muitas vezes é do sistema circulatório ou do coração, mas o agravamento vem de uma totalidade, onde certamente a poluição do ar, o calor extremo, a falta de ventilação ou insolação, as enchentes, ou a ansiedade provocada por estes fatores são controles tão ou mais importantes que a “causa mortis” em si mesma. Mesmo assim, nas últimas décadas, os estudos de saúde pública indicam a morte por problemas relacionados com doenças respiratórias como a segunda causa. A discriminação fica tão evidente que mesmo a rede de monitoramento da CETESB deixa este fato bem claro; só existe uma estação em funcionamento nesta macro-unidade Climática Periférica (Unidade II), ou seja, em São Miguel Paulista, e 52 mesmo assim, sua localização específica não é representativa da área dominada pela favelização. A Zona Leste (Unidade IIA) compreende de forma geral a maior área de extensão urbana periférica da cidade de São Paulo, bem como alguns de seus bairros, possuem densidades iguais ou superiores ao núcleo central (Unidade IA). A observação do uso do solo, tanto no campo, como na representação cartográfica 1:50.000 (SEMPLA, 2000) revela que a produção do espaço urbano na periferia segue a mesma lógica da unidade central. As diferenças ficam por conta do nível topo e microclimático. Quase não se percebe as transições climáticas no nível meso ou local. A magnitude e extensão do areolar residencial baixo pobre a muito pobre, com lajes à vista ou telhado cinza a quase preto é o homogêneo dominante. Pouco a muito pouco verde, e portanto, a distribuição do campo térmico mostra extensas áreas com valores muito elevados da temperatura da superfície, entre 29 a 32ºC em setembro e de 28 a 31ºC em abril. Localmente, nos vales e seus alinhamentos, bem como os espigões, promovem uma rugosidade maior na recepção do sol, criando ou faixas ou intercalações onde a topografia ou a presença de restos e capoeiras de vegetação abaixam a temperatura da superfície, conforme pode ser observado nos mapas 04 e 05. Nos bairros de São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo e Itaquera (Unidade IIA1). Dentro desta meso-unidade (IIA1) existem diferenças impostas pela orientação dos vales, como pela intensidade e o tipo de produção do espaço. Os “núcleos” de adensamento de atividades, tipo o centro comercial de São Miguel ou Itaquera, gera corredores de fluxo onde se misturam no trabalhar e no circular, pessoas, caminhões, criando áreas onde os ciclos do dia e da noite, pressupõe variações na qualidade do ar e na produção de calor antropogênico. Esta unidade (IIA1) pela proximidade com a zona industrial de Guarulhos e da própria Zona Leste tem apresentado elevados índices de poluição do ar, principalmente de material particulado e do ozônio. Neste imenso território urbano onde predominam o residencial baixo associado com favelas e autoconstrução, três outros usos diferenciados se destacam do ponto de vista da transformação climática de superfície. Os conjuntos habitacionais (Unidades IIA2), as áreas industriais (IIA4) e os Parques do Carmo (IIA7) e o Parque Ecológico do Tietê (IIA8). Os enormes conjuntos habitacionais (Unidades IIA2) encontram-se espalhados por várias unidades climáticas urbanas da Zona Leste. No entanto, sua identidade os qualifica como unidades topo e microclimáticas. As diferenças ficam por 53 conta do arranjo entre os blocos, quase não existe verde e nem espaços entre as torres edificadas. Foto 16 - Unidade IIA6 - Nascentes do Aricanduva (Zona Leste). Notar a dissecação do Relevo, são morros com declividades bastante fortes e o uso do solo é residencial de baixo padrão. Há alguns conjuntos habitacionais (10:50 horas). Temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. Cada conjunto habitacional é quase uma cidade, universo de vida em movimento, onde os climas, tanto internos (microclimas) como externos (do topo aos micro entre os blocos) são extremamente áridos, agressivos e, na maioria das vezes, insalubres. Se aquecem ou se resfriam rapidamente, são pouco ventilados ou só recebem ventos encanados (os piores são aqueles da face Sul/Sudeste que são muito frios, ou os de Noroeste, que são muito fortes e acompanham os temporais das ciclogêneses da frentes polares). Alguns blocos ou faces, não recebem sol nunca, são frios e úmidos, e outros são superaquecidos e recebem sol o dia todo. Assim, os melhores climas são aqueles dos bailes de axé, gera-samba, ou rap. Várias unidades menores (em área e densidade populacional) não puderam ser representadas em função da escala (1:50.000), no entanto, é bom não esquecer que se tratam de áreas com densidade populacional muito elevadas. 54 Foto 17 - Unidade IIA4 - Zona leste (Guaianazes). Note o padrão das edificações das fábricas. O telhado é de amianto, como nas casas dos pobres. A superfície pavimentada negra é grande e contínua como nos bairros pobres (10:55 horas). Temp solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa As áreas industriais da Zona Leste na sua maioria encontram-se espalhadas, principalmente aquelas mais modernas e de pequeno a médio porte; sua localização e identificação de possíveis efeitos na qualidade do ar é muito difícil, principalmente pela ausência total de estações de monitoramento. Dentro dos limites do Município de São Paulo, ou na divisa com Guarulhos, acompanhando a ligação Dutra – Ayrton Senna, existe muito próximo da várzea do Tietê e do Parque Ecológico extensas áreas industriais, como a Nitroquímica (São Miguel) e outras, cuja representação foi agrupada na unidade IIA4. Outras áreas industriais importantes (IIA4) são aquelas que margeiam ou penetram na Área de Proteção Ambiental do Carmo, entre os bairros de Itaquera, Cidade Líder, Guaianazes e São Mateus. As emissões eventuais destas plantas industriais 55 certamente serão transportadas para as áreas topograficamente mais baixas das colinas, terraços e várzeas do Tietê, do Aricanduva e Itaquera, onde moram e vivem centenas de milhares ou milhões de pessoas. Foto 18 - Unidades IIA5/IIA6 - Divisa de São Paulo com Mauá (Divisor no centro da foto). Note como o relevo é dissecado nesta parte do município. Ainda resta alguns fragmentos de vegetação arbórea, mas os loteamentos já avançam em direção aos morros cristalinos (10:55 horas). Temp. solo 28ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. Os parques Ecológico do Tietê (IIA8) e do Carmo (IIA7) são muito diferentes na sua natureza do espaço. Este tipo de percepção advém da própria localização (tanto topográfica, como em relação à urbanização-industrialização-circulação) de fundo de vale (Tietê) e de topos e cristas alongadas com declives altos (do Carmo). As variações térmicas são quase iguais, com diferenças entre 25 a 29ºC (setembro) a 23 a 29ºC (abril); no entanto, a cobertura mais extensa de florestas, aliadas à maior variabilidade topográfica do Parque do Carmo confere uma tipologia variada de topo e microclimas. Deve também, possuir, no seu cotidiano, uma condição muito superior de qualidade do ar, do que o Parque Ecológico do Tietê. A própria gênese geológica do Parque do Tietê confere características climáticas distintas: várzeas, alagadiços, lagoas, campos inundáveis, bosques de capões ou capoeiras de pequena extensão qualificam uma unidade topoclimática bem definida. Deve recebe rotineiramente uma grande influência dos fluxos de vento e ar poluído de Guarulhos, da Zona Leste, e do Centro (Unidade IA1) e da Marginal Tietê (Unidade IB2a). 56 O fato de estar localizado no fundo de vale lhe dá também um potencial menor para a dispersão horizontal e vertical dos poluentes atmosféricos, principalmente durante o período noturno. A unidade IIA6 (Guaianazes e parte do Itaim Paulista) localizada no extremo Leste do Município apresentam maior porcentagem de áreas verdes e maior influência da topografia com declividades elevadas das nascentes e espigões do alto curso do Rio Itaquera. Esta unidade indicou maior diferença na temperatura do solo entre a estação seca (em setembro no final do inverno) as temperaturas estavam entre 28 a 31ºC e no final da estação chuvosa (abril) era de 26 a 29ºC. O bairro de Cidade Líder, ainda na bacia do Aricanduva, possui em termos de uso do solo as mesmas características já apresentadas em quase toda a Zona Leste, ou seja, residencial baixo com grandes áreas de favelas e autoconstrução e poucas áreas verdes. Nestas condições, o fato mais agravante são as condições microclimáticas extremas dos ambientes internos das edificações; ou unidades topoclimáticas de alto declive com risco permanente de escorregamentos, ou topoclimas de fundos de vale, onde os riscos de enchentes e inundações são muito altos. Nesta unidade (IIA3) as temperaturas variam entre 28 a 32ºC (setembro) e entre 26º a 30ºC (abril). A altíssima densidade demográfica do Bairro de Sapopemba (de 20.000 a 25.000 hab/km2) indica uma identidade de unidade climática urbana (IIA5) com residencial baixo e favelas super adensadas. Este mesmo fato também se estende pelos Bairros de São Mateus e São Rafael, com pouco verde, muitos casebres baixos com lajes diretas ao sol, ou recobertos de amianto, o que pode ser pior ainda para o conforto térmico interno das edificações. 57 Foto 19 - Unidade IIA5/IIA6 - Bairro da Zona leste (Cabeceiras do Aricanduva). Loteamento de baixo padrão, sem ruas asfaltadas. Os telhados são de amianto e os lotes e as casas muito pequenas. O relevo é mais dissecado (10:45 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 29ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: Gustavo Armani. Foto 20 - Unidade IIA5 - Detalhe dos lotes (pequenos) na Zona Leste. Esses loteamentos são em geral próximos a córregos e as edificações são de classe baixa. Na maior parte das residências os telhados são de amianto. Muitas casas são construídas sobre canais de drenagem intermitentes (canais pluviais). Aí a dissecação do relevo é mais intensa e o risco de deslizamentos aumenta consideravelmente, principalmente em função das condições precárias de ocupação do solo. As ruas não são asfaltadas. As condições de conforto térmico não devem ser satisfatórias (telhados de amianto, volume de ar interno dentro das edificações é pequeno) e soma-se a isso as condições de subnutrição que vivem as pessoas que aí residem (10:45 horas). Temp. solo 32ºC (set) e 29ºC (abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. 58 A Unidade Climática Urbana Periférica da Zona Norte (Unidade IIB) envolve diretamente o contato com a área ocupada pelos Parques da Cantareira (IIB4), Jaraguá (IIB5) e Anhanguera (IIB6). Este aspecto, aliado ao tipo de ocupação do solo existente definiu um conjunto de seis sub-unidades (IIB1 a IIB6), sendo que a sub-unidade IIB1 foi novamente compartimentada em IIB1a, IIB1b e IIB1c. As áreas críticas do ponto de vista climático são aquelas, onde além do péssimo conforto térmico do ambiente interno, se alia o risco de deslizamento por impactos de chuva concentrados, principalmente na primavera-verão e, eventualmente, até no outono. Os morros, altos espigões e cristas dos bairros Vila Brasilândia e Nova Cachoeirinha são assustadores na sua beleza cênica do entardecer de luzes e vida agitada, mas devem ser muito piores em dias e dias de chuva forte de verão, quando os morros e as casas quase despencam; ou nos tipos de tempo frios de chuva fina e gelada de outono-inverno. Descobre-se rapidamente que a beleza do urbano pobre no morro tem seu lado triste e muitas vezes “trágico”. A maior intensidade da ocupação e a menor presença de verde forneceu os critérios para separar as unidades IIB1a (Vila Brasilândia – Nova Cachoeirinha) da Unidade IIB1b (Jaraguá – Perus), onde ao longo da Rodovia Anhanguera a urbanização é mais dispersa; a presença do verde é de média a alta porcentagem, este fato evidenciado na própria distribuição das temperaturas que são menores e oscilam entre 25 a 31ºC, tanto em setembro quanto em abril. Neste território as áreas com melhor qualidade do ar devem estar nos morros mais elevados e bem ventilados, a rugosidade e a maior altitude devem forçar o levantamento da coluna de ar, favorecendo os processos de instabilidade e aumentando a altura da camada de mistura. Nestas áreas próximas, ou entre a Rodovia Anhanguera existem zonas industriais que foram agrupadas na Unidade IIB1c (Mapa 06). A passagem do divisor da bacia do Tietê com a do Rio Juquerí faz com que existam espaços climáticos urbanos no reverso desta zona cristalina. Este espaço abarca a região de Perus (Unidade IIB2) e a do Parque Anhanguera (Unidade IIB6). A densidade populacional é menor, as áreas verdes são de porcentagens grandes à dominantes e as temperaturas da superfície reflete este fato, caindo, nestas áreas com vegetação, para valores entre 25 a 27ºC (setembro e abril). Na região do Bairro do Alto Tremembé (entre a Fernão Dias e o Parque da Cantareira) existe uma área urbana com declividades de media a alta e com grande porcentagem de áreas verdes (Unidade IIB3). O maior problema climatológico destas 59 unidades próximas da Serra da Cantareira é o risco climático de desmoronamento e deslizamento em decorrência dos fortes impactos pluviais concentrados. Foto 21 – Unidade IIB4 – Parque/Serra da Cantareira (ao fundo). Essas áreas já está sendo ocupadas pela urbanização (11:00 horas). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. O Parque da Cantareira (Unidade IIB4) tem uma situação de clima local muito privilegiada em função de estar nas altitudes mais elevadas (acima de 850 metros). Este fato, aliado à presença da Mata Tropical dá origem a uma variedade relativamente preservada de micro e topoclimas em ambiente tropical urbano. No entanto, é evidente que os efeitos da forte urbanização e industrialização devem provocar danos à flora e à fauna do parque, principalmente através da poluição atmosférica; o Parque do Jaraguá (Unidade IIB5) alcança uma altitude máxima de 1160 metros no sentido Noroeste da cidade, entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Dentro deste parque existe também uma grande variedade de micro e topoclimas, e com um mirante cuja vista da metrópole é muito bonita. As altitudes elevadas e as fortes declividades das vertentes destas cristas quartzíticas devem lhe garantir uma ótima qualidade do ar. As temperaturas da superfície oscilam entre 23 a 30º (setembro) e entre 23 a 28ºC (abril). No extremo Oeste do Município, nos limites com Osasco e Taboão da Serra, acompanhando o eixo da Rodovia Raposo Tavares, se configura uma outra unidade climática (IIC) onde predomina o residencial baixo com favelas e abrange os bairros do Rio Pequeno e Jaguaré. Utilizando-se dos dados da estação de monitoramento do 60 Taboão da Serra, percebe-se que o valor médio de material particulado (inalável) para o ano de 1999 foi 55µg/m3, ultrapassando o padrão primário que é de 50µg/m3. Os valores de SO2, O3 e CO se mantiveram abaixo do valor recomendado como padrão primário pela EPA. O aquecimento da superfície em setembro varia entre 28 a 31ºC e, em abril, de 27 a 31ºC. Em torno da Rodovia Raposo Tavares existem duas áreas com uso industrial e comercial predominante, tendo sido identificadas como sub-unidades (IIC2), no entanto, estas áreas, por possuírem áreas verdes consideráveis não chegaram a mostrar alterações no padrão do campo térmico. A bacia do médio e alto curso do Rio Pinheiros e os bairros entre as represas de Guarapiranga e Billings constituem unidades climáticas urbanas com alto risco de impactos e danos de grande intensidade (Unidades Climáticas IID e IIE). Foto 22 - Unidade IIE3 - Represa Guarapiranga (Ilha da Formiga) – orientação da foto Oeste. Notar como a represa está seca. Toda esta praia que aparece na parte de baixo da foto era coberta por água (11:10 horas) – Temp. da água 19,6ºC. Temp. solo 30ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa Dentro destas unidades a principal variação diz respeito ao nível microclimático. Os padrões de habitação muito pobres com infra-estrutura urbana muito precária ou inexistente, transforma as imensas favelas ou autoconstrução em ambientes climáticos onde as variações da temperatura e umidade são muito altas. As temperaturas inferidas pela imagem termal do satélite mostra inúmeras áreas, onde os telhados ultrapassam 31º às 10:00 horas da manhã. Além desta fato, as áreas com topoclimas onde os morros 61 apresentam declividades elevadas são grandes, os riscos de desmoronamento e deslizamento quando da ocorrência de chuvas contínuas e fortes na primavera-verão. A unidade IID, abrangendo principalmente os Bairros do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luís e Jardim Ângela envolve uma realidade urbana muito fragmentada. Nota-se, além das favelas, um número muito grande de verticalização de baixo padrão (tipo Cohab), cuja representação cartográfica não foi possível. Este padrão de habitação deve apresentar também problemas com relação ao adensamento dos blocos e consequentemente falta de ventilação e insolação. Nesta unidade Climática (IID) existem áreas próximas da Represa de Guarapiranga, onde o tipo ocupação de médio a alto padrão passa a caracterizar um bairro verde como aquele da Unidade IID3. Nesta área a temperatura de superfície cai para valores entre 26 a 29ºC (setembro) e entre 23 a 29ºC (abril). No Jardim Ângela o alto padrão (Bairro Verde) já aparece mais misturado e fragmentado, mas a porcentagem de áreas verdes é grande, o que reduz o aquecimento da superfície do solo. Não existe nenhuma estação de monitoramento da qualidade do ar que pudesse ser representativa deste padrão de ocupação nesta área Oeste da Represa de Guarapiranga. Do Parque do Estado para Sul, abrangendo os bairros de Cidade Ademar, Campo Grande, Capela do Socorro, Pedreira e Cidade Dutra está situada a Unidade Climática onde a urbanização contínua mais avança para Sul, entre as represas de Guarapiranga e da Billings. De acordo com a intensidade e densidade das edificações, bem como a maior ou menor porcentagem de verde ocorrem variações no campo térmico. Assim sendo, a Unidade IIE1 tem uma pequena densidade de verde e, neste caso, as temperaturas em manchas isoladas caem para valores de até 27ºC, tanto em setembro como em abril. A grande variabilidade na ocupação do residencial baixo com favelas, bem como a grande fragmentação da verticalização de baixo padrão dificultou sobremaneira a delimitação das sub-unidades. Os dados de material particulado da estação de Santo Amaro (Unidade IB4) mostra uma média de 44µg/m3, portanto, dentro do padrão primário. A unidade IIE3 (Capela do Socorro, Cidade Dutra e parte do bairro Pedreira) mostra um padrão muito variado de ocupação, em alguns trechos próximos da Represa Guarapiranga e Billings, se alternam padrões de uso do solo de nível médio, com maior presença de verde. 62 Foto 23 - Unidade IIE5 - Bairro de Santo Amaro. Ao fundo Represa Billings. Uso do solo predominantemente residencial horizontal (11:15 horas). Temp. solo 29ºC (set/abr). Data: 22/08/2000. Foto: J. R. Tarifa. Outro aspecto interessante é que estes bairros muito próximos às Represas devem sofrer uma freqüência maior de nevoeiros e névoas úmidas noturnas e matinais. A Unidade IIE5, onde se destaca o bairro do Grajaú já apresenta uma nítida transição para a área rural ou não urbano (Unidade climática III). No entanto, a freqüência de favelas com alta densidade populacional mantém o mesmo tipo de risco climático associado aos impactos pluviais. Nesta unidade (IIE5) ainda se concentra, em determinados sítios, uma verticalização de baixo padrão, com dimensões suficientes para serem representadas na escala 1:50.000 (Unidade IIE4). 6.3. A Unidade Climática do Urbano Fragmentado (III) O espaço ocupado por esta unidade (III) mostra uma transição para o rural. As áreas onde temos núcleos mais adensados de urbanização foram delimitadas como sendo uma sub-unidade (IIIA). Trata-se da faixa que acompanha as ligações rodoviárias (estrada de Parelheiros) e ferroviárias (CPTM) com Parelheiros e Capela do Socorro. Nesta meso-unidade climática (IIIA e IIIB) a preocupação maior é com a possibilidade de expansão ainda maior da mancha urbana. À medida que vamos para o extremo sul do Município, os totais pluviais se tornam cada vez mais elevados (tanto na média, quanto nos máximos em 24 horas). Este fato exige uma infra-estrutura urbana adequada para 63 suportar o escoamento das águas no solo, e reduzir os riscos de desmoronamentos, deslizamentos e enchentes. As diferenças térmicas constatadas através das imagens de satélite demonstram uma variação entre 25 a 29ºC (setembro) e entre 23 a 28ºC (abril) dentro desta unidade. É interessante notar que nestas áreas de núcleos isolados de urbanização, a variação térmica dentro de uma mesma altitude, a máxima diferença observada em função do tipo de cobertura do solo é de 2 a 3ºC. 6.4. A Unidade Climática não Urbana (IV) Esta unidade climática ocupa a mesma área da Unidade Climática Natural V (Clima Local Oceânico Súper-úmido ocupação nesta da Fachada Oriental do Planalto Atlântico). Como a área é praticamente inexistente, as propriedades climáticas desta unidade estão descritas no item As Unidades Naturais, referente a este clima local (V). 7. Considerações Finais O Estudo do Clima Urbano do Município de São Paulo está apenas na sua fase inicial. Aprofundamentos e cruzamentos com outras áreas do conhecimento físico, biológico, social e econômico da metrópole são necessários. Espera-se tornar ainda mais útil o saber produzido em parceria entre o Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia da USP e as Secretarias do Verde e do Meio Ambiente e de Planejamento da Prefeitura do Município de São Paulo. O apoio institucional e financeiro ao projeto ATLAS AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Fase I: “Diagnósticos e Bases para a Definição de Políticas Públicas para as Áreas Verdes no Município de São Paulo”, pela FAPESP, nos parece sinalizar claramente a relevância de tais pesquisas e suas possíveis aplicações na melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. Principalmente aqueles excluídos (favelas, cortiços, crianças, idosos, desabrigados, moradores de rua, desempregados), cuja proteção micro e topoclimática não existe. Eles estão, portanto, submetidos à enormes perdas (de vida, de recursos, de saúde e de emprego) pelas menores e mais freqüentes oscilações temporais do clima e do tempo meteorológico. Suas casas (quando a possuem!!) ameaçam cair ou serem soterradas ou inundadas. 64 Por outro lado, a poluição veicular e industrial assume extensões e dimensões cada vez mais amplas no espaço metropolitano, atingindo de forma séria e grave, provocando doenças respiratórias ou agravando sobremaneira as doenças cardiovasculares. Novamente exige-se uma solução estrutural, onde a questão dos transportes urbanos e a política da produção e comercialização de veículos imposto pelo lobby das montadoras precisa ser urgentemente modificado. A poluição do ar também mostra seu caráter social, as doenças por ela provocadas tem a intensidade dos danos físicos e biológicos em cada ser humano, redefinidos pelo seu poder aquisitivo. Soma-se aí, com “naturalidade” revoltante, a fome, o microclima úmido e pouco ventilado dos cortiços, o “forno” que as favelas se transformam nos horários de máximo aquecimento, a falta do verde, a leptospirose que acompanha as enchentes; enfim, estes são os climas de uma das metrópoles mais “ricas” economicamente do mundo capitalista, que precisamos entender e reverter para uma vida a ser vivida com dignidade humana. 8. Bibliografia AB’SÁBER, Aziz (1958) O sítio urbano de São Paulo. In: A Cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. Org. Aroldo de Azevedo, Vol. I. AGB São Paulo. Companhia Editora Nacional, São Paulo. ALTERTHUM, M. & WANDALSEN, N. F. (1973) Influência de fatores meteorológicos e de alguns poluentes sobre a ocorrência de crises de asma brônquica em crianças de Santo André. XVIII Congresso Brasileiro de Pediatria, Salvador, 1973 e XIII Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, Porto Alegre, 1973. CETESB (1999) Qualidade do ar no Estado de São Paulo. Secretaria de Estado do Meio Ambiente – CETESB, Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental, São Paulo. FERNÍCOLA, N. A. G. G. & RONCHINI, E. L. (1979) Avaliação do grau de exposição de amostras populacionais de São Paulo (Brasil) ao monóxido de carbono. Rev. De Saúde Pública, São Paulo, 13:151-158. FERNÍCOLA, N. A. G. G. & AZEVEDO, F. de H. (1980) Valores de fluoruro en orina de residentes, en las adyacencias de una industria (SP-Brasil). V Congresso Internacional del Aire Puro, Buenos Aires. FERNÍCOLA, N. A. G. G. & AZEVEDO, F. A. (1981) Níveis de chumbo e atividade da desitdatase do ácido AMINOLEVULINICO (ACAD) no sangue da população da Grande São Paulo. Rev. de Saúde Pública, São Paulo, 15:272-282. 65 FRANÇA, Ary (1958) O quadro climato-botânico. In: A Cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. Org. Aroldo de Azevedo, Vol. I. AGB São Paulo. Companhia Editora Nacional, São Paulo. LOMBARDO, M. A.; CAMARA, G.; PEREIRA, E.; TARIFA, J. R. (1982) Use of infrared images in the delimitation os São Paulo’s heat island. Trabalho apresentado no 4º Simpósio Internacional de Sensoriamento Remoto, Buenos Aires. MENDES, R. & WAKAMATSU, C. G. T. (1976) Avaliação dos efeitos agudos da poluição do ar sobre a saúde, através do estudo da morbidade diária em São Caetano do Sul. Junho de 1976. MONTEIRO, C. A. de F. (1980) Environmental problems in São Paulo Metropolitan Area: the role of urban climate with special focus on flooding. IGU-24 th 1.6. Congress Japan, September, 1980. MORAES, A. C. R.; COSTA, W. M. & TARIFA, J. R. (1977) Tipos de tempo e balanço de energia na Cidade de São Paulo. Instituto de Geografia - USP, Climatologia 8, 48 p. São Paulo. ORSINI, C. M. Q. & BOERES, L. C. S. 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Boletim Paulista de Geografia nº 52. 101 a 119p. TARIFA, J. R. & MELLO, M. H. de A. (1984) Mudanças climáticas no Brasil. Trabalho apresentado no 3º Congresso de Agrometeorologia, Campinas. Julho de 1983. Campinas, Sociedade Brasileira de Agrometeorologia. 66 TARIFA, J. R. (1985) Clima: elementos naturais. In: Qualidade Ambiental. SEMPLA, Série Documentos. Prefeitura do Município de São Paulo. TARIFA, J. R. (1985) Qualidade do ar. In: Qualidade Ambiental. SEMPLA, Série Documentos. Prefeitura do Município de São Paulo. TARIFA, J. R. (1991) Qualidade do ar no Município de São Paulo. Trabalho composto por 11 mapas na escala 1:50.000 par a Prefeitura do Município de São Paulo. WALDALSEN, N. F.; ALTERTHUM, M. & AGOSTINHO, J. (1975) Influência dos fatores meteorológicos e de alguns poluentes sobre a ocorrência de crises de asma de crianças, em Santo André nos anos de 1973 e 1974. XX Congresso Brasileiro de Pediatria, São Paulo, 1975. 67 ANEXOS Mapa 01 – As Unidades Climáticas Naturais (Representação Esquemática). Elaboração: Prof. Dr. José Roberto Tarifa & Gustavo Armani Laboratório de Climatologia / FFLCH / USP. Primavera de 2000. 68 Mapa 02 – Uso do Solo Predominante por Quadra Fiscal (seg. a área construída) (Representação Esquemática). Fonte: Base de dados: TPCL/1999 Secr. Municipal de Finanças - SF/PMSP Mapeamento: SEMPLA/PMSP. 69 Mapa 03 – Distribuição Espacial das Áreas Verdes na Cidade de São Paulo (Representação Esquemática). Fonte: Satélite LANDSAT 7 – Cena 03/09/2000 (10:00 horas aprox.). Processamento: Prof. Dr. Teodoro Isnard Ribeiro de Almeida. 70 Mapa 04 – Distribuição Espacial da Temperatura do Solo Inferida pelo Satélite Landsat 7 em 03/09/1999 (final da estação seca) (Representação Esquemática). Fonte: Satélite LANDSAT 7 – Cena 03/09/1999 (10:00 aprox.). Processamento: Secret. Munic. do Verde e do Meio Ambiente - ATLAS / SVMA / PMSP. 71 Mapa 05 – Distribuição Espacial da Temperatura do Solo Inferida pelo Satélite Landsat 7 em 30/04/2000 (final da estação chuvosa) (Representação Esquemática). Fonte: Satélite LANDSAT 7 – Cena 30/04/2000 (10:00 aprox.). Processamento: Secret. Munic. do Verde e do Meio Ambiente - ATLAS / SVMA / PMSP. 72 Mapa 06 – Distribuição Espacial das Favelas no Município de São Paulo (Representação Esquemática). Fonte: Secr. Munic. da Habitação - SEHAB/HABI Mapeamento: SEMPLA/SVMA. 73 Mapa 07 – As Unidades Climáticas Urbanas (Representação Esquemática). Elaboração: Prof. Dr. José Roberto Tarifa & Gustavo Armani Laboratório de Climatologia / FFLCH / USP. Primavera de 2000. 74