PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Escola de Enfermagem – Coração Eucarístico TEXTO BÁSICO PARA SUBSIDIAR TRABALHOS EDUCATIVOS NA SEMANA DE COMBATE À DENGUE1 A Dengue A dengue é uma doença infecciosa de origem viral, febril, aguda, que apesar de não ter medicamento específico exige atenção especial dos profissionais de saúde e esforços conjuntos das várias esferas de governo, da mídia e participação da população nas ações de prevenção e no controle social sobre o Estado. Trata-se de uma arbovirose transmitida por mosquitos do gênero Aedes, especialmente pelo Aedes aegypti. Existem quatro tipos vírus dengue, DEN1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. É hoje um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que três bilhões de pessoas encontram-se em área de risco para contrair dengue no mundo e que, anualmente, ocorram 50 milhões de infecções, com 500.000 casos de Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e 21.000 óbitos, principalmente em crianças. Nos últimos 20 anos a doença vem se espalhando em todos os continentes exceto na Europa. No Brasil existem relatos de duas epidemias no século 19, mas foi a partir de 1982, após a epidemia de Boa Vista (RR), que o número de casos tem aumentado vêm ocorrendo epidemias nos principais centros urbanos do país, com cerca de 3 milhões de casos. Temse observado também um aumento na severidade dos casos. No período de 1990 a 2006, foram registrados 6.272 casos de FHD, principalmente em adultos com a ocorrência de 386 óbitos (Brasil, 2008). É uma doença essencialmente urbana e seu controle apresenta-se como um desafio à sociedade. A variedade de aspectos clínicos da doença, a falta de terapêutica específica para o agente etiológico, as várias causas envolvidas no desenvolvimento de formas graves da doença, os aspectos ligados a grande capacidade de adaptação e disseminação do vetor (Aedes aegypti) são alguns dos aspectos considerados críticos no controle da doença, o que, portanto, exige integração de esforços, continuidade de ações e mudança de comportamento da população em relação ao meio ambiente. 1 Elaborado por Profa. Juliana Carvalho Araújo Leite, enfermeira, professora de Saúde Coletiva Doenças Transmissíveis no curso de Enfermagem da PUC/COREU PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Escola de Enfermagem – Coração Eucarístico Como identificar um caso suspeito? Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica (Brasil, 2006) um caso suspeito é aquele que apresenta febre há menos de 7 dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaléia (dor de cabeça), mialgia (dor nos músculos), dor retro-orbitária (dor atrás dos olhos), artralgia (dor nas articulações), prostração (abatimento, enfraquecimento), exantema (erupção puntiforme na pele). Quando o paciente deve procurar a unidade de saúde? Identificar rapidamente a doença é vital para diminuir a letalidade pelas formas graves. Não se deve esperar confirmação laboratorial para iniciar as medidas terapêuticas, nem para fazer a notificação á vigilância epidemiológica. Assim, suspeitando de dengue o paciente deve procurar a unidade básica de saúde mais próxima de casa quando será avaliado por enfermeiro ou médico e receberá as orientações necessárias. Quando deverá ser feita a prova do laço? Sempre que houver suspeita de dengue. A prova do laço é um teste simples, realizado em qualquer unidade de saúde com o esfingnomanômetro (aparelho de pressão) e que indica quando a permeabilidade capilar está alterada, ou seja, quando há maior risco de sangramento. Os pacientes com prova do laço positiva devem ser encaminhados para exames de sangue (hematócrito e plaquetas), isolamento viral ou sorologia. Quais são os sinais de alerta? Dor abdominal intensa, vômitos persistentes, hepatomegalia dolorosa, hipotensão arterial, PA convergente, taquicardia, cianose. A Epidemia Quando um sorotipo viral é introduzido em uma localidade, cuja população encontra-se susceptível ao mesmo, há a possibilidade de ocorrências de epidemias. Entretanto, para que isso ocorra, é necessária à existência do mosquito vetor em altos índices de infestação predial e de condições ambientais que permitam o contacto do vetor com aquela população. Em situações de surto e epidemias, como a vivida no momento em alguns estados brasileiros, torna-se prioritária a assistência adequada e oportuna, seja para o diagnóstico precoce, para o reconhecimento de sinais e PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Escola de Enfermagem – Coração Eucarístico sintomas, para o tratamento sintomático e para o acompanhamento dos casos que possuam evoluir para situações de maior gravidade (FHD). Não existe medicamento especifico para interromper a multiplicação do vírus ou para impedir o desencadeamento dos mecanismos fisiopatológicos que levam ao choque e às grandes hemorragias. Entretanto, é imprescindível que os serviços de saúde adotem medidas para classificar o paciente de acordo com seus sintomas e a fase da doença, assim como reconhecer precocemente os sinais de alerta, iniciando a tempo o tratamento adequado. Para tal existem Protocolos Clínicos e Fluxogramas Operacionais que orientam o manejo da doença pelos profissionais dos serviços básicos, das unidades de pronto atendimento, dos serviços laboratoriais, assim como o acompanhamento da situação pelas gerencias de epidemiologia. Os protocolos da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte estão disponíveis no endereço eletrônico http://www.pbh.gov.br/smsa/bhdengue . Todo caso de dengue precisará de internação? Na maior parte dos casos de dengue necessitamos de serviços de saúde organizados e atuantes, com profissionais devidamente preparados, recursos mínimos para promover a hidratação oral e venosa, comunicação eficiente, reavaliação dos retornos, etc. Eventualmente, nas formas mais graves poderá ser necessário o uso de recursos mais especializados. Qual é o papel das unidades básicas de saúde nas epidemias de dengue? As unidades de saúde além de desenvolver o trabalho de controle do vetor para evitar transmissão da infecção devem prestar assistência no tratamento sintomático aos pacientes com dengue clássica, orientar os pacientes e seus familiares sobre a importância da hidratação oral, sobre os medicamentos proibidos e, principalmente, sobre os sinais de alerta/alarme indicativos do agravamento da doença. Além disso, o acompanhamento diário e freqüente que permitirá identificar precocemente os casos que poderão evoluir para as formas graves, uma vez que normalmente ocorrem no início do desaparecimento da febre. Cuidados importantes para os profissionais de saúde nas épocas de epidemias de dengue: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Escola de Enfermagem – Coração Eucarístico • • • • • • • As formas graves podem acontecer em pessoas de qualquer classe social. Os profissionais dos serviços privados de saúde também precisam estar alerta e capacitados para a identificação e manejo da dengue. As complicações ocorrem no período de desaparecimento da febre (normalmente em torno do quinto dia da doença). Normalmente, durante a queda da febre ou pouco depois, pode ser constatada a hemoconcentração, com o surgimento dos derrames cavitários resultantes do extravasamento plasmático, com graves conseqüências clínicas. Posteriormente podem aparecer hipotensão arterial, baixo débito cardíaco, taquicardia, pulso fino e rápido, cianose periférica e choque. A identificação dos sinais de alerta é importante para colocar em observação clínica aqueles pacientes com maior risco de desenvolver formas graves. Para tanto, é necessária a realização da prova do laço em todos os pacientes com suspeita de dengue, a orientação sobre os sinais de alerta, o agendamento de retornos para acompanhamento no período pós febre e o encaminhamento para exames de dosagens de plaquetas e hemossedimentação, daqueles que apresentarem prova do laço positiva. Qualquer paciente com dengue pode ter complicações. No início da doença não é possível saber se o paciente evoluirá para dengue hemorrágica. Quando o paciente apresenta além da febre, sangramento espontâneo, trombocitopenia (plaquetas < 100.000/mm3) e hemoconcentraçào ou qualquer outro sinal de extravasamento plasmático caracteriza-se como febre hemorrágica da dengue (FHD/SCD), segunda a OMS. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda aos profissionais de saúde que ao identificar qualquer sinal de alerta devem iniciar a reposição de líquidos precocemente com o objetivo de encaminhar o paciente às unidades de saúde de maior complexidade. Acreditar que a primo-infecção por dengue será sempre benigna e que, qualquer infecção secundária evoluirá com gravidade é erro grave na abordagem do paciente com dengue. A febre hemorrágica da dengue e a síndrome do choque por dengue têm sido relatadas em casos de infecção primária. A ocorrência da dengue hemorrágica está relacionada com vários fatores e existem várias teorias para explicar a evolução para formas hemorrágicas. A presença de anticorpos heterólogos (adquiridos em infecção anterior ou pela placenta), co-existência de doenças crônicas como diabetes mellitus, asma brônquica, PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Escola de Enfermagem – Coração Eucarístico hipertensão arterial, idade inferior a 15 anos, resposta individual do hospedeiro, podem ser determinantes. Além disso, sabe-se que a densidade elevada do vetor, a população susceptível, a virulência da cepa e o próprio sorotipo, a infecção seqüencial, sobretudo quando a segunda infecção ocorre até cinco anos após a primeira, seqüência dos vírus infectantes (DEN-1 seguido pelo DEN-2) e circulação dos vírus em grande intensidade são descritos como fatores epidemiológicos de risco para a ocorrência das formas graves da dengue (FHD/SCD). Referências Bibliográficas: BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/kitdengue2/bibliografia.html (Acesso em 7 de abril de 2008). BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. Secretaria de Vigilância em Saúde. 6 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p.221-243. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Guia_Vig_Epid_novo2.pdf. (Acesso em 7 de abril de 2008). BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Saúde. Dengue. http://www.pbh.gov.br/smsa/bhdengue/ (Acesso em 7 de abril de 2008). TAUIL, P.L. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(3):867-871, mai-jun,2002.