Acesse a publicação em www.saberviver.org.br Uma publicação da Saber Viver Comunicação para profissionais envolvidos na distribuição de anti-retroviais | Ano 1 | Março/Abril de 2005 Malabarismo na distribuição de anti-retrovirais Farmacêuticos se esforçam para assegurar anti-retrovirais para todos os portadores do HIV PASSANDO A LIMPO Medicamentos que comprometem a eficácia dos anti-retrovirais 2 atender seus pacientes, o quadro agora é melhor do que no começo do ano. Mas ainda é cedo para afirmar que tudo está 100% resolvido. sa a ingerir 8. Quando somamos esses comprimidos com os outros remédios que o portador do HIV usa, pode-se chegar a um esquema de mais de 20 pílulas por dia. Isso tem sérias conseqüências na adesão”. Combinação zidovudina + lamivudina ainda é problema Segundo Élcio Gagizi, coordenador do núcleo de controle logístico de medicamentos do Programa Municipal DST/Aids de São Paulo, os estoques estão sendo normalizados. “A situação dos anti-retrovirais na cidade não está ruim, mas também não posso afirmar que esteja regularizada”, comenta Gagizi. “O problema é que o meu estoque de segurança é suficiente para um mês e meio, no máximo”. Por isso, o Programa continua orientando as unidades dispensadoras a fracionar algumas drogas e desaconselhando o atazanavir 150 mg para novos tratamentos. No Rio, onde o problema não foi tão grave quanto em São Paulo, o único antiretroviral em falta é a combinação zidovudina + lamivudina, que está sendo distribuída em comprimidos separados. Este fato é preocupante, segundo Sérgio Aquino, responsável pela logística de medicamentos do Programa Municipal de DST/ Aids do Rio de Janeiro: “Dessa forma, o paciente que tomava dois comprimidos por dia dessa medicação pas- EM DESTAQUE Equipe de farmácia enfrenta crise de desabastecimento 3 Foto: Tatiana Vieira O desabastecimento dos anti-retrovirais zidovudina, indinavir, atazanavir, tenofovir e da combinação zidovudina + lamivudina (Biovir), ocorrido no início deste ano, gerou uma crise na saúde. Diversos serviços de Aids do Brasil tiveram problemas para atender a demanda dos pacientes. Em Sapopemba, região leste de São Paulo, o SAEBetinho, responsável pela assistência de mais de 800 portadores de HIV/Aids, interrompeu o tratamento de 30 soropositivos devido à falta do atazanavir. Muitas versões para o fato foram apresentadas pelo Ministério da Saúde. Desde a carência de matéria-prima para a fabricação de remédios até a falta de dinheiro para a compra dos medicamentos protegidos por patentes. De acordo com os farmacêuticos responsáveis pelo controle logístico dos antiretrovirais de São Paulo e Rio de Janeiro, que nos últimos meses tiveram que fracionar os medicamentos para conseguir Quadro com instruções para o fracionamento de anti-retrovirais na farmácia do Centro de Treinamento e Referência em DST/Aids (CRT), São Paulo. Sistema de informação eficaz pode ser a solução Os dois responsáveis pela distribuição de anti-retrovirais acreditam que a solução do problema pode estar em um sistema de informação que funcione. O Sistema de Controle Logístico de Medicamentos – Siclom – foi criado com essa finalidade, mas ainda tem muitos problemas (veja detalhes sobre o Siclom na pág 2). A atualização da demanda real de consumo dos anti-retrovirais pelas farmácias também é importante. “O Ministério da Saúde precisa saber a quantidade exata de medicamentos usados em cada unidade de saúde”, assinala Aquino. O Rio de Janeiro já começou um trabalho de revisão de recadastramento. COMPROMISSO Estudo comprova que atenção farmacêutica reduz atendimentos de emergência 4 PASSANDO A LIMPO Associações perigosas Medicamentos que comprometem a eficácia dos anti-retrovirais não devem ser utilizados por pessoas em tratamento contra a Aids A combinação entre os antiretrovirais e drogas para outras patologias deve ser realizada com muita cautela, afirmam especialistas. Isso porque a interação medicamentosa entre alguns anti-retrovirais e outros remédios pode diminuir em até 70% a absorção dos medicamentos anti-aids no organismo. De acordo com o infectologista José Valdez Madruga, responsável pela área de pesquisa clínica de novos medicamentos do Programa Estadual de DST/ Aids de São Paulo, é preciso tomar cuidado com o uso concomitante de certos anti-retrovirais e determinadas drogas para enxaqueca, tuberculose, gastrite, alergia, colesterol, convulsão, entre outras. Anti-retrovirais interagem com muitas outras drogas Freqüentemente, os médicos receitam medicamentos para amenizar o desconforto causado pelos efeitos colaterais dos anti-retrovirais. No entanto, alguns remédios, como, por exemplo, os que são usados contra gastrite e úlcera, que são inibidores da bomba de prótons, não podem ser associadas aos inibidores de protease. “O atazanavir não pode ser combinado com esses medicamentos”, ensina o médico. Alguns medicamentos que não podem ser administrados com os inibidores da protease, pois diminuem a potência dessa classe de anti-retrovirais. Para evitar essas complicações, José Valdez recomenda aos farmacêuticos que consultem sempre as tabelas do Comitê Assessor para Terapia Antiretroviral de Adultos e Adolescentes, também conhecido como Consenso Brasileiro de Aids, o Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) e as bulas dos remédios. “Esses profissionais precisam estar preparados para orientar os portadores do HIV”, adverte o infectologista do Programa Estadual de DST/AIDS. Esper Kallás, infectologista da escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, considera o assunto tão complexo que apelidou a interação medicamentosa de medicina dos detalhes: “Os anti-retrovirais interagem, muito freqüentemente, com uma quantidade enorme de outras drogas”, afirma Kallás. Rifampicina, remédio usado para combater a tuberculose. Anticoncepcionais orais à base de estrógeno. As mulheres em tratamento com essa classe de anti-retrovirais devem usar as pílulas à base de progesterona. Remédios para dormir a base de midazolan, como o Dormonid, também devem ser evitados. Informações: Gabriela Waghabi, infectologista. + SAIBA Sobre as recomendações do Consenso Brasileiro de Aids, acesse www.aids.gov.br e clique em tratamento e depois em documentos e publicações. Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF 2004/ 2005) EPUB – Editora de Publicações Biomédicas NOTAS Siclom: uma necessidade Sistema de controle logístico pode ajudar a evitar desabastecimento de anti-retrovirais O Sistema de Controle Logístico de Medicamentos, Siclom, é um software de computador criado pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. O sistema permite que o Programa se mantenha atualizado em relação ao fornecimento de anti-retrovirais e exames laboratoriais dos pacientes em tratamento, nas várias regiões do país. 2 Em 1999, algumas unidades dispensadoras de anti-retrovirais receberam computadores com o Siclom instalado. Porém, o sistema nunca chegou a funcionar de maneira satisfatória. A fim de aperfeiçoálo, o Programa Nacional de DST/Aids optou por fazer uma nova versão, batizada Siclom 2, como explica Renato Girade, chefe da Unidade de Informática do PNDST/Aids: “O novo programa é totalmente on-line e as atualizações são feitas instantaneamente. As unidades que ainda não tiverem computador e acesso à Internet serão providas desses insumos pelo Programa Nacional. Seguramente, até o final de 2005, 100% das unidades dispensadoras vão usar o Siclom”. Um sistema logístico de anti-retrovirais informatizado é muito importante para o bom gerenciamento do Programa Nacional de Aids. Segundo Girade, “o Siclom pode evitar crises no abastecimento de medicamentos, porque ele controla o consumo de forma precisa”. Outro benefício será um banco de dados atualizado que poderá ajudar em pesquisas clínicas. + SAIBA Se sua unidade ainda não solicitou a senha do Siclom no PNDST/Aids, acesse o site: www.aids.gov/gerencial ou ligue 0800-612439 | (61) 448-8143 NA PRATELEIRA EM DESTAQUE Apoio da equipe de farmácia tranqüiliza o paciente O Centro de Referência e Treinamento (CRT) em DST/Aids de São Paulo é um modelo a ser seguido. Contando com uma equipe de saúde multidisciplinar onde a troca de informações é uma constante, o CRT oferece ao paciente um atendimento integral e de qualidade. O resultado é a satisfação do usuário e seu reconhecimento pelo trabalho realizado, como conta Wedja Sparinger, farmacêutica que dirige a farmácia do CRT há dez anos. Wedja dispensa medicamentos na farmácia Quais são os números da do CRT - SP farmácia? Wedja Sparinger: Temos aproxima- se vai haver medicamento, o que vai damente 5000 pacientes cadastrados acontecer....mas geralmente entende no Siclom (Sistema informatizado de a nossa situação e fica tranqüilo com controle logístico de medicamentos) a gente. Além disso, com o fracionae atendemos cerca de 250 pacientes mento de medicamentos, o paciente por dia para a retirada precisa vir mais de uma de anti-retrovirais. A vez por mês à institui“Antes, eu equipe é composta por ção, o que aumenta seu controlava o 19 funcionários e a custo com o transporte. estoque a cada farmácia possui 500 Qual o reflexo 10, 15 dias. itens padronizados. da crise de Ultimamente, esta Quais são as desabastecimento de passou a ser uma vantagens do sisteanti-retrovirais na atividade diária” ma informatizado? farmácia? Wedja Sparinger Com ele controlamos Para a farmácia é um o estoque de medicamomento de demanda mentos e conseguimos otimizar o de trabalho. Antes, eu controlava o trabalho. Outra vantagem é que, ao estoque a cada 10, 15 dias. Ultimacadastrar o paciente no sistema, sei mente, esta passou a ser uma ativio que ele está tomando e posso fa- dade diária. Temos que fracionar os zer um levantamento, em caso dú- anti-retrovirais de forma que todos vida. os pacientes sejam bem atendidos até a reposição de estoque. Como reage o paciente diante do fracionamento dos medicamentos? SAIBA + FARMÁCIA DO CRT O paciente fica inseguro em relação De 2ª a 6ª, das 8 às 21h Santa Cruz, n. 81 | São Paulo – SP ao tratamento, com medo de inter- Rua Tel.: (11) 5087-9826 rompê-lo. Por isso, pergunta muito [email protected] Foto: Tatiana Vieira Crise de desabastecimento de anti-retrovirais gerou insegurança nos pacientes e maior demanda de trabalho nas farmácias Saiba mais sobre os anti-retrovirais STOCRIN® (EFAVIRENZ) Inibidor de transcriptase reversa não-análogo de nucleosídeo Apresentação cápsulas de 600mg Conservação Temperatura ambiente, entre 15 a 30ºC. Proteger de luz e umidade. Como tomar Um comprimido ao dia, de preferência à noite, antes de dormir. Pode ser administrado com ou sem alimentos. Evitar alimentos muito gordurosos. Quando tomado em jejum, os efeitos colaterais provocados pelo efavirenz podem ser potencializados. Principais esquemas terapêuticos efavirenz + zidovudina + lamivudina efavirenz + lamivudina + tenofovir Possíveis efeitos adversos Sintomas neuropsiquiátricos: distúrbios do sono, pesadelos, tonturas, irritabilidade, agitação, depressão, dificuldade de concentração, sensação de estranhamento, amnésia e alucinações. Nesses casos, evitar o uso de álcool e outras drogas psicoativas, pois podem potencializar esses efeitos. Dislipidemia (alteração nos níveis de colesterol e triglicérides), hiperglicemia (niveis altos de glicose), alterações no fígado e alergia cutânea também podem ocorrer. Interações com outras substâncias O efavirenz não deve ser administrado com: astemizol, terfenadina, midazolam, triazolam, cisaprida, derivados do ergot e claritromicina. Evitar o uso concomitante de erva de São João, cápsulas de alho, echinacea, ginseng e ginko-biloba, pois diminuem a concentração do efavirenz no sangue. Acesse os fascículos do SOLUÇÃO em www.saberviver.org.br 3 DESTAQUE COMPROMISSO POR DENTRO Atenção farmacêutica Pesquisa confirma: atendimento personalizado reduz atendimentos de emergência e internações E de cada um. Também explicávamos que m 2000, o Instituto Nacional de os medicamentos devem ser ingeridos junCardiologia de Laranjeiras (INCL), to com água e não com leite, como muino Rio de Janeiro, iniciou um protas pessoas acreditam”, comenta Márcia. jeto-piloto de atenção farmacêutica a pacientes com hipertensão grave e com Avaliação do projeto insuficiência cardíaca. A idéia do trabarevelou ótimos resultados lho era aumentar a adesão ao tratamenA última avaliação do projeto de asto, diminuir as internações e cirurgias do sistência farmacêutica, realizada em dehospital e melhorar a qualidade de vida zembro de 2004, mostrou resultados imdos pacientes. pressionantes, tanto do ponto de vista O Instituto é um hospital de referênda adesão quanto da economia para o cia nacional do Ministério da Saúde no Governo. Após a implantação do serviço, tratamento clínico e cirúrhouve uma redução de gico de pacientes cardía83% nos atendimentos de Após a cos. Usuários do SUS de emergência e 65,14% nas implantação do todo o país, que necessiinternações. De acordo projeto, houve tam de serviços de alta com Márcia, o custo menuma redução complexidade, são atendisal de cada usuário partide 83% nos dos no INCL. cipante do projeto é de R$ atendimentos 58,00, enquanto uma dide emergência Como foi feita ária na enfermaria custa e 65,14% nas a pesquisa R$ 60,00 e uma cirurgia Duzentos e vinte usuinternações. cardíaca, R$ 24.000,00. ários participaram do proNo início do trabalho, jeto: desse total, 140 soMárcia e sua equipe imaginaram que os friam de hipertensão e 80 de insuficiênpacientes fossem ter mais resistência em cia cardíaca. Segundo Márcia Gisele Sanparticipar. Mas, para sua surpresa, a aceitos da Costa, coordenadora do projeto e tação foi ótima. “Em geral, eles se senChefe do Serviço de Farmácia do INCL, tem mais à vontade para conversar com os pacientes escolhidos para participar do o farmacêutico do que com o médico”, trabalho foram aqueles que apresentaafirma a responsável pelo projeto. “Aqui vam maiores complicações. “Depois de ser eles abrem o coração sem medo”, comeatendido por uma equipe multiprofissiomora. O desafio agora é ampliar esse tranal, o usuário ia à farmácia retirar seus balho para todos os pacientes do hospital. medicamentos. Lá, ele respondia a um questionário sobre seus hábitos de vida e SAIBA + remédios usados no tratamento. Nós diswww.incl.rj.saude.gov.br; cutíamos o melhor horário para tomar [email protected] e os comprimidos, de acordo com a rotina [email protected] LIVROS Bizu Farmácia – O X da Questão 2.000 questões selecionadas para concursos para farmacêuticos. Editora Rubio. No Rio, à venda na Avi Livros. Tel: (21) 8197 9866 Tratamento Clinico da Infecção pelo HIV Editado pela Universidade Johns Hopkins, o livro traz dados atuais sobre a epidemia. Sua distribuição é gratuita. Mais informações pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone: (21) 2553-6628 REVISTAS Revista Brasileira de Farmácia A publicação está on-line no site da ABF: www.abf.org.br SITES ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária O site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, possibilita o acesso aos Alertas Estaduais e Federais de Farmacovigilância, aos Atos Regulatórios, dicas de cursos e capacitações, educação em saúde, eventos, informes e publicações. Além disso, há Consultas Públicas, onde o profissional pode contribuir dando suas críticas e sugestões relativas à proposta de Regulamento Técnico. www.anvisa.gov.br CONGRESSOS Farmapolis - 13° edição Local: Centreventos Cau Hansen - Joinville - SC Data: 27 a 30 de outubro de 2005 Informações: Tel (48) 224 0232 [email protected]; www.farmapolis.org.br CONFERÊNCIAS III Conferência Internacional sobre Patogênese e Tratamento da Aids 24 a 27 de julho de 2005 Riocentro – Rio de Janeiro – RJ A conferência divulgará os últimos avanços científicos sobre a prevenção e o tratamento da Aids, com ênfase em uma resposta global à epidemia nos países em desenvolvimento. Organização: Sociedade Internacional de Aids, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Sociedade Brasileira de Infectologia. Maiores informações nos sites: www.infectologia.org.br www.ias-2005.org Mande Sugestões! [email protected] Ano 1 | Nº6 | Março/Abril de 2005 Solução é uma publicação da Saber Viver Comunicação (21 2544 5345) | Rua México, 31, bloco D, sala 1502. Centro - Rio de Janeiro/RJ Cep: 20031-144 | Coordenação, edição e reportagem: Adriana Gomez e Silvia Chalub | Reportagem: Marina Pecoraro e Tatiana Vieira | Secretária de redação: Alessandra Lírio | Consultoria lingüística: Leonor Werneck | Foto: Alex Ferro, agência Pedra Viva | Projeto gráfico: Estúdio Metara (21 25325589) | Conselho editorial: Sérgio Aquino, José Liporage Teixeira, Marília Santini de Oliveira | Impressão: MCE | Tiragem: 5 mil