21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil INTERAÇÕES MAGNÉTICAS EM ARRANJOS DE NANOFIOS FERROMAGNÉTICOS *J. H. da Silva Júnior1, F. A. Revoredo Júnior2, V. I. M. de Paulo2, J. N. A. Junior2, E. J. F. da Silva1 and E. P. Hernández1,2 1 Departamento de Física, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE 50670-910, Brazil 2 Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Ciência de Materiais, Recife-PE 50670-910, Brazil * E-mails: [email protected] / [email protected] RESUMO Examinamos as interações predominantes em nossas amostras e descobrimos que as interações predominantes são de dois tipos: dipolares e de troca. Apresentamos também um modelo para melhor interpretar a intensidade das interações magnéticas envolvidas. Com este modelo, fomos capazes de dizer quanto um tipo de interação é mais intensa do que o outro. Palavras chave: materiais, nanofios, interações, modelo. INTRODUÇÃO A maioria dos estudos feitos com nanofios policristalinos considera-se arranjos de nanofios, isso porque esses nanosistemas tem se mostrado como um material com variadas aplicações (1-5). Uma das formas de caracterizar qualitativamente e quantitativamente as interações magnéticas descritas em arranjos de nanofios é através de medidas de curvas Henkel (6) e ∆m (7, 8). A análise dessas interações é muito importante, já que a densidade de partículas em um nanofio é alta, assim como a densidade de arranjos de nanofios é imensa (9). As curvas Henkel e ∆m, 6224 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil são comparações entre as curvas de Magnetização Remanente Isotermal (MRI(H)) e a Magnetização Remanente Desmagnetizante (MRD(H)). As curvas MRI e MRD são medidas experimentalmente da mesma forma, diferindo apenas nos diferentes estados magnéticos que a amostra se encontra quando é iniciada cada tipo de medida. Para medir a MRD(H) a amostra é inicialmente saturada em uma direção e posteriormente remove-se o campo magnético. Aplicamos um pequeno campo magnético contrário ao anterior, removese este campo, e medimos a magnetização remanente. Então, repete-se o mesmo processo com um campo magnético contrário ligeiramente maior que o anterior e novamente medimos a magnetização remanente. Repetimos o processo até que alcancemos a magnetização de saturação na direção oposta. A curva MRI(H) é medida de uma forma similar à curva MRD(H), porém se inicia de um estado desmagnetizado. Com a mostra desmagnetizada, aplica-se um pequeno campo magnético em uma direção, retiramos o campo e medimos a magnetização remanente na amostra. O procedimento é também repetido aumentando-se ligeiramente o campo até que a amostra seja saturada. A teoria de Stoner (2) demonstra que há uma relação entre MRI(H) e MRD(H) para partículas não interagentes: md H DCDH IRM H máx e md H 1 2mr H , mr H IRM H IRM H máx . onde, Por outro lado, Henkel (8) propôs que o desvio deste comportamento em sistemas reais era em decorrência das interações entre as partículas. As curvas Henkel são definidas por md H versus mr H , onde para sistemas interagentes os dados experimentais se distanciam da curva feita com a equação: md H 1 2mr H . As medidas a respeito do tipo de interações foram definidas pelos trabalhos de Kelly et al. (7) e P. I Mayo et al. (8) que introduziram um termo ∆m na expressão de Stoner (2), de modo que, tem-se: m md H 1 2mr H . Neste trabalho estudamos com detalhes os tipos de interações magnéticas em amostras de arranjos de nanofios ferromagnéticos. Apresentamos também um modelo para calcular a intensidade de cada tipo de interação, de modo que, a termos uma melhor interpretação dos resultados obtidos. 6225 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A preparação de nanofios policristalinos dispostos em forma de arranjos ordenados foi baseada na combinação de dois métodos que se completam, a saber: a utilização de óxido anódico de alumina (AAO) auto-ordenado como molde poroso e a eletrodeposição do material desejado (neste caso níquel, ferro ou cobalto) nos poros cilíndricos. A AAO foi obtida pela oxidação eletroquímica do alumínio Aldrich 99.9999%, com voltagem de 20 V em soluções ácidas aquosas com as mesmas concentrações descritas em (9). O resultado foram poros cilíndricos de diâmetro homogêneo de 25 nm em média em uma disposição hexagonal compacta. A análise desse empacotamento hexagonal foi feita utilizando um Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) com modelo FEI Quanta 200F com emissor FEG. Para deposição dos nanofios de cada material foi utilizada a técnica de eletrodeposição AC com potencial de 17 V. Os fios depositados apresentam comprimento médio de 6 μm. Medidas de curvas de magnetização em temperatura ambiente foram feitas nas amostras, para isso utilizou-se um Magnetômetro de Amostra Vibrante (VSM) modelo EV7. Durante essas medidas de magnetização variou-se o ângulo do campo aplicado. Usando este magnetômetro fizemos medidas de curvas de MRI(H) e MRD(H). MODELO PARA CÁLCULO DA INTENSIDADE DAS INTERAÇÕES EM ARRANJOS DE NANOFIOS Baseando-se na discussão proposta por Stoner (2) e pelos trabalhos de Kelly et al. (7) e P. I Mayo et al. (8) propomos uma forma de calcular a intensidade das interações em arranjos de nanofios. Para isso, consideramos as duas expressões: md H 1 2mr H e md H m 1 2mr H . A integral definida para cálculo da área entre essas duas expressões nos dá uma relação da intensidade das interações, ou seja, para um ∆m constante ( m m1 ) em um intervalo de área [a, b], escrevemos: b I ab m1 dmr . a 6226 (A) 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil O intervalo total de estudo de mr está sempre associado a [0, 1], isso ocorre porque são (0, 1) e (1, -1) são os pontos limites de intersecção das curvas. Assim, para o intervalo total, considerando todos os Δm, temos: I m mi 0 dmr mi . N N 1 i 1 onde, (B) i 1 I m representa o valor das interações. RESULTADOS Produzimos três amostras, uma de cada material (níquel, ferro ou cobalto). Na Figura 1 apresentamos uma membrana de alumina com poros cilíndricos de diâmetro homogêneo em disposição hexagonal compacta. Nota-se nesta figura que a densidade de poros e consequentemente de nanofios é muito grande neste tipo de amostra. Figura 1. Membrana de alumina com arranjos hexagonais de poros. As curvas de magnetização para campo aplicado paralelo e perpendicular foram feitas para cada tipo de material depositado. Nas Figuras 2 (a), (b) e (c) mostramos essas medidas. É possível notarmos que a amostra de arranjos de nanofios de níquel apresenta uma menor coercividade em relação às outras. As coercividades para campo paralelo foram de 558 Oe, 1011 Oe e 383 Oe para as amostras de níquel, ferro e cobalto, respectivamente. E para campo perpendicular 6227 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil foram de 158 Oe, 226 Oe e 195 Oe para as amostras de níquel, ferro e cobalto, respectivamente. Figura 2: Curvas de histereses: (a) Níquel, (b) Ferro e (c) Cobalto (d) Curvas Henkel e ∆m. Sabe-se que para nanofios não interagentes ∆m deverá ser zero. Se ∆m é um valor diferente de zero, pode-se ter uma medida qualitativa do tipo de interação e com nosso modelo podemos medir a intensidade das interações presentes. Então, se o valor de m 0 , desmagnetizantes, já que que para sugere que as interações predominantes sejam md H 1 2m H . Enquanto será maior que o valor r m 0 , sugere que as interações sejam magnetizantes, já que o termo 1 2m H será maior que o termo desmagnetizante m H . Tem-se atribuído à r d m 0 , o fato das interações nas amostras serem predominantemente dipolares e à m 0 tem-se associado às interações de troca. Isso é feito devido ao fato das interações dipolares serem associada a interações que tentam alinhar os momentos 6228 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil magnéticos antiparalelamente, portanto desmagnetizantes. Já as interações de troca estão ligadas a interações que tentam alinhar paralelamente os momentos magnéticos, facilitando a magnetização. Na Figura 2 (d) mostramos tanto as curvas Henkel e Δm para a amostra de níquel. Esses gráficos nos revelam que as amostras de nanofios de níquel apresentam interações predominantemente desmagnetizantes. Notamos que temos m 0 , isto é associado ao em toda a região do gráfico de Δm a condição de que fato de termos predominância das interações dipolares. As interações magnéticas evidenciadas para a amostra de ferro são uma composição de interações magnetizantes e desmagnetizantes, como mostra a Figura 3 (a). É possível ver que existem pontos que ultrapassam a parte positiva da região m 0 . Esses pontos cumprem com m 0 , ou seja, as interações predominantes são magnetizantes. Pelo gráfico de Henkel nesta mesma figura, fica um pouco menos nítida esta região, onde as interações de troca são mais intensas. Contudo, observando com cuidado a região onde mr 1 , vemos que existem pontos que ultrapassam a curva definida pela teoria de Stoner. O comportamento das interações dos arranjos de nanofios de cobalto é o mesmo dos nanofios de ferro, como mostra a Figura 3 (b). Neste caso, destacamos o fato de ambas as interações da amostra de nanofios de cobalto serem menos intensas do que na amostra de ferro. Figura 3: Curvas Henkel e ∆m para os nanofios: (a) Ferro e (b) Cobalto. 6229 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Utilizando a eq. (B) calculamos o valor da intensidade das interações predominantes em cada amostra. Para a amostra de nanofios de níquel tivemos apenas valores onde m 0 , ou seja, as interações dipolares tiveram valores de I m 6,82u.a. . Para as amostras de nanofios de ferro e cobalto, tivemos predominância de interações dipolares e de troca. Os valores para as interações dipolares foram de I m 6,76u.a. e de I m 6,66u.a. para a amostra de nanofios de ferro e de cobalto, respectivamente. Já as interações de troca nestas amostras tiveram intensidades de I m 0,12u.a. e I m 0,04u.a. para a amostra de nanofios de ferro e de cobalto, respectivamente. Para os nanofios de ferro o valor da intensidade das interações de troca é menos de 2% das interações dipolares, de forma que o efeito das interações dipolares é mais forte do que os das interações de troca. Esse fato também foi evidenciado para a amostra de cobalto, onde o valor da intensidade das interações de troca é menos de 1% das interações dipolares. CONCLUSÃO As amostras de arranjos de nanofios estudadas mostram variações na intensidade das interações magnéticas envolvidas em cada tipo de material. Percebemos que este estudo é de fundamental importância para compreensão das propriedades magnéticas deste tipo de amostra. O modelo que apresentamos possibilitou interpretar melhor a intensidade das interações em cada tipo de amostra, além de ter possibilitado comparações em termos quantitativos entre as amostras. Percebemos que as interações magnéticas de troca nos arranjos de nanofios de ferro foram mais intensas que as outras, associamos isso ao fato apresentar uma maior possibilidade de oxidação durante o processo de deposição dos nanofios. REFERÊNCIAS (1) R. H. Koch, J. G. Deac, D. W. Abraham, P. L. Trouilloud, R. A. Altman, Y. Lu, W. J. Gallagher, R. E. Scheuerlein, K. P. Roche, and S. S. P. Parkin. Magnetization Reversal in Micron-Sized Magnetic Thin Films. Phys. Rev. Lett. 81, 4512 (1998). 6230 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil (2) E. C. Stoner and E. P. Wohlfarth. A Mechanism of Magnetic Hysteresis in Heterogeneous Alloys. Philos. Trans. R. Soc. London, Ser. A 240, 599 (1948). (3) J. Escrig, R. Lavín, J. L. Palma, J. C. Denardin, D. Altbir, A. Cortes, and H. Gomez. Geometry dependence of coercivity in Ni nanowire arrays. Nanotechnology 19, 075713 (2008). (4) M. Vazquez, K. Pirota, M. Hernandez-Velez, V. M. Prida, D. Navas, R. Sanz, F. Batallan, and J. Velazquez. Magnetic properties of densely packed arrays of Ni nanowires as a function of their diameter and lattice parameter. J. Appl. Phys. 95, 6642 (2004). (5) J. Holanda, C.V.A. Campos, C.A. Franca, E. Padrón-Hernández Effective surface anisotropy in polycrystalline ferromagnetic nanowires. Journal of Alloys and Compounds, v. 617, p. 639-641, 2014. (6) O. Henkel, Remanenzverhalten und Wechselwirkungen in Hartmagnetischen Teilchenkollektiven. Phys. Status Solidi 7, 919 (1964). (7) Kelly P. E, O’Grady K., Mayo P. I. and Chantrell R. W. Switching mechanisms in cobalt-phosphorus thin films. IEEE Trans. Magn. 25, 3881, 1989. (8) P. I. Mayo, K. O’Grady, P. E. Kelly, J. Cambridge, I. L. Sanders, T. Yogi, and R. W. Chantrell. A Magnetic Evaluation of Interaction and Noise Characteristic of CoNiCr Thin Films. J. Appl. Phys. 69, 4733 (1991). (9) E. P. Hernández, S. M. Rezende and A. Azevedo. Effective field investigation in arrays of polycrystalline ferromagnetic nanowires. J. Appl. Phys. 103, 07D506 (2008). MAGNETIC INTERACTIONS IN ARRAYS OF FERROMAGNETIC NANOWIRES ABSTRACT We examined the predominant interactions in our samples and we found that the predominant interactions are of two types: dipole and exchange. We also present a model to better interpret the intensity of the magnetic interactions involved. With this model, we were able to tell how one type of interaction is stronger than the other. Key-words: materials, nanowires, interactions model. 6231