o edifício da fa7

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XII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - FA7
EXPRESSÕES DA ARQUITETURA CEARENSE:
O EDIFÍCIO DA FA7
Cristiane de Araújo Alves Siqueira
Especialista e Professora da FA7 do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Gabriel Martins
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Hélady Maria Cordeiro Barroso
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Iasmim de Sousa Rodrigues
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
João Fernando Cabral
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Larissa Araújo Conegundes
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Maria Karollyne Costa Mota
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Natercia Matos Pinto
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Paulo David de Menezes Raulino
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
Yuri Milhomens Mendes
Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo
[email protected]
XII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - FA7
EXPRESSÕES DA ARQUITETURA CEARENSE: O EDIFÍCIO DA FA 7
SUMÁRIO
1. Resumo
03
2. Introdução
03
3. O edifício e a instituição
05
4. O edifício e o arquiteto
07
5. O edifício e os usuários
14
6. Conclusão
17
2
Título
Expressões da Arquitetura Cearense: o edifício da FA7
Resumo
O trabalho faz uma análise do edifício da FA7 que fica localizado na Av. Alm. Maximiano
da Fonseca, 1395, no bairro Eng. Luciano Cavalcante em Fortaleza, inaugurado em 2001,
assinado pelo escritório de arquitetura Nasser Hissa Arquitetos Associados e discute a
importância da crítica como instrumento de aprendizado nos cursos de arquitetura e
urbanismo no Ceará. A análise buscou uma abordagem ampla que envolvesse a edificação e
suas principais relações; com a instituição, onde a história da própria faculdade e de sua
mantenedora contribuiu para traçar alguns princípios norteadores da proposta projetual; da
edificação com os arquitetos, suas trajetórias, motivações e expectativas e a relação do
edifício com os usuários, percepções a respeito do espaço onde transitam e convivem.
Palavras-chave: Arquitetura Cearense. Crítica. Edifício. FA7.
Introdução
O tema do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudo em Projeto Arquitetônico – Gepa
durante o semestre de 2016.1 foi fruto de uma decisão conjunta entre seus integrantes e tem
como objeto a análise crítica do edifício da Faculdade 7 de Setembro, a FA7. Por se tratar
de uma análise inaugural entende-se que a escolha pelo prédio da FA7 se deu quase de forma
imediata por todas as suas qualidades: localização, programa acessível, apropriação e
apreensão do espaço, uma vez que o prédio mencionado está ao alcance dos estudantes do
curso de arquitetura.
O grupo apresenta esta análise por acreditar que a crítica faz parte do processo de
aprendizagem no curso de arquitetura e que por essa razão deve ser exercitada e estimulada,
no sentido de preparar o espírito critico dos estudantes. Por meio do exame e do estudo de
obras pode-se compreender e valorizar o projeto, assim como tudo o que está envolvido nele,
suas decisões, intenções e seu momento histórico. A reflexão a cerca dessa obra poderá
contribuir também para tornar a arquitetura e seu produto final, o espaço projetado, mais
acessível e visível ao publico diverso. As pessoas, usualmente, transitam pelos edifícios sem
maior curiosidade com aquilo que abriga, ambienta e é visto. Não conhecemos, em geral,
nossos edifícios e quem os projetou ou construiu. Até mesmo para arquitetos, estudantes de
3
arquitetura e críticos culturais esse conhecimento sobre projeto, suas etapas, metodologia ou
a obra propriamente dita é difícil de ser sentido. Isso nos faz acreditar que a sociedade não
se interessa pela arquitetura como deveria, uma vez que não a enxerga tampouco a
compreende. Bruno Zevi nos alerta sobre falta de interesse que o publico em geral possui
sobre arquitetura e a justifica pela “carência de uma interpretação clara e válida” do objeto
estudado. (2009, p.7)
Montaner1, em seu livro Arquitetura e Crítica, ensina que toda obra arquitetônica
para ser revelada deve ser compreendida em toda sua extensão, teor e significado. Essa
tarefa fundamenta-se na análise da arquitetura do presente, aquela que vivenciamos naquele
exato momento da crítica, passível de interpretações alheias à realidade da qual foi
concebida. Ele ressalta que;
“A atividade do crítico consiste em compreender a obra para que
seu conteúdo possa ser explicado ao público. Isso não significa que o critico
possa interpretar integralmente tudo aquilo que compõe a complexidade da
obra arquitetônica, nem que seja capaz de esgotar os fundamentos da
capacidade criativa do arquiteto.” (2007, p.10).
Essa reflexão sobre o edifício da Faculdade 7 de Setembro não possui caráter
rigoroso, pretende ser aberta, livre e criativa, mais parecendo ensaio que critica propriamente
dita. Sua intenção primordial é o desenvolvimento de questionamentos a respeito da
arquitetura moderna e de como a enxergamos, a fim de entendermos o porquê da obra em si.
Para tanto nos utilizamos de algumas ferramentas teóricas de apoio que nos permitiu
atribuir critérios de valor que abrangessem aspectos estéticos, tecnológicos, funcionais e
éticos.
Além da pesquisa bibliográfica foram feitas coletas de dados como: fotos, plantas e
desenhos, foram realizadas entrevistas e visitas para a análise do edifício da FA7. Alguns
aspectos foram abordados como, por exemplo, o momento histórico, econômico e político
na qual foi inserida a obra assim como a visão de alguns agentes transformadores do espaço
estudado como a própria Instituição 7 de Setembro e seus dirigentes, os arquitetos autores
da obra e seus usuários. Dessa forma o trabalho se desenvolveu em quatro partes. A primeira
diz respeito ao edifício e a Instituição FA7, onde relatamos alguns fatos históricos do
momento da sua criação e execução, expectativas de seus proprietários e sonhos. A segunda
parte aproxima o edifício dos autores, os arquitetos Francisco e José Hissa, que relataram,
1
Josep Maria Montaner (1954) é doutor em arquitetura e catedrático do Departamento de Composição da
Escola Técnica Superior d’Arquitectura de Barcelona (ETSAB-UPC).
4
em entrevista concedida ao grupo, toda sua proposta projetual e partido adotados para a
concepção desse empreendimento. A terceira parte revela a impressão que os usuários da
FA7 - estudantes, professores, funcionários, visitantes -
possuem sobre do espaço
construído. Por fim, a quinta parte apresenta nossa conclusão sobre a importância da análise
critica na arquitetura e o que se espera do processo de aprendizagem dentro do curso de
Arquitetura e Urbanismo na FA7 através de atividades de investigação sobre projeto e da
reflexão a cerca das obras arquitetônicas e o sua interação com homem e o tempo.
O edifício e a Instituição
O edifício da FA7 resultou da necessidade da Educadora 7 de Setembro de expansão de suas
atividades e da abertura de oportunidades e incentivos fiscais que surgiram durante os anos
de 1990 para a implementação de novas faculdades no Brasil2. O prédio foi projetado
exclusivamente para o uso da faculdade homônima. A expectativa de seus proprietários era
de que a instituição alcançasse seus objetivos de integrar o melhor corpo docente e o melhor
programa acadêmico à melhor estrutura física de faculdade particular de Fortaleza. Excluiuse, portanto a ideia inicial de reutilizar um espaço próximo ao colégio, em bairro mais
distante, e decidiu-se por juntar-se a outras universidades situadas na área sudeste da cidade,
onde se configurava um núcleo universitário e de tendência de expansão da cidade. Ver mapa
01.
Em entrevista ao Gepa no dia 08 de dezembro de 2015, o diretor da Fa7, Adelmir
Jucá, explica:
“A educadora 7 de Setembro já tinha 65 anos, com uma tradição muito grande na
educação básica e houve um momento no Brasil em que se criaram facilidades para
a implantação de cursos superiores. Antigamente isso era muito fechado. No
governo Fernando Henrique, na época do ministro Paulo Renato, se facilitou a
abertura de novas faculdades e de novos cursos.”
Sobre a estratégia da escolha da localização da faculdade, o diretor justifica a escolha
e aponta algumas questões:
2
Durante o governo FHC, entre 1995 a 2003, o então ministro da educação, Paulo Roberto, fez diversas
mudanças nos setores educacionais, as mesmas refletiram positivamente nas instituições privadas fazendo com
que a adesão de novos alunos aumentasse mais de 59% ao ano.
5
“A discussão sobre a localização se deu porque, por um lado achava-se que a
faculdade não teria identidade ficando muito próxima ao colégio, que a comunidade
não pensaria na FA7 como um curso superior e sim como um apêndice do Colégio
7 de Setembro.”
Entrevista com o diretor da FA7 Adelmir Jucá
O primeiro passo para a construção do edifício foi o contato com o escritório de
arquitetura Nasser Hissa. A escolha pelo escritório se deu em virtude do prestigio que os
arquitetos possuíam por sua competência, experiência e características peculiares. O fato dos
arquitetos terem realizado trabalhos com a Educadora em tempos anteriores foi fator
importante para a decisão. O contato e experiência passada possibilitou uma relação mais
fluida entre os proprietários e os arquitetos, que frequentemente se reuniam com o intuito de
viabilizar o desenvolvimento de um projeto único, de porte e destaque visual no meio da
paisagem local. Algumas visitas a instituições de ensino superior brasileiras foram realizadas
para que todos, tanto equipe pedagógica como os próprios arquitetos, formassem uma base
solida para criação do programa de necessidades.
“Pela segurança que o escritório permitia, foi uma escolha simples, não se sentiu
uma dificuldade em escolher esse escritório pela segurança que ele passava e pela
qualidade dos trabalhos dos arquitetos Nasser Hissa Arquitetos e Associados.”
6
Mapa 1. Região onde está localizada a FA7
Assim como a maioria das edificações educacionais, o crescimento é algo inevitável,
a FA7 foi projetada pensando na sua expansão, porém hoje Jucá acredita que a edificação
chegou ao seu limite arquitetônico. Para a implementação de novos cursos uma nova sede
será construída no Centro.
[...] Como se partiu do zero, não foi um prédio adaptado, não foi uma edificação que
se aproveitou de alguma maneira. Ele saiu da cabeça dos habilitadores, ele satisfez
plenamente as necessidades e já foram feitas algumas ampliações dentro da
concepção inicial de arquitetura.
Sobre as alterações e ampliações feitas após alguns anos de intensa atividade e de
como foram resolvidas o diretor esclarece:
“Foram feitas ampliações porque a faculdade cresceu e isso já estava previsto, mas
hoje a gente acredita que a edificação chegou ao limite, não há mais para onde
crescer. ”
O edifício e o arquiteto
O escritório Nasser Hissa Arquitetos e Associados completa 46 anos de intensa atividade
profissional nesse ano de 2016 e foi o autor do projeto arquitetônico da Faculdade 7 de
Setembro. Tendo à frente os irmãos, Francisco e José Nasser Hissa como profissionais
responsáveis pelo escritório, ambos formados em Arquitetura e Urbanismo pela
7
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, nos anos de 1971 e 1968 respectivamente. Por
opinião quase unânime entre seus pares, os arquitetos fazem parte da própria história da
arquitetura cearense. São responsáveis por construir e modelar a paisagem urbana de
Fortaleza, assim como sugere Vladimir Ribeiro, “o escritório (Nasser Hissa) tem
acompanhado e contribuído substancialmente nas transformações do ambiente construído da
capital cearense.” (PORTIFOLIO BRASIL, 2010. p, 07).
Com o intuito de compreender melhor como se deu a concepção do prédio da Fa7 e
de como seus autores pensaram o processo, etapas e partido arquitetônico, o Gepa realizou
uma entrevista, no dia 12 de abril de 2016, com “Chico” Hissa, como é conhecido, em seu
escritório.
Francisco Hissa e o Gepa, entrevista no escritório do arquiteto .
Quando questionado sobre como se deu a encomenda do projeto, o arquiteto começa
falando que boa parte do processo foi coordenada por Ednísio Gomes de Soárez, falecido
em 2005, engenheiro responsável pela obra e um dos filhos do fundador da instituição,
Edilson Brasil Soárez. Foi com Ednízio que se deu o primeiro contato para que se iniciasse
o projeto. Segundo Hissa,
“Foi um contato muito bom, nós já nos conhecíamos de outros projetos
feitos para o próprio grupo, mas nesse, especificamente, eles antes de detonarem o
processo de projeto, nos levaram a fazer visitas a algumas universidades, no interior
de São Paulo, no interior de Santa Catarina e de Brasília também. Então, isso
8
ampliou um pouquinho a nossa visão do que seria uma faculdade nos termos que
eles queriam. O contato foi assim e sempre muito participativo.”
Vale ressaltar as visitas citadas pelo arquiteto, pois se mostraram necessárias para o
início dos estudos do projeto da faculdade, já que foram através delas que o domínio do
programa de necessidades aconteceu, constituindo dessa maneira uma etapa fundamental (a
da pesquisa) para reunir as informações que os ajudaram na definição dos espaços. Quando
perguntado sobre quais foram as premissas básicas de aporte inicial do projeto o arquiteto
apontou os seguintes elementos:
“Basicamente, quando a gente começa um projeto o que a gente precisa são
os dados do terreno, o levantamento, que é o que eles tinham, e essa noção de
programa que as vezes a gente não domina com tanta profundidade. Essa viagem...
e eles também não estavam tão seguros de como... essa viagem facilitou também pra
que eles consolidassem o pensamento deles. Então, basicamente foi isso aí.”
Dessa forma, tendo essas referências em mãos, o partido arquitetônico passou a se
desenvolver. Essa fase inicial, que consiste na definição da ideia que rege as decisões do
projeto para momentos posteriores, é indispensável no processo de concepção arquitetônica.
Hissa defendeu seu partido com os seguintes argumentos:
“Nós achamos que algumas instituições, educacional ou religiosa, devem
ter uma geometria formada por eixos norteadores. O prédio da FA7, praticamente
tem uma simetria, uma no sentido longitudinal e outra transversal. Há uma divisão
clara de módulos, a primeira formada pelo pátio e as salas e a outra pelo
estacionamento. A outra coisa, foi que nós queríamos que o prédio tivesse presença,
não vou dizer imponência, mas vou dizer uma certa dignidade, com aquela
escadaria, ela coincidiu também. Aproveitamos o desnível do terreno e formamos
os quatro pisos.
o estacionamento foi uma consequência. As salas de aula foram
todas voltadas para o nascente e a quantidade de salas nos direcionou para
determinar o número de pavimentos. Achávamos que, se nós tivéssemos um acesso
por um nível que não fosse aquele lá de baixo, então isso amenizaria o acesso pras
salas de cima e desceríamos um lance para as salas de baixo. Então, aquela escadaria
foi uma decorrência disso também. Também foi intenção nossa criar um pouquinho
de verticalidade através das colunas do auditório, trazendo uma imponência, não, o
termo certo não é ... solidez.”
9
Ao analisar o projeto original percebeu-se que a área do estacionamento possuía uma
enorme quantidade de vagas, nos três últimos pavimentos, inclusive. Esse foi um dos
questionamentos feitos pela equipe do Gepa. Por que tantas vagas, se a maioria dos alunos
se desloca de ônibus? A resposta obtida foi que o número de vagas pensado foi maior do que
o exigido pela legislação e partiu do desejo do proprietário que acreditava que os alunos
iriam valorizar a questão da comodidade de possuir a sua própria vaga. É importante salientar
que durante a obra constatou-se o superdimensionamento para esse espaço.
“No decorrer da concretagem, o Ednísio, que era engenheiro e era quem
coordenava a obra, verificou que os dois últimos pavimentos pudessem ter pé-direito
maior, como depois se confirmou. O Instituto Fa7. Ali não existia inicialmente.”
O prédio foi concebido com uma diferença entre os pés-direitos dos pavimentos do
estacionamento e das salas, para ser possível acomodar um número máximo de vagas em um
menor espaço. Tal decisão teve um impacto positivo na composição do prédio e na
implementação do partido arquitetônico. Segundo Chico Hissa havia um desnível do terreno
que favoreceu a solução do estacionamento e a presença de lençol freático alto. Como
consequência, no pavimento do subsolo, ficaram situadas algumas salas de aula e
laboratórios.
O projeto da faculdade foi publicado na Revista Projeto em 2003. Nessa publicação,
foi descrito com detalhes a sua forma, seu partido, a distribuição dos espaços e como se dá
a sua concepção estrutural, salientando sua “articulação natural”.
“A forma da edificação, articulada por volumes geométricos, traduz a
simplicidade da organização espacial das atividades propostas no programa. O
partido adotado teve como diretriz reunir os cursos oferecidos pela faculdade em
uma única e grande edificação de quatro pavimentos, incluindo o térreo. A
conformação espacial organiza-se por setores, que se articulam por meio de
circulações voltadas para espaços centrais. Uma escadaria leva à entrada principal
da edificação, no térreo, onde se destaca o grande átrio coberto por pirâmide de
vidro, com pé-direito de 20 metros e laterais de 24 metros. Nessa base clara e
ensolarada foi implantada a praça principal de convivência, com recepção,
atendimento, restaurante e lanchonete nas laterais. Os três pisos superiores, cujas
circulações horizontais voltam-se para o espaço central, estão ligados ao térreo por
escadas e elevador. A concepção estrutural do edifício, com pilares a cada oito
metros, foi induzida pelo módulo das salas de aulas. Os pavimentos receberam lajes
planas protendidas com cabos deslizantes, sem vigas.” (REViSTA PROJETO,
2003).
10
Foto
Revista Projeto. 2003.
Foto Revista Projeto. 2003.
11
Desenho Revista Projeto. 2003.
Dentre outras decisões que merecem ser evidenciadas e que também foram
questionadas são: o fato das instalações hidráulicas e estruturais serem aparentes, o fato de
possuir apenas um elevador para suprir o deslocamento dos alunos entre os pavimentos e a
dúvida de saber se houve ou não alguma previsão de expansão da faculdade.
As instalações da Fa7 foram projetadas de maneira a ficarem visíveis, suas instalações
são aparentes, por uma sugestão do engenheiro da obra e amigo, Botto. A justificativa para
essa proposta foi a facilidade de instalação e manutenção dos equipamentos. O arquiteto
afirma que isso já havia sido adotado em outros prédios do Grupo 7 de Setembro.
Sobre o elevador que fica próximo ao átrio central e observa-se que nos horários de
maior movimento na faculdade ele é bastante utilizado, não só por alunos quanto por
funcionários, surgiu a questão para entender porque ele foi projetado para ser único. O
argumento foi de que se imaginou, na época da concepção do projeto, uma situação diferente
da que ocorre atualmente.
“Pois é, é uma das falhas. Mas é... como a gente tinha essa previsão de
acessos de rampa e a gente imaginava diferente do que aconteceu... a gente
imaginava e eles também de que o elevador fosse só para casos de deficiência, de
mobilidade. Mas não foi o que aconteceu, não. O elevador tem um uso intenso dos
alunos. Deveria ter mais. São um dos fatos que a gente quando usou lá também
percebeu isso.”
Por último, seguindo com os questionamentos feitos pelo grupo, surgiu a pergunta:
O prédio foi projetado para uma futura expansão? O que temos como resposta foi que, na
verdade já houve uma futura expansão. No quinto andar, onde hoje se localizam salas de
aula, inicialmente deveria ser uma coberta, depois foi solicitado por Ednísio que fosse feito
um terraço e por esse motivo “verificou-se que teria que construir uma laje de piso”. Isso
permitiu a expansão futura.
Ao final da entrevista, Chico Hissa mostrou uma curiosidade sobre os corredores de
circulação da edificação:
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“Ali houve uma falha... A correção foi por iniciativa de Ednísio... O
primeiro andar, aquele andar que eu chamo subsolo... No primeiro andar de salas
que é o do pátio, e da cantina, as circulações estavam com 2m, já havia sido
levantado... quando o Ednísio chegou e disse: “Eu achei essa circulação pequena,
nós vamos fazer nos outros maior”. Concordei. Nós aumentamos 50cm... Então ás
vezes, é muito comum a gente no projeto errar e essa correção ser feita pelo cliente...
ás vezes, há essa interferência do cliente. Ele tem conhecimento, é seu métier. A
interação com o cliente sempre é benéfica.”
O escritório Nasser Hissa Arquitetos e Associados salienta que possui um carinho
especial pelo prédio da FA7, admite que o projeto possua falhas, mas que como produto final
o edifício “agradou muito” e que entre os projetos de destaque selecionados para publicações
em seu escritório esse é sempre lembrado.
Planta Baixa Pvto Térreo. Material cedido pelo escritório Nasser Hissa. (organização: Israel Cordeiro)
13
Planta Baixao1o Pvto. Material cedido pelo escritório Nasser Hissa. (organização: Israel Cordeiro)
Planta de Coberta. Material cedido pelo escritório Nasser Hissa. (organização: Israel Cordeiro)
O edifício e os usuários
O GEPA (Grupo de estudos em projetos Arquitetônicos) entrevistou mais de 20
pessoas, dentre as quais a maioria era formada por estudantes dos diversos cursos da
faculdade, muitos eram professores e funcionários e a minoria formada por visitantes. As
14
entrevistas foram concedidas durante os intervalos das aulas dos meses de abril e maio de
2016, trabalho realizado pelos componentes do grupo, a fim de coletar dados para análise do
prédio sobre o ponto de vista de seus usuários. As perguntas foram elaboradas com o
objetivo de saber qual a impressão que as pessoas têm do edifício. A partir da análise das
informações coletadas alguns pontos obtiveram destaque especial, seja por possível
discordância ou anuência de informações.
Entrevista com os usuários.
As fichas de questionários foram elaboradas de maneira a direcionar para os
seguintes tópicos: beleza, impressão visual imediata, desejo de alteração por insatisfação no
funcionamento do espaço e impacto do prédio no contexto urbano.
Inicialmente a primeira pergunta foi sobre o tema: estética. Apesar da subjetividade
do tema, houve um consenso entre os entrevistados conforme opinião do estudante de
Jornalismo, Carlos Cleber Ferreira Gomes que considera o prédio “bonito, bem simétrico,
verticalizado e de espaço bem aproveitado”.
15
Entrevista com os usuários.
Em relação a pergunta sobre a impressão visual imediata que as pessoas têm ao
adentrar no prédio pela primeira vez, a FA7 teve sua estrutura comparada a de um colégio.
Outro consenso se formou por parte dos entrevistados, como observa a estudante de
Arquitetura e Urbanismo Ana Dara Rodrigues, que disse que sua primeira impressão ao
entrar no prédio foi de entrar em uma escola. Essa associação com o ambiente escolar foi
feita pela semelhança dos ambientes construídos das duas instituições, salas de aulas e
corredores conjugados, pátios e cantinas e áreas de convivência fora das salas, como relata
a estudante de Arquitetura e Urbanismo Andrezza Rodrigues.
O ensino superior se caracteriza como uma transformação na mentalidade do
indivíduo e uma das coisas que se alteram com a mudança de nível educacional são também
a liberdade e a especialização da área de enfoque de estudo do indivíduo. Propõe-se afinal
que a Faculdade seja local fértil para troca de ideias e de encontro entre os alunos. O edifício
possui áreas especificas e citadas pelos estudantes que poderia atender a essas necessidades.
Foram citadas as áreas descobertas no 3º andar próximas aos laboratórios de informática e a
área descoberta lateral ao teatro próxima as salas do instituto Viva no 5º andar e ainda os
grandes vazios central e próximo aos elevadores como potenciais locais de instalação de
mesas, estofados, plantas e bancos que estimulassem a troca e a permanência dos estudantes
na faculdade mesmo fora do período de aula.
As discordâncias se referem aos elementos arquitetônicos mais específicos, como as
cores utilizadas nas paredes e colunas, o azul anil presente nas passarelas do pátio e o fato
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da instalação e estrutura do prédio ser do tipo aparente, onde se mostram à vista, estão
expostas. Essas questões, por opinião dos próprios entrevistados, possuem caráter particular
e se referem ao gosto pessoal de cada um.
Como terceiro item do questionário sobre as alterações executadas posteriormente,
há também um consenso, conforme assegura o estudante Marcos Ramon, sobre o fato de que
elas são nitidamente percebidas por seus usuários, e aqui vale ressaltar que as mesmas não
foram feitas nem acompanhadas pelos arquitetos da obra.
Sobre o tópico do impacto do prédio no contexto no qual o edifício está inserido, seu
contexto urbano, alguns não conseguiram responder a essa pergunta. O vocabulário utilizado
não alcançou seu objetivo. No entanto houve uma análise positiva em relação ao destaque
que a edificação possui na cidade, conforme testemunho do professor de Direito do Trabalho,
Adriano Pascarelli, que ressaltou a importância do prédio a partir da quantidade de pessoas
que o utilizam além de sua importância como instituição de ensino na cidade.
Concluímos, a partir das entrevistas coletadas, que apesar das observações referentes
às alterações sem projeto, à estrutura aparente do prédio e de alguns elementos
arquitetônicos, como as cores, os usuários captam um sentido de bem-estar e acolhimento
em seu espaço interno. A comparação com uma estrutura escolar pouco alterou a opinião
positiva extraída sobre a obra executada e adicionou, em alguns casos, a garantia de
segurança e possibilidade de expansão no futuro. A faculdade, por se tratar de um local de
encontro, deve estar munida das ferramentas que tornem esse relacionamento interpessoal
possível. Esse ambiente arquitetônico desejável e favorável de encontro reflete na
permanência e união entre seus estudantes, professores e funcionários. A dinâmica na
atividade educacional se transfere para o espaço construído e por consequência para as
pessoas que nele habitam.
Conclusões
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Assim como as obras de pintura e escultura, a obra arquitetônica emociona, mas
também abriga o usuário e é nesse sentido que sua imagem como arte parece entrar em
questionamento. Conforme assegura Bruno Zevi, em seu livro Saber ver a Arquitetura, uma
“crítica moderna, viva, social e intelectualmente útil, ousada, não serve, por isso, apenas para
o prazer estético das obras históricas; serve também e, sobretudo para colocar o problema
do ambiente social em que vivemos” em pauta. Dessa forma, exercendo a atividade reflexiva,
críticos, arquitetos, estudante de arquitetura, pessoas em geral poderão reconhecer e “saber
ver” a arquitetura. (ZEVI, 2009. p. 200)
A cultura arquitetônica ainda é pouco difundida, inclusive dentro do ambiente
universitário, por vezes fica restrita a rodas de intelectuais ou elitistas que podem resultar
em duvidosa qualidade de critica sobre os problemas espaciais. Através da análise da
edificação da FA7 elaborada, pelos próprios estudantes do curso de arquitetura e urbanismo,
foi possível perceber que alguns problemas decorrentes da concepção, execução e utilização
do espaço estudado fazem parte do processo de construção do espaço social que vivemos.
Teoria, história e critica são parte integrante do processo projetual, o estudo amplo e próximo
ao objeto arquitetônico contribui efetivamente para o aprendizado sobre projeto e obra.
Marina Waisman (2003, p, 35.) afirma que “toda reflexão histórica é um dos meios mais
completos para se conhecer a própria realidade” que a análise critica considerando seu objeto
no contexto histórico “cumpre um papel importante” na tomada de consciência do concreto
significado que a arquitetura tem na vida das pessoas.
Referências
18
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp; Estação Liberdade, 2001.
GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras ; CORRÊA, Elyane Lins. Reconceituações
contemporâneas do patrimônio. Salvador. EDUFBA, 2011.
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.
__________. Josep Maria. Arquitetura e Crítica. Barcelona. Editorial Gustavo Gili. 2007.
PORTFOLIO, Brasil Arquitetura. Nasser Hissa 40 anos. JJ Carol Editora. 2010.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 12. ed. São Paulo:
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SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo:
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SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1998.
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______. Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo. Editora WMF Martins Fontes. 2009.
WAISMAN, Marina. O interior da história: historiografia arquitetônica para o uso de
latino-americanos. São Paulo. Perspectiva. 2003.
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