Estudo anatômico funcional do tubo digestório de dois ciclídeos ornamentais do rio Catolé Grande, Itapetinga, BA, relacionado com estratégias alimentares Leonilde Xavier Costa1*, Cláudia Maria Reis Raposo Maciel2, Alaor Maciel Júnior2, Larissa Neres Barbosa de Sousa3, Alice Almeida Diniz4, Juliana Silva Nascimento3, Raul Santos Alves5, Rafaela Porto Silva1 1 Graduando em Zootecnia, bolsista do PIBIC/UESB, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, BA. [email protected] 2 Professor Titular da UESB, Laboratório de Biologia, Itapetinga, BA. 3 Graduando em Ciências Biológicas, bolsista do PIBIC/FAPESB, UESB, Itapetinga, BA. 4 Graduando em Ciências Biológicas, bolsista do PIBIC/CNPq, UESB, Itapetinga, BA. 5 Biólogo, Mestrando em Ciências Ambientais - PPGCA / UESB, Itapetinga, BA. *Autor apresentador. Resumo: A piscicultura ornamental vem crescendo, e o alto valor dos peixes no mercado estimulam os produtores.Utilizou-se exemplares de Cichlasoma sp. e Geophagusiporangensis, do rio Catolé Grande, BA.Nas duas espécies, o esôfago era um tubo cilíndrico e curto, e o estômago do tipo cecal, em G.iporangensis, em “Y”, e Cichlasoma sp., em “J”, dividido em 3 regiões: cárdica, cecal e pilórica. O intestino médio espiral tinha pregas longitudinais que direcionavam o alimento e aumentavam a área de absorção de nutrientes. As diferenças estruturais corroboram os hábitos alimentares das espécies. Palavras-chave: anatomia, cará, esôfago, estômago, ictiologia, intestino Anatomic-functional study of the digestive tract of two ornamental cichlids fromCatolé Grande river, Itapetinga, BA, related to food strategies Abstract:The ornamental fish farming has been increasing, and the high value of fish on the market stimulate producers. It was used samples of Cichlasoma sp. and Geophagusiporangensis, from Catolé Grande river, BA. In both species, the esophagus was a short cylindrical tube, and stomach cecal type in G. iporangensis "Y"-type, and Cichlasomasp, "J"-type, divided into three regions: cardic, cecal and pyloric. The spiral midgut had longitudinal folds that direct food and increased nutrient absorption area. The structural differences corroborate the feeding habits of these species. Keywords:anatomy, cará, esophagus, ichthyology, intestine, stomach Introdução A criação de peixes ornamentais vem adquirindo status elevado no comércio aquícola, principalmente no externo, sendo uma das diversas vertentes da piscicultura. O cultivo de peixes ornamentais no Brasil é uma atividade que o seu maior limitante é a falta de conhecimentos referente à biologia e forma de cultivo das espécies. Para que uma espécie de peixe seja cultivada são necessários conhecimentos básicos sobre o seu hábito alimentar, potencial de crescimento, reprodução e comportamento em cativeiro (CÂMARA, 2004). A pouca exigência na atividade, o rápido retorno econômico e o alto valor dos peixes ornamentais no mercado tanto nacional quanto mundial estimulam o ingresso de produtores na atividade. Ainda de acordo com este autor, o Brasil é considerado o maior celeiro de peixes ornamentais de água doce do mundo. A espécie Cichlasoma sp. é um ciclídeo de pequeno porte, com hábitos territorialistas, utilizado com peixe ornamental, sendo espécie onívora, com tendência a invertivoria. Já Geophagusiporangensis, espécie encontrada em quase todos os tipos de ambientes, alimenta-se preferencialmente de invertebrados que revolvem o substrato e de detritos (AMORIM-SANTOS, 2015) O aparelho digestório de peixes apresenta variações relacionadas ao alimento ingerido e ambiente, tornase de suma importância o conhecimento da anatomia do mesmo, visto que esta variação pode indicar a diversidade das dietas e modos de vida. Assim, objetivou-se descrever e comparar a anatomia do tubo digestório dos ciclídeos ornamentais, Cichlasoma sp. e Geophagusiporangensis, coletados no rio Catolé Grande, no município de Itapetinga, BA. Material e Métodos Foram utilizados 20 exemplares de peixes adultos pertencentes à ordem Perciformes e família Cichlidae, sendo 10 de cada espécie, Cichlasoma sp. e Geophagusiporangensis, que foram coletadas no rio Catolé Grande, no município de Itapetinga, BA, em 2012, e estavam armazenados na coleção do Laboratório de Biologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB, Campus Juvino Oliveira, em Itapetinga, BA. A biometria dos exemplares foi realizada com auxílio de paquímetro digital, com precisão de 0,01mm, e as fotografias com câmera digital. Para o estudo morfológico, dois exemplares de cada espécie foram dissecados de acordo com a técnica de Amlacher e quatro foram seccionados e planos sagital mediano, frontal e transversal. Para descrever o padrão da mucosa dos órgãos do tubo digestório, este foi incisado e as paredes rebatidas e fixadas, com auxílio de alfinetes, em placa de petri preenchida com cera. As descrições foram realizadas com auxílio de microscópio estereoscópico. Considerou-se a divisão do tubo digestório em: Intestino anterior (esôfago e estômago), intestino médio (intestino propriamente dito) e intestino posterior (reto e ânus), conforme BARCELLOS et al. (2014). Todo o trabalho foi conduzido de acordo com os Princípios Éticos para o Uso de Animais de Laboratório, publicado pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal – COBEA. Resultados e Discussão Em corte sagital mediano de Cichlasoma sp. e Geophagusiporangensis foi visualizado a disposição dos órgãos dos aparelhos digestóriosna cavidade peritoneal, que ocorreu de modo semelhante a outras espécies descritas (BARCELLOS et al., 2014), e ocupava, pelo menos, os dois terços anteriores. A forma da cavidade peritoneal acompanhou o padrão corporal das espécies, que é comprimido e os órgãos do tubo digestório não a preenche totalmente, sendo mais volumosos em Cichlasoma sp. O esôfago das espécies se apresentou como um tubo cilíndrico, curto, limitado anteriormente pelo arco branquial e posteriormente pelo estômago, sendo de difícil identificação. Porém, este não oferecia obstáculos à passagem dos alimentos. As espécies apresentaram estômagos do tipo cecal, sendo que Geophagusiporangensis apresentou estômago cecal em “Y”, e Cichlasoma sp., estômago cecal em “J”. O estômago das espécies apresentou-se como um órgão bem definido, sendo possível identificar três regiões distintas: a região cárdica, região cecal, e pilórica. De acordo com MORAIS et al. (2014), o estômago do tipo sacular ou em “Y” permite a ingestão de presas inteiras, ocorrendo a distensão das paredes estomacais, em especial nas regiões cárdica e fúndica. Identificou-se, nas duas espécies, a presença de esfíncter cárdico na porção anterior ao estômago e esfíncter pilórico na porção posterior ao estômago. Desse modo, a presença de pregas mais espessa no estômago de Geophagusiporangensis, contribui para a distensão do órgão, e o esfíncter pilórico, além de impedir o refluxo do alimento, colabora para que este permaneça mais tempo no estômago sob a ação do suco gástrico. O intestino médio era disposto em forma de espiral, enovelados e ligados por tecido conjuntivo. Em Geophagusiporangensis, ele foi subdividido em três alças intestinais e em Cichlasoma. sp. em seis alças intestinais que se encontravam interligadas pelo mesentério de tecido conjuntivo. Para PESSOA et al. (2013), dentre as variações verificadas no intestino de peixes, as relacionadas à anatomia e ao comprimento são mais específicas.Ao observarmos a porção anterior do intestino médio, verificou-se pregas longitudinais que atuariam no direcionamento do alimento, no aumento da área de contato e, consequentemente, na absorção de nutrientes. Ambas as espécies apresentaram tais pregas, entretanto, observaram-se diferenças na sua disposição. Em Cichlasoma sp. verificou-se três pregas primárias e sulcos bem evidentes, sendo elas mais espessas e largas, já em Geophagusiporangensis, elas estavam dispostas de forma que se apresentam mais delgadas e estreitas. Segundo BARCELLOS et al. (2014), a mucosa intestinal pregueada, que varia a complexidade entre as espécies, resulta na retenção do alimento e ampliação da sua área de absorção. No intestino posterior foi identificado o reto, com parede muscular mais grossa que a do intestino e o seu padrão longitudinal das pregas pode ser a estrutura facilitadora para a passagem do alimento digerido e expulsão do bolo fecal para o exterior. Conclusões O tubo digestório de ambas as espécies é completo e as adaptações tróficas verificadas em Geophagusiporangensis e Cichlasoma sp. retrataram seus os hábitos alimentares distintos, preferencialmente invertívora e onívora com tendência a invertívoria, respectivamente. Referências BARCELLOS, J.F.M.; BRANCO, E.; PONTES, D. Aspectos morfométricos do tubo digestório de Roeboidesxenodon e Orthospinusfranciscencis. Revista Biotemas, v.27, n.3, p. 139-147, 2014. CAMARA, M.R. Biologia Reprodutiva do Ciclídeo Neotropical Ornamental Acará Disco, Symphysodon discus Heckel, 1840 (Osteichthyes: Cichlidae), Tese (Doutorado em Ciências: ecologia e recursos naturais) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2004, 147p. MORAIS, A.L.S.; CARVALHO, M.M.; CAVALCANTE, L.F.M.; OLIVEIRA, M.R.; CHELLAPPA, S. Características morfológicas do trato digestório de três espécies de peixes (Osteichthyes: Lutjanidae) das águas costeiras do Rio Grande do Norte, Brasil. 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