| e d i ç ã o 1 9 | A b r / M a i / J u n 2 0 1 4 | Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugura Centro Cirúrgico em sua nova Torre Págs. 18 a 21 Personagem HAOC Conheça a história de Dra. Darcy Carmem Marchione Monteiro Pág. 09 Como eu trato Transplante de Medula Óssea – Uma visão atual Págs. 15 e 16 Revisão Sistemática Imunoglobulinas Intravenosas: existem diferenças no efeito entre as diferentes apresentações comerciais? Págs. 24 e 25 22 04 giro pelo hospital Superintendente do Hospital profere palestra em evento internacional do Hult Prize 10 e 11 12 14 23 comissão de bioética Diretivas antecipadas de vontade livraria Um século de descobertas ENTREVISTA Combate permanente à hipertensão INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Médicos concluem pós-graduação em Cirurgia Bariátrica e Metabólica exames laboratoriais Sequenciamento dos genes BRCA1 e 2 – Exame aumenta a possibilidade de resultados conclusivos 17 tempo livre Um médico de palavras edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 29 eventos em destaque Telemedicina em debate 30 31 a 33 RESPONSABILIDADE JURÍDICA Segunda Opinião REUNIÕES CIENTÍFICAS 2º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea Doenças Infecciosas e a Copa do Mundo Cirurgia Bariátrica e Metabólica – Alguns aspectos ainda não resolvidos Visão Médica EDITORIAL Ampliação e qualidade C om um trabalho fundamentado no projeto de expansão e desenvolvimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que conta com o indispensável apoio de nosso Corpo Clínico, conquistamos inúmeros avanços, como a inauguração de nosso novo e moderno Centro Cirúrgico. Equipado com recursos de última geração e estruturado de forma a garantir conforto para as equipes cirúrgicas, o novo espaço ampliou a capacidade para a realização de procedimentos de alta complexidade em nosso parque operatório. Esta evolução, que coloca a tecnologia a serviço de nossos médicos e pacientes, aliada às iniciativas implementadas pela Área de Relacionamento Médico, confirma o empenho da Instituição em garantir condições de excelência para a prática da melhor Medicina, objetivo pelo qual estamos dando continuidade, também, ao trabalho realizado com êxito desde 2013, por meio dos encontros com os médicos de nosso Corpo Clínico. Mais que um canal de relacionamento, os Fóruns Médicos que, a partir do segundo semestre, ocorrerão em encontros mensais, serão ferramentas para o desenvolvimento que almejamos para nosso Hospital. Por isso, a participação de todos é fundamental. Juntos, construiremos um Hospital cada vez melhor. Dr. Mauro Medeiros Borges Superintendente Médico Ideias e Mudanças R ecentemente, por conta da mudança no fluxo de entrada dos médicos e a criação do novo estacionamento, fiz uma reflexão sobre como ideias aparentemente inovadoras, mas que geram algum tipo de mudança, podem ser criticadas e combatidas quando não passam por uma análise mais detalhada e profunda. Confesso que, a princípio, eu mesmo fui contra a mudança do estacionamento. Imaginava que a alteração poderia provocar perda da comodidade e autonomia de alguns médicos, mas, hoje, percebo que os colegas adotaram e aprovaram o novo formato, que contribuiu para otimizar o tempo dos médicos em nosso Hospital. Obviamente, tenho de me render ao fato de que esta ideia inovadora beneficiou o trabalho dos colegas, mas acho que fica a mensagem sobre a importância da prudência e do bom senso quando estivermos diante de ideias inovadoras. Outra ideia inovadora, essa sim com concordância plena dos médicos desde o início, foi a nova política de relacionamento médico e a criação de agentes de relacionamento, que trabalham para facilitar a atuação dos profissionais em nossa Instituição. Essa política de relacionamento é fruto do pensamento “meritocrático” que agora norteia as decisões assistenciais do nosso Hospital e que, certamente, culminará no reforço do prestígio de nossos médicos. . Dr. Marcelo Ferraz Sampaio Diretor Clínico edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Visão Médica 3 GIRO PELO HOSPITAL Superintendente do Hospital profere palestra em evento internacional do Hult Prize E stimular o uso da inovação como força transformadora. Este é o objetivo do Hult Prize, iniciativa criada pela Hult Internacional Business School e que, com o apoio da Clinton Global Initiative (CGI), desafia jovens empreendedores a apresentarem projetos inovadores e que possam solucionar importantes questões sociais, como as doenças crônicas nas favelas urbanas, tema da edição 2014 da premiação. Conhecida como uma das principais competições anuais de empreendedorismo mundial, o Hult Prize deste ano recebeu mais de 10 mil inscrições e contou com seletivas realizadas em Dubai, Xangai, Londres, Boston, São Francisco e, pela primeira vez, em São Paulo. Realizada no mês de março, a final brasileira contou com a participação do Superintendente de Educação e Ciências do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Jefferson Fernandes, que foi convidado pela Hult Internacional Business School a palestrar sobre o tema. “Foi uma experiência muito interessante falar para jovens de várias partes do mundo sobre um tema tão relevante e para o qual soluções eficientes são necessárias e urgentes”, revela. Com o projeto de NanoHealth – tecnologia que cria redes de saúde locais para moradores de favelas – a equipe Hyderabad, da Indian School of Business, foi a grande vencedora da etapa São Paulo e, assim com as selecionadas nas outras cinco regionais, participará da grande final da competição, que acontecerá em setembro, na sede da CGI, em Nova Iorque. No evento, os candidatos apresentarão seus projetos a uma plateia de classe mundial, que contará com o ex-presidente norte-americano Bill Clinton como um dos jurados, e disputarão o prêmio de US$ 1 milhão, além da orientação da comunidade internacional de negócios para transformar o projeto em realidade. Dr. Jefferson Fernandes Modelo de tecnologia E e Saúde, falou sobre o empenho do Hospital na utilização da tecnologia como ferramenta estratégica para a ampliação da segurança e da qualidade no atendimento hospitalar. Representando a Instituição durante o evento, Dr. Rodrigo Bornhausen Demarch, Gerente de Qualidade de Vida “No Brasil, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz foi o primeiro a lançar uma versão da prescrição para iPad, alinhada aos conceitos de usabilidade preconizados pela Apple. Desta forma, podemos dizer que criamos um modelo bem sucedido e que pode engajar outras instituições nesse tipo de iniciativa”, explica. m março, o evento “iPad e mobilidade em Healthcare”, realizado em São Paulo pela Apple, contou com a participação de membros do Corpo Clínico de importantes hospitais da capital. Na ocasião, foi apresentado o Tasy para iPad, projeto lançado em parceria entre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a Philips, como iniciativa de destaque no setor. 4 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 GIRO PELO HOSPITAL Identidade HAOC E m março, com a inauguração da nova área de Relacionamento Médico, os membros do Corpo Clínico do Hospital passaram a contar com um serviço exclusivo de empréstimo de jalecos para uso na Instituição. Distribuídos aos médicos cadastrados para a utilização do benefício, os jalecos são entregues de acordo com o CRM e a leitura de um código de barras. “Disponibilizamos o serviço junto à área de Relacionamento. Neste espaço, em que são realizados também o cadastro biométrico e a inscrição no Programa de Desenvolvimento Médico do Hospital, o profissional pode retirar um jaleco pronto para uso e, se for o caso, deixar ali o jaleco de outra instituição para retirar no momento em que estiver saindo do Hospital”, explica Dra. Fabiane Cardia Salman, Gerente de Relacionamento Médico. De acordo com a Gerente, o serviço, localizado em uma área que já reúne uma série de facilidades, foi muito bem recebido e, da data do lançamento, no dia 10 de março, até o final do mês de abril, já contabilizava o empréstimo de aproximadamente 900 jalecos. O número, no entanto, deve aumentar com o trabalho dos agentes de relacionamentos, que começaram a explicar aos médicos o serviço e seus benefícios, salientando a orientação institucional quanto ao uso do jaleco com a marca do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “O sucesso do serviço de jalecos deve-se à atuação da Diretoria Clínica e da Superintendência Médica do Hospital que, em uma atuação sinérgica, têm reforçado junto ao Corpo Clínico, a importância de, literalmente, ‘vestir a camisa’ da Instituição”, afirma Dra Fabiane. Livro apresenta Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas N o dia 27 de março, em Brasília, representantes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Ministério da Saúde promoveram o lançamento do Livro de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, Volume II – SAS e SCTIE/MS. A publicação busca contribuir para a qualificação da assistência e a organização dos fluxos, otimizando o uso de recursos para cada quadro epidemiológico, assim como uso racional de medicamentos de alto custo. A iniciativa integra o Projeto de Elaboração, Revisão e Implementação de PCDTs, desenvolvido pelo Hospital dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). De acordo com Izolda Machado Ribeiro, Gerente de Sustentabilidade Social do Hospital, o livro contém protocolos com informações detalhadas sobre como proceder quanto ao diagnóstico, tratamento, controle e acompanhamento de pacientes. “São informações edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 que vão da caracterização da doença e critérios de inclusão ou exclusão de pacientes no respectivo protocolo, passando pelo tratamento indicado (inclusive os medicamentos a serem prescritos e suas formas de administração e tempo de uso) até os benefícios esperados e o acompanhamento dos doentes. Com o novo volume, estamos dando continuidade e ampliando o trabalho iniciado em 2010, com o lançamento do primeiro livro. Ainda este ano, pretendemos lançar o terceiro volume da publicação, além de uma edição exclusiva, contendo Protocolos e Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas em Oncologia”, revela. Para a Gerente, além de nortearem a assistência médica e farmacêutica, os PCDTs auxiliam os gestores da Saúde, pois representam um instrumento de apoio na disponibilidade de procedimentos e na tomada de decisão quanto à aquisição e dispensação de medicamentos, tanto no âmbito da atenção primária como no da atenção especializada. Visão Médica 5 GIRO PELO HOSPITAL Centro de Nefrologia e Diálise reduz índice de infecções E m um esforço de aperfeiçoamento multiprofissional, iniciado em abril de 2012, o Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz conseguiu reduzir suas taxas de infecções em processos dialíticos de maneira muito significativa. O trabalho foi pautado na adoção de indicadores de qualidade definidos pela Rede Nacional de Segurança na Assistência à Saúde dos Estados Unidos (NHSN). De acordo com o Coordenador do Centro, Dr. Américo Cuvello Neto, com a utilização de quatro indicadores, desenvolvidos pela NHSN para pacientes crônicos em programas de hemodiálise – taxas de infecção da corrente sanguínea relacionada ao acesso vascular, que podem ser cateteres tunelizados ou fístulas arteriovenosas; taxa de infecção local do acesso vascular; uso de vancomicina em pacientes do programa; e taxa de hospitalização destes pacientes – a unidade consolidou importantes protocolos assistenciais e adquiriu novos parâmetros pelos quais passou a mensurar os índices de infecção da área. “Observamos baixos índices de infecção relacionada a acesso vascular para diálise desde a implantação do sistema de vigilância. Só para que se tenha uma ideia, em 2012 e 2013, as taxas de bacteremia relacionada ao cateter tunelizados foram 0,74% e 1% respectivamente. Além disso, não houve registro de infecção em fístula arteriovenosa neste período. A mediana dos 32 centros norte-americanos que reportam ao NHSN foi 3,4%. Vale ressaltar que o perfil epidemiológico dos nossos pacientes é bastante semelhante aos centros norte-americanos. Temos 33% de diabéticos, a idade média é de 67,5 anos e 39% dos pacientes possuem cateteres tunelizados. Evidentemente, empreendemos esforços para reduzir ainda mais as taxas, principalmente com revisão das práticas de cuidado do acesso vascular, intensificação da importância da lavagem das mãos e aumento do número de frascos de álcool gel para higienização das mãos. Estas medidas resultaram em uma tendência de queda dos níveis observados inicialmente em três dos quatro indicadores analisados”, explica. Ciclo virtuoso Para o Coordenador do Serviço de Infecção Hospitalar (SCIH) da Instituição, Dr. Ícaro Boszczowski, utilizar o NHSN garante ao Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital um parâmetro de comparação com centros de referência, além de subsidiar ações internas de prevenção e controle de infecção na Unidade. De acordo com o médico, em setembro de 2013, a Divisão de Infecção Hospitalar da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo implantou um sistema de vigilância muito semelhante ao norte-americano e, em breve, os dados do Hospital poderão ser comparados também aos centros paulistas de hemodiálise. “Os resultados alcançados no trabalho realizado até aqui são excelentes e, a julgar pelo desempenho de nosso Centro, posso afirmar que estamos indo na direção certa. Os projetos de prevenção, desenvolvidos pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar têm sido planejados a partir de diagnósticos cuidadosos de nossas necessidades, com a definição clara de nossas metas, sempre utilizando os melhores centros para comparação externa, com execução meticulosa e reavaliação periódica dos resultados alcançados. Este ciclo virtuoso torna a Instituição cada vez mais segura em termos de prevenção de infecção”, conclui. Correndo pelo HAOC A 31ª Maratona Internacional de Porto Alegre contou com três participantes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Marcelo Lacerda, Presidente da Instituição, disputou na modalidade Rústica. Já o Superintendente Médico Dr. Mauro Medeiro Borges e o cirurgião Dr. Ricardo Cohen correram na prova de 42,195 km. O evento aconteceu no dia 18 de maio, na capital gaúcha. 6 Visão Médica Dr. Mauro Medeiros Borges e Dr. Ricardo Cohen edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 GIRO PELO HOSPITAL O Passado Vivo N a primeira foto, Dra. Maria Regina Vianna, Dr. Flair Carrilho, Dr. Yoram Weissberger e Dr. Benedito Negrini no antigo Restaurante dos Médicos. Na outra imagem, o jardim da antiga vista da seção 1 A Norte. Comunicação rápida e segura O Hospital Alemão Oswaldo Cruz está utilizando uma ferramenta para dinamizar a troca de informações entre a Instituição e os membros de seu Corpo Clínico, assim como entre médicos, tanto da mesma especialidade como de diferentes áreas. Resposta a uma demanda apresentada ao longo dos Fóruns Médicos, realizados em 2013, a utilização deste novo sistema, criado pela empresa Medicinia, visa à ampliação da segurança na troca de informações, hoje inexistente na utilização dos chamados ‘torpedos’, ou mesmo em aplicativos como o popular WhatsApp. O projeto, liderado pela área de Relacionamento Médico, já está realizando testes com a nova ferramenta. “Apresentamos o sistema aos Coordenadores Médicos e iniciamos os testes já no dia 21 de março. Em breve, ampliaremos este grupo-teste, liberando o aplicativo para médicos de algumas especialidades. Nosso objetivo é submeter o sistema à utilização diária e verificar, com o apoio do Corpo Clínico, eventuais gargalos para que possamos corrigir e aprimorar o sistema antes de liberar sua utilização”, explica Dra. Fabiane Cardia Salman, Gerente de Relacionamento Médico do Hospital. “A ideia é criar um canal totalmente institucional. Com informações criptografadas, médicos e mesmo áreas inteiras poderão compartilhar mensagens confidenciais como, imagens e arquivos sobre pacientes, por exemplo”, explica Giovanni Cavallieri Dias, do Departamento de Análise de Negócios do Hospital De acordo com a equipe de TI da Instituição, a ferramenta, que será liberada aos médicos do Corpo Clínico mediante autorização, estará disponível para PCs, assim como para os sistemas iOs (Apple) e Android. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Visão Médica 7 Dia a dia do médico/ QuaL É a sua opinião? Desvendando a contribuição previdenciária A Previdência Social é um seguro com a finalidade de prover subsistência ao trabalhador que, ao perder sua capacidade laborativa, atingir certa idade ou acumular determinado tempo de contribuição, reduz ou deixa sua atividade profissional. Por isso, todo trabalhador formal recolhe, diretamente ou por meio de seu empregador, contribuições para o Fundo de Previdência. Já a partir do período de Residência, o médico passa, obrigatoriamente, a ser segurado pela Previdência Social, iniciando, assim, o recolhimento como contribuinte individual. Mesmo quando sua atuação se dá em condição autônoma, o médico precisa manter a contribuição para, com isso, acumular o tempo mínimo exigido pelo Decreto 3048, de 6 de maio de 1999, que regulamenta a Previdência Social, e desta forma, ter direito à renda . No caso daqueles que trabalham em regime CLT, a contribuição previdenciária é retida na fonte. Deve-se, neste caso, prestar atenção para não destinar à Previdência valor maior ou indevido, algo que ocorre quando, além do vínculo celetista, o médico trabalha na condição de contribuinte individual em outro tomador de serviço. Já para os médicos que exercem a atividade como parte de uma sociedade de profissionais, ou seja, na condição de segurado empresário (PJ), a contribuição previdenciária ocorrerá sobre o rendimento do trabalho ou pró-labore, de acordo com a escrituração contábil. Caso isso não ocorra, todo rendimento recebido ou creditado na forma de dividendos proveniente do rendimento do capital, será considerado como base de cálculo para a contribuição previdenciária, aplicando a alíquota de 20%. Em suma, todo profissional liberal deve recolher sua contribuição à Previdência Social, conforme sua condição de segurado, que pode se alterar durante a vida profissional e independentemente da forma de atuação. Celso Hideo Fujisawa [email protected] (11) 3469-8788 / (11) 99975-1186 Qual é a sua opinião? Caso relatado pelos Drs. Bruna Maria Thompson Jacinto e Ricardo Gonçalves Lorenzo, do Grupo de Radiologia da Mama do Fleury e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Paciente do sexo feminino, com 58 anos e queixa de descarga papilar sanguinolenta na mama direita. Realizou-se mamografia com resultado negativo e ressonância magnética das mamas. Feita a ultrassonografia dirigida, identificou-se nódulo hipoecogênico e circunscrito na projeção do realce linear, que foi submetido à biópsia aspirativa assistida a vácuo guiada por ecografia. Resposta na pág. 27 8 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 PERSONAGEM HAOC Exemplo que fica C açula, em uma família de imigrantes italianos estabelecidos na cidade de São Carlos, aos 17 anos, Darcy Carmem Marchione Monteiro decidiu seguir para a capital e concluir seus estudos. Apoiada pelos irmãos Felipe e Danilo, estabelecidos como comerciantes na região central de São Paulo, ela ingressou no curso da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e, em 1950, formou-se na 33ª Turma da instituição. Contemporânea de um grupo de altíssimo nível e que deu à FMUSP dois professores catedráticos – os Drs. Isaias Raw e Bernardo Leo Wajchemberg –, Dra. Darcy permaneceu imersa em um produtivo ambiente de estudos e, contando com o incentivo dos professores Constantino Mignone e Antonio Monteiro Cardoso de Almeida, decidiu especializar-se em Anatomia Patológica, atuando com dedicação e brilhantismo às atividades assistenciais e acadêmicas. Além de todo o conhecimento, inspiração e experiência adquirida, Dra. Darcy encontrou na Universidade, também, um companheiro. Casou-se, tempos depois, com o Dr. Fernando dos Santos Monteiro, seu ex-colega de turma. Juntos, tiveram três filhos, Carmem Leonor, Fernanda e Danilo. “Dra. Darcy foi um exemplo e serviu de inspiração para gerações de médicos. Se, na Turma graduada pela FMUSP em 2013, 62 dos 179 formados eram mulheres, em sua turma, dentre os 83 graduados, apenas 11 eram do sexo feminino. Sua atuação no Departamento de Patologia e no Laboratório de Patologia Cirúrgica do Hospital das Clínicas da FMUSP foi longa e admirável, de modo que, ao aposentar-se, em 1995, além dos títulos de Doutora, Professora Livre-Docente e Professora Adjunta, acumulava numerosas homenagens pelos excelentes serviços na área de ensino e de pesquisa”, revela o também Patologista Dr. Venancio Avancini Ferreira Alves, Sócio-Diretor do Centro de Imunohistoquímica, Citopatologia e Anatomia Patológica (CICAP) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e atual professor titular de Patologia na FMUSP. De acordo com Dr. Venâncio, na atuação da médica, merece destaque seu trabalho no âmbito cardiovascular, tendo sido a principal patologista do renomado grupo de clínicos e cirurgiões liderados pelos professores Luiz Venere Decourt e Euryclides de Jesus Zerbini, edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Dra. Darcy Carmem Marchione Monteiro com quem publicou numerosos trabalhos, bem como suas teses de Doutorado e Livre-Docência. Entre os anos de 1951 e 1978, Dra. Darcy atuou como patologista no Laboratório do Hospital Samaritano e, em 1966, fundou e passou a dirigir o Laboratório de Anatomia Patológica e Citologia Drs. Darcy e Fernando dos Santos Monteiro.“O trabalho nesses dois laboratórios, aproximou Dra. Darcy do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tendo atendido a muitos exames que lhes eram encaminhados pelas várias equipes cirúrgicas que atuavam na Instituição. Enquanto o Hospital ainda não contava com um laboratório atuante em suas próprias dependências, Dra Darcy era frequentemente chamada para executar exames intraoperatórios”, lembra Dr. Venancio. Mesmo quando, em 1986, o então Diretor Clínico do Hospital, Dr. Arrigo Raia, convidou a equipe do CICAP para montar um laboratório, as portas da Instituição permaneceram abertas à Dra. Darcy que, sempre que chamada, solicitava à Dra. Maria Regina Vianna, uma de suas antigas alunas, a acompanhasse nos exames intraoperatórios. Algo que ocorreu até poucos anos atrás, quando aposentou-se. Em 26 de março de 2014, aos 89 anos de idade, Dra. Darcy Carmem Marchione Monteiro faleceu. Além de um legado importante e do exemplo que permanece vívido para colegas e alunos, Dra. Darcy deixa a inspiração de quem, com uma maneira singular de se aproximar das pessoas e partilhar de seus sentimentos e dificuldades, estava sempre pronta para colaborar com seu modo de ser, espontaneidade e solidariedade. Contribuíram para esta homenagem o Dr. Venancio Avancini Ferreira Alves e a Sra. Carmem Leonor Marchione Monteiro. Visão Médica 9 ENTREVISTA C onsiderada um dos principais fatores para ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVCS) e infartos, a hipertensão arterial é uma doença de extrema importância em todo o mundo. Ainda assim, no Brasil, apenas metade dos hipertensos conhecem sua real condição de saúde e a maior parte não realiza o controle apropriado da doença. Em entrevista realizada por ocasião do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, celebrado no dia 26 de abril, o cardiologista Dr. Luiz Bortolotto, Coordenador do Centro de Hipertensão do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, fala sobre o perigo da doença e o trabalho de excelência realizado pela equipe multiprofissional da Instituição para auxiliar o diagnóstico e o tratamento da doença. Visão Médica: Silenciosa e, na maioria dos casos, assintomática, a hipertensão arterial está entre as doenças mais importantes do mundo. A que o senhor atribui esta condição? Dr. Luiz Bortolotto: Muito frequente na população, a hipertensão arterial é responsável, de forma direta e indireta, pelas principais causas de morte em nosso país, que são AVC e o infarto. Se não tratada adequadamente, a hipertensão pode causar outros danos, como insuficiência cardíaca, distúrbios de função cognitiva e, nos rins, é uma das principais causas de insuficiência renal crônica, com indicação de diálise. Assim, ela tem um impacto enorme, não só para o paciente, individualmente, mas também para a saúde pública e suplementar, uma vez que suas complicações representam as principais indicações para internações clínicas em nosso país. Combate permanente à hipertensão Dr. Luiz Bortolotto 10 Visão Médica Visão Médica: Com tamanha relevância, o senhor acredita que, atualmente, as pessoas procuram conhecer, acompanhar e, quando necessário, controlar a pressão arterial? Dr. Luiz Bortolotto: A evolução quanto ao conhecimento sobre a pressão arterial por parte da população é algo inegável. A informação virou um aliado importante e, graças ao trabalho de orientação, realizado por profissionais e Instituições como o Hos- edição edição17 19••Out/ Abr/ Nov/ Mai/ Dez Jun • 2013 2014 ENTREVISTA pital Alemão Oswaldo Cruz, temos conseguido, cada vez mais, conscientizar a população para os riscos da hipertensão arterial. Durante o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, celebrado em 26 de abril, por exemplo, o Centro de Hipertensão, que faz parte do Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital, realizou uma campanha de divulgação sobre a doença, distribuindo informativos em diversas áreas de atendimento da Instituição. Além disso, os médicos do Centro estão trabalhando no projeto de produção de um livro, com linguagem simples e de fácil entendimento, para oferecer orientação a pacientes e também outras pessoas da área de Saúde sobre os cuidados com a hipertensão. Este é, sem dúvida, um trabalho importante, mas sabemos que ainda temos muito a fazer. na ‘MAPA’ (monitorização de 24 horas), ou nas aferições realizadas em casa, desde que bem orientadas. Já quanto ao tratamento, hoje existe uma grande variedade de medicações, incluindo diuréticos, inibidores da enzima conversora, vasodilatadores e medicações que atuam no sistema nervoso. Por isso, além de observar o peso, reduzir o consumo de sal e realizar atividades físicas com regularidade, o paciente precisa buscar o acompanhamento e a orientação de um especialista para manter a hipertensão sob controle. Visão Médica: Além deste importante trabalho de orientação, quais são os diferenciais Visão Médica: O número de hi- na atuação do Centro de Hiperpertensos no Brasil continua tensão Arterial do Hospital Alemão Oswaldo Cruz? em evolução? Dr. Luiz Bortolotto: Entre 20 a 30% da população mundial é de hipertensos. No Brasil, avaliando os dados do último Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde, realizado em 2012, percebemos que esta também é a realidade brasileira, mas que em algumas regiões, como o Nordeste do País, estes índices chegam a 35% da população. Infelizmente, mesmo com o crescente acesso à informação e o trabalho realizado por instituições como a nossa, no país, apenas metade das pessoas com hipertensão arterial sabem que têm a doença e, daqueles que sabem, menos de 30% a controlam adequadamente. Avaliando países como o Japão ou o Canadá, verificamos que o conhecimento atinge 90% e o controle até 70%. Por isso, precisamos empenhar todo esforço para que possamos atingir este mesmo patamar. Visão Médica: Atualmente, como são realizados o diagnóstico e os principais tratamentos para a doença? Dr. Luiz Bortolotto: Desde a sua inauguração, em 2011, o Centro de Hipertensão conta com uma equipe de cardiologistas e nefrologistas especialistas na doença e que, com experiência internacional, participam ativamente das diretrizes brasileiras para o diagnóstico e tratamento. Atuando diariamente no Centro, estes médicos mantêm foco na abordagem integral do paciente hipertenso. Mesmo nos casos mais difíceis, em que a hipertensão apresenta características de difícil controle, são realizadas investigações detalhadas sobre as possíveis causas da doença. Há também um trabalho de pré-consulta com a equipe de Enfermagem, em que são obtidas as medidas de peso, altura, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal, pressão arterial e um questionário para pesquisa de doenças associadas ou agravantes, como a apneia do sono, por exemplo. Este conjunto de atividades, realizado graças à experiência de sua equipe médica e à sinergia com outras áreas de excelência, como o Centro de Arritmologia, que também faz parte do Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital, coloca o Centro de Hipertensão em uma posição de destaque. Dr. Luiz Bortolotto: O diagnóstico é obtido por meio da aferição bem feita da pressão arterial, observando os cuidados para que o paciente sinta-se confortável no momento desta avaliação. Em algumas situações, pode-se também recorrer a medidas que ultrapassem o ambiente hospitalar, como ocorre edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Visão Médica 11 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Médicos concluem pós-graduação em Cirurgia Bariátrica e Metabólica C om a recente entrega de suas monografias, os Drs. Geisson Beck Hahn, Giancarlo Búrigo e Mauricio Spagnol concluíram uma importante etapa em suas trajetórias acadêmicas. Os médicos são os três primeiros pós-graduandos formados pelo Curso de Especialização em Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Além da entrega dos trabalhos para a conclusão do curso, dois deles – Drs. Geisson e Maurício – apresentaram suas monografias para os Drs. Ricardo Victor Cohen e Luiz Vicenti Berti, além do Coordenador de Educação Médica do IECS, Dr. Andrea Bottoni. “Em nome de todos aqueles que integram o curso, posso dizer que foi gratificante participar do aperfeiçoamento destes três brilhantes profissionais. Nosso Programa de pós-graduação em Cirurgia Bariátrica e Metabólica oferece uma especialização baseada na prática, mas também na experiência de nosso Corpo Docente e na excelência do nosso Centro, que é referência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Temos, nesta primeira turma, três grandes exemplos do sucesso do curso e do excelente trabalho realizado pelo Hospital para a formação dos profissionais em Saúde”, avalia Dr. Andrea. Drs. Geisson Beck Hahn e Mauricio Spagnol 12 Visão Médica 14 Mai/ • Janeiro edição edição 19 • Abr/ Jun • 2013 2014 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Convênio com Universidade cria condições especiais para a realização de Mestrado N o último dia 24 de abril, o Superintendente de Educação e Ciências do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Jefferson Gomes Fernandes, e o Pró-Reitor de Pesquisa, pós-graduação e Extensão da Universidade Mogi das Cruzes (UMC), Prof. Dr. Miguel Luiz Batista Júnior, assinaram um convênio que ampliará as oportunidades de aperfeiçoamento acadêmico para profissionais do Hospital, já a partir do segundo semestre de 2014. Graças à iniciativa, médicos do Corpo Clínico, assim como colaboradores do Hospital, graduados em Ciências Biológicas, Biomédicas, Exatas e Tecnológicas, terão condições especiais para participar do curso de Mestrado Profissional em Ciências e Tecnologia em Saúde da UMC. Com dois anos de duração, o curso, que é reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação, está dividido em três grandes áreas de concentração – Gestão em Saúde (Empreendedorismo na Saúde; Gestão da Qualidade em Saúde e Gestão de Informação em Saúde); Pesquisa Clínica (Intervenções terapêuticas não farmacológicas e Estudos de Doenças Crônicas não transmissíveis); e Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Saúde (Avaliação Diagnóstico-Laboratorial; Desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas em processos patológicos). O curso tem como objetivo capacitar profissionais para atuação nas áreas de Pesquisa Básica e Aplicada em Saúde; Desenvolvimento e Inovação Tecnológica; Empreendedorismo; Administração e Gestão de processos, junto a diferentes estabelecimentos atuantes no setor, assim como prepará-los para a docência universitária. Por meio de formação multidisciplinar e ampliação de conhecimentos relacionados a estas áreas de atuação, o programa conta com disciplinas que valorizam o desenvolvimento e a participação do aluno em atividades práticas. Outro benefício, de acordo com Dr. Andrea, é que, além da possibilidade de desenvolver o Projeto de Pesquisa da pós-graduação nos laboratórios já instalados na Universidade e com o apoio da FAEP/ FAPESP/CNPq, os profissionais do Hospital poderão conduzir seus projetos utilizando também a estrutura da Instituição. “O IECS tem avançado de maneira importante com iniciativas de aperfeiçoamento profissional, geração e transferência de conhecimento. Esta parceria reforça esta estratégia e trará benefícios não apenas para os alunos, mas também para a nossa Instituição”, enfatiza o Dr. Jefferson Fernandes. “Com esta parceria, além dos Programas de pós-graduação lato sensu, dos MBAs nas áreas de Gestão e Economia em Saúde e do Programa de Educação Continuada, criados e conduzidos pelo Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital, ampliamos as oportunidades para médicos e colaboradores da Instituição, oferecendo condições para que realizem, também, esta pós-graduação stricto sensu”, explica Dr. Andrea Bottoni, Coordenador de Educação Médica do IECS. edição edição19 19••Abr/ Abr/Mai/ Mai/Jun Jun••2014 2014 Visão Médica 13 EXAMES LABORATORIAIS Sequenciamento dos genes BRCA1 e 2 – Exame aumenta a possibilidade de resultados conclusivos Assessoria Médica – Grupo Fleury Dra. Flavia Balbo Piazzon e Dr. Wagner Antonio da Rosa Baratela C apaz de detectar mutações nos 22 éxons e em cerca de 750 pares de bases das regiões intrônicas adjacentes do gene BRCA1, assim como nos 26 éxons e em cerca de 950 pares de bases das regiões intrônicas adjacentes do gene BRCA2, o teste genético pelo sequenciamento Sanger, associado à pesquisa de rearranjos nestes genes por PCR quantitativo ou exon-array, é indicado para pacientes com história pessoal e familiar de neoplasia de mama e de ovário que preenchem os seguintes critérios para a síndrome hereditária a esses cânceres (HBOC): • Familiar com mutação deletéria conhecida em BRCA1 e 2 • Presença de câncer de mama: - antes dos 45 anos ou em qualquer idade se houver, pelo menos, um parente de primeiro ou segundo graus com câncer de mama antes dos 50 anos ou de ovário em qualquer idade ou, ainda, dois parentes de primeiro ou segundo graus com câncer de mama, de pâncreas ou de próstata agressivo em qualquer idade. - do subgrupo triplo negativo em indivíduos com menos de 60 anos - em homens, em judeus Ashkenazi ou etnias prevalentes - em duas ocasiões distintas, sendo a primeira antes dos 50 anos o que aumenta a chance de o resultado ser conclusivo. Essa parceria permite, ainda, que a interpretação das variantes identificadas não apenas separe as sabidamente patogênicas e associadas à HBOC daquelas de significado clínico incerto (VUS), como também procure exaustivamente definir estas últimas, através do recrutamento de dados de todos os parentes de primeiro e segundo graus do paciente afetados por câncer. O teste pode também ser indicado, ainda que com limitações, para indivíduos sem neoplasia, mas com parentes de primeiro ou segundo graus que preencham qualquer um dos critérios acima ou com parentes de terceiro grau com câncer de mama e/ ou ovário se, pelo menos, estes últimos tiverem parentes de primeiro ou segundo graus com câncer de mama (um deles antes dos 50 anos) ou de ovário em qualquer idade. Vale ressaltar que, quando o resultado é negativo, apenas o paciente, e não a família, pode ser excluído da HBOC. Tal exame é oferecido pelo Fleury em parceria com o laboratório americano Myriad Genetics, pioneiro em Oncogenética e que possui um dos mais completos bancos de classificação de variantes na área, 14 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 COMO EU TRATO Transplante de Medula Óssea – Uma visão atual Dr. Philip Bachour O transplante de medula óssea (TMO) começou a ser idealizado no início da década de 1950, quando, nos primeiros experimentos em modelos animais, observou-se que a proteção esplênica ou a infusão de medula óssea após a irradiação corporal total impedia o óbito. Desde então, o TMO consolidou-se como uma modalidade de tratamento com potencial curativo para uma série de doenças malignas e benignas. Atualmente mais de 30 mil TMOs autólogos e 20 mil alogênicos são realizados anualmente em todo mundo. A descoberta do sistema HLA (antígeno leucocitário humano) e sua aplicabilidade na prática clínica, na busca por doadores ideais, trouxe resultados expressivos na sobrevida dos pacientes. Sabemos que, em uma herança mendeliana simples, a presença de um irmão HLA idêntico será de apenas 25%. Este fato, somado a uma tendência de proles cada vez menores, na maioria dos países, ao aumento na miscigenação e à imigração de pessoas a todas as regiões do mundo, tornou a localização de um doador compatível na família o maior obstáculo à realização do procedimento. Desta forma, atualmente, a maioria dos transplantes alogênicos utilizam doadores não aparentados provenientes de registros de doadores internacionais e bancos de sangue de cordão umbilical e placentário. Dados de 2014 da Organização Mundial dos Doadores de Medula Óssea (Bone Marrow Donors Worldwide) impressionam ao destacar o salto dos 200 mil doadores de medula óssea, cadastrados em 1989, para os cerca de 23 milhões atuais, além das 2 mil unidades de cordão umbilical criopreservadas e disponíveis em bancos de sangues públicos, em 1993, para as 611 mil unidades neste ano. No Brasil, o REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), órgão público instalado no Instituto Nacional do Câncer (INCA), armazena o registro de todos os doadores volun- edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Dr. Philip Bachour tários cadastrados no Brasil, enquanto o REREME (Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea) acompanha os milhares de pacientes inscritos, que aguardam um doador para a realização do TMO. Além destes há a Rede BrasilCord (Registro de Bancos de Sangue de Cordão Umbilical Públicos) que possui informações de todas as unidades de cordão umbilical disponíveis para TMO no país. Estes bancos de dados estão interligados aos diversos centros internacionais, por meio dos quais podemos receber e enviar “vida” a quem precisa. Com mais de 3 milhões cadastros, o Brasil possui o terceiro maior registro de doadores do mundo, atrás apenas de EUA e Alemanha. Esta conquista é resultado de uma política publica eficiente e contínua com investimentos que, de acordo com informações do INCA, são da ordem de R$ 670 milhões. Visão Médica 15 COMO EU TRATO As leucemias agudas estão entre as doenças de indicação mais frequente para TMO e, só no Brasil, estima-se o surgimento de aproximadamente 11 mil casos novos só este ano. Certamente, se 10% destes pacientes necessitarem de um TMO, mesmo com doadores disponíveis, há um obstáculo importante a transpor: teremos leitos disponíveis para atender os nossos pacientes? Certamente não. Possuímos cerca de 70 centros de transplante, distribuídos de forma desigual por todo país. Destes, 26 estão cadastrados para realização de transplantes de doadores não aparentados e, a maior parte deles está em atividade no Sudeste do país, principalmente no Estado de São Paulo. De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em 2013, foram realizados 1.813 transplantes de medula óssea no Brasil com um crescimento de 4% ao ano. O TMO foi realizado em 13 estados da federação, sendo que São Paulo foi responsável por 993 transplantes (397 dos 669 transplantes alogênicos realizados no país), o que corresponde a 54% de todos os procedimentos. Com estrutura física adequada e um time multidisciplinar treinado, além de especialistas neste tipo de tratamento, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz encontra-se, hoje, cadastrado para realização de quaisquer modalidades de transplante de medula óssea. Em 2013, a Instituição alcançou a marca de 30 transplantes realizados e, agora, diante do investimento que resultou na ampliação do numero de leitos com padrão de acolhimento e excelência, suas metas de crescimento são ainda maiores. Na capital, para ser um doador basta procurar o Hemocentro da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ou o Hemocentro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, locais onde uma entrevista e a coleta de uma amostra sanguínea para exames preliminares serão realizados. 16 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 TEMPO LIVRE Um médico de palavras Dr. Stefan Cunha Ujvari Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz H istórias de infância que têm Santos, no litoral Paulista, como cenário, possuem, geralmente, a praia, o sol e o futebol como elementos marcantes. Para o Dr. Stefan Cunha Ujvari, no entanto, além do mar, dos esportes e das amizades dos tempos de garoto, duas atrações tornavam a cidade ainda mais especial. A primeira era sua tia-avó Izolina, que o acompanhava pelos quatro cantos da cidade, ilustrando em detalhes cada momento historio e cada ponto turístico. A outra era a quantidade de pequenas livrarias que, em prateleiras antigas como a cidade, preservavam pequenos tesouros já usados. “Acho que foi exatamente neste período que o amor pela leitura e a curiosidade pela história se uniram. Até hoje, não tenho o hábito de ler romances ficcionais. Do mesmo modo, não costumo me apegar a um único autor, uma vez que isso é mais comum aos romancistas. Leio assuntos variados, mas sempre com predominância em história”, explica. Com mais de 2 mil livros em sua biblioteca pessoal, número que, provavelmente, deve superar a coleção de algumas das pequenas lojas que costumava frequentar na infância, o infectologista tem na leitura um pilar que avalia como fundamental para seu crescimento pessoal e o seu desenvolvimento profissional. “Em minha casa, os livros estavam sempre presentes. Minha mãe, assim como a tia Izolina, eram leitoras vorazes e eu não demorei a assimilar o hábito. Ao longo do tempo, pude perceber que a leitura pode ajudar a entender o comportamento humano, assim como pequenas intercorrências do dia a dia. Com isso, lidamos melhor com esses pequenos problemas diários”, afirma Dr. Stefan. Graças à intimidade com os livros, passar de leitor a autor foi algo que ocorreu quase naturalmente. Ao preparar sua tese de mestrado, no ano de 1995, Dr. Stefan percebeu, não sem algum espanto, a facilidade e a velocidade com que preenchia páginas inteiras. Com o incentivo de alguns colegas, que ao realizarem as primeiras leituras, elogiavam o estilo e a fluidez de edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Dr. Stefan Cunha Ujvari no lançamento de seu livro mais recente seu texto, soube, pela primeira vez, que sua relação com as palavras não se restringia à leitura. “Pouco tempo depois, enquanto preparava uma aula sobre a história das epidemias, resolvi produzir uma apostila para distribuir aos alunos. Contudo, com informações se avolumando e as pesquisas resultando em detalhes cada vez mais interessantes, as páginas também seguiam crescendo. Com o passar do tempo, aquilo que deveria ser uma apostila tornou-se ‘A História e suas epidemias’, meu primeiro livro, publicado em 2003.” Pouco mais de dez anos depois, pode-se dizer que a lista de livros cresceu. Tanto a de obras lidas, quando das escritas. “Neste período, publiquei outros cinco livros. O último, ‘A História do Século XX pelas Descobertas da Medicina’ (saiba mais na página 23), acaba de chegar às livrarias. Agora, quanto ao número de livros lidos nestes mesmos dez anos... Bom... Essa já é uma outra história.” Visão Médica 17 CAPA 18 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 CAPA Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugura Centro Cirúrgico em sua nova Torre edição edição19 19••Abr/ Abr/Mai/ Mai/Jun Jun••2014 2014 Visão Médica 19 CAPA L ocalizado no 2º andar do Bloco E, Torre inaugurada em dezembro 2012 e que simboliza o compromisso do Hospital Alemão Oswaldo Cruz com a qualidade e a constante atualização de seus serviços, o novo Centro Cirúrgico da Instituição representa mais um avanço no oferecimento de serviços de excelência aos pacientes, assim como de condições ideais para a prática da melhor Medicina. Com nove modernas salas cirúrgicas, com dimensões que variam entre 34 e 62m², e equipado com tecnologia de ponta para a realização de procedimentos de alta complexidade, o Centro abriga recursos inovadores que agregam segurança ao paciente e, além de beneficiarem o trabalho cirúrgico, garantirão mais conforto às equipes médicas. “Os focos cirúrgicos, por exemplo, são todos de LED, inovação que, além de melhorar a iluminação, realçando a cor dos tecidos durante os procedimentos, proporciona conforto térmico ao cirurgião, que atua muito próximo a este foco por horas. Além disso, as salas terão fluxo de ar misto, ou cortina de ar, sistema de integração e mobilidade das estativas, permitindo o melhor posicionamento tanto do paciente quanto da equipe em sala, de acordo com o proce- 20 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 CAPA dimento, e beneficiando a circulação em casos de emergência, já que, com menor número de cabos, o trânsito de profissionais poderá ocorrer de maneira muito mais simples”, explica Bruno Distrutti Querino, Supervisor de Engenharia Clínica do Hospital. apoio têm recebido treinamentos específicos, para compreender todo o funcionamento destas novas salas e utilizá-las em sua capacidade máxima. Tecnologia a serviço da excelência Outra inovação importante, de acordo com o engenheiro, é que quatro das nove salas funcionarão com sistemas integrados e rastreamento de imagens. “A equipe médica já não precisa levar os filmes ou CDs com arquivos de imagens para o Centro Cirúrgico, por exemplo. Por meio da integração com o PACS (Picture Archiving Communication System), o médico poderá buscar imagens obtidas em exames realizados no Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) do Hospital, transmitindo-as, se necessário, para qualquer monitor na sala. Além do monitor do rack cirúrgico, as salas possuem aparelhos de 42 polegadas nas paredes, para que instrumentadores e assistentes médicos acompanhem todos os detalhes do procedimento. Outro recuro da sala é um monitor suspenso, com 21 polegadas, que pode ser levado bem perto do campo operatório, a apenas 50 cm do cirurgião”, ilustra Bruno, explicando ainda que, destas quatro salas inteligentes, duas serão capazes de transmitir imagens de procedimentos para o auditório do Hospital e, por meio de um sistema de streaming exclusivo, poderão transmitir imagens para alguns computadores do Hospital. Além da tecnologia Para Renata Barco de Oliveira, Gerente do Bloco Operatório do Hospital, a nova estrutura, que aperfeiçoará o atendimento e as condições de trabalho das equipes cirúrgicas da Instituição, trará importantes novidades. “Além deste significativo avanço estrutural e tecnológico, o novo Centro Cirúrgico do nosso Hospital conta com espaço agradável, destinado às equipes médicas, para a realização das anotações no prontuário eletrônico, bem como uma nova Sala de Pré-Operatório, que beneficiará o trabalho de nossas equipes médicas e, evidentemente, priorizando o tratamento humanizado de nossos pacientes, marca da nossa maneira de cuidar”, afirma. De acordo com Renata, para apoiar este trabalho de maneira eficiente, as equipes de enfermagem e edição edição19 19••Abr/ Abr/Mai/ Mai/Jun Jun••2014 2014 Apoio ao cirurgião Além dos avanços alcançados com a inauguração do novo Centro Cirúrgico, os cirurgiões do Hospital Alemão Oswaldo Cruz contam, atualmente, com os benefícios gerados pela atuação da área de Relacionamento Médico. De acordo com a Dra. Fabiane Cardia Salman, Gerente da área, inaugurada em março, cerca de 150 médicos do Corpo Clínico já integram o Programa de Agente de Relacionamento (PAR), que é um dos projetos da Área de Relacionamento Médico. “Por meio do PAR, o médico passa a contar com o apoio de um profissional, que atua para assessorá-lo na resolução de inúmeras questões relacionadas ao paciente e a procedimentos como agendamentos, transferências, internações e exames no Centro Diagnóstico, além de auxiliá-lo na solicitação de materiais e em todo o processo de autorização, agendamento de cirurgias e repasses de honorários médicos”, explica. Com avaliações bastante positivas por parte daqueles que já aderiram ao Programa, a área pretende estender este benefício a um número maior de médicos. “Todo este esforço, realizado para o estabelecimento do Relacionamento Institucional com os membros de nosso Corpo Clínico não visa apenas à questão da transparência. Queremos auxiliar nossos médicos, trazendo mais agilidade e desburocratizando o dia a dia, para que eles possam dedicar seu tempo à assistência e ao cuidado seguro do paciente.” Visão Médica 21 COMISSÃO DE BIOÉTICA Diretivas antecipadas de vontade Dra. Janice Caron Nazareth Cardiologista e Coordenadora da Comissão de Bioética do Hospital Alemão Oswaldo Cruz M uito se tem falado sobre o testamento vital e as diretivas antecipadas de vontade, assim como sobre o período apropriado para estabelecer essas determinações. Na Comissão de Bioética do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, trabalhamos a ideia de que a boa morte depende da boa vida e, para nos prepararmos, devemos fazer escolhas que proporcionem mais realizações do que decepções, deixando claro, em conversas com nossos entes queridos, quais são os nossos desejos quando nos aproximarmos do fim, como propôs nosso colega norte-americano Arthur Rivin, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 3 de fevereiro de 2010. O Alzheimer, pelo paciente Sou médico aposentado, professor de medicina e tenho Alzheimer. Antes de meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes com Alzheimer durante anos, mas demorei para suspeitar da minha própria aflição. Hoje, sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há 10 anos, quando estava com 76. Presidia um programa mensal de palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores. De repente, precisei recorrer a materiais para fazer as apresentações. Comecei, então, a esquecer nomes, mas nunca fisionomias. Esses lapsos são comuns em pessoas idosas, de modo que não me preocupei. Nos anos seguintes, passei por uma cirurgia das coronárias e, mais tarde, tive dois pequenos derrames cerebrais. O neurologista atribuiu os problemas a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar. O golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma menção honrosa no hospital onde trabalhava. Levantei-me para agradecer e não consegui dizer uma palavra sequer. Meu clínico-geral realizou uma série de testes de memória em seu consultório e pediu uma tomografia PET, que diagnostica a doença com 95% de precisão. Comecei a ser medicado com Aricept, que tem muitos efeitos colaterais. Me ressenti de dois deles – diarreia e perda de apetite –, mas o médico insistiu para eu conti- 22 Visão Médica nuar. Os efeitos colaterais desapareceram e comecei a tomar mais um medicamento: o Namenda. Em muitos pacientes, estes remédios não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos e, em dois meses, melhorei muito, quase voltando ao normal. Demoramos para compreender a doença, desde que Alois Alzheimer estabeleceu os primeiros elos entre a demência e a presença de placas e emaranhados de material desconhecido. Hoje sabemos que esse material é o acúmulo de uma proteína chamada beta-amiloide. A hipótese principal para o mecanismo da doença de Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro, provocando uma degeneração dos neurônios. Hoje, há produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células, no entanto, as placas de amiloide podem ser detectadas apenas numa autópsia, de modo que são associadas apenas com pessoas que desenvolveram plenamente a doença. Não sabemos se esses são os primeiros indicadores biológicos da doença. Mas há muitas coisas que aprendemos. A partir da minha melhora, passei a fazer uma lista de insights que gostaria de compartilhar com outras pessoas que enfrentam problemas de memória, como tenha sempre consigo um caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde. Temendo que as pessoas se apiedassem de mim, procurei manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das pessoas que eu amava. Agora me sinto gratificado ao ver como as pessoas são tolerantes e como desejam ajudar. A doença afeta uma em cada oito pessoas com mais de 65 anos e quase a metade dos que têm mais de 85. A previsão é que o número de pessoas com Alzheimer nos EUA dobre até 2030. Sei que, como qualquer ser humano, um dia morrerei. Assim, certifiquei-me dos documentos que necessitava examinar e assinar enquanto ainda estou capaz e desperto, coisas como deixar recomendações por escrito ou uma ordem para desligar os aparelhos quando não houver chance de recuperação. Procurei assegurar que aqueles que amo saibam de meus desejos. Quando não souber mais quem sou, não reconhecer as pessoas ou estiver incapacitado, sem nenhuma chance de melhora, quero apenas consolo e cuidados paliativos. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 LIVRARIA Um século de descobertas Dr. Stefan Cunha Ujvari Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz E m abril, Dr. Tarso Adoni e eu, ambos do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, lançamos o livro “A História do Século XX pelas Descobertas da Medicina”. Essa novela médica conta, então, duas histórias paralelas e inseparáveis, demonstrando como acontecimentos históricos precipitaram descobertas médicas que, por sua vez, também influenciaram os rumos do século XX. Conseguimos, com este trabalho, mostrar como médicos e cientistas lançavam mão de criatividade, coragem e raciocínio lógico para tornar estes avanços possíveis. Muitos, como pudemos ver, confirmaram-se por meio de experimentos desumanos aos olhos da ciência atual. O capítulo inicial, por exemplo, descreve a descoberta da transmissão da malária e febre amarela pelo mosquito. Essa revelação, anunciada no primeiro ano do século XX, deveu-se, principalmente, aos voluntários humanos propositalmente infectados pelo vírus da febre amarela. senciou o nascimento do primeiro “bebê de proveta”. A evolução técnica e científica que, depois de décadas de pistas falsas, permitiu aos cientistas comprovar o malefício do colesterol, e que, após um século de buscas, possibilitou a elucidação da causa do diabetes, foi a mesma que, agregando o conhecimento em diversas áreas, deu origem aos exames de imagem do corpo humano – radiografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética –, e que hoje, já no século XXI permite que possamos investigar as bases moleculares do DNA para prever o aparecimento de doenças e cânceres, direcionando a descoberta de novos medicamentos contra doenças antigas e para escolher melhores opções de tratamento. Outras tantas revelações emergiram de experimentos falhos que, por obra do acaso, apontaram para outras descobertas inesperadas. Como na década de 1920, quando novas vacinas contra tuberculose, difteria, coqueluche e tétano floresceram e eram realizadas em crianças. Acidentes vacinais e infecções rechearam as etapas iniciais dessas descobertas. Da mesma forma, na década seguinte, os antibióticos foram observados pelos olhos aguçados dos cientistas. Mas sua descoberta contém histórias heroicas e criativas, mescladas com experimentos criminosos em locais inesperados. A lista de curiosidades é ampla, assim como o número de descobertas neste importante período para o desenvolvimento da área médica. A pílula anticoncepcional, por exemplo, só se tornou realidade depois de experimentos realizados em animais e vegetais e de testes realizados na população de um país subdesenvolvido, para fugir do preconceito norte-americano relacionado à contracepção. No mesmo século, contudo, a ciência trabalhou a favor da concepção e, com experimentos árduos em diversos campos da ciência, reunidos de maneira estratégica, a humanidade pre- edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 A História do Século XX pelas Descobertas da Medicina Stefan Cunha Ujvari & Tarso Adoni Contexto - 2014 320 páginas R$ 32,90 Visão Médica 23 REVISÃO SISTEMÁTICA Imunoglobulinas Intravenosas: existem diferenças no efeito entre as diferentes apresentações comerciais? Dra. Anna Maria Buehler Pesquisadora da Unidade de Avaliação de Tecnologias em Saúde (UATS/IECS) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz A s imunoglobulinas intravenosas (IGIVs) são medicamentos de altíssimo custo, utilizados há décadas no tratamento de imunodeficiências primárias. Entretanto, em altas doses, têm indicação em uma série de outras doenças, nas mais diversas áreas do conhecimento, por conta de seus efeitos imunomodulatórios. Tais indicações oficiais variam entre as agências regulatórias nacionais e internacionais, e grande parte delas representa indicações não licenciadas (indicações off-label). Diversas apresentações farmacêuticas estão disponíveis no mercado, produzidas por diferentes indústrias e comercializadas com preços de aquisição bastante variáveis. Assim como é feito com qualquer classe de medicamentos, o serviço de Assistência Farmacêutica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz lista a relação das IGIVs padronizadas para uso institucional, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos para a redução de custos e eventos adversos. Entretanto, as IGIVs apresentam uma característica muito peculiar, que é a de ser um produto de formulação única, consequência dos diferentes processos de purificação, inativação viral e estabilização, utilizados para a sua elaboração1. Nesse sentido, as diferenças entre as apresentações comerciais não permitem que elas sejam consideradas medicamentos similares. Tal inferência acaba sendo justificativa para que sejam prescritas apresentações comerciais específicas, muitas vezes não contempladas no Manual Farmacêutico da Instituição, por alegação de maior eficácia ou de melhor tolerabilidade. 24 Assim, foi demandada a condução de uma Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS), que teve como objeto de estudos as diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas, independentemente da condição clínica do paciente ou desfechos investigados. Os resultados desse trabalho estão relatados abaixo. O estudo O delineamento do estudo utilizado para responder essa questão de pesquisa foi uma revisão sistemática, estudo secundário que considera a evidência global para uma questão específica de pesquisa e que apresenta uma metodologia rígida de condução, que permite obter uma visão imparcial das evidências, diferenciando-a das revisões narrativas. Como critérios adicionais de seleção, limitamos a busca por evidências provenientes apenas de ensaios clínicos randomizados, que são considerados o delineamento ideal de estudo para responder questões sobre qualquer tipo de intervenção. Adicionalmente, os estudos deveriam comparar diretamente (dentro do mesmo estudo), pelo menos duas apresentações comerciais diferentes de IGIVs (estudos head-to-head). Estudos de avaliação econômica, se identificados, também foram incluídos. Idealmente, qualquer decisão em saúde, independentemente da perspectiva (se do ponto de vista do médico prescritor ou do gestor do serviço em saúde), deve estar embasada em evidências científicas de qualidade, que considerem aspectos de eficácia, segurança e custos. Quando tais aspectos são desconsiderados, a tomada de decisão pode adquirir um caráter empírico, que pode onerar de forma significante qualquer gestão em saúde. As evidências foram pesquisadas nas bases de dados eletrônicas MEDLINE, Embase, Cochrane Library. Para identificá-las, estratégias de busca foram elaboradas, utilizando termos de vocabulário controlado das bases, que são os descritores de assunto (Mesh no MEDLINE e Cochrane, e Emtree no Embase). Tais termos foram sensibilizados com sinônimos e palavras derivadas do termo principal. Os termos selecionados caracterizaram apenas a intervenção (derivadas do Mesh “Immunoglobulins, Intravenous”) relacionando-os com termos que destacassem apresentações comerciais (tais como pharmaceutical preparations, drug compounding, entre outros). Não foram utilizados filtros específicos para tipos de estudo. O Hospital e seu Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS), por meio da Unidade de Avaliação de Tecnologia em Saúde (UATS), promove suporte técnico-científico para questões específicas como esta. A seleção dos estudos elegíveis foi realizada em duas etapas: triagem pela leitura do título e resumo e confirmação da elegibilidade através da leitura do texto completo. Os principais dados foram extraídos e a Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 REVISÃO SISTEMÁTICA qualidade metodológica dos estudos foi avaliada, de acordo com os critérios da Cochrane2. Resultados A busca nas bases de dados resultou em 4.084 citações. Quarenta citações tiveram seus textos completos avaliados e 10 estudos foram incluídos, sendo 8 ensaios clínicos randomizados 3-10 e 2 estudos de avaliação econômica11,12. De uma forma sucinta, apenas dois estudos investigaram apresentações comerciais que estão atualmente no mercado: O primeiro estudo, de 20104, comparou a apresentação líquida Kiovig® a 10% (Baxter) com a apresentação liofilizada Endobulin® S/D a 5% (Baxter), em pacientes com poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica. O desfecho primário foi melhora na escala ODSS (Overall Disability Sum Score) e eventos adversos também foram relatados. Como resultados, não houve diferenças entre as diferentes apresentações em nenhum dos desfechos avaliados. A exceção foi em relação ao evento adverso calafrio, que foi mais incidente no grupo do Endobulin® S/D (46% vs 7%). O estudo descreve o método de alocação sigilosa e o esquema de cegamento, mas a população incluída é pequena (N= 27), sem descrição dos parâmetros utilizados para seu cálculo. O segundo estudo, de 20055, comparou as duas concentrações de Flebogamma® da Grifols, 5% e 10%, em pacientes com imunodeficiência primária e secundária. O desfecho de eficácia definido foi sensação de bem-estar do paciente mensurada do ponto de vista do paciente e do médico assistente. Dados de eventos adversos também foram relatados. Como resultado, não houve diferenças entre as duas apresentações em nenhum dos desfechos avaliados. O estudo apresenta baixa qualidade metodológica. Todos os demais estudos não permitem que suas evidências sejam consideradas porque 1) as apresentações investigadas não existem atualmente no mercado; 2) as indústrias fabricantes das apresentações investigadas ou não existem mais ou foram adquiridas por outras indústrias; 3) as IGIVs investigadas apresentam descrições insuficientes de suas características, o que não permite identificar uma apresentação atual equivalente. Dessa forma, tais evidências se descaracterizam como evidências diretas e não permitem obtermos conclusões adequadas. As avaliações econômicas também se enquadram nessa descrição. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Principais conclusões As evidências atuais são insuficientes para afirmar que as diferentes apresentações comerciais das IGIVs diferem entre si em termos de eficácia e segurança. As evidências existentes não abordam todas as indicações formais e off-label das IGIVs. As evidências existentes não avaliam todas as apresentações comercias das IGIVs disponíveis no mercado utilizadas para a mesma indicação. Não há nível de confiança adequado para recomendar fortemente nenhuma apresentação comercial em relação à outra, nem afirmar que não existam diferenças entre diversas apresentações nas situações clínicas e desfechos considerados. Novos ensaios clínicos randomizados de comparação direta, com qualidade metodológica adequada são necessários para permitirem conclusões acerca da superioridade ou não de uma apresentação comercial em relação à outra. Referências Bibliográficas 1. Gelfand EW. Differences between IGIV products: impact on clinical outcome. Int Immunopharmacol 2006;6:592-9. 2. Higgins JPTGS. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions Willey-Blackwell; 2009. 3.Bussel JB, Eldor A, Kelton JG, et al. IGIV-C, a novel intravenous immunoglobulin: evaluation of safety, efficacy, mechanisms of action, and impact on quality of life. Thrombosis and haemostasis 2004;91:771-8. 4. Kuitwaard K, Berg LH, Vermeulen M, et al. Randomised controlled trial comparing two different intravenous immunoglobulins in chronic inflammatory demyelinating polyradiculoneuropathy. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry 2010:1374-9. 5. Matamoros N, De Gracia J, Hernandez F, Pons J, Alvarez A, Jimenez V. A prospective controlled crossover trial of a new presentation (10% vs. 5%) of a heat-treated intravenous immunoglobulin. International Immunopharmacology 2005;5:619-26. 6.Ochs HD, Buckley RH, Pirofsky B, et al. Safety and patient acceptability of intravenous immune globulin in 10% maltose. Lancet 1980:1158-9. 7. Pirofsky B. Clinical use of a new pH 4.25 intravenous immunoglobulin preparation (gamimune-N). The Journal of infection 1987:29-37. 8. Roifman CM, Schroeder H, Berger M, et al. Comparison of the efficacy of IGIV-C, 10% (caprylate/chromatography) and IGIV-SD, 10% as replacement therapy in primary immune deficiency: A randomized double-blind trial. International Immunopharmacology 2003;3:1325-33. 9. Steele RW, Augustine RA, Steele RW, Tannenbaum AS, Charlton RK. A comparison of native and modified intravenous immunoglobulin for the management of hypogammaglobulinemia. The American journal of the medical sciences 1987:69-74. 10. Kallenberg CG. A 10% ready-to-use intravenous human immunoglobulin offers potential economic advantages over a lyophilized product in the treatment of primary immunodeficiency (Provisional abstract). Clinical and Experimental Immunology 2007:437-41. 11. Mahadevia PJ, Strell J, Kunaprayoon D, Gelfand E. Cost savings from intravenous immunoglobulin manufactured from chromotography/caprylate (IGIV-C) in persons with primary humoral immunodeficiency disorder. Value in health : the journal of the International Society for Pharmacoeconomics and Outcomes Research 2005;8:488-94. 12. Pilz G, Appel R, Kreuzer E, Werdan K. Comparison of early IgM-enriched immunoglobulin vs polyvalent IgG administration in score-identified postcardiac surgical patients at high risk for sepsis. Chest 1997:419-26. Visão Médica 25 ARTIGO INTERNACIONAL Carcinoma urotelial de bexiga urinária sem invasão de camada muscular à ressecção transuretral - Aspectos anatomopatológicos decisivos na avaliação prognóstica Dra. Juliana Ravanini Médica-Patologista, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Patologista do ICESP-HC-FMUSP Dr. Venancio Avancini Ferreira Alves Diretor-Técnico, CICAP – Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Professor Titular, Depto. Patologia, FMUSP O comportamento dos carcinomas da bexiga urinária não invasivos na camada muscular própria (MP) ainda não é adequadamente prognosticável, tanto porque os algoritmos nem sempre subdividem os casos pelo grau histológico, como porque a própria definição de progressão da doença requer melhor padronização. Esta categoria agrega os carcinomas uroteliais papilíferos não invasivos (Ta), os carcinomas uroteliais papilíferos invasivos apenas na lâmina própria (T1) e os carcinomas uroteliais “in situ” (CIS), estes últimos sempre de alto grau. A definição de progressão mais comumente utilizada é a de aumento do estádio da doença: carcinoma não invasivo na camada muscular – Ta, T1, CIS evoluindo para carcinoma com invasão da camada muscular (T2 ou mais). Tal definição não identifica a progressão de carcinoma Ta para invasão da lâmina própria (T1), nem contempla carcinomas que, na recidiva, exibam maior grau histológico. Tal falta de padronização dificulta sobremaneira a comparação de estudos e de eficácia de tratamentos e condutas terapêuticas. Por isto, o “Grupo Internacional de Câncer de Bexiga” (IBCG) recém publicou, no Journal of Urology, uma proposta de padronização de progressão da doença nestes tipos de carcinomas vesicais (1), definindo como “progressão” casos em que se comprove: 1) evolução de Ta, T1 ou CIS para carcinoma com invasão da camada muscular (T2) ou metástase; 2) evolução de Ta para T1; 3) evolução de CIS para T1; 4) aumento do grau histológico (baixo para alto grau). Ressalta esse 26 Visão Médica comitê internacional que esta nova definição de progressão da doença depende, decisivamente, de um diagnóstico anatomopatológico acurado, sendo essencial ressecção transuretral da bexiga urinária (RTUB) completa para o melhor diagnóstico patológico e, portanto, para melhor caracterização do prognóstico do paciente, ressaltando-se ainda a importância da representação suficiente da camada muscular própria (MP) na amostra. É necessário então que, primeiramente, o médico patologista reconheça se há ou não invasão da MP, tarefa nem sempre fácil, uma vez que não há orientação de planos superficial/profundo em fragmentos de RTUB, muitas vezes o tecido exibe artefatos de eletrocauterização ou extensa desmoplasia e, principalmente, a dificuldade da diferenciação entre MP e camada muscular da mucosa (MM), sendo que a MP pode estar parcialmente destruída pelo próprio tumor, simulando a MM, bem como a MM pode estar hipertrófica, simulando a MP. Desta forma, é recomendado que o relatório anatomopatológico descreva a presença ou ausência da MP e se há infiltração ou não pela neoplasia. Em casos em que não é possível fazer a distinção entre MP e MM infiltradas pela neoplasia, recomenda-se nova RTUB. Em seguida, é necessário caracterizar se há ou não invasão da lâmina própria, se possível com estimativa de extensão desta invasão (por exemplo: focal, multifocal, extensa). Geralmente não há dificuldades nos casos em que esta invasão é extensa/difusa. No entanto, nos casos em que a invasão é focal há maior variabilidade interobservador. Características como artefatos de re- edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 ARTIGO INTERNACIONAL/ QuaL É a sua opinião? tração em torno do bloco neoplásico, células isoladas e até mesmo alteração na característica do citoplasma ajudam o patologista nesta identificação. Outros estudos recentes (2) já propõem a subclassificação dos tumores T1, de acordo com a extensão da invasão da lâmina própria, mostrando que há diferenças prognósticas, mas, a nosso ver, tal proposta ainda requer validação com casuísticas de outros centros e análise do grau de concordância interobservadores. Finalmente, o IBCG alerta ainda que carcinomas uroteliais podem ser subestadiados na ressecção inicial, devido, possivelmente, a uma ressecção incompleta, enfatizando a importância de RTUB com adequada representação das margens profunda (com MP) e laterais, assim como ressecções repetidas nos tumores T1 de alto grau. Considerando estes tópicos críticos para a estimativa de progressão da doença e decisão terapêutica, recomenda-se que, quando a graduação e estadiamento com base em RTU não sejam conclusivos, todos os aspectos clínico-patológicos do caso sejam discutidos em uma reunião multidisciplinar. 1.Lamm D et al. Defining progression in nonmuscle invasive bladder cancer: it is time for a new, standard definition. J Urol. 2014 ; 191: 20-27. 2.Chang WC et al. Prognostic significance in substaging of T1 urinary bladder urothelial carcinoma on transurethral resection.Am JSurgPathol.2012 ; 36: 454-61. DEFINIÇÃO DE CONSENSO DE PROGRESSÃO DE CARCINOMA UROTELIAL NÃO INVASIVO EM MUSCULAR PRÓPRIA – IBCG, 2014 I. PROGRESSÃO DE ESTÁDIO: Surgimento ou aumento de estádio para: . Invasão de Lâmina Própria: - p.ex. aumento de Ta para T1ou de CIS para T1 . Invasão de Muscular Própria (T2 ou mais) . Metástase para linfonodo (N+) ou à distância (M1) em pacientes previamente diagnosticados como N0 e/ou M0 II. PROGRESSÃO DE GRAU HISTOLÓGICO: . Aumento de baixo para alto grau (inclusive surgimento de CIS) Resposta: Qual é a sua opinião? Os papilomas representam proliferações epiteliais intraductais que se projetam no lúmen do ducto mamário. Podem ser solitários ou múltiplos e são encontrados usualmente na região subareolar. Quando suficientemente grandes para serem identificados à ultrassonografia aparecem como nódulos sólidos, hipoecoicos e circunscritos. Podem sofrer fibrose e infarto com hemorragia e se manifestarem através de secreção sanguinolenta. Na ressonância sem contraste, a maioria permanece oculta. Quando há dilatação ductal, é fundamental avaliar as sequências com contraste, pois o papiloma costuma impregnar-se intensamente e ser caracterizado como nódulo ou realce linear, indicando lesão intraductal. É considerada uma lesão histologicamente heterogênea, podendo estar associados à hiperplasia ductal usual, hiperplasia ductal atípica e carcinoma ductal in situ, Em relação aos aspectos de imagem, por serem intraductais e assumirem a forma do ducto, a maioria dos papilomas não é visível na mamografia. Ocasionalmente irão se apresentar como um nódulo lobulado ou circunscrito e infrequentemente calcificam-se, formando um grupamento de calcificações com algum grau de suspeição. (A) Sagital T1 com gadolínio e supressão de gordura. Realce linear na região subareolar da mama direita caracterizado na sequência ponderada em T1 após a injeção de gadolínio. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 A conduta para o papiloma benigno diagnosticado na biópsia percutânea ainda é bastante controversa na literatura e, embora a conduta conservadora possa ser considerada, a excisão cirúrgica permanece como conduta de escolha na maior parte dos artigos sobre o tema. (B) Sagital T2 com supressão de gordura. Distensão ductal com conteúdo líquido e “stop” na projeção do realce linear. (C) Ultrassonografia dirigida com Doppler em cores. Visão Médica 27 EVENTOS EM DESTAQUE Agenda REUNIÕES CIENTÍFICAS 18 e 25/06 Reunião de Oncologia Coordenação: Centro de Oncologia Temas: Oncologia Torácica e Uro-oncologia, respectivamente Horário: das 12h às 13h30 Local: Sala 5 24/06 Reunião Científica da Clínica Médica Coordenação: Dr. Pedro R. Chocair Tema: Proteinúria Linfócitos CD 19/CD 20 dependente: relato de caso e discussão de literatura Palestrante: Sara Mohrbacher Horário: das 13h às 14h Local: Bloco B - 14º andar - Anfiteatro 24/06 Reunião Científica de Neurologia e Neorocirurgia Coordenação: Dr. Roberto Carneiro Oliveira Tema: Encefalites – atualização Palestrante: Dra. Polyana Vulcano de Toledo Piza Horário: das 11h às 12h30 Local: Bloco E – 1° Subsolo – Anfiteatro 27/06 Discussão de Casos de Câncer Colorretal Coordenação: Dra. Angelita Habr-Gama e Dr. Rodrigo Perez Horário: das 7h30 às 9h30 Local: Anfiteatro – Bloco B – 14º andar 24/06 Reunião Científica Melhores Práticas em Terapia Intensiva Coordenação: Dr. José Paulo Ladeira Horário: das 13h às 14h Local: Sala 5 30/06 Reunião Mensal do CDI Coordenação: Equipe Fleury Diagnóstico Horário: das 19h30 às 21h30 Local: Bloco E – 1° Subsolo – Anfiteatro Programação sujeita a alteração e cancelamento 28 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 EVENTOS EM DESTAQUE Telemedicina em debate E ntre os dias 7 e 10 de abril, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz recebeu especialistas para uma Conferência Internacional sobre Telemedicina. Focado na evolução desta tecnologia e suas aplicações no diagnóstico e terapia, o evento foi organizado pela Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg (FAU), com apoio do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha e do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital. A programação contou com apresentações de experiências alemãs e brasileiras em Telemedicina, como o Programa de Telemedicina para Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), realizado pelo Hospital em parceria com o Ministério da Saúde, como parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Visão Médica 29 RESPONSABILIDADE JURÍDICA Segunda opinião Sergio Pittelli [email protected] A segunda opinião é regulamentada pela Resolução CONSU nº 8/1998 e pelo Código de Ética Médica (CEM), segundo dispositivos transcritos abaixo. Código de Ética Médica: Art. 39. [É vedado ao médico] Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou seu representante legal. Art. 97. [É vedado ao médico] Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo, no último caso, em situações de urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente. Resolução CONSU 08/1998 art. 2º, I, II e art. 4º, V: Art. 2º. Para a adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização de serviços de saúde, estão vedados: I – qualquer atividade ou prática que infrinja o Código de Ética Médica ou o de Odontologia; Art. 4º. As operadoras de planos ou seguros privados de assistência à saúde, quando da utilização de mecanismos de regulação, deverão atender às seguintes exigências: ----------IV – garantir ao consumidor o atendimento pelo profissional avaliador no prazo máximo de um dia útil a partir do momento da solicitação, para a definição dos casos de aplicação das regras de regulação, ou em prazo inferior, quando caracterizada a urgência. V – garantir, no caso de situações de divergências médica ou odontológica a respeito de autorização prévia, a definição do impasse através de junta constituída pelo profissional solicitante ou nomeado pelo usuário, por médico da operadora e por um terceiro, escolhido de comum acordo pelos dois 30 Visão Médica profissionais acima nomeados, cuja remuneração ficará a cargo da operadora. Como se constata dos dispositivos apontados, a segunda opinião é direito do paciente, fundamentado no supratranscrito artigo 39 do CEM e regulamentado pelos artigos citados da Resolução CONSU, no que respeita à saúde suplementar. É, também, um direito da operadora de saúde, embora os termos do artigo 4º possam conduzir à impressão de que se trata de direito exclusivo do paciente. Questão relevante, neste tema, é que o artigo 97 do CEM proíbe vetar ou mudar procedimentos já instituídos. Em consonância com este entendimento, tanto o inciso IV quanto o V do artigo 4º da Resolução CONSU 8/98 falam em autorização e/ou avaliação prévia, sendo que o inciso IV, inclusive, ressalta que seu comando se aplica também para emergência, ou seja, reavaliações posteriores não são admitidas, mesmos em casos de emergência. Por último, o artigo 2ª da Resolução CONSU 8/98 veda, no âmbito da regulação, “qualquer atividade ou prática que infrinja o Código de Ética Médica ou o de Odontologia”. No caso, a operadora estaria violando o artigo 97 do CEM ao realizar avaliação posterior à instituição do tratamento, para fins de auditoria. Em termos éticos, quem responde perante o órgão de fiscalização é seu Diretor Técnico. Para entendimento mais completo deste texto, recomendamos a leitura de nosso penúltimo artigo nesta revista, intitulado: Responsabilidade Jurídica dos Auditores. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 REUNIÕES CIENTÍFICAS 2º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea Dr. Andrea Bottoni Coordenador de Educação Médica do Instituto de Educação e Ciências em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz O Hospital Alemão Oswaldo Cruz sediou, nos dias 21 e 22 de março, o 2º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea. Organizado pela Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) da Instituição, o evento reuniu cerca de 200 profissionais e criou a oportunidade para a ampliação das discussões sobre os principais avanços e desafios da área, com a participação de especialistas e estudiosos do segmento. Classificado como “ótimo” por mais de 80% dos participantes, assim como aconteceu no ano passado, podemos dizer que o sucesso do Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea já está virando uma tradição na Instituição. Tanto é que, graças a este reconhecimento e à articulação dos profissionais da EMTN, a terceira edição do Simpósio já começa a tomar forma, em torno da data estabelecida para sua realização, no dia 28 de fevereiro de 2015. Como Médico Nutrólogo, Mestre em Nutrição e Doutor em Ciências pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP), mas também como um dos organizadores do evento, acredito que o encontro contribuiu de maneira significativa, abordando a importância do trabalho em equipe tanto para o cuidado integral dos pacientes, quanto para a criação, como pudemos ver, de um debate abrangente sobre o tema. Com vasto conteúdo científico, o Simpósio reuniu profissionais do Hospital, que ministraram palestras e moderaram painéis ao longo de todo o evento, além de especialistas convidados, como as nutricionistas Paula Alves, do Instituto Português de Oncologia de Porto e da Universidade Católica de Porto, e Júnia Bolognesi, do Hospital Sírio-Libanês; e os médicos Fernando Salvador Moreno, Professor Titular do Departamento de Alimentos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, e Silvio José de Lucena Dantas, Docente do Curso de Medicina da Universidade Potiguar (Laureate International Universities) e Coordenador Clínico da EMTN do Hospital PAPI, de Natal (RN). Outra novidade na edição deste ano foi a apresentação de quase 20 trabalhos científicos no formato de pôsteres, enviados pelos profissionais do Hospital, bem como por profissionais de outras instituições. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 Visão Médica 31 REUNIÕES CIENTÍFICAS Doenças Infecciosas e a Copa do Mundo Dr. Stefan Cunha Ujvari Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Q ue as doenças infecciosas podem, em breve, chegar ao Brasil? Independentemente do grande número de turistas que virá ao país por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, o riso é iminente, mas com este grande fluxo de pessoas vindas de outras nações, a chegada destas doenças pode se antecipar. O vírus chikungunya já circula nas ilhas do Caribe em epidemias. Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o agente é um forte candidato a aportar e se estabelecer em terras brasileiras, a exemplo do ocorrido com o vírus da dengue no passado. O elevado trânsito turístico, que inclui a região caribenha como rota, torna provável a sua chegada, agravada pela chance do turismo maciço aguardado no período da competição futebolística. 32 Visão Médica Outro vírus é o do sarampo, com epidemias relacionadas à falta de vacinação no Hemisfério Norte. A quantidade de turistas vindos dessa região nos coloca como alvo de surtos da doença em regiões com baixa cobertura vacinal. Importante salientar também o avanço do vírus Zika – um novo agente transmitido pelo mosquito – na região do Pacífico e que, pela proximidade com a costa oeste da América do Sul, está em rota de colisão com o Brasil. Há também a preocupação quanto às populações expostas à situação epidemiológica global da cólera, gonococo resistente aos antimicrobianos e tuberculose multirresistente e que podem, em breve, desembarcar em nosso país. 14 Mai/ • Janeiro edição edição 19 • Abr/ Jun • 2013 2014 REUNIÕES CIENTÍFICAS Cirurgia Bariátrica e Metabólica – Alguns aspectos ainda não resolvidos Arthur B. Garrido Junior Cirurgião do Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz A cirurgia bariátrica firmou-se como a melhor alternativa terapêutica disponível para a obesidade grave, a qual prejudica a saúde física, psíquica e social, e raramente se resolve por terapêutica conservadora (dietas, medicamentos, exercícios físicos, apoio psicológico). Trabalhos prospectivos demonstram que, num período de quinze anos, obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica atingem e mantêm redução ponderal expressivamente maior do que num grupo controle tratado clinicamente. Como consequência, a mortalidade ao fim desse período foi significantemente menor entre os operados. As doenças associadas (respiratórias, cardiocirculatórias, osteo-articulares e metabólicas) melhoram ou desaparecem com o emagrecimento. Dos métodos cirúrgicos consagrados, dois predominam na atualidade: o desvio (“bypass”) gástrico e a gastrectomia vertical (“sleeve”). O acesso vídeolaparoscópico introduzido nos anos 1990 generalizou-se e tornou os procedimentos mais confortáveis e seguros. Entretanto, alguns aspectos ainda não estão bem resolvidos: 1) Recidiva em longo prazo – da ordem de 10 a 15% em 10 anos – está muito relacionada à falta de adesão pelos pacientes operados a mudanças dos hábitos alimentares e acompanhamento especializado inadequado. 2) Desnutrição tardia – carências de proteínas, vitaminas B1, B2, B6, B12, D, cálcio e zinco; anemia. Podem chegar a níveis graves se não houver bom acompanhamento. Em casos extremos, felizmente raros, pode ser necessário desfazer o “bypass” gástrico ou reverter cirurgicamente o trânsito alimentar para o duodeno. edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 3) Acesso ao tratamento cirúrgico – Estima-se em 5 milhões o número de brasileiros com obesidade grave, que ocorre em todas as camadas sociais. Atualmente, são realizados mais de 80 mil procedimentos bariátricos por ano, 90% nas camadas que dispõe de seguro saúde privado (25% da população). Só 10% dos procedimentos são realizados através do sistema público de saúde, do qual dependem 75% da população. Há, portanto, um enorme vazio a preencher nesta área. O Brasil é o segundo país no mundo em número de procedimentos bariátricos e de profissionais especializados. Desde que a cirurgia bariátrica aqui se iniciou nos anos 1970, houve um enorme progresso técnico, hoje reconhecido pela comunidade médica e pela sociedade como a opção salvadora para aqueles que dela necessitam. Mas como vimos há necessidade de se melhorar o acompanhamento pós-operatório em longo prazo e de se estender o acesso ao benefício. Visão Médica 33 Conheça os nossos centros de expediente Especialidades • Centro de AVC • Centro de Tratamento ao Tabagismo • Centro de Check-up • Clínica Médica •Centro de Cirurgia Robótica • Instituto da Mulher •Centro de Diabetes • Centro de Endoscopia • Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica ´Centro de Nefrologia e Diálise • Centro de Nutrição • Centro de Oncologia •Centro de Ortopedia - CIAMA (Cuidado com a saúde da mama) - Centro de Ginecologia • Centro de Geriatria e Gerontologia • Instituto de Medicina Cardiovascular - centro de Arritmologia - centro clínico de Cardiologia Geral - Centro Diagnóstico de Cardiologia Não Invasiva - Centro de Hipertensão Arterial - Centro de Intervenção Cardiovascular - Centro de Marca-Passo • Instituto da Próstata e Doenças Urinárias • Centro de Procedimentos Minimamente Invasivos de Coluna EXPEDIENTE A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor-Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik. Gerência de Marketing: Melina Beatriz Gubser Projeto Gráfico e Edição de Arte: Bruno Guerreiro Valiante Coordenação Editorial: Aline Shiromaru Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525 Fotos: Banco de imagens do Hospital e Shutterstock Tiragem: 2.500 exemplares 34 Visão Médica edição 19 • Abr/ Mai/ Jun • 2014 MASTER OF BUSINESS ADMINISTRATION MBA EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Realizado pela HSM e Hospital Alemão Oswaldo Cruz, duas marcas fortes em educação executiva e saúde, o curso busca qualificar seus alunos como líderes e gestores em organizações de saúde. Inscreva-se já! Início das aulas: 2ª quinzena de Agosto*. Às sextas-feiras, das 18h30 às 22h50, e aos sábados, das 8h às 12h40, em finais de semana alternados. Local do curso: Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) – Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Saiba mais: Hospital Alemão Oswaldo Cruz - Instituto de Educação e Ciências em Saúde - (11) 3549-0654 e-mail: [email protected] | www.hospitalalemao.org.br HSM - www.hsmeducacao.com.br *O início do curso está condicionado a um número mínimo de alunos