UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO PROJETO DE PESQUISA DE DOUTORADO Autores de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes: Características Biopsicológicas e Trajetórias de Vida Proponentes: Doutoranda: Daniela Castro dos Reis Orientador: Lília Iêda Chaves Cavalcante Belém – Pará 2014 2 Sumário Apresentação 1. Aspectos Conceituais: a Violência Sexual e a Concepção de Criança e Adolescente 2. O Agressor sexual de Crianças e Adolescente: Características e Tipologia 3. Áreas de Conhecimento e Teorias sobre a Agressão 3.1 A Antropologia Evolucionista e a Natureza Humana 3.2 A Biologia da Agressão 3.3 A Sociologia e a Influência Social na Agressão 3.4. Perspectivas Teóricas da Psicologia sobre a Agressão 3.4.1 Teorias Clássicas 3.4.1.1 Psicanálise/Psicodinâmica 3.4.1.2 Behaviorismo 3.4.1.3 Aprendizagem Social/Teoria Social Cognitiva 3.4.2 Teóricas integrativas 3.4.2.1 Cognitivismo neoassociacionista 3.4.2.2 Psicologia Evolucionista 3.4.2.3 Cognitivo-comportamental (Distorções Cognitivas) 3.4.2.4 Pensamento sobre informação social 3.4.2.5 Interacionismo social 4. Modelos Teóricos da Agressão Sexual 4.1 Modelo de Finkelhor (Pré-condições) 4.2 Modelo de Abel, Becker e Cunningham-Rathener 4.3 Modelo de Marshall e Barbaree 4.4 Modelo de Hall e Hirschman (Modelo Quadripartite) 4.5 Modelo de Malamuth 4.6 Modelo de Ward e Hudson (Pathway Theory) 5.O Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano: Fatores de Risco e Fatores de Proteção Relacionados à Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes 5.1 O Autor de Agressão Sexual na Perspectiva Bioecológica 6. Objetivos 7. Método 7.1 Fundamentos Metodológicos 7.2 Delineamento da Pesquisa 7.3 Considerações Éticas Estudo I - Instrumentos de Avaliação Psicológica do Autor de Agressão Sexual de Criança e Adolescente: Uma Revisão Sistemática da Literatura Estudo II - As Características Sociodemográficas e Biopsicológicas de Autores de Agressão Sexual de Crianças/Adolescentes: Um Estudo Documental Sociojurídico Estudo III – As distorções cognitivas de Autores de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes Estudo IV - Autores de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes: Estudo dos Fatores de Risco e Proteção em sua Trajetória de Vida. 05 09 20 28 29 31 34 36 36 36 38 41 43 43 45 47 50 53 55 55 59 61 65 69 71 76 89 97 98 98 98 99 100 107 114 118 3 Cronograma Referência Anexo I- Termo de Autorização das Instituições Anexo II- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Anexo III- Formulário para Caracterização Biopsicossocial Anexo IV- Questionário Sociodemográfico de Caracterização do Sistema Familiar (QSCSF) Anexo V- Entrevista Semiestruturada Anexo VI-Checklist de Distorções Cognitivas para Ofensores Sexuais (CDCOS) 125 127 140 141 143 144 156 158 4 Lista de figuras Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Quadro com os termos que orientaram a busca preliminar e exploratória do tema da pesquisa Quadro com o critério de inclusão e exclusão dos artigos Quadro demonstrativo dos descritores e suas combinações Teste de relevância (Fonte: Azevedo, 2010, adaptado pelo pesquisador). Quadro demonstrativo das variáveis a serem consideradas na caracterização dos artigos selecionados Quadro demonstrativo dos dados analisados nos artigos Quadro exemplificando as categorias a serem analisadas Diagrama do fluxo de execução da Revisão Sistemática da Literatura Mapa do Estado do Pará mostrando a três municípios alvo da pesquisa Quadro com as categorias dos CDCOS (2004) Quadro com os núcleos teóricos do Modelo da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, as categorias relacionadas, suas definições e exemplos. 101 102 102 103 105 105 106 106 108 116 122 5 Apresentação A violência sexual é um fenômeno complexo, polissêmico, controverso e multifatorial, perpetrada por indivíduos contra outros indivíduos, assumindo diferentes contornos em razão das relações pessoais, sociais, políticas ou culturais que a constituem. Entre outros aspectos relacionados ao fenômeno, a violência sexual tem ensejado a realização de estudos sobre a identidade e a condição psicossocial dos protagonistas das diversas formas de agressão que a definem. Estes são aspectos, contudo, pouco relatados na literatura científica, sobretudo quando se considera a extensão e a complexidade das questões por eles suscitadas. Com esse propósito, este estudo pretende contribuir com o debate atual acerca do desenvolvimento biopsicossocial do autor de agressão sexual de crianças e adolescente, as características que o descrevem e os fatores de risco e proteção em seus contextos de convivência, dando início às atividades do EASCA (Estudos do Agressor Sexual de Criança e Adolescente), grupo de pesquisa do qual participam alunos e professores do Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento (LED), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento (PPGTPC) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O interesse inicial pelo tema da pesquisa remete às inquietações disseminadas pela discussão sobre a violência sexual de crianças e adolescentes nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, e suas particularidades no contexto local, acompanhadas de perto pela autora a partir de sua atuação profissional no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), um serviço socioassistencial voltado ao atendimento à vítima de violência sexual na Região Metropolitana de Belém, assim como da sua participação no debate sobre os desafios colocados ao Sistema de Garantia de Direito da Criança e do Adolescente (SGD) no enfretamento dessa problemática. Destas experiências ficou a impressão de que a condição psicossocial da vítima era sempre privilegiada e pouco se considerava a perspectiva do autor da agressão sexual, secundarizando até certo ponto a necessidade de se conhecer melhor quem 6 era a pessoa por trás do comportamento em questão. Desse modo, pouco eram questionadas as características biosociodemográficas e psicológicas relacionadas ao perfil do autor de agressão sexual de criança e adolescente e muito menos os distintos fatores de risco e de proteção ao desenvolvimento humano comumente presentes em sua trajetória de vida. Contudo, a partir da década de 80, em termos mundial, observou-se uma mudança gradual dessa forma de ver autor de agressão sexual. Especialmente, no Brasil, na década de 90, diferentes delineamentos de pesquisa e estudos realizados em Psicologia começaram a despertar para a importância de se conhecer de forma aprofundada não apenas aspectos sociodemográficos do perfil dos autores de agressão sexual em contextos diversos, mas também evidências de uma população que se destaca pela diversidade e heterogeneidade dos seus traços clínicos e psicológicos. Entende-se que esse debate colocou em destaque as inquietações colocadas por profissionais e autoridades sobre o tema e apontou para a pouca clareza dos pesquisadores sobre como investigar quem são os autores de agressão sexual e quais as características biopsicológicas prevalentes nessa população em contextos diversos do país. E mais: a compreensão de que desconhecimento das características biopsicológicas dos autores de agressão sexual e os aspectos desenvolvimentais comuns e decisivos em suas trajetórias de vida podem dificultar ou impedir o entendimento das condições necessárias ao rompimento com os mecanismos de reprodução da violência sexual. Em razão disso, essa lacuna parece contribuir ainda para mascar ou camuflar a natureza humana dos autores de agressão sexual, podendo aumentar o preconceito social e minimizar as chances de sua reinserção na sociedade, sobretudo a partir da reestruturação do meio familiar e social. Em termos teóricos, a produção de pesquisas como esta aqui proposta pode trazer novos elementos para pensar o problema nos limites do contexto pesquisado e fora dele. Afinal, hoje novos saberes sobre o tema são exigidos e outros se consolidam, principalmente 7 ao se considerar as especificidades contextuais. A ideia é que este e outros estudos com propósitos semelhantes possam contribuir para tornar mais claro o debate social, político, histórico e cultural acerca do problema em foco. É preciso buscar formulações que possam dar conta de ler a realidade da violência sexual de crianças e adolescentes e da condição psicossocial do agressor sexual de forma mais complexa, como a realidade exige. Tais saberes podem se transformar em ações efetivas como protocolos de atendimento e formas de tratamento a essa população, aspectos ainda tão pouco explorados na literatura nacional. Ou seja, a proposição de estudos como este pode favorecer a apresentação e a consolidação de políticas públicas que subsidiem atendimentos especializados para a população em questão. No âmbito acadêmico, espera-se, pois, que estudos como este podem abrir mais espaço para esse tipo de demanda social e assim incentivar a produção de dados e análise que possam encontrar respostas para tantos dilemas que fazem parte do cotidiano dos profissionais que precisam lidar com essa realidade. Pelas razões mencionadas, este projeto de pesquisa propõe olhar o autor de agressão sexual de crianças e adolescentes a partir do Modelo da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, focalizando as suas características biopsicológicas e a sua trajetória de vida. O projeto traz como problematização proposta entender como as características biopsicológicas foram construídas na trajetória de vida do indivíduo, conduzindo-o à adultez. Como proposição de pesquisa compreende-se que estudar as características biopsicológicas do autor de agressão sexual a partir da sua história de vida permitirá entender melhor as condições ecológicas que o conduziram até a vida adulta. Dessa forma, propõe-se a tese de que uma variedade de fatores de risco interagindo concomitantemente vivenciados no decorrer da vida do indivíduo, neste caso, autor de agressão sexual, pode torná-lo mais vulnerável às condições adversas, levando-o ao cometimento do ato sexual contra crianças e adolescentes. Em resumo, 8 este estudo investigará as características biopsicológicas de autores de agressão sexual de crianças e adolescente, e os fatores de risco e proteção presentes em sua trajetória de vida. O método proposto obedecerá a questões de pesquisa derivadas do Modelo da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, que permite a combinação de abordagens qualitativa e quantitativa dos dados coletados e a realização de análises integradas dos aspectos e processos investigados. Esta orientação metodológica procura deixar clara a natureza sistêmica do presente estudo. Para tanto, o projeto prevê a realização de quatro estudos independentes, porém interligados, no sentido de promover uma compreensão abrangente e integrada dos múltiplos aspectos, pessoais e contextuais, destacados na bioecologia do desenvolvimento dos autores de agressão sexual pesquisados. O primeiro estudo se apresenta como uma proposta de Revisão Sistemática da Literatura (RSL) que terá como objetivo de mapear a produção científica que aponta medidas, instrumentos e variáveis de avaliação psicológica do autor de agressão sexual utilizados em pesquisas nacionais e em outros países; o segundo terá como fonte de informação processos jurídicos dos autores de agressão sexual, identificando a partir dos dados extraídos desses documentos, as características biopsicológicas e sociodemográficas prevalentes na população considerada; o terceiro analisará as distorções cognitivas a partir da percepção do autor de agressão sexual sobre criança (infância), adolescente (adolescência), agressão e violência sexual; e o quarto e último será um estudo de casos múltiplos, que procurará analisar as características biopsicológicas desenvolvidas por seus protagonistas no decorrer da vida e identificar os fatores de risco e proteção nas trajetórias analisadas. 9 Aspectos Conceituais: a Violência Sexual e a Concepção de Criança e Adolescente A violência sexual contra crianças e adolescentes acompanha a trajetória histórica da humanidade, manifestando-se de múltiplas formas em diferentes épocas e contextos sociais, conforme concepções e práticas culturais também diversas (Costa, Carvalho, Bárbara, Santos, Gomes & Sousa, 2007; Krug, Dahlberg, Mercy & Zwi, 2002). Para se entender a configuração histórica e os significados sociais que fazem da violência sexual um fenômeno tão antigo quanto atual, é necessário compreender os comportamentos que a definem como tal, quais as suas formas mais comuns de expressão no cotidiano de famílias e instituições, além dos indivíduos envolvidos nessas relações abusivas. Na acepção mais comum e geral do termo, o conceito de violência está associado à expressão concreta dos diferentes métodos de coerção e dominação utilizados com a finalidade de conquistar, reter poder ou obter privilégios (Ribeiro, Ferriani & Reis, 2004). No que diz respeito à etimologia da palavra, violência vem do latim violentia, que remete ao abuso da força que desrespeita as medidas sociais e culturalmente estabelecidas (Muller, 2006). Estas medidas podem ser dada pelo outro e sua constituição psicológica, definição do que a sociedade define como justo e adequado em suas leis, regras sociais, costumes e crenças por ela instituídos. Um dos conceitos amplamente utilizado sobre o termo violência é da Organização Mundial da Saúde (OMS): O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS, 2002, pp. 05). Esse conceito vislumbra a noção de relação de poder assimétrica existente nos vários tipos de violência. A relação de poder assimétrica implicada na violência associa-se à 10 intencionalidade do ato, com a sua prática propriamente dita, independentemente do resultado produzido. A relação de poder pode levar à ocorrência de um ato violento, uma vez que envolve aqueles comportamentos e práticas que resultam de uma relação de abuso, incluindo as ameaças e as intimidações. A relação de poder assimétrica também serve para promover a negligência ou atos de omissão, além de atos violentos mais óbvios de perpetração. O uso do poder deve ser entendido de forma a incluir a negligência e todos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico. Essa definição cobre uma ampla gama de consequências, inclusive dano psicológico, privação e déficits no desenvolvimento. Ela reflete um reconhecimento cada vez maior por parte dos pesquisadores e profissionais acerca da utilidade de incluir a violência que não resulta necessariamente em lesões ou morte, mas que oprime as pessoas, as famílias e as comunidades no mundo todo. Muitas formas de violência contra mulheres, crianças e idosos, por exemplo, podem resultar em problemas físicos, psicológicos e sociais que não necessariamente levam a lesões físicas, invalidez ou morte (Echeburúa & Corral, 2006; Rogers, Titterington & Davies, 2009). Essas consequências, porém, podem ser imediatas, bem como latentes, e tendem a perdurar por anos após o abuso inicial. Portanto, definir os resultados somente em termos de lesões ou mortes limita a compreensão da totalidade do impacto da violência sobre as pessoas, a comunidade e a sociedade como um todo (OMS, 2002). Particularmente, em relação às formas de apresentação da violência contra criança e adolescente, Cabral, Reis e Garcia (2010) lembram que as categorias mais utilizadas em estudos sobre o tema são: violência física, violência psicológica, negligência, violência institucional e estrutural, violência social e sexual. Entretanto, em função de que essas tipificações da violência são amplas demais e nenhuma delas parece conseguir captar a complexidade do fenômeno envolvido, a OMS (2002) propôs diversificar esse conceito e 11 relacionar a tipificação da violência à sua forma particular de manifestação em vários contextos. Pela OMS (2002), a violência autoinfligida é aquela que é direcionada a si própria (intrapessoal), já a interpessoal envolve o contexto familiar, intrafamiliar; a comunitária é aquela que ocorre entre pessoas sem parentesco, portanto, extrafamiliar; e a coletiva compreende redes e/ou organizações terroristas ou de guerras. Aliado a esses conceitos, classifica-se ainda violência conforme sua natureza, em geral por atos violentos que envolvem negligência ou privação, além dos abusos físicos, psicológicos e sexuais. Essa distinção, mesmo sem a pretensão de esgotar os problemas com a sua conceituação, enfatiza que em todas as tipologias da violência o caráter intencional do ato se faz presente em alguma medida. No caso específico dos atos abusivos e agressivos de natureza sexual, a conceituação, a tipificação e a compreensão dos processos que envolvem essa temática exigem uma discussão ainda mais abrangente e sensível às suas múltiplas determinações e configurações. A violência que envolve o ato sexual é um fenômeno multifatorial, complexo, polissêmico, multideterminado e controverso que se manifesta ou se materializa nas ações individuais ou coletivas, assumindo formas próprias de relações pessoais, sociais, políticas ou culturais. Nessa direção, Chauí (1999) define violência sexual como a relação de poder entre o algoz que impõe seu desejo sobre seus objetos, conduzindo a discussão para o campo da ética e da sociedade contemporânea. Nessa perspectiva, a violência sexual pode ser explicada através das relações de poder assimétricas que possibilitam o uso da força para obtenção ou manutenção de privilégios sexuais. De maneira geral, Leal e Leal (2002) discutem violência sexual a partir de dois grupos: o abuso sexual, caracterizado por manifestações no âmbito intrafamiliar (doméstica) e extrafamiliar, e a exploração sexual, representada pela comercialização mercantilista de 12 pessoas. Similar classificação é apontada pelo Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP (2009): 1) o abuso sexual é compreendido por uma série de situações que estão localizadas em um continuum que muitas vezes dificulta o estabelecimento dos limites entre o aceitável e o inaceitável, especialmente em uma cultura capitalista que sexualiza a infância; 2) a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, que se caracteriza pela obtenção de vantagem ou proveito, por pessoas ou redes, a partir do uso (abuso) do corpo de crianças ou adolescentes, com base em relação mercantilizada e de poder. Para as pesquisadoras, a violência sexual deve, contudo, ser contextualizada e compreendida em função da cultura, do padrão ético e legal, do trabalho e do mercado. Especificamente sobre o mercado de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, Faleiros (2004) sistematiza quatro modalidades, em consonância com as deliberações mundiais estabelecidas no Congresso de Estocolmo (1996). São elas: 1) exploração sexual infantil, que é definida como a atividade na qual atos sexuais são negociados em troca de pagamento não apenas monetário, mas que podem também incluir a satisfação das necessidades básicas (alimentação, vestuário, abrigo) ou o acesso ao consumo de bens e de serviços (restaurantes, bares, hotéis, shoppings, diversão); 2) turismo sexual, caracterizado pelo comércio sexual em regiões turísticas, envolvendo turistas nacionais e estrangeiros e principalmente mulheres jovens, de setores pobres e excluídos. O principal serviço comercializado no turismo sexual é a prostituição, incluindo nesse comércio a pornografia (shows eróticos) e o turismo sexual transnacional, que acoberta situações de tráfico de pessoas para fins sexuais; 3) a pornografia, por tratar-se de produção, exibição, divulgação, distribuição, venda, compra, posse e utilização de material pornográfico; e 4) o tráfico para fins sexuais definidos como o movimento clandestino e ilícito de pessoas através de fronteiras nacionais, principalmente dos países em desenvolvimento e de outros países com 13 economias em transição, com objetivo de forçar mulheres e adolescentes a se envolver em situações sexualmente ou economicamente opressoras e exploradoras, para lucro de aliciadores, traficantes e crime organizado ou outras atividades (por exemplo, trabalho doméstico forçado, emprego ilegal ou falsa adoção). É importante destacar que apesar dos esforços históricos da sociedade civil organizada e das instâncias públicas no sentido de resolver o grave problema da violência sexual e da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, ainda paira sobre nós o desafio quanto à definição de conceitos mais precisos, que contemplem as inúmeras tentativas de categorização dos comportamentos em torno daquilo que pode ou não ser considerado normal ou patológico (Felipe, 2006). As razões são muitas para essa dificuldade em formular conceitos e tipologias mais precisas no que se refere à violência sexual. Uma delas é a demanda crescente por estudos direcionados a vítimas sem, contudo, incluir o tema do autor de agressão sexual. Hoje, teóricos e pesquisadores de diferentes pontos de vista consideram que a questão central desse debate parece estar relacionada à definição dos papéis sociais e de características biopsicossociais próprios da figura da vítima (criança, adolescente, mulher), mas também do autor de agressão sexual. O fato de a criança ter características físicas e psíquicas que a definem como um ser vulnerável em sociedades que legitimam valores adultocêntricos acaba por promover um processo de ocultação da infância, fazendo com que a criança esteja sempre associada às formas de abuso e agressão sexual na condição de vítima (Labadessa & Onofre, 2010). Provavelmente, por esta e outras razões tem-se privilegiado a realização de pesquisas que analisam comportamentos, práticas e relações, assim como investigam percepções e representações sociais que abordam a condição social e o ponto de vista da vítima. 14 Há de se considerar, entretanto, que a centralidade da condição e do papel social da vítima nos estudos sobre o tema reflete o fato de que em várias épocas da humanidade, crianças e mulheres costumavam ser tratadas de maneira periférica diante das situações cotidianas, ou seja, eram vistas como mercadorias ou objetos de troca. No século IV a.C. na antiga Grécia, por exemplo, crianças eram sacrificadas e seus corpos colocados em muros, paredes e pontes a fim de dar-lhes maior sustentação (Bass & Thornton, 1985). A concepção de que a criança não tinha valor era recorrente nessa época histórica, o que a levava a viver situações de violência permanente nessa fase da vida. A violência contra criança e adolescente está presente desde a época bíblica (Labadessa & Onofre, 2010), que pela Lei Talmúdica aceitava a relação sexual do adulto com crianças desde que o pagamento fosse apropriado e justo. A Lei Canônica da igreja católica do século IX determinava, por exemplo, que a relação sexual definia a posse, ou seja, o estupro era um meio indissolúvel de se contrair matrimônio (Bass & Thornton, 1985). Todavia, na Idade Moderna, o adulto passou, pouco a pouco, a preocupar-se com a criança, compreendendo-a enquanto ser dependente e frágil. De acordo com Levin (1997), a palavra infância passou a designar desde então a primeira idade de vida: a época em que fica mais clara a necessidade de proteção, ideia esta que perdura até os dias de hoje. Embora a concepção de infância tivesse ampliado, subsistia a ambiguidade entre a infância e a adolescência. Assim como a infância ou a concepção de criança, a ideia de adolescência ou adolescente em épocas remotas também tiveram várias acepções, mudando em função de cada época histórica vivenciada pela humanidade. Conforme Ariès (1981) foi somente a partir do século XVIII que a concepção de adolescência começou a surgir como se conhece hoje, com características próprias, com uma mistura de pureza e força física, espontaneidade e alegria de viver. 15 Na idade média a primeira infância iria desde o nascimento até os sete anos, a segunda idade se estenderia dos sete aos quatorzes anos e a terceira idade a adolescência (15 aos 20/28 anos), nesta fase a pessoa seria considerada apta para procriar. Nessa idade o indivíduo cresceria em toda a sua grandeza devida a sua natureza (Grossman, 1998). Similar como aconteceu com a infância, a adolescência também sofria um série de mazelas sociais. A responsabilidade crescia conforme a idade aumentava, tornando-se adulto cada vez mais cedo, casando, assumindo responsabilidades financeiras e trabalhando para o sustento seu e de sua família. A principal mudança da concepção da adolescência se deu na transição da idade média para a modernidade, onde foi observada mudança comportamental na sociedade, com o advento da educação e a passagem da cultura coletivista para a privativa, colocando a instituição familiar em outro papel, não somente como provedora dos bens materiais, mas como protetora dos seus membros. Este novo movimento deu início a moralidade o que inspirou a necessidade de proteger as crianças e os adolescentes (Ariès, 1981). No decorrer da história social, a adolescência vai assumindo cada vez menos responsabilidades ganhando um novo espaço e se preparando para a vida adulta. Assim a adolescência vai se expandindo e empurrando a infância para trás e a maturidade para frente. Para Ariès (1981) a humanidade passou de uma época em que não havia adolescência para outra época em que a adolescência era a idade favorita, desejando-a que ela chegasse cedo e nela permanece por muito tempo. Vasconcellos e Sarmento (2007) consideram que mais do que a ausência da consciência da infância e da adolescência entre a idade média e a pré-modernidade, conforme explica Philippe Áries sobre o adultocentrismo da infância, existiram à época concepções que foram profundamente alteradas pela emergência do capitalismo, pela escola pública e pela vasta renovação das ideias com a crise do pensamento teocêntrico e o advento do 16 racionalismo. No entanto, essa mudança conceitual não evitou que a violência continuasse a ser perpetrada contra a criança e o adolescente. Pode-se afirmar que todas essas manifestações históricas, em épocas distintas da humanidade, demonstram que a violência foi desde o início tratada de maneira desconectada do princípio da garantia dos direitos humanos, principalmente a respeito dos direitos da criança e do adolescente. Na psicologia, na modernidade, assim como em outras áreas, a adolescência foi institucionalizada, foi apresentada a partir do conceito de moratória e caracterizou-a como uma fase especial no processo de desenvolvimento, na qual a confusão de papéis, as dificuldades para estabelecer uma identidade própria a marcavam como um modo de vida entre a infância e a vida adulta. Para Becker (1989) um caráter universal e abstrato foi dado a adolescência; inerente ao desenvolvimento humano, a adolescência não só foi naturalizada como foi tomada como uma fase difícil. Uma fase do desenvolvimento, semipatológica, que se apresenta carregada de conflitos “naturais”. Becker (1989) sinaliza ainda que a adolescência é uma passagem de uma atitude de simples espectador (infância) para outra fase mais ativa, questionadora. A adolescência, concebida como transformação, toma, da sociedade e da cultura, e manifesta-se nas varias formas de expressão. A concepção de adolescência na atualidade parece enfatizar que esta fase é singular para o desenvolvimento humano, pois não é criança nem são adultos, o que traz uma necessidade preeminente de proteção, presente até hoje nas leis vigentes. Mesmo com o avanço na concepção da infância e de adolescência, não há como desconsiderar o fato de que a violência contra crianças e adolescentes permaneceu presente nas sociedades seguintes, chegando até a contemporaneidade. Bass e Thornton (1985) pontuam que, mesmo na era contemporânea, em vários países africanos, como em outros continentes no passado, apresenta-se o costume da mutilação do órgão genital (clitóris) das meninas. Essa mutilação tinha e ainda tem a intenção de evitar que mulheres sintam prazer na 17 relação sexual. No Brasil, assim como em outros países das Américas, as práticas de agressão à criança a ao adolescente tem sido diferente, conforme Azevedo e Guerra (2000). A inquisição da supressão da heresia na igreja católica no período colonial foi responsável por reprimir os desvios sexuais e atos de bruxaria. Mulheres e crianças foram castigadas e mortas por uma suposta prática sexual não permitida. Esses costumes têm em comum o fato dos homens ditarem as normas sobre os atos sexuais, julgando seus limites, proibições, castigos. Portanto, quanto mais se retroage na história maior é a chance de se deparar com situações hoje definidas como de violação de diretos e o fracasso de medidas de proteção integral, que foram incapazes de conter a escalada dos casos de abandono, espancamento, morte e violência física, psíquica e sexual (Faleiros & Faleiros, 2001). Portanto, o reconhecimento do sentido da infância como uma fase singular do desenvolvimento humano e com um olhar diferenciado para a violência que impõe riscos e ameaças à integridade física, mental, espiritual e social à criança e adolescente é uma preocupação política relativamente recente no mundo e no Brasil. É importante destacar que mesmo com o aparecimento das organizações internacionais que promoveram a discussão sobre os direitos humanos, a exploração sexual de mulheres e crianças não foi colocada em primeiro plano. Lima (2004) destacam que a primeira preocupação da Comunidade Internacional foi com a escravidão. Primeiramente, houve a repressão ao tráfico de pessoas e depois a preocupação com os raptos de crianças e mulheres que eram submetidas a abusos e prostituição. No século XX, precisamente em 1924, foi realizada a primeira Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, entretanto não se tratou sobre a questão específica da exploração sexual infantil e nem sobre o comércio sexual de criança. Em 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, houve a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela, os direitos e liberdades das crianças e adolescentes estavam implicitamente 18 incluídos. Foi, entretanto, somente após o fim da segunda Guerra Mundial que a ONU Organizações das Nações Unidas e sua subsidiária específica para a infância, a UNESCO, deram início ao debate sobre a situação da criança e adolescente. Em 21 de março de 1959, na Cidade Lake Sucess, Nova York, foi instituída a penalização da prostituição, sem, contudo, especificar a proteção de crianças e adolescentes. No dia 20 de novembro do mesmo ano, na Assembleia Geral da ONU proclamou-se a Declaração dos Direitos da Criança, que continha dez princípios e um deles defendia o direito à proteção especial para as crianças. Outro marco relevante foi a criação, em 1948, da Organização Mundial de Saúde OMS, subordinada a ONU. Em 1977, pela gravidade da situação de violência no mundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) dedicou-lhe prioridade na Assembleia Mundial de Saúde. Embora não haja dúvida que acidentes e violências sejam problemas que afetam a saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde, a partir de 1993, passou a recomendar insistentemente aos países membros a inclusão do tema nas agendas de intervenção. Em 2002, a OMS publicou assim um extenso informe: Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, trazendo para a área uma reflexão sobre responsabilidades específica e intersetorialidade. (Pereira, Lira, Xavier, & Vieira, 2007). Cabe citar ainda, nessa conjuntura histórica, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em 1989, como uma relevante contribuição no enfrentamento a violência, como um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo. É relevante mencionar que, no Brasil, a violência, especificamente a sexual, contra crianças e adolescentes só no final do século XX começa a ser incluída como preocupação efetiva na agenda da sociedade civil, através da Constituição Federal Brasileira (1988), que antecipou princípios legitimados pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em 1989, conforme explica Lima (2011). 19 A sociedade civil brasileira despertou para uma mobilização intensa em favor da criança e adolescente, pela gravidade do fenômeno da violência. Nesse período, fóruns e debates pressionaram a formulação de leis de amparo à infância, na perspectiva da garantia de direito e de proteção integral. Surge, assim, no Brasil, em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Neste documento, os interesses superiores da criança foram priorizados sob todas as formas de medidas de proteção por instituições de bem-estar social, públicas ou privadas. Pelo exposto, a visibilidade das características específicas de crianças e adolescentes e a consagração de interesses que são derivados da sua condição de pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, são temas que vêm ganhando destaque nas últimas décadas, sendo fruto de profundas transformações sociais e políticas públicas. Todas essas transformações sociohistóricas mantém uma relação de mútua influência com as mudanças percebidas no conceito de infância, família, instituições educativas e, consequentemente, a forma como as crianças vêm sendo educadas e assistidas nas suas necessidades (Castro, Ribeiro & Busson, 2010; Landini, 2003; Leal, 2010; Maio & Vasconcelos, 2010; Melo, 2010; Neto, 2010; Silva & Hutz, 2002) No entanto, o desafio de coibir o abuso e a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, apesar de todos os esforços que têm sido feitos até agora no sentido de melhor compreender a incidência desse problema no Brasil e no mundo, vem sofrendo recuos e oscilações. As razões se concentram na criação de programas e leis mais implacáveis, campanhas de conscientização, centrais telefônicas de denúncia e demais estratégias de contenção do problema. Todavia, percebe-se que, em geral, as medidas de prevenção e enfrentamento da agressão sexual em suas diferentes facetas e contextos adotadas por governos e sociedades de forma isoladas ou integradas parecem não ter conseguido dar conta de compreender toda a 20 extensão do problema e a forma como efetivamente este afeta as suas vítimas. Além disso, as ações interventivas têm deixado em aberto várias questões relacionadas que parecem ter relação direta com a efetividade e eficácia dos seus resultados e impactos, qual seja a condição biológica, psicológica e social do autor de agressão sexual, ou seja, do responsável por perpetrar a violência sexual contra a criança e o adolescente. 2. O Autor de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes: Características e Tipologias O autor de agressão sexual de criança e adolescente é um dos protagonistas que constitui o fenômeno da violência sexual e que precisa ser aqui abordado. Em detalhe pode-se dizer que, somente a partir dos meados deste século, sobretudo na última década, a atenção do público em geral e dos acadêmicos, em particular, se concentrou neste tema (Silva, 1998). Em razão disso, era de se esperar que a discussão sobre a condição biopsicossocial do autor de agressão sexual pudesse ter progredido nos últimos anos, aproximando em volume de pesquisas e qualidade das ações similares as voltadas às vítimas, permitindo uma compreensão maior do seu sentido e das possibilidades de intervenção governamental nessa problemática. Entretanto, essa expectativa não se concretizou e continua a exigir estratégias de intervenção eficazes e adequadas, e a busca de fundamentos teóricos sobre o tema, assim como a implementação de ações interdisciplinares e multidisciplinares com vista à superação desse desequilíbrio (Barbosa, Macedo, Melo, & Piola, 2010; Esber, 2009; Pereira, Lira, Xavier & Vieira, 2007; Smallbone & Wortley, 2004). A discussão sobre a identidade e as características biopsicossociais do autor de agressão sexual de crianças e adolescentes ainda é um tema marginal e obscuro sob o véu da ciência, até hoje pouco explorado e, que traz um ranço histórico e social dos múltiplos preconceitos que marcaram a pesquisa antropológica, sociológica, psicológica, entre outras áreas do conhecimento (Esber, 2009; Morais, Santos, Moura, Vaz & Koller, 2007, Moura, 2007). Os trabalhos nessa temática ainda são insuficientes, já que o tema tem uma dimensão 21 ampla e um grau de complexidade que requer estudos em diversas áreas. Em termos teóricos, há uma produção literária embrionária, pode-se dizer emergente, nas neurociências (Doin, 2005), nas ciências comportamentais (Almeida, 2003) e do desenvolvimento humano (Morais, Santos, Moura, Vaz & Koller, 2007), que faz com este seja um assunto que, hoje, comece a ganhar força no cenário brasileiro. Para Serafim, Saff, Rigonatti, Casoy e Barros (2009), a maioria dos estudos sobre violência sexual tem investigado as vítimas, com poucos trabalhos sobre autor de agressão sexual. Talvez isso se deva em função da maior visibilidade social e da importância, como violação de direito da vítima. A preocupação central das pesquisas até hoje tem sido compreender quem são as crianças e os adolescentes vítimas da violência sexual, qual o seu perfil, quais os contextos em que têm ficado mais expostas, quais as estratégias de atendimento entre outras (Costa, Cordeiro, Kalil & Brandão, 2007). Comparativamente, podese dizer que existem mais pesquisas com as vítimas de violência sexual que com do autor de agressão sexual, apesar de uma ampla literatura internacional (Marques, 2005; Moura, 2007) Os autores de agressão sexual são menos estudados, quando comparadas com as pesquisas sobre as vítimas de violência sexual (Marques, 2005; Moura, 2007; Padilha & Santos, 2007), aspecto observado no âmbito internacional e nacional. As pesquisas internacionais priorizam estudos com as vítimas como o observado nos trabalhos de Kapadia, Saleem, Karim (2009) e também, Kelsall e Stepakoff (2007). Aspecto semelhante é observado no cenário nacional. As pesquisas empíricas dão ênfase às vítimas como encontrado em vários estudos (Costa, Carvalho, Santos, Barbará, Gomes & Sousa, 2007; Costa, Cordeiro, Kalil & Brandão, 2007; Dossi, Saliba, Garbin & Garbin, 2008; Habigzang, Koller, Azevedo & Machado, 2005; Jong, Sadala & Tanaka, 2008; Pereira, Lira, Xavier e Vieira, 2007). No âmbito da discussão conceitual que envolve a questão sobre quem é e que pode ser reconhecido e responsabilizado por atos que denotam violência sexual contra crianças e 22 adolescentes, verifica-se uma série de nomenclaturas que até hoje são utilizadas para descrever as pessoas que cometem violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo frequentemente confundidos os vários termos e, em alguns casos, chegam a ser tomados como sinônimos. Libório e Castro (2010), ao analisarem as pesquisas empíricas que investigaram os autores de agressão sexual nos Estados Unidos, fazem referência ao fato de que as categorias que os pesquisadores adotaram para estudo foram propostas em função dos recortes feitos pelos autores a partir dos objetivos dos trabalhos originais revisados. Isso significa que, em geral, os estudos privilegiam a abordagem de aspectos de cunho social-legal ou psicopatológico (Esber, 2009). No recorte social-legal, a discussão baseia-se no tipo de crime cometido e no psicopatológico está centrada em categorias de procedimentos diagnósticos, revelando as psicopatologias mentais (Echeburúa & Corral, 2006; Franc, Vaughan, Hambleton, Fox & Brown, 2008). No Brasil, as pesquisa empíricas seguem na mesma direção, de maneira que os recortes são feitos em geral focalizando apenas os aspectos sociais (ou socioeconômicos), na perspectiva da garantia dos direitos humanos (Drezett, Caballero, Juliano, Prieto, Marques, Fernandes, 2001; Faleiros & Faleiros, 2001; Leal & Leal, 2002) e do recorte psicopatológico como observado nos trabalhos de Felipe (2006), Landini (2003), Verhoeven (2007), Furniss (2002). Por sua vez, Serafim, Saff, Rigonatti, Casoy e Barros (2009) demonstram que, com significativa frequência, as pesquisas sobre violência sexual e a condição do autor de agressão sexual se concentram na área social e médica. Portanto, o termo perfil psicológico das pessoas que cometem violência sexual contra crianças e adolescentes acaba por enfocar os aspectos específicos das áreas do conhecimento em que foram gerados. A partir do material bibliográfico analisado, identifica-se que os trabalhos sobre os autores de agressão sexual que perpetraram alguma forma de abuso sexual apresentam a 23 violência vista sob vários olhares e formas conceituais distintas. Identificou-se na literatura revisada e aqui relatada, uma variação de olhares acerca da violência sexual, que vai desde aqueles que discutem a violência sexual como crime (Verhoeven, 2007) ou patologia (Aded, Dalcin, Moraes & Cavalcante, 2008; Camões, 2010; Felipe, 2006; Landini, 2003), passando pelos que enfatizam a sua definição como problema social (Barbosa, Macedo, Melo, & Piola, 2010), até os que privilegiam o estudo como violação de direito (Cavalcante, Magalhães & Pontes, 2009; Costa, Carvalho, Bárbara, Santos e Souza, 2007; Hazeu, 2004; Lima, Pontes, Silva, Maluschke, Magalhães & Cavalcante, 2008; Martins & Jorge, 2010). Como se pode perceber, as formas de abordagem da problemática das características da agressão sexual são variadas, mas, em termos bioecológicos, poucos trabalhos foram encontrados no levantamento preliminar aqui resgatado, fazendo com que essa forma de olhar o fenômeno possibilite com uma possibilidade de integrar perspectiva. Nesse sentido, a literatura sobre as características biopsicossociais, a identidade e a voz do autor de agressão sexual é incipiente e produziu muitas vezes descrições simplistas baseadas em dados sociodemográficos (Moura, 2007). Falta um olhar mais abrangente (que integre bio-psico-social) e a percepção dos vários agentes e da própria pessoa que cometeu violência sexual contra crianças e adolescentes sobre quem são e quais foram seus contextos de desenvolvimento desde a infância. Esta parece ser uma demanda que, hoje, mais do que antes, se apresenta como necessária à pesquisa em torno das características dos autores de agressão sexual, suas definições conceituais e as respostas possíveis quanto aos aspectos que circundam a formação da sua identidade social e psicológica. Entretanto, a literatura, apesar de incipiente, já traz alguns dados importantes para a investigação dessa questão (Esber, 2009; Marques, 2005; Moura, 2007). Quanto às características do autor de agressão sexual, estudos apontam que, de maneira geral, os autores de violência sexual não apresentam pelo menos aparentemente, 24 comportamentos diferentes de uma pessoa comum ou por uma característica estereotipada que tornaria fácil a tarefa de reconhecê-los à primeira vista, sendo comum, contudo, que possuam histórias de violência em suas vidas, seja no presente seja no passado (Moura 2007). Por outro lado autores como Hall (1990); Hall e Hirschman (1991); Hall, Shondrick e Hirschman (1993) sinalizar que os autores de violência sexual contra criança e adolescente são heterogêneos e multimodais, isto é, com amplo e multivariado repertório dos aspectos psicológicos e comportamentais. Para contribuir com a pesquisa desse tema, Furniss (2002) aponta que o autor da violência sexual apresenta determinadas características. São elas: 1) a pessoa tem consciência de que a violência sexual contra crianças e adolescentes é errada e que esta forma de agir se constitui crime; 2) os indivíduos que abusam sexualmente de crianças e adolescentes sabem que o abuso é prejudicial à criança, apesar disso, o ato é perpetrado; 3) os homens e as mulheres que abusam sexualmente de crianças e adolescentes tendem a negar, para eles próprios e para os outros indivíduos, a de compulsão por criança. Para Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) (2010) há traços de personalidade que podem ser comuns entre as pessoas que cometem violência sexual contra crianças e adolescentes, como por exemplo, a imaturidade emocional; a baixa autoestima; a baixa tolerância à frustração; a impulsividade e o baixo autocontrole; dificuldades de relação com os outros; desejo de poder/controlar os outros; uma história pessoal que pode envolver uma infância em que foi vítima de maus tratos físicos e psicológicos ou violência sexual. Estes traços, contudo, não são determinantes, ou seja, nem todos os indivíduos que apresentem estas características de personalidade ou comportamentos são ou se tornam autores de agressão sexual. Quanto à definição do termo dos autores de agressão sexual, observa-se uma tendência a englobar a violência sexual contra criança no contexto geral da pedofilia e não da 25 criminalidade. O termo pedofilia, apesar de ser importante para esse tipo de discussão, se torna restrito, muito limitado em sua aplicação, uma vez que é encontrado fortemente na literatura própria da Psiquiatria, estreitando a visão do conceito do perfil psicológico e comportamental, e os processos do desenvolvimento humanos envolvidos (Felipe, 2006). Em função da confusão entre os conceitos do termo sobre o autor de agressão sexual, alguns estudiosos qualificam como abusador/agressor/ofensor e outros como pedófilo. Neste projeto de pesquisa será apresentada a distinção entre eles e os demais conceitos que os circundam. Apesar de a distinção conceitual ser necessária para fundamentar a discussão do objeto de pesquisa, este projeto tratará a pessoa que comete violência sexual contra crianças e adolescentes, para obtenção da satisfação sexual, como autor de agressão sexual, de maneira, que exprima o ato em si e não como característica pessoal indissolúvel, minimizando o sentido rotulador da palavra agressor sexual. No entanto pela literatura levantada há uma heterogeneidade na tipologia e características de autores de agressão sexual. Conforme já sinalizado anteriormente, os indivíduos que utilizam criança/adolescente para fins comerciais apresentam nomenclaturas diversas. Os indivíduos que utilizam a criança e o adolescente para obtenção da satisfação sexual têm várias características específicas, que podem se diferenciar claramente daqueles que tem fins mercantilistas. Em termos comerciais, os que se beneficiam com o mercantilismo de crianças e adolescentes a partir do aliciamento direto ou indireto, são os chamados aliciadores Para Davidson (2001) há a figura do explorador, aquele que usa a criança ou o adolescente para fins sexuais, mas com objetivos comerciais. Em razão disso, Felipe (2006) insere outra figura na rede sexual de crianças e adolescentes, o denominado de angariador, que serve de observador e/ou sequestrador com hábitos de frequentar parques, praças, escolas, locais onde há grande concentração de crianças e/ou adolescentes. Após a entrega do “pacote”, como é 26 referida a criança pelos autores de agressão sexual, entra o monitor, o qual tem a função de cuidar do local onde ela é fotografada e filmada. O abusador sexual, segundo Libório e Castro (2010), é aquele que exerce algum tipo de vantagens sobre a criança ou o adolescente, geralmente está em um nível hierárquico maior que a vítima e tem acesso facilitado à ela, podendo ser uma pessoa próxima, como um parente ou amigo íntimo da família. Uma característica marcante do autor de agressão sexual é que nem sempre sente um forte e contínuo interesse por crianças, diferentemente do pedófilo. Outra diferença é que não usa a criança ou o adolescente no contexto comercial se distinguindo do aliciador. Um dos conceitos mais difundido na mídia e mais associado à figura do autor de agressão sexual é o pedófilo, que, na literatura especializada, diz respeito a todo aquele que pode ser "caracterizado pela atração por crianças, com os quais os portadores dão vazão ao erotismo pela prática de obscenidades ou de atos libidinosos” (Croce, 1995, p. 30). O termo pedofilia vem de parafilias que envolvem os distúrbios sexuais. Entre as práticas de pedofilia mais comuns, pode-se citar voyeurismo, fetichismo, zoofilia e necrofilia (Kaplan, Sadock & Grebb, 1997). A pedofilia é uma categoria diagnóstica clínica com um significado específico e limitado. Há pedófilos que nunca abusaram diretamente de uma criança, que obtém a saciação do prazer olhando crianças nuas, porém, considera-se que isso não os coloca em uma situação mais favorável que os outros abusadores, apenas exigem que estes sejam olhados de forma diferenciada pela ciência e pelo poder público constituído. Para Seto (2008) existem duas categorias de autor de agressão sexual, o que talvez possa explicar a confusão conceitual no emprego dos termos abusador situacional e pedófilo. O autor propõe que há abusadores sexual pedófilos e abusadores sexual não pedófilos, sendo que, estes últimos, manifestariam tendências antissociais claras ou obteriam a desinibição com o uso de álcool ou outras drogas, ou ainda porque agem orientados por valores culturais 27 adquiridos no decorrer de seu ciclo de vida. Nesse sentido, pode-se afirmar que nem todo autor de agressão sexual é pedófilo, mas o contrário não seria verdadeiro. Ou seja, todo pedófilo é um autor de agressão sexual, pelo menos, em potencial. Serafim, Saff, Rigonatti1, Casoy e Barros (2009), em uma revisão sistemática da literatura sobre a definição do pedófilo, apresentam a classificação do que tem sido publicado nos últimos 20 anos. Os autores identificaram que os trabalhos citam frequentemente: 1) pedófilo abusador e 2) pedófilo molestador, sendo este último dividido em molestador situacional (pseudopedófilo) e molestador preferencial. O molestador situacional divide-se, ainda, em molestador situacional regredido; molestador situacional inescrupuloso (moral ou sexual) e molestador situacional inadequado. Já o pedófilo molestador preferencial pode ser classificado em pedófilo molestador preferencial sedutor, pedófilo molestador preferencial sádico e pedófilo molestador preferencial introvertido. Porém, apesar de interessante os resultados obtidos com essa revisão da literatura, deve-se considerar que o objetivo dos autores à época não consistia exatamente em traçar e definir categorias capazes de desenhar os vários perfis de agressor sexual ou muito menos discutir aspectos específicos do processo de desenvolvimento biopsicossocial associado a cada tipo identificado, por isso, entende-se que novos estudos podem e devem ser realizados com esta intenção específica. A relevância social e teórica para esse tipo de pesquisa reside no fato de que, em razão da visibilidade que esse fenômeno começa a ganhar nos últimos anos, tem-se observado vários equívocos na compreensão sobre as diferenças entre os conceitos de exploradores, abusadores sexuais e pedófilos, o que acaba por colocá-los no mesmo patamar conceitual e instruindo a formulação de estratégias de enfrentamento e conhecimento iguais para públicos diferentes. Embora se saiba que todos cometem violência contra a criança e/ou adolescente e na essência assim o fazem, a ausência dessa distinção prejudica uma compreensão efetiva da problemática e a sua configuração atual, ao mesmo tempo em que simplifica as análises, as 28 formas de tratamento e as políticas de intervenção ao incluir indivíduos com motivações e característica psíquicas distintas em uma mesma e ampla categoria social e teórica. Apesar da discussão sobre as características do autor de agressão sexual ter tido início há pouco tempo, algumas áreas do conhecimento e teorias clássicas tentaram explicar a agressão como um fenômeno unifatorial. Apenas recentemente a agressão, entre outras a sexual, passou a ser entendida a partir de uma série de fatores que interagem concomitantemente e de maneira interinfluente, permitindo estudar a agressão como um fenômeno multideterminado e sistêmico. 3. Áreas do Conhecimento e Teorias sobre a Agressão Conforme foi discutido até agora, existem diversos conceitos, tipologias e características que são habitualmente associados às agressões e aos seus protagonistas, vítima e autor de agressão. Tais conceitos são construções teóricas que permeiam as teorias e os modelos que tentam descrever ou explicar o fenômeno da agressão. Uma ampla literatura sobre a agressão tem demonstrado que tantos as teorias clássicas como os mais atuais estão condicionados diretamente as concepções de um período histórico em que surgiram. Em determinada época, algumas teorias tentavam explicar o fenômeno por meio de um único fator. Destas tentativas de explicação, algumas em maiores proporção e outras em menores, apoiavam o debate de que o comportamento agressivo era determinado por um único fator, ora considerando o fator biológico como determinante (Pereira, 2007), ora considerando os aspectos sociais como motivadores essenciais para a agressão (Bandura, 2008). Com o advento de novas concepções integracionistas e menos deterministas, novos estudos e novas pesquisas se solidificaram, as teorias deterministas foram sendo reformuladas e outras foram perdendo lugar para novas concepções, consolidando modelos e teorias mais 29 integrativos teoricamente. Nessa direção, a agressão começava a ser estuda a partir de uma nova concepção a de que é um fenômeno multideterminado e heterogêneo. Porém, importante considerar que o fenômeno da agressão não tem sido estudado de forma exclusiva pela Psicologia, várias áreas de conhecimento também abordaram e contribuíram para a discussão dessa temática. Assim, de maneira breve, serão apresentadas as principais áreas de conhecimento: a Antropologia evolucionista, a Biologia, a Sociologia e a Psicologia. Na Psicologia serão expostas as suas principais teorias, desde as clássicas até as mais atuais, e em, seguida os modelos teóricos da agressão sexual, explicando o comportamento dos autores de agressão sexual e suas motivações. Ressalta-se que não existe a pretensão de fazer uma discussão exaustiva das contribuições das várias ciências, por isso apresentar-se-á um resumo de diferentes abordagens, no sentido de fornecer um conjunto de informações que possam, minimamente, promover ou subsidiar a reflexão sobre a agressão, em particular sobre a sexual. 3.1 A Antropologia Evolucionista e a Natureza Humana Os estudos atuais tem demonstrado que cada cultura designa quais são os comportamentos sexuais são considerados desviantes ou apropriados. Na Austrália, por exemplo, algumas tribos aprovam relações homossexuais entre adultos e crianças do sexo masculino; no Iêmen são permitidas cerimônias que envolvem casamento com noivas crianças e maridos três vezes mais velhos que as noivas; os nativos de Caroline Islands permitem que os homens idosos tenham relação sexual com meninas pré-adolescentes de forma a melhorar seu desempenho sexual (Diário de Notícia, 2013). Todas essas características, ou seja, a relação entre homem e humanidade, exemplificada no relato acima são identificas em diversas culturas, sendo objeto de estudo da Antropologia. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da 30 Antropologia Biológica. Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento, entretanto aqui a ênfase será dada a Antropologia biológica (evolucionista). Pode-se afirmar que há poucas décadas a Antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a ciência que estuda a história natural, física e do processo evolutivo do homem, no espaço e no tempo. Isso marcou e limitou os estudos antropológicos por longo tempo, privilegiando a antropometria ou ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do homem vivo. Segundo a Antropologia evolucionista o processo que levou o ser humano a torna-se o que ele é hoje surgiu a partir de inúmeras mudanças climáticas, geográficas e comportamentais que ocorreram há milhões de anos (Leakey, 1999). Todas estas mudanças evolucionárias podem ser entendidas a partir de três leis fundamentais elaboradas por Charles Darwin em 1859, na publicação a Origem das espécies: a primeira diz respeito ao princípio da variabilidade em que os indivíduos de uma determinada espécie apresentam diferenças genéticas no seu fenótipo (características morfológicas, fisiológicas e comportamentais); o segundo princípio é o da hereditariedade, em que a variante dos fenótipos é hereditária, ou seja, os descendentes dos indivíduos carregam e transmitem os genes que determinam as alterações morfológica, fisiológica e/ou comportamental; e terceiro é o principio da adaptação, em que os indivíduos que possuem determinada variação no fenótipo ficam mais propícios para aquele ambiente do que os que não possuem essa constituição biológica (Izar, 2009). A seleção natural, portanto: Ocorre quando os indivíduos que carregam genes codificadores de certas características físicas e comportamentais conseguem, por exemplo, obter mais recursos alimentares, ou apresentar maior capacidade de evitar predação, ou atrair mais parceiros reprodutivos do que os indivíduos que não possuem tais características (Izar, 2009, p.23). 31 Dessa forma, indivíduos com determinadas caraterísticas tendem a deixar mais descendentes do que outros, permitindo que os genes que foi selecionado para uma habilidade específica seja repassado para as gerações seguintes. Por exemplo, as características fenotípicas foram selecionadas e tornaram os indivíduos (mais) capazes de responderem e resistirem às pressões do meio. Entre as características está a habilidade de se defender e/ou atacar de forma agressiva, assegurando a sua sobrevivência e de seu grupo (ou espécie, em termos filogenéticos) e ampliando o seu domínio. Dessa forma, o comportamento agressivo foi selecionado uma vez que no palco evolucionário, as pressões seletivas que se tinha há milhões de anos, selecionou essa habilidade/característica favorecendo a adaptação do homem na terra e sendo transmitido para toda população ao longo do tempo. A partir desses princípios pode-se tentar entender como o processo da evolução humana se deu e quais os mecanismo foram selecionados em função de sua adaptação, como o ser humano se tornou o que é hoje e como o comportamento agressivo foi selecionado (Izar, 2009). Porém, enfatiza-se que as abordagens evolucionistas são muito controversas, definindo a agressão como um reflexo da necessidade de sobrevivência da espécie (Pereira, 2007), isto é, a agressão, e inclusive a sexual, é um comportamento que serve para garantir o território, a hierarquia no grupo e a descendência. Porém, não se quer aqui dizer que a agressão é explicada somente pelas pressões filogenéticas, mas que mecanismos próprios da espécie humana atuam nessa direção. Além disso, a cultura, presentes em todas as sociedades, tem um papel fundamental, pois modela e medeia as formas de agressão, como a sexual, as quais podem ser denominadas de desempenho sexual. (Izar,2009) 3.2 A Biologia da Agressão Para Gauer (2008) a origem da conduta agressiva é multifatorial e ainda não se encontra completamente elucidada. Dessa forma, a compreensão dos fatores biológicos associados à conduta agressiva é apenas uma parte para o entendimento da violência como um 32 todo. Segundo Gauer (2008), no caso da agressão sexual pode estar relacionada, em parte, por alterações nas estruturas anatômicas, nas alterações dos neurotransmissores, nos esteroides sexuais e outros hormônios além de fatores genéticos. Nas alterações das estruturas anatômicas, estudos com pacientes que sofreram lesões cerebrais proporcionaram indícios importantes quanto à neurobiologia do comportamento agressivo. Há relatos na literatura de que pacientes com histórias de raiva descontrolada sofreram trauma encefálico, e a de que a ocorrência de lesão cerebral é significantemente mais comum em homens que espancam suas companheiras do que em homens não violentos (Rosenbaum, Hhohe, Adelman, 1994). Algumas pesquisas sobre as principais estruturas cerebrais possivelmente envolvidas na mediação da agressão tem indicado o hipotálamo, a amígdala cerebral e o córtex pré-frontal como estruturas ligadas a agressão. Pesquisas também têm demonstrado que há outras áreas do cérebro implicadas na agressão envolvendo a linha média talâmica, região pré-optica lateral, corpos mamilares e hipocampo (Cherkasky & Hollander, 1997). Além das lesões cerebrais, tem sido investigadas as alterações em neurotransmissores relacionados com a agressão sexual. Estudos evidenciam a participação principal da serotonina e noradrenalina e outros neurotransmissores secundários com funções inibitórias da agressão sexual, sobre o funcionamento de neurônios, como a dopamina e o GABA (ácido gama aminobutírico) (Gauer, 2008), demonstrando que os neurotransmissores podem inibir ou ativar o processo agressivo. Assim como as lesões cerebrais e os neurotransmissores, algumas pesquisas em seres humanos, bem como estudos em animais, têm sugerido que os andrógenos (termo genérico para qualquer composto natural ou sintético, geralmente um hormônio esteroide, que estimula ou controla o desenvolvimento e manutenção das características masculinas) podem ter um papel na agressão (Rosenbaum, Hhohe, Adelman, 1994). Mesmo em indivíduos considerados 33 normais, há relação entre os diferentes níveis de testosterona e o desenvolvimento de conduta agressiva. Embora os níveis de testosterona possam estar elevados em adolescentes infratores agressivos, o uso de antiandrógenos tem tido benefício limitado, talvez porque haja outras influências hormonais sobre o desenvolvimento da agressividade até então descoberto ou pouco explorado (Gauer, 2008). Entretanto, verifica-se que a testosterona não tem sido apontada como exclusivamente responsável pela agressividade. (Gauer, 2008). Especificamente sobre o acetato de medroxiprogesterona e o acetato de ciproterona parecem diminuir tanto a atividade como o impulso sexual desviante e não desviante em homens com parafilías, e esta melhora comportamental está associada aos níveis de testosterona (Kravitz, Haywood, Kelly, 1996). Quanto aos níveis hormonais, apesar da maioria das investigações se centrarem no papel principal da hormona masculina, eles são utilizados com frequência para explicar a compulsão por sexo, bem como a influência que podem desempenhar no desencadear do comportamento agressivo. Dai resulta a importância em se atribuir o uso de fármacos antiandrógenos no tratamento (por exemplo, castração química) dos comportamentos sexuais desviantes, já iniciados em alguns países (Pereira, 2007). Quanto aos aspectos genéticos, alguns estudos sugerem uma relação entre fatores genéticos e conduta antissocial, bem como a associação entre a baixa atividade 5-HT cerebral (receptores para o neuromodelador e mediador de sinais periféricos, serotonina, também conhecida como 5-hidroxitriptamina ou 5-HT) com a impulsividade e agressão (Coccaro, Gabriel & Siever, 1990). Aliado a esses estudos, outras pesquisas têm mostrado que os cromossomos têm influência de anormalidades cromossômicas na agressão, particularmente na síndrome XYY (Stalenheim, Knorring & Wide, 1998), conhecida como Síndrome do Supermacho, embora, a ligação entre XYY e violência não tenha sido confirmada (Gauer, 2008). 34 As anomalias nos autossomas têm implicações no desenvolvimento mental ou noutras manifestações gerais. Porém, se ocorrerem nos cromossomas sexuais, podem verificar-se repercussões comportamentais da personalidade, nomeadamente maior propensão para personalidade antissocial. Por exemplo, cromossomas X supranumerários 1 tendem a surgir associados a um quociente de inteligência inferior, a comportamentos sexuais agressivos, entre outros transtornos psíquicos. Por outro lado, cromossomas Y supranumerários foram associados a maior impulsividade, agressividade, tendência para o comportamento antissocial, etilismo (alcoolismo), tendo recebido inclusive o apelido de “o cromossoma do crime” no século passado (Stalenheim, Knorring & Wide, 1998). No entanto, a associação destas anomalias à criminalidade pode não estar diretamente correlacionada com o aumento significativo da agressividade (Sousa,1999). 3.3 A Sociologia e a Influência Social na Agressão A partir da Escola de Chicago, onde se destacou a influência escola do funcionalismo em Psicologia, da Sociologia Urbana, da Ecologia Humana, enfatizou-se a discussão sobre a relação de poder em diversos contextos (Charlot, 2002). Especificamente na Sociologia destacou-se no período a primeira importante tentativa de estudo dos centros urbanos, combinando conceitos teóricos e pesquisa de campo de caráter etnográfico (Charlot, 2002). Como subcampo pode-se citar a Sociologia da Violência e da Criminalidade que também estuda as principais teorias criminológicas e as diversas escolas formadas a partir do século XX. (Charlot, 2002). Para a Sociologia, as manifestações da agressividade constituem um fenômeno que através dos tempos têm afetado todas as sociedades históricas. Hoje, a violência é fruto e resultante de estruturas, relações e contradições sociais da vida urbana e rural. Aspectos estes 1 Falta um conceito (suprenumemários) 35 que são temas centrais presente na mídia nacional e internacional e objeto de atenção no mundo acadêmico, interessando particularmente à área da Sociologia. (Sirota, 2001) A abordagem da moral e os valores das diversas sociedades e culturas a respeito da conduta sexual é particularmente o objeto de estudo da Sociologia. Em cada sociedade e cultura o poder vigente define o que é sexualmente permitido e o que é aceitável. Na história das violações, como numerosas violências antigas, é severamente decidida pelos detentores do poder, entre estes o poder religioso, por exemplo. Dessa forma, para a Sociologia, o social determina as formas de expressão da agressão, contribuindo para que a discussão da agressão sexual perpassasse pela situação vigente da sociedade atual (Zaluar ,1999). A ênfase da Sociologia para a explicação da agressão era que esta se caracterizava apenas como um elemento numa constelação de outros elementos comportamentais, os quais estavam associados atitudes, desejos e valores da sociedade. Sendo assim toda agressão estava ligada a masculinidade, demografia social, economia, corrupção política, crenças e atitudes. Tanto os homens quanto as mulheres, internalizavam esse tipo de pensamento, levando os homens a assumirem os papéis de violador e por outro lado tornando as mulheres passivas, levando a aceitação das violações (Zaluar ,1999). Misse (2011) argumenta que a Sociologia foi influenciada também pelo paradigma marxista, após a revolução industrial, que entusiasmou diversos cientistas sociais brasileiros e mostrou-se particularmente fecundo e inovador justamente na crítica feita aos crimes do capital e aos dispositivos de violência do Estado. Além disso, desde o final dos anos 70, a influência da obra de Foucault sobre os cientistas sociais brasileiros teria deslocado o enfoque para os dispositivos de poder. A violência em relação à análise do poder torna explícito que tipo de poder está em questão na análise genealógica e esclarece que não se trata de pensar o poder como capacidade ou aptidão inscrita no corpo e também não se trata de entender o poder como algo 36 que pudesse ser concentrado, acumulado ou distribuído. O poder seria então pensado como relação, ou seja, relação de poder. (Zaluar ,1999) Tais explicações, apesar de relevante hoje em dia, fez com que a sociologia pudesse rever seus conceitos e ampliar para uma visão mais integradora e não justificando o fenômeno da agressão sexual embasado somente pelas condições sociais, econômicas e demográficas, apesar de sua grande parcela de influência nesse tipo de comportamento (Misse (2011)). 3.4 Perspectivas Teóricas da Psicologia sobre a Agressão Apesar das diversas áreas do conhecimento terem contribuído com a discussão sobre a agressão, a Psicologia, ciência que estuda o comportamento, trouxe uma variedade de teorias com diversas abordagens nos mais variados contextos. Entre as formas de explicação encontram-se desde as perspectivas teóricas consideradas clássicas (Psicanálise/Psicodinâmicas, Behaviorismo e Aprendizagem Social), como modelos integrativos mais recentes (Psicologia evolucionária, Cognitivo Neoassociassionista, Distorção cognitiva, Teoria cognitivo-comportamental, Pensamento sobre informação social, Interacionismo social) que embasam as pesquisas científicas até os dias atuais. 3.4.1 Teorias clássicas 3.4.1.1 Psicanálise/Psicodinâmica. A teoria da Psicanálise fundada por Sigmund Freud em 1895, no fim do século XIX e início do século XX (Roza, 1997), traz as discussões sobre agressividade e que esta tem origem instintiva e é produzida pelo inconsciente o qual é formado por dois conjuntos de pulsões. Pulsão de Vida (Eros) e Pulsão de Morte (Tanatos), ambos causadores dos comportamentos agressivos. Portanto, pode-se dizer que para a Psicanálise clássica, os principais mecanismos psíquicos que atuam na agressão são as motivações inconscientes; os 37 mecanismos de defesa e o entendimento de que a agressividade é inata ao ser humano (Roza, 1997). O livro, Os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade de 1905, é discutida a ideia de que a criança na fase sádico-anal desenvolve um componente de crueldade característicos da pulsão. Tal crueldade não teria a finalidade do sofrimento dirigido à outra pessoa, mas o sentimento de crueldade nessa fase simplesmente seria desconsiderado pela criança, como se ela não levasse em conta o sofrimento da outra pessoa. Por isso, para a Psicanálise a crueldade é um traço normal na infância, um tipo de pulsão, que faria com que a criança não reconhecesse a dor do próximo. Com isso, Freud concluiu que a agressividade começa a se formar junto ao desenvolvimento do indivíduo. Para a teoria psicanalítica algumas situações vivenciadas ainda na infância, tais como o Complexo de Édipo e a inabilidade para ultrapassar esta etapa, bem como outros eventos traumáticos podem explicar o comportamento abusivo na fase adulta (Santos & Teixeira, 2006). A problemática da agressividade então estaria relacionada à constituição do conceito de pulsão. Para Freud a Pulsão é “um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático ou ainda é representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcança a mente” (Roza, 1997, p.116). Vale dizer, o discurso freudiano não enunciou a existência de uma pulsão de agressão, mas sim a agressividade como parte da pulsão sexual e da autoconservação. Ao se falar de agressividade em psicanálise, pode-se citar o texto de 1929, Mal-estar na Civilização, no qual Freud reconhece que a agressividade é inata ao homem, sendo o principal fator de ameaça à vida em sociedade (Adamo, 1999). A partir de 1920, após a formulação da segunda teoria pulsional, a agressividade seria reconhecida como uma pulsão específica, funcionando, desde então, com outro nome: pulsão de morte, cuja finalidade é a destruição. Por outro lado tem a pulsão de vida cujo objetivo é manter (manutenção) da vida. Para Freud a pulsão de vida se subdividia em pulsões sexuais e 38 pulsões de autoconservação (Kristensen, Lima, Ferlin, Flores & Hackmann, 2003). Segundo Freud (Roza, 1997) uma parte importante é desempenhada pela inegável oposição entre as pulsões que favorecem a sexualidade, a consecução da satisfação sexual, e as demais pulsões que têm por objetivo a autopreservação do indivíduo como as pulsões do ego. A pulsão de morte torna-se pulsão de agressão, a serviço da autopreservação, quando é desviada para o mundo externo (social), fazendo com que o indivíduo seja notado por meio da agressividade e da destrutividade. Sendo assim, essa pulsão está a serviço de Eros, pois o organismo (pessoa), quando exprime esta energia para o externo (social), destrói ou lança energia para outro objeto ou pessoa, ao invés de destruir seu próprio eu (self), como poderia acontecer se desenvolvesse um comportamento autoagressivo. Inversamente, se houvesse qualquer restrição dessa agressividade dirigida para o mundo externo (social), só aumentaria a autodestruição. Por isso, Freud acreditava na necessidade de atividades sociais que servissem como válvula de escape para toda a energia armazenada (Santos & Teixeira, 2006). Neste caso, pode-se dizer que a ato agressivo serve como uma válvula de escape da energia armazenada que em determinado momento torna-se incontrolável. A Psicanálise Clássica assume que a agressividade é o maior impedimento de uma civilização, mas, ao mesmo tempo, defende que é inútil tentar eliminar as inclinações agressivas do ser humano, pois é uma característica psicológica da civilização humana. A psicanálise enfatiza ainda que o comportamento sexual agressivo pode ser resultado de traços de personalidade patológicos do agressor. É necessário, entretanto, atentar para o fato de que os casos que apresentam perturbações graves somam apenas 10% do total de registros dos casos de abuso sexual (Santos & Teixeira, 2006). 3.4.1.2 Behaviorismo Como precedentes do Comportamentalismo os fisiólogos russos Vladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov foram os primeiros a propor uma Psicologia 39 cuja pesquisa se baseia no comportamento, em uma Psicologia Objetiva. Pavlov, por sua vez, foi o primeiro a propor o modelo de condicionamento do comportamento conhecido como reflexo condicionado, e tornou-se conceituado com suas experiências de condicionamento com cães. Seus estudos inspirou a publicação, em 1913, do artigo Psychology as the Behaviorist views it, de John B. Watson (Baum, 1999). O Behaviorismo, movimento da psicologia do comportamento influenciado pelo avanço filosófico objetivista e mecanicista russo, e, sobretudo, pela psicologia animal, surge na no início do século XX nos Estados Unidos, com a obra de John Broadus Watson e atinge o ápice na década de 70, sobretudo devido aos estudos de Burrhus Frederik Skinner (Baum, 1999). A Psicologia behaviorista é uma ciência do comportamento e se ocupa unicamente de atos observáveis de conduta, que podem ser objetivamente descritos em termos de estímulo e resposta. O comportamento é compreendido então nesses termos e também no sentido da formação de aprendizagem. O Behaviorismo tem como ponto de partida o fato observável de que os organismos, tanto humanos quanto animais, ajustam-se ao meio ambiente a partir dos mecanismos hereditário e da aprendizagem. Em segundo lugar, alguns estímulos levam os organismos a apresentar determinadas respostas. Conhecendo a resposta, portanto, é possível predizer o estímulo; dado o estímulo, é possível predizer a resposta (Skinner, 1974). O objetivo fundamental do Behaviorismo clássico, portanto, é obter conhecimentos precisos sobre os ajustamentos (adequação ao ambiente por aprendizagem individual ou respostas hereditárias) e os estímulos que os provocam. Os aspectos do comportamento que parecem instintivos são, na verdade, respostas socialmente condicionada, negando à existência de habilidades, temperamentos ou talentos hereditários. A influência do ambiente é enfatizada. Se não há habilidades ou talentos herdados, o indivíduo adulto é produto do 40 condicionamento do comportamento durante a infância, assumindo, portanto, posição fundamental na aprendizagem (Staats, 1980). Sendo assim, a concepção do Behaviorismo enfatiza a ideia de que a agressão é a expressão de práticas sociais aprendidas e não a expressão comportamental de um instinto agressivo. A agressão seria causada pelo fato da criança ter sido recompensada no passado para esse determinado comportamento e, outros comportamentos que não envolvem agressão seriam causados por experiências punitivas (Baum, 1999). Aplicado à criminologia, considerando os conceitos discutidos acima se pode dizer que se modificar o comportamento criminoso, a partir de esquemas de reforço positivo, podese mudar o comportamento tornando o homem menos criminoso (Skinner, 1974). O sonho de uma sociedade sem violência, guerras e miséria, a partir de uma vida programada socialmente, fez dos behavioristas verdadeiros modificadores de comportamento, notadamente através do planejamento e administração de programas para controle do comportamento em determinados ambientes fechados, como a prisão. Aplicando os princípios de aprendizagem baseados nas teorias de condicionamento operante, pretenderam interferir nos problemas sociais, manipulando e programando as pessoas “para o bem” (Skinner, 1974). Ainda sobre as técnicas de controle de comportamento, em 1964, na prisão de segurança máxima em Somers, Connecticut, foi desenvolvido um programa de tratamento destinado aos criminosos sexuais. Aos pedófilos eram projetadas, numa tela, fotos de crianças nuas tiradas de revistas pornográficas. Ao olharem as imagens, recebiam um choque através de eletrodos presos à parte interior das coxas. O choque, apesar de baixa intensidade, liquidaria as fantasias sexuais, a partir da associação com a sensação de mal-estar (não necessitaria ser doloroso). A finalidade era associar crianças como objetos sexuais à emoção do medo sendo denominado pelos behavioristas: contracondicionamento aversivo (Skinner, 1974). 41 3.4.1.3 Aprendizagem Social/Teoria Social Cognitiva. Na década de 1960, a importância do reforço direto no comportamento como fator determinante da aprendizagem, era tema corrente e que recebia grande aceitação da comunidade científica da época (Azzi, 2011). Porém, alguns estudiosos questionavam sobre os comportamentos que eram aprendidos antes mesmo de terem sido expostos a uma contingência direta de reforço. Albert Bandura foi um deste e em 1965 investigou uma forma de aprendizagem que se estendia para além do modelo skinneriano tradicional, considerando que as pessoas poderiam também aprender comportamento simplesmente observando (reforço vicário ou aprendizagem vicariante) o comportamento de outra pessoa e a forma como tais comportamentos eram reforçados ou punidos (Azzi, 2011). Para Bandura, a criança pode aprender a se comportar de várias maneiras, mesmo que não tenha sido recompensada ou punida. Nas pesquisas de Bandura com filmes agressivos, por exemplo, foi identificado que o tipo de recompensa determinava com as crianças se comportavam. No experimento, colocou-se um boneco inflável (João Bobo) e três grupos de crianças foram submetidas a um filme diferente, nos quais adulto agrediam os bonecos, sendo que no primeiro, o adulto era recompensado, no segundo, era punido e no terceiro, não sofria nenhuma consequência. Após o experimento as crianças foram colocadas em uma sala onde podiam ser observadas sem perceberem. Na sala havia diferentes brinquedos, dentre eles o João-Bobo. Observou-se que o grupo que viu o adulto sendo recompensado tendia a repetir com maior frequência as agressões quando comparado aos dois últimos grupos. Portando, a descrição que as pessoas fazem de certos comportamentos são determinantes para resposta a determinados estímulos. Como resultado, as crianças que observaram o modelo a ser recompensado foram mais agressivas do que as que observaram o modelo ser punido (Vieira, 2007). 42 Para a teoria da Aprendizagem Social, os comportamentos agressivos observados e imitados do filme foram aprendidos em função da consequência do comportamento agressivo. Dessa forma Bandura concluiu que pode haver aprendizagem na ausência de recompensas e punições. Além disso, observou também que as recompensas levam à execução espontânea do comportamento observado, ao passo que as punições favorecem a inibição do comportamento. Assim, a aprendizagem ocorre pela observação (imitação) e a execução do comportamento é influenciada pelo reforço. Logo, quando um observador ver algo, ele forma representações cognitivas do que observa, pois as pessoas não aprendem o comportamento, mas sim uma representação cognitiva do comportamento (Azzi, 2011). Além do simples ato de observar, diversos fatores estão envolvidos na facilitação deste modelo de aprendizagem. O status da pessoa modelo, o sexo, os papéis ocupados dentro do contexto familiar, social ou determinados pelo sistema cultural vigente, são fatores a serem considerados. O sexo do observador e do modelo, por exemplo, torna-se uma variável importante, já que crianças do sexo masculino normalmente se identificam mais prontamente com modelos adultos ou de idades maiores do seu mesmo sexo, tal como o próprio grupo cultural costuma reforçar (Vieira, 2007). Por exemplo, meninos são reforçados a agir imitando os comportamentos típicos do “pai”, enquanto meninas são reforçadas a fazer o mesmo em relação à “mãe”. Logo, se uma criança do sexo masculino observa o comportamento agressivo do pai e percebem as recompensas por ele adquiridas, como consequência esta prende com maior facilidade que meninos devem ser agressivos. Porém, se o observador do mesmo comportamento fosse uma pessoa do sexo feminino, ele não aprenderia com tamanha facilidade. Não apenas o sexo, mas o grau de importância que a pessoa ocupa nas relações estabelecidas com o observador, podendo tornar a aprendizagem por observação mais provável de ocorrer. Esta afirmação sugere que pais, professores e outras figuras importantes 43 do cotidiano da criança são modelos muito mais poderosos para a aprendizagem do que indivíduos do ambiente externo (Bandura, 1979). Ainda considerando o mesmo argumento, na aprendizagem social em crianças pequenas, os irmãos mais velhos e os colegas mais velhos também exercem papel fundamental (Barr & Hayne, 2003). A teoria da aprendizagem social desenvolvida por Bandura enfatiza a importância da exposição a modelos sociais agressivos como uma variável que pode facilitar a aprendizagem de comportamentos agressivos (Bandura, 1979). Está implícita que a aprendizagem não ocorre apenas pela informação transmitida, mas também por meio de atitudes, opiniões e formas de agir, indiretamente relacionadas com o conteúdo, que podem não ser conscientemente percebidas pelo indivíduo. Pode-se dizer, portanto, que a teoria da Aprendizagem Social sustenta que padrões aprendidos por crianças em um lar violento agem como modelos de como se comportar em interações sociais. Além disso, crianças expostas a ambientes estressantes podem apresentar quadros de dissociação a ponto de gerar rupturas bruscas e patológicas com a realidade (Vieira, 2007). 3.4.2 Teorias Integrativas 3.4.2.1 Cognitivo neoassociacionista. Os estudos sobre agressão realizados de acordo com o modelo Cognitivista neoassociacionista têm como representante principal o nome de Leonard Berkowitz, em 1959, e suas teorizações acerca da influência do afeto negativo no comportamento agressivo. A teoria Cognitivista Neo-associacionista propõe explicar e estudar a agressão levando em consideração alguns construtos postulados das perspectivas teóricas clássicas, como exemplo, o conceito de frustração-agressão Berkowitz (1974). A primeira explicação proposta por Berkowitz (1974) inseria-se na teoria da frustração- agressão e sustentava que havia maior 44 probabilidade de agressão quando ocorria uma associação entre um estado de disposição interno negativo (e.g., frustração) e indícios agressivos. Nessa direção, Berkowitz reformula o conceito de frustração-agressão como sendo o não recebimento de uma gratificação esperada, argumentando que situações desagradáveis provocariam afeto negativo, e este, por sua vez, desencadearia tendências primitivas de luta e fuga. Tais tendências configurariam uma rede de componentes emocionais, cognitivos, fisiológicos e motores que estão ligados associativamente e que, portanto, haveria uma relação causal entre o afeto negativo e a expressão do comportamento agressivo Berkowitz (1984). Para o Cognitivismo neoassociacionismo a agressão é classificada a partir de dois tipos: agressão reativa (ou afetiva) e agressão instrumental. A primeira está relacionada a reações agressivas que são provocadas por estímulos aversivos, indicando que haveria uma propensão inata de atacar impulsivamente a fonte/objeto do estímulo aversivo ou mesmo um alvo qualquer. De acordo com esta concepção, uma pessoa que apresenta uma agressão reativa tende a apresentar uma diminuição do comportamento agressivo logo após ter emitido a resposta agressiva. No entanto, isto não quer dizer que a pessoa será menos agressiva quando for estimulada numa próxima vez. Por outro lado, a agressão instrumental trata-se de um comportamento apreendido, e não reativo, cuja finalidade é alcançar recompensas e evitar punições Berkowitz (1974). A explicação proposta por Berkowitz (1974) insere-se na teoria da frustraçãoagressão que sustenta que haveria maior probabilidade de ocorrer agressão quando este ato está associado com um estado de disposição interno negativo (e.g., frustração) e indícios agressivos. Berkowitz (1984) introduziu no seu modelo fatores mais cognitivos que emocionais. O autor sustentou que assistir à violência através da mídia pode desencadear associações cognitivas agressivas na memória semântica, aumentando a acessibilidade a 45 pensamentos agressivos relacionados, que posteriormente influenciariam o comportamento. (Berkowitz, 1984) Contudo, as ideias agressivas podem ser ativadas se o material ou conteúdo a que as pessoas são expostas tiver algum significado relevante para sua vida. Assim, para Berkowitz, existe uma maior probabilidade da ocorrência de comportamentos agressivos, a curto-prazo, se o indivíduo que assistir à violência estiver nas seguintes condições: se a violência observada não for punida e não for considerada inapropriada ou injustificada (Berkowitz, Leonard, Alioto, Joseph, 1973) se ocorrer identificação com os modelos agressivos observados (Turner, Charles, Berkowitz, Leonard, 1972) se o foco de atenção for dirigido para a agressão; e se não ocorrer o distanciamento psicológico do que vê ou ouve (Berkowitz, 1984). No entanto, na concepção de Berkowitz, nem toda frustração leva necessariamente à expressão do comportamento agressivo, pois nem sempre a frustração apresenta um caráter aversivo, dependendo basicamente de como o indivíduo experiencia determinado evento. Portanto, em resumo, percebe-se que a perspectiva Cognitivista neoassociacionista de Berkowitz enfatiza a influência do afeto negativo no comportamento agressivo e procura identificar as formas de expressão que este comportamento assume. 3.4.2.2 Psicologia Evolucionista O termo psicologia evolutiva foi cunhado por M. Ghiselin em 1973, mas só conheceu a sua atual notoriedade a partir de 1992, com a publicação do livro The Adapted Mind: Evolutionary Psychology and the Generation of Culture, de autoria de Barkov, Cosmides e Tooby M. Ghiselin (Lencastre, 2010). A psicologia evolucionista propõe olhar para o comportamento agressivo como um fenômeno essencialmente humano, fundamental para a manutenção e preservação da espécie humana há milhões de anos. Para essa perspectiva, ao analisar o comportamento agressivo do 46 homem deve-se levar em consideração não somente as causas imediatas e ontogenéticas, mas sim compreender como a natureza do ser humano foi moldada pelos desafios que seus ancestrais tiveram que enfrentar, e que resultaram em uma espécie com características que são reconhecidas como humana. Portanto, essa perspectiva permite compreender a agressividade da humanidade na sua complexidade e ao mesmo tempo na sua especificidade, considerando tanto as causas proximais quanto as distais. Para estudar o comportamento agressivo, a psicologia evolucionista emprestou os quatro porquês da Etologia propostos por Niko Tinbergem. Para a Etologia, o comportamento deve ser estudado em suas várias dimensões, os quais devem ser analisados a partir de quatro perguntas: a causal, a ontogenética, a funcional e a filogenética. A causa imediata está relacionada aos fatores causais próximos, identificando quais são os estímulos que desencadeiam a resposta, e como isso tem sido modificada por recente aprendizagem. A resposta a essa pergunta pode ser embasada por estudo de mecanismos fisiológicos envolvidos no processamento de um estímulo pelo sistema nervoso do indivíduo na produção do comportamento (Izar, 2009). Por exemplo, no caso de um indivíduo manifestar comportamento agressivo, este pode ser causado por um mecanismo neural que esteja influenciando na mudança de seu humor. A pergunta relacionada à ontogenia é caracterizada pelos comportamentos que ocorrem ao longo da trajetória de vida do indivíduo. Como tal mudança de comportamento corre com a idade, e quais as primeiras experiências necessárias para o comportamento ser moldado. Os aspectos ontogenéticos estão relacionados aos fatores ambientais que atuam no indivíduo em determino tempo e o seu papel no ciclo de vida. Por exemplo, um indivíduo agressivo, pode ter se desenvolvido em um ambiente ecológico agressivo, com constantes maus-tratos, afetando diretamente a maneira como se relaciona com meio social. 47 Quanto à questão que envolve a história evolutiva (filogenia), esta se relaciona ao comportamento que foi selecionado e mantido no decorrer da história evolucionária da espécie como estratégia de sobrevivência. Uma das pergunta que pode ser feita é por que o comportamento evoluiu desta maneira e não de outra forma. Para responder essa pergunta, geralmente recorre-se a comparação com outros primatas não humanos, que são filogeneticamente mais próximas dos seres humanos. Por exemplo, sabe-se que a agressão é um comportamento que foi selecionado porque torna os indivíduos capazes de se defenderem das ameaças do meio e, assim, garantirem a sua própria sobrevivência e da espécie, assim como a sua perpetuação. A função (adaptação) está pautada na prerrogativa de se conhecer qual o motivo pelo qual determinado comportamento teria sido selecionado naturalmente. Como é que o comportamento impacta sobre as chances que tem o animal de sobreviver e se reproduzir. Por exemplo, o comportamento agressivo foi supostamente capaz de aumentar a chance de reprodução naquele ambiente ecológico, pois os indivíduos mais agressivos conseguiam ter maior vantagem de sobreviver, de reproduzir, e de transmitir essa característica às gerações futuras. De maneira geral, entende-se que a investigação do comportamento agressivo humano pode ser estudada a partir de dois tipos de causalidades. As causas próximas, aquelas que dizem respeito ao indivíduo e seus modos de funcionamento, sejam esses bioquímicos ou psicológicos. E as causas últimas, também chamadas de históricas ou evolutivas, que procuram explicar por que os indivíduos são de certa maneira e não de outras tantas possíveis (Mayr, 1998). 3.4.2.3 Cognitivo-comportamental (Distorção cognitiva). A teoria de distorções cognitivas foi apresentada primeiramente por David Burns em 1989, depois de estudar e desenvolver pesquisas na área com o professor e psiquiatra dos 48 Estados Unidos Aaron T. Beck. Na universidade da Pensilvânia, o professor Aaron Temkin Beck, no ínício da década de 60, juntamentos com outros estudiosos, adaptou um conjunto de conceitos sobre desordem psiquiátrica, promovendo, desde então, psicoterapia breve estruturada e orientada para a depressão. Esse conjunto de conceitos foi denominado de Terapia Cognitiva com base na qual formulou o conceito de distorção cognitiva (Vieira, 2007). As distorções cognitivas para Beck e Freeman (1993) são distorções de pensamento, que são, simplesmente, formas de a mente se organizar no sentido de convencer o indivíduo de que algo (pessoas, objetos, valores, regras) que ele acredita ser verdadeiro e que na realidade não é da forma que ele entende. Estes pensamentos imprecisos são normalmente utilizados para reforçar o pensamento e/ou emoções negativas, transformando a forma de pensar em situações que parecem racionais e precisas, mas na realidade servem para deturpar e causar sofrimento. Por exemplo, uma pessoa acha que, se falhar numa determinada situação de entrevista, irá fracassar em todas as demais no futuro. Esse tipo de pensamento pode levar à construção de determinada crença, por exemplo, de ser um perdedor ou um fracassado (generalização). A pessoa falha numa tarefa específica e generaliza para outras situações. Então, na base conceitual da teoria das distorções cognitivas, as experiências emocionais precoces e importantes deixam marcar ao longo da vida no indivíduo, uma vez que determinam a interpretação que se dá aos acontecimentos. Quando as experiências emocionais precoces são negativas, influenciam na forma de como percebe a si próprio, como percebe o mundo, como percebe as situações e as outras pessoas, criando crenças sobre determinado indivíduo, situação, fato ou sobre si mesmo Beck e Freeman (1993). As principais distorções cognitivas são: rotulagem (atribuição global de características negativas a si e aos outros), desconsideração dos aspectos positivos (defesa de seus feitos positivos e desconsideração dos feitos pessoais), filtro negativo ou filtragem (focalização nos 49 aspectos negativos, raramente nos positivos), generalização (inferência de um padrão global negativo baseado num único incidente), pensamento dicotômico ou polarizado (visão dos acontecimentos ou pessoas em termos de tudo ou nada), personalização (sensação de que tudo que ocorre está ligado à pessoa), culpabilização (atribuição desproporcional de culpa pelos acontecimentos negativos e não conseguindo perceber que os acontecimentos são também causados por outras pessoas), falácia de controle (pessoas que se veem como vítima impotente do destino), falácia da justiça (sentimento de ressentimento e de injustiça), deveres (percepção de obrigação extrema, os deveres devem ser sempre compridos), raciocínio emocional (acreditam em tudo quilo que sente e assume automaticamente como verdade) (Beck e Freeman, 1993). No caso dos autores de agressão sexual, estes geralmente, apresentam uma história de pensamentos negativos autodirigidos que influenciam o comportamento, produzindo assim uma forma distorcida das pessoas, de si própria e da vida (Pereira, 2007). Esse funcionamento cognitivo possibilita uma racionalização, justificação e minimização dos atos praticados, verificando frequentemente um sentimento de justificação de direito, das praticas e dos atos realizados (Pereira, 2007). As distorções cognitivas dos agressores sexuais mais frequentes identificadas pelos investigadores e clínicos são: auto-descupabilização (usar justificações irrelevantes para a agressão sexual); curto-circuito (afastamento e eliminações das emoções como o medo, ou mensagens dissuasoras do crime); permissividade (o argumento de que de que lhe é permitido praticar qualquer tipo de comportamento); controle do meio (sensação de que a pessoa pode controlar tudo que o rodeia); sentimentalismo (aparentar ser boa pessoa e ter qualidades); superotimísmo (visão irreal dos atributos e da capacidade de evitar as consequências de suas ações desadequadas); inconsistência (falta de perseverança para efetuar qualquer tarefa que exija esforço). 50 De maneira geral, pode-se dizer que os processos cognitivos dos autores de agressão sexuais são percebidos por meio de uma informação inadequada, geralmente de acordo com suas crenças, o que levam a agredir sexualmente (Abel, Becker, Cunninngham-Rathner, 1984). Além desse aspecto, os processos envolvidos nessas crenças são detectáveis na maneira como os autores de agressão lidam com a informação processada que pode ser: justificando a agressão em termos da moralidade ou da necessidade psicológica; minimizando suas atitudes ou consequências; e/ou deslocando a sua responsabilidade por meio da desvalorização da vítima. 3.4.2.4 Pensamento sobre informação social. O modelo sobre informação social surge por volta de 1950 e 1960 com a finalidade de contribuir para explicação do comportamento social. No entanto, tal modelo começou a despontar como uma perspectiva teórica a partir do estudo do comportamento agressivo na década de 80. Esse modelo traz como principais representantes dois conjuntos de teóricos Kenneth Dodge e Nicki Crick, além de Rowell Huesmann (Guerra & Slaby, 1990). Para Dodge (1994) a origem de diferentes tipos de agressão são déficits de processamento de erro de percepção ou scripts mentais. Para essa teoria o pensamento ocorreria a partir da codificação de conteúdo dependendo diretamente da quantidade de estímulos disponíveis. Para Dodge (1994) a codificação é tão complexa que o organismo em desenvolvimento precisa a aprender a prestar atenção em algumas características, tais como: expressões faciais, em detrimento de outras, com o intuito de responder eficazmente; a representação mental, a pessoa armazena na memória e atribui o significado ao evento (estímulo) e não às propriedades topográficas de um evento; o acesso à resposta, ou seja, as representações mentais são condicionadas ou pré-programadas para serem associadas a certos tipos de respostas possíveis, as quais incluem verbalizações, atividades motoras, secreções endócrinas, ativação autonômicas e afetos experienciados. 51 Para o indivíduo ter acesso a respostas segue algumas regras do tipo "a rejeição é respondida com choro", as quais são representadas no cérebro como padrões adquiridos de atividade em redes associativas (Dodge, 1993); a avaliação das respostas são respostas acessadas, não necessariamente executadas sob a forma de comportamentos. Um processo de tomada de decisão avalia a aceitabilidade das respostas tantos em termos morais quanto no que diz respeito às consequências previstas. A falha em avaliar as respostas acessadas é caracterizada como transtorno no controle de impulsos ou no adiamento de gratificação. A avaliação excessiva também é problemática, sendo concebida como transtorno relacionado a valores ou crenças inapropriados ou a falhas no processo de tomada de decisão; a execução das respostas é apenas as respostas que ultrapassaram um determinado critério limiar sendo executadas sob a forma de comportamentos (Dodge, 1993). Por exemplo, no caso da codificação de informação social, estudantes cronicamente agressivos tendem a prestar atenção a um número menor de estímulos. Além disto, seus mecanismos de atenção são sistematicamente enviesados para estímulos hostis Dodge (1994). As consequências destes viéses no processamento de informação fazem com que as crianças agressivas prestem atenção seletivamente a atos hostis dirigidos contra a si mesmo, acarretando atribuições hostis e agressão retaliatória Dodge (1994). Na representação mental da informação social, crianças socialmente desviantes e impopulares, incluindo tanto as crianças agressivas quanto as isoladas, tendem a apresentar déficits relativos na capacidade de assumir perspectivas afetivas (compreender as emoções dos outros), assumir perspectivas sociais (compreender as razões dos outros), gerar inferências organizadas e raciocinar na resolução de problemas sociais. As respostas agressivas são mais prováveis quando o indivíduo identifica as intenções do outro como hostis em caso de provocação pressuposta. 52 A acessibilidade de respostas sociais são respostas comportamentais que dependem do número e da qualidade das respostas acessadas. Caso haja menos respostas socialmente competente e mais respostas incompetentes, o indivíduo tende a exibir comportamento desviante. Existe uma correlação negativa entre o número de resposta que uma criança acessa e o grau de agressividade exibido no seu comportamento. Á medida que as crianças vão ficando mais velhas o que importa mais é a qualidade e não o número de respostas acessadas. O outro aspecto diz respeito ao afeto gerado à medida que as diversas respostas vão sendo acessadas. As evidências indicam que as crianças agressivas tem dificuldade em identificar suas emoções de raiva ou que podem agir agressivamente sem qualquer ativação autonômica (Guerra & Slaby, 1990). Na avaliação e seleção de respostas sociais as dimensões que influenciam o processo de avaliação são a aceitabilidade moral (quão "bom" ou "mau" o comportamento é), expectativas instrumentais (ganhos materiais) e sancionais (punições pelas figuras de autoridade), bem como julgamentos dos resultados interpessoais (gostar), intrapessoais (afeto sobre o self) e de autoeficácia (Guerra & Slaby, 1990). Com respeito ao distúrbio de conduta, o modelo postula que as experiências precoces de abuso físico, exposição a modelos agressivos e vínculos inseguros com os cuidadores primários levam a criança a desenvolver estruturas mnemônicas onde o mundo é representado como um local hostil, onde são necessárias respostas coercivas com o intuito de atingir os seus objetivos pessoais. Mais tarde, quando a criança se confronta com estímulos provocativos tais como piadinhas dos colegas, brincadeiras rudes ou exigências dos adultos, estas estruturas de conhecimento fazem com que ela preste seletivamente atenção aos aspectos hostis, interpretando os estímulos sociais ambíguos como ameaçadores ao self Dodge (1994). As redes associativas na memória da criança fazem com que ela acesse predominantemente respostas agressivas, as quais são também valorizadas como positivas, 53 desencadeando a execução de respostas também agressivas. Experiências repetidas deste tipo acabam reforçando tais estruturas de conhecimento na criança, fazendo com que este padrão de processamento se automatize e acarretando o desenvolvimento de distúrbios de conduta Dodge (1994). 3.4.2.5 Interacionismo social. Em 1994 James T. Tedeschi e Ricard B. Felson lançaram um livro polêmico intitulado Agressão e Ações Coercitivas: uma Perspectiva Social- Interacionista. Para estes autores que são os principais representantes desta abordagem denominada de Interacionismo Social o estupro era um crime motivado por um desejo agressivo a serviço da dominação da vítima e que a satisfação sexual era o real motivo para que os estupradores praticassem o ato (Ribeiro, 2008). Para Tedeschi e Felson a principal questão da agressão é compreender por que os indivíduos escolhem praticar comportamentos agressivos direcionados a pessoas ou objetos. O Interacionismo Social prioriza utilizar algumas terminologias diferentes das mencionadas na literatura da área, cujo objetivo é atingir uma maior adequação à proposta teórica pelos autores apresentados. Assim, Tedeschi e Felson não adotam, por exemplo, os termos “sujeito” e “comportamento agressivo”, preferindo, teoricamente a utilização das terminologias “ator” e “ação coerciva”, respectivamente, pois segundo a teoria, estes termos possuem uma maior identificação com a literatura sobre poder, conflito, justiça e identidades sociais. Além disso, Tedeschi e Felson ressaltam ainda que o termo “agressão” tende a direcionar a análise focalizando apenas aspectos internos (psicológicos e biológicos) e, desta forma, ignorando os objetivos sociais dos atores ao agir de forma coercitiva (Ribeiro, 2008). Dentre as diversas definições adotadas para o termo “agressão” figura a concepção de que este termo refere-se a intenção de causar dano, ou seja, a tomada de decisão, como um processo de uma ação que é escolhida. 54 Por este motivo, a principal preocupação de Tedeschi e Felson é averiguar por que as pessoas decidem se comportar de forma coercitiva, partindo de uma análise baseada num modelo de decisão. Para eles existem meios alternativos para chegar a cometer os atos coercitivos, os quais são classificados segundo os objetivos. Para os autores existem três objetivos para se alcançar a coerção: controlar o comportamento de outros atores; restaurar a justiça; e assegurar e proteger identidades. Para concretizar estes objetivos, o ator tem suas escolhas direcionadas pelas recompensas esperadas, custos e probabilidades de resultados (Anderson & Bushman, 2002). Portanto, diante disso, aponta-se que nesta teoria o foco é voltado para os aspectos individual uma vez que a teoria se baseia na decisão do ator em agir ou não de forma coerciva (Ribeiro, 2008). Nesta abordagem, intenção é definida no contexto como tomada de decisão, referindo-se a um valor associado à ação escolhida. Logo, tem-se um objetivo (ou resultado imediato) que é a submissão; relacionado a outro objetivo final, denominado de motivo. Assim, mesmo a agressão reativa pode ter um objetivo racional subjacente, como exemplo, punir o provocador no intuito de diminuir futuras provocações (Anderson & Bushman, 2002; Kristensen, Lima, Ferlin, Flores & Hackmann, 2003). De todo modo, esse conjunto de teorias apresentada subsidiaram os diversos modelos que tentaram estudar a agressão sexual. Nessa direção é necessário realizar uma distinção objetiva do que significa perspectiva teórica e modelos científicos. Uma definição científica acerca da teoria é a de que ela é uma síntese de um vasto campo de conhecimento, consistindo-se de hipótese e proposições que precisam ser testadas e comprovadas e que são permanentemente e devidamente confrontadas entre si e com os fatos científicos, fatos estes que integram um conjunto de evidências que, juntamente com as hipóteses e as proposições, alicerçam o conceito de teoria científica. 55 Por outro lado, no caso do modelo teórico, este é uma espécie de ferramenta que possibilita ao cientista descrever os fatos, as ideias, as relações e os fenômenos estudados, testando as hipóteses teóricas que dão corpo ao conceito da teoria científica. Os modelos explicativos, portanto, conseguem captar a realidade de maneira mais sistematizada, promovendo uma organização sistemática do fenômeno. Diante do exposto, serão abordados modelos teóricos que de alguma forma tentaram explicar de maneira sistematizada a agressão sexual e os tipos de agressor sexual e suas características motivacionais. 4. Modelos Teóricos da Agressão Sexual Além das contribuições das áreas de conhecimento e das teorias psicológicas, reunir modelos que expliquem os crimes sexuais e as crenças que legitimam as agressões sexuais pode ser um passo importante para a compreensão dos autores de agressão sexual além de permitir uma intervenção terapêutica mais adequada e eficaz. São vários os modelos teóricos que foram desenvolvidos com o intuito de compreender e explicar os agressores sexuais. Assim nesta seção serão apresentados tais modelos a partir de uma ordem cronológica. 4.1 Modelo de Finkelhor (Pré-condições) Finkelhor começou a estudar os problemas de abuso de criança de vitimização infantil, maus-tratos e violência familiar em 1977. O Modelo de Pré-Condições de Finkelhor em 1984 foi o primeiro modelo multifatorial especificamente concebido com os autores de agressão sexual de crianças (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). É uma teoria simples e que sistematiza os diferentes fatores que influenciam o processo que origina o comportamento sexual violento. Este modelo é utilizado na intervenção com aos autores de agressão sexual de crianças e adolescentes, permitindo explicar os objetivos e a natureza do tratamento, como também a caracterização dos tipos de agressores sexuais (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). Segundo Burgess, Commons, Safarik, Looper e 56 Ross, (2007), para a teoria ser capaz de possibilitar e estabelecer planos de tratamento para cada autores de agressão sexual deve permitir englobar explicações para os diferentes tipos de abusadores sexuais de crianças, mesmo sabendo que possuem problemáticas associadas diversificadas. Finkelhor (1984) refere que o abuso sexual de crianças é um fenómeno complexo, multideterminado e com diferentes tipos de autores de agressão sexual (heterogeneidade) os quais são influenciados por diferentes tipos de necessidades psicológicas (diferentes motivações para as agressões), quer por influência de variáveis situacionais ou contextuais como as práticas parentais e as práticas sociais culturalmente existentes. Esses fatores originam o desenvolvimento de padrões de comportamento agressivos diferentes e com características psicológicas distintas. Para Finkelhor (1984), uma das questões mais relevantes a considerar na investigação é tentar esclarecer qual a ligação entre as necessidades psicológicas e a agressão sexual. Por este modelo, os diferentes tipos de autores de agressão sexual de crianças se distinguem pela existência de motivações e necessidades psicológicas diferentes que serão traduzidas em diferentes padrões de agressão sexual. Segundo Finkelhor (1984) a maioria dos autores de agressão sexual não sofre de qualquer tipo de psicopatologia, pelo contrário eles possuem um padrão de funcionamento normal, no aspecto da integração profissional e familiar (Burgess, Commons, Safarik, Looper e Ross, 2007). Ainda para Finkelhor (1984) a teoria sobre os autores de agressão sexual de crianças deve ser capaz de explicar os vários fatores envolvidos na agressão sexual: o fato de haver indivíduos que são atraídos sexualmente por crianças, o aspecto de algumas crianças serem escolhidas como objetos preferenciais das agressões sexuais, e o motivo pelo qual os indivíduos cometem as agressões sexuais com crianças, apesar de saberem ser um ato extremamente punido pela sociedade. Desta maneira, Finkelhor (1984) estabelece quatro 57 condições preexistentes ao comportamento agressivo de abusadores sexuais de crianças: fatores inerentes a necessidades psicológicas e à motivação (3 motivos), fatores situacionais e contextuais (inibidores internos), as práticas educativas parentais (inibidores externos) e as atitudes sociais e culturais sobre a sexualidade e as crianças. Desta forma, poder-se-ia separar autores de agressão sexual pelas modalidades de motivação permitindo na intervenção terapêutica, utilizar formas diferenciadas de tratamento (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). Segundo Finkelhor (1984) a primeira pré-condição envolve três motivos diferentes para abusar sexualmente das crianças. Primeiro a congruência emocional, que se refere ao fato das necessidades dos indivíduos de serem satisfeitas através das características das crianças. Logo, este aspecto reflete a vulnerabilidade psicológica dos autores de agressão sexual, pois criam expectativas com determinada criança podendo satisfazer as suas necessidades de forma segura. Segundo Finkelhor (1984), estes autores de agressão sexual podem ser identificados psicologicamente como crianças, devido ao déficit no desenvolvimento emocional. Finkelhor (1984) refere também à importância dos fatores sociais e culturais nestes comportamentos. Segundo ele, os homens são socializados para serem detentores de poder e dominantes ao nível dos relacionamentos sexuais, vendo as crianças como pequenas e fracas fisicamente, e aptas como parceiras sexuais legítimas. Como segundo motivo está a excitação sexual, que se refere ao fato do indivíduo se sentir estimulado ou excitado sexualmente por crianças. Por exemplo, a exposição à pornografia, ou outras atividades envolvendo agressões sexuais com crianças, como ver outras crianças a serem abusadas, ou o próprio indivíduo ter sido vítima de abuso sexual. Este autor refere que o fato de um indivíduo ter sido vítima de agressão sexual, não lhe provoca preferência sexual por crianças, isso só ocorre se essas experiências forem vivenciadas de forma negativa e muito forte. Por outro lado, salienta-se a importância dos aspectos culturais 58 que podem potencializar a satisfação das necessidades emocionais por meio de comportamentos sexuais, referindo-se, no entanto, que muitos indivíduos podem cometer agressão sexual por possuírem níveis anormais de hormonas, que potencializam o desejo sexual, podendo levar a atos sexuais agressivos contra crianças (Ward, 2000). A terceira motivação está associada ao bloqueio. Isso quer dizer que indivíduos que experienciam stress e não conseguem satisfazer as suas necessidades sexuais e emocionais de forma adaptada, adotam comportamentos agressivos em termos sexuais para obterem prazer e satisfação. Este bloqueio pode ser temporário ou permanente, podendo diferenciar-se de bloqueios desenvolvimentais e bloqueios situacionais. Tais bloqueios dão origem a comportamentos violentos e intrusivos, de forma pontual ou situacional, como forma de obterem gratificação sexual (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). Segundo Ward (2000), estes bloqueios podem estar relacionados a problemas com as aprendizagens, déficts de competências, tal como é defendido pela teoria da aprendizagem, ou com fatores mais psicodinâmicos como a existência de medo nas relações sexuais com adultos, ou associados a abordagens mais sistêmicas da família, como os problemas conjugais (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). A segunda pré-condição reporta-se aos inibidores internos, os quais são definidos como elementos que facilitam ou inibem o envolvimento do indivíduo em atos sexualmente abusivos. Este modelo teórico apresenta uma listagem de fatores que podem diminuir a capacidade do indivíduo de controlar o desejo e de se envolver sexualmente com crianças, são eles: a intoxicação por álcool, a desordem de impulsos, as psicoses, a falta de controle para inibir os comportamentos de incesto, a presença de stress na vida do indivíduo, entre outros aspectos. Segundo ainda esse modelo, estes fatores tornam os mecanismos de autorregulação ineficazes o que leva o indivíduo a não resistir aos desejos e cometer as agressões sexuais. Tais atitudes e crenças presentes na vida do indivíduo funcionam como distorções cognitivas, 59 levando o indivíduo a interpretar as situações de relação sexual com crianças de maneira satisfatória (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). Como terceiro fator da pré-condição, estão inibidores externos. Conforme Finkelhor (1984), os obstáculos externos inibem a oportunidade para que ocorra um comportamento sexual abusivo, podendo citar: contexto social das crianças, a ausência de suporte social, a falta de supervisão parental, a ausência da figura maternal, as crenças partilhadas pelos diferentes elementos da família sobre a sexualidade e a discriminação (Burgess, Commons, Safarik, Looper & Ross, 2007). A última e quarta pré-condição considera que este tipo de autor de agressão sexual utilizam diferentes tipos de estratégias para diminuir a resistência das crianças, oferecendo bombons, brincadeiras, brinquedos juntamente com os estímulos sexuais, ou em último caso, chegando a fazer uso de ameaças. Portanto, esse modelo desenvolvido por Finkelhor (1984) demonstra a noção de que os autores de agressão sexual de crianças fazem parte de um grupo de indivíduos heterogêneo, que cometem atos abusivos por diferentes motivos. Esse foi o primeiro modelo compreensivo, elaborado especificamente sobre os autores de agressão sexual de crianças. Contudo esse modelo é um limitado à medida que centra a explicação das agressões sexuais em motivações e diferentes necessidades psicológicas e que se traduzem em diferentes padrões de agressão sexual. 4.2 Modelo de Abel, Becker e Cunningham-Rathner Um dos primeiros modelos teóricos que surgiu na literatura é o proposto por Abel, Becker e Cunningham-Rathner em 1970. Este modelo, baseado na teoria da aprendizagem social postula que o desenvolvimento normal dos meninos, permite que aprendam a inibir a excitação sexual inapropriada, tendo em consideração os estímulos socialmente desadequados. Mas alguns indivíduos mantêm fantasias sobre situações e estímulos 60 considerados pela sociedade como inadequados. Assim, por qualquer motivo, alguns indivíduos falham nessa tarefa de aprendizagem da inibição da excitação e desenvolvem comportamentos desadaptados, promovendo crenças incomuns, comportamentos e pensamentos sexuais disfuncional, que o irão acompanhar até a adultez, caso não sejam punidos por outras pessoas, as quais sejam significativas para eles. Estes autores referem que, no final da adolescência, os jovens tornam-se cientes das preferências sexuais e que estas são incomuns às normas sociais vigentes. Para lidar com este fato, desenvolvem crenças próprias, que os autores denominaram de distorções cognitivas (Abel, Becker e Cunningham-Rathner, 1984). Estas distorções cognitivas são externamente reforçadas por meio da masturbação. Os autores definem as distorções cognitivas como processos internos, que podem ser desde justificações, percepções e julgamentos utilizados como racionalização do comportamento de agressão sexual com a finalidade de proteger a autoimagem que o indivíduo detém. Os autores que propuseram este modelo veem as distorções cognitivas como facilitadoras dos comportamentos agressivos ou como mantenedor do referido comportamento, sendo que à medida que o tempo transcorre, as distorções cognitivas tornam-se mais enraizadas no indivíduo. Desde 1970 que os tratamentos dos autores de agressão sexual enfatizam a ideia de que as distorções de informação facilitam o comportamento agressivo, principalmente depois de Abel, Becker e Cunningham-Rathner (1984), terem publicado as suas ideias e opiniões sobre a importância das distorções cognitivas no comportamento deste tipo de agressores, uma vez que as crenças desadaptativas e os pensamentos distorcidos são relevantes na facilitação e justificação das agressões sexuais. Este modelo teve grande relevância, pois despertou o interesse dos investigadores da área pela temática das distorções cognitivas. Além disso, estes autores elaboraram um questionário para medir as distorções cognitivas nos 61 autores de agressão sexual, especificamente nos abusadores sexuais. No entanto, não clarificaram quais os mecanismos que estão envolvidos no desenvolvimento das distorções cognitivas e não explicam com detalhe como é que todo este processo ocorre. O questionário por eles desenvolvido foi utilizado em múltiplas investigações e também na promoção de investigações para posterior intervenção na área das distorções cognitivas (Abel, Becker e Cunningham-Rathner, 1984). 4.3. Modelo de Marshall e Barbaree Outro modelo explicativo sobre os autores de agressão sexual é o elaborado por de Marshall e Barbaree aproximadamente na década de 80 (Marshall & Hambley, 1996). Tratase de um modelo multifatorial sobre as agressões sexuais, que tenta explicar o desenvolvimento e manutenção do comportamento sexual violento, defendendo a existência de uma habilidade crítica desenvolvida por volta da adolescência, relacionada à discriminação dos impulsos agressivos sexuais e atuando na capacidade do indivíduo de controlar os comportamentos agressivos. Este modelo faz referência ainda à importância da vinculação, pois uma vinculação insegura pode originar baixa autoestima, déficits na estratégia de Coping e dificuldades nas competências de relacionamento interpessoal. Estes fatores associados às alterações que ocorrem na adolescência aumentam a probabilidade de nesta etapa do desenvolvimento ocorrer um comportamento sexual agressivo. Este modelo defende também que os aspectos desenvolvimentais são críticos e que podem conduzir a vulnerabilidade do indivíduo, levando-o ao comportamento sexual agressivo. Marshall e Hambley (1996) defendem que a vulnerabilidade do indivíduo no acometimento das agressões sexuais varia conforme a resiliência do indivíduo. Este termo é definido por esses autores como o fato de os indivíduos terem presentes determinadas características, habilidades, capacidades, atitudes, preferências, valores e crenças que 62 possibilitam que o indivíduo resista aos impulsos de cometer um comportamento sexual agressivo. O modelo salienta ainda que a violação e o abuso sexual de crianças são fruto da interação de múltiplos fatores que convergem no lugar e no tempo e que culminam no comportamento agressivo. Os principais fatores enfatizados são os processos biológicos, as habilidades desenvolvimentais (fracasso de inibição), as questões culturais, vulnerabilidade psicológica (distorções cognitivas), as atitudes sobre a sexualidade (pornografia), as questões de género (contexto) como explicaram Marshall, Hudson, Jones, e Fernandez (1995). No aspecto biológico sinalizam que há semelhança entre os mediadores neuronais e os hormônios responsáveis pelo comportamento sexual agressivo. Por outro lado, há também a inespecificidade do impulso sexual inato, podendo estes dois aspectos estarem interligados. Assim, atendendo o fator biológico, os autores evidenciam a importância da necessidade da pessoa de aprender a inibir tais tendências agressivas e ajustar as suas necessidades sexuais às normas da sociedade, sendo capaz ainda de selecionar condutas sexuais e parceiros adequados. Nos casos em que o indivíduo não consegue separar a agressividade da sexualidade, pode ocorrer o comportamento sexual agressivo. O outro fator é o fracasso da inibição que pode estar relacionada com as agressões sexuais. Diversos fatores foram identificados nos autores de agressão sexual e que estão relacionados a uma aprendizagem inadequada das agressões sexuais, como exemplo pode-se citar os indivíduos de terem se desenvolvido em modelos educativos parentais pobres e fracos, sujeitos a uma disciplina severa e inconsistente, com agressão e uso de álcool por parte dos pais, ou ainda terem sofrido abuso físico e psicológico na infância (Marshall W. L., Hudson, S. M., Jones, R. & Fernandez, Y. M. (1995). Tais aspectos podem provocar déficits nas competências sociais, o que pode ser um fator crítico explicativo da incapacidade do indivíduo em estabelecer relacionamentos 63 adequados. De acordo com este modelo, a possibilidade de um indivíduo cometer uma agressão sexual depende da sua vulnerabilidade e das características pessoais. A vulnerabilidade interage com os fatores situacionais, potencializando um possível comportamento agressivo. Ressalta-se que, quanto mais o indivíduo está vulnerável, menos intenso o estímulo estressor (motivação) precisa ocorrer para que cometa a agressão sexual. As atitudes socioculturais são outros fatores que explicam como num determinado tipo de cultura se identifica mais comportamentos de agressão sexual do que noutras. Estes autores defendem que são as próprias sociedades (contexto) que podem ser facilitadoras da violência e das atitudes negativas dos indivíduos, originando altas taxas de agressão sexual. A manutenção do comportamento agressivo é feita por reforço positivo e negativo, levando o indivíduo desenvolve racionalizações do seu comportamento agressivo, legitimando e mantendo tal agressão. Estas formas de racionalização (cognições) são caracterizadas como distorções cognitivas. Todos os seres humanos têm diferentes formas de construir a realidade, mas o que se verifica nos autores de agressão sexual é que eles desenvolvem crenças e distorções cognitivas que vão inibir os controles internos das condutas de agressão sexual, permitindo racionalizar a agressão sexual, facilitando a ocorrência desse comportamento em situações futuras (Marshall W. L., Hudson, S. M., Jones, R. & Fernandez, Y. M. (1995). A pornografia é outro aspecto referido pelos autores como sendo um fator que desinibe os indivíduos, originando comportamentos de agressão sexual. O que se verifica é que alguns autores de agressão sexual utilizam material pornográfico quando cometem crimes, sendo também verdade que o material pornográfico, por si só, funciona como estímulo sexual, facilitando e reforçando, simultaneamente, a conduta sexual desviante. As circunstâncias precipitantes também são referenciadas como um fator que influencia os comportamentos de agressão sexual. Um exemplo disso é a intoxicação etílica 64 do agressor, quando o indivíduo está sob o efeito de substâncias, levando a minimização do controle das competências adequadas, originando o fracasso em controlar o comportamento de inibição da agressão sexual. Por último, o aspecto relacionado à situação, é outro fator essencial para explicar o comportamento de agressão sexual. O fato da vítima se encontrar disponível pode tornar mais fácil a ocorrência do crime. De maneira geral, para Marshall W. L., Hudson, S. M., Jones, R. & Fernandez, Y. M. (1995) os indivíduos que passam por fases desenvolvimentais de forma mais conturbada, não adquirem as competências e capacidades para lidar de forma adequada com as situações de vida com que se deparam, e, mais especificamente, têm dificuldades em lidar com a sexualidade. As emoções negativas causadas pela rejeição são muitas vezes superadas através de fantasias sexuais desadequadas. Estas fantasias desadaptativas podem envolver conteúdos sexuais de sadismo ou agressividade, fazendo com que os jovens recorram a este tipo de fantasias e à masturbação para se sentirem melhor ou expressar a sua raiva e desilusão. Outro aspecto enfatizado na teoria é a noção de que os indivíduos frequentemente satisfazem as suas necessidades psicológicas por meio do comportamento sexual. A atividade sexual atuaria, para estes indivíduos, como forma de demonstração de poder, de aliviar a tensão e de consolidar a noção de masculinidade. Por outro lado, se estes jovens se sentem inadequados, estão mais vulneráveis a perceber a realidade que os rodeia como confirmação das suas crenças sobre o poder e superioridade do gênero masculino. Neste sentido, a pornografia é exemplo de um fator que é aceitável em termos culturais, mas que promove crenças desadequadas sobre o papel do gênero. De fato, o papel da sociedade é referido como um importante fator no comportamento agressivo, pois na sociedade estão presentes padrões elevados de violência interpessoal e padrões culturais que enfatizam o papel dominante do homem e descredibiliza as vítimas de crimes sexuais (Marshall e Hambley, 1996). 65 Este modelo possibilita a integração de diversos fatores, enfatizando a importância dos aspectos desenvolvimentais na formação da vulnerabilidade destes indivíduos que cometeram comportamentos sexuais desviantes. A forma como se relaciona ocorre muito precocemente, ainda na infância, quando o desenvolvimento de competências de relacionamento interpessoal começam a se consolidar, influenciando os relacionamentos na fase adulta. Aspectos como a negligência ou episódios de abuso sexual são referidos como fatores que influenciarão no desenvolvimento originando vinculações inseguras e outros déficits nos relacionamentos interpessoais. A experiência desenvolvimental mal sucedida (inadequada), associada a outros déficits de competências pessoais, como baixa autoestima e dependência (ausência de autonomia), estão associados ao desenvolvimento de comportamentos sexuais agressivos. 4.4. Modelo de Hall e Hirschman (Modelo Quadripartite) Hall e Hirschman (1991) quiseram unificar as teorias existentes sobre os autores de agressão sexual e desenvolveram um modelo intitulado de Modelo Quadripartite o qual foi incluído a heterogeneidade dos autores de agressão sexual de crianças. Os quatro fatores abordados neste modelo são: a ativação fisiológica sexual inapropriada; as distorções cognitivas que servem de justificação para a agressão sexual; o descontrole afetivo; e os problemas de personalidade. Estes fatores são considerados por este modelo como precursores da motivação para agressão sexual, aumentando assim a probabilidade de ocorrência de comportamentos sexuais agressivos. Tais fatores podem agir de maneira independente ou estarem interligados. Os autores formularam uma tipologia dos autores de agressão sexual conforme o fator mais preponderante no indivíduo (Hall & Hirschman, 1991). Assim, o modelo Quadripartite integra várias ideias de diferentes modelos teóricos, tentando unificar a forma de compreender o comportamento dos autores de agressão sexual e delineando formas de intervenção. 66 Como primeiro fator este modelo enfatiza a ideia que as intervenções terapêuticas devem ser efetuadas com a finalidade de reduzir a excitação sexual, o impulso fisiológico, que pode resultar no comportamento sexual. O comportamento sexual pode tornar-se inadequado, se for expresso de forma inadequada, pois a excitação pode originar comportamentos sexuais apropriados e também inapropriados. No entanto, a excitação sexual por si só não é suficiente para produzir a agressão sexual, em certos casos, depende também da avaliação cognitiva do indivíduo, do descontrole afetivo e das características de personalidade. Este subtipo de indivíduos é caracterizado, por Hall e Hirschman (1991) como possuindo fortes preferências sexuais por crianças e longa história de agressão sexual. Como segundo fator, encontram-se as distorções cognitivas, defendendo a ideia de que são estas que permitem ao autor de agressão sexual ser agressivos, independentemente do meio e das contingências ambientais. Estes indivíduos podem perceber as sanções do comportamento agressivo, mas também podem ignorar e acautelar-se em relação a elas. Para o modelo são as distorções cognitivas que explicam o início e a manutenção do comportamento sexual. Segundo estes autores, os agressores sexuais veem as crianças como competentes do ponto de vista sexual para tomar decisões sobre quando e com quem querem ter relações sexuais, o que serve de justificação ao comportamento agressivo. Hall e Hirschman (1991) encontraram nas suas investigações que as crianças são provocadoras e sedutoras do ponto de vista sexual do autor de agressão sexual, recebendo benefícios psicológicos positivos dos seus relacionamentos sexuais com adultos. De acordo com eles, os autores de agressão sexual são caracterizados como indivíduos que planejam os seus comportamentos agressivos, havendo pouco recurso à impulsividade nesses casos. Além disso, possuem capacidades de autorregulação adequada do seu comportamento, mas fazem uma interpretação equivocada dos comportamentos das crianças. Estes indivíduos são 67 referidos como cometendo mais o crime de incesto do que os agressores não incestuosos nos quais está privilegiada a excitação fisiológica sexual. O terceiro fator é o descontrole afetivo. Este aspecto caracteriza-se pela incapacidade de detectar, controlar e gerir os estados emocionais, como exemplo, a ansiedade e a depressão, o que aumenta a probabilidade de comportamentos sexuais abusivos. Os estados emocionais negativos podem interferir no mecanismo de controle e inibição dos comportamentos sexuais agressivos. Indivíduos cujo comportamento sexual agressivo é caracterizado pelo descontrole afetivo são normalmente pessoas que agridem conforme as oportunidades aparecem. Este tipo de agressor, cujo principal fator presente é o descontrole afetivo, pauta as suas ofensas por comportamentos não planejados e impulsivos, fazendo uso ou não da violência sexual (Hall, 1990). O quarto fator do modelo quadripartite está relacionado aos problemas de personalidade. Estes são referidos como traços de personalidade que surgem devido a experiências adversas durante o desenvolvimento do indivíduo, tais como episódios de abuso físico, sexual, negligência ou o divórcio dos pais. Estes aspectos fazem com que o indivíduo desenvolva atitudes antissociais e competências de relacionamento interpessoal desadequadas. Este último tipo de autor de agressão sexual, segundo os autores, é portador de déficits nas competências pessoais e de relacionamento interpessoal. A decisão de responder a uma situação de agressão sexual pode levar à apreciação cognitiva ou a justificações baseadas no comportamento da vítima que, por sua vez, podem ser condicionadas pela cultura e sociedade onde o indivíduo se encontra inserido. O que se verifica muitas vezes é que estes autores de agressão tendem a ver as relações com as mulheres como hostis e utilizam fatores externos, por exemplo, o abuso de álcool como justificação para o comportamento violento. 68 Nestas circunstâncias, se o comportamento violento for entendido como aceito pela sociedade, não existe então razão, moral ou ética, para controlar esse comportamento. Caso o autor de agressão entenda que o ato praticado tem um baixo nível de ameaça social, a probabilidade de o comportamento ocorrer é mais elevada. A agressão sexual é facilitada pela interligação da excitação fisiológica sexual com a percepção distorcida. Existem assim variáveis que interagem neste processo e facilitam o comportamento sexual violento tais como: experiências negativas precoces, divórcio, história familiar de delinquência, negligência familiar, abuso físico ou sexual que podem originar problemas de personalidade, e consequentemente aumentar a probabilidade de na fase adulta adotarem comportamentos sexuais abusivos. Aliados e estes aspectos estão outros fatores, como baixo nível de escolaridade, déficits nas competências sociais e baixas atividade profissionais, podendo aumentar a probabilidade de ter comportamentos sexuais violentos. Um dado que tem aparecido em diferentes estudos é que, os autores de agressão sexual têm menores competências sociais do que os nãos agressores, especificamente agressores sexuais de mulheres, que normalmente já tiveram comportamentos antissociais no passado, ou seja, história de comportamento criminal não sexual (Hall, 1990). Os fatores de risco podem não originar comportamentos sexuais violentos numa pessoa que não tenha perturbações de personalidade, mas em indivíduos com esses traços sexual, que resultam em características como egoísmo, falta de remorsos, manipulação das pessoas, estilo de vida antissocial e comportamento instável. A interação entre os aspectos da personalidade, os fisiológicos, os cognitivos e os afetivos, podem originar a agressão sexual, por influência das contingências ambientais que são igualmente um fator relevante. No entanto, o meio influencia com menor grau todo este processo que dá origem ao comportamento sexual inadequado. 69 Os autores Hall e Hirschman (1991) enfatizam ainda o fato de que os autores de agressão sexual podem cometer os atos sexuais devido a diferentes razões, e que cada um desses comportamentos pode ser predominante sobre os demais fatores já referidos. Assim, o fator principal do comportamento agressivo é denominado como precursor motivacional primário, cuja ativação irá ter impacto nos demais fatores que estão na origem dos comportamentos sexuais agressivos. Segundo este modelo, cada subtipo de autor de agressão sexual tem as característica do fator predominante e que em função deste aspecto são indivíduos heterogêneos. Os fatores culturais e contextuais são entendidos por estes autores como elementos secundários e facilitadores das agressões sexuais. 4.5. Modelo de Malamuth A origem deste modelo inicia com o trabalho publicado de Malamuth, Feshbach, Jaffe (1977) com o título “Sexual Arousal and Aggression: Recent Experiments and Theorical Issues”. No entanto em 1986, Malamuth, Check e Briere propuseram um modelo interativo, composto por quatro elementos principais para explicar a agressão sexual. Malamuth, Check e Briere (1986) desenvolveram várias investigações sobre os comportamentos sexuais agressivos, o que permitiu elaborar este modelo sobre os diferentes fatores associados às agressões sexuais. Na fase inicial da elaboração deste modelo, os autores basearam-se na abordagem da teoria da aprendizagem social e nas perspectivas feministas, porém, posteriormente desenvolveram interesse pela abordagem evolucionista da violação, pois reconheciam que esta última abordagem conseguiria explicar melhor a prevalência e dominância patriarcal e a existência, amplamente difundida, da dominância do homem. Em seus estudos Malamuth, Check e Briere (1986)adotaram dois conceitos importantes da teoria evolucionista, as causas últimas e as causas próximas. De maneira geral, a causa última refere-se a características humanas que surgiram através da seleção natural. E as causas próximas são as que estão diretamente ligadas às causas ambientais mais em termos 70 ontogenéticos e externos. Assim, as causas últimas podem explicar porque as pessoas desenvolveram determinado tipo de comportamento, enquanto que as causas próximas explicam como é que os indivíduos efetuaram o comportamento sexual agressivo. Estes autores defendem ainda dois conceitos específicos que podem convergir para o comportamento sexual agressivo: a promiscuidade sexual e a hostilidade masculina. Segundo a teoria evolucionista, a seleção natural originou diferenças significativas nos mecanismos psicológicos, ao nível do cérebro dos homens e das mulheres. Por exemplo, a capacidade dos homens em manter atividade sexual em contextos impessoais, mesmo que não haja envolvimento emocional pelo parceiro, este aspecto não o irá impedir de manter relação sexual. Ao contrário, as mulheres preferem ter atos sexuais com homens que invistam na relação. Outro aspecto é que para os homens a probabilidade de se envolverem em relações sexuais impessoais varia, sendo que para uns é mais provável do que para outros, mas estas preferências são influenciadas pelo desenvolvimento do indivíduo advindo das questões ambientais e das experiências de vida. Malamuth, Check e Briere (1986) referem que a hostilidade masculina pode fazer com que os homens tornem-se facilmente zangados e usem coerção e força para dominarem as mulheres quando percebiam que estava sendo ameaçado a sua reprodução com sucesso. Por outro lado, defende que mesmo os homens tentando garantir a reprodução, estes não podem estar seguros sobre a paternidade. Desta forma, a seleção natural, promoveu o desenvolvimento de certas características na mente do homem (dimorfismo sexual), que lhe permitem lidar com o desejo de dominar e controlar a mulher. Esta necessidade de domínio da mulher pode ser verificada nas diversas áreas do seu funcionamento. Assim, surge a raiva quando o indivíduo vê negada a capacidade de manter relação sexual com determinada mulher e a ansiedade sobre a paternidade e sobre os possíveis rivais, o que faz com que o homem se torne hostil e procure controlar o comportamento desta. 71 Haveria assim um mecanismo mental reprodutivo como fator determinante na violação, sendo que este mecanismo origina a motivação de controle e dominação da mulher. Considerando-se os pressupostos defendidos por Malamuth, Check e Briere (1986) propuseram um modelo interativo composto por quatro elementos principais para explicar a agressão sexual: os fatores de risco (imediatos), o dimorfismo sexual, os fatores ambientais e as experiências desenvolvimentais. A violência sexual ocorre devido à convergência de três tipos de fatores de risco: a motivação, a desinibição e a oportunidade que, em conjunto, de forma sinergética, elevam o risco de violência sexual; o dimorfismo sexual está relacionado às causas do comportamento violento contra as mulheres que são específicas, em consequência do dimorfismo sexual, já abordado anteriormente podem predizer outros comportamentos de domínio e controle do comportamento da mulher, uma vez que estas formas de dominação têm como motivo aumentar a confiança na paternidade e expressar a insatisfação pelo conflito; já os fatores ambientais (uso de álcool e outras drogas) interferem no comportamento do indivíduo e por ultimo as experiências desenvolvimentais, a influência dos pares e o contexto cultural, contribuindo ou não para a ativação dos mecanismos de disposição de coerção contra as mulheres. 4.6. Modelo de Ward e Hudson - Percurso Teórico-(Pathway Theory) O modelo formulado por Ward e Hudson (1998a) denominado de Pathway Theory explica os aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais dos autores de agressão sexual como a autorregulação do organismo. Este modelo apoia-se na proposição de que o indivíduo realiza um percurso para conseguir concretizar a agressão sexual, ou seja, direcionando o comportamento agressivo para alcançar objetivos e avaliando as competências para atingir tais objetivos. Os percursos baseiam-se, por sua vez, nos problemas do estilo da autorregulação que são influenciados pelos estados de emoções negativas ou pelos objetivos não aceitos 72 socialmente ou ainda pela autorregulação associada com estados emocionais positivos. Este modelo analisa as diferenças associadas aos aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais e, como estes podem ser determinados pelas diferenças dos conteúdos das distorções cognitivas que estão integradas com as crenças do indivíduo. Este construto é importante para atuar na intervenção, pois as atividades cognitivas, as crenças desadaptativas e o pensamento distorcido são fatores que interferem no comportamento sexual agressivo. A finalidade deste modelo era reunir os principais elementos encontrados nas diferentes teorias condensando-os em um único modelo. A primeira noção teórica deste modelo é que o estresse está associado à agressão sexual, uma vez que autor de agressão sexual apresenta déficits nas competências para lidar com o estresse interpessoal de forma adequada. Ward e Hudson (1998a) enfatiza que quanto menos competências sociais possuir maior probabilidade de se comportar de forma sexualmente abusiva. Ward e Hudson (1998a) acreditam que a forma como as pessoas se comportam é o resultado da situação em particular, das ferramentas cognitivas e dos comportamentos disponíveis no indivíduo e se estes têm déficits serão evidenciados nos comportamentos desadaptados, o que distinguirá os tipos de autores de agressão sexual. A segunda proposição do modelo Pathway Theory é que as distorções cognitivas dos autores de agressão sexual com desordem da personalidade são diferentes, em função da percepção de si próprio e da visão de mundo, do afeto dominante e dos motivos internos que podem induzir a agressão. Os autores de agressão sexual não percebem que as suas crenças e explicações da realidade são distorções da forma rígida que veem o mundo e a eles próprios Ward e Hudson, (1998b). Estes esquemas mentais (scripts) produzem formas gerais desadaptadas, resultando em distorções e crenças baseadas nas dificuldades da vida. Para estes autores, os abusadores sexuais desenvolvem os seus esquemas (scripts) ou teorias implícitas sobre o mundo que os rodeia com conteúdos antissociais que advém de uma 73 infância adversa (e.g., vítima de abuso físico). Tais crianças quando se tornam adultos mantêm essas crenças que podem originar má adaptação ao contexto social onde estão inseridos e a ideia de que são capazes de estabelecer relacionamentos íntimos com crianças. Ward e Hudson, (1998b) referem à presença de cinco esquemas (scripts) implícitos que aparecem associados às cognições dos abusadores sexuais: crianças vistas como seres sexualizados; natureza da ofensa; mundo perigoso; sentir-se no direito de praticar o ato; e falta de controle. A imagem das crianças vistas como seres sexualizados aponta para a teoria implícita que postula que as crianças gostam de manter relações sexuais. Indivíduos portadores destes scripts veem as crianças de forma sexualizada e os seus comportamentos ditos inocentes são interpretados como sexualizados, em que as relações sexuais não são percebidas como nefastas. Outra teoria implícita (scripts) é da natureza da ofensa, que pode ser subdividida em duas versões: de um lado a ofensa causada faz parte de um contínuo em que só a agressão física é vista como danosa para a criança e o sexo com ela é um ato inofensivo, mesmo quando envolve aquela que se encontram nas tenras idades. Por outro lado, a ofensa remete ao fato de que há indivíduos que pautam o seu comportamento pela consideração de que o mundo é perigoso, muito hostil, pois as pessoas exploram os outros e os rejeitam quando surge uma oportunidade. Neste ponto de vista, como fazem parte deste mundo, as crianças são também hostis e igualmente seres que rejeitam os outros, sendo a única forma de colocá-las no seu devido lugar e controlar através do comportamento sexual agressivo. Mas também consideram que elas são os únicos seres humanos capazes de promover um espaço seguro, num mundo repleto de adultos que os rejeitam e com quem podem manter relações sexuais. Os autores de agressão pode se veem com o direito de praticar o ato sexual com crianças, dando prioridade aos seus desejos e às suas necessidades, mesmo que estes se sobreponham as vontades das crianças. Por último refere-se aos indivíduos que acreditam que os seres humanos estão fora de controle, que não são capazes de 74 regular as suas emoções. Neste caso, a agressão sexual surge porque existi um fator que não pode ser controlado pelo autor de agressão, por exemplo, a excitação sexual, o uso de álcool e o estresse, entre outros (Ward e Hudson, 1998b). Em síntese, os aspectos defendidos neste modelo são: o foco deve estar nos déficits de competências sociais, na forma como o autor de agressão sexual se percebe e vê o mundo, na construção da sua autoimagem e a crescente rigidez das crenças que este exibe. Assim, a combinação dos aspectos psicológicos, biológicos, culturais e situacionais, tanto proximais como distais, criam uma estrutura útil para explicar o comportamento sexual violento e serve de base para um programa de tratamento detalhado para os diferentes tipos de agressores sexuais conforme Ward e Hudson (1998a). Um aspecto crucial deste modelo teórico é que todos os seres humanos se desenvolvem a partir da interação entre a psicológica e a fisiológica, podendo existir, portanto, disfunção em quaisquer umas das subestruturas e/ou no processo em geral. Daí que estes autores defendem que a explicação sobre os comportamentos dos autores de agressão sexual de crianças deva incluir múltiplos níveis de análise como: os aspectos biológicos, sociais, culturais, emocionais, cognitivos, fisiológicos e interpessoais. Cada um destes mecanismos pode originar problemas específicos nos autores de agressão sexual. O modelo de Pathway Theory aponta para quatro aspectos psicológicos que podem interagir entre si: descontrole emocional, déficits de competências sociais e de relacionamentos íntimos, distorções cognitivas e/ou distorções sexuais. Estes mecanismos psicológicos funcionam como fatores de vulnerabilidade para o cometimento das agressões sexuais. Assim, os déficits de competências sociais e de relacionamento íntimo são características muitas vezes encontradas no autor de agressão sexual pelos técnicos que trabalham com eles. Muitas destas dificuldades advêm do fato de se ter desenvolvido um estilo de vinculação inseguro. Este aspecto é referido por diversos autores que postulam a 75 associação deste tipo de déficits e os episódios de experiências abusivas, que podem dar origem a distorções e nos déficits de relacionamentos e competências sociais. Estas dificuldades inerentes ao tipo de vinculação estabelecida podem originar do controle dos estados de humor, autocritica negativa, baixa autoestima, dificuldades na resolução de problemas, impulsividade, baixa autoeficácia, dependência interpessoal, entre outros. Outro aspecto apontado é o desvio sexual. Os autores referem que as representações cognitivas que o indivíduo adquiriu ao longo da sua vida, vão influenciar a forma de comportar-se em situações de contatos íntimos, que por sua vez, terão efeitos também na interpretação. O descontrole emocional é outro elemento referido neste modelo. Segundo Ward e Hudson (1998b) está associado à regulação dos indivíduos, que depende de processos internos e externos que permitem a ele atingir os objetivos pretendidos. Assim, estão presentes aspectos como monitorização, avaliação, seleção e modificação do comportamento com a finalidade a atingir o objetivo estabelecido. Para a regulação emocional estes aspectos também têm que estar presentes, e para tal são necessárias competências adequadas para lidar com as situações, como os relacionamentos interpessoais. As distorções cognitivas referem-se a crenças e atitudes desadequadas e problemas ao nível do estilo de pensamento. Os agressores sexuais desenvolvem teorias implícitas sobre as vítimas e sobre o seu estado mental interpretando o seu comportamento e fazendo predições sobre o comportamento e o estado emocional. De forma resumida, de acordo com o modelo teórico dos percursos, as ofensas sexuais estão associadas a aspectos psicológicos e comportamentais distintos que refletem os aspectos etiológicos. Cada caminho permite estabelecer qual a causa primária inerente ao comportamento agressivo. Assim, nos múltiplos mecanismos disfuncionais, surgem os indivíduos com múltiplos déficits, nos quais se sobressai o comportamento sexual desviante, 76 que pode refletir a história de abuso sexual no passado ou exposição a situação ou atividades sexuais em idade muito precoce. Todas essas teorias e modelos apresentadas, de uma forma ou de outra, tentaram explicar as motivações da agressão, ora discutindo as características dos agressores, ora as motivações intrínsecas e extrínsecas para o acometimento do ato sexual. De maneira geral e de forma integrativa, o Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano possibilita olhar para o autor de agressão sexual de maneira sistêmica e ecológica, unificando os diversos conhecimentos das teorias e modelos, uma vez que ele propõe estudar as características pessoais, contextuais e os aspectos processuais de maneira temporal. Sendo assim, o modelo da bioecologia do desenvolvimento humano é capaz de embasar todos os pressupostos de um modelo integrativo. 5. O Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano: Fatores de Risco e Fatores de Proteção Relacionados à Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes Para o estudo rigoroso das evidências que descrevem as características dos autores de agressão sexual de crianças e adolescente, os aspectos da sua trajetória de vida e os fatores de risco e proteção envolvidos no curso do seu desenvolvimento, optou-se pelo o Modelo Bioecológico como uma alternativa para compreender o desenvolvimento, entendendo que o desenvolvimento humano ocorre a partir da interação entre as características da pessoa e das diferentes dimensões ecológicas do contexto do qual faz parte (Habigzang, Koller, Azevedo, & Machado, 2005). Este projeto de pesquisa propõe, portanto, colaborar no estudo do autor de agressão sexual a partir da perspectiva bioecológica, enfatizando a importância de se discutir as características biopsicossociais deste indivíduo e os aspectos que circundam atos e comportamentos reconhecidos como atitudes de violência contra crianças e adolescentes. A partir deste modelo teórico, pode-se pensar nos elementos que constituem a bioecologia do 77 desenvolvimento da pessoa (autor de agressão sexual) em toda a sua complexidade, de forma integrada e ampla. Para a realização desta pesquisa será tomado de empréstimo, os conceitos e princípios fundamentais do Modelo Bioecológico (Bronfenbrenner, 2011/ 1996), no sentido de promover a discussão do tema proposto a partir de uma concepção mais abrangente e, por que não dizer também, mais humana acerca da questão. Uma das formas de se entender o desenvolvimento humano consiste em olhar por meio das teorias e/ou modelos às complexas redes das relações humanas, considerando os aspectos culturais, individuais e os vários sistemas envolvidos no processo desenvolvimental: familiar, escolar, ambiente de trabalho e grupo de pares. O modelo teórico da bioecologia do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (2011) surge como uma alternativa útil para compreender os processos humanos, considerando o contexto onde a pessoa desenvolvente vivencia as suas experiências e se desenvolve mais amplamente. Essa forma de pensar é o que pode ser chamado de perspectiva ecológica. Estudar os fenômenos desenvolvimentais a partir da perspectiva ecológica possibilita olhar os eventos na trajetória do indivíduo a partir das múltiplas dimensões em interação entre a pessoa em desenvolvimento e o meio ambiente onde está inserida, seja de forma mais imediata ou mais remotamente. Essa forma de estudar os fenômenos do desenvolvimento traduz a natureza sistêmica e a interconexão entre pessoa-ambiente nos mais variados contextos, como um processo que leva o indivíduo a se constituir enquanto sujeito ativo do desenvolvimento humano. Este modelo traz em seu bojo teórico a visão do fenômeno desenvolvimental como um processo dinâmico e interdependente entre os sistemas, essência do desenvolvimento humano, que é construído ao longo da vida. Na origem dessa perspectiva teórica há a convicção de que o ser humano sempre pode ser mais humano e que sempre pode descobrir algo novo na medida em que se abre para novas experiências. 78 A perspectiva ecológica, então, legitima o estudo da pessoa em desenvolvimento no sentido de que ela é um ser ativo e dotado de plasticidade, ou seja, é portadora de potencialidades para a mudança, autenticando essa perspectiva como otimista na forma de como a ciência vê e pode ver o desenvolvimento humano. Esse modelo propõe, por meio teórico e operacional, uma investigação das instâncias multifatoriais de interação e da complexa rede de relações humanas formada por pessoas, lugares, tempo, atividades, papéis, instituições, entre outras (Bronfenbrenner, 2011). Assim, para, o desenvolvimento humano é “o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida” (Bronfenbrenner 1996, p.191). O Modelo Bioecológico permite entender o desenvolvimento humano a partir de níveis estruturais e funcionais, caracterizados a partir dos aspectos biológico, psicológico e comportamental, que devem ser entendidos em sua unidade e na forma como dinamicamente estão presentes nos diferentes níveis ecológicos desenvolvimentais. Isso significa que aspectos biológicos, psicológicos e sociais que influenciam as relações humanas e os comportamentos juntos podem ser percebidos e analisados a partir dos núcleos teóricos que constituem o modelo: Processo – Pessoa – Contexto – Tempo (PPCT) (Bronfenbrenner, 1996/2011). Este modelo, proposto, aprofunda a discussão científica e amplia a compreensão acerca da dinâmica e da multiplicidade dos elementos ecológicos que orientam a direção que poderá tomar o desenvolvimento humano. No modelo PPCT, encontra-se o processo, este envolvido no desenvolvimento e caracterizado pela fusão e dinâmica das relações entre o indivíduo e o contexto. A pessoa no modelo é representada pelas características inerentes do ser humano com o seu aspecto biológico, cognitivo, emocional e comportamental em estreita relação com os níveis ecológicos, o contexto, que ocorrem em um determinado período de tempo, a partir de 79 dimensões múltiplas de temporalidade, seja o ontogênico, o familiar e/ou o histórico. Para que o modelo seja explicado na sua totalidade, será discutido cada nível de análise e como eles se interconectam, possibilitando olhar o desenvolvimento humano a partir de processos e não como resultado de desenvolvimento. O processo A relação complexa, interdependente e dinâmica entre a pessoa e o contexto foi denominada por Bronfenbrenner de processos proximais. Estes se caracterizam como formas duradouras particulares de interação do organismo, seguindo três máximas: a primeira defende que os processos proximais operam ao longo do tempo e estão sujeitos as variações temporais que cada indivíduo vivencia; a segunda compreende os processos proximais são mecanismos primários (essência) do desenvolvimento, isto é, produtores do desenvolvimento humano; e por último entende que eles variam substancialmente conforme as características das pessoas. O processo proximal, então, é considerado como a força motriz do desenvolvimento humano, variando em função das características da pessoa, já que essas peculiaridades influenciam a direção e a força dos processos proximais (Bronfenbrenner, 2011). O processo é considerado o mais importante mecanismo responsável pelo desenvolvimento, e é visto como processos de interações recíprocas entre as pessoas e seus ambientes. Como exemplo destes processos, pode-se citar o ato de alimentar e confortar um bebê, brincar com uma criança pequena, realizar jogos em grupo ou sozinho, dentre outros. Em se tratando de investigações que utilizam o Modelo Bioecológico para compreender esse fenômeno, o processo proximal deve ser o foco (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Para esses autores é importante a presença de cinco aspectos simultâneos para que este processo proximal se defina, são estes: é necessário que a pessoa esteja engajada em uma atividade; a interação deve ocorrer com uma base regular para que se efetive; as atividades devem se desenvolver 80 progressivamente de forma mais complexa; há de haver reciprocidade nas relações interpessoais; e deve haver estimulação da atenção, exploração, manipulação e imaginação dos objetos e símbolos presentes no ambiente imediato. Outra proposição do modelo bioecológico especifica quatro elementos interrelacionados que enfatiza a capacidade do processo proximal em operar. A forma, o poder, o conteúdo e a direção dos processos proximais. Estes produzem desenvolvimento e variam sistematicamente como uma função contínua conjunta das características do desenvolvimento da pessoa e do ambiente (contexto), ambos de maneira imediata ou mais remota. Sendo assim, o processo proximal acontece a partir da continuidade social e das mudanças que ocorrem temporalmente ao logo do curso da vida e no período histórico em que a pessoa viveu (Bronfenbrenner & Morris, 1998). A forma está relacionada ao como o desenvolvimento acontece no indivíduo. Este tem que estar engajado em uma atividade por um período de tempo prolongado, contribuindo para que a atividade vá se tornando cada vez mais complexa. O poder do processo proximal está diretamente relacionado à moderação dos fatores do desenvolvimento os quais produzem substancial mudança no conteúdo, no tempo e na eficácia dos processos proximais. O conteúdo está ligado às interações, seja com as pessoas ou com objetos, envolvendo tanto as pessoas como os objetos e símbolos do ambiente imediato, estimulando a atenção, exploração, manipulação, elaboração e imaginação. A direção do processo proximal se dá de maneira bidirecional e recíproca, podendo se dar por meio de transferência em ambas às direções, isto é, das características da pessoa para o ambiente e das características do ambiente para o desenvolvimento da pessoa, separadamente ou simultaneamente. De maneira resumida, pode-se exemplificar que quando uma criança cresce, as suas capacidades de desenvolvimento aumentam, tanto em nível e como no seu alcance. Portanto, para continuar a se tornar eficaz, os processos proximais correspondentes devem também vir a 81 ser mais extensos e complexos prevendo a realização futura da evolução das potencialidades. Ao mesmo tempo, tendo em vista o avanço do desenvolvimento em curso, os intervalos entre os períodos das atividades "progressivamente mais complexos" podem ser cada vez mais longo, embora eles ainda tenham que ocorrer em uma "base bastante regular". Caso contrário, o ritmo de desenvolvimento diminui ou o seu curso inverte-se para comportamentos inadequados (Bronfenbrenner e Morris, 1998). Nessa direção, os processos proximais podem produzir dois tipos de efeitos: 1) competência, que diz respeito à aquisição de conhecimentos, habilidades e capacidade para conduzir e direcionar seu próprio comportamento; e 2) disfunção, referente a uma manifestação recorrente que traz dificuldades em manter o controle e a integração de comportamentos por meio de situações e diferentes domínios do desenvolvimento. Estes resultados dependem dos ambientes em que acontecem (Bronfenbrenner & Morris, 1998). A pessoa Em relação ao segundo componente do Modelo PPCT, as características biopsicológicas da pessoa são vistas como produtoras e produto do desenvolvimento. Isso porque o ser humano é um ser biológico e psicológico que interage constantemente com seu contexto e é produto deste processo de interação. Este processo, por sua vez, está relacionado com a estabilidade e mudanças nas características biopsicológicas da pessoa durante a sua trajetória de vida. Três tipos de características da pessoa são distinguidos por Bronfenbrenner e Morris (1998) como as que mais influenciam o curso do desenvolvimento por meio da capacidade de afetar a direção e o poder dos processos proximais, são elas: a força, os recursos biopsicológicos e a demanda. A força conduz os processos proximais, por meio dos recursos disponíveis como a capacidade, a experiência, o conhecimento e as habilidades de cada indivíduo. Essa 82 característica pode colocar o processo proximal em movimento e define certo aspecto desenvolvimental específico e sustentar o seu desenvolvimento, ou, contrariamente, interferir ativamente, retardar ou prevenir sua ocorrência. Assim, podem-se apontar duas tendências: características do desenvolvimento geradoras e características desorganizadoras (inibidoras). As primeiras são aquelas que envolvem orientações ativas, como a curiosidade, pró-atividade e engajamento, responsividade a iniciativas de outros, dentre outras. As inibidoras são aquelas que indicam dificuldades em manter o controle das emoções e comportamentos, incluindo características como impulsividade, explosividade, apatia, irresponsabilidade, falta de interesse nas pessoas ao redor, baixa autoestima, por exemplo, (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Os recursos psicológicos estão relacionados às capacidades, experiências, conhecimentos e habilidades necessárias para um funcionamento eficaz do processo proximal em determinado estágio de desenvolvimento (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Por exemplo, sentimentos, pressentimentos, esperanças, medo, dúvidas ou crenças pessoais podem ser vistos como processos proximais importantes. Outra característica é a demanda, responsável pela continuidade ou descontinuidade dos processos proximais. A demanda encoraja ou desencoraja reações do ambiente social, que podem favorecer ou desfavorecer o funcionamento dos processos proximais. Como exemplo, cita-se uma aparência física atraente versus outra tão atraente, ou traços de hiperatividade versus passividade (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Dessa forma, os processos proximais, como motor do desenvolvimento, variam diretamente em função das características da pessoa (Bronfenbrenner, 2011). O contexto Para descrever como o desenvolvimento humano ocorre, Bronfenbrenner (1996) definiu o ambiente como um sistema estruturado em instâncias que se articulam e se 83 interinfluenciam: os microssistemas, definidos por padrões de atividades, papéis e relações interpessoais, experienciados em ambientes singulares, onde as pessoas interagem umas com as outras; os mesossistemas, identificados como sistemas que envolvem relações entre diferentes locais de desenvolvimento (microssistemas), um verdadeiro nicho de desenvolvimento; os exossistemas, concebidos como estruturas sociais que incluem os micros e mesossistemas, porém sem atuação direta sobre a pessoa; e os macrossistemas, vistos como estruturas sociais mais amplas, em termos de valores, normas e sistemas políticos. Deve-se observar que o macrossistema não é um propriamente contexto específico, mas sim uma determinação geral existente na cultura que padroniza e regula o modo de viver das pessoas. Ressalta-se, ainda, que as três primeiras instâncias encontram-se imersas, manifestadas ou concretizadas neste último sistema. O estudo do desenvolvimento humano requer que se percebam as relações entre esses níveis ecológicos, uma vez que essas interconexões podem ser tão decisivas para o desenvolvimento quanto os eventos que ocorrem dentro do microssistema. O mesossistema atua diretamente no micro e, ao mesmo tempo, nos níveis ecológicos seguintes. O exossistema, por sua vez, mesmo sem atuar inteiramente no nível mais imediato, pode influenciar profundamente o desenvolvimento da pessoa. Quanto ao macrossistema, onde os níveis estão mergulhados, atua nas modificações sistêmicas do desenvolvimento humano, dependendo abertamente do momento em que a criança ou a pessoa está vivenciando, podendo causar impactos positivos ou negativos no ciclo de vida. Tempo O quarto componente proposto pela Teoria bioecológica é o tempo, que permite examinar a influência no desenvolvimento de mudanças e continuidades que acontecem no decorrer da vida. A análise deste componente deve ter como foco a pessoa em relação aos acontecimentos da sua vida, desde os mais próximos aos mais distantes. Ele é examinado em 84 três níveis: 1) microtempo, que se refere à continuidade e descontinuidade que ocorrem no processo proximal; 2) mesotempo, que diz respeito à periodicidade dos episódios de processo proximal, posto que os efeitos cumulativos deste processo propiciam resultados significativos para o desenvolvimento e 3) macrotempo, que se refere às expectativas e eventos de mudança na sociedade como um todo, como através das gerações (Bronfenbrenner & Morris, 1998). O modelo bioecológico, portanto, propõe que para que os processos proximais ocorram é necessário que a interação indivíduo-contexto aconteça sobre uma base estável em período de tempo estendido, pois são justamente esses padrões duradouros que promovem o desenvolvimento humano. Outra proposição indica que assim como os processos proximais influenciam o desenvolvimento humano, variando sistematicamente a partir das características da pessoa, estes são igualmente o resultado do desenvolvimento, isto é, a pessoa é produtora do desenvolvimento humano e, ao mesmo tempo, pode ser vista como produto dele. Essa base teórica subsidia o entendimento do desenvolvimento humano partindo do pressuposto de que os processos psicológicos que são vivenciados na infância, tornam-se a base para as experiências subsequentes, principalmente se foram consolidados em um alicerce estável por tempo prolongado. É nessa direção que os teóricos do desenvolvimento discutem a importância da garantia de contextos de desenvolvimento do tipo ideal, marcado por práticas positivas na infância (condições ideais para o desenvolvimento) (Antoni & Koller, 2000; Gallo & Williams, 2008; Silva & Hutz, 2002). Uma ampla literatura sobre o desenvolvimento humano vem sendo construída no intuito de discutir as condições desenvolvimentais ideais (afeto, segurança, carinho, estimulação visual e adutiva, entre outras) e os efeitos duradouros que podem influenciar ou determinar padrões comportamentais na vida adulta. Conforme Cole e Cole (2003), crianças que vivem em situação não ideal de desenvolvimento e que se prolonga por anos, como um 85 ambiente familiar desfavorável, continuamente hostil e com relações abusivas entre pais e filhos, acabam tendo seu desenvolvimento moldado por essas especificidades. Essa condição desfavorável de desenvolvimento é influenciada pelos vários elementos que o constituem e são denominados de fatores de risco. Para se avançar na discussão desses fatores desfavoráveis ou condições pouco adequadas ao desenvolvimento, torna-se importante, inicialmente, definir o que é risco. Uma criança será considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorre de acordo com o esperado para sua faixa etária de acordo com os parâmetros de sua cultura (Bandeira, Koller, Hutz, & Forster, 1996). Pesquisadores do desenvolvimento humano usam o termo fator de risco para se referir as características pessoais ou circunstâncias ambientais (situação não ideal de desenvolvimento) que uma criança vivencia, aumentando a probabilidade de recurso negativo para ela. Essa situação duradoura e permanente, em seu conjunto, tem sido descrita como fatores de risco. Para Reppold, Pacheco, Bardagi e Hutz (2002), os fatores de risco são condições ou variáveis associadas, portanto, à alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis. Dentre tais fatores encontram-se os comportamentos que podem comprometer a saúde, o bem-estar ou o desempenho social do indivíduo. Cabe salientar que os fatores de risco por si só não constituem uma causa específica, mas indicam um processo complexo que pode justificar a consequência de uma psicopatologia (Holden, Geffner & Jouriles, 1998). Enfatiza-se, ainda, que os fatores de risco se aplicam a um determinado grupo de fatores, atuando no indivíduo diretamente sobre as características biopsicossociais dos seus membros. Como consideram Cole e Cole (2003), estudos demonstram que uma combinação de fatores de risco biológico, social e ambientais, mantidos durante anos, com interações 86 duradouras, pode levar a criança a comportamentos antissociais na adolescência e depois na vida adulta. Como fatores de risco ligado à situação de agressão sexual, Furniss (2002) argumenta que o dano psicológico pode estar diretamente relacionado à idade do início da agressão sexual, à duração desse comportamento, ao grau de violência ou ameaça de violência associado, à diferença de idade entre a pessoa autor de conduta e a criança que sofreu a agressão, ao quão estreitamente a pessoa que cometeu a agressão e a criança estão relacionadas, e, ainda, à ausência de figuras parentais protetoras. Aliado a esses fatores, insere-se os argumentos listados por Cole e Cole (2003) que sinalizam os fatores de risco na infância que podem estar ligados à presença de condições de desenvolvimento indesejáveis, tais como, as características pessoais da criança (e.g., características física ou temperamento) e outras contextuais ligadas ao exossistema (e.g., trabalho da mãe) e o macrossistema (e.g., valorização do trabalho infantil) O estudo de Gallo e Williams (2008), com meninos infratores, demonstrou que o gênero, o acesso a armas, a renda familiar, o uso de drogas, a relação familiar conflituosa e o despreparo da escola em lidar com os adolescentes, no contexto pesquisado, eram condições favoráveis para o desenvolvimento de comportamentos indesejáveis. Ou seja, os fatores de risco estavam ligados primordialmente a várias situações duradouras durante seu ciclo de vida. Um grupo de pesquisadores que estuda o processo do desenvolvimento humano ressalta que crianças que crescem em situação de pobreza econômica, com constantes ameaças ao seu bem-estar, limitando as oportunidades de desenvolvimento, podem afetar o seu desenvolvimento saudável ou levá-la a situação de risco. Segundo Cecconello e Koller (2000): mais do que essa limitação, a miséria econômica oriunda de fatores políticos e sociais que operam num nível macrossistêmico ecológico pode afetar o desenvolvimento da criança 87 quando conduz à miséria afetiva (pp. 73). Esta miséria, além de ser um fator de risco, quase sempre vem acompanhada de uma relação conjugal conflituosa, produzindo um efeito direto no relacionamento desses pais com a criança. Observa-se, assim, que crianças e adolescentes podem crescer e se desenvolver em contextos e situações que constituem ameaças à sua saúde psicológica. Outro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de que a agressão sexual pode ser resultado de uma série de fatores que contam de forma desfavorável para um desenvolvimento humano rico em possibilidades. Entretanto, na infância, a sua ocorrência pode se constituir em fator de risco independente para um comportamento delinquente nos anos seguintes (Swanston, Parkinson, O’Toole, Plunkett, Shrimpton, & Oates, 2003), com maior prevalência entre autores de agressão sexual reincidentes (Aylwin, Studer, Reddon & Clelland 2003). A agressão sexual na infância é visto como fator de risco para a vitimização sexual na idade adulta, por vezes, independentemente da atuação familiar (Messman-Moore & Brown, 2004) e para o desenvolvimento de psicopatologias futuras (Molnar, Buka & Kessler, 2001). Estudos mostram que a exploração sexual na infância pode levar a vítima a desenvolver uma visão sexualmente degradada de si mesma (Van Brunschot & Brannigan, 2002). Em contrapartida, é preciso notar que inúmeros fatores de proteção podem operar neste momento. Os fatores de proteção correspondem às influências que modificam, melhoram ou alteram a resposta dos indivíduos em ambientes hostis. Ou seja, apesar das deficiências, tanto no campo teórico, como no campo de pesquisas empíricas, existem evidências de que diante das situações de risco algumas crianças e jovens conseguem se desenvolver adequadamente. Isso significa pensar que conseguem alcançar um funcionamento satisfatório nos domínios social e psicológico (o que inclui competência social, interações interpessoais positivas, habilidades em lidar com adversidades e envolvimento em atividades 88 sociais), mas não apresentam necessariamente disfunções ou psicopatologias que impeçam ou prejudiquem a vida diária (Kazdin, 1993). Nesse sentido, trabalha-se aqui com a hipótese de que, ao mesmo tempo em que os fatores de risco atuam de maneira incisiva sobre o desenvolvimento da criança, mesmo aquela que vive sob condições adversas e extremas é capaz de desenvolver resiliência, isto é, conseguir se recuperar dos efeitos adversos da experiência primária (Cole & Cole, 2003; Sapienza & Pedromônico, 2005). Essas observações de resiliência levaram os psicólogos contemporâneos a chamá-las de fatores de proteção. Os fatores de proteção, portanto, se distinguem como características potenciais na promoção de resiliência. Cole e Cole (2003) demonstram que os fatores de proteção associados a problemas na infância estão simultaneamente ligados a características da pessoa, ao seu microssistema, mesossistema e ao macrossistema. Garmezy e Masten (1994), citado por Cecconello& Koller (2000), identificaram três fatores de proteção em indivíduos: 1) características individuais, como autoestima, inteligência, capacidade para resolver problemas e competência social; 2) apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através de um vínculo positivo com os cuidadores; 3) apoio social externo, desempenhado por outras pessoas significativas, como escola, igreja e grupos de ajuda. Essas características pessoais corroboram o modelo bioecológico, uma vez que elas atuam no desenvolvimento humano, enfatizando a interação entre o indivíduo e o meio, estabelecendo-a como um processo dinâmico que considera os demais contextos ecológicos, no caso, os mais remotos, porém com ênfase na pessoa como produtora do meio em que vive. Com um olhar sobre os fatores de risco e os de proteção, discute-se as práticas positivas no decorrer da vida do indivíduo e o peso das medidas necessárias e duradouras para crianças e adolescentes, no sentido de protegê-las diante das situações de vulnerabilidade por 89 um período prolongado de tempo, de maneira que possam superar as intercorrências da vida. Nesse sentido, na proposta de pesquisa aqui apresentada, problematiza-se quanto aos fatores de risco envolvidos na infância e dos potenciais agressores sexuais em diferentes contextos, como os fatores familiares, condição em que se destaca o número de irmãos, a carga de trabalho da mãe e a presença de uma rede de parentes e amigos que ofereça proteção de forma contínua; as características da comunidade e a qualidade da escola durante o ciclo de vida. Além disso, são mencionados os atributos pessoais, sendo que este e os outros fatores, por atuarem em conjunto, devem assim ser percebidos e lidados, o que pode propiciar ou não a manifestação de padrões comportamentais antissociais. Por isso, pode-se dizer que a importância de se prever fatores de risco em contextos marcados pela privação material e emocional não está relacionada à formulação de um prognóstico sombrio para o curso do desenvolvimento de crianças e adolescentes que nele vivem, mas principalmente no sentido de chamar atenção para a necessidade de ser capaz de intervir desde já e quando for preciso. Portanto, o objetivo deste projeto de pesquisa é estudar as características biopsicológicas do autor de agressão sexual de crianças e adolescente, identificando as características da pessoa, do processo, do contexto e de tempo envolvidos em suas trajetórias de vida, rastreando os fatores de risco e proteção presentes nas suas histórias de vida. A justificativa para a realização deste estudo deve-se não somente à presença limitada de estudos com esta forma de abordagem, como mencionado e principalmente que considere a realidade brasileira e suas configurações regionais, mas também a importância de se esmiuçar características pessoais e contextuais que podem atuar como fatores de proteção e risco. 5.1 O Autor de Agressão Sexual e o Modelo Bioecológico Este projeto apresentou inicialmente pesquisas empíricas e teóricas em publicações internacionais e nacionais que tratam especificamente da problemática do perfil dos autores de agressão sexual e suas motivações. No conjunto, verifica-se que tais publicações 90 privilegiaram o ponto de vista de uma ou outra área do conhecimento (com destaque para a psicologia), porém com escassas tentativas de considerar aspectos da bioecologia do desenvolvimento humano em contexto específico. Diferentemente dos trabalhos mencionados neste projeto, este estudo parte do pressuposto de que por trás de cada tipo de autores de agressão sexual existem as características pessoais específicas e os contextos de desenvolvimento que devem ser entendidos em suas particularidades, sempre de maneira integrada. Essa interação contribui para modelar determinadas características e perfis biopsicossociais. São vários os tipos de autores de agressão sexual e sua definição tem estado associada na literatura, ora a atributos pessoais ora a características do contexto (social, político, cultural) onde estão inseridos. Nesses estudos, verifica-se que, com frequência, os autores de agressão sexual são apontados como portadores de algum transtorno ou doença mental; muitos como produtos da privação material e afetiva que caracterizam a vulnerabilidade das famílias; outros como criminosos, justamente por desrespeitarem regras sociais e códigos jurídicos que coíbem o comportamento agressivo e antissocial no convívio cotidiano. Este estudo pretende, assim, fortalecer a premissa de que não há um fator único que explique o porquê de as pessoas se comportarem de forma violenta e abusiva na relação umas com a outras ou o motivo pelo qual a violência sexual tende a ser perpetrada por autores de agressão sexual que estão inseridos em um determinado contexto e não em outros. A violência é o resultado, pois, da complexa interação de fatores individuais, relacionais, sociais, culturais, ambientais e temporal, como referem (Habigzang, Koller, Azevedo & Machado, 2005; Marques, 2005; Moura, 2007). Desse modo, considera-se que entender como esses fatores estão relacionados à formação da personalidade, da sociabilidade e ao processo de desenvolvimento de autores de agressão sexual, parece ser um dos passos mais importantes na prevenção da violência conforme sinalizado (Hall, 1990; Ward & Hudson, 1998a) 91 Esta proposta de pesquisa, portanto, parte do entendimento de que não dá para enfrentar o problema da violência sexual sem que se compreenda as características biopsicológicas dos autores de agressão sexual e seus contextos de desenvolvimento, o que em termos bioecológicos pode explicar de forma integrada o que ele pensa, faz e sente. Portanto, entender os abusadores sexuais e os aspectos que os constituem pode ser um esforço válido na direção da compreensão do fenômeno. Isso tudo pode oferecer subsídios para ações de cunho interventivo, seja para atendimento a essa população, seja para investir na prevenção desse comportamento. A relevância dessa temática abre caminho para a discussão da criação de uma política de atendimento ao autor de agressão sexual, uma vez que a compreensão como problemática multifacetada e multideterminada permite fundamentar e implementar estratégias de prevenção e de intervenção precoce que engloba três níveis de atenção: no nível primário, com ações que têm como alvo a população em geral, atuando através de intervenções que educam, promovem a competência social, incentivam mudanças e ampliam as redes sociais; no nível secundário, com políticas dirigidas a grupos de alto risco (patologias crônicas e/ou agudas); e no terciário, com medidas específicas de prevenção que podem ser instituídas após ter ocorrido uma condição de abuso e cujas ações visam reduzir sequelas e evitar reincidências (Ferreira, Gonçalves, Ventura & Marques, 1999). Outro aspecto que deve se apresentar como um diferencial deste estudo em relação a outros já realizados e que foram citados neste projeto, diz respeito à necessidade de ressaltar que tal discussão deverá ocorrer sob a ótica dos direitos humanos. Isto significa que a pesquisa deverá apontar no sentido de conhecer melhor as características dos autores de agressão sexual para poder propor medidas, isto é, procurando compreender e resgatar a sua natureza humana como compreende Bronfenbrenner (1996/2011), inspirando estratégias capazes de gerar um atendimento especializado às suas demandas e necessidades. Nessa 92 direção, autores de agressão sexual são percebidos como pessoas que, assim como as vítimas, realizam uma trajetória de desenvolvimento, sob a influência de qualquer que seja a sua condição social, sexual, etária, racial. Por exemplo, deverá ser percebido como um ser ativo e em construção, dotado de plasticidade, podendo resignificar a vida e retornar para o convívio em sociedade. O modelo bioecológico, a partir dos seus quatro eixos estruturantes promove a base teórica a partir da qual se torna possível estudar científica e multidisciplinarmente as características biopsicossociais dos autores de agressão sexual. O modelo bioecológico apresenta-se, assim, como uma alternativa teórica capaz de reconhecer os processos evolutivos e os múltiplos fatores que influenciam o desenvolvimento de pessoas que manifestam esse tipo de comportamento considerado antissocial. Para se investigar bioecologicamente o desenvolvimento dos agressores sexuais e sua historia de vida significa dizer que será necessário entendê-los antes de tudo como “pessoas em desenvolvimento” nos moldes em que define Bronfenbrenner (2011), e considerar que este processo é presumidamente contextualizado. De posse do Modelo Bioecológico será possível investigar as particularidades desenvolvimentais vivenciadas pelos autores de agressão sexual a partir do pressuposto de que são diferentes porque se desenvolvem em contextos diferenciados. Por esta abordagem, se aceita que o indivíduo está em interação bidirecional, dinâmica e constante com o ambiente, então, qualquer estudo orientado por esta perspectiva deverá guiar-se por essa lógica. O estudo que se propõe neste projeto, por estar inovando ao propor uma leitura bioecológica de processos humanamente complexos, torna-se bastante desafiador, pois propõe olhar a condição biopsicossocial dos autores de agressão sexual por meio de fatores interinfluentes. Seguindo os passos de Bronfenbrenner (2011), procurar-se-á não dar ênfase apenas aos atributos da pessoa em detrimento das características do contexto social onde ela 93 está inserida, mas sim mostrar a contribuição de cada uma desses elementos que constituem a bioecologia do desenvolvimento do agressor sexual para responder à questão central da pesquisa. De modo preliminar apresentar-se-á aqui possibilidades de aplicação do Modelo Bioecológico e seus conceitos fundamentais para a pesquisa das características pessoais e condições contextuais que podem ser influentes na trajetória de desenvolvimento de autores de agressão sexual. Este projeto propõe, assim, olhar como primeiro eixo de estudo a pessoa, com suas características biológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais. Quanto à característica biológica, pode-se citar o gênero, a idade, a aparência física, como categorias relevantes para pesquisas com este tipo de objetivo. Sabe-se que o gênero é uma importante característica pessoal (Gilgun, 1991; Habigzang & Caminha, 2004), pois se apresenta como uma variável responsável por explicar aspectos que marcam, por exemplo, o relacionamento social entre pessoas do chamado sexo masculino e feminino. Seu peso é muito grande pela aceitação social tradicional da posição de superioridade culturalmente construída, ao longo da história humana, que sobrepõe o poder dos homens sobre as mulheres. Essa crença molda as percepções e ações dos homens sobre o sexo oposto, servindo, via de regra, como justificativa para os seus atos de desmandos e taxando a mulher-vítima como figura sedutora e sexualmente provocadora. Aliado a esses atributos físicos e sociais tem-se aspectos psicológicos (cognitivos) que estão relacionados aos recursos que a pessoa disponibiliza e guiam os processos proximais por ela desenvolvidos. Todos os indivíduos precisam dos recursos dos ambientes para a sua sobrevivência e para o desenvolvimento pleno (Bronfenbrenner, 2011). Como os indivíduos se desenvolvem dependerá dos recursos disponíveis, de suas capacidades para responder a tais recursos e às metas que desejam atingir na vida. Este conceito de adaptação caracteriza-se pelas respostas dadas pela pessoa frente às demandas do ambiente, juntando mutualidade e 94 reciprocidade com a finalidade de se adequar e se ajustar às regras da comunidade a qual pertencem ou passam a pertencer. Entre outras considerações teóricas, em termos emocionais, isso significa que uma pessoa violenta pode ser também competente para o social, bem adaptada em um domínio, tal como trabalho, mas possuir comportamento mal ajustado em outro, principalmente nas relações interpessoais e na regulação da emoção (Gilgun, 1991). Em termos comportamentais, segundo Sgroi (1982), as estratégias de agressão sexual envolvem cinco fases distintas, tais como, o momento inicial do envolvimento, a interação sexual, o sigilo, a revelação e, por fim, a repressão. Aliado a estes comportamentos sequenciados, tem-se para a análise a suposição de que existe um padrão de comportamento característico do autor de agressão sexual que é a coerção, podendo se apresentar de maneira sutil e hábil (Silva, 1998). No aspecto contextual, tem-se particularmente a proposta de estudar o ambiente ecológico em que nasceu, cresceu e se desenvolveu o autor de agressão sexual. Em termos de ambiente ecológico, considera-se que as estruturas ambientais que influenciam de maneira direta e indireta o desenvolvimento são agrupadas, independentes e dinâmicas. O primeiro nível está relacionado ao efeito de influências proximais, ambientais e organísmicas, que advém do interior do indivíduo, de suas características físicas e de objetos do ambiente imediato, que marcam a relação face a face. No nível mais interno o microssistema. Como exemplo, considera-se que os autores de agressão sexual que vivem em instituição carcerária têm em suas características físicas e sociais as condições que fazem dela seu microssistema e ambiente ecológico imediato. Seguindo a mesma lógica, entende-se que o mesossistema refere-se aos elos e os processos entre dois ou mais ambientes nos quais os indivíduos se desenvolvem, isto é, a interação entre os diversos microssistemas. Dessa forma, supõe-se que o mesossistema de agressores sexuais cujos processos foram transitados e em julgados e cumprem a pena atribuída em ambiente carcerário, contempla as interações entre a própria 95 carceragem e a sua família, entre o presídio e a religião, como também entre a família e seus colegas de cela. O microssistema e o mesossistema representam os ambientes cujos níveis de relação são proximais e suas influências são mais evidentes, sendo de crucial importância para os processos desenvolvimentais. Entre os ambientes nos quais o indivíduo não participa diretamente, mas recebe influência indireta, estão em seu exossistema. Assim, a direção da instituição, o Tribunal de Justiça, as Leis, por exemplo, são instâncias que podem constituir o exossistema do autor de agressão sexual cumprindo pena. Além disso, o mesossistema e o exossistema a partir de suas dinâmicas de funcionamento podem influenciar na vida e nas relações destas pessoas, sendo fundamental a comunicação e a integração destes ambientes. O macrossistema, por sua vez, é o sistema mais amplo, abrange os valores, as ideologias e a organização das instituições sociais comuns a uma determinada cultura. No que tange à carceragem, o estigma social, carregado de valor pejorativo e depreciativo, associado aos valores culturalmente esperados, podem ser considerados elementos integrantes do macrossistema que envolve estas pessoas. Estes elementos estão presentes no modo como os monitores da instituição lidam com ele, no modo como os colegas de cela que convivem com ele, ou ainda, na forma como a companheira, mãe/ pai, filho se relacionam com ele. Assim, o macrossistema é influenciado pelos seus contextos específicos, no caso o cotidiano institucional, e também pelo contexto mais amplo, como os valores culturais. Somente a partir da compreensão destes complexos sistemas e das interações entre eles será possível entender o desenvolvimento humano e, especialmente, os autores de agressão sexual que vivem em instituição penitenciária. Tendo em vista a história pregressa de crianças e de adolescentes, a condição dependerá dos mecanismos através dos quais os processos de risco operarão seus efeitos negativos sobre eles, sendo este termo aqui entendido como as condições ou variáveis que 96 estão associadas a uma alta possibilidade de ocorrência de resultados negativos ou não desejáveis (Jessor, Van Den Boss, Vanderryn, Costa & Turbin, 1995). Os fatores de risco pode ser físico (doenças genéticas ou adquiridas, problemas de nutrição, entre outros), social (exposição a ambiente violento, a drogas) ou psicológico (efeitos de abuso, negligência ou exploração). Pelo exposto, considera-se que este projeto de pesquisa propõe olhar o autor de agressão sexual a partir de uma modelo bioecológico, entendendo os meandros que circundam o estudo das características dos autores de agressão sexual de crianças e adolescentes e a sua trajetória de vida. 97 OBJETIVOS Objetivo Geral: O objetivo desta pesquisa é investigar as características biopsicológicas de autores de agressão sexual de crianças e adolescente e os fatores de risco e proteção presentes em sua trajetória de vida. Objetivo Específico: Caracterizar as medidas, os instrumentos e as variáveis de avaliação psicológica autor de agressão sexual de crianças e adolescentes presentes na literatura científica, internacional e internacional, nas três últimas décadas; Identificar e analisar as características biopsicológicas e sociodemográficas dos autores de agressão sexual de criança e adolescente em processos jurídicos tramitados e julgados pela Vara de Crimes contra Criança e Adolescente, nas comarcas de Abaetetuba, Altamira e Belém, entre 2009 e 2013; Identificar e analisar as distorções cognitivas presentes na percepção do autor de agressão sexual sobre a criança (infância), o adolescente (adolescência), a violência e a agressão sexual; Identificar e discutir os fatores de risco e os fatores de proteção inscritos na trajetória de vida de autores de agressão sexual, a partir do Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano. 98 Método Geral Apresentação dos Fundamentos Metodológicos Este projeto de pesquisa prevê o procedimento de coleta de dados orientado por uma perspectiva sistêmica e ecológica. O método proposto obedecerá a questões fundamentadas no Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano, que pela abrangência e complexidade dos processos investigativos que lhes são próprios, requer a combinação de abordagens qualitativa e quantitativa dos dados da pesquisa. Em função da perspectiva que está na base do Modelo proposto, o foco dos estudos empíricos sai dos limites do autor de agressão sexual como indivíduo e conduz a investigação para a compreensão da interação pessoa-ambiente, de maneira que a problemática proposta possa ser compreendida em sua dinâmica. Essa abordagem privilegia a visão do próprio autor de agressão sexual sobre a sua vida e os acontecimentos que concorreram para esse tipo de comportamento violento. A partir dessa perspectiva, propõem-se métodos de pesquisa distintos, capazes de privilegiar várias fontes de evidências. O Modelo Bioecológico propõe que para estudar a trajetória desenvolvimental do indivíduo as pesquisas devem utilizem várias fontes de investigação como forma de entender o desenvolvimento humano. Pelo exposto, Yin (2005) ressalta que a pesquisa para ter benefício deve utilizar várias fontes de forma a obter evidências que possam ser úteis à pesquisa inteira. Este é especialmente a vantagem de pesquisas que optam por realizar a triangulação de métodos com fontes múltiplas de evidências, desenvolvendo assim linhas convergentes de investigação. Delineamento da Pesquisa Esta pesquisa compreende quatro estudos que serão organizados e seus resultados apresentados na forma de artigos independentes, mas que procurarão responder ao objetivo geral da investigação aqui proposta. Assim sendo, sugere-se, em primeiro lugar, realizar uma Revisão Sistemática da Literatura sobre as medidas, os instrumentos e as variáveis de 99 avaliação psicológica do autor de agressão sexual de criança e adolescente. O segundo estudo consistirá no levantamento do perfil biopsicossocial tendo como fonte os processos jurídicos das Varas de Crimes Contra Criança e Adolescente, em três comarcas do estado do Pará. O terceiro discutirá aspectos da cognição e percepção do autor de agressão sexual e o quarto e último identificará os fatores de risco e proteção envolvidos na trajetória de vida do autor de agressão. A sequência dos artigos será organizada de maneira que o estudo anterior subsidiará o seguinte. Considerações Éticas Para a concretização desta pesquisa será solicitada autorização formal, por meio do Termo de Autorização às Instituições (anexo I), às instituições jurídicas envolvidas no estudo e em seguida o projeto será submetido ao Comitê de Ética do Núcleo de Medicina Tropical do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, para análise dos seus propósitos e procedimentos metodológicos. Após a emissão do parecer favorável à realização da pesquisa pelo Comitê de Ética, será solicitada a todos os participantes envolvidos nos estudos a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo II). Este procedimento será feito mediante esclarecimento aos entrevistados, apresentando o propósito e o conteúdo da proposta. Este esclarecimento será adotado nos primeiros contatos com os participantes, conforme previsto na Resolução de nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, que dispõe sobre as normas de pesquisas envolvendo seres humanos. 100 Estudo I Instrumentos de Avaliação Psicológica do Autor de Agressão Sexual de Criança e Adolescente: Uma Revisão Sistemática da Literatura Objetivo Caracterizar as medidas, os instrumentos e as variáveis de avaliação psicológica autor de agressão sexual de crianças e adolescentes presentes na literatura científica, internacional e internacional, nas três últimas décadas. Método Este estudo envolverá duas fases distintas, mas complementares: o levantamento o levantamento de artigos divulgados sobre o tema em periódicos científicos e a avaliação crítica destas publicações, cuja intenção primeira é definir e clarificar o problema levantado, assim como identificar as contradições, lacunas e inconsistências na produção mais recente, conforme os parâmetros estabelecidos na sexta-edição da APA (2012). Procedimentos Gerais Esta pesquisa envolverá a produção científica das três últimas décadas que esteja disponível em bases bibliográficas eletrônicas que compõem os Periódicos de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (http://www.periodicos.capes.gov) será o meio para o acesso e obtenção dos artigos. Essa fonte de dados foi escolhida em função dos critérios de confiabilidade e abrangência de periódicos científicos, por conter um acervo abrangente dos principais artigos publicados em diversas áreas, em nível nacional e internacional. Com o objetivo de realizar a revisão sistemática foi conduzida uma busca preliminar e exploratória que utilizou os diferentes termos encontrados que na literatura definem ou representam o autor de agressão sexual. Para a seleção dos termos nesta busca preliminar e exploratória priorizaram aspectos como: população, tema e característica, conforme figura 1. 101 O objetivo era explorar o tema agressão sexual e os termos que circundam esse fenômeno. A partir dos cruzamentos que envolveram todos os descritores selecionados, foi possível identificar 190 termos de busca em português e a sua versão em inglês. 1º Termo (população) Português Inglês Agressor Aggressor Pedófilo Pedophile Aliciador Abusador sexual Traficante sexual Sex offender Sexual abuser Sexual trafficker Perpetrador Perpetrator Angariador Salesman sexual Sexual kidnapper Rapist Sequestrado r sexual Estuprador 2ª Termo (tema) Português Inglês Violência Sexual sexual violence Abuso Sexual abuser Sexual Agressão Sexual sexual assault Pedofilia Pedophilia Tráfico para fins sexuais Pornografi a infantil Sex trafficking Pornography Estupro Rape Coerção sexual Sexual coercion 3º Termo (característica) Português Inglês Caracterização Characterization Perfil Profile Fator de risco Risk factors Fator de Proteção Trajetória de desenvolviment o Percepção Distorções Cognitivas Perfil Psicológico Perfil Social Protective factors Developmental trajectory Perception Psychological profile Social profile Perfil Behavioral Comportamental profile Molestador Molester Perfil Biopsychosocial Biopsicossocial profile Figura 1. Quadro com os termos que orientaram a busca preliminar e exploratória do tema da pesquisa. Nesta etapa, foi possível reunir um vasto material bibliográfico que foi lido e examinado de modo a verificar se de fato se aproximava dos propósitos deste estudo de revisão da literatura. O material obtido a partir desta busca originou o artigo intitulado Agressor Sexual de Crianças e Adolescentes: Uma Revisão Sistemática da Literatura, cujo objetivo foi mapear e caracterizar a literatura sobre os agressores sexuais de crianças e adolescentes, focalizando questões de gênero e sua relação com outras variáveis biopsicológicas associadas ao perfil dos autores de agressão sexual. Adianta-se, contudo, que este artigo não fará parte da tese, por representar um estudo exploratório sobre o tema por ela 102 levantado. De todo modo, os procedimentos adotados e os achados apresentados serviram para orientar aspectos conceituais e metodológicos previstos no Estudo 1. Estratégia de busca para a Revisão da Literatura Sistemática A partir da busca preliminar e exploratória, foram pensados critérios de inclusão e exclusão para selecionar novos artigos, assim como a delimitação dos descritores para a realização de uma nova busca dos artigos científicos no CAPS. Os critérios preliminares de inclusão e exclusão estão apresentados na figura 2. Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão • Artigos publicados em português e inglês • Publicação das três últimas décadas • Artigos completos e empíricos • Artigos que envolvam somente de autores de agressão sexual de criança e adolescente • Artigos que envolvam autores de agressão sexual situacional. • Estudos que procedeceram à avaliação psicológica de autores de agressão sexual, em particular aqueles que investigaram as distorções cognitivas por eles apresentadas. • Literatura cinzenta (Ex:documentação técnica, anúncio de jornais, entre outros) • Artigos Teóricos e de Revisão Sistemática da Literatura • Artigos sobre sexualidade e doença sexualmente transmissíveis • Estudos que envolvam somente vítimas de agressão sexual • Artigos que envolvam outros tipos de autores de agressão sexual: pedófilo, psicopatas, aliciador, traficante sexual, explorador sexual • Estudos com animais não humanos Figura 2. Quadro com o critério de inclusão e exclusão dos artigos Após a definição dos critérios de inclusão e exclusão foram delimitados 10 descritores, sendo cinco em português e cinco em inglês, combinados om as palavras criança/child e adolescente/adolescent. No total, serão combinadas até 20 palavras, sendo 10 em português e 10 em inglês, conforme mostra a figura 3. Português Agressor sexual x Criança Agressor sexual x Adolescente Abusador Sexual x Crianças Abusador Sexual x Adolescente Inglês Sexual Aggressor x Child Sexual Aggressor x Adolescent Sexual abuser x Child Sexual abuser x Adolescent 103 Perpetrador Sexual x Criança Perpetrator sexual assault x Child Perpetrador Sexual x Adolescente Perpetrator sexual assault x Adolescent Estuprador Sexual x Criança Rapist x Child Estuprador Sexual x Adolescente Rapist x Adolescent Molestador Sexual x Criança Sex ofender x Child Molestador Sexual x Adolescente Sex ofender x Adolescent Figura 3. Quadro demonstrativo dos descritores e suas combinações No processo de busca, será averiguado e registrado o número de trabalhos encontrados, selecionados, repetidos e descartados conforme critérios pré-definidos. Como estratégia de seleção a ser utilizada, cada artigo encontrado terá em um primeiro momento o título lido e em seguida o resumo. Aqueles que forem repetidos serão excluídos, assim como os que escaparem do tema serão descartados (eliminados). Caso os artigos estejam contemplados nos critérios preliminares de inclusão estes serão arquivados em uma pasta eletrônica hospedada no programa de computador denominado de EndNoteWeb no site http://www.myendnoteweb.com. Aplicado os critérios de inclusão, os artigos elencados seguirão para a avaliação de dois outros pesquisadores que atuarão de forma independente, como juízes e aplicarão rigorosamente os critérios de avaliação de relevância, ver figura 4. Quando o título e o resumo não forem esclarecedores, deve-se buscar no texto completo do artigo, para não deixar estudos importantes fora da revisão da literatura (Sampaio & Mancini, 2007). Teste de relevância (aplicado aos artigos na íntegra) Questões de Interesse Sim 1 - O problema de pesquisa está claro? 2 - Os objetivos do estudo têm relação com a questão que está sendo estudada? 3 - A metodologia está descrita com clareza e alcança os objetivos? 4 - Os resultados são compatíveis com a metodologia e merecem credibilidade? O estudo foi incluso? ( ) Sim ( ) Não Não Assinatura do avaliador: ___________________________ Figura 4. Teste de relevância (Fonte: Azevedo, 2010, adaptado pelo pesquisador). 104 Para organizar a avaliação dos juízes será criada uma planilha de Excel onde serão registrados os dados que podem indicar se os artigos contemplam. A permanência do artigo para a análise se dará a partir de pelo menos duas concordâncias, isto é, o artigo deverá ter sido escolhido por no mínimo dois juízes, mas, o contrário também é verdadeiro, ou seja, caso dois juízes tenham discordado da escolha feita por um terceiro, o artigo será descartado da análise. Procedimento de análise As informações extraídas dos artigos serão organizadas em uma planilha eletrônica de Excel subdivida em três seguimentos: 1) dados da publicação; 2) dados da população e método da pesquisa; 3) dados do tema da pesquisa (instrumentos, medidas e varáveis psicológicas avaliadas). Após o banco de dados consolidados inicia-se a análise dos resultados, de modo que estes serão organizados em dois momentos: a caracterização dos artigos selecionados e sua avaliação crítica. Análise da caracterização dos artigos selecionados A caracterização dos artigos encontrados será demonstrada graficamente a partir do mapeamento mundial dos trabalhos publicados no tema, sendo construída uma planilha em Excel para a organização dos dados em torno de um conjunto de variáveis, como exposto na figura 5. 105 Dados da publicação • • • • • • Dados da população e método da pesquisa • Objetivo de pesquisa • Classificação quanto à abordagem dos dados • Classificação quanto aos objetivos • Classificação quanto aos procedimentos técnicos • População (tamanho) • Amostra (tamanho) • Idade dos participantes • Gênero dos participantes • Escolaridade dos participantes • Outras caracteristicas Base eletrônica Periódico Autores Idioma Ano Termos de busca Figura 5. Quadro demonstrativo das variáveis a serem consideradas na caracterização dos artigos selecionados. Análise crítica dos artigos Após a caracterização geral da produção, os artigos serão organizados em torno de categorias relacionadas aos objetivos deste estudo (figura 6). A integração dos artigos será realizada por meio da descrição de semelhanças e divergências entre os achados obtidos a partir da revisão dos estudos caracterizados conforme a figura 7. Categorias analisadas • Medidas de avaliação psicológica • Instrumentos de avaliação Psicológica mais frequentes • Variáveis pesquisadas e associadas às medidas utilizadas na avaliação Figura 6. Quadro demonstrativo dos dados analisados nos artigos. 106 Autores Reis (2014) Medidas Unidade Instrumentos Estresse Ansiedade Escala Variáveis Idade/sexo/escolaridade/renda Figura 7. Quadro exemplificando as categorias a serem analisadas Abaixo na figura 8 segue um fluxo que resume a Revisão Sistemática da Literatura que se pretende desenvolver neste projeto. Delimitação da questão a ser pesquisada Problematização Seleção Escolha das fontes de dados Análise dos resultados Eleição das palavraschaves para a busca Busca, seleção e armazenamento dos resultados Busca dos artigos Armazenamento dos dados Seleção dos critérios de inclusão/exclusão Cosntrução da Planilha Extração dos dados dos artigos selecionados Inserção dos dados de maneira padronizada Avaliação dos artigos Sintese dos dados Figura 8. Diagrama do fluxo de execução da Revisão Sistemática da Literatura 107 Estudo II As Características Sociodemográficas e Biopsicológicas de Autores de Agressão Sexual de Crianças/Adolescentes: Um Estudo Documental Sociojurídico Objetivo Identificar e analisar as características biopsicológicas e sociodemográficas dos autores de agressão sexual de criança e adolescente em processos jurídicos tramitados e julgados pela Vara de Crimes contra Criança e Adolescente, nas comarcas de Abaetetuba, Altamira e Belém, entre 2009 e 2013. Método Este estudo utilizará dados secundários obtidos a partir do exame de processos jurídicos de autores de agressão sexual de crianças/adolescente disponibilizados por instituições localizadas em três municípios paraenses, que serão organizados e comparados entre si de forma transversal. Esses documentos são considerados fontes ricas de informação, pois apresentam um retrato dos aspectos sociais e psicológicos dos autores de agressão sexual e das circunstâncias em que aconteceu a agressão sexual. Ressalta-se, ainda, que os referidos documentos oferecerem um conjunto de informações que podem ser encontradas nos processos jurídicos tramitando no Tribunal de Justiça do estado do Pará sob a responsabilidade de um Juiz de Direito, que esteja lotado em uma das Varas de Crimes contra Criança e Adolescentes em atuação na capital e outros municípios. Contexto da Pesquisa Para a realização da pesquisa foram escolhidos três municípios com comarcas distintas possibilitando uma análise ampla e regionalizada dos dados encontrados. Em razão da já conhecida e continental extensão territórial do estado Pará, que abrange 174 municipios divididos em seis mesorregiões (Mesorregião do Baixo Amazonas, Mesorregião de Marajó, 108 Mesorregião Metropolitana de Belém, Mesorregião do Nordeste Paraense, Mesorregião do Sudeste Paraense e Mesorregião do Sudoeste Paraense), foram selecionados três deles. A seleção dos três municípios a serem envolvidos na pesquisa, que, diga-se de passagem, estão propositadamente situados em mesorregiões diferentes (Metropolitana de Belém, Nordeste e Sudoeste Paraense), foi realizada em razão de critérios geopolíticos. Desse modo, os três municípios representam três mesorregiões afastadas territorialmente uma das outras, mas com importante peso político-administrativo no Estado do Pará. Destas Mesorregiões, os municípios com maior importância geopolítica foram selecionados: Belém, Abaetetuba e Altamira (ver figura 9). A escolha dos municípios deveu-se ao fato de estarem localizados não apenas em regiões geopoliticamente importantes para o Estado, mas por se destacarem em comarcas judiciais com um histórico de violação dos direitos de crianças e adolescentes nas suas mais diversas formas de expressão, inclusive no campo da sua integridade sexual. Fonte: IBGE-2010 Figura 09. Mapa do Estado do Pará mostrando a três municípios alvo da pesquisa 109 De maneira geral as escolhas priorizaram a distribuição geográfica relevante no estado do Pará e as cidades com um histórico de violações de direitos de criança e adolescente. A escolha de Belém se deu em função da sua importância administrativa, social, política e cultutal já que é a capital do Estado do Pará e que em função deste aspecto apresenta uma grande concentração de situações que envolvem agressão sexual contra criança e adolescente. O municíuio de Abaetetuba foi escolhido por ser o sétimo do estado do Pará em termos de densidade populacional. Sua posição geográfica faz parte da Microrregião de Cametá, Mesorregião do Nordeste Paraense, no entorno do Complexo de Minério Industrial Albras/Alunorte. Esta condição gerou mudanças que causaram desequilíbrios sociais, econômicos e culturais e contribuiu fortemente para a criação de grandes bolsões de pobreza. Além disso, este município é apontado como o principal ponto de rota de narcotráfico, justamente por ser uma cidade portuária com impacto sobre o comércio de toda a região (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Abaetetuba,-CMDCA 2011). Além desse aspecto, outro motivo foi relevante para a decisão de realizar a pesquisa neste município: o mapeamento dos casos de violação de direitos da criança e do adolescente realizado sistematicamente pelo município, o qual apontou recentemente que o abuso sexual foi identificado como uma das principais formas de violência contra essa população. Abaetetuba é o terceiro município paraense em notificações de abuso sexual, segundo o Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente do Município de Abaetetuba (2011). segundo o Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente do Município de Abaetetuba (CMDCA, 2011). Quanto à escolha de Altamira, esta se deu em função de ser o município polo da mesorregião do Sudoeste Paraense, formada pelos municípios de Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu. É 110 considerado o segundo maior município do mundo em extensão territorial, cortado de leste a oeste pela rodovia Transamazônica e cercado por diversos povoados indígenas. No seu território está sendo construída a barragem de Belo Monte, o que se diz tem feito aumentar os casos notificados de violação de direitos contra criança e adolescente, sobretudo nas situações da agressão sexual conforme apresentando no Relatório do Diagnóstico Rápido Participativo: Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Município de Altamira-PA (Pinho & Costa, 2012). Ambiente de Pesquisa No municipio de Abaetetuba, os processos jurídicos encontram-se localizados na 3ª Vara Privativa e Exclusiva dos Efeitos Criminais, inclusive de crimes contra criança e adolescente. Em Altamira, esses processos estão reunidos na 5ª Vara de Violência Doméstica e Familiar que atuam também na competência de crimes conta a vida e execução penal contra a criança e o adolescente. No município de Belém a pesquisa será realizada na Vara Especializada de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, por ser o órgão do judiciário responsável por esse tipo de processo. Amostra O estudo envolverá dados extraídos de dos processos judiciais que dizem respeito a homens e mulheres acima de 18 anos autores de agressão sexual de criança e adolescente entre os anos de 2009 e 2013. O tamanho da amostra levará em conta o número de processos jurídicos lolcalizados em cada município, mas não sendo esta inferior a 50% dos casos tramidados e julgados no perído de referência. Uma vez estabelecido o número total de processos em cada município e a amostra que representará de forma significativa a totalidade dos processos localizados a partir de cálculo estatístico específico, a coleta de dados quando realizada seguirá distribuição amostral apontada por Pagano e Gauvreau (2004). Espera-se que este procedimento possa garantir que a escolha dos participantes seja feita de forma 111 aleatória. Assim, a população total de registros encontrados (n=X) deverá ser dividida pela quantidade de elementos que deverá compor a amostra do grupo (n=Y). O resultado (n=W) será obtido a partir da aplicação da seguinte fórmula: X÷Y=W. Diante do resultado, a coleta iniciará pelo primeiro registro do processo jurídico, sendo descartados os próximos, de modo que o seguinte seja o segundo participante, e assim será feito sucessivamente até que a amostra esteja completa. Ressalta-se que para cada município será realizado o mesmo critério de seleção de amostra. Instrumentos Formulário para caracterização biopsicossocial Será utilizada como modelo uma ficha/formulário de dados (Anexo III) elaborados por Habigzang, Koller, Azevedo e Machado (2005), cujo objetivo foi coletar dados referentes à vítima, à violência sexual e ao autor de agressão sexual, considerando-se informações obtidas por meio de entrevista da família e de instituições que constituem a rede de atendimento relatada nos processos jurídicos consultados. Neste estudo, serão coletados dados como: 1) Das violências: tipos de violências (negligência familiar, violência psicológica, violência física e violência sexual); 2) Das vítimas: faixa etária, sexo, grupo étnico, religião, vínculo com o agressor, entre outros; 3) Dos agressores: faixa etária, sexo, grupo étnico e vínculo com a vítima; 4) Do grau de resolutividade (encaminhamentos realizados) das vítimas e dos agressores; 5) Do perfil: psicológico e comportamental; 6) Dos padrões de interação; 7) Dos contextos envolvidos e 8) Do tempo de vida que se deu o processo da violência sexual. Com o objetivo de adequar a versão original do instrumento aos propósitos desta pesquisa, foram inseridos novos itens: 1). Sobre o processo: liminar; julgamento 1º grau; encaminhamentos/medidas/ofícios e efetivação; julgamento 2º grau; medidas/efetivação e ofícios; duração; fatores que influenciaram as instituições/fatores que auxiliaram; fatores que prejudicaram. 2) Sobre a vítima: vínculo, instituição, natureza do atendimento; 112 encaminhamentos; fatores que auxiliaram o atendimento; fatores que prejudicaram o atendimento. 3). Sobre a família: vínculo com a vítima e com o agressor, fatores que prejudicaram e auxiliaram o processo, se está em atendimento, instituição, encaminhamento. 4) Sobre o agressor: vínculo com a vítima, com a família da vítima, histórico psicológico e social, educacional, atendimento, processo jurídico, entre outros. Procedimentos da Pesquisa Procedimentos preliminares A primeira etapa assinala o contato com os órgãos oficiais para explicar os objetivos da pesquisa e solicitar autorização para manusear os documentos oficiais. Para tanto, foi elaborado um termo de autorização para a realização da pesquisa (ver anexo I) a ser assinada pelo juiz responsável pela Vara de Crime contra Crianças e Adolescente nos municípios a serem pesquisados. A coleta dos dados nos arquivos dos órgãos do judiciário consistirá no levantamento de documentos e durará aproximadamente quatro meses, de março a julho de 2014. Procedimentos de análise Os dados serão sistematizados seguindo uma lógica coerente que permita demonstrar a situação do autor de agressão sexual nos três municípios. Os dados levantados serão organizados em categorias macros e micros, que podem compor diferentes dimensões: as características biopsicológicas e sociodemográficas nos três municípios e em cada um deles, destacando-se traços psicológicos e/ou comportamentais e sua relação com outras características da vítima, além das formas de resolutividade após o processo. Todos os dados serão armazenados em planilhas geradas pelo SPSS para serem analisadas por meio de estatística descritiva e inferencial, realizando correlações entre as médias das amostras e/ou identificando possíveis diferenças entre as amostras, por meio de testes paramétricos ou não paramétricos. 113 Esses dados permitirão identificar e mapear as características que compõem o perfil biopsicossocial do autor de agressão sexual de crianças e adolescente nos municípios. Após a análise e a conclusão do estudo, far-se-á a apresentação dos resultados aos órgãos oficiais, socializando os resultados de pesquisa dentro dos padrões éticos da pesquisa com seres humanos. 114 Estudo III As distorções cognitivas de Autores de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes Objetivo Identificar e analisar as distorções cognitivas presentes na percepção do autor de agressão sexual sobre a criança (infância), o adolescente (adolescência), a violência e a agressão sexual. Método Contexto Este estudo será realizado nos mesmos municípios envolvidos no Estudo II: Abaetetuba, Altamira e Belém. A escolha dos municípios e das comarcas obedeceu aos critérios já mencionamos neste projeto, assim como uma descrição preliminar de cada contexto de pesquisa. Ambientes A pesquisa será realizada nos Centros de Recuperação dos municípios escolhidos, sendo necessária a disponibilização de uma sala privada, com mesa e cadeiras confortáveis, de forma que se possam conduzir as entrevistas dentro dos padrões éticos da pesquisa que envolve seres humanos na atualidade. Participantes Participarão 12 autores de agressão sexual sentenciados pelo crime de agressão sexual contra criança e adolescente que estejam cumprindo pena à época da pesquisa. Tais participantes serão selecionados a partir das amostras dos processos jurídicos avaliados no estudo anterior. A proposta é escolher entre estes aqueles que apresentam, segundo informação contida nos processos jurídicos examinados no Estudo II, características sociodemográficas semelhantes (idade, escolaridade, gênero, religião) e perfis sociojurídicos (ter menos de duas condenações anteriores por agressão sexual), além de estar livre de 115 perturbações psicótica (antissocial, esquizofrenia, depressão grave, etc.), de síndrome cerebral orgânica, e de condições médicas graves. Instrumentos e técnicas Questionário Sociodemográfico de Caracterização do Sistema Familiar (QSCSF) Será utilizado o Inventário Sociodemográfico (anexo IV) pensado e elaborado pelo grupo de pesquisa sobre Estudo de Autores de Agressão Sexual de Criança e Adolescente (EASCA), vinculado ao Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento da Universidade Federal do Pará, do qual a pesquisadora faz parte. O instrumento apresenta os seguintes itens: identificação (12 itens); aspectos da saúde (10 itens); educação (08 itens); sexualidade (12 itens); caracterização sociofamilar (02 itens); rede de apoio na infância e adolescência (12 itens); rede de apoio no centro de recuperação (04 itens). Entrevista Semiestruturada (ES) Será utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada sugerido por Moura (2007) (anexo V) conforme o seguinte delineamento: 1) Visão sobre a infância; 2) Infância: Relações (explorar esta fase do ciclo vital: família, escola, amigos fora da escola); 3) Adolescência: Relações; 4) Vida adulta: Relações; 5) Situação atual: Relações e 6) Expectativas. Foram adicionados: 7) Percepção da violência sexual hoje; 8) Relação com outros companheiros de cela; 9) Levantamentos dos medos atuais, 10) Sentimento de estar cumprimento essa sentença; 11) Como será quando cumprir a sentença. Checklist de Distorções Cognitivas para Ofensores Sexuais (CDCOS, 2004) Este checklist (Anexo VI) foi elaborado por Gonçalves (2004) a partir da prática clínica com os ofensores sexuais ou agressores sexuais. Originalmente, a utilização deste instrumento teve como objetivo identificar o tipo e as características das distorções cognitivas apresentadas pelos autores de agressão sexual, permitindo posteriormente uma intervenção no nível cognitivo comportamental. Ao longo da entrevista o pesquisador vai inquirindo o 116 participante com a intenção de perceber o tipo de distorção, podendo o autor de agressão apresentar vários tipos delas. O instrumento subdivide-se em sete grupos organizados em função do tipo de distorção que, por sua vez, são agrupadas por áreas: ‘Negação completa’, ‘Negação parcial’, ‘Minimização de ofensa’, ‘Minimização de responsabilidade’, ‘Negar ou minimizar as consequências’, ‘Negar ou minimizar o planejamento’, ‘Negar ou minimizar as fantasias’, conforme está descrito na figura 10. Distorção Cognitiva Negação completa Conceito O autor de agressão não assume na íntegra nada sobre a agressão ao qual foi acusado e condenado. Negação parcial Caracteriza-se por uma negação parcial “eu fiz mas não sou agressor”. Minimização de Consiste me relativizar a agressão, atribuindo-lhe uma ofensa intenção menor “não houve força ou ameaça”. Minimização de Joga a culpa em terceiros, imputando-lhe alguma participação responsabilidade “vítima foi sedutora, eu estava drogado”. Negar ou minimizar “Disseram que a vítima não ficou magoada e não houve dano, as consequências pois fui carinhos, afetuoso”. Negar ou minimizar o Tenta justificar que não houve intencionalidade de arquitetar a planejamento agressão “eu agir no calor do momento”. Negar ou minimizar Reporta a ideia de que o ato se inscreve num outro ato e não a as fantasias área sexual “eu não tenho fantasia sexual desviante”. Figura 10. Quadro com as categorias dos CDCOS (2004) Procedimentos Procedimento preliminar A primeira etapa é obter a autorização dos órgãos competentes para entrevistar autores de agressão sexual, cujos processos tenham sido transitados e julgados e que estejam cumprindo a pena que lhe foi atribuída pelo judiciário em ambiente carcerário. Após a autorização dos órgãos responsáveis, o pesquisador apresentará esta proposta de pesquisa aos participantes em potencial, sendo-lhe solicitado dos mesmos a leitura e assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo II). A duração prevista para a entrevista é de 120 minutos com cada participante, divida em dois dias, totalizando 480 minutos (8 horas de gravação) com os quatros participantes de 117 cada município. Estima-se que em cada município serão necessários oito dias para as quatros entrevista, mais dois dias de preparação para a coleta e mais dois dias caso ocorra alguma imprevisto, totalizando 12 dias em cada município. Nos três municípios o total de dias previsto para a coleta será de 36 dias. Procedimento de análise Caracterização Sociodemográfica As informações coletadas desse instrumento serão organizadas em uma planilha de Excel, sendo utilizada a estatística descritiva, podendo ser feita a apresentação em métodos gráficos. Esses dados possibilitarão identificar e caracterizar os aspectos biosociodemográficos dos participantes. Análise da entrevista Como técnica de registro utilizar-se-á a gravação em Mp3 e, em seguida, será feita a transcrição literal do conteúdo das entrevistas pela pesquisadora. Criar-se-á um banco de dados que, posteriormente, será útil à proposição de estudos de caso únicos ou múltiplos, conforme orienta Yin (2005), com informações fornecidas pelos próprios participantes. Os dados serão analisados a partir do checklist de distorções cognitivas para ofensores sexuais (CDCOS, 2004) em que as questões abertas serão organizadas de maneira sistemática, criando categorias e identificando as distorções cognitivas de modo que promovam a discussão sobre a forma que autor de agressão percebe a criança, o adolescente e a violência e agressão sexual. O programa de computador que auxiliará esta análise será o Nvivo, uma vez que permite analisar os dados e identificar semelhanças e diferenças entre os conteúdos apreendidos. Análise do Checklist O Checklist de Distorções Cognitivas para Ofensores Sexuais (CDCOS, 2004) permitirá realizar as análises dos dados de maneira quantitativa e qualitativa. Na análise 118 quantitativa serão avaliadas as frequências e as correlações com as variáveis descritoras de características do autor de agressão sexual como: idade, sexo, renda, relação com a vítima, entre outras. Na análise qualitativa serão transcritos e analisados os trechos referentes às distorções cognitivas encontradas nas entrevistas, e, em seguida, serão relacionados às características dos participantes. Estudo IV Autores de Agressão Sexual de Crianças e Adolescentes: Estudo dos Fatores de Risco e Proteção em sua Trajetória de Vida Objetivo Identificar e discutir os fatores de risco e os fatores de proteção inscritos na trajetória de vida de autores de agressão sexual, a partir do Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano. Método Contexto Este estudo será realizado nos mesmos municípios envolvidos no Estudo II e III: Abaetetuba, Altamira e Belém. A escolha dos municípios e das comarcas obedeceu aos critérios já mencionamos neste projeto, assim como uma descrição preliminar de cada contexto de pesquisa. Ambiente de Pesquisa A pesquisa será realizada nos Centros de Recuperação dos municípios escolhidos, sendo necessária a disponibilização de uma sala privada, com mesa e cadeiras confortáveis, de forma que se possam conduzir as entrevistas dentro dos padrões éticos da pesquisa que envolve seres humanos na atualidade. Participantes 119 Participarão da pesquisa três autores de agressão sexual, cujos processos foram transitados e julgados em Varas de Crimes contra Crianças e Adolescentes, que estejam cumprindo pena atribuída em ambiente carcerário. A proposta é selecionar três entre os 12 participantes do estudo anterior, sendo um cada autor de cada município envolvido na pesquisa. Esta seleção será realizada com base nas informações extraídas dos processos jurídicos e os principais achados do estudo que investigou a presença de distorções cognitivas no modo como os autores de agressão sexual atribuem significado à violência. A escolha dos casos será feita mediante a aplicação dos seguintes critérios de inclusão e exclusão: os participantes deverão apresentar características sociodemográficas semelhantes quanto à idade, escolaridade, gênero, religião e perfis sociojurídicos que apontem até duas condenações anteriores por agressão sexual, além de outras condições como estar livre de perturbações psicótica (antissocial, esquizofrenia, depressão grave, etc.), ser portador de síndrome cerebral orgânica ou qualquer condição médica grave. Material Para a coleta de dados o material necessário será Mp3 para realização da gravação da entrevista, assim como caneta e papel, desde que autorizado pela administração do sistema penitenciário. Material Para a coleta de dados o material necessário será Mp3 para realização da gravação da entrevista, assim como caneta e papel, desde que autorizado pela administração do sistema penitenciário. Instrumentos e Técnica da Pesquisa A proposta do estudo de casos múltiplos será apoiada em três fontes de evidências: 1) os dados colhidos nos processos jurídicos analisados no Estudo II; 2) as transcrições das entrevistas semiestruturadas para identificação dos tipos de distorções cognitivas apresentados 120 na fala dos participantes e os resultados do CDCOS aplicado no Estudo III; 3) os conteúdos trazidos pelas entrevistas para identificar fatores de risco e de proteção presentes na histórica de vida dos autores de agressão sexual e sua posterior organização a partir dos quatro núcleos teóricos que fundamentam a Bioecologia do Desenvolvimento Humano: a Pessoa, o Processo, o Contexto, o Tempo. O esquema gráfico que apresenta a proposta de triangulação das fontes de evidências envolvidas na pesquisa está demonstrado na figura 11. Nele, se procurou demonstrar como será realizada a triangulação dos dados extraídos de fontes de informação diversas. A descrição e análise da trajetória de vida dos autores de agressão sexual envolvidos nos Estudos II e III levarão em conta fontes de evidências que se diferenciam muito entre si (dados primários e secundários). Entretanto, propõe-se aqui que a entrevista seja o método de coleta de dados da pesquisa a ser utilizado por excelência neste quarto e último estudo. Para Spindola e Santos (2003), a entrevista abordando a história de vida é uma das modalidades de estudo mais utilizadas e exige comumente uma abordagem qualitativa dos dados. O comando dado no início da entrevista se apresenta como um convite ao relato na primeira pessoa: “Fale-me de sua vida quando criança, adolescente, jovem, adulto e idoso”. Por isso, entendese que a história de vida é geralmente contada pela pessoa que vivenciou a história. Por meio do relato de histórias de vida dos participantes da pesquisa, podem-se caracterizar práticas e comportamentos individuais, mas, ao mesmo tempo, trazer à tona, direta ou indiretamente, valores, definições e atitudes específicos do grupo ao qual o indivíduo pertence. Ressalta-se, ainda, conforme Spindola e Santos (2003) que a entrevista sobre as trajetórias de vida dos autores de agressão sexual deverá retratar os diferentes momentos históricos vividos pelo participante. Assim, em concordância com os propósitos deste estudo e o modelo teórico que orienta a pesquisa, a entrevista para reconstituição da trajetória de vida dos participantes trará necessariamente à luz uma compreensão de tempo histórico (a 121 temporalidade contida no relato individual remete ao tempo passado desde a sua infância até os dias atuais), dinâmico (as estruturas de relações sociais e os processos de mudança) e contextual (os locais e situações relevantes na sua trajetória de vida) (Spindola e Santos, 2003). Isso possibilita penetrar na trajetória de vida dos participantes e compreender a dinâmica das relações estabelecidas nos contextos de desenvolvimento apresentados e sua localização no período de tempo relatado. Procedimento Procedimentos preliminares Para realização da entrevista com os autores de agressão sexual, será feito contato com os órgãos competentes pela autorização do acesso ao sistema penitenciário, solicitando autorização para a realização da pesquisa, em um período de quatro meses consecutivos, duas vezes por semana, no período matutino, totalizando oito encontros com cada entrevistado. Serão oito encontros com cada participante, tendo a duração prevista de cada entrevista de 60 minutos, totalizando 480 minutos de gravação com cada participante. Na ocasião, inicialmente, será realizada a apresentação do objetivo da pesquisa ao participante e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Procedimentos de coleta No decorrer da narrativa, serão intercalados, caso necessário, elos que retomem a atenção do entrevistado para o objetivo da pesquisa. O participante deverá contar sua história; descrever situações de vida, e argumentar sobre problemas significativos e recorrentes, assim como ele/ela se relaciona com isso. Sobre a disponibilidade do tempo, Bogdan e Biklen (1994) ressaltam que o tempo durante o qual a entrevista se dará dependerá do local ou com quem a pesquisa será realizada, e que isso presumidamente influenciará nos dados que irá obter. Sendo assim, o número de relatos a serem colhidos em uma entrevista depende da qualidade das informações obtidas e 122 do contexto investigado. Desse modo, a coleta dos depoimentos poderá ser encerrada à medida que estes atinjam o ponto de saturação, ou seja, comecem a se tornar repetitivos ou não acrescentem fatos novos aos relatos anteriormente obtidos. Após a gravação do áudio das entrevistas, estas serão transcritas para o formato digital documento Word-93-2007 e arquivados em um banco de dados no sistema operacional Windows, para serem posteriormente inseridas no programa de computação Nvivo. Procedimentos de análise Para Bogdan e Biklen (1994), as análises que embasam o estudo de caso – seja único ou múltiplo – deve se dar durante toda a extensão da coleta de dados, o tempo de duração da investigação. À medida que se transcrevem os dados, ideias, palavras-chave e frases e seções que pareçam importantes aos propósitos da pesquisa, devem ser sublinhadas, pois ajudam na análise posterior do material coletado. Neste sentido, dar-se-á particular atenção aos dados que informam quanto à presença de fatores de risco e de proteção na trajetória de vida dos participantes relatada, sendo essa análise possível após evidências tomadas a partir da triangulação das três fontes consideradas pela pesquisa. Posteriormente, este material será organizado de acordo com categorias baseadas nos quatro núcleos fundamentais da Bioecologia do Desenvolvimento Humano: Pessoa-Processo-Contexto-Tempo. (Figura 11) Elementos MBE Pessoa Categorias Característica Biológicas Características Psicológicas Características Sociais Processo Forma Conceitos Diz respeito a determinados atributos físicos que atuam no desenvolvimento humano Estão relacionadas aos recursos (internos) que a pessoa disponibiliza e que guiam os processos proximais por ela desenvolvidos Correspondem aos aspectos sociodemográficos que indicam, entre outros, seu nível socioeconômico da pessoa. Está relacionado como a pessoa se engaja em uma atividade Exemplos Sexo/gênero Idade Distorção cognitiva Padrão de relação interpessoal Escolaridade (anos de estudo) Ocupação Renda A forma que recebeu educação sexual 123 Poder Conteúdo Direção Contexto Microssistema Mesossistema Exossistema Macrossistema Está relacionado à moderação dos fatores Como conviveu com: de risco e proteção Negligencia x Cuidado Abandono x Salvaguarda Violência x Amabilidade Maus-tratos x Cuidados Está relacionado à interação pessoa e Atividade escolar objeto a partir das atividades realizadas. Trabalho Infantil São as interações estabelecidas a partir das Lazer atividades realizadas. Está associada à bidirecionalidade e Interação pais na reciprocidade na interação da pessoa em infância/adolescência desenvolvimento com o ambiente social /adultez ou vice e versa Interação irmãos na infância/adolescência /adultez Interação colegas de escola na infância/adolescência Interação com grupos de pares na infância/adolescênci a/adultez Interação dos colegas de trabalho na adultez Está relacionado ao contexto imediato de Família interação (face-to-face) (infância/adolescên cia/adultez) Sistema carcerário Diz respeito à interação entre os diversos Família e escola microssistemas Família e grupo de pares Família e trabalho Família e sistema carcerário Equivale ao contexto que de alguma forma Trabalho dos pais influência o indivíduo mesmo que este não Órgãos do tenha acesso direto Judiciário/Sistema Penitenciário Remete ao conjunto de crenças, valores, Leis regras e normas culturais Políticas Públicas Cultura (Préconceito social) 124 Faz menção à continuidade ou Tempo de descontinuidade do Processo Proximal convivência com a família de origem na infância, na adolescência e na adultez Tempo de convivência com o grupo de pares na infância, adolescência e adultez Tempo de convivência com o grupo de trabalho na adultez Tempo de convivência com os encarcerados Mesotempo Diz respeito à periodicidade dos episódios Tempo de convivência de interação entre a família e a escola na infância e na adolescência Tempo de convivência de interação entre família e grupo de pares na infância e adolescência Tempo de convivência de interação entre família e trabalho na adultez Tempo de convivência de interação entre família e sistema carcerário Macrotempo Está associado a expectativas e eventos de Mudança na mudança na sociedade condição social, econômica e política do país Figura 11. Quadro com os núcleos teóricos do Modelo da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, as categorias relacionadas, suas definições e exemplos. Tempo Microtempo 2012 Etapas Revisão da Literatura Submissão ao comitê de ética Parecer do Comitê Qualificação do Projeto Estudo 1 Estudo 2 Solicitação à instituição de Abaetetuba Solicitação à instituição de Altamira Solicitação à instituição de Belém Coleta Abaetetuba Coleta Altamira Coleta Belém Análise dos Dados Estudo 3 Caracterização Sociodemográfica Jul Ago Set out CRONOGRAMA 2014 2013 Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2015 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2016 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun 126 Abaetetuba Caracterização Sociodemográfica Altamira Caracterização Sociodemográfica Belém 2012 Etapas Entrevista Semiestruturada Abaetetuba Entrevista Semiestruturada Altamira Entrevista Semiestruturada Belém Análise dos dados Estudo 4 Entrevista Abaetetuba Entrevista Altamira Entrevista Belém Análise dos dados Defesa do Doutorado Jul Ago Set out 2013 Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2014 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2015 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2016 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Referência Abel, G.G., Becker, J.V., & Cunninngham-Rathner, J. 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Pesquisado em http://www.scielo.br/pdf/spp/v13n3/v13n3a01.pdf 140 ANEXO I TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA Estamos realizando uma pesquisa intitulada Agressores sexuais de crianças e adolescentes: características biopsicossociais e trajetórias de desenvolvimento, orientada pela professora Dra. Lília Ieda Chaves Cavalcante (Profª. Dra. do Programa de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Docente da Faculdade de Serviço Social) e realizada por mim, Daniela Castro dos Reis, psicóloga, Mestre e Doutoranda, por meio do Laboratório e Ecologia de Desenvolvimento Humano (LED), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA). A pesquisa tem como objetivo investigar dados sobre Agressores sexuais de crianças e adolescentes suas características biopsicossociais e trajetórias de desenvolvimento. Para tanto será necessário realizarmos dois estudos, o primeiro em fontes documentais, acessando os processos jurídicos, e o segundo a realização de entrevistas com os autores de agressão sexual que estejam cumprindo pena. Para a realização do primeiro estudo, solicitaremos via ofício as informações sobre os processos jurídicos, por meio de uma ficha elaborada para este fim, à equipe técnica, de maneira que a pesquisadora não tenha acesso aos dados processuais diretamente, já que os processos correm em segredo de justiça. Este estudo tem o objetivo de identificar os aspectos biopsicossociais e os fatores de risco e proteção na trajetória de desenvolvimento do autor de agressão sexual. Para a concretização dos segundo estudo, será necessária a participação de três condenados pelos crimes de violência sexual contra criança e adolescente do sexo masculino de 18 anos em diante. Para tanto, solicitamos autorização para realizar este estudo, na Vara criminal de Abaetetuba/ Altamira/Belém e no sistema penitenciário do referido município. Também será encaminhado um Termo de Consentimento aos próprios participantes, para que estes apresentem concordância em relação a sua participação. A coleta de dados deverá envolver entrevistas individuais que levarão de 120 a 180 minutos cada uma, sendo previsto dois a três encontros com cada participantes. Os instrumentos serão aplicados individualmente para aqueles que apresentarem sua concordância em horário previamente marcado. Optamos por gravar as entrevistas, informando este procedimento aos participantes da pesquisa. Solicitamos também o acesso aos documentos relacionados a vida dos detentos dentro e fora da prisão. A equipe de pesquisa também solicita acesso aos autos dos processos relacionados ao delito pelo qual o detento está cumprindo pena no momento da coleta de dados. Os participantes deste estudo serão claramente informados de que sua contribuição é voluntária e pode ser interrompida em qualquer etapa, sem nenhum prejuízo para ele ou para sua relação com a instituição prisional. A qualquer momento, tanto os participantes quanto os responsáveis pela instituição poderão solicitar informações sobre os procedimentos ou outros assuntos relacionados a este estudo. Todos os cuidados serão tomados para garantir o sigilo e a confidencialidade das informações, preservando a identidade dos participantes bem como das instituições envolvidas, já que apenas a equipe de pesquisa terá acesso às informações obtidas na pesquisa. Todo o material desta pesquisa ficará armazenado no Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA e serão destruídos depois de um período de cinco anos. Informamos ainda que o estudo está de acordo com a resolução nº196 de 10/10/1996 do Conselho Nacional de Saúde, respeitando assim todos os aspectos éticos em pesquisa detalhados na resolução. Através deste trabalho, esperamos contribuir para o esclarecimento de algumas questões sobre o autor de agressão sexual de crianças e adolescentes em homens que cometeram esse ato. Desde já agradecemos sua contribuição para o desenvolvimento desta atividade de pesquisa e colocamo-nos a disposição para o esclarecimento através do telefone do Programa em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA, fone/fax (91)3201-7662, Coordenação (91) 3201-8542, Secretaria (91)3201-8476, e-mail: [email protected] Data___/___/__ Lília Iêda Chaves Cavalcante-Orientadora responsável Daniela Castro dos Reis-Psicóloga responsável Autorizo a realização da pesquisa e que a equipe de pesquisa possa ter acesso a todas as informações solicitadas acima Juiz Responsável pela Autorização 141 ANEXO II UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado Sr(a), convido você a participar de uma pesquisa de doutorado vinculado ao Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento sobre a história de vida de condenados pelo crime de violência sexual contra criança e adolescência. Esta pesquisa é importante para gerar dados sobre as características biopsicológicas e os fatores de risco e proteção na trajetória de vida, já que estudos sobre este tema no Brasil são ainda pouco pesquisados. Sua participação é importante para que possamos compreender melhor a sua história de vida. O objetivo desta pesquisa é estudar as características biopsicológicas de autores de agressão sexual de crianças e adolescente e os fatores de risco e proteção presentes em sua trajetória de vida. As informações serão coletadas por meio de um questionário sociodemográfico e entrevistas acerca de aspectos pessoais que envolvem o relato da sua história de vida. Se você concordar em participar, então deverá responder o questionário e entrevista. Você poderá levar aproximadamente 60 minutos para respondê-lo, e a entrevista será realizada em 08 encontros de 60 minutos em dias diferentes. O período total desta pesquisa terá a duração de quatro meses, com início em junho e término setembro. Os benefícios gerados com sua participação são indiretos, pois as suas informações ajudarão a compor as características psicológicas e sociais e mapear os fatores de risco e proteção no decorrer de sua vida. Com base nos resultados da pesquisa, serão apresentadas propostas de intervenção psicológica, com elaboração de protocolo de atendimento, assim como subsidiará a discussão de políticas públicas para os autores de agressão sexual de crianças e adolescentes. Os riscos que esta pesquisa poderá oferecer são mínimos, como desconforto psíquico diante de perguntas íntimas, entretanto, se você se sentir fragilizado ou desconfortável em função das informações que você disponibilizará no questionário e na entrevista, você poderá desistir e terá assistência necessária sendo encaminhado para a equipe técnica do Sistema Carcerário. Os resultados da pesquisa serão devolvidos diretamente a você, individualmente, se você tiver interesse em conhecê-los. Não haverá pagamento para você participar. A sua participação é voluntária e sua desistência é permitida em qualquer momento do estudo, sem que lhe traga prejuízos. Se em algum momento do estudo você sofrer danos e/ou lesões físicas ou psicológicas, e se for comprovado que são decorrentes deste estudo, você será amparado por lei a receber indenização. Será assegurado sigilo quanto à sua identidade, ficando suas informações sobre a guarda do pesquisador, resguardando a privacidade e o anonimato. Para maiores esclarecimentos, você poderá entrar em contato comigo, responsável pela pesquisa, pelo telefone 8215-1992, e junto ao Comitê de Ética do Núcleo de Medicina Tropical (UFPA), no seguinte endereço e telefone: Av. Generalíssimo Deodoro, 92. CEP: 66055-240 – Belém, Pará. Tel: 3241-4641. Este termo será assinado em duas vias, uma fica com você e outra comigo. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro que fui esclarecido (a) sobre o objetivo da pesquisa, assim como os riscos e benefícios envolvidos na sua participação. Declaro ainda que, por minha livre vontade, aceito participar nesta pesquisa, cooperando com a coleta de dados para análise. 142 Assinatura do Participante ____________________________ Belém,____/____/_____ Nome da pesquisadora responsável: Daniela Castro dos Reis Assinatura da pesquisadora: _____________________________________ Belém,____/____/_____ ANEXO III FORMULÁRIO PARA CARACTERIZAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL (Habigzang, Koller, Azevedo e Machado (2005), 1. Das violências: tipos de violências (negligência familiar, violência psicológica, violência física e violência sexual); 2. Das vítimas: faixa etária, sexo, grupo étnico, religião, vínculo com o agressor, entre outros; 3. Dos agressores: faixa etária, sexo, grupo étnico e vínculo com a vítima; 4. Do grau de resolutividade (encaminhamentos realizados) das vítimas e dos agressores; 5. Do perfil: psicológico e comportamental; 6. Dos padrões de interação; 7. Dos contextos envolvidos e 8. Do tempo de vida que se deu o processo da violência sexual. 9. Sobre o processo: liminar; julgamento 1º grau; encaminhamentos/medidas/ofícios e efetivação; julgamento 2º grau; medidas/efetivação e ofícios; duração; fatores que influenciaram as instituições/fatores que auxiliaram; fatores que prejudicaram. 10. Sobre a vítima: vínculo, instituição, natureza do atendimento; encaminhamentos; fatores que auxiliaram o atendimento; fatores que prejudicaram o atendimento. 11. Sobre a família: vínculo com a vítima e com o agressor, fatores que prejudicaram e auxiliaram o processo, se está em atendimento, instituição, encaminhamento. 12. Sobre o agressor: vínculo com a vítima, com a família da vítima, histórico psicológico e social, educacional, atendimento, processo jurídico, entre outros ANEXO IV QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO DE CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA FAMILIAR (QSCSF) I – IDENTIFICAÇÃO a) Questionário respondido por: ____________________________________________________________________________ b) Aplicador: _________________ Data: ___/___/___ I. Idade: ______ anos Início: ___hs ___min. Término: ___hs.___min. Data de nascimento: ___/___/___ II. Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena III. Foi criado pelos pais biológico na infância? Sim ( ) Não ( ) Se não, indicar por quem foi criado:____________________ IV. Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Mora junto ( ) Separado/divorciado ( ) Viúvo ( ) Outros: _________________ V. Este é o seu primeiro casamento? ______________ Se não, quantas vezes foi casado antes? ______________________ VI. Escolaridade: Série:_________ Nível:___________ Completo ( ) Incompleto ( ) VII. Ocupação (Profissão): _____________________________________________________________ VIII. Religião: _____________________ IX. Tempo de cumprimento da sentença: _____________________ Ano da sentença: ____________ Qual o motivo: ________________ X. Recebeu atendimento psicossocial: ( ) Sim ( ) Não XI. Que tipo de atendimento? ( ) Psicológico ( ) Social ( ) Jurídico ( ) Pedagógico XII. Em que momento recebeu este atendimento?______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ _____________ 145 II – SAÚDE Nasceu de parto normal? Sim ( ) Não ( ) Teve alguma complicação no parto? Sim ( ) Não ( ) Se sim, indique qual:_____________ Nasceu com alguma deficiência? Sim ( ) Não ( ) Se sim, indique qual:_____________ Sofreu agressão física? ( )Sim ( ) Não Se sim, com que idade ? __________________________ Sofreu agressão verbal? ( )Sim ( ) Não Se sim, com que idade? __________________________ Sofreu agressão sexual? ( )Sim ( ) Não Se sim, com que idade? __________________________ Teve alguma doença mental/psicológica ou dos nervos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, indique qual:____________________________Que idade_________ Teve alguma doença sexualmente transmissível? ( ) Sim ( ) Não Se sim, com que idade e qual o tipo? ___________________________Que idade__________ Como você acha que a contraiu esta doença? __________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ _________________ Considerando a sua experiência pessoal, responda às questões abaixo: Tipo Já experimentou ao menos uma vez na vida? a. Bebida alcoólica ( ) Sim ( ) Não b. Cigarro comum ( ) Sim ( ) Não Que idade você tinha quando usou pela 1ª vez? 146 c. Maconha ( ) Sim ( ) Não d. Cola, solventes, thinner, lança-perfume, acetona ( ) Sim ( ) Não e. Cocaína ( ) Sim ( ) Não f. Crack ( ) Sim ( ) Não g. Ecstasy ( ) Sim h. Remédio para emagrecer sem receita médica ( ) Sim ( ) Não i. Anabolizante ( ) Sim ( ) Não j. Remédio para “ficar doidão” ( ) Sim ( ) Não k. Chá para “ficar doidão” ( ) Sim ( ) Não l. Outra __________________________ ( ) Sim ( ) Não ( ) Não Você se envolveu alguma vez em briga? ( ) Sim ( ) Não Se sim, com que idade______________ Em que local?____________ Frequência que isso acontecia: 147 ( ( ( ( ) Diariamente (Todos os dias) ) Semana (pelo menos uma vez na semana) ) Mensalmente (pelo menos três veze no mês) ) Anualmente (Pelo menos 10 vezes no ano) Tentou suicídio alguma vez? ( ) Sim ( ) Não Se sim, indique qual idade e o porquê:_____________ _________________________________________ III – EDUCAÇÃO Começou a estudar com que idade? Parou de estudar em que série? Quantos anos você tinha quando parou de estudar? Explique quais os motivos que fez você parar de estudar?______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________ Completou todas as séries? ( ) Sim ( ) Não Em caso negativo, qual(ais) a(s) série(s)?_________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ________ Explique quais os motivos que fizeram você não completar a série? ______________________________________________________________________________________________________________ 148 ______________________________________________________________________________________________________________ ______________ Foi alguma vez expulso da escola? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, qual série?___________________________________________ Explique os motivos. ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ IV – SEXUALIDADE O que é sexualidade para você?_____________________________________________________________________________________________________ Quem foi a primeira pessoa a falar sobre sexualidade com você? ___________________________ Que idade você tinha?_________________________ E nas outras vezes, com quem você falou sobre sexualidade? ________________________________ Que idade você tinha? _________________________ Que idade você tinha quando teve acesso a revistas e/ou filmes pornográficos? __________________ Como você tinha acesso?________________________ _____________________________________________________________________________________________________________ Com idade começou a namorar? ______________________________________ Com quem? __________________________________ Com que idade você teve sua primeira relação sexual? ______________________________ Com quem foi a sua primeira relação sexual? ( ) Namorada com a mesma idade 149 ( ) Namorada mais velha ( ) Conhecida mais velha ( ) Conhecida com a mesma idade ( ) Parente próximo da mesma idade ( ) Parente próximo mais velho ( ) Parente não tão próximo da mesma idade ( ) Parente não tão próximo mais velho Quantos parceiros sexuais você teve até hoje? _______________________________________________ Quantos eram do sexo masculino? ______________ Quantos eram do sexo feminino? ____________________________________________________ Na sua infância, você foi abordado por alguém para manter relação sexual? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade você tinha: _________________ Quem lhe convidou? ( ) Parente (Quem)__________________ ( ) Amigo ( ) Namorada ( ) Conhecida ( ) Desconhecido Que idade a pessoa que lhe abordou tinha? ( ) Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso Na sua adolescência você foi abordado por alguém para manter relação sexual? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade você tinha: ______________________ Quem lhe convidou? ( ) Parente (Quem)________________________ 150 ( ) Amigo ( ) Namorada ( ) Conhecida ( ) Desconhecido Que idade a pessoa que lhe abordou tinha? ( ) Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso Manteve relação sexual em troca de dinheiro, favor ou vantagem? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade você tinha? ____________________ Com quem? ( ) Parente (Quem)_____________________ ( ) Amigo ( ) Namorada ( ) Conhecida ( ) Professora ( ) Desconhecido Que idade que a pessoa tinha? ( ) Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso Você recebeu alguma vez orientação sobre violência ou agressão sexual (o que é, como se prevenir, etc)? Se sim, que idade você tinha? _________ Quem falou com você sobre violência ou agressão sexual? ____________________________________________________________ 151 V – CARACTERIZAÇÃO SOCIOFAMILAR (Informações atuais) Composição familiar Idade Sexo Religião Escolaridade Ocupação atual Nº casamentos Nº filhos Uso de substância Morte Doenças Naturalidade Onde mora (onde nasceu) 152 Identifique situações que VOCÊ já viveu COM SUA FAMÍLIA, relacionadas aos eventos na coluna 1 e a seguir responda às questões: Tipo de situação a. Ameaça ou humilhação B. Em geral, com que frequência esta A. Já situação acontecia? aconteceu? a ( ) não b ( )sim ( ) nunca ( )quase nunca ( )às vezes ( )quase sempre ( ) sempre C. Em geral, o quão ruim foi para você esta situação? ( )nada ruim ( )um pouco ruim ( )mais/menos ruim ( )muito ruim ( )horrível D. Indique quem fez isto com mais frequência? a ( ) mãe b ( )madrasta c ( )pai d ( )padrasto e ( )irmãos f ( )avós g ( ) outros: ________ 153 b. Soco ou surra a ( ) não b ( )sim c. Agressão com objeto (madeira, a ( ) não cinto, fio, b ( )sim cigarro, etc.) ( ) nunca ( )quase nunca ( )às vezes ( )quase sempre ( ) sempre ( ) nunca ( )quase nunca ( )às vezes ( )quase sempre ( ) sempre ( )nada ruim ( )um pouco ruim ( )mais/menos ruim ( )muito ruim ( )horrível a ( ) mãe b ( )madrasta c ( )pai d ( )padrasto e ( )irmãos f ( )avós g ( ) outros: ________ ( )nada ruim ( )um pouco ruim ( )mais/menos ruim ( )muito ruim ( )horrível a ( ) mãe b ( )madrasta c ( )pai d ( )padrasto e ( )irmãos f ( )avós g ( ) outros: ________ d. Mexeu no meu a ( ) não corpo contra a b ( )sim minha vontade ( ) nunca ( )quase nunca ( )às vezes ( )quase sempre ( ) sempre ( )nada ruim ( )um pouco ruim ( )mais/menos ruim ( )muito ruim ( )horrível a ( ) mãe b ( )madrasta c ( )pai d ( )padrasto e ( )irmãos f ( )avós g ( ) outros: ________ e. Relação sexual a ( ) não forçada b ( )sim ( ) nunca ( )quase nunca ( )às vezes ( )quase sempre ( ) sempre ( )nada ruim ( )um pouco ruim ( )mais/menos ruim ( )muito ruim ( )horrível a ( ) mãe b ( )madrasta c ( )pai d ( )padrasto e ( )irmãos f ( )avós g ( ) outros: ________ 154 VI – REDE DE APOIO Você tinha amigos na infância? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?____________________ Qual idade do seu amigo?_______________ Você tinha amigos na adolescência? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?_________________ Qual idade do seu amigo?________________ Você tinha amigos na juventude? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?______________ Qual idade do seu amigo?____________________ Você tem amigos hoje? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?_________ Qual idade do seu amigo?___________________________________ Se não, qual o motivos?_______________________________________________________________________ Durante a sua infância participava de algum grupo ou associação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ? ________E qual grupo? _____ Durante a sua adolescência participava de algum grupo ou associação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ? ___________E qual grupo? Durante a sua juventude participava de algum grupo ou associação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ? ____________E qual grupo? Você trabalhava na sua infância? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ?___________________Qual tipo de trabalho___________ Você trabalhava na sua adolescência ? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ?___________________ Qual tipo de trabalho___________ Você trabalhava na sua juventude? ( ) Sim ( ) Não Se sim, que idade tinha ?___________________ Qual tipo de trabalho____________ Tinha alguma profissão, antes de ser preso? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual? _________ Foi demitido alguma vez? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual o motivo?___________________________________________________ Teve problemas com descumprimento da lei? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual foi o motivo? ______________________________ No período em que o processo foi instaurado e o cumprimento da sentença 155 Você recebeu ajuda da sua família? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?____________________________________________________ Você recebeu ajuda de algum amigo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?__________________________________________________ Você recebeu ajuda de alguém no seu local de trabalho? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?____________________________________ Você recebeu ajuda de alguma organização/instituição? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, quem?_____________________________________ ANEXO V ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA (Moura, 2007) 1. Visão sobre a infância Explique para mim o que é ser criança. Explique, agora, para mim quem é criança. Crianças, adolescentes e adultos: no que são iguais? No que são diferentes? (explorar duas categorias de cada vez: criança-adolescente; criança-adulto – ver necessidades, preferências, interesses, direitos, deveres, etc.). Até qual idade você acha que uma pessoa pode ser considerada criança? O que faz com que uma criança passe a ser adolescente ou adulta? O que faz com que um menino passe a ser adolescente ou adulta? O que faz com que uma menina passe a ser adolescente ou adulta? Meninas e meninos: no que são iguais? No que são diferentes? O que você sente quando vê uma criança dormindo? O que você sente quando vê uma criança brincando? O que você sente quando vê uma criança chorando? O que você sente quando vê uma criança gritando? Descreva para mim como deve ser a relação entre um adulto e uma criança. Fazendo de conta que voltássemos agora no tempo: olhe para a criança que você era e me descreva esta criança. 2. Infância: Relações (explorar esta fase do ciclo vital) Fale-me sobre sua infância... Que lembranças você tem de sua infância? (Explorar lembranças boas/ruins). Fale-me de sua família. Como era ser uma criança nesta família? Como você acha que sua mãe/pai o descreveriam? Que lembranças você tem de sua infância na sua família? Conte-me sobre um episódio bom. Conte-me sobre um episódio ruim (se não mencionar vitimização na infância por abuso sexual perguntar se passou por alguma experiência relacionada ao fato) (Explorar relações com irmãos, primos, outras crianças que viviam na mesma casa) Fale-me de sua escola... Você tinha amigos(as) na escola? Fale-me sobre eles... Como você acha que sua professora o descreveria? Que lembranças você tem de sua infância na sua escola? Conte-me sobre um episódio bom. Conte-me sobre um episódio ruim. (Explorar relações com colegas, professores, atividades no recreio, desempenho escolar) Fale-me de seus amigos fora da escola... Quem eram estes amigos(as)? Fale-me sobre eles... Que lembranças você tem de sua infância no seu bairro? Conte-me sobre um episódio bom. Conte-me sobre um episódio ruim. Do que você mais gostava de brincar? Por quê? Como ocupava seu tempo? 3. Adolescência: Relações (explorar esta fase do ciclo vital) Fale-me de você, como um adolescente... Como era sua família quando você era adolescnete? Quem eram as pessoas com as quais convivia? Como era sua relação com elas? 157 (Explorar relações com irmãos, primos, outras crianças que viviam na mesma casa, durante a adolescência) Como ocupava seu tempo? Conte-me sobre um acontecimento bom e um ruim em sua adolescência. 4.Vida adulta: Relações (explorar esta fase do ciclo vital) Fale-me de você hoje, como um adulto. Quem é sua família? Quem são as pessoas com as quais convive? Como é sua relação com elas? (Explorar relações com irmãos, primos, outras crianças que vivem na mesma casa) 5. Situação atual: Relações Você foi encaminhado até aqui por um juiz. Conte-me um pouco sobre isto. (Focalizar na criança a qual está relacionada a suspeita de vitimização por ele, com as perguntas abaixo). Quem é a criança? Quantos anos ela tem? Qual o seu relacionamento com ela? Como é esta criança era? Descreva-a (explorar aspectos como aparência, atitudes, percepção de inteligência e maturidade, deficiência, etc.) Por que você acha que esta criança e não outra está relacionada a esta denúncia? 6. Expectativas Pensando em sua vida hoje, você acha que sua história influenciou em algo que acontece no momento atual? Como você quer que seja sua vida no futuro? Fale-me sobre coisas boas que você quer que aconteçam. O que você achou desta entrevista? Quer acrescentar alguma informação? 158 ANEXO VI CHECKLIST DE DISTORÇÕES COGNITIVAS PARA OFENSORES SEXUAIS (CDCOS, Gonçalves, 2004) Distorção Cognitiva Negação completa ( ) Sim ( ) Não Negação parcial ( ) Sim ( ) Não Minimização de ofensa ( ) Sim ( ) Não Minimização de responsabilidade ( ) Sim ( ) Não Negar ou minimizar as consequências ( ) Sim ( ) Não Negar ou minimizar o planejamento ( ) Sim ( ) Não Negar ou minimizar as fantasias ( ) Sim ( ) Não