UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ESPESSAMENTO DA PAREDE DA VESÍCULA BILIAR EM PACIENTES HOSPITALIZADOS COM DENGUE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: UM ESTUDO TRANSVERSAL MICHEL DE ARAUJO TAVARES MANAUS 2013 i MICHEL DE ARAUJO TAVARES ESPESSAMENTO DA PAREDE DA VESÍCULA BILIAR EM PACIENTES HOSPITALIZADOS COM DENGUE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: UM ESTUDO TRANSVERSAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador (a): Profa. Dra. Maria Paula Gomes Mourão Co-orientador(a): Prof. Dr. Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda MANAUS 2013 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade do Amazonas T231e Tavares, Michel de Araujo. Espessamento da parede da vesícula biliar em pacientes hospitalizados com dengue na amazônia brasileira: um Estudo transversal /Michel de Araujo Tavares: UEA, 2013. 71 p.: il.; 30 cm Orientador: Maria Paula Gomes Mourão Dissertação (Pós-Graduação em Medicina Tropical)-Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2013. Inclui bibliografia 1. Dengue. 2. Vesícula biliar. 3. Ultrassonografia. I. Mourão, Maria Paula Gomes. II. Universidade do Estado do Amazonas. III. Título CDU 576.8:616-036 ii ESPESSAMENTO DA PAREDE DA VESÍCULA BILIAR EM PACIENTES HOSPITALIZADOS COM DENGUE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: UM ESTUDO TRANSVERSAL MICHEL DE ARAUJO TAVARES “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”. Banca Examinadora: _______________________________ Profa. Maria Paula Gomes Mourão, Dra. Presidente ____________________________________ Prof. Marcelo Cordeiro dos Santos, Dr. Membro __________________________ Prof. Maurício Lacerda Nogueira, Dr. Membro iii DEDICATÓRIA Dedico esta obra à minha querida esposa Polyane de Oliveira Sales e aos meus pais João Tavares Filho e Maria Zilmar de Araujo Tavares. Também dedico esta obra aos meus irmãos, Petrus e Gabriela. iv AGRADECIMENTOS Ao término deste trabalho gostaria de deixar registrados meus agradecimentos àquelas pessoas que contribuíram para a realização deste sonho. Aos meus pais: João Tavares Filho e Maria Zilmar de Araujo Tavares pelo amor e formação como pessoa. a À minha Orientadora: Prof Dra. Maria Paula Gomes Mourão, inteligente, prestativa e organizada. Ao meu Co-orientador: Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, inteligente também e astuto para a pesquisa em Medicina Tropical. Aos alunos da UniNilton Lins e UEA, especialmente Pollyana Moreira pela ajuda na realização dos exames ultrassonográficos e Tigran Chehuan Melo na fase de tabulação dos dados, além dos alunos da UFAM que tanto me estimulam a me atualizar. A Dra. Yonne Francis Chehuan Melo e funcionários do laboratório de Virologia pela realização dos exames laboratoriais, de forma mais especial Michele Souza Bastos e a mestre hoje e amiga de Mestrado de longa data Valquíria do Carmo. Ao residente e hoje infectologista Guilherme Augusto Pivoto João pela ajuda na coleta dos dados. A Anne Cristina Gomes Almeida pelo auxílio nos fins de semana quando havia necessidade da coleta de exames laboratoriais. A Raimunda Ericilda Soares de Araújo pela ajuda na coleta dos exames laboratoriais e armazenagem destes, além de conselhos advindos da experiência técnica na Medicina Tropical. A todos os funcionários da Coordenação da Pós-Graduação pelo trabalho e contribuição para o crescimento intelectual dos alunos. A Elcimar Cavalcante Neves Júnior pela atenção dada na área de informática. Também gostaria de deixar registrados os meus sinceros agradecimentos a FAPEAM, CAPES, SUFRAMA, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e v demais funcionários da FMT-HVD por poder ter condições de aprimorar a Radiologia que aprendi fora do Amazonas e coloca-la em prática na Medicina Tropical tão presente na minha Terra natal. vi "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Fernando Pessoa vii RESUMO Dengue é uma doença febril aguda, cujo agente etiológico é um vírus do gênero Flavivirus. É uma arbovirose transmitida ao homem pelo mosquito Aedes aegypti e tem o potencial de causar epidemias explosivas nas regiões tropicais e subtropicais. São conhecidos, atualmente, quatro tipos virais (DEN1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4), cujas infecções subsequentes podem originar formas graves, apresentando-se com extravasamento capilar, hemorragias e/ou comprometimento específico de determinados órgãos (tais como hepatite, miocardite, encefalite). A identificação precoce dos quadros potencialmente graves de dengue, através da detecção de mínimos derrames cavitários, por exemplo, tem impacto direto na sobrevida do paciente. A ultrassonografia é um método diagnóstico seguro largamente utilizado em países industrializados. É um equipamento relativamente de baixo custo quando comparado com outros métodos de imagem como Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM). Uma vez instalado o sistema, é método não invasivo e fácil de operar, requer pouco preparo do paciente e pode ser realizado à beira do leito. Em uma epidemia de dengue, quando o exame ultrassonográfico demonstrar espessamento da parede da vesícula biliar (colecistite alitiásica), ascite ou derrame pleural em paciente febril com plaquetopenia, o diagnóstico de dengue grave deve ser considerado. Assim, com o objetivo de caracterizar os achados de imagem incluindo a colecistite alitiásica, derrames cavitários e visceromegalias em pacientes hospitalizados com dengue, realizou-se um estudo transversal retrospectivo, com duração de 2 meses, durante uma epidemia de dengue ocorrida na cidade de Manaus, a partir dos exames ultrassonográficos realizados em pacientes hospitalizados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). Foram coletados os dados de 190 pacientes com suspeita de dengue no período de Março a Abril de 2011, incluindo ultrassonografias do abdome superior, exames laboratoriais (hematológicos, bioquímica e sorológicos). Foram coletadas amostras de sangue e soro para ELISA, PCR e NS1. Foram excluídos 72 pacientes dos 190 e 31 pacientes não confirmaram o diagnóstico de dengue, seja pela PCR, sorologia ou NS1 positivos. 118 pacientes foram incluídos no estudo, sendo que, de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) viii de 1997, 76 pacientes tiveram dengue clássico, 42 febre hemorrágica do dengue e nenhum teve síndrome do choque hemorrágico do dengue. De acordo com a classificação da OMS de 2009, 87 pacientes tiveram dengue grave, 31 tiveram dengue com choque e nenhum teve dengue com choque. 54 foram confirmados através de PCR/NS1 e 64 tiveram diagnóstico presuntivo de dengue com teste ELISA positivo. Em relação aos achados ultrassonográficos 23 pacientes (19,5%) apresentaram hepatomegalia, 56 (47,5%) tinham espessamento da parede da vesícula biliar maior que 3 mm, sendo que destes 03 tinham destacamento de membrana, 15 (12,7%) tinham líquido pericolecístico, 47 (39,8%) tinham derrame cavitário e 40 (33,9%) tiveram derrame pleural. Em geral o espessamento da parede da vesícula biliar (EPVB) mostra um aumento progressivo entre os dias 3-8 de doença, a fase crítica do dengue. Foi demonstrado em curva ROC o ponto discriminatório de EPVB para dengue não grave e grave (curva ROC = 0,65, intervalo de confiança de 95 % [IC]: 0,53-0,76. Todos os 118 pacientes inseridos desenvolveram uma completa recuperação durante a internação e nenhuma morte ou necessidade de cuidados de terapia intensiva foram observadas nesta série de casos. Foi a primeira vez em Manaus que outras infecções que podem também afetar a vesícula biliar foram sistematicamente excluídas. Nesta série de casos, o EPVB foi significativa e independentemente relacionado à idade ≤ 31 anos, gravidez, presença de sangramento, a presença de efusão cavitária. O EPVB não mostrou relação com exames de sangue bioquímicos ou parâmetros hematológicos. Embora o EPVB seja pouco discriminatório entre o dengue não grave e o grave, uma associação significativa entre o espessamento da vesícula biliar e extravasamento de plasma já foi identificado por diferentes autores, assim como fizemos. Em conclusão, durante os surtos de dengue, a identificação do espessamento da parede da vesícula biliar através de um procedimento não-invasivo e a beira do leito é um marcador confiante para o pronto reconhecimento de potenciais casos graves. Palavras-chave: Dengue; vesícula biliar; ultrassonografia. ix ABSTRACT Dengue fever is an acute febrile illness, whose causative agent is a virus of the genus Flavivirus. It is an arbovirus transmitted to humans by the mosquito Aedes aegypti and has the potential to cause explosive epidemics in tropical and subtropical regions. Are known, currently, four types (DEN-1, DEN-2, DEN3 and DEN-4), whose subsequent infections can cause severe forms of dengue, presenting with capillary leakage, bleeding and / or specific commitment of certain organs (such as hepatitis, myocarditis, encephalitis). Early identification of potentially serious dengue frames, by detecting minimal effusions, for example, has a direct impact on patient survival. Ultrasonography is a safe diagnostic method widely used in industrialized countries. It is a relatively inexpensive equipment compared with other imaging methods such as computed tomography (CT) and Magnetic Resonance (MR). Once installed the system is noninvasive and easy to operate, requires little patient preparation and can be performed at the bedside. In a dengue epidemic, when the ultrasound shows wall thickening of the gallbladder (alithiasic cholecystitis), pleural effusion or ascites in patients with febrile thrombocytopenia, the diagnosis of severe dengue should be considered. Thus, in order to characterize the imaging findings including alithiasic cholecystitis, visceromegalies and effusions in hospitalized patients with dengue. We performed a retrospective cross-sectional study, which lasted two months, during an epidemic of dengue occurred in the city of Manaus, from ultrasound exams performed on patients hospitalized in the Tropical Medicine Foundation Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). We collected data from 190 patients with suspected dengue in March-April 2011, including upper abdominal ultrasound, laboratory tests (hematology, biochemistry and serology). We collected blood samples and serum ELISA, PCR and NS1. We excluded 72 patients and 31 of 190 patients did not confirm the diagnosis of dengue, either by PCR or serology positive NS1. 118 patients were included in the study, and, according to the classification of the World Health Organization (WHO) 1997, 76 patients had classic dengue, 42 had dengue hemorrhagic fever and shock syndrome had no hemorrhagic dengue. According to the WHO classification of 2009, 87 patients x had severe dengue, 31 had dengue shock and had no dengue shock. 54 were confirmed through PCR/NS1 and 64 had presumptive diagnosis of dengue with positive ELISA. Regarding the ultrasound findings, 23 patients (19.5%) had hepatomegaly, 56 (47.5%) had thickening of the gallbladder wall greater than 3 mm, of which 03 were posting membrane, 15 (12.7 %) had pericholecystic liquid, 47 (39.8%) had ascites and 40 (33.9%) had pleural effusion. In general thickening of the gallbladder wall (EPVB) shows a progressive increase between days 3-8 of illness, critical phase of dengue. It has been shown in the ROC curve point to discriminatory EPVB not serious and severe dengue (ROC curve = 0.65, confidence interval 95% [CI]: 0.53 -0.76. All 118 patients enrolled developed a complete recovery during hospitalization and no deaths or need for intensive care were observed in this series. It was the first time in Manaus that other infections which may also affect the gallbladder were systematically excluded. In this series of cases, the EPVB was significant and independently associated with age ≤ 31 years, pregnancy, presence of bleeding, presence of cavitary effusion. The tests showed no correlation with blood biochemical or hematological parameters. EPVB Although little is discriminating between severe and non-severe dengue, a significant association between the thickening of the gallbladder and plasma leakage has been identified by various authors as well as we did. In conclusion, during dengue outbreaks, identification of thickened gallbladder wall through a noninvasive procedure and border the bed is a confident marker for the early recognition of potential severe cases. Keywords: Dengue; gallbladder; ultrasonography. xi LISTA DE ABREVIATURAS Anti-HBc IgM – Anticorpos produzidos contra antígenos do nucleocapsídeo (core) HBV CAL – Colecistite aguda alitiásica ELISA – Teste imunoenzimático EPVB – Espessamento da parede da vesícula biliar FHD – Febre hemorrágica do dengue FMT-HVD – Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado HAV – Hepatite A HBsAg – Determinante antigênico na superfície do HBV HBV – Hepatite B HCV – Hepatite C IgM – Imunoglobulina M MPV – Volume plaquetar médio NS1 - Teste rápido de antígeno para dengue OMS - Organização Mundial da Saúde OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde RM - Ressonância magnética SCD – Síndrome do choque do dengue TC – Tomografia computadorizada VB – Vesícula biliar US – Ultrassonografia RT-PCR – Reação da transcriptase reversa em cadeia de polimerase xii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Países/áreas de risco da transmissão do dengue, 2008........... 02 Figura 2 - Número médio de casos de dengue e febre hemorrágica do 03 dengue relatados pela Organização Mundial da Saúde em países que reportaram o dengue, 1955-2007................................................................ Figura 1 (artigo) - Diagrama de fluxo de pacientes excluídos e incluídos 53 na análise, com a respectiva classificação da OMS (1997 e 2009) e do tipo de dengue confirmado laboratorialmente............................................. Figura 2 (artigo) - Aspectos ultrassonográficos do espessamento da 54 parede da vesícula biliar em pacientes adultos com dengue (inserido no artigo científico)........................................................................................... Figura 3 (artigo) – Histograma do espessamento da parede da vesícula 55 biliar (em mm) de acordo com o número de dias do início do dengue........ Figura 4 (artigo) - Desempenho de espessamento da parede da 56 vesícula biliar para diferenciar dengue grave de não-grave em pacientes adultos (curva ROC) ................................................................................... xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Correlação entre achados ultrassonográficos entre pacientes 57 infectados com dengue confirmados e presumidos com sinais de alarme (Manaus, Brasil, 2011)................................................................................ Tabela 2 - Parâmetros epidemiológicos e clínicos entre pacientes 58 infectados com diagnóstico de dengue confirmados e presuntivos com sinais de alarme, sem ou com espessamento da parede da vesícula biliar (Manaus, Brasil, 2011)........................................................................ xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................……………….. 1.1 Epidemiologia geral............................................................................... 1.2 Quadro clínico........................................................................................ 1.3 Vesícula biliar………….......................................................................... 1.4 Complicações do dengue...................................................................... 1.5 Ultrassonografia no estudo do dengue.................................................. JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 01 01 11 16 20 24 28 2. OBJETIVOS............................................................................................ 2.1 Objetivo geral ....................................................................................... 2.2 Objetivos específicos............................................................................. 29 29 29 3. PACIENTES E MÉTODOS..................................................................... 3.1 Desenho do estudo............................................................................... 3.2 População de estudo............................................................................. 3.3 Considerações éticas............................................................................ 3.4 Instrumentos de coleta dos dados......................................................... 3.5 Análise dos resultados.......................................................................... 30 30 30 32 33 33 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 35 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 60 6. ANEXOS ................................................................................................. ANEXO A - Registro do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)............................................................................................................ ANEXO B - Termo de dispensa do consentimento livre e esclarecido........ ANEXO C – Ficha clínica dengue................................................................ ANEXO D – Questionário colecistite alitiásica entre pacientes com dengue......................................................................................................... 65 66 67 68 69 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Epidemiologia geral Dengue é uma doença febril aguda, cujo agente etiológico é um vírus do gênero Flavivirus. É uma arbovirose transmitida ao homem pela picada do mosquito Aedes aegypti. São conhecidos, atualmente, quatro tipos virais: DEN1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 (1). O número de casos de dengue é grande: os últimos estudos estimaram que entre 2,5 e 3,6 bilhões de pessoas vivam em áreas de risco, acima de 230 milhões de infecções e milhões de casos de febre do dengue, acima de 2 milhões de casos de doença severa e 21.000 mortes anuais. 60% destes relatos são provenientes das Américas, predominantemente da América Latina onde a doença tem reaparecido devido à reinfestação pelo vetor Aedes aegypti após um período de erradicação (1-3). São fatores responsáveis pelas epidemias de dengue o crescimento desordenado explosivo da população, sistema de saúde público inadequado, controle vetorial pobre e aumento de viagens comerciais, militares e de negócios a áreas endêmicas (4). A prevenção primária do dengue por meio de atividades de controle de vetores em todo o mundo teve sucesso limitado. Atualmente, não existe vacina para prevenir o dengue, nem há um tratamento antiviral. No entanto, a prevenção secundária para reduzir a mortalidade através da intervenção clínica precoce tem melhorado substancialmente reduzido a taxa de mortalidade por dengue grave de 10-20% para 1% em alguns países nas últimos duas décadas (5). Os vários tipos virais de dengue são transmitidos a seres humanos através do repasto sanguíneo por mosquitos infectados do gênero Aedes, 2 principalmente, Ae. aegypti. Este mosquito é uma espécie tropical e subtropical largamente distribuída ao redor do mundo, não sendo comuns em locais com temperaturas abaixo de 10ºC e relativamente incomum em regiões acima de 1.000 metros do nível do mar. As epidemias também podem ser atribuídas ao Aedes albopictus, Aedes polynesiensis e várias espécies de Aedes scutellaris complex. Cada uma destas espécies tem uma ecologia particular, comportamento e distribuição geográfica peculiar (1). Dengue é, portanto, uma doença viral transmitida por vetor, em mais rápida expansão no mundo com um número estimado de 50 milhões de infecções anualmente em todo o mundo e aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas vivendo em países endêmicos (Figura 1), 500.000 casos de Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) e 22.000 óbitos, principalmente em crianças. Algo em torno de 98,5% dos casos das Américas foram notificados pelo Brasil, que também reporta o índice mais alto de casos fatais na subregião (Figura 2) (1, 6) (7, 8). Figura 1. Países/áreas com incidência elevada de transmissão do dengue, 2012 Fonte: http://www.healthmap.org/dengue/pt/ 3 Figura 2. Número médio de casos de dengue e febre hemorrágica do dengue relatados pela Organização Mundial da Saúde em países que reportaram o dengue, 1955-2007. Número de mortes Número de países Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS), 2009 As primeiras notificações de epidemias ocorreram em 1779 e 1780 na Ásia, África e América do Norte. As ocorrências simultâneas e próximas de epidemias nos três continentes indicam que o vírus e o mosquito vetor estão distribuídos nos trópicos há mais de 200 anos. Os primeiros casos de FHD apareceram na década de 50, durante as epidemias nas Filipinas e na Tailândia (9). O mosquito transmissor é encontrado atualmente nas Américas numa extensão que vai desde o Uruguai até o sul dos Estados Unidos, tendo sido registrados surtos de grande importância em vários países, tais como Venezuela, Cuba, Brasil e Paraguai (10). A importância do estudo do dengue também está relacionada ao gasto excessivo, onde foi observado que nas Américas o valor estimado gasto é estimado em 2,1 bilhões de dólares por ano. O Brasil é o país com o maior número de casos e com mais alto custo, mas o impacto econômico do dengue é 4 alto em vários países americanos, com um custo per capita maior que dois dólares em quatro de seis subregiões americanas consideradas, tais como região Andina, Brasil, Caribe, América Central e México (11). No Brasil, os primeiros relatos de dengue foram feitos em 1846 nos Estados do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e algumas províncias do norte; em 1890 poucos casos no Paraná. Em 1981-82, após mais que 50 anos, houve um novo surgimento da doença no Estado de Roraima, na cidade de Boa Vista, onde uma epidemia envolvendo os sorotipos 1 e 4 levaram e com registro de 12.000 casos. Em Fevereiro de 1989, o vírus do dengue 2 foi isolado pela primeira vez no Brasil, na cidade Belém, Estado do Pará, de um viajante de Luanda, Angola. Em Abril de 1990, o tipo 2 entrou no Rio de Janeiro (12). Ainda em 2007 o número de casos de FHD mais que dobrou e uma alteração na distribuição da faixa etária foi relatada. Foram registrados naquele ano aproximadamente 500.000 casos de dengue e 158 mortes sendo que no ano anterior haviam sido cerca de 300.000 casos e 77 mortes. Três sorotipos comumente circulam pelo país; DENV 1 foi reintroduzido no Rio de Janeiro em 1986, DENV 2 em 1990 e DENV 3 em 2002, e a partir do Rio para o resto do país. A grande maioria dos casos de FHD no Brasil ocorreu em adultos com idade entre 20 e 40 anos, em 2007 o número anual de casos de FHD mais que dobrou em relação aos anos anteriores e uma mudança na distribuição da idade foi relatada. Em 2007, 53% dos casos ocorreram em crianças abaixo de 15 anos de idade, sendo mais comum na região Nordeste onde crianças representaram 65% dos pacientes (13) (9). Siqueira et al. realizou análise dos dados de 20 anos de dengue no Brasil que demonstrou dois períodos distintos: uma fase inicial de 1986 a 1993, caracterizada por ondas de epidemias localizadas e esporádicas nos centros urbanos e um padrão de epidemia e endemia de 1994 a 2002. No período mais tardio, diversas cidades brasileiras foram em direção à hiperendemicidade. Em 2002 o número absoluto de mortes devido a FHD (N=150) excedeu as mortes 5 por malária pela primeira vez no Brasil, demonstrando que a malária não é mais a maior endemia por vetores na região tropical. Durante aquele ano a maior epidemia já relatada, incluindo 250 000 casos na região metropolitana do Rio de Janeiro causou um grande problema de saúde pública (14). Doze estados (Ceará, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Piauí, Goiás, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e São Paulo) concentram 90% dos casos de FHD e 74% dos óbitos. Considerando toda a extensão do país, o Brasil apresenta como característica do dengue um padrão sazonal, com maior incidência nos meses mais quentes e úmidos, o que corresponde aos primeiros cinco meses do ano (janeiro a maio). Em 2006 e 2007, a Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência de dengue no país (453 e 827 por 100.000 habitantes), com incremento superior a 80% entre 2006 e 2007 (9). No Brasil a incidência da FHD é maior em adultos. Nos últimos anos, porém, um padrão diferente na distribuição por faixa etária foi observado no Estado do Amazonas, com proporção maior de ocorrência de FHD em crianças com idade inferior a 15 anos de idade e 5% ou mais em lactentes. As formas mais graves acometem mais crianças que adultos (15). Em 2002, em decorrência da introdução do DEN-3, foram registrados 794.219 mil casos, a maioria deles no Rio de Janeiro. No ano de 2007 houve uma distribuição dos casos por porte do município, 44% (191.127) ocorreram em cidades com menos de 100.000 habitantes, 27% (116.996) com população entre 100.000 e 500.000 habitantes, 16% (70.606) com população no intervalo acima de 500.000 habitantes e menos de 1.000.000 de habitantes e 13% (58.194) com população acima de 1.000.000. Em 2007 a Região Norte registrou 35.425 casos de dengue. Apesar de ser a região com menor número absoluto de casos, existem unidades federadas com altas taxas de incidência como Tocantins (1.033 casos por 100.000 habitantes), Amapá (861 casos por 100.000 habitantes) e Roraima (372 casos por 100.000 habitantes). A transmissão nesta 6 região também foi predominante em pequenos municípios, na sua maioria com população de até 100.000 habitantes. Destaca-se também a baixa transmissão ocorrida no município de Manaus, um grande centro urbano da região, com o registro de 1.658 casos, também em decorrência de ações integradas entre as instâncias do SUS (16). O primeiro grupo compreende as regiões Nordeste e Sudeste, que deteve cerca de 80% das notificações, enquanto o segundo (regiões Sul, Centro-oeste e Norte) é responsável por um número significativamente menor. O dengue encontra-se hoje presente em todos os 27 estados da Federação, distribuída por 3794 municípios, sendo responsável por cerca de 60% das notificações nas Américas. A introdução sequencial de diferentes tipos do dengue contribui para pressionar a incidência desta doença. Em 1981, os tipos DEN-1 e DEN 4 foram os primeiros a serem isolados em uma epidemia de dengue ocorrida em Boa Vista, Estado de Roraima. O tipo DEN-1 invadiu o Sudeste (Rio de Janeiro) e Nordeste (Alagoas, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais) em 1986-1987, espalhando pelo país desde então, com as entradas dos tipos DEN-2 em 19901991, e o DEN-3 em 2001-2002. A região Norte (45,2% do território nacional), tem clima equatorial e compreende os Estados do Acre (AC), Amazonas (AM), Roraima (RR), Rondônia (RO), Pará (PA), Amapá (AP) e Tocantins (TO), compondo uma região formada pelas grandes bacias dos rios Amazonas e Tocantins e pela floresta tropical Amazônica. Tem cerca de 14 milhões, 57,8% na área urbana, e a densidade demográfica mais baixa do país (2,9 habitantes/km2) (17). A Região Norte registrou um aumento de 49,3% no número de notificações, com 34.893 casos suspeitos de dengue no ano de 2008. Foram confirmados 109 casos de FHD, sendo que 14 destes tiveram evolução para óbito. Na comparação do número de casos notificados em 2008 com o mesmo período de 2007, por unidade federada, observa-se redução no Amapá (75,3%) e Tocantins (8,2%); e aumento no Amazonas (547,7%), Rondônia (490,5%), 7 Pará (91,3%), Acre (27,6%) e Roraima (18,2%). Os Estados do Pará e do Tocantins concentraram 62% dos casos da região. O Estado do Pará notificou 11.068 casos, com maior número nos municípios de Santarém - 929 (8,4%), Parauapebas - 857 (7,7%) e Oriximiná - 790 (7,1%). Foram confirmados 39 casos de FHD, com 10 óbitos, correspondendo a uma taxa de letalidade de 25,6%. O Estado do Amazonas notificou 5.117 casos suspeitos de dengue, com 88,7% dos casos (4.537) concentrados em Manaus. Foram confirmados 61 casos de FHD, com 4 destes evoluindo para óbito. Os Estados do Acre, Roraima e Amapá notificaram 1.003, 980 e 701 casos respectivamente. Foi confirmado um caso de FHD no Acre e 3 no Amapá, todos com evolução para cura (18). A introdução deste mosquito na cidade de Manaus ocorreu em 1996 e a primeira epidemia começou em Janeiro de 1998, totalizando 29.033 casos com os tipos DENV 1 e DENV 2. A cidade apresenta condições que favorecem o vetor, como urbanização precária, grande número de invasões, características topográficas locais com áreas de cruzamentos pequenos e fatores climáticos, tais como alta temperatura, umidade e índices elevados de chuva (19) (13). O primeiro caso de dengue autóctone foi registrado na última semana de março de 1998, quando então ocorreu a primeira epidemia de dengue na cidade. 508 casos foram notificados e o sorotipo responsável foi o DENV-1. A segunda epidemia ocorreu em 2001, estando presentes os sorotipos DENV-1 e DENV-2. A frequência da febre hemorrágica do dengue/síndrome do choque do dengue em 2007 foi elevada, principalmente no grupo de 5 a 14 anos (20). Em 2002, foi isolado pela primeira vez o DENV 3 e em 2008 o DENV 4. No estudo de Costa et al., foram analisadas 138 amostras de Aedes aegypti pela técnica de RT-PCR, para identificação dos sorotipos do vírus dengue circulantes na cidade de Manaus durante o período de dezembro de 2005 a dezembro de 2006. Foi encontrada uma prevalência de 53% para o sorotipo 3 do vírus dengue em Manaus. Esse elevado percentual de infecção pelo DENV 3 demonstrou uma 8 importante circulação desse sorotipo na cidade em populações naturais de mosquitos adultos no período de estudo (21). Ainda em Manaus o DENV-4 foi detectado em 3 amostras pela cultura do vírus, RT-PCR e sequenciamento genético em pacientes febris agudos, no período de Janeiro de 2005 a Junho de 2007. Foi identificada ainda a coinfecção entre DENV-3 e DENV-4 (22). Ainda em relação a Manaus houve um deslocamento para faixas etárias mais jovens o que assinala a gravidade da situação, já que as crianças são mais susceptíveis ao extravasamento plasmático, por apresentarem permeabilidade aumentada (23, 24). Seguindo uma tendência de aumento do dengue no Brasil, nos primeiros meses de 2011, houve um novo surto desta enfermidade na cidade de Manaus com cerca de 40.000 casos, afetando moradores de todas as regiões na cidade e causando a doença em gravidades distintas (25). De acordo com o Ministério da Saúde, foi realizado estudo comparativo de casos graves e óbitos por dengue de Janeiro a 16 de Fevereiro de 2010, 2011, 2012 e 2013, sendo observado um aumento no número de casos no ano de 2013 comparativamente com o ano de 2012, no entanto houve menor número de óbitos (26). 9 Figura 3. Comparativo de casos graves e óbitos por dengue de Janeiro a 16 de Fevereiro de 2010, 2011, 2012 e 2013 Fonte:Ministério da Saúde, 2013. 10 Figura 4. Comparativo de casos notificados de dengue de 1º. de Janeiro a 16 de Fevereiro de 2012 e 2013 Fonte: Ministério da Saúde, 2013. Na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado durante o período de 2004 a 2007 houve 1.548 casos notificados de dengue (27). 11 1.2 Quadro clínico A doença causada pelo DENV tem um amplo espectro clínico, que vai desde formas oligossintomáticas até quadros fatais de choque hipovolêmico, encefalite, miocardite e hepatite fulminante. Em função das alterações na epidemiologia do dengue, foram necessárias alterações da classificação descrita desde 1997 para em 2009 chegar a uma nova classificação de acordo com a OMS (28). Em 1997 a OMS classificou as infecções sintomáticas por vírus dengue em três categorias: dengue clássico, febre hemorrágica do dengue (FHD) e síndrome do choque do dengue. Houve muitos relatos de dificuldades no uso desta classificação, que foram resumidos em uma revisão sistemática da literatura (33). Foram observadas dificuldades na aplicação dos critérios de FHD no momento da avaliação clínica, juntamente com o aumento de casos de dengue clinicamente graves que não preenchiam os rigorosos critérios de FHD, o que levou ao pedido de uma nova classificação. Atualmente a classificação de 1997 continua a ser amplamente usada (1), inclusive no Brasil (28). Houve muitas críticas a respeito da classificação do dengue de acordo com a OMS (1997), em particular no que tange à subestimação de pacientes que desenvolveram choque e dengue grave (29). Portanto, seguindo as observações de um estudo multicêntrico, que foi conduzido no Sudeste Asiático e na América Latina, a OMS reviu suas diretrizes em 2009 (30, 31). A classificação do dengue, segundo a OMS, na maioria das vezes depende de critérios clínicos e laboratoriais que nem sempre estão disponíveis precocemente que em alguns casos não se enquadram na referida classificação (dengue com complicações). Esses critérios não permitem o reconhecimento precoce de formas potencialmente graves, sendo necessário o tratamento imediato. No dengue, a primeira manifestação é a febre, geralmente alta de início súbito, associada a cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retroorbitária, com presença ou não de exantema e/ou prurido. As manifestações 12 hemorrágicas podem ser observadas em todas as apresentações clinicas de dengue. Entre o terceiro e o sétimo dia do inicio da doença, surgem sinais e sintomas como vômitos importantes, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia, derrames cavitários (pleural, pericárdico, ascite), que alarmam a possibilidade de evolução do paciente para formas hemorrágicas da doença. Caracterizam o quadro de dengue grave: alterações graves do sistema nervoso; disfunção cardiorrespiratória; insuficiência hepática; plaquetopenia igual ou inferior a 50.000/mm3; hemorragia digestiva; derrames cavitários; leucometria global igual ou inferior a 1.000/mm3; óbito (32). A partir de 2009, portanto, a OMS passa a classificar o dengue em duas formas clínicas: dengue não grave (com ou sem sinais de alarme) e dengue grave, este último com perda plasmática significativa, hemorragia grave e acometimento relevante de órgãos (1). Em 2010 o Ministério da Saúde do Brasil realizou discussão acerca da viabilidade de substituição do modelo de estadiamento clínico atualmente em uso pela proposta da OMS e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). No entanto, os especialistas consideraram que o Manual de tratamento do dengue do Ministério da Saúde do Brasil traz um eficiente modelo de classificação de risco para o dengue, estadiando o paciente em quatro grupos, com sistematização da assistência, que independe da discussão de classificação final de caso. A solução para redução da letalidade parece não estar relacionada a qualidade do protocolo, e sim ao não seguimento das atuais diretrizes (28). Dengue pode ser facilmente confundida com diversas doenças, sobretudo aquelas de origem infecciosa. Fazem parte do diagnóstico diferencial: outras infecções por arbovírus, malária, leptospirose, febre tifóide, rickettsioses, doenças exantemáticas (sarampo, rubéola parvovirose, eritema infeccioso, mononucleose infecciosa, exantema súbito, citomegalovirose e outras), hepatites virais, abscesso hepático, abdome agudo, hantavirose, pneumonia, 13 sepse, infecção urinária, meningococcemia, salmonelose, gripe e semelhantes e febres hemorrágicas, doença de Henoch Schonlein. Doença de Kawasaki, púrpura auto-imune, farmacodermias e alergias cutâneas (1, 28) Para ajudar no diagnóstico diferencial das doenças febris acima descritas, inclusive o dengue, foram realizadas descrições e análises dos modelos de abordagem sindrômica para doenças febris agudas, implantados numa unidade terciária de saúde – a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, atualmente Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado - em três momentos epidemiológicos distintos (fases A, B e C), entre os anos 2001 e 2005 incluindo aqueles relativos à dengue e sua gravidade, ajudando desta forma em um melhor atendimento (33). Critérios de dengue grave segundo a OMS (2009): 1-Extravasamento plasmático acentuado levando a choque e acúmulo de fluido e estresse respiratório; 2-Hemorragia severa como avaliado pelo clínico; 3-Acometimento severo de órgãos incluindo fígado (AST ou ALT maiores que 1000), sistema nervoso central com perda da consciência, coração e outros órgãos. Sinais de alarme no dengue a- Dor abdominal intensa e contínua b- Vômitos persistentes c- hipotensão postural e/ou lipotímia d- hepatomegalia dolorosa e- hemorragias importantes (hematêmese e/ou melena) f- sonolência e/ou irritabilidade g- diminuição da diurese h- diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia i- aumento repentino do hematócrito j- queda abrupta de plaquetas k- desconforto respiratório 14 Sinais de choque a- hipotensão arterial b- pressão arterial convergente (PA diferencial < 20 mmHg) c- extremidades frias, cianose d- pulso rápido e fino e- enchimento capilar lento (>2 segundos) Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2007 Em relação aos exames laboratoriais, elevações discretas a moderadas das aminotransferases têm sido descritas com relativa frequência, na infecção pelos vírus do dengue. Embora quadros de insuficiência hepática e icterícia sejam eventos mais raros, alguns autores têm descrito casos de hepatite fulminante associados à infecção pelo vírus do dengue. Na maioria desses eventos observa-se predomínio de AST sobre ALT (34). No estudo de Wang et al. realizado em epidemia no sul de Taiwan que experimentou um surto de DENV-1 no Outono de 1988, foram avaliados 113 pacientes febris suspeitos de infecção. A análise dos dados mostrou AST sérico que havia aumentado diariamente e todos os dados estavam fora da faixa normal no 6º. dia da doença. Exames ultrassonográficos de abdome demonstraram espessamento da parede da vesícula biliar, esplenomegalia e ascite. Em alguns pacientes durante a fase aguda da doença e se recuperou completamente depois que os pacientes se recuperaram do ataque de dengue. A mudança sequencial dos níveis de transaminase sérica e os achados ultrassonográficos foram compatíveis. Estes achados podem ser usados como referência para o diagnóstico diferencial entre dengue, hepatite aguda e colecistite aguda (35). No estudo de Brito et al. foram avaliados quatorze pacientes diagnosticados com febre hemorrágica do dengue em dois hospitais privados em Recife, Pernambuco. 57% dos casos apresentaram hemoconcentração de 20% ou mais. Hipoalbuminemia foi detectada em 71% dos pacientes. A presença de 15 alteração de permeabilidade capilar pode ser detectada por hemoconcentração maior ou igual a 20%, derrame cavitário ou proteína baixa, mas na prática clínica apenas hemoconcentração tem sido rotineiramente utilizada (7). O dengue pode acometer o baço, que é frequentemente congestivo, causando hematomas subcapsulares em 15 % dos casos. Existem poucos casos relatados de hematoma esplênico, podendo ser mal interpretados devido a síndrome do choque do dengue (36). No estudo de de Souza et al., os adultos apresentaram maior frequência das formas graves da doença em relação às crianças, tendo como conclusão que há diferenças significativas nas apresentações clínicas e laboratoriais ea gravidade da doença entre adultos e crianças afetados pelo dengue (37). As crianças com dor abdominal aguda ou crônica representam um desafio diagnóstico para o médico pelo fato de não localizar rapidamente o local da dor como os adultos, sendo a colecistite uma enfermidade relativamente rara. O diagnóstico diferencial de dor no quadrante superior direito, febre e vômitos incluem: colecistite, apendicite, pancreatite, doença ulcerosa péptica e abscessos intra-abdominais, sendo o ultrassom uma ferramenta importante no diferencial (38). Existem diversos fatores que podem influenciar a gravidade da doença, incluindo fatores do hospedeiro, o sorotipo de vírus ou genótipo, diversas infecções pelo vírus, as diferenças de reatividade cruzada dos anticorpos e da resposta das células T. No entanto, quanto à faixa etária, diferenças na gravidade do dengue são mal compreendidos e dados sobre as características clínicas em pacientes adultos são limitados. Já foram feitos relatos que pessoas mais idosas têm um fator de risco maior para mortalidade com febre do dengue ou febre hemorrágica do dengue. Apesar do choque e extravasamento de plasma ser mais prevalentes em pacientes jovens, existe um aumento da frequência de hemorragia interna com o aumento da idade (24, 39-42). 16 1.3 Vesícula biliar A vesícula biliar (VB) localiza-se na fossa da superfície visceral do fígado, onde está recoberta inferior e lateralmente pelo peritoneu. A principal parte da vesícula biliar é denominada corpo. A terminação cega do corpo é denominada fundo. Varia bastante em tamanho e forma e comporta em média 30 ml (43). A US é reconhecida como uma ferramenta valiosa para detecção de cálculos biliares. Espessamento da parede da VB é vista em colecistite aguda e crônica (44). Nos últimos anos a US com escala de cinzas tem sido utilizada para detecção e confirmação de doenças da vesícula biliar. A observação de espessamento da parede da VB neste exame tem sido ocasionalmente mencionada na colecistite aguda e crônica. Inflamação aguda ou crônica da parede produz um efeito de “halo” e discreta linha por fora da VB (45). A cada ano, mais que 600.000 colecistectomias são realizadas nos Estados Unidos (46). As colecistites dividem-se em colecistites litiásicas e alitiásicas (CAL). CAL é uma inflamação aguda da vesícula biliar com ausência de cálculos. A US é recomendada como primeira modalidade de imagem pelo fato ser não invasiva, pode ser realizada a beira leito do paciente e pode ser repetida se necessário (47). A CAL pode estar presente em associação com inflamação local, queimaduras, traumas, condições pós-cirúrgicas, endocardite, vasculite e doenças sistêmicas. Existem infecções que estão relatadas com esta enfermidade, tais como dengue, mononucleose infecciosa, febre Q, malárias e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) e aqueles causados por micoplasma, estafilococos, estreptococos e organismos gram-negativos, como Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia e E. coli (48). A CAL resulta geralmente de aumento gradual na viscosidade biliar, devido a estase prolongada, que leva a uma obstrução do ducto cístico. 17 Perfusão comprometida da mucosa metabolicamente ativa da vesícula biliar pode ser contribuidora. Outros fatores como hiperalimentacão, sonda nasogástrica de demora, suporte ventilatório com pressão positiva, inúmeras transfusões, uso de aminas vasoativas e uso de analgesia por morfina têm sido implicadas. No estudo de Mirvis e al. foram analisados 40 pacientes por 2 médicos radiologistas e os achados foram divididos em critérios maiores e menores como a seguir: critérios maiores incluíam espessura de parede da vesícula biliar maior ou igual a 4 mm quando distendida por pelo menos 5 cm no eixo longitudinal e não havia evidência de ascite ou hipoalbuminemia (proteína sérica < 3,2 mg/dl), presença de líquido pericolecístico ou edema subseroso, cálculos, gás intramural, membrana mucosa irregular ou completa resposta inadequada a colecistocinina. Critérios menores incluíam a presença de bile espessa, distensão maior que 8 cm no eixo longitudinal ou 5 cm no diâmetro transverso ou uma resposta parcial (<50% decresce nas dimensões longitudinal ou transversal) após injeção de colecistocinina. O estudo era considerado positivo se incluísse o mínimo de dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores (49). CAL é a forma predominante de doença de trato biliar na criança, embora menos comum que colecistite calculosa, tendo como um dos diagnósticos diferenciais a malária, principalmente quando não realizados os exames laboratoriais e ultrassonografia, evitando desta forma possíveis complicações. (50). A CAL é definida como uma doença necroinflamatória aguda da vesícula biliar na ausência de colelitíase e tem uma patogênese multifatorial. Está presente em aproximadamente 10% (variando de 2 a 15%) de todos os casos de colecistite. Tem frequência de 0,2 a 0,4% de todos os pacientes criticamente doentes em torno de 60 anos de idade, com uma relação aproximada masculino: feminino de 2 a 3 para 1; podendo ocorrer de 1 a 50 dias após o início de um evento. Muitos achados podem ocorrer, porém de aspecto inespecífico: dor no 18 quadrante superior direito, febre, leucocitose, e testes de função hepáticos (aminotransferases, fosfatase alcalina e bilirrubina). Existem várias complicações de colecistite aguda alitiásica (gangrena, perfuração e empiema). Estes podem ocorrer de 6 a 82% dos casos, mas a maioria refere torno de 40%. O diagnóstico de colecistite aguda alitiásica é difícil pela falta de achados para estabelecê-la, sendo a US modalidade de escolha para sua avaliação a suspeita de colecistite alitiásica por ser rápida, reprodutível e portátil. Os critérios diagnósticos mais utilizados para ultrassonografia são o espessamento de parede, líquido pericolecístico ou edema subseroso, gás intramural, mucosa irregular e vesícula hidrópica. Os critérios maiores e menores estão listados a seguir na tabela. A sensibilidade e especificidade do ultrassom variam de 30 a 100% (51). São critérios ultrassonográficos para colecistite aguda alitiásica: Modalidade Critérios Diagnóstico Ultrassonografia Maior – Espessura de parede (com 2 maiores ou distensibilidade de pelo menos 5 cm maior e 2 menores no eixo longitudinal sem ascite ou hipoalbuminemia) Coleção pericolecística (halo)/edema subseroso Membrana mucosa irregular Menor – Bile ecogênica (lama biliar) Vesícula biliar hidrópica = distensão maior que 8 cm longitudinalmente ou 5 cm transversalmente (com líquido fluido) Fonte: Adaptado de Huffman et al., 2010 1 19 Colecistite aguda pode evoluir a qualquer hora em pacientes com cálculos biliares, principalmente após sintomas de cólicas biliares. Contudo, colecistite aguda alitiásica é especialmente perigosa durante doença séria ou após cirurgia grande. Relatos politraumatismo de ou colecistites agudas após cirurgias complicadas, queimaduras podem estar relacionadas. O seu desenvolvimento não é limitado a pacientes cirúrgicos ou que sofreram acidentes, ou até mesmo em unidades de terapia intensiva. Diabetes; vasculite abdominal, como o lúpus eritematoso sistêmico ou poliarterite nodosa; doença cardíaca congestiva, oclusão arterial cística, ou êmbolos de colesterol em aterosclerose severa e ressuscitação após choque hemorrágico ou doença cardíaca. Hemodiálise, câncer incluindo metástases para o porta hepatis. Pode ainda estar relacionada secundariamente a infecção durante infecção sistêmica com vários patógenos. Ocorre em infecções fúngicas disseminadas causadas por várias espécies de Candida, leptospirose sistêmica, febre tifóide, cólera e tuberculose. Também estão relatados casos em pacientes com malária, brucelose, dengue. Infecções obstrutivas são causadas por ascaridíase, cistos equinocócicos, hemobilia, cistos de colédoco e estenose ampular. Colecistites acalculosas agudas representam 50 a 70% de todos os casos em crianças. A patogênese está relacionada a estase biliar e nutrição parenteral total. Dentre as complicações estão a colecistite enfisematosa, particularmente relacionada a gangrena e perfuração (52) (53) (54). Nas pacientes grávidas o tratamento clínico é ajudado pela ultrassonografia que dá o diagnóstico de achados associados a dengue (55). Em relação ao tratamento clínico da colecistite a conduta é expectante e com tratamento clínico como no relato de caso de Nasim (2009) a conduta da colecistite alitiásica foi expectante com sucesso absoluto, sem intercorrências, sendo que a ultrassonografia foi de suma importância (56). 20 1.4 Complicações do dengue Pacientes com FHD têm febre e manifestações hemorrágicas com trombocitopenia e hemoconcentração. Alguns pacientes podem ter sangramento significativo e moderada trombocitopenia sem hemoconcentração, sendo o tratamento composto por infusão intravenosa de fluidos e monitoração repetida dos parâmetros vitais (57). Na FHD, a principal característica é o aumento da permeabilidade capilar, representada pela fuga de líquido e albumina para o espaço extravascular, levando a derrames cavitários e hemoconcetração, descrita como polisserosite, classificada em formas leves e graves, segundo critérios da OMS. A polisserosite está associada a manifestações hemorrágicas e trombocitopenia. (15, 58). Os derrames pleurais são ocasionados por um desequilíbrio entre a produção e a reabsorção do líquido pleural. Estão relacionados dentre os mecanismos da sua fisiopatogenia: elevação da pressão hidrostática intravascular, diminuição da pressão oncótica ou alteração da permeabilidade vascular. No dengue, como há uma resposta imune complexa como resposta à infecção pelo vírus, existe uma alteração da permeabilidade vascular. Há então uma saída de fluidos e proteínas, principalmente albumina, de origem vascular para o espaço intersticial e as cavidades serosas. Como não há uma reabsorção suficiente do líquido pleural, há acúmulo na cavidade pleural (40, 59, 60). No estudo de Ejaz & Khursheed foram avaliados 663 pacientes com dengue entre Janeiro de 2005 a Setembro de 2008, sendo que 354 deles (53%) não tinham queixas respiratórias, não tendo sido portanto estudados com exame radiológico específico. Dos 309 restantes, 299 (97%) fizeram radiografias de tórax e 10 (3%) fizeram ultrassonografia abdominal. O derrame pleural foi visto em 50 (16%), com 46% deles do lado direito, 18% do lado esquerdo e 36% dos dois lados (61). 21 Já no estudo de Quiroz-Moreno et al. foi realizada análise prospectiva transversal e descritiva de 132 pacientes, 21 deles como dengue clássica e 111 com Febre Hemorrágica do Dengue. Foram realizadas ultrassonografias, procurando espessamento da VB, efusão pleural e ascite. O diagnóstico de dengue foi confirmado por IgM positiva em todos os pacientes. Estatística descritiva, testes de sensibilidade e especificidade e coeficiente de contingência foram obtidos para o grau de correlação entre os achados clínicos e sorológicos presentes na FHD. Espessamento da parede da VB estava presente em 86% dos casos, efusão pleural em 66%, ascite em 60% e colecistite aguda alitiásica (CAL) em 36%. Como conclusão, observou-se que o espessamento da parede vesicular maior que 3 mm é um achado ultrassonográfico útil para confirmar casos suspeitos de FHD. O espessamento da vesícula maior que 5 mm foi bem relatado como colecistite alitiásica e a presença de líquido livre na cavidade abdominal não havia correlação com os exames laboratoriais (62). De acordo com o estudo de Statler et al., como parte de um protocolo maior para validar mudanças nos estudos para o uso de vacinas para dengue, 12 sujeitos foram infectados com vírus 1 a 4 e três sujeitos receberam placebo. A mudança foi seguida por um período de observação. Sete dos 12 sujeitos infectados com vírus do dengue evidenciaram extravasamento plasmático subclínico, incluindo ascite perihepática e periesplênica, efusão pericárdica e espessamento de parede da vesícula biliar (63). Existem estudos relativos ao abdome agudo como descrito por Shamim (2010), em que dentre 357 pacientes com dengue, 43 deles apresentavam abdome agudo. Foram incluídos 26 pacientes com CAL, sete casos de apendicite, sete com peritonite não especificada e três casos de pancreatite aguda. A FHD/síndrome do choque da dengue foi vista na pancreatite aguda e dois pacientes morreram (64). No estudo de Thulkar et al. 40 pacientes com diagnóstico presumido de FHD grau III durante uma epidemia foram documentados com exames 22 ultrassonográficos. Em 21 pacientes (53%) havia derrame pleural, espessamento da parede da vesícula biliar em 17 (43%) e ascite em 6 (15%). Os achados foram semelhantes aqueles encontrados em pesquisas prévias em crianças, embora a incidência de efusão pleural e ascite foi mais baixa nestas séries. Nem a efusão pleural nem a ascite foram aparentes ao exame clínico (65). No estudo de Srikiatkhachom et al. foram realizadas ultrassonografias diárias de abdome e região torácica direita em 158 casos suspeitos de dengue para detectar ascite, espessamento de parede da vesícula biliar e efusões pleurais. Os casos foram classificados em dengue clássico e febre hemorrágica do dengue ou outras doenças febris baseados na presença de anticorpos antidengue e evidências de extravasamento plasmático, incluindo hemoconcentração e efusão pleural detectada por radiografia do tórax. Evidência de extravasamento plasmático foi detectada em FHD começando dois dias antes da defervescência e detectada em alguns casos três dias após o início da febre. Efusão pleural foi o sinal ultrassonográfico mais comum de extravasamento plasmático (62% de febre hemorrágica da dengue um dia após a defervescência) (60). Espessamento difuso da parede da vesícula biliar é um achado inespecífico, não necessariamente relacionado a uma afecção primária da vesícula. De acordo com Setiawan et al., o espessamento da parede da vesícula biliar acima de 3 mm estava significativamente associado a casos mais graves de dengue, podendo ser usado como critério para admissão hospitalar e monitoração, e uma espessura maior que 5 mm identificava pacientes com FHD, com maior risco de desenvolver choque hipovolêmico (66). Existem quatro padrões de espessamento da parede da vesícula biliar: padrão estriado com múltiplas camadas hipoecoicas separadas por zonas ecogênicas, padrão assimétrico com tecido ecogênico projetando-se na luz vesicular, padrão de camada hipoecoica central separada por duas camadas 23 ecogênicas e padrão ecogênico uniforme. Nos pacientes com FHD predomina o padrão de espessamento estriado, decorrente de provável acúmulo de líquido entre as camadas da parede produzindo as estriações, provocada pela diminuição da pressão osmótica intravascular (67) (68) (69). No estudo de Bhatty et al. foram analisados 40 pacientes com dengue, sendo que 11 destes (27,5%) tinham CAL. O tempo médio de início dos sintomas na internação foi de 3,3 +/- 0,8 dias (variando de 02-05 dias). Três pacientes tinham ascite e um tinha efusão pleural (70). No estudo de Vabo et al. observou-se hepatomegalia em 30% dos casos de dengue, sendo a hepatomegalia dolorosa um dos indicadores de gravidade. A esplenomegalia também é um achado em exames de imagem nesta enfermidade (66). Além destas manifestações, existem aquelas atípicas, tais como alterações neurológicas como a encefalopatia, sequelas pós-infecção como amnésia, demência, psicose maníaca, síndrome de Reye e meningoenecefalite, distúrbios renais, como síndrome hemolítico urêmica e falência renal. Existem ainda eventos cardíacos, respiratórios, como a síndrome da angústia respiratória do adulto, miosite e rabdomiólise e linforeticulares (4). Injúria hepática devido a infecção pelo dengue não é incomum e tem sido descrita desde 1970. Dor no hipocôndrio direito o sintoma clínico principal é visto em 30 % dos casos. É mais comumente observada na FHD e sua magnitude não tem relação com a severidade da doença. Um aumento nas aminotransferases pode estar presente em 90 % das pessoas com infecção por dengue, com níveis de AST maiores que ALT. A icterícia na infecção por dengue tem sido associada com falência hepática e por si só é um fator prognóstico pobre (71). No estudo de Thomas et al. de 2010 os autores fizeram estudo observacional retrospectivo de pacientes com dengue admitidos no 24 departamento de emergência do Hospital Universitário Fort-de-France. 236 pacientes do sexo masculino e 297 do sexo feminino foram incluídos. O diagnóstico foi baseado na RT-PCR positiva (463 pacientes) ou a presença de IgM específica positiva ( 97 pacientes). 237 pacientes (49,5 %) apresentaram dengue sem complicações. De acordo com a WHO, 95 pacientes (17%) desenvolveram perda plasmática, incluindo 39 (7%) diagnosticados com febre hemorrágica do dengue e 10 (1,8 %) diagnosticadas com síndrome do choque do dengue (72). 1.5 Ultrassonografia no estudo do dengue A US é um método diagnóstico seguro largamente utilizado em países industrializados. É um equipamento relativamente de baixo custo quando comparado com outros métodos de imagem como Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM). Uma vez instalado o sistema, é um método não invasivo e fácil de operar, requerendo pouco preparo do paciente e podendo ser realizado a beira do leito. A OMS tem reconhecido que é necessário aumentar o nível da educação em ultrassonografia ao redor do mundo (73). A ultrassonografia no quadrante superior direito do abdome é largamente utilizada naqueles pacientes com suspeita de colecistite ou doenças do fígado e árvore biliar, sendo o método de primeira escolha em pacientes com sinais e sintomas de doenças hepáticas, da VB ou da árvore biliar (74). Em uma epidemia de dengue, quando o exame ultrassonográfico demonstrar espessamento da parede da VB, ascite, esplenomegalia e derrame pleural em paciente febril com plaquetopenia, o diagnóstico de FHD deve ser considerado (15). O entendimento da patogênese do espessamento da parede da vesícula biliar (EPVB) e a apresentação clínica é fundamental para o acompanhamento 25 adequado do paciente infectado por dengue e, quando há suspeita de colecistite acalculosa pode levar a uma colecistectomias desnecessárias, hemorragia espontânea grave, transfusão de componentes do sangue, hospitalização prolongada e até mesmo morte (75, 76) . Também é importante notar que EPVB, ascite e derrame pleural devem ser considerados resultados transitórios nos casos de dengue (68)[18]. No estudo de Mia et al. (2010) em Bangladesh todos os pacientes foram submetidos a exame sorológico para dengue IgG e IgM. Achados ultrassonográficos de dengue foram: espessamento da parede da vesícula biliar, fluido pericolecístico, hepatomegalia, fluido hepático intraparenquimatoso, esplenomegalia, aumento do pâncreas, ascite e derrame pleural e pericárdico. O estudo concluiu que ultrassonografia abdominal e torácica pode ser usado como primeira linha de modalidade de imagem em pacientes com suspeita de dengue e previsão de início ou a gravidade da doença. Inicialmente 134 pacientes foram submetidos a ultrassonografia. Entre eles, três pacientes morreram antes da confirmação sorológica, cinco pacientes se recusaram a realizar um inquérito sorológico, 24 pacientes não tinham anticorpos do dengue em estudos sorológicos e relatórios sorológicos (77). Neste estudo verificou-se que através das radiografias de tórax foram diagnosticados derrame pleural em 18 pacientes, enquanto à ultrassonografia foram dados os diagnósticos de 42 casos. Achados semelhantes foram também demonstrados em estudos anteriores onde havia também leve a moderada quantidade de ascite. Como resultado foi constatado que nem o derrame pleural nem a ascite foi compatível com a clínica, porém a ultrassonografia diagnosticou corretamente em todos os casos. Além disso, hepatomegalia foi observada em 6 pacientes e esplenomegalia em 5 exames de pacientes. Portanto, este estudo demonstra claramente a importância da ultrassonografia abdominal e torácica no diagnóstico do dengue comparando-se sempre com a clínica. Este estudo também mostra que certos achados ultrassonográficos são mais comuns no 26 diagnóstico da gravidade clínica do dengue. Obviamente, isso significa que a ultrassonografia pode também dar aos clínicos alguma idéia sobre a gravidade da doença e, assim, ajudar na gestão meticulosa dos pacientes. O estudo conclui ainda que a US pode ser usada como modalidade de imagem de primeira linha em pacientes com suspeita de dengue, para detectar os primeiros sinais sugestivos da doeça, antes de obter o teste de confirmação sorológica (77). No estudo de Motla et al. foi feita análise retrospectiva de 169 pacientes com dengue incluindo 10 critérios ultrassonográficos que foram revisados, tais como ascite, hepatomegalia, esplenomegalia, edema da parede da vesícula biliar, efusão pleural (lado direito ou esquerdo ou ambos), efusão pericárdica, coleção pericolecística, coleção perinefrética. O critério de espessamento da parede da vesícula biliar foi espessura maior que 3 mm, sendo o achado ecográfico mais comum a ascite (126, 74,6 %), seguido de edema da parede da vesícula biliar (122, 72%), hepatomegalia (78, 46,2%), esplenomegalia (66, 39,1 %) e coleção pericolecística (63, 37,3 %); 48 (28,4 %) dos pacientes demonstraram evidência de efusão pleural no lado direito, enquanto 19 (11,2 %) tiveram efusão bilateral. Nenhum dos pacientes teve efusão pleural à esquerda isolada. O estudo teve como conclusão que ascite, efusão pleuro-pericárdica e edema da parede da vesícula biliar são rapidamente adquiridos e são marcadores não invasivos de dengue que podem ser úteis antes das investigações sorológicas (78). No estudo de Jhamb et al. em um hospital terciário na Índia foi realizado estudo retrospectivo com 76 pacientes com provável dengue; incluindo 04 casos de DHF no ano de 2009. Em 39 pacientes que apresentavam dor abdominal: a ultrassonografia do abdômen foi realizada em 25 deles. Quinze destes (38%) tiveram colecistite alitiásica. Entre todas as manifestações, a dor abdominal tem sido bem descrita, mas a CAL tem sido causa frequente. Hepatomegalia e 27 esplenomegalia foram observados respectivamente em 34,2 % e 7,89 % dos casos (79). 28 JUSTIFICATIVA O presente estudo justifica-se pela alta incidência de pacientes com dengue em nossa região, em epidemias recorrentes, com prejuízo pela morbimortalidade em alguns casos. A Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) é um centro terciário de atendimento público para doenças infecciosas, localizada em Manaus, capital do Estado do Amazonas, na Amazônia Ocidental e como existem epidemias recorrentes na nossa cidade com treinamento dos profissionais desta Instituição constantemente nos casos graves, torna-se um estudo importante a US nestes pacientes. Nessa perspectiva, o uso da US enquanto método não invasivo e de uso à beira do leito para detecção de pequenos derrames cavitários e também do espessamento da parede da vesícula biliar, pode representar um avanço seguro e de baixo custo na identificação precoce de formas graves de dengue. Não há pesquisas semelhantes com série de exames ultrassonográficos de abdome com diagnóstico de espessamento da parede da vesícula biliar e achados associados desta enfermidade em nosso Estado com sinais indiretos de extravasamento capilar, além de existirem casos subnotificados de complicações abdominais causadas por esta doença infecciosa e a falta de pesquisas relacionadas a fatores prognósticos das formas graves em relação aos achados ultrassonográficos. 29 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar o processo inflamatório da vesícula biliar (espessamento da parede) como fator prognóstico de dengue grave em uma unidade terciária na cidade de Manaus, Estado do Amazonas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Identificar visceromegalias, incluindo fígado e baço, por exame ultrassonográfico de acordo com idade e sexo dos pacientes; b) Descrever os derrames cavitários identificados em pacientes com dengue e correlacionar com os achados radiológicos; c) Avaliar a associação entre espessamento da parede vesicular e os sorotipos virais de dengue; d) Descrever as manifestações clínicas e o diagnóstico ultrassonográfico de espessamento vesicular; e) Analisar estatisticamente a validade da colecistite alitiásica como marcador de prognóstico para dengue grave. 30 3. PACIENTES E MÉTODOS 3.1 Desenho do estudo Tratou-se de um estudo transversal retrospectivo com a análise de todos os pacientes hospitalizados com dengue, no período de Março a Abril de 2011, que se submeteram à realização de exame ultrassonográfico durante a hospitalização, em uma unidade terciária de assistência às doenças infecciosas do Estado do Amazonas – a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). 3.2 População de estudo Foram analisados os exames de ultrassonografia do abdome superior dos pacientes com dengue internados na FMT-HVD, independente de sexo ou idade, no período de Março a Abril de 2011, com aparelho portátil Sonosite 180 plus® (Bothell, Wisconsin, Estados Unidos) (Fotos 1a e 1b). Fotos 1a: Aparelho de ultrassonografia portátil. 1b: Transdutor convexo com frequência de 3,5 mHz. 31 Os pacientes foram avaliados de acordo com fluxograma proposto para o estudo. Critérios de inclusão: pacientes febris agudos admitidos na FMT-HVD com suspeita clínica de dengue e posterior confirmação laboratorial de infecção aguda por dengue por NS1 positivo (Platelia ® Dengue NS1 Ag Kit, Bio-Rad Laboratories, França) ou por RT-PCR. Infecção presuntiva por dengue foi considerada para os pacientes com IgM (MAC-ELISA) positivo em uma única amostra sanguínea. Critérios de exclusão: pacientes colecistectomizados, portadores de litíase biliar, portadores de hepatopatia aguda ou crônica ou de doença das vias biliares identificada durante a hospitalização, além de pesquisa de malária, febre 32 tifoide e marcadores sorológicos para HIV, Toxoplasma gondii, Epstein-Barr vírus e hepatites. Os exames ultrassonográficos dos pacientes hospitalizados com suspeita de dengue foram realizados prospectivamente pelo próprio pesquisador, por solicitação do médico-assistente e sua equipe, sistematicamente, no momento da admissão do paciente na enfermaria de dengue, segundo o protocolo de assistência estabelecido pela FMT-HVD. O pesquisador emitiu laudos dos exames, com as imagens mais relevantes, que foram anexados ao prontuário médico por ocasião da alta hospitalar. Esses prontuários médicos foram, portanto, revisados um a um, para a obtenção das informações necessárias à realização do estudo. 3.3 Considerações éticas Por se tratar de pesquisa envolvendo diretamente seres humanos, o presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da FMT-HVD, para avaliação e deliberação, conforme normas regulamentadas na Resolução No.196/96 do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO A) sob o número 1718/2011, datado de 22/07/2011. O presente estudo não fez a abordagem direta do sujeito da pesquisa, pois para a coleta das variáveis pertinentes ao mesmo foram utilizados os prontuários e fichas clínicas dos pacientes, de acordo com o protocolo de assistência aos pacientes com dengue instituído na FMT-HVD. Dessa forma, este estudo dispensou o uso de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi substituído pelo Termo de Dispensa de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO B). As melhores imagens dos exames foram selecionadas para a publicação do artigo, sempre obedecendo o preceito da não-identificação dos sujeitos da pesquisa. 33 3.4 Instrumento de coleta de dados Os dados foram coletados através de um questionário padrão para exame ultrassonográfico que contemplará as variáveis do estudo (ANEXO C). O instrumento de coleta foi um questionário estruturado para a transcrição dos dados do prontuário médico, onde estão descritas as variáveis de interesse do estudo (ANEXO D). 3.5 Análise dos resultados Foi realizada uma análise descritiva dos dados e os mesmos foram apresentados em tabelas de distribuição de frequências. Foram ainda computadas as fotos referentes dos casos de maior interesse, excluindo-se sempre o nome dos pacientes na apresentação final. O estudo incluiu a revisão sistemática dos exames de ultrassonografia do abdome superior. A análise de dados foi realizada a partir do questionário preenchido com os dados epidemiológicos do paciente incluindo idade e sexo. Foram contempladas informações sobre os sinais e sintomas clínicos, comorbidades (Diabetes mellitus, obesidade, hipertensão arterial sistêmica, perfil lipídico). Foram avaliados exames laboratoriais, dentre eles a pesquisa de plasmódio, TGO, TGP, bilirrubinas direta e indireta, fosfatase alcalina, Gama-GT, lactato, amilase, hemograma incluindo maior e menor hematócrito, maior e menor plaqueta e MPV, albumina, glicemia, creatinina e CPK. Em relação ao exame ultrassonográfico, foram avaliados, quando possível, os seguintes indicadores: medida dos lobos hepáticos direito e esquerdo, vesícula biliar com medidas da espessura da sua superfície parietal anterior, com identificação de critérios menores e maiores para colecistite, dimensões do baço, bem como identificação de derrames cavitários (pleural e 34 abdominal) e caracterização da textura ecográfica hepática e esplênica. Os dados obtidos foram comparados com os achados radiológicos, quando disponíveis, fazendo correlação e revisão com a literatura mundial, utilizando o programa Teleform® para aquisição dos dados. A análise dos dados foi realizada usando o programa SPSS, versão 16.0 para Windows (SPSS Inc.® Chicago, IL, USA). Diferenças na proporção foram calculadas se p<0,05 no teste de Fischer (corrigido pelo teste de Yates se necessário). O Odds Ratio (OR) com seu respectivo intervalo de confiança de 95% (95 % IC) foi determinado. Regressão logística foi usada para análise multivariada e para o Odds Ratio ajustado com 95% de intervalo de confiança. Uma regressão logística multivariada foi realizada para a análise de dengue severa usando uma estimativa automática antes e após. Todas as variáveis foram associadas com espessamento da parede da vesícula biliar com um nível significativo de p<0,10 na análise univariável que foram incluídos no modelo inicial. Significância estatística foi considerada se p<0,05 no teste de HosmerLemeshow. A curva ROC demonstrou a área abaixo da curva onde gerou a determinação da divisão da performance dos valores de espessamento da parede da vesícula biliar. 35 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e a discussão deste trabalho serão apresentados na forma de artigo científico, apresentado a seguir, segundo as normas de publicação da Plos Neglected Tropical Diseases, uma que vez que o artigo será submetido a esta revista. 36 Clinical Relevance of Gallbladder Wall Thickening for Dengue Severity in Adults: A Cross-Sectional Study in the Brazilian Amazon Michel de Araújo Tavares1,4, Tigran Chehuan Melo3, José Augusto Silva Onety Júnior3, Yonne Francis Chehuan Melo2, Pollyanna Moreira1, Guilherme Augusto Pivoto João2, Michele Souza Bastos1,2, Valquíria do Carmo Rodrigues Alves1, Regina Maria Pinto Figueiredo2, João Bosco Lima Gimaque2, Cintia Mara Oliveira2, Anne Cristina Gomes Almeida1, Marcus Vinícius Guimarães Lacerda1,2,3, Maria Paula Gomes Mourão1,2,3* 1 Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brazil, 2 Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Manaus, Amazonas, Brazil, 3 Universidade Nilton Lins, Manaus, Amazonas, Brazil, 4 Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas Corresponding author*: Maria Paula Gomes Mourão E-mail: [email protected] Phone/fax: + 55 92 2127 3447 37 Abstract Background Dengue fever is the most important arthropod-borne viral infection worldwide. Secondary prevention to reduce mortality through improved clinical case management has substantially lowered the mortality rate for severe dengue during the past two decades. Gallbladder wall thickening (GBWT) is a nonspecific finding often associated with more severe cases of dengue infection. Methodology/Principal Findings This study had the aim to describe the ultrasonographic findings in hospitalized adult patients with dengue infection from Manaus (in the Western Brazilian Amazon) and to correlate the GBWT with dengue severity, symptoms and laboratorial analysis. Patients from 13-84 years admitted to the emergency department at the Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) were enrolled in this study. Patients’ selection occurred during the most recent and huge dengue outbreak within the first semester of 2011. All enrolled subjects were systematically tested in order to rule out other possible etiologies for gallbladder inflammation. Abdominal ultrasound was performed by a single physician through bedside portable equipment and all other clinical and laboratorial information were retrieved from patients’ electronic files. 118 subjects were considered for analysis, 54 with confirmed and 64 with presumptive dengue infection. From all enrolled patients, 50 (42.4%) presented GBWT. GBWT was 38 significantly and independently related to: age ≤ 31 years, pregnancy, presence of bleeding, presence of any cavitary effusion, DHF classification and severe dengue classifications. Conclusions/Significance During dengue outbreaks, the GBWT identification through a non-invasive and bedside procedure is a confident marker for prompt recognition of potential severe cases. 39 Introduction Dengue fever is the most important arthropod-borne viral infection worldwide [1]. The global burden of dengue is large: latest studies estimate 3.6 billion people living in areas of risk, over 230 million infections, millions of cases of dengue fever, over 2 million cases of the severe disease, and 21,000 deaths [2]. 60% of these reports are from the Americas, predominantly Latin America where the disease has re-emerged owing to re-infestation by the dengue vector Aedes aegypti following a period of eradication [3]. Primary prevention of dengue through vector control activities has had limited success worldwide. Currently, no vaccine exists to prevent dengue nor there is an antiviral treatment. However, secondary prevention to reduce mortality through improved clinical case management has substantially lowered the mortality rate for severe dengue from 10–20% to 1% in some countries over the past two decades [4]. The main feature in severe dengue disease is the increased capillary permeability, represented by the escape of fluid and albumin into the extravascular space, leading to hemoconcentration, hypoproteinemia and cavitary effusions [5]. Gallbladder wall thickening (GBWT) is a nonspecific finding, not necessarily related to a primary disease of the gallbladder [6], but accordingly to Setiawan et al., GBWT above 3 mm was significantly associated with more severe cases of 40 dengue, and a thickness greater than 5 mm could identify dengue patients with a higher risk of developing hypovolemic shock [7]. This study had the aim to describe the ultrasonographic findings in hospitalized adult patients with dengue infection from Manaus (in the Western Brazilian Amazon) and to correlate the GBWT with dengue severity, symptoms and laboratorial analysis. Methods This is a case series study with hospitalized acute febrile patients in the Western Brazilian Amazon. Ethical considerations The study was approved by the Ethics Review Board (ERB) of the Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (protocol number 1718/2011). Study Sites and Patient Selection Patients from 13-84 years admitted to the emergency department at the Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) were enrolled in this study. FMT-HVD is a public health tertiary center for infectious diseases, located in Manaus, the capital of the Amazonas State, in the Western Brazilian Amazon. 41 Patients’ selection occurred during the most recent and huge dengue outbreak in Manaus, with more than 60,000 cases reported within the first semester of 2011. This region became recently hyperendemic for dengue in Brazil due to the simultaneous circulation of all four dengue virus serotypes [8]. Study Design This study was conducted based on the review of clinical and laboratorial data from hospital files. Patients were enrolled as cases after the review of: (1) hospital logbooks retrieved electronically from the computerized hospital records system (iDoctor®), in which demographic data from each admitted patient, a presumptive diagnosis at admission and a final diagnosis at discharge are systematically registered; (2) hospital laboratory logbooks; and (3) abdominal ultrasound reports. All enrolled subjects were systematically tested for malaria (thick blood smear), HIV (antigen detection through rapid test), Toxoplasma gondii (ELISA IgM and IgG), Epstein-Barr virus (ELISA IgM and IgG), hepatitis C (total anti-HCV), hepatitis B (HBsAg), typhoid fever (blood culture) and leptospirosis (ELISA IgM), in order to rule out other possible etiologies for gallbladder inflammation. Abdominal ultrasound was performed by a single physician through a bedside portable equipment - Sonosite® 180 Plus (Bothell, Wisconsin, United States) – with a 3.5 MHz convex transducer, during the first 24 hours of admission. The following variables were evaluated: measure of right and left hepatic lobes, 42 gallbladder wall parietal surface thickness, identification of major and minor criteria for cholecystitis, spleen size, identification of cavitary effusions (pleural and abdominal) and characterization of hepatic and splenic ultrasound texture. The blinded measures of each variable were taken and the average between them was considered for analysis. Confirmed dengue infection was assumed for subjects with positive NS1 (Platelia Dengue NS1 Ag Kit, Bio-Rad Laboratories, France) or RT-PCR [9] blood assays. Presumptive dengue infection was assumed for subjects with positive IgM (MAC-ELISA) in a single acute-phase sample [10] Data collection and definitions Data of each admitted individual were systematically retrieved from the medical charts by the same member of the study team, and included the following variables: sex, age, duration of disease (in days) prior to the admission, outcome, presence of a given acute co-morbidity or chronic disease, presence of WHOdefined dengue warning signs and the final WHO-defined dengue classification. Cases were categorized using serial clinical and laboratory data from the entire clinical course, as dengue fever (DF), dengue hemorrhagic fever (DHF), or dengue shock syndrome (DSS) using WHO 1997 classifications [11]. Dengue fever classification requires fever and at least two of the following: headache, eye pain, myalgia, arthralgia, rash, bleeding, and leukopenia. Dengue hemorrhagic fever requires all of the following: fever, platelet count ≤100,000/mm3, bleeding 43 and plasma leakage. Dengue shock syndrome is a case of DHF with either tachycardia and pulse pressure <20 mmHg or systolic blood pressure <90 mmHg. Cases were also categorized as dengue without warning signs (WS), dengue with WS, or severe dengue using WHO 2009 classification [1]. Dengue (WHO 2009) requires fever and two of the following: nausea, vomiting, rash, aches and pains, leukopenia, or any warning sign. Warning signs include abdominal pain or tenderness, persistent vomiting, clinical fluid accumulation, mucosal bleeding, lethargy or restlessness, hepatomegaly, or hematocrit rise (≥ 20%) with rapid drop in platelet count (≤100,000/mm3). Severe dengue includes severe plasma leakage, severe bleeding and/or severe organ impairment. Statistical Analysis Data were analyzed using SPSS® version 16.0 for Windows (SPSS Inc.® Chicago, IL, USA). Differences in proportion were calculated if p<0.05 in the Fisher exact test (corrected by Yates’ test if necessary). The crude Odds Ratio (OR) with its respective 95% Confidence Interval (95% CI) was determined. Logistic regression was used for the multivariate analyses and the adjusted Odds Ratios with 95% CI were also calculated. A multivariate logistic regression was performed with severe dengue as the outcome, using an automated backward and forward stepwise estimation. All variables that were associated with GBWT at a significance level of p<0.10 in the univariate analysis were included in the 44 initial model. Statistical significance was considered if p<0.05 in the HosmerLemeshow goodness-of-fit test. Receiver operating characteristic (ROC) curves showing the area under the curve (AUC) were generated to determine the discriminatory performance of GBWT values. Results From March to April 2011, 190 patients were enrolled in the study as described in Figure 1. 72 (37.9%) patients were excluded due to lack of dengue infection confirmation, detection of other concomitant infections, no identification of gallbladder during abdominal ultrasound assessment or the presence of gallbladder stones. 118 subjects were considered for analysis: 54 with confirmed dengue infection and 64 with presumptive dengue infection. Females comprised 95 (80.5%) of the cases and the median age was 31 years-old, ranging from 13 – 84. A previous co-morbidity or chronic disease was present in 27 (22.9%) of patients, and arterial hypertension was the most frequent (74.1%). The overall ultrasonographic findings are described in Table 1. The gallbladder wall thickening (GBWT) was the most frequent finding (42.4%) in this case series, followed by cavitary effusions (33%) and liver right lobe enlargement (10%). Figure 2 shows a selection of abdominal US pictures from four different severe dengue patients presenting GBWT. From all enrolled patients, 50 (42.4%) presented GBWT. Concerning WHO classifications, 50% of DHF subjects and 84% of severe dengue subjects 45 presented GBWT. Epidemiological and clinical parameters between confirmed and presumptive dengue patients are described in Table 2. GBWT was significantly and independently related to: age ≤ 31 years, pregnancy, presence of bleeding, presence of any cavitary effusion, DHF classification and severe dengue classification, as shown in Table 2. On the other hand, GBWT did not show any relation to biochemical blood tests (liver enzymes, albumin, DHL, FAL, GGT) or hematological parameters (hemoconcentration and platelet count), in this case series. In general, the GBWT shows a progressive increase between days 3 to 8 of illness, the critical phase of dengue fever, as shown in Figure 3. However, GBWT was poorly discriminatory between non-severe and severe dengue (GBWT area under the receiver operating characteristic [ROC] curve = 0.65; 95% confidence interval [CI]: 0.53–0.76), as shown in Figure 4. All 118 enrolled patients developed a complete recovery during hospitalization and no fatalities or need for intensive care management were observed in this case series. There was no significant association between the GBWT and any DENV specific serotype. Discussion There is a lot of informations on the role of sonography in dengue and dengue hemorrhagic fever [6,12,13,14]. Ultrasonographic examination has been reported 46 to reveal ascites, hepatomegaly, splenomegaly, gall bladder wall edema, perihepatic fluid collection, pericholecystic fluid collection, perinephric fluid collection, acalculous cholecystitis, sludge in gall bladder, pleura-pericardial fluid collections, and pancreatic enlargement. However, several issues regarding the radiographic findings of the disease have not yet been clearly understood with relation to clinical and serological findings [15]. The understanding of the gallbladder wall thickening (GBWT) pathogenesis and clinical presentation is crucial for the adequate management of dengue infected patient, as a suspected acute acalculous cholecystitis may lead to an unnecessary cholecystectomy, severe spontaneous bleeding, blood components transfusion, prolonged hospitalization and even death [16,17]. It is also important to notice that GBWT, ascites and pleural effusion can be considered transient findings in dengue fever [18]. The striated pattern of the enlarged gall bladder wall seems to be the more frequent one [19]. The real frequency of GBWT in dengue patients is uncertain. It may vary from 29.8% (80) to 100.0% [13], usually derived from small case series of presumptive dengue infected patients. In Manaus (Brazil) case series of 118 hospitalized adult patients, with both confirmed (NS1 and/or RT-PCR) and presumptive (single sample positive IgM) dengue infection, the overall frequency of GBWT was 42.5%. But in this case series from Manaus (Brazil), it is the first time that other infections that may also affect the gallbladder have been systematically ruled out. 47 No fatalities or need for intensive care management were observed in this case series from Manaus (Brazil) and this should be attributed to massive and repeated training of both public and private health system personnel, from all different levels of attention, in order to provide high quality of care and prompt identification of potential severe cases [21]. In this case series GBWT was significantly and independently related to: age ≤ 31 years, pregnancy, presence of bleeding, presence of any cavitary effusion, DHF classification and severe dengue classification, and this is consistent to what have already been reported [7,15,22,23]. In the present study, the GBWT did not show any relation to biochemical blood tests (liver enzymes, albumin, DHL, FAL, GGT) or hematological parameters (hemoconcentration and platelet count) and this is pretty much different from what has been described so far [18,24,25]. We hypothesize that biochemical evidences of injury may present later on disease evolution and should be more significant in severe cases. It is important to notice that, in this case series, thrombocytopenia (platelet count ≤ 100,000/mm3) was assumed as a hospitalization criteria when accompanied by any of the already described warning signs, leading to a very high frequency (98%) among our hospitalized patients (data not shown). On the other hand, hemoconcentration (≥20% variation between admission and discharge was an infrequent event (10.0% in GBWT and 13.2% non-GBWT) among adult hospitalized patients. In India, Sharma et al. analyzing hospitalized patients with 48 presumptive dengue fever have described that the longer hospitalization was the only significant difference in GBWT patients compared to non-GBWT patients [19]. Binh et al. have also noticed that GBWT was more common in patients infected by DENV-3 than those infected by DENV-1 [22]. Considering that Manaus (Brazil) has recently become an hyperendemic area for dengue fever [8] and the 2011 outbreak was mainly caused by DENV-2 and DENV-4 circulation, no association between GBWT and DENV type was observed. In this study, the GBWT showed a progressive increase between days 3 to 8 of illness, corresponding to the critical phase of dengue fever and this event has also been reported before [24]. Although GBWT is poorly discriminatory between non-severe and severe dengue, a significant association between gallbladder thickening and plasma leakage has already been identified by different authors [7,19,20,24,25], just as we did. And, despite having a low sensitivity (62%), the specificity of GBWT in severe dengue can be as high as 92% [7,25]. In conclusion, during dengue outbreaks, the GBWT identification through a noninvasive and bedside procedure is a confident marker for prompt recognition of potential severe cases. 49 Acknowledgments We thank Mrs. Raimunda Ericilda Soares de Araújo for laboratorial help with the biological samples, and Mr. Elcimar Cavalvante Neves Júnior for assistance with data management. Financial support This study was supported by grants #887/2010 (FAPEAM) and # 550120/2010-6 (CNPq). REFERENCES 1. WHO (2009) Dengue: guidelines for diagnosis, treatment, prevention and control. Geneva: World Health Organization. 2. 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Ultrasonographic aspects of the gallbladder wall thickening in adult patients with dengue fever as follows: 2a - 61-years old male patient with presumptive severe dengue infection, concomitant pleural effusion; 2b – 14years old male patient with presumptive severe dengue infection, persistent abdominal pain & vomiting, positive tourniquet test and concomitant ascitis & pleural effusion; 2c – 27-years old pregnant female (16 weeks) with confirmed severe dengue infection (positive NS1), dyspnea, epistaxis, concomitant ascitis and elevated liver enzymes; 2d – 25-years old male patient, with presumptive severe dengue infection, spontaneous gum bleeding and postural hypotension. 55 Figure 3. Histogram of gallbladder wall thickness (in mm) according to days of dengue fever onset. 56 Figure 4. Performance of gallbladder wall thickening for differentiating severe dengue from non-severe dengue infection in adult patients (ROC curve). 57 Table 1: Overall ultrasonographic findings between confirmed and presumptive dengue virus-infected patients with warning signs (Manaus, Brazil, 2011). Variable Dengue confirmed cases (N=54) n (%) Dengue presumptive cases (N=64) n (%) Total (N=118) n (%) Liver right lobe enlargement 8 (14.8) 10 (15.6) 18 (10.0) Liver left lobe enlargement 4 (7.4) 0 (0.0) 4 (3.4) Liver steatosis 5 (9.2) 6 (9.4) 11 (9.3) Spleen enlargement 6 (11.1) 0 (0.0) 6 (5.1) >3mm 21 (38.9) 29 (45.3) 50 (42.4) >5mm 17 (14.4) 25 (39.1) 42 (35.6) Striated 11 (20.4) 13 (20.3) 24 (20.3) Double layer 5 (9.2) 6 (9.4) 11 (9.3) Asymmetric 1 (1.8) 2 (3.1) 3 (2.5) Uniform 1 (1.8) 1 (1.6) 2 (1.7) 5 (9.2) 8 (12.5) 13 (11.0) 15 (27.8) 24 (37.5) 39 (33.0) Pleural effusion 14 (25.9) 20 (31.2) 34 (28.8) Ascites 8 (14.8) 12 (18.7) 20 (16.9) Gallbladder wall thickening GBWT pattern Pericholecystic fluid Cavitary effusions Legend: GBWT: Gallbladder Wall Thickening; mm: milimeters 58 Table 2: Epidemiological and clinical parameters between confirmed and presumptive dengue virus-infected patients with warning signs, without and with gallbladder wall thickening (Manaus, Brazil, 2011). Variable Patients without GBWT (N=68) n (%) Patients with GBWT (N=50) n (%) Unadjusted OR (CI95%) pvalue* Adjusted OR*** (CI95%) p-value 25 (50.0) 1.21 (0.82 – 1.80) 0.34 - - - - - - Male gender 28 (41.2) Age ≤ 31 years 27 (39.7) 33 (66.0) 1.66 (1.16 – 2.36) 0 (0.0) 4 (16.0) - <0.01 0.02** 46 (67.6) 41 (82.0) 1.21 (0.98 – 1.49) 0.08 - - 2 (2.9) 2 (4.0) 1.36 (0.19 – 9.32) 0.75 - - Persistent vomiting 13 (19.1) 6 (12.0) 0.62 (0.25 – 1.53) 0.30 - - Severe abdominal pain 44 (64.7) 37 (74.0) 1.14 (0.89 – 1.45) 0.28 - - Bleeding Liver enlargement (right lobe) by ultrasound Liver enlargement (left lobe) by ultrasound Spleen enlargement by ultrasound 46 (67.6) 44 (88.0) 1.30 (1.07 – 1.57) 0.01 - - 8 (11.8) 10 (20.0) 1.70 (0.72 – 3.99) 0.22 - - 2 (2.9) 2 (4.0) 1.36 (0.19 – 9.32) 0.75 - - 6 (8.8) 5 (10.0) 1.13 (0.36 – 3.50) 0.82 - - Any cavitary effusion by ultrasound 13 (19.1) 26 (52.0) 2.72 (1.55 – 4.74) - - 5 (7.4) 15 (30.0) 4.08 (1.58 – 10.48) - - 13 (19.1) 21 (42.0) 2.19 (1.22 – 3.95) <0.01 <0.01 <0.01 - - 17 (25.0) 25 (50.0) 2.00 (1.21 – 3.28) <0.01 3.18 (1.39 – 7.30) <0.01 45 (66.2) 42 (84.0) 1.26 (1.03 – 1.56) 0.03 2.84 (1.09 – 7.38) 0.03 Pregnancy ≥ 5 days of fever duration Jaundice Ascitis Pleural effusion Dengue hemorrhagic fever (WHO, 1997) Severe dengue (WHO, 2009) Legend: GBWT: Gallbladder Wall Thickening; OR: Odds Ratio; CI95%: Confidence Interval 95%; SD: Standard Deviation; * Chi-squared test; ** Fisher test; *** Modelling for logistic regression was performed individually using both dengue classifications, adjusted for age and duration of fever. 59 CONCLUSÕES Conclui-se desta forma que durante os surtos de dengue, a identificação de espessamento da parede da vesícula biliar, achado este que pode estar relacionado a colecistite alitiásica através de um procedimento não-invasivo e de cabeceira é um marcador confiante para o pronto reconhecimento de potenciais casos graves. Durante o estudo foram ainda encontrados pacientes com visceromegalias (hepatoesplenomegalia) e derrames cavitários, sendo portanto achados bem visibilizados por ultrassonografia. Não foi achada associação entre o espessamento da parede vesicular e os sorotipos de dengue durante o estudo, tendo sido encontradas diversas manifestações clínicas, sendo as mais comuns aquelas comumente encontradas na doença, como febre e cefaléia, além daquelas comumente encontradas nos pacientes mais graves. 60 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. (WHO) WHO. Dengue guidelines form diagnosis, treatment, prevention and control. Geneva, Switzerland2009. 2. Gubler DJ. The economic burden of dengue. Am J Trop Med Hyg. 2012 May;86(5):743-4. 3. Tapia-Conyer R, Betancourt-Cravioto M, Mendez-Galvan J. Dengue: an escalating public health problem in Latin America. Paediatr Int Child Health. 2012 May;32 Suppl 1:14-7. 4. Gulati S MA. Atypical manifestations of dengue. Trop Med Int Health. 2007;12(9):1087-95. 5. 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