Colagem Autógena em Dentes Anteriores

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CASO CLÍNICO
olagem Autógena em Dentes Anteriores
Fraturados: Um Recurso Válido na
Odontopediatria
Tooth Fragment Reattachment on Anterior Segment:
An Effective Resource in Pediatric Dentistry
Gabriel Demogalski*
Sérgio Paulo Hilgenberg*
Herley Adriano da Silva*
Ana Cláudia Rodrigues Chibinski**
Denise Stadler Wambier***
Demogalski G, Hilgenberg SP, Silva HA da, Chibinski ACR, Wambier DS. Colagem autógena em dentes anteriores fraturados: um recurso válido na
odontopediatria. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial 2006: 01-05.
Apesar das diversas técnicas restauradoras existentes e do desenvolvimento de materiais cada
vez mais eficientes estética e funcionalmente, as qualidades inerentes ao tecido dental ainda não
foram completamente mimetizadas. Por essa razão, a colagem autógena de fragmento dentário é
um procedimento tão importante na clínica odontológica diária. Neste trabalho, tal procedimento
restaurador é descrito e discutido mediante apresentação de um caso clínico.
PALAVRAS-CHAVE: Colagem dentária; Fraturas dos dentes; Estética dentária.
INTRODUÇÃO
As fraturas de dentes anteriores
permanentes são situações comuns
no consultório odontológico. Em
crianças e adolescentes, particularmente, a prevalência deste achado
clínico é de aproximadante 25%1 e
o cirurgião-dentista deve estar apto
a devolver para o paciente a estética
e função perdidas.
Nesta faixa etária, todos os esforços clínicos devem ser direcionados
para a seleção de procedimentos
tão conservadores e não-invasivos
quanto possível, uma vez que pacientes jovens apresentam variáveis
biológicas que devem ser corretamente manejadas, como câmaras
pulpares amplas, erupção dentária
passiva e indefinição do desenho
das margens gengivais.
Uma alternativa de tratamento
é a realização de restauração estética em resina composta ou coroa
protética metal-free, de acordo com
a extensão da fratura. No entanto,
apesar de toda tecnologia que
subsidia a ciência dos materiais
dentários, ainda não há um material restaurador capaz de superar as
características inerentes ao tecido
dentário. Desta forma, quando o
paciente ou seus pais apresentarem
o fragmento fraturado ao cirurgiãodentista, o procedimento restaurador ideal é a colagem autógena do
fragmento dentário.
* Acadêmico do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Rua Pontes Lemes, 62 Ponta
Grossa–PR; e-mail: [email protected]
** Especialista em Odontopediatria pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, Aluna do Mestrado em Odontologia – Área de
Concentração Clínica Integrada – Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG.
*** Professora Adjunta do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Mestre e Doutora em
Odontopediatria - Universidade de São Paulo.
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Figura 3: Fragmento dentário.
Uma paciente de 8 anos de idade
apresentou-se à clínica de Odontopediatria da Universidade Estadual de
Ponta Grossa com fratura do dente 21
de forma angular (Figura 1), resultado
de um acidente de bicicleta ocorrido
3 dias antes. Pela necessidade de um
procedimento restaurador conservador e, como a paciente portava o
fragmento (Figura 3), a terapêutica
de escolha foi a realização de uma
colagem autógena mediata.
O exame clínico inicial mostrou
uma fratura do tipo II, envolvendo
esmalte e dentina, mas sem exposição
pulpar (Figuras 1 e 2). Alterações de te-
cidos moles ou no grau de mobilidade
dental não foram detectadas. Em exame radiográfico, observou-se ausência
de alteração no espaço periodontal e
na tábua óssea adjacente. A importância da manutenção da vitalidade pulpar também foi evidenciada, já que a
rizogênese ainda não estava completa
(Figura 2). Apesar dos testes de vitalidade pulpar em dentes pós-trauma não
terem 100% de confiabilidade, o teste
realizado com gelo seco resultou em
resposta pulpar positiva.
Uma análise cuidadosa do fragmento dental indicou condições
ideais para a sua colagem (Figura 3).
Ele apresentava-se íntegro, sem cárie
ou restauração e com perda insignificante de esmalte dentário, como foi
verificado durante a prova de encaixe
no remanescente dental.
O caso clínico foi realizado com
isolamento relativo e uso de afastador
labial tipo Espandex (Jon), pois a paciente encontrava-se com os incisivos
laterais não eruptados e caninos decíduos com coroas bastante expulsivas,
o que impossibilitou a adaptação
dos grampos de retenção de isolamento absoluto. Esta modalidade de
isolamento só foi possível porque a
paciente foi devidamente orientada,
mostrando-se extremamente cooperativa durante o período de tempo que
durou o procedimento clínico.
Figura 4: Alívio interno do fragmento
dentário.
Figura 5: Aspecto interno após preparo
do fragmento.
Figura 6: Condicionamento ácido do
fragmento dentário.
Figura 1: Aspecto clínico inicial.
Considerada uma restauração biológica e conservadora, a colagem de
fragmento com a utilização dos modernos sistemas adesivos já provou ser
capaz de manter a função e a estética
do elemento dentário fraturado por
períodos superiores a 7 anos2,3.
A partir do exposto, o objetivo
deste artigo é apresentar um caso
clínico de colagem autógena realizada
na clínica de Odontopediatria da Universidade Estadual de Ponta Grossa e
discutir os principais aspectos referentes aos materiais e técnicas utilizadas,
demonstrando que a colagem autógena é um procedimento valioso para
restabelecer a forma, função e estética
em dentes anteriores fraturados.
RELATO DE CASO
Figura 2: Exame radiográfico inicial.
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O protocolo clínico utilizado foi
dividido em duas etapas. A etapa inicial
consistiu na adequação do fragmento
dental para colagem autógena. Com o
alívio interno do fragmento, removendo-se parte da dentina remanescente,
criou-se o espaço necessário para o uso
de resina flow (Fill Magic - Vivadent®)
como um agente cimentante. Esse procedimento foi realizado com a ponta
diamantada nº 2200 (KG Sorensen) em
alta rotação com refrigeração (Figuras
4 e 5). O desgaste foi o mínimo ne-
cessário, porque a remoção de toda a
dentina do fragmento altera sua translucidez e prejudica substancialmente a
estética final4. Em seguida, o fragmento
foi tratado conforme a técnica padrão
de procedimentos adesivos: profilaxia,
condicionamento com ácido fosfórico
gel a 37%, por 30 segundos no esmalte
e 15 segundos na dentina, lavagem,
secagem sem desidratar, aplicação do
sistema adesivo Unibond (Vigodent)
e fotopolimerização por 30 segundos
(Figuras 6 e 7).
A segunda etapa consistiu no
preparo do remanescente dental, seguindo o mesmo protocolo para a técnica restauradora adesiva já descrita.
Depois de preparados remanescente
e fragmento dental, a resina flow foi
inserida no alívio interno do fragmento
e o conjunto foi levado em posição
cuidadosamente (Figuras 8 a 14). Os
excessos da resina flow foram removidos com fio dental e pincel e então se
efetuou a fotopolimerização do conjunto pelas faces vestibular e palatina
Figura 7: Aplicação do sistema adesivo
ao fragmento dentário.
Figura 8: Fragmento com resina flow
antes de ser levado ao remanescente
dentário para colagem.
Figura 9: Aspecto clínico inicial.
Figura 10: Condicionamento ácido do
remanescente dental.
Figura 11: Aplicação do sistema adesivo
no remanescente dentário.
Figura 12: Aspecto do remanescente
dentário após polimerização do sistema
adesivo.
Figura 13: Fragmento levado ao
remanescente dentário. Nota-se o
excesso da resina flow utilizada como
agente de cimentação.
Figura 14: Aspecto imediatamente após
término do procedimento restaurador.
Figura 15: Aspecto clínico uma semana
após colagem de fragmento.
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por um período de 60 segundos para
cada face. Como a adaptação do fragmento foi satisfatória (Figuras 14 e 16),
não houve a necessidade de desgastes
adicionais na linha de fratura.
O polimento do dente restaurado
foi realizado utilizando-se o sistema
Softlex (3M) e Enhance (Dentsply), garantindo dessa forma completa lisura
de superfície (Figura 15).
DISCUSSÃO
A colagem autógena apresenta vantagens clinicas significativas
quando comparada à restauração
direta em resina composta. É um procedimento altamente conservador,
em consonância com a filosofia atual
de conservação da estrutura dentária
sadia5, que, com uma técnica simples
e rápida, devolve ao dente fraturado a
forma, contorno, textura superficial, alinhamento e cor6. Uma vez que apenas
uma pequena quantidade de material
restaurador fica exposto à cavidade
bucal (relacionado exclusivamente à
linha de fratura), a colagem autógena
oferece resultados estéticos duradouros e estáveis por longo período
de tempo. Deve-se ainda destacar
a possibilidade de recuperação da
função do elemento fraturado com
um material biológico, que atuará na
oclusão da mesma forma que os dentes adjacentes, ou seja, a guia incisal
é recuperada, mantida em esmalte
e o desgaste fisiológico se processa
naturalmente.
Uma correta avaliação inicial do
paciente e do caso clínico é fundamental para garantir sucesso a longo
prazo do procedimento de colagem.
Do ponto de vista estritamente técnico, é contra-indicada a colagem
autógena em situações onde o dente
ou o fragmento apresentam restau4
Figura 16: Exame radiográfico final,
realizado 7 dias após colagem do
fragmento dentário.
rações amplas em resina composta
e há comprometimento estético
significativo destas. Do ponto de vista
funcional, a presença de um hábito
parafuncional, como bruxismo, pode
levar ao deslocamento do fragmento
do remanescente dental7. Uma situação clínica como esta não inviabiliza o
procedimento, mas exige o tratamento
paralelo do hábito parafuncional se o
cirurgião-dentista deseja longevidade
da colagem de fragmento. Da mesma
forma, havendo alterações acentuadas
na oclusão, como overbite ou overjet
aumentados, o tratamento ortodôntico adequado pode contribuir para
a longevidade do procedimento
restaurador8.
Conforme Baratieri et al.6,9, a colagem do fragmento poderá ser imediata ou mediata. A colagem imediata
é realizada no mesmo dia em que
ocorreu a fratura. Tem como vantagem
menor desidratação do fragmento e
menor possibilidade de contaminação da dentina exposta à microbiota
bucal. Todavia, há situações em que
o procedimento imediato não pode
ser realizado, seja por impossibilidade de acesso ao cirurgião-dentista,
seja devido a lesões de tecido mole
associadas. Nesta situação, a colagem
mediata está indicada e será realizada
no momento em que as condições
estiverem propícias.
Um fator importante para o resultado estético das colagens autógenas
refere-se à hidratação do fragmento
antes de se efetuar a colagem. Na
maioria das vezes, o fragmento volta
a se hidratar na primeira semana após
a colagem, porém, algumas vezes, isso
só ocorre alguns meses, ou até mesmo,
pode não vir a ocorrer completamente10. Uma opção capaz de manter a
hidratação do fragmento dental é sua
imersão em solução fisiológica. Com
o fragmento hidratado, uma melhor
adesão e retenção é alcançada, pois a
grande maioria dos sistemas adesivos
atuais são hidrofílicos e requerem dentina úmida. Um efeito adicional, mas
também extremamente desejável que
advém da hidratação do fragmento é a
recuperação das características óticas
do esmalte.
O protocolo clínico da colagem
autógena pode sofrer variações. O
alívio interno do fragmento pode
não ser necessário se houver correta
adaptação do fragmento associado à
grande área de esmalte remanescente,
o que favorece a adesão. Caso a adaptação do fragmento não seja perfeita,
a realização de uma canaleta restrita à
linha de fratura e restaurada em resina
composta é um artifício capaz de favorecer o resultado estético final11. No
entanto, a confecção dessa canaleta
gera controvérsia na literatura, porque
há autores que preferem conservar a
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estrutura dental sadia em detrimento
da estética12.
Quanto à condição pulpar do
elemento dentário traumatizado, é
fundamental uma correta avaliação
no momento do atendimento inicial
e nas consultas subseqüentes de
proservação do tratamento8. A perda
da vitalidade de dentes traumatizados
pode ocorrer ser precoce (até três
meses após o acidente) ou tardia (até
vinte e quatro meses depois), o que
justifica um período longo de acompanhamento.
A estética final da restauração
biológica poderá variar de caso para
caso, em função do grau de desidratação apresentado pelo fragmento,
perda de estrutura dentária e da
técnica empregada para o preparo e
colagem do fragmento. A alteração de
cor também poderá ocorrer devido à
seleção equivocada da cor da resina
de fixação, que evidenciará a linha
de união7. No caso aqui descrito, a
técnica utilizada conseguiu, de forma
simples e com baixo custo, recuperar
a estética do sorriso, como verificado
na Figura 15. Todavia, consultas mensais de proservação foram agendadas
para acompanhamento clínico, não
apenas do resultado estético do
procedimento a longo prazo, mas
principalmente da condição pulpar
para que a rizogênese se complete
de maneira fisiológica.
te-se ainda o impacto emocional que
o traumatismo causou e o aspecto
psicológico positivo que a colagem
do próprio dente proporciona ao
paciente, devolvendo-lhe a autoestima e confiança para retornar ao
convívio social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A colagem do fragmento dentário é um procedimento atraumático
e parece ser o método ideal para
restaurar a coroa fraturada. Acrescen-
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dentistry. J Bras Clin Odontol Int - Edição Especial 2006: 01-05.
In the present time, Dentistry counts on several different restorative techniques and efficient materials in
giving back esthetic and function to the teeth. However, all tooth tissues qualities couldn’t been duplicate
yet. That’s why tooth fragment reattachment is such an important technique in daily clinical experience.
In this paper, this procedure is described and discussed over a clinical case presentation.
KEYWORDS: Dental bonding; Tooth fractures; Esthetics, dental.
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Recebido em: 24/11/2003
Aceito em: 04/02/2004
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