FERNANDO HAYASHI CAPÍTULO 03 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO INTRODUÇÃO O maior objetivo da Implantodontia é restabelecer a função, e um objetivo considerado secundário, mas não menos importante, é o de conseguir um resultado estético que satisfaça ao paciente. Entretanto, infelizmente, a Implantodontia está longe de ser uma ciência exata e, por conseguinte, é impossível prever qual será o aspecto final do caso, não havendo garantia de resultados. No intuito de alcançar um resultado estético satisfatório e também evitar problemas de desentendimentos futuros caso o tratamento não fique ideal, é necessário realizar um minucioso diagnóstico para identificar quais casos terão maiores ou menores chances de atingir um resultado adequado, estabelecer um plano de tratamento, listando as possibilidades terapêuticas e, ainda, avisar ao paciente que é muito difícil alcançar a perfeição de resultados. É importante enfatizar que atingir a perfeição é muito difícil, pois são vários os fatores que podem contribuir para que o caso não fique perfeito. AVALIANDO A NECESSIDADE DO CASO É inegável que os avanços no campo da prótese têm repercutido em próteses sobre implantes com maior beleza e naturalidade. Entretanto, conseguir uma estética peri-implantar agradável ainda representa um grande desafio. É comum a realização de trabalhos protéticos primorosos, em que a estética do peri-implante não alcança o mesmo grau de beleza (Figuras 1 e 2). Implantes em Áreas Estéticas Figura 1 – Cicatrizador sobre implante em área demonstrando saúde e bom posicionamento. Figura 2 – Caso da Figura 1 com prótese instalada. A despeito de a prótese possuir cor, textura e naturalidade primorosas, o tecido mole peri-implantar apresenta desnivelamento vestibular e falta de papilas interproximais. Cap. 03 63 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO O primeiro fator a ser levado em consideração em um tratamento estético é a zona estética do paciente. Quando o espaço a ser reabilitado necessitar de um peri-implante harmônico devido ao fato de este ser visível na zona estética, o paciente será considerado de alta necessidade estética. Normalmente, esta necessidade está relacionada ao tipo de sorriso do paciente, que pode ser alto, médio e baixo. Assim, pode-se considerar que os sorrisos alto e médio terão alta necessidade de estética peri-implantar porque, nestes casos, o paciente demonstra a gengiva ao sorrir. O sorriso baixo representa um menor desafio por poder esconder uma imperfeição peri-implantar (Figuras 3 e 4). Outro fator importante é que se deve dar atenção não apenas para os dentes anteriores superiores, pois, como já foi dito anteriormente, existem sorrisos largos e também os sorrisos nos quais os dentes e gengiva inferiores também aparecem. Além desta avaliação do sorriso, é preciso escutar o paciente, pois ele pode aspirar um certo resultado independente do tipo de sorriso que apresenta. Por exemplo, apesar de ter um sorriso baixo, o paciente pode querer um peri-implante similar ao periodonto, talvez por achar esteticamente necessário. O paciente também pode querer evitar um problema funcional. Por exemplo, ele pode querer as papilas preenchendo os espaços para diminuir o acúmulo de detritos ou, ainda, por motivos relacionados à fonação. Ou seja, a necessidade do caso terá influência em fatores que fogem do campo estético, indo ao funcional e chegando até mesmo ao psicológico. É extremamente importante saber as expectativas do paciente, pois caso sejam muito grandes ou até mesmo irreais, deve-se avisá-lo o quanto antes que o tratamento pode ficar aquém de suas expectativas, evitando desentendimentos futuros. Cap. 03 64 Implantes em Áreas Estéticas Figura 3 – Nota-se o desnivelamento vestibular do tecido mole peri-implantar em relação à margem gengival dos dentes vizinhos. Figura 4 – Apesar do problema peri-implantar mostrado na Figura 3, a paciente possui sorriso baixo tornando o problema imperceptível. Cap. 03 65 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO O PROGNÓSTICO Prever se o resultado ao final do tratamento será bom é tarefa difícil, senão impossível. O que se pode fazer é prognosticar o caso com maiores ou menores chances de que fique adequado e que sejam identificados possíveis problemas que necessitem de uma ação prévia, adjunta ou posterior à instalação dos implantes, propiciando melhores condições para que o caso tenha maiores chances de ficar satisfatório. A área a ser reabilitada pelo tratamento com implantes poderá ser a de um elemento unitário (Figura 5) ou de elementos múltiplos adjacentes (Figura 6) que possuem diferenças cruciais em termos de prognóstico e que poderão influenciar no resultado final sendo que, para os implantes múltiplos, existe uma dificuldade muito maior de se conseguir resultados estéticos satisfatórios. Desta forma, devido a esta dificuldade maior, o prognóstico dos implantes unitários e múltiplos serão tratados separadamente. Figura 5 – Ausência de elemento unitário. Cap. 03 66 Implantes em Áreas Estéticas Figura 6 – Ausência de elementos múltiplos adjacentes. AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO DOS IMPLANTES UNITÁRIOS O prognóstico estético é baseado nas condições que o paciente apresenta. Kois (KOIS, 2001; KOIS, 2004) apresentou uma classificação de cinco chaves de diagnóstico baseadas nas condições anatômicas, a qual contribui sobremaneira para o planejamento e prognóstico estético em casos com implantes unitários. Segundo o autor, o resultado final depende muito mais das condições anatômicas locais do paciente do que de uma grande habilidade do profissional, e estas cinco chaves podem servir para determinar opções de tratamento e procedimentos clínicos para um resultado desejável, além de servirem para determinar um melhor ou pior prognóstico. As cinco chaves de diagnóstico de Kois são descritas a seguir. Cap. 03 67 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO AS CINCO CHAVES DE DIAGNÓSTICO DE KOIS Chave 1: Posição relativa do dente As posições ápico-coronal, vestíbulo-lingual e mésio-distal do dente condenado, além da posição da margem gengival, influenciam a arquitetura final da mucosa peri-implantar. A margem gengival do dente condenado pode estar em posição nivelada, apical ou coronal em relação à do dente contralateral (Figuras 7, 8 e 9). Figura 7 – Nesta situação, as margens gengivais dos dentes estão em harmonia com as dos dentes contralaterais. Caso um dos dentes esteja condenado, é possível que a margem peri-implantar fique em posição mais apical em relação à margem gengival do dente contralateral, prejudicando a estética do caso. Figura 8 – A margem gengival do incisivo central esquerdo (21) está em posição apical em relação à do contralateral. Caso o dente esteja condenado e um implante seja instalado, esta situação pode levar a uma recessão de margem ainda maior. Cap. 03 68 Implantes em Áreas Estéticas Os casos ideais são aqueles nos quais o dente condenado apresenta a margem gengival em posição coronal àquela do dente contralateral. Isto porque, após a extração do dente, a posição coronal da margem pode compensar a perda de volume de tecido mole e duro (ARAÚJO & LINDHE, 2005; ARAÚJO & LINDHE, 2009) que ocorre após a exodontia e, além disso, após a ativação do implante, pode ocorrer uma retração apical de margem em pelo menos 1mm (SMALL & TARNOW, 2000). Outro fator importante é que, diferentemente do que se acreditava no passado, esta retração não pode ser evitada pela instalação de um implante imediatamente após a exodontia (ARAÚJO et al., 2005). Os casos nos quais a margem gengival do dente condenado encontra-se no mesmo nível ou em posição mais apical em relação à do contralateral têm prognóstico pior, pois possuem maior risco de recessão. No entanto, pode-se melhorar o prognóstico através da extrusão ortodôntica. A extrusão ortodôntica, quando realizada de forma lenta, consegue fazer o complexo periodontal migrar para coronal. Figura 9 – Este é o caso ideal para a exodontia do elemento 21, pois a margem gengival em posição coronal em relação à do contralateral diminui o risco de que haja um desnivelamento de margem ao final do tratamento com implante. Cap. 03 69 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO No sentido vestíbulo-lingual, deve-se atentar para os casos em que o dente condenado esteja vestibularizado, uma vez que a tábua óssea vestibular pode estar muito delgada, aumentando as chances de uma recessão ainda maior da margem peri-implantar após a exodontia (Figura 10 A,B). Em contrapartida, caso o dente esteja lingualizado, este risco é menor, pois, neste caso, a tábua óssea vestibular é mais espessa e, por conseguinte, não só o risco de ela reabsorver após a extração é menor, mas também o risco de recessão da margem. Cap. 03 70 Implantes em Áreas Estéticas Figura 10 A,B – Quando o dente estiver vestibularizado, existe um risco ainda maior de recessão de margem devido ao fato de o osso nesta área ser muito delgado, aumentando também o risco de um desenvolvimento de um defeito de rebordo, não só pelo menor potencial de reparação da lâmina vestibular, mas também pela própria injúria tecidual causada pela técnica de exodontia. Cap. 03 71 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO No sentido mésio-distal, atenção deve ser dada para a espessura do osso interproximal, pois caso este seja muito fino, existe um maior risco de reabsorção pós-extração, havendo maiores chances de perda da altura de papila interdental, pois além do suporte advindo da inserção conjuntiva, ela também se apóia em osso (Figura 11). O ideal é que a espessura do osso interproximal seja de pelo menos 1,5mm para que tenha menores chances de reabsorção após a exodontia. Outro Figura 11 – Entre os elementos 21 e 22, a lâmina óssea interproximal é delgada. Neste caso, muito cuidado deve ser tomado, pois existe um maior risco de reabsorção da crista após um procedimento cirúrgico de exodontia do(s) elemento(s) 21 e/ou 22. Cap. 03 72 Implantes em Áreas Estéticas fator a se considerar é o de que caso haja perda de espaço interproximal ao ponto que o implante fique a uma distância menor que 1,5mm do dente vizinho, pode ocorrer a reabsorção da crista óssea proximal devido ao fenômeno comum de reabsorção óssea em torno dos implantes, que ocorre após a ativação do implante correlacionada à formação de seu espaço biológico (BERGLUNDH & LINDHE, 1996; TARNOW et al., 2000) (Figura 12). AC Figura 12 – Caso o espaço entre duas raízes seja pequeno, a instalação de um implante pode comprometer as papilas devido à reabsorção das cristas ósseas porque é comum ocorrer uma reabsorção em forma de taça (amarelo) ao redor da plataforma protética. Cap. 03 73 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO Chave 2: Forma do periodonto Os arcos parabólicos formados pelas margens gengivais e papilas interproximais podem ter maior ou menor altura. Esta altura é medida de uma linha que tangencia os zênites de dentes vizinhos até o vértice da papila. Normalmente, os pacientes que apresentam dentes mais triangulares possuem arcos e papilas mais altas, ao passo que aqueles com dentes mais quadrados têm arcos e papilas mais baixas (Figura 13 A,B). Entre os dentes triangulares, as papilas interdentais têm maior altura devido à maior distância da crista óssea interproximal ao ponto de contato (TARNOW et al., 1992) (Figura 14 A,B). Figura 13 A,B – Pacientes com dentes triangulares (representação à esquerda) terão arcos parabólicos mais altos e papilas mais altas e volumosas (amarelo), ao contrário dos pacientes com dentes quadrados (representação à direita). Figura 14 A,B – O ponto de contato influencia na altura das papilas gengivais. As papilas preencherão o espaço interproximal entre os dentes caso a distância da crista óssea interproximal até o ponto de contato seja menor que 5mm (TARNOW et al., 1992). Cap. 03 74 Implantes em Áreas Estéticas As implicações clínicas da forma do periodonto são negativas para o tratamento com implante quando o paciente possui um dente condenado cujos arcos côncavos regulares sejam altos, pois tal condição aumenta o risco de perda de altura ou volume de papila após a exodontia, e a prótese deve ter forma mais quadrada para mascarar a diminuição da papila, o que gera uma assimetria capaz de prejudicar a estética do caso (Figura 15 e 16). Outro fator importante é o de que as fibras gengivais não podem se ancorar no implante como fazem nos dentes. A ancoragem das fibras aos dentes permite que a papila acompanhe a linha cemento-esmalte na proximal (Figura 17). Desta forma, a papila só se mantém em uma altura mais coronal caso exista um dente vizinho ao implante. Isto ressalta a importância de que o dente vizinho ao implante tenha saúde periodontal para que a fibras continuem inseridas ao cemento radicular, ajudando na ancoragem e no suporte da papila. Além disso, nos casos dos arcos mais altos, a distância entre a plataforma do implante e as pontas das papilas será maior, fazendo com que os implantes fiquem mais “enterrados” nas proximais, o que de certa forma pode predispor a problemas relacionados à inflamação peri-implantar devido à colonização bacteriana da microfenda (Figura 18 A,B). Talvez, nestes casos os implantes escalopados (Figura 19 A,B) tenham vantagens, pois suas topografias proximais são mais coronais. Entretanto, tais implantes ainda apresentam resultados controversos, como perda óssea acima do normal e problemas inflamatórios cujas causas precisam ser elucidadas (NOWZARI et al., 2006; KAN et al., 2007; NOWZARI et al., 2008). Cap. 03 75 AVALIAÇÃO E PROGNÓSTICO ESTÉTICO Figura 15 – Implante instalado em espaço unitário. Notar a proximidade do implante ao dente. Figura 16 – Caso referente à radiografia da Figura 15. O dente 21 teve sua porção distal mais quadrada devido ao menor volume de papila. Provavelmente a proximidade do implante ao dente tenha contribuído para uma menor altura de papila, além do fato de que este paciente também possui dentes triangulares, o que aumenta as chances de formação de um espaço negro pela falta de papila. Figura 17 – As papilas gengivais são sustentadas pelas fibras colágenas (em amarelo) que estão inseridas no cemento radicular. Já para o implante, as fibras (em vermelho) não se inserem sobre ele, tendo um trajeto paralelo à sua superfície. Isto faz com que as papilas tenham uma maior altura sustentada pela presença de um dente com saúde periodontal. Cap. 03 76 Implantes em Áreas Estéticas Figura 18 A,B – Quando os arcos forem altos, os implantes ficarão mais “enterrados” em relação às papilas interproximais. Nos casos dos implantes mais apicais, pode ocorrer contaminação entre o implante e o sistema de prótese, sendo este um espaço de difícil descontaminação , o que pode prejudicar a saúde peri-implantar da área. Figura 19 A,B – Em teoria, os implantes escalopados (à direita), os quais possuem plataforma com altura diferenciada em relação às faces livres e proximais, poderiam diminuir este “enterramento” da plataforma, diminuindo também a reabsorção óssea. Entretanto, estes implantes necessitam de mais estudos. Cap. 03 77