UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE

Propaganda
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na
avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a
intervenção dos “Terapeutas da Alegria”
VANESSA ROMANIO TAX
Itajaí (SC), 2007
VANESSA ROMANIO TAX
CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na
avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a
intervenção dos “Terapeutas da Alegria”
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel
em Psicologia da Universidade do Vale do
Itajaí.
Orientadora: MSc. Giovana Delvan Stühler
Itajaí (SC), 2007
Dedico este trabalho à minha mãe e minha
irmã,
que
sempre
me
ajudaram
e
estiveram ao meu lado, e são meus
exemplos do que é ser uma boa pessoa.
Tudo o que eu sou hoje é resultado do
imenso amor que vocês me deram. Eu as
admiro muito e quero retribuir todo esse
carinho com o meu amor e eterna gratidão.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me abençoado ao me fazer encontrar pessoas
maravilhosas, que me ensinam e me fazem progredir sempre.
À minha mãe, Gilmarize Romanio, minha maior mestra, que me ensina a ser melhor
e ter determinação sempre, por isso consegui realizar mais essa etapa em minha vida.
Agradeço ao Francisco Pêssego pela preocupação comigo, pelas caronas e compras de
última hora, e por cuidar bem da minha mãe.
À minha irmã, Joyce Romanio, que mesmo longe se faz muito presente, através de
seus conselhos e exemplo, me direcionando ao caminho certo. Agradeço ao meu cunhado,
Guilherme Fontanella, que sempre alegra nosso espírito quando está por perto e é meu
irmão de coração.
Agradeço ao meu namorado e amigo, Thiago Dias Miranda, não somente pelo
carinho, atenção, paciência e amor, mas por sempre estar ao meu lado, inclusive na coleta
de dados desta pesquisa – me motivando, orientando, acreditando e me fazendo acreditar
em minha capacidade. Te amo muito!
Ao meu pai, Claudius Julius Lancelot Tax (que eu amo muito), pelo interesse e
participação em minha vida, se preocupando sempre com o meu bem-estar e felicidade.
Agradeço também a Nilda Batista, por sempre tratar a mim e a minha irmã com carinho, e
por cuidar tão bem do meu pai.
Agradeço também às minhas avós, Maria de Lurdes Romanio e Ursula Tax, minhas
segundas-mães, obrigada pelas comidinhas caprichadas, pelo carinho, e principalmente por
me incluírem sempre em suas orações.
Agradeço imensamente à minha orientadora, Giovana Delvan Stühler, pessoa muito
especial, por acreditar no meu projeto e aprimorá-lo a cada dia, com muita atenção,
paciência, confiança, e sempre um reforço positivo! Muito obrigada!
Agradeço às professoras Márcia de Oliveira e Josiane Prado, que gentilmente
aceitaram participar da minha banca examinadora, e também contribuíram muito com seus
conhecimentos na realização do projeto deste trabalho.
Agradeço à todas as minhas amigas, e ao grupo Terapeutas da Alegria, por serem
amigos que me ensinam muito todo o dia e que me incentivaram a realizar este estudo.
Principalmente agradeço aos coordenadores Thatianne Abreu, Renato Cândido, Marcos
Bittencourt e Lorena Chaves – por me ajudarem e acreditarem no meu trabalho. Agradeço
também a todas as crianças e mães que participaram da coleta, e as enfermeiras do
hospital (sempre simpáticas e receptivas).
À todos, o meu muito obrigada!
5
“(...) É nesse cenário que se desenrolam cenas que mudam
nossa vida para sempre, mostrando-nos novas maneiras de
olhar o mundo, ensinando-nos que a única certeza que
temos é a do presente, quando estamos em contato com a
essência de uma criança que quer, mais do que qualquer
coisa, ser criança e brincar, apesar das adversidades.
Como é possível que isso aconteça? Palhaços e crianças
têm isso em comum: uma total falta de necessidade de
explicar ou responder tais perguntas, porque simplesmente
estão muito ocupados vivendo o presente, procurando
preenchê-lo com alegria”.
(Wellington Nogueira – Fundador dos Doutores da Alegria, 1998).
6
SUMÁRIO
RESUMO .....................................................................................................................7
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ..................................................................................11
2.1 A Instituição Hospitalar; o Psicólogo Hospitalar
e a Humanização da Assistência de saúde ...........................................................11
2.2 Hospitalização Infantil .......................................................................................16
2.3 O Brincar, a Arteterapia e o Desenho ..............................................................21
2.4 Os Terapeutas da Alegria .................................................................................28
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...........................................................................35
3.1 Participantes ......................................................................................................35
3.2 Quadro de Participantes ...................................................................................37
3.3 Instrumentos ......................................................................................................38
3.4 Procedimentos para a Coleta dos Dados ........................................................38
3.5 Procedimentos para a Análise dos Dados ......................................................39
3.6 Trajetória da Pesquisadora ..............................................................................40
3.7 Procedimentos Éticos .......................................................................................41
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................79
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................84
7 APÊNDICES ...........................................................................................................90
7.1 Apêndice A – Termo de Consentimento da Instituição ................................ 91
7.2 Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................... 92
7.3 Apêndice C – Roteiro para entrevista semi-estruturada ...............................94
7
CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais
obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”
Vanessa Romanio Tax
Orientadora: MSc. Giovana Delvan Stühler
Defesa: junho de 2007.
Resumo:
No trabalho com crianças hospitalizadas devem ser considerados alguns conceitos referentes à
humanização do ambiente hospitalar, sendo necessários esforços para diminuir o sofrimento físico e
psíquico das mesmas. O presente estudo teve como objetivo investigar possíveis mudanças na
percepção da situação de internação e nas emoções de crianças hospitalizadas, após a intervenção dos
“Terapeutas da Alegria” – grupo que utiliza o brinquedo de forma específica através da figura do
palhaço, para levar alegria, descontração e brincadeiras às mesmas. Participaram do estudo onze
crianças de 6 a 12 anos de idade (nove do sexo feminino e duas do sexo masculino), em situação de
primeira internação, independente da patologia. Foram utilizados como instrumentos de coleta de
dados: o desenho, realizado antes e após a intervenção dos “Terapeutas”, seguido de explicação da
criança sobre o mesmo, e uma entrevista com os acompanhantes. Os dados foram analisados a partir
do referencial da análise do comportamento, através da qual foi possível observar que a intervenção
dos “Terapeutas da Alegria” assume a propriedade de estímulo condicionado capaz de eliciar respostas
positivas nas crianças, competindo com o estímulo aversivo representado pelo ambiente hospitalar. Os
desenhos antes da visita dos “Terapeutas” retrataram a experiência da criança dentro do hospital, cujos
temas foram: desejo da volta para casa, procedimentos hospitalares, camas, agulhas, solidão. Os
desenhos após a visita dos “Terapeutas” apresentaram diferença na elaboração, temas e relatos mais
felizes, e a criança passou a desenhá-la na companhia de outras pessoas (como os palhaços, o
acompanhante ou a equipe de saúde). O relato dos acompanhantes destacou a importância desta
intervenção, visto que o sorriso é um indicador importante da recuperação das crianças e torna a
hospitalização mais positiva.
Palavras-chave: análise do comportamento, desenho, criança hospitalizada.
8
1 INTRODUÇÃO
Antes mesmo de conhecer as intervenções dos “Terapeutas da Alegria”,
esta atividade me interessava muito, na medida em que eu sempre acompanhava
artigos dos “Doutores da Alegria” - os quais atuam com a mesma proposta. Porém,
quanto mais me interessava por este assunto, mais eu me indagava sobre até que
ponto esses “palhaços” realmente mudavam a percepção do hospital para a criança
hospitalizada.
A oportunidade de participar do Projeto “Terapeutas da Alegria”, me fez
perceber, logo na primeira intervenção e de maneira assistemática, que os
resultados eram visíveis. Assim, analisar esta situação de forma mais sistemática
mostrou-se importante, pois estes resultados legitimariam uma intervenção
humanizadora - capaz de proporcionar à criança a oportunidade de deixar sua
condição de “ser doente”, para poder ser o que ela é, uma criança.
A internação hospitalar, por ser uma experiência desagradável, pode causar
danos irreparáveis às crianças. Durante a internação elas apresentam diferentes
reações, tornando-se muitas vezes irritáveis, agressivas, depressivas ou ansiosas.
Esta ansiedade causada pela hospitalização se manifesta através de alguns
comportamentos, incluindo o choro excessivo, o mau humor, o negativismo, a
agressão ou uma grande passividade (MITRE; GOMES, 2004).
No trabalho com pacientes infantis, principalmente, devem ser considerados
alguns conceitos referentes à humanização do ambiente hospitalar. São necessários
esforços para diminuir o sofrimento físico e psíquico da criança hospitalizada,
considerando que esta é um ser intimamente dependente de outro ser - que também
sofre com o aparecimento da enfermidade. A doença pode ser vista a partir de um
9
ataque ao organismo como um todo, inclusive no aspecto emocional, o qual fica
muito comprometido. Deve-se, portanto, atentar para alguns fatores da situação de
hospitalização, repensando modelos de atendimento que visam à minimização do
sofrimento da criança hospitalizada, tendo como princípio a promoção de saúde
(MASETTI, 2003).
Estudos sobre a atividade lúdica da criança (TOSTA, 2002; SOUZA;
CAMARGO; BULGACOV, 2003), comprovam a importância do brincar para o
desenvolvimento sensório-motor e intelectual infantil, sendo que este é um dos
instrumentos mais eficazes para diminuir o estresse. Tratando-se de crianças
hospitalizadas, o brincar tem um importante valor terapêutico, pois influencia no
restabelecimento físico e emocional, e possibilita tornar o processo de hospitalização
menos traumatizante e mais alegre - fornecendo assim, melhores condições para
que este período interfira o mínimo possível no desenvolvimento da criança.
Com o mesmo propósito do brincar, os “Doutores da Alegria”, influenciados
pela arte do “Clown Care Unit” (iniciada nos Estados Unidos por Patch Adams e
Michael Christensen), levam risadas, motivação e momentos de distração para
crianças hospitalizadas. Na cidade de Itajaí, este grupo é chamado de “Terapeutas
da Alegria” e ao contrário dos “Doutores” (formado exclusivamente por atores), é
constituído por estudantes da UNIVALI. A missão deste grupo é ser uma
organização proeminentemente dedicada a levar alegria a crianças hospitalizadas, a
seus acompanhantes e a equipe de saúde – realizando uma transformação na
realidade hospitalar - considerando que as crianças em situação de hospitalização
necessitam de ações que possam minimizar seu sofrimento (ADAMS, 1999).
Partindo dessas questões, a presente pesquisa teve como objetivo investigar
através
de
desenhos
de
crianças
hospitalizadas
e
entrevistas
com
os
10
acompanhantes das mesmas, a percepção da situação de internação e as respostas
emocionais das crianças antes e após a visita dos “Terapeutas da Alegria”. Optou-se
pelo desenho, por este ser uma das formas utilizadas pela criança para expressar
suas emoções e sua compreensão do momento vivenciado, conforme sua etapa de
desenvolvimento.
A apresentação deste estudo seguirá a seguinte ordem: na primeira parte, o
embasamento teórico, no qual os temas sobre a instituição hospitalar, o psicólogo
hospitalar, a humanização da assistência de saúde, a hospitalização infantil, o
brincar no hospital, a arteterapia e sobre a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”
são abordados. Em seguida, os aspectos metodológicos, os quais descrevem os
métodos que foram utilizados para a coleta dos dados, assim como a metodologia
utilizada na análise e discussão dos resultados. No capítulo seguinte, a
apresentação e discussão dos resultados, e para finalizar, nas considerações finais,
buscou-se identificar os dados mais significativos deste estudo.
11
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 A Instituição Hospitalar; o Psicólogo Hospitalar e a Humanização da
Assistência de saúde
A palavra hospital tem origem no latim hospitalis, derivado de hospitalidade,
que significa hospedaria ou albergue. Os hospitais surgiram na antiguidade e sua
existência esteve associada a serviços religiosos - em templos que egípcios, gregos
e babilônios dedicavam às divindades protetoras da saúde, e que funcionavam
também como escolas de medicina ou de tratamento de pessoas enfermas. Até o
final do século XVII, o hospital não era um instrumento terapêutico, mas sim um
lugar destinado à exclusão, pois confinava todos os segmentos da população
considerados nocivos para a sociedade: como loucos, prostitutas, pobres, além de
pessoas doentes que estavam destinados à morte – visando à salvação da alma
destes, e não a cura (BALLONE, 2005).
Somente a partir das descobertas de Pasteur, com o advento da medicina
higiênica e a associação desta com a disciplina, o hospital foi transformado em um
espaço eminentemente médico, um dispositivo essencialmente de cura, onde a
morte passa a ser negada, escamoteada – sendo vista como um fracasso da
instituição médica (CREPALDI, 1999).
Atualmente, a função hospitalar abrange desde mecanismos de promoção
de saúde preventiva até os cuidados de reabilitação e a possibilidade de propiciar
um final da vida com qualidade. Entre estes extremos, o hospital também possui
funções como efetuar diagnósticos, permitir a cura, orientar a comunidade sobre os
cuidados com a doença, assistir aos familiares dos doentes e, também, executar
12
pesquisas no campo da saúde, as quais possibilitam um aperfeiçoamento
profissional (PETROFF, 2004).
É válido destacar que a qualidade de vida num hospital não significa apenas
ter uma atenção diferenciada por parte dos funcionários, mas primeiramente, ter
recursos que garantam as necessidades básicas dos pacientes do hospital. Neder
(2003) destaca esse fator ao discutir a qualidade de vida na instituição hospitalar,
sendo que esta qualidade implica em que saúde, educação e subsistência digna,
pelo menos, estejam recebendo a devida consideração, incluindo as necessidades
básicas como alimentar, vestir e habitar.
Segundo o Ministério de Saúde (1999), o hospital é parte integrante de uma
organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à
população assistência médica sanitária completa, tanto curativa como preventiva,
sob quaisquer regime de atendimento, inclusive o domiciliar, cujos serviços externos
irradiam até o âmbito familiar, constituindo-se também, em centro de educação,
capacitação de Recursos Humanos e de Pesquisas em Saúde, bem como de
encaminhamento
de
pacientes,
cabendo-lhe
supervisionar
e
orientar
os
estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente.
O hospital moderno, tecnologicamente avançado, busca a terapêutica, com
vigor e afinco cada vez mais diferenciados, negligenciando então, quase que
rotineiramente, o caráter humano dos sujeitos que necessitam de cuidados em
função de estarem acometidos por uma doença (CREPALDI, 1999).
O trabalho do psicólogo tem adquirido, nos últimos anos, reconhecida
importância na promoção de saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas
vinculadas a instituições hospitalares (envolvendo ações de prevenção, ações
educativas e a própria intervenção), atendendo à demanda de pacientes e
13
população institucional. Entretanto, essa prática ainda está sendo construída, já que
foi somente a partir do final do século XX (e no Brasil a partir da década de 60) que
psicólogos começaram a atuar em hospitais (MYIAZAKI et al, 2001; STARLING,
2001; GORAYEB; GUERRELHAS, 2003).
A demanda sempre existiu, mas passou a ser valorizada quando surgiram
psicólogos preparados e habilitados para atuar junto aos pacientes, seus familiares e
profissionais envolvidos no atendimento do doente. Conforme Campos (1995), a
relevância do desenvolvimento dos Serviços de Psicologia no âmbito hospitalar veio
ao encontro da necessidade de minimizar o sofrimento gerado pelo adoecimento,
pelo impacto do diagnóstico - às vezes grave e sem prognóstico de cura - e pela
diversidade de tratamentos por vezes prolongados e dolorosos. Os atendimentos
realizados pela Psicologia Hospitalar visam dar apoio e suporte psicológico tanto ao
paciente quanto aos familiares e à equipe de profissionais da saúde que, na maioria
das vezes, necessitam de um espaço onde possam expressar as suas mais diversas
dificuldades.
A atuação do psicólogo juntamente com a criança busca minimizar o impacto
da hospitalização, na medida que o significado da doença para a mesma pode
depender de fatores como: idade, natureza da doença, habilidade da criança para
compreender o fenômeno, experiência anterior e situação familiar. O psicólogo pode
estar favorecendo o desenvolvimento infantil, através do brincar e outras atividades,
para ajudar e permitir às crianças expressarem seus sentimentos, e assim facilitar a
intervenção da equipe de saúde. Assim, torna-se necessário, primordialmente,
incentivar o compartilhar de sentimentos e promover a autodescoberta, para que a
criança possa reconhecer, aceitar e expressar suas emoções (ANGERAMI-CAMON,
2001; GABARRA; NIEWEGLOWSKI, 2005).
14
Chiattone (2003) pontua que no trabalho em Pediatria, o psicólogo atuará
tentando diminuir o sofrimento da criança quando: ela teme um exame ou
medicamento; quer falar de si, da doença e da família; chora pela ausência dos
familiares; precisa de orientação para entender o processo de hospitalização e os
procedimentos ao qual será submetida (tal como cirurgias e tratamentos invasivos);
quando há necessidade de repouso, dieta ou controle de líquidos; precisa
permanecer em isolamento; a permanência no hospital é prolongada ou ocorrerá
com freqüência; quando se torna apática e não-comunicativa; não recebe visitas;
sente-se insegura, angustiada ou precisa eliminar e esclarecer fantasias e medos;
torna-se rebelde e agressiva com a equipe ou demais adultos; quer falar sobre a
morte; é um paciente em fase terminal; apresenta condutas anormais ou regredidas,
e em outras situações diferenciadas. A autora acrescenta ainda que o psicólogo
deve focar-se em incentivar a criança a realizar atividades produtivas e expressivas
(tal como o brincar) e que diminuam as sensações de culpa, medo, punição,
ansiedade e abandono decorrentes da hospitalização.
O psicólogo hospitalar vem integrar a equipe do hospital, juntamente com
outros profissionais, pela necessidade de tornar esse ambiente mais humanizado,
percebendo o paciente não somente como um corpo doente, e sim o vendo de forma
mais global. Pode-se dizer, então, que a crescente busca pela humanização da
assistência de saúde viabilizou também um espaço a ser conquistado pela
psicologia hospitalar (PETROFF, 2004).
A humanização do atendimento médico vem sendo muito questionada,
principalmente quando se considera a criança doente, já tão naturalmente frágil e
vulnerável. Muitas propostas surgem para tornar a Pediatria menos “dura”, menos
normativa e menos distante do ser da criança. Dando início, assim, a reivindicação
15
de algumas mudanças significativas: como a permissão para que a criança
permaneça internada com um acompanhante, e a criação de um espaço para que a
criança pergunte sobre sua doença, esclarecendo dúvidas e diminuindo a ansiedade
que poderia dificultar seu tratamento (CREPALDI, 1999).
Nesse sentido, justifica-se a reflexão sobre a humanização, que deve
considerar a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção
de saúde. Na questão da humanização no ambiente hospitalar, devemos salientar
sua importância num momento em que existe uma situação de doença, e que, por
muitas vezes, o processo de assistência ao paciente acaba sendo mecânico e
padronizado (ROLIM; CARDOSO, 2006).
Essa intenção humanizadora se traduz em diferentes proposições, tais
como: melhorar a relação médico-paciente; organizar atividades de convívio e
lúdicas, como as brinquedotecas, e outras ligadas às artes plásticas, à música e ao
teatro; implementar novos procedimentos na atenção pediátrica, na realização do
parto - o parto humanizado e na atenção ao recém-nascido de baixo peso; amenizar
as condições do atendimento aos pacientes em regime de terapia intensiva;
denunciar a "mercantilização" da medicina; criticar a "instituição total" e tantas outras
proposições (PUCCINI; CECILIO, 2004).
No Brasil, desde a homologação do Estatuto da Criança e do Adolescente
em 1990, os hospitais são obrigados a proporcionar condições para a permanência
em tempo integral de um dos pais ou responsáveis nos casos de hospitalização
infantil. Mais recentemente, o governo federal implantou uma política nacional de
humanização das instituições públicas de atendimento e promoção de saúde. Este
projeto, denominado “Humaniza-SUS”, busca aprimorar as relações entre os
usuários,
profissionais
e
comunidade,
favorecendo
a
autonomia
e
co-
16
responsabilidade dos gestores para otimizar o atendimento, tornando-o mais
acolhedor e ágil (OLIVEIRA; COLLET, 1999).
A humanização da assistência ao paciente é um ponto primordial para o
cuidado. Assim, torna-se imprescindível à organização de um ambiente sensível,
saudável, com redução das ansiedades e conflitos dos sujeitos envolvidos principalmente tratando-se da internação de uma criança (DURMAN; DIAS;
ESTEFANELLI, 2002).
2.2 Hospitalização Infantil
O período de hospitalização é uma experiência estressante para a criança,
visto que a doença envolve profundas adaptações às mudanças no seu cotidiano.
Alguns
autores
investigaram
essa
temática
(ANGERAMI-CAMON,
2004;
NICOLETTE, 2002; ROMANO, 2002; CHIATTONE, 2003; MASETTI, 2003) e
afirmam que o cenário do hospital destitui a criança de sua função: ser criança. Os
aparelhos computadorizados, as luzes que piscam, os incontáveis números de fios
que limitam o movimento da criança - o soro, transfusão de sangue, as pessoas
desconhecidas com suas roupas brancas e comportamentos estereotipados, as
crianças destituídas de suas roupas e brinquedos; de modo que todos esses
quesitos dificultam a superação da condição de ser, apenas, paciente.
Os efeitos da hospitalização no desenvolvimento da criança poderão variar
de acordo com sua faixa-etária (CHIATTONE, 2000):
•
0 a 18 meses: sensação de abandono, tensão, agitação, insegurança,
temor à aproximação, irritabilidade, apatia, estados depressivos e ansiosos,
isolamento social, transtornos da alimentação e sono;
17
•
18 meses a 3 anos: culpa pela própria hospitalização, intensa
sensação de desproteção e abandono, temor à perda de amor e à separação,
percepção concreta da doença e hospitalização afetando a vida cotidiana,
sofrimento intenso, não compreende a hospitalização, dificuldade de adaptação,
fantasias assustadoras, ansiedade diante de procedimentos, perda da autonomia,
aumento dos comportamentos de vínculo e regressão, luta para manter habilidades
adquiridas, intensa reação contra restrições da doença, agressividade;
•
3 a 6 anos: dor como punição, regressão (lambuzar-se regressivo,
recusa a mastigação, perda do controle esfincteriano, chupar o dedo), anorexia,
masturbação, retardo do ingresso na escola (aumento da dependência, raiva por ser
diferente);
•
6 a 12 anos: raiva, culpa, ressentimentos por ser diferente, interesse
pelo além da morte, reações de angústia e luto, faltas escolares, insegurança,
ansiedade, aumento das queixas físicas, diminuição de habilidades cognitivas e
capacidade de concentração, frustração de sonhos e projetos.
Desta forma, as reações da criança à doença e à hospitalização dependem
também do nível de desenvolvimento psíquico na ocasião da internação, grau de
apoio familiar, tipo de doença, tipos de procedimentos médicos utilizados e
especialmente, do repertório de habilidades de enfrentamento que a criança dispõe
(BALDINI; KREBS, 2003).
Comparando o significado de saúde e de doença na percepção de crianças,
Moreira e Dupas (2003) entrevistaram 14 crianças na escola e 13 crianças
hospitalizadas, totalizando 27 crianças. E observaram que, para essas crianças a
saúde tem um significado semelhante: representa a projeção da liberdade, bemestar, e revela as responsabilidades para possuí-la. Quanto à concepção da doença,
18
observa-se que a criança da escola tem dificuldades para compreendê-la, enquanto
a criança hospitalizada vê a doença como algo que a separa da família, dos amigos,
que ocasiona um rompimento nas suas atividades do dia-a-dia.
Assim, a criança pode vir a encarar a doença como uma agressão externa
ou uma punição, trazendo experiências traumáticas durante a hospitalização. As
crianças geralmente relatam muita culpa por realmente acreditarem que erraram e
em virtude disto estão sendo punidas, e este pode ser destacado como um fator que
causa o intenso descontrole emocional da criança hospitalizada. Sendo que,
somente quando esta entender o verdadeiro sentido do aparecimento de sua doença
poderá aliviar seus sentimentos de culpa e punição (CHIATTONE, 2003).
As crianças hospitalizadas também podem experimentar sentimentos
relacionados à perda de controle em relação à doença, somados à perda de controle
sobre seu próprio ambiente, sendo que tais sentimentos podem ter efeitos nocivos à
auto-estima e à autoconfiança do indivíduo. A possibilidade de pacientes pediátricos
perceberem que têm controle sobre o ambiente aumenta se tiverem maior
conhecimento da situação e se confiarem nas pessoas à sua volta. Quando a
presença da equipe de saúde significa algo doloroso, desagradável ou ameaçador,
as crianças apresentam padrões comportamentais de fuga e esquiva, buscando sair
da situação de internação, não se envolvendo em brincadeiras, evitando entrar em
contato com experiências novas, deixando de explorar, experimentar ou participar de
processos de tomada de decisão (DUPONT; SOARES, 2005).
Pode-se dizer que a emoção da criança hospitalizada é produto do contexto
em que ela está vivendo, da situação de sofrimento em que está inserida, pois o
contexto hospitalar e a situação de sofrimento da doença são, também, constitutivos
de suas emoções. É fato que trabalhar com emoções é uma questão fundamental
19
em psicologia, principalmente tratando-se de crianças hospitalizadas, na medida em
que elas não possuem motivação para lidar com suas emoções inerentes a situação
de hospitalização (SOUZA; CAMARGO; BULGACOV, 2003).
Um modelo de atuação clínica que se mostra eficaz é a análise do
comportamento emocional da criança hospitalizada. Esta se baseia na teoria da
aprendizagem social, partindo do pressuposto de que o ambiente, as características
pessoais e o comportamento situacional determinam uma pessoa - sendo o
comportamento um fenômeno dinâmico e em construção. Neste modelo teórico, a
emoção, o pensamento, a sensação física e o comportamento são interrelacionados, interagindo e modificando-se (STALLARD, 2004).
Um dos recursos que a análise comportamental faz uso na prática clínica é a
Análise Funcional ou Análise de Contingências. Trata-se da busca de identidade
sistemática dos determinantes do comportamento, ou seja, os eventos ambientais
antecedentes e conseqüentes que o controlam.
Interpretar um comportamento significa compreender porque ele
ocorre daquela forma e naquela situação. Para isto, não basta
observar sua topografia, mas é necessário identificar em que
situações ele ocorre e quais conseqüências produz no ambiente
(MARINHO, 1994 apud MARINHO; CABALLO, 2001 p.9).
Segundo Korpella (2002), as emoções podem estar ligadas a um ambiente,
o qual também pode provocar sensação de privacidade, controle e segurança.
Crianças se isolam ou se escondem pela necessidade de escapar de uma pressão
social, sendo que somente dos 6 aos 12 anos as crianças exploram mais o ambiente
que estão inseridas. Para muitas pessoas, as emoções se alteram de acordo com a
mudança de ambiente, podendo gerar estresse e alterações significativas de humor.
O hospital, por ser um ambiente assustador para a criança, constituí-se, de acordo
com a teoria cognitivo-comportamental, como um estímulo aversivo.
20
Estímulos
aversivos
são
aqueles
que
reduzem
a
freqüência
do
comportamento que os produzem (estímulos punidores positivos) ou aumentam a
freqüência do comportamento que os retiram (estímulos reforçadores negativos).
Frente a um estímulo aversivo, o indivíduo pode emitir comportamentos de fuga
(evitação do estímulo na presença deste) ou de esquiva (evitação quando o estímulo
aversivo ainda não está presente). Outra situação aversiva é a frustração, que
consiste na situação em que o estímulo reforçador é inacessível ao organismo por
fatores de impedimento diversos, dentre eles o fator tempo (situações em que o
indivíduo precisa esperar para receber o reforço), ou situações de conflito no qual a
opção por determinado tipo de reforço implica necessariamente na frustração de não
obter o outro. A aceitação, por outro lado, significa tolerar as emoções associadas
com um estímulo aversivo sem fugir, escapar ou atacar; ficando em contato com os
estímulos que evocam sentimentos dolorosos (RANGÉ, 2001).
Estudando o desenvolvimento psicológico da criança, Zannon (1991) discute
aspectos da intervenção comportamental no ambiente hospitalar em nosso país,
com destaque para a despersonalização dos pacientes, decorrente da cultura
hospitalar que pode ser caracterizada pelo reforçamento de comportamentos
deprimidos. Dessa forma, parece inevitável encontrar no hospital crianças com
depressão.
Na
recuperação
deste
paciente
as
condições
emocionais
e
comportamentais ajudarão em muito, não apenas no ímpeto de recuperação do
processo de hospitalização em si, mas especialmente, na forma como a doença foi
configurada e sedimentada em seu imaginário. É fundamental, portanto, criar
mecanismos para promover um ambiente que não reforce esses comportamentos e
ajude a criança a enfrentar as dificuldades da hospitalização e da doença.
21
2.3 O Brincar, a Arteterapia e o Desenho
Entre as possíveis estratégias utilizadas por crianças para enfrentar
condições estressantes encontra-se o brincar. Em todas as idades o brincar é
realizado por puro prazer e diversão, criando uma atitude alegre em relação à vida e
à aprendizagem, sendo que as atividades lúdicas e criativas são essenciais e
autênticas para a vida da criança. Através das atividades lúdicas a criança assimila
valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas de conhecimento,
exercita-se fisicamente, aprimora habilidades motoras e, também, integra-se ao
ambiente que a cerca (SANTOS, 1997; MOYLES, 2002).
O termo "brincar" é usado para definir um conjunto de atividades que se
assemelham entre si por seu caráter lúdico. Brincar na infância é o meio pelo qual a
criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus
sentimentos e pensamentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as
quais convive, por isso:
quanto mais intensa e variável for a brincadeira e o jogo, mais
elementos oferecem para o desenvolvimento mental e emocional
infantil. Através das brincadeiras as crianças vivem situações
ilusórias e aprendem a elaborar o seu imaginário, e muitas vezes até
a buscar a realização de seus desejos, mesmo que sejam
irrealizáveis (FERRAZ, 1999 apud VALLADARES, 2003, p. 24).
No ambiente hospitalar é provável que a criança experimente mais
dificuldades em se expressar do que na sua rotina diária (em casa ou na escola).
Por meio do brincar a criança se comunica com o mundo e se expressa, gerando
uma fonte de dados que propicia a compreensão do desenvolvimento infantil, na
medida
em
que
as
atividades
lúdicas
envolvem
emoções,
afetividade,
estabelecimento e ruptura de vínculo. E desta forma pode-se compreender também
a dinâmica interna infantil, já que através do brincar a criança exprime seus
22
sentimentos, realiza seus desejos, favorece seu desenvolvimento afetivo e cognitivo;
o que a ajuda a conhecer e a dominar seu próprio corpo e a manter as relações
sociais (MITRE; GOMES, 2004; MOTTA; ENUMO, 2004; VALLADARES, 2004).
Do ponto de vista da criança, o interesse e o uso da brincadeira devem-se
principalmente ao efeito imediato que têm ao se divertir e se entreter. Ao brincar no
hospital, a criança altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua
realidade cotidiana, o que pode ter um efeito positivo em relação a sua
hospitalização. Com isso, de acordo com Motta e Enumo (2004), a própria atividade
recreativa, livre e desinteressada, tem um efeito terapêutico, quando se considera
terapêutico tudo aquilo que auxilia na promoção do bem-estar da criança.
O brinquedo, no hospital, assume o significado de instrumento, com funções
específicas e formas próprias de aplicabilidade. Chiattone (2003) divide os tipos de
brinquedos em duas categorias, o brinquedo livre e o brinquedo dirigido. As
atividades com o brinquedo livre são desenvolvidas com todos os materiais que se
encontram disponíveis, em atividades que são desenvolvidas pela criança, mas
orientadas e observadas por um coordenador. As crianças se posicionam dentro das
brincadeiras diante de determinados assuntos que são orientados por um
coordenador quanto à elaboração das questões que emergirem.
As atividades com o brinquedo dirigido são previamente estruturadas e
dizem respeito ao trabalho com temas específicos, relacionados a uma problemática
que pode ser individual ou de um grupo de crianças. Estas atividades têm por
objetivo facilitar a elaboração de sentimentos em relação a uma determinada
questão e elaborar estratégias de enfrentamento. A manipulação do material está
diretamente ligada ao momento da vida das crianças e facilita a verbalização dos
sentimentos encobertos. No caso específico da aplicação de técnicas lúdicas em
23
hospitais, os brinquedos abordam temas hospitalares, como por exemplo: bonecos
que representam a família, o paciente e a equipe hospitalar; bonecos que deixam à
mostra os órgãos internos; instrumentos cirúrgicos, de exames e de procedimentos
médicos em miniaturas de plástico; maquetes de hospitais e enfermarias; carrinhos
de ambulância; roupas idênticas às da equipe; materiais utilizados pela equipe de
enfermagem; e livros de histórias em que o tema esteja ligado ao período de
hospitalização ou processo de saúde-doença (CHIATTONE, 2003).
Conte e Regra (2000) apontam que o brincar pode ajudar de várias formas
no processo psicoterapêutico, sendo que um dos recursos que oferece é identificar
como se dão às interações entre a criança e as pessoas de seu ambiente. Neste
sentido, o brincar possibilita junto ao cliente a identificação destes comportamentos
de maneira descontraída. Freqüentemente o processo de identificação e
operacionalização dos comportamentos-alvo são feitos juntos aos pais e outros
membros da família. No entanto, através do brincar a própria criança pode contribuir,
completando as informações fornecidas pelos pais.
A inclusão de brincadeiras, visando o relaxamento da criança, foi sugerida
por Löhr (1998) em seu estudo sobre a intervenção psicológica em crianças com
câncer em tratamento. A autora aponta a atividade lúdica como uma estratégia
cognitivo-comportamental, através da qual a criança pode obter um certo controle
sobre a situação a ser enfrentada. Para realizar tal controle, uma gama de atividades
podem ser benéficas, dentre elas: brincadeiras estruturadas, pintar desenhos, usar
das técnicas de relaxamento, da distração, e da construção de imagens indutoras de
relaxamento.
Para tanto, utiliza-se também a chamada Arteterapia, pois esta integra os
conhecimentos advindos da Psicologia às atividades artísticas, trabalhando com o
24
potencial terapêutico, pedagógico e de crescimento pessoal contido em todas as
formas de arte, através de técnicas expressivas e vivenciais (desenho e pintura,
colagem, modelagem e escultura, dramatização, contar histórias, música, dança e
expressão
corporal,
relaxamento
e
visualização
criativa)
para
facilitar
o
reconhecimento e desenvolvimento de potenciais, o tratamento do sofrimento
psíquico, e o autoconhecimento (VALLADARES, 2004).
Por meio destas técnicas pode-se compreender mais profundamente a vida
infantil (aspectos motores, cognitivo, perceptivo, afetivo, cultural), daí a importância
desse processo para os profissionais da Arteterapia que lidam com crianças. E o
mais relevante não é somente o produto final construído pela criança, mas toda a
trajetória do processo, através da qual podem-se captar tanto seu nível de
desenvolvimento como seu comportamento como um todo (VALLADARES, 2003).
A Arteterapia motiva a criança para exercitar sua criatividade de forma
natural, além de afastá-la do desagradável, da dor, da ansiedade, da monotonia,
propiciando a exteriorização de impulsos agressivos, medos e temores. Assim,
possibilita à criança expandir seus potenciais e recursos para que o seu
desenvolvimento transcorra de maneira saudável e integrada, desenvolvendo sua
criatividade, aumentando a sua autoconfiança e auto-estima, e facilitando sua
aprendizagem (CARVALHO, 2001).
Utiliza-se
a
Arteterapia
no
ambiente
hospitalar
por
esta
oferecer
oportunidades que levam a criança a aceitar com mais naturalidade as situações
indesejáveis, auxiliando na adaptação às rotinas hospitalares do pré-operatório e a
restabelecer o equilíbrio emocional. O trabalho com as modalidades expressivas
permite gerar um processo de organização do real e de sua criação, implicando na
transformação de significados (VALLADARES, 2004).
25
No trabalho com várias modalidades expressivas no contexto hospitalar,
destaca-se uma atividade também realizada através da Arteterapia: o desenho.
Segundo Machado (2001), antes mesmo de a criança conseguir utilizar a escrita
formal, ela representa a realidade através do desenho – que é parte constitutiva do
processo de desenvolvimento e que, portanto, acaba possuindo uma narrativa que
para o adulto muitas vezes pode não ser compreensível. Com o desenho, a criança
simboliza e expressa o que sente, questionando o mundo externo e conseguindo
lidar melhor com seus conflitos.
O desenho como atividade expressiva pode ser utilizado em crianças
hospitalizadas para revelar suas angústias, medos e pensamentos. A premissa de
que a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe de um objeto é um ponto
de concordância entre diferentes concepções teóricas sobre o desenvolvimento do
desenho. Como processos complexos, a memória e a imaginação transparecem no
desenho por meio dos esquemas figurativos dos objetos reais que fazem sentido
para a criança e que estão carregados de significação. No momento em que a
criança desenha (atividade expressiva), ela materializa em seu desenho a imagem
que criou internamente para dar conta das suas emoções, confirmando a idéia de
que, por meio da materialização, a criança conhece, organiza e elabora sua emoção
(FERREIRA, 2003).
Através do desenho infantil é possível também realizar a análise funcional.
Autores como Meyer (1997), Silvares e Meyer (2000) e Vandenberghe (2002)
mostram a importância da análise funcional, no sentido de conhecer os
procedimentos para a elaboração da mesma, identificando e operacionalizando os
comportamentos-alvo, seus antecedentes e conseqüentes e a inter-relação entre os
três, formulando hipóteses sobre esta inter-relação. A análise funcional é uma etapa
26
importante na avaliação comportamental que propiciará a decisão sobre as técnicas
e procedimentos adequados para a intervenção, estabelecendo-se assim, mudanças
comportamentais que levem o cliente a uma melhor adaptação ao seu ambiente.
A análise funcional é, então, a identificação das relações entre os eventos
ambientais e as ações do organismo. Para estabelecer estas relações deve-se
especificar a ocasião em que a resposta ocorre, a própria resposta e as
conseqüências reforçadoras. Quando as relações entre esses eventos são de
dependência temos as “contingências de reforço”. Silvares e Meyer (2000) e
Vandenberghe (2002) ressaltam a importância da identificação e operacionalização
dos comportamentos submetidos à análise funcional, na qual o desenho da criança
constitui-se em um instrumento facilitador na interação entre terapeuta e paciente.
Os autores Renzo e Castelbianco (1997) ressaltam que o desenho deve ser
considerado não apenas como uma modalidade de expressão ou de representação
da realidade, mas também como o resultado de atividade intencional envolvendo
aspectos cognitivos e emotivos no ajuste da criança com a realidade que convive.
A criança dos seis aos doze anos de idade passa por alterações
significativas em sua vida, uma vez que, nesse período, seu raciocínio apresenta-se
mais lógico: sendo que ela já compreende mais corretamente os fatos, amplia suas
relações e se distancia do convívio familiar, movendo-se no contexto social em
direção aos grupos de pares. Também o percurso evolutivo da arte infantil segue
paralelamente ao desenvolvimento geral da criança. Os desenhos de crianças nesta
faixa-etária possuem as seguintes características específicas (CARVALHO;
VALLADARES, 2006):
•
Ela simboliza o objeto de acordo com sua aparência visual. Nessa fase,
há a tendência da reprodução da realidade para os objetos, personagens, locais etc.
27
A cor também é realista, então, substitui a transparência pela opacidade e preocupase com o acabamento, deixando aparecer as proporções e a linha de contorno;
•
Aumenta a busca por detalhes e o desenho da criança mostra mais
claramente as influências das mediações sociais, históricas e culturais. Seu
cotidiano aparece mais claramente nesse universo representativo de pessoas,
animais, brinquedos, objetos, natureza, produções culturais e sociais de sua época,
como televisão, histórias em quadrinhos, desenho, jogos, brincadeiras;
•
Aparecem os planos deitados (axial e irradiante) e também há a
criação de planos e sobreposições. A criança usa a descontinuidade, o rebatimento,
a transparência, a planificação e a mudança de pontos de vista. Ela mantém a linha
de base e o céu, mas ainda não apresenta a luz, a sombra e a tridimensionalidade, é
apenas seu início;
•
O desenho da casa, por exemplo, torna-se mais objetivo e realista,
desprovido de fantasia como acontece em idade inferior, assim, normalmente a
criança, ao fazer a fachada exterior da casa, com freqüência introduz no desenho
seres humanos, objetos e a natureza. Possui uma visão mais integrativa da casa,
pois a percebe como um lar, com suas denominações de calor, proteção, e amor:
este desenho simboliza o local onde encontra afeto e segurança.
Partindo do pressuposto de que o desenho da criança externaliza sua
realidade conceituada (ou seja, o que a criança sente), e de que é esta realidade
significada pela figuração e pela palavra que acompanha e também interpreta o que
a mesma desenha, pode-se averiguar o quanto o desenho de uma criança
hospitalizada poderá demonstrar suas emoções, mesmo se estiverem em constante
modificação, pois, o que a criança desenha depende do conhecimento ativo que a
mesma possua do ambiente a ser representado (FERREIRA, 2003).
28
Finalmente, o valor narrativo do desenho tem sobretudo um significado
simbólico. Ele nos mostra a maneira como a criança, através das coisas, vive os
significados simbólicos que ela lhes atribui. É a reunião de seu mundo imaginário
que se reflete no seu desenho. O que ela não pode nos dizer de seus sonhos,
emoções, nas situações concretas, ela nos indica pelos seus desenhos (GRUBITS,
2003).
De acordo com Petroff (2004), os desenhos operam também em um nível
metafórico, tendo relação entre dois modos de expressão: o icônico e o lingüístico.
Quando são questionadas sobre o significado de seus desenhos, as crianças
freqüentemente respondem “eu não sei”; isto pode querer dizer que a criança ainda
não tem habilidade com a pintura ou desenho, como também que aquele desenho
não tem um significado lingüístico. No entanto, com o desenvolvimento da criança,
ela passa a desenhar apenas aquilo que tenha correspondência na linguagem
escrita e oral, ou seja, um significado.
2.4 Os Terapeutas da Alegria
A importância do brincar e do conhecimento de modalidades expressivas
que possam minimizar o sofrimento de crianças na situação hospitalar ganhou
relevância social principalmente a partir do trabalho do médico Patch Adams (1999),
nos Estados Unidos, cuja história pessoal foi popularizada através de filme. No
trabalho de Adams, o brinquedo é utilizado no contexto hospitalar de forma
específica, através da figura do palhaço (técnicas do teatro clown), com a função de
alegrar o ambiente e amenizar as sensações desagradáveis da hospitalização.
29
Em 1986, Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus de Nova York,
apresentava-se numa comemoração em um hospital daquela cidade, quando
solicitou uma visita às crianças internadas que não poderiam participar do evento.
Improvisando, substituiu as imagens do internamento por outras alegres e
engraçadas. Essa foi a semente do Clown Care Unit - grupo de artistas
especialmente treinados para visitar crianças internadas em hospitais dos Estados
Unidos. A partir da atuação de Christensen e Adams, o clown no hospital se
disseminou por diversas partes do mundo, tendo representantes como Wellington
Nogueira, aqui no Brasil – o fundador dos “Doutores da Alegria”, tornando-se
referência para outros conhecerem e seguirem seu trabalho (BALIEIRO, 1997).
Como já foi citado, situações críticas como a hospitalização, demandam em
alto grau de elaboração na medida em que geram ansiedade e medo em relação
aos acontecimentos nem sempre compreendidos. Nesse sentido, o humor permite à
criança explorar fatos que, por obstáculos pessoais, não são possíveis de serem
realizados de forma consciente. Tal acesso permite a liberação da energia investida
no problema, que então pode ser utilizada em outros pontos importantes na
recuperação da saúde (MACHADO; MARTINS, 2002).
Segundo Masetti (2003), a possibilidade dessa liberação se dá pela estrutura
de funcionamento dos processos humorísticos, que é descrita como análoga aos
mecanismos presentes nos sonhos e que serve de instrumento importante para lidar
com conflitos e para a manutenção do equilíbrio físico e mental. Para a autora, o
sorriso é a expressão observável de todo esse processo.
Os efeitos benéficos do riso, segundo Jara (2000), são reconhecidos por
profissionais médicos e psicólogos. Dentre estes efeitos são citados a melhora da
circulação sanguínea, o relaxamento muscular, a oxigenação dos pulmões,
30
eliminação de toxinas e produção de endorfinas, contribuindo também para o
esquecimento das experiências ruins e confiança em um futuro melhor.
De acordo com Lambert (2001), o riso promove a liberação de endorfinas,
que promovem bem estar geral, melhora a circulação e a pressão arterial e fortalece
as defesas orgânicas. O autor acredita ainda que rir e sorrir são modos de nos
expressarmos de forma agradável e exprimirmos nosso prazer de viver.
Adams (1999) relata que as tensões têm efeito na fisiologia, e que
elementos como humor, amor, surpresa, curiosidade, paixão, perdão, alegria e
entusiasmo, estimulam o sistema imunológico contra infecções, fortalecem as
células que combatem o câncer, e afetam na forma das pessoas cuidarem de si e
dos outros.
Com o objetivo de trazer o sorriso, humor, o brincar, a arte e a alegria para a
criança hospitalizada e ser um instrumento para a minimização do sofrimento
causado pela internação, existem projetos como os “Terapeutas da alegria”. Este é
um projeto de extensão da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, existente
também em Tubarão e Joinville (SC). O projeto, atualmente, é formado por quase 50
alunos da área da saúde em Itajaí, e visita semanalmente três hospitais da região: o
Hospital Universitário Pequeno Anjo, o Hospital Maternidade Marieta Konder
Bornhausen (ambos em Itajaí), e o Hospital Santa Inês (em Balneário Camboriú).
O grupo é formado exclusivamente por estudantes (sem qualquer tipo de
pretensão artística ou treinamento), os quais possuem a oportunidade de
desenvolver o espírito interdisciplinar e sensibilizado no atendimento ao paciente,
exercitando uma abordagem integral e humanizada, trabalhando voluntariamente. A
ação voluntária presente na sociedade brasileira desde o século XVI ganhou novas
e importantes dimensões nos últimos dez anos, sendo que esse movimento vem se
31
caracterizando pelo crescente envolvimento de pessoas que expressam sua
solidariedade e cidadania doando seu tempo, trabalho e talento para causas sociais
(FONSECA, 2005).
Assim, utilizando a figura do palhaço que acredita ser médico ou um
“besteirologista”, o voluntário passa a fazer parte do dia-a-dia das enfermarias,
concentrando-se no presente e na construção de uma relação lúdica com as
crianças. O trabalho do palhaço é regido por uma regra fundamental, a da verdade e
transparência, o jogo é espontâneo, improvisado e baseado na troca entre ambos;
pois o palhaço aprende a viver da fantasia - da mesma maneira que a criança
(AQUINO; MARTA, 2004).
E a fim de valorizar ainda mais esta troca, os “Terapeutas” fazem uso até
mesmo de um vocabulário próprio, o qual remete a criança ao seu próprio universo:
o da imaginação e da brincadeira. Deste modo, o que era soro vira “água de coco”, o
equipo do soro é o “canudinho”, a primeira cirurgia é a “extração do mau-humor” ou
o “transplante do nariz vermelho”, assim, o ofício do palhaço passa a indicar um
novo sentido para a realidade hospitalar (FRANÇANI; ZILIOLI, 2000).
Porém, não se trata somente de recreação, já que os “Terapeutas”
trabalham com músicas temáticas (incentivando a boa alimentação, higiene e o
levantar do leito), as quais também informam sobre procedimentos invasivos (medo
de injeções e cirurgias, por exemplo), que além de alegrar o ambiente, ocasionam
conforto aos pequenos pacientes - tornando de fácil acesso, para as crianças, o
entendimento de sua rotina hospitalar, além de tornar emergentes os anseios das
mesmas (FRANÇANI; ZILIOLI, 2000).
Françani e Zilioli (2000) realizaram um estudo sobre a “Companhia do Riso”,
grupo que utiliza o mesmo tipo de intervenção dos “Terapeutas” e tem como objetivo
32
resgatar o riso da criança hospitalizada através da arte e do Teatro clown.
Observaram que a presença do palhaço no ambiente hospitalar resulta em algumas
transformações no mesmo: o espaço hospitalar tornou-se mais informal e
descontraído e a fantasia, alegria e o riso tornaram-se mais freqüentes; identificando
então uma intervenção concreta que valoriza o processo do desenvolvimento infantil.
Em um estudo sobre os clowns dos “Doutores da Graça”, Aquino e Marta
(2004) puderam compreender a visão da criança, foco do trabalho realizado pelos
palhaços doutores. Notaram que a criança troca com o palhaço experiências que
está vivendo ou já viveu, de forma a liberar suas emoções verdadeiras com a
verdade que o palhaço propõe. Os autores apontam que, na opinião das crianças, o
palhaço tem o poder de diminuir as dores das mesmas, isso porque ao brincar a
criança distrai-se e o tempo parece não existir. Pelos discursos das crianças também
foi possível perceber que estas se sentem mais fortes, por acreditarem na
brincadeira, o que lhes trás mais autonomia e liberdade. A possibilidade de controle
da criança, permitindo ou não a entrada dos palhaços em seu quarto, é mais um
fator que lhe dá autonomia e colabora para sua recuperação. Num contexto em que
não lhe é permitido dizer nada, essa condição recupera um sentimento importante
de controle da situação da doença e de seu corpo.
As mães e acompanhantes também apontaram importantes mudanças no
comportamento das crianças após as sessões denominadas “Plantões da Graça”.
Revelaram que as crianças ficaram mais alegres, sorridentes, demonstrando um
menor medo da internação. Os membros da equipe de enfermagem ressaltaram
também a importância dos “Plantões da Graça” para as mães, apontando o
envolvimento das mesmas, tendo em vista que o efeito psicológico positivo na
criança também repercute em seu acompanhante (AQUINO; MARTA, 2004).
33
Um outro estudo realizado por Machado e Martins (2002) em uma
enfermaria pediátrica de um hospital público, com nove crianças de 3 a 12 anos de
idade, teve o objetivo de verificar mudanças no comportamento e aspecto emocional
das crianças a partir de brincadeiras com o palhaço. Antes da intervenção do
palhaço, foram solicitados desenhos livres com histórias, posteriormente, promoveuse brincadeiras com o palhaço e, por fim, novo desenho e história. Desta maneira,
foram observadas alterações entre os desenhos realizados antes e depois da
intervenção em seus diversos aspectos. Sendo constatado que a intervenção
facilitou a expressão e a elaboração da ansiedade e dos conflitos advindos da
hospitalização, na medida em que as crianças puderam descarregar sua
agressividade e demonstrar uma nova forma de vivenciar a situação de
hospitalização.
Masetti (1998), também analisou desenhos e histórias de crianças
hospitalizadas antes e após a intervenção dos “Doutores da Alegria”, sendo que
estas foram divididas entre grupo-pesquisa (crianças que receberam a visita dos
palhaços) e grupo controle (crianças que não receberam a visita dos palhaços).
Concluiu assim, que o grupo-pesquisa apresentou de três a quatro vezes mais
alterações em seus desenhos do que o grupo controle. A alteração mais presente foi
a modificação das histórias contadas após a visita dos palhaços, observando-se um
enriquecimento de conteúdo, enredos positivos e maior incidência de final feliz.
Outras alterações foram: aumento do tamanho dos desenhos, maior uso de cores,
mais nitidez ou aprimoramento das formas. Todas essas alterações indicam que, de
alguma forma, houve uma expansão de movimentos da criança e de sua forma de
se posicionar diante da hospitalização.
34
A autora ainda afirma que a melhora da expressão das crianças durante a
internação é o ponto mais marcante da atuação dos palhaços, de forma que o
trabalho dos “Doutores da Alegria” promove uma mudança de comportamento
facilmente percebida pelos pais e pelos profissionais de saúde. Nos resultados da
pesquisa, inclusive, as enfermeiras relataram que a atuação dos “Doutores da
Alegria” colabora para a melhoria de sua imagem profissional, na medida em que,
através das brincadeiras em parceira, elas podem se perceber não apenas como
quem dá injeções ou medicamentos, mas também como alguém que pode levar
alegria às crianças.
Com relação aos profissionais e ao hospital, notou-se a diminuição do
estresse da rotina hospitalar e a facilitação do trabalho pela melhora do contato com
as crianças, pais e profissionais. Houve uma melhora da imagem do hospital e uma
mudança de comportamento dos profissionais, que passaram a sentir-se mais
dispostos para o trabalho. Inclusive, nos relatos destes profissionais, eles
observaram que as crianças começaram a falar mais, ficar mais ativas, a brincar, a
se alimentar e a expressar a expectativa de que os palhaços voltem. Observaram
também que as crianças passaram a encarar a hospitalização de forma mais
positiva, melhorando assim o contato e a colaboração com a equipe e com o
tratamento médico, diminuindo também a ansiedade da internação. Esses
resultados, segundo a autora, são decorrentes da utilização do humor, de um
sistema eficiente de comunicação e de um conjunto específico de valores e crenças
que os “Doutores” possuem sobre a realidade hospitalar (MASETTI, 1998).
35
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa enquadra-se numa perspectiva qualitativa, de modo
que trabalha com valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e
adequa-se a aprofundar a complexidade de fatos e processos particulares e
específicos a indivíduos e grupos. A abordagem qualitativa é empregada para a
compreensão e percepção de fenômenos, observando seqüências, testemunhos e o
contexto; para uma maior compreensão com ênfase em generalidades (MINAYO,
1999).
3.1 Participantes
Os participantes foram onze crianças, nove do sexo feminino e duas do sexo
masculino, pertencentes a faixa-etária de 6 a 12 anos de idade, em situação de
primeira internação em período menor que uma semana, independente da patologia,
e internadas no Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA. Tais exigências
tornaram-se relevantes pelo fato destas crianças possuírem maior maturidade para
realizar a atividade que era proposta (o desenho), e também porque estas
receberam pela primeira vez a visita dos “Terapeutas”, já que os mesmos visitam o
hospital uma vez por semana.
A fim de melhor visualizar a identificação dos participantes, foi elaborado o
quadro 1, o qual apresenta os dados pessoais da criança, o motivo da internação, o
período da internação (até o momento da pesquisa), o acompanhante e a unidade
em que a criança se encontrava. Cada criança participante recebeu um nome fictício
utilizando nomes de “doutores”, baseado na característica da criança que mais se
36
sobressaiu durante a pesquisa, visto que os “Terapeutas da Alegria” identificam seus
participantes deste modo (como por exemplo: “Dr. Sabe-Nada”, “Dr. Tropa”, “Dr.
Costela”).
37
3.2 QUADRO 1: Identificação das crianças participantes desta pesquisa.
Nome da
criança
Sexo
Idade
Escolaridade
Motivo da
internação
Período
Acompanhante
Unidade
Dra. Feliz
D.M.
F
8 anos
3ª série
Fratura de fêmur
(acidente de carro)
6 dias
Tias
SUS
Dr.
Desenhista
C.G.
M
12 anos
7ª série
Fratura de rádio
(infecção hospitalar)
7 dias
Mãe
SUS
Dra.
Risadinha
K.G.
F
7 anos
2ª série
Pneumonia e
bronquite
1 dia
Mãe
Particular
Dra. SabeTudo
B.G
F
9 anos
3ª série
Cardiopatia
7 dias
Mãe
Particular
Dra. Espirro
M.E.
F
9 anos
5ª série
Pneumonia
2 dias
Mãe
Particular
Dra.
Costurada
J.D.
F
11 anos
6ª série
Apendicite
5 dias
Avó
SUS
Dra. Fala
Nada
P.M.S.
F
10 anos
3ª série
Apendicite
4 dias
Mãe
SUS
Dra. Quer
Alta
K.R.V.
F
10 anos
4ª série
Meningite Viral
2 dias
Pai
SUS
Dra. Docinho
I.S.S.
F
10 anos
4ª série
Pneumonia
1 dia
Tia e Prima
SUS
Dra. Simpatia
P.F.
F
11 anos
6ª série
Infecção Urinária
4 dias
Mãe
SUS
Dr. Espetado
G.M.S.M.
M
10 anos
4ª série
Meningite Bacteriana
7 dias
Mãe e Pai
Particular
38
3.3 Instrumentos
Foram utilizados dois instrumentos: desenhos dirigidos feitos pelas crianças,
antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, sendo que foi fornecido
lápis-de-cor e uma folha sulfite para que as mesmas realizassem um desenho
considerando a seguinte instrução do pesquisador: “Você deverá fazer um desenho
sobre o que está sentindo neste momento, e depois contará para mim o que
desenhou”. E uma entrevista com o acompanhante da criança - com o objetivo de
investigar se os mesmos perceberam uma melhora no comportamento da criança
hospitalizada após a visita dos “Terapeutas da Alegria” (Apêndice C).
3.4 Procedimentos para a Coleta dos Dados
O responsável pelo Hospital Universitário Pequeno Anjo – HUPA, autorizou
a coleta de dados, mediante a assinatura do termo de consentimento (Apêndice A).
Antes do início da coleta de dados, foi obtida a assinatura do acompanhante
da criança no termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice B). A coleta de
dados foi realizada nas sextas-feiras – dia da apresentação dos “Terapeutas” no
HUPA – entre os dias 16 de março e 6 de abril de 2007.
Os procedimentos para a coleta de dados foram os seguintes: ao chegar em
cada leito se estabelecia um breve rapport explicando às crianças e aos seus
acompanhantes os objetivos da pesquisa e, após a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, era solicitado que a criança realizasse um
desenho representando como ela está se sentindo, e depois o explicasse. Neste
mesmo dia, por volta das 12 horas, os “Terapeutas” visitaram o hospital e
39
interagiram com esta criança. Então, logo após a visita do grupo, era solicitado
novamente que a criança realizasse um novo desenho, com o mesmo propósito do
primeiro. Também foi realizada uma entrevista com os acompanhantes destas
mesmas crianças, logo após a realização do segundo desenho, com o objetivo de
investigar se a interação com os palhaços influenciou no comportamento da criança.
Esta entrevista foi gravada, para o melhor registro das informações coletadas.
3.5 Procedimentos para a Análise dos Dados
Os dados foram analisados a partir da observação do comportamento das
crianças e de sua produção gráfica, antes e após a intervenção proposta, sob o
referencial da análise do comportamento, já que esta se mostra eficaz na análise do
comportamento emocional da criança hospitalizada. Baseada na teoria da
aprendizagem social, parte do pressuposto de que o ambiente, as características
pessoais e o comportamento situacional determinam uma pessoa - sendo o
comportamento um fenômeno dinâmico e em construção (STALLARD, 2004).
A análise da entrevista realizada com os acompanhantes das crianças foi
considerada como forma de aprimorar a compreensão dos dados obtidos através
dos desenhos das crianças participantes.
Na análise dos desenhos foram observadas as diferenças de características
(de estilo, cores, formas, tamanhos, histórias, representações), e as alterações no
relato da criança sobre seu desenho, ou em sua percepção da situação de
internação em relação aos dois momentos.
40
3.6 Trajetória da Pesquisadora
A experiência como “Terapeuta da Alegria” possibilitou que eu diferenciasse
meu modo de agir ou de me aproximar de cada criança participante deste estudo,
selecionando um meio de abordá-la sem que a mesma se retraísse ou se
intimidasse. Por fazer parte dos “Terapeutas da Alegria”, também tive a oportunidade
de encontrar algumas enfermeiras conhecidas - que foram essenciais para a
realização da coleta de dados, na medida em que me auxiliavam na indicação de
crianças, fornecendo informações relevantes, por já conhecerem a seriedade e o
envolvimento dos “Terapeutas” com o hospital.
O trabalho com crianças, principalmente as hospitalizadas, envolve muitos
desafios. Durante este estudo, alguns obstáculos resultaram na definição do número
de participantes, na medida em que havia dias em que estavam internadas uma ou
duas crianças com as características pertencentes a este estudo; e em outros dias, o
hospital comportava quatro ou mais – porém, o fato de alegarem dor, estarem
acompanhadas por um menor de idade, preparando-se para alta ou cirurgia, ou em
isolamento, limitava muito o acesso aos participantes.
Um dos obstáculos foi a restrição física de algumas crianças, na medida em
que elas não podiam se locomover a fim de realizar os desenhos, porque uma das
mãos ficava presa recebendo o soro ou apresentavam fraturas nos braços; outras
crianças apresentavam desconforto – por não estarem acostumadas a desenhar
com a prancheta apoiada em seu colo e deitadas.
Outros obstáculos, na realização de ambos os desenhos, foram: a
diversidade do grau de instrução, idade, educação e cultura das crianças e dos
acompanhantes; o ânimo das crianças o qual variava conforme a gravidade de sua
41
debilidade física e emocional (algumas apresentavam muito sono, devido ao uso de
medicamentos); e as freqüentes interrupções.
Outro aspecto refere-se ao momento da coleta, onde antes da criança
começar a fazer seu desenho, os acompanhantes eram informados que não
deveriam fazer sugestões enquanto a criança realizava a atividade, porém, alguns
insistiam em comentar ou criticar o desenho da criança. Interrupções para o uso de
medicamentos, troca de curativos, tomar banho, ir ao banheiro, assistir televisão, ou
mesmo a chegada da equipe de saúde ou de outros acompanhantes, eram
freqüentes. Tais interrupções aumentavam o tempo médio de realização dos
desenhos de 30 minutos para até uma hora. A imprevisibilidade da alta médica
também fez com que algumas crianças não continuassem sua participação na
pesquisa, já que os médicos periodicamente visitavam as crianças ao meio-dia, ou
seja, no intervalo entre os dois desenhos.
3.7 Procedimentos éticos
A presente pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, na medida em que possui a anuência por escrito dos sujeitos da
pesquisa ou seu representante legal, mediante a explicação completa e
pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, benefícios previstos, potenciais riscos
e incômodos que podem ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência é o termo
de consentimento livre e esclarecido.
42
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentam-se neste capítulo os desenhos realizados por cada criança, o
comportamento verbal da mesma a respeito de seus desenhos e as informações
acerca de sua internação. Em seguida apresenta-se a visão da pesquisadora sobre
os desenhos e sobre o comportamento da criança durante a atividade, bem como as
informações
coletadas
juntamente
com
os
acompanhantes
das
crianças
participantes.
1ª criança: Dra. Feliz
Internada há 6 dias, em decorrência de um grave acidente de carro, que
resultou no falecimento de sua mãe. A criança teve fratura de fêmur, apresentava
escoriações no braço direito e no queixo, e estava sendo confortada por suas tias.
Ela falou sobre sua mãe (mostrando até fotografias), e se dizia “feliz”. Apresentou
comportamento de chorar no segundo desenho, pois o enfermeiro entrou no quarto
e realizou um procedimento invasivo (aplicação de medicamento endovenoso no
pé). Em seguida, solicitou à tia uma massagem.
43
Desenho 1:
“Estou feliz, porque minha mãe está com Jesus e estou feliz porque não aconteceu
nada comigo. Me desenhei muito feliz porque vou sair do hospital e porque minha
mãe está no céu me cuidando”.
Desenho 2:
44
“Esse é o palhaço com a cabeça de batata-frita. Desenhei ele porque achei ele bem
engraçado. Gostei do nome do cachorro dele, quero que eles voltem”.
“Ele veio aqui pra deixar a gente feliz, a gente ficou muito mais feliz e ele sempre vai
voltar aqui pra ver as crianças doentinhas”.
Dra. Feliz relatou que não conseguiria desenhar do jeito que gostaria, pois
apresentava uma fratura em seu braço direito e os desenhos tiveram que ser feitos
com sua mão esquerda.
No desenho 1, como pode ser observado, a criança a desenhou sozinha,
com sol e nuvens. Porém, existe um traço que a separa destes elementos, o que nos
leva a sugerir um isolamento decorrente de sua situação ou do ambiente hospitalar
que impõe esta condição a ela. No desenho 2, não aparecem o sol e as nuvens,
mas o palhaço indica a lembrança da visita dos “Terapeutas da Alegria”.
Cabe aqui ressaltar que embora a internação desta criança tenha sido
resultado de um grave acidente que causou a morte de sua mãe, a criança parecia
estar muito conformada e tranqüila; talvez até pelo reforço que as suas tias
forneciam a ela – ressaltando muitas vezes, inclusive durante a realização desta
coleta, que sua mãe estava “no céu”, “com Jesus” e “cuidando da gente”.
Provavelmente em virtude deste reforço, do falecimento de sua mãe ser muito
recente, ou pelo fato da criança não estar em casa ou em um local onde costumava
ter a presença de sua mãe; o conceito de morte para a criança pareceu algo muito
normal, principalmente tendo em vista sua própria fala.
Os cuidados com Dra. Feliz também pareceram muito intensos por todos
(familiares e equipe de enfermagem), na medida em que estes cuidados acabaram
reforçando um comportamento regredido no modo em que a criança falava e na
45
opção de tomar o leite na mamadeira, por exemplo. De acordo com Oliveira (1997),
esse comportamento regredido é bastante comum no ambiente hospitalar, onde
crianças grandes são colocadas em berços e alimentadas através de mamadeiras, e
apesar delas gostarem destes tratamentos em um primeiro momento, isso acaba
lhes causando profunda indignação por elas ficarem confusas a respeito de sua
própria independência.
Na entrevista realizada com a tia da criança, esta afirmou que sua sobrinha
está, durante a internação, aparentemente “manhosa, chorona, reclamona, ela está
mais difícil, está aproveitando os mimos de todos os lados”; o que leva a perceber
que apesar das próprias tias estarem reforçando esses comportamentos, ao mesmo
tempo elas estão percebendo que as atitudes da criança mudaram em decorrência
deste reforço. Também na entrevista, foi relatado que a criança gostou da
intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, argumentando que Dra. Feliz nem chorou
ou reclamou de dor enquanto os “Terapeutas” estavam no quarto e um enfermeiro
entrou para aplicar a medicação. Deste modo, a entrevistada afirma que esta
intervenção poderia mudar o comportamento de algumas crianças que ficam
constantemente assustadas quando são internadas.
Assim, pode-se perceber que para Dra. Feliz a visita dos “Terapeutas”
representou um estímulo positivo, o qual competiu com os estímulos aversivos
presentes durante sua hospitalização. Pois, mesmo o desenho 1 apresentando um
tema “feliz”, ele mostra o isolamento da criança em virtude de sua hospitalização;
mas no desenho 2 ela deixa de representar esta solidão, e representa o que a
distraiu e a tirou daquele ambiente. Assim, os “Terapeutas” mostram-se como
estímulos capazes de suscitar respostas emocionais mais positivas na criança,
frente aos estímulos aversivos presentes no momento de internação.
46
2ª criança: Dr. Desenhista
Internado há 7 dias, foi para o hospital para tratar de uma fratura em seu
braço mas contraiu uma infecção hospitalar. As enfermeiras do hospital pediram
para realizar a coleta de dados com ele, pois, segundo elas, a criança era “um
desenhista”, que realizava retratos de toda a equipe do hospital.
Desenho 1:
“Este sou eu mesmo... Até as pintinhas que eu tenho desenhei igual”.
“Me desenhei triste, qualquer criança fica triste quando fica bastante no hospital”.
“Sinto tristeza por estar aqui e fome. Só ficaria feliz se fosse embora”.
47
Desenho 2:
“Resolvi desenhar assim porque gostei dos palhaços, eles estavam até de uniforme
de enfermeiro, achei que eles eram enfermeiros porque cuidam da gente”.
O Dr. Desenhista, por já ter 12 anos de idade, parecia compreender o motivo
de sua internação e se mostrava inconformado. Tanto que, nos dois desenhos,
mesmo com a presença do palhaço no segundo, a criança desenhou-se triste e
retraída, aparentando até mesmo sintomas depressivos. A riqueza de detalhes em
ambos os desenhos sugere que o Dr. Desenhista procurou retratar como ele
realmente se percebia naquele momento: triste, sozinho, pequeno em relação aos
outros – pela condição que sua doença impõe.
Um pouco antes da visita dos Terapeutas da Alegria, a mãe do Dr.
Desenhista informou que ele teve um “acesso de fúria”, sendo que a criança solicitou
à enfermeira salgadinho e refrigerante, e quando não foi atendido ficou em pé na
cama e “quase subiu pelas paredes”. A mãe argumenta que seu filho está
aparentemente revoltado com sua situação, pois, segundo ela, a criança entende
que não deveria estar internado apenas por ter fraturado um braço.
48
Percebeu-se também que sua mãe estava muito tensa, e inclusive pediu
para “desabafar” acerca do comportamento do filho. Assim, supõe-se que o
comportamento de angústia da mãe estava relacionado com as reações agressivas
que a criança tinha frente a sua condição de estar internado. Quando sua mãe
emitiu o comportamento de choro, o Dr. Desenhista fechou-se repentinamente.
Chiattone (2003) aponta que as reações de culpa e sensação de punição,
ansiedade e depressão, podem ser destacadas como causadoras do intenso
descontrole emocional da criança internada. As manifestações de ansiedade (ou
este “acesso de fúria” que a criança apresentou), são causadas por temores,
dúvidas, sensação de culpa, alterações da sua auto-imagem e autoconceito (sendo
que Dr. Desenhista estava triste também por estar “inchado”), sentimento de
desvalia e fantasias decorrentes da situação de doença e, principalmente, pelas
intercorrências advindas da hospitalização, como os procedimentos agressivos,
longos períodos de internação, e as vivências traumáticas no hospital.
Na entrevista com a mãe da criança, ela confirma que seu filho não está
mais triste, e sim, “revoltado” por estar no hospital. Argumentando que “hoje mesmo
quando deu aquela crise, ele ficou muito nervoso, revoltado, respondeu até e falou
que sabia que iria ter que ficar muito tempo aqui”, devido à infecção hospitalar. “Daí
deram comida pra ele e ele melhorou, porque ele não gosta da comida daqui”. A
mãe do Dr. Desenhista aponta que o comportamento dele teve mudanças
consideráveis em decorrência da internação, já que, quando está em casa o
paciente “é brincalhão e não é nem um pouco sério como ele está agora”. Assim,
pode-se perceber o quanto o hospital é um estímulo aversivo para esta criança, na
medida em que Dr. Desenhista emite comportamentos de fuga, evitando e se
fechando frente ao ambiente hospitalar.
49
A respeito da reação do paciente com a visita dos “Terapeutas da Alegria”, a
entrevistada falou que ele ficou contente, e “até chegou a rir”, sendo que “aqui ele é
um menino mais sério, é difícil ele rir aqui. E a hora que os Terapeutas chegaram ele
pode rir um pouco”. A entrevistada ainda argumenta que, assim como fizeram com
seu filho, os “Terapeutas da Alegria” podem fazer as crianças rirem um pouco, e
esquecer a seriedade que existe no hospital, o que seria importante para a
recuperação das crianças: “a gente vê pela gente, que é adulto, quando estamos
doentes pagamos para ninguém chegar perto, mas se vem alguém pra fazer a gente
rir, sempre melhora um pouco. E com as crianças também é assim, elas querem
palavras de ânimo, chamego mesmo, e com os Terapeutas as crianças conseguem
isso. Por isso, achei bem legal”.
A visita dos “Terapeutas da Alegria” realmente fez o Dr. Desenhista (que
estava tão fechado e calado) sorrir, e talvez por isso, ele lembrou de representar o
palhaço no desenho 2. Interessante observar o comentário da criança neste
desenho, argumentando que achou que os palhaços fossem enfermeiros “porque
cuidam da gente”; então na visão da criança os “Terapeutas” não vieram somente
fazer uma visita, e sim continuar tratando ou cuidando das crianças hospitalizadas
através da figura do palhaço.
Por aparentemente possuir sintomas depressivos, esta criança é um caso
difícil de ser analisado. Porque mesmo o desenho 2 sendo muito diferente do
desenho 1, por retratá-lo acompanhado, possuir cores e representar o palhaço; a
criança a desenhou aparentemente triste e pequena em relação ao “Terapeuta” –
considerando, também, que esta criança em especial teve a capacidade e a
preocupação em retratar-se com precisão em ambos os desenhos. Pode-se dizer
que o estímulo positivo, neste caso, não foi suficiente para minimizar a angústia que
50
o Dr. Desenhista sente por sua internação, por esta ser resultado de algo que era
para ser simples, porém, transformou-se em uma complicada situação.
3ª criança: Dra. Risadinha
Internada há um dia, é a criança mais nova que participou da coleta de
dados (apenas 7 anos de idade). Fazia uso de nebulizador e somente parava de
realizar seus desenhos para arrumar o aparelho. Veio transferida de um outro
hospital.
Desenho 1:
Onde você está neste desenho? “Não sei”.
“Estou feliz... Porque estou em outro hospital”.
“Ficaria mais feliz se eu fosse para casa”.
51
Desenho 2:
“Fiz com régua para o hospital ficar mais retinho”.
“Os pássaros estão ali porque gostam, eles são livres pra ir pra qualquer lugar”.
O sentimento de felicidade presente no relato do desenho 1, pode sugerir a
satisfação da criança por ter sido transferida para o Hospital Universitário Pequeno
Anjo - HUPA, um hospital com melhor estrutura física e profissionais especializados
no tratamento de crianças. Inclusive, de acordo com sua mãe, Dra. Risadinha
apresenta uma maior tranqüilidade desde que foi internada no HUPA, sendo que
não apresentava tal comportamento no primeiro hospital.
O HUPA é referência no atendimento infantil, preza a humanização, conta
com uma estrutura moderna e equipe de saúde especializada; porém, ainda assim, é
evidente o desejo da criança em estar em casa – fato este presente em todos os
relatos das crianças participantes desta coleta de dados. Segundo Bellato (2001), na
sua pesquisa sobre a vivência da hospitalização pela pessoa doente, não importa a
estrutura ou o ambiente do hospital – ele continua sendo impessoal e angustiante;
52
sendo que o único motivo que pode dar alento ao paciente é a esperança do retorno
para a casa, para a família, e para a vida cotidiana em seu lar.
Pode-se supor que pela idade da criança, seus desenhos foram o que
menos obtiveram explicações, pois enquanto a pesquisadora questionava Dra.
Risadinha a fim de explorar a situação representada no desenho, a criança apenas
ria – aparentando timidez.
Porém, sua limitação ao não saber responder onde estava no desenho 1,
pode sugerir que o contexto hospitalar e o real motivo de sua internação não foram
devidamente assimilados ou compreendidos pela criança. De acordo com Baldini e
Krebs (2003), as crianças com sete anos de idade não compreendem a sua
internação, e acabam formulando informações incorretas a respeito da mesma,
resultando em preocupações acerca da morte, do desaparecimento, de pessoas que
não voltam, ou pelo temor de se perder para sempre – o que geralmente se percebe
pela resposta de ansiedade da criança.
A mãe de Dra. Risadinha, afirmou que sua filha é sempre quieta, porém,
este comportamento tornou-se ainda mais evidente durante sua internação no
primeiro hospital. A respeito da visita dos “Terapeutas da Alegria”, aponta que
percebeu sua filha “mais contente e rindo bastante”. Assim, a entrevistada afirma
que esta intervenção pode até mesmo mudar o comportamento das crianças
hospitalizadas, deixando-as “mais animadas e distraí-las um pouco”.
No desenho 2, ficam evidentes algumas mudanças em relação ao desenho
1, como por exemplo, a preocupação da criança em realizar um desenho simétrico.
A utilização de régua a fim de realizar um desenho mais simétrico, foi observada
também na pesquisa de Masetti (1998), na qual a autora utiliza os mesmos
procedimentos realizados nesta coleta de dados. Os desenhos que apresentaram
53
maior preocupação no aprimoramento das formas foram justamente os que foram
realizados após a visita dos palhaços ao hospital. A autora aponta que essas
alterações indicam que, de alguma forma, houve uma expansão de movimentos da
criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização, sugerindo que
essas mudanças se dão na criação de uma realidade lúdica do palhaço com a
criança no hospital.
Outra mudança foi o fato da criança ter representado no desenho 2 o
ambiente em que se encontrava: o hospital. Isso sugere que a intervenção dos
“Terapeutas da Alegria” resultou para a criança na organização de sua própria
situação. Este resultado pode fazer com que a criança perceba o ambiente em que
está inserida e entenda ou elabore melhor sua internação. Porém, os pássaros
representados neste desenho, podem fazer uma referência a limitação que a mesma
vivência por estar doente e em um hospital, que a restringe em “ir para qualquer
lugar” tal como os pássaros. Os pássaros representados também podem sugerir o
desejo da criança em estar na mesma posição que eles, ou seja, fora do ambiente
hospitalar.
4ª criança: Dra. Sabe-Tudo
Internada há 7 dias, diagnosticada com cardiopatia há quatro anos, mas esta
é a primeira vez em que foi internada – a fim de observar sua reação a um novo tipo
de medicamento. A criança encontrava-se de alta hospitalar.
54
Desenho 1:
“Desenhei o hospital grande e colorido porque fico feliz quando olho para ele”.
E porque você está tão pequena ao lado dele? “Não sei”.
Desenho 2:
“Este é um paraíso sem doença”.
“Queria estar nesse paraíso, porque todos ali devem estar mais felizes”.
55
Dra. Sabe-Tudo pareceu bastante comunicativa, inclusive durante a
entrevista realizada com a sua mãe, pois respondia às perguntas antes mesmo da
entrevistada. A criança estava aparentemente tranqüila e despreocupada, sugerindo
que sua internação foi bem aceita por ela. Na entrevista com a mãe da criança,
observa-se que Dra. Sabe-Tudo não demonstrou reações negativas frente a
internação: “ela foi bem tratada, e até gostou de perder aula”. Frente aos
procedimentos médicos invasivos o mesmo comportamento foi adotado: “ela nunca
chora, sabe que tudo isso é pro bem dela, e nem fica com medo”. A entrevistada
argumenta que a aparente aceitação de sua filha à internação é em função da
educação que foi fornecida à criança: “eu e meu marido nunca colocamos medo
nela, até quando ela vai tirar sangue ela fica olhando, e ainda diz que gosta”.
Por envolver aprendizagem e discriminação, a compreensão e percepção da
dor pela criança dependem de seu nível de desenvolvimento cognitivo, história
passada e experiências dolorosas. E é fato que, quanto mais medo e ansiedade
associados à situação a criança apresentar (em virtude também de outras
experiências dolorosas), mais intensa será sua percepção de dor e pior a
expectativa gerada para procedimentos futuros (GUIMARÃES, 1999).
Tendo em vista seu comportamento tranqüilo frente à internação, pode-se
compreender porque a criança representou o hospital colorido, com proporções
grandes, e com as mesmas características de uma casa. Porém, a sua autorepresentação ao lado do hospital, bem menor do que este, sugere um sentimento
de impotência frente a sua condição - por ser portadora de uma doença sem cura ou
tratamento, que se agrava na medida em que a criança cresce. Por mais que Dra.
Sabe-Tudo compreenda o motivo de sua internação, ela parece também entender
56
que mesmo se permanecer internada a fim de recupera-se e receber alta médica,
ela ainda não estará curada.
Em um estudo realizado com o objetivo de compreender a vivência da
criança com doença crônica, as autoras Vieira e Lima (2002) observaram que estas
crianças compreendem precocemente a gravidade de sua doença. Isso acontece
por elas terem seu cotidiano modificado pelas freqüentes hospitalizações, exames e
efeitos colaterais de medicamentos, pelos limites ditados pela doença e tratamento,
assim como o desconforto das rotinas rígidas a que são submetidas - as quais
ocasionam mudanças, especialmente no processo de escolarização.
Frente a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, a criança relatou para sua
mãe que “gostou da visita, porque eles eram bem animados”. A mãe de Dra. SabeTudo afirma que sua filha “ficou rindo bastante quando dois deles tentaram sair
juntos pela porta e caíram no chão”, e também expressou seu desejo de que esta
intervenção acontecesse mais vezes, pois “existem muitas crianças que ficam
meses aqui sem fazer nada, só assistindo TV, sem brincar, se divertir ou conversar
com alguém da idade delas. Então os Terapeutas vêm e elas conseguem se
distrair”.
Enfim, pode-se dizer que a visita dos “Terapeutas” foi um estímulo positivo
para a criança, pois, mesmo o hospital sendo grande e colorido para a Dra. SabeTudo no desenho 1, ele é maior que ela mesma, e limita seu desenho ao ambiente
em que a própria criança estava – sem outras representações; sugerindo que seu
espaço se resumia a ele. No desenho 2, a criança parece representar a alegria e
liberdade de estar em um “paraíso sem doença”: se, no primeiro desenho ela estava
sozinha e pequena, agora ela está acompanhada e cercada por uma paisagem, ao
invés do ambiente hospitalar. Sugere-se então que o estímulo positivo, ao competir
57
com o estímulo aversivo do ambiente hospitalar, se sobressaiu, resultando em uma
representação que leva a criança a vivenciar outras situações além da sua própria
internação.
5ª criança: Dra. Espirro
Internada há 2 dias, devido a uma infecção pulmonar. A criança e sua mãe –
que a estava acompanhando – estavam cansadas, pois não haviam dormido na
noite anterior, já que a criança tossia e sentia calor em virtude de uma febre. Dra.
Espirro ainda estava quieta e sonolenta durante a realização dos desenhos.
Desenho 1:
“Estou falando ha! que chato porque o hospital só seria legal se eu estivesse
brincando. A menina na cama está triste, ela acha chato ficar só assistindo TV e
deitada. Ela queria brincar, mas não pode porque está no hospital”.
58
Desenho 2:
“Não estou mais triste porque não estou mais só assistindo TV”.
“Estou mais feliz porque tem dois palhaços para fazer companhia”.
Mesmo com a companhia de sua mãe no hospital e com a constante
presença da equipe de saúde, Dra. Espirro representou-se sozinha no desenho 1 –
e esta foi uma característica comum entre os desenhos das crianças que se
retrataram dentro do hospital. Esse distanciamento de outras pessoas pode sugerir a
visão da criança de que a doença a difere dos demais, ou seja, de qualquer outra
pessoa que não esteja na mesma situação que a criança (CHIATTONE, 2000).
No desenho 1, a criança ressalta um tema freqüentemente discutido em
estudos sobre o ambiente hospitalar: o brincar. A aparente angústia que a criança
expressa por não realizar atividades lúdicas, leva a confirmar a premissa de que as
crianças consideram o brincar uma estratégia positiva para o enfrentamento da
hospitalização. Segundo Motta e Enumo (2004), de um modo geral, o brincar está
presente nas pretensões da criança quando está hospitalizada: ela quer brincar e
59
parece não ter exigências ao selecionar o tipo de brincadeira que gostaria de fazer.
Isso pode acontecer pela privação comumente imposta no ambiente hospitalar em
relação ao brincar.
Toda criança tem em seu repertório comportamental formas de enfrentar
situações adversas particulares e, no caso da hospitalização, estas parecem atuar
no sentido da promoção de um ambiente mais familiar e menos ameaçador. Deste
modo, uma intervenção que visa a inserção de estratégias de enfrentamento mais
eficazes, deve levar em conta o que já existe em seu repertório, no sentido de
estender e tornar significativa ou eficaz a sua aplicação. É nesse sentido que se
aplica a utilização do brincar no hospital (MOTTA; ENUMO, 2004).
No desenho 2, a criança parece ter encontrado uma forma de deixar de
assistir a televisão, de não estar mais triste, ter companhia e, principalmente, de
brincar, através da presença da figura do palhaço. Tanto que a televisão (que
parecia ser a única forma de distração da criança no hospital) não foi ao menos
representada neste desenho. Através do relato de Dra. Espirro a respeito do
desenho 2, pode-se perceber que ocorreu uma mudança no humor da criança
retratada: a criança que era triste agora está feliz. Inclusive, neste desenho, o sorriso
da criança foi enfatizado em vermelho – diferentemente do desenho 1.
A mãe da Dra. Espirro, apontou que sua filha está quieta desde que chegou
ao hospital, e que “ela só fala quando reclama de dor ou está desconfortável”. No
primeiro dia de internação, a criança estava ainda mais retraída e receosa, devido
aos procedimentos que eram realizados e à medicação que lhe foi receitada. Com a
intervenção dos “Terapeutas da Alegria” a entrevistada percebeu que sua filha se
divertiu e riu bastante: “ela ficou apreensiva no começo, mas como é bastante
curiosa, ficou atenta a tudo o que eles (os palhaços) faziam”. A mãe percebeu que
60
durante a visita dos “Terapeutas” a criança conversou e interagiu com os palhaços, e
este foi um dos raros momentos em que Dra. Espirro não assistiu à televisão,
durante seu período de internação.
6ª criança: Dra. Costurada
Internada há 5 dias, submetida a uma cirurgia de apendicite no dia anterior à
coleta. Dra. Costurada estava acompanhada por sua avó, e estava sonolenta devido
ao uso de medicamentos.
Desenho 1:
“Está tudo escrito no desenho. Desenhei os dois lados do hospital: um é feliz,
porque estou melhorando; e outro é triste, porque eu quero ir para casa”.
61
Desenho 2:
“Aqui sou eu e minha vó saindo do hospital e indo para casa”.
“Estou muito feliz no desenho porque estou sem os pontos na barriga e sem dor.
Minha vó também está feliz, e está descansada e não vai mais precisar cuidar de
mim”.
Nos desenhos da Dra. Costurada pode-se observar que, apesar do hospital
ser referência no tratamento de crianças, prezar a humanização e ser um local que
proporciona melhora ou cura; ainda assim a criança ressalta em ambos os desenhos
o desejo de ir para casa.
No desenho 2 a criança representou exatamente isso – o que no desenho 1
a entristecia (o fato de não poder ir para casa), agora aparece como uma realização,
(mesmo sem esta criança ter uma previsão de alta). O relato do desenho 2 indica
não precisar mais ter os cuidados dos adultos, talvez uma referência ao desejo de
ser independente e livre, e que sair do hospital é parar de sentir dor. Dra. Costurada
relatou que sentiu muita dor antes de chegar ao hospital e teve medo quando soube
que iria ser submetida a um procedimento cirúrgico: “ainda bem que eu dormi”.
62
A criança mostrou-se muito apegada a sua avó – que a estava
acompanhando (de forma que repetidas vezes olhava para sua avó quando deveria
responder o significado de seus desenhos, esperando até que a mesma repetisse a
pergunta realizada). Ainda no desenho 2, torna-se evidente a preocupação da
criança com o bem-estar e descanso de sua avó, confirmando a ligação que existe
entre as duas.
Essa ligação afetiva entre a criança e sua família é imprescindível para
assegurar que as bases de formação psicológica do futuro adulto sejam mantidas
intactas. A criança pode encontrar-se em situação de privação do convívio familiar
por diferentes motivos, sendo um deles a hospitalização. Entretanto, sabe-se que é
no convívio familiar que a criança busca apoio, orientação, referências de tempo,
proteção para o desconhecido e para o sofrimento. Se a criança pode contar com a
assistência desse familiar, poderá ser mais capaz de suportar os sofrimentos e
ansiedades advindos com a situação de doença e hospitalização (COLLET; ROCHA,
2004).
O desenho 2 se destaca em relação ao desenho 1, pois este último mostra
que a criança não atribui nenhum aspecto positivo ao ambiente hospitalar, além da
cura. No desenho 2, ela apresenta uma resolução centrada em seu desejo de ir para
casa, de forma que, segundo Masetti (1998), essa expectativa se formula como um
objetivo dentro da situação de hospitalização, o que é muito positivo, pois pacientes
que mantêm um objetivo de vida apresentam melhores índices de recuperação
física.
Pode-se perceber que a visita dos “Terapeutas” fez a criança redimensionar
a realidade. De acordo com Masetti (1998), a presença de um palhaço, como
conceito aparentemente tão oposto a realidade hospitalar, tem a capacidade de
63
suspender momentaneamente a lógica dos pensamentos e a dinâmica dos
sentimentos vividos pelas crianças. Isso abre espaço para que elas percebam novos
processos que acontecerão a partir da visão do mundo do palhaço, ou seja, com a
lembrança da alegria.
A avó da Dra. Costurada disse que sua neta é sempre muito quieta e que
não fala com ninguém do hospital, “ela só conversa com aquele moço (um
enfermeiro) que entrou aqui”. Sobre a reação da criança com a visita dos
“Terapeutas da Alegria”, a entrevistada falou que sua neta ficou bastante atenta,
“nem piscou, tava morrendo de sono quando eles chegaram, mas ela quis participar,
porque a irmã dela já tinha sido internada aqui e falou dos palhaços”, argumentando
que Dra. Costurada ficou curiosa para saber se os “Terapeutas” continuavam
freqüentando o hospital, e que “foi só eles saírem que ela dormiu”. De acordo com a
entrevistada, ela acredita que os “Terapeutas” podem deixar as crianças mais
tranqüilas, ao mostrar para as mesmas que o hospital é um lugar bom, já que os
pacientes “estão aqui para se recuperarem”. “Os palhaços alegraram muito as
crianças, e também trouxeram lições importantes, pra lavar a mão e os alimentos
para não pegar lombriga”.
7ª criança: Dra. Fala Nada
Internada há 4 dias, recuperava-se de uma cirurgia de apendicite. Embora
Dra. Fala Nada se comunicasse num tom quase inaudível, parecia bastante a
vontade no ambiente hospitalar.
64
Desenho 1:
“Ela está feliz porque está assistindo TV, e porque está melhorando para ir embora”.
“Mas aqui não é só legal porque têm TV, mas porque aqui todos cuidam da gente,
por isso essa menina está feliz”.
Desenho 2:
65
“Estou indo pra casa com minha mãe carregando minha mala, agora eu já estou sem
doença, antes eu era diferente, agora já estou igual a minha mãe”.
“Estou muito feliz no desenho, pois não vou mais ficar doente e ter que ficar deitada
o dia inteiro... vou até poder ir para a escola”.
Um fato que chamou atenção durante a coleta de dados com essa criança,
foi sua satisfação e alegria em poder estar em um quarto com ar-condicionado e
televisão. De acordo com a criança, ela não tinha acesso a esses aparelhos em sua
casa. No desenho 1, então, a criança representou justamente esses itens, e de
acordo com seu relato, pode-se perceber que a criança está feliz e consegue
identificar que estar no hospital é para sua própria recuperação e que resulta,
conseqüentemente, na volta para casa.
Porém, mesmo com o sentimento de felicidade presente no desenho 1, a
criança desenhou-se sozinha - sem a companhia de sua mãe ou da criança do outro
leito. Esse distanciamento de outras pessoas foi identificado em outros desenhos
neste estudo, como já citado anteriormente, e evidencia o fato da criança sentir-se
solitária por ser a única que está portando uma doença. Mesmo com o auxílio ou
presença de outros, a única pessoa que vivencia a doença e suas conseqüências
(dor, medicamentos, cirurgias e etc.) é a própria criança.
No desenho 2, já que através de seu relato observa-se que a criança não se
representou doente, ela inclui a figura de sua mãe. Então, nas representações de
Dra. Fala Nada, fica evidente a influência que a intervenção dos “Terapeutas da
Alegria” teve no comportamento emocional desta. Pois, no desenho 1 a criança
parece estar “presa” a realidade que vivencia no hospital, e no desenho 2 representa
outra realidade, abordando seu desejo de ir para casa e não ficar mais doente.
66
Considerando Ferreira (2003), a qual pontua que o desenho de uma criança
hospitalizada poderá demonstrar suas emoções, mesmo se estiverem em constante
modificação, o que a criança desenha depende do conhecimento ativo que a mesma
possua do ambiente a ser representado.
Esse conhecimento ativo, no caso da Dra. Fala Nada, estava restrito ao
ambiente que a mesma se encontrava. Então, com a intervenção dos “Terapeutas”,
esse
conhecimento
tornou-se
abrangente
através
de
sua
imaginação
–
representando o desejo que a criança tem de melhorar e voltar para sua casa.
Na entrevista com a mãe da criança, a mesma relata que Dra. Fala Nada
ficou “um pouco triste” por ter que ir para o hospital, mas agora estava mais alegre,
já que “a pior parte (a cirurgia) já passou”. A reação da paciente com a visita dos
“Terapeutas”, de acordo com sua mãe, foi de curiosidade, já que a criança havia
visto o trabalho dos palhaços na televisão, mas também ficou tímida com a visita.
“Achei que ela se animou bastante com os palhaços. Não achei que ela fosse
gostar, porque ela tem medo de palhaços, mas esses do hospital ela gostou”.
8ª criança: Dra. Quer Alta
Internada há 2 dias, recuperava-se de uma meningite viral. A criança já
estava sem soro na realização do desenho 1, e soube (um pouco antes da
realização do desenho 2) que receberia alta na próxima manhã. O médico da criança
não parecia concordar em dar alta para a criança, mas foi bastante influenciado pela
mesma, que manifestava sua vontade de ir para casa na Páscoa.
67
Desenho 1:
“A cara de alegria é porque daqui a pouco vou poder brincar e comer o que quero. A
cara triste é porque estou trancada e com dor no braço que tinha soro”.
Desenho 2:
68
“Estou alegre porque o médico me deu alta”.
“Estou sentindo alegria porque minha família vem aqui arrumar minha mala e me
buscar pra passar a Páscoa em casa”.
Nos desenhos de Dra. Quer Alta, pode-se perceber a alegria que a criança
sente por somente pensar em ir para casa e voltar a brincar, resgatando sua rotina.
Através de seus desenhos, torna-se evidente que o hospital representa sentir dor e
“ficar trancada” – ou seja, a criança sabe que está no hospital não por opção própria,
e sim porque precisa estar.
No desenho 1, percebe-se a ambigüidade que a situação da hospitalização é
conceituada pela criança. Tanto que, para Dra. Quer Alta, sair do hospital representa
escolher sua própria rotina e poder se desprender da maneira de alimentação que o
hospital exige. De fato, o hospital é, para as crianças, um local de proibições: já que
não se pode andar pelos corredores, jogar bola, tomar ar fresco, falar alto, conversar
com outras crianças, brincar ou escolher o que quer comer.
No desenho 1, também evidencia-se as oscilações de humor que a criança
apresenta durante sua hospitalização. Na entrevista realizada com o pai de Dra.
Quer Alta, ele relata que sua filha demonstra reações diferentes quanto à sua
situação, sendo que uma hora ela está “muito feliz e outra triste, pedindo para ir
embora”. Isso pode caracterizar uma instabilidade de humor na criança, a qual
subitamente manifesta modificações em seu estado emocional, com ou sem causas
que as justifiquem.
No desenho 2, Dra. Quer Alta, ainda a representa no hospital, mas como
recebe a notícia de que terá alta, ela não está deitada em seu leito – talvez para
representar que agora não está mais doente e por isso poderá ir para casa.
69
Na entrevista com o pai da criança, foi relatado que ela demonstra sua
tristeza ficando bastante quieta e “não se mexendo para nada, nem para assistir TV”.
Isso ocorre principalmente nas situações em que são realizados os procedimentos
médicos invasivos, que deixam a paciente visivelmente triste. O pai da Dra. QuerAlta relatou a importância da visita dos “Terapeutas da Alegria”, pois, segundo ele,
sua filha pareceu mais comunicativa e alegre, rindo bastante e até levantando do
leito. Deste modo, ele acha que esta intervenção é uma oportunidade para a criança
“sair um pouco do hospital e brincar”. O entrevistado comentou que, depois que os
palhaços saíram, a criança falou da visita e relembrou todos os momentos, enquanto
contava para sua mãe que acabava de chegar, sendo que sua filha “ficou muito
animada, e acabou me animando também”.
9ª criança: Dra. Docinho
Internada no dia anterior a coleta de dados, devido a uma pneumonia. A
criança subitamente começou a passar mal, e foi levada as pressas para o hospital –
o que mobilizou toda sua família. No momento da coleta de dados ela estava
acompanhada por sua tia e prima, já que a mãe da criança estava descansando em
casa.
70
Desenho 1:
“No desenho eu estou feliz, porque estou na floresta, sem sentir dor e sem ninguém
perto. Aqui eu estou triste, porque que meus irmãos vão comer meu chocolate... eu
estou aqui e eles não”.
Desenho 2:
71
“Estou feliz porque vou sair daqui e minha mãe vai guardar meus chocolates, pra eu
comer quando puder. No desenho eu estou feliz e brincando, mas não estou
sozinha... estou indo pra casa dos meus amigos brincar com eles”.
No desenho 1 a criança a desenhou fora do hospital, afirmando que ela,
naquele momento, estava triste, representando o seu desejo de estar em casa. Mas,
por estar fora do hospital no desenho, a criança fala que a representou feliz, sem
sentir dor e sem ter ninguém por perto – revelando sua vontade de ficar sozinha,
sem todos os cuidados necessários para a condição de estar hospitalizada. O
desenho 2 possui mais detalhes e sua história também aponta diferenças, já que
neste a criança revela que não está mais triste, e sim feliz pois irá sair do hospital.
Cabe aqui ressaltar que esta criança não tinha previsão de alta, deste modo,
pode-se observar que a intervenção dos “Terapeutas” contribuiu para a mudança no
comportamento
emocional
da
mesma.
Apesar
dos
dois
desenhos
terem
representações parecidas, o desenho 2 está mais elaborado e apresenta uma
resolução positiva – mesmo não sendo real. Isto significa que brincar com os
palhaços fez a criança enxergar além do ambiente em que se encontrava –
tornando, assim, mais fácil para a mesma enfrentar sua condição.
A entrevista foi realizada com sua prima (filha da acompanhante da criança,
tem 19 anos de idade), pois sua tia havia saído e só iria retornar no final da tarde. A
entrevistada afirmou que o comportamento de sua prima mudou bastante com a
internação, já que “mesmo fazendo pouco tempo (que ela está internada), já percebi
que ela mudou bastante. Em casa ela é diferente, é mais alegre, brincalhona; aqui
ela está muito quieta, não fala nada, só responde com a cabeça”. Sua prima achou
que Dra. Docinho pareceu bastante surpresa com a visita dos palhaços, “ela parecia
72
não acreditar que era verdade”, sendo que a paciente foi abordada no corredor do
hospital por um palhaço, que conversou com ela e a criança “até começou a dançar,
nem parecia que estava no hospital”. “Achei muito bonito o trabalho deles. Quando
estava lá embaixo vi eles entrarem e fiquei imaginando como a Dra. Docinho
reagiria, já que até eu fiquei feliz por ver eles. Ela reagiu da melhor maneira possível,
por até ter conversado com os palhaços, achei que depois da visita ela ficou mais
alegre, agora nem quer deitar na cama, só fica sentadinha com as pernas para fora,
parece que quer ir lá para o corredor de novo”.
10ª criança: Dra. Simpatia
Internada há 4 dias, devido a uma infecção do trato urinário – ITU. Estava
acompanhada por sua mãe e foi muito receptiva, principalmente quando soube que
poderia participar desta pesquisa.
Desenho 1:
73
“Eu desenhei a Mia... Ela é parecida comigo, mas ela faz novela. Ela está feliz, pois
não está no hospital e pode ir para aula, passar a Páscoa com sua família. Ela gosta
do hospital, mas não gosta de sentir dor ou de ficar só deitada. Ela queria só ficar na
escola, igual seus amigos”.
Desenho 2:
“Aqui são as coisas que me lembram dos palhaços: é o lápis com o coelho, um
óculos cor-de-rosa, um palhaço com cara de coelho, e o coração que os palhaços
pediram pra eu desenhar quando eles estavam aqui. Desenhei tudo isso porque
fiquei feliz com a visita deles”.
“Eles me deram um óculos para enxergar a vida mais cor-de-rosa, eu gostei muito
porque até as paredes daqui ficaram mais bonitas”.
No desenho 1, pode-se perceber que, mesmo representando uma
personagem que não é a própria criança, ela apontou em seu relato aspectos de sua
própria vida, como o estar no hospital e o desejo de ir para aula como seus amigos –
74
sugerindo que, de fato, a personagem e Dra. Simpatia tinham mais aspectos em
comum do que somente o físico. Porém, talvez a criança não a desenhou no lugar
da “Mia” por não conseguir se imaginar fora do ambiente hospitalar. A personagem,
por estar fora do hospital, está feliz, mas esse fato pode não ser congruente com o
que Dra. Simpatia sentia, naquele momento, pois mesmo gostando do hospital,
existe o sentimento de dor, que para esta criança é um estímulo aversivo.
A criança representa no desenho 2 objetos e lembranças da visita dos
“Terapeutas”. A intervenção deste grupo também inclui um processo de
comunicação, no qual os palhaços deixam como lembrança balões com formas de
cachorro, marcas de maquiagem no rosto, e lembranças de datas festivas (como na
Páscoa, em que os palhaços levaram lápis de escrever com enfeites de coelho).
Segundo Masetti (1998), essa ação serve para religar a criança à interação, mesmo
na ausência dos palhaços – servindo como uma lembrança que a remete à
intervenção realizada. Cada vez que vê os objetos deixados, a criança pode lembrarse das brincadeiras, revivendo a experiência pela qual passou. Esse fato também
ajuda a transformar a realidade em sua volta, como se os objetos tivessem uma
função psicológica: a recordação da experiência vivida serve para fazer o paciente
acreditar na sua capacidade de brincar, fantasiar, rir, apesar da situação de doença
e hospitalização.
Dos itens desenhados pela Dra. Simpatia após a visita dos “Terapeutas”, os
“óculos que deixam a vida mais cor-de-rosa” receberam destaque, talvez por
propiciar que as paredes e o próprio hospital recebessem outra cor, ou uma visão
diferente da que a criança estava enxergando durante sua internação.
Na entrevista, sua mãe falou que Dra. Simpatia foi bastante compreensiva
em relação à internação, “acho que fiquei com mais medo que ela. Qualquer dor que
75
ela sentia doía muito em mim, por isso vim pra cá para cuidarem dela, agora ela está
bem melhor”. Sobre a visita dos “Terapeutas”, a mãe da criança relatou que Dra.
Simpatia riu bastante e pareceu entrar na brincadeira: “eles ficaram bastante tempo
aqui e ela ficou encantada com aquilo, quando eles foram embora ela estava rindo
sozinha, falando alto, toda animada, até estranhei porque pelo menos aqui (no
hospital) ela não é assim, ela fica mais quieta aqui”.
11ª criança: Dr. Espetado
Internado há 7 dias, não recebeu a visita dos “Terapeutas” na semana
anterior, porque se encontrava em isolamento devido a meningite bacteriana que
havia contraído. Começou a ter febre no final da manhã, o que o desanimou, pois
achava que ganharia alta hospitalar em breve e poderia voltar para casa.
Desenho 1:
“Estou decepcionado... já achei que tinha melhorado tudo, mas deu febre de novo”.
“Eu ia desenhar eu aqui e todo espetado, mas no próximo eu desenho. Assim, todo
76
espetado, é o jeito que eu fiquei a semana inteira no hospital... Sai gente de todo o
canto, entra, espeta e vai embora”.
Desenho 2:
“Desisti de me desenhar espetado porque iria ficar muito feio, então me imaginei fora
daqui, brincando, fica mais legal assim”.
“Estou rindo neste desenho porque não tem agulhas no braço, e eu nem estou preso
no quarto, preferi só ter um ataque de riso”.
No desenho 1 fica visível a tristeza da criança e sua decepção, sendo que
ele pensava que iria receber alta no próximo dia, mas a febre adiou sua volta para
casa. Ele fala de sua situação no hospital, como se tivesse ficado mais forte
(recebendo, com isso, o orgulho de sua mãe) já que estava acostumado a ficar “todo
espetado”. Antes desta internação, Dr. Espetado disse que tinha medo de vacina,
mas “depois que tive que fazer a pulsão com uma agulha maior do mundo, nunca
77
chorei com essas daqui”. Revelou também o jeito que ele entende as rotinas dos
enfermeiros, como se eles apenas entrassem, fizessem ele “sofrer” (espetando-o
com as agulhas) e fossem embora sem se importar com essa conduta e com o
paciente.
No desenho 2, a criança desiste de se desenhar “espetado” por agulhas, por
considerar que “ficaria muito feio”, talvez revelando sua visão de que esses
procedimentos não o agradam, já que o desenhar fora do hospital e brincando ficaria
“mais legal”, pois representaria longe de qualquer procedimento invasivo.
A entrevista foi realizada com a mãe e o pai de Dr. Espetado,
simultaneamente, já que sua mãe não estava presente durante a intervenção dos
“Terapeutas” e, então, não poderia responder as questões sobre esse assunto. A
mãe da criança afirma que no hospital Dr. Espetado está muito diferente: “aqui ele
fica bem mais quieto. Bastante coisa muda”. A respeito da reação da criança frente
aos procedimentos médicos invasivos, sua mãe afirma que ele “não reage de
maneira negativa, não chora nem nada. Na verdade eu até me surpreendi com ele,
como ele foi forte e entendeu tudo o que acontecia com ele”.
A respeito da visita dos “Terapeutas”, seu pai relatou que durante a
intervenção Dr. Espetado estava sonolento, já que estava com 38 graus de febre, e
os enfermeiros haviam colocado “Dipirona direto na veia”. Entretanto, Dr. Espetado
foi bastante receptivo com os “Terapeutas”, brincando e contando histórias, “mesmo
caindo de sono ele queria aproveitar a oportunidade de falar com os palhaços, que
aqui é o que mais se aproxima de uma brincadeira”. Durante a intervenção, uma
rede de televisão entrou no quarto para filmar a visita à Dr. Espetado, sendo que a
repórter questionou o que ele achava desses palhaços no hospital e a criança
respondeu que “era bom e diferente”. Seu pai ainda afirmou: “ele estava triste com a
78
febre que tinha parado e começou de novo, mas agora parece estar mais tranqüilo,
está brincando com o lápis do coelho (deixado pelos Terapeutas) o tempo todo”.
A partir destes relatos e da análise realizada nos desenhos, arriscaríamos
afirmar que o principal objetivo da intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, que é
possibilitar às crianças e adolescentes hospitalizados, suas famílias e profissionais
da área da saúde a experiência da alegria em meio a tensão do ambiente hospitalar,
foi constatado.
Por meio da arte, existe um poder de comunicação que está além das
palavras – como no uso de desenhos feitos por crianças. O desenho, em cada etapa
da evolução das atitudes intelectuais, perceptivas e motoras das crianças,
representa um compromisso entre suas intenções narrativas e seus meios. A
comunicação dos resultados por esta forma de expressão ampliou a possibilidade de
compreensão dos efeitos da interação dos palhaços com as crianças.
79
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo foi realizado com 11 crianças internadas no Hospital
Universitário Pequeno Anjo - HUPA, analisando seus desenhos antes e após a visita
dos “Terapeutas da Alegria”, a fim de verificar as mudanças entre as representações
artísticas e os relatos da criança sobre seu desenho. Para aprimorar a compreensão
dos dados obtidos pelos desenhos dos participantes, foi realizada uma entrevista
com seus acompanhantes.
Pelos desenhos, as crianças representaram com riqueza suas experiências
dentro do hospital, prevalecendo este tema no desenho 1. Dicotomia, fragmentação
e longos espaços vazios predominaram nas folhas de papel, além da expressão do
desejo da volta para casa, de procedimentos hospitalares, camas, agulhas, sem
médicos, sem enfermeiras, sem mães — enfatizando o anonimato e distanciamento
vivenciado dentro do espaço hospitalar.
Na análise dos desenhos foram observadas as diferenças de características
(de estilo, cores, formas, tamanhos, histórias, representações) ou alterações na
percepção da situação da internação para a criança internada em relação aos dois
momentos. Assim, foi possível observar que no desenho 2 o tema escolhido (antes
focado em tristeza e hospitalização) mudou; as crianças eventualmente utilizaram
mais cores, régua, representações maiores – indicando um aumento da expansão
de movimentos da criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização.
Minimizar a angústia da criança durante a hospitalização é um dos objetivos
da proposta dos “Terapeutas da Alegria”. Sendo que, objetivando também a
distração da criança, levando-a em sua imaginação para um lugar longe daquele
ambiente hospitalar hostil, os palhaços atuaram como um estímulo positivo – na
80
medida em que a criança foi capaz de desenhar um outro tema que não a remete
para a sua situação (da hospitalização, limitação, perdas, isolamento) naquele
momento.
Em todos os desenhos 2, as crianças mudaram os temas representados, de
diferentes formas. O fator mais ressaltado foi o seguinte: no desenho 1 a criança a
representava sozinha – destacando o sentimento de isolamento que a mesma sente
por estar doente, por ser “diferente”; e no desenho 2 a criança passa a estar
acompanhada: ou pelo palhaço (nos desenhos do Dr. Desenhista, Dra. Espirro); ou
pelo acompanhante (Dra. Costurada, Dra. Fala-Nada), ou por outras pessoas, como
o médico (Dra. Sabe-Tudo, Dra. Quer-Alta).
Isso leva a perceber que com a intervenção dos “Terapeutas”, o
distanciamento e solidão que a criança sente por estar hospitalizada torna-se para
ela irrelevante. Desta forma, permitindo-se enxergar os palhaços como crianças, ou
como pessoas que estão na mesma situação que ela; a criança começa a inserir-se
como igual às outras pessoas – gerando um novo ponto de vista, que a aproxima da
condição de ter saúde e recontextualiza a realidade vivida.
Em outros desenhos as crianças modificaram seus relatos após a atuação
dos palhaços, apresentando resoluções ou temas melhores e mais positivos. Esta foi
a característica dos desenhos da Dra. Docinho, Dra. Risadinha, e do Dr. Espetado. E
nos outros desenhos as crianças representaram somente a lembrança da visita dos
Terapeutas, sem desenhar ela mesma, este foi o caso da Dra. Simpatia e da Dra.
Feliz.
Por meio de mecanismos como regularidade e repetição, a memória dá
significado aos eventos e assim constrói uma realidade. Para facilitar a memorização
e a constância dos fatos, muitas vezes ela os aprisiona em um único significado,
81
deixando-os imóveis. Assim, a possibilidade de perceber outras realidades,
significados ou sentidos na atuação do palhaço, leva a criança a reconstruir sua
própria realidade – através da alegria, distração, humor, vínculo que ela vivencia
durante a intervenção do grupo.
Pode-se afirmar, então, que esse estímulo eliciador de respostas positivas (a
visita dos “Terapeutas”) disputa com o estímulo aversivo (situação da hospitalização)
e assim resulta em um novo “estado” da criança. Este estímulo capacita a criança a
pensar e a expressar novas idéias que proporcionam novos temas, os quais
abordam não mais suas dificuldades decorrentes da hospitalização, mas sim a
distração e a alegria que encontrou enquanto enfrentava tal momento. Assim, a
criança valoriza novas situações na realização de seu segundo desenho, situações
estas que não remetem as situações de angústia representadas no primeiro
desenho.
O hospital onde esta pesquisa foi realizada é referência no atendimento
infantil, preza a humanização, conta com uma estrutura moderna e equipe de saúde
especializada; porém, ainda assim, é evidente o desejo da criança em estar em
casa, com sua família, amigos, indo para aula e realizando sua rotina diária. Frente a
isso, percebe-se a preocupação da criança em ter sua independência e autonomia –
sem ser infantilizada, com restrições quanto a sua alimentação, ou sem precisar de
um adulto cuidando da mesma a todo o momento.
Com crianças mais novas, como Dra. Risadinha que tem apenas 7 anos e
parece não assimilar corretamente o processo de internação, os “Terapeutas”
possuem a função de organizar a situação para a própria criança. Este resultado
pode fazer com que a criança perceba o ambiente em que está inserida e entenda
ou elabore melhor sua situação, possibilitando também que a criança não adquira
82
conceitos incorretos a respeito de sua internação e aceite melhor este período –
colaborando com os procedimentos realizados.
A oportunidade de observar estas crianças antes, durante e após a visita dos
palhaços, permitiu observar que o humor destas melhorou muito após a intervenção.
Se as crianças eram tímidas, desanimadas e introspectivas, elas passavam a falar
mais na presença dos palhaços e, inclusive, a forma que elas estavam deitadas na
cama se alterava. Elas pediam para as mães sentá-las na cama, ou as mesmas se
sentavam eretas a fim de participar melhor da intervenção dos palhaços, sendo que
esta posição permanecia mesmo após a intervenção.
Nas entrevistas realizadas com os acompanhantes das crianças, percebeuse ainda mais o valor que eles próprios e as crianças atribuem à visita dos
“Terapeutas”. Os acompanhantes relataram que as crianças passaram a rir mais,
ficaram mais alegres e animadas, e, para os pais, o sorriso funciona como um
indicador importante de recuperação física dos filhos, ajudando a diminuir a
ansiedade e tornando a percepção da hospitalização mais positiva. A forma de
aproximação e contato do palhaço com a criança propicia aos pais a percepção de
um cuidado especial e individualizado com ela. Além disso, para os pais, a mudança
na condição emocional da criança, a partir da atuação dos palhaços, é de
importância fundamental na sua própria condição emocional.
A intervenção dos “Terapeutas” permite ao espectador redimensionar a
realidade, trazendo com isso uma sensação de liberdade – fato que foi observado
nos desenhos das crianças após a intervenção. O palhaço cria novas relações entre
os fatos e quebra a lógica da previsibilidade, ao propor soluções inusitadas para
uma determinada situação. Quando o palhaço afirma que o soro é “água de coco”,
que seus óculos “servem pra ver a vida mais cor-de-rosa”, ou perguntam se a
83
criança é um herói de histórias em quadrinhos; eles criam uma nova realidade, muito
distante daquela que a criança vivencia no ambiente hospitalar. Assim, sua presença
abre a possibilidade de perceber os acontecimentos por novos ângulos – ampliando
a realidade habitualmente construída.
Pode-se destacar que, utilizando o humor como recurso essencial os
palhaços desempenham seu trabalho junto a pacientes hospitalizados, auxiliando-os
a superar os traumas inerentes aos processos de enfermidade e internação,
restituindo o brincar e a alegria como parte integrante de suas vidas. Assim, o mais
revolucionário na intervenção dos “Terapeutas” é o relacionamento com o lado da
criança que quer brincar; pois, por mais grave que seja o estado clínico de um
paciente, existe ali uma essência saudável que pode ser desenvolvida através da
arte.
Finalizando, o presente estudo oportunizou uma reflexão sobre este tema,
enfatizando a relevância desta prática humanizadora no atendimento à crianças
hospitalizadas. Os resultados desta investigação contribuem para uma maior
compreensão sobre a intervenção dos “Terapeutas”, na medida em que esta forma
de interagir pode tornar as crianças mais comunicativas e cooperativas frente a
procedimentos e exames – assim, também contribuindo para a prática dos
profissionais de saúde. Inclusive, a intervenção dos “Terapeutas” – por valorizar o
vínculo, o contato, o atendimento individualizado – pode ser vista como um modelo a
ser seguido por profissionais da saúde, em prol da humanização dessa assistência.
84
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADAMS, Patch. O amor é contagioso. São Paulo: Sextante, 1999.
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (Org.). Psicologia hospitalar: teoria e
prática. 2.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.
________________. Tendências em Psicologia Hospitalar. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
AQUINO, Rafael de; MARTA, Iestefani. Clowns doctors: the child talk. Online
Brazilian Journal of Nursing. v. 3, n. 2, 2004.
BALDINI, Sonia Maria; KREBS, Vera Lúcia Jornada. A criança hospitalizada.
Pediatria, v.21, n.3, p.182-190, 2003.
BALIEIRO, Kitty. Doutores da alegria: o sorriso no momento difícil. Inovação, v. 7,
p. 8-10, 1997.
BALLONE, Geraldo José. Humanização do Atendimento em Saúde. PsiqWeb,
Internet, disponível em: www.psiqweb.med.br, 2005 (acesso em 16/03/2007).
BELLATO, Roseney. A vivência da hospitalização pela pessoa doente. [tese].
Ribeirão Preto (SP): Escola de enfermagem de Ribeirão Preto/USP,2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília:
Ministério da Saúde, 1990. 110 p.
BRASIL, Ministério da Saúde. Manual para a Organização da Atenção Básica.
Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Assistência à Saúde, 1999. 40p.
CAMPOS, Terezinha Calil Padis. Psicologia Hospitalar: a atuação do psicólogo em
hospitais. São Paulo: EPU, 1995.
CARVALHO, Marcelo da Rocha. Terapia cognitivo-comportamental através da
Arteterapia. Rev. Psiq. Clín. 28 (6):318-321, 2001.
85
CARVALHO, Ana Maria Pimenta; VALLADARES, Ana Claudia Afonso. O desenho
do hospital na visão da arteterapia em internações pediátricas. Revista Eletrônica
Semestral de Enfermaria. nº 9, nov. 2006.
CHIATTONE, Heloisa Benevides Carvalho. A criança e a hospitalização. In:
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (Org.). A Psicologia no hospital. 2.ed.
São Paulo: Traço, 2003. p. 95-102.
_________. A criança e a morte. In: ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (Org.).
E a psicologia entrou no hospital. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 2000. p. 69-146.
COLLET, Neusa; ROCHA, Semiramis Melani Melo. Criança hospitalizada: mãe e
enfermagem compartilhando o cuidado. Rev. Latino-Am. Enfermagem., Ribeirão
Preto, v. 12, n. 2, 2004.
CONTE, Fátima Cristina de Souza; REGRA, Jaíde Aparecida Gomes. A psicoterapia
comportamental infantil: novos aspectos. In: SILVARES, Edwiges Ferreira (org.).
Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. Campinas:
Papirus, 2000. p. 79-136.
CREPALDI, Maria Aparecida. Bioética e interdisciplinaridade: direitos de pacientes e
acompanhantes na hospitalização. Paidéia, FFCLRP-USP, Ribeirão Preto, 1999.
p.89-94.
DUPONT, Souzanne Langner; SOARES, Maria Rita Zoega. Hospitalização infantil: a
importância da orientação aos pais. Revista Pediatria Moderna, n. 5, v. 41, p. 260262, set/out. 2005.
DURMAN, Solânia; DIAS, Denise Costa.; STEFANELLI, Maguida Costa. Validação
de jogo: educação para a discussão da comunicação terapêutica. Revista
Eletrônica de Enfermagem, 2002.
FERREIRA, Sueli Camargo. Imaginação e linguagem no desenho da criança.
3.ed. Campinas: Papirus, 2003.
FONSECA, Adelaide Barbosa. A ação Voluntária em uma organização social:
uma alternativa de participação transformadora? Monografia. Curso de PósGraduação Lato Sensu, da Universidade São Judas Tadeu. São Paulo, 2005.
86
FRANÇANI, Giovana Müler; ZILIOLI, Daniela. Prescrição do dia: infusão de alegria.
Utilizando a arte como instrumento na assistência à criança hospitalizada. Rev.
Latino-Am. Enfermagem, 2000.
GABARRA, Letícia Macedo; NIEWEGLOWSKI, Viviane Hultmann. Intervenções da
psicologia na pediatria. In: Anais da 1ª Jornada Catarinense Multi/ Interdisciplinar
em Pediatria. Centro de Ciências de Saúde da UNIVALI, Jun. 2005.
GORAYEB, Ricardo; GUERRELHAS, Fabiana. Systematization of the psychological
practice in medical settings. Rev. bras. ter. comport. cogn. June 2003, vol.5, no.1,
p.11-19.
GRUBITS, Sonia. A casa: cultura e sociedade na expressão do desenho infantil.
Psicologia em Estudo, Maringá v. 8, 2003. p. 97 -105.
GUIMARÃES, Suely Sales. A dor na infância. In: CARVALHO, Maria Margarida M.J.
(Org.) Dor: um estudo multidisciplinar. São Paulo: Summus, 1999. p.248-264.
JARA, Jesús. El clown, um navegante de las emociones. Sevilla: Proexdra, 2000.
KORPELLA, Kalevi. Children's environment. In: BECHTEL, Robert; CHURCHMAN,
Arza (Orgs.). Handbook of Environmental Psychology. 2a ed. Nova York: Wiley,
2002. p. 364-373.
LAMBERT, Eduardo. A terapia do riso: a cura pela alegria. São Paulo:
Pensamento, 2001.
LÖHR, Suzane. Crianças com câncer: discutindo a intervenção psicológica. Tese
de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
MACHADO, Érika Alexandrino. A importância do brincar no desenvolvimento.
Trabalho de Conclusão de Curso. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2001.
MACHADO, Mariana Monici de Paula Machado; MARTINS, Dinorah Gioia. A criança
hospitalizada: o espaço potencial e o palhaço. Boletim de Iniciação Científica em
Psicologia, 2002, 3(1):34-52.
87
MARINHO, Maria Luiza; CABALLO, Vicente Enrique (Org.). Psicologia Clínica e da
Saúde. Londrina: Granada, 2001.
MASETTI, Morgana. Boas misturas: a ética da alegria no contexto hospitalar. São
Paulo: Palas Athena, 2003.
__________. Soluções de palhaços: transformações na realidade hospitalar. São
Paulo: Palas Athena, 1998.
MEYER, Sônia Beatriz. O conceito de análise funcional. In: DELITTI, M. (Org.).
Sobre comportamento e cognição: a prática da análise do comportamento e da
terapia cognitivo-comportamental. São Paulo, SP: ARBytes Editora, 1997. p. 31-36
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa
em saúde. 3.ed. São Paulo: Hucitec/ Abrasco, 1999.
MITRE, Rosa Maria de Araújo; GOMES, Romeu. A promoção do brincar no contexto
da hospitalização infantil como ação de saúde. Ciênc. saúde coletiva., Rio de
Janeiro, v. 9, n.1, 2004.
MOREIRA, Patrícia Luciana; DUPAS, Giselle. Significado de saúde e de doença na
percepção da criança. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 11, n. 6,
2003.
MOTTA, Alessandra Brunoro; ENUMO, Sônia Regina Fiorim. Playing in the hospital:
coping strategy in child hospitalization. Psicol. estud., Maringá, v. 9, n. 1, 2004.
MOYLES, Janet. Só brincar? O papel do brincar da educação infantil. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
MYIAZAKI, Maria Cristina; DOMINGOS, Neide Micelli; CABALLO, Vicente.
Psicologia da saúde: intervenções em hospitais públicos. In: RANGÉ, Bernard (Org.).
Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2001. p.463-47.
NEDER, Mathilde. O psicólogo no hospital: o início das atividades psicológicas no
HCFMUSP. Revista O Mundo da Saúde. Editora do Centro Universitário São
Camilo, São Paulo, ano 27, v. 27, nº 3, jul/set 2003. p. 326-336.
88
NICOLETTE, Edela Aparecida. O doente, a psicologia e o hospital. 4.ed. São
Paulo: Pioneira, 2002.
OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves de; COLLET, Neusa. Hospitalized children:
mothers' perception about the affective child-family link. Rev. Latino-Am.
Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 5, 1999.
OLIVEIRA, Helena de. The children's sense of illness in the hospital. Cad. Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, 1997.
PETROFF, Thaís Garcia. A contribuição da utilização dos recursos artísticos e
lúdicos pelo psicólogo hospitalar no tratamento de pacientes renais no
Hospital do Rim e Hipertensão. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de
Psicologia - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004.
PUCCINI, Paulo de Tarso; CECILIO, Luiz Carlos de Oliveira. A humanização dos
serviços e o direito à saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5,
2004.
RANGÉ, Bernard. Bases filosóficas, históricas e teóricas da psicoterapia
comportamental e cognitiva. In: RANGÉ, Bernard (Org.). Psicoterapia
comportamental e cognitiva de transtornos psiquiátricos. Campinas: Editorial
Psy, 2001. p.13-25
RENZO, Magda Di; CASTELBIANCO, Federico Bianchi di. I luoghi del mondo
infantile. Roma: Edizione Scientifiche Magi, 1997.
ROLIM, Karla Maria Carneiro; CARDOSO, Maria Vera Lúcia Moreira. O discurso e a
prática do recém-nascido de risco: refletindo sobre a atenção humanizada. Revista
Latino-Americana de Enfermagem, 2006. p. 85-92.
ROMANO, Bellkiss Wilma. A prática da psicologia nos hospitais. 2.ed. São Paulo:
Pioneira, 2002.
SANTOS, Marli dos. (Org.) Brinquedoteca, o Lúdico em diferentes contextos.
Petrópolis, RJ, Vozes, 1997.
SILVARES, Edwiges; MEYER, Sônia Beatriz. Análise funcional da fobia social numa
concepção behaviorista radical. Revista de Psiquiatria Clínica, 27, (6), 2000. p.
329-334.
89
SOUZA, Simone Vieira de; CAMARGO, Denise de; BULGACOV, Yara Lucia M.
Expressão da emoção por meio do desenho de uma criança hospitalizada. Psicol.
estud., jan./jun. 2003.
STALLARD, Paul. Bons pensamentos - bons sentimentos: manual de terapia
cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2004.
STARLING, Roosevelt Riston. Análise funcional da enfermidade: um quadro
conceitual analítico-comportamental para orientar a intervenção psicológica em
contextos médicos. In: GUILHARDI, Hélio José (Org.). Sobre comportamento e
cognição. Volume 8. Santo André: Arbytes, 2001. p. 262-296.
TOSTA, Rosa Maria. A atividade lúdica da criança no contexto da internação.
Boletim
Clínico,
dezembro
de
2002.
Disponível
em:
http://www.pucsp.br/~clinpsic/tosta.html (acessado em 23/03/2006).
VALLADARES, Ana Cláudia Afonso. Arteterapia com crianças hospitalizadas.
Dissertação (mestrado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de
São Paulo. Pós Graduação em Enfermagem. Ribeirão Preto, 2003.
_______________. Manejo arteterapêutico no pré-operatório em pediatria. Revista
Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 01, 2004.
VANDENBERGHE, Luch. A prática e as implicações da análise funcional. Revista
Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 4 (1), 2002. p.35-45.
VIEIRA, Maria Aparecida; LIMA, Regina Aparecida Garcia de. Crianças e
adolescentes com doença crônica: convivendo com mudanças. Rev. Latino-Am.
Enfermagem., Ribeirão Preto, v. 10, n. 4, 2002.
ZANNON, Célia Maria Lana da Costa. Desenvolvimento psicológico da criança:
questões básicas relevantes à intervenção comportamental no ambiente hospitalar.
Teoria e Pesquisa, 7 (2), 1991. p. 119-136.
90
7 APÊNDICES
7.1 APÊNDICE A – Termo de Consentimento da Instituição
7.2 APÊNDICE B – Termo de Consentimento livre e esclarecido
7.3 APÊNDICE C – Roteiro para entrevista semi-estruturada
91
7.1 APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO
O Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA, situado em Itajaí (SC), está
ciente de que será realizada neste mesmo local uma coleta de dados para o
desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulado “CRIANÇAS HOSPITALIZADAS:
a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após
a intervenção dos Terapeutas da Alegria”. Sendo que serão realizados desenhos
com as crianças internadas, e entrevistas com os acompanhantes das mesmas, a
fim de verificar até que ponto a proposta de humanização e mudança na realidade
hospitalar dos “Terapeutas da Alegria” – grupo que utiliza a figura do palhaço para
levar alegria, motivação e conforto para as crianças hospitalizadas – contribui para a
alteração de respostas emocionais negativas frente à hospitalização.
Está ciente, também, do período de participação dos voluntários para esta
pesquisa, e que esta não envolve qualquer risco a seus voluntários, sendo que
garantimos total sigilo e o direito de recusar a participação a qualquer tempo.
Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para fins acadêmicos, como
para a publicação em eventos ou revistas cientificas, sendo comunicado a esta
instituição a possibilidade de divulgar o nome da mesma.
Local:_____________________________________ Data:____/_____/_________.
Assinatura (de acordo): ______________________________.
92
7.2 APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, de uma
pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar
fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma
delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não
será penalizado(a) de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do Projeto: Crianças hospitalizadas: a utilização do desenho na avaliação de
respostas emocionais obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da
Alegria”.
Pesquisador Responsável: Giovana Delvan Stühler
E-mail: [email protected]
Pesquisadores Participantes: Vanessa Romanio Tax
Telefone para contato: (47) 9918 1808/ E-mail: [email protected]
Esta pesquisa tem como objetivo investigar, através de desenhos de crianças
hospitalizadas, o quanto a proposta dos “Terapeutas da Alegria” - grupo que utiliza a
arte e a figura do palhaço para levar alegria, descontração, e brincadeiras à crianças
hospitalizadas - ameniza respostas emocionais negativas decorrentes da
hospitalização.
Para este fim, participarão da pesquisa crianças internadas no Hospital
Universitário Pequeno Anjo - HUPA, de 6 a 12 anos de idade, em situação de
primeira internação em período menor que uma semana; e também os pais ou
acompanhantes da mesma. Sendo que com os pais ou acompanhantes será
realizada uma entrevista, com o objetivo de investigar se estes perceberam alguma
melhora no comportamento da criança internada após os “Terapeutas da Alegria”
visitarem a criança; e com as crianças será solicitado para que as mesmas realizem
um desenho antes e outro após a visita dos “Terapeutas da Alegria” representando o
que sentem no momento da realização da atividade – para posterior observação das
mudanças nestes, e também serão registradas as expressões verbais da criança
durante esta atividade.
O período de participação dos voluntários para esta pesquisa será de um dia,
já que os desenhos das crianças serão coletados pela manhã e ao final do dia, e a
entrevista com os responsáveis da criança será realizada após o término do
segundo desenho. Esta pesquisa não envolve qualquer risco a seus voluntários,
sendo que garantimos total sigilo e o seu direito de retirar este consentimento a
qualquer tempo.
Nome do Pesquisador:
Assinatura do Pesquisador:
93
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO:
Eu, _________________________________, RG _____________________,
CPF____________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente
estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os
procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios
decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem que isto leve á qualquer penalidade.
Local e data:_________________________________________________________
Nome:______________________________________________________________
Assinatura do Sujeito ou Responsável:_____________________________________
Telefone para contato:_________________________________________________
94
7.3 APÊNDICE C
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Entrevista nº________.
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome do paciente (somente iniciais):
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
Motivo da internação:
Período de internação:
Nome do entrevistado:
Parentesco:
2. ROTEIRO DA ENTREVISTA
2.1 Qual a reação do paciente frente à situação da internação?
2.2 Como o paciente reage aos procedimentos médicos invasivos (injeções,
medicações, cirurgias ou qualquer outro tipo de intervenção)?
2.3 Como foi a reação do paciente frente a visita dos “Terapeutas da Alegria”?
2.4 O(A) Sr(a) observou mudanças no comportamento do paciente após a visita dos
“Terapeutas da Alegria”? Quais?
Download