Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes ANTICONVULSIVANTES A. Professor Luís Coentrão Imagine um doente idoso, com hipoalbuminemia, medicado com fenitoina. O doseamento sérico de fenitoina era de 5microg/ml (niveis terapeutico vãos de 1020microg/ml). Embora o doente estivesse assintomático, aumentou-se a dose de fenitoina com o objectivo de alcançar niveis terapeuticos. No dia seguinte o doente queixa-se de desiquilibrio da marcha e diplopia. Consegue explicar a causa dos sintomas? 1ª proposta de soluções: Existem inúmeros fármacos que podem ser utilizados para o tratamento da epilepsia, fármacos estes que devem ser agrupados segundo o seu mecanismo de acção. Os principais grupos são: • bloqueadores dos canais de sódio dependentes da voltagem (fenitóina, carbamazepina) Inibidores das correntes de cálcio (etosucimida) • potenciadores do GABA (valproato de sódio) • antagonistas doglutamato • inibidores da anídrase carbónica • hormonas • outros: fármacos cujos mecanismos de acção são desconhecidos A fenitoína é um fármaco que bloqueia os movimentos de sódio dos canais de sódio dependentes da voltagem durante a propagação dos potenciais de acção, evitando que os canais retornem ao estado activo, estabilizando as membranas neuroniais, previnindo a potenciação pós-tetanica, e consequentemente o desenvolvimento de uma crise epiléptica (de um modo geral, diminui a excitação neuronal). Neste caso clínico, foi necessário o aumento da dose de fenitoína para alcançar níveis terapêuticos, uma vez que o doente apresentava uma hipoalbuminemia. Esta situação deve-se ao facto deste fármaco possuir uma marcada % de ligação às proteínas plasmáticas. O aumento da dose para combater este quadro clínico fez-se acompanhar de reacções adversas ao nível do SNC (neurotoxicidade). Os locais mais frequentemente afectados são o cerebelo e o sistema vestibular, causando ataxia (a cargo do cerebelo), nistagmo e diplopia. Outros efeitos secundários dependentes da dose são: confusão, letargia, rash cutâneo, náuseas e vómitos. Ana Carolina 2ª proposta de soluções: O aumento da dose de fenitoína pode ter levado a um aumento sérico superior ao esperado, tendo em conta que o doente apresenta hipoalbuminemia e que a ligação do fármaco a proteínas plasmáticas é extensa, o que perfaz o um aumento da fracção livre e activa do fármaco. Também se poderia acrescentar que este fármaco em particular oscila entre cinética de primeira ordem e cinética de saturação. Como tal, para concentrações acima de um determinado limite um pequeno aumento da dose pode resultar num grande aumento eventualmente responsável pela precipitação de efeitos adversos. 1/6 Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes Tal como a Carolina já referiu, as reacções adversas a nível do SNC poderiam explicar a ataxia e a diplopia. Marina Neto 3ª proposta de soluções: Depois de avançar um pouco mais no capítulo, achei que nao tinha explicado lá muito bem a parte da hipoalbuminemia e o consequente aumento da fracção livre do fármaco no plasma. Agora sim.. a explicação ganhou consistência! A pergunta da amnésia retrógrada é realmente interessante . Procurei na net pa ver se dizia alguma coisa sobre benzodiazepinas e amnésia retrograda, mas de facto nao encontrei nada.. partilho contigo a teoria de um possivem engano Ana Carolina Comentário do professor: Quanto à questão da fenitoína, responderam muito bem. 4ª proposta de soluções: Tendo em atenção que este indivíduo apresentava uma hipoalbuminemia, ou seja uma menor concentração de albumina disponível para se ligar ao fármaco e dado que a fentoína apresenta uma elevada afinidade por estas proteínas, o indivíduo apresentava uma maior concentração de fármaco disponível para actuar, na biofase, do que aquela que se seria de esperar num indivíduo normal para uma concentração tão baixa de fármaco. Assim quando se aumentou a dose de fármaco para atingir os níveis terapêuticos que seriam de se esperar em indivíduos com concentrações normais de albumina, registaram-se efeitos tóxicos, neurotoxicidade característica deste fármaco por atingimento do SNC, nomeadamente do cerebelo e do sistema vestibular, as quais implicaram os desiquilíbrios da marcha e a diplopia. Fátima Seabra B. Professor Luís Figueira: 1. Qual a explicação farmacológica para a utilização de fenobarbital na doença de Gilbert? (patologia muito frequente - 7 a 8% da população - caracterizada por episódios transitórios de icterícia ligeira - investigue!) 2. Qual(ais) dos seguintes estados clínicos pode(m) verificar-se após tratamento com doses moderadas de diazepam? • Alívio dos sintomas da depressão major • Alívio dos sintomas de contractura cervical • Incapacidade de evocação de eventos remotos • Agitação e hiperreflexia • Estimulação respiratória 2/6 Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes 3. Um homem de 47 anos, obeso, queixa-se de fadiga e sonolência excessiva durante o dia. Sabendo pela esposa deste que o doente ressona e passa a noite em agitação frequente, o seu diagnóstico de suspeição é apneia obstrutiva do sono [pesquise a etiologia e manifestações clínicas deste síndrome]. Qual das seguintes seria a sua atitude? • Prescrição de fenobarbital • Prescrição de zolpidem • Prescrição de bromazepam • Prescrição de salbutamol • Prescrição de ipratrópio 4. Nos idosos e nas pessoas com doença hepática é habitual, na escolha de uma benzodiazepina, a preferência por lorazepam ou oxazepam, por exemplo. Porque será? Proposta de solução 1. A Síndrome de Gilbert é causada por uma mutação no gene UGT-1A1. Como resultado da mutação, a actividade da enzima UDP-glucuronil-transferase está reduzida em graus variados (o que faz com que a síndrome se manifeste de um modo diferente de pessoa para pessoa), mas geralmente em torno de 25% do normal, reduzindo a transformação da bilirrubina indirecta (não conjugada) em bilirrubina directa (conjugada). Em situações onde há redução mais acentuada da actividade da enzima, como na adolescência (factores hormonais), após exercícios físicos, durante a menstruação e episódios de infecções e no jejum prolongado, a bilirrubina indirecta no sangue pode aumentar o suficiente para deixar pele e olhos amarelados (icterícia). Na Síndrome de Gilbert não há qualquer alteração na estrutura do fígado ou nos exames de função hepática ou de lesão hepatobiliar para além da elevação de bilirrubina. É uma condição benigna, que não está relacionada a sintomas além da icterícia ocasional e prolongamento da icterícia neonatal (em recém nascidos). A Síndrome de Gilbert não é uma doença, mas uma alteração do normal. O único inconveniente mais sério da síndrome é que algumas drogas que necessitam da UDP-glucuronil-transferase para a sua metabolização podem ter o seu efeito prolongado, mas isso não significa lesão ao fígado. A Síndrome de Gilbert não é contagiosa, não leva a doença do fígado nem a complicações a longo prazo. O único inconveniente é mesmo a icterícia numa minoria dos portadores, que pode ser manuseada evitando-se os factores desencadeantes, ou pelo uso de fenobarbital sob acompanhamento médico se a icterícia for frequente ou intensa o suficiente para causar desconforto estético. O fenobarbital, um medicamento utilizado para o tratamento de convulsões, estimula a actividade da enzima UDP-glucuronil-transferase e leva a redução na bilirrubina indirecta, servindo como método diagnóstico. O fenobarbital e outros indutores enzimáticos do sistema da bilirrubina-UGT normalizam o nível de bilirrubina no plasma sanguíneo dos pacientes com Síndrome de Gilbert. No entanto, estes medicamentos só actuam em 20% de todos os pacientes. Assim, a diminuição do intervalo entre as refeições é mesmo uma das melhores maneiras de evitar a icterícia. Além disso, deve-se evitar exercícios intensos, medicamentos que sejam tóxicos para o fígado e infecções. Maria Teresa Fernandes 3/6 Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes 2. Doses moderadas de diazepam: • tranquilzante de longa duração de acção • antiepiléptico • pré-anestésico • ansiolítico • frenador da agressividade • sedativo • anti-convulsivante Alívio dos sintomas da depressão major → são desprovidos de acção antipsicótica, mas poderá ser coadjuvante no tratamento? Alívio dos sintomas de contractura cervical → sim, pode ser usado relaxante muscular Incapacidade de evocação de eventos remotos → não, causa amnésia retrógada nem interfere com a aquisição de memória; causa antes amnésia anterógada (por inibição do menacanismo de consolidação da memória recente) Agitação e hiperreflexia → sim, ocorre frenação destes, sendo estes muitas vezes acompanhados de sonolência Estimulação respiratória → não, pode dar ligeira depressão 3. Prescrição de fenobarbital → só ia piorar Prescrição de zolpidem → A utilização de outros medicamentos, tais como agentes sedativos e hipnóticos, em pacientes com DPOC deve ser cuidadosa, visto que os agentes benzodiazepínicos podem piorar as respostas ventilatórias durante o sono, causando hipoxemia noturna e possível insuficiência respiratória aguda. Agentes hipnóticos como o zolpidem não tiveram os mesmos efeitos deletérios sobre a oxigenação noturna ou na gasometria arterial diurna quando administrado em pacientes com DPOC com hipercapnia estável (79). Prescrição de ipratrópio → Broncodilatador associado à melhora da oxigenação e da qualidade do sono de pacientes com DPOC sem retenção diurna de CO2. Maria Miguel Gomes Explicação do sindrome de apneia obstruriva do sono: A apneia durante o sono é um grupo de perturbações graves em que a respiração se suspende repetidamente durante o sono (apneia) um tempo suficientemente prolongado para provocar uma desoxigenação sanguínea e cerebral e aumentar a quantidade de anidrido carbónico. A apneia durante o sono costuma ser obstrutiva ou central. A apneia obstrutiva deve-se a uma obstrução na garganta ou nas vias respiratórias superiores. A apneia central é consequência de uma disfunção na zona do cérebro que controla a respiração. Na apneia obstrutiva durante o sono, por vezes, manifesta-se uma combinação de concentrações baixas de oxigénio no sangue e altas de anidrido carbónico de forma prolongada, que reduz a sensibilidade do cérebro a tais anomalias, acrescentando um elemento de apneia central à perturbação obstrutiva. Geralmente, a apneia obstrutiva durante o sono apresenta-se nos homens obesos que, na sua maioria, costumam tentar dormir de costas. Esta perturbação é muito menos frequente nas mulheres. A obesidade, provavelmente em consequência do envelhecimento dos tecidos corporais e de outros factores, leva a um estreitamento das vias respiratórias superiores. O risco de desenvolver a apneia obstrutiva durante o sono aumenta devido ao tabagismo, ao abuso de bebidas alcoólicas e a doenças pulmonares, como o enfisema. Pode existir uma predisposição hereditária para a apneia do sono (estreitamento da garganta e das vias aéreas superiores), afectando neste caso vários membros de uma mesma família. 4/6 Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes Sintomas: Dado que os sintomas aparecem durante o sono, a descrição deve ser feita por alguém que observe o indivíduo adormecido. O ressonar é o sintoma mais frequente e está associado ao arquejar, à sufocação, às pausas na respiração e ao despertar brusco. Nos casos graves, as pessoas afectadas têm repetidas crises de falta de ar obstrutivas associadas ao sono, tanto de noite como de dia, as quais, com o tempo, interferem com o trabalho diurno e aumentam o risco de complicações. A apneia do sono grave e prolongada pode causar cefaleias, hipersónia diurna, actividade mental diminuída e, finalmente, insuficiência cardíaca e pulmonar. Nesta última fase, os pulmões não são capazes de oxigenar o sangue adequadamente nem de eliminar o anidrido carbónico. Diagnóstico: A apneia do sono diagnostica-se muitas vezes nas suas fases iniciais, baseando-se na informação dada pelo parceiro com quem o afectado dorme; este pode descrever um ressonar intenso ou um arquejar e um despertar com grandes sobressaltos, tudo isso com falta de ar ou agravamento do cansaço diurno. A confirmação do diagnóstico e a avaliação da gravidade do caso efectuam-se melhor num laboratório de estudo do sono. Os exames efectuados servirão ao médico para diferenciar a apneia obstrutiva do sono da central. Tratamento: Para os afectados de apneia obstrutiva durante o sono, os primeiros passos são: deixar de fumar, evitar o abuso de bebidas alcoólicas e perder peso. O tratamento com tranquilizantes, fármacos para dormir ou outros sedativos não é recomendável para as pessoas com um ressonar intenso nem para as que sofrem de falta de ar durante o sono. As pessoas com apneia central costumam beneficiar do uso de um instrumento que as ajuda a respirar enquanto dormem. É também importante a mudança postural durante o sono e recomenda-se às pessoas que ressonam dormir de lado ou de boca para baixo. Se não for possível controlar a apneia do sono com estes simples procedimentos, pode aplicar-se uma pressão positiva continua nas vias aéreas através de um dispositivo semelhante a uma máscara de oxigénio que administra uma mistura de oxigénio e de ar através do nariz. O dispositivo em questão mantém a via aérea aberta e ajuda a regularizar a respiração. A maioria das pessoas adapta-se rapidamente a estes aparelhos, com excepção dos alcoólicos. Por outro lado, os odontologistas fabricam dispositivos bucais que costumam ser úteis para reduzir a apneia e o ressonar em muitos indivíduos. Muito raramente uma pessoa com apneia grave do sono necessita de uma traqueotomia. Trata-se de um procedimento cirúrgico que cria uma abertura permanente na traqueia através do pescoço. Para solucionar o problema recorre-se por vezes a outros procedimentos cirúrgicos para dilatar a via aérea superior. Contudo, estas medidas extremas só estão indicadas em poucas situações e habitualmente são praticadas por um especialista. Maria Miguel Gomes Comentário: tal como a Tica disse, eu também sempre tive a ideia que o tratamento da apneia obstrutiva do sono estaria associado a um acto cirurgico. Para além disso, da pesquisa que fiz também encontrei que: " A terapia farmacológica tem um papel limitado no tratamento da síndrome da apneia do sono. Embora diversos estudos tenham sido realizados, nenhum comprovou a eficácia de qualquer medicamento no tratamento da síndrome da apneia obstrutiva do sono." O único tratamento que conheço para além do acto cirurgico é o CPAP (pressão positiva contínua) administrado durante a noite por máscara nasal. Este aparelho previne o encerramento e estreitamento das vias aéreas durante o sono. Por isso, tal como diz a Tica, também não vejo nenhum dos sugeridos como uma boa solução. Maria Teresa Fernandes 4. Absorção lenta no tracto gastrointestinal; Longa duração de acção; Elevada taxa de ligação às proteínas plasmáticas à menor número de tomas diárias Maria Miguel Gomes C. Professor Daniel Moura Benzodiazepinas e barbitúricos que perigo há nas intoxicações agudas com estes medicamentos? Que perigo há nas intoxicações agudas com estes medicamentos? 1ª proposta de soluções: 5/6 Fórum de Farmacologia Anticonvulsivantes Benzodiazepinas são tranquilizantes típicos que exercem acção ansiolítica, frenadora da agressividade, sedativa e correctora da tensão emocional. Por serem altamente lipossolúveis, atravessam facilmente as barreiras biológicas, contudo o grau de lipossolubilidade varia entre os diferentes compostos deste grupo. As intoxicações por estes fármacos só acontecem com doses muito superiores às doses terapêuticas. As acções tóxicas manifestam-se em depressão respiratória pouco marcada. Estes fármacos devem ser usados com cautela em situações de insuficiência respiratória crónica. As benzodiazepinas também agravam a encefalopatia em insuficientes hepáticos. Em caso de intoxicações com estes fármacos, pode recorrer-se a administração do flumazenil. Quanto aos Barbitúcos, estes são fármacos cujos efeitos, incluindos os efeitos tóxicos, variam de intensidade abrangendo sedação, hipnose, anestesia geral, coma e morte, de acordo com a dose, a via de administração e a existência ou não de tolerância. Ao contrário do que se observa com as benzodiazepinas, as intoxicações por estes fármacos manifestam-se com doses ligeiramente superiores às concentrações mínimas eficazes. Essas intoxicações conduzem a um estado de depressão(muitas vezes) fatal do SNC, pois actuam directamente sobre o canal de cloro provocando assim uma depressão respiratória completa(depressão do centro respiratório) e depressão vastomotora. Não existem antagonistas específicos da depressão central causada por barbitúricos. O tratamento é sintomático e deve ser orientado no sentido da manutenção da circulação e da respiração(por respiração assistida) e por outro lado facilitar a eliminação do fármaco. Halane Tiny Comentário do prof: Correcto, Halane. A propósito de comparações entre barbitúricos e benzodiazepinas, que se pode dizer das acções adversas em uso crónico? 2ª proposta de solução: As benzodiazepinas são tranquilizantes tipicos, em doses elevadas têm reacções adversas que são verificadas no uso excessivo de tranquilizantes, como tolerância, habituação e dependência física( síndroma de abstinência, com ansiedade, trémulo, insónia, ilusões, náuseas, etc...), a acção depressora respiratória é pouco marcada, efeito amnésico. Os barbitúricos ao contrário das benzodiazepinas têm um efeito marcado na depressão respiratória completa, estes actuam directamente sobre o canal dos cloretos e provocam depressão respiratória em concentrações pouco superiores às concentrações eficazes mínimas, os riscos a administração destes compostos estão relacionados com a depressão central excessiva( centros respiratórios e vasomotor), idiossicrasia. O que pode levar a coma e morte. • intoxicação aguda por benzodiazepina → aumento de activação dos receptores GABAA → que sendo canais ionicos deixam entrar cloreto → depressão respiratória • intoxicação aguda por barbitúricos → actuação directa sobre canais de cloreto → depressão respiratória muito marcada. Nelylena Costa 6/6