UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DeFEM – DEPARTAMENTO DE FÍSICA ESTATÍSTICA E MATEMÁTICA DeTEC – DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA Angelita Schmitt MODELAGEM MATEMÁTICA DO CRESCIMENTO TUMORAL E SUA RELAÇÃO COM SISTEMA IMUNOLÓGICO Ijuí 2009. ii Angelita Schmitt MODELAGEM MATEMÁTICA DO CRESCIMENTO TUMORAL E SUA RELAÇÃO COM SISTEMA IMUNOLÓGICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Modelagem Matemática, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Modelagem Matemática. Orientador: Prof. Dr. Gerson Feldmann Ijuí 2009 iii A meus pais, Eliseu e Liria que sempre me apoiaram para que eu não desistisse de lutar. A meu orientador, Prof. Dr. Gerson Feldmann. iv AGRADECIMENTOS A Deus, porque ele é nosso refúgio e fortaleza. A meus pais, Eliseu e Liria, pelo apoio recebido durante todos os momentos da minha vida. Ao Professor Dr. Gerson Feldmann, meu orientador pelos ensinamentos, amizade e principalmente pelo fato de não ter permitido que eu desistisse em meio as dificuldades que se apresentaram. Aos colegas e amigos pela amizade. Às funcionárias do DeFEM, em especial a Dona Geni, pela prontidão em ajudar. A todos vocês meu muito obrigada! v "Não se pode ensinar tudo a alguém, pode-se apenas ajudá-lo a encontrar por si mesmo." Galileu Galilei, astrônomo italiano vi SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................................VIII LISTA DE SIMBOLOS BIOLÓGICOS ............................................................ XIII LISTA DE SÍMBOLOS MATEMÁTICOS ...................................................... XVII RESUMO..........................................................................................................XX INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 CAPÍTULO I - ABORDAGENS RELATIVAS AO CÂNCER .............................. 5 1.1 O que é câncer e como surge ................................................................... 5 1.2 Tipos de câncer ........................................................................................ 14 1.3 Invasão e metástases............................................................................... 15 1.4 Como é o processo de carcinogênese?................................................. 17 1.4.1 Estágio de iniciação................................................................................. 18 1.4.2 Estágio de promoção............................................................................... 19 1.4.3 Estágio de progressão............................................................................. 20 1.5 Agentes cancerígenos ............................................................................. 21 1.6 Formas de tratamento.............................................................................. 23 1.6.1 Cirurgia.................................................................................................... 24 1.6.2 Quimioterapia .......................................................................................... 24 1.6.3 Terapia alvo-dirigida ................................................................................ 25 1.6.4 Radioterapia ............................................................................................ 25 1.6.5 Hormonioterapia...................................................................................... 26 1.6.6 Imunoterapia ........................................................................................... 26 CAPÍTULO II – O SISTEMA IMUNE E O CÂNCER ........................................ 28 2.1 Sistema imune .......................................................................................... 28 2.1.1 Anatomia ................................................................................................. 29 vii 2.1.2 Componentes do sistema imune ............................................................. 30 2.1.2.1 Linfócitos .............................................................................................. 30 2.1.2.1.1 Linfócitos B e T.................................................................................. 30 2.1.2.1.2 Linfócitos NK ..................................................................................... 33 2.1.2.2 Fagócitos mononucleares .................................................................... 34 2.2. Mecanismos de defesa e a imunologia tumoral ................................... 35 2.3 Imunologia tumoral e escape .................................................................. 45 CAPÍTULO III - DINÂMICA DO CRESCIMENTO TUMORAL ......................... 49 3.1 Modelo matemático.................................................................................. 50 3.1.1 Modelo matemático utilizado e modificações..................................... 49 3.2 Pontos de equilíbrio do sistema ............................................................ 58 3.3 Análise de estabilidade do ponto livre de tumor................................... 63 CAPÍTULO IV - SIMULAÇÕES NUMÉRICAS PARA MODELO DE CRESCIMENTO DE TUMOR........................................................................... 66 4.1 Simulações numéricas para modelo de crescimento de tumor........... 67 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................... 89 REFERÊNCIAS................................................................................................ 92 APÊNDICE....................................................................................................... 99 viii LISTA DE FIGURAS Fig.1. 1 - Representação do esquema do ciclo celular. A estimativa de duração de cada fase é apenas ilustrativa[28] ................................................................. 8 Fig.1. 2 - Proto-oncogenes e crescimento de uma célula normal. Adaptado de U.S National Câncer [56].................................................................................... 9 Fig.1. 3 - Representação das formas mutantes dos proto-oncogenes. Adaptado de U.S National Câncer [56]............................................................................. 10 Fig.1. 4 – Oncogenes. Adaptado de U.S National Câncer [56] ........................ 10 Fig.1. 5 - Genes supressores tumorais. Adaptado de U.S National Câncer [56] ......................................................................................................................... 11 Fig.1. 6 - Genes supressores tumorais. Adaptado de U.S National Câncer [56] ......................................................................................................................... 12 Fig.1. 7 - Genes de reparação do DNA. Adaptado de U.S National Câncer [56] ......................................................................................................................... 13 Fig.1. 8 - Parte superior do quadro representa o controle da divisão celular e na parte inferior observa-se a perda desse controle. Adaptado de U.S National Câncer [56]....................................................................................................... 13 Fig.1. 9 - Diferentes tipos de Câncer. Adaptado de U.S National Câncer [56]. 15 Fig.1. 10 - Evolução do câncer [9].................................................................... 17 Fig.1. 11 - Agentes iniciadores [34] .................................................................. 18 Fig.1. 12 - Agentes promotores [34]. ................................................................ 19 Fig.1. 13 - Estágio de progressão do câncer [34]............................................. 20 Fig.1. 14 - Evolução de uma célula cancerosa[51]........................................... 22 Fig.1. 15 - Genes e o câncer. Adaptado de U.S National Câncer Institute [56] 23 ix Fig.2. 1 - Sistema imune .................................................................................. 29 Fig.2. 2 - Linfócitos B e T ................................................................................. 33 Fig.2. 3 - A resposta imune inata e a adaptativa. ............................................. 35 Fig.2. 4 -Representação das funções efetoras dos linfócitos NK para eliminação de células tumorais. ......................................................................................... 39 Fig.2. 5 - Vigilância imune contra células tumorais .......................................... 40 Fig.2. 6 - Linfócitos NK e resposta imune para lisar células tumorais. ............. 41 Fig.2. 7 - Mecanismos de citotoxicidade grânulo-associados .......................... 43 Fig.2. 8 - Mecanismos de citotoxicidade mediada por receptores.................... 44 Fig.2. 9 - Uma reação coordenada celular e humoral medeia a destruição das células tumorais.................................................................................................45 Fig.4. 1 – Representação do Crescimento Tumoral na ausência de sistema imune variando-se a taxa de crescimento do tumor......................................... 69 Fig.4. 2 - Representação do crescimento tumoral adotando-se a=0,1, variandose a condição inicial (T(0)). .............................................................................. 70 Fig.4. 3 – Crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ; ω = 100 ; T0 = 1.104 , N 0 = 103 e L0 = 10 . ................................................................ 72 Fig.4. 4 - Plano de fase de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ; ω = 100 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . ............................................................................ 73 Fig.4. 5 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 100 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ............................. 73 Fig.4. 6 - Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 100 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ........ 74 x Fig.4. 7 - Crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ;.............. 75 Fig.4. 8 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.104 ; ω = 120 ; T0 = 1.104 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . ........................................... 75 Fig.4. 9 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ............................ 75 Fig.4. 10 – Plano de fase de crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ........ 76 Fig.4. 11 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imune debilitado variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) ; a = 0,1 ; ................... 77 Fig.4. 12 - Crescimento tumoral de um paciente saudável a = 0, 2 ; σ = 1,3.10 4 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . ............................................................... 78 Fig.4. 13 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente saudável a = 0, 2 ; σ = 1,3.10 4 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . ............................... 78 Fig.4. 14 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado: a = 0, 2 ; σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ............. 79 Fig.4. 15 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado: a = 0, 2 ; σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ............................................................................. 79 Fig.4. 16 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 150 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = ( 2,3943x105 ; 2,0046x103 ;1,0327x104 ) ................................................. 80 Fig.4. 17 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 150 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ......... 80 xi Fig.4. 18 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 200 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = (1,7893x104 ; 3,0256x103 ;1,0312x104 ) ................................................. 81 Fig.4. 19 - Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 200 e, T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ; (T , N , L ) = (1,7893x104 ; 3,0256x103 ;1,0312x104 ) ................................................. 81 Fig.4. 20 –Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 210 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ........................... 82 Fig.4. 21- Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 210 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ......... 82 Fig.4. 22 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imune debilitado fazendo-se uma pequena variação na fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) ; σ = 1,3.102 ; T0 = 1.104 ; N0 = 103 e, L0 = 10 ................................................... 83 Fig.4. 23 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento lento (parâmetro a=0,1) de paciente saudável variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 ................................................................................ 84 Fig.4. 24 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento rápido desenvolvimento (parâmetro a=0,2) de paciente saudável variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 ...................................................... 85 Fig.4. 25 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento lento (parâmetro a=0,1) de paciente com sistema imune debilitado variando-se a xii fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 ...................................................... 86 Fig.4. 26 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento rápido (parâmetro a=0,2) de paciente com sistema imune debilitado variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 300 ; em (c) ω = 600 e, em (d) ω = 900 ...................................................... 87 xiii LISTA DE SÍMBOLOS BIOLÓGICOS A seguir é apresentada a lista de símbolos biológicos na ordem em que os símbolos aparecem nos capítulos subsequentes. CTL: linfócito T CD8 , célula CD8 ou ainda linfócito citotóxico é um tipo de célula de defesa NK: linfócitos NK, célula NK, Natural Killer ou ainda células exterminadoras naturais é um tipo de célula de defesa DNA: ácido desoxirribonucleico RNA: ácido ribonucléico p.53: gene supressor tumoral MHC: complexo principal de histocompatibilidade TNF: Fator de Necrose Tumoral TCR: receptor de célula T CD4: glicoproteína dos linfócitos T CD4 CD8: glicoproteína dos linfócitos T CD8 Tc: linfócitos T CD8 pre-Tc: pré linfótico T CD8 (linfócitos T CD8 imaturos) xiv TCR-CD3: indica que o TCR estabeleceu uma ligacação com o complexo CD3, no intuito de realizar a sinalização após o reconhecimento antígeno- MHC APC: célula apresentadora de antígeno IL-2:interleucina do tipo 2 IFN-γ: interferon gama B7:glicoproteína encontrada nas células apresentadoras de antígenos CD28: receptor para moléculas B7,encontrado nos linfócitos T CD28-B7: ligação de B7 a CD28, na célula T, dirigem a ativação e expansão de células T ADCC:Citotoxidade Celular Dependente de Anticorpo CD94: receptor inibidor nos linfócitos NK, que pode se ligar a uma ou mais das moléculas de HLA de classe I expressas pela pessoa, desencadeando o envio de sinais inibitórios que desligam a citotoxicidade do linfócito NK e a secreção de citocinas NKG2: receptores inibidores nos linfócitos NK, que pode se ligar a uma ou mais das moléculas de HLA de classe I expressas pela pessoa, desencadeando o envio de sinais inibitórios que desligam a citotoxicidade do linfócito NK e a secreção de citocinas KIRs: receptores KIR contêm até três diferentes domínios extracelulares semelhantes a imunoglobulina, chamados de D0, D1 e D2, e desempenham xv papel importante no bloqueio da ativação das linfócitos NK contra células que expressam a antígenos HLA apropriados, impedindo, assim, a lise celular. Embora sejam receptores inibitórios, um subgrupo de receptores KIR também pode desempenhar um papel de ativador em linfócitos NK IgG: imunoglobulina G, é o anticorpo principal nas resposta imunes secundárias e a única classe antitoxinas ADCC:citotoxicidade celular dependente de anticorpo Fc: porção efetora reconhecida por receptores de imunoglobulinas do sistema imunológico Fas: é uma molécula transmembrana, membro da superfamília do fator de necrose tumoral que interage com CD95L ou FasL para induzir a morte celular programada ou apoptose FasL: CD95 L ou FaS ligante que interage com o Fas(CD95) para induzir a apoptose CD95: receptor FaS (CD95) TRAIL é um destes ligantes, muito relacionado ao TNF, e provoca apoptose em diversas células tumorais TRAILR: Os receptores do TRAIL, assim como outros codificados por citocinas indutores de apoptose, ao receberem seus ligantes enviam sinais ativadores a proteínas denominadas caspases, que levam à apoptose c-FLIP: protease capaz de regular a apoptose celular xvi NO: óxido nítrico DISC: Complexo de morte via estímulo extracelular ou seja a ligação do TRAIL a receptores do citoplasma forma o DISC “death-inducing signaling complex” LAK: atividade destruidora dos linfócitos NK ativados por linfocina PEC: DC ou células dendríticas MORT-1:proteína intracitoplasmática que se associa as moléculas FaS para provocar apoptose FTC-β ou TGF-β : fator transformador de crescimento beta que secretado em grandes quantidades por tumores e que inibe uma ampla variedade de funções dos linfócitos e macrófagos. xvii LISTA DE SÍMBOLOS MATEMÁTICOS A lista de símbolos matemáticos é apresentada na ordem em que os símbolos aparecem nos capítulos seguintes. T(t): denota a população de células tumorais em função do tempo N(t): denota o total de linfócitos Nk (matadores naturais) efetivos em função do tempo L(t): denota o total de linfócitos T CD8 efetivos em função do tempo GN :crescimento líquido de células tumorais a : taxa de crescimento do tumor 1 b : é a capacidade suporte da população de células tumorais FN (T , N ) : lise tumoral provocada por linfócitos NK c : taxa de mortalidade de células tumorais devido à ação matadora dos linfócitos NK FL (T , L ) :lise tumoral principalmente pela ação dos linfócitos T CD8 d : nível de saturação de matança de células tumorais por linfócitos T CD8 GN :crescimento líquido dos linfócitos NK σ :constante de produção de linfócitos NK xviii f : representa a fração de morte de linfócitos NK RN (T , N ) : recrutamento de linfócitos NK g : taxa de recrutamento dos linfócitos NK advindo da interação com células tumorais que deixaram de expressar MHC Classe I. h :coeficiente de declividade do recrutamento de linfócitos NK I N (T , N ) :Inativação de linfócitos NK pelo tumor ρ : taxa de inativação de linfócitos NK pelas células tumorais GL :crescimento de linfócitos T CD8 ω :proliferação celular de linfócitos T CD8 m : representa o índice de mortalidade dos linfócitos T CD8 RL (T , L ) : recrutamento/ativação de linfócitos T CD8 por fragmentos de células tumorais que foram lisadas por outros linfócitos T CD8 j : taxa máxima de recrutamento de linfócitos T CD8 pela expressão de MHC Classe I (ver capítulo I e II) das células tumorais k : coeficiente de declividade de linfócitos T CD8 RL ( N , T ) :representa o recrutamento/estimulação de linfócitos T CD8 por restos de células tumorais lisadas por linfócitos NK xix r : taxa de recrutamento de linfócitos T CD8 devido a estimulação de antígenos tumorais advindos de restos de células tumorais destruídas por linfócitos NK I L (T , L ) : representa a inativação dos linfócitos T CD8 provocada pelo próprio tumor. RESUMO Neste trabalho apresentamos um modelo matemático para estudo do tratamento de tumores através da imunoterapia. O crescimento do tumor é simulado através da utilização de um modelo matemático representado por um sistema de três equações diferenciais ordinárias, no qual são consideradas as populações de células tumorais (T) e de dois tipos de células do sistema imunológico: células matadores naturais (natural killer NK) e linfócitos T CD8 (L). No modelo são considerados os termos de competição entre as espécies, os termos de ativação e de recrutamento do sistema imunológico, bem como parâmetros para descrever o grau de debilidade do sistema imune e a agressividade do tumor. Foi analisada a estabilidade do sistema linearizado. As trajetórias do sistema foram obtidas utilizando-se o método de Runge-kutta na plataforma MatLab. Nas simulações, foram exploradas as diferenças de estratégia para o tratamento considerando-se pacientes saudáveis ou debilitados e tumores de crescimento rápido ou lento. Palavras-chave: Modelo Matemático, crescimento tumoral, linfócitos NK, linfócitos T CD8, sistema imunológico. xxi Abstract In this work we present a mathematical model for the study of tumor treatment by immunotherapy. The tumor growth is simulated in a model consisting of three ordinary differential equations, that consider the population of tumor (T) cells and of two types of immune cells: natural killer (N) and lymphocytes T CD8 (L). In the model we consider terms of competition between species as well as activation and recruitment terms. Stability of the model was investigated, and trajectories were obtained by using a Rungekutta method in a MatLab based code. In our simulations we explore the different strategies for the tumor treatment in the cases of healthy or not-healthy patients and for more or less aggressive tumors. Keywords: Mathematical Model, tumor growth, NK lymphocytes, CD8 T lymphocytes, the immune system. INTRODUÇÃO O câncer é uma doença que anualmente faz vítimas fatais, sendo a primeira causa de morte entre as mulheres e a terceira causa de morte entre os homens, perdendo apenas para os óbitos devidos a causas externas e doenças cardiovasculares. Logo, surgem inúmeros questionamentos sobre a exata etiologia dessa doença, formas de tratamento e mecanismos intrínsecos que o organismo dispõe para se defender dessa doença. Sabe-se que o câncer é advindo da perda da capacidade normal da célula de regular sua divisão. As células cancerígenas não param de se multiplicar, e, consequentemente, crescem sobre outras células, invadem tecidos sadios, formando massas celulares que são os tumores malignos, podendo estes espalharse para outras regiões do corpo [10,20]. Segundo Parham [40], estima-se que ocorram cerca de 1016 divisões celulares no corpo humano durante toda a vida para manter a integridade do organismo, realizar a substituição das células gastas, fazer o reparo de tecidos danificados e a montagem de respostas imunes contra os patógenos. Portanto, as possibilidades de desenvolver o câncer ficam aumentadas com o envelhecimento, pois a cada divisão celular existe a possibilidade de ocorrer um erro na cópia do DNA e se deixado sem correção, implicará em células mutantes que podem culminar com o aparecimento do câncer. Sendo assim, questiona-se: será que as células humanas possuem mecanismos intrínsecos para evitar a proliferação de células mutantes e em caso 2 afirmativo quais seriam? No entanto, se estes mecanismos falharem, qual o papel do sistema imune no processo de eliminação das células tumorais? Será que o sistema imune é eficaz? E se não, quais as possíveis causas da evasão tumoral? Logo, estas e inúmeras outras perguntas norteiam o estudo de muitos médicos, biólogos, físicos, matemáticos dentre outros. Como exemplo pode-se citar L.G. de Pillis e colaboradores [14,15], que elaboraram e validaram um modelo para a resposta imune ao crescimento de um tumor, a partir de considerações fisiológicas. Os autores obtiveram valores estimados para os parâmetros presentes no seu modelo. Um modelo para a resposta do sistema imune também foi elaborado por Kirschner e Panetta [29], considerando que a ativação das células imunes pode ser descrita por termos do tipo Michaelis-Menten. Segundo os autores, este tipo de termo para a ativação é apropriado para indicar a resposta limitada ao tumor e também poderia ser usado para tumores sólidos, onde a interação entre as células tumorais e imunes se dá apenas na superfície do tumor. Neste trabalho apresenta-se um modelo matemático para representar o crescimento de um tumor considerando a relação que existe entre as células tumorais e o sistema de defesa do organismo, o sistema imune. No modelo o sistema imune é formado por linfócitos citotóxicos (conhecidos por T CD8) e por células naturais-matadoras (denominadas por NK). Considera-se a competição entre as células tumorais e imunes e a ativação dos linfócitos NK e T CD8, além de termos de fonte de entrada e morte de cada espécie. Nas simulações realizadas na plataforma MATLAB, explora-se a capacidade do modelo em apresentar diferenças de estratégias de tratamento para pacientes saudáveis ou pacientes com sistema imune debilitado e para tumores de crescimento lento ou rápido. 3 A dissertação está estruturada em quatro capítulos, abordando-se os itens relacionados a área de interesse do estudo em questão. No Capítulo I faz-se uma explanação sobre o que vem a ser o câncer, mecanismos internos que as células possuem para fazer o reparo de danos no DNA, bem como as possíveis causas da carcinogênese e formas de tratamento. Já no Capítulo II, aborda-se sobre o sistema imune como um todo, direcionando-se posteriormente a abordagem para imunologia tumoral, a qual enfatiza a importância dos linfócitos NK e linfócitos T CD8 na apoptose das células tumorais. Também no mesmo capítulo faz-se alguns apontamentos sobre possíveis mecanismos que as células tumorais utilizam para escaparem da resposta imune. No Capítulo III, apresentar-se um modelo matemático composto por um sistema de três equações diferenciais ordinárias que procuram representar a relação das células tumorais, os linfócitos NK e linfócitos T CD8. Neste capítulo também se faz uma análise em torno dos pontos de equilíbrio e em que situações o sistema proposto tende a estabilidade. O Capítulo IV, por sua vez, destina-se as simulações relacionadas ao modelo em questão, sendo os resultados das mesmas representados graficamente com a utilização do software MATLABR. Neste capítulo, através das simulações procura-se comparar a dinâmica do modelo proposto em um paciente com o sistema imunológico saudável e um paciente com sistema imunológico doente, bem como, introduz-se um termo de estimulação dos linfócitos T CD8 no intuito de levar o sistema a um estado de equilíbrio livre de tumor. 4 Conclui-se o trabalho apresentando as considerações finais, nas quais se veicula algumas sugestões para trabalhos futuros. Desse modo, pretende-se que o presente trabalho forneça subsídios de real importância na busca de um tratamento que viabilize a cura ou senão a regressão do tumor sem tantos efeitos colaterais ao organismo tais como náuseas, intolerância a alimentos e cheiros, perda de peso e cabelo, dentre outros que por inúmeras vezes acabam comprometendo, em muito, a qualidade de sobrevida do paciente. 5 CAPÍTULO I - ABORDAGENS RELATIVAS AO CÂNCER Em relação ao perfil da mortalidade da população brasileira, de acordo com os dados do Ministério da Saúde [35], 13,7% de todos os óbitos de homens registrados são devidos ao câncer, ficando atrás apenas das mortes por causas externas que representam 18,3% dos óbitos e doenças cardiovasculares que correspondem a 25,6% das mortes. Entre as mulheres com faixa etária de 10 a 49 anos a mortalidade advinda de neoplasias correspondem a 23% dos óbitos, as doenças do aparelho circulatório representam 21,1% e as causas externas 19,2% da mortes. Diante desses índices surgem inúmeros questionamentos: que doença é essa? Como surge? Tipos de câncer? Possíveis causas? Formas de tratamento? Assim, o presente capítulo através de uma breve explanação procurará responder a estas indagações. 1.1 O que é câncer e como surge O câncer (do latim câncer: disseminação nociva em forma de caranguejo) é advindo da perda da capacidade normal da célula de regular sua divisão. As células cancerígenas não param de se multiplicar, consequentemente, crescem sobre outras células, invadem tecidos sadios, formando massas celulares que são os tumores malignos, podendo estes espalhar-se para outras regiões do corpo [10,20]. Segundo Peter Parham [40], estima-se que ocorram cerca de 1016 divisões celulares durante toda a vida para manter a integridade do organismo, realizar a substituição das células gastas, fazer o reparo de tecidos danificados e a montagem 6 de respostas imunes contra os patógenos. Logo, essas divisões celulares precisam ser bem-controladas e, caso ocorra um tipo de lesão ao DNA ao longo desse processo, a célula possui mecanismos que impedem a sobrevivência e a divisão celular com DNA muito danificado. Contudo, como o número de duplicações ao longo da vida do ser humano é expressivo, danos químicos no DNA podem acabar escapando ao maquinário de reparo. Mas como o controle da divisão celular nunca depende da função de somente uma proteína, e uma célula não pode se tornar cancerosa pela mutação de apenas um gene faz-se necessário que ela, acumule múltiplas mutações em genes relacionados ao controle da multiplicação e da sobrevivência celulares. Quando isso ocorre, a célula mutante prolifera, formando uma população em expansão de células mutantes, que eventualmente alteram a fisiologia e a função dos órgãos corporais, causando as doenças que são coletivamente denominadas câncer. Ainda de acordo com Parham [40], estima-se que uma célula deve acumular no mínimo cinco ou seis mutações independentes antes de poder tornar-se cancerosa. O número real depende do tipo celular dos genes particulares em que as mutações ocorrem. Assim, a baixa frequência de mutação e a exigência de mutações múltiplas significa que cada câncer inevitavelmente origina-se de uma célula que sofreu transformação maligna, o que explica, porque em órgãos pares como os pulmões, o câncer inicialmente afeta somente um deles. A probabilidade de que uma célula humana desenvolva o câncer aumenta de modo não-linear, uma vez que, faz-se necessário que a célula tenha uma combinação certa de mutações para que se torne maligna. Portanto, essas possibilidades ficam aumentadas com o envelhecimento, pois a cada divisão celular 7 existe pode haver um erro na cópia do DNA e se deixado sem correção, implicará em células mutantes que podem culminar com o aparecimento do câncer. Para um melhor entendimento sobre como ocorre a formação do câncer é imprescindível entender o ciclo celular, o qual é dividido em dois momentos: mitose (divisão celular) e interfase (período em que uma célula não está se dividindo, mas está preparando todo arsenal para realizar a divisão posterior), momentos estes que podem ser observados na fig.1.1. É na interfase que uma célula passa a maior parte da vida. Nesse período que o DNA cromossômico está em plena atividade, produzindo moléculas de RNA com instruções para a síntese de proteínas, bem como, ocorre o crescimento celular e a duplicação das moléculas de DNA para a próxima divisão celular. Assim, com base no período em que os cromossomos se duplicam, subdivide-se a interfase em três fases: G1, S e G2 [4,31]. A fase G1 é aquela na qual as células que acabaram de se dividir permanecem até iniciarem outro ciclo mitótico, com duração variável. Nessa fase ocorre a síntese de RNA, de proteínas e recuperação do volume normal da célula, que foi reduzido à metade na mitose. Durante a fase S ocorre a síntese do DNA e sua duplicação. Na fase G2 a síntese de DNA já se completou; é a fase que antecede a mitose [4,28,31]. São erros na fase S, duplicação do DNA que podem acabar provocando o aparecimento de algum tipo de câncer. 8 Fig.1. 1 - Representação do esquema do ciclo celular. A estimativa de duração de cada fase é apenas ilustrativa[28] O organismo humano possui complexos sistemas para estimular ou inibir a proliferação celular, sendo que a proliferação e a diferenciação normal das células influenciados por um grupo de genes denominados protooncogenes [28,40]. Estes genes é que codificam os componentes do crescimento normal, dentre os quais destacam-se os fatores de crescimento, receptores, enzimas sinalizadoras e fatores de transcrição. Os fatores de crescimento se ligam a receptores na superfície celular, que ativam as enzimas de sinalização dentro da célula que, por sua vez, ativam proteínas especiais chamados fatores de transcrição dentro do núcleo da célula, tudo isso para estimular o crescimento e proliferação celular, conforme representado na fig.1.2. 9 Fig.1. 2 - Proto-oncogenes e crescimento de uma célula normal. Adaptado de U.S National Câncer [56] Quando ativados incorretamente e fora do momento certo, esses genes dão origem a vários tipos de câncer (onco, câncer) passando a ser chamados de oncogenes. Os defeitos no funcionamento dos protooncogenes podem ser induzidos por modificação acidental na seqüência de bases do DNA (mutação), aumento do número desses genes (amplificação gênica) ou por alteração na sua posição, quando eles passam para a proximidade de um gene promotor ativo [26,54,56], como consequência, as células tornam-se hiperativas, o que pode ser pode ser observado nas fig.1.3 e fig.1.4. 10 Fig.1. 3 - Representação das formas mutantes dos proto-oncogenes. Adaptado de U.S National Câncer [56] Fig.1. 4 – Oncogenes. Adaptado de U.S National Câncer [56] A segunda classe de genes envolvidos na transformação celular são os genes supressores tumorais, pois codificam proteínas que impedem a proliferação 11 indesejável de células mutantes [40,56], ou seja, agem como um pedal de freio de um automóvel. Todavia, se um par de genes supressores tumorais é perdido ou inativado por mutação, essa ausência funcional permite o desenvolvimento do câncer. Assim, indivíduos que herdaram uma cópia defeituosa de um gene supressor tumoral tem um acréscimo no risco de desenvolver câncer, isso porque basta somente a segunda cópia sofrer mutação para a pessoa desenvolver câncer uma vez que já não há mais nenhuma cópia do gene funcional, semelhante a um carro andando com o pedal do freio que não funciona adequadamente, conforme representando na fig.1.5. Fig.1. 5 - Genes supressores tumorais. Adaptado de U.S National Câncer [56] Existe um gene supressor tumoral típico p.53, que é expresso em resposta ao dano no DNA e que codifica uma proteína que faz a célula danificada morrer por apoptose. Outrossim, os cânceres mais frequentes em humanos advém da perda desse gene ou mutações que interferem com sua função protetora, pois mais de 50% dos casos de câncer humano têm uma mutação nesse gene , revelando sua importância em proteger o corpo dessa doença e, acredita-se que o gene p.53, na 12 verdade pode ter evoluído como uma defesa celular interna contra o câncer [40,56] representação esta pode ser observada na fig.1.6. Fig.1. 6 - Genes supressores tumorais. Adaptado de U.S National Câncer [56] De acordo com National Cancer Institute [56], há um terceiro tipo de genes envolvidos no aparecimento do câncer, os chamados de "genes de reparação do DNA", os quais codificam proteínas cuja função é corrigir erros que surgem quando as células duplicam seu DNA antes da divisão celular. Logo, mutações em genes de reparação do DNA podem levar a uma falha na reparação, que, por sua vez, permite à célula acumular mutações subsequentes que podem levar ao aparecimento do câncer, conforme representado na fig. 1.7. Por exemplo, pessoas com uma doença denominada xeroderma pigmentoso em virtude de terem herdado um defeito em um gene de reparação do DNA não podem efetivamente reparar os danos sofridos pelo DNA da pele quando as células são expostas à luz solar e, por isso apresentam uma elevada incidência de câncer da pele. Certas formas de câncer hereditário também envolvem defeitos de reparo do DNA. 13 Fig.1. 7 - Genes de reparação do DNA. Adaptado de U.S National Câncer [56] Enfim, o câncer surge quando a(s) célula(s) perdem o controle do crescimento normal, ou seja, é perdida a homeostase entre as taxas de crescimento de células novas e a morte de células velhas. Esta perturbação pode resultar de crescimento descontrolado de células ou perda da capacidade da célula sofrer “apoptose” (autodestruição). Fig.1. 8 - Parte superior do quadro representa o controle da divisão celular e na parte inferior observa-se a perda desse controle. Adaptado de U.S National Câncer [56] 14 1.2 Tipos de câncer Segundo Peter Parham [40, p.358] “o câncer é uma coletânea de doenças que ameaçam a vida e são causadas por uma proliferação celular anormal e invasiva”. Desse forma, é correto frisar que o câncer não é uma doença única, mas sim um conjunto de mais de 200 patologias, classificadas de acordo com o tecido e o tipo de células de origem e dentre essas centenas de formas distintas de cânceres, os três principais subtipos são: Sarcomas: originam-se do tecido conjuntivo e dos tecidos de suporte, como osso, cartilagem, músculo, vasos sanguíneos e gordura sendo que alguns tipos estão representados na fig.1.9; Carcinomas: incluem as formas mais frequentes de câncer humano e procedem dos tecidos epiteliais, como a pele e os tecidos glandulares da mama e da próstata. Os carcinomas que procedem do tecido glandular são chamados de adenocarcinomas. Leucemias e linfomas: inclui os cânceres dos tecidos formadores das células sangüíneas e são caracterizados pela dilatação dos nódulos linfáticos, a invasão do baço e da medula e a superprodução de glóbulos brancos imaturos[56], podendo se observar na fig.1.9 alguns tipos mais frequentes. 15 Fig.1. 9 - Diferentes tipos de Câncer. Adaptado de U.S National Câncer [56]. Assim, os cientistas utilizam uma variedade de nomes técnicos para distinguir os diversos tipos de carcinomas, sarcomas, linfomas e leucemias. Em geral, esses nomes são criados por meio de diferentes prefixos para o local onde o câncer começou seu crescimento descontrolado. Por exemplo, o prefixo "osteo" significa osso, por isso um câncer nos ossos resultante é chamado de um osteossarcoma. Do mesmo modo, o prefixo "adeno" significa glândula, de forma que um câncer de células glandulares é chamado adenocarcinoma - por exemplo, um adenocarcinoma mamário[56]. 1.3 Invasão e metástases Cânceres são capazes de se espalharem por todo o corpo por meio de dois mecanismos: invasão e metástase. 16 De acordo com o National Cancer Institute [56], invasão refere-se à migração direta e penetração de células cancerígenas em tecidos vizinhos. Todavia, além de se disseminar localmente a partir de seu ponto de origem, as células cancerosas podem penetrar em vasos sanguíneos e linfáticos e, através destes, ser transportadas até locais distantes, onde iniciam novos focos de crescimento canceroso. Esse modo de disseminação é denominado metástase, com o local de origem sendo denominado tumor primário e os locais de disseminação denominados tumores secundários [40]. Sabe-se que em uma célula normal a mitose (divisão da célula adulta em duas) é realizada controladamente dentro das necessidades do organismo. Por razões desconhecidas, certas células reproduzem-se com uma velocidade maior, desencadeando o aparecimento de massas celulares (neoplasias) ou tumores. Nas neoplasias malignas o crescimento é mais rápido, desordenado e infiltrativo; as células não guardam semelhança com as que lhes deram origem e têm capacidade de se desenvolver em outras partes do corpo, fenômeno este denominado metástase, que é a característica principal dos tumores malignos, conforme pode ser observado na fig.1.10. 17 1. O desenvolvimento do tumor começa quanto a célula (A) sofre mutação genética que a faz se replicar, quando deveria cessar o processo de multiplicação. 2 . A célula alterada e suas descendentes aparentemente são normais. A anormalidade está na multiplicação excessiva (hiperplasia). Depois de anos, uma em um milhão destas células anormais (B) sofre outra mutação, que a faz perder o controle sobre seu crescimento. 3 . Além de proliferar excessivamente, a descendência tem forma e função diferentes. O tecido onde está a célula é considerado com displasia. Depois de algum tempo, as células com displasia sofrem uma mutação mais rara que altera ainda mais seu comportamento (C). 4. O crescimento e a forma das células se tornam ainda mais anormais e o tumor é formado. Se não ultrapassar as barreiras de seu tecido de origem é chamado de câncer in situ ou localizado. O tumor pode permanecer assim, mas em muitos casos de câncer, algumas células cancerosas sofrem mais mutações (D). 5.As mutações podem dar ao tumor capacidade para invadir outros tecidos e liberar células no sangue ou na linfa. Essas céluas invasoras se estabelecem em outros órgãos formando novos tumores ( metástases). As metástases podem matar ou atingir órgãos vitais. Fig.1. 10 - Evolução do câncer [9] 1.4 Como é o processo de carcinogênese? Carcinogênese é um termo geral utilizado para denotar o desenvolvimento de uma neoplasia. Esta por sua vez, significa literalmente novo crescimento, mas pode ser entendido como um aumento autônomo do número de células [49]. O processo de carcinogênese (formação de câncer), envolve múltiplas etapas (estágios), no qual uma série de erros genéticos irreversíveis que ocorrem numa célula vão se acumulando até que culmine em algum tipo de câncer. Geralmente, se dá lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e 18 dê origem a um tumor visível. Esse processo de indução do câncer passa por vários estágios antes de uma célula normal ser transformada em uma célula maligna. 1.4.1 Estágio de iniciação É o primeiro estágio da carcinogênese. Nele as células sofrem o efeito dos agentes cancerígenos ou carcinógenos que provocam modificações em alguns de seus genes, fig 1.11. Nesta fase as células se encontram, geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente. Encontram-se "preparadas", ou seja, "iniciadas" para a ação de um segundo grupo de agentes que atuará no próximo estágio [17,25,26,51]. Fig.1. 11 - Agentes iniciadores [34] A iniciação envolve mutação do DNA celular resultando na ativação de oncogenes e/ou na inativação de genes supressores tumorais, sendo provocada na maioria dos casos por agentes genotóxicos ambientais, tais como produtos químicos, radiações e vírus, podendo ainda os oncogenes ser ativados através de amplificações gênicas e/ou translocações cromossômicas [57]. É conveniente frisar que a iniciação torna-se mais frequente em células que se dividem intensamente, uma vez que nessas células é maior a possibilidade de que eventuais danos no DNA escaparem ao mecanismo de reparo, tornando o prejuízo permanente e irreversível. Além disso, a iniciação é um processo aditivo, depende da dose de agentes cancerígenas, pois o aumento da dose aumenta a 19 incidência e a multiplicidade das neoplasias e reduz o período da sua manifestação. Contudo, nem todas as células de um organismo vivo, expostas a um agente iniciador serão iniciadas ainda que sofreram mutações por que os genes que regulam a diferenciação terminal também devem ter sido mutados. Outrossim, ainda existe a iniciação espontânea, advinda de mutações espontâneas, no entanto esse tipo é menos frequente [39]. 1.4.2 Estágio de Promoção É o segundo estágio da carcinogênese. Nele, as células geneticamente alteradas, ou seja, "iniciadas", sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores, fig. 1.12. Em algumas pessoas, porém, há também defeitos genéticos herdados que podem disparar o mecanismo de uma célula cancerosa em potencial [17,25,26, 51]. Fig.1. 12 - Agentes promotores [34]. A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor. A suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse estágio. Esses agentes cancerígenos são demonstrados em alguns tumores como causa e efeitos, sendo o mais conhecido a nicotina contida no cigarro que aumenta em 12 vezes as chances de câncer de pulmão. Em outros tipos de câncer, essa identificação de causa e 20 efeito ainda não foi definida, por essa razão as causas da doença são ainda um grande objeto de estudo no campo da oncologia. Esse estágio não envolve mudanças moleculares na estrutura do DNA e definida como operacionalmente reversível, de longa duração e período no qual ocorre a expansão clonal das células [49]. A promoção segue a iniciação e envolve o processo de ativação desses genes latentes e embora ocorra durante um longo período de tempo, é reversível em seus estágios iniciais desde que ocorra a interrupção do contato com agentes promotores [57]. 1.4.3 Estágio de progressão Progressão envolve dano genético que resulta na conversão de tumores benignos em neoplasias malignas capazes de invadir os tecidos adjacentes e distantes metasterização [57]. Este estágio se caracteriza pela multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas, conforme representado na fig.1.13. O câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença [17,25,26,51]. Fig.1. 13 - Estágio de progressão do câncer [34] 21 Assim, ficou evidenciado que a iniciação envolve a formação de uma linha de células mutantes através de uma alteração na informação genética de uma linhagem celular. A promoção envolve a divisão da célula-mãe para produzir muitas cópias (clones). Contudo, alguns clones podem sofrer mais mutações e proliferar mais rapidamente do que as outras, processo denominado progressão. Essas células, por isso, começam a ser mais numerosas que as outras. Este processo é repetido e as células tumorais se tornam mais agressiva após cada ciclo, em um processo denominado seleção clonal. Após 4-6 ciclos a neoplasia torna-se agressivo o suficiente para se tornarem malignos [52]. 1.5 Agentes cancerígenos O câncer não é uma evolução inevitável do envelhecimento, prova disso é que um grande contingente de idosos não têm câncer. Esse fato evidencia que além dos fatores genéticos existem fatores ambientais que exercem influência sobre o risco do desenvolvimento do câncer. De maior importância para a população em geral são as agressões ambientais que aumentam o número de mutações sofridas pelo corpo. Os agentes químicos e físicos que lesam o DNA de modo a causar uma taxa aumentada de mutação são denominados mutagênicos e esses, por sua vez, aumentam o risco do desenvolvimento do câncer sendo os chamados carcinógenos [40]. São efeitos cumulativos de diferentes agentes os responsáveis pelo início, promoção, progressão e inibição do tumor. A carcinogênese é determinada pela exposição a esses agentes, em uma dada frequência e período de tempo, e pela interação entre eles. Devem ser consideradas, também, as características individuais, que facilitam ou dificultam a instalação do dano celular. O período de 22 latência varia com a intensidade do estímulo carcinogênico, com a presença ou ausência dos agentes oncoiniciadores, oncopromotores e oncoaceleradores, e com o tipo e localização primária do câncer. Portanto, a presença dos agentes cancerígenos, por si só, não pode ser responsabilizada pelo desenvolvimento dos tumores. Há, porém, casos em que isto acontece. O carcinoma de bexiga, por exemplo, se desenvolve em 100% dos destiladores de benzidina que se expõem a esta substância de forma intensa e contínua, e o câncer de pulmão, que é consequência do tabagismo crônico, ocorrendo entre fumantes, em mais de 90% dos casos. Agente oncoiniciador - é capaz de provocar diretamente o dano genético das células, iniciando o processo de carcinogênese, é chamado agente iniciador ou oncoiniciador. Como exemplo de inciador temos o benzopireno, um dos componentes da fumaça do cigarro e alguns vírus oncogênicos, entre outros [25,26]. Agente oncopromotor - atua sobre as células iniciadas, transformando-as em malignas [25,26]. Agente oncoacelerador - caracteriza-se pela multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas. Atua no estágio final do processo [25,26]. Fig.1. 14 - Evolução de uma célula cancerosa[51]. 23 Assim sendo, agentes químicos, radiação, vírus, hereditariedade, todos contribuem para o desenvolvimento do câncer por desencadear mudanças em genes da célula fazendo com que uma pessoa fique mais suscetível ao câncer, conforme esquematizado na fig.1.15. Fig.1. 15 - Genes e o câncer. Adaptado de U.S National Câncer Institute [56] Os carcinógenos químicos tendem a causar mutações devido a substituições de um único nucleotídeo no DNA. A radiação, por sua vez, tende a produzir uma forma maior de dano, como rupturas no DNA, nucleotídeos com ligações cruzadas, recombinação anormal e translocações cromossômicas. Certos vírus também têm o potencial de transformar as células e estão associados a cerca de 15% dos cânceres humanos, sendo chamados de vírus oncogênicos [40]. 1.6 Formas de tratamento Para tratar o câncer, os médicos recorrem à inúmeras formas de tratamento dentre as quais destacam-se: cirurgia, quimioterapia, terapia alvo dirigida, 24 radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia, tratamentos utilizados de forma isolada ou combinada, dependendo do tipo celular do órgão de origem e do grau de invasão do tumor. 1.6.1 Cirurgia A cirurgia consiste na remoção do tumor através do método cirúrgico, podendo este método estar associado a outras formas de tratamento do tumor, quimioterapia e/ou radioterapia. Dependendo do estadiamento do tumor pode-se ou não remover cirurgicamente todas as células tumorais, isto porque quando se tratar de tumores em estágio avançado ela muitas vezes somente é utilizada para reduzir o tamanho da massa tumoral, uma vez que a remoção total em estágios avançados nem sempre é possível. 1.6.2 Quimioterapia A quimioterapia é uma modalidade de tratamento que utiliza medicamentos específicos para a destruição das células cancerosas. Como atuam em diversas etapas do metabolismo celular, as medicações alcançam as células malignas em qualquer parte do organismo com o objetivo de diminuir ou cessar a atividade do tumor [55]. A aplicação da quimioterapia é definida pelo médico oncologista e pode ser realizada durante a internação ou em ambulatório. O tratamento quimioterápico pode ser realizado com um único medicamento ou através da combinação de vários deles (mistura de drogas e doses), por via intravenosa (na veia ou por catéteres) ou via oral (comprimidos ou cápsulas). 25 O tratamento pode ter indicação como terapia exclusiva, adjuvante ou neoadjuvante. A terapia exclusiva é quando o principal tratamento adotado para combater o câncer é o de quimioterapia. Adjuvante, é geralmente o tratamento complementar aplicado após o tratamento primário, como a cirurgia, por exemplo. E, neo-adjuvante é o que precede a cirurgia, utilizado para diminuir o tumor e a agressividade do procedimento [54]. 1.6.3 Terapia Alvo-Dirigida O conceito de terapia alvo-dirigida remonta de longa data, formulado por Paul Erlich em 1910, designando drogas com a capacidade de atingir alvos celulares específicos com poucos efeitos colaterais para o hospedeiro, a “magic bullet” ou bala mágica [42]. Logo, a grande diferença com a quimioterapia é que, teoricamente, a terapia dirigida, por ser específica, poupa um grande número de células normais, causando menos efeitos colaterais, pois a atuação desses medicamentos está dirigida a alvos específicos presentes na célula tumoral e muitas vezes ausentes na normal [38]. 1.6.4 Radioterapia De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, a radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada. Há duas maneiras de utilizar radiação contra o câncer 26 • Teleterapia: utiliza uma fonte externa de radiação com isótopos radioativos ou aceleradores lineares[45]; • Braquiterapia: que é o tratamento através de isótopos radioativos inseridos dentro do corpo do paciente, geralmente através de cápsulas de metal, onde será liberada a radiação ionizante [48]. 1.6.5 Hormonioterapia Alguns tumores como os de mama, próstata e endométrio expressam receptores hormonais, ou seja, eles crescem por conta da presença hormonal. A hormonioterapia é um tratamento que tem como objetivo impedir a ação destes hormônios. De que forma? Bloqueando ou suprimindo os efeitos do hormônio sobre o órgão alvo (órgão sobre o qual atua), por exemplo, o estrógeno, que é o hormônio responsável pela proliferação celular no caso do tumor da mama [19]. 1.6.6 Imunoterapia A imunoterapia é uma forma de tratamento do câncer que promove a estimulação do sistema imunológico, através do uso de substâncias que modificam a resposta biológica [16,37,40,41,47]. Durante muitos anos, médicos acreditavam que o sistema imunológico só fosse eficaz na luta contra as doenças infecciosas causadas por agentes invasores como bactérias e vírus. Mas recentemente observou-se que o sistema imunológico pode desempenhar um papel central na defesa do organismo contra o câncer. Apesar desse papel ainda não estar bem elucidado, há indícios de que em muitos pacientes com câncer o ritmo do crescimento tumoral e a sua propagação é desacelarada pela interação com o sistema imunológico [41]. 27 De acordo com Mary L. Disis [16] a imunoterapia no tratamento contra o câncer consiste essencialmente em estimular o sistema imune através de uma variedade de reagentes, tais como vacinas, infusão de linfócitos T, ou citocinas. Estes reagentes atuam por meio de vários mecanismos: estimulando a resposta antitumoral, quer através do aumento do número de células efetoras ou produzindo um ou mais mediadores solúveis, como linfocinas; diminuindo mecanismos supressores da resposta imune; alterando células tumorais para aumentar a sua imunogenicidade e torná-las mais suscetíveis às defesas imunológicas ou ainda melhorando a tolerância as drogas citotóxicas ou radioterapia. A imunoterapia parece oferecer uma nova dimensão no tratamento do câncer, uma vez que, baseia-se em mobilizar e reforçar a tendência natural do organismos em reagir a presença de células tumorais, podendo a imunoterapia ser ativa ou passiva dependendo das substâncias utilizadas e os seus mecanismos de ação [21,22,23,24]. 28 CAPÍTULO II – O SISTEMA IMUNE E O CÂNCER Quando as defesas intracelulares falham entram em ação outros mecanismos de defesa que objetivam a eliminação das células tumorais, uma vez que, processos homeostáticos intracelulares são capazes de identificar células geneticamente alteradas e processar a sua destruição. Nesse capítulo será feita uma abordagem sobre o Sistema Imune e sua ação anti-tumoral. Para tal, primeiramente será feita uma breve explanação sobre o sistema imune como um todo para facilitar o entendimento da secção subsequentemente que será direcionada à imunologia tumoral, bem como mecanismo de escape que as células tumorais usam burlar o sistema imune. 2.1 Sistema Imune A principal função do sistema imune é defender o organismo contra microrganismos e moléculas estranhas. Os microrganismos, as células cancerosas e os tecidos ou órgãos transplantados são interpretados pelo sistema imune como algo contra o qual o corpo deve ser defendido. Logo, segundo Stites e Terr [53], o sistema imune deve discriminar o “não-próprio” do “próprio”, o que é realizado através das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (CPH; em inglês, MHC, de major histocompatibility complex), uma vez que, ao que tudo indica cada antígeno, seja próprio ou não-próprio, reconhecido pelos linfócitos T somente em conjunto com moléculas do MHC. Assim, os linfócitos T CD4 reconhecem antígenos em conjunto com moléculas de classe II, enquanto os linfócitos T CD8 reconhecem antígeno no contexto das moléculas de classe I do MHC. 29 2.1.1 Anatomia A anatomia do sistema imune pode ser observada na fig.2.1 e, de acordo com Stites e Terr [53] as células que formam o sistema imune (leucócitos) estão distribuídas pelo organismo, no entanto, sua predominância é maior nos órgãos linforreticulares, tais como os linfonodos, baço, medula óssea, timo e tecidos linfóides associados às mucosas das vias gastrintestinais e respiratórias. Assim, segundo Motta Junior [36], existe uma variedade de locais onde podemos encontrar tecidos linfóides. O tecido linfóide pode estar acumulado formando os linfonodos que se interpõem entre os vasos linfáticos do corpo, pode fazer parte do parênquima de órgãos maciços como o baço, o timo ou as placas de Peyer do íleo. As tonsilas (amígdalas) são formadas puramente por tecido linfóide. Alguns órgãos não possuem tecido linfóide, mas tem uma grande população de macrófagos prontos para agir e fazer a “limpeza” do local, como por exemplo o pulmão (macrófagos alveolares), o fígado (células de Kuppfer), o cérebro (micróglias) e a pele (células de Langehans). Fig.2. 1 - Sistema imune [7] 30 2.1.2 Componentes do sistema imune O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis. As substâncias solúveis são moléculas que não estão contidas em células, mas dissolvidas em um líquido (por exemplo: plasma). As principais substâncias solúveis são os anticorpos, as proteínas do complemento e as citocinas. Algumas substâncias solúveis funcionam como mensageiros para atrair e ativar outras células[7]. As células do sistema imune são os leucócitos, que por sua vez, subdividemse em várias outras linhagens: Granulócitos, Fagócitos mononucleares e Linfócitos. Somente se estará fazendo uma abordagem sobre os linfócitos e os fagócitos mononucleares, uma vez que, de acordo com Stites e Terr [53] os linfócitos e os fagócitos mononucleares desempenham um papel central na resposta imune. 2.1.2.1 Linfócitos Existem três linhagens distintas de linfócitos : B, T e NK. 2.1.2.1.1 Linfócitos B e T Segundo Junqueira e Carneiro [28], os linfócitos B se originam na medula óssea e por movimentação amebóide penetram nos capilares sanguíneos, sendo levados para outros órgãos linfóides, exceto o timo, onde proliferam quando ativados por antígenos e se diferenciam em plasmócitos, produtores de anticorpos. Constituem 5-10% dos linfócitos do sangue. Contudo, convém frisar que alguns linfócitos B quando ativados não se diferenciam em plasmócitos, tornando-se linfócitos B da memória imunitária. 31 Outra linhagem de linfócitos são os linfócitos T, os quais representam de 6575% dos linfócitos do sangue. Seus precursores originam-se de células stem na medula óssea, penetram no sangue e são retidos no timo, onde diferenciam-se linfócitos T maturos que expressam moléculas funcionalmente importantes como o TCR, CD4 e CD8. Assim, o timo produz grandes números de linfócitos T antígenoespecíficos, maturos, os quais novamente carregados pelo sangue vão ocupar áreas definidas nos outros órgãos linfóides. Nestas estruturas os linfócitos T se diferenciam nas subpopulações: T CD4, T CD8, T-supressora e T-memória [28]. De acordo com Peter Parham [40,46], duas classes principais de linfócitos T podem ser diferenciados por sua expressão a glicoproteínas de superfície celular CD4 e CD8. Os linfócitos T que expressam a glicoproteína CD8 são denominados linfócitos T CD8 e, reconhecem somente células que transportam seu peptídico correspondente, apresentado por uma molécula MHC de classe I. Já os linfócitos T que expressam a glicoproteína CD4 são denominadas linfócitos T CD4 e secretam citocinas que ajudam a ativar outros tipos de células do sistema imune e respondem a antígenos peptídicos apresentados por antígenos MHC classe II. Os linfócitos T CD4 possuem a função de estimular os outros linfócitos T e também a transformação dos linfócitos B em plasmócitos. Isso torna-se possível porque possuem CD4 e, assim, reconhecem um macrófago ativado e enviam estímulos para os outros linfócitos. Os linfócitos T-supressores inibem apresentando o término da resposta imune. a resposta humoral e celular, 32 Em conjunto os linfócitos T CD4 e T-supressor são chamados de células reguladoras. Os linfócitos T CD8 (Tc) que saem do timo são pre-Tc e possuem TCR que pode reconhecer o antígeno, mas não são maduras e não podem destruir até “se ativarem”. Para se tornarem ativas requerem dois sinais: reconhecimento pelo TCRCD3 do antígeno específico associado com MHC Classe I à superfície do APC e exposição a citocinas (IL-2 e IFN-γ). Contudo, além do primeiro sinal de ativação, elas necessitam de coestimulação CD28-B7 para não entrarem em anergia, uma vez que, moléculas B7 reforçam o sinal do TCR e induzem positivamente a ativação dos linfócitos T por isso recebendo a designação de “segundo sinal”, sem o qual os linfócitos T não são capazes de responder de maneira adequada e, se eles reconhecem seu antígeno de uma forma não estimulante, tornam-se inativos, produzindo um estado de tolerância imunológica. A estimulação do CD28 comprovadamente prolonga e aumenta a produção do IL-2 (responsável pela indução de proliferação dos linfócitos T) e de outras citocinas. A IL-2 também é de importância fundamental na ativação dos linfócitos T, favorecendo a produção do IFN-γ, o qual age como sinal positivo de retroalimentação para muitas respostas imunes [46,47]. Esses linfócitos T CD8, por sua vez, produzem as chamadas perforinas, as quais abrem orifícios nas membranas plasmáticas provocando a lise celular. Também fazem a apresentação dos antígenos estranhos aos linfócitos T CD4, para que estes façam a estimulação necessária. Os linfócitos T podem reagir como células de memória, reagindo com rapidez à reintrodução do antígeno e estimulando o aparecimento dos linfócitos T CD8. 33 Diante do exposto, ficou evidenciado que a diferenciação entre os linfócitos pequenos B e T (fig.2.2) e, também seus subtipos, torna-se possível graças à presença de proteínas integrais específicas em suas membranas, as quais acabam conferindo a cada qual, funções específicas na resposta imune. Fig.2. 2 - Linfócitos B e T [32] 2.1.2.1.2 Linfócitos NK Os linfócitos NK são uma subpopulação de linfócitos que se originam de uma célula precursora na medula óssea e possuem a capacidade de lisar (destruir) certas células tumorais, sem a imunização deliberada do hospedeiro pelo tumor e células infectadas por vírus [40,53]. Os linfócitos NK fazem parte de 10-15% dos linfócitos do sangue. Reconhecem e destróem tanto tumores autólogos (próprios) como alogênicos, sem que estes expressem algum antígeno ativador da resposta imune específica, pois não há reconhecimento de epítopos e nem formação de células monoclonais específicas ou qualquer memória imunológica (que é sempre específica). Assim, tem sido sugerido que essa atividade dos linfócitos NK pode ser importante na vigilância 34 imunológica, impedindo metástases de tumores através do sangue, apesar de haverem controvérsias quanto a esse detalhe [36,47,53]. 2.1.2.2 Fagócitos Mononucleares Os macrófagos e seus precursores circulantes, os monócitos, exercem papéis centrais na imunidade inata e na adquirida e são células efetoras importantes para a eliminação de microorganismos. Realizando a fagocitose e funcionando como células acessórias para a ativação das respostas adquiridas, constituem um dos mais importantes tipos de células fagocíticas e células apresentadoras de antígenos do organismo [44]. Os monócitos são células intermediárias, destinadas a formar os macrófagos [28]. Segundo Stites e Terr [53], os monócitos e macrófagos, podem servir como apresentadora de antígeno para os linfócitos T, por ingestão e degradação de antígenos estranhos. Assim, dentro do sistema imune aferente o macrófago tem papel chave de célula apresentadora de antígeno. Restos celulares tumorais são fagocitados, processados e apresentados ao sistema imune específico. Esta apresentação é feita junto com os antígenos de classe II do MHC. No sistema imune eferente, o macrófago armado pelo seu receptor Fc de IgG específica é um dos sistemas dos protagonistas na lise por ADCC (Citotoxidade Celular Dependente de Anticorpo). Monócitos e macrófagos de um indivíduo normal podem ter reatividade espontânea contra células tumorais após ativação, independente do reconhecimento de antígenos tumorais definidos anteriormente, mas ligada a uma estrutura expressa na célula macrofágica responsável por esta função. A atividade antitumoral natural macrofágica é pequena mas aumenta muito após ativação por linfocinas, 35 principalmente interferon Gama, endotoxinas ou outras substâncias que induzem várias transformações bioquímicas e morfológicas nos macrófagos [21,22,23]. 2.2. Mecanismos de defesa e a imunologia tumoral Existem dois tipos de mecanismos de defesa contra agentes invasores: a imunidade inata, também conhecida como imunidade natural e a imunidade adaptativa [40, 47, 53]. A imunidade inata segundo Dranoff [18] funciona como a primeira linha de defesa contra a infecção. É composta por fatores solúveis, tais como proteínas do complemento, e diversos componentes celulares, incluindo granulócitos (basófilos, eosinófilos e neutrófilos), mastócitos, macrófagos, células dendríticas e linfócitos NK. A resposta imune adaptativa é mais lenta para se desenvolver, mas se manifesta como uma maior especificidade antigênica e de memória. É constituída por anticorpos, linfócitos B, Linfócitos T CD4 e linfócitos T CD8. Linfócitos NK e linfócitos T abrangem a interface inata e da imunidade adaptativa. A representação dos envolvidos na imunidade inata e adaptativa pode ser observada na Fig.2.3: Fig.2. 3 - A resposta imune inata e a adaptativa. Adaptado [18] 36 Outro detalhe que merece ser salientado é que para as células da imunidade inata entrarem em ação não se faz necessário um contato prévio com o antígeno, o que é de suma importância na imunologia tumoral, pois do contrário a proliferação de células cancerosas seria muito mais intensa. E, para comprovar a veracidade dessa afirmação, cientistas observaram que leucócitos periféricos de indivíduos normais são capazes de impedir o crescimento de células tumorais in vitro, e mesmo destruí-las [23]. Macrófagos são frequentemente encontrados no microambiente de tumores. Quando estimulados por citocinas pró-inflamatórias, os macrófagos são ativados podendo secretar citocinas com atividade tumoricida, a qual induz a morte por apoptose, sendo que o processo de apoptose é frequentemente seguido de fagocitose dos corpos apoptóticos e subsequente criação de um ambiente antiinflamatório. Contudo, estas condições tendem a ser menos eficientes na geração de uma resposta imunogênica do que quando a morte das células tumorais ocorre por necrose, que é acompanhada da persistência de um contexto pró-inflamatório. Apesar de dados controversos advindos da literatura, pesquisas mais recentes, evidenciaram que o infiltrado de macrófagos em tumores, está associado antes a uma aceleração na progressão de tumores do que realmente sua contenção [11]. Os linfócitos NK também agem na imunidade natural contra tumores. Neste caso, eles reconhecem antígenos da célula tumoral através do receptor dos linfócitos NK, devido ao fato da célula tumoral não estar mais expressando moléculas do complexo de histocompatibilidade (MHC), sendo mais frequente em células metastáticas. Entretanto, quando células apresentam o MHC em níveis 37 normais, a função da célula NK é inibida em virtude dos receptores inibitórios de células NK [11]. Isso se justifica, de acordo com Peter Parham [40], em virtude dos linfócitos NK individuais expressarem diferentes tipos de receptor inibidor em suas superfícies, uma vez que, cada linfócito NK maduro na circulação manifesta no mínino um receptor inibidor, que pode se ligar a uma ou mais das moléculas de HLA de classe I expressas pela pessoa, desencadeando o envio de sinais inibitórios que desligam a citotoxicidade do linfócito NK e a secreção de citocinas, consequentemente, protegendo as células normais do ataque das células NK. Todavia, células que perderam a expressão do MHC de classe I tornam-se suscetíveis ao ataque dos linfócitos NK. Esses receptores inibidores nos linfócitos NK humanos são de dois tipos. O primeiro tipo são heterodímeros de CD94 e NKG2, com características das lectinas tipo C, sendo codificados por uma família de genes no cromossomo humano 12. O segundo tipo são membros da superfamília das imunoglobulinas, conhecidos como receptores semelhantes a imunoglobulinas para células assassinas (KIRs) codificados por uma família de genes no cromossomo humano 19. Para ambos os tipos de receptor, a união de um ligante MHC de classe I aos domínios extracelulares produz um sinal inibidor [40]. Assim, alguns produtos dos alelos de classe I do sistema HLA podem proteger as células-alvo, enquanto outros podem potencializar destruição mediada pelos linfócitos NK, prova disso é que, modificações em ligantes HLA KIRespecíficos em células tumorais espontâneas e em células vírus-infectadas podem ser responsáveis pela destruição NK-mediada destas células [47]. 38 Outra linha de ação dos linfócitos NK baseia-se na capacidade que os mesmos possuem de se ligar a alvos revestidos com anticorpos IgG e de destruí-los através de seus receptores para IgG (citotoxicidade celular dependente de anticorpo(ADCC)). Logo, como os macrófagos, linfócitos NK apresentam receptores de Fc, reconhecendo assim células tumorais opsonizadas por anticorpos. A lise celular dá-se por liberação de grânulos intracelular dos linfócitos NK, enriquecidos em perforinas. A extrusão de perforinas dos linfócitos NK e sua inserção na membrana da célula tumoral está associada a morte da célula-alvo [11,40,47]. Conforme esquematizado na fig.2.4, existem três formas de ação dos linfócitos NK sobre as células tumorais. Em (a), observa-se os linfócitos NK fazendo a exocitose de perforina e granzimas para provocar a morte das células tumorais. Isto ocorre devido a estimulação feita através de citocinas, como o interferon gama ( IFN - γ ) , que estimula a ação da imunidade adaptativa no intuito da eliminação das células tumorais. Em poucos minutos grânulos citotóxicos são direcionados para as células tumorais, e a perforina contida nesses grânulos é secretada, perturbando a membrana das células tumorais, permitindo a entrada de proteases conhecidas como granzimas. As duas mais abundantes granzimas, A e B, têm sido implicados na mediação da apoptose de células-alvo. Através de sinalização induzem esta atividade ativando receptores, enquanto receptores inibitórios tentam impedi-la. Já em (b) pode-se observar a morte através do receptor-ligante. Alguns linfócitos NK expressam FaS ligante (FasL) ou TNF relacionado apoptose induzindo-ligante (Trail). Estes ligam-se e ativando seus receptores, FaS e TRAIL receptor (TRAILR), respectivamente, que são expressas por células tumorais. Esta interação induz apoptose de células tumorais. A proteína c-FLIP (FLICE proteínas inibidoras) fazem a indução da apoptose em blocos através desta via. Em (c) pode-se visualizar a 39 ação dos linfócitos NK através da via do óxido nítrico e secreção do interferon gama ( IFN - γ ) , consequentemente exercendo atividade antitumoral. O óxido nítrico (NO) é uma das mais poderosas moléculas efetoras no sistema imunitário, e pode regular a função das células NK citotóxicas contra células tumorais [50]. Fig.2. 4 -Representação das funções efetoras dos linfócitos NK para eliminação de células tumorais. Adaptado [50] Ainda explanando sobre os mecanismos de indução da apoptose de células tumorais pelos linfócitos NK, Mehlen & Puisieux [33] comentam que existem pelo menos dois mecanismos para realizar a apoptose. Assim, se um ligante NKG2D é detectado na superfície das células tumorais, os linfócitos liberam perforina e, na falta de reconhecimento NKG2D ligante, os linfócitos NK podem produzir o fator de necrose tumoral (TNF) relacionados a apoptose induzida pelo ligante TRAIL – TRAIL-R ou CD95L-CD95 e, consequentemente, desencadeando a morte das células tumorais por apoptose induzida (DISC), fig.2.5. 40 Fig.2. 5 - Vigilância imune contra células tumorais. Adaptado [33] Os linfócitos NK em repouso, isoladas de indivíduos normais, destróem apenas uma limitada faixa de tumores, mas podem ser ativados por certas citocinas, por exemplo IL-2 (uma interleucina), para aumentar sua atividade citotóxica e proliferar, consequentemente, adquirindo a capacidade de destruir essencialmente todos os tipos celulares de tumor, sem causar dano à maioria dos tecidos normais. Esse fenômeno é chamado atividade destruidora ativada por linfocina (LAK). Em se tratando de linfócitos NK é interessante salientar que, segundo Smyth et al [50], os mesmos formam uma primeira linha de defesa contra patógenos ou células cancerígenas e, ao receberem sinais de alerta ou perigo emitidos pelas células tumorais, eles respondem a esses sinais através da produção de moléculas efetoras que podem tanto diretamente suprimir o crescimento tumoral e/ou transmitir informações importantes para o resto do sistema imunitário. Para tal, a figura a seguir esquematiza o processo em que os linfócitos NK reconhecem alguns sinais ou alertas de perigo produzidos pelas células tumorais, fazendo com que as 41 mesmas influenciem o desenvolvimento de resposta imunitária adaptativa dos linfócitos T e B que constituem imunidade específica e de memória imunológica a tumores e agentes patogênicos. Além disso, a lise de células cancerosas provocadas pelos linfócitos NK pode fornecer antígenos tumorais para células dendríticas, que os leva até os linfócitos T CD8 (CTLs) nos gânglios linfáticos. As citocinas, como o interferon gama ( IFN − γ ) , que são produzidos por linfócitos NK ativados, ativa os linfócitos T CD8(CTL) e linfócitos T CD4. Isto leva à proliferação dos linfócitos T CD4 e a produção de citocina. Ativadas os linfócitos NK1.1+T (NKT) também podem induzir a atividade antitumoral de linfócitos NK. As citocinas produzidas pelas células NK também podem regular a atividade antitumoral das células B, as quais acabam produzindo anticorpos antitumorais conforme pode ser observado na fig.2.6. Fig.2. 6 - Linfócitos NK e a resposta imune desencadeada para lisar células tumorais. Adaptado [50] Os linfócitos T CD8 reconhecem antígenos específicos pelas moléculas do MHC sendo que a maioria dos linfócitos T CD8 reconhecem o antígeno apresentado 42 no contexto de moléculas de classe I do MHC [3, 47]. Assim, os linfócitos T CD8 destróem as células tumorais via reconhecimento por seus receptores do antígeno tumoral específico presente no receptor MHC tipo I na superfície da célula tumoral, uma vez que o propósito básico do receptor MHC I é apresentar antígenos peptídicos endógenos (próprios) em uma superfície celular. Logo, linfócitos T tumorais antígeno-específicos ligam-se ao complexo antigênico do receptor tumoral MHC I e destróem a célula tumoral via liberação de grânulos contendo granzimas B, perforina e via indução da apoptose através do mecanismo FaS. Assim, de acordo com Roitt et al [47] após a ligação ao seu alvo, o linfócito T CD8 direciona seus grânulos (perforinas e granzimas) à membrana alvo. Em seguida, na presença de Ca2+, os conteúdos dos grânulos são liberados na fenda entre as duas células. Assim os monômeros da perforina ligam-se à membrana da célula-alvo e sofrem polimerização, formando os canais de poliperforina (canais transmembrana). Posteriormente enzimas degradativas ou outras substâncias tóxicas são liberadas pelo linfócito T CD8, passam através dos canais transmembrana ocasionando dano a célula alvo. Algumas granzimas (conjunto de serina esterases), também liberadas durante a exocitose dos grânulos e que se tornam ativas após a liberação, também podem interagir com as vias intracelulares das células-alvo, ativando mecanismos que desencadeiam a apoptose e degradação do DNA [47], podendo essa contribuição das proteínas desses grânulos para a citotoxicidade ser observada na figura 2.7. 43 O linfócito T CD8 sofre degranulação, liberando perforina e várias enzimas nas vizinhanças imediatas da membrana da célulaalvo. Na presença de Ca+2, ocorre a polimerização perforina, formando poliperforina Enzimas enzimática na da canais de célula-alvo (1). degradativas ou outras substâncias tóxicas liberadas pelos linfócitos T CD8 passam através dos canais causando dano à célula-alvo(2) [47]. Fig.2. 7 - Mecanismos de citotoxicidade grânulo-associados Contudo, existem situações em que os linfócitos T CD8 são incapazes de expressar o gene da perforina, tendo a citotoxicidade reduzida, mas não eliminada. Estes achados levaram à identificação de um grupo de moléculas que podem sinalizar diretamente a apoptose, das quais as mais amplamente conhecidas são FaS(CD 95) e o receptor para TNF (fator de necrose tumoral). O ligante de FaS(FasL) é expresso nos linfócitos T CD4 e T CD8 maduros após a ativação. A ligação de FaS induz o agrupamento das moléculas FaS, a associação a uma proteína intracitoplasmática, MORT-1 e, em última análise, o alvo é apoptose. A estrutura do FaS assemelha-se àquela do receptor de TNF, particularmente porque ambos contêm “domínios intracitoplasmáticos da morte”, que são encontrados em várias proteínas reguladoras da sobrevida das células [47], o que pode ser observado na fig.2.8. 44 O ligante Fas (FasL) nos linfócitos T CD8 provoca a agregação de Fas na célula-alvo, o que permite a associação às proteínas intracelulares (por exemplo, MORT-1), que iniciam uma cadeia de eventos que resultam na apoptose. Fas possui quatro domínios extracelulares (do tipo receptor NGF) e um “domínio intracelular da morte”. A morte celular também pode ser sinalizada pelo TNF (fator de necrose tumoral), ligando-se ao receptor TNF do tipo I (TNF-1), que pertence à mesma família do receptor de FaS. [47] Fig.2. 8 - Mecanismos de citotoxicidade mediada por receptores [47] Dessa forma, de acordo com Dranoff [18] e conforme esquematizado na fig.2.9, seguindo a estimulação, os linfócitos NK podem lisar células de tumores através da ação das perforinas e/ou granzimas ou ainda induzindo apoptose-ligantes, tais como-fator de necrose tumoral (TNF)- induzindo apoptose -ligante (Trail). Os linfócitos NK secretam interferon gama (IFN-γ), que inibe a proliferação de células de tumores, aumenta a apoptose das células de tumor, melhora a apresentação antígenos tumorais e inibe a angiogênese. NKT células também executam citotoxicidade e produção citocina. Linfócitos T CD8 podem lisar tumores através de morte ligantes, tais como a TRAIL, e ação de perforina e/ou granzima. T CD4 podem diferenciar em linfócitos T helper 1 (TH1) células que secretam IFN-γ e TNF-β ou T helper 2 (TH2) células que secretam interleucinas (IL-4, IL-5, IL-6, e IL-10 IL-13). Esta última função reforça e aumenta a produção de anticorpos células pelas células B. Macrófagos podem lisar tumores através da produção de óxido nítrico e espécies reativas de oxigênio.Os granulócitos também possuem formas diferenciadas para provocar a lise tumoral. 45 Fig.2. 9 - Uma reação coordenada celular e humoral leva a destruição das células tumorais. Adaptado [18] Diante do exposto, ficou evidenciado que os linfócitos NK e T CD8 são importantes mediadores da imunidade antitumoral, tal como eles são, em última instância, responsável pela destruição das células malignas. 2.3 Imunologia tumoral e escape Embora o sistema imune possa limitar o crescimento expansivo de alguns tumores, os cânceres raramente são vencidos pelo sistema imune em virtude de falhas no reconhecimento e/ou na ativação do sistema imune. Assim, para tentar entender as inúmeras facetas que as células tumorais utilizam para evadir-se da resposta imune, tem sido propostas muitas explicações. 46 De acordo com Roitt et al e Correa [12,47], o mais óbvio é que o tumor é nãoimonogênico e se isto é verdadeiro, então o escape pode ser resultado não da ausência de antígenos tumorais potenciais, mas de que as células tumorais serem fracas apresentadoras de antígenos. Ainda segundo o mesmo autor, a indução das respostas imunes exige coestímulos que podem ser moléculas de superfície celular ou citocinas secretadas pelas células apresentadoras de antígenos. A molécula B7, presente em células apresentadoras de antígeno especializadas, é atualmente conhecida como um coestímulo chave que atua através de seu contrarreceptor CD28 na superfície do linfócito T, uma vez que, experimentalmente a apresentação dos complexos antígeno peptídico-MHC para o receptor do linfócito T na ausência de coestímulo pela molécula B7 pode levar à anergia. As células tumorais também podem não apresentar as moléculas necessárias para a adesão dos linfócitos como o LFA-1 e LFA-3 ou ICAM-1 ou podem ainda expressar moléculas antiadesivas como as mucinas. As células tumorais podem também secretar citocinas imunossupressoras que podem suprimir respostas imunes antitumorais. Um exemplo de produto tumoral imunossupressivo é o fator transformador de crescimento beta (FTC-β, TGF-β), secretado em grandes quantidades por muitos tumores e que inibe uma ampla variedade de funções dos linfócitos e macrófagos [12,40,47]. A perda de antígenos do MHC constitui um mecanismo particularmente importante de escape, pois leva a uma incapacidade de apresentação de antígenos peptídicos tumorais[40,47]. Isso torna-se possível porque, de acordo com Peter Parham [40], à medida que o tumor cresce, as células tumorais adquirem mutações diferentes e, assim, o 47 tumor torna-se geneticamente heterogêneo, variação esta que pode levar a uma ação de seleção, a qual pode ter vinculação com crescimento mais rápido e metástase, ou ainda pode haver seleção pela resposta imune. Por exemplo, uma resposta de linfócitos T CD8 matará as células que apresentam antígenos tumorais e supõe-se que em torno de 50% dos tumores humanos possuem defeitos na expressão de um ou mais dos seus alótipos HLA de Classe I, indicando que foram sujeito a essa seleção. Ainda seguindo o raciocínio de Parham[40], a perda da expressão do HLA de classe I poderia tornar um tumor suscetível ao ataque dos linfócitos NK, mas na maioria dos indivíduos a perda de um único alótipo HLA-A, B ou C, algo comum em tumores humanos, não torna as células tumorais suscetíveis às células NK. Carlos Augusto Correa [12], aponta mais algumas razões que podem justificar o escape tumoral: • a maioria das células tumorais humanas não expressa moléculas do MHC classe II , não pode ativar diretamente linfócitos T CD4+ tumor-específicos e como a atividade antitumoral dos linfócitos T CD8 é em parte dependente de sinais fornecidos pelos linfócitos T CD4, se as APC profissionais infiltrarem adequadamente estes tumores, captarem e não apresentarem antígenos tumorais, ativando linfócitos T CD4, então não ocorrerá diferenciação antitumoral máxima dos linfócitos T CD8; • um hospedeiro pode ser tolerante a alguns antígenos tumorais devido à exposição neonatal a tais antígenos ou porque a célula tumoral pode apresentar seus antígenos ao sistema imune de forma tolerogênica; 48 • a perda de expressão de superfície dos antígenos tumorais em decorrência de ligação a anticorpo, chamada modulação antigênica, leva à resistência adquirida contra mecanismos efetores imunes. A modulação antigênica devese à endocitose ou a “ecdise” dos complexos antígeno-anticorpo. Se a modulação antigênica for causada por um anticorpo antitumoral que não fixa complemento, poderá proteger as células tumorais de outros anticorpos ativadores de complemento. A modulação antigênica talvez seja mais relevante como problema que complica as tentativas de imunoterapia passiva com anticorpos antitumorais; • Os antígenos da superfície celular do tumor podem estar escondidos do sistema imune por moléculas do glicocálice, inclusive mucopolissacarídeos contendo ácido siálico. Este processo chamado mascaramento antigênico e pode ser uma consequência do fato de que as células tumorais costumam expressar mais destas moléculas do glicocálice do que as células normais. Semelhantemente, alguns tumores podem se defender do sistema imune ativando o sistema de coagulação, assim se investindo como “casulo de fibrina”. Enfim, as células tumorais possuem mecanismos que propiciam a evasão do sistema imune. Entretanto, ainda restam muitas dúvidas a respeito de como isso ocorre e como evitar essa evasão. CAPÍTULO III - DINÂMICA DO CRESCIMENTO TUMORAL Neste capítulo será apresentado um modelo utilizado para descrever o crescimento tumoral. Para tal, representar-se-á através de um Sistema de Equações Diferenciais Ordinárias a interação das células tumorais, linfócitos NK e linfócitos T CD8, o qual foi proposto por De Pillis e Radunskaya [14,15] . Contudo, o modelo proposto por De Pillis e Radunskaya sofreu algumas modificações para torná-lo mais simples, no entanto, buscando manter as características propostas pelos idealizadores. Na sequência, far-se-á uma análise deste modelo, averiguando em que situações o sistema proposto tende a estabilidade, bem como os pontos de equilíbrio do referido sistema. Neste trabalho apresenta-se um modelo matemático para representar o crescimento de um tumor, considerando a relação que existe entre as células tumorais e o sistema de defesa do organismo, o sistema imune. No modelo o sistema imune é formado por linfócitos citotóxicos (conhecidos por T CD8) e por células naturais-matadoras (denominadas por NK). Considera-se a competição entre as células tumorais e imunes e a ativação dos linfócitos NK e T CD8, além de termos de fonte de entrada e morte de cada espécie. Nas simulações realizadas na plataforma MATLAB, explora-se a capacidade do modelo em apresentar diferenças de estratégias de tratamento para pacientes saudáveis ou pacientes com sistema imune debilitado e para tumores de crescimento lento ou rápido. 3.1 Modelo matemático Um modelo matemático pode representar o objeto de estudo e a modelagem matemática é utilizada para a obtenção e validação de modelos, pois a modelagem 50 consiste na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real [6]. A aplicação de modelos matemáticos no estudo da dinâmica tumoral pode auxiliar na elaboração e aperfeiçoamento de novos métodos de tratamento do câncer. Para tal, durante décadas estudiosos [1,2,5,13,14,15,27,29,30] vêm concentrando esforços no sentido de encontrar um modelo de fácil interpretação e que simule através de cálculos matemáticos a realidade que se apresenta com relação ao câncer. L.G. de Pillis e colaboradores [14,15], elaboraram e validaram um modelo para a resposta imune e sua relação com o crescimento de um tumor e a partir de considerações fisiológicas os autores obtiveram valores estimados para os parâmetros presentes no seu modelo. Um modelo para a resposta do sistema imune também foi elaborado por Kirschner e Panetta [29], considerando que a ativação das células imunes pode ser descrita por termos do tipo Michaelis-Menten. Segundo os autores, este tipo de termo para a ativação é apropriado para indicar a resposta limitada ao tumor e também poderia ser usado para tumores sólidos, onde a interação entre as células tumorais e imunes se dá apenas na superfície do tumor. 3.1.1 Modelo matemático utilizado e modificações A seguir será apresentado um modelo matemático para representar a dinâmica do crescimento tumoral considerando a relação que existe entre as células tumorais e o sistema imune. Onde de acordo com De Pillis e Radunskaya[14,15]: T(t): denota a população de células tumorais em função do tempo; 51 N(t): denota o total de linfócitos Nk (matadores naturais) efetivos em função do tempo; L(t): denota o total de linfócitos T CD8 efetivos em função do tempo. Para descrever a relação existente entre as diferentes linhagens de células considera-se que: • Taxa de crescimento do número de células tumorais ( dT dt ) = crescimento logístico ( GT ) - fração de células que morrem pela competição entre células tumorais e linfócitos NK ( F (T , N ) ) – fração de morte de células tumorais N provocada pela competição com os linfócitos T CD8 ( FL (T , L ) ) ; • Taxa de crescimento do número de linfócitos NK ( dN dt ) = crescimento líquido de linfócitos NK ( GN ) + recrutamento de linfócitos NK pela existência de células tumorais ( RN (T , N ) ) - inativação de linfócitos NK provocada pela competição com o tumor ( I N (T , N ) ) ; • Taxa de crescimento do número de linfócitos T CD8 ( dL dt ) = crescimento líquido de linfócitos T CD8 ( GL ) + recrutamento de linfócitos T CD8 por fragmentos tumorais advindos da ação dos próprios linfócitos T CD8 ( RL (T , L ) ) + recrutamento linfócitos T CD8 pela existência de fragmentos tumorais advindos da ação dos linfócitos NK ( RL ( N , T ) ) - Inativação dos linfócitos T CD8 provocada pelo próprio tumor ( I L (T , L ) ) . 52 A descrição do modelo de forma simplificada está representada a seguir: T = GT − FN (T , N ) − FL (T , L ) N = GN + RN (T , N ) − I N (T , N ) (3.1) L = GL + RL (T , L ) + RL ( N , T ) − I L (T , L ) Na ausência de uma resposta de sistema imune, a dinâmica do crescimento tumoral pode ser descrita seguindo o Modelo Verhulst, representada pela equação de crescimento logístico: GT = aT (1 − bT ) (3.2) Onde: a = taxa de crescimento do tumor 1 b = é a capacidade suporte da população de células tumorais. Entretanto, sabe-se que quando da existência de células tumorais ocorre a interação entre estas e o sistema Imune, uma vez que, este último possui mecanismos efetores que podem provocar a lise das células tumorais através de células da imunidade inata (linfócitos NK) ou por intermédio da imunidade adaptativa (linfócitos T CD8). Referindo-se a ação dos linfócitos NK, estes reconhecem antígenos da célula tumoral através do receptor da célula NK, em virtude da célula tumoral não estar mais expressando moléculas do complexo de histocompatibilidade 53 (MHC). Logo, este tipo de lise tumoral não necessita do desencadeamento de complexos processos de reconhecimento, proliferação e diferenciação do sistema imune, sendo esta lise, no modelo, representada pelo termo: FN (T , N ) = cNT (3.3) Onde c = taxa de mortalidade de células tumorais devido à ação matadora dos linfócitos NK. Todavia, quando ocorre o reconhecimento pelo sistema imune de antígenos tumorais se desencadeia uma resposta imunológica adaptativa que pode provocar a lise tumoral principalmente pela ação dos linfócitos T CD8, representada pelo termo FL (T , L ) : De acordo com De Pillis e Radunskaya [14,15] λ (L T ) T FL (T , L ) = d λ s + (L T ) (3.4) Para facilitar os cálculos concernentes ao modelo e fazendo-se uma análise de que essa mudança não provocaria alterações que comprometessem o modelo inicialmente proposto por De Pillis e Radunskaya [14,15], a fração de morte de células tumorais provocada pela competição com os linfócitos T CD8 ficou assim representada: FL (T , L ) = dLT Onde: (3.5) 54 d = nível de saturação de matança de células tumorais por linfócitos T CD8. A dinâmica dos linfócitos NK, é descrita a seguir: O crescimento líquido dos linfócitos NK é representado por: GN = σ − fN (3.6) Onde f representa a fração de morte de linfócitos NK e σ é uma constante de produção de linfócitos NK. De acordo com De Pillis e Randunskaya [14] σ = eC . O parâmetro e indica a fração de linfócitos circulantes que se modificam em linfócitos NK e C refere-se a quantidade de linfócitos circulantes. Logo, conforme [14] um paciente saudável σ = 1,3.10 2 , pois, e = 2,08.10 −7 e C = 6.1010 . Um paciente doente, ou seja, sistema imunológico debilitado, σ = 1,3.10 2 , pois nesse caso ocorre uma redução no número de linfócitos circulantes C = 6.108 . O recrutamento de linfócitos NK, segundo De Pillis e Radunskaya [14,15] é dado por: RN ( T , N ) = g T2 N h +T2 (3.7) O termo que representa o recrutamento de linfócitos NK no nosso modelo foi simplificado, ficando assim representado: RN ( T , N ) = g T N h +T (3.8) 55 Onde: g = taxa de recrutamento dos linfócitos NK advindo da interação com células tumorais que deixaram de expressar MHC Classe I. h = coeficiente de declividade do recrutamento de linfócitos NK Inativação de linfócitos NK pelo tumor: I N (T , N ) = ρ NT (3.9) Sendo que ρ = taxa de inativação de linfócitos NK pelas células tumorais. Por sua vez, a dinâmica dos linfócitos T CD8 é descrita na sequência: O crescimento celular de linfócitos T CD8 consiste em um termo de entrada ω e taxa de morte, ficando o crescimento líquido assim representado: GL = ω − mL (3.10) sendo que m representa o índice de mortalidade dos linfócitos T CD8. De Pillis e Radunskaya [14,15] não apresentam em seus modelos um termo de entrada de linfócitos T CD8 ω , tendo este termo sido incluído no modelo proposto para simular a estimulação do sistema imune. Linfócitos T CD8 podem ser ativados/recrutados por fragmentos de células tumorais que foram lisadas por outros linfócitos T CD8. Segundo De 56 Pillis e Radunskaya [15], a equação que representa o referido recrutamento é assim representada: RL (T , L ) = j D 2T 2 L k + D 2T 2 (3.11) onde l (L T ) D=d l s + (L T ) (3.12) Também procura-se simplificar a referida equação, ficando a mesma assim representada: RL (T , L ) = jT L k +T (3.13) Onde j = taxa máxima de recrutamento de linfócitos T CD8 pela expressão de MHC Classe I (capítulo I e II) das células tumorais. k = coeficiente de declividade de linfócitos T CD8 Pode ocorrer o recrutamento/estimulação de linfócitos T CD8 por restos de células tumorais lisadas por linfócitos NK [15]. RL ( N , T ) = rNT (3.14) r = taxa de recrutamento de linfócitos T CD8 devido a estimulação de antígenos tumorais advindos de restos de células tumorais destruídas por linfócitos NK. 57 Inativação dos linfócitos T CD8 provocada pelo próprio tumor, segundo De Pillis e Randunskaya [15]: I L (T , L ) = qLT (3.15) Onde q = taxa de inativação de linfócitos T CD8 provocada pelas células tumorais. De acordo com De Pillis e Randunskaya[15], o sistema que representa a dinâmica tumoral é assim representado: dT dt = aT (1 − bT ) − cNT − D T2 dN = σ − fN + g N − ρ NT h+T2 dt dL jD 2 = − mL + L − qLT + rNT k + D2 dt (3.16) Onde λ (L T ) T D=d λ s + (L T ) Contudo, fazendo-se as simplificações, o sistema de equações diferenciais ficou assim expresso: dT dt = aT (1 − bT ) − cNT − dLT T dN = σ − fN + g N − ρ NT h +T dt jT dL dt = ω − mL + k + T L + rNT − qLT (3.17) 58 3.2 Pontos de equilíbrio do sistema O modelo proposto possui três tipos de pontos de equilíbrio: livre de tumor (i), quase morte (ii,iii) e coexistência(iv). • Ponto livre de tumor se caracteriza pela eliminação das células tumorais pelo sistema imune. • Quase morte assim denominado em virtude das células de defesa do Sistema Imune linfócitos NK ou linfócitos T CD8 tenderem a zero, o que indica a incapacidade do organismo em eliminar as células tumorais, bem como estar o organismo suscetível a qualquer doença oportunista. • Coexistência assim chamado pelo fato de coexistirem três linhagens de células consideradas no modelo. Contudo, na prática quando as células de defesa não conseguem eliminar as células tumorais, pode ocorrer por um determinado período de tempo uma situação de coexistência. Entretanto, a existência de células tumorais por um longo período de tempo, associado a mutações, pode levar ao aparecimento de metástases. Para encontrar os pontos de equilíbrio do sistema (3.17), designados por (T*,N*,L*), faz-se dT dN dL =0; =0 e = 0 , obtendo-se: dt dt dt 59 0 = aT * (1 − bT * ) − cN *T * − dL*T * T* * 0 fN g N * − ρ N *T * = σ − + * h +T * jT * L* + rN *T * − qL*T * 0 = ω − mL + k +T* i) (3.18) Procura-se nesse caso um ponto de equilíbrio do tipo (T * 1 ) ( ) , N 1* , L*1 = 0, N 1* , L*1 , ou seja, T1* = 0, portanto, a população de células tumorais é igual a zero, mas os linfócitos NK e T CD8 sobrevivem. Da segunda equação do sistema (3.17) tem-se: 0 = σ − fN 1* ⇒ N 1* = σ f Da terceira equação do sistema (3.17) tem-se: 0 = ω − mL*1 ⇒ L*1 = ω m Os pontos de equilíbrio para a situação supra descrita são: (T * 1 ii) σ ω , N1* , L*1 = 0, , f m ) ( ) ( (3.19) ) Procura-se agora T2* , N 2* , L*2 = T2* ,0, L*2 , ou seja, quando a população de linfócitos NK é igual a zero: Da primeira equação do sistema (3.17) tem-se: 60 0 = aT 2* (1 − bT 2* ) − dL *2 T 2* a − dL*2 =A ab T2* = Da terceira equação do sistema (3.17): 0 = ω − mL*2 + jT2* * L2 − qL*2T2* * k + T2 ω L*2 = jT2* m− + qT2* * k + T2 ω L*2 = m− jA + qA k+A Considerando-se: m− jA + qA = u ( A ) k+A logo, L*2 = ω u ( A) Desse modo, tem-se: (T * 2 ω , N 2* , L*2 = A, 0, u ( A ) ) (3.20) 61 Considera-se (T3* , N 3* , L*3 ) = (T3* , N 3* ,0 ) iii) Da primeira equação do sistema (3.17): 0 = aT3* (1 − bT3* ) − cN 3*T3* a − cN 3* T = =B ab * 3 Da segunda equação do sistema (3.17): 0 = σ − fN 3* + g N 3* = N 3* = T3* N 3* − ρN 3*T3* * h + T3 σ T3* f − g + ρT3* * h + T3 σ B f − g + ρB h+B Considerando-se : B f − g + ρ B = u ( B ) , tem-se: h+B N 3* = σ u ( B) Logo, obtém-se: 62 (T * 3 iv) σ , N 3* , L*3 = B, ,0 u ( B ) ) Pode-se ainda ter o ponto de equilíbrio de coexistência (T * 4 ) ( , N 4* , L*4 = T4* , N 4* , L*4 ) 0 = aT4* (1 − bT4* ) − cN 4*T4* − dL*4T4* T4* = a − cN 4* − dL*4 =C ab Da segunda equação do sistema (3.17): 0 = σ − fN 4* + g N 4* = N 4* = T4* N 4* − ρN 4*T4* h + T4* σ T4* f − g + ρT4* * h + T4 σ C f − g h + C + ρC Considerando-se : C f − g h + C + ρ C = u ( C ) , tem-se: N 4* = (3.21) σ u (C ) Da terceira equação do sistema (3.17): 63 0 = ω − mL*4 + L*4 = L*4 = jT4* * L + rN 4*T4* − qL*4T4* * 4 k + T4 ω jT * * * + qT − rN T4 m − 4 4 * k + T 4 * 4 ω jC σ m − k + C + qC − r f (C ) C Considerando-se : jC σ + qC − r C = s ( C ) , tem-se: m − k +C f ( C ) L*4 = ω s (C ) Diante do exposto, o ponto de equilíbrio da coexistência das três linhagens de células tem a seguinte forma: (T * 4 σ ω , N 4* , L*4 = C , , u ( C ) s ( C ) ) (3.22) 3.3 Análise de estabilidade do ponto livre de tumor É de nosso interesse, no presente trabalho, estudar o ponto de equilíbrio livre de tumor. Em um trabalho futuro se pode obter uma função de controle para levar o sistema ao ponto de equilíbrio livre de tumor. 64 Pretende-se mostrar quais as condições para que o sistema seja estável no ponto de equilíbrio. Para tal, primeiramente o sistema (3.17) será representado na forma linearizada: x = Jx(t ) , [ ] Onde, x(t ) = T (t ) N (t ) L(t ) e J é a matriz Jacobiana, que pode ser T escrita da seguinte forma: ∂T ∂T ∂T J = ∂N ∂T ∂L ∂N ∂T ∂N ∂N ∂N ∂L ∂L ∂T ∂L ∂N ∂L ∂L (3.23) Resolvendo as derivadas, o Jacobiano (3.23) tem a forma: a − 2abT − cN − dL −cT ghN − ρN gT ( h + T ) 2 J = (h + T ) −f + − ρT 2 (h + T ) jkL − qL + rN rT ( k + T )2 0 jT ( k + T ) −m + − qT 2 (k + T ) − dT (3.24) Escrevendo a equação x = Jx(t ) , ao redor do ponto de equilíbrio livre de σ ω tumor T1* , N 1* , L*1 = 0, , , obtém-se o seguinte sistema linearizado: f m ( ) 65 cσ ω a d − − T f m gσ σ −ρ fh f N = L j ϖ − q ω + r σ mk m f 0 −f 0 0 T 0 N L −m (3.25) Logo, a equação característica do sistema (3.17) no ponto de equilíbrio livre de tumor é obtida através de : det ( A − I λ ) =0 a− cσ ω −d −λ f m σ gσ −ρ fh f 0 0 − f −λ 0 0 −m − λ =0 (3.26) cσ ω − d − λ ( − f − λ )( − m − λ ) = 0 a − f m (3.27) j ϖ mk −q ω m +r σ f A equação característica para esse ponto é: Da equação (3.27), têm-se os autovalores: λ1 = a − cσ ω −d , λ2 = − f e λ3 = − m f m (3.28) 66 Assim, o equilíbrio livre de tumor é estável desde que os autovalores sejam negativos, uma vez que, o ponto crítico x = 0 do sistema linear é assintoticamente estável se os autovalores são reais e negativos ou têm parte real negativa. No entanto, se os autovalores são reais e um deles é positivo, ou se ambos têm parte real positiva o sistema linear é instável [8]. Desse modo, para garantir que λ 2 < 0 e λ3 < 0 , f > 0 e m > 0 .Outro detalhe que deve ser levado em consideração para garantir a estabilidade do sistema é que λ1 < 0 , se e somente se: a− ω cσ − d <0, então λ1 < 0 f m λ1 < 0 ⇔ a < cσ ω +d f m A equação a < ( a ) com cσ ω +d relaciona a taxa de crescimento do tumor f m o coeficiente de ação dos linfócitos NK para eliminação das células tumorais (cσ f ) e, a lise tumoral provocada pelos linfócitos T CD8, representada pelo termo d ω m . Concluindo-se que λ1 < 0 , se e somente se a taxa de crescimento do tumor for menor do que a soma da relação existente entre o crescimento líquido dos linfócitos NK e linfócitos T CD8. CAPÍTULO IV - SIMULAÇÕES NUMÉRICAS PARA MODELO DE CRESCIMENTO DE TUMOR A simulação é uma técnica na qual se utiliza um computador e através deste procura-se encontrar um modelo que melhor represente o sistema em estudo, ou seja, procura-se simular o funcionamento de um sistema real em situações que é muito caro ou difícil o experimento na situação real, isso porque os modernos programas de computador permitem construir modelos nos quais é possível visualizar na tela o funcionamento do sistema em estudo tal como em um filme o que reduz custos e riscos [43]. Neste capítulo pretende-se utilizar esta técnica para um modelo que representa a dinâmica do crescimento tumoral exposto no capítulo III, sendo que o presente capítulo apresentará as simulações concernentes ao modelo em questão através do software MATLABR. 4.1 Simulações numéricas para modelo de crescimento de tumor Considerando que o modelo utilizado é bastante similar ao modelo apresentado por Kirchner e Panetta [29], aproveitam-se os mesmos valores de parâmetros. Em alguns casos, a literatura apresenta uma grande variedade de valores para o mesmo parâmetro e assim utilizam-se valores mais apropriados para o modelo proposto. Além disso, um estudo de sensibilidade do modelo também permitiu definir os valores dos parâmetros restantes. Desse modo, considera-se o seguinte conjunto de parâmetros: 68 e = 2, 08.10 −7 b = 1,0200.10-9 c = 3,23.10-7 d = 5,8 f = 4,12.10-2 g = 2,5.10-2 h = 2,02.107 m = 2.10-2 q = 3,42.10-10 ρ = 1.10−7 a = 0,514 σ = 1,3.104 (paciente saudável) k = 2.107 r = 1,10. 10-7 σ = 1,3.102 (paciente sistema imune debilitado) ω = 100 (para os cálculos iniciais, sendo que posteriormente este parâmetro sobre alterações) Em particular, o parâmetro a segundo [14,15] é igual a 0,514. Contudo, deve-se ter cuidado na determinação do valor desse parâmetro, uma vez que, para garantir a estabilidade do ponto de equilíbrio livre de tumor deve satisfazer a condição λ1 < 0 ⇔ a < cσ ω + d , logo o parâmetro f m a fica na dependência da variação de todos os parâmetros presentes na condição exposta, conforme discutido no Capítulo III. Após um estudo da sensibilidade do modelo, o valor adotado para esse parâmetro foi a = 0,1 para tumores de crescimento lento e a = 0, 2 para tumores de crescimento rápido, ou seja, mais agressivos. Primeiramente faz-se simulações desconsiderando a interação das células tumorais e o sistema imune, ou seja, o organismo não reage à presença do tumor nem no sentido de competição por nutrientes e espaço, nem por situação do tipo presa-predador, conforme equação 3.2, do Capítulo III. 69 Assim, adotando-se como condição inicial T ( 0 ) = 104 , mas variando-se o parâmetro a , que no modelo proposto possui relação com a taxa de crescimento do tumor, obtém-se os gráficos a seguir: Fig.4. 1 – Representação do Crescimento Tumoral na ausência de sistema imune variando-se a taxa de crescimento do tumor. Pode-se observar claramente nesse gráfico (fig.4.1) que a equação do crescimento tumoral na ausência de sistema imune atinge, com o passar dos dias atinge a capacidade suporte (1 b ) , dado por T=9,809.108 e, quanto maior o valor do parâmetro a , que representa a velocidade de crescimento da massa tumoral, mais rapidamente as células tumorais atingem a capacidade suporte. Em outra situação variamos a condição inicial T ( 0 ) , adotando a = 0,10 , obtém-se: 70 Fig.4. 2 - Representação do crescimento tumoral adotando-se a=0,1, variando-se a condição inicial (T(0)). O que se pode perceber na fig. 4.2 que mesmo variando a condição inicial, o crescimento tumoral tende a capacidade suporte T=9,809.108 o que evidencia que tumores maiores chegam em um período de tempo menor a capacidade suporte. No entanto, sabe-se que biologicamente sempre haverá interação entre as células tumorais e o sistema de defesa e, se este último não existisse o organismo humano seria condenado a morte, não só por causa do câncer mas pelas doenças oportunistas as quais está exposto diariamente. Diante do exposto, considerando a presença do sistema imune e levando-se em consideração um tumor de crescimento lento a = 0,10 , e os valores adotados para os demais parâmetros conforme exposto no início deste capítulo, o sistema (3.17) pode ser escrito da seguinte forma: 71 dT = 0,1T (1 − 1,02.10− 9 T ) − 3,23.10 − 7 NT − 5,8 LT dt dN T = 1,3.104 − 4,12.10−2 N + 2,5.10−2 − 1.10−7 NT 7 dt 2,02.10 + T (4.1) dL 3, 75.10 −2 T = 100 − 2.10 −2 L + L + 1,10.10 −7 NT − 3, 42.10 −7 LT 7 dt 2.10 + T Todavia, os parâmetros a, σ e ω podem sofrer modificações, uma vez que os mesmos se relacionam a taxa de crescimento do tumor, taxa de entrada de linfócitos Nk e taxa de entrada de linfócitos T CD8, respectivamente, sendo que os dois últimos possuem estreita relação com a saúde do paciente. Para um paciente saudável o ponto livre de tumor pode ser escrito: ( 0; ) 3,15.105 ; 5.103 . (T * 1 σ ω , N1* , L*1 = 0, , f m ) A seguir serão apresentadas simulações do sistema (3.17), levando-se em consideração que: • Um paciente saudável no que se relaciona ao sistema imunológico, σ = 1,3.104 , pois baseado em [14] σ = eC , sendo que o parâmetro e , indica a fração de linfócitos circulantes que se modificam em linfócitos NK e C refere-se a quantidade de linfócitos circulantes. Logo, de acordo com [14] um paciente saudável e = 2,08.10 −7 e C = 6.1010 . 72 • Um paciente doente, ou seja, sistema imunológico debilitado, σ = 1,3.10 2 , pois nesse caso ocorre uma redução no número de linfócitos circulantes adotando-se C = 6.108 . Nas simulações a seguir adota-se ω = 100 e como condições iniciais: T0 = 10 4 , N 0 = 103 e L0 = 10 . Fig.4. 3 – Crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ; ω = 100 ; T0 = 104 , N 0 = 103 e L0 = 10 . 73 Fig.4. 4 - Plano de fase de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ; ω = 100 ; T0 = 1.10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . Fig.4. 5 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 100 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 74 Fig.4. 6 - Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com σ = 1,3.102 ; ω = 100 ; sistema imunológico debilitado 4 3 T0 = 10 ; N 0 = 10 e, L0 = 10 Fazendo-se a análise das fig.4.3, 4.4, 4.5 e 4.6, conclui-se que nas fig.4.3 e fig.4.4 o sistema tende ao ponto de equilíbrio livre de tumor (T , N , L ) = ( 0; 3,15.105 ; 5.103 ) pois o sistema imunológico desse indivíduo tende a eliminar as células tumorais. Já nas fig.4.5 e fig.4.6 o sistema tende ao ponto de coexistência, (T , N , L ) = ( 7,4193.103 ; 3,1002.103 ; 5,1294.103 ) não ocorrendo a eliminação do tumor. Entretanto, convém salientar que a situação de coexistência em termos biológicos não é benéfica, pois tumores estão sujeitos a novas mutações as quais podem acabar propiciando a estes condições de metastatização. Adotando-se as mesmas condições iniciais das simulações supra, no entanto, variando o termo de entrada ω = 120 , obteve-se os seguintes gráficos: 75 Fig.4. 7 - Crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.10 4 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 Fig.4. 8 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente saudável σ = 1,3.104 ; ω = 120 ; T0 = 104 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 . Fig.4. 9 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 76 Fig.4. 10 – Plano de fase de crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; 4 3 T0 = 10 ; N 0 = 10 e, L0 = 10 Fazendo a análise das fig.4.7, 4.8, 4.9 e 4.10, concluiu-se que no paciente saudável (fig.4.7 e 4.8) o tumor foi eliminado em um período de tempo menor do que no paciente com sistema imune debilitado (fig.4.9 e 4.10). Também convém destacar que para uma eliminação mais rápida e eficaz das células tumorais faz-se necessário uma fonte de entrada maior de linfócitos T, pois observando as fig.4.9 e 4.10 do paciente com sistema imune debilitado percebe-se que o sistema tende a eliminar o tumor, mas em um tempo relativamente grande, o que propicia tempo suficiente para a ocorrência de mutações que podem culminar com metástases. 77 Fig.4. 11 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imune debilitado variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) ; a = 0,1 ; σ = 1,3.102 ; T0 = 104 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 Analisando a fig.4.11 a qual representa a dinâmica do crescimento lento de um tumor de um paciente com sistema imune debilitado conclui-se que conforme aumenta a fonte de entrada de linfócitos T CD8 ocorre um acréscimo na apoptose celular (morte das células tumorais), o que evidencia que a utilização da imunoterapia tende a ser promissora no tratamento do câncer. Seguindo as mesmas condições iniciais, ω = 120 , mas variando a taxa de crescimento tumoral que é representada no nosso modelo por a =0,2 um paciente saudável com uma pequena estimulação do sistema imunológico consegue eliminar as células tumorais conforme se pode perceber nas fig.4.12 e fig.4.13. Todavia, um paciente com sistema imunológico debilitado não consegue eliminar o tumor com uma pequena estimulação do sistema de defesa, o que se pode observar nas fig.4.14 e 4.15: 78 Fig.4. 12 - Crescimento tumoral de um paciente saudável a = 0, 2 ; σ = 1,3.10 4 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 Fig.4. 13 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente saudável a = 0, 2 ; σ = 1,3.104 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ; (T , N , L ) = ( 0; 3,1553.105 ; 6,00. 103 ) Fig.4. 14 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado: a = 0, 2 ; σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ; (T , N , L ) = ( 5,0072.105 ; 1,4338.105 ; 1,0333. 104 ) Fig.4. 15 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado: a = 0, 2 ; σ = 1,3.102 ; ω = 120 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 80 Adotando-se taxa de crescimento tumoral a =0,2 e ω = 150 , obtém-se a figura a seguir: Fig.4. 16 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 150 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = ( 2,3943x105 ; 2,0046x103 ;1,0327x104 ) Fig.4. 17 – Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 150 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = ( 2,3943x105 ; 2,0046x103 ;1,0327x104 ) 81 Fig.4. 18 – Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 200 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = (1,7893x104 ; 3,0256x103 ;1,0312x104 ) Fig.4. 19 - Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 200 e, T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 ; (T , N , L ) = (1,7893x10 4 ; 3,0256x103 ;1,0312x104 ) Pode-se observar nas fig.4.16, 4.17, 4.18 e 4.19 que o paciente com sistema de defesa debilitado com uma estimulação média não consegue eliminar um tumor de crescimento rápido e o sistema tende ao ponto de coexistência conforme especificado nas figuras em questão. Convém enfatizar novamente o detalhe de que não sendo eliminado o tumor, o mesmo está sujeito a novas mutações e, consequentemente podem ocorrer metástases. 82 Nas fig.4.20 e fig.4.21, ω = 210 , o comportamento do sistema indica a sutil eliminação do tumor de crescimento rápido. Fig.4. 20 –Crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 210 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = ( 0;3,1553.10 ; 3 1,0500.104 ) Fig.4. 21- Plano de fase do crescimento tumoral de um paciente com sistema imunológico debilitado σ = 1,3.102 ; ω = 210 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 (T , N , L ) = ( 0;3,1553.10 ; 3 1,0500.104 ) 83 Na fig.4.22, que a seguir será apresentada procurou-se simular a dinâmica do crescimento tumoral de um tumor de crescimento rápido, fazendose a variação da fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) . Fig.4. 22 - Crescimento tumoral de um paciente com sistema imune debilitado fazendo-se uma pequena variação na fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) ; σ = 1,3.102 ; T0 = 10 4 ; N 0 = 103 e, L0 = 10 Analisando a figura supra conclui-se que quanto maior a estimulação do sistema imune mais rápida e eficaz é apoptose das células tumorais. 84 Fig.4. 23 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento lento (parâmetro a = 0,1 ) de paciente saudável variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 85 Fig.4. 24 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento rápido desenvolvimento (parâmetro a = 0, 2 ) de paciente saudável variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 86 Fig.4. 25 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento lento (parâmetro a = 0,1 ) de paciente com sistema imune debilitado variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 200 ; em (c) ω = 300 e, em (d) ω = 400 87 Fig.4. 26 - Dinâmica do crescimento de um tumor de desenvolvimento rápido (parâmetro a = 0, 2 ) de paciente com sistema imune debilitado variando-se a fonte de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) onde em (a) adotou-se ω = 100 ; em (b) ω = 300 ; em (c) ω = 600 e, em (d) ω = 900 Analisando as fig.4.23, 4.24, 4.25, 4.26 percebe-se que quanto maior a entrada de linfócitos T CD8 mais rápida é eliminação das células tumorais. Enfim, pode-se perceber através das simulações feitas que a utilização da imunoterapia no tratamento do câncer tende a ser promissora desde que levado em consideração que diferentes tipos de tumores para serem eliminados necessitam de maior ou menor estimulação do sistema imune, bem 88 como, organismos imunodeprimidos necessitam de uma estimulação extra do seu sistema imune para que consigam eliminar o câncer. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho apresentou-se um modelo matemático para representar o crescimento de um tumor considerando a resposta do sistema de defesa do organismo, o sistema imune. No modelo proposto o sistema imune é formado por linfócitos citotóxicos (conhecidos por T CD8) e por células naturaismatadoras (denominadas linfócitos NK). Considerou-se a competição entre as células tumorais e imunes e a ativação das células NK e T CD8, além de termos de fonte de entrada e morte de cada espécie. Nas simulações, explorou-se a capacidade do modelo em apresentar diferenças de estratégias de tratamento para pacientes saudáveis ou com sistema imunológico debilitado e para tumores de crescimento lento ou rápido. A resolução do modelo que representa a dinâmica do crescimento de tumores, foi apresentada no capítulo III, onde foram encontrados os pontos de equilíbrio do sistema: ponto livre de tumor se caracteriza pela eliminação das células tumorais pelo sistema imune; quase morte assim denominado em virtude das células de defesa do sistema imune (linfócitos NK ou linfócitos T CD8), tenderem a zero, o que indica a incapacidade do organismo humano em eliminar as células tumorais, bem como estar o organismo suscetível a qualquer doença oportunista; coexistência assim chamado pelo fato de coexistirem a presença das três linhagens de células consideradas no nosso modelo. Contudo, na prática quando as células de defesa não conseguem eliminar as células tumorais, pode ocorrer por um determinado período de 90 tempo uma situação de coexistência e, a existência de células tumorais por um longo período de tempo, associado a mutações, pode ocasionar metástases. Mostrou-se ainda no capítulo III para quais valores de parâmetros o ponto de equilíbrio livre do tumor é localmente estável. Este ponto de equilíbrio representa o estado no qual o paciente considera-se curado, possuindo estreita relação com parâmetros biológicos, em particular o parâmetro a o qual representa a taxa de crescimento tumoral que segundo De Pillis e Radunskaya é igual a 0,514. Contudo, para garantir a estabilidade do ponto de equilíbrio livre de tumor deve-se satisfazer a condição λ1 < 0 ⇔ a < parâmetro cσ ω + d , logo o f m a fica na dependência da variação de todos os parâmetros presentes na condição exposta, conforme discutido no Capítulo III e após um estudo da sensibilidade do modelo, o valor adotado para esse parâmetro foi a = 0,1 para tumores de crescimento lento e a = 0, 2 para tumores de crescimento rápido, ou seja, mais agressivos. Os resultados obtidos através das simulações sugerem que pacientes com sistema imune saudável conseguem eliminar tumores com maior eficácia do que pacientes com sistema imune debilitado e, mesmo tumores mais agressivos em pacientes saudáveis podem ser eliminados através de pequena estimulação imunológica que no nosso modelo é representada pela fonte de entrada de linfócitos T CD8 ω . Pacientes com sistema imune debilitado necessitam de uma fonte de entrada maior de linfócitos T CD8 para obter a apoptose das células tumorais e, quando se trata de tumores mais agressivos a fonte de entrada de linfócitos T 91 CD8 é expressiva e, se assim não o for, o sistema tende ao ponto de equilíbrio da coexistência e, a existência de células tumorais por um longo período pode propiciar o aparecimento de metástases. Convém salientar que a modelagem matemática e as simulações computacionais concernentes ao modelo de crescimento proposto no presente estudo podem servir de ferramenta de grande valia em função simularem o funcionamento de um sistema real e, com isso fazer a proposição de estratégias que objetivem a eliminação das células cancerígenas ou acrescentar anos de vida aos pacientes acometidos pelo câncer, o que representa economia de recursos, tempo e riscos. Sugere-se para o aprimoramento do modelo proposto, em trabalhos futuros, a inserção de uma equação que representa os linfócitos circulantes e a determinação mais precisa do termo de entrada de linfócitos T CD8 (ω ) o qual procura simular o comportamento do sistema com estimulação imunológica. Logo, o termo de entrada (ω ) poderia ser substituído no modelo por uma função que represente o uso efetivo da imunoterapia no combate ao câncer, uma vez que citocinas podem estimular os linfócitos T CD8 ou outras células do sistema imune a eliminar ou controlar a proliferação de células tumorais. Adicionalmente, sugere-se a aplicação de técnicas de controle ótimo ao modelo através de um função de controle pela metodologia do controle linear feedback e aplicado de forma contínua por partes com o objetivo de indicar estratégias otimizadas de estimulação do sistema imune no intuito de levar o sistema ao ponto de equilíbrio livre de tumor. 92 REFERÊNCIAS 1. ADAM, J. A. (1986). 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Denver, Colorado Received 13th January © 99 APÊNDICE DETERMINAÇÃO DOS PONTOS DE EQUILÍBRIO O modelo proposto possui três tipos de pontos de equilíbrio: livre de tumor (i), quase morte (ii,iii) e coexistência(iv). • Ponto livre de tumor se caracteriza pela eliminação das células tumorais pelo sistema imune. • Quase morte assim denominado em virtude das células de defesa do Sistema Imune linfócitos NK ou linfócitos T CD8 tenderem a zero, o que indica a incapacidade do organismo em eliminar as células tumorais, bem como estar o organismo suscetível a qualquer doença oportunista. • Coexistência assim chamado pelo fato de coexistirem três linhagens de células consideradas no modelo. Contudo, na prática quando as células de defesa não conseguem eliminar as células tumorais, pode ocorrer por um determinado período de tempo uma situação de coexistência. Entretanto, a existência de células tumorais por um longo período de tempo, associado a mutações, pode levar ao aparecimento de metástases. Para encontrar os pontos de equilíbrio do sistema (3.17), designados por (T*,N*,L*), faz-se dT dN dL =0; =0 e = 0 , obtendo-se: dt dt dt 100 0 = aT * (1 − bT * ) − cN *T * − dL*T * T* * 0 fN g N * − ρ N *T * = σ − + * h +T * jT * L* + rN *T * − qL*T * 0 = ω − mL + k +T* i) (4.2) Procura-se nesse caso um ponto de equilíbrio do tipo (T * 1 ) ( ) , N 1* , L*1 = 0, N 1* , L*1 , ou seja, T1* = 0, portanto, a população de células tumorais é igual a zero, mas os linfócitos NK e T CD8 sobrevivem. Da segunda equação do sistema (3.17) tem-se: 0 = σ − fN 1* ⇒ N 1* = σ f Da terceira equação do sistema (3.17) tem-se: 0 = ω − mL*1 ⇒ L*1 = ω m Os pontos de equilíbrio para a situação supra descrita são: (T * 1 ii) σ ω , N1* , L*1 = 0, , f m ) ( ) ( (4.3) ) Procura-se agora T2* , N 2* , L*2 = T2* ,0, L*2 , ou seja, quando a população de linfócitos NK é igual a zero: Da primeira equação do sistema (3.17) tem-se: 0 = aT 2* (1 − bT 2* ) − dL *2 T 2* 101 0 = aT 2* (1 − bT 2* ) − dL *2 T 2* 0 = a (1 − bT2* ) − dL*2T2* a (1 − bT2* ) − dL*2 = 0 a (1 − bT2* ) = dL*2 dL*2 (1 − bT ) = a * 2 dL*2 − bT = −1 a * 2 − bT2* = dL*2 − a a dL*2 − a a T2* = −b T2* = a − dL*2 =A ab Da terceira equação do sistema (3.17): jT2* * 0 = ω − mL + L2 − qL*2T2* * k + T2 * 2 jT2* * ω − mL + L2 − qL*2T2* = 0 * k + T2 * 2 102 jT2* ω + L − m + − qT2* = 0 * k + T2 * 2 −ω jT2* −m+ − qT2* * k + T2 L*2 = ω L*2 = jT2* m− + qT2* * k + T2 ω L*2 = jT2* m− + qT2* * k + T2 ω L*2 = m− jA + qA k+A Considerando-se: m− jA + qA = u ( A ) k+A logo, L*2 = ω u ( A) Desse modo, tem-se: (T * 2 ω , N 2* , L*2 ) = A, 0, u ( A ) (4.4) 103 Considera-se (T3* , N 3* , L*3 ) = (T3* , N 3* ,0 ) iii) Da primeira equação do sistema (3.17): 0 = aT3* (1 − bT3* ) − cN 3*T3* a (1 − bT3* ) − cN 3* = 0 a (1 − bT3* ) = cN 3* (1 − bT ) = cNa * 3 − bT3* = * 3 cN 3* −1 a cN 3* − a − bT = a * 3 cN 3* − a a T3* = −b a − cN 3* T = =B ab * 3 Da segunda equação do sistema (3.17): 0 = σ − fN 3* + g T3* N 3* − ρN 3*T3* * h + T3 104 T3* N 3* − ρN 3*T3* * h + T3 0 = σ − fN 3* + g σ − fN 3* + g T3* N 3* − ρN 3*T3* = 0 * h + T3 T3* * σ + N − f + g − ρ T =0 3 h + T3* * 3 T* N 3* − f + g 3 * − ρT3* = −σ h + T3 N 3* = N 3* = N 3* = −σ T3* − f + g − ρT3* * h + T3 σ T3* + ρT3* f −g * h + T3 σ B f − g h + B + ρB Considerando-se : B f − g h + B + ρ B = u ( B ) , tem-se: N 3* = σ u ( B) Logo, obtém-se: 105 (T * 3 iv) σ , N 3* , L*3 ) = B, ,0 u ( B ) (4.5) Pode-se ainda ter o ponto de equilíbrio de coexistência (T * 4 ) ( , N 4* , L*4 = T4* , N 4* , L*4 ) 0 = aT4* (1 − bT4* ) − cN 4*T4* − dL*4T4* 0 = aT4* (1 − bT4* ) − cN 4*T4* − dL*4T4* 0 = a (1 − bT4* ) − cN 4* − dL*4 a (1 − bT4* ) − cN 4* − dL*4 = 0 a (1 − bT4* ) = cN 4* + dL*4 (1 − bT4* ) = − bT4* = cN 4* + dL*4 a cN 4* + dL*4 −1 a cN 4* + dL*4 − a − bT = a * 4 cN 4* + dL*4 − a a T4* = −b a − cN 4* − dL*4 T = =C ab * 4 Da segunda equação do sistema (3.17): 106 0 = σ − fN 4* + g T4* N 4* − ρN 4*T4* * h + T4 0 = σ − fN 4* + g T4* N 4* − ρN 4*T4* * h + T4 σ − fN 4* + g fN 4* − g T4* N 4* − ρN 4*T4* = 0 * h + T4 T4* N 4* + ρN 4*T4* = σ * h + T4 T* N 4* f − g 4 * + ρT4* = σ h + T4 N 4* = N 4* = N 4* = σ T4* + ρT4* f −g * h + T4 σ C f − g h + C + ρC σ C f − g h + C + ρC Considerando-se : C f − g h + C + ρ C = u ( C ) , tem-se: N 4* = σ u (C ) 107 Da terceira equação do sistema (3.17): 0 = ω − mL*4 + ω − mL*4 + jT4* * L + rN 4*T4* − qL*4T4* * 4 k + T4 jT4* * L + rN 4*T4* − qL*4T4* = 0 * 4 k + T4 jT4* * mL − L4 + qL*4T4* − rN 4*T4* = ω * k + T4 * 4 jT4* L*4 m − + qT4* − rN 4*T4* = ω * k + T4 L*4 = L*4 = ω jT + qT4* − rN 4*T4* m − * k + T4 * 4 ω jC σ m − k + C + qC − r f (C ) C Considerando-se : jC σ + qC − r C = s ( C ) , tem-se: m − k +C f ( C ) L*4 = ω s (C ) Diante do exposto, o ponto de equilíbrio da coexistência das três linhagens de células tem a seguinte forma: 108 (T * 4 σ ω , N 4* , L*4 ) = C , , u ( C ) s ( C ) (4.6)