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Serviço, expressão de Gratidão
Comp. Marcos Pedrosa
A gratidão é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou
um benefício, um auxílio, um favor etc.
A gratidão é uma emoção que envolve um sentimento de dívida emotiva em
direção de outra pessoa; freqüentemente acompanhado por um desejo de
agradecê-lo, ou reciprocar para um favor que fizeram por você. Num contexto
religioso, gratidão também pode referir-se a um sentimento de dívida em direção
de uma divindade; a expressão de gratidão a Deus é um tema central do
cristianismo.
Quero começar pelo senso comum. Muitas pessoas só se sentem capazes de
agradecer por comparação a quem tem menos ou não têm nada, por comparação
a moribundos, miseráveis, destituídos, ou a quem perdeu. É muito frequente
ouvirmos sermões do tipo: “Agradeça por ter um corpo perfeito; por ter uma casa,
alimento, saúde, por ser parte de uma minoria privilegiada... Agradeça por estar
sem beber enquanto a maioria vai beber até a morte”. É a alegria pela
comparação com as desgraças dos outros. Na verdade, uma forma vulgar e bem
baixa de gratidão. Uma gratidão passiva, fruto de espíritos mais invejosos do que
virtuosos. Precisam da miséria, da derrota ou da infelicidade alheia para ser
felizes. É a alegria por saber que se tem o que o outro não possui. Emerge
somente por comparação, por meio de um olhar invejoso e competitivo. É uma
forma infeliz de gratidão. Tem o mal do outro como condição.
A gratidão, antes de ser um consolo ou um sentimento de dívida, pode ser um
ato. O ato simples de usufruir o que se tem. Ser grato, em seu sentido mais
virtuoso, é dar valor ao que se tem.
A gratidão é dom, a gratidão é partilha, a gratidão é amor: é uma alegria que
acompanha a ideia de sua causa quando essa causa é a generosidade do outro,
ou sua coragem, ou seu amor. Alegria retribuída: amor retribuído.
Gratidão diz respeito mais precisamente ao reconhecimento de que não somos
sujeitos absolutos de nossa própria condição. Ser grato é reconhecer que outras
pessoas também participaram na produção de nossa aventurança. Trata-se de
certa humildade que obriga a reconhecer o outro como parte de nossa alegria. É
poder dedicar, compartilhar a graça recebida. Reconhecer o que nos foi dado.
Agradecer é dar; ser grato é dividir. Esse prazer que devo a você não é apenas
para mim. Essa alegria é a nossa. Essa felicidade é a nossa.
O egoísta pode regozijar-se em receber. Mas seu regozijo é seu bem, que ele
guarda só para si. Ou, se o mostra, é mais para fazer invejosos do que felizes: ele
exibe seu prazer, mas é o prazer dele. Já esqueceu que outros têm algo a ver
com isso. Que importância tem os outros? Por isso o egoísta é ingrato: não
porque não goste de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a
outrem.
O egoísta é incapaz disso, pois só conhece suas próprias satisfações, sua própria
felicidade, pelas quais zela como um avaro por seu cofre.
A ingratidão não é incapacidade de receber, mas incapacidade de retribuir – sob a
forma de alegria, sob a forma de amor – um pouco da alegria recebida ou sentida.
Ser grato é um ato louvável. Pela gratidão, reconhecemos que fomos ajudados. E
reconhecemos igualmente que existe um Poder, uma força superior a nós, sem a
qual não podíamos ser ajudados.
Gratidão é atitude muito comumente encontrada nas religiões. Desde crianças
costumamos ouvir: “Agradeça a Deus por isso ou por aquilo.” Seria uma
obrigação do tipo agradeci, pronto. Missão cumprida!
Mesmo que a gratidão seja mais profunda e autêntica, ela se limita ao
reconhecimento. Esgota-se aí, por si mesma.
Em nossas salas, frequentemente, ouvimos: “Eu sou grato a Alcoólicos Anônimos
porque conquistei minha família, meu nome, ou meu emprego, ou minha
saúde...”.
Mas será que a gratidão, por si só, é tudo?
Penso que em Alcoólicos Anônimos não basta ser grato. Precisamos de algo mais
que ser grato. Afinal devemos ter atitude de gratidão com relação à oportunidade
que um Poder Superior nos deu de termos chegado com vida em A. A.
Então mais que gratidão devemos ter atitude de gratidão.
Logo que chegamos em A. A., começamos o nosso caminhar consciente.
Primeiro o esforço para não beber só por hoje. Depois iniciar uma programação
para não retornar à bebida com os nossos 12 Passos. A seguir, começamos uma
participação maior “compartilhando experiências, forças e esperanças” que fazem
a nossa Unidade e ainda a participação em serviços que abre as portas para
outros chegarem da mesma forma que outros, antes de nós, através do serviço
mantiveram as portas abertas possibilitando a nossa chegada, quando Deus, na
concepção de cada um, permitiu que isso acontecesse.
Para que isso aconteça, não basta a gratidão. Não basta reconhecermos
humildemente que fomos ajudados. Não é suficiente expressar via palavras que
somos gratos e o quanto somos gratos a nossa querida Irmandade.
É importante é extremamente necessário que passemos da grata reflexão à ação
– palavra-chave. É vital que participemos ativamente. Todos. Cada um de nós na
prática de nossos princípios, na transmissão da mensagem, na manutenção de
nossa estrutura, enfim de nosso terceiro legado: O Serviço.
A prática do serviço tem que ser responsável e responsabilidade é a atitude que
sucede à gratidão. Responsabilidade dá sentido à gratidão. Se a gratidão sozinha
não diz muita coisa, quando associada à responsabilidade ela se torna amor a
Alcoólicos Anônimos.
A expressão que define gratidão, portanto, é o serviço prestado com amor, com
responsabilidade. Talvez, o nosso termo de responsabilidade ficasse mais correto
se ao invés de “quando qualquer um estender a mão pedindo ajuda, quero que a
mão de A. A. esteja sempre ali e por isso eu sou responsável” usássemos “e por
isso eu sou grato, eternamente grato a essa Irmandade de homens e mulheres
que salvou a minha vida e a de outros tantos espalhados mundo afora”.
Aqui, porém, cabe um sinal de perigo a um erro muito comum que acontece
quando estamos servindo em A. A. que é esperar gratidão. É fazer algo pelo outro
já, de antemão, esperando que no futuro haja reconhecimento. Fazer de graça,
por amor, esperando gratidão ou retribuição, é tolice. Neste sentido, o serviço
deve ser realizado sem esperar nada em troca. Isto simplesmente porque a
gratidão do outro é do outro.
Por outro lado, sentir-se grato, às raias de um sentimento constante de dívida
impagável, também pode não ser muito saudável. A gratidão é sempre boa na
medida da alegria que a acompanha. E a angústia de uma dívida constante
carece de alegria. Já vi casos em que a gratidão mais expressava sofrimento do
que alegria. A pessoa se sentia, na verdade, mais devedora do que grata. Embora
se expressasse sempre com a palavra “gratidão”. Sim, quando somos gratos,
podemos assim dizer: “devo muito a você, a fulano ou sicrano. Devo muito ao
meu Grupo base; devo muito a Alcoólicos Anônimos”, porém, em muitos casos,
não é possível que todos sejam “pagos”, que todas estas dívidas sejam saldadas.
Não é o caso de pagar, mas de comemorar juntos a alegria da graça obtida. E o
Serviço em A. A. é a oportunidade que temos de comemorar a alegria da graça
obtida. O Serviço em A. A. é a verdadeira expressão da gratidão.
Para encerrar, ficarei com as palavras do Dr. Bob retiradas do livro Alcoólicos
Anônimos no capítulo 12 “O pesadelo do Dr. Bob”:
“Passo muito tempo transmitindo o que aprendi àqueles que querem e precisam
desesperadamente disto. Faço-o por quatro motivos:

Sentimento de dever.

É um prazer.
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