Brasil Ano 13 - no 1 ISSN 1518-9740 Temporomandibular • Deslocamentos do disco articular • Disfunção temporomandibular em respirador bucal pré-escolar Cardiorrespiratório Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro de 2012 Janeiro / Fevereiro de 2012 13 anos • Capacidade funcional e tuberculose pulmonar • Bronquiolite viral aguda em lactentes Urbanismo • Deslocamentos de deficientes visuais em Belém Neurologia • Mobilização neural e hérnia de disco lombar • Estabilização central e incontinência urinária Atendimento • Uso do cão durante as sessões de fisioterapia www.atlanticaeditora.com.br • Consultores especializados no Negócio Pilates. A METALIFE TRAZ PARA VOCÊ A POSSIBILIDADE DE SE ALINHAR AOS MELHORES PROFISSIONAIS DE PILATES DO MUNDO. Equipamentos Cursos e Workshops www.metalifepilates.com.br | CENTRAL DE VENDAS 0800 648 7400 Brasil Ano 13 - no 2 ISSN 1518-9740 Neurologia • Avaliação fisioterapêutica e distrofias musculares • Índice de Barthel e doença de Alzheimer • Facilitação neuromuscular em degeneração espinocerebelar recessiva Physical Therapy Brazil • Curso de Empreendedorismo e Gestão em Pilates especialmente elaborado para Educadores Físicos, Fisioterapeutas e Profissionais ligados a Gestão de Pilates. Março / Abril de 2012 Fisioterapia • Formação STOTT PILATES™. Método reconhecido internacionalmente. Foto STOTT PILATES® photography © Merrithew Corporation | Imagem meramente ilustrativa • Equipamentos e curso especialmente voltados para profissionais responsáveis pela reabilitação. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - Março/Abril TUDO O QUE VOCÊ PRECISA PARA TRILHAR UMA HISTÓRIA DE SUCESSO NO MERCADO DE PILATES. 13 anos Clínica • Hemodiálise e função pulmonar • Perfil de pacientes com incontinência urinária • Síndrome de Pallister-Killian Pilates • Método Pilates e melhora da força muscular respiratória Terapias • Tratamento da hérnia de disco lombar • Artrite reumatoide: terapia morfoanalítica e terapia de mão www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 13 - no 3 ISSN 1518-9740 NEUROLOGIA • Acompanhamento ambulatorial de recém-nascidos prematuros • Manipulação espinal e limiar da dor • Preensão palmar na síndrome de Down • Reeducação postural global e isostretching em lombalgia Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - Maio/Junho Maio / Junho de 2012 Equipamentos Cursos e Workshops 13 anos crônica ELETROESTIMULAÇÃO • Atividade elétrica e força do bíceps braquial EQUILÍBRIO • Osteoartrose de joelho e equilíbrio em idosos • Bandagem elástica adesiva e equilíbrio postural OMBRO • Acidente vascular encefálico e dor no ombro www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 13 - no 4 ISSN 1518-9740 FIBROMIALGIA • Radiofrequência monopolar na fibromialgia CARDIORRESPIRATÓRIO • Pico de fluxo expiratório em idosos Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 4 - Julho/Agosto Julho / Agosto de 2012 Equipamentos Cursos e Workshops 13 anos • Desmame de ventilação mecânica • Ângulo de Charpy em crianças asmáticas • Reabilitação do transplante cardíaco TEMPOROMANDIBULAR • Bioestimulação associado à cinesioterapia • Terapia manual e disfunções craniomandibulares OMBRO • Fisioterapia do ombro em mulheres mastectomizadas DERMATOFUNCIONAL • Blender químico e eletrolifting em rugas www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 13 - no 5 ISSN 1518-9740 DERMATO FUNCIONAL • Endermologia na modelagem abdominal • Eletrolipoforese e endermologia no tratamento da celulite PEDIATRIA Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 5 - Setembro/Outubro de 2012 Setembro / Outubro de 2012 Equipamentos Cursos e Workshops 13 anos • Dor em recém-nascidos e estimulação sensório-motora • Oxigenoterapia na enfermaria pediátrica TERCEIRA IDADE • Prevenção do risco de quedas AQUÁTICA • Fisioterapia aquática e dor lombar crônica • Osteoartrose de quadril e joelho NEUROFUNCIONAL • Uso da realidade virtual na reabilitação de AVC www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 13 - no 6 ISSN 1518-9740 CARDIORRESPIRATORIO • Avaliação da frequência respiratória em dispneia DERMATO FUNCIONAL • Ácido úsnico e própolis no tratamento da acne Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - Novembro/Dezembro de 2012 Novembro / Dezembro de 2012 Equipamentos Cursos e Workshops 13 anos SAÚDE DA MULHER • Função sexual feminina na gestação • Perfil de pacientes mastectomizadas AQUÁTICA • Reabilitação diafragmática pós-imobilização em ratos NEUROFUNCIONAL • Enfrentamento da lesão medular EMERGÊNCIAS • Fisioterapia no apoio à equipe de bombeiros DOENÇAS RARAS • Fisioterapia na osteogênese imperfeita www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 13, nº 1 janeiro/fevereiro 2012 - 1~80) EDITORIAL Sobre algumas tendências acadêmicas e literárias atuais, Marco Antonio Guimarães da Silva....................................................... 3 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação da capacidade funcional em pacientes com tuberculose pulmonar, Carla Laine Silva Santos, Fabiane Costa Santos, Mansueto Gomes Neto, Gleyze Maria Prazeres da Silva, Larissa Hausner de Morais, Marcelo de Araújo Nazaré..................................................................................................................... 4 Relação entre o uso do calçado de salto alto e o encurtamento da musculatura posterior de membro inferior e tronco, Lorena de Lima Alves, Luciana Naomi Kato, Levy Aniceto Santana................................................. 9 Efeito da mobilização neural na melhora da dor e incapacidade funcional da hérnia subaguda de disco lombar, Eduardo Monnerat, Paulo Cesar Nunes-Júnior, André Luis dos Santos Silva, Luis Guilherme Barbosa, João Santos Pereira.................................................................................................................................. 13 Motivação na universidade: um estudo com estudantes de fisioterapia, Lígia Maria da Costa Canella Tropiano, Priscilla Ludovico da Silva, Rodrigo Quadro Altieri Martinez, Raquel Caetano Teixeira da Silva, Vanessa Madaschi, Giuliano Michel Mussi, João Roberto de Souza-Silva, Silvana Maria Blascovi-Assis........................................................................................................................................................... 20 Deslocamento de deficientes visuais em vias públicas da região metropolitana de Belém/PA, Paulo Eduardo Santos Avila, Benedito Coutinho Neto................................................................................................................... 25 Destacando tratamentos aplicados em lactentes com bronquiolite viral aguda: uma análise retrospectiva, Dirceu Costa, Évelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Kadma Damasceno Soares Monteiro, Denise Rolim Leal de Medeiros...................................................................................................................................................... 32 A percepção de idosas institucionalizadas sobre o uso do cão durante o atendimento fisioterapêutico, Felipe Dotto, Francine Ferraz Fernandes, Andriele Gasparetto, Paulo Adão de Medeiros................................................................ 37 Efeito da terapia por radiofrequência monopolar sobre a dor e capacidade funcional de mulheres com fibromialgia, Fabiana dos Santos Ferreira, Carla Roberta Nunes Polachini, Jones Eduardo Agne, Aline Paula Miozzo, Franciele Plachi, Marluci Giovelli Rossato...................................................................................................... 43 RELATOS DE CASO Exercícios baseados na estabilização central no tratamento da incontinência urinária de esforço feminina, Bruna Figueirôa Correia de Araújo, Valéria Conceição Passos de Carvalho..................................................................... 49 Análise dos efeitos da eletrolipólise no tratamento do fibro edema gelóide por meio da biofotogrametria computadorizada, Maria das Graças Cândido Valls, Elaine Soffiatti Queiroz, Cristiane Helita Zorel Meneghetti, Helena Hanna Khalil Dib Giusti............................................................................................. 54 Terapia manual na restauração da amplitude articular do ombro em mulher mastectomizada, Juliana Furtado Martins, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Leila Beuttemüller Cavalcanti Soares, Kátia Virginia Viana Cardoso, Maria de Fátima Arcanjo da Ponte Moreira, Raimundo Hermelinda Maia Macena, Teresa Maria da Silva Câmara, Cristiano Teles de Sousa, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos........................................ 59 REVISÕES Diabetes na gestação e incontinência urinária: uma associação pouco reconhecida, Gabriela Marini, Fernanda Piculo, Angélica Mércia Pascon Barbosa, Débora Cristina Damasceno, Iracema de Mattos Paranhos Calderon, Selma Maria Michelin Matheus, Rodrigo de Aquino Castro, Marilza Vieira Cunha Rudge............................. 65 A abordagem fisioterapêutica na disfunção da articulação temporomandibular em portadores da síndrome do respirador bucal na idade pré-escolar, Jacyara Souto de Menezes Oliveira, Nilva Pereira da Silva, Núbia Pereira da Silva, Analizia Pena da Silva.............................................................................................. 69 NORMAS DE PUBLICAÇÃO............................................................................................................................................75 EVENTOS............................................................................................................................................................................77 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 2 Fisioterapia Brasil Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 3 Editorial Sobre algumas tendências acadêmicas e literárias atuais Marco Antonio Guimarães da Silva Na área cientifica observa-se, com uma certa frequência, a participação de vários autores na elaboração de um artigo cientifico. Ainda que não seja regra, em algumas situações, o autor principal do artigo inclui nomes de colegas que efectivamente não participaram do trabalho, seja para que as absurdas metas de produção cientifica da Capes sejam alcançadas, seja por simples espirito de camaradagem. Nessas situações, o barco é tocado da seguinte forma: hoje incluo você no meu trabalho, amanhã entro no seu. Ressalte-se que, como disse acima, felizmente isso não é a regra, e a maioria dos trabalhos realizados em equipes contam com a participação de todos os pesquisadores ali citados. Mas, se na área acadêmica é possível se escrever a quatro, oito, dezesseis e às vezes a 32 mãos, como seria no campo da literatura escrever a quatro mãos? Seria possível fazê-lo no campo ficcional? Embora soubesse que vários autores haviam dividido a autoria de livros no campo literário, julgava que eu não seria capaz de levar adiante uma obra de ficção com mais alguém. Essa impressão me levou a recusar um primeiro convite feito por Manuel Rui, escritor angolano já consagrado, que carrega em seu currículo, alem vários livros escritos, o fato *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. de ter participado da revolução de Angola e posteriormente ter sido ministro naquele país. O convite me foi feito logo após a resenha que o autor angolano em questão fez do meu primeiro romance, «De escritores, fantasmas e mortos» (pode ser lida em bloco de notas do site www.paul-lodd.fr). Agora após o lançamento do segundo romance o convite foi refeito e, convencido pela opinião de minha mulher, resolvi aceitar o desafio. Espero poder levar até o fim essa ousada empreitada. Uma segunda questão, envolvendo comparações entre as áreas acadêmicas e literárias é a forma como as obras ambas as áreas se fazem representar nas feiras de livros. Embora se possa observar editoras, principalmente universitárias e de instituições de pesquisas, apresentando livros de cunho cientifico, é muito raro a promoção de debates com os autores-cientistas da área de saude. Dirão alguns: o público que frequenta tais feiras ou salões não estaria interessado em tais debates. Será que em uma feira de livros como a do Rio de Janeiro ou em um Salão de Livros de Paris, que conseguem atrair 200.000 pessoas por dia, não haveria pelo menos 50 pessoas para assistir um debate de uma produção da área cientifica? Fica aqui a sugestão, caso algum leitor tenha poder decisório sobre tais feiras. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 4 Artigo original Avaliação da capacidade funcional em pacientes com tuberculose pulmonar Assessment of functional capacity in patients with pulmonary tuberculosis Carla Laine Silva Santos, Ft.*, Fabiane Costa Santos, Ft.**, Mansueto Gomes Neto, Ft.***, Gleyze Maria Prazeres da Silva****, Larissa Hausner de Morais, Ft. Esp.*****, Marcelo de Araújo Nazaré, Ft. Esp.****** *Pós-graduanda em Reabilitação Neurofuncional pela Faculdade Social, **Coordenadora do Serviço de Fisioterapia do Hospital Especializado Octávio Mangabeira (SESAB), professora de pós-graduação na Faculdade Social da Bahia, Faculdade de Tecnologia e Ciências e professora mediadora do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas de Saúde para Auditores do SUS pela Escola Estadual de Saúde Pública, ***Professor da UFBA e FSBA, ****Pós-graduanda em Reabilitação Neurofuncional pela Faculdade Social, *****Hospital Português e Hospital Especializado Octávio Mangabeira, ******Hospital Aliança e Hospital Especializado Octávio Mangabeira Resumo Abstract Introdução: A cada ano são registrados mais de 8 milhões de novos casos de tuberculose pulmonar (TB) em todo o mundo, correspondendo a 2,7 milhões de óbitos e uma diversidade de complicações decorrentes da doença. Objetivo: Avaliar a capacidade funcional de pacientes com TB por meio do teste de caminhada de seis minutos (TC6). Métodos: Foram avaliados 20 pacientes adultos, recrutados por conveniência das enfermarias de um hospital público especializado em Salvador/BA, com diagnóstico de TB, estáveis e que não apresentassem outra doença pulmonar e/ou problemas musculoesqueléticos e neuromusculares que pudessem impedir a realização do TC6. Os pacientes com déficit de compreensão foram excluídos. Utilizou-se o teste Kolmogorov-Simirnov para avaliação da distribuição dos dados, e como os dados foram paramétricos, o teste t de student foi utilizado para comparar a distância percorrida e prevista no TC6. O nível de significância estabelecido foi de 5% e a análise foi realizada através do software SPSS. Resultados: Observou-se redução da capacidade funcional dos pacientes através do teste t student pareado para a distância percorrida e a distância prevista de acordo com equação de predição de Enright e Sherrill (387,26/689; p < 0,001). Na comparação dos que abandonaram o tratamento e os que não abandonaram não houve diferença significativa em relação à distância caminhada (352/404, p = 0,3). A idade inferior a 38 anos foi um fator significativo na redução da capacidade funcional. Conclusão: Os indivíduos com TB apresentaram diminuição da capacidade funcional, sendo a idade um fator relacionado a essa diminuição. Introduction: More than 8 million new pulmonary tuberculosis (PT) cases are registered around the world every year. This corresponds to 2.7 million of deaths and a diversity of disease complicating. Objective: Evaluating PT patients’ functional capacity by a six-minute walk test (6WT). Methods: Adult patients diagnosed with TB were recruited by a PT specialized public hospital in Salvador, Bahia. Those patients should not present any other lung disease or skeletal muscle system complication which might prevent from developing the 6WT test. Patients with deficit of understanding were excluded. The Kolmogorov-Simirnov test was used for statistical data. Parametric data was used and a specific test was applied in order to compare the information achieved. A 5% level of significance has been determined by software SPSS analysis. Results: A reduction in functional ability was observed by comparing the length expected and covered as reported by Enrihgt and Sherrill (387.26/689; p < 0.001). No difference was observed by comparing those who left the treatment and those who did not leave it. Patients < 38 years old had a significant reduction of functional capacity. Conclusion: Patients with PT presented functional capacity diminution, especially when age is < 38 years old. Key-words: tuberculosis, six-minute walk test (6WT), functional capacity. Palavras-chave: tuberculose pulmonar, teste de caminhada de seis minutos, capacidade funcional. Recebido em 17 de março de 2011; aceito em 19 de dezembro de 2011. Endereço para correspondência: Fabiane Costa Santos, Alameda Praia do Flamengo, 1686, casa 3, 41600-080 Salvador BA, Tel: (71) 9985-9873, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Introdução A tuberculose pulmonar (TB) é uma doença que acomete o mundo há milhares de anos [1,2]. Tem caráter infecto-contagioso de evolução crônica e ainda é considerada um problema sério de saúde pública e uma importante causa de morbimortalidade, necessitando de atenciosas ações [3-5]. São registrados a cada ano mais de oito milhões de novos casos de TB em todo o mundo, correspondendo a 2,7 milhões de óbitos, sendo 98% nos países em desenvolvimento [6]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os países com alta carga de TB pelo número absoluto de novos casos da doença. No Brasil, são identificados aproximadamente 85.000 casos por ano, colocando o país, em 2009, no 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos no mundo [6]. A TB leva a uma série de consequências danosas para o paciente. Dentre estas, a presença de lesões pulmonares extensas pode ser um fator preditor de invalidez permanente por conta da insuficiência respiratória secundária a destruição tecidual, cor pulmonar e predisposição a infecções oportunistas, o que acarreta em prejuízos na capacidade funcional e na qualidade de vida do paciente, além de se tornar um dos fatores de risco implicados na mortalidade pela doença [7]. A capacidade funcional é definida como a ausência de dificuldades no desempenho de gestos específicos e de certas atividades da vida cotidiana, que engloba todas as funções do corpo e a capacidade do indivíduo em realizar tarefas relevantes da sua rotina. Uma das maneiras de avaliá-la é por meio dos testes de capacidade de exercício [8]. Dentre estes, pode-se destacar o teste de caminhada de seis minutos (TC6), que avalia a aptidão física em indivíduos pouco condicionados fisicamente ou que não conseguem realizar, por motivos variados, o teste ergométrico. É um teste facilmente aplicável, bem tolerado, que consegue refletir atividades de vida diária e permite ao paciente realizar pausas e determinar sua própria velocidade [9-11]. É considerado uma forma prática, de baixo custo, que tem os seguintes objetivos: avaliar a capacidade aeróbica para a prática de esportes e outras atividades; avaliar o estado funcional do sistema cardiovascular e/ou respiratório na saúde e doença e avaliar programas de prevenção, terapêuticos e de reabilitação [9,12]. A TB ainda se mantém como uma das infecções crônicas de maior índice de morbimortalidade, porém há uma lacuna de estudos que abordam a capacidade funcional dos pacientes acometidos pela doença [13]. O que existem são iniciativas isoladas que avaliam o prejuízo da TB em estruturas anatômicas. Porém sabe-se que essas alterações causadas podem, ao longo do tempo, trazer diminuição das capacidades e volumes pulmonares, além de disfunções musculoesqueléticas, com repercussões negativas tanto no condicionamento do paciente como no seu desempenho em atividades de vida diárias [7]. Um melhor entendimento das limitações funcionais que acometem os pacientes com TB pode ser útil no desenvol- 5 vimento de programas de reabilitação adequados nesta população, bem como na quantificação do nível de deficiência. Levando em consideração os comprometimentos decorrentes da doença em questão, o presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a capacidade funcional de pacientes com TB através do TC6. Material e métodos O estudo foi do tipo quantitativo, analítico de caráter temporal transversal, realizado nas enfermarias de um Hospital Especializado, na cidade de Salvador/BA, onde foi recrutada uma amostra não probabilística constituída de pacientes acima de 18 anos, do sexo masculino, com diagnóstico de TB por médico especialista, estáveis, que não apresentassem outra doença pulmonar, problemas musculoesqueléticos e/ ou neuromusculares que pudessem levar a diminuição da capacidade funcional. Foram excluídos indivíduos que apresentassem déficit de compreensão. Todos os indivíduos receberam esclarecimentos sobre os procedimentos e objetivos do estudo e concordaram em assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) elaborado com base na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciências e os pacientes foram informados sobre os objetivos, metodologia e riscos do estudo. Após concordarem em participar da pesquisa e assinarem o TCLE foram submetidos ao TC6 de acordo com as diretrizes estabelecidas pela American Thoracic Society (ATS) [14]. Antes de realizar o teste, os pacientes responderam a uma ficha de avaliação elaborada pelo próprio pesquisador, onde constavam questões relacionadas às características antropométricas como idade, peso e altura além do tempo de diagnóstico, de tratamento e se já tinham abandonado ou não o tratamento. Os testes foram realizados em um terreno plano de 30 metros de comprimento, sempre pelo mesmo examinador previamente treinado. Os equipamentos necessários para a realização do teste foram cronômetro Polar, trena Standard 8m, oxímetro de pulso portátil de dedo Clip Onix, monitor de frequência cardíaca Junsd, esfigmomanômetro BD, estetoscópio BD e balança APA WT-02. Os dados vitais como frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio e sensação de dispneia (escala de Borg) foram verificados antes, durante e ao final do teste. Foi solicitado ao paciente que caminhasse de um extremo a outro da pista, com a maior velocidade possível, durante os seis minutos, sendo incentivados com frases padronizadas a cada minuto [13]. Os sujeitos foram orientados a interromper o teste caso apresentassem dores em membros inferiores, taquicardia, dor torácica, dispneia intolerável, sudorese, palidez, tonturas, câimbras ou qualquer outro sintoma de desconforto. O cronô- 6 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 metro permaneceu ligado a todo o momento e o paciente foi instruído a continuar o teste até o término do sexto minuto. Caso ocorresse dessaturação para níveis abaixo de 88% ou se fosse atingido 90% da frequência cardíaca máxima, o teste seria interrompido. Para o cálculo da distância prevista utilizou-se a equação de Enright e Sherrill [(7,57 x altura cm) – (5,02 x idade) – (1,76 x peso kg) – 309 m] [13], tendo conhecimento quanto à altura, à idade e ao peso dos indivíduos avaliados. Após os dados serem tabulados, os pacientes foram divididos em dois grupos (Grupo 1 e 2) em relação à idade para que pudessem ser comparados posteriormente em relação à distância caminhada e prevista e tempo de diagnóstico e distância caminhada. Foi realizada estatística descritiva para análise dos dados demográficos e clínicos. Os dados de variáveis contínuas foram avaliados como medidas de tendência central e dispersão e expressos como medias e desvio-padrão e os dados de variáveis dicotômicas ou categóricas foram avaliados como medidas de frequência e expressos como percentagens. Para análise da distribuição dos dados foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov. Como os dados foram distribuídos de forma paramétrica, o teste t de student pareado foi utilizado para comparação da variável capacidade funcional comparando os valores previstos com o obtido pelo TC6. A comparação da CF entre os pacientes que abandonaram o tratamento e os que não abandonaram foi realizada através do teste t para amostras independentes. A análise foi realizada com uso do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) for Windows (versão 14.0) e foi estabelecido um nível de significância de 5%. -se diferença significativa entre eles (p = 0,004). A tabela III mostra que a distância caminhada pelo grupo 1 (449 ± 89 m) foi maior que a do grupo 2 (305 ± 102 m). As distâncias máximas e mínimas caminhadas foram respectivamente de 300 metros e 556 m no grupo 1 e 120 m e 452 m no grupo 2. Resultados Teste t student. O estudo foi realizado no período de outubro e novembro de 2009, no qual foram recrutados vinte e sete pacientes do sexo masculino, com diagnóstico de TB. Destes, 4 pacientes se recusaram a participar do estudo, um apresentava déficit de compreensão, um apresentava-se desorientado e um foi excluído por não preencher o critério de idade. Uma amostra final de 20 pacientes foi avaliada, na qual a mediana da idade foi de 39 anos. O peso variou de 43 a 71 kg e o tempo de tratamento de 7 a 150 dias. A Tabela I demonstra as características antropométricas dos indivíduos avaliados, como etnia, peso e altura, além do tempo de diagnóstico, tempo de tratamento e abandono ou não do tratamento. A tabela II descreve os resultados da avaliação da CF mostrando a diferença em relação à distância caminhada e prevista dos indivíduos que participaram do estudo. Não foi observada diferença estatística quando comparada a distância caminhada do grupo que abandonou o tratamento com o que não abandonou (p = 0,3). Analisando os 20 indivíduos que participaram do estudo e separando-os em grupos de diferentes faixas etárias (grupo 1 < 38 anos, n = 10, grupo 2 > 38 anos, n = 10), encontrou- Tabela III - Comparação entre caminhada e idade. Tabela I - Dados demográficos. Dados demográficos N = 20 Média ± DP Frequência Etnia Negro 2 Pardo 18 Peso 53,3 ± 7,4 Altura 1,68 ± 0,0 Tempo diagnóstico* 6,8 ± 10,8 Tempo tratamento** 41,9 ± 38,9 Abandono de tratamento Sim 6 Não 14 % 10 90 30 70 *Tempo diagnóstico avaliado em meses; **Tempo tratamento avaliado em dias. Tabela II - Comparação entre distância caminhada e distância prevista em pacientes que abandonaram e não abandonaram o tratamento. Distância caminhada (m) Distância prevista (m) Abandono de tratamento Sim Não Idade < 38 anos > 38 anos Até 1 mês > 1 mês Grupos Média ± DP 387 ± 122 689 ± 78 352 ± 112 404 ± 127 Distância percorrida Média ± DP Grupo 1 449,40 ± 89,36 Grupo 2 305,00 ± 102,77 Tempo de diagnóstico Grupo 1 405,40 ± 151,46 Grupo 2 380,50 ± 98,98 Valor de p p = 0,000 p = 0,387 Valor de p 0,004 0,529 Em relação ao tempo de diagnóstico, quando comparada à distância caminhada, foi possível agrupar os pacientes (grupo 1 < 1 mês e grupo 2 > 1 mês) e não foi encontrada diferença estatística entre eles (p = 0,52). Discussão O TC6 é um importante teste submáximo de avaliação da capacidade física de indivíduos com limitação funcional e é útil para quantificar a gravidade dessa limitação e os resultados de algum tratamento proposto [9,12,15]. Tem se mostrado importante também para avaliar a capacidade funcional ou Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 habilidade de realizar atividades de vida diária (AVD), através da análise dinâmica e manejo clínico de indivíduos com doenças cardiopulmonares crônicas graves [12,16]. Os indivíduos com TB deste estudo apresentaram redução da capacidade funcional quando analisada a distância caminhada e a distância prevista através do TC6. Essa redução pode estar relacionada às alterações estruturais anatômicas e funcionais provenientes da TB [15]. A média da distância caminhada no presente estudo foi de 387 m, muito menor do que a encontrada em estudo realizado para avaliar aplicabilidade do TC6 em indivíduos brasileiros saudáveis, onde a população masculina obteve uma distância prevista de 571,45 m e o mesmo foi realizado em uma distância de 535,83 m [17]. Esta média foi menor também quando comparada à média de pacientes nigerianos encontrada no estudo de Adedoyin et al. [16] que foi de 504 m. Já Ando et al. encontrou uma média de 342 m em pacientes americanos [18]. De acordo com dados da OMS, no controle global da TB, em 2008, as principais sequelas da doença são alterações estruturais pouco reversíveis ou até mesmo irreversíveis [15]. Elas incluem fibrose parenquimatosa; alterações arquiteturais com perda de volumes pulmonares; bronquiectasias; acometimento pleural; enfisema e lesões cavitárias residuais [19-22]. Além destas, as alterações ventilatórias também podem ser encontradas, levando a diferentes níveis de gravidade de redução da funcionalidade. De acordo com Cunha, as distribuições médias dos padrões ventilatórios de pacientes com sequelas de TB são: padrão restritivo 17-36%, padrão obstrutivo 15-48%, padrão misto 13-34% e espirometria normal 8-47% [19,23]. Em consequência, ocorre também má ventilação, diminuição das trocas gasosas, levando a dispneia progressiva, descondicionamento e um declínio global no estado funcional [24]. Em vista das repercussões ocorridas, tem-se utilizado o TC6 como um dos testes funcionais na avaliação e reavaliação da tolerância ao esforço físico em indivíduos com comprometimentos respiratórios graves como na DPOC [12], porém são poucos os estudos identificados na literatura em pacientes com tuberculose pulmonar [16,24]. Alguns estudos demonstram que essas transformações estruturais ocorridas ao longo do tempo em pacientes com TB podem comprometer as funções do indivíduo [19, 23,25]. Observou-se no presente estudo que quanto maior o número de episódios de TB mais acentuadas são as perdas funcionais. E estas são maiores nos seis primeiros meses após o tratamento e se estabilizam após 13-18 meses [19,25]. Observou-se ainda que quando comparados pacientes antes e após o tratamento para TB, houve uma melhora da função pulmonar em 54% dos casos após o tratamento, evidenciando a importância da intervenção para a diminuição da morbidade e/ou limitação futura [19]. Outro fator importante para diminuição de morbidades decorrentes da TB é a continuidade do tratamento. No presente estudo, aproximadamente um terço dos pacientes (30%) 7 abandonaram o tratamento, porém outros estudos revelam uma taxa de má adesão ainda maior. Ribeiro et al. analisaram 62 pacientes e aproximadamente 61,2% abandonaram o tratamento [26,27]. Verificou-se ainda que o abandono aconteceu principalmente no sexo masculino. No presente estudo não foi possível fazer essa comparação, pois as mulheres não foram incluídas na análise. Mesmo sabendo dos benefícios ocasionados pela continuidade do tratamento e das consequências trazidas pela má adesão, a faixa de abandono ainda é muito alta. Muitos autores discutem sobre o tema, demonstrando que são necessárias mais políticas públicas voltadas para preparação de profissionais da área de saúde com o intuito de tentar conscientizar a população alvo sobre a importância em aderir ao tratamento [28]. No que se refere à idade, neste estudo pôde-se observar uma menor distância caminhada para os indivíduos mais velhos. Pires et al. avaliaram 122 indivíduos saudáveis subdivididos em dois grupos, com pacientes com idade entre 20 e 40 anos e pacientes com idade entre 40 e 60 anos [9] e perceberam menor performance nos indivíduos com idade mais avançada. Da mesma forma, o estudo de Troosters et al. submeteu ao TC6 indivíduos saudáveis com idade entre 50 e 85 anos e apresentou achados semelhantes quando relacionou idade e performance dos indivíduos [29]. Isso provavelmente pode ser explicado pela diminuição da força global e função pulmonar por ação fisiológica do envelhecimento [29]. Em relação ao tempo de diagnóstico, foi observada uma variação de 1 a 36 meses nos indivíduos do estudo. Sabe-se que este constitui um fator importante no curso da doença e pode comprometer o resultado do tratamento quanto mais demorada for a detecção da TB, em função das consequências negativas que podem surgir [4,5,7]. Embora alguns estudos demonstrem que um diagnóstico precoce favorece um tratamento mais rápido e, consequentemente, consegue diminuir a quantidade e extensão das lesões teciduais que a TB pode provocar [9,17], no presente estudo não foi detectada influência do tempo de diagnóstico de até um mês ou maior que um mês em relação à distância caminhada. Assim, não houve influência na capacidade funcional dos sujeitos avaliados. As principais limitações desta pesquisa foram o número reduzido da amostra, a utilização apenas do gênero masculino e a escassa produção bibiográfica sobre capacidade funcional em indivíduos com TB, o que dificultou comparações com outros achados. Conclusão Os pacientes com TB deste estudo apresentaram diminuição da capacidade funcional depois de submetidos ao TC6, que é um teste reprodutível e sensível ao avaliar a CF em pacientes com TB. Estes resultados foram obtidos a partir da análise da distância caminhada e prevista de acordo com a fórmula de Enright e Sherrill e percebeu-se que a idade foi 8 um fator importante quando relacionado a esta diminuição. Novos estudos se fazem necessários, com utilização de maiores amostras e comparação entre os gêneros para que possam ser mais bem esclarecidos os verdadeiros prejuízos na capacidade funcional de pacientes com tuberculose pulmonar. Referências 1. Silva FC. Tuberculose Pulmonar [monografia]. São Paulo; 2005. Curso de Especialização de Fisioterapia Respiratória em UTI e VM com ênfase em Clínica Médica. [citado 2011 Out 12]. Disponível em URL: http://www. capscursos.com.br/docs/ tuberculosepulmonar.pdf 2. Gava MV, Picanço PSA. Fisioterapia na Tuberculose. 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Six minute walking distance in elderly subjects. Eur Respir J 1999;14:270-4. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 9 Artigo original Relação entre o uso do calçado de salto alto e o encurtamento da musculatura posterior de membro inferior e tronco Relationship between high heeled footwear use and muscle shortening of trunk and lower limb Lorena de Lima Alves, Ft.*, Luciana Naomi Kato, M.Sc.*, Levy Aniceto Santana** *Universidade Católica de Brasília – UCB, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília – UCB Resumo Abstract Objetivo: Identificar a relação entre o uso do salto alto e o encurtamento da musculatura posterior de membros inferiores e tronco. Métodos: Foi realizado um estudo transversal com uma amostra por conveniência que incluiu 50 mulheres divididas em 2 grupos. Grupo 1: mulheres que usavam apenas calçado sem salto ou de até 3 cm e no grupo 2 mulheres que usam salto alto ≥ 10 cm. Resultados: A análise estatística mostrou maior encurtamento muscular no grupo das mulheres que usavam calçados de salto alto com diferença estatisticamente significativa [t(48) = 2,92; p = 0,005] e correlação negativa fraca e sem significância estatística (r = -0,340; p = 0,096) com o tempo de uso do mesmo. Conclusão: As mulheres que utilizavam calçados de salto alto apresentaram maior tendência ao encurtamento da musculatura posterior de membros inferiores e tronco quando comparadas às mulheres que utilizavam preferencialmente calçados sem saltos. Objective: To assess the relationship between using high heels and shortening of the posterior muscles of the lower limbs and trunk through the test bank Wells. Methods: Was conducted a cross-sectional study with a convenience sample that included 50 women divided into 2 groups. Group 1: women wearing only shoes without heels or ≤ 3 cm and in group 2 women using high heel ≥ 10 cm. Results: Statistical analysis showed greater muscle shortening in the group of women who wore high-heeled shoes with a statistically significant difference [t (48) = 2.92, p = 0.005] and a weak negative correlation and no statistical significance (r = - 0.340, p = 0.096) with duration of use of it. Conclusion: Women who used high-heeled shoes were more likely to shortening of the posterior muscles of the legs and torso when compared to women who used preferably shoes without heels. Key-words: gait, lower extremity, flexibility. Palavras-chave: marcha, membros inferiores, flexibilidade. Recebido em 26 de julho de 2011; aceito em 26 de dezembro de 2011. Endereço para correspondência: Levy Aniceto Santana, QS 07 Lote 1 – Águas Claras, 72030-170 Taguatinga DF, Tel: (61) 3356-9141, E-mail: [email protected] 10 Introdução A marcha humana está entre os atos motores mais espontâneos na qual a sequência de eventos é repetida ciclo após ciclo e alterações nos padrões normais da marcha podem vir a prejudicar a eficiência do deslocamento e até causar danos ao aparelho locomotor [1]. Durante uma marcha normal o peso recebido pelo pé é distribuído entre o calcâneo (60%), médio pé (8%) e ante-pé (32%), principalmente a cabeça do quinto e primeiro metatarso [2]. O ciclo da marcha é dividido em fase de apoio, na qual estão ativos os músculos extensores e abdutores do quadril, os flexores de tronco e os flexores plantares e na fase de balanço quando estão ativos os flexores e abdutores do quadril, o reto abdominal e os dorsiflexores [3]. A marcha além de ter um objetivo funcional tem que ser também segura e estética sendo que o último é considerado como a mais importante para muitas pessoas. Desde o reinado de Luís XV na França, as mulheres começaram a utilizar sapatos de salto alto por ser um símbolo de riqueza e elegância. O salto alto é visto como um padrão estético feminino e tem sido usado de forma negligente pela grande maioria das mulheres, que ignoram as consequências que podem ser causadas no sistema musculoesquelético pelo uso excessivo desse acessório [4]. No século XXI, por uma questão profissional e social as mulheres tendem a permanecer longos períodos com o sapato de salto alto. As variações da forma, consistência e material usado na fabricação do calçado, principalmente a altura do salto, podem ter influencia na saúde da mulher, ocasionando compensações como encurtamento muscular, dores na coluna lombar e na região dos pés, fadiga, cansaço e aumento do volume da perna [5,6]. A contração dos músculos da panturrilha durante a marcha tem como objetivo elevar o corpo na ponta dos pés, impulsionando-o para frente e o salto alto limita esse movimento de forma radical, mantendo o músculo encurtado [7]. Lunes et al. [2] relataram que alterações na distribuição das pressões plantares, encurtamentos na musculatura posterior de membro inferior e instabilidade do tornozelo podem estar relacionadas ao deslocamento anterior do tronco causado pela elevação do calcanhar através do calçado de salto alto. Em recente revisão bibliográfica não foram encontrados estudos contendo informações associadas à avaliação da musculatura de membro inferior e tronco, relacionado ao uso do calçado de salto alto. Além disso, há controvérsias sobre os efeitos do uso demasiado do calçado de salto alto, pois alguns estudos [8,9] afirmam efeitos benéficos como melhora no bombeamento sanguíneo pela diminuição da pressão venosa das pernas, e acreditam que o tempo de uso do calçado e a altura do salto alto não vão interferir de forma significativa nos padrões da marcha, não sendo capazes de gerar alterações musculoesqueléticas. Enquanto outros estudos [2,6,10-13] afirmam o contrário enfatizando que pode causar diminuição do recrutamento de unidades motoras e da atividade muscular do gastrocnêmio, sobrecarga na região do ante-pé, alterações Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 no equilíbrio devido a alterações posturais do centro de gravidade corporal e instabilidade do tornozelo. Um dos agravantes da moda atual do salto alto é sua presença cada vez mais precoce e frequente na rotina das mulheres. A identificação das compensações mais prevalentes e dos grupos musculares mais propensos a encurtamentos em mulheres que têm o hábito de usar salto alto regularmente permite a obtenção de maior segurança e confiabilidade nas propostas de intervenções terapêuticas. A prevenção das consequências negativas constitui a condição mais eficiente nos efeitos biomecânicos da marcha com salto alto, proporcionando melhor qualidade de vida e maior funcionalidade [5]. O objetivo deste estudo foi identificar a relação entre o uso do calçado salto alto e o encurtamento da musculatura posterior de membros inferiores e tronco. Materiais e métodos Foi realizado um estudo transversal no período de 14 de abril a 12 de maio de 2011 na Universidade Católica de Brasília (UCB) com uma amostra que incluiu 50 mulheres alocadas em dois grupos: Grupo 1 com média de idade de 22,0 ± 3,7 anos e média de Índice de Massa Corporal (IMC) de 20,5 ± 2,2 kg/cm² e Grupo 2 com média de idade de 23,3 ± 2,2 anos e média de IMC de 21,0 ± 2,2 Kg/cm² selecionadas entre as estudantes da UCB do período noturno. Os critérios de inclusão comum para os dois grupos correspondiam a mulheres eutróficas com idade entre 18 e 35 anos e que estudavam na UCB. A amostra foi dividida em dois grupos. No grupo 1 mulheres que usavam apenas calçado sem salto ou de até 3 cm durante toda a semana e um calçado com salto de até 8 cm apenas para eventos sociais esporadicamente nos finais de semana. E no grupo 2 mulheres que usam salto alto igual ou maior que 10 cm, por no mínimo 35 horas semanais. Foram excluídas do estudo as mulheres que praticavam atividade física ou algum tipo de alongamento, as que relatavam qualquer alteração ortopédica ou neurológica, grávidas no momento da coleta de dados. Todas as voluntárias participantes receberam informações sobre o objetivo e o procedimento do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido no momento da coleta, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, concordando em participar da pesquisa. O protocolo experimental do presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa – CEP da UCB sob o Nº. CEP/ UCB 007/2011. As mulheres foram abordadas no hall de entrada do bloco central do campus de Taguatinga da UCB e encaminhadas para a sala F17 da Clínica Escola de Fisioterapia onde foram aferidas a estatura e a massa corporal utilizando a Balança Antropométrica Mecânica Filizola® modelo 31 com precisão de 0,05 cm para estatura e 100 gramas para massa. A flexibilidade da musculatura posterior de membro inferior e tronco Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 No grupo das voluntárias com salto alto (grupo 2), todas utilizavam calçado com o salto do tipo agulha, em média, por 42,1 ± 14,1 horas semanais e 14 (56,0%) relataram sentir dor, nas regiões do joelho, coluna e ante-pé. A maior prevalência de dor no ante-pé em usuárias de salto alto descrita neste estudo é concordante com os resultados descritos por Santos et al. [17] e Pegoretti et al. [18] sendo justificado pela sobrecarga causada pela excessiva elevação do calcanhar, gerando um aumento na pressão plantar sobre os metatarsos e consequente aumento da tensão nos membros inferiores. A dor no joelho e coluna relatada pelas usuárias de salto também já tinha sido descrita por outros autores [11,19,20] e se deve porque, com o uso do calçado de salto alto, ocorre flexão plantar de tornozelo proporcionalmente a altura do salto e uma limitação na pronação da articulação subtalar. Essas posições tendem a mudar a posição do centro de gravidade fazendo com que a pessoa realize uma anteroversão pélvica, a fim de manter o equilíbrio, resultando em hiperlordose lombar e o aparecimento de dores nessas regiões. Segundo Otacílio et al. [1], o uso do calçado de salto alto causa desconforto e dores em alguma região na maioria de seus usuários, independente da frequência de uso e do tipo de calçado. Esse fato pode estar relacionado às características do material no qual o calçado de salto alto é confeccionado. Das voluntárias do grupo que não usavam calçado com salto alto (grupo 1), 9 (36,0%) relataram sentir dor na região do calcanhar e esse achado já tinha sido descrito por Santos et al. [4] sendo explicado porque nesse caso o centro de gravidade é levemente posteriorizado e a descarga de peso ocorre principalmente na região do retropé, sobrecarregando os calcanhares. Figura 1- Gráfico comparativo da média e desvio padrão do grupo 1 e grupo 2 do Banco de Wells. média do banco de WELLS (em cm) Resultados e discussão A Figura 1 apresenta os valores médios e desvio padrão das medidas aferidas pelo banco de Wells nos dois grupos. A análise do teste t encontrou diferença estatisticamente significativa [t(48) = 2,92; p = 0,005] entre as médias das medidas dos grupos sendo os valores médios obtidos no grupo 1 (302,4 ± 53,9 cm) maiores que no grupo 2 (237,5 ± 97,1 cm). Ao se correlacionar o tempo de uso do salto alto com a medida do encurtamento aferida pelo banco de Wells no grupo 2 (Figura 2), observou-se uma correlação negativa fraca e sem significância estatística (r = - 0,340; p = 0,096) o que significa dizer que há uma tendência para quanto maior o tempo de uso do calçado de salto alto menor o alcance horizontal no teste do banco Wells, ou seja, mais encurtada estava a musculatura posterior de membros inferiores e tronco. 302,48 237,52 Grupo sem salto Grupo com salto Esses achados são concordantes com os descritos por Lunes et al. [2], Santos et al. [4] e Bertoncello et al. [11] e são justificados devido ao fato de que o realinhamento do eixo de gravidade altera os padrões de força muscular dos membros inferiores. O uso de salto gera desequilíbrio muscular, o que afeta o funcionamento de toda a cadeia cinética do membro inferior. Em relação ao uso do calçado de salto alto quanto maior o tempo semanal de uso ocorrerá possivelmente maiores alterações de tecidos moles e rígidos a fim de manter o equilíbrio da usuária. E o uso demasiado desses calçados, geralmente, causa encurtamento. Figura 2 - Gráfico de correlação de Pearson entre Banco Wells e tempo de uso do salto por semana. média do banco de WELLS (cm) foi aferida pelo teste de sentar e alcançar por meio do banco de Wells Sanny® e durante esse aferição as voluntárias sentaram-se em um colchonete com medida de 100,0 x 60,0 x 3,0 cm, com enchimento de espuma D23, com os pés encostados embaixo do banco, com as pernas estendidas, os pés descalços e um pouco afastados, com as mãos sobrepostas e deslizaram sobre o banco o máximo de distância conseguido pela pessoa avaliada em três tentativas de flexão do tronco, mantendo os joelhos, cotovelos e punhos em extensão máxima. Foram realizadas três aferições no teste do banco de Wells para a obtenção da medida máxima alcançada pela voluntária em centímetros, segundo utilizado por outros estudos [14-16]. As medidas foram realizadas sempre pelo mesmo avaliador. A análise estatística dos dados foi realizada pelo software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 19,0) no qual foram calculadas as médias e desvios-padrões, correlação de Pearson entre o tempo de uso do salto alto e a medida aferida pelo banco de Wells e o teste t para amostras independentes para verificar as diferenças entre as medidas aferidas pelo banco de Wells entre os grupos com nível de significância de 0,05. 11 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 25 35 45 55 65 75 85 Tempo de uso do salto por semana (em horas) 12 O banco de Wells, apesar de ser um dos instrumentos mais utilizados para aferir o encurtamento da musculatura posterior de membros inferiores e tronco, é considerado um teste indireto e linear. Os testes lineares apresentam como pontos fracos a incapacidade de avaliar isoladamente cada segmento ou musculatura dando uma visão global da flexibilidade do indivíduo e a provável interferência das dimensões antropométricas sobre os resultados dos testes. O desconforto gerado durante o teste relatado pelas voluntárias e o receio de realizá-lo acabava por limitar seu alcance horizontal [14,15]. É importante ressaltar que este estudo foi transversal e realizado com voluntárias jovens. Sugere-se que outros estudos investiguem essa questão em mulheres que usam salto alto há mais tempo, que exerçam outras atividades ocupacionais que permaneçam maior tempo em pé, pois elas tendem a desenvolver encurtamentos adaptativos a condição do uso de calçado em situação em que mantém o corpo durante as atividades profissionais. A utilização de outros instrumentos como flexímetro e goniômetro para aferição dos encurtamentos devem ser considerados e também a realização de estudos prospectivos para a confirmação desses achados. Conclusão Os resultados deste estudo mostraram que as mulheres que utilizavam calçados de salto alto com altura ≥ 10 cm durante 35 horas ou mais por semana apresentaram maior encurtamento da musculatura posterior de membros inferiores e tronco quando comparadas às mulheres que utilizavam preferencialmente calçados sem saltos. Referências 1. Otacílio J, Santos AMC, Nazario PF, Avila AOV. Frequência de uso do calçado de salto alto e dores nos pés em mulheres [online]. [citado 2011 Maio 5 ]. Disponível em URL: http:// www2.rc.unesp.br/eventos/educacao_fisica/biomecanica2007 2. Lunes DH, Monte-Raso W, Santo CBA. A influência postural do salto alto em mulheres adultas: análise por biofotogrametria computadorizada. Rev Bras Fisioter 2008;12(6):441-6. 3. Perry J. Análise da marcha volume 1. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 13 Artigo original Efeito da mobilização neural na melhora da dor e incapacidade funcional da hérnia de disco lombar subaguda Effect of neural mobilization on pain relief and improvement of functional incapacity of subacute lumbar disc herniation Eduardo Monnerat, Ft., M.Sc.*, Paulo Cesar Nunes-Júnior, Ft., Esp.**, André Luis dos Santos Silva, Ft., D.Sc.***, Luis Guilherme Barbosa, Ft., D.Sc.****, João Santos Pereira, D.Sc.***** *Programa Stricto Sensu em Motricidade Humana (UCB-RJ), **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica (UCB-RJ), Especialista em Osteopatia (UNIGRANRIO), ***Engenharia de Produção (UFRJ), ****Universidad de Buenos Aires, *****Programa Stricto Sensu em Motricidade Humana (UCB-RJ) Resumo Abstract A Mobilização Neural é um recurso terapêutico para as diversas disfunções do tecido neural e do sistema musculoesquelético. No entanto, é uma técnica ainda pouco conhecida e explorada pelos profissionais da área da saúde no Brasil. Diante disto resolveu-se realizar este estudo com intuito de avaliar sua eficiência na hérnia de disco lombar em relação à fisioterapia convencional. Participaram do estudo 30 indivíduos com hérnia de disco lombar unilateral, voluntários, selecionados por conveniência, independente de sexo, idade, tempo de acometimento, etnia e atividade profissional, desde que preenchessem os critérios de inclusão e exclusão, que foram divididos em grupo experimental (EXP) e controle (CONT), com 15 participantes em cada, que receberam tratamentos distintos. O grupo CONT recebeu tratamento fisioterápico convencional enquanto o grupo EXP foi submetido ao tratamento de Mobilização Neural. A duração do programa foi de quatro semanas, com três sessões semanais. Ao se avaliar o efeito terapêutico em relação à dor e a incapacidade funcional, não se observou diferença estatisticamente significativa no grupo controle (CONT) na comparação intra-grupo (pré x pós). Já no grupo experimental (EXP), esta mesma comparação, pré e pós-tratamento, mostrou diferença estatisticamente significativa em relação à dor e a capacidade funcional, pelo teste de Kruskal Wallis (p = 0,0001). Quando se realizou a comparação inter-grupos ( pós-EXP x pós-CONT), encontrou-se um intervalo de confiança (IC) favorável ao grupo EXP (IC: -46,48/-5,79). Os resultados deste estudo evidenciaram resposta terapêutica satisfatória para regressão da sintomatologia dolorosa e incapacidade funcional, utilizando-se a técnica de Mobilização Neural na hérnia de disco lombar, unilateral, póstero-lateral, subaguda em curto período de tempo. The Neural Mobilization is a therapeutic resource in many neural tissue and musculoskeletal system dysfunctions. Nevertheless, this technique remains underexploited by the health professionals in Brazil. Thirty individuals with unilateral lumbar disc herniation were selected by convenience, regardless of gender, age, duration of symptoms, ethnical group and professional activity, since they satisfy the inclusion and exclusion criteria. This sample was divided into two groups: experimental (EXP) and control (CONT), with 15 participants each group, who received different treatments. The group CONT received conventional physical therapy treatment while the EXP group was submitted to the neural mobilization treatment. The individuals were treated for 4 weeks, with 3 weekly sessions. The control group (CONT), after using the conventional physical therapy techniques, did not show a statistically significant difference in comparison to the intragroup (pretreatment x post-treatment). On the other hand, the experimental group (EXP) showed a statistically significant difference in relation to pain and the functional capacity using the Kruskal Wallis test (p = 0.0001). When the results in the pre and post-treatment were compared intragroup post-EXP x post-CONT, the confidence interval (IC) was in favor of group EXP (IC: -46.48/-5.79). The results, in this study, showed a good therapeutic response, with regression of the painful symptomatology and functional incapacity, using Neural Mobilization technique, in individuals with unilateral, posterolateral, subacute lumbar disc herniation, in a short period. Key-words: neural mobilization, lumbar disc herniation, functional incapacity. Palavras-chave: Mobilização Neural, hérnia de disco lombar, incapacidade funcional. Recebido em 26 de julho de 2011; aceito em 17 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2578-4036, E-mail: [email protected] 14 Introdução A dor lombar constitui uma causa frequente de morbidade e incapacidade funcional, sendo a Hérnia de Disco (HD) uma das principais causas de dor nesta região. Realizam-se nos Estados Unidos mais de 200 mil cirurgias por ano, correspondendo a cerca de 2% da população adulta desse país [1,2]. Na Suécia 0,6% da população tem sido submetida à intervenção cirúrgica. Estima-se o acometimento de 2 a 3% da população mundial, com prevalência de 48% em homens e de 2,5% em mulheres acima de 35 anos [3]. Sua frequência é maior em indivíduos entre 30 e 50 anos, embora possa ser encontrada em adolescente e pessoas idosas e mais raramente em crianças [4]. A topografia mais frequente de HD na coluna lombar é entre L4-L5 e L5–S1 [1]. O resultado desta situação é um elevado custo financeiro, decorrente da assistência dos profissionais da área da saúde, redução da produtividade, absenteísmo e afastamento temporário ou definitivo do trabalho, provocando grandes problemas socioeconômicos. A HD é considerada uma disfunção extremamente comum, causadora de séria inabilidade, constituindo um problema de saúde pública mundial [5]. Diversos fatores ambientais têm sido sugeridos como fatores para o risco para HD, tais como hábito de carregar peso, alterações posturais, dirigir, fumar, além de fatores genéticos, antropológicos e do envelhecimento, associados a fatores emocionais influenciando a intensidade da dor [6]. A terapia conservadora tradicional tem sido a preferida como a primeira escolha, cujos objetivos são o alívio da dor, o aumento da capacidade funcional e o retardo da progressão da doença [3]. Em 2010, Machado e Bigolin publicaram um estudo no qual chegaram à conclusão que, após 20 sessões, a técnica de Mobilização Neural foi capaz de reduzir de forma significativa, a sintomatologia dolorosa em indivíduos com lombalgia crônica, quando comparada a um programa de alongamento muscular [7]. Em um estudo de caso ficou demonstrada a importância da técnica de Mobilização Neural na sintomatologia dolorosa, ao se evidenciar a redução das dores nos pés e braços, após 4 semanas de aplicação da técnica, em indivíduo com seringomielia [8]. Outro estudo mostrou melhora da cervicobraquialgia, com aumento da mobilidade articular da coluna cervical e do ombro, assim como redução da dor [9]. Na câimbra do escrivão a técnica de Mobilização Neural reduziu a dor no nervo mediano, melhorando a coordenação motora [10]. A técnica de Mobilização Neural pode ser associada a outras técnicas reabilitatórias, como na recuperação de indivíduos com acidente vascular encefálico [11]. Na busca de melhores resultados e respostas relativas a mecanismos que ocasionam os sinais e sintomas encontrados na HD, muitos fisioterapeutas dirigiram sua atenção para o tecido nervoso, onde o terapeuta jamais deve desconsiderar que a fáscia, as articulações e os músculos estão conectados ao sistema nervoso e possuem uma fisiologia e mecânica complexas [12]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Embora a técnica de Mobilização Neural não seja amplamente conhecida, essa ideia de aplicar um tratamento mecânico para o tecido neural não é nova. Princípios e métodos do alongamento neural já existiam desde 1800 e progressivamente foram se aperfeiçoando tanto na teoria quanto na aplicação clínica [13]. No entanto, o alongamento do nervo poderá irritar e ocasionar dor [14]. Quando ocorre um alongamento neural os vasos sanguíneos são estrangulados comprometendo assim o fluxo intraneural deteriorando a função nervosa. Se este alongamento for apenas levemente além dos limites de proteção, por apenas um breve período, a função nervosa tende rapidamente a voltar ao normal. No entanto, se a tensão sobre o nervo for severa ou sustentada por longo período de tempo, as alterações na função nervosa serão permanentes [12]. Em uma disfunção do tecido neural, é comum que a microcirculação no nervo esteja anormal e, portanto, um alongamento mínimo poderá comprometer o fluxo circulatório e reduzir a função nervosa. Por estas razões é imprudente tratar o tronco nervoso danificado ou comprimido com técnicas de alongamento [15]. No contexto da fisioterapia, a Mobilização Neural tem apresentado grande desenvolvimento, particularmente nos últimos 35 anos. Grieve, em 1970, comentou pela primeira vez na literatura fisioterápica a noção de sensibilização dos tecidos neurais como fator-chave na produção de sintomas dolorosos [8]. As possibilidades dos tecidos neurais inflamados podem ocasionar testes neurodinâmicos anormais, não necessariamente devido à compressão pela HD [12]. Diante do exposto realizou-se este estudo, com a finalidade de mostrar maior eficácia e eficiência do tratamento com as técnicas de Mobilização Neural em pacientes portadores de hérnia de disco lombar (HDL). Material e métodos Sujeitos Esta pesquisa analítica, descritiva e comparativa, foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Castelo Branco/ RJ pelo parecer nº 0077/2007. Participaram deste estudo 30 indivíduos, voluntários, independente de sexo, idade, tempo de acometimento, etnia e atividade profissional, por conveniência, com hérnia de disco lombar em fase sintomática subaguda póstero-lateral e unilateral, os quais foram atendidos na clínica de Fisioterapia Bom Pastor, no período de outubro de 2008 a julho de 2009, desde que preenchessem os critérios de inclusão e exclusão. A amostra selecionada foi dividida, aleatoriamente, em dois grupos: experimental (EXP) e controle (CONT), com 15 participantes em cada, que receberam tratamentos distintos. O grupo CONT recebeu tratamento fisioterápico convencional enquanto o grupo EXP foi submetido ao tratamento de Mobilização Neural. Como critérios de inclusão foram estabelecidos: diagnóstico clínico de hérnia de disco lombar póstero-lateral e Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 unilateral em fase sintomática subaguda, confirmado por Ressonância Magnética Nuclear, disponibilidade de tempo do paciente para seguir o programa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Dos critérios de exclusão consideraram-se: realização de outro tipo de tratamento reabilitatório para HDL durante a terapêutica da reabilitação neural, existência de morbidades associadas, tais como hérnia de Schmorl, síndrome do piriforme, espondilolistese, traumatismo lombar e tumores medulares, entre outros, assim como osteoartrose severa nas articulações da coluna lombar, cirurgia prévia de HDL, distúrbios psíquicos graves, utilização de medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios ou relaxantes musculares durante o tratamento. Procedimento experimental Inicialmente cada participante foi submetido à avaliação através de anamnese, Escala Analógica de Dor e Incapacidade Funcional [16]. Os indivíduos selecionados foram tratados de acordo com o grupo que pertencessem, sendo o grupo CONT submetido à fisioterapia convencional, enquanto para o grupo EXP utilizou-se a técnica de Mobilização Neural. O estudo foi realizado durante quatro semanas, realizando-se três atendimentos por semana, contabilizando um total de doze atendimentos. O tempo de tratamento foi padronizado para ambos os grupos. O grupo CONT realizou sessões individuais durante quatro semanas, por 40 minutos 3 vezes por semana. O grupo EXP realizou o tratamento de reabilitação, também em sessões individuais, durante 10 minutos, em 3 sessões semanais por 4 semanas. Ambos os grupos foram tratados sob uma maca de madeira do Instituto São Paulo de Fisioterapia (ISP) (comprimento 1,93 m, largura 0,18 m, espessura 0,65 m e 30,0 kg). Foi utilizado para os indivíduos do grupo CONT para suporte e conforto dos membros inferiores uma cunha de alta densidade (Ortobom®) enquanto permaneciam deitados. Os protocolos de tratamento utilizados foram submeter o grupo CONT à eletroterapia através da Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS - LDA®) e a diatermia através do aparelho de ondas curtas. As placas do TENS foram posicionadas sobre as raízes nervosas espinhais próximas dos processos espinhosos das vértebras lombares. Essa onda foi administrada aos voluntários através de um único canal contendo dois eletrodos de material a base de borracha carbonada, umedecida com gel do (ISP®) (com corante azul) de acoplamento e conectadas a pele através de esparadrapos (Cremer®). O TENS foi aplicado com uma forma de onda balanceada, assimétrica, bifásica, gerando uma estimulação elétrica da alta frequência (100 Hz), duração de 50 ms e uma intensidade de estimulação confortável (expressa pelos indivíduos), durante 20 minutos. A diatermia foi aplicada através do aparelho de 15 ondas curtas continuo (Ibramed®), durante 20 minutos. Os eletrodos utilizados no estudo eram placas capacitivas flexíveis revestidas com feltro, que foram posicionadas na coluna lombar dos indivíduos. A técnica selecionada foi a Co-planar (mesmo plano). O calor utilizado foi o médio (sensação clara e agradável de calor). O protocolo utilizado no grupo EXP foi a realização de movimentos acessórios passivos através de uma pressão póstero-anterior (PA) acrescentando-se uma inclinação cranial (Figura 1). O indivíduo permaneceu em decúbito ventral com 2 pequenos travesseiros da marca Paropas Chamego Soft®, (70% algodão, 30% poliéster, com 10 cm de altura, 0,38 de largura e 0,58 m de comprimento) sob o abdome e os membros inferiores, com o tronco inclinado para o lado contra lateral à dor. Realizaram-se movimentos acessórios póstero-anterior (PA) central no nível afetado, com a pressão no sentido cranial, com 4 repetições de 30 segundos de oscilação. Assim que os sintoma(s) ao longo das sessões foram diminuindo do(s) membro(s) inferior(es) e foram se centralizando na coluna, a progressão foi sair do posicionamento de inclinação lateral evoluindo o tronco para uma posição de linha média. Prosseguindo o protocolo, foi aplicada pelo autor deste estudo a técnica de inclinação lateral (Figura 2). O indivíduo ficou em decúbito lateral com o lado dolorido para baixo, o terapeuta com uma das mãos lateralmente a ele, estabilizou o processo espinhoso afetado (lateralmente a ele), e a outra mão, lateral no quadril, realizava o movimento oscilatório de flexão lateral do quadril para a progressão. Foram realizadas 4 sessões de 30 segundos de oscilação. As técnicas 1 e 2 eram realizadas de forma alternada com intervalo de 1 minuto entre as repetições e mantidas até o final de tratamento [17]. Figura 1 - Técnica com movimento acessório passivo. Os resultados obtidos após as quatro semanas de tratamento nos dois grupos, utilizando-se a Escala Analógica de Dor e Incapacidade Funcional, foram comparados entre si. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 16 Gráfico 1 - Baseado na média do Rank encontrado no teste de Kruskal Wallis. Média do Rank Figura 2 - Técnica de inclinação lateral. Tratamento estatístico 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 * # pré-teste pós-teste pré-teste GE GE GC Análise da dor por grupo pós-teste GC Foi utilizada estatística descritiva com média, erro-padrão, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo. A normalidade da amostra foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk. Para a análise das variáveis respostas foi utilizado o teste de Kruskal Wallis seguido das comparações múltiplas pelo intervalo de confiança. Adotou-se o nível de p < 0,05 para a significância estatística. Para a avaliação dos resultados foi utilizado pacote estatístico SPSS versão 14.0. Média do nível de dor Gráfico 2 - Baseado na média e desvio padrão do nível de dor. 2,5 2 1,5 * # 1 0,5 0 Grupo experimental Resultados pré-teste Através do pré e do pós-teste do grupo experimental e do grupo controle, realizou-se a análise da amostra através da estatística descritiva, média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo, e os valores de p através do teste de Shapiro – Wilk (SW) (Tabela I). O grupo experimental obteve uma distribuição não-normal dos dados pelo teste de Shapiro – Wilk. Como a escala utilizada é ordinal, optou-se utilizar estatística não-paramétrica de Kruskal Wallis (Gráfico 1), que revelou diferença significativa (p = 0,0001). O intervalo de confiança (IC) identificou esta diferença nos momentos (Gráfico 2). Pré-teste x pós-teste do GE (IC: 1,96/42,64); Pós-teste GE x pós-teste GC, a favor do grupo GE (IC: -46,48/ -5,79). No Pré- teste GE x Pré-teste GC, não houve diferença (IC: 27,34/ 13,34). No Pré-teste x Pós-teste do GC, não houve diferença (IC: 17,17/ 23,5). A Tabela II e a Tabela III apresentam o gênero, a idade, o somatório antes e depois e o percentual de melhora de ambos os grupos. Grupo Controle pós-teste Tabela II - Percentual de melhora do grupo CONT após o tratamento através da fisioterapia convencional (n = 15). Gênero Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Idade 36 35 26 54 36 34 52 33 34 35 70 61 28 46 32 Somatório Somatório Melhoantes do depois do ra (%) tratamento tratamento 66 67 0% 24 21 12.5 26 26 0% 46 37 19.57 46 41 10.87 41 29 29.27 44 44 0% 60 55 8.34 54 49 9.26 36 36 0% 38 38 0% 45 42 6.67 41 41 0% 23 22 4.35 35 35 0% Tabela I - Análise estatística dos resultados obtidos após a aplicação da escala funcional para os grupos estudados (n = 30). GE GC pré-teste pós-teste pré-teste pós-teste Média 1,40 0,50 1,53 1,43 Erro-padrão 0,20 0,10 0,12 0,12 Mediana 1,11 0,40 1,51 1,40 GE= grupo experimental; GC= grupo controle; * significativo, p < 0,05 Desvio-padrão 0,77 0,38 0,45 0,45 Mínimo 0,48 0,00 0,85 0,77 Máximo 2,96 1,33 2,44 2,48 SW- p-valor 0,032* 0,623 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Tabela III - Percentual de melhora do grupo EXP após o tratamento através da técnica de Mobilização Neural (n = 15). Gênero Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino Masculino Idade 34 36 62 34 59 35 78 35 35 78 78 78 73 36 34 Somatório Somatório total antes total depois do tratado tratamento mento 39 15 27 3 79 18 21 10 27 11 22 10 49 0 31 5 30 6 80 6 60 36 29 16 43 28 19 15 13 12 Melhora (%) 61.54% 88.89% 77.22% 52.39% 59.26% 54.55% 100% 83.88% 80% 92.5% 40% 44.83% 34.89% 21.06% 7.7% Discussão Nos últimos anos, estudos procuram avaliar os resultados da técnica de Mobilização Neural em diversos segmentos e disfunções do corpo humano. No presente estudo participaram 30 indivíduos com HDL unilateral, póstero-lateral, em fase subaguda com diferentes profissões, com idade entre 26 e 78 anos, média 46,4 ± 17,67 anos, predominando a etnia branca e o sexo feminino. Em relação à profissão, as mulheres classificadas como do lar predominaram como as mais acometidas pela disfunção (23,33%). Devido ao maior número de mulheres com atividade do lar na amostra, não foi possível correlacionar os resultados obtidos com a atividade profissional e os fatores de risco, neste estudo. Toscano [2] esclarece que o sedentarismo, as alterações posturais, a execução inadequada de exercícios, o tipo de ocupação, os traumas mecânicos, as características psicossociais e comportamentais, os aspectos morfológicos (estrutura, idade, peso, obesidade) e o tipo de atividade física são fatores predisponentes para dores na coluna lombar. De acordo com Herbert e Xavier [1], as doenças metabólicas (Paget, osteomalácia, osteoporose, hiperparatireoidismo) e a dor miofascial, também podem ser possíveis causas para dores na coluna lombar. Polito et al. [18] demonstraram que indivíduos de ambos os gêneros com sintomas dolorosos na coluna lombar apresentaram alterações da flexibilidade, observando-se hipermobilidade nos movimentos de flexão do quadril e hipomobilidade na flexão de tronco. Em outro estudo Mancin et al. [19] selecionaram 30 indivíduos do gênero feminino, sedentárias e praticantes de atividade física, entre 20 e 50 anos de idade. As variáveis avaliadas pelo estudo foram capacidade funcio- 17 nal, limitação por aspecto físico, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspecto social, limitação por aspectos emocionais e saúde mental. As voluntárias foram divididas em grupos por faixa etária, 21 a 30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50 anos, sendo utilizado como instrumento de avaliação o questionário SF36 – The Medical Outcomes. Ao final do estudo, encontrou-se: capacidade funcional, 16% maior nas ativas; limitação por aspectos físicos, 19% maior nas sedentárias; dor, 33% maior nas sedentárias; estado geral de saúde, 24% melhor nas ativas; vitalidade, 30% maior nas ativas; aspecto social, 28% maior nas ativas; limitação por aspectos emocionais, 39% maior nas sedentárias; e a saúde mental, 28% maior nas ativas. O grupo controle (CONT), após emprego de técnicas da fisioterapia convencional, não mostrou melhora significativa em relação à sintomatologia dolorosa e capacidade funcional, ao se comparar os resultados intra-grupo (pré x pós) e inter-grupo ( pós CONT x pós EXP). Este resultado pode ser devido, provavelmente, ao tempo reduzido de realização do programa (12 atendimentos) para esses indivíduos com HDL subaguda, padronizada quando no protocolo estabelecido neste estudo. Utilizou-se nesta pesquisa um tempo médio de tratamento fundamentado em estudos anteriores de técnicas de Mobilização Neural e fisioterapia convencional [9,20]. Se individualizarmos a conduta terapêutica, talvez alguns participantes necessitassem de um período maior de tratamento de fisioterapia convencional. Para esta mesma disfunção, 12 sessões utilizando a técnica de Mobilização Neural foram suficientes para redução da sintomatologia dolorosa e melhora da capacidade funcional. Conforme apresenta a tabela II, dos 15 indivíduos tratados através da fisioterapia convencional, em 7 deles (46,66%) não ocorreu mudança na sintomatologia dolorosa e capacidade funcional após as 12 sessões, sendo 4 do gênero masculino (57,14%) e 3 do feminino (42,85%). Estudo de Calonego e Rebelatto [21], comparando a fisioterapia convencional ao método Maitland no tratamento de indivíduos com lombalgia aguda, demonstrou melhora da sintomatologia dolorosa e aumento do arco de movimento em ambos os grupos. Entretanto os indivíduos tratados com a mobilização vertebral, através do método Maitland, obtiveram resultados satisfatórios em tempo menor de tratamento que os submetidos ao tratamento convencional. Os recursos utilizados na fisioterapia convencional foram o ultrassom pulsátil a 0,8 w/cm² (0,16 w/cm² de dose SATA) e a Estimulação Elétrica Transcutânea (TENS) – “burst”. Neste estudo foram realizadas dez sessões de tratamento para ambos os grupos. No grupo experimental (EXP), os resultados obtidos mostraram melhora significativa da sintomatologia dolorosa e da capacidade funcional em indivíduos com HDL subaguda em relação à dor e incapacidade funcional, tratados através da técnica de Mobilização Neural, evidenciado através da análise estatística ao se compararem os resultados pré e pós-tratamento (intra-grupo) e com o grupo controle (inter-grupo). 18 Estudos demonstraram que a utilização de quatro semanas de tratamento em distintos distúrbios, com variação do número de sessões foram suficientes para obtenção de resultados satisfatórios. Assim, Cowell e Phillips [9], em indivíduo com cervicobraquialgia, realizaram 10 sessões através da técnica de Mobilização Neural ao longo de 4 semanas. Guelfi [8], em indivíduo com seringomielia empregou 9 sessões da técnica para membros superiores e 6 sessões para membros inferiores durante 4 semanas. Na câimbra do escrivão Santos [10] realizou quinze sessões, 3 vezes por semana da técnica de Mobilização Neural. Conforme mostra a tabela III, dos indivíduos do grupo EXP, 10 (66,66%) tiveram melhora da sintomatologia dolorosa e da capacidade funcional em mais de 50%, os demais participantes deste grupo também obtiveram melhora, no entanto, inferior a 50%. Dos indivíduos que obtiveram melhora de mais de 50%, 6 eram do gênero feminino (60%) e 4 do gênero masculino (40%). Esses indivíduos apresentaram melhora considerável em percentual da escala maior que 50%. Embora 6 destes participantes fossem adultos jovens com menos de 40 anos de idade e se esperasse uma resposta terapêutica mais efetiva, tal fato ocorreu em uma participante de 78 anos, do lar, que teve melhora total dos sintomas após a abordagem terapêutica. Cowell e Phillips [9], em estudo de caso com participação de um indivíduo, feminino, 44 anos, com cervicobraquialgia unilateral verificou melhora significativa da sintomatologia dolorosa e aumento de arco de movimento das articulações da coluna cervical e ombro esquerdo. O trabalho realizado por Smaniotto e Fonteque [22], com 10 indivíduos sem disfunção aparente, voluntários, entre 23 e 44 anos, evidenciou aumento do arco de movimento para flexão do quadril em todos os participantes da pesquisa. Na mensuração pré-Mobilização Neural os indivíduos mais jovens (n = 6) com idade entre 25 e 26 anos de idade, tiveram em média 60,5 graus de flexão de quadril. Após 10 sessões utilizando-se a técnica de Mobilização Neural, a média foi para 80,66 graus. Na mensuração pré-Mobilização Neural os indivíduos mais velhos (n = 4), com idade entre 48 e 65 anos de idade, tiveram 37 graus de flexão de quadril. Após 10 sessões utilizando-se a técnica de Mobilização Neural, a média foi para 53 graus. Em estudo realizado por Macedo e Briganó [23], a amostra foi composta por 40 indivíduos com lombalgia funcional crônica, 28 eram do gênero feminino e 12 do masculino; as idades variaram entre 17 e 64 anos, com média de 40,5 anos. Após 30 sessões (três vezes por semana) a terapia manual associada à cinesioterapia mostrou-se eficiente na redução da dor e melhora da qualidade de vida. Neste estudo foi utilizada a escala analógica visual (EVA), para mensuração da dor, e o questionário SF- 36 (Medical Outcomes Study – 36 – Item Short-Form Health Survey) foi utilizado para avaliar a qualidade de vida. A incapacidade funcional relacionada à dor lombar foi estabelecida pelo questionário Oswestry Low Back Pain Disability Questionnaire (Oswestry). Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 O estudo de Macedo et al. [24], empregando a cinesioterapia associada a terapia manual na dor lombar acompanhada de depressão, com avaliação pela Escala Numérica de Dor e a Beck Depression Inventory, respectivamente, mostrou redução na intensidade da dor e melhora da depressão em todos os participantes. Santos e Domingues [25] demonstraram em seus estudos que a técnica de Mobilização Neural, após 8 sessões, foi eficaz para a melhora do alongamento da musculatura do isquiotibiais e, consequentemente, para o ganho de arco de movimento da articulação do quadril, em dez voluntárias do sexo feminino. Neste trabalho foi utilizado o Teste de Elevação da Perna Estendida (SLR) e um goniômetro, para avaliação da amplitude de movimento em flexão da articulação do quadril. Conclusão Este estudo demonstrou que a técnica de Mobilização Neural é eficaz no tratamento da HDL unilateral, póstero-lateral, em fase subaguda por apresentar boa resposta terapêutica na diminuição dos sintomas dolorosos e incapacidade funcional em curto período de tempo, quando comparada à fisioterapia convencional. Pode-se observar, também, que a técnica de Mobilização Neural apresentou resultados mais satisfatórios em indivíduos com idade avançada, em comparação à fisioterapia convencional. Todavia este estudo não se pode extrapolar para a população de modo geral devido ao reduzido tamanho da amostra. Pesquisas com maior número de participantes devem ser realizadas para comprovação destes resultados. Estudos comparativos com outras técnicas fisioterápicas e em indivíduos em fase crônica da HDL também podem ser apresentados. Referências 1. Herbert S, Xavier R. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 3a ed. São Paulo: Artmed; 2009. 2. Toscano JJO, Egypto EP. 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Instrumentos que avaliam a motivação intrínseca e extrínseca podem colaborar para o conhecimento do nível de motivação em estudantes do ensino superior. Objetivo: Investigar o perfil motivacional dos estudantes ingressantes e concluintes do curso de Fisioterapia e identificar os fatores motivacionais intrínsecos e extrínsecos presentes na formação. Método: Participaram 45 alunos do curso de graduação em Fisioterapia de uma universidade particular da cidade de São Paulo. Os alunos convidados a participar estavam regularmente matriculados em turmas do primeiro, segundo, sétimo e oitavo semestres do curso, representando ingressantes e concluintes. O instrumento utilizado para coleta de dados foi a Escala de Motivação Acadêmica (EMA), de Vallerand. Resultados: Os dados foram tratados com o teste de Mann Whitney comparando ingressantes e concluintes. Não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos sete itens avaliados para motivação intrínseca, extrínseca e desmotivação para os grupos. Conclusão: Outras aplicações do instrumento poderão colaborar para a avaliação da motivação dos estudantes em diferentes fases do curso, auxiliando na elaboração de estratégias de incentivo e conhecimento do perfil do aluno. Introduction: Existing studies have demonstrated that the motivation for learning must be considered an important issue for the university formation. Evaluation instruments are destined to evaluate intrinsic and extrinsic motivation and can contribute to know the students motivation at the university. Objective: To investigate the motivational profile of students in the first year and in the last year of the physical therapy course and identified their intrinsic and extrinsic motivation. Methods: The research included 45 students of a particular university in São Paulo city. They were matriculated in the first and in the last year of the physical therapy course and the instrument to data collect was the Academic Motivation Scale, by Vallerand. Results: Mann Whitney test was applied to compare the two groups of students. No significant differences were founded to the seven points evaluated to intrinsic, extrinsic motivation or amotivation for the two groups. Conclusion: Other tests with this instrument could be contributive to evaluate the student’s motivations during the graduation, helping to elaborate incentive strategies and to know the student’s profile. Key-words: motivation, physical therapy, evaluation, education, higher. Palavras-chave: motivação, Fisioterapia, avaliação, ensino superior. Introdução O tema motivação vem sendo estudado por diversos autores na atualidade. Particularmente no Brasil, a motivação no contexto da aprendizagem tem sido alvo de pesquisas sob diversos enfoques teóricos. Os estudos nessa área podem ser extremamente complexos, devido ao fato de não existir apenas uma única teoria da motivação para aprender, e sim perspectivas diversas que caracterizam a multidimensionalidade. Estudos realizados sobre a temática da aprendizagem parecem estar associados à motivação intrínseca e extrínseca do sujeito avaliado [1]. Bezerra et al. [2, p.34] caracterizam a motivação como “um conjunto de fatores dinâmicos existentes na personalidade, Recebido em 22 de agosto de 2011; aceito em 14 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Silvana Maria Blascovi-Assis, Av. Mackenzie, 905, Tamboré, Prédio 5, 06460-130 Barueri SP, Tel: (11) 3555-2002, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 que determinam a conduta de cada um”. Os autores estudam a motivação a partir da teoria dos dois fatores, proposta por Hezberg, na qual se acredita que a motivação do indivíduo ocorre mediante a realização da tarefa. Nas teorias sociocognitivas, existem duas formas de motivação, a intrínseca e a extrínseca [3]. Uma pessoa está intrinsecamente motivada quando a atividade é valorizada por si mesma, considerada interessante e prazerosa, produzindo um envolvimento na tarefa [4,5]. Considera-se motivação extrínseca quando o indivíduo realiza uma determinada tarefa com a finalidade de obter recompensas externas, materiais e sociais [6]. A motivação intrínseca pode ser afetada por fatores ambientais, ou seja, quando as necessidades básicas de competência, autonomia ou vínculo forem atendidas, os comportamentos serão intrinsecamente motivados. A autonomia, neste caso, refere-se à percepção pessoal sobre a origem da ação [3]. Todavia, quando se fala em motivação, é frequente a referência à teoria de Maslow. Este autor, com formação em Psicologia, propôs uma teoria de motivação baseada na hierarquia das necessidades humanas [7]. Muitas críticas têm sido feitas à sua teoria, reduzindo-a a simples pirâmide hierárquica de necessidades por alguns estudiosos do comportamento organizacional, tais como Robbins et al. [8]. Em revisão sobre teoria e obra de Abraham Maslow, constatou-se que, ao contrário da concepção mecanicista e reducionista que muitos de seus críticos apontavam, desenvolveu uma teoria de base multidisciplinar fundamentada em diversas estratégias de pesquisa nunca negando que poderia haver diferenças culturais e reservas quanto à aplicação de sua teoria ao mundo do trabalho [8]. Motivação, para Maslow, sempre está associada a uma finalidade; o desejo está sempre presente, mas os objetos buscados estão sempre em mutação. O homem, em suas palavras, é um “animal desejante” e nunca alcança a satisfação completa. Apesar das críticas, Sampaio [8] chama a atenção para o fato de que apesar de muitos afirmarem o contrário, Maslow aceita que as motivações ocorram simultaneamente, mas ressalta de uma forma extremada que as necessidades fisiológicas preponderariam sobre as outras se uma pessoa estivesse, por exemplo, faminta ou sedenta. Por isso, ele chama de teoria de preponderância e não mecanicista da hierarquia das necessidades. Ressalta ainda um duplo mecanismo das motivações. A motivação baseada em deficiência como a sede, por exemplo, que causa um desconforto e faz o indivíduo buscar reduzir este desconforto que é neste caso, o motivador do comportamento. A motivação para o crescimento, por outro lado se retroalimenta. Quanto mais se aprimora, mais se quer aprimorar como, por exemplo, a técnica de um violinista. Neste caso quanto mais se tem, mais se deseja. Para Maslow, segundo Sampaio [8], todos possuem a motivação baseada em déficit, enquanto que a motivação para o crescimento é diferente de pessoa para pessoa. Fiamenghi [9] parte da premissa que toda atividade humana é motivada, que o motivo interfere na relação entre estímu- 21 los e comportamentos decorrentes e fornece uma explicação para suas flutuações no transcorrer do tempo. Na psicologia, a motivação se inter-relaciona com comportamento interpessoal, personalidade, emoção, estresse e saúde, aspectos biológicos da psicologia, sensação, percepção, aprendizagem, memória e cognição. Para este autor, motivo é um fator interno que dá início, dirige e integra o comportamento. Não é diretamente observável, mas inferido. O conceito de motivação pode ser entendido, de acordo com estudos de Soler et al. [10, p.14], como um “processo cognitivo gerado a partir de uma necessidade (desejo) a qual determina o comportamento de um indivíduo na busca de um objetivo”. É importante destacar a preocupação de pesquisadores com a motivação de estudantes no contexto educacional, uma vez que o declínio motivacional cresce conforme o estudante avança nas séries escolares. A escolha profissional pode ser influenciada pela afinidade pessoal com a área, pela influência dos pais ou pela falta de opção. Aproximadamente 81% dos estudantes têm entre 17 e 20 anos no momento da escolha profissional [11]. As metas e os interesses individuais de universitários são questões discutidas também por Ruiz [12] e Dembo [13]. Os autores consideram que alguns alunos não têm certeza sobre qual a razão de estar na faculdade, enquanto para outros que sustentam a família, ou que voltam a estudar depois de algum tempo, essa ideia parece estar mais clara. A motivação é um processo psicológico básico que auxilia na compreensão das diferentes ações e escolhas individuais, é um dos fatores determinantes do modo como uma pessoa se comporta [14]. O processo de aprendizagem tem sido historicamente caracterizado de formas diferentes que vão desde a importância do papel do professor, como transmissor do conhecimento, até as concepções atuais que consideram o processo de ensino-aprendizagem como um todo integrado, onde se destaca o papel do educando. Apesar de todas estas reflexões a situação atual do processo de aprendizagem ainda requer um aprofundamento reflexivo, principalmente quanto aos fatores motivacionais implícitos no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Bzuneck [15], diversos trabalhos abordam a questão da aprendizagem sobre diferentes pontos de vista. Dentre eles, destaca-se a teoria de metas de realização, que tem demonstrado a correlação entre os escores na meta aprender e a valorização da tarefa escolar. Fatores intrínsecos e extrínsecos também estão presentes, porque seja qual for o fator motivacional, a literatura diz que a aprendizagem depende do interesse pessoal, do valor que o aluno dá às atividades, o que leva a maior ou menor engajamento. Quando o aluno vê importância na execução de uma determinada atividade, ele faz com prazer, independe do fato de receber ou não alguma recompensa material. “Não se exige que o aluno seja levado a sentir prazer na aprendizagem” [15, p.15]. Entretanto, um conjunto de estratégias poderá ser utilizado pelo professor Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 22 em sala de aula, de modo que todo o aluno passará a ver significado e importância na aprendizagem escolar. A formação dos profissionais de saúde e educação nem sempre contempla os estudos sobre a motivação. Pode-se dizer que a maioria dos textos produzidos encontra-se vinculado às áreas da Administração e Psicologia Organizacional. A determinação do perfil de estudantes de profissões de saúde recebeu pouca atenção na literatura, de modo que existem raras referências sobre o processo de formação e as realidades encontradas em alunos de graduação [16]. Muito menos comuns são as pesquisas de investigação de estudantes da área da saúde. Trabalhos envolvendo estudantes de medicina, psicologia, enfermagem e fisioterapia foram encontrados na literatura, revelando dados que merecem continuidade de estudos. A escala proposta por Vallerand et al. [5] foi utilizada no Brasil em trabalhos com estudantes de medicina [17] e psicologia [18]. Esse instrumento é constituído por um total de 28 questões divididas em 7 sub-escalas, cada uma composta por quatro questões. Estas são pontuadas de acordo com uma escala do tipo Likert, entre 1 e 7 pontos. O questionário elaborado por Vallerand et al. [5] foi traduzido para a língua portuguesa por Marins et al. [18]. Os tipos de motivação abrangem: a) motivação intrínseca para saber (fazer algo pelo prazer e satisfação que decorre de aprender, explorar ou entender); b) motivação intrínseca para realizar coisas (fazer algo pelo prazer e satisfação que decorre da busca de realização ou criação de coisas); e c) motivação intrínseca para vivenciar estímulo (fazer algo a fim de experimentar sensações estimulantes, de natureza sensorial ou estética). Os tipos de motivação extrínseca incluem: d) regulação por identificação (fazer algo porque se decidiu fazê-lo); e) regulação por introjeção (fazer algo porque se pressiona a si próprio a fazê-lo); f ) regulação externa (fazer algo porque se sente pressionado por outros a fazê-lo). Por fim, o conceito de desmotivação implica ausência de percepção de contingências entre as ações e seus desfechos (falta de motivos intrínsecos ou extrínsecos) [18, p.3]. Fernandes et al. [19] pesquisaram a motivação de alunos e profissionais de fisioterapia a partir da aplicação do inventário de Valores de Schwartz e um questionário para levantamento dos dados demográficos. Os resultados apontaram que tanto estudantes como profissionais têm motivação influenciada pela necessidade de contato com pacientes e interesse em ajudar o próximo. A Fisioterapia, como profissão da área da Saúde tem, em sua origem, a característica reabilitadora inserida em suas práticas. Contudo, sua atuação se estende na prevenção, eliminação ou melhora de estados patológicos do homem, na promoção e na educação em saúde [20]. Segundo Silva e Da Ros [21], o perfil acadêmico do fisioterapeuta parece estar voltado mais para as doenças e suas sequelas, no entanto afirmam que a capacitação do profissional para a ação preventiva e educativa é de extrema importância para a comunidade em que atua, contribuindo para a melhora da qualidade de vida. Como em outras profissões vinculadas à área da saúde, a fisioterapia vem buscando sua identidade, além da consolidação e reconhecimento de seu campo de atuação. Para tanto, torna-se relevante conhecer aspectos motivacionais na formação deste profissional como parte da construção de sua identidade profissional. O presente estudo tem como objetivo investigar o perfil motivacional dos estudantes ingressantes e concluintes do curso de Fisioterapia e identificar os fatores motivacionais intrínsecos e extrínsecos presentes na formação, bem como diferenças ou semelhanças de tais aspectos. Material e métodos O estudo, de caráter transversal, com abordagem quantitativa, foi realizado a partir da aplicação de um questionário. Participaram 45 alunos do curso de graduação em Fisioterapia de uma universidade particular da cidade de São Paulo, sendo 23 ingressantes e 22 concluintes, de ambos os sexos. Os alunos convidados a participar estavam regularmente matriculados em turmas do primeiro, segundo, sétimo e oitavo semestres do curso, representando os ingressantes (primeiro ano do curso) e os concluintes (quarto ano). A matriz curricular do curso prevê para o último ano estágios práticos nas diferentes áreas de atuação, ou seja, neurologia adulto e infantil, ortopedia e traumatologia, saúde coletiva e atendimento hospitalar em enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva. Os alunos foram convidados e assegurados sobre a preservação de sigilo quanto à sua identidade de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa e aprovado com número de processo CEP/UPM n. 1341/04/2011. O instrumento utilizado para coleta de dados foi a Escala de Motivação Acadêmica (EMA), de Vallerand [5]. Este instrumento vem sendo utilizado em pesquisas e também vem sendo revisado para melhor conhecimento de suas propriedades psicométricas no Brasil [11]. Os colaboradores foram convidados a participar da pesquisa, receberam orientações sobre a proposta do estudo e, após a assinatura do TCLE, foi entregue o questionário para preenchimento. Os dados coletados foram analisados através do programa SPSS (versão 19.0) e a significância dos resultados foi avaliada pelo teste não paramétrico de Mann Whitney, para o qual foi adotado o valor de significância de p < 0,05. A abordagem dos colaboradores foi feita em sala de aula, explicando os propósitos do estudo. Todos os alunos foram convidados a participar, não havendo nenhuma recusa por parte dos mesmos. Os questionários foram devolvidos ao examinador sem identificação para análise de dados. Resultados e discussão A caracterização do grupo estudado foi obtida analisando-se as variáveis gênero e idade. Entre os 45 alunos, apenas três Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 eram do sexo masculino, integrantes do grupo dos concluintes. A média total de idade dos participantes foi de 21,88 anos, com desvio padrão de 5,026. Os dados do questionário aplicado foram analisados de acordo com a divisão proposta pelo questionário de Vallerand [5] para a motivação intrínseca e extrínseca. Nos itens de motivação intrínseca a pontuação variou de 24,73 (motivação interna para saber) a 18,49 (motivação intrínseca para vivenciar estímulos). Nos ítens de motivação extrínseca a pontuação variou de 24,29 (motivação extrínseca - identificação) a 18,59 (motivação extrínseca- introjeção), e no item desmotivação a média total de pontuação foi de 6,77. A Tabela I mostra os índices das sete subescalas e a idade dos sujeitos, apresentando média, moda, mediana e desvio padrão. Tabela I - Idade e Valores de Subescalas da Escala de Motivação Acadêmica (EMA) em amostra de estudantes de Fisioterapia (N= 45). Média Mediana Moda Motivação intrínseca Saber Motivação intrínseca Realização Motivação intrínseca vivenciar estímulos Motivação extrínseca identificação Motivação extrínseca introjeção Motivação extrínseca controle externo Desmotivação Idade DP 24,73 25 28 3,187 21,67 22 28 5,477 18,49 19 16a 5,079 24,29 25 28 3,462 18,59 19 18 6,267 21,82 23,5 28 6,028 6,77 21,88 4 21 4 18a 4,649 5,026 No grupo ingressantes a media de idade foi de 20,45 anos com desvio padrão de 3,501 anos. Neste grupo, a pontuação dos itens de motivação intrínseca variou de 24,59 (motivação intrínseca para saber) a 18,09 (motivação intrínseca para vivenciar estímulos). Nos itens de motivação extrínseca a pontuação variou de 24,64 (motivação extrínseca – identificação) a 18,59 (motivação extrínseca - introjeção), e no item desmotivação a média dos concluintes foi de 6,77. A Tabela II mostra os índices das sete subescalas e a idade dos sujeitos, apresentando média, moda, mediana e desvio padrão dos estudantes ingressantes do curso de fisioterapia. No grupo dos concluintes a media de idade foi de 23,53 anos com desvio padrão de 6,04 anos. Neste grupo, a pontuação dos itens de motivação intrínseca variou de 24,86 (motivação interna para saber) a 18,87 (motivação intrínseca para vivenciar estímulos). Nos itens de motivação extrínseca a pontuação variou de 23,96 (motivação extrínseca – identificação) a 18,59 (motivação extrínseca-introjeção), e no item desmotivação a média dos concluintes foi de 6,76. A Tabela III mostra os índices das sete subescalas e a idade dos sujeitos, 23 apresentando média, moda, mediana e desvio padrão dos estudantes concluintes do curso de fisioterapia. Tabela II - Idade e Valores de Subescalas da Escala de Motivação Acadêmica (EMA) em amostra de estudantes ingressantes do curso de Fisioterapia (N= 22). Média Mediana Moda Motivação intrínseca Saber Motivação intrínseca Realização Motivação intrínseca vivenciar estímulos Motivação extrínseca identificação Motivação extrínseca introjeção Motivação extrínseca controle externo Desmotivação Idade DP 24,59 25 27 3,081 21,23 23 28 6,362 18,09 18,5 11 4,608 24,64 26 27 3,499 18,59 19,5 18 6,724 22,91 25 28 5,887 6,77 20,45 4,5 19 4 18 4,264 3,501 Tabela III - Idade e Valores de Subescalas da Escala de Motivação Acadêmica (EMA) em amostra de estudantes concluintes do curso de Fisioterapia (N= 23). Motivação intrínseca Saber Motivação intrínseca Realização Motivação intrínseca vivenciar estímulos Motivação extrínseca identificação Motivação extrínseca introjeção Motivação extrínseca controle externo Desmotivação Idade Média Mediana Moda DP 24,86 25 24 3,357 22,09 22 22 4,582 18,87 19 16 5,57 23,96 25 22 3,47 18,59 18,5 13 5,933 20,73 21 21 6,104 6,76 23,53 4 22 4 22 5,127 6,04 Os dados tratados com o teste não paramétrico de Mann Whitney compararam as medianas de ingressantes e concluintes, para os quais não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos sete itens avaliados para motivação intrínseca, extrínseca e desmotivação (p = 0.52). Ambos os grupos, independentemente de estarem cursando disciplinas básicas ou realizando estágios práticos apresentaram pontuação alta para motivação e baixa para desmotivação. A comparação da pontuação obtida para os itens da motivação intrínseca e extrínseca foi realizada para os dois grupos, não havendo significância estatística para os resultados após a aplicação do teste Mann Whitney para ingressantes (p = 0.38) ou concluintes (p = 0.66). 24 Esses achados sugerem que as expectativas dos graduandos participantes do presente estudo, sejam eles ingressantes ou concluintes, estão sendo atendidas nas duas fases, fazendo-os estar motivados intrínseca e extrinsecamente. Curioso salientar que os itens que referiram menos pontuação para estes grupos foram a motivação intrínseca para vivenciar estímulos e a introjeção. Nos estudos realizados com estudantes da área da medicina e da psicologia estes mesmos itens foram também os que obtiveram menor pontuação para a motivação intrínseca e extrínseca, respectivamente [17,18]. Os itens que obtiveram a pontuação mais baixa trazem em sua definição sensações estimulantes, de natureza sensorial ou estética, para a vivência de estímulos e a pressão a si próprio para fazer algo, na introjeção [5,18]. Essas podem ser características que não são comuns aos profissionais da saúde, que escolhem a profissão sabendo, por exemplo, que irão confrontar-se com pessoas debilitadas, para as quais, em grande parte dos casos, o senso de estética não é fator prioritário. O estudo de Fernandes et al. [19] ressalta que os estudantes de fisioterapia escolhem a profissão reconhecendo a necessidade de contato com pacientes e o interesse em ajudar o próximo. O uso de instrumentos validados para a avaliação da motivação do estudante pode ser incorporado às estratégias de avaliação interna nos cursos de graduação para que possam gerar dados objetivos para as comissões próprias de avaliação, as quais, segundo o MEC, têm como atribuições conduzir os processos de avaliação internos da instituição e sistematizar as informações solicitadas para prestação de contas junto aos órgãos federais fiscalizadores [22]. Outras formas de aplicação do instrumento podem ser planejadas, como a investigação da motivação nos diferentes semestres ou nas diferentes áreas de estágio pelas quais o aluno transita em suas práticas clínicas. Conclusão O uso da escala de motivação acadêmica de Vallerand et al. permitiu identificar a motivação de estudantes de fisioterapia em diferentes fases do curso, indicando que os mesmos encontravam-se motivados tanto no início como na etapa conclusiva do mesmo. Outras aplicações do instrumento poderão colaborar para a avaliação permanente de cursos, auxiliando na elaboração de estratégias de incentivo, bem como no conhecimento do perfil do aluno matriculado e suas necessidades individuais e de grupo. Referências 1. Boruchovitch E, Bzuneck JA. Motivação para aprender no Brasil: Estado da arte e caminhos futuros. In: Boruchovitch E, Bzuneck JA, Guimarães SER, eds. Motivação para aprender – aplicações no contexto educativo. Rio de Janeiro: Vozes; 2010; p.231-50. 2. Bezerra FD, Andrade MFC, Andrade JS, Vieira MJ, Pimentel D. Motivação da equipe e estratégias motivacionais adotadas pelo enfermeiro. Rev Bras Enferm 2010;63(1):33-7. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 3. Neves ERC, Boruchovitch E. Escala de avaliação da motivação para aprender de alunos do ensino fundamental (EMA). Psicol Reflex Crit 2007;20(3):406-13. 4. Bzuneck JA, Guimarães SER. 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Porém, alguns gestores deixam de construir em seus municípios uma infraestrutura de transporte adequada para a circulação de pedestres, em especial de portadores de necessidades especiais (PNE). Objetivo: Levando-se em consideração a dificuldade de acessibilidade existente na mobilidade urbana desses indivíduos e a condição real das calçadas na maioria das cidades brasileiras, faz-se necessário obter informações sobre possíveis alterações que o piso possa provocar no sistema locomotor durante a marcha. Material e métodos: Foram coletados dados por meio de entrevistas semiestruturadas (questionários de opinião) a 54 deficientes visuais a fim de verificar o grau de satisfação com as calçadas de Belém e com a utilização do piso com sinalização tátil de alerta e tátil direcional da Prefeitura Municipal de Belém. Resultados: Foi encontrado, entre outros resultados, que a maior parte dos investigados sente alguma dificuldade em se deslocar pelas calçadas da cidade e a significativa minoria considera ruim o deslocamento na calçada cidadã. Conclusão: Pode-se concluir que a dificuldade de deslocamento pelas calçadas da Região Metropolitana de Belém afeta enormemente aos deficientes visuais. Introduction: In an urban structure, the transportation system is the articulation of economic, cultural and social activities. However, some managers fail to build in their towns an adequate transportation infrastructure for pedestrian’s circulation, especially people with special needs (PSN). Objective: Taking into account the difficulty of existing accessibility in the urban locomotion of these individuals and the actual condition of sidewalks in most Brazilian cities, it is need to obtain information about possible injuries that pavement may cause in the locomotor system during gait. Method: Data were collected by means of semi-structured interviews. The questionnaires were distributed to 54 visually impaired PSN, to verify the level of satisfaction with the sidewalks of Belém and with the tactile warning and tactile directional signage of local government of Belém. Results: The results show that most of the interviewees have some kind of difficulty to move around the sidewalks of the city and the minority believes that the urban sidewalk is bad to move around. Conclusion: We can conclude that visually impaired users in the metropolitan region of Belém are enormously affected due to difficulty in travelling on the sidewalks. Palavras-chave: infraestrutura de transporte, acessibilidade, mobilidade urbana, calçadas, deficientes visuais. Introdução A importância das calçadas nas cidades brasileiras pode ser traduzida em números. Segundo os dados de mobilidade no Brasil, em 2003, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [1], em cidades com mais de um milhão de habitantes, 26,4% das viagens são realizadas a pé, chegando a 49% em cidades com população entre 60 mil e 100 mil habitantes. Contudo, as políticas passadas de transporte privilegiaram o uso de veículos em viagens urbanas, causando Key-words: transport infrastructure, accessibility, urban mobility, sidewalks, visually impaired. uma redução das viagens realizadas por pedestres de 10% para 6%, nos últimos 25 anos [1]. A falta de infraestrutura das vias, além de prejudicar sensivelmente a circulação do pedestre, aumenta a exposição aos riscos de deslocamento nas travessias e nos passeios, aumentando a insegurança para os transeuntes. Em Belém, onde o quadro não é diferente, a Prefeitura Municipal está direcionando esforços em benefício do reordenamento das vias públicas para pedestres e motoristas [2]. Porém, apesar de todos os esforços, grande parte das Recebido em 2 de setembro de 2011; aceito em 15 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Paulo Eduardo Santos Avila, Tv. 14 de março, 1494/202, 66055-490 Belém PA, Tel: (91) 8127-9498, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 26 calçadas públicas de Belém é irregular. A ilegalidade está no formato, material utilizado, conservação, barreiras, altura e alinhamento, que desobedecem totalmente o que prevêem legislações como o Código de Postura do Município e as Leis de Acessibilidade nº 10.048, de 08 de dezembro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000 (Figura 1). b) Figura 1 - Situação atual das calçadas da cidade de Belém. a) b) c) Contudo, a situação das calçadas da cidade não é apenas de responsabilidade do Poder Público, mas também da população, que na maioria das vezes pensa em interesse próprio. O esforço em corrigir erros e vícios de uma cultura, em que a calçada da porta de casa é um bem particular, é enorme [3]. Além de que, a legislação permite a ocupação das calçadas por diversos segmentos, como bares e restaurantes, mas desde que apenas um terço delas seja ocupado [4]. Porém, o que mais impressiona em Belém é que apesar de sua topografia plana e a cidade não possuir relevos significativos, vários desníveis são criados. Degraus e rampas são construídos, ignorando-se totalmente os pedestres (Figura 2). Outro problema encontrado em algumas calçadas de Belém são os rebaixamentos em frente às faixas de travessia, já que muitos deles encontram-se desnivelados com a sarjeta e o asfalto, impossibilitando o deslocamento de pessoas com cadeiras de rodas, carrinhos de bebês, ou pessoas com mobilidade reduzida. A Secretaria Municipal de Urbanismo (SEURB) contabilizou no ano de 2008 uma marca recorde em 30 anos, totalizando 1.146 notificações, demolições, regularizações, ordens de serviço e notificações jurídicas realizadas no mês de julho do ano citado, emitidas a moradores e comerciantes que precisavam se adequar ao que prevê a lei [5]. Os dados de um único mês confirmaram um aumento de 1.400% no número de medidas tomadas pelo Núcleo Setorial de Código de Postura de Belém, em relação ao somatório das mesmas ações no período de 1997 a 2003, quando o total registrado foi de apenas 79 notificações. Outro dado importante contabilizado pela SEURB, também em 2008, foi o incremento, em Belém, no número de calçamentos regularizados (Fig. 3). Em 2008, das 924 notificações, 129 demolições e regularizações foram efetivadas [6]. Figura 3 - Calçadas de Belém adaptadas aos padrões de acessibilidade. a) b) Figura 2 - Ausência e desnível de calçadas. a) Tramitam na Justiça Estadual do Pará contra a Prefeitura Municipal de Belém, processos judiciais provocados pela atual situação das calçadas. Na Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos (SEMAJ), ações ajuizadas estão nas mãos dos Pro- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 curadores municipais em que há o pedido de indenizações, que variam de 25 mil a 200 mil reais, por danos físicos e materiais provocados por acidentes nas calçadas irregulares da cidade [5]. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [7], os gastos atingem R$ 2.500 por acidentes e representam 3,1 bilhões de reais por ano no País inteiro com a recuperação da saúde de pessoas que se machucam em calçadas. Sendo assim, as calçadas devem possuir dimensões necessárias para o deslocamento de todas as pessoas, incluindo os Portadores de Necessidades Especiais (PNE) em suas cadeiras de rodas, andadores, muletas, bengalas ou próteses e, ainda, reservar espaço para o plantio de árvores e para a instalação de mobiliário urbano (Fig. 4) [1]. Figura 4 - Dimensões mínimas de circulação [8]. O indivíduo precisa necessariamente orientar-se, recebendo informação do ambiente por meio de sua arquitetura e mensagens adicionais; tratando essa informação como um processo cognitivo complexo e agindo (tomada de decisões) em função da informação recebida. Estar orientado significa saber onde se está no espaço e no tempo e poder definir seu próprio deslocamento [9]. Assim como em Belém, os municípios brasileiros que apresentam um programa específico (Fig. 5) voltado para os passeios públicos (Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, etc.) têm dificuldade de manter toda a sua rede em condições satisfatórias. Por esse motivo, acredita-se que a qualidade de um deslocamento a pé, ou caminhada, pode ser avaliada, considerando-se as sobrecargas a que o sistema musculoesquelético é exposto. Sendo que, estas sobrecargas podem vir a causar prejuízos à estrutura e ao funcionamento do aparelho locomotor. Figura 5 - Perspectivas da “Faixa Cidadã” – Av. Almirante Barroso [10]. a) 27 b) c) d) Material e métodos A pesquisa teve o objetivo principal de estudar o deslocamento de deficientes visuais, sendo o estudo descritivo e analítico composto por coleta de dados, realizada no período de junho a novembro de 2010, formada por entrevistas semiestruturadas em que foram distribuídos questionários de opinião, a fim de verificar o grau de satisfação com as calçadas de Belém e, também, verificar o grau de satisfação com a utilização do piso com sinalização tátil de alerta e tátil direcional utilizados no Projeto “Faixa Cidadã” da Prefeitura Municipal de Belém. Os questionários de opinião foram distribuídos a 54 portadores de necessidades especiais (PNE) deficientes visuais associados à Associação Paraense das Pessoas com Deficiência (APPD), compreendendo eles: faixa etária superior a 18 anos e inferior a 66, de ambos os sexos, que apresentassem cognição preservada, sendo capazes de responder às perguntas e que não apresentassem restrição ao deslocamento independente. A cognição dos voluntários foi verificada por meio da aplicação do Mini-Exame de Estado Mental (MEEM) que é, provavelmente, o instrumento mais utilizado mundialmente na avaliação clínica prática de mudança do estado cognitivo, possuindo versões em diversas línguas e países, já tendo sido, inclusive, validado para a população brasileira, fornecendo informações sobre diferentes parâmetros cognitivos. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 28 Vale ressaltar que, apesar da coleta de dados ser pontual e realizada em instituição localizada em Belém e em calçadas da própria cidade, os indivíduos voluntários participantes eram provenientes de diversos bairros e cidades da região metropolitana, e não apenas da capital, não havendo possibilidade de interferência nas respostas pela variabilidade destes, em virtude do questionário elaborado e do direcionamento durante a aplicação do mesmo. Durante a coleta de dados, os voluntários não foram submetidos a qualquer risco. As informações obtidas foram analisadas em conjunto com as de outros voluntários, não sendo divulgada qualquer informação que possa levar a sua identificação, comprometendo-se, ainda, o pesquisador, a não fornecer o nome do sujeito, sendo o mesmo substituído por códigos nos questionários. Como benefício, tornar o espaço urbano acessível é estimular a cidadania e a inclusão social dos portadores de necessidades especiais, os quais compõem um segmento da sociedade muitas vezes marginalizado pela vida e pela injustiça social. Baseado nisso, esta pesquisa pretendeu evidenciar fatores e situações que interferem no conforto e na acessibilidade das vias, procurando mostrar quais os principais parâmetros que influenciam na caminhada e na conquista da autonomia e independência a todos os tipos de pedestres. Assim como os dados encontrados contribuíram para acrescentar à literatura os resultados referentes ao tema. Os dados obtidos foram apresentados na forma de tabelas e figuras e tratados estatisticamente por meio do pacote estatístico SPSS 16.0. A análise adotou a estatística descritiva para caracterizar a amostra, a distribuição de frequência intra e intergrupos. Para análise das diferenças, utilizou-se o Teste de Qui-quadrado, em que se adotou um p ≤ 0.05. Justifica-se aqui o Teste de Qui-quadrado, por ser um teste de hipóteses destinado a encontrar um valor da dispersão para duas variáveis nominais e avaliar a associação existente entre variáveis qualitativas. Para obtenção da amostra da população a ser pesquisada fez-se o cálculo para confirmação do erro amostral (d) pretendido para as amostras de 54 deficientes visuais, sendo que, conforme o erro amostral (d) encontrado por meio do cálculo de confirmação, optou-se pela utilização de erro 13%, em que os questionários de opinião foram distribuídos a 54 PNE deficientes visuais, sendo este erro sem qualquer representatividade estatística, mas sim demonstrador do caráter exploratório desta pesquisa. Resultados A amostra estudada foi composta por 54 sujeitos deficientes visuais com idade de 37,44 ± 14,15. Na Tabela I, pode-se observar que entre os deficientes visuais o principal diagnóstico clínico verificado é o de catarata congênita e que a maioria dos sujeitos tem a lesão desde o nascimento. Na Tabela II, quanto aos deficientes visuais, a maioria usa algum tipo de auxílio para sua locomoção, no caso, a bengala; gostam de andar nas ruas; consideram os motoristas sem educação e respeito; sentem dificuldades em deslocar-se pelas calçadas da cidade; já sofreram algum acidente, o principal tipo foi a batida em obstáculos; não necessitaram de atendimento médico-hospitalar e não tiveram alteração da sua rotina. Na Tabela III encontram-se informações referentes à calçada cidadã, baseada no desenho universal, onde se pode observar que com relação aos deficientes visuais, a maior parte não recebeu informações sobre a padronização das calçadas da cidade, a maioria sabe o que é calçada cidadã, considera o deslocamento na calçada cidadã excelente, não sabe o que é o piso tátil, a maioria não sabe para o que serve o piso tátil direcional nem o de alerta, considera bom o deslocamento no piso tátil, usa a rampa quando tem, não sofreu acidente nas calçadas padronizadas e quando sofreu foi o escorregão, sente incômodo no deslocamento no piso tátil, principalmente pelo engate da bengala no chão e sabe o que é o piso tátil. Discussão Com relação ao diagnóstico clínico, é importante ressaltar que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência, estima-se que, pelo menos, 10% da população mundial são portadores de alguma deficiência física, mental ou sensorial [11]. Estima-se que 14,5% da população do município de Belém (221.293 habitantes) sejam de PNE, mas que, independentemente da quantidade de pessoas com necessidades especiais, alcançar condições de acessibilidade, para essas pessoas, significa conseguir a equiparação de oportunidades em todas as esferas da vida [12]. Com relação ao tempo de lesão nos portadores de necessidades especiais, independentemente do tempo de evolução de seus sinais e sintomas (dias, meses ou anos), Tabela I - Características da lesão dos deficientes visuais. Variável Grupo Diagnóstico Clínico Visual Frequência Catarata Congênita 16 (29,6%) Glaucoma 10 (18,5%) Deslocamento de retina 9 (16,7%) Outras 19 (35,2%) Tempo de Lesão Congênito 26(48,1%) Até 10 anos 12(22,2%) 11 a 20 anos 8 (14,8%) 21 a 30 anos + de 30 anos 6(11,1%) 2(3,7%) n/i* - não informado Visual Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 a presença de algum grau de incapacidade não significa impedimento para a continuidade do funcionamento cognitivo e emocional no desempenho de atividades básicas e instrumentais de vida diária. Significa, sim, que as pessoas podem ser fisicamente incapazes e dependentes, mas podem preservar a autonomia, manifesta na capacidade de criar ajustes e de tomar decisões, ou seja, quanto mais antiga a lesão e quanto maior o tempo de convívio com essa situação, maior será a adaptação [13]. Tabela II - Características da locomoção dos deficientes visuais. Variável Usa auxílio à locomoção? Frequência Visual Qual auxílio? Visual Gosta andar nas ruas? Visual Motoristas respeitam PNEs? Visual Sente dificuldade no deslocamento nas calçadas da cidade? Visual Sofreu acidente deslocando em calçadas da cidade? Visual Tipo de acidente Visual Necessitou atendimento médico-hospitalar? Visual O acidente alterou sua rotina? Visual 29 Não 5 (9,3%) Bengala 48 (98,0%) Não 11 (20,4%) Não 43 (79,6%) Sim 49 (90,7%) Muleta n/i* Acomp. 1 (2,0%) C.Rodas n/i* Sim 43 (79,6%) Sim 11 (20,4%) Não Sim 5 (9,3%) 49 (90,7%) Não Sim 23 (42,6%) 31 (57,4%) Não 18 (62,1%) Não 19 (65,5%) Sim 11 (37,9%) Sim 10 (34,4%) n/i* - não informado Tabela III - Características da locomoção dos deficientes visuais nas calçadas padronizadas. Variável Orientações padronização das calçadas? Sabe o que é Calçada Cidadã? Opinião sobre deslocamento na Calçada Cidadã? Sabe para que serve P. T. direcional e P. T. de alerta? Opinião sobre deslocamento no Piso Tátil Usa rampa? Sofreu acidente na calçada padronizada? Tipo de acidente Sente incômodo no deslocamento no Piso Tátil? Tipo de incômodo n/i* - não informado Frequência Visual Não 35 (64,8%) Não 16 (29,6%) Ruim n/i* Não 31 (57,4%) Ruim n/i* Excel. 27 (50,0%) Regular 9(16,7%) Sim 19 (35,2%) Sim 38 (70,4%) Bom 22 (40,7%) Sim 23 (42,6%) Bom 9(16,7%) Visual Não Não ausência Sim Quando tem 7(13,0%) n/i* Sim 5 (9,3%) 36(66,7%) Visual 11(20,%) Não 49 (90,7%) Depende Inclinação n/i* Visual Escorragada Queda deformação Batida obstáculo Queda obstáculo Batida obstáculo 3(5,6%) 5(9,3%) Sim 16 (29,6%) Dor pés 6 (37,6%) 9(16,7%) n/i* Visual Visual Visual Visual Visual Visual 23(42,6%) Não 38 (70,4%) Instabilidade 2 (13,0%) Regular 5 (9,3%) Bengala engata 8 (50,0%) Excel. 36(66,7%) Trepidação n/i* 30 As atitudes das pessoas com deficiência estão intimamente ligadas à percepção sobre sua qualidade de vida, entendida como noção geral de bem-estar, onde ter uma atitude positiva frente à deficiência física pode ser observado mantendo-se o prazer por meio do gostar em uma simples caminhada, apesar da situação atual das calçadas na grande maioria das cidades [14]. Conjunturas em que os pedestres não PNE demonstram descontentamento com atitudes inadequadas ou sofrem qualquer tipo de preconceito, incluindo de grande maioria dos motoristas acabam dificultando o convívio e a socialização de parcela significativa da população que possui algum tipo de restrição de mobilidade, como idosos, deficientes visuais, deficientes físicos ou gestantes [15]. A dificuldade de deslocamento nas calçadas acontece pelos vários desníveis que são criados na cidade, onde degraus e rampas são construídos, ignorando-se totalmente os pedestres. Além disso, outro problema encontrado em calçadas de Belém são os rebaixamentos em frente às faixas de travessia, onde muitos deles encontram-se desnivelados com a sarjeta e o asfalto, impossibilitando o deslocamento de pessoas com cadeiras de rodas, carrinhos de bebês, ou pessoas com mobilidade reduzida [4]. As condições de trânsito nos bairros de Belém são prejudiciais à segurança dos pedestres, sendo os principais problemas nos calçamentos a falta de manutenção adequada, as grandes diferenças de níveis e as ocupações indevidas [16]. O caminho traçado para essa população deve ser uma rota acessível, baseada no desenho universal e privilegiando a acessibilidade, fazendo com que as pessoas despendam o mínimo possível de energia, atingindo um conforto ao vivenciar os ambientes [17]. A calçada “padrão” é uma calçada bem conservada, na qual as pessoas podem caminhar com segurança, em um percurso livre de obstáculos e de forma compartilhada com os diversos usos e serviços de seu interesse. Sendo criada a imagem da “calçada ideal”, que oferece condições de um caminhar seguro e confortável, proporcionado pela escolha de pisos adequados, ausência de obstáculos, sem degraus entre os terrenos, com o mobiliário urbano e a vegetação, dispostos de forma a não atrapalhar o pedestre, sendo o recebimento dessas informações e orientações sobre o que é e para o que servem calçadas ditas “padrões” [18]. Na concepção de projetos urbanísticos, assim como no desenho do mobiliário urbano, é importante considerar as diferentes potencialidades e, principalmente, as limitações humanas [18]. Esse conceito preconiza que uma cidade deve ser acessível a qualquer pessoa, desde o seu nascimento até sua velhice, ou seja, as cidades devem ser acessíveis a todos [19]. Para isso, existem padrões que são adotados para atender a essa diversidade, padrões esses que preveem faixas de alerta tátil para garantir e facilitar a circulação, principalmente, de pessoas portadoras de necessidades especiais. A sinalização tátil no piso pode ser do tipo de alerta ou Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 direcional, e ambas devem ter cor contrastante com a do piso adjacente, podendo ser sobrepostas ou integradas ao piso existente [20,21]. É bom lembrar que todas as vias de uma cidade devem ter suas larguras efetivas de calçadas bem definidas pelos projetistas ligados à área de transporte, e tais profissionais precisam levar em consideração, no cálculo dessas dimensões, não só o perfil dos pedestres não PNE que utilizarão as facilidades como também a demanda, a fim de que as calçadas possam servir aos seus usuários com conforto e segurança [20]. Além de que, a implantação do mobiliário urbano deve estar alerta a informações como material, design e funcionalidade, já que a localização de sua instalação pode prejudicar e/ ou impedir a boa utilização do recurso ou até se transformar em uma situação perigosa no deslocamento de pessoas [22]. Os espaços criados devem permitir várias maneiras de serem usados ou explorados e devem estar providos de elementos construídos únicos ajustáveis, ou múltiplos - complementares, de forma que o conjunto esteja adequado a algum tipo de necessidade ou característica do usuário [19]. Vale ressaltar que as calçadas devem ser seguras e confortáveis a todos os seus usuários. Os espaços também devem ser convidativos ao caminhar, ao estar e à contemplação [23]. A dificuldade de deslocamento das pessoas e os efeitos provocados por ele são um fator importante na caracterização da qualidade de vida de uma sociedade. A mobilidade é, sem dúvida, o elemento balizador do desenvolvimento urbano. Proporcionar uma adequada mobilidade para todas as classes sociais constitui uma ação essencial no processo de desenvolvimento econômico e social das cidades. É importante levar em consideração que obstáculos como mobiliários dispostos de maneira incorreta, calçadas mal conservadas, entre outros, atrapalham a circulação pela cidade e chegam a impedir a população de transitar nas calçadas. A mudança dessa realidade é responsabilidade do Poder Público, dos moradores, da iniciativa privada e da sociedade organizada, cabendo a todos contribuir. Garantir o direito de ir e vir, com qualidade e segurança à comunidade, é um exercício de cidadania que só pode ser praticado com a participação da sociedade organizada [18]. Um espaço construído, quando acessível a todos, é capaz de oferecer oportunidades igualitárias aos indivíduos, incluindo-se uma parcela importante da população, que são as pessoas portadoras de necessidades especiais. Parcela esta que se encontra impedida de exercer plenamente sua cidadania, à medida que encontra sérias dificuldades para se locomover no ambiente construído [24]. É importante frisar que, quando uma dessas pessoas está em um ambiente acessível, suas atividades são preservadas e a deficiência não afeta suas funções. Em uma situação contrária, alguém, sem qualquer deficiência, colocado em um ambiente hostil e inacessível, pode ser considerado deficiente para esse espaço [17]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Conclusão A relação entre o Portador de Necessidade Especial e a Mobilidade Urbana vem ganhando, a cada dia, maior destaque, propiciando a aquisição de conhecimento sobre os temas relacionados à Infraestrutura de Transporte e Acessibilidade, além de avaliar as condições das calçadas de Belém, identificando quais as barreiras arquitetônicas mais frequentes. Situações, aqui verificadas e comprovadas, por meio das experiências e acontecimentos vivenciados com fotos e relatos armazenados ao longo dos dois anos de pesquisa. A insatisfação geral com a situação das calçadas, relativas tanto à existência quanto à manutenção das mesmas, faz com que grande parte das pessoas deixe de gozar de uma vida social e laboral adequada, apesar dos esforços do Poder Público Municipal ao longo dos últimos três anos, remanejando ambulantes; planejando e garantindo o início da revitalização das vias de acesso para pedestres na cidade; reformando praças públicas; pavimentando “asfaltando” passagens, ruas e avenidas; ordenando o sistema de limpeza da cidade (retirando lixos e containers das calçadas) e reformulando (implantação de faixas de pedestre e do desenho universal) as avenidas. Porém, as soluções ainda são pontuais e aquém das necessidades de deslocamento e daquilo que é realmente necessário para a manutenção de certa autonomia. A irregularidade no revestimento das calçadas e o desnível entre a pista de rolamento e a calçada são considerados os fatores mais importantes de barreiras encontradas durante o deslocamento, mostrando com isso, um planejamento urbano longe do ideal. Outros pontos de destaque foram as considerações sobre a falta de respeito dos motoristas, a falta de orientação sobre a padronização das calçadas, assim como o não conhecimento da função do piso tátil direcional e o de alerta. Parte superior do formulárioLer foneticamente Parte inferior do formulário Referências 1. Carvalho MVGSA. Um modelo para dimensionamento de calçadas considerando o nível de satisfação do pedestre [Tese]. São Paulo: Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo; 2006. 2. Haynes C. Iniciativas da Prefeitura mudam a cara de Belém. Prefeitura Municipal de Belém. Notícias, 2008. [citado 2008 Nov 16]. Disponível em URL: http://www.belem.pa.gov.br/ 3. Ferreira M. 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Belo Horizonte: UFMG; 2004. 32 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Artigo original Destacando tratamentos aplicados em lactentes com bronquiolite viral aguda: uma análise retrospectiva Highlighting the treatments applied on infants with acute viral bronchiolitis: a retrospective analysis Dirceu Costa, D.Sc.*, Évelim Leal de Freitas Dantas Gomes, M.Sc.**, Kadma Damasceno Soares Monteiro, Ft., M.Sc.***, Denise Rolim Leal de Medeiros**** *Professor do programa de pós-graduação em Ciências da Reabilitação (UNINOVE), São Paulo, **Doutoranda em Ciências da Reabilitação e Professora da graduação em fisioterapia da UNINOVE, ***Fisioterapeuta preceptora do curso em fisioterapia na emergência UNIFESP, ****Fisioterapeuta do Hospital Sírio Libanês, mestranda em pediatria USP Resumo Abstract Objetivos: Investigar as características clínicas e observar a condução do tratamento assim como a evolução de lactentes hospitalizados por bronquiolite viral aguda (BVA) em um hospital geral com níveis de complicações abaixo dos encontrados na literatura e detectar possíveis tratamentos de maior eficácia para esta população com base nestes dados. Métodos: Estudo retrospectivo dos 5 últimos períodos epidêmicos de crianças com diagnóstico de BVA hospitalizadas. Foram excluídos lactentes > 2 anos que tenham sido hospitalizados previamente com história de sibilos ou com outro diagnóstico confirmado. Foram avaliadas características demográficas como idade, gênero, local de internação, tempo de hospitalização, necessidade de suporte ventilatório, tempo de oxigeno terapia, resultados da amostra do vírus sincicial respiratório e tratamentos utilizados. Resultados: Dos 70 lactentes avaliados, 3 foram excluídos do estudo. Dos 67 lactentes, (98,5%) tinham menos de um ano de idade e 44(64,68%) eram < 6 meses. Todos os pacientes (100%) foram submetidos à fisioterapia respiratória, 5 (7,4%) necessitaram de internação em terapia intensiva, um necessitou de ventilação mecânica invasiva (1.5%) e 5 (7.4%) de ventilação não invasiva com uma taxa de sucesso de 80%. Conclusão: A menor necessidade de internação em UTI, assim como de suporte ventilatório em relação aos dados descritos na literatura pode estar relacionada aos tratamentos adotados especialmente nas técnicas de fisioterapia empregadas nestes lactentes. Objectives: To investigate the clinical characteristics and observe the management and development of infants hospitalised for acute viral bronchiolitis (AVB) in a general hospital with a level of complication below that found in the recorded literature as well as to investigate causes and more-effective techniques for the treatment of AVB. Methods: A retrospective analysis of the last 5 epidemic periods was evaluated for all patients whose diagnosis on admission was AVB. We excluded children > 2 years old, those who were previously hospitalised with a history of wheezing or those who had other confirmed diagnoses. We evaluated demographic characteristics such as age, gender, place of hospitalisation as well as the background, length of stay, need for ventilation support, duration of oxygen therapy, collection of respiratory virus and the treatments used. Results: Of 70 infants who were studied, 3 were excluded from the study. Sixty seven infants (98.5%) were included in the study and were < 1 year old; of these, 44 (64.68%) were younger than 6 months. All patients underwent chest physiotherapy; 5 (7.4%) required hospitalisation in the paediatric intensive care unit (PICU), one (1.5%) required invasive mechanical ventilation (MV) and 5 (7.4%) required noninvasive mechanical ventilation (NIV) with a success rate of 80%. Conclusion: The decreased need for PICU admission and ventilation support in relation to current data suggests that greater emphasis should be placed on therapeutic procedures and chest physiotherapy techniques to treat infants with AVB. Palavras-chave: bronquiolite, vírus sincicial respiratório, cuidados intensivos, modalidades de Fisioterapia. Key-words: bronchiolitis, respiratory syncytial virus, intensive care, physical therapy modalities. Recebido em 3 de outubro de 2011; aceito em 24 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Évelim Leal de Freitas Dantas Gomes, Av Francisco Matarazzo, 612, Laboratório de Avaliação Funcional Respiratória 1o andar, 05001-100 São Paulo SP, Tel: (11) 3665-9325, E-mail: [email protected], [email protected], belakarenina@hotmail. com, [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Introdução Bronquiolite é a doença respiratória mais comum no primeiro ano de vida da criança. Ela é caracterizada por inflamação aguda, edema e necrose das células epiteliais das pequenas vias aéreas aumentando a produção de muco e provocando broncoespasmo [1]. O principal agente etiológico relacionado a esta condição clínica é o vírus sincicial respiratório (VSR) cujo ciclo biológico determina picos sazonais da doença [1,2] que no Brasil ocorre entre os meses de março a julho. Por se tratar de uma doença de etiologia viral, existe uma variedade de tratamentos farmacológicos e físicos que tem por objetivos reduzir as complicações associadas a esta enfermidade, porém há poucas evidências do que realmente é mais benéfico ou eficaz para o tratamento destes lactentes. O reconhecimento das terapias adotadas e a evolução destas crianças são os primeiros passos em rumo a uma investigação mais específica em torno do tratamento mais adequado. Estudos recentes vêm avançando na tentativa de buscar uma melhor terapêutica para esta doença [3,4]. Contudo a importância deste tema e a forte necessidade de tratamentos, cada vez mais eficazes, justificam a realização de novos estudos sobre o mesmo. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi conhecer as características, observar o tratamento adotado e a evolução clínica das crianças internadas por BVA, com enfoque no emprego de diferentes técnicas, sobretudo envolvendo o tratamento físico, destacando as técnicas de fisioterapia respiratória. Material e métodos Trata-se de um estudo retrospectivo descritivo e observacional, por revisão da história clínica de todos os pacientes internados por bronquiolite viral aguda na UTI e na pediatria de um hospital terciário de São Paulo capital, por cinco períodos epidêmicos consecutivos de 2006 a 2010. Se definiu bronquiolite o primeiro episódio de desconforto respiratório de uma criança menor de 2 anos de idade com sintomas e evidências clínicas de infecção respiratória viral [4]. As características demográficas como idade, sexo, assim como local de internação, antecedentes, tempo de internação, necessidade de ventilação mecânica invasiva e não invasiva, tempo de utilização de oxigênio e óbito, foram avaliados e fundamentaram as discussões e conclusões deste estudo. O diagnóstico sorológico foi feito por meio de imunofluorescência de swab nasofaríngeo, que comumente é prescrito nesta situação para se evitar contaminação nosocomial. O tratamento farmacológico e físico prescrito pelo pediatra desses pacientes e colocados em prática na ocasião das intervenções subsidiou a composição dos resultados desse estudo. Resultados Nos cinco períodos epidêmicos avaliados, compreendidos entre os meses de janeiro de 2006 a abril de 2010, foram admitidos 70 pacientes com diagnóstico de bronquiolite, dos 33 quais 3 foram excluídos por não se tratar do primeiro episódio de sibilância, apresentação de infecção do trato urinário e laringite, além de ter mais de 2 anos de idade. Os meses com maior incidência de internações foram março, abril e maio. Foi verificado a presença de VSR em 59 pacientes (88,06%), com resultado positivo em 45 lactentes (67,2%), negativo em 14 (32,8%) e que não foram avaliados ou não se encontrou o resultado no prontuário de 8 crianças (26,66%). Foram 7 internações em 2006, 7 em 2007, 17 em 2008,12 internações em 2009 e 20 em 2010. Todos os dados coletados bem como aqueles extraídos de estudos epidemiológicos retrospectivos semelhantes estão expressos na tabela I. Discussão A bronquiolite é uma doença autolimitada, de manejo ambulatorial, de grande morbidade e baixa mortalidade. Estudos [1,2] mostram que em lactentes hígidos de 0,5 a 2% necessitam de internação, destes, 15% necessitam de cuidados intensivos sendo que 3 a 24% necessitam de VM como foi encontrado em nosso estudo em que (13,33%), necessitaram de internação em UTI. A mortalidade registrada na literatura é em torno de 1% [1-3]. Ressaltamos a inexistência de registro de óbito em nossa amostra durante todo o período estudado. Dados da literatura revelam que crianças com BVA que mais necessitam de internação são aquelas que têm entre 2 e 5 meses de idade, em concordância com os nossos achados, em que 65,68% da amostra eram crianças com menos de 6 meses de idade [2,4]. Apesar de um aparente sucesso no tratamento desses pacientes há de se considerar a necessidade de maior atenção às ações e procedimentos terapêuticos e preventivos para a BVA, pois, segundo o DATASUS 2008 [6], somente no estado de São Paulo foram mais de 16.000 internações, 28 óbitos (índice de mortalidade de 0,17). Esses pacientes tiveram uma permanência média de 4,6 dias de internação causando um gasto próximo a 5 milhões de reais. Esses são dados importantes que justificam novos estudos, tanto sobre epidemiologia quanto tratamentos empregados e respectiva evolução clínica. Os fatores de risco para evolução grave da doença, mais citados na literatura, são idade inferior a 6 semanas, prematuridade, cardiopatias congênitas e imunodeficiência [2,5,7,8]. Em nossa amostra a prematuridade esteve presente em 15crianças (22,38%) de acordo com outros estudos que apresentaram 1/3 da amostra de crianças prematuras sendo que a única criança (1,5%) que evoluiu com insuficiência respiratória e necessidade de VM era prematura, assim como os lactentes que necessitaram de suporte ventilatório não invasivo (VNI). A prematuridade sozinha, sem doença pulmonar crônica apresenta uma taxa de hospitalização de aproximadamente 9,4%, o que chama a atenção para os cuidados mais intensivos aos prematuros, pois indica associação a risco de evolução Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 34 mais grave da doença [8,9]. No que se refere a tratamento este também está fortemente relacionado com a gravidade da doença. A VNI foi utilizada em 4 ( 7,4%) pacientes, com uma mediana de tempo de 36 horas (1,5 dias) e com 80% de sucesso (n = 3). Em estudo retrospectivo [5] realizado na França, evidenciou-se uma necessidade de VNI em 56% dos casos estudados com mediana de tempo de 10 horas e taxa de sucesso de 48%. Esses resultados indicam que pequenos ajustes na estratégia terapêutica podem ser suficientes para alterar os resultados. Além da VNI, neste mesmo estudo, apesar de 100% dos pacientes terem recebido o tratamento de FR com técnicas de expiração forçada, cabe salientar a necessidade de um cuidado maior com o sistema respiratório do lactente, pois este é mais susceptível a compressão que é responsável por reduzir a luz brônquica e aumentar a resistência ao fluxo aéreo. Como esta técnica de expiração forçada normalmente é de origem extrínseca e é resultado de uma força externa aplicada à parede brônquica, ela é exclusivamente expiratória e ocorre com maior frequência durante a expiração forçada, envolvendo predominantemente as vias aéreas proximais, em especial o setor brônquico abaixo do ponto de igual pressão. Este fenômeno pode ser observado durante manobras fisioterapêuticas intem- pestivas como técnicas de expiração forçada o que sugere não ser uma técnica apropriada para esta população de pacientes [10]. Uma explicação para os diferentes resultados possivelmente esteja no fato de que, enquanto os pacientes da nossa amostra utilizaram sedação os desse estudo francês não a utilizaram de forma que a tolerância a VNI foi por menor tempo e com uma eficácia inferior. Apesar dessas diferenças citadas, há concordâncias na redução do tempo de oxigenoterapia suplementar, sem aumentar a permanência hospitalar. Em nossa amostra as crianças que necessitaram de VNI utilizaram oxigênio suplementar por 2 dias (1-6 dias) e a que necessitou de VM invasiva o utilizou por 7 dias. O tempo de internação teve uma mediana de 7 dias (4-10) e 10 dias respectivamente [5]. Contudo o tratamento da bronquiolite ainda é cercado de controvérsias. Patel et al. [11], em revisão para The Cochrane Library 2004, não encontraram benefícios no uso de corticoide sistêmico registrado pela redução do tempo de internação e de escores clínicos, no entanto este recurso terapêutico tem sido comumente utilizado. Em nossa amostra, 33,33% das crianças receberam esta terapia. Antibióticos [12,13] parecem não ter valor terapêutico em crianças hospitalizadas, pois em nossa amostra mais de 44% das crianças, a exemplo do constatado em outros estudos [2], receberam antibióticos, Tabela I - Características da amostra avaliada e de outros estudos retrospectivos internacionais. Total da amostra e período avaliado Masculino/Feminino Idade < 1 ano < 6 meses < 3 meses Pré termo Refluxo gastro esofágico (RGE) Enfermidade prévia associada VSR positivo VSR negativo Sem resultado de VSR VNI Sucesso VNI VM Internação UTI Duração VNI (horas) Duração VM (horas) Oxigenoterapia pós VNI – dias Oxigenoterapia pós VM – dias Inalação com broncodilatador Antibióticos Corticóide IV Corticóide VO Fisioterapia respiratória Média de dias de internação Amostra 67 (5 anos) 49,25%/50,75% (33/34) Estudo A 80 (2 anos) 41%/59% Estudo B 284 (12 anos) 57,4%/42,6% 98,5% (66) 65,68%(44) 37,32% (25) 22,38% (15) 4,5% (3) 1,5% (1) 67,2% (45) 32,8% (14) 12%(8) 7,4% (5) 80% (4) 1,5% (1) 7,4% (5) 36 96 2 (1 a 6 ) 7 71,65%(48) 53,74%(36) 44,78%(30) 64,18%(43) 100%(67) 4 dias (1-10 dias) 100% 99% 40% 45% 30% A- Javouhey et al. [5], B - Guinea L et al [2]. (Estudos retrospectivos publicados) 9 a 19% 72% 56% 48% 52% 10h 100 (60-176) horas 8 (3 -10) 10 (5-14) Não cita 62% 100% 12 dias (9-17 dias) 11% 73,6% 17% 0,4% 24% 24% 144 horas (1-28 dias) 81% 64% Não cita 4 dias (1-32 dias) Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 principalmente aquelas menores de 2 meses, e este foi suspenso ao isolar o vírus no swab nasal. Quanto à prednisona [14], esta foi utilizada no tratamento de 64,18% dos lactentes avaliados. Contudo, assim como os demais tratamentos instituídos rotineiramente, não há evidências de efeito consistente sobre a prevalência de sibilância pós-bronquiolite e não há melhora no curso agudo da doença. O tratamento da BVA se ajusta às necessidades clínicas que apresentam rápida evolução como a broncobstrução acompanhada da hipersecreção. A tosse e sibilância são sintomas comuns de obstrução brônquica nos lactentes, sendo que a gênese da sibilância está no edema de mucosa e em menor grau no broncoespasmo [15,16]. A sibilância é explicada pela oscilação da parede brônquica também chamada de flutter effect que deve ocorrer em brônquios com diâmetro reduzido por inflamação, edema e espasmo em diferentes estruturas da parede brônquica. Em crianças menores de 12 meses a sibilância das pequenas e médias vias aéreas pode ser em parte gerada por muco que obstrui parcialmente o fluxo aéreo produzindo este som [15,16]. A obstrução funcional é um fenômeno patológico intrínseco ao brônquio, pode estar presente em qualquer parte do ciclo respiratório com sintomas respiratórios importantes. O tratamento está diretamente relacionado ao seu grau de reversibilidade que pode ser total, parcial ou nula [10]. Nos casos de edema, hipersecreção ou broncoespasmo, por apresentarem reversibilidade a fisioterapia respiratória e/ou aerossolterapia, são eficazes desde que bem aplicados. O tratamento da BVA envolve dois conjuntos de procedimentos terapêuticos, sendo o farmacológico com objetivo de atenuar o quadro fisiopatológico e o físico ou fisioterapêutico com o objetivo de promover a higiene brônquica, reexpansão pulmonar e melhora da mecânica respiratória, consequentemente prevenindo complicações. Para tratar farmacologicamente o edema e o espasmo se utiliza normalmente beta agonistas [17], sendo que 80% da nossa amostra receberam inalação com este tipo de medicação, assim como no estudo de Guinea Lopez et al. [2], porém há estudos demonstrando que não há evidência científica desta terapêutica. Portanto não é recomendado seu uso de forma rotineira e quando for utilizado deve-se observar a resposta individual da criança [18]. Um estudo multicêntrico [19] que avaliou o efeito da combinação de terapia (epinefrina inalada associada com dexametasona) evidenciou resultado positivo quanto à redução de ingressos hospitalares. Cabe ressaltar que na prática clínica tem-se optado pela combinação destes métodos terapêuticos. Enquanto isso a fisioterapia respiratória (FR) que, nesta amostra, foi o tratamento comum a todas as crianças, tem sido empregada rotineiramente na maioria dos grandes centros hospitalares brasileiros. Na década de 80, no Reino Unido, a FR também era prescrita para todas as crianças com diagnóstico de bronquiolite, até que um ensaio clínico [20] mudou essa rotina a partir de 1999, por não ter encontrado benefícios nos resultados que justificassem este tipo de trata- 35 mento nesta população de pacientes. Cabe ressaltar, contudo, que a FR empregada até então se detinha a aspiração das vias aéreas e vibração com drenagem postural. A grande diferença na prática da FR realizada atualmente no Brasil está na combinação de técnicas utilizadas às quais ainda não foram bem evidenciadas cientificamente. Webb et al. e Perrota et al. [21-22] realizaram ensaios clínicos que não evidenciaram benefício da FR na redução do escore clínico nem no tempo de internação, porém, Webb utilizou cinco posturas diferentes de drenagem postural e percussão por cinco minutos em cada postura, este tipo de conduta também não tem sido a prática da FR brasileira, que utiliza drenagem postural modificada, percussão, e em especial, a vibrocompressão expiratória, caracterizando-se como um grande diferencial, como já foi evidenciado em estudos desenvolvidos por japoneses [23-24], por gerar um pico de fluxo expiratório que não é evidenciado nas demais técnicas como a drenagem postural e a percussão. No início da década de 90 um fisioterapeuta belga, estudioso em técnicas de higiene brônquica, criou, adaptada a fisiologia do lactente, uma técnica que visa gerar fluxo lento expiratório, a expiração lenta e prolongada (Elpr), em um estudo [25] no qual a técnica foi avaliada em 19 crianças com bronquiolite por VSR. Esta técnica mostrou-se bastante segura por ter reduzido de forma estatística e clinicamente significativa o escore clínico destas crianças durante a internação. Em 2011 um novo estudo foi publicado por Postiaux et al. que encontrou benefícios da Elpr neste grupo de pacientes [26]. No Brasil, também se observa influência desta técnica na rotina de atendimento fisioterapêutico, assim como uma variação desta, denominada aumento do fluxo expiratório (AFE), previamente descrita por Demont, para crianças sob ventilação mecânica [27]. Independentemente desses dois conjuntos de procedimentos terapêuticos na BVA, o farmacológico e o fisioterapêutico, todos eles visam à rápida recuperação do paciente, evitando assim maiores complicações da doença. Considerando que a FR tem um papel fundamental na recuperação destes pacientes, especialmente na recuperação da mecânica respiratória e consequentemente na prevenção de complicações pulmonares, o aprimoramento de técnicas de FR tem sido importante objeto de estudos e, sobretudo, justificando serem avaliadas por meio de ensaios clínicos bem conduzidos, que retratem a realidade observada nos grandes centros urbanos brasileiros. Em 2009, Pupin MK et al. [28] avaliaram 3 grupos com 27 crianças cada, nos quais em um era realizado AFE, no outro DP e vibração sendo que um terceiro grupo serviu de controle. Foi encontrada redução da frequência respiratória nas crianças dos grupos submetidos à FR, sugerindo uma redução do componente obstrutivo das vias aéreas, porém, os parâmetros não foram avaliados por um escore clínico mais indicado para estas crianças. Parâmetros clínicos isolados como frequência respiratória e frequência cardíaca não são fidedignos em lactentes por sofrerem múltiplas influências como da manipulação e do choro. 36 Portanto, novos estudos sobre o tratamento da BVA são ainda necessários especialmente envolvendo técnicas de FR, bem como variáveis de mecânica respiratória e escores clínicos [29-31], de forma a melhor subsidiar e orientar o tratamento dessa doença que é a BVA. Conclusão Com base nestes dados conclui-se que a diminuição da necessidade de internação em UTI, de crianças portadoras de BVA, assim como a diminuição da necessidade de suporte ventilatório invasivo e não invasivo, está potencialmente centrada no tipo de terapêutica adotada, sugerindo constantes estudos com investigação mais aprofundada, tais como da eficácia das diferentes técnicas de FR, bem como a associação de técnicas farmacológicas com técnicas fisioterapêuticas. Pelos dados apresentados neste estudo evidenciou-se que a FR além de não apresentar efeitos deletérios nem contra indicações, tem se revelado como uma importante e fundamental técnica terapêutica, com um papel preventivo às complicações inerentes a BVA. Referências 1. Fisher GB, Teper A, Colom AJ. Acute viral bronchiolitis and its sequelae in develop country. Pediatr Respir Rev 2002;3(4):298-302. 2. Guinea Lopez A, Flores JC, Sobrino MMA, Docio BE, Cabrera TC, Serrano A, et al. Bronquiolitis grave. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 37 Artigo original A percepção de idosas institucionalizadas sobre o uso do cão durante o atendimento fisioterapêutico The perception of institutionalized elderly about physical therapy session assisted by a dog Felipe Dotto*, Francine Ferraz Fernandes*, Andriele Gasparetto, M.Sc., Ft.**, Paulo Adão de Medeiros, Ft.*** *Acadêmicos do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) – Santa Maria/RS, **Docente do Curso de Fisioterapia da UNIFRA e membro do Grupo Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas à Fisioterapia, ***Fisioterapeuta da Associação Amparo Providência Lar das Vovozinhas - Santa Maria/RS, aluno do Programa de Especialização em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Resumo Abstract Introdução: A Cinoterapia é uma Terapia Assistida por Animais, especificamente com cães e é utilizada em diferentes faixas etárias, incluindo idosos. Objetivo: Identificar a percepção de idosas institucionalizadas sobre o uso do cão no atendimento fisioterapêutico. Métodos: Para esta pesquisa descritiva qualitativa utilizou-se uma ficha de avaliação e entrevista narrativa individual. Durante 8 sessões (2 vezes na semana, uma com e outra sem o cão) realizou-se uma pista de exercícios com 5 idosas. Resultados: Após análise, elencou-se duas categorias: O cão como aliado a fisioterapia: percepções de idosos institucionalizados e Idoso institucionalizado: questões a considerar. A primeira trouxe como elementos os benefícios e dificuldades encontradas, como a dificuldade de conduzir o animal e o auxílio do mesmo no aprendizado dos exercícios. A segunda mostrou o caráter emocional ao cão (remetendo-as a experiências com seus animais) e contradições nas falas (pode ser explicado pelo comprometimento cognitivo destas). Conclusão: Entende-se que o cão pode ser um recurso a ser utilizado pela fisioterapia, porém requer animal treinado e capacitação profissional. Ao ser incorporado no atendimento, as participantes trouxeram mais componentes benéficos como a vivência de relação de carinho e estímulo ao aprendizado, sugerindo que esta técnica deva ser mais utilizada para este público. Introduction: Cinotherapy is an animal-assisted therapy, mainly with dogs and it is used at different ages, including old people. Aim: To identify perception of institutionalized elderly about physical therapy session assisted by a dog. Methods: This is a qualitative descriptive research which used an evaluation form and personal narrative interview. During 8 sessions (twice a week, one day assisted by the dog and the other day without), we performed a circuit exercises with five old women. Results: After analysis, we determined two categories: Dog-assisted physical therapy: perception of institutionalized elderly and institutionalized elderly: questions to consider. The first has brought as elements the Benefits and difficulties found, such as difficulty to carry the animal and the help in learning exercises. The second showed the love and affection with the dog (they remember about experiences with their own animals) and contradictions in their speeches (can be explained by the cognitive impairment). Conclusion: We can understand that the dog is a resource to be used by the physical therapy, but the animal should be already trained and professionally qualified. It was observed that sessions with dog-assisted therapy brought more benefits to the participants such as love and affection relationship and encouragement for learning, suggesting that this technique should be more used for those clients. Palavras-chave: terapia assistida por animais, fisioterapia (especialidade), saúde do idoso, institucionalização. Key-words: animal assisted therapy, physical therapy (specialty), health of the elderly, institutionalization. Recebido em 17 de outubro de 2011; aceito em 27 de dezembro de 2011. Endereço para correspondência: Andriele Gasparetto, Rua Silva Jardim, 1175, 97010-491 Santa Maria RS, E-mail: [email protected] 38 Introdução O número de idosos vem crescendo e assim estão cada vez mais presentes na sociedade. No Brasil, esse crescimento apresenta, desde a década de 60 até a atual, um aumento de aproximadamente 500%, pulando de 3 milhões para mais de 14 milhões de pessoas em pouco mais de 40 anos. Esse aumento exige fortes ações por parte das Políticas Públicas de Saúde para que se consiga caracterizar os indivíduos de acordo com suas necessidades e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos idosos [1]. Com o crescimento dessa população, aumentam também os problemas sociais, emocionais e de saúde, entre eles o grande número de idosos rejeitados pelos seus familiares e pela sociedade que acabam sendo absorvidos por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). Essa chamada institucionalização ocorre durante o processo natural de envelhecimento humano quando o indivíduo apresenta alterações nos aspectos físico, psicológico e social o que gera, progressivamente, um declínio cognitivo e funcional repercutindo assim em dificuldades e dependência na realização das atividades de vida diária [2-4]. Devido a esses declínios, os profissionais da área da saúde que prestam serviços nessas instituições têm que estar preparados para trabalhar com esse público. Entre esses profissionais encontra-se o fisioterapeuta que objetiva a promoção da saúde, prevenção e reabilitação de doenças dos pacientes institucionalizados. A fisioterapia busca promover o envelhecimento saudável minimizando os efeitos desse processo através da manutenção e reabilitação da capacidade funcional [5]. Este profissional possui uma ampla possibilidade de recursos a serem utilizados no seu trabalho, porém sempre deve buscar novas alternativas que possam contribuir com o tratamento de seus pacientes. Um recurso inovador que está ganhando espaço nas instituições de saúde é a Terapia Assistida por Animais (TAA), mais especificamente com cães (Cinoterapia). Esse recurso é dirigido para a promoção da saúde física, social, emocional ou das funções cognitivas do indivíduo, sempre utilizando o animal como parte fundamental do trabalho [6]. Assim, o principal objetivo da Cinoterapia é atuar como recurso alternativo no tratamento de pacientes possibilitando a eles uma complementação aos tratamentos através do contato com o animal e a expressão da afetividade. Dessa forma, pode-se trabalhar o ser humano de modo holístico, equalizando o físico, mental e social [7]. Nesse sentido, alguns estudos vêm sendo desenvolvidos com o uso de cães com portadores de Alzheimer provando que as sessões de TAA promovem a melhora do humor e a recuperação de lembranças e acontecimentos recentes [8]. Ainda quando diretamente utilizada com idosos institucionalizados essa terapia pode trazer benefícios, já que eles se sentem isolados, rejeitados pela sociedade trazendo problemas associados com a falta de integração social, facilitando o aparecimento de déficit sensorial, alterações mentais e aumento da incidência de quadros depressivos. A TAA funciona para a diminuição da solidão, melhorando o quadro físico e mental desse público [9]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Contudo, apesar da literatura indicar diferentes benefícios na utilização dessa terapia em várias populações, inclusive aos idosos institucionalizados, tornou-se necessário compreender como estes sentem e percebem esse tipo de interação. Com base nas dificuldades apresentadas pelo processo de envelhecimento e no enfrentamento da institucionalização, este artigo objetivou verificar a percepção de idosas institucionalizadas sobre o uso do cão durante o atendimento fisioterapêutico. Materiais e métodos Trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo que teve como sujeitos cinco idosas institucionalizadas em uma ILPI localizada na cidade de Santa Maria, RS. Foram incluídas na amostra mulheres com idade de 60 a 80 anos e que aceitaram participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como critérios de exclusão foram considerados as que não respeitavam a faixa etária, não gostavam de cães, usavam próteses de membros inferiores, possuíam patologias limitantes de marcha e equilíbrio independente, déficit visual e auditivo severo e não possuíam boa capacidade cognitiva. Para a seleção da amostra foi utilizado um instrumento que verificou a capacidade cognitiva para participar da pesquisa, o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) retirado de Folstein et al. [10] nas 180 moradoras do local. Após foi aplicada uma ficha de avaliação com as idosas que possuíam os maiores escores do MEEM a fim de verificar os itens estabelecidos como critérios de exclusão e conhecer melhor a população a ser estudada. No estudo foi utilizado um protocolo de exercícios multisensoriais realizados em forma de circuito com o objetivo de trabalhar o equilíbrio e a coordenação motora, visto que as alterações do envelhecimento podem comprometer tais habilidades. Esse circuito foi adaptado de Costa et al. [11] sendo constituído de 10 exercícios como: passadas laterais com deslocamento, marcha de frente, alcance multidirecional entre outros que foram treinados e realizados na presença do cão, sendo este utilizado como estímulo para as atividades e também o mesmo circuito foi utilizado somente com a presença dos terapeutas. Também foi realizado um teste piloto com duas mulheres executando-se o circuito com e sem a presença do cão e assim puderam ser realizadas mudanças necessárias. Após essa etapa, fez-se uma adaptação das idosas selecionadas com a pista de equilíbrio e em outro momento foi realizado apenas uma sociabilização delas com o cão. O cão utilizado nesta pesquisa é da raça pastor alemão, de dois anos, fêmea, de cor capa preta, altura 59 cm e 29 kg, chamada Cilla. Quanto ao comportamento é ponderado, bem equilibrado, inofensivo e dócil, na estatura é mais longo do que alto e com um perfeito equilíbrio entre todas as diversas partes do seu corpo. Atua em TAA há um ano e seis meses, tanto na Instituição em que foi realizada essa pesquisa como em outras. Este animal estava apto a trabalhar com TAA, pois Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 já havia passado pelas cinco etapas antes do contato direto com o paciente: treinamento de obediência, completo diagnóstico veterinário, teste de temperamento, conclusão de treinamento e apresentação da conclusão de um período probatório de três meses como “estagiário” em TAA ou programas de visitação. Esse animal faz parte do Canil da Pedra localizado na cidade de Itaara/RS e foi levado pelo seu criador para a realização desse projeto. A coleta dos dados ocorreu nos meses de agosto a outubro de 2010 na frequência de duas vezes por semana no salão de atividades da instituição onde as idosas moram o que totalizou quatro sessões com o cão e quatro sem o cão. Ainda, ao final do estudo foi realizada uma entrevista narrativa individual que foi gravada em fita microcassete recorder da marca Panasonic modelo RN-42 e transcrita fielmente pelos pesquisadores. Na ocasião foram coletados dados referentes às percepções das participantes sobre o uso do cão no tratamento fisioterapêutico que envolviam questões como auxílio e sentimentos em relação à presença do cão durante o atendimento fisioterapêutico, entre outras. Para a análise dos dados da ficha de avaliação foi realizada uma estatística descritiva através de médias e frequências dos dados. Já para a análise da entrevista narrativa individual foi feita a interpretação dos resultados por meio do método de análise temática. Fez-se então a redução gradual do texto qualitativo. Esse procedimento iniciou-se através da transcrição das entrevistas seguido da desmontagem dos textos (unitarização), onde se passou da transcrição para a redução em parágrafos e posteriormente palavras-chave. Logo após ocorreu a categorização e, posteriormente, em um sistema coerente de categorização geral para a entrevista narrativa. Por último constitui-se o produto final no qual se reuniu as estruturas de relevância dos informantes com as do entrevistador. Quanto aos aspectos éticos foram consideradas as diretrizes para pesquisa com seres humanos [12] sendo o presente estudo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Franciscano, sob parecer nº 216.2010.2. Cada integrante da amostra foi previamente informada sobre os objetivos da pesquisa, garantindo seu sigilo e resposta a dúvidas. Em virtude do sigilo e ética na pesquisa foram utilizados nomes fictícios para identificar os trechos das falas das participantes. Os nomes escolhidos são nomes de princesas. Resultados A análise da ficha de avaliação permitiu identificar que a média de idade das participantes foi de 66 anos (mínima de 60 anos e máxima de 69 anos). A participante mais nova em relação a tempo na Instituição possuía menos de um ano e o tempo máximo foi de mais de cinco anos. As doenças encontradas nas idosas foram hipertensão, diabetes mellitus, acidente vascular encefálico e doença de Parkinson e três já haviam realizado fisioterapia anteriormente. 39 Sobre a relação com cães antes de ser institucionalizada, quatro, das cinco idosas, relataram já ter possuído esse tipo de animal em suas residências. Já a análise da entrevista narrativa individual permitiu elencar duas categorias: O cão como aliado a Fisioterapia: percepções de idosos institucionalizados e Idoso institucionalizado: questões a considerar. A categoria denominada O cão como aliado a Fisioterapia: percepções de idosos institucionalizados teve como elementos norteadores benefícios percebidos e dificuldades encontradas. Já a categoria Idoso institucionalizado: questões a considerar surgiu a partir dos elementos definidores: Caráter emocional ao cão e Indiferença e Contradição. Especificamente sobre o elemento benefícios percebidos da primeira categoria, notou-se como aspecto marcante o caráter educativo do uso do cão nos exercícios propostos pela pesquisa, facilitando assim o percurso que as participantes deveriam desenvolver. Além disso, observa-se que algumas demonstraram a preferência em fazer as atividades com o cão em comparação ao dia em que os exercícios eram realizados sem ele. Esses aspectos podem ser comprovados nas falas abaixo: “Ensinava eu andar (...)” (Louise). “Ele que ensina a gente (...) com o cão fica melhor (...) eu acho muito engraçado o cachorro” (Aléxia). “Achei bom porque a gente aprendia rápido, trabalhava com o cachorro (...) o cachorro ensinado ajuda a gente (...) leva a gente no caminho certo para fazer os exercícios” (Salma). Os resultados também evidenciaram a interação positiva entre o animal e as pesquisadas, que neste caso serviu de estímulo e motivação para a realização das atividades propostas pela Fisioterapia. Esse achado pode ser conferido nas falas seguintes: “Atira a bolinha para ele, ele busca vem te entregar, aí vai passando (...)” (Aléxia). “Ele corria, saltava, trazia a bolinha, passava a mão nele, alisava ele (...)” (Diana). O segundo elemento Dificuldades encontradas traz as dificuldades percebidas para realizar o circuito de exercício com o cão. Estas foram associadas a dificuldade de condução do cão ou não conseguiram ser explicadas pelas participantes que simplesmente relataram ser mais difícil realizar a pista com o cão. Isso pode ser comprovado nas falas abaixo: “Fazer com o cachorro é mais difícil” (Diana). “Era mais difícil (...) porque eu tinha que carregar ele” (Alko). O elemento Caráter emocional ao cão, pertencente a segunda categoria, surgiu a partir da percepção nas narrativas do apego emocional das participantes com o animal fazendo-as relembrarem momentos de quando ainda não eram institu- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 40 cionalizadas. Percebe-se nas narrativas a relação do animal com sentimento de amor. Esse elemento é tão intenso que aparece na maioria das falas das idosas, sendo que uma delas ainda associa o cão a um ser humano. “Um bicho que aprende as coisas (...) Eu já conheço a vida dos animais porque eu morava para fora, aí o animal aprende”(...) “Porque o cachorro sabe igual a uma pessoa (...)” (Aléxia). “Eu gostei (...) porque eu tenho amor neles, nos bichinhos (...) eu tinha na minha casa cachorrinho (...) ele é mandado por Deus, sem ele ninguém vive” (Louise). O segundo elemento denominado Indiferença e Contradição demonstra a indiferença observada nas falas em fazer os exercícios com o cão ou sem o cão. Porém, nota-se que todas as que relataram esse fato em outros momentos relataram os aspectos mais positivos ou negativos do cão, gerando aí percepções contraditórias. “Para mim eu acho que fica bom igual (...). Agora com o cão fica melhor (...)” (Aléxia). “Sem o cão era melhor (...) com ou sem cachorro era bom” (Salma). Já outras narrativas trouxeram o aspecto Contradição de uma forma ainda mais direta, ilustradas abaixo para melhor entendimento: “Fazer com o cachorro é mais difícil (...) Não era dificuldade porque até o tempo passava mais rápido” (Diana). “O cachorro ensinado ajuda a gente (...) leva a gente no caminho certo. Mas acho que pessoalmente sem o cão era melhor (...) Eu fiz mais exercícios, a gente fica mais envolvido com o animal. Isso até é bom para a saúde da gente (...) com ou sem o cachorro era bom” (Salma). Discussão A relação homem animal proporciona uma sensação de felicidade, responsabilidade, motivação, companheirismo, afeto e entretenimento, promovendo benefícios a saúde física e mental do ser humano [13]. Quando se pensa em idosos institucionalizados, percebe-se que essa relação pode ser ainda mais benéfica. Nesta pesquisa, ficou evidente que as idosas perceberam algumas vantagens ao realizar os exercícios com o cão, como a boa relação entre elas e o animal. Alguns autores também encontraram, em suas pesquisas, benefícios do uso da TAA com idosos como o de fugir do seu cotidiano e ter maior interação verbal durante a terapia. Isso é importante, pois esses idosos necessitam aprender a desenvolver novas alternativas para melhorar a sua qualidade de vida, mediante atividades educativas e de recreação o que se torna importante na promoção da saúde da população de uma ILPI [14]. Da mesma forma, o atendimento com a TAA muda o dia-a-dia dos idosos institucionalizados, permitindo a construção de um novo cotidiano que supere os limites da institucionalização por meio das oportunidades que lhe são oferecidas. Através dessa intervenção estreitam-se laços de confiança, amizade e afetividade, sentimentos que a maioria das pessoas necessita pela carência que possuem [15]. Outro autor defende que a introdução de animais em ILPI oferece para este público a melhora da autoestima devido ao contato físico [16]. Com isso, é possível proporcionar exercícios de coordenação motora, controle de estresse, diminuição de pressão arterial e redução de riscos de problemas cardíacos fazendo o paciente acariciar, pentear e jogar a bola para o cão, por exemplo [17]. Além disso, os animais podem proporcionar alívio em situações de tensão, maior tendência a sorrir, amizade incondicional, proteção e segurança, fazendo a pessoa ter o que fazer e no que pensar [18,19]. Na pesquisa atual, algumas idosas demonstraram, também, dificuldades em realizar o circuito de equilíbrio com o cão devido a alguns fatores como o de carregá-lo durante a atividade. Outras dificuldades diferentes já foram encontradas em estudos envolvendo a Cinoterapia em Lar de Idosos, como a não aceitação de cães de grande porte, devido ao medo de algum tipo de ataque ou acidente e a aversão à saliva e aos pelos longos do cão [4]. Por outro lado, em trabalhos com crianças hospitalizadas notou-se como dificuldade o receio dos pais de que elas adquirissem doenças [20]. Outro dado encontrado nesta pesquisa foi a existência de uma considerável confusão mental nas falas das idosas através de contradições e não entendimentos. Isso pode ser explicado através do declínio da capacidade cognitiva dessas mulheres, principalmente pelo processo fisiológico do envelhecimento. Sabe-se que dos 65 anos aos 75 anos algumas das mudanças cognitivas são sutis ou até inexistentes, entretanto, ocorrem declínios importantes nas medidas que envolvem velocidade ou habilidades não exercitadas [21]. Isso também é comprovado por outros autores que afirmam que comprometimentos cognitivos são frequentes nesta faixa etária, mas é difícil diferenciar se são manifestações iniciais de doenças ou processo normal de envelhecimento [22-24]. Porém, esse declínio também pode estar associado ao processo de institucionalização, uma vez que os fatores psicossociais que contribuem para um envelhecimento saudável com preservação da cognição incluem família, educação, cuidados com a própria saúde, além de motivação e iniciativa da própria pessoa [16], aspectos esses que são anulados ou diminuídos quando se leva em consideração os idosos que sofrem processos de abandono de familiares e restrição social. Diferentes autores concordam que a presença dos animais e sua relação com idosos melhoram a interação, socialização e por consequência a cognição [6,25,26]. Também, Bigatello et al. [27] verificaram que a TAA aumentou os níveis de atenção dos pacientes e reduziu, em parte, as alterações comportamen- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 tais e cognitivas, ou seja, esse pode ser um recurso também para a diminuição da perda cognitiva. Durante a terapia proposta por este estudo, as idosas relataram lembranças com cães, demonstrando carinho pelos animais que já fizeram parte de suas vidas. Além disso, trouxeram o apego ao animal utilizado na pesquisa, que pode ser explicado pela própria carência afetiva, já que todas são institucionalizadas. Estudo realizado em Portugal com TAA comprovou que essa terapia pode ser indicada para idosos que simplesmente se sintam sozinhos [28], pois essa terapia é eficiente na redução da solidão, melhorando o quadro físico e mental de idosos institucionalizados [29-31]. Há relatos de pacientes que não falavam, e quando entraram em contato com os animais começaram a contar sobre sua vida, sua história, seus pensamentos e sentimentos surpreendendo a equipe que lhes prestava assistência. A mera presença de um cão pode facilitar uma interação terapêutica com os pacientes que possuem pouca ou nenhuma comunicação verbal ou que tenham dificuldades de socialização [32,33]. Em pesquisa sobre o efeito da TAA com três idosas com Alzheimer que eram isoladas socialmente foi observado alguns efeitos como o aumento da socialização e lembranças passadas com cães [34]. Já estudo com idosos asilados revelou que estes sentem uma enorme necessidade de receber demonstrações de afeto, como o toque, atenção e carinho, o que muitas vezes acaba não ocorrendo, pois estão afastados do convívio social [35]. Dados esses que corroboram com os achados dessa pesquisa. Ainda, nota-se que esse apego com os animais aparece também em trabalhos com pacientes internados que demonstram desejos de melhorar rapidamente para cuidar de seus animais, fazendo com que esses atuem como suporte emocional, representando um apoio para confiar e falar [18]. Conclusão Através desta pesquisa, identificou-se que a percepção das idosas durante os atendimentos com o cão foi positiva, visto que essas se demonstraram alegres e comunicativas, relatando aspectos educativos do cão em relação a terapia, amor ao animal e aumento da interação com os terapeutas. O aspecto de dificuldade em conduzir o cão deve ser considerado para que seja garantida a individualidade das idosas. De forma geral, as participantes tiveram uma boa percepção na inclusão do cão nas sessões fisioterapêuticas mostrando que esse novo recurso pode ser aliado a fisioterapia dentro das ILPIs, pois este tipo de terapia traz benefícios como lembranças, apego emocional, alegria, motivação, entretenimento, promovendo, assim a saúde física e mental dessas mulheres. Sugere-se a continuidade de estudos dentro da profissão principalmente com exercícios adaptados ao cão e suas repercussões físicas e psicológicas para que esse recurso possa, na prática, ser mais utilizado na Fisioterapia. 41 Agradecimentos Ao sociabilizador do cão, Sr. Dartanhan Baldez Figueiredo, à Alisul Alimentos S.A - SUPRA FROST que colaborou com a alimentação do animal, à Profª Hedionéia Maria Foletto Pivetta pela ajuda no processo de análise dos dados e às idosas e à ILPI onde foi desenvolvido este estudo. Referências 1. Gorzoni ML, Filho WJ. Geriatria e Gerontologia: O que todos devem saber. In: Juliano RS, Jayme VS, Fioravante MCS, et al. Terapia Assistida por animais : uma prática multidisciplinar para o beneficio da saúde humana. São Paulo: Roca; 2008. 2. Gallo J, Whitehead J, Rabins P, Silliman R, Murphy J. Reichel. Assistência ao idoso. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 3. Pickles B, Compton A, Cott C. Fisioterapia na Terceira Idade. 2ª ed. 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Universidade Federal de Santa Maria/UFSM, Santa Maria/RS, ***Prof. Dr. da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM, Santa Maria/RS, ****Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – Estudo desenvolvido no Laboratório de Eletroterapia do Curso de Fisioterapia Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Resumo Abstract Introdução: O tratamento através de eletroterapia é um recurso fisioterapêutico cada vez mais utilizado para a redução de quadros álgicos. No entanto, são escassos os estudos analisando os efeitos da radiofrequência de modo contínuo não ablativo em pacientes com fibromialgia. Objetivo: Este estudo objetivou avaliar os efeitos da terapia por radiofrequência monopolar (RFM) na dor e no cotidiano de mulheres com fibromialgia. Método: Participaram deste estudo mulheres com diagnóstico clínico de fibromialgia, que foram submetidas a 8 sessões de RFM. Os atendimentos ocorreram 2 vezes por semana. Os resultados do tratamento foram avaliados pela Escala Visual Analógica (EVA) e pelo Fibromyalgia Impact Questionary (FIQ). Para comparar os resultados pré e pós tratamento utilizou-se o teste T Pareado do software Statistica 7.1. Resultados: Participaram deste estudo 9 mulheres com idade média de 53,25 (± 8,48) anos. Verificou-se alívio da dor imediatamente após as sessões de RFM (p < 0,01). Houve repercussão positiva do tratamento no cotidiano dessas pacientes, visto que ocorreu significativa redução do escore do FIQ após as 8 sessões (p = 0,03). Conclusão: A partir dos resultados deste estudo, sugere-se que a terapia por RFM pode ser mais um aliado do fisioterapeuta para o tratamento de pacientes com fibromialgia. Contudo, os resultados desta pesquisa devem ser analisados com cautela, pois não houve um grupo controle para garantir que os resultados positivos deveram-se unicamente ao tratamento e não a outros fatores desconsiderados pelos pesquisadores. Introduction: The treatment by electrotherapy is increasingly used as a therapeutic resource for reducing painful picture in Physical Therapy. However, there are few studies analyzing the effects of continuous and non-ablative radiofrequency in patients with fibromyalgia. Objective: This study evaluated the effects of monopolar radiofrequency on pain and daily life of women with fibromyalgia. Methods: The study included women diagnosed with fibromyalgia, who underwent eight sessions of RFM monopolar radiofrequency. The sessions occurred twice a week. The treatment results were evaluated by Visual Analogue Scale (VAS) and the Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). To compare the results before and after treatment, we used paired t-test from software Statistica 7.1. Results: The study included 9 women with mean age of 53.25 ± 8.48 years. Pain decreased immediately after the sessions of RFM (p < 0.01). There was positive impact in the daily treatment of these patients, with a significant reduction in the FIQ score after 8 sessions (p = 0.03). Conclusion: The results suggest that RFM therapy can be an physiotherapist’s help for the treatment of patients with fibromyalgia. However, this study should be analyzed with caution, because there was no control group to ensure that positive results were due solely to the treatment and not to other factors not considered by the researchers. Key-words: pain, radiofrequency, fibromyalgia. Palavras-chave: dor; radiofrequência; fibromialgia. Recebido 15 de outubro de 2011; aceito 30 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Fabiana dos Santos Ferreira, RS 509, 4665/201 Bairro Pé de Plátano 97110-620 Santa Maria RS, E-mail: [email protected] 44 Introdução Com o crescente avanço da tecnologia, o caminho natural da fisioterapia é buscar novos recursos para o tratamento dos sinais e sintomas que afligem os pacientes que procuram auxílio em nossa profissão. O manejo da fibromialgia é atualmente um grande desafio para o fisioterapeuta, a cada dia aumenta a demanda por tratamentos que promovam alívio da dor, o principal sintoma desta doença e minimizem suas repercussões sobre a vida das pessoas que convivem com as limitações causadas por ela. Com uma fisiopatologia complexa e implicações sobre a qualidade de vida destes pacientes, são necessários estudos que busquem terapias eficazes para o seu controle. As doenças reumatológicas são hoje um grave problema de saúde pública. Dentre elas, destaca-se a fibromialgia (FM) que é uma das patologias reumáticas mais frequentes, a prevalência varia entre 1 a 3% da população [1], sendo que 85% dos pacientes são mulheres [2] e embora possa ocorrer em qualquer idade da vida, a maioria encontra-se na faixa etária entre 30 e 60 anos [3]. Apesar da origem exata da doença ainda não ser conhecida, estudos sugerem que a fisiopatologia da FM está relacionada a alterações neurofisiológicas, imunológicas, genéticas e psicológicas. O que parece claro é que nesses pacientes, ocorre uma alteração da percepção e da modulação da dor, provavelmente devido a um desequilíbrio de neuromoduladores do sistema nervoso central [4,5]. A fibromialgia provoca um impacto negativo importante na qualidade de vida de forma global, envolvendo aspectos pessoais, profissionais, familiares e sociais que se correlacionam fortemente com a intensidade da dor, fadiga e decréscimo da capacidade funcional, interferindo nas condições de saúde do sujeito [6]. Segundo Santos et al. [7] há uma influência direta no desempenho das atividades laborais e diárias desses indivíduos. O tratamento fisioterapêutico exerce papel importante nesta patologia, tanto para o controle da dor como para melhora do desempenho nas atividades diárias, atuando tradicionalmente através de programas de exercícios físicos incluindo alongamentos, fortalecimento muscular, hidroterapia e exercícios aeróbios ou ainda por meio da acupuntura [8,9]. No entanto, com o surgimento de novas tecnologias na área da saúde, é necessário o incremento de novos conceitos de terapia, que busquem altenativas eficazes para a redução e remissão da dor e melhora da qualidade de vida dos pacientes. Neste contexto, surge a radiofrequência monopolar (RFM) não ablativa, ou seja, com escassa possibilidade de lesão tecidual. Trata-se de uma corrente eletromagnética de média frequência, vastamente utilizada na fisioterapia dermato-funcional e medicina estética [10-12], que pode ser mais um agente eletroterapêutico a ser utilizado por fisioterapeutas das mais diversas áreas. Pois de acordo com a literatura, a radiofrequência na forma pulsada não ablativa Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 já foi constatada como segura e eficaz para o controle da dor [13]. Porém faltam estudos sobre a aplicação do modo contínuo não ablativo no controle da dor. Diferentemente da forma contínua, que tem como principal agente terapêutico o aquecimento tecidual, na forma pulsada não há a elevação da temperatura. Na radiofrequência monopolar, a corrente elétrica é emitida através de um eletrodo aplicado à área de tratamento e retorna ao gerador através de um eletrodo de dimensões maiores localizado à distância, geralmente no dorso ou abdômen. A energia elétrica se concentra próxima à ponteira do eletrodo ativo e diminui rapidamente com a distância. A profundidade de ação descrita é de até 6 mm. Exemplos de dispositivos de RF monopolar são o ThermaCool TC nonablative Thermage Inc., Hayward, Califórnia) e o brasileiro Spectra (Tone Derm, Caxias do Sul, Rio Grande do Sul) [10-12]. Na busca por alternativas terapêuticas que visem o controle dos sintomas da fibromialgia, este estudo tem por objetivo avaliar os efeitos da RFM na dor e na repercussão desta patologia no cotidiano dos que por ela são acometidos. Material e métodos O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme parecer número 23081.007368/2009-40, reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Trata-se de um estudo experimental, de caráter prospectivo, com análise quantitativa dos dados. Como critério de inclusão, foi requerido que as pacientes apresentassem diagnóstico clínico de fibromialgia, há mais de um ano, não apresentassem nenhuma lesão cutânea nos pontos a serem tratados e estivessem de acordo com os procedimentos a serem realizados. Foram excluídas deste estudo, mulheres que realizaram tratamento fisioterapêutico para fibromialgia há menos de um mês do início da pesquisa ou que ainda estivessem realizando esse tipo de terapia ou que apresentassem contra indicações à utilização da RFM como: prótese metálica no corpo, gestação, marca passo ou qualquer tipo de tumor. Foi utilizada para avaliação do tratamento proposto a versão em português do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) [14], aplicado antes do início do tratamento e repetido ao final das oito sessões e a Escala Visual Analógica (EVA) antes e após cada sessão de RF. O Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia (FIQ) é um método de avaliação do impacto da fibromialgia na qualidade de vida, envolve questões relacionadas à capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos, é composto por 19 questões, organizadas em 10 itens, onde quanto maior o escore, maior é o impacto da fibromialgia na qualidade de vida [14]. A Escala Visual Analógica (EVA), adotada para avaliação da sintomatologia álgica consiste em uma régua numerada Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 de 0 à 10, onde 0 corresponde à ausência de dor e 10 à maior dor possível [12]. Para este objetivo, antes do início da sessão de radiofrequência a paciente deveria marcar em uma régua numerada qual valor correspondia a sua dor no momento, quando terminada a sessão a paciente novamente marcava o valor referente a sua sensação dolorosa. Foram realizadas duas sessões por semana com duração de quarenta minutos cada intervenção e intervalo mínimo de dois dias entre elas, totalizando oito sessões. A radiofrequência foi aplicada através de um equipamento calibrado e aferido (ToneDerm®, modelo Spectra). Foi utilizada a radiofrequência monopolar, frequência de 650 kHz e resolução de 100%, que caracteriza potência de 100 W. Durante a sessão as pacientes permaneciam deitadas em uma maca com a área a ser tratada descoberta, foi realizada assepsia do local com álcool 70%. Para a aplicação da radiofrequência fez-se uso de uma manopla que transfere energia do aparelho para o tecido e um eletrodo metálico de dispersão que ficou em contato contínuo com o corpo do sujeito. Foi necessário gel condutor entre a pele e a manopla para o acoplamento e deslizamento da mesma. A aplicação foi realizada com movimentos lentos, evitando a estagnação da manopla para que não ocorresse superaquecimento localizado. Foram aquecidos pontos característicos da fibromialgia, aqueles em que a dor apresentava-se mais intensa no momento. Quatro pontos foram contemplados em cada sessão. A temperatura da pele foi aferida através de termômetro de infravermelho. Manteve-se 40°C em cada ponto por um período de quatro minutos [12]. È importante ressaltar que para alcançar a temperatura de 40°com o equipamento utilizado, foi necessário um tempo médio de cinco minutos da aplicação local do aparelho. Para análise estatística foi utilizado o programa Statistica 7. A normalidade dos dados foi aferida através do teste Lilliefors. Os valores da EVA e do escore do FIQ foram analisados por meio do teste T de Student com nível de significância de 5% (p < 0,05). Resultados Participaram deste estudo 9 mulheres com média de idade de 53,25 ± 8,48 anos, com diagnóstico de fibromialgia, as quais procuraram pelo serviço de fisioterapia do hospital universitário da instituição. A partir das avaliações da percepção da dor, pode-se observar que a terapia por radiofrequência proporcionou uma significativa redução da dor imediatamente após a sessão (p < 0,01) (Gráfico 1). Porém o alívio da dor obtido com a terapia de RFM não perdurou, pois quando comparados os valores marcados pelas participantes na EVA antes do início do tratamento e após as oito sessões não mostrou significância (p = 0,2). Os resultados mostraram significativa redução do impacto da fibromialgia no cotidiano das pacientes após o tratamen- 45 to com as 8 sessões de radiofrequencia (p = 0,03), uma das participantes do estudo não preencheu o questionário final, por esta razão os resultados apresentados são referentes a 8 avaliações pré e pós tratamento (Gráfico 2). Gráfico 1 - Valores aferidos na EVA n = 9. Valores aferidos antes e imediatamente após cada sessão de RF. 3,5 Antes Depois 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 Valores da EVA Antes e depois da intervenção Box & Whisker Plot Média±1,96*DP Média±DP Média Gráfico 2 - Resultado dos escores do FIQ n = 8. Escores do FIQ das avaliações realizadas antes do início do tratamento e após as 8 sessões de radiofrequencia. 0,40 Pré Pós 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 Valores do FIQ: PRÉ e PÓS Tratamento Box & Whisker Plot Média±1,96*DP Média±DP Média Os itens do FIQ que apresentaram valores estatisticamente significativos foram “Dias que se sentiu bem” e “Rigidez”, onde no primeiro caso quanto maior o valor encontrado melhor a resposta da paciente, já no segundo caso quanto maior o valor encontrado pior é a resposta da paciente (Tabela I). Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 46 Tabela I - Itens avaliados pelo FIQ. Item avaliado Pré Pós Valor de p Capacidade Funcional 16,00 (± 8,17) 14,25 (± 6,8) 0,29 Dias que sentiu-se bem 1,37 (± 1,50) 3,75 (± 2,65) *0,01 Faltas ao Trabalho 3,62 (± 2,61) 2,25 (± 3,01) 0,10 Dificuldade em Trabalhar 8,5 (± 1,06) 6,37 (± 3,42) 0,05 Dor 8,25 (± 1,28) 6,87 (± 2,74) 0,21 Fadiga 8,75 (± 1,16) 7,25 (± 3,32) 0,11 Sono 6,87 (± 2,69) 7,25 (± 1,90) 0,79 Rigidez 8,50 (± 0,92) 5,50 (± 2,92) *0,02 Ansiedade 8,37 (± 3,46) 5,62 (± 4,34) 0,12 Depressão 7,50 (± 3,38) 3,87 (± 4,82) 0,07 Ìtens avaliados no FIQ. Valores expressos em média e desvio padrão. * p < 0,05 Discussão Entre os principais achados deste estudo, destaca-se que uma única aplicação de RFM é capaz de promover alívio da dor. Sabe-se que pacientes com fibromialgia apresentam diminuição do fluxo sanguíneo nos músculos e tecidos superficiais [15], portanto, sugere-se que a redução do quadro álgico com a aplicação da radiofrequência deva-se inicialmente ao incremento do aporte sanguíneo causado pelo aumento da temperatura local de forma profunda [10,12]. O grau de influência da radiação eletromagnética no tecido depende do seu grau de aquecimento, que é determinado pela absorção da radiação pela água contida em quase todos os tipos de tecidos vivos(10). Estudos atuais utilizaram o calor local para o alívio da dor e relaxamento muscular, obtido principalmente através da eletroterapia, por ondas curtas ou por ultrassom terapêutico [16-19]. Acredita-se ainda que o alívio da dor esteja relacionado aos efeitos do campo eletromagnético da radiofrequência que independem do calor, já descritos pela literatura [13,20,21]. Outras terapias para o tratamento da fibromialgia estão sendo estudadas, é comum a avaliação dos efeitos dessas terapias sobre a dor por meio de escalas numéricas, muitos estudos também encontraram resultados satisfatórios para o alívio da dor. Löfgren et al. [2] ao realizar um estudo comparando a eficácia dos efeitos do calor superficial produzido por um estimulador térmico portátil, através da colocação de quatro eletrodos nos pontos dolorosos e a estimulação elétrica nervosa transcutânea na dor de sujeitos com fibromialgia. O autor refere que ambos os métodos foram eficazes na redução temporária da dor em pacientes com FM e não encontrou diferença no nível de alívio da dor ao comparar os dois métodos. Em nosso estudo, duas sessões semanais de radiofrequência monopolar foram suficientes para a redução do quadro álgico em pacientes com fibromialgia. No entanto Ricci et al. [22] ao realizar uma revisão sistemática de literatura sugeriram que a eficácia do tratamento com laser para redução da dor depende do número de aplicações semanais, tendo em vista que, ao comparar dois estudos que utilizaram o laser como terapia, o estudo que realizou aplicações diárias de laser apresentou melhoras significativas nos sintomas após intervenção, enquanto o estudo que utilizou o Laser apenas duas sessões por semana, não demonstrou redução da dor. Sugere-se que o alívio da dor não ter se mantido após o término das 8 sessões, possa ser pelas alterações no controle da dor à nivel de sistema nervoso central. Conforme Matsuda et al. [15] sujeitos com fibromialgia apresentam anormalidades bioquímicas, metabólicas e imunorreguladoras no organismo desses sujeitos. Segundo o autor, um dos mecanismos mais aceitos para o entendimento fisiopatológico da fibromialgia é a ocorrência de uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, o qual poderia resultar em uma disfunção neuro-hormonal, que provoque a redução nos níveis de serotonina e de outros neurotransmissores, aumentando a sensibilidade a estímulos dolorosos. Estudos recentes têm demonstrado que o estresse oxidativo, causado pela fadiga que os sujeitos com FM apresentam, pode causar sensibilização e alteração nociceptiva periférica e central, resultando em hiperalgesia [23]. Além disso, estudos clínicos de pacientes com fibromialgia mostram que alterações do sono estão intimamente relacionadas com a sintomatologia somática, essas alterações também foram associadas a cronificação de queixas dolorosas [24]. Contudo, a perduração dos efeitos da terapia por radiofrequencia monopolar em nosso estudo foi verificada pela redução do impacto da fibromialgia na vida das participantes após a terapia, demonstrada através do FIQ. Outros estudos também utilizaram este meio de avaliação para verificar a eficácia de outros tratamentos para fibromialgia. Coelho, Oliveira e Tucher [25] estudaram 18 mulheres fibromiálgicas, sendo 10 praticantes de atividade física e 8 sedentárias. Os resultados que eles encontraram no FIQ mostraram uma redução significativa do escore no grupo ativo em relação ao sedentário (p < 0,01). Assim como a atividade física, a radiofrequência também se mostrou uma terapia eficaz para o tratamento da fibromialgia, apresentando redução no escore do FIQ após o tratamento proposto (p = 0,03). A média dos escores do FIQ encontrados neste estudo apresentou uma redução de aproximadamente 20% quando comparados os valores de pré e pós tratamento. Essa redução também foi encontrada no estudo de Barros, Gonçalves e Andrade [26], que utilizaram a hidroterapia como forma de tratamento para fibromialgia, também com frequência de duas vezes por semana. As pacientes foram reavaliadas ao final do tratamento demonstrando uma redução de 50% no escore com relação aos valores iniciais. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Bressan et al. [8] compararam duas formas de intervenção em 15 mulheres com diagnóstico de fibromilagia. Um grupo (8 indivíduos) foi tratado com alongamento muscular estático e outro (7 indivíduos) com treino de condicionamento físico através de caminhada na esteira. Os escores do FIQ obtidos apresentaram redução após os tratamentos, no entanto, não houve diferença significativa entre as duas terapêuticas adotadas. Em nosso estudo, apesar do item “Capacidade funcional” não ter apresentado resultado estatisticamente significativo, houve uma redução do mesmo, o que mostra uma melhora no quadro geral da paciente, tendo em vista que a capacidade funcional representa a frequência com que as pacientes desempenharam as atividades da vida diária [27]. Além do aumento da independência dessas pacientes para realizarem suas atividades de vida diária, também houve uma diminuição das faltas ao trabalho e da dificuldade para trabalhar. Santos et al. [7] relatam que a fibromialgia causa um impacto negativo na capacidade funcional, isso porque, além da dor, os sintomas de fadiga e fraqueza subjetiva causam perda da função levando à incapacidade para o trabalho e, consequentemente, à queda da renda familiar refletindo na qualidade de vida dessas pacientes. Segundo Martinez et al. [28], a dor e a intensidade da fadiga também são aspectos importantes a serem considerados na redução da qualidade de vida da paciente fibromiálgica. Em nosso estudo esses aspectos apresentaram melhora após a intervenção. A qualidade do sono afeta diretamente a capacidade funcional das pacientes com fibromialgia, ou seja, há um prejuízo na execução das atividades de vida diária e nos hábitos de sono, o que provoca um impacto negativo na qualidade de vida [14,29,30]. Um estudo realizado por Góes et al. [31], com um grupo de 89 mulheres com diagnóstico clínico de fibromialgia constatou que 76,40% das pacientes apresentavam prevalência de sono não reparador. Nosso estudo observou uma melhora na qualidade do sono após a intervenção, demonstrado pelo aumento dos dias da semana em que as pacientes referiram dormir bem. A depressão e a ansiedade são sintomas comumente encontrados em pacientes com fibromialgia, desta forma, um ciclo vicioso pode ser estabelecido, pois os distúrbios de sono associados às outras alterações encontradas nas pacientes com fibromialgia acarretam o aumento da ansiedade, do estressee e de contraturas musculares, acentuando a dor [7]. Ainda que não estatisticamente significativo, o tratamento com RF reduziu os sintomas de ansiedade e depressão referidos pelas pacientes. Esses resultados também podem estar associados ao aumento da qualidade do sono e redução da dor. Conclusão Com base nos resultados obtidos com esta pesquisa, pôde-se concluir que no grupo estudado foi evidenciado um papel importante da radiofrequência monopolar como uma 47 ferramenta útil no tratamento da sintomatologia dolorosa em pacientes com fibromialgia. O efeito prolongado do tratamento com RFM não ablativa pode ser observado no impacto da fibromialgia na vida das participantes. Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas com a presença de um grupo controle para investigar se o alívio da dor e efeitos sobre o impacto da fibromialgia deve-se realmente ao tratamento com a radiofrequência ou a outros fatores não avaliados neste trabalho. Referências 1. Mannerkorpi K, Nordeman L, Cider Â, Jonsson G. Does moderate-to-high intensity Nordic walking improve functional capacity and pain in fibromyalgia? A prospective randomized controlled trial. Arthritis Res Ther 2010;12:R189. 2. Löfgren M, Norrbrink C. Pain relief in women with fibromyalgia: a cross-over study of superficial warmth stimulation and transcutaneous electrical nerve stimulation. J Rehabil Med 2009;41(7):557–62. 3. Gómez-Arguelles JM, Anciones B. Prevalência de síntomas neurológicos asociados a la fibromialgia. Rev Soc Esp Del Dolor 2009;16(4):222-9. 4. Rivera J, Alegre C, Ballina F, Carbonell J, Carmona L, Castel B et al. 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Existem distintas condutas terapêuticas para seu tratamento, dentre elas, a abordagem fisioterapêutica, com diversas técnicas, como a estabilização central, por exemplo. Objetivos: Analisar a eficácia de um programa de exercícios baseados na estabilização central no tratamento da incontinência urinária de esforço. Métodos: O estudo é do tipo relato de caso, realizado na Clínica Escola de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Católica de Pernambuco, no período de março a maio de 2010, com uma mulher de 43 anos. Realizou-se uma avaliação clínica seguida de protocolo de exercícios baseados na estabilização central. Ao final do tratamento realizou-se uma reavaliação e foi feita uma análise comparativa dos dados pré e pós-intervenção. Resultados: Foi percebido melhora da conscientização pélvica e força muscular, sugerindo que o tratamento pode ser utilizado como uma proposta terapêutica em casos de Incontinência Urinária de Esforço (IUE). Conclusão: A técnica realizada neste estudo mostrou-se eficaz para o tratamento da IUE, melhorando a conscientização perineal, força muscular, assim como a qualidade de vida da paciente. Este foi um estudo piloto, o que sugere o desenvolvimento de novas investigações, no sentido de aprofundar o referido tema. Urinary incontinence is considered a public health problem affecting more than 200 million people worldwide. There are different therapeutic approaches for its treatment, among them, the physical therapy approach, with techniques such as central stabilization. Objectives: To examine the effectiveness of a workout program based on core stabilization for stress urinary incontinence (SUI) treatment. Methods: The study is a case report, conducted in the private school of physical therapy and occupational therapy of Universidade Católica de Pernambuco from March to May 2010, with a 43-year old woman. Initially there was a clinical evaluation and then exercises were applied based on core stabilization. At the end of treatment there was a re-evaluation and an analysis of comparative data was performed before and after intervention. Results: We perceived improvement in awareness and pelvic floor muscle strength, suggesting that treatment can be used as a therapeutic approach in cases of stress urinary incontinence. Conclusion: The technique performed in this study was effective for the treatment of SUI, improving awareness and perineal muscle strength, as well as patient’s quality of life. This was a pilot study; therefore we propose new investigations in order to go into this theme further. Key-words: urinary incontinence, therapy, exercises. Palavras-chave: incontinência urinária, tratamento, exercícios. Recebido em 26 de agosto de 2010; aceito em 10 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Bruna Figueirôa Correia de Araújo, Rua Samuel de Farias, 122/203, Edifício Vivenda de Casa Forte, bloco A, 52060-430 Recife PE, Tel: (81) 8772-2197, E-mail: [email protected], [email protected] 50 Introdução Segundo a Sociedade Internacional de Continência (ICS), Incontinência Urinária (IU) é definida como a perda involuntária de urina, causando problemas sociais ou higiênicos [1]. A IU apresenta diversas classificações dentre elas a Incontinência Urinária de Esforço (IUE) que é a perda de urina pelo óstio uretral externo, quando a pressão vesical excede a pressão máxima de fechamento uretral (PMFU), na ausência de atividade do músculo detrusor [2,3]. Entre as principais repercussões da IUE pode-se citar: inadequação psicossocial, familiar ou individual, afetando desta forma a qualidade de vida [4]. A IU afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo e é considerada um problema de saúde pública [5], sua forma mais comum sendo a IUE. Esta apresenta uma prevalência que varia de 12,6 a 48 % e entre os principais fatores de risco para o seu desenvolvimento podemos citar a idade, a paridade, a constipação, a tosse crônica, a obesidade e as ocupações que exigem levantamento frequente de peso [6,7]. Os fatores aqui relacionados podem desencadear aumento da pressão intra-abdominal (PIA), levando a distúrbios no assoalho pélvico, pois essa variação de pressão na cavidade abdominal é transmitida para as estruturas pélvicas, o que pode sobrecarregar os tecidos já danificados [8]. A abordagem da IUE apresenta dificuldades relativas ao diagnóstico e à conduta terapêutica, pois a cirurgia não tem sido a primeira opção de tratamento, já que existem técnicas com uma abordagem menos invasiva, com menor ônus, reduzindo o número de cirurgias e proporcionando melhor qualidade de vida às pacientes [9]. Por esta razão, nos últimos anos, o tratamento fisioterapêutico tem sido recomendado como uma forma de abordagem inicial, visto que apresenta baixo índice de efeitos colaterais e por se tratar de um tratamento de custo reduzido comparado aos tratamentos cirúrgicos [7]. A fisioterapia para a IUE está fundamentada na aplicação de diversas técnicas que visam o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, já que a musculatura do períneo assume papel relevante no mecanismo da continência urinária, o que justifica o seu “treinamento” através de técnicas de estimulação e fortalecimento desta musculatura [4]. As principais intervenções fisioterapêuticas estão relacionadas às mudanças de comportamento (terapia comportamental), à cinesioterapia específica e global, aos cones vaginais, à eletroestimulação e ao biofeedback [10]. Porém, pode se inserir dentre essas técnicas também o programa de treinamento de estabilização central, uma vez que este, segundo Prentice e Voight, foi criado para ajudar o indivíduo a obter ganho de força, controle neuromuscular, potência e resistência muscular no complexo lombo-pelve-quadril [11]. A estabilização central é uma técnica que promove um regime preventivo e terapêutico, desenvolvendo o controle muscular necessário para manter uma estabilidade funcional Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 e diminuir a incidência de lesões e desconfortos no complexo lombo-pélvico [12]. Esse complexo é descrito na literatura como “centro”, pois é nesta região que fica posicionado o centro de gravidade e onde a maioria dos movimentos é iniciada [13]. Um centro fraco não limitará o aumento exagerado da PIA, que acontece durante uma tosse crônica, por exemplo, podendo sobrecarregar os órgãos da região pélvica, pressionando-os para baixo, o que possivelmente lesionará os músculos que suportam essas estruturas [13]. Para proteger esses órgãos, os três músculos abdominais trabalham com os músculos da coluna para formar o centro de força. O assoalho pélvico também é incluso nesse complexo pela forma que esse arranjo de músculos e ligamentos conecta-se ao sistema nervoso central dos músculos profundos abdominais. O fortalecimento da região central, então, pode promover bons resultados para pacientes com disfunções desses músculos [14]. O presente estudo foi motivado devido à relevância do tema entre profissionais da área de Saúde da Mulher, para que os resultados do mesmo possam ser utilizados como mais uma estratégia terapêutica no controle da IUE e teve como objetivo analisar a eficácia de um programa de exercícios baseado na estabilização central no tratamento da incontinência urinária de esforço. Apresentação do caso Paciente de 43 anos de idade, apresentando incontinência urinária de esforço (IUE) de grau 0 há 2 anos, diagnosticada através do exame clínico e do exame urodinâmico, foi encaminhada ao serviço de fisioterapia para realização de tratamento. A mesma nunca havia realizado nenhum tipo de tratamento fisioterapêutico anteriormente. Sua queixa principal era perda de urina quando realizava esforços como tossir e espirrar. Antes de dar início ao processo de avaliação, a paciente foi esclarecida sobre os objetivos e tratamento desta pesquisa, sendo assim a mesma concordou em participar e assinou um termo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em seguida iniciou-se a avaliação cinético - funcional do assoalho pélvico com a quantificação do grau de força muscular através do escore AFA (Quadro 1) [15], onde a paciente obteve escore 1(sem função perineal objetiva). No exame funcional foi percebida uma contração leve da musculatura superficial e profunda dos músculos do assoalho pélvico (MAPS) e também se constatou que a paciente apresenta comando inverso. Para complementar a avaliação foi utilizado um biofeedback manométrico (Perina), tendo como resultado uma contração no nível 1 de 12,9 mmHg, observando-se uma contração máxima neste nível com auxílio da musculatura parasita (abdome, adutores e glúteos). A paciente também foi submetida à aplicação do Kings Health Questionnaire (KHQ) [16], para avaliar o comprometimento de sua qualidade de vida devido à IUE. Este questionário Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 51 avalia itens como a frequência que perde urina, estando esta aumentada, a quantidade de urina perdida, o quanto a perda urinária interfere na vida diária e quais as ocasiões que ocorre a perda. Na etapa seguinte da pesquisa foi realizada a aplicação do protocolo de exercícios baseados na estabilização central com base nos estudos realizados por Prentice e Voight [10] (Quadro 2). Os atendimentos eram realizados uma vez por semana com duração de 40 minutos cada, durante dois meses, o que totalizou oito sessões. Ao final da coleta de dados, a paciente foi submetida a uma reavaliação, na qual foram aferidos novamente todos os dados mensurados na avaliação. No escore Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA) a paciente evoluiu para o grau 5 (Função perineal objetiva presente e resistência opositora mantida mais do que 5 segundos à palpação). Após a quantificação do AFA foi trabalhado o biofeedback (perina), desta vez a paciente trabalhou nos níveis 1, 2 e 3, chegando ao nível máximo de cada um, 2,9 mmHg, 11,6 mmHg e 46,4 mmHg respectivamente, a aferição foi feita com 3 medições de 5 segundos e contabilizada a sua média. Entretanto, as 3 aferições só foram possíveis nos dois primeiros, pois no 3° nível a paciente já demonstrou um início de fadiga e por isso foram realizadas apenas 2 aferições de 5 segundos cada uma. Em seguida, a paciente foi novamente submetida a uma nova aplicação do KHQ percebendo-se através dos itens relacionados à perda de urina que houve uma diminuição dos sintomas urinários, particularmente da frequência urinária, tal dado demonstra que a paciente não sofre mais deste sintoma. Analisando cada domínio do referido questionário percebeu-se uma melhora relacionada a cada um deles (Quadro 3). Diante do exposto, foi percebido que a participante do estudo melhorou principalmente no tocante à sua conscientização pélvica, bem como na força muscular, sugerindo que o protocolo de exercícios realizado no estudo pode ser utilizado como uma proposta terapêutica para o tratamento da IUE. Quadro 2 - Protocolo de exercício baseado na estabilização central. Quadro 1 - Avaliação funcional do assoalho pélvico. Fonte: Prentice e Voight [11]. Grau Grau 0 Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5 Função Sem função perineal objetiva Função perineal objetiva ausente, contração reconhecível somente à palpação Função perineal objetiva débil, contração fraca à palpação Função perineal objetiva presente e resistência não opositora à palpação Função perineal objetiva presente e resistência opositora não mantida à palpação Função perineal objetiva presente e resistência opositora mantida mais do que cinco segundos à palpação Fonte: Fozzatti et al. [15]. Exercício Exercício 1 Exercício 2 Exercício 3 Exercício 4 Exercício 5 Descrição Terapeuta estará com a mão na área do músculo transverso abdominal dando propriocepção à paciente, e ela realizando a contração desse músculo e dos músculos do assoalho pélvico durante a fase expiratória mantendo contração. Paciente permanece em supino e realiza exercício de ponte com os pés apoiados no solo, no momento da expiração deve realizar elevação da pelve, contrair assoalho pélvico e abdominais. Paciente fica em apoio de quatro membros mantendo a coluna ereta, sem realizar nenhum tipo de movimento durante o exercício, o terapeuta com a mão sob a área do transverso abdominal dando propriocepção e a paciente realiza contração de assoalho pélvico e de transverso abdominal durante a fase expiratória. Paciente permanece na mesma postura só que agora realiza o movimento de oposição elevando o membro inferior de um lado e o membro superior do lado contra lateral. A terapeuta com a mão na região do transverso abdominal dando propriocepção e a paciente realizando a contração desse músculo junto a contração do assoalho pélvico na fase expiratória. Paciente sentada na bola suíça, em flexão de quadril e joelho, deverá realizar um movimento de rotação do tronco. A terapeuta solicita uma inspiração profunda seguida de expiração associada à contração dos músculos do assoalho pélvico e dos abdominais globais e nesse momento a participante gira o tronco. Quadro 3 - Análise comparativa do KHQ antes e após a intervenção. Domínio Frequência das perdas urinárias Quantidade de urina perdida Quanto à perda interfere na vida diária Quando ocorre a perda de urina Fonte: Tamanini et al. [16]. Antes 4 4 8 Depois 0 0 0 Ao tossir nunca ou espirrar 52 Discussão Os exercícios cinesioterapêuticos para intervenção e tratamento de pacientes portadores de IU se mostram efetivos na medida em que diversos exercícios utilizados para o fortalecimento e a conscientização dos MAPS tem se mostrado eficientes [17]. Desta forma, a estabilização central, que está inserida dentre os diversos recursos terapêuticos que se utilizam de modalidades físicas, demonstrou ser uma opção terapêutica eficiente para a melhora de quadros de IUE [10]. A evolução apresentada pela paciente, após a utilização deste protocolo de exercícios, condiz com o pensamento de pesquisadores ao citarem que os exercícios direcionados para os MAPS podem favorecer um ganho de força muscular real [18,19]. Dados estes corroborados no presente estudo, visto que foi percebido um ganho de força muscular perineal que passou do escore 1 no AFA para o escore 5, favorecendo um quadro de continência urinária e por conseguinte uma melhora na qualidade de vida desta paciente. Este relato é confirmado pelo estudo de Alewijnse et al. [20], que enfatizam a importância da cinesioterapia e ressaltam que ela é sublime às demais terapias complementares dentro da fisioterapia uroginecológica como opção de tratamento conservador para as disfunções do assoalho pélvico. Nos estudos desenvolvidos por Bernardes et al. [17] e Matheus et al. [8], observa-se que os exercícios terapêuticos são apontados como mais efetivos do que outras terapias, pois no primeiro em um estudo comparativo entre eletroestimulação endovaginal e cinesioterapia, os autores revelam que a cinesioterapia apresentou uma tendência para ser o tratamento de escolha para o reforço perineal. Já no estudo de Matheus et al. [8], que avaliaram a associação dos exercícios perineais e dos cones vaginais no tratamento da incontinência urinária feminina, foi observado que a sensação de desconforto causado pela perda urinária teve uma diminuição significativa no grupo tratado com exercícios perineais o que não foi encontrado no grupo tratado pelos cones vaginais. Reforçando, assim, os achados do presente estudo, pois o protocolo utilizado mostrou-se eficiente para a diminuição dos sintomas urinários. O trabalho realizado nos MAPS através da estabilização central relacionado ao ganho de força pode ser explicado de acordo com o relato de Bernardes et al. [17] ao explicarem que de acordo com a fisiologia muscular, os MAPS possuem fibras musculares lentas do tipo I e rápidas do tipo II A e B e ao serem trabalhadas as fibras do tipo II com uma sobrecarga, acontece uma hipertrofia muscular, que irá fazer com que a pressão intrauretral permaneça maior que a pressão intravesical, promovendo a continência urinária. Para que seja alcançado um bom desempenho muscular é necessário que o indivíduo disponha de uma conscientização pélvica, já que, segundo Leon [18], o desconhecimento da função muscular pode levar a uma hipotrofia e fraqueza. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Dado esse confirmado no estudo de Matheus et al. [8] no qual encontraram em 100% das participantes do estudo um desconhecimento da musculatura perineal. No que se refere à conscientização da contração do assoalho pélvico sabe-se que a mesma é de difícil aprendizado, e a maioria dos pesquisadores concordam que de 30 a 50% das mulheres são incapazes de fazê-la de forma espontânea e/ou correta, sendo que o comando verbal correto facilitará essa conscientização [8]. Neste estudo, observou-se, inicialmente, uma completa falta de consciência perineal por parte da voluntária somada ao comando inverso, corroborando assim com os relatos dos pesquisadores descritos no parágrafo anterior. Desta forma, a conscientização perineal foi enfatizada através de uma série de comandos verbais mais vigorosos para que a mesma realizasse os exercícios solicitados de forma correta. A conscientização pélvica adquirida pela paciente pode ser justificada pelo fato de terem sido utilizados exercícios perineais associados à contração abdomino-diafragmática, semelhante ao que foi abordado no estudo realizado por Matheus et al. [8], no qual foram realizados exercícios perineais associando-os a aspiração diafragmática. Com esse tipo de trabalho respiratório a pressão abdominal passa a ser distribuída de uma forma mais adequada proporcionando à participante benefícios no âmbito da consciência perineal. A qualidade de vida da paciente foi avaliada através do KHQ [16], sendo possível constatar uma melhora em relação aos aspectos abordados no mesmo quando comparada a avaliação inicial e a avaliação após a intervenção fisioterapêutica. Dados vistos também em estudos que avaliaram a melhora da qualidade de vida de mulheres com IUE com a aplicação deste questionário, sugerindo que a aplicação de técnicas conservadoras como tratamento de escolha para a IUE tem efeitos positivos na vida das mesmas [4,7]. Conclusão Apesar da técnica realizada neste estudo ter se mostrado eficaz para o tratamento da IUE, melhorando a conscientização perineal, força muscular, assim como a melhora na qualidade de vida da paciente submetida ao protocolo proposto, este foi um estudo piloto. Não foi evidenciada na literatura nenhuma pesquisa semelhante onde se utilizasse a estabilização central como opção de tratamento para remissão de quadros de IUE. Com base nas considerações apresentadas, sugerimos o desenvolvimento de novas investigações, no sentido de aprofundar o referido tema, visando à consolidação de estratégias terapêuticas voltadas as necessidades específicas das pacientes, através da realização de novas pesquisas com um número amostral maior, preenchendo essa lacuna para que se comprove com embasamento estatístico e clínico a relevância da estabilização central como um dos tratamentos conservadores eficientes e de menor custo para a IUE. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Referências 1. Massuia FAO, Haddad DS, Mota MP. Investigação e correlação de sinergismo muscular respiratório e pélvico na incontinência e continência urinária feminina. Inspirar Movimento & Saúde 2010;2:23-9. 2. Dreher DZ, Berlezi EM, Strassburger SZ, Ammar MZE. O fortalecimento do assoalho pélvico com cones vaginais: programa de atendimento domiciliar. Sci Med 2009;19:43-9. 3. Feldner Junior PC, Bezerra LRPS, Girão MJBC, Castro RA, Sartori MGF, Baracat EC et al. Correlação entre a pressão de perda à manobra de valsalva e a pressão máxima de fechamento uretral com a história clínica em mulheres com incontinência urinária de esforço. Rev Bras Ginecol Obstet 2002;24:433-8. 4. Oliveira SG, Battisti BZ, Secco VL. Avaliação da qualidade de vida de portadores de incontinência urinária. RBCEH 2009;6:34-41. 5. Zanetti MRD, Castro RA, Rotta AL, Santos PD, Sartori M, Girão MJBC. 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M.Sc. **** *Especialização em Fisioterapia Dermatofuncional e Estética - Uniararas, **Uniararas, ***, Docente do Curso de Fisioterapia – Uniararas, **** Docente do curso de Fisioterapia e do Curso de Tecnologia em Estética – Uniararas e Uniara, Coordenadora dos cursos de Especialização em Fisioterapia Dermatofuncional e Estética Corporal e Facial Resumo Abstract O Fibro Edema Gelóide (FEG) é uma infiltração edematosa do tecido conjuntivo subcutâneo e considerada uma patologia multifatorial, classificando-se em quatro graus: Grau I; Grau II, Grau III e Grau IV. Dentre as inúmeras técnicas terapêuticas a eletrolipólise apresenta-se como um método novo e promissor, pois o estímulo circulatório produzido pela corrente elétrica tem grande importância na drenagem da área tratada. Esse efeito, particularmente, é um dos que justifica o uso da eletrolipólise no tratamento do FEG. Como forma de avaliação quantitativa para verificar a evolução do tratamento, foi utilizada a Biofotogrametria Computadorizada, através da qual foi realizada a avaliação da área e do perímetro das lesões no pré e no pós-tratamento. Assim, este estudo teve como objetivo analisar os efeitos da eletrolipólise no tratamento do FEG grau III por meio da biofotogrametria computadorizada. Realizou-se 10 sessões com a eletrolipólise na região glútea. A variável área apresentou maior redução percentual média, se comparada à variável perímetro, tanto para as condições de com contração (CC) como sem contração (SC). Após a análise dos resultados, concluiu-se que a eletrolipólise pode ser utilizada com eficácia em pacientes que apresentem FEG grau III, tendo em vista o biotipo tratado. The Fiber Edema Geloid (FEG) is an infiltration of the edematous subcutaneous tissue and is considered a multifactorial disease, classified into four grades: Grade I, Grade II, Grade III and Grade IV. Among the many therapeutic techniques, electrolipolysis appears to be a new and promising method, since the circulatory stimulation generated by electrical current is of great importance in the drainage of the treated area. This effect, in particular, is one that justifies the use of eletrolipolysis in the treatment of FEG. In order to check treatment progress as a quantitative assessment, we used a computerized biophotogrammetry. The lesion perimeter and surface area in the pre and post-treatment were evaluated. This study aimed at analyzing the effects of electrolipolysis in the treatment of FEG grade III by means of computerized photogrammetry. We conducted 10 sessions with electrolipolysis in the gluteal region. The variable area showed greater mean percent reduction when compared to the perimeter variable for both conditions with contraction and without contraction. After analyzing the results, we concluded that the electrolipolysis can be used successfully in patients with grade III FEG, in view of the biotype treated. Palavras-chave: fibro edema gelóide, eletrolipólise, biofotogrametria computadorizada. Key-words: fiber edema geloid, electrolipolysis, computerized biophotogrammetry. Recebido em 30 de maio de 2011; aceito em 13 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Maria das Graças Cândido Valls, Rua Nercio Nardi, 115 Condomínio Portal do Parque 13600-000 Araras SP, Tel: (19) 3544-5842, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Introdução Durante a evolução da humanidade, o padrão de beleza passou por diversas mudanças e, devido à grande massificação das comunicações, surgiu uma tendência de padrão estético, no qual a adiposidade e as irregularidades da pele, como a celulite, são pouco aceitas pela sociedade [1]. O Fibro Edema Gelóide (FEG) – também conhecido como celulite – pode ser definido como uma infiltração edematosa do tecido conjuntivo subcutâneo, não inflamatória, com alterações vasculares, seguida de polimerização da substância fundamental que se infiltra nas tramas e produz uma reação fibrótica consecutiva [2]. Clinicamente, o FEG se apresenta em forma de nódulos ou placas de localização e extensão variadas e um espessamento não inflamatório das camadas subepidérmicas, às vezes doloroso [3]. Segundo Ulrich [4] o FEG pode ser classificado quanto à sua evolução em quatro graus: • Grau I: não é visível à inspeção, só com a compressão do tecido entre os dedos ou a contração muscular voluntária, tem ausência de fibrose. • Grau II: visível à inspeção, mesmo sem a compressão do tecido ou a contração muscular voluntária, presença de fibrose e alteração da sensibilidade. • Grau III: predominância de fibrose e macronódulos, sensibilidade dolorosa aumentada, podendo apresentar déficit funcional. • Grau IV: tem as mesmas características do grau III com nódulos mais palpáveis, visíveis e dolorosos, aderência nos níveis profundos e aparecimento de um ondulado óbvio na superfície da pele. Pesquisas demonstram uma maior incidência do FEG em mulheres. Para Campos [5] as mulheres são mais atingidas devido ao fato de terem duas vezes mais células adiposas que o homem. O surgimento pode acontecer após a puberdade, em função das alterações hormonais ocorridas nesse período. A falta de exercício físico diminui a capacidade circulatória, diminuindo a drenagem e a oxidação de toxinas. O FEG apresenta problemas patogênicos complexos e dúvidas quanto à sua etiologia. Não se fala em uma causa específica, visto que diversos fatores associados contribuem para o aparecimento da disfunção, não sendo possível isolar cada um dos fatores [6]. A fisioterapia vem ampliando cada vez mais sua área de atuação, buscando sempre o equilíbrio entre saúde física e qualidade de vida. A Fisioterapia Dermatofuncional é uma área da fisioterapia que vem acabando com o empirismo dos tratamentos estéticos, atuando assim na comprovação científica dos métodos e técnicas abordados para o tratamento de diversas patologias, como, por exemplo, o FEG, uma vez que esse conhecimento proporciona uma abordagem direcionada à forma mais eficaz de tratamento para cada paciente, 55 potencializando e assegurando resultados efetivos, sem causar riscos à saúde [6]. Nesse contexto, tem-se a eletrolipólise como um método novo e promissor no tratamento do FEG. A técnica é destinada ao tratamento das adiposidades e acúmulo de ácidos graxos localizados que, através da aplicação de pares de agulhas de acupuntura no tecido subcutâneo, ligadas a corrente de baixa frequência, atua diretamente no nível dos adipócitos e dos lipídios acumulados, produzindo sua destruição e favorecendo sua posterior eliminação [2]. O estímulo circulatório produz o ligeiro aumento de temperatura que se instala no local (efeito Joule) que contribui, em parte, para a instalação de uma vasodilatação, pois a corrente atua com estímulo direto nas inervações, promovendo uma ativação da microcirculação. Para Silva [7] o estímulo circulatório produzido pela corrente elétrica tem grande importância na drenagem da área. Esse efeito, particularmente, é um dos que justifica o uso da eletrolipólise no tratamento do FEG. A frequência de aplicação oscila entre 5 Hz e 50 Hz, sendo que a frequência de 25 Hz é mais eficaz para tratar alterações circulatórias e congestivas [8,9]. A ação hidro-lipolítica da corrente se inicia com a estimulação do sistema nervoso-simpático, provocando a liberação dos hormônios epinefrina e noraepinefrina pela supra-renal. Ambos se ligam aos receptores beta-adrenérgicos presentes na membrana celular dos adipócitos, provocando reações bioquímicas que vão culminar com a ativação da enzima triglicerídeo lipase sensível a hormônio, a qual hidrolisa os triacilgliceróis [10]. No entanto, não basta apenas a execução precisa de uma técnica no tratamento do FEG, mas também uma avaliação minuciosa é imprescindível. Atualmente há uma carência de instrumentos eficazes de avaliação que auxiliem no diagnóstico e na validação dos resultados obtidos [1]. A Biofotogrametria Computadoriza expressa a aplicação da fotografia à métrica. Sua utilização consiste da possibilidade de efetuar medidas de um objeto, relativas à sua forma e situação espacial, a partir de perspectivas registradas fotograficamente [11]. A Biofotogrametria Computadorizada é uma modalidade de Fotogrametria transportada na adaptação da técnica ao estudo dos seres humanos, sendo que esta técnica desenvolveu-se pela aplicação dos princípios fotogramétricos às imagens corporais, nas quais foram aplicadas bases apropriadas da fotointerpretação computadorizada, com possibilidade de realização de transformações algébricas das coordenadas dos pontos e dos eixos [11]. Desta forma, o objetivo do estudo foi analisar os efeitos da eletrolipólise no tratamento do FEG grau III por meio da biofotogrametria computadorizada. Material e métodos Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e Mérito Científico do Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS, conforme parecer nº 177/2010. 56 A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso e teve início com a escolha da amostra de forma eletiva. Para tanto, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser do gênero feminino; apresentar clinicamente FEG grau III em região glútea; ter idade entre 25 a 35 anos; sedentária. Critérios de exclusão adotados: praticar atividade física; dieta alimentar hipocalórica; tabagismo; utilizar fármacos que pudessem alterar o resultado do tratamento proposto para este estudo; associar outras terapias para a redução do FEG durante o período do tratamento. A voluntária foi esclarecida sobre os objetivos e procedimentos do estudo, assinando em seguida o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Compôs a amostra uma voluntária do gênero feminino, de cor branca, com 35 anos de idade, casada, sedentária, 1,63 m de altura, 58,5 kg, com diagnóstico de FEG grau III, do tipo dura e edematosa na região glútea, de causa dérmica, não dolorosa. Uma ficha de avaliação detalhada foi preenchida, e a voluntária foi orientada a manter a dieta habitual e ingerir 2 litros de água por dia. Todos os procedimentos foram realizados na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Hermínio Ometto, Uniararas. Somente uma pesquisadora realizou os procedimentos durante a avaliação e a aplicação da técnica. Utilizou-se a Biofotogrametria Computadorizada como forma de avaliação quantitativa no pré e no pós-tratamento para análise da área (cm²) e do perímetro (cm) das lesões. Foram colocados marcadores adesivos esféricos de 19 mm nas Espinhas Ilíacas Póstero Superior (EIPS) e Trocânteres Maior e uma régua de 5 cm foi afixada na região lombar. A voluntária permaneceu em ortostatismo e realizou contração glútea, sendo delimitados os nódulos com lápis dermatográfico, e as fotos foram tomadas em vista posterior, com e sem contração glútea antes da primeira sessão e 48 horas após a décima sessão. Para tal, foi utilizada uma câmera digital DSC H9 8.1 megapixels, marca Sony, sem zoom, posicionada sobre um tripé em nível e prumo a uma distância de 82 centímetros e altura de 93 centímetros. A área avaliada foi delimitada com linhas imaginárias passando superiormente pelas EIPS, inferiormente pela prega glútea, de uma lateral a outra pelos trocânteres maior e medialmente pelo sulco interglúteo. Por meio dessas linhas, a região ficou assim dividida: glúteo superior direito, glúteo superior esquerdo, glúteo inferior direito e glúteo inferior esquerdo. Foram realizadas 10 sessões de tratamento, 2 vezes semanais com duração de 50 minutos cada. Para realizar a técnica, a área a tratar ficou desnuda e foi realizada assepsia e antissepsia. Utilizou-se a técnica de posicionamento horizontal das agulhas de acupuntura com diâmetro de 25 x 30 mm e comprimento de 12 centímetros de aço inoxidável, descartáveis, com 5 cm de distância entre as mesmas. Foram conectados os eletrodos tipo “jacaré” nos pares de agulhas correspondentes, sendo: três em cada glúteo (esquerdo e direito), um em cada região posterior superior de coxa (direita e esquerda). Utilizou-se frequência de 25 Hz e a intensidade foi aumentada gradativamente da seguin- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 te forma: primeiros 10 minutos 5 mA, 15 minutos seguintes 6 mA, últimos 25 minutos 7 mA. O aparelho utilizado foi o Physiotonus Slim®, da marca Bioset. Após o tratamento as imagens foram analisadas pelo software Fisiometer-Posturograma 2.9. Resultados e discussão Foi realizada inicialmente uma estatística descritiva para análise do tratamento aqui estudado. As variáveis foram expressas em valores médios ± desvio padrão (X ± DP). O Teste t de Student foi aplicado a fim de testar a hipótese de igualdade entre as variáveis. O índice de significância adotado foi 5% para os dados sem contração (SC) e com contração (CC). Para comparação e análise dos dados, em todos os parâmetros analisados, obteve-se p < 0,05 (vide valores de p na Tabela I), o que leva a rejeitar a hipótese de não significância e concluir que houve variação significativa. Para tanto, verificou-se, por meio dos dados estatísticos que houve redução significativa nos valores de área e perímetro, depois de finalizado o tratamento, ou seja, o que comprova estatisticamente a eficácia do tratamento apresentado. Os valores X ± DP das variáveis estão expressos na tabela I. Tabela I - Dados analisados (valores médios e desvios-padrões) pela área (cm2) e perímetro (cm) sem contração (SC) e com contração (CC) no pré e pós-tratamento. P pré P pós p-valor Área SC 0,47±0,36 0,28±0,15 0,02 (cm2) Perímetro (cm) CC SC CC 0,46±0,26 3,15±0,93 3,21±0,93 0,29±0,20 2,28±0,71 2,34±0,85 0,05 0,01 0,01 De acordo com a Tabela I, a área média SC no pré-tratamento foi de 0,47 cm2 e no pós-tratamento foi de 0,28 cm2. Já em CC, o valor médio de área no pré-tratamento foi de 0,46 cm2 e no pós-tratamento foi de 0,29 cm2. O perímetro médio SC no pré-tratamento foi de 3,15 cm e no pós-tratamento foi de 2,28 cm. Já em CC, o valor médio de perímetro no pré-tratamento foi de 3,21 cm e no pós-tratamento foi de 2,34 cm. O Gráfico 1 sugere que houve uma redução tanto para a variável perímetro quanto para área. Porém, a variável área apresentou maior redução percentual média, se comparada à variável perímetro, tanto para as condições de CC como SC. De maneira geral, verificou-se, no pós-tratamento, uma redução percentual média da área de 41,43% SC e uma redução percentual média da área CC de 37,02%, sendo que a redução percentual média do perímetro CC foi de 27,82% e SC foi de 27,24%. Foi evidenciada neste estudo uma regressão do grau das lesões, sendo que algumas delas regrediram para grau II, grau I e outras desapareceram. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Percentual de Redução Gráfico 1 - Comparativo entre valores percentuais de redução das variáveis Área e Perímetro no pré e pós-tratamento. 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 41,43% 37,02% 27,82%27,24% Perímetro Área Variáveis Sem contração Com contração Figura 1: A – Imagem obtida no pré-tratamento sem contração glútea (SC). B - Imagem obtida no pré-tratamento com contração glútea (CC). C – Imagem obtida no pós-tratamento sem contração glútea (SC). D - Imagem obtida no pós-tratamento com contração glútea (CC). 57 A vantagem da eletrolipólise sobre a DLM é o ligeiro aumento da temperatura local (efeito Joule), que contribui, em parte, para a instauração de uma vasodilatação, pois a corrente atua com estímulo direto nas inervações, promovendo uma ativação da microcirculação [13,9]. O instrumento de avaliação utilizado neste estudo foi a Biofotogrametria Computadorizada que se mostrou eficaz na avaliação do FEG, uma vez que foi possível avaliar de forma quantitativa permitindo estabelecer dados numéricos para quantificar os resultados. A análise quantitativa é mais objetiva, fiel e exata na descrição dos mesmos [14]. Baraúna et al. [15,16] relatam as vantagens e a efetividade da aplicação clínica da avaliação por meio desta técnica, ou seja, baixo custo no sistema de imagens, fotointerpretação, precisão e reprodutibilidade dos resultados. Através de estudo realizado por Volpi et al. [17], utilizando a biofotogrametria como instrumento de avaliação no tratamento do FEG, foi possível verificar sua eficácia quanto aos resultados. Além disso, vale ressaltar que no referido estudo utilizou-se a vacuoterapia com resultados também satisfatórios e significativos. Foram realizadas 15 sessões de tratamento para FEG grau II, 3 vezes na semanas, e teve uma redução da área total afetada em 53,9% SC e 48,99% CC. Desta forma, o presente estudo demonstrou maior eficácia no que se refere a quantidade de sessões semanais e totais, ainda que no tratamento do FEG grau III, levando em conta o biotipo tratado. Contudo, é importante realçar a necessidade de um recrutamento de maior número da amostra e a realização de outros estudos que associem duas ou mais técnicas para o tratamento do FEG, visto que é uma alteração muito comum entre as mulheres e estas técnicas foram analisadas isoladamente, para que, assim, possam ser obtidos resultados ainda mais comprobatórios. Conclusão No decorrer do tratamento, a voluntária relatou ter havido aumento da frequência na excreção de urina, além de perceber mudanças no aspecto da mesma, que apresentava traços de gordura. Observação esta também referida por Borges [9], que verificou ocorrer mudanças nas características da urina, apresentando como se fosse uma mancha oleosa superficial, de aspecto espelhado. Pereira et al. [12] demonstraram, através de estudo com a Drenagem Linfática Manual (DLM), uma eficácia leve na aparência estética do FEG grau III ao término de 40 sessões, uma vez que a técnica promove um incremento do fluxo linfático fisiológico. Neste contexto, o presente estudo obteve resultado satisfatório com apenas 25% do número de sessões realizadas por Pereira et al. [12]. Conclui-se que a utilização da eletrolipólise foi eficaz no tratamento do FEG grau III, tendo em vista o biotipo tratado, bem como a utilização da Biofotogrametria Computadorizada como meio de avaliação quantitativa da evolução do tratamento que se mostrou um instrumento eficaz. Referências 1. Meyer PF, Lisboa FL, Alves MCR, Avelino, MB. Desenvolvimento e aplicação de um protocolo de avaliação fisioterapêutica em pacientes com fibro edema gelóide. Fisioter Mov 2005;1(18):75-83. 2. Borges FS. Dermato-Funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte; 2006. 3. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos, patologias. 3a ed. São Paulo: Manole; 2002. 4. Ulrich W. A celulite é curável. Rio de Janeiro: Tecnoprint; 1982. 5. Campos MSP. Curso de fisioterapia estética corporal. [Apostila]. [s. l.]; 2000. 58 6. Dalsaso JC. Fibro edema gelóide: um estudo comparativo dos efeitos terapêuticos, utilizando ultra-som e endermologia-dermovac, em mulheres não praticantes de exercício físico [TCC]. Santa Catarina: Universidade do Sul de Santa Catarina; 2007. 7. Silva MT. Eletroterapia em estética corporal. São Paulo: Robe; 1997. 8. Zaragoza JR, Rodrigo P. Electroestética. Espanha: Nueva Estética; 1995. 9. Borges FS. Dermato-Funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2ª ed. São Paulo: Phorte; 2010. 10.Guyton A. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Interamericana; 1998. 11.Marchiori FM. Estudo correlacional entre índice de massa corpórea e as alterações posturais [Monografia]. São Paulo: Centro Universitário Hermínio Ometto – Uniararas; 2004. 12.Pereira LMBN, Silva ID, Araújo VMS. Drenagem linfática manual no tratamento do fibro edema gelóide. Fisioterapia Ser 2008;3(3):180-83. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 13.Assumpção AC, Souza A, Máximo L, Cardoso MC, Borges, FS. Eletrolipólise (eletrolipoforese) In: Borges SF. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte; 2006. p.217-25. 14.Infopédia. Análise quantitativa. Porto: Porto; 2003-2009. 15.Baraúna MA, Canto RST, Schulz E, Silva RAV, Silva CDC, Veras MTS, et al. Avaliação da amplitude de movimento do ombro em mulheres mastectomizadas pela biofotogrametria computadorizada. Revista Brasileira de Cancerologia 2004;1(50):27-31. 16.Baraúna MA, Duarte F, Sanchez HM, Canto RST, Malusá S, Silva CDC et al. Avaliação do equilíbrio estático em indivíduos amputados de membros inferiores através da biofotogrametria computadorizada. Rev Bras Fisioter 2006:1(10):83-90. 17.Volpi AAA, Vasquez ACB, Deloroso FT, Giusti HHKD. Análise da eficácia da vacuoterapia no tratamento do fibro edema gelóide por meio da termografia e da biofotogrametria. Fisioter Bras 2010;11(1):70-7. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 59 Relato de caso Terapia manual na restauração da amplitude articular do ombro em mulher mastectomizada Manual therapy in restoring shoulder joint range of motion in woman after mastectomy Juliana Furtado Martins, Ft.*, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Ft.*, Leila Beuttemüller Cavalcanti Soares, Esp.**, Kátia Virginia Viana Cardoso, M.Sc.***, Maria de Fátima Arcanjo da Ponte Moreira, Esp.****, Raimundo Hermelinda Maia Macena, D.Sc.***** Teresa Maria da Silva Câmara, Esp.******, Cristiano Teles de Sousa, M.Sc.*******, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, D.Sc.******** *Faculdade Estácio do Ceará (Estácio/FIC), **Fisioterapeuta do Instituto Dr. José Frota, Docente da Faculdade Estácio do Ceará, ***Docente da Universidade Federal do Ceará, Doutoranda em Ciências Médicas na Universidade Federal do Ceará, ****Docente da Faculdade Estácio do Ceará, *****Docente da Universidade Federal do Ceará, ******Fisioterapeuta do Hospital Maria José Barroso de Oliveira (Frotinha da Parangaba), Docente da Faculdade Estácio do Ceará, *******Docente da Faculdade Estácio do Ceará, Doutorando em Farmacologia na Universidade Federal do Ceará, ********Fisioterapeuta do Instituto Dr. José Frota, Docente da Faculdade Estácio do Ceará e Universidade Federal do Ceará Resumo Abstract Este trabalho teve como objetivo verificar a efetividade da terapia manual na restauração da amplitude articular do ombro homolateral à mastectomia. Foi realizado um estudo de caso, de caráter descritivo, intervencional, exploratório, longitudinal com estratégia de análise quantitativa dos resultados, com uma paciente proveniente da Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (FISIOFIC), acometida por carcinoma mamário, pós-operada, com 74 anos de idade, que apresentava limitação na amplitude articular do ombro homolateral à cirurgia e não apresentava linfedema. Inicialmente, através de uma ficha de avaliação, conhecemos a história desta paciente, além de particularidades quanto à amamentação, ao tipo de tratamento que foi realizado, às complicações devido ao tratamento e aos graus de amplitude através da goniometria. Para a coleta dos dados foi realizada uma avaliação inicial e após 10 atendimentos utilizando a terapia manual, foi feita uma reavaliação, quando foi detectada a melhora na ADM através da goniometria. Foi detectada uma evolução nos movimentos articulares do ombro, diminuindo a diferença entre os valores obtidos na primeira e segunda amostra com os valores de normalidade da amplitude de movimento, concluindo que a terapia manual pode ser um novo recurso na prevenção e tratamento de complicações funcionais em mulheres mastectomizadas. This study aimed to verify the effectiveness of manual therapy on recovery of homolateral shoulder following mastectomy. A descriptive, interventional, exploratory and longitudinal case study was carried out, with a quantitative analysis of results. It was composed of a patient from the School of Physical Therapy Clinic of Faculdade Estácio do Ceará (FISIOFIC), with mammary carcinoma, post-surgery, 74 years old, who had limitation on homolateral shoulder range of motion following mastectomy, but did not have lymphedema. Initially, we used medical records to know the patient’s history, besides particularities concerning breast-feeding, type of treatment that was carried out, complications due to treatment and levels of range of motion using goniometry. Data collection was performed with an initial evaluation and after 10 sessions of manual therapy, when it was detected an improvement in the range of motion using goniometry. We observed a gradual development of shoulder range of motion, reducing differences between the first and second samples with the restoration of range of motion, concluding that the manual therapy can be a new resource on the prevention and treatment of functional complications in women who underwent mastectomy. Key-words: mastectomy, physical therapy modalities, physical therapy. Palavras-chave: mastectomia, modalidades de fisioterapia, fisioterapia. Recebido 15 de agosto de 2011; aceito em 14 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, Rua Monsenhor Catão, 1200/502, 60175-000 Fortaleza CE, Tel: (85)3224-2317, E-mail: [email protected] 60 Introdução O câncer, atualmente, é uma das principais causas de óbito no mundo, acometendo igualmente ambos os sexos, sendo que no feminino os carcinomas de maior incidência são pulmonar, mamário, cólon e reto [1]. Em relação ao sexo feminino, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) menciona que dentro do contexto mundial, o câncer de mama é o segundo mais comum e é o primeiro nesse sexo, com cerca de um milhão de casos novos [2,3]. Esse Instituto aponta que a Holanda é o país com a maior incidência, com uma taxa ajustada por idade de 90,2/100.000 habitantes. Nos Estados Unidos, a taxa é de 86,9/100.000. Sendo o percentual elevado igualmente na Europa, Austrália, Nova Zelândia e na América do Sul, especialmente no Uruguai e na Argentina [4]. No Brasil as informações processadas pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) mostram que, na década de 90, esta foi a patologia mais frequente no país. As maiores taxas de incidência foram observadas em São Paulo, no Distrito Federal e em Porto Alegre. O câncer de mama é uma patologia complexa e heterogênea, com formas de evolução lenta ou rapidamente progressivas, dependendo do tempo de duplicação celular e outras características biológicas de progressão. As lesões neoplásicas da mama podem se originar em qualquer uma das estruturas que a compõe: epitélio glandular, mesênquima e epiderme [5]. Pereira, Vieira e Alcântara [6] destacam que o carcinoma ductal vem a ser um tumor mamário mais comum e que ainda pode torna-se invasivo em cerca de 70% dos casos, dando origem a metástases ganglionares em 1% a 13% dos casos. Após a confirmação do diagnóstico, a mulher sofre diversas alterações, pois é submetida a condutas terapêuticas que geram repercussões bio-psico-sociais conduzindo-a a mudanças bruscas de comportamento, além dos desconfortos e debilidades físicas [7,8]. Esses procedimentos terapêuticos envolvem a cirurgia, terapia auxiliar e fisioterapia. Compreendendo a cirurgia temos: a tumorectomia, quadrantectomia e mastectomia, sendo essa última a mais traumática. No tratamento farmacológico existem terapias como a radioterapia e a quimioterapia [5]. Segundo Baracho [9] e Camargo, Marx [5] as complicações que podem ocorrer devido ao tratamento das pacientes mastectomizadas são lesão nervosa, necrose cutânea, seroma, infecção, disfunção do ombro, linfedema, encarceramento nervoso, deiscências cicatriciais e aderência cicatricial. Há algumas décadas tem crescido o interesse em se adotarem estratégias de reabilitação em pacientes com carcinoma mamário, para que estas se recuperem física e mentalmente. Conforme pesquisas, uma das maiores queixas do paciente no pós-operatório é a sequela relacionada com o aspecto físico [9]. No que se refere ao procedimento fisioterápico, em seu âmbito pré e pós-operatório, apresenta o intuito de prevenir complicações, recuperação funcional, realizar a reeducação da Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 cintura escapular e do membro superior ipsilateral à cirurgia, cuidados com as cicatrizes e prevenção de complicações linfáticas, entre outros propósitos, objetivando uma melhor qualidade de vida [10]. A cintura escapular constitui o complexo articular do ombro que é formado pelas articulações: escápulo-umeral, subdeltóide, escápulo-torácica, acrômio-clavicular e esternocostoclavicular [11]. É de essencial importância lembrar que os músculos e os elementos ósseos das cinturas escapulares e membros superiores recobrem quase por completo a parede torácica. Deste modo, na abordagem cirúrgica da mama, ocorrem alterações funcionais na cintura escapular e no membro superior ipsilateral a cirurgia [5]. Para a restauração das alterações ocasionadas pela mastectomia, a fisioterapia dispõe de recursos como: massagem de drenagem linfática, bandagem compressiva, pressoterapia, mecanoterapia e cinesioterapia [12]. A terapia manual poderia ser um novo recurso a completar o tratamento dessas pacientes, já que apresenta como alguns de seus objetivos o alívio da dor, a diminuição do edema e o ganho de mobilidade [13]. Este estudo surgiu na necessidade de avaliar os benefícios da terapia manual na restauração da amplitude articular, acreditando que desta forma possamos estar contribuindo não só para melhora da qualidade de vida dessa paciente, e de outras que possam utilizar essa terapia, bem como para o profissional fisioterapeuta especialista na área, com a oferta de mais uma técnica fisioterápica no tratamento dessas mulheres. Tendo como o objetivo geral verificar a efetividade da terapia manual na restauração da amplitude articular do ombro em uma mulher mastectomizada, e como específico identificar os movimentos do ombro em que essa mulher apresenta maior grau de comprometimento após a cirurgia; estabelecer um protocolo de terapia manual que será utilizada para restaurar a amplitude articular do ombro afetado pela mastectomia; detectar a efetividade do protocolo a ser realizado para restauração da amplitude articular do ombro homolateral à cirurgia nessa mulher. Material e métodos Este trabalho corresponde a um estudo de caso de caráter descritivo, intervencional, exploratório, duplo cego, longitudinal e com estratégia de análise quantitativa dos resultados. Foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (FISIOFIC), após ter sido aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Faculdade Estácio do Ceará (Protocolo nº: 32/06) e manifestação da paciente em participar da pesquisa mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A paciente E.S.O., tratada no estudo tinha 74 anos de idade, viúva, mãe de três filhos, acometida por carcinoma mamário no lado direito, pós-operada (fevereiro de 2006) de mastectomia modificada do Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 tipo Madden com esvaziamento axilar, no qual foi retirado um carcinoma ductal infiltrativo, grau II de Bloom-Richardson (graduação histológica para determinar o estadiamento do câncer), depois da cirurgia fez mais três aplicações de quimioterapia e vinte e oito aplicações de radioterapia, sendo a última realizada em agosto de 2006. No dia 18 de setembro de 2006 foi realizada a primeira avaliação fisioterapêutica, a paciente apresentou limitação na amplitude articular do ombro homolateral à cirurgia e não apresentava linfedema. O estudo iniciou por meio de uma avaliação, na qual foi caracterizada a cirtometria (identificar presença de linfedema), a goniometria (verificar a amplitude articular dos movimentos do ombro) e a dificuldade de realizar atividades da vida diária. De acordo com Camargo e Marx [5], a cirtometria se baseia em várias tomadas de medidas dos membros em espaços regulares e pré-definidos, onde se inicia a medição tomando-se a prega anterior do cotovelo como ponto de partida. Deste ponto para cima, marcam-se as distâncias, por exemplo, a cada 5 cm, e o mesmo procedimento repete-se abaixo da prega do cotovelo. As medidas devem ser tomadas nos dois membros, nos mesmos pontos, pois o membro contralateral à cirurgia é a referência padrão. A paciente foi submetida diariamente, por um período de 10 dias úteis, ao tratamento fisioterapêutico, com base em técnicas de terapia manual, que visam aumentar a amplitude de movimento, favorecer a circulação, relaxar a musculatura, liberar bloqueios e compressão articular. O protocolo de tratamento utilizado foi pompage dos músculos peitoral maior, peitoral menor, da articulação do ombro, além de liberação escapular, do músculo deltóide, da articulação glenoumeral através de movimentos em forma de oito e inibição do músculo trapézio superior. Com isso, esse tratamento teve como meta o aumento da amplitude articular, relaxamento da musculatura, melhora da circulação, liberação de bloqueios articulares e musculares, bem como de aderências nessa região. Pompage: é uma abordagem do método osteopático, que consiste em uma decoaptação lenta no eixo da articulação, manutenção e retorno progressivo a posição fisiológica [13]. A técnica da pompage é realizada em três tempos que consistem no tensionamento, na manutenção desse tensionamento e por fim o retorno da estrutura à posição de início. Todos os movimentos devem ser realizados sem provocar reações de defesa pelo reflexo miotático [14]. Inibição muscular: é outro tipo de tratamento da osteopatia, sendo feita através de técnicas de posicionamento muscular com o objetivo de tratar espasmos musculares por inibição miotática. A inibição ocorre ao se aproximar a origem e a inserção de um músculo, assim se deve encurtar ao máximo de modo a inibir as estimulações do receptor anulo espiral [13]. Mobilização articular: é um procedimento de terapia manual em que uma força passiva é usada para tirar proveito do jogo articular para aumentar a amplitude de movimento. 61 Designa uma técnica de movimento passivo executada a qualquer velocidade [15]. Após os 10 atendimentos a paciente foi submetida a uma reavaliação, averiguando a cirtometria de ambos os membros superiores e a goniometria dos movimentos do ombro ipsilateral à cirurgia, bem como as retrações e aderências após a terapia aplicada. Este trabalho seguiu os aspectos éticos que envolvem a pesquisa com seres humanos de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS) [16], assim como da resolução do COFFITO 10/78 [17], tendo o sujeito do estudo a garantia da confidencialidade, do anonimato, da não utilização das informações em prejuízo do indivíduo e do emprego das informações somente para os fins previstos dessa pesquisa. Resultados Durante a avaliação fisioterapêutica a paciente relatou que não apresentava dificuldades em realizar suas atividades da vida diária, porém, com certa limitação na realização dos movimentos do ombro ipsilateral à cirurgia. Quanto à postura, a paciente apresentava hipercifose cervical, hiperlordose lombar, escoliose à esquerda, cintura escapular saliente a direita, ombros direito e esquerdo anteriorizados e ombro esquerdo mais elevado com relação ao direito e rotação da cabeça para a direita. Realizamos a cirtometria nos membros superiores, sendo detectada ausência de diferença relevante entre os dois membros, confirmando que a mesma não apresenta linfedema, essa ausência de diferença foi também evidenciada após os 10 atendimentos. A amplitude articular do ombro, examinada através de medidas goniométricas, a partir de movimentação ativa, apresentou um aumento percentual em todas as amplitudes avaliadas após os dez atendimentos de terapia manual, sendo que o movimento de rotação interna foi o que mais ganhou amplitude articular com a diferença de 50 graus, ou seja, 66%, e o de rotação externa o menor ganho com um percentual de 16%, correspondendo a um ganho de 10º. Porém a adução foi o movimento que conseguiu recuperação na sua amplitude articular para a faixa de normalidade (Quadro 1). Além da dificuldade de desempenhar movimentos de ombro, outro fator que a incomodava era a aderência da cicatriz, que pode ocorrer devido à fibrose cicatricial cirúrgica, que normalmente gera progressivamente aderências entre os planos teciduais limitando o movimento normal entre eles. Discussão Não existem medidas práticas específicas de prevenção primária do câncer de mama aplicáveis à população, embora estudos observacionais tenham sugerido que a prevenção do tabagismo, alcoolismo, obesidade e sedentarismo reduzem Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 62 Quadro 1 - Distribuição dos dados goniométricos antes e após o tratamento. Valores normais baseado em Marques [18]. Movimentos do ombro antes Flexão 95º Extensão 20º Abdução 90º Adução 20º Rotação externa 60º Rotação interna 30º depois 125º 40º 110º 40º 70º 80º diferença 30º 20º 20º 20º 10º 50º diferença (%) 31% 20% 22% 20% 16% 66% valores normais 180º 45º 180º 40º 90º 90º Fonte: Dados da pesquisa. o risco de câncer de mama. Avanços tecnológicos têm sido direcionados ao diagnóstico e tratamento precoces, no sentido de melhorar a sobrevida das pacientes [4]. Kumar, Abbas e Fausto [19] destacam que a incidência do câncer de mama aumenta durante a vida da mulher, sendo que 77% dos casos ocorrem em mulheres acima de 50 anos de idade. Ressaltam que quanto mais tempo a mulher amamentar, maior a redução do risco de carcinoma mamário. Assim como há evidências que o risco aumentado está associado à neoplasia de mama contralateral ou endométrio devido, provavelmente, aos fatores de risco hormonais compartilhados para esses tumores. Esses fatores de risco podem ser evidenciados na paciente em estudo, visto que, a mesma estava na faixa etária predisponente ao câncer mamário, ter amamentado por um curto período de tempo e reincidência da neoplasia. Ahmed Omar et al. [20], em estudo com mulheres mastectomizadas, destacaram que o linfedema é um sintoma comum após a mastectomia, e tem um potencial para se tornar uma condição progressiva e extremamente resistente ao tratamento. Resultando em comprometimento da função e na qualidade de vida, porém a paciente participante do estudo não apresentava linfedema. Vimos em sua história que fez uso de quimioterapia antes e após a mastectomia, além da radioterapia. Barros et al. [21] explicam que dependendo do grau de estadiamento do câncer, como um tipo de tratamento, é feita a quimioterapia neoadjuvante que tem como objetivo reduzir o tumor localmente, para proporcionar margens de segurança e permitir um melhor resultado cirúrgico ao mesmo tempo em que se avalia a sensibilidade do tumor às drogas [22]. Para o carcinoma localmente avançado da mama, o tratamento realizado é a quimioterapia de indução, seguida de cirurgia, radioterapia e quimioterapia adjuvante, que é o quimioterápico aplicado imediatamente após a remoção cirúrgica do tumor primário. Baracho [9] esclarece que pode ocorrer uma limitação pós-radioterapia que se deve à fibrose subcutânea com a fixação na musculatura inferior e não especificamente a fibrose dos músculos, tendões ou nervos, porém, Camargo e Marx [5] já haviam descrito que em pacientes submetidas a um período longo de radioterapia pode ser observada uma dificuldade de alongamento e deslizamento, além da contratura muscular. Segundo Kisner e Colby [23] a ADM é o movimento completo possível de um segmento, sendo mantida por movimentação periódica deste membro. Um dos fatores que aumenta o estresse do pós-operatório com uma limitação articular das regiões circunvizinhas é a posição de extrema amplitude do membro superior durante o ato cirúrgico, já que contribui para o desenvolvimento de retrações e lesões musculotendinosas e articulares pós-operatórias. Existem evidências que imediatamente no pós-operatório nota-se uma dificuldade de movimentação da articulação do ombro, que se acredita ocorrer devido ao trauma da cirurgia e à presença de drenos logo após a mesma [5]. Beurskens et al. [24] em um estudo randomizado e controlado com uma amostra de 30 pacientes em pós-cirúrgico de câncer de mama e esvaziamento axilar, realizaram um tratamento fisioterápico composto por mobilizações no ombro e cintura escapular, obtiveram após 3 e 6 meses uma melhora significativa na ADM do ombro, diminuição da dor e qualidade de vida. A reeducação da cintura escapular e do membro superior é uma necessidade básica na paciente operada de câncer de mama, seja qual for a técnica cirúrgica empregada. Seu objetivo principal é restabelecer o mais rápido possível a função do membro [25]. Batiston e Santiago [26] evidenciam que, independente da técnica cirúrgica radical ou conservadora, a dissecção axilar tem sido um tratamento padrão para o câncer de mama. Esse procedimento, quando realizado de forma isolada, mas principalmente em conjunto com a radioterapia pós-operatória, pode causar morbidade severa no membro superior homolateral à cirurgia, além de parestesias, diminuição da força muscular e redução da ADM do membro [27]. Na paciente em estudo, foi evidenciada uma redução de todos os movimentos articulares antes da terapia, os quais foram aumentados após as dez intervenções. Destacou-se um acréscimo, tendendo aos valores normais, para os movimentos de extensão, rotação externa e interna, porém, só atingindo a amplitude normal no movimento de adução, e uma dificuldade em atingir os valores normais para os movimentos de flexão e abdução. Ressaltamos que, se o tratamento fosse prolongado a paciente poderia ter ganhado a amplitude completa de todos os movimentos. Confirmando nossos achados, Camargo e Marx [5] ressaltam que a flexão de ombro é um dos movimentos que mais apresenta comprometimento após a mastectomia, devido à dor proveniente da tração exercida na cavidade axilar, na parede torácica e no membro superior. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Os mesmos autores relataram que assim como o movimento de flexão, a abdução, é outro movimento que se demonstra limitado após a cirurgia de câncer de mama, pois a cicatriz da cavidade axilar é um fator limitante de movimento. Nossos dados revelam um aumento percentual na amplitude desses movimentos após a terapia empregada. Conforme Bienfait [14], de acordo com as circunstâncias de sua utilização as pompages podem ter diferentes objetivos. Podem ser realizadas para favorecer a circulação, liberando os bloqueios e as estases; para obter um relaxamento muscular e combater a degeneração cartilaginosa, pois restabelecem o equilíbrio hídrico da cartilagem ou ao menos, limitam o ressecamento. Segundo Bandy e Sanders [15] a mobilização articular possui efeitos na melhora da resposta tecidual, quando há lesão ou imobilização da cápsula articular, ocorre uma maior produção de colágeno deixando à cápsula mais espessa, com a mobilização, as fibras de colágeno irão se reorganizar e as aderências na cápsula podem se romper; possibilita uma nutrição global da articulação pelo movimento do líquido sinovial e estímulo dos mecanoceptores tipo I e II na cápsula articular que reduzem a dor. Há evidências classificadas com o nível B para a utilização da terapia manual em alguns distúrbios do ombro e cintura escapular, como no caso, em lesões do manguito rotador, capsulite adesiva e transtornos de tecidos moles [28]. Apesar de o movimento de rotação externa ser considerado outro movimento do ombro que mostra debilidade funcional após a mastectomia, a paciente em estudo não apresentava redução considerável na amplitude após a cirurgia. Contudo, após a terapia esse movimento foi o que apresentou menor acréscimo, em termos percentuais, na amplitude. Springer et al. [29] realizaram um estudo com a utilização de fisioterapia no pré e pós-operatório de câncer de mama, e evidenciaram que as pacientes tratadas prospectivamente por um fisioterapeuta, obtiveram uma melhora dos déficits funcionais, diminuição da dor e aumento da ADM para os movimentos de abdução, flexão e rotação externa do ombro. Para a rotação interna de ombro a amplitude de movimento foi de 30º, sendo obtido após intervenções 80º de amplitude de movimento. Ocorrendo uma melhora considerável, com acréscimo de 50 graus (66%), apesar de não ter obtido a amplitude de movimento considerada normal por Marques [18]. Muitos pacientes sofrem com queixas graves no ombro após a cirurgia de câncer de mama e esvaziamento axilar. A fisioterapia tem se destacado na melhora do prognóstico desses pacientes, entretanto, ainda não existem evidências científicas sobre o período de início da terapia e nem tão pouco sobre a utilização de tratamentos por um período prolongado. Estudos maiores, com pelo menos 1 ano de follow-up com medidas da função do ombro, dor, edema e qualidade de vida são necessários [24]. A fisioterapia desempenha um importante papel na vida das mulheres mastectomizadas, pois além de significar um 63 conjunto de possibilidades terapêuticas físicas passíveis de intervir desde a mais precoce recuperação funcional até a profilaxia das sequelas [30], pode diminuir o tempo de recuperação, com retorno mais rápido às atividades cotidianas e ocupacionais, colaborando com sua reintegração à sociedade, sem limitações funcionais [8,31,32]. Conclusão O carcinoma mamário faz com que as mulheres acometidas sofram alterações funcionais, principalmente devido aos tratamentos que são realizados, pois os mesmos são traumáticos. A fisioterapia vem como uma alternativa de prevenir e tratar essas alterações, sendo a terapia manual um recurso nas disfunções do ombro ipsilateral à cirurgia. A partir deste trabalho, que corresponde a um estudo de caso, podemos observar quantitativamente a evolução da paciente após dez atendimentos realizados com terapia manual, através de medidas goniométricas da amplitude articular dos movimentos do ombro. Assim, concluímos que conforme o quadro de evolução considerável apresentada nas medidas goniométricas dos movimentos do ombro homolateral a mastectomia, a terapia manual comprova sua efetividade no tratamento, podendo ser um recurso a mais para completar a reabilitação funcional do ombro destas mulheres. Referências 1. Peregrino AAF, Coelho Cd, Vianna CMM, Coeli CM, Vianna D, Werneck GL, et al. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 65 Revisão Diabetes na gestação e incontinência urinária: uma associação pouco reconhecida Diabetes in pregnancy and urinary incontinence: a little acknowledged association Gabriela Marini*, Fernanda Piculo*, Angélica Mércia Pascon Barbosa*, Débora Cristina Damasceno*, Iracema de Mattos Paranhos Calderon*, Selma Maria Michelin Matheus**, Rodrigo de Aquino Castro***, Marilza Vieira Cunha Rudge* *Laboratório de Pesquisa Experimental de Ginecologia e Obstetrícia, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo, **Departamento de Anatomia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo, ***Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo Resumo Abstract Incontinência Urinária (IU) feminina é definida como toda perda involuntária de urina. É uma condição frequente, de alto custo econômico para o governo e que implica em danos físicos, psicológicos, sociais e pior qualidade de vida para as mulheres. Inúmeros são os fatores de risco envolvidos no desenvolvimento da IU, porém a associação com o diabetes mellitus (DM) é de grande interesse atualmente. DM afeta múltiplos sistemas orgânicos, incluindo o sistema urinário em aproximadamente 52% dos pacientes diabéticos e dos que apresentam apenas hiperglicemia, porém ainda não é totalmente explicada a associação entre diabetes mellitus gestacional e IU. O profissional de saúde deve estar atento a esse novo parâmetro e procurar analisá-lo de forma mais pormenorizada para que medidas profiláticas e terapêuticas sejam estabelecidas. Há necessidade de delinear a cronologia da relação entre DMG e as complicações urinárias, a relação entre o diabetes controlado e a incidência de incontinência e modalidades de tratamento efetivo para pacientes diabéticos com sintomas no trato urinário inferior. Urinary incontinence (UI) in women is defined as any involuntary urine loss. This is a frequent condition of high economic cost to the government that also results in women’s physical, psychological and social damage and impaired quality of life. Various risk factors are involved in UI development; however, association with diabetes mellitus (DM) is of great interest at present. DM affects multiple organ systems, including the urinary system in approximately 52% of diabetic patients and in those showing only hyperglycemia; however, the association between gestational diabetes mellitus and UI has not been fully explained. Health care professionals must be attentive to this new parameter and attempt to analyze it in more detail so that prophylactic and therapeutic measures can be established. It is necessary to delineate the chronology of the relationship between gestational diabetes mellitus and urinary complications, the relationship between controlled diabetes and the incidence of incontinence as well as effective treatment modalities for diabetic patients with symptoms in the lower urinary tract. Palavras-chave: diabetes, gestação, incontinência urinária. Key-words: diabetes, pregnancy, urinary incontinence. Recebido 19 de maio de 2011; aceito em 10 de dezembro de 2011. Endereço de correspondência: Marilza Vieira Cunha Rudge, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp, 18618-000 Botucatu SP, E-mail: [email protected] 66 Introdução Incontinência Urinária (IU) feminina é definida como toda perda involuntária de urina [1]. É uma condição frequente, de alto custo econômico para o governo e que implica em danos físicos, psicológicos, sociais e pior qualidade de vida para as mulheres [2,3]. A epidemia mundial de obesidade e diabetes tipo 2 (DM2) tem implicação significativa na ocorrência de IU na mulheres [4]. Entretanto os mecanismos pelo quais o diabetes contribui pelo desenvolvimento e severidade desta IU não estão bem definidos. O diabetes está relacionado com a força muscular e prejuízo na função física, e pode refletir a conexão entre as funções metabólicas e mecânicas do músculo. Há uma relação temporal entre o diagnóstico do DM2 e o subsequente desenvolvimento da fraqueza muscular associada com complicações como a amiotrofia diabética. A hiperglicemia pode afetar a função contrátil e a geração de força no músculo [5]. Em estudo realizado em 2006, ficou clara a associação entre Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) e aumento de IU e disfunção muscular do assoalho pélvico dois anos após a gestação. As gestantes com DMG apresentaram 50,8% de IU na gestação comparado com 31,6% nas não diabéticas (p < 0,05). A presença de DMG aumentou não apenas a ocorrência de UI dois anos após o parto, mas também associou-se com aumento de IU na gestação [6]. Esta associação é pouco reconhecida na literatura possivelmente porque ainda há outras preocupações dentro do binômio diabetes e gravidez a serem resolvidas. Evolução histórica do DMG O século 20 testemunhou a mudança do acompanhamento da gestante diabética. No início do século as diabéticas morriam, depois sofriam de infertilidade e raramente tinham gravidez a termo com sucesso. O advento da insulina em 1922 aboliu a morte materna e ao longo do século passado todo esforço foi feito para aprimorar o resultado perinatal. A primeira preocupação foi com o momento do parto e posteriormente com as complicações perinatais decorrentes da hiperglicemia intrauterina como a macrossomia fetal [7]. A classificação clínica de White [8] estabeleceu relação direta entre a gravidade do quadro clínico materno e o momento do parto e foi fundamental na redução da morte perinatal. Em decorrência, houve aumento significativo das taxas de cesárea nessa população [9]. Apesar de todo esforço ainda nos dias de hoje a morte perinatal, excluídos os casos de malformação congênita, é pouco acima da encontrada na população não diabéticas [10]. No momento atual a literatura está voltada para resolver o problema das malformações fetais e da grande epidemia de diabetes e obesidade no mundo que vem repercutindo no aumento das gestações complicadas por diabete. É de Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 se imaginar que neste século a preocupação neste binômio esteja focada para evitar a ocorrência de malformação fetal, encontrar métodos diagnósticos mais refinados e precoces, e também aprofundar o conhecimento em repercussões mais sutis do DMG no organismo materno. Apesar de o diabetes ser a complicação médica mais comum na gestação, não se encontram relatos nos livros textos de obstetrícia da associação entre GDM e IU. A classificação recomendada é baseada na qualidade do controle metabólico materno e enfatiza que o comprometimento de órgãos alvos como rim, olhos e coração tem efeito significativo no resultado da gestação. Não há nessa classificação nenhuma referência ao comprometimento de vias urinárias baixas nas gestantes diabéticas e se esse pode ser um fator agravante do prognóstico materno e perinatal. Diabetes na gestação Diabetes mellitus (DM) é uma das mais comuns desordens endócrinas que acomete em torno de 7% da população mundial sendo que cerca de 50% dos seus portadores desconhecem o diagnóstico [11]. As gestantes diabéticas podem ser separadas em dois grandes grupos: as que já tinham o diagnóstico de diabetes antes da gestação (diabéticas clínicas) e as que são diagnosticadas na gestação (diabéticas gestacionais). Estima-se que 10% delas têm diabetes clínico e 90% diabetes gestacional [7]. O número total de pessoas com diabetes é projetado para crescer de 171 milhões em 2000 para 366 milhões em 2030. Seu crescimento acompanha o crescimento e o envelhecimento populacional, a urbanização e o aumento da prevalência de obesidade e de sedentarismo [12]. Esse crescimento da população de diabéticos no mundo deverá não só aumentar a sua ocorrência na gestação como também alterar a proporção de diabéticas clínicas e gestacionais. Diabetes mellitus e incontinência urinária DM afeta múltiplos sistemas orgânicos, incluindo o sistema urinário em aproximadamente 52% dos pacientes diabéticos e dos que apresentam apenas hiperglicemia. Vários estudos epidemiológicos vêm observando o aumento de risco (50 a 200% mais comum) de IU entre mulheres com DM2 quando comparado às mulheres com níveis normais de glicose [13]. Inúmeros são os fatores de risco envolvidos no desenvolvimento da IU, porém a associação com o diabetes é de grande interesse atualmente. O diabetes, circunferência da cintura, paridade, baixo suporte social estão associados com o aumento na prevalência da Incontinência Urinária de Esforço (IUE), enquanto o alto índice de massa corporal, e saúde prejudicada estão associados com IU incidente [14]. A IU também é comum entre mulheres com DM1, e fatores de risco incluindo idade avançada, aumento do peso, Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 infecção urinaria prévia, são importantes. A redução no peso e o tratamento das infecções podem prevenir a IU ou reduzir sua severidade [15]. A prevalência de IU em um grupo de 1.585 mulheres com mais de 20 anos foi de 49,5%. A IU foi significantemente associada com maior idade, baixo nível de educação, infecção recorrente no trato urinário, diabetes mellitus, a história de enurese noturna na infância, medicamentos diuréticos e IMC [3]. Também foi caracterizada como mais severa nas mulheres com DM [16]. A IU de urgência foi mais prevalente em mulheres não diabéticas, enquanto a IU mista e IUE foi mais prevalente nas diabéticas. Das diabéticas, 41% reportaram IU e o DM foi um fator independente determinante da IU [17]. A IU foi reportada por 65% das mulheres com DM1. Destas 40% estavam muito aborrecidas com sua incontinência e 9% acreditavam que isto afetava sua atividade diária. As mulheres com DM1 tinham o dobro da prevalência de urge-incontinência semanal comparadas com mulheres sem diabetes. Além disso, a prevalência de IU foi maior que de neuropatia, retinopatia e nefropatia. Estes achados destacam a importância do rastreamento da incontinência urinaria entre mulheres com DM1 [18]. Brown et al. [13] encontraram alta incidência de IU em mulheres com DM2 ou com hiperglicemia quando comparadas com mulheres com níveis normais de glicose. Esse levantamento da literatura evidencia claramente que já é reconhecida a associação de diabetes e IU. Apesar disso, o significado clínico da IU, das repercussões a curto e longo prazo e da necessidade ou não de tratamento e profilaxia não estão estabelecidos. Diabetes na gestação e IU A associação entre o DMG e o aumento da prevalência de IU e disfunção muscular do assoalho pélvico foi claramente demonstrada por Barbosa et al. [19] que concluiu que a prevalência de IU gestacional e IU dois anos pós-parto foram significativamente mais elevadas entre mulheres com DMG do que entre gestantes normoglicêmicas. A análise multivariada demonstrou que o DMG foi um fator de risco independente para a ocorrência de IU gestacional. Kim et al. [20] também verificaram que 49% das mulheres com DMG reportaram incontinência frequente durante a gestação e 28% relataram que esta IU afetava sua atividade diária. Concluíram que a IUE é comum entre mulheres com DMG e parece não estar associada com os níveis de atividade física ou índice de massa corpórea. O DM também esteve associado com disfunção vesical, como anormalidades sensoriais que resultam em prejuízo na sensibilidade vesical, aumento da complacência e aumento no volume residual; IU; disfunção sexual em mulheres como, diminuição do desejo, dor no intercurso e inadequada lubrificação [21]. 67 Esses relatos da associação do DMG e IU são relativamente recentes na literatura, pouco conhecidos e pouco valorizados pela classe médica. Não há relatos na literatura do significado clínico materno dessa IU na gestação e nem das possíveis correlações entre a sua ocorrência e o desfecho materno e perinatal. Conclusão Apesar da alta prevalência de IU em diabéticas na gestação e fora dela, muitas mulheres não revelam sua incontinência para os clínicos e mesmo as que revelam recebem a explicação mais simples atribuída à poliúria causada pelo próprio DM. Trata-se de um conhecimento recente, deste século, a associação entre DMG e IU e sua relevância ainda não está estabelecida. O profissional de saúde deve estar atento a esse novo parâmetro e procurar analisá-lo de forma mais pormenorizada para que medidas profiláticas e terapêuticas sejam estabelecidas. Há necessidade de delinear a cronologia da relação entre DMG e as complicações vesicais, a relação entre o diabetes controlado e a incidência de incontinência e modalidades de tratamento efetivo para pacientes diabéticos com sintomas no trato urinário inferior. Agradecimentos Suporte Financeiro: FAPESP (Processo n° 2008/ 00989-4) Referências 1. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmsten U et al. 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Esp.**** *Fisioterapeuta, **Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiovascular, Universidade Federal de São Paulo Resumo Abstract A fisiologia normal da respiração é realizada preferencialmente por via nasal, para que o ar seja purificado, filtrado e aquecido antes de chegar aos pulmões. A sua normalidade é um importante estímulo de crescimento e desenvolvimento normal do indivíduo. Quando esse padrão respiratório é alterado para a respiração oral, conhecido como Síndrome do Respirador Bucal (SRB), ocasiona diversos desequilíbrios no organismo, tais como: alterações posturais, alterações respiratórias e faciais, e é um dos fatores que desencadeia as disfunções da articulação temporomandibular (ATM). Esta revisão teve como objetivo analisar a abordagem fisioterapêutica na disfunção da ATM em portadores da SRB na idade pré-escolar. Observou-se que estudos recentes relatam que a cinesioterapia é uma das técnicas importantes para o tratamento da disfunção da ATM, trazendo melhorias ao paciente, pois a repercussão dos exercícios terapêuticos melhora o quadro álgico e a mobilidade articular. Entretanto, sugere-se a realização de mais estudos referentes à aplicação da técnica de cinesioterapia em crianças com disfunções da ATM como resultado da SRB, visto que a carência de acervo é predominante nesta área. The normal physiology of breathing is performed through the nasal way; then the air is purified, filtered and warmed before going to the lungs. It is essential for the proper development of the individual. When this breathing pattern is changed to mouth breathing, it is known as mouth breathing syndrome (MBS), which causes several changes in the body, such as postural-respiratory-facial changes, and is one of the factors that trigger the temporomandibular joint disorder (TMJ). This literature review aimed to analyze the influence of physical therapy in the TMJ in patients with MBS in preschool age. It was noted that recent studies report that kinesiotherapy is an important technique for TMJ treatment, bringing improvements to the patient. However, we suggest that further studies concerning kinesiotherapy in children with TMJ as a result of MBS should be performed, as there is a lack of research in this area. Key-words: mouth breathing, temporomandibular joint disorders, kinesiotherapy. Palavras-chave: respiração bucal, transtornos da articulação temporomandibular, cinesioterapia. Recebido em 12 de julho de 2011; aceito em 7 de outubro de 2011. Endereço para correspondência: Jacyara Souto de Menezes Oliveira, Av. Conego Domingos Maltez, 52 Trem 689010-050 Macapá AP Tel: (96) 81185737, E-mail: [email protected], [email protected], nú[email protected], [email protected] 70 Introdução A função respiratória nasal é a primeira estabelecida ao nascimento, pois é através do nariz que ocorrem três importantes funções: umidificação, aquecimento e purificação do ar inspirado [1,2]. Considera-se, atualmente, que a normalidade da função naso-respiratória é um importante estímulo, entre outros, do crescimento e desenvolvimento facial normal. Caso esta função seja prejudicada, poderão acontecer desequilíbrios entre vários componentes morfo-funcionais e neuromusculares provocando consequentemente alterações faciais e posturais. Uma das situações na qual a função respiratória é prejudicada é a Síndrome do Respirador Bucal (SRB) [3,4]. Segundo estudos a prevalência da SRB descrita na literatura aparece em uma faixa etária tão ampla que dificulta comparações [5]. Entre os estudos realizados em portadores da SRB, temos a pesquisa obtida na rede escolar do município de Juiz de Fora, na qual se observou que em uma amostra de 649 crianças, com idades de 6 a 12 anos, uma prevalência de 59,5% eram de Respirador Bucal [4]. A SRB pode estar associada a várias causas, dentre elas o aumento de adenóides, amígdalas, cornetos e conchas nasais, desvio obstrutivo do septo nasal, rinite alérgica, deformidades nasais ou faciais e, mais raramente, por corpos estranhos [5]. Este tipo de respiração (bucal) altera o tônus da musculatura facial, prejudicando as funções de mastigação e de deglutição, assim como modifica a postura corporal do indivíduo, que se torna, com o tempo, fonte de dor [1]. Quando há obstrução das vias aéreas superiores por longo período, agrava-se a mecânica ventilatória e ocorre um desequilíbrio das forças de distensão e contração dos músculos da porção inferior da face (principalmente o orbicular e o bucinador), provocando disfunções temporomandibulares [3]. A médio ou a longo prazo, a respiração bucal poderá acarretar prejuízos, muitas vezes irrecuperáveis, como alterações do tórax e da postura; alterações faciais (musculares e ósseas), principalmente durante a fase de crescimento [1]. A SRB é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que podem estar presentes completa ou incompletamente em indivíduos que, devido a motivos diversos, substituem o padrão correto de respiração nasal por um padrão bucal ou misto [3,6]. A respiração predominantemente bucal desencadeia necessidades posturais adaptativas, como, por exemplo, o posicionamento inferiorizado da mandíbula e a condução a um padrão de crescimento vertical [1], podendo ocasionar a alteração funcional da articulação temporomandibular, levando o indivíduo a dor e deformidades nos músculos e articulações faciais [7]. Caso a síndrome do respirador bucal não seja diagnosticada e tratada precocemente, a instabilidade postural poderá transformar-se em deformidade esquelética degenerativa provocando graves e profundas consequências [1]. Deste modo, o tratamento desta desarmonia torna-se extremamente importante, e indispensável à participação de uma equipe mul- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 tidisciplinar que se mantenha articulada em suas condutas; nessa equipe, a fisioterapia possui papel fundamental [6-8]. O tratamento fisioterapêutico tem por objetivo aliviar a dor músculo esquelética, reduzir a inflamação e restaurar a função motora oral, o que resulta na diminuição da administração de medicamentos a fim de combater a dor inerente à disfunção [9-11]. Cada vez mais se houve falar do tratamento conservador, não invasivo, aplicado à disfunção da ATM. O tratamento conservador envolve a combinação de procedimentos como orientações, terapias com placas oclusais, farmacoterapia e fisioterapia. Terapias com laser, ultrassom terapêutico, estimulação nervosa transcutânea (TENS), terapia manual e iontoforese têm sido realizadas e mostrado grande valor no tratamento da articulação [12]. Os exercícios terapêuticos têm sido empregados na reabilitação e prevenção das disfunções temporomandibulares [13]. Dentre esses exercícios, a cinesioterapia tem se mostrado uma técnica de fácil aplicação e baixo custo, visto que um dos objetivos deste tipo de recurso é proporcionar o ganho de ADM para que haja mobilidade e flexibilidade dos tecidos moles que circundam a articulação, como músculos, tecidos conectivos e pele, como modo de reverter o quadro de contratura instalado, devolvendo à articulação a sua amplitude normal de movimento [14]. Portanto, levando-se em consideração o que foi comentado anteriormente, o presente estudo teve por objetivo analisar através de uma revisão literária a influência da intervenção fisioterapêutica, mas especificamente por meio de técnicas cinesioterápicas, nas disfunções da articulação temporomandibular (ATM) em portadores da Síndrome do Respirador Bucal (SRB) na idade pré-escolar de 6 a 12 anos, a fim de se detectar os benefícios dessa intervenção e facilitar no tratamento dessa desarmonia. Material e métodos Realizou-se um levantamento bibliográfico de caráter exploratório em banco de dados como Medline, Lilacs e Scielo, tendo como critérios de inclusão os artigos publicados em revistas científicas indexadas, monografias e dissertações de mestrado nos últimos 11 (onze) anos, no período de 2000 a 2011. Foram selecionados um total de 24 artigos, duas monografias, duas dissertações e um livro. A partir desta seleção de estudos optou-se pela faixa etária de 6 a 12 anos por ser mais comum em crianças com SRB, já que a frequência dessa síndrome abrange todas as faixas etárias. Para realização do artigo foram utilizados os descritores. Resultados A função respiratória é a primeira estabelecida ao nascimento, sendo vital para o organismo e deve ocorrer, preferencialmente, por via nasal para que o ar seja purificado, filtrado Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 e aquecido antes de chegar aos pulmões e, assim, proteger as vias aéreas superiores e favorecer a oxigenação [1,2]. Uma das situações nas quais a função respiratória é prejudicada é na Síndrome do Respirador Bucal. Pode-se afirmar que, dentre as patologias respiratórias, a Síndrome da Respiração Bucal (SRB) figura como de grande importância não só pelas perturbações funcionais do sistema respiratório que causam ao indivíduo, como pelas consequências deletérias para outros sistemas orgânicos (estruturas ósseas da face e do tronco) [3]. O respirador bucal foi primeiro descrito e ilustrado pelo americano George Catlin. Ele sugeriu, há mais de um século, que algumas formas de más-oclusões dentárias e deformidades faciais eram decorrentes da respiração bucal [15]. Quando o ar entra pela cavidade bucal frio, seco com impurezas, de maneira adequada não vai chegar aos pulmões. O indivíduo que respira pela boca faz com que o ar entre em maior quantidade, ou totalmente pela cavidade bucal, não sendo filtrado pelo nariz e aquecido pelos seios maxilares e frontais, levando ácaros e bactérias diretamente para os pulmões [7]. Sabe-se que a criança pode começar a desenvolver respiração bucal logo nos primeiros dias de vida (em torno de 31 a 32 dias de vida pós-natal), como uma respiração auxiliar para suprir as necessidades da vida extrauterina. Esta pode ser considerada uma característica favorável para a sobrevivência, porém, se a respiração bucal for mantida, pode-se observar uma série de alterações faciais e corporais, que podem classificar este indivíduo como portador da SRB [7]. A prevalência da SRB descrita na literatura aparece em uma faixa etária tão ampla que dificulta comparações. Estudos mostram que, na Venezuela, uma amostra de 389 crianças, com idade entre 5 e 14 anos, matriculadas em uma única escola, a prevalência SRB encontrada foi de 63%. Na Índia, em Deli, uma pesquisa para avaliar hábitos orais realizada com 5.554 crianças com idade entre 5 e 13 anos matriculados em escolas encontrou prevalência de respirador oral de 6,60% [5]. No Brasil, estudo realizado em Pernambuco com crianças entre 8 e 10 anos matriculadas no Projeto Santo Amaro, observou uma prevalência de respirador oral de 53,3% [5]. Outro estudo semelhante verificou a prevalência de portadores da SRB na rede escolar do município de Juiz de Fora e observou em uma amostra de 649 crianças, com idades de 6 a 12 anos, uma prevalência de 59,5% de Respirador Bucal (RB) [4]. Normalmente, esta síndrome ocorre devido a processos obstrutivos na região das vias aéreas superiores que podem instalar-se por vários motivos como edema da mucosa nasal, pólipos nasais, hipertrofia de cornetos, rinite alérgica, hipertrofia de adenóide, aumento das amígdalas palatinas e desvio de septo. No entanto, considera-se que a hipertrofia de adenóide é a principal causa da respiração bucal. Evidências de muitos estudos indicam que pessoas com este modo respiratório inadequado apresentam características estruturais e funcionais específicas, tais como: lábios entreabertos, protusão da arcada dentária superior, mordida cruzada, mordida aberta 71 anterior, respiração oral crônica, deglutição atípica, infecções repetitivas das vias aéreas superiores, olhos inclinados para baixo e olheiras (dando-lhes um aspecto facial de tristeza) [2-4]. Além destas, podemos citar alterações de comportamento como irritação, desatenção, ansiedade, impaciência, medo de realizar tarefas, depressão, sono agitado e claustrofobia. Vários autores concordam que a respiração bucal isolada é muito rara sendo mais frequentemente encontrada a respiração mista conhecida como bucal e nasal [3]. Estudos relatam que quanto às características clínicas, essa criança tem uma fisionomia apática, olhos caídos, sempre com olheiras, a boca aberta e queixa-se constantemente de cansaço ao realizar alguma atividade que envolva esforço físico. Assim como há também relatos de dores musculares na região posterior de tronco, em decorrência do aumento da tensão deste grupo muscular [7]. Didaticamente, podemos classificar os respiradores bucais em obstrutivos (orgânicos), puramente funcionais, ou impotentes funcionais. Respiradores bucais orgânicos: constituem a grande maioria dos casos. São pacientes que apresentam obstáculos que impedem ou dificultam a respiração nasal [5,15]. Respiradores bucais puramente funcionais: são pacientes que já tiveram todos os obstáculos mecânicos que dificultavam a respiração nasal removido e, apesar disso, mantêm a boca aberta [5,15]. Respiradores bucais impotentes funcionais: são aqueles que possuem disfunção neurológica [5,15]. A respiração nasal propicia adequado crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial interagindo com as funções estomatognáticas do indivíduo, como a mastigação e a deglutição [2-4]. Contribuindo, assim, para um adequado padrão funcional muscular oral, para uma correta postura corporal e também para uma boa qualidade de vida [1,7]. A função da musculatura orofacial tem sido, ao longo do tempo, considerada como fator de relevo no crescimento e na forma do esqueleto craniofacial. Com relação à mandíbula, a incapacidade que a criança tem em manter a boca fechada impede que os músculos exerçam as pressões necessárias sobre ela, tornando-a pouco desenvolvida pela maior abertura no ângulo formado entre sua porção vertical e a horizontal [1]. Alterações posturais relacionadas à síndrome do respirador bucal Uma tensão inicial nas cadeias musculares é responsável por uma sucessão de tensões associadas. Cada vez que um músculo se encurta, ele aproxima suas extremidades deslocando os ossos sobre os quais ele se insere, assim, as articulações se bloqueiam e o corpo se deforma. Portanto, todos os outros músculos que se inserem sobre esse osso, serão alterados pelo deslocamento que se propagará sobre outros ossos e músculos, e assim sucessivamente [16]. 72 Se houver um desequilíbrio no sistema respiratório ou se o mesmo não estiver executando suas funções adequadamente, ocorrerá uma desestruturação da cadeia postural já que todas as partes do corpo estão ligadas através dos músculos, que não são apenas feixes isolados, fazem parte de grandes cadeias que podem conectar os pés à cabeça [7]. Assim sendo, quando o indivíduo não possui vedamento labial espontâneo, e por isso mantém a boca aberta e respira através desta, demonstra que sua matriz funcional oronasofaringeana está prejudicada, exibe hiperatividade da musculatura facial, acarretando em compensações e consequentemente alterações posturais [7]. Acredita-se que na respiração bucal haja um aumento da atividade dos músculos responsáveis pela postura da cabeça e pescoço, devido às adaptações posturais necessárias para reduzir a resistência das vias aéreas [1]. As alterações posturais têm sido fartamente descritas pela literatura, sendo relacionadas a diversas causas, entre elas a SRB. Vários estudos verificaram que crianças ou adultos com respiração bucal apresentam, dentre as alterações posturais mais frequentes, ombros anteriorizados, escápulas salientes, assimetria torácica, coluna cervical flexionada, hiperlordose, hipercifose e compressão do tórax. Devido a tais modificações, o movimento do diafragma se altera, os músculos abdominais tornam-se flácidos e os membros tanto inferiores como superiores assumem uma posição não anatômica comprometendo sua funcionalidade [3]. O respirador bucal assume uma posição estendida da cabeça para facilitar a passagem de ar. Essa alteração da cabeça e pescoço leva a alterações posturais em todo o corpo, a fim de adquirir um novo estado de equilíbrio [15]. Sendo assim, é de extrema importância estudar esta disfunção, assim como sua prevenção e tratamento para garantir o bem estar físico e emocional do indivíduo lhe proporcionando uma melhor qualidade de vida [1]. Alterações respiratórias relacionadas à síndrome do respirador bucal Vários autores concordam que a obstrução nasal pode levar a desordens de oxigenação e troca gasosa alterada, em pacientes com reserva pulmonar diminuída. Ou seja, a obstrução nasal pode levar a mudanças até mesmo no trato respiratório inferior [15]. Prejuízo no crescimento, “cor pulmonale”, sonolência diurna, prejuízo na memória e aprendizagem, alterações de personalidade, enurese noturna, dificuldade de deglutição e baixo ganho de peso e altura são possíveis consequências da respiração oral crônica [15]. É importante destacar ainda que o sistema imune tenha a cavidade nasal como a primeira barreira contra microorganismos inalados. A presença de obstrução nasal atrapalha esse processo de defesa. Isso, aliado ao fato de que a presença de muco nasal promove o crescimento bacteriano, faz com que muitos autores descrevam uma maior ocorrência de infecções respiratórias nesses pacientes [15]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Disfunção da articulação temporomandibular relacionada à síndrome do respirador bucal A articulação temporomandibular (ATM) está constantemente em movimento, realizando aproximadamente 2000 movimentos ao dia, sendo assim a articulação mais usada do corpo e com maior probabilidade de sofrer disfunções. Esta articulação não foi feita para suportar carga e é parte constituinte do sistema estomatognático que incluem as bases ósseas do crânio, dentes e periodontos, musculatura relacionada, ligamentos, sistema neurológico e vascular da região do pescoço [17]. Vários são os nomes atribuídos quando acontece algum problema da ATM como Disfunção Temporomandibular, Disfunção da Articulação Temporomandibular, Síndrome da dor Miofascial, Síndrome de Costen, Disfunção Craniomandibular, entre outras, e esta despadronização dos nomes acontece devido à dificuldade que ainda existe para o tratamento desta articulação [12]. Essa patologia certamente merece atenção de uma equipe multidisciplinar, (medicina, fonoaudiologia, odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia) seja para o tratamento ou para prevenção, pois possui fatores relacionados à tensão emocional, alterações posturais, disfunção da musculatura mastigatória e mudanças intrínsecas das estruturas que compõem a ATM [12]. A articulação temporomandibular (ATM) é um conjunto de estruturas anatômicas que, com a participação de grupos musculares especiais, possibilita à mandíbula executar variados movimentos durante a mastigação [8]. De acordo com a Academia Americana de Dor Orofacial, a disfunção temporomandibular (DTM) é definida como um termo coletivo que engloba um grande número de problemas clínicos que afetam os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas, ou ambos [18]. As disfunções da articulação temporomandibular são muitas vezes caracterizadas por dor e disfunção dos músculos ao redor. A parcela dos indivíduos com dor na ATM mostra um componente que acompanha inflamação da articulação. Por exemplo, pacientes com a degradação da cartilagem têm algum nível de sinovite [19]. Os sinais clínicos da articulação temporomandibular foram verificados por meio da constatação de ruídos articulares, travamento, luxação, dor durante movimentos mandibulares e a capacidade máxima de abertura bucal [20]. Averiguou-se que escolares de 6 a 12 anos, com abertura bucal máxima aumentada, alinhamento anterior e mordida profunda apresentaram um risco maior de ruídos articulares [21]. Os sintomas mais comuns em crianças são dor na região da ATM, sensibilidade à palpação, fadiga ou irritação nos músculos associadas à articulação, sons ou limitações durante o movimento mandibular [22]. Por sua origem ser multifatorial, Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 muitos estudos buscam definir os mecanismos predisponentes, causais e perpetuantes desta patologia. Entretanto, a avaliação e descrição da dor relacionada à disfunção da articulação temporomandibular precisam ser mais bem esclarecidas [23]. A dor é definida, segundo a Internacional Association for the Study of Pain (IASP), como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano tissular real ou potencial ou descrita em termos de tal dano. Nos termos dessa definição, não apenas os componentes físico e químico envolvidos no evento doloroso são considerados, mas também os aspectos subjetivo e psicológico, que são cruciais na compreensão da queixa dolorosa, especialmente, em pacientes com dor crônica [23]. Outro sintoma muito característico das disfunções ATM é a presença de ruídos durante os movimentos mandibulares como estalidos e crepitações. O estalido articular é um som único, seco, de curta duração que pode ocorrer durante a abertura e o fechamento mandibular. Está frequentemente relacionado a problemas no disco articular. A crepitação é um som múltiplo e acompanha praticamente todo o trajeto condilar, indica provavelmente lesão do disco e o barulho é característico de contato ósseo do côndilo com a eminência articular [21]. É importante ressaltar que as características faciais, corporais ou morfogenéticas são relevantes na incidência da respiração bucal. Alterações miofuncionais podem causar modificações em todo o corpo do paciente, podendo resultar, por exemplo, em musculatura facial hipofuncionante [1]. Cinesioterapia na articulação temporomandibular em portadores com síndrome do respirador bucal Em função das graves alterações que a respiração bucal pode produzir, o seu tratamento torna-se extremamente importante. É necessário que uma equipe de profissionais possa fazê-lo, visando um atendimento global ao indivíduo. Nessa equipe, a fisioterapia possui papel fundamental, este com seus conhecimentos e habilidades competentes do tratamento pode ser altamente eficaz ajudando dentistas e médicos nos quadros de dores craniofaciais [8,24]. O tratamento da disfunção da ATM é mais eficaz quando o paciente está sendo tratado de acordo com uma sequência lógica de importância, ou seja, tratamento dos sintomas, da causa subjacente, dos fatores de predisposição e eventualmente o tratamento dos efeitos patológicos. A Fisioterapia tem sido utilizada por muitos anos como uma terapia de suporte, para dar consciência ao paciente da causa dos sintomas, para alcançar relaxamento muscular, para reduzir a hiperatividade muscular restabelecendo o movimento articular, para aliviar a dor, e para permitir uma função normal [11]. A fisioterapia pode proporcionar não só um alívio das condições sintomatológicas do paciente, como também restabelecer a função normal do aparelho mastigatório, promovendo a desprogramação muscular e redução de cargas 73 articulares [17]. A American Academy of Craniomandibular Disorders e a Minnesota Dental Association citaram a fisiotera­ pia como tendo um papel importante no tratamento utilizado nas desordens temporoman­dibulares. Dentre as intervenções adotadas pela fisioterapia estão as modalidades de eletroterapia, exercícios e técnicas de te­rapia manual, acupuntura, técnicas de massoterapia, dentre outras [25]. A intervenção através de exercícios iso­cinéticos mostrou-se útil em reverter os estalidos frequentes na ATM através de uma serie controlada [13]. Segundo estudos o efeito de exercícios ativos e passivos do movimento na ATM e correção postural global na disfunção temporomandibular e ao final do estudo observaram que as intervenções reduziram a dor, concluindo que a terapia por meio de exercícios pode ser útil no tratamento da disfunção da ATM [26]. Os exercícios de alongamentos, dentro de um protocolo de atendimento, propiciam um possível efeito analgésico, pois após o alongamento ocorre uma hiperemia e um aumento na velocidade do fluxo sanguíneo nos capilares próximos a região alongada, o que auxilia no alívio da dor [27]. Discussão Os resultados terapêuticos alcançados com o uso de cinesioterapia são satisfatórios, mesmo em curto prazo. Os pacientes tratados com exercícios mandibulares apresentaram significativa redução da dor e melhora da mobilidade funcional. Os exercícios foram importantes na reeducação do paciente, ajudando a prevenir sobrecargas, mau uso ou abuso da articulação, fortalecendo e alongando a musculatura afetada [17]. Os exercícios terapêuticos associados à placa miorrelaxante teve efeitos significantes no alívio da dor e na disfunção [13]. O uso de placa associado a exercícios apresentaram resultados significativos, bem como o uso primário de exercícios, em alguns casos foi uma boa alternativa [25]. Em alguns casos, somente o exercício terapêutico foi eficaz, podendo ser recomendado como primeira opção de tratamento na disfunção temporomandibular miogênica [13]. A associação de exercícios terapêuticos e eletroterapia tem se mostrado eficaz no tratamento da disfunção temporomandibular miogênica, resultando na normalização da amplitude de movimento mandibular, eliminação da dor e da inflamação e função mandibular sem restrição. O uso do gelo associado a outras modalidades de tratamento melhora a mobilidade mandibular, elimina a dor e a inflamação [13]. O exercício e a terapia manual para indivíduos com disfunção temporomandibular obtiveram uma taxa de êxito de 90% de diminuição da dor na ATM com aumento da abertura da boca no tratamento em curto prazo. Os autores concluiram, fundamentado nestes resultados, que a terapia com exercício é uma ferramenta eficaz para tratar da disfunção temporomandibular [26]. Em relação aos exercícios terapêuticos realizados de forma isolada, autores afirmam que 74 o sucesso no tratamento é representado pela redução da dor, melhora funcional, melhora da qualidade de vida, melhora dos aspectos psicológicos e da mobilidade, não importando o tipo de exercício usado na reabilitação da disfunção temporomandibular [13]. Ismail et al. [28], em 2007, realizaram um estudo para avaliar a eficácia da terapia física e a terapia com aparelhos oclusais em pacientes com disfunção ATM. Vinte e seis pacientes com disfunção ATM exibindo dor restrita na abertura mandibular foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Treze pacientes foram tratados exclusivamente com aparelhos de Michigan (grupo I), treze pacientes receberam fisioterapia complementar (grupo II). Depois de três meses de terapia os pacientes foram reavaliados. Antes do tratamento, foram realizados registros elétricos dos movimentos mandibulares, exames clínicos e os níveis subjetivos de dor foram avaliados por meio de uma escala visual analógica (EVA). Em comparação com o valor inicial, nos dois grupos, a capacidade de movimento mandibular aumentou significamente após o tratamento, enquanto que a dor subjetiva diminuiu significamente. A terapia física também proporcionou uma melhoria suplementar na capacidade do movimento de protusão mandibular durante o registro eletrônico. Os autores concluíram que a terapia física parece ter um efeito positivo no resultado do tratamento em pacientes com disfunção ATM. Os exercícios terapêuticos utilizados foram úteis para o ganho de força e mobilidade da musculatura mastigatória e da região cervical [25]. Enquanto que treinamentos da postura junto com as instruções para movimento da ATM são eficazes para indivíduos com disfunção temporomandibular e que o treinamento da postura tem impacto positivo para a redução dos sintomas relacionados à disfunção temporomandibular [26]. Segundo estudos os exercícios terapêuticos foram concebidos para melhorar a coordenação dos músculos da mastigação, reduzir o espasmo muscular e alterar o padrão de fechamento da mandíbula. Incluiu massagem de músculos doloridos, alongamento dos músculos, exercícios leves de tensão isométrica contra a resistência, abertura guiada e movimentos de fechamento, distração conjunta manual, disco/côndilo mobilização e correção da postura corporal. A terapia incluiu também técnicas de relaxamento, que consistiu de tensão muscular profunda respiração e contrastantes e exercícios de relaxamento muscular [29]. Alguns autores dizem que a associação de exercícios terapêuticos e reeducação da postura foram mais eficazes do que o relaxamento e orientação de autocuidado. Estudos em que se associaram reeducação postural por meio de exercícios terapêuticos, terapia manual e relaxamento concluem que esses procedimentos parecem ser úteis nos casos de deslocamento anterior do disco com redução, síndrome dolorosa miofascial e disfunção temporomandibular miogênica [13]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 Conclusão Com base nos resultados obtidos através deste estudo, observou-se a importância da cinesioterapia como tratamento da disfunção da articulação temporomandibular como consequência da síndrome do respirador bucal em crianças na faixa etária pré-escolar. Através deste estudo notou-se as possíveis alterações promovidas pela SRB e a importância da intervenção fisioterapêutica. A cinesioterapia no tratamento da disfunção ATM utiliza várias técnicas, tais como: alongamento, exercícios ativos e passivos, fortalecimento muscular, exercícios de relaxamento e exercícios posturais, os quais proporcionaram a melhora da coordenação muscular, o relaxamento dos músculos tensionados e a restauração do alinhamento corporal, com repercussão na melhora do quadro álgico e da mobilidade articular. Deste modo, os exercícios terapêuticos são indicados por ser uma técnica de fácil aplicação e baixo custo, podendo ser realizado até em domicílio com orientação do profissional. Vale ressaltar que a SRB é pouco difundida e são poucas as pessoas que têm conhecimento das suas alterações e consequências, por isso o trabalho preventivo junto com orientações realizado por profissionais da área da saúde seria o ideal. Desta forma, sugere-se a realização de mais estudos referentes à aplicação da técnica de cinesioterapia em crianças com disfunção da ATM como resultado da SRB, visto que a carência de acervo é predominante nesta área. Referências 1. Brech GC, Augusto CS, Ferrero P, Alonso AC. Alterações posturais e tratamento fisioterapêutico em respiradores bucais: revisão de literatura. ACTA ORL/Técnicas em Otorrinolaringologia 2009;27(2):80-4. 2. Henning TR, Silva AMT, Busanelo AR, Almeida FL, Berwig LC, Boton LM. Deglutição de respiradores orais e nasais: avaliação clínica fonoaudiológica e eletromiográfica. Revista CEFAC 2009;11(4):618-23. 3. Monte CD. Síndrome da respiração bucal em adolescentes: estudo série de casos. [Dissertação]. Recife: Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP); 2004. 79p. 4. Leite ICG, Paula MVQ, Werneck RR. Prevalência de portadores da síndrome da respiração bucal na rede escolar do município de Juiz de Fora/MG. HU Rev 2008;34(1):47-52. 5. Abreu RR, Rocha RL, Lamounier JA, Guerra AFM. Prevalência de crianças respiradoras orais. J Pediatr 2008;84(5):467-70. 6. Barbiero EF, Vanderlei LCM, Nascimento PC, Costa MM, Scalabrini Neto, et al. Influência do biofeedback respiratório associado ao padrão Quiet breathing sobre a função pulmonar e hábitos de respiradores bucais funcionais. Rev Bras Fisioter 2007;11(5):347-53. 7. Matsuda CH. Estudo comparativo entre as principais alterações posturais fisiológicas e ás relacionadas á síndrome do respirador bucal [Monografia]. Cascavel: Unioeste; 2004. 8. Marzola FT, Marques AP, Marzola C. Contribuição da fisioterapia para a odontologia nas disfunções da articulação temporomandibular. Revista Odonto Ciência 2002;17(36):119-33. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 9. Mcneely ML, Olivo SA, Magee, DJ. A systematic review of the effectiveness of physical therapy interventions for temporomandibular disorders. Phys Ther 2006;86(5):710-25. 10.Michelotti A, Steenks MH, Farella M, Parisini F, Cimino R, Martina R et al. The additional value of a home physical therapy regimen versus patient education only for the treatment of myofascial pain in the jaw muscles: short-term results clinical of a randomized clinical trial. J Oral Pain 2004;1(2):114-25. 11.Kogawa EM, Kogawa EM, Kato MT, Santos CN, Conti PCR. Evaluation of the efficacy of low-level laser therapy (LLLT) and the microelectric neurostimulation (MENS) in the treatment of myogenic temporomandibular disorders: a randomized clinical trial. J Appl Oral Sci 2005;13(3):280-5. 12.Garcia JD, Oliveira AAC. A fisioterapia nos sinais e sintomas da disfunção da articulação temporomandibular (ATM). Revista Hórus 2011;5(1):113-24. 13.Maluf SA, Moreno BGD, Alfredo PP, Marques AP, Rodrigues G. Exercícios terapêuticos nas desordens temporomandibulares: uma revisão de literatura. Fisioter Pesq 2008;15(4):408-15. 14.Bosco R, Demarchi A, Rebelo FPV, Carvalho T. O efeito de um programa de exercício físico aeróbio combinado com exercícios de resistência muscular localizada na melhora da circulação sistêmica e local: um estudo de caso. Rev Bras Med Esp 2004;10(1):56-62. 15.Barros JRC. Avaliação de atopia em crianças respiradoras bucais atendidas em centro de referência do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. [Dissertação]. Belo Horizonte. Faculdade de Medicina – UFMG; 2005. 88p. 16.Souchard PE. Reeducação postural global. 5ºed. São Paulo: Ícone; 2004. 17.Fernandes WVB, Michelotto AB, Kimura S. Comparação entre técnicas osteopáticas e fisioterapia convencional para o tratamento das desordens temporomandibulares. Revista Inspirar 2009;1(1):28-32. 18.Andrade TNC, Frare JC. Estudo comparativo entre os efeitos de técnicas de terapia manual isoladas e associadas à lasertera- 75 pia de baixa potência sobre a dor em pacientes com disfunção temporomandibular. RGO 2008;56(3):287-95. 19.Sunil WSK. TMJ disorders: future innovations in diagnostics and therapeutics. J Dent Educ 2008;72(8):930-47. 20.Santos ECA, Bertoz FA, Pignatta LMB, Arantes FM. Avaliação clínica de sinais e sintomas da disfunção temporomandibular em crianças. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006;11(2):2934. 21.Correa CPR. Disfunção temporomandibular [Monografia]. Cuiabá: Unic; 2006. 79p. 22.Bertoli FMP, Losso EM, Moresca RC. Disfunção da articulação temporomandibular em crianças. Revista Sul-Brasileira de Odontologia 2009;6(1):77-84. 23.Oliveira AS, Bermudez CC, Souza RA, Souza CMF, Dias EM, Castro CES et al. Impacto da dor na vida de portadores de disfunção temporomandibular. J Appl Oral Sci 2003;11(2):138-43. 24.Babinski MA. 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Arch Phys Med Reabil 2000;81(9):1137-42. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 76 Normas de publicação Fisioterapia Brasil A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par­ti­cipado do trabalho o suficiente para assumir a res­pon­sabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo­gia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Atlantica Editora E-mail: [email protected] Consulte o texto completo das Normas em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2012 78 Agenda 2012 Março 30 de março a 1 de abril IV Congresso Brasileiro de Acupuntura – SOBRAFISA Ribeirão Preto, SP Informações: www.sobrafisa.org.br 1 a 3 de março VI Encontro Internacional de Fisioterapia DermatoFuncional Hotel Mercure BH Lourdes, Belo Horizonte, MG Informações: wwwdermatofuncional2012.com.br Setembro Abril 12 a 15 de Abril XI Reatech – Feira Internacional de tecnologias em reabilitação, inclusão e acessibilidade IV Fisiotech – FEIRA Internacional de Tecnologias em Fisioterapia Centro de exposições Imigrantes, São Paulo, SP Informações: www.reatechvirtual.com.br Maio 2 a 5 de maio V Congresso Internacional de Fisioterapia Manual II Simpósio de Fisioterapia manual no esporte I Simpósio de Dermato-Funcional Fortaleza, CE Informações: www.fisioterapiamanual.com.br 16 a 19 de maio XVI Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva VIII Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória VII Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Terapia Intensiva I Encontro Luso – Brasileiro de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva Centro de Convenções SulAmerica, Rio de Janeiro, RJ Informações: www.assobrafir.com.br 13 a 16 de setembro VIo Congresso Internacional de Fisioterapia Natal, RN Informações: www.sbf.org.br 28 a 30 de setembro Profisio Brasil 2012 Informações: (011) 2714-5678/2714-5695 [email protected] www.institutophorte.com.br 30 de setembro a 5 de outubro IFOMPT 2012 – World Congress of Manual/ Musculoskeletal Physiotherapy Montreal, Canadá Informações: www.ifomptconference.org Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 13, nº 2 março/abril 2012 - 81~160) EDITORIAL De Paris a Spinoza, Marco Antonio Guimarães da Silva................................................................................................................ 83 ARTIGOS ORIGINAIS Análise da incapacidade funcional em pacientes com doença de Alzheimer através do índice de Barthel, Tatiane Lima de Araújo Silva, Kattyúcia Cruz Meireles Silva....................................................................................... 84 Disfunção temporomandibular: a vivência fisioterapêutica na clínica de dor orofacial, Denilson de Queiroz Cerdeira, Thaís Teles Veras Nunes, Alfredo Sisly Nóbrega Santiago, Alexandre de Carvalho Lima.......................................................................................................................................................... 89 Perfil clínico, funcional e sociodemográfico das pacientes com incontinência urinária atendidas em um serviço público de fisioterapia uroginecológica, Suellen Maurin Feitosa, Denise Rodrigues Yuaso, Ana Carolina Cassemiro dos Santos, Gabriel Andrade Alves, Marair Gracio Ferreira Sartori, Manoel João Batista Castelo Girão, Rodrigo de Aquino Castro...................................................................................................... 96 Medida da função motora nas distrofias musculares progressivas: uma nova alternativa para avaliação fisioterapêutica, Pamela Coelho de Souza, Franciani Rodrigues, Priscila Soares de Souza, Mateus Berlink, Lisiane Tuon................................................................................................................. 102 Efeitos da ultracavitação no tecido adiposo de coelhos, Patricia Froes Meyer, Maria Goretti Freire de Carvalho, Larissa Lambert de Andrade, Rafaela Nielsen Souza Lopes, Alexandre Magno Delgado, Hennes Gentil de Araújo, Liseux de Lourdes Martins Nóbrega, Monisa Martins Nóbrega, Priscila Arend Barrichelo, Rodrigo Marcel Valentim da Silva............................................................... 106 Repercussão da hemodiálise na função pulmonar e força muscular ventilatória em pacientes com doença renal crônica terminal, Camila Anair Pezzini, Jaqueline Zanata, Renata Maraschin, Daiana Moreira Mortari, Kátia Scapini, Camila Pereira Leguisamo.............................................................................................. 112 Efeitos da terapia morfoanalítica e da terapia da mão na qualidade de vida e funcionalidade em mulheres com artrite reumatoide, Margareth Alves Pontes, Cristiane Miryam Drumond de Brito, Daniel Marinho Cezar da Cruz, Iracema Serrat Vergotti Ferrigno................................................................................................. 118 Efeitos de um protocolo de exercícios baseados no método Pilates sobre variáveis respiratórias em uma população de jovens sedentários, Catarina Pires Quirino, Graziella Gorete Teixeira, Amanda Aparecida Oliveira Leopoldino, Nayara Felicidade Tomaz Braz, Débora Fernandes de Melo Vitorino, Vanessa Pereira de Lima...................................................................................................... 124 RELATOS DE CASO Síndrome de Pallister-Killian, Andréa Ferreira da Silva, Diana Kelly Lana Cunha, Flavia Cristina Carbonero, Denise Campos, Gabriela Mariotoni Zago......................................................................................... 133 Efeito da facilitação neuromuscular proprioceptiva no equilíbrio de indivíduo com degeneração espinocerebelar recessiva, Hudson Azevedo Pinheiro.................................................................................................................. 137 REVISÕES Análise dos deslocamentos do disco articular da articulação temporomandibular: revisão de literatura, critérios e exame, Marcus Vinicius de Mello Pinto................................................................................................ 142 Comparação dos tratamentos conservador, cirúrgico e através da mobilização neural no tratamento da hérnia de disco lombar, Paulo Cesar Nunes-Junior, Eduardo Monnerat................................................................................. 148 NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................155 EVENTOS..........................................................................................................................................................................157 Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 81 05/07/2012 17:53:27 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 82 Fisioterapia Brasil Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 82 05/07/2012 17:53:27 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 83 Editorial De Paris a Spinoza Marco Antonio Guimarães da Silva Nunca fiz segredo da admiração que sinto pela cidade de Paris, seja pela sua arquitetura, seja pela sua cultura ou seja pelas diferentes matizes de luzes que a iluminam. Deixei isso claro nos dois primeiros romances que escrevi e o faço também no livro que escrevo a quatro mãos com Manuel Rui, escritor e poeta angolano, e que deverá ser lançado no final deste ano. Em parte, foram essas características que me levaram a deixar o Rio de Janeiro para, pelo menos, passar todos os anos, de quatro a cinco meses naquela cidade. Digo em parte porque há motivos de outra natureza, também relacionados com as características, ou melhor, com as des-caracteristicas de um Rio de Janeiro que outrora tive orgulho de chamar de meu. A última temporada em Paris foi especial e se destacou das demais, porque conheci um grupo de músicos e cantores que, com sol ou com chuva, animam as manhãs de domingo da Rue Mouffetard no coração do Quartier Latin. Ali, moradores cujas idades variam dos 8 aos 80 e eventuais turistas dançam ao som do acordeom de Christian Bassou, um francês apaixonado pelo Brasil e de quem me tornei amigo. Ele, France Dupuye e outros que gerenciam o grupo dominical parecem ser personagens vivos de um livro de conto de fadas, com uma única função: nos trazer alegria e nos fazer esquecer um pouco desse louco mundo em que vivemos. A cidade parece querer retribuir a querência que tenho por ela porque a sua principal universidade, a Sorbonne, me convidou para dar uma conferência e debater o meu último livro, com os alunos da cátedra de literatura portuguesa daquela universidade. Mas, se a cidade acolhe as pessoas que, com verdadeira paixão cantam em suas ruas, acolhe, lamentavelmente, grupos que celebram paixões muito diferentes. Apesar de ter vivido a maior parte de minha vida aqui no Brasil, ainda não me acostumei a encarar com naturalidade o modo como os nossos governantes e seus súditos diretos vivem algumas de suas paixões. Uma releitura da obra Ética demonstrada segundo a ordem geométrica de Spinoza (1632-1677) pode nos ajudar a entender, à luz da filosofia, um pouco dessa historia. A citada obra, considerada como ápice e síntese do pensamento do autor, apresenta axiomas, proposições e demonstrações, seguindo o modelo euclidiano. Spinoza não pretendeu com este método deduzir matematicamente a totalidade do real e nem se propôs fazer uma exposição Galeliana (quantitativa) do mundo físico. A ética propriamente dita tem inicio na parte III do livro e trata sobre a condição e a natureza humana, as quais são arquitetadas de forma determinista. Ele nos diz: “Não desejamos algo porque o julgamos bom; mas, ao contrário, julgamos que algo é bom porque o desejamos”. A parte IV do livro trata da impotência da razão ante as paixões, dos critérios gerais sobre o bem e o mal, do valor das distintas paixões e do modelo do homem livre. Logo no começo, Spinoza nos diz que o homem forma parte da natureza e, portanto, está submetido ao efeito das coisas externas. Dessa forma, as paixões incidem sobre a conduta humana na medida em que sua força pode superar àquela com que o homem preserva a sua existência. E continua: “ainda que as paixões sejam também ideias, a razão não pode anulá-las nem reprimi-las, porque a ideia de uma condição e a condição em si mesma não são da mesma natureza.” E uma condição só pode ser vencida pela presença de uma outra de sinal contrário e mais forte que ela. Dada a correspondência entre condição e ideias, o homem é consciente da sua dependência das coisas externas. Na medida em que elas resultem agradáveis ou desagradáveis, surgirá a ideia do bem e do mal. Obviamente o homem, com raríssimas exceções, deseja o que considera bom, mas a razão, sendo diversa daquilo que os homens desejam, só pode considerar bom e virtuoso aquilo que é útil para conservar o seu ser. Desse modo, é bom o que aumenta a sensibilidade do corpo humano ante os corpos exteriores e o que conduz os homens a viverem em sociedade presidida pela concórdia; e é mal tudo aquilo que impede essas coisas. O que parece estar acontecendo é que os sinais estão trocados. Os grupos de políticos que se locupletam em Paris, sabe Deus com o que, e em atitudes de fragrante deboche tripudiam sobre os pobres coitados que os elegeram, deveriam deixar que suas paixões e submissões ao efeito das coisas externas fossem regidas por um padrão de decência. Dessa forma, resistiriam a breguice de serem fotografados expondo os seus sapatos de U$10.000,00, ou posando em estado etílico com guardanapos amarrados à cabeça. Uma sugestão. Que tal se começassem a desejar as coisas porque o povo as julga boas, tais como: acabar com o maior índice do país de prevalência e mortes causadas pela dengue (102.000 casos com 22 mortes), melhorar o sistema educacional do estado do Rio de Janeiro, considerado pelas pesquisas como o pior do Brasil, melhorar o caótico atendimento nos hospitais e por aí vai. Como não farão nada disso, faço outra sugestão. Renunciem e resgatem a dignidade que talvez um dia tenham tido. *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 83 05/07/2012 17:53:27 84 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Artigo original Análise da incapacidade funcional em pacientes com doença de Alzheimer através do índice de Barthel Functional impairment analysis in patients with Alzheimer’s disease using the Barthel index Tatiane Lima de Araújo Silva, Ft. M.Sc., Kattyúcia Cruz Meireles Silva, Ft. *Doutoranda em Ciências da Saúde na UFRN, Especialista em Fisioterapia Neurofuncional pela UEPB, Especialista em Serviços de Saúde Pública, Coordenadora do curso de Fisioterapia e Professora da Faculdade Maurício de Nassau, **Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela UNIPE Resumo Abstract A doença de Alzheimer é definida como uma patologia degenerativa que causa progressivo declínio das funções cognitivas, ligadas à percepção, à aprendizagem, à memória, ao raciocínio e ao funcionamento psicomotor, causando incapacidades. Por isso o objetivo deste trabalho foi avaliar a incapacidade funcional dos pacientes com Alzheimer, atendidos no Centro de Referência em Atenção ao Portador de Necessidades Especiais (CRANESP) de Campina Grande/PB pela fisioterapia. A amostra foi composta de 10 pacientes, nos diferentes estágios da patologia, e foi utilizado um questionário sociodemográfico estruturado e o Índice de Barthel. Observou-se que os pacientes apresentavam proporções iguais em relação ao sexo, com idade acima de 61 anos, casados ou viúvos, com baixo nível de escolaridade, sem histórico anterior de demência e todos apresentando perda da memória recente e desorientação temporoespacial. Além disso, a maior parte se encontrava independentes ou dependentes leves e moderados. Logo, pode-se perceber que o Alzheimer traz um comprometimento significativo da capacidade funcional dos pacientes, e que esta se agrava com a progressão da doença. Alzheimer’s disease is defined as a degenerative disease that causes progressive decline in cognitive functions related to perception, learning, memory, reasoning and psychomotor functioning, which causes functional disabilities. The purpose of this study was to evaluate the level of functional impairment in Alzheimer’s patients treated at the Reference Center for Customer with Disabilities (CRANESP) of Campina Grande/PB by a physical therapy team. The sample consisted of 10 patients in different stages of the disease. A sociodemographic questionnaire and the Barthel index were used. We observed that the patients had similar proportions in relation to sex, age above 61 years old, married or widowed, with a low educational level, no prior history of dementia, all showing memory loss and temporo-spatial disorientation. Most of patients were independent or with mild and moderate dependence. Therefore, we perceived that Alzheimer disease causes a significant impairment of functional capacity of patients, which worsens as it progresses. Key-words: Alzheimer disease, Physical therapy, functionality. Palavras-chave: doença de Alzheimer, Fisioterapia, funcionalidade. Introdução Nas últimas décadas, o aumento na prevalência das demências, associado ao envelhecimento populacional, tem direcionado a atenção de pesquisadores de todo o mundo para formas de prevenção e tratamento mais eficazes, visando diminuir o impacto dessa patologia nos pacientes e em seus cuidadores [1]. O envelhecimento da população é um fenômeno mundial. Uma das principais consequências do crescimento desta parcela da população é o aumento da prevalência das demências, especialmente da Doença de Alzheimer (DA), a qual possui um acometimento tardio, de maior incidência ao redor de 60 anos de idade e de forma esporádica [2,3]. O envelhecimento pode ser entendido como um processo comum a todos os seres humanos, que é influenciado Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 12 de março de 2012. Endereço para correspondência: Tatiane Lima de Araújo Silva, Zeferina Gaudêncio, 191, 58402-733 Campina Grande PB, Tel: (83) 3321-5363, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 84 05/07/2012 17:53:27 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 por múltiplos fatores (biológicos, econômicos, psicológicos, sociais, culturais, entre outros), conferindo a cada um que envelhece características particulares. É um processo dinâmico e progressivo, no qual modificações morfológicas, funcionais e bioquímicas podem interferir na capacidade de adaptação do indivíduo ao meio social em que vive, tornando-o mais vulnerável aos agravos e às doenças, comprometendo assim, sua qualidade de saúde [4]. O declínio da capacidade cognitiva decorre dos processos fisiológicos do envelhecimento normal ou de um estágio de transição para as demências [2]. A demência é caracterizada como uma síndrome de disfunção adquirida e persistente das funções intelectuais, comprometendo pelo menos três das seguintes atividades mentais: linguagem, memória, capacidade visoespacial, personalidade, cognição, julgamento e solução de problemas [5]. O Alzheimer está relacionado a uma redução da arborização dendrítica precedente de uma perda neuronal. As lesões predominam no sistema hipocampoamigdaliano e no neocórtex associativo parietotemporal. Contudo, há também lesões subcorticais, que afetam principalmente o núcleo basal de Meynert, cujas projeções são colinérgicas [6]. À medida que as células morrem e são formadas as placas senis, o cérebro não consegue funcionar como deveria. As áreas afetadas por estas mudanças degenerativas são aquelas que controlam as funções da memória, concentração e raciocínio [7-9]. O quadro clínico do Alzheimer é bastante lento, podendo alcançar uma duração média de oito anos entre o início dos sintomas e o óbito. Paralelamente às alterações cognitivas em seu quadro clínico, o paciente com DA apresenta transtornos de comportamento, sobretudo nas fases mais avançadas, representando um significativo fator de estresse para os familiares e cuidadores [10]. A causa desta patologia não é conhecida, mas as formas familiares da doença tem geralmente um início precoce, antes dos 60 anos e sua transmissão é autossômica dominante. Três genes diferentes podem estar envolvidos. Uma mutação do gene que codifica a proteína β-amilóide no cromossomo 21 é responsável apenas por 2 a 3% das formas familiares do Alzheimer. A expressão excessiva desse gene na trissomia do 21 explica a quase constância de lesões deste tipo em pacientes mongolóides desde a idade de 35-40 anos. Um gene no cromossomo 14 (gene da pré-senilina 1) é responsável por 70 a 80% dos casos familiares, e um gene no cromossomo 1 (gene da pré-senilina 2) está envolvido em mais de 20% dos casos [6]. Outra possibilidade seria a perda de neurônios do hipocampo e do córtex cerebral do paciente com DA, como também a consequência da perda da homeostase do cálcio; alterações do metabolismo oxidativo relacionadas à idade; alterações do suporte trófico de fatores do crescimento específicos que aumentam a sobrevida dos neurônios do hipocampo em cultura e sistemas dos animais e envolvimento de um comprometimento genético [11]. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 85 85 Entende-se como conceito de capacidade funcional, a habilidade física e mental para manter uma vida independente e autônoma. Opostamente, a incapacidade funcional define-se pela presença de dificuldade ou mesmo pela impossibilidade no desempenho de determinadas atividades básicas da vida cotidiana [12]. A avaliação da capacidade funcional é essencial para o indicativo de qualidade de vida. O desempenho das atividades de vida diária é considerado um parâmetro aceito e legítimo para firmar essa avaliação, sendo utilizado pelos profissionais da área de saúde, para avaliar graus de dependência de seus clientes. Pode-se entender avaliação funcional, dentro de uma função específica, como sendo a avaliação da capacidade de autocuidado e de atendimento às necessidades básicas diárias, ou seja, do desempenho das atividades de vida diária [13]. Para se avaliar a incapacidade funcional, o Índice de Barthel foi eleito, por ser um dos instrumentos mais utilizados e por possuir níveis de validade e confiabilidade aceitáveis [12]. Os objetivos principais da fisioterapia, nas demências, são manter a independência funcional através da promoção de subsídios musculoesqueléticos e neurológicos; orientar os cuidadores a não restringirem a mobilidade do portador, não poupá-lo e nem realizar as atividades por ele; tratar disfunções pré-existentes que possam comprometer a capacidade física como dores, alterações posturais; realizar a adaptação ambiental para diminuir o risco de quedas; estimular funções cognitivas durante a fisioterapia, principalmente a memória; manter ou melhorar o equilíbrio; manter ou melhorar a capacidade cardiorrespiratória; adequar o tônus muscular, através da movimentação ativa ou passiva e minimizar as contraturas e deformidades [14]. Este trabalho teve como objetivo avaliar a incapacidade funcional dos pacientes com DA, atendidos pela fisioterapia no Centro de Referência em Atenção ao Portador de Necessidades Especiais (CRANESP) de Campina Grande-PB. Material e métodos Tratou-se de um estudo do tipo transversal, com abordagem quantitativa, que descreveu e analisou os dados coletados, identificando o grau de incapacidade funcional dos pacientes com DA atendidos no CRANESP. A população alvo deste estudo foi de pacientes com diagnóstico de Alzheimer atendidos no CRANESP, na cidade de Campina Grande, de ambos os sexos, com amostragem por acessibilidade, com dados não-probabilísticos, totalizando uma amostra de 10 pacientes. Dentre os instrumentos abordados, inicialmente foi utilizado um questionário contendo questões de caráter sociodemográfico, como também relacionadas aos fatores de risco para DA para obtenção do perfil clínico-epidemiológico dos portadores desta patologia. Em seguida, foi aplicado o Índice de Barthel, proposto por Mahoney e Barthel, em 1965, que consiste numa avaliação padronizada que mede o grau de dependência funcional em 05/07/2012 17:53:27 86 atividades de vida diária como: alimentação, banho, vestuário, higiene pessoal, dejeções, micções, uso do vaso sanitário, transferência cadeira/cama, deambulação e escadas. Cada item é avaliado enquanto independência, ajuda e dependência [15]. Fez-se um somatório de cada atividade, resultando em valores que variam de 0 até 100 pontos. De acordo com os valores apresentados, foi possível conhecer o grau de limitação destes pacientes. Os dados foram sistematizados, digitados e arquivados no Excel 2007. Para as análises, as estatísticas descritivas foram utilizadas, por meio de médias simples e porcentagens, e os resultados apresentados em forma de gráficos e tabelas. Os participantes da pesquisa expediram concordância documentada de autorização da pesquisa, e as identidades dos sujeitos envolvidos foram preservadas, assegurando os princípios éticos da pesquisa através da Resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Estadual da Paraíba (CAAE - 0293.0.133.000-09). Resultados O questionário estruturado foi composto de 24 questões, divididas em 3 dimensões: dados socioeconômicos e demográficos, dados clínicos referentes à patologia e dados referentes aos fatores de risco para DA. Com relação aos dados socioeconômicos e demográficos, foram abordadas 7 questões sobre idade, sexo, estado civil, escolaridade, entre outros. A pesquisa foi realizada com 10 pacientes com DA, de ambos os sexos. Com relação ao sexo, foi observado que 50% (n = 5) eram do sexo masculino e 50% (n = 5) do sexo feminino. De acordo com a faixa etária, foi observado que 90% (n = 9) encontravam-se acima de 61 anos, seguidos de 10% (n = 1) que estavam entre 51 e 60 anos. Percebeu-se quanto ao estado civil, que 50% (n = 5) eram casados e 50% (n = 5) eram viúvos. Ao analisar o grau de escolaridade destes pacientes, verificou-se que 70% (n = 7) possuíam apenas o ensino fundamental completo; 20% (n = 2) o ensino fundamental incompleto; 10% (n = 1) não eram alfabetizados. Com relação à renda familiar, 60% (n = 6) possuíam renda familiar de 1 a 3 salários mínimos, 20% (n = 2) de até 1 salário mínimo, 10% (n =1) de 3 a 5 salários mínimos e 10% (n = 1) acima de 5 salários mínimos. Analisando o tempo de surgimento dos primeiros sintomas, observou-se que 60% (n = 6) tiveram o aparecimento dos sintomas há mais de 4 anos; 30% (n = 4) entre 2 e 3 anos e 10% entre 3 e 4 anos. Quanto ao tempo que foi diagnosticada a DA, 40% (n = 4) foram diagnosticados entre 1 e 2 anos; 30% (n = 3) entre 2 e 3 anos; 20% (n = 2) entre 3 e 4 anos; 10% (n = 1) há mais de 4 anos. Em relação à fase da doença, 40% (n = 4) encontravam-se na fase inicial; 40% (n = 4) na fase intermediária e 20% (n = 2) na fase final. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 86 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Quanto ao uso de medicamentos, 90% (n = 9) realizavam tratamento medicamentoso e 10% (n = 1) não realizavam nenhum tipo de tratamento medicamentoso. Porém ao serem questionados em relação ao uso de reposição hormonal e de anti-inflamatórios, observou-se que 40% (n = 4) afirmaram fazer uso desses medicamentos e 60% (n = 6) não usavam esses tipos de medicamentos. Verificando quanto ao acompanhamento do paciente pelo Neurologista, observou-se que 60% (n = 6) afirmaram realizar consultas periódicas com o mesmo e 40% (n = 4) não realizavam acompanhamento. Entretanto, quando questionados sobre o tempo que realizavam tratamento fisioterapêutico, 80% (n = 8) afirmaram realizar há menos de 6 meses; 10% (n=1) entre 6 meses e 1 ano; 10% (n = 1) num período de 1 a 2 anos. Em relação à prática de alguma atividade, 50% (n = 5) realizavam trabalhos manuais; 20% (n = 2) praticavam a leitura; 30% (n = 3) outras atividades. Relacionando ao estilo de vida, foram questionados sobre o uso de bebidas alcoólicas, relatando que 80% (n = 8) não faziam uso de bebidas alcoólicas e 20% (n = 2) usavam bebidas com álcool. Entretanto quando questionados sobre o tabagismo, 40% (n = 4) não eram tabagistas e 60% (n = 6) eram tabagistas. Quanto aos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes, 100% (n = 10) apresentavam perda da memória recente; 100% (n = 10) desorientação temporoespacial; 90% (n = 9) alterações de personalidade; 90% (n = 9) incapacidade de realizar as AVD’s; 70% (n = 7) dificuldade de aprendizagem; 70% (n = 7) incontinências; 60% (n = 6) não reconheciam mais as pessoas; 30% (n = 3) apresentavam problemas de linguagem e 10% (n = 1) incapacidade de andar. Tabela I - Sinais e sintomas apresentados pelos pacientes com DA do CRANESP. Sinais e sintomas dos pacientes com doença de Alzheimer Sinais e sintomas Frequência Perda da memória recente 100% Desorientação temporoespacial 100% Dificuldade de aprendizagem 70% Incapacidade de realizar as AVD’S 90% Problemas de linguagem 30% Incapacidade de andar 10% Alterações de personalidade 90% Incontinência 70% Não reconhece mais as pessoas 60% Incapacidade de deglutir 0% Analisando o grau de independência, 30% (n = 30) foram considerados independentes; 20% (n = 2) eram dependentes leves; 20% (n = 2) eram dependentes moderados; 20% (n = 2) eram dependentes graves; 10% (n = 1) eram dependentes totais. 05/07/2012 17:53:27 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Em relação à alimentação, 40% (n = 4) eram independentes; 30% (n = 3) precisavam de ajuda; 30% (n = 3) eram dependentes. Com relação à capacidade de vestir-se, 40% (n = 4) eram independentes; 30% (n = 3) necessitavam de ajuda ou supervisão; 30% (n = 3) eram dependentes. Quanto ao uso do vaso sanitário, 50% (n = 5) eram independentes; 40% (n = 4) eram dependentes; 10% (n = 1) necessitavam de ajuda. Quanto à capacidade de subir e descer escadas, 40% (n = 4) eram independentes; 40% (n = 4) necessitavam de ajuda ou supervisão; 20% (n = 2) eram dependentes. Tabela II – Grau de dependência para AVD’s em pacientes com DA do CRANESP. Grau de inde- Capacidade Capaci- Uso do Subir pendência de alimen- dade de vaso sa- escadas tar-se vestir-se nitário Independente 40% 40% 50% 40% Ajuda 30% 30% 10% 40% Dependente 30% 30% 40% 20% Total 100% 100% 100% 100% Quanto ao banho, 70% (n = 7) eram dependentes; 30% (n = 3) eram independentes. Quanto à higiene pessoal, 60% (n = 6) eram dependentes; 40% (n = 4) eram independentes. Com relação às dejeções, 50% (n = 5) eram continentes; 50% (n = 5) eram incontinentes ocasionais. Em relação à micção, 50% (n = 5) eram incontinentes; 30% (n = 3) eram continentes; 20% (n = 2) eram incontinentes ocasionais. Em relação à passagem cadeira-cama, 70% (n = 7) eram independentes; 20% (n = 2) necessitavam de ajuda mínima; 10% (n = 1) eram dependentes. Com relação à capacidade de deambular, observou-se que 60% (n = 6) eram independentes; 30% (n = 3) necessitavam de ajuda ou supervisão; 10% (n = 1) eram dependentes. Discussão A maior incidência de mulheres com DA pode ocorrer devido à maior expectativa de vida das mulheres e não a algum fator de risco específico ligado ao sexo [12]. Entretanto, neste estudo não foi observado este aumento, já que a população era composta por número igual de homens e mulheres. A DA ocorre, mais comumente, nas pessoas com 60 anos ou mais, forma esta denominada senil. Entretanto, ela pode acontecer antes, geralmente após os 40 anos, designada forma pré-senil [16]. Diante disto, ficou confirmado no estudo que 90% dos pacientes encontravam-se acima de 61 anos, sendo estes casados ou viúvos. A baixa escolaridade tem sido colocada dentre os fatores de risco para a demência, sugerindo algum tipo de reserva cognitiva para grupos com maior escolaridade e histórico ocupacional superior [17]. Em nosso estudo, a maioria dos pacientes encontrava-se com apenas o ensino Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 87 87 fundamental completo, correlacionando assim, como um fator de risco. Como o CRANESP é um serviço público, grande parte dos pacientes atendidos neste serviço possui um nível salarial baixo, critério para inclusão em um atendimento de saúde gratuito, verificou-se que grande parte dos pacientes possuía baixa condição financeira, o que se correlaciona com o nível escolar dos mesmos. O diagnóstico precoce das demências possibilita intervenção terapêutica, diminui os níveis de estresse para os familiares, reduz riscos de acidentes, prolonga autonomia e talvez, em alguns casos, evita ou retarda o início do processo demencial [18]. Intervenções com programas de exercícios melhoram a função motora e são um importante fator preventivo contra o declínio das AVD’s, o risco de quedas, os distúrbios comportamentais e a depressão [19]. Alguns autores [20,21] revelam que estudos mais recentes indicam o uso de reposição hormonal para redução do risco de câncer colorretal e de DA. Outros autores [22] sugerem que o tabagismo aumenta a probabilidade das demências em geral e particularmente da DA. Diante do exposto, percebe-se que com o avançar da DA os pacientes tornam-se dependentes e perdem sua autonomia para realizar tanto as AVD’s quanto as AIVD’s, sendo de extrema importância o tratamento fisioterapêutico para tentar retardar a instalação dos déficits motores, deste modo, mantendo o paciente independente por um maior tempo possível. Conclusão Observou-se que os pacientes apresentavam proporções iguais em relação ao sexo, com idade acima de 51 anos, casados ou viúvos, com baixo nível de escolaridade, sem histórico anterior de demência e todos apresentando perda da memória recente e desorientação temporoespacial. Com relação à capacidade funcional, observou-se que a maior parte dos pacientes encontrava-se independentes ou dependentes leves e moderados, isto pode estar relacionado com a fase da doença em que a maioria deles se encontrava (inicial e intermediária) ou pela maioria estar em tratamento fisioterapêutico há mais de 6 meses, e que o maior comprometimento deles encontrava-se no uso do vaso sanitário e em serem incontinentes. Conclui-se então que o Alzheimer traz um comprometimento significativo da capacidade funcional dos pacientes, e que esta se agrava com a progressão da doença como já relata a literatura. Referências 1. Assis SVA, Karnakis T, Moraes TA, Curiati JAE, Quadrante ACR, Magaldi RM. 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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 05/07/2012 17:53:28 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 89 Artigo original Disfunção temporomandibular: a vivência fisioterapêutica na clínica de dor orofacial Temporomandibular disorders: the experience of physical therapy at orofacial pain clinic Denilson de Queiroz Cerdeira, Ft., M.Sc.*, Thaís Teles Veras Nunes, M.Sc.**, Alfredo Sisly Nóbrega Santiago, Ft.***, Alexandre de Carvalho Lima*** *Orientador e Docente dos Cursos de Fisioterapia, Psicologia, Educação Física e Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão - FCRS e Fisioterapia do Instituto Superior de Teologia Aplicada – INTA, **Co-orientadora, e Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS, ***Faculdade Católica Rainha do Sertão Resumo Abstract A disfunção temporomandibular (DTM) constitui uma desarmonia no sistema estomatognático que ocasiona prejuízo na articulação temporomandibular (ATM). Avaliou-se a DTM em pacientes atendidos numa clínica de dor orofacial através da vivência fisioterapêutica, traçando o perfil sócio econômico, as limitações funcionais e mobilidade cervical dos pacientes. Tratou-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e quantitativa realizada de agosto de 2010 a maio de 2011, na Clínica Escola de Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) em Quixadá/CE, com amostragem de 11 pacientes com DTM. Os dados foram coletados através de uma ficha de avaliação fisioterapêutica Bucomaxilar da Clínica Escola de Fisioterapia da FCRS, Índice Anamnésico (IA) e Índice de Mobilidade Cervical (IMC), os quais foram analisados através do programa Microsoft Excel 2007. 91% eram do sexo feminino com idade média de 30,81 anos, 18% casados, 37% eram estudantes, 55% naturais de Quixadá e 46% referiram dor na face. Com relação ao IA, 64% apresentaram disfunção crânio-mandibular severa e IMC reduzido em 73% dos entrevistados. Observou-se que a dor foi um fator predominante, variando em sua extensão e localização, impossibilitando a funcionalidade do sistema estomatognático. The temporomandibular disorder (TMD) is a disharmony in the stomatognathic system that causes damage to the temporomandibular joint (TMJ). The TMD was evaluated in patients enrolled in orofacial pain clinic through physical therapy experience, tracing the socio-economic profile, the cervical mobility and functional limitations of patients. It was an exploratory, descriptive and quantitative research carried out from August 2010 to May 2011, in the School of Clinical Dentistry of Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) in Quixada/CE.The sample consisted of 11 patients with TMD. Data were collected through an oral maxillofacial physical therapy evaluation form of the Physical Therapy Clinic School of the FCRS, anamnestic index (AI) and Cervical Mobility Index (CMI), and analyzed using Microsoft Excel 2007. 91% were female, mean age 30.81 years old, 82% married, 37% were students, 55% Quixada’s natives and 46% reported facial pain. With respect to IA, 64% had severe craniomandibular disorders and CMI reduced in 73% of the interviewed patients. It was observed that pain was a predominant factor, varying in extent and location, disabling the functionality of the stomatognathic system. Key-words: temporomandibular disorders, physical therapy experience, orofacial pain. Palavras-chave: disfunção temporomandibular, vivência fisioterapêutica, dor orofacial. Recebido em 17 de julho de 2011; aceito em 10 de fevereiro de 2012. Endereço para correspondência: Denilson de Queiroz Cerdeira, Rua Francisco Leandro, 1759, Condomínio Hortência IV Casa 101D Curió, 60844150 Fortaleza CE, Tel: (85) 3279-8977, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 89 05/07/2012 17:53:28 90 Introdução A disfunção temporomandibular (DTM) constitui uma condição na qual há uma desarmonia no sistema estomatognático, podendo ocorrer envolvimento e prejuízo nos músculos mastigatórios, na articulação temporomandibular (ATM) propriamente dita, ou em ambos, sendo classificada, respectivamente, como muscular, articular ou mista [1,2]. A DTM é definida como um conjunto de manifestações clínicas de má função mandibular, associadas ou não à dor, que são geradas por agentes agressores à integridade morfológica ou funcional do sistema estomatognático [3]. Nogueira [4] fomenta que o sistema estomatognático é composto por um conjunto de estruturas como ATM, ossos, dentes, maxila, mandíbula, músculos, ligamentos, espaços vazios, língua, lábio, mucosas, glândulas, sistema vascular e nervoso e complementa, dizendo que tal sistema é responsável por funções complexas vitais para o organismo como mastigação, deglutição, respiração e fonação. Figún e Garino [5] complementam que a ATM é um conjunto de estruturas anatômicas que, com a participação de grupos musculares especiais, possibilitam a execução de vários movimentos da mandíbula durante a mastigação, recebendo o nome de sistema estomatognático. A ATM é formada basicamente pela relação funcional do osso temporal e do côndilo mandibular, que se situa anteriormente ao ouvido externo. Esta estrutura óssea possui um componente fibrocartilaginoso denominado disco articular. A cápsula articular envolve todos estes componentes por meio de estruturas musculares e ligamentares. É unida e sustentada mecanicamente pela coluna cervical, formando assim um complexo crânio cervical capaz de realizar movimentos sincronizados [6-8]. Os principais achados clínicos dessa disfunção são de natureza multifatorial: má oclusão dentária, anodontia, hábitos parafuncionais, microtraumas repetitivos, onicofagia, apoio da mão sobre a mandíbula e sucção digital. Além de cefaleia, dor na região da ATM, mioespasmos na musculatura mastigatória e na região cervical, ruídos articulares como estalidos, crepitação, limitações ou desvios dos movimentos mandibulares, alterações auditivas e posturas inadequadas. Fatores culturais, econômicos, sociais, religiosos e geográficos influenciam a etiologia das lesões craniomaxilofaciais no mundo. Há necessidade de conhecimento adequado da causa, gravidade e distribuição temporal, que estabelece as prioridades para um efetivo tratamento e prevenção dessas lesões [9,10]. Os distúrbios temporomandibulares tornaram-se um assunto inevitável para os profissionais de saúde devido a sua frequência ser cada vez maior [11]. Segundo Leduc e Decloedt [12], a Fisioterapia foca seus esforços no retorno normal da estrutura afetada e de sua função, através de movimentos suaves, como relaxamento muscular, massoterapia, exercícios isométricos, biofeedback e eletroterapia. A drenagem linfática Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 90 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 manual é outra técnica fisioterápica eficaz e não agressiva, podendo ser utilizada em pós-operatórios, manifestando resultados satisfatórios. Segundo Wilk e McCain [13] um acompanhamento fisioterapêutico resulta em uma melhora na funcionalidade e na mobilidade mandibular, com um mínimo de dor, em curto período de tempo, além de prevenir recidivas da disfunção. A fisioterapia atua na redução dessas alterações nos portadores de DTM e tem como objetivos: promover analgesia, relaxar a musculatura mastigatória, restaurar a amplitude de movimento, restabelecer a qualidade dos movimentos mandibulares e cervicais, corrigir posturas viciosas e fornecer orientações sobre hábitos parafuncionais e alimentares. A relevância desta pesquisa situou-se na compreensão da vivência fisioterapêutica na clínica de dor orofacial, na forma como a disfunção temporomandibular atinge a população e na sintomatologia dolorosa referida pelos pacientes com DTM. A partir deste contexto, desenvolveu-se este estudo no intuito de avaliar a disfunção temporomandibular (DTM) em pacientes atendidos numa clínica de dor orofacial através da vivência fisioterapêutica, traçando o perfil clínico e socioeconômico dos mesmos, conhecendo o grau de severidade da DTM, através do índice anamnésico e mensurar a mobilidade cervical e a sua influência no sistema mastigatório. Material e métodos Tratou-se de um estudo exploratório e descritivo com abordagem quantitativa, no qual foram coletados dados dos pacientes atendidos na Clínica Escola de Odontologia da Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS no período de agosto de 2010 a maio de 2011. A amostragem do inquérito foi composta por 11 pacientes com disfunção temporomandibular, baseada em um universo finito, delimitado pelo tempo. Os sujeitos foram incluídos não importando idade, sexo e estado civil. Foram excluídos os que não apresentaram disfunção temporomandibular diagnosticada. Os participantes da amostra fazem parte do grupo de pacientes que são atendidos na disciplina Clínica Odontológica III do curso de graduação em Odontologia da FCRS, que disponibiliza atendimentos gratuitos à população de Quixadá e municípios adjacentes da região do Sertão Central do Ceará. A fonte de coleta de dados foi primária, seguindo os critérios de inclusão e exclusão do inquérito. Foi utilizado um termo de consentimento livre e esclarecido do participante, que constou de informações sobre a confidencialidade dos dados e anonimato dos participantes, conforme preconiza a Resolução 196 / 96 do CONEP [14]. Os participantes foram identificados apenas pelo número do prontuário e pelo diagnóstico cinético-funcional. Os dados foram obtidos através de uma ficha de Avaliação Fisioterapêutica Bucomaxilar da Clínica Escola de Fisioterapia 05/07/2012 17:53:28 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 da FCRS, constando: nome, idade, sexo, escolaridade, ocupação, queixa principal, história clínica, Índice Anamnésico (IA) de Fonseca [15] e Índice de Mobilidade Cervical (IMC) de Wallace e Klineberg [16]. A coleta de dados iniciou-se através do protocolo de identificação e história clínica do participante e foram conduzidas individualmente. O questionário anamnésico proposto foi aplicado para avaliar a presença e a severidade dos sintomas de DTM. O instrumento permitiu a classificação dos pacientes nos graus de severidade de sintomas de DTM leve, moderada, severa e sem DTM; constituiu-se de 10 questões com três possibilidades de resposta: sim (10 pontos), às vezes (5 pontos) e não (0 pontos). O índice de mobilidade cervical tem o objetivo de avaliar e classificar os participantes do inquérito em categorias de severidade de sinais clínicos de DTM. É subdividido em seis itens: flexão, extensão, rotação à direita e esquerda, flexão lateral à direita e flexão lateral à esquerda. Para cada um são possíveis três pontuações, dependendo da avaliação clínica: (0, 1 e 5). Ao final, a somatória das pontuações de cada item permitiu classificar os voluntários em três categorias: Ótimo movimento cervical (0 pontos), Movimento cervical reduzido (1- 4), Movimento cervical severamente prejudicado (5 – 20). Os dados obtidos foram organizados, tabulados, analisados através do programa Microsoft Excel 2007, dispostos em gráficos e tabelas, e posteriormente confrontados com a literatura nacional e internacional sobre os assuntos vigentes no inquérito científico. Esta pesquisa seguiu as normas do Conselho Nacional de Saúde, em concordância com a resolução 196/96, e foi submetido à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Referência em Dermatologia Dona Libânia (CEDERM), com parecer de aprovação número 005/2011. Resultados A população observada correspondeu a 11 pacientes, de ambos os sexos, sendo 10 (91%) do sexo feminino e 01 (9%) do masculino, cuja média da faixa etária foi de 30,81 anos e as idades variaram entre 13 e 57 anos. Com relação ao estado civil 02 (18%) eram casados e 09 (82%) solteiros (Tabela I). 91 Profissão Estudante Agricultor Serviços Gerais Auxiliar de Laboratórios Motorista Costureira Feirante Naturalidade Quixadá 06 (55%) Russas 01 (09%) Itaiçaba 01 (09%) Fortaleza 01 (09%) Brejo Santo 01 (09%) Poços (Goiás) 01 (09%) Localização da sintomatologia dolorosa Face 05 (46%) ATM 04 (36%) Coluna Cervical 02 (18%) O número de mulheres que procuram atendimento odontológico pode ser um indicativo de que as mesmas são mais propensas a desenvolver afecções do sistema estomatognático ou ainda que os homens procuram menos o serviço. Quanto à profissão, observou-se que a maioria dos participantes eram profissionais liberais: 2 (18%) agricultores, 4 (37%) estudantes, 1 (9%) serviço gerais, 1 (9%) auxiliar de laboratório, 1 (9%) motorista, 1 (9%) costureira, 1 (9%) freira. Houve uma diversificação quanto a naturalidade: 1 (9%) Russas, 1 (9%) Itaiçaba, 6 (55%) Quixadá, 1 (9%) Fortaleza, 1 (9%) Brejo Santo, 1 (9%) Poços do estado de Goiás. Tal diversificação é justificada devido a referência do atendimento odontologia da FCRS, que é disponibilizado para o minicípio e regiões adjacentes. O principal sintoma clínico referido como queixa principal foi a dor, manifestando-se de forma variada e em diferentes localizações: 2 (18%) cervical, 4 (36%) ATM e 5 (46%) na face. Figura 1 - Distribuição de frequência do índice anamnésico dos participantes do estudo, segundo a classificação de DTM. Pacientes por classificação do grau DCM, Quixadá/CE, 2011. Tabela I - Dados sócio demográficos da amostra. Quixadá/ CE, 2011. Variáveis Classificação do Grau DCM. (100%) 11 Participantes (%) (64%) 7 Sexo Masculino Feminino 01 (09%) 10 (91%) Estado Civil Casado Solteiro Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 91 04 (37%) 02 (18%) 01 (09%) 01 (09%) 01 (09%) 01 (09%) 01 (09%) (36%) 4 (0%) 0 (0%) 0 02 (18%) 09 (82%) Sem DCM DCM DCM DCM Leve Moderada Severa Total 05/07/2012 17:53:28 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 92 Nesta pesquisa foram encontrados diversos graus de disfunção. 7 (64%) indivíduos foram classificados com DCM severa, 4 (36%) DCM moderada. Os resultados obtidos através do IMC (Figura 2) mostram a dificuldade de mobilidade sobre cada indivíduo: 2 (18%) apresentaram ótimo movimento cervical, 8 (73%) movimento cervical reduzido e 1 (9%) apresentou movimento cervical severamente prejudicado, totalizando os 11 indivíduos. Figura 2 - Distribuição de pacientes por índice de mobilidade cervical, Quixadá/CE 2011. Índice de Mobilidade Cervical. (100%) 11 (73%) 8 (18%) 2 (9%) 1 Ótimo Movimento Movimento movimento cervical cervical cervical reduzido severamente prejuducadi Total Discussão A predominância de DTM no sexo feminino ficou evidente nesta pesquisa, em conformidade com Carlsson [17], que encontrou os mesmos resultados em seus estudos. Tal fato pode estar relacionado ao fato de as mulheres apresentarem uma maior frouxidão ligamentar, ocasionando maior dificuldade na estabilização da ATM ou em alguns casos, as condições hormonais que geram tensão, promovendo aumento nos hábitos parafuncionais. Segundo Fricton e Dubner [18], estudos epidemiológicos mostraram uma proporção de 8 mulheres com DTM para cada homem, isto pode estar relacionado ao fato que as mulheres possuem ligamentos mais frágeis, fatores emocionais exacerbados e uma taxa hormonal variável, concordando com o autor anteriormente citado. Gray et al. [19], em estudos realizados sobre os achados clínicos da DTM relacionados ao gênero, notaram que a prevalência destes foi no sexo feminino, além da maior procura pelo atendimento em relação ao sexo masculino. Observou-se uma média de idade de 30,81 anos, entre as idades de 13 e 57 anos. Nos estudos realizados por Tamaki et al. [20] observou-se uma faixa mais frequente entre 51 e 70 anos, estando em concordância com trabalhos de Moraes e Bottino [21], que nomearam esta faixa etária como produtiva da sociedade, sendo caracterizada por uma época de intensa tensão psicológica em que esse fator aumenta significantemente o desenvolvimento de disfunção craniomandibular. Embora haja diversidade da situação profissional dos pacientes, foram encontrados 4 (37%) estudantes e 2 (18%) Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 92 agricultores. Tal fato é justificado devido à instituição selecionada para o inquérito estar localizada na região interiorana do Ceará (Sertão Central) e também pelo fato da mesma ser referência no atendimento da região e municípios adjacentes, fato confirmado pela naturalidade da maioria dos participantes. Na queixa principal foram avaliados os seguintes requisitos quanto à localização da dor: cervical, ATM, face e cervical. Foi observado que 5 (46%) tinham dor na face e 4 (36%) na ATM. Nos estudos de Pereira e colaboradores [22] a dor foi relatada em 100% dos sujeitos. Este dado demonstra o impacto negativo que a dor provoca no paciente, prejudicando a qualidade de vida destes. Segundo a Association for the Study of Pain (IASP), a dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano tecidual real ou potencial ou descrita em termos de tal dano [23]. A mesma é destacada por abranger não apenas os componentes físicos e químicos envolvidos no evento doloroso, mas também os aspectos subjetivos e psicológicos, importantes para a compreensão da queixa dolorosa, especialmente em pacientes com dor crônica [24]. A dor é um determinante que pode influenciar na qualidade de vida da população. Baseado neste fato, o Ministério da Saúde (MS) no ano de 2002 lançou a portaria GM/MS n.º 19, que instituiu o Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos, visando estimular a discussão em torno do tema, e gerar uma nova cultura assistencial para a dor e cuidados paliativos que contemplem, holisticamente, o paciente com quadros dolorosos e de adotar medidas que permita, no âmbito do sistema de saúde do País, uma abordagem multidisciplinar destes pacientes, conjugando aspectos físicos, psicológicos, familiares, sociais, religiosos, éticos, filosóficos do paciente, seus familiares, cuidadores e equipe de saúde [25]. O alívio da dor constitui a razão primordial da busca de ajuda pelo paciente. Muitas vezes são utilizados tratamentos farmacológicos, no entanto nem sempre é a melhor decisão a ser tomada. Quando em excesso, podem manifestar efeitos colaterais indesejáveis levando-o a sofrimentos físicos e emocionais [26]. Sobre o Índice Anamnésico, 55% dos indivíduos apresentaram dificuldade para abertura da boca. Para Steenks e Winjer [27], pode-se inferir que esta dificuldade está relacionada com a dor, porque nas desordens musculares da ATM há diminuição do grau do movimento mandibular. Quanto à dificuldade de lateralizar a mandíbula, as duas variáveis (direita e esquerda) apresentaram valores iguais, aproximadamente 46% cada. Verificou-se que a maioria apresenta essa restrição, concordando com os estudos de Molina [28], os quais consideram a lateralização um dos achados mais comuns em pacientes com distúrbios funcionais da ATM e do aparelho mastigatório. No estudo de Outsubo [29], a dor miofascial é a principal causa da dor referida na musculatura, o que acaba gerando uma diminuição dos movimentos mandibulares em todos os sentidos de lateralização. 05/07/2012 17:53:28 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Observou-se que a frequência da dor ou cansaço muscular durante a mastigação foi referida por 7 (66%) participantes. Segundo o IASP, a dor e a fadiga muscular são frequentemente relatadas pelos indivíduos portadores de DTM. No evento doloroso, vários aspectos não apenas os físicos e químicos, como também os subjetivos e psicológicos, são cruciais na queixa dolorosa, especialmente, em pacientes com dor [23]. Garcia et al. [30] afirmam que a sobrecarga emocional pode desenvolver o apertamento dental constante, produzindo alterações circulatórias nos músculos da mastigação. A distribuição dos indivíduos quanto ao sintoma de dor de cabeça, apresentou-se em 64% destes. Para Shankland [31], a cefaleia é um dos sintomas mais presentes e comuns nas DTM. Tal sintomatologia é localizada nas têmporas e atrás da cabeça. Fomenta ainda que o uso constante da musculatura gera dor muscular que aparece na forma de dor de cabeça e é causada pela tensão muscular. Em relação à presença de dor de ouvido ou nas articulações temporomandibulares, 6 (55%) participantes apresentaram a sintomatologia. Shankland [31] diz que a localização existente entre o ouvido e a ATM, além da inervação, pode causar vários sintomas nos ouvidos, como, por exemplo, dor e até mesmo perda auditiva. Sobre os ruídos notados na ATM durante a atividade funcional do sistema estomatognático, observou-se que 91% (10) dos indivíduos apresentaram esses sintomas, confirmando a existência de uma prevalência de ruídos na ATM dos mesmos. Shankland [31] afirma que o ruído da ATM é o sintoma mais comum nos casos de disfunção. Já para Sutton et al. [32], as articulações podem gerar ruídos normais durante a função mandibular, devido ao atrito entre os tecidos moles, no entanto as características dos ruídos normais são diferentes daqueles gerados por articulações patológicas [32]. Os hábitos parafuncionais, como apertar ou ranger os dentes, foram encontrados em 46% (5 participantes). Okeson [1] relata que hábitos parafuncionais são considerados normais na maioria das pessoas quando ocorrem eventualmente. Tais hábitos tornam-se extremamente prejudiciais quando realizados constantemente e se utilizam de um alto grau de força muscular. Tsuchiya [33] complementa que as pessoas que rangem os dentes apresentam dor na região das têmporas, enquanto aqueles que têm tensão na região do pescoço tem a tendência a sentir dor na base do crânio. Molina fomenta dizendo que as alterações nos componentes do aparelho estomatognático ocorrem por causa de alterações da oclusão e da influência de diversas etiologias relacionadas com a tensão emocional, sendo as musculares as mais frequentes. Complementa ainda que os problemas emocionais possam ser considerados fatores coadjuvantes da disfunção, pois aumentam o tônus da musculatura esquelética. Para Bailey, o estresse ou a ansiedade, disfunções no sistema nervoso central, e alterações de personalidade, ansiedade ou mesmo raiva e podem ser encontrados nos indivíduos com DTM [28,34]. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 93 93 Houve predominância da DCM severa, seguida da DCM moderada. Nos estudos de Granja, que utilizaram o Índice Anamnésico de Fonseca [15], em relação ao grau de severidade de DCM, foi encontrada uma prevalência de indivíduos com DCM leve, moderada ou severa (53,21%), (62,5%), (68,61%) respectivamente, semelhante aos achados do presente estudo [9]. As queixas mais referidas pelos participantes foram alterações biomecânicas do sistema estomatognático (dificuldade de abrir e fechar a boca, ruídos na ATM, cefaléia, cansaço da musculatura, tensão emocional e os hábitos parafuncionais), tais como: apertar ou ranger os dentes. Okeson afirma que para se adquirir um diagnóstico exato de DTM, alguns fatores devem ser analisados, como o histórico da doença. Afirma ainda dizendo que no diagnóstico da dor cerca de 70 a 80% da informação colhida é advinda do exame clínico [1]. Uma porcentagem significativa da sintomatologia clínica referida pode estar relacionada às atividades musculares. Garcia et al. analisaram 34 pacientes portadores de DTM e constataram que 53,94% apresentavam dor de cabeça, e que tal sintoma está relacionado ao mioespasmo. Verificaram ainda que, após orientação, instalação de placa reposicionadora e ajuste oclusal e fisioterapia, a dor de cabeça foi eliminada. Okeson, em seus estudos, Maciel e Turell, em suas pesquisas, fomentam dizendo que a dor de cabeça é citada como o principal sintoma associado à DTM [1,8,30]. Grande parcela dos indivíduos avaliados apresentou alguma dificuldade nos movimentos cervicais e tal comprometimento pode ser advindo da DTM. Estes resultados comprovam o estudo de Bigaton et al. [35], acerca da mobilidade cervical. Kondo e Aoba [36] afirmam que os músculos cervicais têm um relevante papel no desenvolvimento harmonioso do complexo crânio-mandibular. Outro estudo complementa que disfunções musculares são habituais em pacientes com DTMs. Fink et al. afirmam ainda que pacientes com DTM apresentam maior tensão muscular na região cervical. Acredita-se que a justificativa destes resultados seria a tensão muscular e alteração postural para manutenção da posição da cabeça. Sabe-se que o músculo trapézio suporta a cabeça ântero-posteriormente e o músculo esternocleidomastoídeo controla a rotação e inclinação da cabeça. Comentários semelhantes foram resultados nos estudos realizados por Wallace & Klinenberg, os quais afirmaram que quando ocorre à manutenção da contração destes músculos, observa-se uma postura normal da cabeça, gerando dor na musculatura mastigatória e cervical, podendo irradiar para os braços e cintura escapular [16,37,38]. Estudos sobre as diferenças de gênero na saúde em sociedades em desenvolvimento mencionam que embora vivam mais que os homens, as mulheres relatam mais morbidades e problemas psicológicos e utilizam mais o serviço de saúde. Portanto, os homens estão menos propensos a reportar queixas do que as mulheres [39]. 05/07/2012 17:53:28 94 Conclusão A proposta deste estudo foi baseada na vivência da fisioterapia na clinica de dor orofacial. A partir do contato e dos dados coletados, verificou-se a presença de DTM em toda população estudada, havendo maior prevalência no sexo feminino e na faixa etária entre 13 e 57 anos numa média etária de 30,81 anos. O estado civil mais acometido foi o solteiro e a profissão foi estudante. A cidade de Quixadá foi a naturalidade que prevaleceu. Sobre a localização da sintomatologia dolorosa predominou a face, seguido da ATM. Quanto às limitações funcionais dos participantes, as queixas mais frequentes referidas foram alterações biomecânicas do sistema estomatognático, ruídos na ATM, cefaleia, cansaço da musculatura, tensão emocional e os hábitos parafuncionais. Comprovou-se a associação entre a DTM e os hábitos de ranger ou apertar os dentes e morder objetos. Quanto à mobilidade cervical, a maioria dos participantes teve movimento cervical reduzido. O que comprova o importante papel dos músculos cervicais no desenvolvimento harmonioso do complexo crânio-mandibular. Baseado nesses resultados, conclui-se que a dor foi um fator predominante em todos os participantes com DTM variando em sua extensão e localização, impossibilitando a funcionalidade normal do sistema estomatognático. Esta pesquisa possibilitou uma reflexão maior acerca da DTM e seus reflexos na funcionalidade do sistema estomatognático. Recomenda-se a realização de estudos longitudinais com objetivo de aprofundar o conhecimento sobre as formas de diagnóstico e tratamento das disfunções que acometem a ATM. Agradecimentos Os autores agradecem a colaboração e a disponibilidade dos pacientes pela participação na pesquisa. A direção da Clínica Escola de Odontologia e a Coordenação do curso de Odontologia pela autorização e realização desse estudo. Ao grupo de discussão em Fisioterapia Bucomaxilofacial e a Faculdade Católica Rainha do Sertão – Quixadá/CE, por apostar no desenvolvimento científico local e regional. Referências 1. Okeson JP. Current terminology and diagnostic classification schemes. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1997;83(1):61-4. 2. Felício COM. Desordens temporomandibulares: diagnóstico fonoaudiológico e terapia. In: Felício CM, organizadora. 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Objetivo: Caracterizar e investigar possíveis correlações entre o perfil sociodemográfico e o diagnóstico clínico e funcional das mulheres com IU atendidas em um serviço público de Fisioterapia Uroginecológica. Material e métodos: Foram levantados os dados: idade, escolaridade, raça, profissão, tipo de IU, estado hormonal, presença de contração muscular perineal e função da contração muscular do assoalho pélvico (escala Perfect), por meio de fichas de avaliação de 452 pacientes. Para a análise estatística utilizou-se os testes Qui-quadrado, exato de Fisher, t de Student, ANOVA com pós-teste de Tukey. Resultados: A maioria das pacientes era da raça branca e se encontrava no período pós-menopausa. A maior média de idade foi encontrada no grupo de pacientes com IU de urgência. Os tipos mais frequentes de IU foram IU de esforço e IU mista. As pacientes que exerciam a profissão de empregada doméstica apresentaram menor endurance do que as pacientes que exerciam atividade profissional na posição sentada (p < 0,05). Conclusão: O presente estudo permitiu caracterizar e observar correlações entre o perfil sociodemográfico e o diagnóstico clínico e funcional das pacientes. Introduction: Some factors are associated with the development of urinary incontinence (UI), however, there are very few studies that describe the profile of women with UI who seek physical therapy assistance. Purpose: To characterize and investigate possible correlations between the sociodemographic profile and clinical and functional diagnosis of women with UI attended at a public urogynecological physical therapy service. Methods: The following data were collected: age, education, race, occupation, type of incontinence, hormonal status, presence of perineal muscle contraction and the pelvic floor muscle function (Perfect scale), by analysis of 452 patients dossiers. For statistical analyses Chi-square test, Fisher exact test, Student t test and Anova (with Tukey posttest) were used. Results: Most patients were white and were in the postmenopausal period. The eldest patients were those with urge urinary incontinence. The most frequent type of UI was stress urinary incontinence and mixed urinary incontinence. The housekeepers had lower endurance than patients with sedentary job (p < 0.05). Conclusion: Were observed correlations between the sociodemographic profile and the clinical and functional diagnosis of the patients. Key-words: health profile, urinary incontinence, physical therapy, pelvic floor, middle aged. Palavras-chave: perfil de saúde, incontinência urinária, fisioterapia, assoalho pélvico, menopausa. Recebido em 8 de setembro de 2011; aceito em 4 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Suellen Maurin Feitosa, Rua Borges Lagoa, 781 Cj 31, Vila Clementino, 04038-031 São Paulo SP, Tel: (11) 55793321, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 96 05/07/2012 17:53:29 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução A incontinência urinária (IU) é definida como toda perda involuntária de urina [1]. Essa disfunção acomete 20% a 50% da população feminina ao longo de suas vidas [2]. A incontinência urinária de esforço (IUE) é definida como perda involuntária de urina pela uretra no esforço ou exercício físico, em espirros ou tosse. Por sua vez, a perda involuntária de urina pode estar associada com o sintoma de urgência (sensação de um desejo súbito de urinar, difícil de adiar), sendo denominada incontinência urinária de urgência (IUU). A incontinência urinária mista (IUM) inclui a perda involuntária de urina associada à urgência e também ao esforço ou exercício físico. Já a bexiga hiperativa (BH) é considerada uma síndrome, na qual se inclui a urgência urinária, geralmente acompanhada por frequência e noctúria, com ou sem incontinência urinária de urgência [1]. Alguns fatores estão associados ao desenvolvimento da IU, destacando-se idade, raça, paridade, tipo de parto, obesidade, tabagismo, estado hormonal, uso de medicações, e, ainda, a situação socioeconômica [3-6]. Por sua vez, a debilidade da musculatura perineal pode ser ocasionada, dentre outras causas, pelo desconhecimento ou a falta de consciência da região perineal [4], uma vez que menos de 25% das mulheres com desordens do assoalho pélvico são capazes de realizar adequada contração muscular do assoalho pélvico, o que mostra associação dessas desordens com a pobre função muscular [7,8]. O tratamento da IU pode ser cirúrgico ou conservador, no qual se inclui o tratamento medicamentoso e a fisioterapia [9]. Nos últimos anos, o tratamento conservador, em especial o treinamento muscular do assoalho pélvico, tem se mostrado eficaz, e passou a ser recomendado como tratamento de primeira linha antes da consideração da cirurgia, baseado no baixo custo, diminuição dos riscos e eficácia comprovada [10]. Ressaltamos a escassez de estudos que descrevem o perfil das mulheres com IU que procuram assistência fisioterapêutica, sendo que encontramos apenas um estudo brasileiro que descreve o perfil dessas mulheres [11]. Mesmo sendo a fisioterapia indicada como a primeira opção de tratamento da IU, há poucos serviços públicos de atendimento fisioterapêutico a mulheres incontinentes no Brasil. Portanto, propusemo-nos, neste estudo, caracterizar o perfil sociodemográfico, clínico e funcional das mulheres com IU atendidas em um serviço público de Fisioterapia Uroginecológica. Além disso, propusemo-nos investigar possíveis correlações entre o perfil sociodemográfico e o diagnóstico clínico e funcional das pacientes. Material e métodos Foi realizado um estudo descritivo transversal retrospectivo, após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP/EPM (CEP 2001/10), que caracterizou as mulheres atendidas no Setor de Reabilitação do Assoalho Pélvico do Ambulatório de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 97 97 Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM, encaminhadas por uroginecologistas do próprio serviço para o atendimento fisioterapêutico, no período de março de 2003 a dezembro de 2010. Foram selecionadas as fichas de avaliação fisioterapêutica de 452 pacientes, que se enquadravam nos critérios de inclusão: possuir ficha de avaliação fisioterapêutica com o diagnóstico clínico de IU, e ter realizado os procedimentos médicos de rotina (anamnese, exame físico geral, exame ginecológico e urodinâmico) e avaliação fisioterapêutica inicial (antes do início do tratamento fisioterapêutico). Não foram incluídas as pacientes que não tinham o diagnóstico clínico de IU especificado na ficha de avaliação fisioterapêutica e as pacientes que apresentavam como queixa principal: incontinência fecal, incontinência de flatos, retenção urinária, sensação de vagina larga, disfunção sexual ou prolapso genital. Das fichas de avaliação fisioterapêutica, foram coletados os dados sociodemográficos (idade, grau de escolaridade, raça, profissão), o diagnóstico clínico (tipo de IU), o estado hormonal, e o diagnóstico funcional (presença de contração muscular perineal ao comando verbal e a funcionalidade da contração voluntária do assoalho pélvico, avaliada por meio da escala Perfect). O diagnóstico funcional foi obtido durante o primeiro exame físico realizado pela fisioterapeuta presente no dia da avaliação, realizado previamente durante o preenchimento da ficha de avaliação fisioterapêutica. A contração muscular perineal ao comando verbal foi avaliada por meio da observação visual da contração dos músculos do assoalho pélvico ao comando verbal da fisioterapeuta, observando se o períneo sofre encurtamento e se desloca no sentido cranioventral. Durante o mesmo exame físico, a fisioterapeuta avaliou a funcionalidade da contração dos músculos do assoalho pélvico por meio de toque bidigital no conduto vaginal, com a utilização da escala Perfect, utilizada para a avaliação do assoalho pélvico, que quantifica a intensidade, a duração e a sustentação da contração muscular. Foram utilizados os seguintes itens da escala Perfect: power (P) (força), endurance (E) (duração da sustentação máxima da contração), repetition (R) (número de repetições da sustentação máxima da contração), fast (F) (número de contrações rápidas) [12]. As profissões das pacientes foram divididas em classes, de acordo com a semelhança das atividades exercidas: grupo A (foram incluídas as pacientes que tinham a profissão de empregada doméstica); grupo B (pacientes que eram do lar ou aposentadas); grupo C (pacientes que exerciam, na maior parte do tempo, atividades em pé, como, por exemplo, garçonete, cabeleireira, auxiliar de enfermagem); grupo D (pacientes que exerciam, na maior parte do tempo, atividades na posição sentada, como, por exemplo, costureira, secretária e dentista), e grupo E (pacientes que exerciam atividades em posições diversas, sem nenhuma semelhança entre si, como, por exemplo, socióloga, autônoma, radialista, administradora). Após a coleta, os dados foram eletronicamente compilados com o auxílio do programa Microsoft Excel. Foi calculada a 05/07/2012 17:53:29 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 98 frequência dos tipos de IU apresentados pelas pacientes, do estado hormonal, da presença de contração muscular perineal, dos graus de escolaridade, das raças e das classes de profissões apresentadas. Também foi calculada a média e o desvio padrão da idade e das notas obtidas na escala Perfect. Em seguida, as pacientes foram divididas em quatro grupos: IUE, IUU, IUM e BH, de acordo com a classificação denominada pela Associação Internacional de Uroginecologia (IUGA) e pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) em 2010 [1]. Dessa forma, comparamos os grupos IUE, IUU, IUM e BH com relação aos seguintes dados coletados: características sociodemográficas (idade, grau de escolaridade, raça, profissão) e o estado hormonal (pré-menopausa e pós-menopausa). Em seguida, os dados referentes às características sociodemográficas foram correlacionados com o diagnóstico funcional (presença ou ausência de contração muscular perineal e variáveis da escala Perfect) das pacientes. No caso de variáveis de contingência (grau de escolaridade, raça, profissão) foi utilizado o teste de Qui-quadrado, ou teste exato de Fisher, para avaliação da homogeneidade da distribuição entre os grupos. Para as variáveis quantitativas foi utilizado o teste t de Student (para a comparação entre dois grupos) ou o teste ANOVA, com pós-teste de Tukey (para três ou mais grupos). Em todos os testes, foi fixado em 5% (α ≤ 0,05) o nível de rejeição da hipótese de nulidade e os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (SEM). As análises foram efetuadas empregando-se o programa de computador GraphPad Prism 5.00 (GraphPad Softwre 2007, CA, USA). Resultados A média de idade das pacientes foi de 55,3 ± 12,9 anos. Os tipos mais frequentes de IU foram IUE (44,9%) e IUM (44,0%), seguido por IUU (6,4%) e BH (4,7%) (Figura 1). Em relação ao estado hormonal, 66,8% das pacientes se encontravam no período pós-menopausa, e 33,2% no período pré-menopausa. A maior parte das pacientes era da raça branca (65,6%) e possuía grau de escolaridade fundamental incompleto (44,2%). Em relação à profissão, a maior parte das pacientes (52,3%) era do lar ou aposentada, 18,2% era empregada doméstica, 10,0% exercia profissões que permaneciam na posição sentada na maior parte do tempo, como, por exemplo, telefonista e costureira, 8,4% exerciam profissões que permaneciam na posição em pé na maior parte do tempo, como, por exemplo, garçonete e auxiliar de enfermagem, e 11,1% exerciam profissões que permaneciam em posições variadas, sem semelhança de atividades. Em relação ao diagnóstico funcional, 88,5% das pacientes apresentavam contração muscular perineal ao comando verbal. A média dos níveis encontrados nos itens da escala Perfect encontra-se na Tabela I. Tabela I - Média das variáveis da escala PERFECT. PERFECT Power Endurance Repetition Fast Figura 2 - A distribuição dos tipos de IU é estatisticamente diferente entre as pacientes dos grupos pós-menopausa e pré-menopausa (p = 0,001). A IUU foi mais prevalente no grupo de pacientes na pós-menopausa em relação ao grupo pré-menopausa (p = 0,047). Estado hormonal e tipos de incontinência urinária 200 Número de pacientes Distribuição dos tipos de incontinência urinária Frequência (%) 40 30 20 Desvio-padrão 1,19 1,68 2,01 2,74 A média da idade do grupo de pacientes com IUE foi de 52,6 ± 0,9 anos, do grupo de pacientes com BH foi de 54,9 ± 3,0 anos, do grupo de pacientes com IUM foi de 56,6 ± 0,9 anos, e do grupo de pacientes com IUU foi de 65,1 ± 2,8 anos, com diferença estatisticamente significante entre os grupos (p < 0.0001). Em relação ao estado hormonal, verificamos que a distribuição dos tipos de IU é estatisticamente diferente (p = 0,001) entre as pacientes dos grupos pós-menopausa e pré-menopausa, sendo assim, o perfil dos grupos é diferente em relação à distribuição dos tipos de IU. Por sua vez, a IUU foi mais prevalente no grupo de pacientes na pós-menopausa em relação ao grupo pré-menopausa (p = 0,047) (Figura 2). Figura 1 - Distribuição dos tipos de IU: IUE (44,9%), IUM (44,0%), IUU (6,4%), e BH (4,7%). 50 Média 2,46 3,08 1,02 5,33 150 BH IUM IUE IUU 100 50 0 10 Pré-menopausa Pós-menopausa 0 BH Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 98 IUE IUM IUU 05/07/2012 17:53:29 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Figura 3 - Há diferença significante na frequência de ausência de contração muscular perineal ao comando verbal entre as raças (p = 0,0003). Figura 4 - Há diferença significante em relação ao power entre as raças amarela, branca e parda (p = 0,01), com o menor valor do power no grupo de pacientes amarelas em relação as pacientes brancas e pardas (p < 0,05). Raça - Power 3 1 0 Amarela Parda * 4 Edurance Número de pacientes Negra Profissão - Endurance 5 250 150 Branca Figura 5 - Há diferença significante em relação ao endurance entre as classes de profissões A e D (p = 0,02), com o menor valor de endurance no grupo A (p < 0,05). Distribuição dos tipos de incontinência urinária 200 * * 2 Power A distribuição dos tipos de IU não difere entre as raças (p = 0,74), entre as classes de profissões (p = 0,35), e entre os níveis de escolaridade (p = 0,55) apresentados pelas pacientes. Ao comparar a idade com a presença de contração muscular perineal ao comando verbal, observamos que a idade não tem diferença estatística entre os grupos presença e ausência de contração muscular perineal (p = 0,95). Também verificamos que o índice de ausência de contração muscular perineal não varia entre os grupos pós-menopausa e pré-menopausa (p = 1,00), entre as classes de profissões (p = 0,18), e entre os diferentes níveis de escolaridade (p = 0,82). Porém, observamos diferença significante entre as raças com relação à frequência de ausência de contração muscular perineal ao comando verbal (p = 0,0003). Destacamos que na raça amarela, a ausência de contração muscular perineal ao comando verbal, afeta 55,6% das pacientes, enquanto que na raça parda afeta apenas 8,5% das pacientes. Em todas as raças, exceto na amarela, a maioria das pacientes apresenta contração muscular perineal ao comando verbal (Figura 3). 99 3 2 1 100 0 50 A 0 amarela branca negra parda ausência de contração muscular presença de contração muscular Ao verificar a correlação entre a idade e os itens da escala Perfect não encontramos correlação entre as variáveis idade e power (p = 0,78), idade e endurance (p = 0,72), idade e repetition (p = 0,46), idade e fast (p = 0,36). Os únicos itens da escala Perfect que apresentaram correlação com os dados sociodemográficos foram o power e o endurance. Foi evidenciado que há diferença significante em relação ao power entre as raças amarela, branca e parda (p = 0,01), com o menor valor do power no grupo de pacientes amarelas em relação as pacientes brancas e pardas (p < 0,05) (Figura 4). Também encontramos diferença significante em relação ao endurance entre as classes de profissões A e D (p = 0,02), com o menor valor de endurance no grupo A (p < 0,05) (Figura 5). Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 99 B C D Encontramos que não há diferença entre os níveis de escolaridade e as variáveis power, endurance, repetition e fast da escala Perfect, pois encontramos os seguintes níveis de significância, respectivamente: 0,61, 0,59, 0,38, 0,13. Por fim, também não observamos diferença entre o estado hormonal e as variáveis power, endurance, repetition e fast da escala Perfect, uma vez que encontramos os seguintes níveis de significância, respectivamente: 0,82, 0,85, 0,07, 0,11. Discussão De acordo com o exposto na literatura nacional [11] e internacional [13,14], observamos que neste estudo, os tipos de IU mais frequentes foram a IUE e IUM. A maioria das pacientes se encontrava na pós-menopausa, o que já era esperado, uma vez que a menopausa está significativamente associada à IU [13]. A média da idade foi 55,29 anos, que revela uma população de mulheres com idade média. Muitos autores encontraram prevalência de mulheres incontinentes na mesma 05/07/2012 17:53:30 100 faixa etária [6,11], apesar de a idade ser um dos principais fatores de risco para o surgimento da IU [14,15]. Um estudo realizado em São Paulo identificou que a IU é um sintoma altamente prevalente entre a população idosa do município [15]. Uma explicação para a média de idade encontrada seria que as mulheres de meia-idade talvez estejam mais dispostas a discutir questões de saúde e buscarem tratamento adequado, dessa forma, buscando atendimentos especializados com mais frequência do que mulheres mais velhas [6]. Por sua vez, a idade influenciou significativamente os tipos de IU, sendo que a média maior de idade foi encontrada no grupo de pacientes com IUU. Vecchioli-Scaldazza et al. afirmam que a idade está associada aos tipos de IU e à hiperatividade do detrusor, pois observou que nas pacientes mais velhas (com mais de 65 anos de idade) a IUU e IUM foram os tipos de IU mais prevalentes, nas quais foi encontrada diminuição da capacidade vesical, aumento da hiperatividade do detrusor e redução da pressão máxima de fechamento uretral [16]. Uma das justificativas para tal distribuição de idade seria que as ativações cerebrais, especialmente o córtex pré-frontal medial, que ocorrem durante a fase de enchimento vesical, diminuem com a idade por estar relacionadas às alterações do envelhecimento, gerando a IUU [17]. A incapacidade de contrair a musculatura pélvica aumenta a chance de ter IU [14], porém, a grande maioria das pacientes com IU (88,5%) que foram avaliadas neste estudo, apresentaram contração muscular perineal ao comando verbal. Esta mesma população apresentou uma musculatura fraca, revelada por uma média baixa em todos os itens da escala Perfect. Samuelsson et al. observaram que nas mulheres com força diminuída dos músculos do assoalho pélvico a prevalência de IU aumentou, tanto em mulheres mais jovens quanto em mulheres mais velhas, em relação às mulheres com adequado grau de força muscular [14]. Foi encontrado, em um único estudo brasileiro [11] que o grau 2 de força perineal foi o mais frequente nas mulheres com IU que procuram assistência fisioterapêutica, corroborando este estudo e confirmando que as pacientes que procuram tratamento fisioterápico apresentam grau baixo de força muscular. A força muscular do assoalho pélvico é o fator de risco que mais facilmente poderia ser controlado em uma tentativa para prevenir a IU, o que revela a importância da ampliação do conhecimento da população sobre estratégias de prevenção para a IU. A maior parte das pacientes avaliadas era da raça branca. A literatura atual refere que as mulheres brancas apresentam maior probabilidade de desenvolver IU do que mulheres asiáticas e negras [18-20]. Isso pode ser explicado pelo fato das mulheres brancas possuírem pressão máxima de fechamento uretral menor do que as mulheres negras [19,21]. Porém, no grupo de pacientes da raça amarela foi encontrado o maior índice de ausência de contração muscular perineal ao comando verbal e o menor valor da intensidade da contração muscular do assoalho pélvico (power) em relação Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 100 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 as pacientes brancas e pardas. Não encontramos na literatura nenhum dado que justificasse a diferença da funcionalidade muscular encontrada. Uma limitação deste estudo foi o reduzido número de pacientes da raça amarela (apenas 2,78%), o que pode não ter levado a um conhecimento adequado da funcionalidade muscular nessa raça. Já o aumento de carga sobre o assoalho pélvico, tais como ocorre em ocupações que envolvem trabalho pesado, pode resultar em movimentos repetitivos que levam as mudanças traumáticas no assoalho pélvico, o que pode acelerar a perda da função do assoalho pélvico [4,5]. Essa pode ser a explicação para encontrarmos que o grupo que inclui as pacientes que exerciam a profissão de empregada doméstica apresentava menor tempo de manutenção da contração do assoalho pélvico (endurance) do que as pacientes que exerciam atividades na posição sentada, como, por exemplo, costureira, secretária e dentista. Neste estudo, a maior parte das pacientes possuía grau de escolaridade fundamental incompleto, dado semelhante ao encontrado em estudos realizados no Brasil [11] e Estados Unidos [20], que relatam que a baixa escolaridade está associada à IU. Azevedo encontrou que mulheres com baixa escolaridade tiveram uma probabilidade maior de desenvolver a síndrome da BH [22]. A baixa escolaridade apresentada pelas pacientes exige que os profissionais de saúde tenham uma abordagem adequada para a paciente, uma vez que é fundamental que a mesma compreenda e participe da terapia para alcançar a melhora desejada. No município de Campinas/SP, foi investigada a prevalência de IUE e os fatores a ela associados. Exploraram-se a queixa de IU e os fatores de risco possivelmente relacionados – idade, nível socioeconômico, escolaridade, raça, paridade, tabagismo, índice de massa corpórea, cirurgias ginecológicas anteriores, estado hormonal e uso de terapia de reposição hormonal. Das mulheres entrevistadas, 35% referiram IUE, porém nenhum dos fatores sociodemográficos estudados se mostrou associado ao risco de IU [23]. Segundo DeLancey et al., é mais provável que a combinação desses fatores interaja durante toda a vida de uma mulher e contribua para o surgimento de disfunções do assoalho pélvico [5]. A variedade de fatores de risco para IU sugere que pode haver uma gama de diferentes etiologias para a IU e, assim, uma série de estratégias de prevenção pode ser necessária. A partir do ponto de vista de saúde pública, é importante promover educação sobre condições melhores de saúde, a fim de melhorar a compreensão dos fatores de risco para a IU e aumentar a consciência da população sobre a disponibilidade de tratamentos, que deve ser aumentada [24]. Previamente, Figueiredo et al. descreveram o perfil das mulheres com IU que procuram assistência fisioterapêutica em um serviço público [11], as quais apresentam características sociodemográficas, clínicas e funcionais semelhantes as pacientes deste estudo. O presente estudo permitiu aprofundar o conhecimento sobre mulheres com um perfil equivalente, 05/07/2012 17:53:30 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 uma vez que observamos que a maioria das pacientes era da raça branca, se encontrava no período pós-menopausa e apresentaram média maior de idade no grupo de pacientes com IUU. Observamos também que o perfil das pacientes na pré e pós menopausa é diferente em relação à distribuição dos tipos de IU. Por sua vez, a IUU foi mais prevalente no grupo de pacientes na pós-menopausa em relação ao grupo pré-menopausa. Através deste estudo também notamos que as pacientes da raça amarela apresentaram o menor valor do power em relação as pacientes brancas e negras. Já as pacientes que exerciam a profissão de empregada doméstica apresentaram menor endurance do que as pacientes que exerciam atividade profissional na posição sentada. Conclusão Através do conhecimento das correlações apresentadas entre o perfil sociodemográfico e o diagnóstico clínico e funcional das pacientes, pretendemos contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas para a prevenção primária e secundária da IU, principalmente nos grupos populacionais mais suscetíveis. Referências 1. Haylen BT, Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. Neurourol Urodyn 2010;29(1):4-20. 2. Hunskaar S, Arnold EP, Burgio K, Diokno AC, Herzog AR, Mallett VT. Epidemiology and natural history of urinary incontinence. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2000;11(5):301-19. 3. Luber KM. The definition, prevalence, and risk factors for stress urinary incontinence. Rev Urol 2004;6(3):S3-9. 4. Outeiriño JMP, Perez AJR, Duarte AV, Navarro SM, Blasco JML. 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Taiwan J Obstet Gynecol 2008;47(2):197–202. 05/07/2012 17:53:30 102 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Artigo original Medida da função motora nas distrofias musculares progressivas: uma nova alternativa para avaliação fisioterapêutica Motor function measure in progressive muscular dystrophies: a new alternative for physical therapy assessment Pamela Coelho de Souza*, Franciani Rodrigues, Ft.**, Priscila Soares de Souza, Ft.**, Mateus Berlink***, Lisiane Tuon, Ft., D.Sc.**** *Discente do Curso de Fisioterapia, Grupo de Pesquisa Saúde Coletiva e Genética das Populações da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, **Residente do Programa Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família da UNESC, ***Discente do Curso de Fisioterapia, Bolsista Projeto de Extensão da UNESC, ****Docente, Tutora do Programa Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família e PET-Saúde da UNESC, Grupo de Pesquisa Saúde Coletiva e Genética das Populações da UNESC Resumo Abstract As Distrofias Musculares (DM) são um grupo heterogêneo de doenças hereditárias, tendo um comprometimento grave, progressivo e irreversível da musculatura esquelética, caracterizadas pela degeneração progressiva do tecido muscular. Este estudo tem como objetivo avaliar a função motora através da utilização da escala Medida da Função Motora (MFM) em indivíduos com Distrofias Musculares Progressivas. Foram avaliados 33 indivíduos com Distrofia Muscular de Cinturas (DMC), Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) e Distrofia Miotônica de Steinert (DMS). O instrumento de pesquisa utilizado foi a escala de Medida da Função Motora (MFM), que avalia 3 dimensões: posição em pé e transferências, função motora axial e proximal e função motora distal. Constatou-se neste estudo a afirmação dos achados da literatura quanto ao comprometimento motor nas Distrofias Musculares Progressivas, tendo o menor escore nas 3 dimensões analisadas os indivíduos com DMD. Foi possível constatar que a escala MFM é um eficaz método de avaliação para os indivíduos portadores de Distrofias Musculares Progressivas, pois a sua utilização possibilita mensurar o comprometimento motor destes indivíduos, o que proporciona um melhor direcionamento ao tratamento fisioterapêutico tendo como auxílio um indicador evolutivo. The muscular dystrophies (MD) are a heterogeneous group of inherited diseases, with a severe, progressive and irreversible impairment of the skeletal muscles, characterized by progressive degeneration of muscle tissue. This study aimed to evaluate motor function through the use of the Motor Function Measure scale (MFM) in individuals with progressive muscular dystrophy. Were evaluated 33 patients with Limb-girdle Muscular Dystrophy (LGMD), Duchenne Muscular Dystrophy (DMD) and Steinert Myotonic Dystrophy (SMD). The survey instrument used was the Scale Motor Function Measure (MFM), which assesses three dimensions: standing position and transfers, axial and proximal motor function and motor function distal. It was found the statement of findings in the literature as to the motor impairment in progressive muscular dystrophies, with the lowest score in three dimensions analyzed the individuals with DMD. It was concluded that the scale MFM is an effective method of assessment for individuals with progressive muscular dystrophy, since its use enables measure motor impairment of these individuals, providing a better direction to the physical therapy. Key-words: muscular dystrophies, assessment, Physical Therapy. Palavras-chave: distrofias musculares, avaliação, Fisioterapia. Recebido 8 de setembro de 2011; aceito em 29 de fevereiro de 2012. Endereço para correspondência: Lisiane Tuon, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Av. Universitária, 1105, 88806-000 Criciúma SC, Tel: (48) 3431-2629, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 102 05/07/2012 17:53:30 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução 103 Foi utilizado como instrumento de pesquisa a escala MFM. Esta escala é composta de 32 itens, divididos em 3 dimensões: Dimensão 1 – postura em pé e transferências, com 13 itens; Dimensão 2 – função motora axial e proximal, com 12 itens; Dimensão 3 – função motora distal, com sete itens. Cada item é pontuado de 0 a 3, sendo zero não realizar o movimento ou não manter a posição, 1 realizar parcialmente, 2 realizar de forma lenta ou com compensações e 3 realizar de forma correta. Os escores parciais e totais das dimensões são expressos em porcentagem em relação ao escore máximo de 96 pontos [4-7]. Os dados foram analisados pelo Programa de Estatística SPSS 17.0 for Windows. Utilizando-se da Análise de Frequências, Teste Paired-Samples T Test (#: p < 0,01/*:p < 0,05). Nos resultados do estudo a média do escore de cada dimensão da escala foi comparada com o escore máximo de 96%. As Distrofias Musculares são um grupo heterogêneo de doenças hereditárias, tendo um comprometimento grave, progressivo e irreversível da musculatura esquelética, caracterizadas pela degeneração progressiva do tecido muscular. A apresentação clínica possui um amplo aspecto de variabilidade devido ao grau de envolvimento musculoesquelético, cardíaco, comprometimento pulmonar, idade e início dos sintomas [1-3]. A escassez de instrumento de avaliação funcional específico para as doenças neuromusculares motivou um grupo de pesquisadores do Serviço de Reeducação Pediátrica L’ Escale, Lion, França, a elaborar a Mesure de la Function Motrice (MFM), com o objetivo de avaliar quantitativamente a função motora destes pacientes [4]. A primeira versão da MFM foi composta por 51 itens sendo validada entre 2000 e março de 2001. Após a primeira validação observou-se a necessidade de reduzir alguns itens, sendo então elaborada a versão final com 32 itens validada entre 2002 e 2003 [5]. Em 2008 a escala foi validada no Brasil [6]. A Medida da Função Motora é uma escala relativamente Nova e de fácil aplicação, o que proporciona uma melhor análise da evolução da patologia, podendo ser utilizada para quantificar resultados de tratamentos. É uma escala de alta confiabilidade, podendo ser utilizada como instrumento de diagnóstico clínico [4,6]. O presente estudo tem como objetivo avaliar a função motora através da utilização da escala Medida da Função Motora (MFM) em indivíduos com Distrofias Musculares Progressivas. A amostra do presente estudo foi composta por trinta e três (33) pacientes de ambos os gêneros, sendo separados em 3 grupos: O Grupo 1 – DMC composto por sete (07) indivíduos (21,2%), sendo 57,1 % gênero masculino e 42,9% feminino com média de idade de 33,71 anos (DP ± 14,03); O Grupo 2 - DMD composto por sete (07) indivíduos (21,2%), sendo 100% gênero masculino com média de idade de 15,57 anos (DP ± 8,77); O Grupo 3 – DMS composto por dezenove (19) indivíduos (57,6%), sendo 57,9 % gênero masculino e 42,1% feminino com média de idade de 33,71 anos (DP ± 14,03) (Tabela I). Material e métodos Tabela I - Características dos pacientes. Esta pesquisa foi um estudo observacional, de coorte-transversal. O projeto do presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC sob o nº do parecer 718/2006. A amostra foi constituída por indivíduos com Diagnóstico Clínico de Distrofias Musculares que fossem participantes da ASCADIM (Associação Sul Catarinense de Amigos, Familiares e Portadores de Distrofias Musculares Progressivas) e que apresentassem as seguintes patologias: Distrofia Muscular de Cinturas (DMC), Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) e Distrofia Miotônica de Steinert (DMS). Todos os pacientes foram informados acerca dos objetivos do estudo, bem como dos métodos de avaliação a que seriam submetidos. Após os devidos esclarecimentos os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os indivíduos que não assinaram o TCLE ou que não possuíssem capacidade cognitiva suficiente para compreender o comando verbal foram excluídos do estudo. Ao final a amostra foi constituída por 33 indivíduos sendo separados em três grupos de acordo com o diagnóstico clínico. O período de avaliação foi entre março e maio de 2011. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 103 Resultados PatoloGrupo gia Pacientes (%) (n=33) DMC 1 21,2 DMD 2 21,2 DMS 3 57,6 Gênero (%) Masculino Feminino 57,1 42,9 100 57,9 42,1 Idade Média DP(±) 33,71 ± 14,03 15,57 ± 8,77 29,84 ± 13,91 DMC: Distrofia Muscular de Cinturas; DMD: Distrofia Muscular de Duchenne; DMS: Distrofia Miotônica de Steinert. DP: Desvio Padrão. N: número. Método Estatístico Empregado: Análise de Freqüências do Software SPSS. A Figura 1, apresenta a comparação da média de porcentagem das 3 dimensões do teste e escore total analisando os 3 grupos comparados com o escore total da escala de 96 pontos. Pode-se observar que na Dimensão 1 a média do Grupo 1 foi de 49,45 (± 27,53); o Grupo 2 foi de 23,08 (± 28,01) e o Grupo 3 foi de 78,00 (± 29,18). Na Dimensão 2 a média do Grupo 1 foi de 88,10(± 16,57); o Grupo 2 foi de 66,27 (± 29,76) e o Grupo 3 foi de 95,61 (± 5,58). 05/07/2012 17:53:30 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 104 Na Dimensão 3 a média do Grupo 1 foi de 93,88 (±10,55); o Grupo 2 foi de 68,71 (± 24,57) e o Grupo 3 foi de 91,73 (± 10,27). Quanto ao Escore Total, o Grupo 1 teve como média 73,66 (±18,38); o Grupo 2 obteve 49,26(± 26,87) e o Grupo 3 foi de 87,61 (± 15,26). 120 100 80 60 40 20 0 * # * * * * # # Escore D1 Grupo 1 Escore D2 Grupo 2 Escore D3 Grupo 3 Escore total Escore total D1: Postura em Pé e Transferências; D2: Função Motora Proximal e Axial; D3: Função Motora Distal. Método Estatístico Empregado: Paired-Samples T Test (#: p < 0,01/*:p < 0,05). Discussão As Distrofias Musculares Progressivas (DMP) englobam um conjunto de patologias de origem genética, com comprometimento grave, progressivo e irreversível da musculatura esquelética. O termo distrofia muscular tem sido empregado para os casos de miopatias rapidamente progressivas, geneticamente determinadas e de natureza degenerativa primária, com incapacidades funcionais crescentes e diminuição da qualidade de vida. Algumas distrofias, porém, são mais lentamente progressivas, como a Distrofia Miotônica (DM) [1,8,9]. A utilização da Escala MFM permite a precoce identificação e quantificação das perdas motoras, sendo uma escala de alta confiabilidade, podendo ser utilizada como instrumento de diagnóstico clínico. Devido a esta possibilidade na detecção precoce das alterações motoras, é possível realizar intervenções necessárias com o objetivo de otimizar-se na função motora e melhorar a adaptação dos pacientes em suas atividades de vida diária [6,10]. Neste estudo observamos que em relação às dimensões analisadas pela escala MFM, nos 3 grupos analisados, houve comprometimento motor devido ao escore ser inferior quando comparado com o escore total de 96% de eficiência. Verifica-se que na dimensão 1, o Grupo 1 e o Grupo 2 apresentaram média de escore inferior a 50%, tendo um comprometimento na postura em pé e transferências. O grupo 3 apresentou escore acima de 50%. Na dimensão 2, verifica-se que todos grupos apresentaram escore maior que 50% sendo o menor escore do teste foi do grupo 2, seguido do grupo 1 e grupo 3. A dimensão 2 avalia a função motora proximal e distal. Na dimensão 3, verifica-se que todos os grupos apresentaram escore superior a 50%, sendo que o Grupo 2 apresentou maior acometimento motor, seguido pelo Grupo 1. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 104 Na Distrofia Muscular de Cinturas (DMC) a progressão é extremamente variável, mas normalmente é mais lenta, de forma contínua ou insidiosa, tendo períodos de rápida progressão alternados com períodos estacionários [11]. Observa-se que a fraqueza muscular abrange inicialmente os músculos da cintura pélvica e/ou escapular, no entanto é mais comum que a fraqueza tenha início pelos músculos dos membros inferiores, já sobre a fraqueza dos membros superiores pode levar anos para surgir [12]. A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é a forma mais comum de distrofia, afeta frequentemente meninos e a sua incidência é de 1:3.500 nascidos [2,13]. É a patologia de maior acometimento funcional em menor espaço de tempo, iniciando os sinais e sintomas clínicos dos 3 a 5 anos de idade e tornando-se incapazes de realizar as suas atividades de vida diária muito precocemente [3,14]. A Distrofia Miotônica Tipo 1 ou de Steinert é uma doença de herança autossômica dominante com manifestações clínicas variáveis. Os sinais e sintomas são multissistêmicos, em virtude do envolvimento dos músculos esqueléticos, por isso apresentam miotonia e fraqueza muscular. O envolvimento do membro é geralmente distal nos estágios iniciais da doença, mais tardiamente atingindo os músculos do tronco e músculos proximais, podem causar dificuldades na marcha e, posteriormente, necessidade de cadeira de rodas [2,11,15-17]. Devido à escala MFM ter sido validada no Brasil em 2008 [6], até o momento existem poucos estudos referenciando o uso da mesma em pesquisas nacionais. Em estudo realizado na Holanda utilizando-se da escala MFM com 70 indivíduos portadores de DMD, verificou-se que o comprometimento motor foi severamente comprometido na realização do teste e evidencia uma grande variabilidade na função motora distal [7]. Em estudo evolutivo realizado com indivíduos portadores de DMD utilizando-se a escala MFM mostrou que o escore da escala diminui de forma contínua e exponencial com a idade e que se a D1 estiver próxima de 40% ou o escore total estiver próximo de 70% é possível predizer que este paciente irá perder a marcha em um ano. Menciona que a utilização da medida função motora como sendo um complemento para a análise dada força muscular, sendo utilizada como um indicador do perfil do indivíduo de DMD [18]. Na literatura, até o momento, os programas de intervenção aos indivíduos portadores de DMD têm centrado principalmente na melhoria e manutenção da deambulação. Com a melhora na expectativa de vida destes pacientes a função dos membros superiores também merece atenções específicas nos programas de reabilitação e de pesquisa [7]. Estudo evolutivo, para avaliar a qualidade de vida dos indivíduos portadores de Distrofias Musculares Progressivas comparando com um grupo controle, evidenciou que houve alteração em todos os domínios avaliados, sendo o domínio físico o que teve maior queda [8]. 05/07/2012 17:53:30 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Em estudo realizado com 48 indivíduos com diagnóstico de Distrofia Miotônica de Steinert Tipo 1, utilizou-se da escala MFM para classificar os participantes do estudo em cinco classes, sendo: sem comprometimento clínico, mínimos sinais de incapacidade, fraqueza distal, fraqueza proximal e não deambulação para correlacionar com os objetivos do estudo em analisar composição corporal [15]. Em consequência das inúmeras possibilidades de técnicas de manuseios terapêuticos, atualmente, os fisioterapeutas e demais profissionais da saúde necessitam de instrumentos de avaliação que possam ser utilizados como ferramentas confiáveis para seleção de pacientes, monitorização da conduta terapêutica, bem como estabelecer prognóstico de recuperação e, consequentemente, um critério de alta [9,19]. As avaliações quantitativas e qualitativas das habilidades funcionais e incapacidades motoras são essenciais para o planejamento do programa de tratamento e para análise dos estágios de evolução da patologia. Medidas instrumentais para avaliar o déficit motor e força muscular são frequentemente utilizados [4,20,21]. Conclusão Torna-se necessário a utilização de ferramentas confiáveis para verificar o quadro evolutivo do paciente. Os fisioterapeutas e demais profissionais da saúde necessitam de instrumentos de avaliação que auxiliem na monitorização do paciente para melhor direcionar a conduta terapêutica, bem como estabelecer prognóstico. Este estudo demonstrou que a escala MFM é um eficaz método de avaliação de paciente com Distrofias Musculares Progressivas, possibilitando a mensuração do comprometimento motor e auxiliando no direcionamento do tratamento. Referências 1. Rodrigues F, Hoffmann DG, Meller J, Darolt SD, Amboni RS, Cruz TS, et al. Qualidade do sono em portadores de distrofias musculares progressivas. Neurociências 2010;6(3):170-5. 2. Mathia GBM, Rodrigues F, Silvestri BN, Chiappa GRS, Tuon L. Progressive muscular dystrophies and involvement of central nervous system. Neurociências 2010;6(4):232-8. 3. Darabas KC, Comim CM, Tuon L. Análise da funcionalidade e qualidade de vida em pacientes portadores de doenças neuromusculares. Fisioter Bras 2009;10(4):241-7. 4. 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O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da UC no tecido adiposo de coelhos. Trata-se de um estudo experimental, randomizado e controlado, com amostra de 12 coelhos albinos, pesos de ± 3 kg divididos em 3 grupos de 4 animais, os quais foram submetidos a uma dieta de cafeteria para aumentar o tecido adiposo dos animais e, posteriormente, receberam uma aplicação de UC na região ventral. Os animais do grupo 1 (G1) não receberam aplicação da UC, do grupo 2(G2) receberam 3 minutos, 30 W, modo contínuo a 100% cada 2 ERAS = 441,02 J/cm2, o grupo 3 (G3) 7 minutos, 30 W, modo contínuo a 100% cada 2 ERAS = 1029 J/cm2. Após 24 horas foi realizada a biópsia. Em seguida, foram confeccionadas lâminas histológicas e efetuada a contagem de adipócitos por campos em cada lamina. Foram aplicados os testes de ANOVA com post de Bonferroni. A análise qualitativa das lâminas histológicas resultou na diminuição do número de adipócitos, da espessura da derme, ocorrendo destruição das células adiposas ao mesmo tempo em que foi percebida a manutenção da integridade de estruturas circunvizinhas. Na análise quantitativa, os resultados estatísticos não apresentaram redução significativa provavelmente pelo número pequeno da amostra. The ultra-cavitation (UC) is a feature that uses the effects of high power ultrasound in adipocyte cell. The aim of this study was to investigate the effects of UC in the adipose tissue of rabbits. It was an experimental, randomized controlled trial. The sample was composed of 12 albino rabbits, weight 3 kg roughly, divided into 3 groups of 4 animals, which received UC application in the ventral region, based on the following parameters: The animals in group 1 did not received application of UC, the animals in group 2 received an application of 3 minutes, with power of 30 W, continuous mode, at 100% every 2 = 441.02 ERAS J/cm2. The animals in group 3 received an application for 7 minutes, with power of 30 W, continuous mode at 100% every 2 ERAS = 1029 J/cm2. Then histological slides were made and the adipocytes counted per fields in each slide. ANOVA tests were applied with Bonferroni post. The qualitative analysis of histological slides showed decrease of the number of adipocytes, decrease of the thickness of the dermis, occurring fat cell destruction at the same time that was perceived the integrity of the surrounding structures. In quantitative analysis, statistical results did not show significant reduction, probably by small number of the sample. Palavras-chave: ultrassom, fisioterapia, tecido adiposo, obesidade abdominal. Introdução A camada de tecido adiposo apresenta espessura variada de acordo com a sua localização e sua distribuição. Quando a gordura se deposita predominantemente na região abdominal, caracteriza-se como androide e é mais comum nos homens; quando a gordura é predominante nas coxas e quadris, caracteriza-se ginoide, sendo mais comum em mulheres [1]. Key-words: ultrasound, physical therapy, adipose tissue, abdominal adiposity. A obesidade abdominal ou obesidade androide, isto é, o aumento de tecido adiposo na região abdominal, é considerado um fator de risco para diversas morbidades, representando risco diferenciado quando comparada com outras formas de distribuição de gordura corporal [2], ou seja, é reconhecida, principalmente como fator de risco para doenças cardiovasculares, diabetes, dislipidemias e síndrome metabólica [3-6]. Além das doenças, há também o problema estético, pois a impossibilidade de eliminar a gordura localizada no abdômen Recebido em 17 de outubro de 2011; aceito em 29 de fevereiro de 2012. Endereço para correspondência: Patrícia Froes Meyer, Rua Maxaranguape 550/2603, 59020-160 Natal RN, E-mail: patrí[email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 106 05/07/2012 17:53:30 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 exige um tratamento complementar de redefinição das formas corporais. Para tanto, uma grande variedade de tratamentos tópicos, equipamentos, massagens e cirurgias como a lipoaspiração tem sido defendidos. Contudo, a maior parte destes tratamentos não apresenta resultados clinicamente objetivos e consistentes e/ou apresentam maiores riscos à saúde do paciente [2,7]. Atualmente, graças ao avanço da medicina aliada a tecnologia, já existem técnicas não invasivas para corrigir certas imperfeições faciais ou corporais. A radiofrequência, eletrolipoforese, aparelhos de ultrassom que utilizam diferentes frequências e potencias são alguns recursos tecnológicos da fisioterapia dermatofuncional que buscam tratar a adiposidade localizada [8]. O ultrassom pode se apresentar em altas e baixas frequências e potencias, consequentemente pode ter diferentes efeitos no tecido a ser tratado. Quando o ultrassom se propaga, o material torna-se compactado. Assim, as ondas de pressão entram no meio e se expandem novamente quando saem. Em tecidos vivos, estas repetidas compressões e rarefações podem causar bolhas microscópicas em forma biológica de fluidos que crescem em tamanho e oscilam até que implodem. Altas temperaturas podem ocorrer dentro das bolhas e as forças geradas pelo colapso das bolhas podem causar a morte celular através de processos mecânicos [9]. O processo pelo qual pequenas bolhas em um líquido são forçadas a oscilar na presença de um campo sonoro é chamado de cavitação não-inercial ou estável. No entanto, quando um volume de líquido é submetido a uma pressão suficientemente baixa, pode ocorrer o rompimento da bolha, sendo consequência deste efeito a cavitação instável [10]. Este processo mecânico é produzido por equipamentos de ultrassom em altas potências ou em baixas frequências e associado às altas temperaturas produzidas pelo fenômeno de cavitação que são suficientes para destruir o tecido focalizado, mas existe a grande vantagem de que o tecido circundante tratado permanece inalterado [11]. Os efeitos da cavitação no tecido têm aplicações terapêuticas, mas ainda pouco estudadas e, às vezes, estes efeitos podem ser imprevisíveis e difíceis de controlar [12,13]. Observando que a respeito desse assunto há poucas informações e que a deposição de gordura na região abdominal vem sendo considerada como grave fator de risco cardiovascular, este estudo se propôs a verificar o efeito da ultracavitação no tecido adiposo em coelhos, observados a partir de análise histológica [14]. Material e métodos Esta pesquisa foi caracterizada como um estudo experimental randomizado e controlado. A população desta pesquisa foi composta por 18 coelhos, de ambos os sexos, da espécie Oryctolagus cuniculus, da família Leporidae, do tipo albino, com pesos de 3 kg ± 500 g, pesados em balança de precisão com capacidade máxima de 30 kg e mínima de 2 g (Balmak Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 107 107 ELP® 6/15/30). Os animais tiveram origem do Biotério da Universidade Potiguar (UnP) e os mesmos passaram por um período de ambientação por 5 dias, no qual foram mantidos durante os protocolos experimentais ao mesmo ambiente, a uma temperatura entre 22o C a 27oC, iluminação controlada e o mínimo de ruído possível, com mesmo ciclo biológico com fotoperíodo de 12 horas claro e 12 horas escuro no laboratório de Biologia da UNP, em gaiolas individuais forradas com serragem, ambiente climatizado, onde receberam alimentação baseada em dieta de cafeteria e água com açúcar para ganho rápido de peso. Devido a essa dieta ser escassa de vitaminas e proteínas necessárias para o funcionamento normal do organismo, seis animais ficaram debilitados e morreram, gerando diminuição da amostra para 12 coelhos ao final. Os 12 coelhos foram divididos em 3 grupos de 4 espécimes, no qual o primeiro grupo (G1) foi o grupo controle. O segundo grupo (G2) e o terceiro grupo (G3) receberam uma aplicação de UC através do aparelho modelo Liposonic, marca Meditea, Argentina, sendo realizada a biópsia após 24 horas (Tabela I). Tabela I - Divisão dos grupos, procedimentos e biópsia. Grupos G-1 G-2 G-3 Amostra Lesão / Tratamento 4 animais Controle Experimental: 3 min. 30 4 animais W. Contínuo 100% cada 2 ERA = 441,02 J/cm2 Experimental: 7 min. 30 4 animais W. Contínuo 100% cada 2 ERA = 1029 J/cm2 Biopsia Após 24 horas Após 24 horas Após 24 horas Procedimentos Durante todo o experimento, os animais foram mantidos em gaiolas apropriadas. Em consequência do baixo peso apresentado pela amostra inicialmente e pela dificuldade dos coelhos em adquirir tecido adiposo, além da necessidade de se avaliar os efeitos da ultracavitação neste tecido, foi sugerida a dieta de cafeteria [15], específica para aumento de peso em pouco tempo para roedores. Os animais receberam durante um mês uma alimentação que era composta por um pacote pequeno de batata frita do tipo ruffles® 100 g (Marca Elma Chips®) por dia, biscoitos recheados sabor morango (marca Treloso®), 70 g para cada animal, por dia, e aproximadamente 70 g de açúcar para cada 1000 ml de água. O aumento na ingestão lipídica induziu ao balanço lipídico positivo e, consequentemente, ao acúmulo na massa adiposa corporal. Após de período de engorda, os animais foram submetidos inicialmente à anestesia mediante o uso do anestésico dissociativo (Zoletil® 50) por via IM (intramuscular) aplicado no quadríceps esquerdo. A dosagem do anestésico foi calculada de acordo com o peso do animal, sendo o valor de 15,0/30,0 mg/kg. Para a realização do processo de biópsia os animais 05/07/2012 17:53:31 108 foram previamente anestesiados com Zoletil 50® com 0,2 ml por 100 g via intramuscular. Em seguida foi realizada a depilação do ventre do animal, sendo feita manualmente e protegida com luvas de procedimento. Em seguida os animais foram submetidos ao tratamento de ultracavitação, com base nos seguintes parâmetros: Os animais do grupo 2 receberam uma aplicação de 3 minutos, com potência de 30 W. Modo contínuo a 100% cada 2 ERAS= 441,02 J/cm2. Os animais do grupo 3 receberam uma aplicação de 7 minutos, com potência de 30 W. Modo contínuo a 100% cada 2 ERAS= 1029 J/cm2. Os animais foram submetidos a uma assepsia do local com a substituição das luvas de procedimento por luvas estéreis, gaze estéril e Digluconato de Clorhexidina a 2% para que agentes externos não exercessem qualquer ação e evitar possíveis infecções cruzadas. Em seguida foi realizado um procedimento de punch cirúrgico, no qual foi realizada uma incisão de um raio de 2 cm2 sobre a pele com lâmina de bisturi número 15 em aço carbono no local correspondente a aplicação da UC, retirando até a derme profunda no ventre do animal com objetivo de se produzir uma amostra histológica de todos os grupos estudados. Após o procedimento cirúrgico a região lesionada foi suturada com Fio de Seda Odontológico 3-0, com agulha triangular cortante MT17 - 1,7 cm. Após o ato cirúrgico os animais receberam analgésico do tipo Dipirona Sódica gotas 500 mg/ml (Laboratório Medley) dissolvido na água. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Tabela II - Média dos pesos dos animais entre grupos antes e após dieta de cafeteria. GRUPO Antes G-1 2,297 g G-2 2,089 g G-3 2,081 g Fonte: Dados da Pesquisa. Após Dieta 2,700 g 2,505 g 2,669 g Tabela III- Destruição das células adiposas e integridade dos tecidos adjacentes. Animal Destruição das cel. adiposas G1C1 G1C2 G1C3 G1C4 G2C1 ++ G2C2 + G2C3 ++ G2C4 ++ G3C1 ++ G3C2 ++ G3C3 ++ G3C4 ++ Epiderme e derme Superficial Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Derme profunda Íntegro Íntegro Íntegro Íntegro Deg+ Deg++ Deg + Deg++ Deg+ Deg++ Deg++ Deg++ Mus/ nervo N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ N/ED+ DEG = Degeneração; N/ED = Degeneração não encontrada; + (concentração);++ (muita concentração) G = Grupo. C = Coelho. Fonte: Dados da Pesquisa. Análises histológicas Após a coleta, o fragmento biológico foi colocado em formol a 10% e encaminhado ao laboratório de Histologia da Universidade Potiguar, no qual recebeu tratamento histológico, no qual as lâminas foram confeccionadas com a coloração de Hemotoxilina e Eosina (HE). Após confecção das lâminas, as mesmas foram examinadas por três patologistas de maneira cega, em microscópio óptico Olympus. Microfotografias foram realizadas com câmera digital acoplada ao microscópio. Os dados coletados foram submetidos a um arranjo estatístico e foram analisados qualitativa e quantitativamente. O levantamento dos achados e a correlação entre as variáveis foram apresentados através de gráficos e tabelas. Diante do exposto na Tabela III verificou-se que no grupo controle não ocorreu destruição de células adiposas. No entanto, no grupo de 7 minutos, nota-se maior destruição em relação ao grupo de 3 minutos, isto pode ser considerado pelo fato da maior exposição de tempo no tecido à ação do aparelho levando assim uma melhor atuação do efeito de cavitação. Figura 1 - A: Fotomicrografia de animal do grupo G1 mostrando tecido adiposo hipoderme/ derme/epiderme íntegros- He 40x. B: Fotomicrografia de animal do grupo G2 mostrando integridade do tecido muscular – HE 40x. C: Fotomicrografia de animal do grupo G3 mostrando integridade do tecido colagenoso – HE 40x. Resultados Dentre os resultados observados neste estudo podemos observar as alterações devido à dieta de cafeteria, bem como aos efeitos do tratamento com a ultracavitação. A Tabela II demonstra a relação da média de pesos das amostras, antes do tratamento e depois da utilização da dieta de cafeteria. Os valores observados entre grupos foram de G1 = 2,297 g, G2 = 2,089 g e G3 = 2,081 g. Após a utilização da dieta de cafeteria, foi feita essa mesma média e observou-se um aumento para G1 = 2,700 g, G2 = 2,505 g e G3 = 2,669 g. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 108 05/07/2012 17:53:31 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 As análises histológicas mostraram a seletividade da ação do aparelho, como podemos observar na Figura 1A, representando um animal do grupo G1, que não recebeu aplicação da ultracavitação, como já previsto, observou-se a integridade das camadas da pele. Na Figura 1B, composta por fragmento de animal do grupo G2, mostra o tecido muscular sem alterações correlacionadas ao uso do aparelho e na Figura 1C mostra animal do grupo G3, que também recebeu aplicação e mesmo assim o tecido colágeno não sofreu alterações, estando ele íntegro em relação à ação da ultracavitação. 109 Figura 2 - A: Fotomicrografia de animal do grupo G1 (controle) mostrando hipoderme íntegra e organizada – HE 100x. B: Fotomicrografia de animal do grupo G2 (3 minutos) mostrando adipócitos presentes – HE 100x. C: Fotomicrografia de animal do grupo G3 (7minutos) mostrando destruição adiposa – HE 100x Tabela IV - Comparação de células adipocitas pré e pós-tratamento. Média Comparação G1: Controle vs. G2: 3 Min G1: Controle vs. G3:7Min G2: 3 Min VS. G3: 7Mim Média de t valor P valor diferença 3,250 0,497 ns P > 0,05 15,500 2,373 ns P > 0,05 12,250 1,876 ns P > 0,05 G1 = grupo controle. G2 = grupo (aplicação de 3min). G3 = grupo (aplicação de 7min). T valor = teste estatístico. Ns = não significativo. Tabela V - Comparação entre grupos da espessura de derme. Média Comparação Fonte: Dados da Pesquisa. A Tabela IV demonstra a análise quantitativa dos números de adipócitos, essa contagem foi feita por campo em cada lâmina e depois foram realizadas as médias desses valores. Em seguida foi aplicado o teste de Comparações Múltiplas Médias, ANOVA one-way com teste post-hoc de Bonferroni para identificar as diferenças estatísticas deste estudo, observou-se que, apesar da diferença dos números de células adiposas entre os grupos, quando aplicado o teste de comparação não houve diferença significativa, considerando que o P valor > 0,05 é o nível de significância utilizado para o estudo destes dados. Visualizando a Tabela IV é interessante notar que na comparação do G1 versus G2, a média foi pequena, porém na comparação do G1 versus G3, esta média foi maior, provavelmente pela destruição das membranas das células adiposas e não pelo aumento do tamanho dessas células. Observou-se que no grupo que recebeu aplicação do aparelho por 7 minutos ocorreu uma maior destruição de adipócitos. Histologicamente, observa-se na Figura 2A no grupo controle, como já previsto, a hipoderme íntegra sem a degradação dos adipócitos; na Figura 2B, do grupo que sofreu a aplicação por 3 minutos ainda encontram-se células adiposas em maior quantidade, com aspecto de alteração da forma das células, mas sem degradação. Na Figura 2C há lesão dos adipócitos demonstrada na área demarcada. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 109 G1: Controle vs. G2: 3 Min G1: Controle vs. G3: 7 Min G2: 3 Min vs. G3: 7 Min Média de diferença -0,03250 t valor P value 0,1803 ns P > 0,05 0,2900 1,609 ns P > 0,05 0,3225 1,789 ns P > 0,05 G1 – grupo controle. G2 – grupo (aplicação de 3min). G3 – grupo (aplicação de 7min). T valor – teste estatístico. Ns – não significativo. Fonte: Dados da Pesquisa. A Tabela V apresenta a comparação entre a espessura da derme. A utilização da UC neste estudo demonstra que apesar de ter diferença, a mesma não foi significativa, comparando-se os grupos G1, G2 e G3. Possivelmente estes resultados tenham relação com a perda amostral sofrida no início. Discussão A redução de medidas é um dos objetivos mais desejados nos tratamentos da adiposidade localizada, com a finalidade de minimizar a espessura do tecido. Vários recursos da fisioterapia dermatofuncional têm tentado minimizar a espessura do tecido adiposo, no entanto quanto menos tecido dérmico for afetado, maior será a redução no tecido subcutâneo e de suas células adiposas [16]. Com relação à destruição das células adipocitárias promovida pela UC, este estudo confirma os resultados de Adamo [17] quando diz que conseguindo gerar uma cavitação instável 05/07/2012 17:53:31 110 no tecido adiposo, esta é capaz de promover a lipólise, ou seja, o rompimento da membrana do adipócito. Apesar da verificação da lipólise após a utilização da UC, observou-se que o G3 obteve maiores efeitos possivelmente pelo aumento do tempo de incidência do ultrassom. Coleman et al. [18] também afirmam que as ondas ultrassônicas criam ciclos de compressão que exercem pressão positiva e ciclos de expansão que exercem pressão negativa criando uma inumerável quantidade de nanobolhas que os diferenciam do ultrassom convencional. Estas nanobolhas acumulam energia e crescem a um tamanho que se tornam instáveis e implodem nas cavidades do líquido intersticial no tecido adiposo, este efeito pode levar à ruptura das células de gordura. Focalizando esta energia ultrassônica para derme profunda, pode levar a redução de gordura e teoricamente da espessura total da camada adiposa. O processo seletivo da lise do adipócito aconteceu sem causar nenhum dano aos tecidos adjacentes, tais como epiderme, derme superficial, nervos periféricos corroborando estudos de Santos e Félix [19]. A ultracavitação tem como base o ultrassom terapêutico cavitacional, agindo seletivamente nas células adiposas, preservando as outras. Uma quantidade de energia pré-determinada de ultrassom é convertida, causando uma destruição mecânica das membranas das células gordurosas. Como a energia é liberada, não existe elevação significante de temperatura. O efeito mecânico permite a seletividade do tecido e somente as células adiposas dentro da área tratada são destruídas - enquanto os tecidos adjacentes, incluindo vasos sanguíneos, nervos, músculos e tecidos conectivos permanecem inalterados. Outros autores corroboram estes achados como Moreno-Moraga et al. [20] e Coleman et al. [18]. Segundo esses autores, histologicamente foi confirmada a presença de lise celular de adipócitos rodeada de vasos e nervos intactos. Após a ruptura das células de gordura, o conteúdo, composto principalmente de triglicérides, fica disperso no espaço intersticial e é transportado através do sistema linfático até o fígado. Essas triglicérides são lentamente metabolizados pela lipase endógena para ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos são transportados para o fígado onde serão processados de modo semelhante aos ácidos graxos provenientes de dieta. Segundo Del Niro [21], na prática clínica o tempo de aplicação da ultracavitação é de aproximadamente 20 a 30 minutos, dependendo da quantidade e localidade da gordura a ser tratada. A recomendação é que se tratem no máximo duas regiões por sessão, sendo o intervalo recomendado de uma a duas semanas. Considerando o tamanho do animal e de sua camada adiposa em relação aos seres humanos, correlacionou-se este tempo a uma quantidade bem menor (3 a 7 minutos), no caso deste estudo. Hotta [22] encontrou efeitos no tecido adiposo, após aplicação da ultracavitação, cujos resultados foram obtidos através de fotografias clínicas e medições de peso e circunferência. Foi identificada perda média de peso de 2,310 kg e perda média de centímetros de 2,5 cm por área de tratamento em 70 pacientes. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 110 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Esse estudo teve como limitações a perda amostral dos animais o que dificultou a análise estatística dos dados observados, bem como a carência de uma análise histológica mais aprofundada, devido à limitação das possibilidades de ampliação da microscopia óptica. Portanto, sugere-se a realização de um estudo com metodologia semelhante, com um campo amostral maior, variações de parâmetros como tempo de aplicação, doses e número maior de aplicações, e finalmente, estudos em humanos para melhor confirmação destes resultados e verificação dos efeitos sobre o tecido adiposo humano. Conclusão Os efeitos da ultracavitação em coelhos não apresentaram diferença estatística significativas na contagem de células adiposas, no entanto a análise qualitativa das lâminas histológicas resultou na diminuição do número de adipócitos, da espessura da derme, ocorrendo destruição das células adiposas ao mesmo tempo em que foi percebida a manutenção da integridade de estruturas circunvizinhas. Verificou-se isso, através das mensurações histológicas por meio de microfotografias, porém os dados estatísticos não apresentaram redução significativa. Além disso, observou-se que a utilização de UC demonstrou seus efeitos favoráveis a redução do tecido adiposo, principalmente com os parâmetros de 7 minutos, com potência de 30 W. Modo contínuo a 100% cada 2 ERAS = 1029 J/cm2. Referências 1. Mendonça AG, Rodrigues RD, Corradi DP, Cruz LB, Meyer PF, Antunes MJ, et al. Protocolo de avaliação fisioterapêutica em adiposidade localizada. Fisioter Bras 2008(suppl);26-31. 2. 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M.Sc.***, Camila Pereira Leguisamo, D.Sc. *Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, **Hospital da Cidade de Passo Fundo, ***Universidade de Passo Fundo (UPF), ****Docente do curso de Fisioterapia e de Programa de pós-graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo (UPF) Resumo Abstract Introdução: A doença renal crônica terminal (DRCT) ocasiona complicações pulmonares que comprometem a qualidade de vida dos portadores. Objetivo: Avaliar função pulmonar e força muscular ventilatória de pacientes com DRCT pré e pós-hemodiálise. Material e métodos: Pesquisa quantitativa, analítica e transversal, amostra de 42 indivíduos com DRCT. Dados relativos ao tempo de diagnóstico, tratamento dialítico, tabagismo, patologias basais, comorbidades foram obtidos através de ficha de avaliação. Analisada função pulmonar através da espirometria. Pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx), pela manovacuometria pré e pós sessão de hemodiálise. Teste t de student e coeficiente de correlação de Pearson foram utilizados para tratamento estatístico dos dados. Resultados: Indicadores da função pulmonar: capacidade vital forçada (CVF) (p = 0,381), volume expiratório forçado no 1 segundo (p = 0,714) e pico de fluxo expiratório (p = 0,163) não apresentaram diferença significativa pós-hemodiálise. Indicadores da força muscular ventilatória: aumento significativo de PImáx (p = 0,003) e PEmáx (p = 0,010) pós-hemodiálise. Variáveis espirométricas e de força muscular apresentaram-se abaixo do valor predito na maioria da amostra. Correlação significativa entre variação de CVF pré e pós-hemodiálise e perda de peso (r = 0,36, p = 0,030). Conclusão: Foi observada redução da função pulmonar e da força muscular ventilatória nos indivíduos avaliados. O incremento de PImáx e PEmáx pós-hemodiálise não foram suficientes para atingir os valores previstos. Introduction: The end-stage chronic kidney disease causes lung complications that compromise the quality of life of patients. Objective: To evaluate pulmonary function and respiratory muscle strength of patients with Chronic Renal Insufficiency before and after hemodialysis. Methods: Quantitative research, analytical cross-sectional, sample of 42 individuals with end-stage chronic kidney disease. Data about the time of diagnosis, dialysis, smoking, baseline conditions and comorbidities were obtained through evaluation form. The lung function was measured using spirometry. Maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP) were measured using the manometer before and after hemodialysis session. Student’s t test and Pearson’s correlation coefficient were used for statistical treatment of data. Results: Indicators of the pulmonary function: forced vital capacity (FVC) (p = 0,381), forced expiratory volume in the 1 second (p = 0,714) and peak expiratory flow (p = 0,163) showed no significant difference after hemodialysis. Indicators of respiratory muscle strength: significant increase in MIP (p = 0,003) and MEP (p = 0,010) after hemodialysis. Both spirometric and muscle strength variables were below of the predicted values in most of the sample. Significant correlation between FVC before and after hemodialysis and weight loss (r = 0, 36, p = 0,030) was noticed. Conclusion: We observed decrease in pulmonary function and respiratory muscle strength. The increase of MIP and MEP after hemodialysis was not enough to reach the predicted values. Palavras-chave: insuficiência renal crônica, diálise renal, ventilação pulmonar, músculos respiratórios, espirometria. Key-words: chronic renal insufficiency, renal dialysis, pulmonary ventilation, respiratory muscles, spirometry. Recebido em 26 de outubro de 2011; aceito em 15 de fevereiro de 2012. Endereço para correspondência: Renata Maraschin, Rua João de Césaro, 305, Vila Rodrigues, 99070-140 Passo Fundo RS, Tel: (54)3313-5582, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 112 05/07/2012 17:53:31 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução A doença renal crônica (DRC) consiste na perda progressiva e irreversível das funções glomerular, tubular e endócrina do rim com uma taxa de filtração glomerular (TFG) menor que 60 mL/min/1,73m² por um período maior ou igual a três meses. Quando a TGF atinge níveis menores que 15mL/ min/1,73m² a DRC passa a denominar-se doença renal crônica terminal (DRCT) ou dialítica, pois o tratamento inclui a possibilidade de hemodiálise (HD), diálise peritonial (DP) e transplante renal [1]. Entre os aspectos que podem contribuir para a caracterização dessa doença como importante problema de saúde pública destaca-se a crescente prevalência de pacientes em diálise e atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, em março de 2008, essa prevalência era de 6.394 indivíduos atendidos na região sul e de 41.614 indivíduos em todo o país. Desse total de atendimentos dialíticos no Brasil, 87,2% são realizados em unidades vinculadas ao SUS [2]. Além desses aspectos de natureza estatística, também aqueles relacionados à qualidade de vida dos portadores tendem chamar a atenção para a DRCT. Os sinais e sintomas da doença e os efeitos colaterais do tratamento se traduzem em condições que, com frequência, influenciam negativamente nas atividades de lazer, de trabalho, nos relacionamentos familiares e sociais e implicam, não raro, em afastamento desses indivíduos do convívio social, em depressão, tristeza e sofrimento. Nesse sentido, a literatura afirma o comprometimento da capacidade funcional dos doentes renais crônicos terminais para a realização de atividades diárias. Esse comprometimento tende ser descrito como resultado de alterações cardiopulmonares, musculoesqueléticas, neurológicas, hidroeletrolíticas e endocrinometabólicas, as quais induzem à síndrome urêmica, fadiga, dor em membros inferiores, hipertensão arterial sistêmica, anemia, fraqueza muscular generalizada e dispneia [1]. Estudos demonstram que a dispneia nesses indivíduos pode estar relacionada às repercussões da hemodiálise no sistema respiratório, quais sejam: decréscimo de ventilação alveolar e consequente diminuição da PaO2, hipertensão pulmonar, fibrose pulmonar e redução na capacidade de difusão pulmonar de monóxido de carbono pela diminuição dos componentes do volume sanguíneo de capilares pulmonares [3-6]. Considerando essa tendência de repercussões do tratamento hemodialítico no sistema respiratório de portadores de DRCT, o presente estudo teve como objetivo avaliar a função pulmonar e a força muscular ventilatória de pacientes com DRCT pré e pós- hemodiálise e, dessa forma, disponibilizar subsídios que ampliem o entendimento sobre as demandas relacionadas ao sistema respiratório desses indivíduos antes e após a hemodiálise. Nesse sentido, a fisioterapia pode contribuir na prevenção, no retardo da evolução e na melhoria de complicações respiratórias apresentadas pelo paciente que realiza tratamento dialítico [7], visando o incremento da ca- Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 113 113 pacidade funcional e o alívio do sofrimento desses indivíduos e de suas famílias. Material e métodos Trata-se de estudo de caráter quantitativo, analítico do tipo transversal. Os indivíduos foram selecionados através de amostragem não probabilística, independente da etnia, sexo, escolaridade e estado civil. Assim, participaram do estudo 42 indivíduos portadores de doença renal crônica terminal de ambos os sexos que preencheram os critérios de inclusão do estudo, quais sejam: idade superior a 18 anos, frequentar, há pelo menos três meses, sessões de hemodiálise na frequência de três vezes por semana. O estudo foi realizado em um hospital de médio porte de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2010. O protocolo de pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética institucional sob o registro 0141.0.398.00009 / 09-10-2009. Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido após a leitura do mesmo e considerações dos pesquisadores. As avaliações foram realizadas em um encontro no consultório do setor de hemodiálise, trinta minutos antes do início da segunda sessão semanal de hemodiálise e trinta minutos após o término. Optou-se por avaliar os indivíduos na segunda sessão da semana devido a menor instabilidade hemodinâmica, comparada à primeira sessão semanal, uma vez que a realização das manobras forçadas pode desencadear alterações hemodinâmicas [8]. Inicialmente foi preenchida uma ficha de avaliação, contendo dados referentes ao tempo de diagnóstico da doença, duração total do tratamento dialítico, características relacionadas ao tabagismo, patologias de base, comorbidades, medicamentos em uso, peso e altura. Os valores do índice de Kt/V, o qual é utilizado para adequação da hemodiálise, foram coletados através de dados fornecidos nos prontuários de cada paciente. Para análise da função pulmonar foi realizada a espirometria através de um aparelho da marca Clement Clarke®. As orientações para execução das manobras foram feitas de acordo com as diretrizes para provas de função pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia [9]. Foram realizadas manobras de expiração forçada na posição sentada em 90º de quadril e joelho com as costas livre de apoio, para mensurar o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), a capacidade vital forçada (CVF), pico de fluxo expiratório (PFE) e o índice de tiffeneau (VEF1/CVF). Os valores obtidos pré e pós-hemodiálise foram comparados ao previsto [10]. Posteriormente, foi realizada a análise da força muscular ventilatória. Foram mensuradas as pressões inspiratórias (PImáx) e expiratórias (PEmáx) máximas através do manovacuômetro da marca Suporte® classe B ABNT, −150 ∕+150 (cm H2O). A verificação da PImáx foi realizada na posição sentada, com o tronco em um ângulo de 90º graus com as coxas, braços 05/07/2012 17:53:31 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 114 relaxados na lateral do tronco, e com o nariz ocluído por um clipe nasal. O indivíduo realizava expiração até alcançar o volume residual e, então, o avaliador conectava a peça bucal do manovacuômetro na boca do avaliado que realizava um esforço inspiratório máximo. Para a verificação da PEmáx realizou-se uma inspiração até alcançar a capacidade pulmonar total e, em seguida, conectava-se a peça bucal do manovacuômetro, quando o indivíduo realizava uma expiração máxima [11]. Foram realizadas pelo menos três manobras aceitáveis e a partir de cada manobra foi anotada a pressão mais elevada (mais negativa na PImáx e mais positiva na PEmáx), sendo que a diferença entre o valor mais alto e o segundo mais alto não poderia diferir mais que 10%. Os valores obtidos pré e pós-hemodiálise foram comparados ao previsto [12]. As variáveis numéricas foram expressas como média ± desvio padrão e as categóricas como frequência absoluta e relativa. As comparações entre variáveis contínuas pré e pós-hemodiálise foram avaliadas pelo teste t de student pareado. As associações entre perda de peso e função pulmonar e força muscular ventilatória foram avaliadas pelo coeficiente de correlação de Pearson. O valor de p assumido foi p < 0,05. Resultados A amostra foi constituída por 42 indivíduos, em que 24 (57,1%) eram do sexo masculino, com média de idade de 53,5 ± 14,3 anos. Em relação às variáveis massa corporal seca e estatura, a média de massa corporal seca foi de 66,6 ± 13,4 quilogramas e a média da estatura de 166,7 ± 7,9 cm. 92,85% dos pacientes utilizavam eritropoetina (Eprex) para correção anêmica, com valores médios de dosagem semanal de 2,7 ± 1,0 UI. O índice de adequação de hemodiálise (Kt/V) foi em média de 1,4 ± 0,4. 19% dos indivíduos eram tabagistas, 31% ex-tabagistas e 50% não tabagistas. Foi detalhada ainda a prevalência das patologias de base e comorbidades associadas presentes na amostra, sendo que a glomerulonefrite crônica foi a mais prevalente (38,1%), como pode ser observado na Tabela I. Tabela I - Patologias de base e comorbidades. Variável Patologias de base Glomerulonefrite crônica Hipertensão Arterial Sistêmica Diabetes mellitus Rim policístico do adulto Outras Comorbidades Diabetes Cardiopatia Problemas respiratórios Tabagismo atual Estatística Observou-se que as forças musculares inspiratória e expiratória máxima foram estatisticamente maiores após a hemodiálise (p = 0,003 e p = 0,010 respectivamente), contudo não atingiram os valores previstos, como demonstra a tabela II. Através da comparação de valores de PImáx e PEmáx obtidos, 47,61% (20) dos indivíduos apresentaram fraqueza muscular, definida como a não obtenção de 70% do valor previsto de acordo com sexo e idade. Já 19,05% (8) atingiram os valores de força inspiratória e expiratória pré e pós-hemodiálise, sendo que o restante, 33,3% (14), não obteve homogeneidade nos resultados, ou seja, ora atingiram 70% do valor previsto antes da hemodiálise e ora atingiram 70% do valor previsto após a hemodiálise. Em relação à função pulmonar, as variáveis espirométricas (VEF1, CVF e pico de fluxo expiratório) não apresentaram melhora significativa pós-hemodiálise. Ao analisar os valores previstos para as variáveis espirométricas, observou-se que os 42 indivíduos (100%) avaliados não atingiram os valores previstos para sexo e idade pré e pós-hemodiálise, como demonstra a Tabela II. Tabela II - Força muscular ventilatória, função pulmonar e massa corporal pré e pós- hemodiálise. Variável PI (cmH2O) PE (cmH2O) PI (%previsto) PE (%previsto) VEF1 (L) CVF (L) VEF1 (%previsto) CVF (%previsto) Peak Flow (L/ min) Peak Flow (%previsto) Massa corporal (kg) Tempo Pré-diálise Pós-diálise -62,4 ± 24,3 -69,7 ± 28,3 98,9 ± 34,8 105,5 ± 36,3 59,9 ± 21,8 65,5 ± 23,8 53,5 ± 18,9 57,0 ± 20,9 1,9 ± 0,6 1,9 ± 0,6 2,1 ± 0,7 2,1 ± 0,7 63,0 ± 18,4 64,5 ± 17,6 58,3 ± 16,5 57,8 ± 15,6 243,5 ± 103,0 257,3 ± 98,5 p 0,003* 0,010* 0,003* 0,010* 0,714 0,381 0,612 0,639 0,163 47,8 ± 20,1 50,5 ± 19,1 0,157 69,4 ± 14,1 66,9 ± 13,5 < 0,001* Valores expressam média ± desvio padrão. PI: pressão inspiratória; PE: pressão expiratória; VEF1: volume expiratório forçado em 1 segundo; 16 (38,1%) 1 (2,4%) 10 (23,8%) 4 (9,5%) 11 (26,4%) 17 (40,5%) 36 (85,7%) 10 (23,8%) 8 (19,0%) Valores expressam frequência absoluta e relativa ou média ± desvio CVF: capacidade vital forçada, peak flow: pico de fluxo expiratório. Diferença significativa (*). A Figura 1 apresenta a correlação entre variação de CVF pré e pós-hemodiálise e perda de peso. Observou-se correlação estatisticamente significativa entre perda de peso e variação de CVF pré e pós-hemodiálise (r = 0,36, p = 0,030). Não se observaram associações estatisticamente significativas entre perda de peso e variação de VEF1pré e pós-hemodiálise (r = 0,081, p = 0,625), PFE (r = -0,16, p = 0,336), PI (r = -0,09, p = 0,602) e PE (r = 0,19, p = 0,249). padrão. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 114 05/07/2012 17:53:31 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Figura 1 - Correlação entre variação de CVF pré e pós-hemodiálise e perda de peso. Variação CVF pré e pós hemodiálise 20 10 0 -10 R2 Linear = 0,131 -20 0 1 2 3 Perda de Peso (kg) 4 5 Discussão No presente estudo foi possível observar que pacientes com DRCT apresentaram diminuição da força muscular ventilatória e das variáveis espirométricas. Esses achados podem ser atribuídos aos recorrentes edemas pulmonares e a obstruções das pequenas vias aéreas, com evolução para fibrose intersticial pulmonar e redução do volume de reserva pulmonar. Ainda, a redução da força muscular ventilatória pode estar relacionada à fraqueza muscular periférica, uma vez que os sistemas respiratório e musculoesquelético são afetados tanto pela doença renal quanto pela diálise, apresentando alterações na estrutura e na função muscular, provocando déficit na capacidade física e na redução das atividades aeróbicas. O impacto da DRCT na disfunção do sistema muscular resulta em diversos fatores como a atrofia, pela mudança na taxa de síntese e degradação de proteínas. Além disso, a má nutrição provoca perdas musculares, ocasionando fraqueza muscular com predomínio em membros inferiores. Por sua vez, o desequilíbrio hidroeletrolítico e desordens ácido-básicas, afetam diretamente a homeostase corporal levando a uma desordem generalizada [7,13]. Apesar das causas da fraqueza muscular em indivíduos portadores de DRCT e submetidos à hemodiálise serem pouco esclarecidas, comumente são descritas enquanto multifatoriais, complexas e relacionadas à síndrome urêmica, redução da hemoglobina, deficiência de cartinina, anormalidades mitocondriais e do metabolismo energético. Estudos [14,15] têm demonstrado a existência de alterações na força muscular e função pulmonar em indivíduos com DRCT bem como valores de força muscular respiratória abaixo dos valores previstos, pelo sexo e idade [1] e redução significativa da capacidade vital que se encontra, em média, abaixo do valor mínimo esperado [16]. Essas alterações podem comprometer o desenvolvimento de atividades básicas, de lazer, trabalho e convívio social, interferindo diretamente na qualidade de vida destes pacientes [17,14]. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 115 115 Ainda, foi possível observar nos resultados do presente estudo uma melhora estatisticamente significativa dos valores de força muscular inspiratória e expiratória pós-hemodiálise, porém estes não foram suficientes para que todos os pacientes da amostra atingissem o valor previsto. Este aumento pode ser atribuído ao tratamento hemodialítico, pois com a redução do líquido extracorpóreo pode-se aumentar a excursão diafragmática aumentando potencialmente a força muscular inspiratória [18]. Também se observou que 20 (47,61%) pacientes não atingiram o valor previsto para PI e PE, tanto pré como pós-hemodiálise, sendo que apenas 08 (19,05%) conseguiram atingir esta média, o que demonstra uma importante diminuição da força muscular nos portadores de DRCT desta amostra. A literatura [19] descreve ser possível que a força muscular inspiratória apresente melhora após a hemodiálise, o mesmo não ocorrendo em relação à força muscular expiratória. Descreve, ainda, em relação aos valores previstos, que tanto a PImáx como a PEmáx podem não alcançar os valores previstos na maioria dos pacientes, tanto pré como pós-hemodiálise Assim, os músculos respiratórios apresentam redução de força significativa nos indivíduos com DRCT, sendo uma das complicações pulmonares encontradas na maioria dos pacientes em tratamento de hemodiálise. Esta redução de força muscular pode estar relacionada à miopatiaurêmica, pois as toxinas circulantes em excesso afetam o sistema pulmonar, dificultando a respiração e sua eficiência [20,13]. Em relação à prova de função pulmonar, foi possível observar no presente estudo que todos os valores espirométricos (CVF, VEF1 e PFE) ficaram abaixo do valor previsto. Esta redução pode ser explicada pela ocorrência de insultos pulmonares repetidos e pela sobrecarga de fluidos que podem danificar a parede alvéolo capilar e induzir a uma redução na capacidade de difusão sem sintomas óbvios. É possível que esses repetidos episódios de edema subclínico, que ocorrem no intervalo de cada sessão de hemodiálise, possam induzir à fibrose intersticial, justificando os índices mais baixos de CVF e VEF1 em doentes renais em tratamento hemodialítico por um período maior de tempo [21]. Estudos realizados [21-23] mostraram resultados semelhantes, em que foram obtidas variáveis espirométricas abaixo do previsto. Mesmo com alterações significativas em relação à pré e pós-hemodiálise, os dados ainda estão abaixo do normal. Avaliando-se as espirometrias obtidas pré e pós-hemodiálise, observou-se que a CVF e a VEF1 não obtiveram diferença estatisticamente significativa. O mesmo não é descrito em alguns estudos [21] em que ao se avaliar individualmente as variáveis espirométricas dos pacientes, definiu-se que os indivíduos com padrão respiratório restritivo e em menor tempo de diálise obtiveram melhora significativa dos resultados pós-hemodiálise. Em relação ao PFE, pode-se observar que esse apresentou um aumento significativo pós-hemodiálise. Mudanças no PFE durante a hemodiálise são, provavelmente, o reflexo do balanço entre melhora 05/07/2012 17:53:32 116 esperada devido à remoção de fluidos durante a hemodiálise e broncoconstrição devido à bioincompatibilidade da membrana de diálise [24]. Alguns estudos [21] mostram um maior aumento no PFE em indivíduos com perdas de líquido maiores que 2 kg durante sessão de hemodiálise. No presente estudo, não se observou correlação significativa entre variação de peso corporal e aumento nos níveis de PFE. A distribuição da água corporal após hemodiálise é diferente em cada paciente e isso pode explicar diferentes variações de PFE em pacientes com a mesma perda percentual de peso corporal Observou-se também no presente estudo que ao correlacionar a perda de peso pós-hemodiálise com as variáveis espirométricas de CVF, VEF1 e PFE, somente a variável da CVF teve correlação positiva e significativa com a perda de peso, ou seja, quanto maior a perda de peso maior a CVF. O fato das outras variáveis não terem correlação com a perda de peso pode ser explicada pela retenção de líquidos que seria suficiente para modificar a expansibilidade pulmonar e a permeabilidade das vias aéreas de menor calibre. Geralmente, com o tratamento hemodialítico, o edema desaparece rapidamente sem deixar sequelas importantes, ou seja, o acúmulo de líquidos em pacientes com DRCT está diretamente ligado com a CVF. Quando retirado o excesso de líquido pela diálise tende-se a aumentar a CVF diminuindo o fator restritivo [25,26,13]. O desenvolvimento de distúrbio ventilatório restritivo pode ocorrer em pacientes submetidos à hemodiálise regular de longo prazo. Os efeitos agudos na microcirculação podem potencializar a redução da capacidade de difusão pulmonar, adquirida por consequência do desenvolvimento da fibrose pulmonar [27]. O processo de hemodiálise pode remover de 01 a 04 litros de fluido no período médio de 04 horas e, dependendo do paciente e da eficiência da diálise, as alterações no volume do fluido corporal podem resultar em situações que variam desde edema e congestão pulmonar até hipotensão e desidratação. Estas constantes variações hídricas podem tornar imprecisas as medidas da composição corporal, dificultando a avaliação e o acompanhamento do estado nutricional [28]. Outra complicação que pode ocorrer com intensidade variada em qualquer paciente é a síndrome do desequilíbrio da diálise, caracterizada por cefaleia, náuseas, vômito, tremores, confusão mental, convulsões e coma. Durante as sessões ainda podem ocorrer arritmias, câimbras, reações alérgicas (do tipo anafilático), prurido, reações pirogênicas, hemólise aguda, coagulação do sangue no dialisador, embolia gasosa e distúrbios eletrolíticos, como anormalidades nos níveis de sódio, potássio, cálcio e fósforo [29-31]. Assim, parece importante que a equipe multidisciplinar, consciente dos desdobramentos da DRCT e da hemodiálise, esteja alerta a essas repercussões musculares, ventilatórias e hemodinâmicas e a esses indicadores, com o intuito de prevenir agravos antes, durante e após a hemodiálise. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 116 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Mesmo na ausência de sintomas respiratórios, doentes renais em tratamento hemodiálitico apresentam comprometimento da função pulmonar e da força ventilatória que, ao ser identificado, pode resultar no estabelecimento de um programa preventivo e/ou de reabilitação adequado para esses pacientes. Ainda, ressalta-se a importância de serem realizados outros estudos nesse âmbito com o intuito de alertar os profissionais que atuam com portadores DRCT em hemodiálise sobre os distúrbios ventilatórios e funcionais que podem ocorrer nesses indivíduos. Também a realização de estudos que visem ampliar as possibilidades de ação do fisioterapeuta no que se refere à adoção de programas de reabilitação fisioterapêutica, não somente no período interdialítico, mas também no período intradialítico. É possível que ao incrementar a força muscular ventilatória e a função pulmonar ao mesmo tempo em que realizam o tratamento hemodialítico seja otimizado o tempo em que os doentes renais crônico estão dializando, o que minimizaria o sofrimento desses indivíduos, contribuindo para a melhora biológica, psicológica, social e cultural de sua qualidade de vida. Conclusão Os pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise, neste estudo, apresentaram redução da função pulmonar e da força muscular ventilatória. Embora tenha sido observado incremento da força muscular inspiratória e expiratória, após a sessão de hemodiálise, esse aumento não foi suficiente para que fossem atingidos os valores previstos. Frente a esses resultados, parece importante que sejam realizadas avaliações periódicas no âmbito pneumofuncional desses pacientes, ressaltando a importância do fisioterapeuta no setor de terapia renal substitutiva. Referências 1. 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Para avaliar os efeitos da intervenção nos sujeitos foram utilizados dois instrumentos de medida WHOQOL-bref e o HAQ - simplificado (Health Assessment Questionnaire). O tratamento proposto aos dois sujeitos trouxe resultados positivos, como a diminuição das dores nas mãos e a melhoria da capacidade funcional para realizar as AVD. Tais efeitos foram fundamentais para a melhora do estado físico e emocional. This paper aims at reporting the effects of intervention using morphoanalytical therapy approach, combined with hand therapy, to measure functional status in Activities of Daily Living (ADLs) and quality of life in two subjects with Rheumatoid Arthritis (RA), during a period of ten months. In order to evaluate the effects of intervention in the two subjects we used the WHOQOL-bref and the Health Assessment Questionnaire – short version. The results show positive effects with treatment offered to the subjects, such as reducing hands pain and improvement in functional capacity to perform ADLs. These effects were important to improve physical and emotional conditions. Palavras-chave: artrite reumatóide, terapia ocupacional, qualidade de vida, saúde holística, atividades cotidianas. Key-words: arthritis rheumatoid, occupational therapy, quality of life, holistic health, activities of daily living. Introdução danos estruturais e emocionais. A AR pode atingir qualquer articulação do corpo, mas é mais perceptível quando acomete as mãos ou os punhos. As pessoas portadoras de AR muitas vezes encontram-se limitadas para desenvolver suas atividades cotidianas e laborais. Apresentam redução de até 20 anos no tempo de trabalho, o que gera altos custos socioeconômicos e prejuízos na qualidade de vida [1-3]. A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória articular de etiologia desconhecida, com evolução crônica, que acomete indivíduos de qualquer raça, com predominância do sexo feminino na proporção de 3:1. É caracterizada por dor articular, rigidez, fadiga, deformidades físicas, com Recebido em 5 de dezembro de 2011; aceito em 10 janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Cristiane Miryam Drumond de Brito, Rua Dona Alexandrina, 83 31230-030 Belo Horizonte MG, Tel: (31)34116917, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 118 05/07/2012 17:53:32 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Os pacientes com AR apresentam transtornos depressivos e de ansiedade acima da média da população em geral e isto permite compreender que uma pessoa com dor e limitação física constante, apresente alterações no seu estado emocional e consequentemente em sua qualidade de vida [1]. A definição de qualidade de vida é subjetiva e multifatorial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) a definiu como a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, no contexto da cultura, do sistema de valores em que este vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações [4]. A limitada qualidade de vida dos portadores de AR, associada à definição supracitada, subsidiou o setor de Terapia Ocupacional do Ambulatório Araújo Lima, localizado em Manaus, para desenvolver um trabalho diferenciado com essa população. Nesse serviço, os pacientes com AR são atendidos em grupo com outros indivíduos, que apresentam diversos diagnósticos. O trabalho terapêutico emprega a Terapia Morfoanalítica, um método que utiliza o recurso psicocorporal global analítico, ou seja, integra o trabalho corporal com o trabalho verbal, infraverbal, emocional, mental, imaginário e simbólico, criado por Serge Peyrot - fisioterapeuta francês [5]. Neste ambulatório a Terapia Morfoanalítica é associada à especialidade da Terapia da Mão, a fim de facilitar o cuidado integral aos pacientes com AR. A Terapia Morfoanalítica é um método de trabalho orientado e suave que tem efeito nas tensões musculares oriundas de aspectos físicos e/ou psíquicos. “O terapeuta morfoanalista trabalha a cada instante com o corpo e com a sua expressão, considerando o corpo como resultado da realização e manifestação da vida” [5]. Essa terapia atua com base em três pilares, o primeiro é o corpo real, que se constitui de músculos, ossos e ligamentos, o segundo é o corpo vivenciado, que é o corpo das sensações (volume, peso e comprimento), das percepções (visuais, auditivas e olfativas) e o terceiro, o corpo emocional, o qual acumula as lembranças, desde o início da vida, de experiências, traumatismos, sentimentos, dores, frustrações, etc. Esses três corpos permitem trabalhar na integração do ser e em contato com a realidade, assim podemos definir um quarto corpo, ou seja, o corpo relacional, que possibilita o intercâmbio dos sentidos corporais com a realidade. A Terapia Morfoanalítica pode potencializar as técnicas e os recursos utilizados na Terapia da Mão, sendo essa última uma especialidade no processo de reabilitação de pacientes com problemas e/ou dificuldades no uso da mão, submetidos ou não a cirurgias, que prioriza, com os seus vários procedimentos, o controle da dor e do edema; a realização de exercícios e atividades para ganho de amplitude de movimento e força; a orientação para a reeducação sensorial; a promoção e treino de motricidade fina (habilidade manual); a confecção de órteses e adaptações sob medida, quando necessário. Além disso, orienta e treina o paciente para desenvolver a necessária funcionalidade para o retorno às AVD, trabalho, lazer e esporte [6]. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 119 119 A Terapia da Mão em pacientes com AR utiliza a abordagem terapêutica de proteção articular. É uma especialidade que foi sendo desenvolvida e consolidada nos anos de 1970, a partir dos estudos e práticas clínicas e cirúrgicas integradas entre terapeutas ocupacionais e cirurgiões de mão. Objetiva, nesses casos, alterar os hábitos de manipulação de objetos que, além dos fatores sistêmicos da doença, aumentam os mecanismos deformantes na mão. Quando submetidos às cirurgias, a Terapia da Mão tem como objetivo prevenir as sequelas advindas dos procedimentos cirúrgicos bem como programar a reabilitação precocemente. Em face à complexidade da AR e seu impacto na funcionalidade humana, este tipo de terapia tem sido utilizada, muitas vezes combinada com outras modalidades de tratamento de reabilitação. Evidências também têm demonstrado que programas de exercícios para mão podem ser mais benéficos do que apenas orientações para alongamentos em domicílio [7,8]. O objetivo deste estudo foi relatar os efeitos da intervenção com a abordagem de Terapia Morfoanalítica, associada à Terapia da Mão, na funcionalidade em AVD e na qualidade de vida em mulheres com AR. Compreende-se a funcionalidade a partir dos conceitos da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), a qual incorpora dimensões biomédica, psicológica (dimensão individual) e a social. Além disso, a concepção do quadro conceitual dessa classificação permite avaliar as condições de vida e fornecer subsídios para políticas de inclusão social [9]. Material e métodos Este estudo trata de um ensaio clínico, com delineamento de pesquisa quase-experimental, composto por um pré-teste, pela intervenção e um pós-teste, ao longo de dez meses. Sujeitos Foram sujeitos da intervenção, duas mulheres com AR. Uma delas com 61 anos de idade, diagnosticada há 15 anos e a outra com 63 anos de idade, diagnosticada há 40 anos. Ambas apresentavam sequelas, principalmente nos membros superiores. As duas mulheres apresentavam dores, dificuldades para exercerem suas atividades domésticas, desde o ato simples de varrer a casa até cozinhar e lavar roupa. Apresentavam desânimo para a realização de Atividades de Vida Diária e atividades de lazer, tendo uma vida social empobrecida. Instrumentos de medida Para avaliar os efeitos da intervenção nos sujeitos foram utilizados dois instrumentos de medida padronizados adequados à população investigada, descritos brevemente a seguir: 05/07/2012 17:53:32 120 WHOQOL (bref ) Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Elaborado pela Organização Mundial de Saúde, o WHOQOL-bref é a versão abreviada do WHOQOL – 100, composto por 26 itens que representam as facetas, as quais, por sua vez, referem-se a quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Os domínios físicos e psicológicos incluem, respectivamente, os domínios nível de independência e espiritualidade da versão completa original. Os domínios são constituídos pelas mesmas 24 facetas do formato original, avaliadas por questões únicas, além de duas perguntas de avaliação geral sobre qualidade de vida [10-12]. Para melhor compreensão, os domínios e facetas desta medida são descritos sucintamente abaixo [11,13]. • Domínio 1- físico: F1.4 dor e desconforto, F2.1 energia e fadiga, F3.3 sono e repouso, F9.1 mobilidade, F10.3 atividades da vida cotidiana, F11.3 dependência de medicação ou de tratamento, F12.4 capacidade de trabalho. • Domínio 2- psicológico: F4.1 sentimentos positivos, F5.3 pensar, aprender, memória e concentração, F6.3 auto-estima, F7.1 imagem corporal e aparência, F8.1 sentimentos negativos, F24.2 espiritualidade/ religião/ crenças pessoais. • Domínio 3- relações sociais: F13.3. relações pessoais, F14.4 suporte (apoio) social, F15.3 atividade sexual. • Domínio 4- meio ambiente: F16.1 segurança física e proteção, F17.3 ambiente no lar, F18.1 recursos financeiros, F.19.3 cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, F20.1 oportunidades de adquirir novas informações e habilidades, F21.1 participação em, e oportunidades de recreação/ lazer, F22.1 ambiente físico: (poluição/ ruído/ trânsito/ clima), F23.3 transporte. Os encontros do grupo abrangeram três etapas descritas a seguir: 1) Dinâmicas: os sujeitos eram dispostos em uma roda grupal, com o propósito de acolhimento e informações sobre a importância do trabalho corporal global relacionado ao funcionamento da mão. Os conceitos sobre morfoanálise foram introduzidos de maneira simples e contiveram os princípios de cadeias musculares e da psicanálise. Os recursos para tornar claros os princípios foram: utilização de palavras-chave, desenhos e exemplos de relações do corpo com as emoções e posturas. O acolhimento foi repetido a cada encontro e promoveu reflexões nos sujeitos, além de identificações com os fundamentos da morfoanálise. Também foi permitido um espaço para que os sujeitos falassem dos seus sentimentos, sensações e percepções corporais, fundamento importante da morfoanálise. 2) Atividades corporais: esta etapa envolveu a avaliação postural, mobilizações e manipulações, propriocepção, sensações e percepções, consciência corporal, alongamentos, toques, massagens, trabalho respiratório e verbalização, com o objetivo de autoconhecimento dos sujeitos. 3) Terapia da Mão: as técnicas de Terapia da Mão foram utilizadas após 30 a 40 minutos das etapas anteriores. O grupo foi organizado ao redor de uma mesa e eram realizadas orientações individuais dos exercícios que cada um deveria fazer de forma autônoma e, dependendo do caso, a terapeuta ocupacional realizava exercícios específicos e confecções de órteses. Neste momento, embora cada um realizasse o próprio exercício, o grupo permanecia com interações. Após o término dos exercícios o grupo realizava conversas e avaliações do encontro. Health Assessment Questionaire (HAQ) Procedimento de análise dos dados Para avaliar de forma mais específica a funcionalidade dos sujeitos com AR, foi utilizado o HAQ, que é um instrumento específico para mensurar o impacto da AR nas funções cotidianas [14]. Há dois tipos: o HAQ forma completa e o HAQ forma simplificada. Para este estudo foi utilizada a forma simplificada, composta por 20 itens subdivididos em oito categorias. Cada questão varia de zero (nenhuma dificuldade) a três (incapaz de realizar). Para o cálculo de WHOQOL - bref baseou-se no instrumento WHOQOL-HIV, no qual as facetas foram agrupadas de acordo com os domínios correspondentes. Cada questão corresponde à pontuação de uma faceta variando de 1 a 5 pontos. Existem três perguntas no WHOQOL – bref formuladas negativamente, e como estas precisam ser invertidas para garantir que todos os escores mais altos reflitam melhor qualidade de vida, a pontuação foi modificada (invertida) da seguinte forma: (1 = 5), (2 = 4), (3 = 3), (4 = 2) e (5 = 1). Depois que as questões formuladas negativamente tiveram suas pontuações invertidas, foi realizada a média das facetas do domínio correspondente. A média de cada domínio foi calculada pela soma dos valores atribuídos a cada faceta, dividido pelo número de facetas do domínio correspondente e multiplicado por 4. Os escores dos domínios variam então de 4 a 20. Para calcular o valor da HAQ forma simplificada, somou-se a pontuação máxima de cada categoria. O valor obtido Procedimentos da intervenção Os dois sujeitos foram inseridos em um grupo composto por outros sujeitos de diagnósticos diversos, a saber: lesão de tendão flexor, fratura distal do rádio, entre outros. Como procedimentos do serviço, foram realizados encontros três vezes semanais e todos os sujeitos indicados para atendimento grupal preencheram os questionários autoaplicativos de qualidade de vida WHOQOL- bref. No caso específico dos sujeitos com AR também foi incluído a HAQ. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 120 05/07/2012 17:53:32 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 foi dividido por oito, obtendo-se pontuação que varia de zero a três. Quanto maior a pontuação, maior é o grau de comprometimento funcional do paciente [15]. Procedimentos éticos Cabe esclarecer que a presente intervenção teve seu projeto submetido a um Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas e foi aprovado em 30 de junho de 2010 - CAAE nº 00660115000-01. Os dois sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, autorizando sua participação no estudo, assim como a divulgação dos seus resultados. Como procedimentos éticos também foram mantidas em sigilo as informações pessoais dos sujeitos. Resultados Os resultados de pré e pós-intervenção para os dois sujeitos com AR estão dispostos nas Tabelas I, II, III e nos Gráficos 1 e 2 a seguir: Tabela I - Resultados da Qualidade de vida (WHOQOL) pré e pós-intervenção nos dois sujeitos. Su- Domínios Avaliação da Quajei- e facetas lidade de Vida Pré Pós to Pré Pós S1 06 15 01 (Muito 05 (Muito Ruim) boa) S2 12 20 02 (Ruim) 05 (Muito boa) Satisfação em relação à saúde Pré Pós 02 (Insa- 05 (Muito tisfeito) Satisfeito) 02 (Insa- 04 (Satistisfeito) feito) Gráfico 1 - Evolução dos sujeitos pré e pós-intervenção nos domínios e facetas. Domínios e facetas- pós Domínios e facetas- pré 0 5 Sujeito 1 10 15 20 Sujeito 2 Tabela II - Resultados da HAQ pré e pós-intervenção nos dois sujeitos. Sujeito S1 S2 Domínio - atividades funcionais pré-intervenção 2,5 2 Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 121 Domínio - atividades funcionais pós-intervenção 0,12 0 121 O Gráfico 2, exemplifica a melhora da funcionalidade com a intervenção. Gráfico 2 - Comparação da evolução dos dois sujeitos na HAQ. Tabela III - Resultados dos domínios do HAQ que obtiveram maior índice de evolução. Atividades Sujeito 1 Sujeito 2 1° 2º 1° 2º Domínio 2 HAQ HAQ HAQ HAQ Deitar-se e levantar-se da cama 3 0 2 0 Domínio 6 Levantar os braços e pegar um objeto de 2,5 kg que está posi- 3 0 3 0 cionado acima da cabeça Curvar-se para pegar suas 3 0 3 0 roupas no chão Domínio 7 Segurar-se em pé no ônibus 3 0 3 0 Abrir potes ou vidros de conservas, que tenham sido previa3 0 3 0 mente abertos Abrir e fechar torneiras 3 0 2 0 Domínio 8 Entrar e sair do ônibus 3 0 2 0 Varrer e usar rodo para água 3 0 2 0 *Legenda: sem dificuldade 0; com alguma dificuldade 1; com muita dificuldade 2; incapaz de fazer 3. Discussão Os resultados demonstram que as intervenções propostas, com a combinação das técnicas da Morfoanálise e da Terapia da Mão, obtiveram efeitos na melhora da condição dos dois sujeitos com AR, tanto na qualidade de vida, quanto na funcionalidade. Em ambos os casos estudados verificaram-se alterações na funcionalidade das AVD em quase todos os domínios. Cabe explicitar que mesmo nos itens em que não houve evoluções, as pontuações se mantiveram estáveis ao longo dos dez meses, o que permite afirmar que a intervenção mostrou efeitos positivos aos sujeitos, sem efeitos iatrogênicos, com piora do quadro. Apenas em um caso, a mobilidade, apresentou grau um (1) de dificuldade para “levantar-se de maneira ereta em uma cadeira de encosto reto sem braços” (item da avaliação). Em todos os outros domínios após 10 meses de inserção no grupo, a funcionalidade foi alcançada totalmente. Em diversas AVD, os dois sujeitos eram incapazes de realizá-las no pré-teste e atingiram o grau de não terem nenhuma dificuldade para desempenhá-las no pós-teste. A associação dos resultados funcionais com a qualidade de vida e a satisfação com a saúde neste estudo é possível quando se identifica que houve, concomitantemente, uma transformação das autoavaliações, que no início do grupo 05/07/2012 17:53:32 122 eram consideradas muito ruim e ruim e atingiram a avaliação de muito boa [1]. O domínio 1- físico- do questionário WHOQOL, para os dois casos apresentou na pré-intervenção, dor significativa, sendo essa impeditiva para fazerem o que necessitavam. Também havia dependência de medicamentos para os sujeitos administrarem a vida diária e muito pouco e média energia, respectivamente, para conduzir o dia a dia. Esses fatores, em parte, se inter-relacionam com a funcionalidade, além de todos os outros domínios como o psicológico, as relações sociais e o meio ambiente também terem influência no modo de operar de cada indivíduo no seu cotidiano. O aumento significativo de sentimentos positivos e de sentido na vida de cada uma das mulheres após a intervenção relacionou-se com a capacidade destas exercerem suas AVD. Elas demonstraram aptidão para desempenhar o autocuidado, a locomoção, habilidades para realizar tarefas externas a casa como fazer compras, andar de ônibus, caminhadas entre outras e isso aumentou a possibilidade do estabelecimento de relações sociais e de apoio. Essa afirmação é sustentada no próprio questionário, que no domínio de relações sociais obteve escore 18,6. Esses dados reforçam a necessidade de promoção de atividades grupais em sujeitos com AR, no sentido destes lidarem com o impacto dessa patologia em sua vida diária. Evidências têm demonstrado resultados similares quanto a essa questão [6]. Cabe a discussão de que a combinação da Terapia da Mão com a Terapia Morfoanalítica pode ter exercido efeito positivo com os dois sujeitos, na medida em que se possibilitou o incentivo à prática de exercícios associada a um olhar para a percepção do corpo em constante movimento e da sensibilização do uso correto das mãos com o propósito de melhora na funcionalidade. Tais exercícios devem ser considerados como essenciais dentro do programa de reabilitação desses sujeitos, uma vez que as evidências apontam para uma deterioração da função da mão (tecidos e força muscular), na ausência de exercícios diários [8]. Outra hipótese para a melhora na funcionalidade e na qualidade de vida pode ser atribuída ao fato desses sujeitos perceberem melhor suas dificuldades em grupo, assim como na aprendizagem das estratégias de proteção articular e das técnicas da Terapia Morfoanalítica no sentido de cuidar do corpo, no trabalho de alívio da tensão muscular pela expressão do corpo [5]. Retomando-se alguns conceitos propostos pela CIF pode-se discutir que os fatores ambientais de fato transformam o ambiente físico, social e de atitude nos quais as pessoas vivem e conduzem suas vidas, podendo exercer influência positiva (facilitador) ou negativa (barreira) [9]. A relação entre esses conceitos, para os dois casos apresentados permite discutir que houve uma significativa melhora no domínio - Meio Ambiente: S1, no qual o escore inicial era de 6 e o escore final foi de 15. Para o S2, o escore inicial foi de 12 e o escore final de 20. Os fatores ambientais questionados são relacio- Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 122 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 nados à segurança, proteção, moradia, transporte, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais, oportunidade de informação, recreação e lazer, bem como o ambiente físico (ruídos, poluição, trânsito, clima). O Meio-Ambiente dos dois sujeitos melhorou e evidencia a relação direta com os demais escores tanto do WHOQOLbref como do HAQ. Destaca-se que a funcionalidade, os aspectos físicos, psicológicos e relações sociais acontecem em contextos e têm influências mútuas, o que permite discutir sobre a importância do meio e suas influências na saúde da pessoa. Acresça-se a isso que outros possíveis fatores ambientais que podem estar influenciando no desempenho dos sujeitos com AR são as barreiras atitudinais [9], relacionadas ao pré-conceito ou ao estigma da incapacidade em desempenhar atividades diárias, aspecto também trabalhado no grupo de sujeitos. Por fim, cabe a reflexão que o trabalho com a Terapia Morfoanalítica permitiu a integração dos três pilares [5], pois a compreensão do funcionamento corporal, vivenciado e emocional, possibilitou trabalhar na integração do ser em seus aspectos e em contato com uma dada realidade. A partir disso definiu-se o corpo relacional, ou seja, o corpo que permitiu o intercâmbio dos sentidos corporais com a realidade, aspecto observado nos sujeitos com AR participantes do estudo. Limitações Embora o presente estudo tenha apresentado resultados positivos na funcionalidade e na qualidade de vida dos sujeitos participantes, cabe pontuar que os resultados obtidos restringem-se aos dois sujeitos, não sendo possível a generalização dos resultados para a população com AR. Reconhece-se a necessidade de futuras pesquisas com amostra randomizada, como, por exemplo, a partir de delineamentos de pesquisa experimental com grupo controle, a fim de se identificar se os resultados obtidos a partir do presente estudo podem ser generalizados assim como atribuídos às terapias enfocadas (Terapia da Mão e Terapia Morfoanalítica). A discussão em parte se limitou pelo fato de serem desconhecidos estudos que utilizem a Terapia Morfoanalítica em pacientes com AR, o que torna pertinente o desenvolvimento de pesquisas que associem esse tipo de tratamento com a melhora na funcionalidade e qualidade de vida desses sujeitos. Conclusão O presente estudo apresentou os efeitos de uma intervenção com dois sujeitos com AR, na funcionalidade e qualidade de vida. A partir da combinação da Terapia da Mão com a Terapia Morfoanalítica, foi identificado um aumento nos escores absolutos dos dois sujeitos, para as duas medidas utilizadas. O tratamento proposto trouxe resultados positivos, tais como: a diminuição das dores nas mãos e a melhoria da capacidade funcional para realizar as AVD e atividades do 05/07/2012 17:53:32 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 cotidiano. Tais efeitos mostraram-se como relevantes para a melhora do estado físico e emocional desses sujeitos, que reportaram uma melhora após dez meses de tratamento, com influências diretas sobre a qualidade de vida, documentadas a partir das avaliações de pré e pós-intervenção. Referências 1. Costa AFC, Brasil MAA, Papi JA, Azevedo MNL. Depressão, ansiedade e atividade de doença na artrite reumatóide. 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Métodos: Tratou-se de um estudo clínico, prospectivo, no qual as variáveis avaliadas foram comparadas antes e após um protocolo de 12 semanas de exercícios baseados no Método Pilates. Participaram do estudo 15 universitários (9 mulheres e 6 homens) com idade média de 22 ± 2 anos. O protocolo teve duração de 12 semanas ininterruptas, sendo 2 sessões semanais com duração de 60 minutos cada, com progressão dos exercícios na sétima semana. As variáveis analisadas foram as pressões respiratórias máximas, o pico de fluxo expiratório e a mobilidade toracoabdominal. Resultados: Ao comparar os valores das pressões respiratórias máximas, do pico de fluxo expiratório e da mobilidade toracoabdominal, antes e após o treinamento, observou-se que todas elas apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p < 0,05) com melhora de todas as variáveis analisadas. Conclusão: O protocolo de exercícios proposto no presente estudo mostrou ser eficiente para promover o aumento das pressões respiratórias máximas, do pico de fluxo expiratório e da mobilidade toracoabdominal em jovens sedentários. Objective: To investigate the effects of a protocol of exercises based on the Pilates method regarding the strength of respiratory muscle, peak expiratory flow and thoracoabdominal mobility of sedentary young adults. Methods: This was a prospective clinical study in which the variables were compared before and after a protocol during 12 weeks of exercises based on the Pilates method. The study was composed of 15 students (9 women and 6 men) 22 ± 2 years old. The protocol lasted 12 weeks uninterrupted, with two weekly sessions lasting 60 minutes each, with progression of the exercises on the seventh week. The variables analyzed were maximal respiratory pressures, peak expiratory flow and thoracoabdominal mobility. Results: When comparing the values of the maximal respiratory pressures, peak expiratory flow and thoracoabdominal mobility, before and after the training, it was observed that all of the variables showed significant differences (p < 0.05) with increase in all variables analyzed. Conclusion: The exercise protocol performed in the present study showed to be efficient in promoting an increase of maximal respiratory pressures, peak expiratory flow and thoracoabdominal mobility of sedentary young adults. Key-words: muscle strength, respiratory muscles, exercise. Palavras-chave: força muscular, músculos respiratórios, exercício. Recebido em 12 de dezembro de 2011; aceito em 23 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Vanessa Pereira de Lima, Caixa Postal 01, 39100-000 Diamantina MG, Tel: (038)-35321239, E-mail: vanessa. [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 124 05/07/2012 17:53:32 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução A manutenção da bomba muscular respiratória é de vital importância para o sistema respiratório, assim como a bomba cardíaca o é para o sistema circulatório. Esses músculos são fundamentais na manutenção da mecânica respiratória e, em condi­ções fisiopatológicas, a força muscular apresenta-se alterada, refletindo na diminuição das pressões respi­ratórias [1]. Para manter a função muscular respiratória íntegra, tem sido preconizada a prática regular de exercícios físicos [2], pois assim como os demais músculos esqueléticos, os músculos respiratórios respondem aos estímulos dados através do treinamento físico [3]. Alguns autores estudaram o comportamento da função pulmonar em sujeitos saudáveis frente à realização de treinamentos físicos diversos e os resultados demonstraram que, mesmo saudáveis, os sujeitos sedentários apresentam pior função pulmonar quando comparados aos ativos. Como efeito da inatividade, a flexibilidade muscular pode ser alterada devido às modificações das proteínas contráteis e do metabolismo das mitocôndrias, resultando em atrofia, fraqueza, diminuição do número de sarcômeros e aumento na deposição de tecido conjuntivo, levando ao encurtamento muscular e limitação da mobilidade articular [4]. Outro estudo, no ano de 2007 [1], relatou melhora no desempenho da bomba respiratória através do aumento da mobilidade toracoabdominal após técnicas de alongamento devido ao aprimoramento da relação comprimento-tensão das fibras musculares. Diversos são os métodos e técnicas descritos com o objetivo de promover o alongamento muscular [1] e treinamento físico [3]. Dentre esses, pode-se mencionar o Método Pilates (MP) [5]. O MP foi fundado pelo professor alemão Joseph Humberts Pilates durante a primeira guerra mundial [6-8]. O conceito inicial misturava elementos de ginástica, artes marciais, yoga e dança, focando o relacionamento entre corpo e disciplina mental [9]. Ele criou uma série de exercícios baseados nos movimentos progressivos que o corpo é capaz de executar [10], objetivando a melhoria da flexibilidade geral do corpo e a saúde, com ênfase na força, postura e coordenação da respiração com os movimentos [11]. Durante os exercícios, a expiração é associada à contração do transverso abdominal, do multífido e dos músculos do assoalho pélvico [9]. Em um estudo, realizado em 1998 [12], foi demonstrado que, através da respiração, a capacidade respiratória e mobilidade da caixa torácica e diafragmática melhoram. Diferentemente de outras formas de treinamento físico resistido, o MP não privilegia a hipertrofia muscular, mas o equilíbrio muscular, de forma que os grupos musculares interajam com força e flexibilidade, melhorando a coordenação da respiração e o fortalecimento intenso da musculatura abdominal e dos demais músculos inseridos no tronco [13]. O MP enfatiza a respiração como o fator primordial no início do movimento, fornecendo a organização do tronco pelo recrutamento dos músculos estabilizadores profundos da Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 125 125 coluna na sustentação pélvica e favorecendo o relaxamento dos músculos inspiratórios e cervicais [14]. Neste contexto não foram encontrados estudos avaliando o efeito do treinamento com MP na função respiratória de jovens sedentários. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos de um protocolo de exercícios baseados no MP sobre a força muscular respiratória (PImax = pressão inspiratória máxima e PE Max= pressão expiratória máxima), e o pico de fluxo expiratório (PFE) e a mobilidade toracoabdominal em jovens sedentários, após 12 semanas de treinamento. Material e métodos Tratou-se de um estudo clínico e prospectivo, no qual as variáveis avaliadas foram comparadas antes e após a aplicação de um protocolo de 12 semanas de exercícios baseados no MP em uma população de jovens sedentários. O protocolo experimental, bem como as avaliações, foi realizado no período de março a junho de 2010, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) do município de Diamantina/MG. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM (parecer 012/10). Inicialmente, os voluntários foram convidados por meio de cartazes afixados na UFVJM, sendo esses orientados a entrarem em contato com as pesquisadoras responsáveis. Após a seleção, os voluntários foram submetidos à avaliação inicial e depois de 12 semanas de intervenção a uma reavaliação. Participaram deste estudo dezoito voluntários com idade entre 18 a 30 anos, que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: não apresentassem hérnia de disco e/ou abdominais, distúrbios vestibulares, hipertensão arterial e quaisquer outros distúrbios neurológicos e ortopédicos que poderiam interferir na realização dos exercícios, fossem sedentários conforme o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) [15] e que não tivessem se submetido a qualquer procedimento cirúrgico nos últimos 6 meses. Foram excluídos voluntários que apresentassem queixa de desconforto como falta de ar, quadro doloroso ou qualquer evento que apresentasse risco mínimo para a saúde do participante e impedisse a realização do protocolo e tabagistas. Antes e após o período de intervenção, todos os voluntários foram submetidos à avaliação PImáx e PEmáx, do PFE e da cirtometria. A PI e PE Max, em centímetros de água (cm H2O), são utilizadas para avaliar a capacidade de força dos músculos inspiratórios (PImáx) e músculos expiratórios (PEmáx) [16,17]. Para realização dessas medidas foi utilizado um manovacuômetro (Ger-Ar®, Diadema, SP, Brasil), com intervalo operacional de ± 300 cm H2O adaptado para pressões inspiratórias e expiratórias máximas. Uma tubulação de plástico foi conectada ao manovacuômetro e na extremidade distal do tubo foi adaptado um bucal cilíndrico de plástico, com diâmetro interno de 32 mm. Todas as medidas foram coletadas 05/07/2012 17:53:33 126 pelo mesmo pesquisador sob comando verbal homogêneo, sendo realizadas com os voluntários sentados e tendo as narinas ocluídas por uma pinça nasal para evitar o escape de ar. A PImáx foi medida durante esforço iniciado a partir do volume residual, enquanto que a PEmáx foi medida a partir da capacidade pulmonar total [16]. Cada voluntário executou três esforços de inspiração e expiração máximas, sendo mantido por 2 a 3 segundos cada [16,17], com valores próximos entre si (≤ 10%), considerando para o estudo, a medida de maior valor [1]. O intervalo entre as manobras foi de 15 segundos. Entre a mudança entre o manuvacuometro e a avaliação do PFE houve 5 minutos de intervalo. Para avaliação do PFE que é uma das medidas de função pulmonar, sendo definida como o maior fluxo obtido em uma expiração forçada a partir de uma inspiração completa ao nível da capa­cidade pulmonar total [18] foi utilizado um pequeno aparelho portátil (Assess® Peak Flow Meter, Respironics®, Nova Jersey, Estados Unidos) feito de material plástico claro, contendo um sistema graduado de medidas que avalia a força e a velocidade de saída de ar de dentro dos pulmões em litros por minuto (L/min). Para a obtenção das medidas do PFE foi necessário que o indivíduo expirasse forçadamente através do bucal após uma inspiração máxima. Durante a coleta de dados, o pesquisador segurou o aparelho verticalmente, tomando o cuidado para que seus dedos não bloqueassem a saída de ar e a seguir foi solicitado ao voluntário que colocasse a boca firmemente ao redor do bucal de plástico, tendo-se certeza de que não houvesse escape de ar, o que poderia interferir nas medidas, e que soprasse tão forte e o mais rápido que pudesse. Foram realizadas, no mínimo, três medidas de PFE, desde que a última não fosse maior que as demais e que não houvesse diferenças entre as medidas superiores a 5%. A maior medida foi utilizada para as análises estatísticas [19]. O intervalo entre as manobras foi de 15 segundos. A cirtometria, que consiste em um conjunto de medidas das circunferências do tórax e abdômen durante os movimentos respiratórios, tem por finalidade avaliar a mobilidade toracoabdominal [20]. Para avaliá-la foram obtidas as medidas, em centímetros (cm), axilares, xifoidianas e abdominais [21], com o indivíduo em decúbito dorsal, quando o mesmo foi instruído a realizar uma expiração máxima para a primeira medida e uma inspiração máxima para a segunda medida, sendo que a diferença entre essas medidas forneceu informações sobre a expansibilidade. A medição foi feita fixando-se o ponto zero da fita métrica na região anterior do nível em que se estava medindo e a outra extremidade da fita, após contornar o tórax. Para garantir a confiabilidade, as medidas foram realizadas três vezes em cada nível, utilizando-se para o estudo a medida de maior valor [1]. O protocolo de exercícios em solo baseados no MP teve uma frequência de 2 sessões semanais por um período de 12 semanas, com duração diária de cada sessão, inicialmente, de Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 126 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 50 minutos e após a progressão de 60 minutos. O protocolo foi construído com base nos princípios de progressão da carga, de tal forma que foi aumentada a intensidade dos exercícios na sétima semana de treinamento, com aumento no número de repetições e diminuição dos intervalos de repouso [22]. Cada sessão consistia das seguintes fases: Fase 1 (aquecimento e alongamentos), fase 2 (exercícios no solo baseados no MP) e fase 3 (desaquecimento). A duração de cada fase e os exercícios, com suas respectivas séries e repetições, estão descritos detalhadamente na Tabela I. Para a análise estatística utilizou-se o software Prisma versão 4.0, sendo considerado para fins de análise o nível de significância p < 0,05. Foi realizado o teste para avaliar a normalidade dos dados. Pelo fato das variáveis apresentarem distribuição normal, utilizou-se o teste paramétrico T pareado [23] para comparação das variáveis dependentes antes e após o protocolo de exercícios baseado no MP. Resultados Dos dezoito voluntários selecionados inicialmente, todos atenderam aos critérios de inclusão e exclusão propostos, no entanto quinze completaram o estudo e foram reavaliados após o período de 12 semanas. Três voluntários interromperam o treinamento, sendo dois por falta de frequência e um por ter iniciado algum tipo de atividade física regular. A amostra do estudo (n = 15) foi composta por 9 mulheres e 6 homens com idade média de 22 ± 2 anos e índice de massa corpórea: 23,26 ± 2,84 kg/m2 . Ao comparar as variáveis obtidas antes do treinamento e após a aplicação de um protocolo de exercícios baseados no MP, observou-se que todas elas apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p < 0,05). A média da PImáx de toda a amostra na avaliação antes do treinamento foi de -83,0 cm H2O ± 37,3 cm H2O e na avaliação após o treinamento de -102,0 cm H2O ± 34,4 cmH2O (p = 0,0009). Observa-se, também, através da média geral da amostra o mesmo resultado para PEmáx, visto que antes do treinamento, a média foi de 73,1 cmH2O ± 31,8 cm H2O e após de 94,7 cmH2O ± 37,4 cm H2O (p = 0,0012). As Figuras 1 e 2 representam, respectivamente, a PImáx e PEmáx pré e pós-intervenção. O PFE antes do treinamento teve uma média de 447,3 L/ min ± 149,4 L/min e após de 504,0 L/min ± 147,9 L/min, podendo constatar um aumento significativo (p = 0,0032). A Figura 3 representa o PFE antes e após o treinamento. Os valores médios da cirtometria apresentados inicialmente neste grupo foram de 3,2 cm ± 2,1 cm, 3,5 cm ± 3,6 cm, 3,1 cm ± 1,9 cm, enquanto as medidas finais obtiveram média de 5,4 cm ± 1,8 cm, 5,9 cm ± 2,7 cm, 4,4 cm ± 1,6 cm para as medidas axilar, xifoidiana e abdominal, respectivamente, sendo obtidos valores estatisticamente significantes (p = 0,0004; p = 0,0021 e p = 0,0419 para as medidas axilar, xifoidiana e abdominal, respectivamente). 05/07/2012 17:53:33 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Figura 1 - Valores da pressão inspiratória máxima (PIMáx) antes e após a aplicação do protocolo de exercícios baseados no Método Pilates em jovens sedentários. *p < 0,05 PImáx cmH2O 0 -100 -200 Antes Após Figura 2 - Valores da pressão expiratória máxima (PEMáx) antes e após a aplicação do protocolo de exercícios baseados no Método Pilates em jovens sedentários. PEmáx cmH2O 200 100 0 Antes Após Figura 3 - Valores do pico de fluxo expiratório (PFE) antes e após a aplicação do protocolo de exercícios baseados no Método Pilates em jovens sedentários. *p < 0,05 800 700 PFE L/min 600 500 400 300 200 100 0 Antes Após Discussão A proposta do presente estudo foi avaliar os efeitos de um protocolo de exercícios baseados no MP sobre a função Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 127 127 pulmonar de jovens sedentários. Os resultados demonstraram que um treinamento fisioterapêutico com exercícios baseados no MP durante 12 semanas foi capaz de alterar significativamente os valores das pressões respiratórias máximas, do pico de fluxo expiratório (PFE) e da mobilidade toracoabdominal. Além do MP, outras atividades físicas têm demonstrado preocupação com a função respiratória. Em um estudo [1] realizado com 20 homens sedentários após oito semanas de treinamento utilizando o método de Reeducação Postural Global, foi observado um aumento da força muscular inspiratória e expiratória e das medidas da cirtometria toracoabdominal o que vem ao encontro dos resultados obtidos na presente investigação. O MP tem como base um conceito denominado de contrologia que é o controle consciente de todos os movimentos musculares do corpo [6]. Isto é, um treinamento físico e mental, que melhora a consciência corporal por trabalhar o corpo como um todo [7]. Este protocolo de exercícios melhorou o desempenho da musculatura respiratória, parecendo haver uma relação entre atividade física e o incremento da força muscular respiratória. No presente estudo, apenas 4 voluntários pré-treinamento apresentavam valores dentro dos previstos pela tabela de Neder et al. [16] para PImáx e 1 para PEmáx e somente 2 voluntários apresentavam valores dentro dos previstos para PFE de acordo com a tabela de Leiner et al. [24]. Os dados do presente estudo indicam que o treinamento com exercícios baseados no MP ocasionou um aumento significativo das pressões respiratórias máximas e do PFE dos voluntários, comprovando assim a efetividade dessa técnica para aumento da força muscular respiratória. Esses resultados podem ser justificados através das adaptações decorrentes do exercício físico que, de acordo com a literatura, podem gerar alterações nas propriedades contráteis, morfológicas e metabólicas das fibras musculares [25,26]. O ganho de força pode ser resultante do recrutamento de unidades motoras adicionais que atuam de forma sincrônica, facilitando a contração e aumentando a capacidade do músculo de gerar força. Outro fator pode ser devido à redução da inibição autogênica, que são mecanismos inibidores do sistema neuromuscular, como os órgãos tendinosos de Golgi, necessários para impedir que os músculos exerçam mais força do que os ossos e os tecidos conectivos podem suportar [27]. O alongamento de uma fibra muscular promove o aumento do número de sarcômeros em série. Nesse sentido, o aumento da força muscular em função do alongamento deve-se possivelmente à melhor interação entre os filamentos de actina e miosina, em virtude do aumento do comprimento funcional do músculo [1]. O protocolo de exercícios proposto, visando à melhora da mobilidade toracoabdominal, pode representar uma ferramenta para o desenvolvimento da função respiratória [20]. A cirtometria é um bom método de exploração funcional para avaliar a expansibilidade toracoabdominal, com grande 05/07/2012 17:53:33 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 128 Tabela I - Protocolo de exercícios com progressão. FASES Fase 1 – Aquecimento Alongamento DURAÇÃO 5 minutos 5 minutos Fase 2 – Treinamento 30 e 40 com exercícios baseados minutos no Método Pilates DESCRIÇÃO Corrida associada a arremesso de bola suíça. Alongamentos de MMSS, tronco e MMII. 10 minutos 1 série de 30 segundos 2 séries de 10 repetições - Exercício 1: Em DD, com as pernas flexionadas, MMSS ao longo do tronco realizar uma contração abdominal. Estender os joelhos em seguida, realizar flexão de ombro inspirando e posicionar os braços ao longo do corpo na expiração e em seguida retirar os ombros do colchonete mantendo a contração abdominal. Progressão: Estender os joelhos e aproximar o máximo possível do solo, para aumentar a contração dos músculos do abdômen. - Exercício 2: Em DD e flexão total de ombros, posicionar os braços 2 séries de 8 repepróximo a cabeça. Inspirar, flexionar a cervical e o tronco, levando a tições cabeça ao joelho durante a expiração, mantendo a contração abdominal. Estender o tronco e voltar a posição inicial contando até 10. Progressão: Aumentar o número de repetições. 2 séries de 12 repetições - Exercício 3: Em DD, alongar os isquiotibiais. Manter o joelho estendido 2 séries de 8 repetições formando um ângulo de 90º do quadril com o solo, inspirar durante a abdução do quadril e expirar durante a adução do quadril, realizando o em cada MI movimento de um círculo, mantendo a contração abdominal. Progressão: Aumentar o número de repetições 2 séries de 12 - Exercício 4: Sentado, com a coluna em leve extensão, contrair o abdômen e abraçar um dos MMII. Alternar flexão de quadril, flexão de joelho e dorsiflexão com a extensão de todo o MI contralateral, mantendo a contração abdominal. Progressão: Aumentar o número de repetições Fase 3 – Desaquecimento REPETIÇÃO - Exercício 5: Em DD, com os MMII estendidos, manter a bola suíça pressionada entre os tornozelos. Inspirar e em seguida realizar flexão do quadril elevando a bola durante a expiração. Estender os quadris lentamente e retornar os MMII para a posição inicial mantendo a contração abdominal. Progressão: Associar o exercício com flexão anterior de tronco e extensão de MMSS segurando uma bola pequena. - Exercício 6: Com os MMII apoiados na bola suíça na altura dos joelhos e os MMSS apoiados no solo, realizar flexão de MMSS, mantendo a contração abdominal. Progressão: Posicionar a bola suíça nos tornozelos. - Exercício 7: DL, com uma bola pequena entre as pernas. Inspirar e em seguida expirar elevando os MMII mantendo a contração dos glúteos e abdômen durante 5 segundos. Realizar bilateralmente. Progressão: Manter a contração por 10 segundos e aumentar o número de repetições. Alongamento e exercícios de relaxamento com a bola suíça. repetições em cada MI 2 séries de 8 repetições 2 séries de 12 repetições 2 série de 10 repetições 2 séries de 10 repetições 2 séries de 8 repetições 2 séries de 12 repetições 1 série de 30 segundos MMSS: membros superiores; MMII: membros inferiores; DD: decúbito dorsal; MI: membro inferior; DL: decúbito lateral. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 128 05/07/2012 17:53:33 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 emprego na prática clínica. Fisiologicamente o perímetro toracoabdominal sofre modificações de acordo com o sexo, idade e a prática de exercícios [28]. Pelo fato da cirtometria representar um procedimento útil para a avaliação da mobilidade toracoabdominal [20], tendo como vantagem ser uma medida simples e acessível que requer apenas uma fita métrica, alguns estudos [29,30] a têm utilizado como instrumento de avaliação para verificar respostas relacionadas a diferentes propostas de intervenção. Dentre esses citamos um estudo [29] que avaliou a mobilidade torácica de mulheres jovens sedentárias após um programa de alongamento da cadeia muscular respiratória pelo método de Reeducação Postural Global, observando-se um aumento significativo da mesma. Ainda utilizando a cirtometria, foi observado um aumento da mobilidade torácica em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica após 24 sessões de exercícios físicos associados a exercícios respiratórios [30]. Conclusão Conclui-se que os resultados do presente estudo demonstram que o protocolo de exercícios de 12 semanas baseado no MP promove melhora significativa da força muscular respiratória, do PFE e da mobilidade toracoabdominal em jovens sedentários. Reforça-se aqui a necessidade da busca por fundamentação e validação de condutas fisioterapêuticas, já que não foram encontrados, na literatura, trabalhos associando o MP com a função pulmonar, o que sugere a relevância do presente estudo. Embora este estudo apresente dados relacionados a indivíduos não portadores de disfunções respiratórias, os resultados obtidos sugerem que esse tipo de treinamento físico pode ser utilizado como recurso fisioterapêutico importante na abordagem da reabilitação pulmonar dessas disfunções, porém ainda se faz necessário realizar estudos adicionais para avaliá-los nesse tipo específico de população. Agradecimentos Os autores agradecem às colaboradoras Gabriela Basques Passos, Natália Ágatta Perácio Santana e Vanessa Pereira Teixeira e aos voluntários que ajudaram a tornar realidade esse trabalho. Referências 1. Moreno MA, Catai AM, Teodori RM, Borges BLA, Cesar MC, Silva E. Efeito de um programa de alongamento muscular pelo método de Reeducação Postural Global sobre a força muscular respiratória e a mobilidade toracoabdominal de homens jovens sedentários. J Bras Pneumol 2007;33(6):679-86. 2. Goya KM, Siqueira LT, Costa RA, Gallinaro AL, Gonçalves CR, Carvalho JF. 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ANEXO A – Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA Nome:_______________________________________________________________ Data:___/___ / ___ Idade : ____ Sexo: F ( ) M ( ) Você trabalha de forma remunerada: ( ) Sim ( ) Não. Quantas horas você trabalha por dia: ____ Quantos anos completos você estudou: _____ De forma geral sua saúde está: ( ) Excelente ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão ativos nós somos em relação a pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física em uma semana última semana. As perguntas incluem as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Suas respostas são MUITO importantes. Por favor, responda cada questão mesmo que considere que não seja ativo. Obrigado pela sua participação! Para responder as questões lembre que: Atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o normal Atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal SEÇÃO 1 - ATIVIDADE FÍSICA NO TRABALHO Esta seção inclui as atividades que você faz no seu serviço, que incluem trabalho remunerado ou voluntário, as atividades na escola ou faculdade e outro tipo de trabalho não remunerado fora da sua casa. NÃO incluir trabalho não remunerado que você faz na sua casa como tarefas domésticas, cuidar do jardim e da casa ou tomar conta da sua família. Estas serão incluídas na seção 3. 1a. Atualmente você trabalha ou faz trabalho voluntário fora de sua casa? ( ) Sim ( ) Não – Caso você responda não Vá para seção 2: Transporte As próximas questões são em relação a toda a atividade física que você fez na última semana como parte do seu trabalho remunerado ou não remunerado. NÃO inclua o transporte para o trabalho. Pense unicamente nas atividades que você faz por pelo menos 10 minutos contínuos: 1b. Em quantos dias de uma semana normal você anda, durante pelo menos 10 minutos contínuos, como parte do seu trabalho? Por favor, NÃO inclua o andar como forma de transporte para ir ou voltar do trabalho. _______dias por SEMANA ( ) nenhum - Vá para a questão 1d. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 130 05/07/2012 17:53:33 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 131 1c. Quanto tempo no total você usualmente gasta POR DIA caminhando como parte do seu trabalho ? ____ horas ______ minutos 1d. Em quantos dias de uma semana normal você faz atividades moderadas, por pelo menos 10 minutos contínuos, como carregar pesos leves como parte do seu trabalho? _______dias por SEMANA ( ) nenhum - Vá para a questão 1f 1e. Quanto tempo no total você usualmente gasta POR DIA fazendo atividades moderadas como parte do seu trabalho? _____ horas ______ minutos 1f. Em quantos dias de uma semana normal você gasta fazendo atividades vigorosas, por pelo menos 10 minutos contínuos, como trabalho de construção pesada, carregar grandes pesos, trabalhar com enxada, escavar ou subir escadas como parte do seu trabalho: _______dias por SEMANA ( ) nenhum - Vá para a questão 2a. 1g. Quanto tempo no total você usualmente gasta POR DIA fazendo atividades físicas vigorosas como parte do seu trabalho? _____ horas ______ minutos SEÇÃO 2 - ATIVIDADE FÍSICA COMO MEIO DE TRANSPORTE Estas questões se referem à forma típica como você se desloca de um lugar para outro, incluindo seu trabalho, escola, cinema, lojas e outros. 2a. O quanto você andou na ultima semana de carro, ônibus, metrô ou trem? ________dias por SEMANA ( ) nenhum - Vá para questão 2c 2b. Quanto tempo no total você usualmente gasta POR DIA andando de carro, ônibus, metrô ou trem? ____horas _____minutos Agora pense somente em relação a caminhar ou pedalar para ir de um lugar a outro na ultima semana. 2c. Em quantos dias da ultima semana você andou de bicicleta por pelo menos 10 minutos contínuos para ir de um lugar para outro? (NÃO inclua o pedalar por lazer ou exercício) _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para a questão 2e. 2d. Nos dias que você pedala quanto tempo no total você pedala POR DIA para ir de um lugar para outro? _______ horas _____ minutos 2e. Em quantos dias da ultima semana você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos para ir de um lugar para outro? (NÃO inclua as caminhadas por lazer ou exercício) _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para a Seção 3. 2f. Quando você caminha para ir de um lugar para outro quanto tempo POR DIA você gasta? (NÃO inclua as caminhadas por lazer ou exercício) _______ horas _____ minutos SEÇÃO 3 – ATIVIDADE FÍSICA EM CASA: TRABALHO, TAREFAS DOMÉSTICAS E CUIDAR DA FAMÍLIA. Esta parte inclui as atividades físicas que você fez na ultima semana na sua casa e ao redor da sua casa, por exemplo, trabalho em casa, cuidar do jardim, cuidar do quintal, trabalho de manutenção da casa ou para cuidar da sua família. Novamente pense somente naquelas atividades físicas que você faz por pelo menos 10 minutos contínuos. 3a. Em quantos dias da ultima semana você fez atividades moderadas por pelo menos 10 minutos como carregar pesos leves, limpar vidros, varrer, rastelar no jardim ou quintal. ________dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para questão 3c. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 131 05/07/2012 17:53:33 132 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 3b. Nos dias que você faz este tipo de atividades quanto tempo no total você gasta POR DIA fazendo essas atividades moderadas no jardim ou no quintal? _______ horas _____ minutos 3c. Em quantos dias da ultima semana você fez atividades moderadas por pelo menos 10 minutos como carregar pesos leves, limpar vidros, varrer ou limpar o chão dentro da sua casa. _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para questão 3e. 3d. Nos dias que você faz este tipo de atividades moderadas dentro da sua casa quanto tempo no total você gasta POR DIA? _______ horas _____ minutos 3e. Em quantos dias da ultima semana você fez atividades físicas vigorosas no jardim ou quintal por pelo menos 10 minutos como carpir, lavar o quintal, esfregar o chão: _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para a seção 4. 3f. Nos dias que você faz este tipo de atividades vigorosas no quintal ou jardim quanto tempo no total você gasta POR DIA? _______ horas _____ minutos SEÇÃO 4- ATIVIDADES FÍSICAS DE RECREAÇÃO, ESPORTE, EXERCÍCIO E DE LAZER. Esta seção se refere às atividades físicas que você fez na ultima semana unicamente por recreação, esporte, exercício ou lazer. Novamente pense somente nas atividades físicas que faz por pelo menos 10 minutos contínuos. Por favor, NÃO inclua atividades que você já tenha citado. 4a. Sem contar qualquer caminhada que você tenha citado anteriormente, em quantos dias da última semana você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos no seu tempo livre? _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para questão 4c 4b. Nos dias em que você caminha no seu tempo livre, quanto tempo no total você gasta POR DIA? _______ horas _____ minutos 4c. Em quantos dias da ultima semana você fez atividades moderadas no seu tempo livre por pelo menos 10 minutos, como pedalar ou nadar a velocidade regular, jogar bola, vôlei, basquete, tênis: _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para questão 4e. 4d. Nos dias em que você faz estas atividades moderadas no seu tempo livre quanto tempo no total você gasta POR DIA? _______ horas _____ minutos 4e. Em quantos dias da ultima semana você fez atividades vigorosas no seu tempo livre por pelo menos 10 minutos, como correr, fazer aeróbicos, nadar rápido, pedalar rápido ou fazer jogging: _____ dias por SEMANA ( ) Nenhum - Vá para seção 5. 4f. Nos dias em que você faz estas atividades vigorosas no seu tempo livre quanto tempo no total você gasta POR DIA? _______ horas _____ minutos SEÇÃO 5 - TEMPO GASTO SENTADO Estas últimas questões são sobre o tempo que você permanece sentado todo dia, no trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante seu tempo livre. Isto inclui o tempo sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição de casa, visitando um amigo, lendo, sentado ou deitado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando durante o transporte em ônibus, trem, metrô ou carro. 5a. Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana? ______horas ____minutos 5b. Quanto tempo no total você gasta sentado durante em um dia de final de semana? ______horas ____minutos Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 132 05/07/2012 17:53:33 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 133 Relato de caso Síndrome de Pallister-Killian Pallister-Killian syndrome Andréa Ferreira da Silva, Ft.*, Diana Kelly Lana Cunha, Ft.*, Flavia Cristina Carbonero, Ft.*, Denise Campos, Ft., D.Sc.**, Gabriela Mariotoni Zago, Ft. M.Sc.** *Faculdade Anhanguera de Campinas (FAC), **Docente do Curso de Fisioterapia da FAC Resumo Abstract A Síndrome de Pallister-Killian (SPK) é uma doença genética rara, que acarreta muitas alterações no desenvolvimento neuropsicomotor. O presente estudo teve como objetivo contribuir para o conhecimento e tratamento fisioterapêutico da SPK. Tratou-se de um estudo de caso de uma paciente de 15 anos, acompanhada na Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas. Foi realizada uma avaliação fisioterapêutica da paciente, e aplicado um questionário à mãe para colher informações sobre o período pré-natal, perinatal e pós-natal. Os resultados mostraram fácies característica, retardo mental, falta de linguagem, sensibilidade preservada, hipotonia generalizada, ausência de alguns reflexos, deformidades ósseas nos pés e marcha independente como função mais alta. Dentre as alterações encontradas, cabe destacar o retardo mental, que dificulta o processo de desenvolvimento e reabilitação. The Pallister-Killian Syndrome (PKS) is a rare genetic disease impairing the neurological development. This study aimed to contribute for knowledge and physical therapy of PKS. It was a case report of a 15 years old patient, attended at Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas. It was done a physical therapy evaluation of the patient and her mother answered a questionnaire asking information on the prenatal, perinatal and postnatal periods. The results showed face characteristics, mental retardation, lack of language abilities, preserved sensation, generalized hypotonic, some absence of reflexes absence, feet bones deformities and independent march as the most achieved function. Among the anomalies diagnosed, it is necessary to highlight the mental retardation, which complicates both development and rehabilitation processes. Palavras-chave: doenças genéticas, pediatria, reabilitação, Fisioterapia. Introdução A Síndrome de Pallister-Killian (SPK), também conhecida como Aneuploidia em Mosaico de Pallister, ou Tetrassomia 12p em Mosaico, é uma doença genética rara, resultante de uma alteração cromossômica, presença do isocromossomo 12p extranumerário em mosaico. Os indivíduos com SPK apresentam quatro cópias do braço curto do cromossomo 12, ao invés de duas. A síndrome foi descrita inicialmente em adultos, por Pallister em 1977, e posteriormente em crianças, por Killian em 1981 [1-4]. Sua incidência é menor que 1 para 10.000, aumentando o risco de ocorrência com avanço da idade materna [5]. Key-words: genetic diseases, pediatrics, rehabilitation, Physical therapy. Durante os três primeiros meses de gestação, a Tetrassomia 12p pode ser diagnosticada através de amostras colhidas em casos de hidropisia fetal, ou por triagem de mães com idade avançada. No ano 2000, houve o primeiro diagnóstico da síndrome no primeiro trimestre, através do aumento da translucência nucal [6,7]. A partir do segundo e terceiro trimestre, anormalidades na ultrassonografia tendem a amostragem direta: polidrâmnio (84% dos casos), hérnia diafragmática (16%) e micromelia, principalmente rizomélica (10%). Atualmente, a ultrassonografia em três dimensões contribui para demonstrar as características faciais dismórficas, que fortalecem suspeitas da SPK durante o pré-natal [6]. Recebido em 31 de maio de 2011; aceito em 15 de fevereiro de 2012. Endereço para correspondência: Denise Campos, Av. Dr. Nelson Noronha Gustavo Filho, 150/ 83D, Tel: (19) 3294-0750, E-mail: denise.campos@ gmail.com Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 133 05/07/2012 17:53:34 134 Os portadores da SPK apresentam facies característica, cabelos esparsos, principalmente em regiões temporais, sobrancelhas e cílios esparsos ou ausentes nas partes mediais ou laterais, fronte proeminente, fendas palpebrais com inclinação para cima, ptose palpebral, hipertelorismo, epicanto, exoftalmia, estrabismo, ponte nasal alargada e achatada, narinas antevertidas, filtro nasal longo, macrostomia, comissuras labiais voltadas para baixo, lábio superior fino, lábio inferior protuso, atraso da erupção dentária, orelhas displásicas de baixa implantação, pescoço curto e excesso de pele na nuca [8]. As principais malformações do sistema nervoso central consistem em hidrocefalia e arrinencefalia. As crises convulsivas são frequentes nos dois primeiros anos de vida, o retardo mental (RM) é profundo e o desenvolvimento da linguagem é mínimo. As anomalias oculares incluem microftalmia, catarata, ceratocone e arinidria. A surdez também foi descrita em alguns casos. Além disso, algumas malformações cardíacas podem estar presentes, tais como, comunicação interventricular e atrial, coartação da aorta, persistência do canal arterial e estenose aórtica [9]. Tendo em vista que a SPK é uma doença genética rara, com pouca informação científica, e que acarreta muitas alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, torna-se necessário realizar este relato de caso para contribuição no conhecimento e tratamento fisioterapêutico da SPK. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Babinski. Os reflexos testados foram patelar, aquileu, bicipital e tricipital. A ADM foi testada de modo passivo, e a motricidade, foi avaliada considerando as principais habilidades motoras (rolar, sentado, quatro apoios, ortostatismo, marcha e transferências posturais). Resultados As características físicas apresentadas pela paciente foram fronte proeminente, cabelos, sobrancelha e cílios esparsos, ptose palpebral, hipertelorismo, estrabismo divergente à direita, ponte nasal alargada e achatada, narinas antivertidas, filtro nasal longo, bochechas proeminentes, comissuras labiais voltadas para baixo, lábio inferior protuso, alteração dentária, pescoço curto, distância intermamilar aumentada e aumento de volume subcutâneo em dorso de mãos, tornozelos e pés (Figura 1). Figura 1 - Características faciais relacionadas à doença. Material e métodos Tratou-se de relato de caso de uma paciente M.L.C., de 15 anos, acompanhada há dois anos na Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de Campinas (FAC), cuja mãe assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FAC (196/2010). Foi realizada uma avaliação fisioterapêutica da paciente para descrever o desenvolvimento neuropsicomotor atual. Os aspectos observados e/ou avaliados foram: características físicas, cognição, linguagem, sensibilidade dolorosa, tônus muscular, reflexos osteotendinosos, amplitude de movimento (ADM) e motricidade. Além disso, foi aplicado um questionário à mãe para colher informações sobre o período de gestação, parto, características neonatais, diagnóstico e tratamento. As características físicas foram observadas a fim de identificar malformações relacionadas à doença. Para avaliar a cognição, os examinadores tentaram estabelecer contato visual com a paciente, observaram a interação da paciente com brinquedos, pessoas, e resposta mediante solicitação de tarefas. Quanto à linguagem, os examinadores tentaram estabelecer algum tipo de comunicação com a paciente. A sensibilidade dolorosa foi examinada de maneira simétrica e bilateral, seguindo a disposição dos dermátomos. O tônus muscular foi avaliado realizando um alongamento passivo dos grupos musculares, e verificando o grau de resistência imposto pelos músculos. Também foram investigados clônus e Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 134 Quanto ao aspecto cognitivo, há RM profundo, de modo que a paciente não estabelece contato visual, não se interessa por brinquedos, apresenta sorriso sem razão aparente e sem reciprocidade, e movimentos estereotipados de membros superiores e cabeça. Houve também ausência de comunicação por meio de linguagem, de modo que a paciente não interagiu com os examinadores. A sensibilidade dolorosa estava preservada em todos os dermátomos; houve hipotonia generalizada; arreflexia bilateral para patelar e aquileu, e hiporreflexia bilateral para bicipital e tricipital. A ADM estava preservada em todas as articulações, exceto tornozelo, onde havia deformidades ósseas, tais como, calcâneo valgo, desabamento do arco plantar, eversão bilateral, e flexão exacerbada de metatarsofalangeana, principalmente no pé esquerdo. Quanto à motricidade, a paciente apresentou incapacidade de realizar qualquer ato motor em resposta a comandos, devido ao RM. Durante a avaliação não foi observado o rolar. No entanto, a paciente foi capaz de sentar sem apoio; manter posição de quatro apoios; realizar transferência de sentado 05/07/2012 17:53:34 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 para em pé, porém não partindo do solo, mas sim de uma cadeira; e realizar marcha independente, caracterizada por base alargada, diminuição da fase de oscilação, hiperextensão de joelhos, descarga de peso maior em membro inferior direito, inclinação lateral de tronco e flexão de cabeça. Cabe destacar que, durante a marcha, a paciente apresentou movimentos estereotipados de cabeça e membros superiores (Figura 2). Figura 2 - Postura ortostática sem apoio. Considerando o questionário aplicado à mãe, verificou-se que M.L.C. nasceu de 32 semanas, pesando 2.400 g e medindo 45 cm. O Apgar no 1˚ e 5˚ minuto foi 3 e 5 respectivamente, indicando sofrimento fetal. Ela permaneceu alguns dias em UTI, porém não fez uso de ventilação mecânica. Após alta hospitalar a mãe relatou que a criança não chorava, não mamava, e não reagia a estímulos. Em uma consulta com o pediatra, a paciente apresentava hipotonia global e ausência de reflexos e reações. Sendo assim, foi encaminhada ao serviço de genética da Unicamp, e confirmado o diagnóstico de SPK, aos 4 meses, através do fenótipo e exame de fibroblastos cutâneos. Aos 6 anos tiveram início as crises convulsivas, controladas com medicamento. O acompanhamento com fisioterapeuta ocorre continuamente, desde a confirmação diagnóstica. Além disso, ela realiza tratamento com fonoaudióloga e terapeuta ocupacional. Discussão A SPK é uma doença rara, de modo que o mecanismo no qual os isocromossomos são formados, e o estágio que isso ocorre estão sob debate, e ainda não são compreendidos [10]. As manifestações clínicas da SPK são variáveis e podem mudar com a idade, envolvendo diferentes órgãos e sistemas do corpo [3,11]. É possível encontrar em alguns casos, formas de acometimento grave, com morte intrauterina do feto, e em outros, formas mais leves da doença [4]. As complicações mais frequentes ao nascimento incluem prematuridade e hipotonia, como ocorreu no caso descrito [1]. Crises convulsivas podem ocorrer em 40% dos pacientes, e os sintomas podem ser confundidos com manifestações comportamentais, prejudicando o rápido diagnóstico [12,13]. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 135 135 Na paciente descrita essas crises tiveram início mais tardio, aos 6 anos. Ao exame físico, foram constatadas várias malformações, descritas na literatura como sendo características da SPK [1,8]. Além disso, acredita-se que 100% dos pacientes com SPK apresentam RM profundo (QI < 20/25), com disfunção cognitiva grave, sem desenvolvimento da linguagem e pobre contato social [14]. Nossos achados confirmam essa premissa. O RM é definido com base em três critérios: início do quadro clínico antes de 18 anos; função intelectual significativamente abaixo da média, com quociente de inteligência (QI) ≤ 70; e deficiência nas habilidades adaptativas, em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, autocuidado, habilidades sociais/interpessoais, auto-orientação, rendimento escolar, trabalho, lazer, saúde e segurança [15]. Diante desse quadro clínico, o principal benefício que a fisioterapia traz para esta paciente refere-se à melhora da qualidade de vida. De modo geral, são realizados alongamentos musculares e mobilizações articulares, para prevenir contraturas e deformidades, além de orientação para uso de órtese. Cabe destacar que, durante o atendimento, o fisioterapeuta sempre estimula a interação da paciente com o ambiente, através de brincadeiras, músicas e socialização com outras crianças. Outro objetivo importante está relacionado à modulação do quadro de hipotonia, no qual são inseridas atividades para sustentação de peso de forma alinhada, que ajudam a promover estabilidade; e exercícios de co-contração, que atuam na produção de forças normais e aumento do tônus muscular. O tratamento fisioterapêutico visa também melhorar habilidades motoras, proporcionando vivência em diversas posições e estimulando as transferências posturais; melhorar o equilíbrio, a partir de atividades lúdicas, usando superfícies instáveis, bola Bobath, e brinquedos; e estimular a posição ortostática e marcha, usando brinquedos/brincadeiras que a faça caminhar sem apoio. Acredita-se que o tratamento fisioterapêutico, que começou precocemente, foi fundamental para as aquisições motoras alcançadas, prevenção de maiores deformidades e manutenção da ADM na paciente em questão. O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser levadas em conta quando se considera o estudo e suas contribuições. Primeiro, foi incluída apenas uma criança no estudo, de modo que não se podem generalizar tais achados para a população. Cabe destacar, entretanto, que essa é uma patologia rara, sendo difícil realizar estudo com vários sujeitos. Segundo, houve dificuldade para discutir os resultados encontrados, devido a carência de pesquisas publicadas sobre o assunto, principalmente no Brasil. A literatura sobre SPK é predominantemente constituída por relatos de casos isolados, que enfatizam aspectos diagnósticos [11]. Conclusão Verificou-se, a partir do estudo de caso, que a SPK cursa com diversas malformações físicas e alterações no desenvolvi- 05/07/2012 17:53:34 136 mento neuropsicomotor. Dentre as alterações, cabe destacar o RM, que dificulta o processo de desenvolvimento e reabilitação. Apesar das limitações, este estudo contribui para o conhecimento e tratamento fisioterapêutico da SPK. Referências 1. Sugayama SM, Bertola DR, Albano LMJ. Síndrome de Pallister-Killian ou tetrassomia do braço curto do cromossomo 12 em mosaico: relato de 2 casos diagnosticados pela hidridização in situ fluorescência. Pediatria (São Paulo) 2000;22:255-63. 2. Cruz JRS, Videira RLR. Anestesia em criança com síndrome de Pallister-Killian: relato de caso. Rev Bras Anestesiol 2004;54:677-80. 3. Huang XL, Isabel de Michelena M, Leon E, Maher TA, McClure R, Milunsky A. Pallister–Killian syndrome: tetrasomy of 12pter/12p11.22 in a boy with an analphoid, inverted duplicated marker chromosome. Clin Genet 2007;72:434-40. 4. Guareschi E, Garavelli L, Pedori S, Dilernia V, Renzi G, Franchi F et al. Dermatologic features in pallister killian syndrome and their importance to the diagnosis. Pediatric Dermatology 2007;24(4):426-8. 5. Yeung A, Francis D, Giouzeppos O. Pallister-Killian syndrome caused by mosaicism for a supernumerary ring chromosome 12p. Am J Med Genet 2008;149:505-9. 6. Sananes N, Guigue V, Vayssiere C, Kohler M, Girard-Lemaire F, Flori E et al. Contribution of 3D ultrasound and fetal face Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 136 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 studies to the prenatal diagnosis of Pallister-Killian syndrome. J Matern Fetal Neonatal Med 2010;23:558-62. 7. Mourali M, El Fekih C, Dimassi K, Fatnassi A, Zineb NB, Oueslati B, et al. First trimester diagnosis of Pallister-Killian syndrome in a fetus with suggestive abnormalities. Tunis Med 2010;88:666-9. 8. Massoc L, Henriquez B, Broitman R, Heredia M, Queiroz G, Vergara H, et al. Sindrome de Pallister-Killian: diagnóstico antenatal por ultrasonografia. Rev Chil 2005;8:81-5. 9. Smigiel R, Makowska I. The Pallister-Killian syndrome in a child with rare karyotype: a diagnostic problem. Eur J Pediatr 2008;167:1063-5. 10.Carpintero RS, Mclellan A, Parmeggiani L. Pallister-Killian Syndrome: an unusual cause of epileptic spasms-case report. Dev Med Child Neurol 2005;47:776-9. 11.Maciej B, King J, Carachi R. Pallister-Killian syndrome: a report of 2 cases and review of its surgical aspects. J Pediatric Surg 2008;43:1218-21. 12.Kunz J, Schouner K, Stein W. Tetrasomy 12P. Pallister-Killian Syndrome: Difficulties in prenatal diagnosis. 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J Pediatr 2004;80:71-82. 05/07/2012 17:53:34 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 137 Relato de caso Efeito da facilitação neuromuscular proprioceptiva no equilíbrio de indivíduo com degeneração espinocerebelar recessiva The proprioceptive neuromuscular facilitation effect in fall risk in an ataxic patient Hudson Azevedo Pinheiro* *Especialista em Fisioterapia Neurofuncional e fisioterapeuta da Secretaria Estadual do Distrito Federal, Mestrando em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília - UCB Resumo Abstract Objetivo: Avaliar os efeitos da facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF) no risco de queda de um paciente com degeneração espinocerebelar recessiva utilizando como instrumentos de avaliação a escala de equilíbrio de Berg (EEB) e a o teste time get up and go (TUG). Método: Foram realizados 10 atendimentos compostos por cinco exercícios baseados no conceito PNF cada. Antes da primeira sessão e imediatamente após a última o paciente foi avaliado através da EEB e, a cada sessão, era realizado ainda uma avaliação pré e pós-intervenção utilizando o TUG teste para avaliar os resultados do atendimento em cada sessão. Resultados: Observou-se melhora progressiva no tempo de execução do TUG teste a cada atendimento e, quando comparado a primeira à última sessão, essa melhora chegou a redução de 50% do tempo inicial. Já na EEB não se observou melhoras significativas visto que o paciente não conseguiu realizar tanto no pré como no pós-testes alguns domínios da escala. Conclusão: O PNF foi efetivo no controle do equilíbrio de um paciente com degeneração espinocerebelar. Objective: To investigate the effects of proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) in falls risk in an ataxic patient using 2 different tests: the Berg Balance Scale (BBS) and the time get up and go test (TUG). Method: 10 therapy sessions with 5 exercises each one were carried out. Before the first session and after the last one the BBS was applied and, in each session, a pre and post-test were performed using the TUG test to analyze the effect of this exercise program in each session. Results: There was a decrease of the time duration of TUG test comparing the pre and post tests in each one therapy session and it was observed an improvement of 50% when compared the first and the last session. On the other hand, we did not observe significant improvements in the BBS’s results because the patient could not realize some point of this scale either in the pre or in the posttest. Conclusion: The PNF was effective in the balance rehabilitation of an ataxic patient. Key-words: ataxia, proprioceptive neuromuscular facilitation, balance. Palavras-chave: degeneração espinocerebelar recessiva, facilitação neuromuscular proprioceptiva, equilíbrio. Introdução A degeneração espinocerebelar recessiva (DER) é uma moléstia hereditária autossômica recessiva, descoberta por Nicholaus Friedreich, em 1863, que acomete principalmente a medula espinhal e o cerebelo, levando ao aparecimento de sintomas como dificuldade motora, inicialmente em membros inferiores (MMII), distúrbios de equilíbrio, dificuldades de marcha, assinergias e ataxia [1-3]. Trata-se de uma doença lentamente progressiva levando o paciente à perda total da capacidade de marcha e utilização de cadeira de rodas em aproximadamente 10 a 15 anos de evolução, e o seu tratamento é de suporte, envolvendo atuação interdisciplinar com intervenções psicológicas, ortopédicas para correção/ Recebido em 12 de setembro de 2011; aceito em 8 de março de 2012. Endereço para correspondência: Hudson Azevedo Pinheiro, QNC 04 Chácara 02 casa 89, Taguatinga Norte, 72115-540 Brasília DF, Tel: (61) 3351-2644, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 137 05/07/2012 17:53:34 138 prevenção de deformidades, além de facilitar independência para as atividades de vida diária (AVD) e qualidade de vida [4]. A marcha atáxica e déficits de coordenação proporcionam um desequilíbrio estático e dinâmico nesses indivíduos levando às quedas frequentes que podem levar a um grande declínio funcional nas AVD e nas atividades sociais, com aumento do risco de quedas [5]. A facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF) foi desenvolvida por Herman Kabat nos anos de 1950 juntamente com as fisioterapeutas Margareth Knott e Dorothy Voss, com objetivo de promover movimento funcional por meio da facilitação, inibição, relaxamento e fortalecimento de grupos musculares e, os exercícios propostos pelo PNF contribuem para compensar determinadas deficiências relacionadas ao movimento voluntário [6,7]. O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos de exercícios do PNF no risco de quedas em um paciente com DER. Material e métodos Trata-se de um estudo de caso de um indivíduo de 41 anos, aposentado, procedente de Brasília-DF que estava em atendimento regular na clínica escola de fisioterapia do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). O individuo relatou que desde a infância apresentava dificuldades de equilíbrio e coordenação motora, porém na época não buscou atendimento médico. Na adolescência apresentou piora do quadro clínico, com déficit de equilíbrio acentuado, inclusive com episódios frequentes de quedas, piora da coordenação motora. Queixava-se de fraqueza e dificuldade em movimentar os MMII, e dores em região cervical e em ombros, além de história de quedas recorrentes. Ao exame físico apresentava-se eutrófico, amplitudes de movimento (ADM) livre para membros superiores (MMSS) e MMII, hipertonia elástica em MMII, manobras deficitárias negativas, força muscular grau 3- para glúteo máximo bilateralmente, grau 3 para glúteo médio bilateralmente, quadríceps 3- direita e 3 a esquerda, isquiotibiais grau 4 bilateralmente, tibial anterior e tríceps sural grau 1 bilateralmente. Apresentava alteração da sensibilidade cinético postural em MIE. Coordenação motora encontrava-se normal em MMSS e decomposição dos movimentos no teste de calcâneo- joelho e disdiadococinesia. As reações de equilíbrio estavam preservadas e realizava marcha comunitária com auxílio de um par de bengalas canadenses e com uso de órtese tornozelo pé bilateral, todavia relatou vários episódios de quedas da própria altura no último mês. Para quantificar o risco de queda e reações de equilíbrio do paciente utilizou-se a escala de equilíbrio de Berg (EEB) e o Timed get up and go test (TUG). A EEB foi criada por Katy Berg e validada para a população brasileira, em 2004, por Miyamoto et al. Consiste em 14 itens comuns ao nosso cotidiano, e cada item é subdividido em subitens de zero (incapaz de realizar Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 138 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 a tarefa) a quatro (realiza de forma independente), podendo obter pontuação máxima de 56 pontos, sendo um teste simples, fácil de administrar e seguro, podendo ser aplicado em indivíduos sem risco algum [8]. O TUG foi desenvolvido por Diane Podsiadlo e Sandra Richardson, em 1991, e é utilizado para examinar a mobilidade funcional em idosos debilitados e requer que o indivíduo se levante, caminhe 03 (três) metros, vire, caminhe de volta e sente. Se o paciente levar até 20 segundos para completar a tarefa será considerado independente em suas atividades básicas do cotidiano, se a tarefa for realizada num tempo maior que 30 segundos possuirá risco aumentado de quedas e de dependência funcional [9,10]. A avaliação pela EEB foi realizada no primeiro atendimento, antes dos exercícios e, no último atendimento, imediatamente após a realização do protocolo de exercícios para avaliar os resultados pré e pós-intervenção. Para verificar se a terapêutica geraria efeitos imediatos durante sua realização, antes e após cada atendimento era realizado o TUG. Os resultados do pré-teste do primeiro atendimento e do pós-teste do último atendimento também foram utilizados para comparação dos resultados. O protocolo de atendimento foi composto por 10 sessões de fisioterapia motora com duração de 50 minutos cada, sendo realizadas numa frequência de três vezes na semana. Após a realização de uma avaliação inicial e um estudo piloto formulou-se o protocolo de atendimento abaixo descrito com a utilização das técnicas específicas do PNF descritas: • Exercício 01: o paciente encontrava-se em decúbito dorsal (DD) na posição de ponte (flexão de quadris e joelhos com tornozelo em posição neutra - calçado por uma cunha de espuma - e braços paralelos ao tronco). Realizou-se o padrão de extensão de tronco superior (lifting) com a técnica de combinação de isotônicas com objetivo de os braços que são mais fortes irradiarem força para pernas mais fracas. • Exercício 02: o paciente ainda estava em DD na posição de ponte, desta vez utilizando o padrão flexão tronco inferior (padrões assimétricos de flexão de membros inferiores) através da técnica de estabilização rítmica com o objetivo de melhorar estabilidade de tronco e membros inferiores. • Exercício 03: o paciente mantinha a mesma posição dos dois exercícios anteriores e o padrão de flexão de tronco inferior, porém dessa vez fez-se uso da técnica de reversão dinâmica para fortalecimento de abdutores e adutores de quadril estimulando a inibição recíproca. • Exercício 04: o paciente estava sentado com membros inferiores apoiados no chão e braços paralelos ao tronco. Usou-se a técnica da reversão de estabilizações para melhorar estabilidade em posição sentada. Por fim, no exercício 05, o paciente encontrava-se de pé com semiflexão de joelhos apoiados nos joelhos do terapeuta. Utilizou-se a técnica de sincronização para ênfase em flexão de tronco inferior com combinação de isotônicas para melhorar 05/07/2012 17:53:34 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 controle excêntrico de quadríceps e facilitar ortostatismo. Antes de participar do estudo o paciente foi orientado quanto aos objetivos do estudo e assinou o termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa do UniCEUB sob o registro CAAE 0087/10. Resultados No presente estudo foi realizada apenas análise descritiva comparando os resultados dos testes (TUG) pré e pós-atendimentos intersessões e pré e pós-realização do protocolo de atendimento com 10 sessões. Os resultados do TUG pré e pós-atendimentos estão descritos no gráfico 1. Gráfico 1 - Comparação entre pré e pós-atendimentos de cada sessão utilizando o TUG. 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 TGUG inicial 5 6 7 8 9 10 TGUG final 30 25 20 15 10 5 0 Posição de sentada... Permanecer em pé... permanecer sentado... de pé para sentado... transferências... permanecer em pé... permanecer em pé... avançar a frente com... pegar um objeto do... virar-se para olhar... girar 360º... posicionar os pés... permanecer de pé... permanecer de pé... total Pode-se observar que houve redução do tempo gasto entre o pré e pós-teste de cada sessão com exceção das sessões 04, 05 e 09. Quando comparado o pré-atendimento da sessão 01 com o pós-atendimento da sessão 10, houve uma diferença relevante, com diminuição em 50% da velocidade gasta para realizar a tarefa. Os resultados pré e pós-atendimentos do equilíbrio através da EEB estão dispostos no gráfico 2. Gráfico 2 - Comparação entre pré e pós-atendimentos utilizando EEB. Pré-teste Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 139 Pós-teste 139 Observa-se que não houve alterações nos resultados no pré e pós-atendimentos nos domínios: permanecer em pé de olhos fechados e pegar um objeto no chão. Os domínios permanecer em pé com os pés juntos, girar 360º, posicionar os pés alternadamente no degrau, permanecer em pé com um pé à frente do outro e permanecer em pé sobre um pé não foram pontuados no pré e pós-atendimentos visto que o paciente manteve a dificuldade em realizá-los por se referirem a atividades mais complexas, que envolvem uma maior necessidade de estabilização axial. Discussão O PNF é conhecido como técnica para ganho de flexibilidade e ADM e pelos padrões de movimento em diagonal, inclusive, as publicações disponíveis são justamente para esse fim, constatando inclusive os efeitos imediatos da técnica [11-15]. Ryan et al. realizaram estudo para avaliar os efeitos do PNF através da técnica manter-relaxar na estabilidade médio lateral de indivíduos saudáveis e constataram que mesmo utilizando técnicas que a priori seriam utilizadas para ganho de flexibilidade, houve melhora nesses pacientes [16]. Distúrbios no cerebelo costumam ocasionar déficits na velocidade, amplitude e força dos movimentos, levando a um quadro de diminuição da coordenação motora, dificuldade em manter o equilíbrio nas posições sentadas e de pé e marcha atáxica, sendo que a melhora do movimento coordenado pode ser obtida através da repetição e da prática de movimentos funcionais direcionados às atividades do paciente [17]. O terapeuta ao selecionar tarefas funcionais associadas a exercícios de fortalecimento muscular, busca uma adequação do tônus, bem como uma maior estabilidade postural, logo a utilização do PNF proporciona a coordenação motora, sincronismo e, ainda, uma otimização da resistência muscular, o que também leva a uma redução da fadiga [17]. A estabilidade postural pode ser ampliada focando o controle estático em diversas posturas antigravitárias de sustentação de peso, sendo que a progressão destas posturas compreende a variação da base de apoio, elevação do centro de gravidade e aumento do número de segmentos que precisam ser controlados [18]. Com isso técnicas específicas como o PNF podem promover a estabilidade através da aproximação articular aplicada em regiões proximais do corpo, e controle de movimentos dismétricos dos membros por meio de resistência leve para modular a força e as ações recíprocas dos músculos [17]. O PNF apresenta 10 técnicas específicas que podem ser utilizadas para a reabilitação do paciente, sendo neste estudo utilizadas a combinação de isotônicas, reversão dinâmica e estabilização rítmica [6]. A técnica combinação de isotônicas combina contrações concêntricas e excêntricas e de estabilização de um grupo muscular (agonista) sem relaxamento, com objetivos de melhorar 05/07/2012 17:53:34 140 coordenação, controle ativo do movimento, fortalecimento muscular e principalmente treinar o controle excêntrico funcional do movimento [6]. Estabilização rítmica é uma técnica que usa contrações isométricas alternadas utilizadas contra uma resistência, com ausência de intenção de movimento, com o objetivo de aumentar a estabilidade e o equilíbrio e em casos de dor [6]. Na reversão dinâmica ocorre alternância de movimento ativo, de uma direção à outra (contração de agonista seguida de contração do antagonista) sem relaxamento, utilizada para gerar coordenação e evitar ou reduzir fadiga [6]. No presente estudo observamos que houve uma melhora considerável no risco de quedas pré e pós-intervenção com diminuição do tempo de realização do TUG de 50s para 17s. Entretanto, observamos que o comportamento dos resultados pré e pós-testes de cada sessão não foram constantes, sendo que nas três primeiras sessões (primeira semana de atendimento) a melhora foi mais acentuada, havendo uma estabilização do quadro nas duas semanas seguintes (entre 4º e 8º atendimentos), com uma nova evolução nas duas sessões remanescentes. Kofotolis e Kellis avaliaram os efeitos de técnicas de estabilização do PNF em pacientes com dor lombar crônica [19]. Eles randomizaram dois grupos: um realizou exercícios estáticos e o outro, dinâmicos, através das técnicas de estabilização do PNF, e, ao final de quatro semanas, observaram melhora significativa tanto na mobilidade lombar como na resistência muscular e na funcionalidade destes pacientes [19]. Pacientes com disfunção cerebelar normalmente apresentam hipermetria e instabilidade postural que é compensada por feedback somatossensorial que levam a ajustes tônicos gerando estabilidade [20], logo a aproximação, que é um dos princípios básicos do PNF, é benéfica no tratamento dos pacientes com disfunção cerebelar, estimulando receptores articulares, proporcionando estabilidade. Armutlu et al. observaram que a fisioterapia foi eficiente minimizando os sinais de ataxia em pacientes com esclerose múltipla. O acompanhamento fisioterapêutico deve ser contínuo, com metas e objetivos, constantemente adaptados às necessidades do paciente [21]. Eles observaram, ainda, que a melhora da estabilidade e de reações de equilíbrio podem ser alcançadas pelo PNF através de técnicas de co-contração de agonistas e antagonistas que podem ser utilizadas em diferentes posições, de forma estática ou dinâmica e treinando transferência de peso. Witt et al., em seu estudo, avaliaram 21 indivíduos saudáveis através de eletromiografia (EMG) para verificar a ativação dos músculos estabilizadores de escápula usando técnicas do PNF. Observaram que independentemente do padrão (diagonal) escolhido, houve ativação significativa dos músculos selecionados, mesmo com diferentes resistências aplicadas [22]. Luterek et al. realizaram um estudo de caso usando o PNF na reabilitação de um paciente com artropatia hemofílica avançada em joelhos e tornozelos. O protocolo de exercícios Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 140 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 gerou maior fortalecimento de musculatura periarticular, gerando maior estabilidade em joelhos e tornozelos, além de melhorar quadro álgico [23]. Wang avaliou os efeitos imediatos e acumulativos do tratamento utilizando o PNF na marcha de indivíduos com hemiplegia decorrentes de acidente vascular cerebral (AVC). Observou que indivíduos com lesões agudas e subagudas respondiam de forma imediata ao tratamento com PNF obtendo melhoras na velocidade e cadência da marcha após uma única sessão [24]. Já os indivíduos com lesões crônicas demoraram, inicialmente, a responder ao tratamento com o PNF em virtude das compensações no padrão de marcha já adotados, todavia, após 12 sessões, observou-se melhora similar quanto à velocidade e cadência em ambos os grupos. Maring e Croakin realizaram uma revisão sobre fisioterapia e ataxia e relataram a carência de estudos sobre o tema e, sobretudo, que evidenciem os efeitos da reabilitação física nessa população [25]. Além disso, relataram princípios que devem ser enfatizados no tratamento de ataxia como manter o alinhamento biomecânico, sobretudo nos pés, o que favorece melhor equilíbrio e possibilita melhor capacidade de deambular de forma independente, indicação de órteses e adaptações ambientais, orientação quanto ao prognóstico e manejo da enfermidade tanto para o paciente quanto para sua família no intuito de ofertar acima de tudo segurança e minimizar complicações como quedas [25]. Sherrington et al., em sua revisão sistemática sobre exercícios e prevenção de quedas, formularam recomendações cujos exercícios tinham como objetivo desafiar o equilíbrio com redução progressiva da base de apoio, movimentar o centro de gravidade para diferentes direções, transferir o peso do corpo de uma perna para a outra e, exercícios de fortalecimento muscular global com ênfase em músculos proximais [26]. O presente estudo enfatizou tais princípios com objetivo de estabilização do tronco do paciente gerando maior estabilidade e com isso oferecer um menor risco de quedas. A Sociedade Britânica de Geriatria estabeleceu em seu guideline considerações sobre o exercício na prevenção de quedas; estes podem ser realizados somente para ganho de força muscular ou associados a ganho de flexibilidade, coordenação e resistência [27]. Observou-se que os exercícios associados apresentaram maiores evidências na prevenção de quedas devendo ser utilizados nesta população, portanto o PNF se mostra adequado para este fim [27]. Neste estudo observou-se um comportamento parecido nas primeiras três sessões com melhoras acentuadas no TUG teste e com períodos de estabilização 04, 05, 06 e 09. Assim como houve melhora no escore da EEB após intervenção passando de 25 para 35 pontos, no entanto o paciente ainda apresentava risco elevado de quedas. O TUG mostrou uma melhora importante na mobilidade ativa quando comparado o pré e o pós-teste de cada sessão e, sobretudo, quando comparado o pré-teste da sessão 01 ao pós-teste da sessão 10. 05/07/2012 17:53:34 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 O medo de cair leva a repercussões negativas no bem estar físico e funcional do idoso no tocante à perda de independência e capacidade de realizar as AVD, socialização, favorecendo o sedentarismo que piora a sarcopenia, perda de equilíbrio e elevação do risco de cair [28,29]. O paciente relatou, durante a intervenção, maior segurança para deambular, maior estabilidade e menor medo em relação à queda, todavia não se utilizou de métodos para quantificar tais aspectos relatados pelo paciente, sendo esta uma das limitações do estudo. Sugerem-se ainda novos estudos sobre o assunto devido à carência de artigos sobre o mesmo e com uma amostra maior. Conclusão O PNF mostrou-se benéfico no tratamento da estabilidade, minimizando o risco de cair em um indivíduo com DER. Referências 1. Cardozo DC, Seixas FAV. Ataxia de Friedreich: relato de um caso com manifestação tardia. Arq Ciênc Saúde UNIPAR 2009;13(3):243-7. 2. Melo M, Fagulha A, Barros L, Guimarães J, Carrilho F, Cavalheiro M. Ataxia de Friedreich e diabetes mellitus - Estudo de uma família. Acta Med Port 2005;18:479-84. 3. Godeiro Junior CO, Felício AC, Silva SMA, Borges B, Ferraz HB. Abordagem clínica de pacientes com ataxia. Rev Neuroc 2007;15(1):70-5. 4. Albano LM, Kim CA. Análise clínica e molecular da ataxia de Friedreich: revisão da literatura. Pediatria (São Paulo) 2001;23(3):241-50. 5. Leonardi M, Lopes GJ, Bezerra PP, Borges AP. Impacto do desequilíbrio estático e dinâmico no risco de quedas em indivíduos com ataxia espinocerebelar. Rev Neurocienc 2009:17(2):178-82. 6. Adler SS, Beckers D, Buck M. PNF- Facilitação neuromuscular proprioceptiva. 2a ed. 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Rev Saúde Pública 2002;36(6):709-16. 05/07/2012 17:53:35 142 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Revisão Análise dos deslocamentos do disco articular da articulação temporomandibular: revisão de literatura, critérios e exame Analysis of articular disk displacement of temporomandibular joint: review, criteria and examination Marcus Vinicius de Mello Pinto, D.Sc.*, Cristiane Martins da Silva,M.Sc*, Reggiani Vilela Gonçalves**, Lamara Laguardia Valente Rocha*** *Faculdade Redentor, **Universidade Federal de Pelotas, ***Centro Universitário de Caratinga Resumo Abstract As desordens funcionais da articulação temporomandibular são provavelmente os achados mais comuns em pacientes com desordem mastigatória. O deslocamento do disco articular é a artropatia da ATM mais comum e é caracterizada por vários estágios de disfunção clínica, que envolvem a relação côndilo-disco. O deslocamento de disco com redução é caracterizado por uma relação anormal ou mau alinhamento do disco articular e do côndilo, que vai levar a um travamento da mandíbula. Neste processo pode ocorrer o click articular ou estalo, durante a abertura da boca, mostrando que o disco foi reduzido. Esta condição pode vir ou não acompanhada de dor e se evoluir e tornar-se crônica, passa de deslocamento de disco com redução para sem redução, onde o disco fica permanentemente numa posição anteriorizada, impedindo o movimento normal do côndilo. O deslocamento de disco sem redução é acompanhado de hipomobilidade mandibular e dor articular ao realizar os movimentos de abrir e fechar a boca. O tratamento conservador nesses casos tem obtido bons resultados na melhora da função mastigatória e na redução da dor, evitando assim o uso de procedimentos cirúrgicos. The functional disorders of the temporomandibular joint (TMJ) are probably the most common findings in patients with difficulties in mastication. The most common arthropathy of TMJ is the articular disk displacement of the joint and is characterized by several stages of clinical dysfunction that involve the condyle-disk relationship. The disk displacement with reduction is characterized by abnormal relationship or improper alignment between the joint disk and condyle, which will lead to jaw locking. In this process the joint click or snap can occur, during the opening of the mouth, showing that the disk was reduced. This condition can or not be followed by pain and, if it evolves and become chronic, it passes from disk displacement with reduction to non-reduction, in which the disc is permanently in a back position, hindering the normal movement of the condyle. The non-reduction disc displacement is followed by jaw hipomobility and pain in joint when carrying through the movements to open and to close the mouth. The conservative treatment in these cases obtained good results in the improvement of the masticatory function and in the reduction of pain, thus preventing the use of surgical procedures. Palavras-chave: articulação temporomandibular, deslocamento de disco, desordens temporomandibulares. Key-words: joint temporomandibular, disc displacement, temporomandibular disorders. Recebido em 24 de outubro de 2011; aceito em 20 de dezembro de 2011. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius de Mello Pinto, Av. Benedito Valadares, 62/901, 35300-035 Caratinga MG, E-mail: orofacial_1@ hotmail.com, Tel: (33) 3321-6995 Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 142 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução Os primeiros estudos relacionando as desordens temporomandibulares foram realizados em 1934, por James Costen apud Okeson [1]. Este grupo de patologias é marcado, muitas vezes por dor e disfunção e envolve as estruturas relacionadas com a articulação temporomandibular (ATM) e os músculos mastigatórios e faciais. Estas desordens são classificadas em dois grupos: • Desordens funcionais dos músculos da mastigação; • Desordens funcionais da articulação temporomandibular. O objetivo deste estudo foi executar uma revisão qualitativa da literatura envolvendo as desordens da articulação temporomandibular, mais especificamente as desordens do complexo côndilo-disco que englobam os deslocamentos de disco com e sem redução, enfocando as características etiológicas e tratamento dessas doenças. O deslocamento do disco articular é a artropatia mais comum da ATM e é caracterizada por vários estágios de disfunção clínica, que envolvem a articulação côndilo-disco. É uma relação anormal ou mau alinhamento do disco articular e do côndilo. A direção usual do deslocamento é anterior ou antro-medial [1-3]. Os desarranjos internos da articulação temporomandibular são mais comuns em certos tipos de pacientes. Esses pacientes são tipicamente mulheres jovens as quais geralmente possuem lassidão articular. Pode haver história de hiperatividade muscular ou bruxismo e histórico familiar de click articular. O deslocamento de disco com redução indica que este foi temporariamente desalinhado, o que reduz ou melhora sua relação estrutural com o côndilo quando ocorre a translação mandibular com a abertura da boca e produz um som articular descrito como estalo ou click. O deslocamento de disco com redução também possui o denominado estalo recíproco ouvido durante o movimento de fechamento da boca antes da oclusão dos dentes. O deslocamento de disco com redução pode ou não ser uma condição dolorosa. À medida que se torna crônico, ou que o disco se torna progressivamente mais deslocado, começa a interferir no movimento de abertura da boca. O deslocamento de disco sem redução é a evolução do deslocamento de disco com redução. Esse deslocamento de disco sem redução é usualmente referido como travamento fechado, pois está clinicamente acompanhado de hipomobilidade mandibular causada por bloqueio condilar. O paciente com travamento fechado agudo tipicamente é portador de dor severa assim como restrição ao movimento mandibular. Nesse caso, não acontece o estalo porque o disco não reduz [1,4,5]. Acreditava-se que era absolutamente essencial a reposição do disco para evitar a progressão da deterioração da articulação temporomandibular, porém, foi observado que o movimento articular é mais importante que a posição do disco. Nesse sentido, tratamentos conservadores ou não cirúrgicos têm obtido importante melhora na função mastigatória e na redução da Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 143 143 dor. O uso da placa reposicionadora deve ser acompanhado por um profissional especializado para que não venha a agravar o quadro da disfunção. A fisioterapia conjugada com o uso da placa tem alcançado bons resultados no controle da dor e melhora da função. A farmacologia também é indispensável no tratamento de algumas das desordens côndilo-disco. Aos pacientes são dadas orientações sobre repouso mandibular, dieta correta e de como evitar o click. Com essas alternativas terapêuticas, o controle do problema pode oferecer uma boa qualidade de vida aos pacientes [4,2,6]. Etiologia A etiologia do deslocamento de disco permanece incerta, pois diversas investigações falharam em implicar fatores específicos como ortodônticos, parafunções, ou outros que, de uma forma geral, distribuem-se semelhantemente em populações pacientes e não pacientes. Entretanto, há evidências de que o macrotrauma esteja, diretamente ou secundariamente, correlacionado a danos de hiperextensão e flexões cervicais [7]. Razões funcionais e traumáticas podem interferir no bom relacionamento das superfícies articulares com o disco. Uma das causas importantes é a hiperatividade muscular que ocorre durante o bruxismo e apertamento dos dentes. A ação dos músculos mastigatórios é complexa, bem coordenada e com características de agonismo, sinergismo e antagonismo. Durante a hiperatividade dos músculos elevadores, o músculo pterigóideo lateral superior, que se origina no processo pterigóide e se insere no disco articular, mantém-se contraído, tracionando o disco para frente e para medial. O deslocamento ocorre, portanto, também para a região anterior e medial, paralelamente à direção da força deste músculo [4,8-10]. Devido ao tracionamento prolongado o disco pode, num primeiro momento, desalojar-se para frente e para o meio, fazendo com que o côndilo comprima sua borda posterior, que é a mais espessa, podendo provocar alterações degenerativas como o aplainamento desta área. O processo pode evoluir até ser caracterizado como deslocamento do disco quando, literalmente, o disco se posiciona a frente do côndilo [4]. Alguns fatores parecem aumentar a suscetibilidade do deslocamento de disco. Harkins & Marteney4 observaram que a lassidão sistêmica foi mais prevalente em pacientes com deslocamento de disco do que em pacientes com outros tipos de alterações temporomandibulares e indivíduos assintomáticos. Alteração do metabolismo do colágeno parece ter um papel importante na lassidão da articulação temporomandibular. Maiores quantidades de colágeno do tipo III foram encontrados em indivíduos com deslocamento de disco. Também foi mais prevalente em adolescentes do gênero feminino. O risco que uma jovem tem de desenvolver deslocamento de disco é três vezes maior do que o do jovem masculino da mesma idade, além da probabilidade de desenvolver disfunção na idade adulta ser quatro vezes maior [1,7,5]. 05/07/2012 17:53:35 144 Katzberg et al. [4] associaram positivamente o deslocamento do disco ao bruxismo. Acreditam que pode também estar associado ao progresso do deslocamento de disco com redução para sem redução. Deslocamento de disco com redução A presença da tonicidade muscular faz com que o disco assuma uma posição mais ântero-medial, permitida por suas inserções e sua própria morfologia. Pode-se imaginar que se a hiperatividade muscular estivesse presente, o músculo pterigóideo lateral superior poderia ter até uma influência maior na posição do disco. Uma característica importante deste relacionamento funcional é que o côndilo translada através do disco em certo grau, quando o movimento se inicia. Esse tipo de movimento não ocorre numa articulação normal. Durante tal movimento a pressão interarticular aumentada pode impedir que as superfícies articulares deslizem sobre si mesmas de forma suave. O disco pode ficar preso ou se aglomerar ligeiramente, causando um movimento abrupto do côndilo sobre o disco em relação ao posicionamento normal côndilo-disco. Um estalido pode ser ouvido durante este movimento. Uma vez que houve o estalo, a relação normal do côndilo-disco é reestabelecida e este relacionamento é mantido até o final do movimento de abertura. Durante o fechamento da boca, o relacionamento normal do disco e côndilo é mantido devido à pressão interarticular. Entretanto, uma vez que a boca tenha sido fechada e a pressão interarticular diminuída, o disco pode, mais uma vez, ser deslocado para frente pela tonicidade do músculo pterigóideo lateral superior. Se esta condição persistir, um segundo estágio de desordem é observado. Conforme o disco é mais cronicamente reposicionado para frente e medialmente, pela ação muscular do pterigóideo lateral superior, os ligamentos discais são mais alongados anteriormente. A posição anteriorizada contínua do disco também causa alongamento da lâmina retrodiscal inferior. Acompanhando este colapso, há um afinamento contínuo da borda posterior do disco, o que permite o disco ser reposicionado mais anteriormente, resultando num posicionamento mais posterior do côndilo na borda posterior. As mudanças morfológicas do disco na região onde o côndilo se situa podem criar um segundo estalido durante os últimos estágios do retorno condilar na posição articular fechada. Este estágio de desordem é chamado de estalido recíproco [2]. Características clínicas • Amplitude de abertura relativamente normal, sendo apenas limitada por dor; • Desvio notável no trajeto de abertura, quando esta reduz o disco; • Os movimentos do disco podem ser sentidos por palpação durante a abertura e fechamento; • Sensação de travamento mandibular; Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 144 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 • Presença de sons (click) na abertura e fechamento da mandíbula, indicando o deslocamento e a redução do disco articular. Deslocamento de disco sem redução O deslocamento de disco com redução pode ter uma evolução de agravamento do processo fisiopatológico para deslocamento de disco sem redução, o qual é caracterizado pelo deslocamento permanente do disco articular para uma posição antero-medial mesmo quando o côndilo translada totalmente para frente. Como não há redução do disco, não ocorrem ruídos articulares. Isto acontece porque quanto maior o deslocamento anterior e medial do disco, maior o afinamento da sua borda posterior e ocorrerá mais tensão do ligamento discal lateral e da lâmina retrodiscal inferior. Assim como o deslocamento anterior prolongado do disco pode levar a uma grande perda da elasticidade da lâmina retrodiscal superior. Quanto maior a mudança da forma do disco para se acomodar à tração muscular e posição condilar, maior a probabilidade daquele ser forçado para o espaço interdiscal, prejudicando o espaço articular na parte posterior. Em outras palavras, se a borda posterior do disco se torna fina, o músculo pterigóideo lateral superior pode tracionar o disco completamente através do espaço interdiscal e assim o disco fica fixo numa posição anteriorizada. Então, a próxima translação completa do côndilo é inibida pela posição anterior e mediana do disco. O sujeito refere a articulação travando numa posição de fechamento limitada [1]. Características clínicas • A amplitude de abertura máxima fica entre 25 e 30 mm. A abertura de boca é súbita e marcadamente limitada por causa de um endurecimento ou fixação do disco secundário à adesão; • Durante a abertura, a mandíbula deflete para o lado da articulação envolvida; • O ponto máximo de abertura revela uma sensação de rigidez; • Movimentos excêntricos relativamente normais no lado ipsilateral e restritos no lado contralateral; • Ausência de som na articulação afetada; • A dor é presente muitas vezes e está especialmente relacionada à tentativa de abrir a boca além do ponto de restrição. Numa condição crônica a dor é reduzida, às vezes até abolida, e a amplitude de abertura pode aproximar-se das dimensões normais com o decorrer do tempo. Opções terapêuticas para as alterações por interferência do disco O tratamento deve ser escolhido de acordo com os sinais e sintomas apresentados pelo paciente. 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Placa protrusiva reposicionadora Houve uma grande evolução na conceituação de quando e como tratar os deslocamentos do disco com redução. Os primeiros trabalhos baseados na placa protrusiva reposicionadora de Farrar [6], em 1972, tinham como principal objetivo a eliminação dos ruídos articulares, pois se consideravam que articulações silenciosas seriam fisiologicamente saudáveis. O tempo sugerido de uso da placa era de 24 horas por dia, por 3 a 6 meses. Foi descoberto quase que de imediato que este aparelho era útil para reduzir rapidamente os sintomas de dor, melhorando o relacionamento côndilo-disco. O objetivo da terapia definitiva era reduzir a dor intracapsu­lar, e não recapturar o disco. A placa de estabilização deve ser usada tanto quanto possível, devido aos efeitos colate­rais estarem minimizados por longo prazo. Quando esta pla­ca não for efetiva, outra de reposicionamento anterior deve ser confeccionada. O paciente deve ser instruído inicial­mente a usar a placa toda noite durante o sono e durante o dia só quando necessário para reduzir os sintomas. Esse uso parcial minimiza efeitos oclusais adversos. O paciente deve ser encorajado a usar mais a placa somente se esta for a única maneira de controlar a dor. Tão logo os sintomas regridam, o paciente é avisado para diminuir o uso do apa­relho. Com as mudanças adaptativas, a maioria dos pa­cientes pode reduzir o uso da placa sem necessidade de nenhuma mudança dental. Essas mudanças adaptativas po­dem ocorrer em oito a dez semanas ou às vezes até mais [4]. Quando a suspensão do uso da placa produz o retomo dos sintomas, duas condições devem ser avaliadas. O processo de adaptação não está suficientemente comple­to para permitir que os tecidos retrodiscais alterados acei­tem as forças funcionais do côndilo, ou há falta de estabilidade ortopédica. Quando houver instabilidade or­topédica, deve-se levar em consideração a correção dessa condição por terapia oclusal. Essa é a única condição que requer terapia oclusal [1,7,11]. O uso da placa de reposicionamento na boca de um paciente com deslocamento de disco sem redução só agrava a condição, forçando ainda mais o disco para frente. Portanto, esta placa é contra indicada para esse tipo de paciente. Fisioterapia orofacial Algumas modalidades de fisioterapia podem ser úteis no tratamento de alguns dos sintomas associados com as alterações por interferências do disco. Esses tratamentos podem ser divididos em dois tipos genéricos: os que reduzem a dor e os que melhoram a função. Fisioterapia para o controle da dor Termoterapia e Crioterapia Nos casos quando a dor é significativa, o calor úmido ou o gelo aplicado sobre a região da articulação podem fre- Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 145 145 quentemente ser úteis. A termoterapia utiliza o calor como mecanismo primário e está baseada na premissa de que o calor exacerba a circulação na área aplicada. O calor superficial é aplicado colocando-se uma toalha úmi­da quente sobre a área sintomática. Uma bolsa de água quente sobre a toalha ajudará a manter o calor. Elas deveriam permanecer em posição por 10 a 15 minutos, não excedendo 30 minutos. Uma almofada elétrica também pode ser usada, mas deve-se tomar cuidado para não deixá-la sem supervisão [1]. Como a termoterapia, a terapia com frio tem se provado um método simples, mas em geral efetivo na redução da dor. O gelo deveria ser aplicado diretamente à articulação sin­tomática e/ou músculos em movimentos circu­lares, sem pressão para os tecidos. Inicialmente o paciente experimentará uma sensação des­confortável que irá rapidamente alterar-se para uma sensação de queimação. O uso continua­do do gelo resultará em dor leve e depois em amortecimento [3]. Quando iniciar a sensação de amorteci­mento, o gelo deve ser removido. O gelo não deve ser deixado sobre os tecidos por mais que de 10 minutos. Após um período de reaquecimento uma segunda aplicação é dese­jável. Considera-se que durante o período de reaquecimento há exacerbação do fluxo sanguíneo para os tecidos, auxiliando a cica­trização tecidual [1,6]. Um tipo usual de crioterapia é promovido pelo uso de aeros­sóis. Dois aerossóis mais utilizados são o cloreto de etila e o fluorometano. Um aerossol refrigerante é aplicado na região desejada a uma distância de 30 a 60 cm por cerca de 5 segundos. Após o reaquecimento do tecido o procedimento pode ser repetido. Deve-se tomar cuidado para não permitir que o aerossol tenha contato com olhos, orelhas, nariz ou boca. Uma toalha deve ser colocada para proteger essas áreas. Os aerossóis refri­gerantes não penetram no tecido como o gelo e, portanto, é provável que a redução da dor seja mais associada com o estímulo das fibras nervosas cutâneas que por sua vez inibem as fibras dolorosas mais curtas ou fibras C. Este tipo de redução da dor provavelmente é de curta duração. Uma vez que os resultados são individuais, o clínico deve sugerir tanto a terapia com calor quanto com frio para o paciente. O paciente deve determinar a modalidade mais efetiva para controle do seu tipo de dor. Ambas as modalidades são muito conservadoras e podem ser utilizadas com a frequência que o paciente achar necessário. Iontoforese, fonoforese e laser Três outras modalidades de fisioterapia pesquisadas são a iontoforese, a fonoforese e o laser. A iontoforese é uma técnica pela qual o medicamento prescrito pelo odontólogo é introduzido nos tecidos pelo fisioterapeuta. Com a iontoforese, o medicamento é depositado em um eletrodo tipo patch e este colocado sobre a articulação envolvida. Então, uma corrente elétrica de baixa intensidade passa através do patch levando o medicamento para dentro dos tecidos. Os anestésicos locais e os anti-inflamatórios são medicamentos comumente utiliza- 05/07/2012 17:53:35 146 dos com a iontoforese. Se o medicamento é direcionado para o interior dos ­tecidos através de tratamento com ultrassom, a modalidade é conhecida como fonoforese [1,7,11,3]. Tradicionalmente, o laser tem sido pesquisado para a cicatrização de feridas e o alívio da dor. Atualmente, ele é considerado como uma modalidade terapêutica física de rotina, mas é incluído nesta seção com a finalidade de abrangência do assunto [12]. A maioria dos estudos sobre laser cita seu uso nas condições dolorosas, neurológicas, reumáticas e musculoesqueléticas crônicas. Considera-se que o laser a frio acelera a síntese de colágeno, exacerbando a vascularização dos tecidos em reparação, reduzindo o número de microrganismos e debelando a dor. Vários estudos têm sido publicados, nos quais o tratamento com laser tem sido utilizado na artralgia temporomandibular persistente. Mais pesqui­sas serão necessárias para melhor compreen­são de sua eficácia [6,3]. Fisioterapia orofacial para melhorar a função Precocemente, numa disfunção por interferência do disco ou osteoartrite, a dor pode causar uma restrição funcional da articulação do paciente. Embora isto possa ser útil a princípio, a restrição da função articular pode levar a uma hipomobilidade crônica e à atrofia muscular. Alguns exercícios passivos­ podem ser úteis para levar ao retorno da mobilidade da articulação a sua função normal. O paci­ente deve ser instruído a abrir suavemen­te a boca em oposição a uma força e, após, fechá-la. A mandíbula deve então ser movi­da excentricamente. Durante o pro­cesso de cicatrização esses exercícios não devem produzir qualquer dor significativa. Com o tempo, à medida que a adaptação funcional­avança, os exercícios devem ser mais ati­vos de modo que o movimento com amplitude normal possa ser restabelecido [1]. A técnica manipulatória da articulação pode exacerbar sua mobilidade, bem como inibir a atividade dos músculos que a tracionam (músculos elevadores). A mani­ pulação da ATM é realizada posicionando-se o polegar do profissional, com luva, dentro da boca do paciente sobre a região do segundo molar do lado a ser manipulado. Com a cabeça estabi­lizada pela outra mão, o clínico posiciona uma força para baixo no molar com seu polegar. A manipulação dos músculos re­laxando-os não requer translação da articula­ ção, mas meramente um posicionamento articular de boca fechada e sem cargas. A mani­pulação deve ser mantida por 30 segun­dos e então liberada. Devem ser repetidas por 10 vezes. Quando a mobilidade articular é o problema,­a manipulação deve ser associada com translação manual da articulação. A manipulação articular tem sido recomendada como um método para a redução de um disco que tenha se tornado permanentemente desloca­do. Embora essa técnica possa fornecer al­gum sucesso imediato, há poucos estudos que avaliam seu sucesso por longo prazo. Quando a disfunção é um deslocamento agudo de disco sem redução, inferior a uma Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 146 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 semana, dever-se-ia tentar esta técnica. Se o clínico reduzir o disco com sucesso, um aparelho de reposicio­namento anterior está indicado. Os discos que tenham sido desloca­dos por mais de uma semana são de redução e manutenção muito difíceis; portanto, o pro­cedimento de manipulação provavelmente terá sucesso. Se o disco não puder ser reduzi­do, um aparelho de relaxamento muscular está indicado meramente para reduzir as forças mastigatórias sobre a articulação associadas com as atividades de bruxismo [1,4,11]. O uso da eletromiografia funcional antes e depois das técnicas manipulativas irá garantir mais fidedignidade clínica na recuperação funcional destes pacientes [13-17]. Farmacoterapia A farmacoterapia pode ser um auxílio efetivo no tratamento dos sintomas associados com disfunção intracapsular. Os pacientes devem ser informados de que o medicamen­to não irá provavelmente oferecer solução ou cura para o problema. Contudo, o medicamento em associação com fisioterapia orofacial adequada e o tratamento definitivo realmente oferecerão o enfoque mais completo para a maioria dos problemas. Os dois tipos mais comuns de medicamentos utilizados para as disfunções por alteração interna são os analgésicos e os anti-inflamatórios [5]. Orientações É muito importante que cada paciente compreenda o mecanismo que está causando sua disfunção. Cada profissional que trata de pacientes com alterações de disfunção deveria ter um modelo ou uma ilustração bem clara da articulação temporomandibular, de modo que o paciente pudesse visualizar o mecanismo da disfunção. O paciente deve receber recomendações sobre repouso articular e dieta pastosa quando este se encontrar em fase aguda com forte dor. O paciente tem que ser instruído sobre a relação do quadro com o estresse emocional e ansiedade que contribuem com o aumento da dor e contratura muscular. Uma aula sobre postura correta e alongamentos deve ser ministrada ao paciente. Busca-se melhorar a função e a qualidade de vida do indivíduo [1,3]. Conclusão Os deslocamentos de disco, com e sem redução, são patologias que podem ser observadas frequentemente nos consultórios odontológicos e fisioterapêuticos, muitas vezes passando despercebidas em pacientes assintomáticos. É preciso que o profissional que for tratá-lo, seja odontólogo ou fisioterapeuta, esteja sempre atento aos sinais e sintomas que caracterizam tais patologias, a fim de proporcionar ao paciente um diagnóstico seguro e um tratamento efetivo, não esquecendo de que esses pacientes, muitas vezes necessitam de orientações posturais e comportamentais, e que o tratamento 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 conservador e não-invasivo deve sempre ser priorizado em relação a outras modalidades de forma transdisciplinar. Referências 1. Okeson JP. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclusão. São Paulo: Artes Médicas; 2000. 2. Maciel RN. ATM e dores crânio faciais – Fisiopatologia básica. São Paulo: Santos; 2003. 3. Oliveira W. Disfunções temporomandibulares. São Paulo: Artes Médicas; 2002. 4. Katzberg RW, Westesson PL, Tallents RH, Drake CM. Anatomic disorders of the temporomandibular joint disc in asymptomatic subjects. 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Baltimore: Willians e Wilkins; 1985. 05/07/2012 17:53:35 148 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Revisão Comparação dos tratamentos conservador, cirúrgico e através da mobilização neural no tratamento da hérnia de disco lombar Comparison of conservative or surgical treatment and neural mobilization in lumbar disc herniation Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft., Esp.*, Eduardo Monnerat, Ft., MSc.** *Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia e Terapia Manual, **Mestre em Ciência da Motricidade Humana Resumo Abstract A hérnia de disco ocorre pela ruptura do anel fibroso, em consequência do deslocamento do núcleo intervertebral. O objetivo deste estudo foi realizar, utilizando a literatura existente, uma comparação entre os tratamentos conservador, cirúrgico e através da mobilização neural no tratamento da hérnia de disco lombar. O presente estudo verificou que diversos métodos podem ser empregados, obtendo melhora significativa em todas as técnicas abordadas. O tratamento conservador inclui as técnicas da crioterapia, ultrassom, micro-ondas, ondas curtas, ultrassom, laser e TENS. A estas técnicas juntam-se a osteopatia, quiropraxia, reeducação postural global, hidroterapia, Pilates e acupuntura, para o tratamento da dor lombar. O tratamento cirúrgico está indicado quando segue uma piora significativa após o tratamento conservador. A mobilização neural é indicada em todas as condições que apresentem comprometimento mecânico/fisiológico do sistema nervoso. O objetivo da técnica é melhorar a neurodinâmica, restabelecer o fluxo axoplasmático, e a homeostasia dos tecidos nervosos. The herniated disc occurs when the annulus fibrosus ruptures, in consequence of the displacement of intervertebral nucleus. The objective of this study was to carry out, using the literature, a comparison between conservative and surgical treatment or neural mobilization in treatment of neural lumbar disc herniation. This study verified that several methods can be employed, obtaining a significant improvement in all the techniques treated. Conservative treatment for low back pain treatment includes cryotherapy, ultrasound, microwave, shortwave, ultrasound, laser and TENS techniques, in association with osteopathy, chiropractic, global postural reeducation, hydrotherapy, Pilates and acupuncture. Surgical treatment is indicated when a significant deterioration is observed after conservative treatment. The neural mobilization is indicated in all conditions when mechanical/physiological nervous system is compromised. The goal is to improve the neurodynamics technique, restore the axoplasmic flow and the nerve tissue homeostasis. Key-words: neural mobilization, herniated disc, pain. Palavras-chave: mobilização neural, hérnia discal, dor. Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 5 de março de 2012. Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/ 301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: 2578-4036, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 148 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 Introdução A lombalgia é uma condição comum que pode afetar atletas e não atletas. Dados populacionais demonstram que cerca de 60 a 80% das pessoas relatam esse incômodo em algum momento da vida [1,2]. Estudos provam que a queixa de lombalgia é um dos problemas mais comuns da sociedade. O tratamento da lombalgia não está claramente definido e tem sucesso variável em diferentes populações e prazos [3]. O desequilíbrio entre as funções dos músculos extensores e flexores do tronco é um forte indício para o desenvolvimento das disfunções da coluna lombar [4]. Para Long et al., a Hérnia de Disco (HD) é considerada um patologia extremamente comum, causadora de séria inabilidade, constituindo um problema de saúde pública mundial [5]. Em um estudo realizado, investigou-se a prevalência de lombalgia em 410 caminhoneiros da cidade de São Paulo. O objetivo foi avaliar a relação das horas de trabalho com essa disfunção. Outros fatores de risco não foram levados em consideração. Dos indivíduos avaliados, 59% apresentaram dor lombar. Concluiu-se, que a prevalência de lombalgia em caminhoneiros também está relacionada com o número de horas trabalhadas [6]. Estudos epidemiológicos envolvendo países como EUA, Canadá, Brasil, Reino Unido e Escandinávia atestam que dores nas costas, como condição geral, afetam cerca de 80% da população da maioria das nações industrializadas [7]. A hérnia de disco é uma patologia extremamente comum e é também uma grande responsável por dores na coluna lombar. É um processo em que ocorre a ruptura do anel fibroso, com subsequente deslocamento da massa central do disco nos espaços intervertebrais, com o comprometimento das raízes nervosas [8]. Se houver uma lesão do disco intervertebral, quatro problemas podem resultar: protusão, prolapso, extrusão e sequestro. Este último é uma formação de fragmentos discais do anel fibroso e núcleo pulposo fora do disco intervertebral [9]. A hérnia de Schmorl, a espondilose, espondilolise, e a espondilolistese também são patologias que além da hérnia de disco, dos desvios excessivos da coluna vertebral e dos processos degenerativos também poderão levar indivíduos à lombalgia. A hérnia de disco (HD), de maneira geral, ocorre por um processo onde há ruptura do anel fibroso, em consequência do deslocamento do núcleo intervertebral. As alterações degenerativas do disco são um fator predisponente para a formação da hérnia de disco, mas isto é variável e dependente de fatores individuais e externos para definição do tipo de hérnia [10]. O fragmento herniário é uma combinação de anulo fibroso, núcleo pulposo e placa terminal, diferenciando a composição conforme a idade e o mecanismo de trauma [11]. A hérnia de disco acomete cerca de 2 a 3% da população mundial, com prevalência de 48% em homens e de 2,5% em mulheres com idades superiores a 35 anos [7]. São fatores de risco relacionados a esta disfunção o hábito de carregar peso, Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 149 149 dirigir, fumar, condutas posturais inadequadas, assim como o próprio processo natural de envelhecimento [12]. A hérnia discal lombar (HDL) entre L4-L5 e L5–S1 é a região de mais frequente acometimento [13]. Nos últimos vinte anos, muitos fisioterapeutas, com formação orientada à ortopedia, voltaram-se para o estudo do sistema nervoso (SN) buscando respostas para os mecanismos subjacentes a sinais e sintomas e melhores tratamentos para indivíduos com disfunções do tecido neural. Foi desenvolvido um tratamento baseado em observações clínicas e pesquisas experimentais que utiliza a mobilização neural, o qual continua evoluindo [14]. Com o desenvolvimento de pesquisas na área de reabilitação, o número de recursos terapêuticos conservadores para tratamento da HD aumentou. Técnicas pouco utilizadas ou empregadas apenas em casos especiais começaram a se desenvolver. A osteopatia, a quiropraxia, a reeducação postural global, a mobilização neural, as técnicas de mobilização articular, a hidroterapia e o Pilates foram englobados à terapêutica conservadora da fisioterapia convencional contra a sintomatologia álgica e funcional da coluna lombar. Embora tenha havido grande evolução dessas técnicas, o repouso e o tratamento medicamentoso com utilização de analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares, ainda são imprescindíveis no tratamento da hérnia de disco lombar (HDL), principalmente na fase aguda. O procedimento cirúrgico, em muitos casos, poderá ser outra opção terapêutica. Nos quadros de hérnias de disco de grande volume e síndrome da cauda equina, pode ocorrer compressão da medula espinhal e das raízes nervosas, com surgimento muitas vezes como urgência. As demais indicações seriam por resposta inadequada ao tratamento conservador e episódios de dor recorrentes, que limitam a atividade diária do paciente de forma importante [8,13]. Em estudos realizados em indivíduos submetidos à cirurgia e indivíduos submetidos ao tratamento conservador, chegou-se a conclusão que o grupo que foi submetido ao tratamento cirúrgico estava melhor após o segmento de um ano. Entretanto, essa significância se dissipa, tornando-se semelhante após 4 anos e igual a 10 anos [1]. Após um ano da intervenção cirúrgica para HDL e estenose foramidal do segmento lombar, 17 indivíduos foram avaliados. Os resultados mostram que as evoluções dos indivíduos não podem ser consideradas satisfatórias, pois a evolução é lenta, e os pacientes apresentaram ao final de um ano disfunção mecânica e dor residual [15]. A intervenção precoce da fisioterapia contribuiu para melhorar o estado funcional e reduzir a dor em pacientes nos dois primeiros meses após o procedimento cirúrgico de hérnia de disco lombar [16]. Este estudo objetivou realizar uma revisão de literatura comparando os aspectos convergentes e divergentes dos autores selecionados sobre a abordagem conservadora, cirúrgica e através da mobilização neural no tratamento da hérnia de disco lombar. 05/07/2012 17:53:35 150 Material e métodos Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, cuja estratégia de busca incluiu consulta de bases de dados eletrônicas Medline e Bireme, assim como em livros publicados por editora nacional. Foram selecionados 28 artigos e 9 livros texto. Para a seleção, foram utilizadas as palavras-chave: mobilização neural, hérnia discal e dor, bem como suas similares em inglês. Com isso, serão discutidos, neste artigo, os resultados das pesquisas bibliográficas e os aspectos convergentes e divergentes entre os autores selecionados. Desenvolvimento Tratamento conservador para hérnia discal Com a evolução das pesquisas na área de reabilitação, o número de recursos terapêuticos conservadores aumentou. Técnicas como a Osteopatia, Quiropraxia, Reeducação Postural Global, Mobilização Neural, que será descrita com mais detalhes adiante, as técnicas de mobilização articular com base nos conceitos de Mulligan e Maitland, a Hidroterapia e o Pilates, juntaram-se aos tratamentos também conservadores da fisioterapia convencional para tratamento da dor lombar. Apesar da grande evolução dessas técnicas, o repouso e o tratamento medicamentoso com analgésicos, anti-inflamatórios de preferência não esteroides e relaxantes musculares são imprescindíveis no tratamento das lombalgias. Dentre os recursos mais utilizados pela fisioterapia convencional estão a crioterapia, que é frequentemente utilizada à parte sensível e inflamada da coluna lombar, sendo muito eficaz na diminuição do metabolismo local causado pelo processo inflamatório, na prevenção de hipóxia secundária, e proporciona grande alívio da dor, através da liberação dos opióides endógenos, exemplo: endorfina [8,17]. As bolsas térmicas de água quente e as compressas quentes juntamente com o infravermelho, embora sejam consideradas superficiais, são importantes e aconselha-se a sua utilização, podendo-se realizar também a massagem para as contraturas dos músculos da região lombar. As ondas curtas, o ultrassom, o micro-ondas e o laser (He – Ne e As – Ga) também são recursos termoterápicos valiosos no tratamento, no entanto promovem um aquecimento de tecidos mais profundos e também são de grande importância para o combate das dores lombares causadas pela HDL [18]. A fonoforese é uma valiosa técnica utilizada através do ultrassom. A técnica consiste no método direto utilizando um medicamento em forma de gel como meio de acoplamento, ou seja, é a introdução de substâncias medicamentosas no corpo humano mediante a energia ultrassônica [17,18]. A transferência ou perda de calor dos tecidos poderão se realizar a partir de três processos: condução, convecção e radiação. A condução é quando dois corpos em contato Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 150 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 equilibram suas temperaturas, exemplo: compressas e bolsas térmicas quente e fria. A convecção ocorre, quando utilizamos meios líquidos, que por um fator gravitacional faz com que as moléculas mais densas desçam e as menos densas ascendam, formando uma corrente de convecção, exemplo: hidroterapia. A radiação é realmente a conversão em energia eletromagnética em energia térmica, através do efeito joule, exemplo: infravermelho, micro-ondas, ondas curtas e ultrassom e o laser. O micro-ondas e o ondas curtas são recursos utilizados também na fisioterapia convencional. São aparelhos de alta frequência que produzem calor através de ondas eletromagnéticas. Esses recursos podem ser utilizados em indivíduos com afecções traumáticas, musculares, reumatologias, entre outras. A Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) é um recurso da eletroterapia, que também é muito utilizado pela fisioterapia convencional no tratamento da HDL. O mecanismo de ação de TENS é explicado através da teoria das comportas e a forma mais comumente produzida de onda é quadrada balanceada, assimétrica e bifásica. As modalidades mais frequentes utilizadas pelo TENS são da forma convencional, acupuntura, burst, breve e intenso e modulado [18]. O TENS apresenta como principal efeito, a analgesia sendo um recurso fisioterapêutico com poucos efeitos colaterais. Nas síndromes dolorosas agudas ou crônicas normalmente são necessários de 20 a 30 minutos de estimulação, variando de 2 a 3 horas, para se obter o efeito anestésico, chegando, muitas vezes, até 12 horas. Pode ser necessária uma nova aplicação. A intensidade da corrente agradável não gera contração muscular. Este tipo de aplicação é comumente indicado para controlar a dor da fase aguda. Em algumas situações, o TENS não deve ser indicado a fim de evitar complicações hipotéticas [18,19]. Em 1965, Melzack e Wall deram a conhecer o seu trabalho da teoria da porta da dor segundo a qual a entrada de impulsos nervosos no sistema nervoso central (SNC) seria regulada por neurônios e circuitos nervosos existentes na substância gelatinosa encontrada nas colunas posteriores da medula espinhal, que funciona como um portão, permitindo ou não a entrada de impulsos dolorosos [17]. Esta teoria estabelece que pelo corno posterior da medula entram informações pelas fibras de grosso calibre (tato e pressão) e pelas fibras de fino calibre (sensação de dor). Quem determina a entrada de informações pelas fibras de grosso calibre e fino calibre é o portão da dor (Substância Gelatinosa de Rolando). A Substância Gelatinosa de Rolando faz o mecanismo como se fosse um gatilho controlador, que filtra as informações que chegam através das fibras de grosso calibre e pequeno calibre. As fibras de fino e grosso calibre são responsáveis pelo “sentir” ou “não sentir” dor, que é determinada pela maior quantidade de impulsos que chegam mais por uma ou por outra via. Quando chegam mais informações pelas vias de grosso calibre, ocorrerá um efeito facilitatório sobre a substância gelatinosa, gerando um mecanismo inibitório sobre as fibras de fino calibre (dor). Se a informação for maior nas fibras de fino calibre A-delta ou 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 C elas tendem a estabelecer uma conexão com a substância gelatinosa, inibindo-a, e facilitando-se, assim, a estimulação dolorosa [18]. A acupuntura, um recurso de medicina oriental, vem mostrando-se importante para a diminuição dos sintomas dolorosos da coluna lombar [8]. Tratamento cirúrgico para hérnia discal O procedimento cirúrgico é outra opção disponível para o tratamento da HDL, embora sua indicação ocorra quando o curso do material do processo em questão segue uma piora significativa após o tratamento conservador [8]. O procedimento cirúrgico poderá ser outra opção terapêutica. Nos quadros de hérnias de disco de grande volume e síndrome da cauda equina, quando pode ocorrer compressão da medula e de raízes com surgimento de distúrbios neurológicos focais, a cirurgia está indicada de maneira absoluta e muitas vezes como de urgência. As demais indicações seriam por resposta inadequada ao tratamento conservador e episódios de dor recorrentes, que limitem a atividade diária do paciente de forma importante [20]. Os procedimentos cirúrgicos mais clássicos que existem é a laminectomia e a excisão discal por meio de uma incisão na linha média. Os músculos paravertebrais são levantados da lâmina da vértebra de cada lado da lesão. A lâmina é identificada e o ligamento amarelo é retirado. Podem ser removidas porções das lâminas superiores e inferiores. Após o afastamento da raiz nervosa, a hérnia discal é identificada e removida. As principais complicações da cirurgia de HDL são: síndrome da cauda equina, tromboflebite, embolia pulmonar, infecção da incisão, rupturas durais, lesão radicular, fístula de fluido cérebro-espinhal e laceração de vasos abdominais [1]. Poucos estudos comparam a eficácia entre os tratamentos conservadores e o cirúrgico. Umas das causas residem no fato de que não há uniformização nos estudos realizados com relação ao diagnóstico, composição da amostra de pacientes, delineamento experimental e uniformização de critérios que meçam os resultados. A seleção apropriada dos pacientes, bem como a combinação do diagnóstico claro sobre a raiz(s) do(s) nervo(s) afetado(s) e os achados patológicos correspondentes parecem ser a condição mais importante para o sucesso da cirurgia [8]. Em estudos realizados em indivíduos submetidos à cirurgia e indivíduos submetidos ao tratamento conservador, chegou-se a conclusão que o grupo que foi submetido ao tratamento cirúrgico estava melhor após um ano. Entretanto, essa significância se dissipa, tornando-se a melhora dos dois grupos semelhante após 4 anos e igual após 10 anos [1]. Após um ano da intervenção cirúrgica para HDL e estenose foramidal do segmento lombar, 17 indivíduos foram avaliados. Os resultados mostram que as evoluções dos indivíduos não podem ser consideradas satisfatórias, pois a evolução é lenta, e os pacientes apresentaram ao final de um ano disfunção mecânica e dor residual [15]. A intervenção precoce da fisioterapia contribuiu para melhorar o estado funcional e reduzir a dor Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 151 151 em pacientes nos dois primeiros meses após o procedimento cirúrgico de HDL [16]. Mobilização neural Durante os últimos anos, fisioterapeutas especializados em ortopedia, estão buscando respostas para os mecanismos subjacentes a sinais e sintomas e melhores tratamentos para indivíduos com disfunções do tecido neural. O tratamento de mobilização do sistema nervoso foi desenvolvido e continua evoluindo, baseado em observações clínicas e pesquisas experimentais [14,21]. Embora a técnica de mobilização neural não seja amplamente conhecida, essa ideia de aplicar um tratamento mecânico para o tecido neural não é nova. Princípios e métodos do alongamento neural já existiam desde 1800 e progressivamente foram se aperfeiçoando tanto na teoria quanto na aplicação clínica [22]. Alf Breig, em 1960, avaliou a mecânica do sistema nervoso observando a existência da tensão e mobilidade do sistema nervoso (SN) durante os movimentos corporais, sendo que outros estudos como os de Maitland e Elvey desenvolveram testes funcionais que colocavam tensão no tecido neural (testes de tensão neural) [21]. A função do sistema nervoso depende do seu estado mecânico, que reflete e depende de sua função. A neurodinâmica normal implica em que o sistema nervoso apresente propriedades mecânicas (movimento e elasticidade) fisiológicas normais [23,24]. O SN atua continuamente de três maneiras: primeiro, mecanicamente através de transmissão de forças e movimentos de seus envoltórios conectivos; segundo, eletricamente através de neurônios, sendo que um impulso gerado no pé atinge o cérebro e vice e versa; terceiro, quimicamente através da liberação de neurotransmissores periféricos e centrais obedecendo ao fluxo axoplasmático de substância dentro do axônio [25]. Como o SN se move e se adapta aos movimentos corporais, já que é um tecido contínuo, a mobilidade de uma região pode ser transmitida à outra através de movimentos e/ou tensões [21,26]. O SN possui propriedades elásticas, podendo se encurtar ou se alongar. Se realizarmos a flexão da coluna vertebral, temos o aumento do comprimento de todas as estruturas neurais espinhais. O canal medular aumenta de comprimento até 9 cm durante a flexão da coluna inteira [26]. Com isso podemos afirmar que a tensão do tecido neural poderá ser aumentada, com uma flexão de pescoço, ou com um movimento de dorsi-flexão do tornozelo. A mobilização neural é indicada em todas as condições que apresentem comprometimento mecânico/fisiológico do sistema nervoso. O objetivo da técnica é melhorar a neurodinâmica, restabelecer o fluxo axoplasmático, e a homeostasia dos tecidos nervosos [24]. A mobilização neural é indicada para neuropatias compressivas dos membros superiores e inferiores como túnel do carpo, radiculopatias, síndrome da saída torácica, compressões do nervo ciático, meralgia parestésicas, entre outras. A mobilização neural mostra-se muito eficaz na DORT, distrofia simpático reflexa, epicondilite lateral, 05/07/2012 17:53:35 152 fascite plantar, síndrome de Quervain, ombro congelado e síndrome do túnel do carpo [21]. A técnica de mobilização neural pode ser eficaz no tratamento da HDL por apresentar boa resposta terapêutica na regressão dos sintomas dolorosos e incapacidade funcional [27]. A avaliação consiste em exame criterioso, nos moldes das avaliações fisioterápicas tradicionais, acompanhada da avaliação funcional da mecânica do sistema nervoso. A mesma consiste de exame neurológico, testes de tensão neural, palpação do tecido neural e avaliação neuro-músculo-esquelética das colunas cervical, torácica e lombar [21,25,26]. A técnica de mobilização neural/medula é manual, sobre uma maca. Pode-se dividi-la em mobilizações direta, indireta, tensional e deslizante. Na primeira, posiciona-se o nervo sob tensão e movimentos oscilatórios, por meio da mobilização das articulações que compõem o trato neural. A segunda é realizada através de movimentos oscilatórios das estruturas adjacentes ao tecido neural comprometido. Na mobilização tensional mobiliza-se o nervo aumentando e diminuindo a tensão no trato neural. Já a mobilização deslizante, mobiliza deslizando o trato neural sem aumento da tensão [21,28]. Compressão X dor do tronco nervoso A dor neuropática periférica tem origem nas estruturas neurais. Esse tipo de dor é percebido no tecido cutâneo que pode estar distante do tecido neural afetado. O nervi nervorum é o suprimento sensorial do sistema neural periférico e é sensível ao excesso de alongamento longitudinal de todo nervo, ao alongamento local em qualquer direção e a pressão local. No entanto, o nervi nervorum não responde ao alongamento com a amplitude de movimento normal, e contém peptídeos, incluindo a substância P e gene da calcitonina relacionada ao peptídeo, indicando uma vasodilatação neurogênica [28,29]. Dois tipos de dor neuropática acompanham a lesão do nervo periférico, a dor por compressão (disaestésica) e a dor inflamatória (dor do tronco nervoso). A dor disaestésica resulta da descarga de impulsos resultando em danos ou degenerando as fibras aferentes nociceptivas (dor por compressão). A dor do tronco nervoso é atribuída ao aumento da atividade mecânica ou química nos nociceptores sensitivos dentro da bainha nervosa (dor inflamatória). A dor por compressão é de sensação anormal (não familiar), apresenta qualidade de queimação ou elétrica, e aparece na região do déficit neural. A dor por sensibilização segue o prolongamento do tronco nervoso, é profunda e familiar, podendo piorar com alongamento, movimento ou palpação do nervo, ocorre uma deformação ou estímulo químico do nervo (nervi nervorum), e o nervo sofre processo inflamatório [28,29]. Discussão Nos últimos anos, estudos procuram avaliar os resultados da técnica de Mobilização Neural em diversos segmentos e Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 152 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 disfunções do corpo humano. Estudos recentes, com aplicabilidade da técnica de Mobilização Neural, mostram-se benéficos em diversas disfunções sensitivas e motoras, tais como a seringomielia [30], as retrações musculares em membros inferiores [31] e a câimbra de escrivão [32]. Zamberlam e Kerppers [33] associaram a técnica de Mobilização Neural a outras técnicas reabilitatórias na recuperação de indivíduos com Acidente Vascular Encefálico (AVE). A Mobilização Neural constitui recurso terapêutico manual no tratamento do tecido neural liberando aderências impeditivas do movimento e do deslizamento adequado dos nervos espinhais em todo o seu trajeto, e pode ser aplicada em associação com outras técnicas nas diversas doenças neurológicas, traumatológicas e ortopédicas, sendo isto ratificado pelos estudos acima citados de Guelfi [30], Waissman e Pereira [32] e Zamberlan e Kerppers [33]. Estudo comparando a fisioterapia convencional ao método Maitland no tratamento de indivíduos com lombalgia aguda demonstrou melhora da sintomatologia dolorosa e aumento do arco de movimento em ambos os grupos. Entretanto, os indivíduos tratados com a mobilização vertebral através do método Maitland, obtiveram resultados satisfatórios em tempo menor de tratamento que os submetidos ao tratamento convencional. Os recursos utilizados na fisioterapia convencional foram o ultrassom pulsátil a 0,8 w/cm² (0,16 w/cm² de dose SATA) e a Estimulação Elétrica Transcutânea (TENS) – burst. Neste estudo foram realizadas dez sessões de tratamento para ambos os grupos [34]. Estes resultados foram confirmados pela pesquisa de Machado e Bigolin [35], que afirmam que o tratamento fisioterapêutico não deve se limitar a uma única técnica, mas deve atender às mais diferentes necessidades do paciente. Nesse objetivo é importante uma abordagem terapêutica ampla e baseada no emprego das mais diversas técnicas. Estudos demonstraram que a utilização de quatro semanas de tratamento em distintos distúrbios, com variação do número de sessões foi suficiente para obtenção de resultados satisfatórios. Assim, Cowell & Phillips [36] realizaram, em indivíduos com cervicobraquialgia, 10 sessões através da técnica de Mobilização Neural ao longo de quatro semanas. Guelfi [30] empregou, em indivíduo com seringomielia, 9 sessões da técnica para membros superiores e 6 sessões para membros inferiores durante quatro semanas. Na câimbra do escrivão, foram realizadas, quinze sessões, três vezes por semana da técnica de Mobilização Neural este estudo foi realizado em cinco semanas [32]. Em estudo realizado por Macedo e Briganó [37], a amostra foi composta por 40 indivíduos com lombalgia funcional crônica, 28 eram do gênero feminino e 12 do masculino; as idades variaram entre 17 e 64 anos, com média de 40,5 anos. Após trinta sessões (três vezes por semana), a terapia manual associada à cinesioterapia mostrou-se eficiente na redução da dor e melhora da qualidade de vida. Neste estudo, foi utilizada a escala analógica visual (EVA) para mensuração da dor e o 05/07/2012 17:53:35 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 questionário SF- 36 (Medical Outcomes Study – 36 – Item Short-Form Health Survey) foi utilizado para avaliar a qualidade de vida. A incapacidade funcional relacionada à dor lombar foi estabelecida pelo questionário Oswestry Low Back Pain Disability Questionnaire (Oswestry) [37]. Estes estudos foram confirmados pelos estudos de Atchison e Vincen [3], que constatam que não está claramente definido o tratamento da lombalgia e seu sucesso é variável nas diferentes populações e prazos. O procedimento cirúrgico é outra opção disponível para o tratamento da HDL, embora sua indicação ocorra quando o curso do material do processo em questão segue uma piora significativa após o tratamento conservador [8]. Para Hebert e Xavier [20], o procedimento cirúrgico poderá ser outra opção terapêutica. Nos quadros de hérnias de disco de grande volume e síndrome da cauda equina, quando pode ocorrer compressão da medula e de raízes com surgimento de distúrbios neurológicos focais, a cirurgia está indicada de maneira absoluta e muitas vezes como de urgência. Os procedimentos cirúrgicos mais clássicos que existem é a laminectomia e a excisão discal por meio de uma incisão na linha média. Os músculos paravertebrais são levantados da lâmina da vértebra de cada lado da lesão. A lâmina é identificada e o ligamento amarelo é retirado. Podem ser removidas porções das lâminas superiores e inferiores. Após o afastamento da raiz nervosa, a hérnia discal é identificada e removida. As principais complicações da cirurgia de HDL são síndrome da cauda equina, tromboflebite, embolia pulmonar, infecção da incisão, rupturas durais, lesão radicular, fístula de fluido cérebro-espinhal e laceração de vasos abdominais [1]. Poucos estudos comparam a eficácia entre os tratamentos conservadores e o cirúrgico. Umas das causas residem no fato de que não há uniformização nos estudos realizados, com relação ao diagnóstico, composição da amostra de pacientes, delineamento experimental e uniformização de critérios que meçam os resultados. A seleção apropriada dos pacientes, bem como a combinação do diagnóstico claro sobre a raiz(s) do(s) nervo(s) afetado(s) e os achados patológicos correspondentes parece ser a condição mais importante para o sucesso da cirurgia [8]. Somado ao fator que foi estudado por Herbert e Xavier [20] que as indicações cirúrgicas são adequadas pela resposta não satisfatória ao tratamento conservador e episódios de dor recorrentes, que limitem a atividade diária do paciente de forma importante. Em estudos realizados em indivíduos submetidos à cirurgia e indivíduos submetidos ao tratamento conservador, chegou-se a conclusão que o grupo que foi submetido ao tratamento cirúrgico estava melhor após um ano. Entretanto, essa significância se dissipa, tornando-se a melhora dos dois grupos semelhante após 4 anos e igual após 10 anos [1]. Masselli et al. [15] mostraram que após um ano da intervenção cirúrgica para HDL e estenose foramidal do segmento lombar, 17 indivíduos foram avaliados. Os resultados mostram que as evoluções dos indivíduos não podem ser consideradas satis- Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 153 153 fatórias, pois a evolução é lenta, e os pacientes apresentaram ao final de um ano disfunção mecânica e dor residual. Conclusão A hérnia de disco é uma doença comum no dia-a-dia do fisioterapeuta. Entre os estudos apresentados neste trabalho com seus respectivos resultados, conclui-se que existem vários meios de reabilitação do paciente com hérnia. A eleição da conduta adequada ficará por conta de uma avaliação criteriosa para que o paciente retorne às suas atividades em menor tempo possível. O método conservador apresenta alto índice de melhora dos pacientes tratados. O tratamento cirúrgico é recomendado apenas em casos de dor intratável, falha no tratamento conservador após 8 e 12 semanas, déficit neurológico progressivo, perda de força no membro inferior, crises repetidas com melhora/piora da dor e impossibilidade de retorno às atividades profissionais. Na prática clínica, a mobilização neural como uma das formas de tratamento conservador, vem se destacando como valioso recurso terapêutico para as diversas disfunções do sistema neuro-músculo-esquelético, sendo que ainda é uma técnica pouco explorada pelos profissionais da área da saúde no Brasil. Mais pesquisas deverão ser realizadas para detalhar melhor quais recursos, formas de aplicação, frequência e intensidade são mais eficientes para o tratamento da hérnia de disco lombar. Referências 1. Brown DE, Neumann RD. Segredos em ortopedia. 1a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003. 2. Flynn TW, Smith B, Chou R. 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A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde. 1. Editorial O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos importantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estudos com animais ou humanos. Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word. Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução de 300 dpi. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 3. Revisão São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia empregada. Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 155 metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão, conclusão e referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 4. Relato de caso São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas. Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do caso, Discussão, Conclusões e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 5. Opinião Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um resumo destacado. Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 6. Cartas Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Preparação do original • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com algarismos arábicos. • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilustrações e do corpo do texto. • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia, neuroimagem, etc). Página de apresentação A primeira página do artigo traz as seguintes informações: • Título do trabalho em português e inglês; • Nome completo dos autores e titulação principal; • Local de trabalho dos autores; • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail; Resumo e palavras-chave A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. 05/07/2012 17:53:36 156 Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. Agradecimentos Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoamericanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplos: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Envio dos trabalhos A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assinantes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por e-mail com o envio do artigo). Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 156 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à Editora, e deve conter: • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição; • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em outros meios além de anais de congresso; • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do trabalho; • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável; • Telefones de contato do autor correspondente. • A área de conhecimento: ( ) Cardiovascular / pulmonar ( ) Saúde funcional do idoso ( ) Diagnóstico cinético-funcional ( ) Terapia manual ( ) Eletrotermofototerapia ( ) Orteses, próteses e equipamento ( ) Músculo-esquelético ( ) Neuromuscular ( ) Saúde funcional do trabalhador ( ) Controle da dor ( ) Pesquisa experimental /básica ( ) Saúde funcional da criança ( ) Metodologia da pesquisa ( ) Saúde funcional do homem ( ) Prática política, legislativa e educacional ( ) Saúde funcional da mulher ( ) Saúde pública ( ) Outros Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publicação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente para sua adequada formatação. Atlantica Editora - [email protected] 05/07/2012 17:53:36 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 2 - março/abril de 2012 157 Agenda 2012 Junho 22 e 23 de junho XVII Curso de Fisioterapia em UTI V Simpósio de Fisioterapia Hospitalar Hospital Alemão Oswaldo Cruz Informações: www.hospitalalemao.org.br 28 a 30 de setembro Profisio Brasil 2012 Informações: (11) 2714-5678/2714-5695 e-mail: [email protected] www.institutophorte.com.br 26 a 28 de junho VIIIo Simpósio Internacional de uroncologia – UROLA2012 IV Congresso Internacional de Uroncologia Universidade católica de Córdoba, Argentina Informações: [email protected] 30 de setembro a 5 de outubro IFOMPT 2012 – World Congress of Manual/ Musculoskeletal Physiotherapy Montreal, Canadá Informações: www.ifomptconference.org Agosto Novembro 8 a 10 de novembro Congresso Brasileiro de Fisioterapia Dermato Funcional Mar Hotel, Recife PE Informações: www.cbdermatofuncional.com.br 15 e 16 de agosto VI Congresso de reabilitação profissional São Paulo, SP Informações: www.proreabilitacao.com.br Setembro 12 a 15 de setembro XXII Fórum Nacional de Ensino em Fisioterapia III Congresso Nacional de Fisioterapia na Saúde Coletiva Brasília, DF Informações: www.abenfisio.com.br/forum2012/ Fisioterapia_v13 n2_miolo.indb 157 13 a 16 de setembro VIo Congresso Internacional de Fisioterapia Natal, RN Informações: www.sbf.org.br 15 a 17 de novembro 2º Congresso Brasileiro de Fisioterapia Neurofuncional Hotel Windsor Guanabara, Rio de Janeiro. Informações: www.abrafin.org.br 05/07/2012 17:53:36 Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 13, nº 3 maio/junho 2012 - 161~240) EDITORIAL Havia um menino (There was a boy), Marco Antonio Guimarães da Silva................................................................................. 163 ARTIGOS ORIGINAIS Efeitos da bandagem elástica adesiva no equilíbrio postural de indivíduos sedentários, Artur Martins Franco, Daiane de Farias Martins, Allan Keyser de Sousa Raimundo, Levy Aniceto Santana.................................. 164 Acompanhamento ambulatorial de recém-nascidos prematuros em um hospital público de Minas Gerais de 2008 a 2010, Erica Abjaudi Cardoso........................................................................................................... 171 Prevalência e tipo de perda urinária em participantes dos grupos de tratamento no setor de Fisioterapia do Centro de Saúde IAPI de Porto Alegre/RS, Lia Ferla, Tânia Maria Bérgamo Alves, Maura Regina Seleme...................................................................................................................... 178 Características da dor no ombro após acidente vascular encefálico e perfil de pacientes de Diamantina/MG, Laiss Ferreira Melo, Raíssa Pollyanny Gomes da Silva e Cardoso, Isadora Ferreira Henriques, Thamires Cristina Perdigão Rodrigues, Alexandre Wesley Carvalho Barbosa, Ana Paula Santos, Thaís Gaiad, Nélio Silva de Souza, Ana Carolina Gomes Martins, Dionis Machado, Victor Hugo do Vale Bastos.............................................................................. 183 Prevalência de sintomas osteomusculares em indivíduos ativos e sedentários, Anderson Leandro Peres Campos, Felipe Fossati Reichert, Mariângela da Rosa Afonso, José Francisco Gomes Schild, Gilcéli da Silva Fernandes............................................................................................................... 189 Verificação do efeito imediato da manipulação espinal sobre o limiar de dor à pressão em sujeitos assintomáticos, Daniela De Ré, Pedro Henrique Lazarin da Silva, Graziela Rayciki Behne, Mariana Paula Vazatta, Alberito Rodrigo de Carvalho.................................................................................................................. 194 Equilíbrio do idoso com osteoartrose de joelho e assintomático, Rachel Pinheiro de Araújo Costa, Maria Ester Ibiapina Mendes de Carvalho.................................................................................................................................... 200 Efeitos da eletroestimulação neuromuscular e exercício resistido sobre a atividade elétrica e força do bíceps braquial, Josias Justino Cambinja Chaves, Débora Mengue Maggi, Willians Cassiano Longen, Tiago Petrucci de Freitas..................................................................................................................... 205 Síndrome de Down: correlação entre o desempenho funcional com a força de preensão palmar e a destreza manual, Aline Bernardes de Souza, Raquel Cymrot, Denise Vianna, Fátima Caromano, Silvana Maria Blascovi-Assis......................................................................................................................................................... 211 Efeito da reeducação postural global e do isostretching em portadores de lombalgia crônica inespecífica através da biofotogrametria computadorizada, Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno, Joaquim Brasil-Neto..................................................................................................................................................................... 216 RELATO DE CASO Fortalecimento muscular na artrogripose múltipla congênita, Juliana Maria Savazzi Geraldini Rozane, Raquel de Paula Carvalho, Daniela Vincci Lopes Ruzzon............................................................................................................. 226 REVISÃO Influência do tabagismo ativo e passivo sobre a capacidade cardiorrespiratória, Andresa Thier de Borba, Renan Trevisan Jost, Hildegard Hedwig Pohl, Fúlvio Borges Nedel, Dannuey Machado Cardoso, Dulciane Nunes Paiva..................................................................................................................... 231 NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................238 EVENTOS..........................................................................................................................................................................240 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 162 Fisioterapia Brasil Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFPI – Piauí) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 163 Editorial Havia um menino (There was a boy) Marco Antonio Guimarães da Silva Atendendo as súplicas de Ana, uma empregada que me atura há mais de 8 anos, resolvi abandonar momentaneamente a música clássica (Bach - Harpsichord Concerto No.1 in D Minor, dirigido por Trevor Pinncock), que ouvia na Air Classique, estação de rádio francesa do I tunes. Busquei uma estação, digamos, menos radical, acreditando, assim que minha ajudante não cumprisse a promessa que há tempos vinha fazendo, de atirar-se do quinto andar, por não mais aguentar Bach, Vivaldi, Bethoven, Grieg, Weber, Rachmaninoff, etc. Apontei a seta do mouse para Breezy Radio (Singers, Swingers, Standards & Classic jazz) e, com uma leve pressão do indicador direito, finalizei a minha escolha. Como se pode ver pelos sub títulos da rádio, o ecletismo é uma de suas marcas. Por sorte, a música que a estação tocava era Nature Boy. Tenho a certeza que o que chamam de “música popular de raízes” ou coisa que o valha seria melhor recebido pela minha ajudante, mas existem canções que, mesmo cantadas em outra língua, conseguem agradar a todos, são consideradas universais, e, depois, o intérprete era o inesquecível Nat King Cole, com sua romântica e marcante voz. Interrompi o que escrevia e, de soslaio, olhei a pretensa suicida para ver se a minha opção estava aprovada. Essa pausa levou-me a dar à letra uma atenção que ainda não dera anteriormente. A música ancora-se na história de alguém que, num mágico dia, encontra em seu caminho um menino; um tímido, sábio e estranho menino, que afirma que amar e ser amado é a mais importante coisa que se pode aprender na vida. (The greatest thing you’ll ever learn - Is just to love and be loved in return). Sei que a canção, composta em 1947, por Eden Ahbez (nascido como George Alexander Aberle) não é uma *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. ode contra os princípios cristãos, mas atrevo-me a interpretá-la assim, e a primeira pergunta que me faço é: como ficaria o tal do amor incondicional, o amar sem ser amado, o dar sem receber? Daí me conduzo para uma outra pergunta, a do ser e ter, para tentar entender a questão que levantei. Até a Idade Média, diz-se que o “ser” predominava sobre o “ter”; à época, a vida na terra era considerada uma passagem, o que importava era o que viria após essa vida. Pois bem, as coisas mudaram apos o Renascimento. O transcendental desapareceu, por forças circunstanciadas a uma série de fatores, fatores esses que desembocam em um materialismo social e econômico, caracterizador da burguesia. Para o homem moderno, verdadeiro predador social e emocional, que substituiu a natureza humana pelo homem na natureza seria inconcebível amar sem ser amado, doar sem receber, ser e não ter. Pobre São Francisco, pobre Noé, que desmatou tanta mata para juntar madeira e construir barco para salvar os “puros” do tsunami que varreu a terra. E, finalmente, o meu obrigado ao compositor Eden Ahbez, que terminou por ser minha muleta para a verdadeira digressão textual que pautou esse editorial. E, por falar em digressão, não posso deixar de participar aos leitores, nesse final desse texto, que o meu segundo romance, “Meu pseudônimo e eu”, foi nomeado como um dos 20 finalistas do prêmio Portugal Telecom de Literatura (199 romances concorrentes). Aproveito também para informar, a quem estiver interessado, que os meus dois primeiros romances mereceram um artigo, de autoria de uma professora da Sorbonne, que será publicado em breve, na revista Latitudes, na França. 164 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Artigo original Efeitos da bandagem elástica adesiva no equilíbrio postural de indivíduos sedentários Effects of the elastic adhesive tape on postural balance of sedentary individuals Artur Martins Franco*, Daiane de Farias Martins*, Allan Keyser de Sousa Raimundo, M.Sc.**, Levy Aniceto Santana, M.Sc.** *Fisioterapeutas graduados pela Universidade Católica de Brasília – UCB, **Docentes da Universidade Católica de Brasília – UCB Resumo Abstract Diversos recursos podem ser utilizados para produzir efeitos benéficos sobre o Equilíbrio Postural (EP), dentre eles supõe-se o método da bandagem elástica adesiva (BEA). O objetivo desta pesquisa foi analisar os efeitos da BEA no EP de indivíduos sedentários. O estudo realizado foi série de casos com uma amostra de 16 indivíduos de ambos os sexos, com média de idade de 23,0 ± 2,7 anos e de Índice de Massa Corporal (IMC) de 21,9 ± 2,2 kg/ m². Foi utilizado para obtenção dos dados o sistema F-Scan com um sensor F-Mat modelo 3100 (Tekscan, Inc., South Boston, MA) e software versão 4.21, por meio do qual foram obtidos os parâmetros: comprimento total da trajetória, amplitude dos deslocamentos nos sentidos ântero-posterior e médio-lateral e velocidade máxima atingida pelo centro de pressão. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das comparações entre os parâmetros avaliados, concluindo que o uso da BEA não produziu efeitos sobre o EP dos indivíduos estudados. Several features can be used to produce beneficial effects on the Postural Balance (PB), among them the elastic adhesive tape (EAT). The objective of this research was to analyze the effects of the EAT on PB of sedentary individuals. The study was a serie of cases with a sample of 16 individuals of both sexes 23.0 ± 2.7 years old and Body Mass Index (BMI) of 21.9 ± 2.2 kg/m². Was used for data collection the F-Scan system with a F-Mat sensor model 3100 (Tekscan Inc., South Boston, MA) and software version 4.21, through which were obtained the parameters: total length of the trajectory, amplitude of displacements in the anterior-posterior and medial-lateral and maximum speed reached by the center of pressure. It was found no statistically significant differences in any of the comparisons between the parameters evaluated, concluding that the EAT had not produced effects on PB of the studied individuals. Key-words: postural balance, ankle, stability. Palavras-chave: equilíbrio postural, tornozelo, estabilidade. Introdução O equilíbrio postural (EP) consiste na manutenção do centro de pressão (CP) dentro da área da base de suporte do corpo, o que requer constantes ajustes promovidos pela atividade muscular e pelo posicionamento articular [1]. Até mesmo quando um indivíduo tenta se manter em pé o mais estável possível, ocorrem oscilações decorrentes da dificuldade de manter os segmentos corporais alinhados entre si sobre a base de suporte do corpo [2]. A manutenção da orientação corporal e do EP do indivíduo em posição ereta é indispensável para a execução de várias atividades de vida diária e para a prática de atividades físicas. Os métodos e as formas de avaliação dos mecanismos fisiológicos que controlam a orientação corporal e o EP têm se tornado fatores de grande interesse e têm feito com que profissionais de diversas áreas tenham direcionado maior atenção a esse assunto [3]. As informações vestibulares, proprioceptivas e visuais fazem com que o EP aja de forma contínua e diferenciada no decorrer de cada mudança de situação, ou seja, com o indivíduo em situação estática o controle postural atua de uma determinada forma e em uma situação dinâmica o mesmo atua de outro modo [4,5]. Durante processos dinâmicos, os pés, Recebido em 10 de março de 2011; aceito em 9 de março de 2012. Endereço para correspondência: Allan Keyser de Sousa Raimundo, QS 07 Lote 1, Águas Claras, 72030-170 Taguatinga DF, Tel: (61) 3356-9141, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 por exemplo, são dotados de uma capacidade de adaptação às mais variadas condições de movimento, tais como a velocidade da marcha e sua própria colocação no solo, porém durante o ortostatismo, essas adaptações são menos frequentes [6]. Tais adaptações musculoesqueléticas estão diretamente relacionadas ao grau de estabilidade corporal, a qual depende da interação de vários fatores, incluindo a congruência entre as superfícies ósseas, a restrição passiva das estruturas articulares e as forças compressivas geradas pelo peso corporal e pela ação muscular [7,8]. Em ortostatismo, as funções do controle postural são consideradas dentro do contexto e dos objetivos de tarefas específicas, incluindo o controle do centro de gravidade dentro da base de suporte, manutenção do tronco na posição vertical, estabilidade da cabeça e dos membros, bem como movimentos do corpo no espaço e dos membros em um corpo estável, podendo tal estabilidade ser medida por meio de uma técnica clássica de estudo do equilíbrio estático, a estabilometria [9]. O método da estabilometria fornece dados qualitativos e quantitativos bastante específicos a respeito da distribuição de cargas sob a superfície plantar e do deslocamento do CP dentro da base de suporte [10], ou seja, está relacionada ao monitoramento dos deslocamentos do CP nas direções médio-lateral e ântero-posterior. São descritos e utilizados, vários protocolos para aplicação dos testes estabilométricos em relação à base de suporte (pés unidos, separados, apoio unipodal), à superfície (rígida ou amortecida com espuma) e à visão (olhos abertos ou fechados) [11]. Sendo assim, Stefanello et al. [12] afirmam resumidamente que os desequilíbrios corporais no espaço podem ser analisados por meio da posição e dos deslocamentos do CP dentro da base de suporte, valores que podem ser medidos pela plataforma de pressão. Diversos recursos terapêuticos podem ser utilizados para produzir efeitos benéficos sobre o EP, dentre eles supõe-se estarem as bandagens elásticas adesivas (BEA), disponíveis comercialmente nas marcas Kinesio Tex® e Therapy Tex®, porém não há estudos comparando diferenças entre as mesmas, bem como sobre os efeitos das mesmas no EP. O presente trabalho utilizou a bandagem elástica Therapy Tex® e o método Therapy Taping para a coleta de dados. Também não há estudos que comprovem cientificamente possíveis diferenças entre o método Therapy Taping e o método Kinesio Taping, que consiste na aplicação direta da BEA sobre a musculatura que se visa estimular ou dar suporte e foi desenvolvido por Kenzo Kase na década de 1980 [13,14]. O que se observa por meio da literatura pesquisada [13-17] é que os objetivos de ambos os métodos são os mesmos, não importando a marca comercial da fita, como será descrito abaixo. Os efeitos fisiológicos da BEA são alívio da dor e do desconforto cutâneo e muscular, eliminação da congestão do fluido linfático e de hemorragias subcutâneas, suporte à expansão dos músculos e correção de desalinhamentos articulares. Não possui função de imobilização. Graças à elasticidade da 165 BEA, a força produzida pela mesma, na pele, é a de pressão. A força reativa da pele está condicionada ao sentido e ao ponto fixo e ponto móvel da aplicação, desse modo a bandagem terapêutica Therapy Tex® utilizada no presente estudo realiza uma estimulação tegumentar. Por meio do sistema tegumentar o organismo humano recebe várias informações sensitivas, as quais são percebidas e processadas pelo sistema nervoso central, desencadeando uma resposta motora e, com isso, podendo ajudar no EP [15,18-25]. Bonfim et al. [26] fizeram um estudo utilizando bandagem e faixa infra-patelar no joelho de indivíduos com lesão de Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e afirmaram que as mesmas são duas fontes de informação sensorial adicional (ISA) e, provavelmente, por terem estimulado os receptores superficiais da pele e por terem aumentado a pressão nos receptores locais, propiciaram meios para que houvesse um melhor desempenho do sistema de controle postural reduzindo a oscilação corporal e melhorando tanto o limiar para detecção do movimento passivo da articulação do joelho quanto o desempenho durante a manutenção da postura em pé em apoio unipodal. De acordo com Huang et al. [27], a principal função da BEA é dar uma força efetiva por meio de um contato mínimo com a pele e normalizar a motricidade do corpo ou das extremidades e a mesma tem sido usada com grande frequência em campos de atletismo e em clínicas de reabilitação. Bonfim et al. [26] citam ainda a importância da informação somatossensorial no controle postural utilizando a estratégia do toque suave em uma superfície rígida qualquer, pois os indivíduos estudados por meio de tal estratégia apresentaram redução significativa da oscilação corporal em ortostatismo ao tocarem a ponta do dedo indicador em uma superfície rígida estacionária. Partindo-se do pressuposto de que a força aplicada na superfície seria insuficiente para garantir um suporte mecânico significativo, sugeriu-se que a melhora do controle postural apresentada foi em decorrência do estímulo sensorial adicional proveniente do toque do dedo na superfície estacionária rígida, uma vez que informação sensorial e ação motora estão intimamente relacionadas à tarefa de manter o corpo em uma determinada posição e de reduzir a oscilação corporal. Pouco se sabe sobre o uso da BEA como recurso terapêutico na melhora do EP, tanto de indivíduos portadores de distúrbios que afetam o equilíbrio quanto em indivíduos sem tais distúrbios, entretanto foi previsto que há um efeito facilitador, pois, segundo a literatura pesquisada [13-15,24-26], essas bandas tem a capacidade de fornecer uma ISA ao corpo por promover estimulação de receptores nervosos presentes na superfície tegumentar, além da ativar o sistema circulatório, linfático e sistema nervoso, permitindo uma melhora da estabilidade articular. Com base nesse pressuposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar os efeitos da aplicação da BEA Therapy Tex®, por meio do método Therapy Taping, no EP de indivíduos sedentários. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 166 Materiais e Métodos O estudo realizado foi série de casos com uma amostra de conveniência composta por 16 indivíduos de ambos os sexos, com média de idade de 23,0 ± 2,7 anos, de Índice de Massa Corporal (IMC) de 21,9 ± 2,2 kg/m², de estatura de 166,6 ± 9,8 cm; e média de massa corpórea de 61,6 ± 11,1 kg. Todos eram estudantes da Universidade Católica de Brasília - UCB, sedentários e eutróficos e foram descritos quanto às suas características antropométricas na Tabela I. Dos 16 indivíduos participantes da amostra, 8 eram do sexo masculino. Quanto à dominância, 10 indivíduos eram destros e 6 eram sinistros, conforme mostrado a Tabela I. Tabela I - Descrição das características antropométricas de cada sujeito. Sujeito 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Idade (anos) 23 20 26 23 23 23 23 26 24 22 18 30 23 21 22 21 Sexo F F F F M F F F M M M M M M M F Peso (Kg) 63,0 47,9 54,0 48,0 74,0 48,9 53,3 59,0 72,1 80,0 67,0 50,0 64,0 75,5 74,0 54,5 Estatura (cm) 160 159 168 160 173 154 153 158 172 180 179 160 173 179 179 158 IMC (Kg/m2) 24,6 18,9 19,1 18,7 24,7 20,2 22,6 23,6 24,3 24,6 20,9 19,5 21,3 23,4 23,0 21,6 Dominância Direita Direita Direita Esquerda Direita Esquerda Esquerda Esquerda Direita Esquerda Direita Direita Direita Direita Esquerda Direita Foram utilizados como critérios de exclusão: teste de Romberg positivo, deformidades da extremidade inferior, relatos de problemas auditivos ou vestibulares, indivíduos alérgicos à BEA Therapy Tex®, indivíduos que tivessem sofrido algum tipo de lesão musculoesquelética nos membros inferiores e coluna vertebral nos últimos doze meses e indivíduos que apresentassem história de distúrbios ou traumas que interferissem no equilíbrio, como Acidente Vascular Encefálico (AVE) e Traumatismo Cranioencefálico (TCE). Também seriam excluídos da pesquisa aqueles indivíduos que fizeram uso de bebidas alcoólicas e/ou outras drogas até 48 horas antes da coleta de dados, incluindo medicamentos que comprometessem o equilíbrio. Todos os participantes foram informados a respeito dos procedimentos realizados e dos objetivos da pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido conforme a resolução Nº 196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, concordando com sua participação na pesquisa e preenche- ram ainda um questionário de admissão envolvendo dados pessoais, antropométricos e dados referentes aos critérios de inclusão e exclusão do presente trabalho. O protocolo experimental deste trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade Católica de Brasília – UCB sob o Nº CEP/UCB 164/2010. Os voluntários foram submetidos a uma avaliação prévia, na qual foram aferidos o peso atual, com auxílio da balança antropométrica modelo 31 da marca Filizola® com precisão de 100 g, e a estatura com auxílio do estadiômetro Seca®, com precisão de 1 mm e foram também instruídos a esvaziar a bexiga, caso estivesse cheia, antes da coleta. A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Biodinâmica Humana da Universidade Católica de Brasília – UCB, sala F – 07, sendo utilizado para obtenção dos dados estabilométricos o sistema F-Scan com um sensor F-Mat modelo 3100 (Tekscan, Inc., South Boston, MA) e software versão 4.21 instalado em um computador ITAUTEC-PC/Pentium III. A plataforma de pressão foi calibrada antes do registro de cada indivíduo participante de acordo com o peso corporal de cada um, conforme recomenda a metodologia proposta pelo fabricante [28]. Os indivíduos foram avaliados em três momentos distintos, sendo que cada momento ocorreu em um dia diferente e todos os três dias foram consecutivos: no Momento 1 (M1) o participante foi avaliado sem o uso da BEA; no Momento 2 (M2) o participante foi avaliado com o uso da bandagem imediatamente após sua aplicação; no Momento 3 (M3) o participante foi avaliado também com o uso da bandagem, porém após um dia de uso ininterrupto da mesma. Para obtenção de um valor médio, em cada uma das situações citadas foram realizadas três coletas com duração de 10 segundos cada uma. Para aquisição do sinal estabilométrico utilizou-se frequência de amostragem de 100 Hz. Para que fosse determinado o pé dominante, realizou-se um teste com uma escada hospitalar comum de dois degraus, que foi executado da seguinte maneira: pediu-se que o indivíduo subisse na escada por cinco vezes repetidas partindo da posição ortostática com pés unidos, sendo que o pé que fosse utilizado pelo menos três vezes para iniciar a subida seria considerado o pé dominante. Decerto tal explicação metodológica não lhe foi dada antes da realização do teste para que não houvesse interferência na escolha da perna pelo participante [29]. No presente estudo, foi utilizada a bandagem elástica Therapy Tex®, a qual é constituída por 100% de algodão e microfios de elastano e contém uma cola adesiva corporal hipoalergênica, que permite maior resistência à transpiração mantendo a ventilação adequada da pele e minimizando o desconforto cutâneo. Para a aplicação das tiras de Therapy Tex®, os participantes ficaram sentados confortavelmente em uma cadeira com apoio para as costas, posicionados com pé em posição neutra Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 da articulação subtalar. Foram utilizadas quatro tiras de fita, as quais apresentavam tamanhos específicos, uma vez que seu comprimento foi medido por meio da distância entre o maléolo lateral e o maléolo medial do mesmo pé de cada indivíduo, passando abaixo do calcâneo. A assepsia do local de aplicação da fita, para que não houvesse problemas em relação à aderência da mesma, foi feita com álcool etílico 70° e papel toalha. Em seguida procedeu-se a aplicação da fita conforme a Figura 1: a primeira tira foi fixada partindo do maléolo lateral, passando perpendicularmente abaixo do calcâneo, até o maléolo medial. A segunda tira foi aderida da mesma forma, porém um pouco mais posteriormente e sobrepondo a metade longitudinal da primeira. A terceira tira se estendeu desde a região anterior do antepé, passando lateralmente pelo mediopé e sobre o maléolo lateral, logo em seguida pelo retropé perpendicularmente ao tendão calcâneo e retornando à face anterior do antepé pela face interna do pé, passando sobre o maléolo medial. Finalmente, a quarta tira foi fixada da mesma forma que a terceira, porém um pouco acima, sobrepondo esta na sua metade longitudinal. A aplicação das tiras foi feita sempre por um único pesquisador. Como o objetivo da aplicação foi o de estabilização articular, a bandagem foi fixada sob tensão máxima, ou seja, 50% de tensão, seguindo a orientação descrita pelo método Therapy Taping, fornecida por um instrutor credenciado pela Therapy Taping Association – TTA [30]. Logo após a calibração da plataforma de pressão o participante foi instruído a adotar a postura utilizada como padrão nesse estudo (Figura 2): postura ereta quieta em apoio unipodal com o pé dominante sobre a plataforma e membro inferior contralateral com 90° de flexão de joelho; braços relaxados ao longo do corpo e olhos fechados com a cabeça direcionada à frente (olhos em direção ao horizonte), de acordo com o que foi sugerido pela metodologia de Tookuni et al. [1]. Figura 1 - Forma de aplicação do Therapy Taping. 167 Figura 2 - Sujeito posicionado sobre a plataforma F-MAT para a coleta. Fonte: Pesquisa dos Autores. No intervalo entre cada uma das três coletas, o indivíduo foi orientado a permanecer, durante um minuto, sentado em uma cadeira colocada logo atrás da plataforma para evitar deslocamentos. Os dados referentes às oscilações do CP dentro da base de suporte, obtidos por meio do sensor F-MAT, foram exportados para o programa Microsoft® Office Excel no formato ASCII, passaram por um filtro digital Butterworth passa-baixas de quarta ordem, com fase zero, com frequência de corte de 5 Hz desenvolvido em software MATLAB e em seguida passaram ainda por outro software montado em forma de planilha do Microsoft® Office Excel, no qual, segundo a metodologia recomendada por Tookuni et al. [1], foram calculados os seguintes parâmetros estabilométricos: o comprimento total da trajetória do deslocamento do CP (CT), a amplitude dos deslocamentos do CP nos sentidos ântero-posterior (AP) e médio-lateral (ML) e a velocidade máxima atingida pelo CP (VM). A análise estatística desses dados foi feita por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17 para Windows®, com nível de significância de 0,05 e foi utilizado o teste Kolmogorov Smirnov para verificar se as variáveis se comportariam como uma normal ou não. Como as variáveis se comportaram como uma normal, foi feito o teste ANOVA para análise de todas as comparações possíveis entre as variáveis de M1, M2 e M3. Resultados Fonte: Pesquisa dos Autores. A análise dos dados obtidos por meio do teste ANOVA não encontrou diferenças estatisticamente significativas na Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 168 comparação do EP dos indivíduos nos momentos M1, M2 e M3, quanto aos parâmetros CT, AP, ML e VM verificados no estudo (Tabela II). Porém, é possível perceber, também por meio da Tabela II, que houve melhora do EP quando comparamos a amplitude do deslocamento ML de M1 em relação à de M2 e M3, mas quando comparamos M2 com M3 vemos que houve piora do EP, pois a amplitude do deslocamento foi maior. Podemos dizer que houve melhora do EP também quando se observa a diminuição da variável CT entre os momentos M2 e M3, o que indica menor oscilação do CP e assim, menor desequilíbrio. Foi notável ainda uma piora presente entre os momentos M1 e M2 em relação à variável CT e VM e entre M1, M2 e M3 em relação à variável AP, o que indica que não houve melhora do EP e diminuição da oscilação corporal entre tais momentos. Discussão De acordo com a literatura pesquisada [4-10], vários fatores agem influenciando na estabilidade e no EP do corpo humano das mais variadas formas possíveis. No presente estudo, as avaliações estabilométricas do EP, pré e pós-aplicação da BEA na articulação do tornozelo, foram realizadas em indivíduos sedentários jovens e sem relato de distúrbios relacionados ao equilíbrio para garantir homogeneidade da amostra e melhor obtenção dos resultados. Tookuni et al. [1] avaliaram 38 indivíduos jovens, pois acreditam que assim estariam evitando a interferência de problemas relacionados ao EP ou de maior oscilação corporal, fato apresentado por indivíduos idosos nas mesmas situações às quais foram submetidos os indivíduos jovens. Os mesmos autores afirmam ainda que quando se trata de um estudo com indivíduos jovens saudáveis, é desnecessária a separação dos mesmos pelo sexo e pela dominância de membros inferiores. O presente trabalho obteve resultados mostrando que o uso da BEA não produziu efeitos estatisticamente significativos em nenhuma das variáveis estabilométricas analisadas por meio da plataforma de pressão, apenas algumas tendências de melhora do EP após a aplicação da fita, observadas nas variáveis CT e ML, e juntamente com algumas tendências de piora nas variáveis CT, AP e VM, como foi descrito no item resultados. Também não foi possível comparar os resultados aqui encontrados com outros estudos, pois, por se tratar de um estudo inédito, não foram encontrados trabalhos anteriores enfocando a análise dos efeitos da BEA no EP de indivíduos sedentários. Ao se observar o estudo de Halseth et al. [14], que avaliou os efeitos da BEA na propriocepção do tornozelo de indivíduo jovens saudáveis, percebe-se que os mesmos não encontraram resultados estatisticamente significativos com relação aos efeitos das BEA em habilidades neuromotoras. Os autores não avaliaram as variáveis estabilométricas estudadas pela presente pesquisa, mas sim o senso de posicionamento articular de cada indivíduo, por meio da diferença entre o ângulo alvo determinado pelo pesquisador e o ângulo produzido por esse indivíduo. Esses autores justificam seus resultados com a afirmação de que os receptores nervosos da pele do tornozelo se acomodariam muito rapidamente e, devido a isso, não responderiam com significância ao estímulo tegumentar promovido pela BEA. Entretanto, o estudo de Yasukawa et al. [16] encontrou diferenças estatisticamente significativas quando realizaram uma avaliação das habilidades e funcionalidade do braço de crianças em internação que eram participantes de um protocolo de reabilitação fazendo uso simultâneo da fita. Esses autores dispuseram de uma amostra bastante heterogênea, pois havia nessa mesma amostra crianças com quadros ortopédicos e crianças com quadros neurológicos, além do mais as avaliações eram feitas antes da aplicação da BEA, imediatamente após a aplicação e três dias após a aplicação, sendo que a cada nova avaliação era também realizada uma nova aplicação de uma nova tira da fita, o que confronta com a metodologia de aplicação adotada pelo presente estudo, na qual cada indivíduo fez uso ininterrupto de uma mesma tira de fita entre o segundo e terceiro momento da coleta. Bonfim et al. [26] não encontraram nenhuma diferença estatisticamente significativa com o fornecimento de ISA aos indivíduos sadios em relação ao controle postural. Os autores afirmam que, nesse grupo de indivíduos, a adição do estímulo sensorial não proporciona qualquer alteração, pois o sistema nervoso, por estar intacto, já obtém esse tipo de informação a partir das estruturas existentes que não sofreram dano algum. Já os indivíduos com lesão do LCA mostraram melhora tanto no limiar para detecção de movimento passivo da articulação do joelho, quanto no desempenho durante a manutenção da postura em pé em apoio unipodal. Por esse motivo, os Tabela II - Demonstrativo da comparação entre os momentos do estudo Pré e Peri - intervenção. Variáveis CT (cm) AP (cm) ML (cm) VM (cm/s) M1 (média ± DP) 204,4 ± 34,6 18,1 ± 1,4 32,5 ± 10,3 10,2 ± 1,7 M2 (média ± DP) 212,4 ± 41,6 18,2 ± 2,2 31,3 ± 11,4 10,6 ± 2,1 M3 (média ± DP) 210,1 ± 40,4 18,4 ± 1,9 31,7 ± 11,5 10,5 ± 2,0 Valor de F 0,18 0,12 0,04 0,18 Valor p 0,84 0,89 0,96 0,84 CT: Comprimento Total da Trajetória do CP; AP: Deslocamento Ântero-Posterior; ML: Deslocamento Médio-Lateral; VM: Velocidade Média; DP: Desvio-Padrão. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 autores citam que somente os indivíduos com algum déficit proprioceptivo podem ter algum benefício com o uso desses recursos, obtendo então, melhora do desempenho proprioceptivo. Vale ressaltar que a presente pesquisa avaliou o EP apenas de indivíduos sadios, ou seja, sem nenhum histórico de distúrbios que interferem no equilíbrio. Portanto, para que se possa determinar os efeitos da BEA no EP e elucidar como agem os mecanismos fisiológicos por meio dos quais esses efeitos ocorrem, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas com o objetivo de confirmar os achados do presente estudo e verificar se os mesmos se repetem com outros tipos de amostras. Sugere-se ainda pesquisas que investiguem a influência do tempo de uso da fita, os efeitos duradouros da mesma, após sua retirada do contato com a pele e a influência da tensão aplicada na BEA para que se produzam efeitos estatisticamente significativos. A avaliação do uso da BEA em indivíduos que apresentem condições que levam a alterações do equilíbrio também é de grande utilidade, bem como a utilização de outros métodos para a avaliação do equilíbrio, não apenas a estabilometria por meio de plataforma de pressão. Ressaltamos que os achados do presente estudo foram obtidos por meio de uma amostra composta por apenas 16 indivíduos jovens e em um período curto de intervenção, no qual não foi utilizado grupo controle. Podemos afirmar também que esses mesmos achados são resultados inéditos e, por esse motivo, a presente pesquisa não pôde ser comparada com outros estudos. Conclusão Com base nos resultados obtidos pelo presente estudo e nas comparações feitas entre os mesmos, conclui-se que não há melhora estatisticamente significativa do EP de indivíduos eutróficos e sedentários por meio do uso da bandagem elástica adesiva Therapy Tex®, seja imediatamente após sua aplicação, seja após 24 horas de uso ininterrupto da mesma. Referências 1. Tookuni KS, Neto RB, Pereira CAM, Souza DR, Greve JMD, Ayala AD. Análise comparativa do controle postural de indivíduos com e sem lesão do ligamento cruzado anterior do joelho. Acta Ortop Bras 2005;13(3):115-9. 2. Carvalho RL, Almeida GL. 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Método: Foi realizada a avaliação de 261 prontuários de bebês atendidos no ambulatório nos anos de 2008 a 2010. Os critérios de inclusão foram bebês prematuros que realizaram pelo menos 3 consultas ambulatoriais por ano, sem abandonarem o acompanhamento. Foi realizado um estudo descritivo-qualitativo com estes bebês. Resultados: Foram encontrados 255 bebês prematuros, sendo 47% prematuros extremos; 51% baixo peso ao nascer, 71% adequados para idade gestacional. 78,4% apresentaram complicações respiratórias diversas logo após o nascimento; 70,6% apresentaram sofrimento fetal agudo; 62% apresentaram algum grau de hemorragia intracraniana. Cada bebê realizou uma média de 3,7 consultas por ano com a Fisioterapia e apenas 19,2% destes necessitaram de encaminhamento para tratamento sistemático. Conclusão: Novas tecnologias possibilitaram uma maior sobrevida dos bebês prematuros, porém, sem diminuir suas morbidades. Portanto, o número de crianças com alterações no Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) é crescente. O acompanhamento clínico destes bebês permite a detecção precoce de alterações no desenvolvimento, a orientação familiar adequadamente ou, em alguns casos, o encaminhamento para o tratamento sistemático. Objective: To describe the characteristics of the preterm newborn followed up by the Physical Therapy, in public hospital of Minas Gerais. Methods: Were analyzed 261 medical records of babies from 2008 to 2010. The inclusion criteria were to be a preterm newborn, with 3 ambulatory consultation per year and continuous follow up. It was a descriptive and qualitative study. Results: 255 preterm newborns were found. 47% were extreme preterm newborns; 51% low birth newborns; 71% adequate newborns for gestational age; 78.4% newborns with respiratory complications soon after birth; 70.6% newborns with acute fetal sufferance; 62% newborns had intracranial hemorrhage. Each baby performed an average of 3.7 physical therapy sessions per year and only 19.2% preterm newborns required systematic treatment. Conclusion: New technologies provide better preterm newborn survival, however, without reducing morbidity. Therefore, the number of children with neuropsychomotor development is increasing. The clinical follow up allow the early detection of developmental alterations, the adequate family orientation or, in some cases, a systematic treatment. Key-words: newborn, premature, follow-up, psychomotor performance, physical therapy. Palavras-chave: recém-nascido, prematuro, seguimento ambulatorial, desempenho psicomotor, fisioterapia. Recebido 19 de junho de 2011; aceito em 23 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Érica Abjaudi Cardoso, Rua Juvenal de Melo Senra, 175/1302, Belvedere, 30320-660 Belo Horizonte MG, E-mail: [email protected] 172 Introdução A prematuridade tem sido causa básica ou associada de óbitos no primeiro ano de vida da criança, além de ser responsável por maior morbidade na infância, consistindo em problema de saúde pública, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) [1]. A cada ano, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros no mundo e o Brasil aparece na 10ª posição, com 279,3 mil partos de prematuros por ano. Para cada 100 nascimentos, o país tem 9,2% de prematuros [1]. A prematuridade representa o principal fator não apenas de mortalidade neonatal como de alto número de sequelas neurológicas [2]. Aproximadamente 30% dos recém-nascidos pré-termo (RNPT) desenvolvem severas alterações motoras e são frequentemente diagnosticados com paralisia cerebral. As incidências de paralisia cerebral, deficiências sensoriais, alterações cognitivas e doenças respiratórias são maiores nos RNPT quando comparadas com os RN a termo. A morbidade associada com o nascimento prematuro frequentemente se estende por toda a vida da criança, resultando em altos custos físicos, psicológicos e econômicos [3,4]. Os avanços da neonatologia e dos recursos tecnológicos nas últimas décadas trouxeram um aumento na sobrevida de recém-nascidos do grupo de alto risco para o surgimento de sequelas no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Neste grupo, os prematuros têm se destacado, especialmente por sobreviverem apesar de nascidos em idade gestacional (IG) ainda bem precoce, como na vigésima primeira semana. Desta forma, o acompanhamento clínico dessas crianças, nos primeiros anos de vida, é essencial para a detecção precoce das alterações no DNPM e as intervenções necessárias [5-7]. Prematuro é todo o recém-nascido vivo que nasce antes da trigésima sétima semana de idade gestacional, calculadas a partir do primeiro dia da última menstruação, isto é, idade gestacional entre 196 e 259 dias completos [8,9]. As causas do parto prematuro são, na maioria das vezes, desconhecidas. Há alguns fatores predisponentes como má nutrição materna; mães com menos de 16 anos de idade; pequenos intervalos entre as gestações; doença cardíaca materna; alterações placentárias; malformações fetais, entre outras [10]. Há um consenso na literatura de que a prevenção do parto prematuro só ocorrerá através de programas de educação em saúde que permitam o acesso de toda a população a serviços de qualidade e com total cobertura a pacientes de risco. Para minimizar as sequelas neurológicas advindas da prematuridade e, muitas vezes, evitar que o desenvolvimento sensório-motor destes bebês siga um curso diverso do considerado normal, torna-se fundamental o acompanhamento destas crianças pelo menos aos 3, 6, 9 e 12 meses de idade cronológica (recém-nascido a termo) ou corrigida (recém-nascido pré-termo). O critério utilizado para se estabelecer a frequência desse acompanhamento deve ser a capacidade da criança de vencer os obstáculos ao seu desenvolvimento [11]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Os ambulatórios de follow-up ou de seguimento têm importância relevante no diagnóstico precoce de sequelas neurológicas e no tratamento do bebê prematuro, especialmente [12]. Após o nascimento, o RNPT deverá continuar o desenvolvimento e maturação de seus órgãos e sistemas até atingir a sua capacitação plena [13]. Especialmente, portanto, no primeiro ano de vida do RNPT, deve ser dada especial atenção à sua evolução motora, o que aumenta a importância do acompanhamento de aquisições motoras e do seu desenvolvimento global, em termos preventivos [14,15]. Este acompanhamento possibilita a identificação de características especificas desta população e a estimulação, quando necessária [5,15]. Quanto mais precoce for o diagnóstico de atraso de desenvolvimento e a intervenção, menor o impacto destes problemas na vida da criança [5]. Além do diagnóstico e intervenção, este acompanhamento possibilita a elaboração de estratégias de prevenção e a melhoria dos serviços de cuidados pré, peri e neonatais, identificação das necessidades da família e orientação aos pais quanto aos cuidados com esta criança [5]. A este tipo de serviço é que denominamos de follow-up e sua implantação, apesar de ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde, ainda é deficitária nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) Neonatais deste país [5]. O critério para o acompanhamento destas crianças, de acordo com a OMS, baseia-se na idade gestacional, peso ao nascimento, ocorrência e severidade de patologias peri e neonatais, intervenções recebidas nas UTIs Neonatais, presença de malformações, etc.[16].Geralmente, este acompanhamento é realizado até a criança completar dois anos de idade, apesar deste marco ainda ser objeto de discussão, uma vez que muitas alterações no desenvolvimento podem se manifestar após esta idade [17]. De acordo com Habib, é necessária uma avaliação cuidadosa do comportamento e das respostas motoras do bebê para se traçar um planejamento de intervenção [11]. É importante ressaltar que os programas deverão ser específicos para cada bebê. A abordagem deverá acontecer diretamente com o bebê e indiretamente com o ambiente, os pais e a equipe multidisciplinar que acompanha este bebê. As intervenções podem ocorrer em ambiente hospitalar ou ambulatorial. O bebê que inicia o tratamento precocemente se beneficiará. Vários fatores contribuem para isto, dentre eles a plasticidade neural. As famílias devidamente orientadas desde o início da vida de seus filhos saberão lidar de maneira mais adequada durante as atividades de vida diária do bebê [11]. A intervenção precoce se refere, pois, ao conjunto de atividades que objetivam estimular as capacidades das crianças o mais cedo possível, além de acompanhar de maneira ativa estas aquisições, orientando sempre a família. A população alvo da intervenção pode ser tanto crianças em risco para o desenvolvimento quanto aquelas que já possuem alterações diagnosticadas [18]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Gráfico 1 - Classificação dos RNPT. Quantidade de RNPT Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo, com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados em 261 prontuários de bebês avaliados no ambulatório de um hospital público que é referência em alto risco de Neonatologia da rede, Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), localizada em Belo Horizonte, nos anos de 2008 a 2010. Os critérios de inclusão foram: bebês prematuros, de ambos os gêneros (feminino e masculino), nascidos no período de 2008 a 2010, idade de 0 a 2 anos, indicados para o acompanhamento ambulatorial com a Fisioterapia neuromotora por apresentarem algum fator de risco para o DNPM, que realizaram pelo menos três consultas ambulatoriais por ano, sem abandonarem o acompanhamento. Os critérios de exclusão foram: bebês a termo, aqueles que abandonaram o acompanhamento realizando apenas 1 ou 2 consultas anuais, e todos os bebês encaminhados de outros serviços, não nascidos neste hospital. Dentre os 261 prontuários avaliados, apenas 6 enquadravam-se nos critérios de exclusão, reduzindo a nossa amostra para 255 bebês prematuros. As classificações utilizadas em relação à idade gestacional, peso ao nascer e sua relação com o comprimento ao nascimento basearam-se nos critérios estabelecidos pela OMS e CID-10 [8,9]. Assim, recém-nascido (RN) de baixo peso para a idade gestacional (IG) refere-se usualmente ao recém-nascido com peso abaixo, mas com comprimento acima do percentil 10 para a idade gestacional. RN pequeno para IG (PIG) refere-se usualmente ao baixo peso e comprimento inferiores ao percentil 10 para a idade gestacional. RN com peso muito baixo peso ao nascer refere-se àqueles que nasceram com peso igual a 999 g ou menos. RN de peso baixo ao nascer refere-se aos nascidos com 1.000 a 2.499 g. Imaturidade extrema ou RNPT extremo são aqueles de idade gestacional inferior a 28 semanas completas (menos que 196 dias completos). RNPT são todos aqueles de idade gestacional de 28 semanas completas ou mais, porém menos que 37 semanas de gestação (idade gestacional entre 196 e 259 dias completos). RN de tamanho excessivamente grande geralmente implica em RN de peso de 4.500 g ou mais ao nascer. Frequentemente são filhos de mães diabéticas ou mães que apresentaram diabetes gestacional. RN pós-termo é todo feto ou recém-nascido com IG de 42 semanas completas ou mais (294 dias ou mais) [8,9]. Os prontuários são utilizados no setor da Fisioterapia do ambulatório de follow-up multidisciplinar do próprio hospital e armazenados no SAME, de onde puderam ser retirados para consulta. Foram avaliados 261 prontuários, destes, 255 preencheram os critérios de inclusão para o estudo. Foram encontrados 16 RNPT (recém-nascidos pré-termo) limítrofes (6,1%), 116 RNPT moderados (44,4%) e 123 RNPT extremos (47,1%), conforme demonstrado no Gráfico 1. 130 RNPT foram classificados com baixo peso ao nascer (51 %), 120 RN com muito baixo peso ao nascer (47%) e 5RN com extremo baixo peso ao nascer (2 %), conforme demonstrado no Gráfico 2. 181 RNPT foram classificados como adequados para idade gestacional (71%), 70 RNPT como pequenos para idade gestacional (27,5%) e 4 RNPT como grandes para idade gestacional (1,6 %), conforme demonstrado no Gráfico 3. 140 120 100 80 60 40 20 0 RNPT limitrofe RNPT moderado RNPT extremo Gráfico 2 - Classificação do peso ao nascer dos RNPT. 140 120 Peso (gramas) Material e Métodos Resultados 100 80 60 40 20 0 Baixo peso (≤2500 g) Muito baixo peso (≤1500 g) Extremo baixo peso (≤1000 g) Gráfico 3 - Classificação do comprimento dos RNPT. Comprimento (cm) O objetivo deste trabalho é descrever as características dos bebês prematuros acompanhados em um programa de follow-up ambulatorial, após a alta em um hospital público de referência de alto risco em neonatologia em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre os anos de 2008 e 2010. 173 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 AIG (adequado para IG) PIG (pequeno Para IG) GIG (grande para IG) Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 174 Com relação à população estudada, 200 RNPT (78,4%) apresentaram complicações respiratórias, sendo as mais frequentes a doença da membrana hialina (DMH), a displasia broncopulmonar (DBP) e, em menor proporção, a taquipnéia transitória do recém-nascido (TTRN). 180 RNPT (70,6%) apresentaram sofrimento fetal agudo (SFA) ao nascer, necessitando de oxigênio suplementar em formas diversas (ventilação mecânica invasiva e não invasiva). 14 RNPT (5,5%) apresentaram alguma síndrome ao nascer, sendo a Síndrome de Down diagnosticada em 90% destes bebês. 3 RNPT (1,2%) apresentaram um quadro de restrição de crescimento intrauterino (CIUR). 10 RNPT (3,9%) apresentaram edema cerebral ou hidrocefalia. 5 RNPT (2%) apresentaram algum tipo de cisto cerebral e 8 RNPT (3,1%) apresentaram encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) diagnosticada. Encontramos ainda 22 casos (ou 8,6%) de leucomalácia periventricular (LPV) conforme pode ser observado no Gráfico 4. Quantidade de RNPT Gráfico 4 - Complicações dos RNPT. 250 200 150 100 50 0 t Al p. es .R A SF d. Sín UR ema Ed o/ dr CI sto Ci I EH V LP Hi Houve 158 relatos de ultrassom transfontanela com resultados alterados, como hemorragia peri-intraventricular(HPIV) em graus variados, sendo encontrados 86 HPIV tipo I (33,7%), 53 HPIV tipo II (20,8 %) e 19 HPIV tipo III/IV (7,5 %) conforme demonstrado no Gráfico 5. Quantidade de RNPT Gráfico 5 - HPIV nos RNPT. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 HPIV I HPIV II HPIV III/IV 28 bebês eram gemelares (10,7%) e apenas 50 RNPT (isto é, 19,2%) necessitaram de encaminhamento para tratamento sistemático, realizado em outro local. 205 bebês realizaram apenas o acompanhamento ambulatorial, no hospital referência para o estudo. Os 255 RNPT avaliados realizaram aproximadamente 3,7 consultas por ano cada um, somando um total de 988 consultas em 3 anos, ou seja, 329,3 consultas por ano. Discussão O grupo de RNPT não é homogêneo, variando de acordo com a sua maturidade fisiológica. Costumam ser agrupados em três categorias, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, em função de sua idade gestacional (IG): limítrofes (cuja IG corresponde à 37ª semana), moderados (cuja IG varia de 31 a 36 semanas completas) e extremos (cuja IG varia de 24 a 30 semanas completas) [8]. Neste estudo, foram encontrados 16 RNPT limítrofes, 116 RNPT moderados e 123 RNPT extremos em seguimento ambulatorial. Segundo OPAS e Mello, os bebês prematuros com peso abaixo de 1500 g e/ou idade gestacional inferior a 32 semanas são os que necessitam de maior atenção dos serviços de acompanhamento em saúde e vigilância do desenvolvimento [19,20]. Estes últimos são os considerados RNPT extremos (abaixo de 30 semanas de IG) em sua maioria e RNPT moderados (31-32 semanas de IG) em sua minoria. Os RNPT extremos são considerados de alto risco para desenvolver anormalidades no desenvolvimento sensório-motor [19]. A prematuridade extrema apresenta altos índices de sequelas neurológicas, com 13,4% de encefalopatia crônica não progressiva da infância e função cognitiva significativamente menor que no grupo controle [20]. Os RNPT moderados não sugam bem e necessitam de sonda nasogástrica para se alimentar e os RNPT limítrofes não serão necessariamente de baixo peso, mas apresentam morbidade e mortalidade maiores que os recém-nascidos a termo (RNT) de mesmo peso [12]. Dentre as principais causas de atraso motor encontram-se: baixo peso ao nascer, distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções neonatais, desnutrição, baixas condições socioeconômicas, nível educacional precário dos pais e prematuridade. Quanto maior o número de fatores de risco concomitantes, maior a probabilidade de alterações no desenvolvimento motor [21]. Como a presença de alterações respiratórias é constante, observamos sua importância enquanto fator de risco para alteração no DNPM normal por propiciar aumento da permanência do RNPT no hospital e dificultar sua aprendizagem e vivência sensório-motora. No presente estudo foram encontrados 200 bebês com alterações respiratórias diversas. As mais comuns foram a doença da membrana hialina e a displasia broncopulmonar e, menor proporção, a taquipneia transitória do RN. Segundo Gardner e Goldson, as sequelas respiratórias mais comuns nestes RNPT são a doença crônica pulmonar, a síndrome da morte súbita, a maior propensão para infecções respiratórias, especialmente no primeiro ano de vida do bebê [22]. A principal causa de desconforto respiratório nos RNPT extremos é a doença da membrana hialina seguida da displasia Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 bronco pulmonar. Frequentemente apresentam persistência do canal arterial, que pode se constituir em sério problema, com quadro de tiragem, estertores pulmonares, taquicardia e crises de apneia; podendo ou não necessitar de intervenção cirúrgica [12]. A prevalência de problemas como doença pulmonar crônica, leucomalácia periventricular e paralisia cerebral vem aumentando progressivamente a cada década, uma vez que, atualmente, sobrevivem RNPT de idade gestacional cada vez menor [23]. São considerados recém-nascidos (RN) de alto risco: os nascidos antes de 37 ou após 42 semanas de gestação, com peso ao nascimento abaixo de 2500g ou acima de 3800g; muito distantes do peso médio esperado para IG; com história de doença grave; nascidos em más condições de parto, como pontuação baixa do Apgar ou líquido amniótico meconial, que necessitaram de reanimação na sala de parto ou no berçário; nascidos de mães que tiveram infecção de risco potencial para o embrião/feto, como a síndrome TORCHS (toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, herpes, sífilis, infecção por HIV) ou com história de qualquer doença mal controlada durante a gravidez, como hipertensão arterial e diabetes melito; nascidos de gestações múltiplas [12]. Neste estudo, foram encontrados 158 relatos de ultrassom transfontanela com resultados alterados. Dentre estas alterações, observamos a hemorragia intracraniana (HPIV) em graus variados, leucomalácia periventricular (LPV), edemas e cistos cerebrais, hidrocefalia, encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI). 10 bebês possuíam edema cerebral ou hidrocefalia e, 8, a encefalopatia hipóxico-isquêmica identificada. A hemorragia intracraniana está associada com a prematuridade, e sua severidade é inversamente proporcional à idade gestacional. O exame do desenvolvimento neuropsicomotor aos 6 meses de idade corrigida mostrou que pacientes que sofreram hemorragia intracraniana neonatal e/ou crises neonatais tiveram tônus, forças e reflexos inapropriados, bem como atraso no controle do sustento cefálico [24]. Em relação ao peso ao nascimento, os bebês podem ser classificados como baixo peso (abaixo de 2500 g), muito baixo peso (abaixo de 1500 g) e extremo baixo peso (abaixo de 1000 g). As crianças com peso ao nascimento inferior a 2500 g são classificadas como recém-nascidas de baixo peso, independente do tempo de gestação [25]. No presente estudo, 130 RNPT eram baixo peso ao nascer, constituindo a maioria dos bebês avaliados; 120 eram muito baixo peso e apenas 5 RNPT eram extremo baixo peso ao nascer. Este último grupo representa o de maior risco para alterações cognitivas, comportamentais, motoras, sensoriais. Possivelmente, este fato tenha colaborado para que apenas 50 bebês acompanhados ambulatorialmente tenham sido encaminhados para tratamento sistemático com a fisioterapia em outro local. Bebês com baixo peso ao nascer apresentam maiores taxas de crescimento subnormal, condições de saúde adversas e problemas no desenvolvimento. Quanto aos aspectos motores, 175 esses bebês apresentam comportamento abaixo do normal no controle da motricidade axial, apendicular e visuo-motora [26]. Além disso, crianças com muito baixo peso têm maior risco de apresentar dificuldade de aprendizagem em diversas áreas, que também persiste até a adolescência. Há, ainda, associação com problemas comportamentais, ligados a déficit de atenção, dificuldade de convívio social e menor capacidade de lidar com problema [27]. O clássico estudo de Lula Lubchenco (1963) apresentou o peso em relação à idade gestacional, categorizando os RN em três grupos: adequado para idade gestacional (AIG); pequeno para idade gestacional (PIG) e grande para idade gestacional (GIG) [28]. Três anos depois, foram publicados os dados referentes ao comprimento relacionado à IG onde AIG correspondia aos percentis 10-90, PIG ao percentil abaixo de 10 e GIG ao percentil acima de 90. Quanto menor o peso e, portanto, maior a desproporcionalidade do crescimento fetal, maiores os riscos de hipoglicemia, asfixia, síndrome da aspiração do mecônio e maior tempo de permanência hospitalar. A população PIG refere-se a um grupo de crianças constitucionalmente pequenas, com malformações, alterações genéticas e crescimento restrito, portanto, um grupo de risco para apresentar alterações no DNPM normal [12]. Neste estudo, foram encontrados 70 bebês classificados como PIG ao nascimento, 4 eram GIG e 181 bebês eram AIG, minimizando o risco de alteração para o DNPM. Crianças com síndrome de Down e histórico de prematuridade e muito baixo peso podem, portanto, apresentar atrasos mais acentuados em relação ao desenvolvimento neuromotor e, consequentemente, em relação ao desenvolvimento cognitivo e de linguagem expressiva [29]. Neste estudo foram encontrados 28 gemelares (univitelinos e dizigóticos). A gemelaridade é condição sujeita a maior risco de morbidade neurológica perinatal em relação às gestações com feto único [30]. Além do risco a que estão sujeitos devido a prematuridade e ou baixo peso ao nascimento, os gêmeos apresentam maior chance de ocorrência de hemorragia peri ventricular intrauterina. Os gêmeos monozigóticos estão mais sujeitos a malformações, anormalidades cromossômicas, síndrome de transfusão feto-fetal e fenômenos tromboembólicos, como a coagulação intravascular disseminada, no caso de morte intrauterina de um dos fetos [30]. Entre os 255 prontuários avaliados, constatamos que apenas 50 bebês foram encaminhados para tratamento sistemático. Entre estes 50 encaminhados, 14 bebês eram sindrômicos, em sua maioria apresentavam a síndrome de Down e, os demais, síndromes mais raras como a de Milroy. Todos os RNPT participantes do estudo foram acompanhados pela Fisioterapia com o intuito de detectar alterações precoces no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Foram investigados aspectos relacionados ao tônus, alinhamento biomecânico/postural e movimentação espontânea 176 através de medidas, testes e escalas de avaliação confiáveis como DENVER II e AIMS. Além disso, observa-se e avalia-se constantemente as posturas e transferências feitas pelos lactentes durante o exame. Procuramos identificar o contexto familiar e ambiente no qual o lactente vive e convive. A este tipo de trabalho dá-se o nome de intervenção precoce. “A intervenção precoce é considerada essencial para prevenir danos ou agravos ao desenvolvimento de crianças cujas famílias não podem garantir, por si só, estimulação adequada durante a primeira infância [18]”. Porém, o maior mérito da intervenção precoce é permitir que a criança se coloque numa trajetória de desenvolvimento considerado adequado e que alcance os requisitos básicos e necessários para continuar este desenvolvimento após o término do seguimento ambulatorial [18]. Atrasos no desenvolvimento podem ser produzidos pela combinação de fatores de risco genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais, envolvendo interações complexas entre eles. No entanto, não são elementos estáticos, mas sua identificação e avaliação só terão valor se estiverem conectadas a programas de intervenção, havendo desta forma acompanhamento periódico, proporcionando educação para a saúde, reabilitação e tratamento além de orientação aos pais e cuidadores [31]. Uma vez que estes fatores de risco sejam identificados precocemente, antes que padrões alterados de desenvolvimento estejam instalados, a orientação familiar torna-se o maior aliado da Fisioterapia para evitar ou postergar a necessidade de encaminhar a criança para um tratamento sistemático. Acredita-se que esta seja a causa mais relevante de apenas um reduzido número de bebês ter necessitado de tratamento sistemático. Conclusão A evolução tecnológica na área da saúde nos apresenta um novo desafio: a sobrevivência de RNPT de idades gestacionais cada vez menores, RNPT extremos. Os recursos tecnológicos possibilitam uma maior sobrevida dos bebês sem, no entanto, diminuir as morbidades inerentes à prematuridade, como o SFA, a HPIV em graus variados e alterações respiratórias diversas, como a DMH e a DBP. Este fato nos traz uma nova realidade: um número crescente de crianças com alterações no DNPM, com necessidade de acompanhamento ambulatorial e, às vezes, encaminhamento para um tratamento sistemático. Este consiste em alongamentos e fortalecimentos musculares quando necessário, treinamento de transferências e aquisições das mais variadas posturas presentes no DNPM normal de acordo com a IG corrigida da criança, além de estimulação sensorial, vestibular, de coordenação motora fina e equilíbrio. São inúmeras as razões para um acompanhamento clínico destes bebês, como a detecção precoce de alterações no desenvolvimento, Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 permitindo a orientação familiar adequadamente ou, em última instância, o encaminhamento para o tratamento sistemático. Desta forma, prevenimos novas complicações, elaboramos estratégias para minimizar os fatores de risco para alterações no desenvolvimento e identificamos novos problemas que possam surgir. Referências 1. Organização Mundial de Saúde. Rede Cegonha busca reduzir índice de prematuros. [citado 2012 Abr 4]. Disponível em URL: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude. 2. Almeida MFB. Reanimação na sala de parto do recém-nascido pré-termo. In: Pachi PR, ed. O pré-termo: morbidade, diagnóstico e tratamento. São Paulo: Roca; 2003. p.41-73. 3. Petrou S. The economic consequences of preterm birth during the first 10 years of life. BJOG 2005;112(1):10-5. 4. 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Influências ambientais na saúde mental da criança. 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Material e métodos: A amostra foi composta por 32 indivíduos, do sexo masculino e feminino, idade 65 a 84 anos. Foi utilizado o Questionário ICIQ-SF, que avalia o impacto da IU na qualidade de vida e a qualificação da perda urinária, e um questionário que tratou de verificar a história gestacional e urológica. Resultados e conclusão: Observou-se neste estudo uma alta prevalência de perda urinária no grupo estudado e o tipo mais encontrado foi a hiperatividade vesical. Apesar de a prevalência de perda urinária ter sido significativa e interferido na qualidade de vida dos indivíduos estudados, pôde-se perceber que os indivíduos não deixaram de participar do grupo de tratamento devido à perda urinária. Objective: This study aimed at identifying the prevalence and type of pre-existing urinary incontinence in participants of treatment groups in the Physical Therapy department at IAPI Health Centre at Porto Alegre/RS. Methods: The sample included 32 patients, male and female, 65 to 84 years old. Was used the ICIQ-SF Questionnaire, which assesses the impact of incontinence on quality of life and classification of urinary loss, and a questionnaire for verifying pregnancy and urological history. Results and conclusion: We observed a high prevalence of urinary incontinence in the study group and overactive bladder was the more often found type. Although prevalence of urinary incontinence has been significant and interfered with quality of life of the patients, was observed that patients do not stop participating in the treatment group due to urinary loss. Key-words: urinary incontinence, prevalence, man, woman. Palavras-chave: incontinência urinária, prevalência, homens, mulheres. Introdução A realidade brasileira demonstra que o número de idosos dobrou nos últimos 50 anos, e no ano de 2020 esse segmento atingirá 15% da população nacional [1]. No decorrer do envelhecimento, surgem limitações físicas, perdas cognitivas, doenças crônicas e uma das condições crônicas que homens e mulheres podem desenvolver ao longo do envelhecimento é a incontinência urinária (IU), sendo mais frequente entre o sexo feminino [2,3]. A Sociedade Internacional de Continência (International Continence Society - ICS) definiu recentemente a IU como “perda involuntária de urina”, podendo ser classificada como: incontinência urinária de esforço (IUE), hiperatividade vesical (HV) ou incontinência urinária mista (IUM) [4]. A IU é um significante problema de saúde com dimensões mundiais, dado ao impacto social e econômico que causa na vida dos indivíduos, podendo levar a problemas de higiene, tendo uma repercussão importante sobre a Recebido em 26 de julho de 2011; aceito em 9 de março de 2012. Endereço para correspondência: Lia Janaina Ferla Barbosa, Rua Franklin, 200/408, 91210-060 Porto Alegre RS, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 realização das atividades da vida diária, sobre a interação social das pessoas e sobre o estado de saúde, levando o indivíduo ao isolamento, depressão e a perda da autoestima; em suma, comprometendo negativamente a sua qualidade de vida [5-7]. Inúmeras patologias podem provocar a IU e suas causas são multifatoriais. Os fatores de risco para o seu desenvolvimento incluem: idade avançada, raça branca, obesidade, partos vaginais, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão abdominal, tabagismo, doenças do colágeno, neuropatias e histerectomia prévia [8-10]. No homem é frequente a presença da IU após a ressecção transuretral da próstata e a prostatectomia radical, que é utilizada amplamente no tratamento do câncer da próstata. A IU apresenta uma incidência de 2% a 87% nos homens, sendo que a maioria destes pacientes submetidos à prostatectomia recupera espontaneamente o controle miccional nos primeiros seis meses após a cirurgia sem nenhuma intervenção, mas em uma pequena proporção de pacientes isso não ocorre [11-13]. Já na mulher, a perda da IU pode afetar até 50 % destas em alguma fase de suas vidas, trazendo grandes implicações em sua qualidade de vida [14]. Quanto aos índices que apontam a prevalência e incidência da IU, estes dependem das características da população estudada como a idade, o sexo, as condições físicas e mentais, além da definição de incontinência adotada e das condições de saúde geral da população alvo [15]. A realização deste estudo deve-se ao fato de que no Brasil o tema da IU é pouco explorado e permanecem escassos os estudos sobre os dados de prevalência e incidência, também estão restringidos a grupos populacionais específicos. As publicações encontradas são principalmente na área médica, relacionadas aos métodos diagnóstico, terapêutico e cirúrgico [16]. Este estudo objetiva identificar a prevalência e tipo de perda urinária em participantes dos grupos de tratamento no setor de Fisioterapia do Centro de Saúde IAPI. Material e Métodos O presente estudo apresenta um delineamento quantitativo de pesquisa de campo, do tipo descritivo transversal. Foi realizado no Centro de Saúde IAPI, no Setor de Fisioterapia, na cidade de Porto Alegre/RS, no período de novembro de 2010. O estudo foi aprovado pelo CEP do Grupo CBES e pelo CEP da SMS de Porto Alegre. A amostra foi composta por 32 indivíduos, do sexo masculino e feminino, idade 65 a 84 anos, frequentadores do setor de Fisioterapia do Centro de Saúde IAPI que recebiam atendimento em grupo, independente de classe/grupo social e cor. Todos os participantes assinaram o TCLE. Como critérios de inclusão foram adotados: gozar de saúde mental e cognitiva; ser alfabetizado; capaz de compreender e responder as questões; aceitar e assinar o TCLE. 179 Dentre os critérios de exclusão foram respeitadas as seguintes condições: idade inferior a 65 anos; portador de déficit cognitivo; não alfabetizados; portador de algum distúrbio neurológico; qualquer paciente com sequelas recentes de intervenções cirúrgicas no trato urinário, ou que tenha permanecido com sonda vesical nos últimos 4 meses; qualquer um que não concordasse, não compreendesse e não assinasse o TCLE. Foi utilizado o Questionário ICIQ-SF (“International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form”) [17], devido ao fato de ser um questionário autoadministrável que avalia o impacto da IU na qualidade de vida e a qualificação da perda urinária (HV, IUE, IUM) dos indivíduos analisados. Também foi utilizado um questionário criado pela autora que tratou de verificar a história gestacional e urológica. Para a elaboração de gráficos e tabelas foi utilizado os programas Microsoft Excel e SP-SS. 18.0 que serviram como ferramentas de suporte para a composição dos resultados. Para comparar os grupos (com e sem perda urinária) foi aplicado o teste t-student para amostras independentes ou teste de Mann-Whitney para as variáveis contínuas e teste exato de Fisher para as variáveis categóricas. Para avaliar a associação entre o escore geral ICIQ-SF (com ou perda urinária) com história gestacional e urológica, o teste da correlação de Spearman foi aplicado. O nível de significância adotado foi de 5% (p ≤ 0,05). Resultados e discussão A Tabela I demonstra o perfil da amostra por sexo e idade, variando entre a idade mínima de 65 anos e a máxima de 84 anos. Tabela I - Perfil da amostra. Sexo Feminino Masculino n 27 5 Idade mínima/máxima 65-84 65-78 Fonte: Dados da autora, 2011. Neste trabalho, verificou-se que a média de idade da amostra total foi de 72,7 anos, isso corrobora a literatura, a qual relata que o envelhecimento da população brasileira tem ocorrido de forma rápida e com grande aumento na média de idade. Isso se deve a passagem de uma situação de alta mortalidade e alta fecundidade para uma de baixa mortalidade e, gradualmente, baixa fecundidade, como a que se observa atualmente no Brasil, traduz-se numa elevação da expectativa de vida média da população e num aumento em termos absolutos e proporcionais do número de pessoas atingindo idades avançadas [18]. A Tabela II demonstra a associação das variáveis verificadas com a presença ou não de perda urinária. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Tabela II - Associação das variáveis com a perda urinária. Idade média ± DP Problema anterior de próstata - n(%) (n=5) Sim Não Cirurgia de próstata - n (%) (n=5) Sim Não Idade da 1ª gestação média ± DP Filhos - n(%) Sim Não Nº de gestacões mediana (min-máx) Nº de partos mediana (min-máx) Nº de cesáreas mediana (min-máx) Aborto n(%) Sim Não 1(50,0) 0(0,0) 1(50,0) 3(100) 1(50,0) 0(0,0) 24,8 ± 5,5 1(50,0) 3(100) 55,7 ± 4,5 16(69,6) 0(0,0) 7(30,4) 4(100) 0,019* 2(1-4) 2(0-4) 0,368 2(0-4) 2(0-4) 0,628 0(0-3) 0(0-0) 0,422 3(50,0 13(61,9) 3(50,0) 8(38,1 0,662 0,400 0,400 Gráfico 1 - Prevalência da perda urinária. 70 59,3 60 53,1 50 40 30 20 20 10 0 Total (n = 32) 0,387 *p ≤ 0.05 Fonte: Dados da autora, 2011. Observa-se que há associação da perda urinária com ter filhos e não com a paridade, tipo de parto (normal ou cesariana) e aborto. Há controvérsias na literatura sobre o efeito do número de gestações como fator de risco para IU. Segundo Danforth et al. [9], não há aumento do risco para a IU relacionado à paridade e nem ao tipo de parto (normal ou cesariana) [9]. Já para Guarisi et al. e Kocak et al. [10,19], não há aumento do risco para IU em mulheres com uma ou mais gestações quando comparadas com as nuligestas. Outros autores demonstraram que o número de gestações é fator relevante para a IU, pois quanto maior o número de gestações maior o risco de IU. Acreditam que a IU é um sintoma de base fisiopatológica multifatorial e essa pode ser a explicação para as divergências encontradas na literatura em relação à paridade [20]. Talvez possamos dizer que em nosso estudo esses fatores não tiveram associação devido ao pequeno tamanho da amostra estudada. O Gráfico 1 mostra a prevalência da perda urinária na amostra estudada. Homens (n = 5) Mulheres (n = 27) A prevalência da perda urinária foi de 53,1 % mostrando-se significante. Mesmo que indivíduos de ambos os sexos possam apresentar IU em algum momento da sua vida, alguns grupos estão mais expostos que outros [6]. Mulheres e idosos constituem os grupos de risco de maior importância epidemiológica [3]. Isto ficou evidente neste trabalho que teve a prevalência da perda urinária em 53,1 % ficando até superior ao estudo que a prevalência da IU no idoso variou de 8 a 34% segundo o critério ou método de avaliação [21]. A amostra de homens foi pequena e mesmo assim a percentagem de perda urinária (20% (n = 5)) foi significante confirmando o que vários autores [22-25] relatam em seus estudos que a prevalência no homem aumenta com a idade, ou seja, antes dos 60 anos os índices variam de 2% a 31% e acima de 60 anos de 3% a 53%. O Gráfico 2 mostra o tipo de perda urinária presente na amostra. Gráfico 2 - Tipo de perda urinária. 12 10 nº de pacientes Variáveis Com Sem perda perda p urinária urinária 73,5 ±6,2 71,9 ±4,8 0,423 % de pacientes com perda urinária 180 9(52,9%) 8 6 4(23,5%) 4 4(23,5%) 2 0 HV IUE IUM Tipos de perda urinária Usamos o termo BH (bexiga hiperativa) porque este diferencia BH de hiperatividade detrusora, que é a presença de contrações involuntárias do detrusor, detectadas no estudo urodinâmico, já que utilizamos somente um diagnóstico clínico. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 O tipo de perda urinária prevalente tanto na amostra de homens assim como na amostra de mulheres foi a BH. A normatização da International Continence Society (ICS) define Bexiga Hiperativa (BH) como uma síndrome consistindo de urgência, com ou sem urge-incontinência e frequentemente associada ao aumento da frequência miccional e noctúria; na ausência de outra etiologia [26]. O tipo de IU com maior prevalência mundial é a IUE seguida da HV. Quando falamos de idosos a IU mais prevalente é a HV, a IUM e a IUE [27]. Nosso trabalho pode mostrar através do diagnóstico clínico a prevalência elevada de 52,9 % da BH quando comparada com a IUE e a IUM. Talvez se estes pacientes fossem submetidos ao estudo urodinâmico poderiam apresentar HV. Mulheres que apresentam sintomas de BH são incapazes de exercer controle sobre a função miccional, estando sujeitas a perdas involuntárias [17]. A BH compromete a qualidade de vida, causando isolamento social, queda de produtividade, vergonha, frustração, ansiedade e baixa autoestima [28]. Quando avaliamos o impacto da perda urinária na qualidade de vida dos pesquisados, encontramos a perda urinária interferindo na qualidade de vida de 76,47 % indivíduos. Isso confirma que a qualidade de vida de pacientes com BH é pior do que a das com IUE, qualquer que seja o questionário utilizado para a avaliação [29]. Conclusão Mesmo sabendo-se que a BH afeta muito a qualidade de vida dos indivíduos, neste trabalho pudemos perceber que os indivíduos não deixavam de participar do grupo de tratamento. Portanto, quando os indivíduos fazem parte de algum tratamento realizado em grupo, os danos causados à qualidade de vida devido à perda urinária são minimizados, provavelmente pela interação e convívio social. Acreditamos que por esta amostra ter sido coletada dentro de grupos de atendimento de um setor de Fisioterapia, e justamente em um posto de saúde, isso nos faz pensar que uma atenção especial deva ser dedicada a BH. Talvez o planejamento de um novo grupo de atendimento, especificamente para o tratamento da BH, onde a Fisioterapia possa atuar na orientação, prevenção e tratamento desses pacientes. Referências 1. Camarano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição demográfica. In: Freitas EV et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 183 Artigo original Características da dor no ombro após acidente vascular encefálico e perfil de pacientes de Diamantina/MG Characteristics of shoulder pain after stroke and profile of patients of Diamantina/MG Laiss Ferreira Melo*, Raíssa Pollyanny Gomes da Silva e Cardoso**, Isadora Ferreira Henriques*, Thamires Cristina Perdigão Rodrigues*, Alexandre Wesley Carvalho Barbosa***, Ana Paula Santos****, Thaís Gaiad*****, Nélio Silva de Souza, Ft.******, Ana Carolina Gomes Martins, Ft.*******, Dionis Machado********, Victor Hugo do Vale Bastos********* *Graduanda em Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),**Graduanda em Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), bolsista de pesquisa do programa PROBIC/PIBIC – FAPEMIG, orientanda no programa de pesquisa PROBIC/PIBIC – FAPEMIG, ***Professor Assistente I do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), orientador no programa de pesquisa PROBIC/PIBIC – FAPEMIG, ****Professora Adjunta II do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), *****Professora Adjunta I do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM),******UNIFESO, Mestrando em Ciências da Reabilitação, UNISUAM, *******UNIFESO, Mestranda em Atenção Integrada a Saúde da Mulher e da Criança, UFF, ********Professora Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí (UFPI/Parnaíba), ******** Professor Adjunto do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí (UFPI/Parnaíba), Laboratório de Mapeamento Cerebral e Funcionalidade Resumo Abstract O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é considerado um problema de saúde pública, podendo gerar sequelas permanentes que levam à limitação funcional e afastamento do trabalho. A dor no ombro é uma das complicações mais comuns após o AVE; tem etiologia multifatorial e está associada à má qualidade de vida, pior prognóstico e hospitalização prolongada. O presente estudo teve por objetivo geral traçar o perfil, com ênfase na dor no ombro após AVE, dos pacientes com este diagnóstico na cidade de Diamantina/MG. Os instrumentos utilizados nos 52 pacientes estudados foram: formulário semiestruturado, contendo dados pessoais e referentes ao AVE; Mini Exame do Estado Mental (Mini-Mental) e Escala Visual Analógica (EVA). Tais instrumentos foram selecionados por serem padrão ouro nas suas áreas de investigação e por atenderem adequadamente aos objetivos do trabalho. Testes ortopédicos foram selecionados para avaliação específica de padrões no complexo articular do ombro. Como resultado notou-se: Neer (38,5%); Rowe (17,3%); Speed (38,5%) e Apreensão (9,6%), bem como significativa relação entre sensibilidade e EVA (p = 0,026). Observou-se uma maior prevalência de AVE em pacientes do sexo masculino (51,9%), idade avançada (26,9%) e baixa escolaridade (67,3%). A dor no ombro teve alta prevalência (61,5%) e correlação significativa com alteração de sensibilidade tátil no ombro comprometido (13,5%). Conclui-se que há a necessidade de implantação de medidas preventivas e de promoção da saúde com foco no AVE, bem como intervenções precoces visando a prevenção da dor no ombro advinda desta condição. Stroke is considered an important public health problem and can cause permanent sequelae that lead to functional limitation and absence from work. Shoulder pain is one of the most common complications after stroke, has a multifactorial etiology and is associated with poor quality of life, poor prognosis and prolonged hospitalization. This study aimed to profile, with emphasis in shoulder pain after stroke, patients with this diagnosis in the city of Diamantina/MG. The sample consisted of 52 patients. The instruments used were semi-structured form with personal data relating to stroke, Mini Mental State Examination (Mini-Mental) and Visual Analogue Scale (VAS). The orthopedic tests that were positive were: Neer (38.5%); Rowe (17.3%); Speed (38.5%) and Apprehension (9.6%), and significant relationship between sensitivity and VAS (p = 0.026). There was a higher prevalence of stroke in males (51.9%), elderly (26.9%) and low education (67.3%). Shoulder pain had high prevalence (61.5%) and significant correlation with changes in tactile sensitivity shoulder compromised (13.5%). We concluded that there is a need for preventive measures and health promotion focused on stroke as well as early interventions aimed at prevention of shoulder pain arising from this condition. Key-words: stroke, pain, shoulder, epidemiology. Palavras-chave: acidente vascular encefálico, dor, ombro, epidemiologia. Recebido em 25 de novembro de 2011; aceito em 30 de abril de 2012. Endereço para correspondência: Dionis Machado, Av. São Sebastião, 2819, Bairro N. Sra. de Fátima, 64202-020 Parnaíba PI, E-mail: dionis@ufpi. edu.br 184 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Introdução Amostra O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é considerado a terceira maior causa de morte nos países desenvolvidos [1], além de ser uma das maiores causas de sequelas permanentes que geram limitação funcional e afastamento do trabalho [2,3]. A hemiparesia e as deficiências sensórias figuram dentre as principais alterações neurológicas agudas [2]. Distúrbios motores comuns são a espasticidade (hipertonia), paralisia, subluxação de ombro, capsulite adesiva, síndrome do impacto e lesão do manguito rotador [4]. A dor no ombro e braço encontra-se entre os sintomas mais comuns relatados por pacientes com até um ano após o AVE [5]. A dor no ombro tem impacto negativo nas atividades diárias, interfere no processo de reabilitação e está associada à má qualidade de vida, pior prognóstico e hospitalização prolongada [1,6], podendo também interferir no equilíbrio, marcha, transferências e desempenho em atividades de autocuidado [7]. Sua etiologia é multifatorial [8] e pode incluir dois grupos: causas locais, que atuam mediante uma distensão do sistema capsular e osteomuscular do ombro, entre as quais se destacam a tensão muscular, espasticidade, capsulite adesiva, subluxações, lesões de partes moles, alterações na propriocepção e cinemática; e a dor referida, devido a causas localizadas a distância, como a dor central e neuropática, plexopatia braquial, distrofia simpático-reflexa, problemas cervicais ou dor visceral [6,9,10-12]. O considerável número de intervenções e a falta de consenso sobre sua eficácia sugerem que a causa é mal compreendida e, portanto, seu tratamento ainda não foi bem estabelecido [6]. Não está claro porque alguns pacientes desenvolvem dor no ombro persistente após AVE, enquanto outros recuperam espontaneamente ou por meio de tratamento. Não há dados precisos no que concerne aos padrões dos pacientes com diagnóstico clínico de AVE na cidade de Diamantina no contexto do quadro álgico no ombro. Neste sentido, este estudo foi delineado com o objetivo de traçar o perfil, com ênfase na dor no ombro após AVE, dos pacientes com este diagnóstico em tratamento nos centros de saúde de Diamantina. Além disso, teve como objetivo determinar a prevalência de pacientes com dor no ombro após AVE em relação ao grau de dor, positividade de testes ortopédicos e ao estímulo que gera a dor. Como critérios de inclusão foram considerados todos os pacientes com diagnóstico clínico de AVE. Dentro dos critérios de exclusão, foram considerados pacientes que não possuíam nenhum histórico de hemiplegia/paresia causada por outra condição clínica que comprometa a cognição e/ ou a fala. Ainda, foram excluídos os que apresentavam histórico de cirurgia e/ou doença prévia no ombro e casos em que paciente e/ou cuidador não soubessem informar dados contidos no formulário. Material e Métodos O presente estudo é de caráter observacional e transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM sob número de protocolo 133/10. A coleta de dados foi realizada no Núcleo de Reabilitação Nossa Senhora da Saúde, Clínica Escola de Fisioterapia da UFVJM, Policlínica Regional e residências dos pacientes cadastrados nas Estratégias de Saúde da Família (ESF) de Diamantina/MG no período de outubro de 2010 a agosto de 2011. Procedimento Para a coleta de dados, utilizou-se um formulário semiestruturado contendo dados pessoais como nome, idade, data de nascimento, sexo e escolaridade e dados referentes ao AVE e à dor no ombro decorrente do mesmo, como: tempo e número de episódios de AVE, hemicorpo comprometido, sensibilidade tátil nos dermátomos C5, C6 e C7 correspondentes à região do ombro e dor à palpação nos músculos deltóide e supra-espinhoso, além de presença/ausência de dor e fatores desencadeantes, dentre as opções: dor em repouso, deitar sobre o ombro, frio/calor e exercícios. Este formulário foi elaborado a partir de um pré-teste realizado com os 10 primeiros sujeitos do estudo. Neste sentido, foram consideradas as quatro questões mais prevalentes segundo o relato dos pacientes quanto aos fatores desencadeantes da dor. Os dados foram coletados por meio de entrevista direta ao paciente e/ou cuidador e com os instrumentos validados a seguir descritos. O estado cognitivo foi avaliado por meio da aplicação do Mini Exame do Estado Mental (Mini-Mental), que avalia a cognição nos seguintes domínios: orientação temporal e espacial, atenção e cálculo, nomeação de objetos, execução de comandos, repetição de sentenças, compreensão e execução de tarefa escrita, compreensão e execução de tarefa verbal, planejamento e prática [13]. Para caracterização do estado cognitivo, foi considerada como possível demência: pontuação menor que 14 para analfabetos, menor que 18 para pacientes que cursaram ginásio e menor que 24 para pacientes altamente escolarizados (ponto de corte: 17 para menor escolaridade e 24 para escolaridade acima de 9 anos). O grau de dor em repouso no ombro hemiparético foi obtido utilizando-se a Escala Visual Analógica (EVA), que consiste em uma linha com extensão de dez centímetros, marcada nos níveis 0 e 10, onde 0 representa nenhuma dor e 10 a pior dor possível. Ciente destas informações, cada paciente foi solicitado a indicar na escala, o nível de dor no ombro no momento da avaliação. A sensibilidade tátil dos dermátomos C5, C6 e C7, foi avaliada utilizando-se algodão. Os testes ortopédicos de Neer modificado e Speed são preditivos de síndrome do impacto e os testes Rowe e Apreensão são preditivos de instabilidade glenoumeral e foram realizados com o objetivo de caracterizar a dor no ombro nos pacientes avaliados. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Análise estatística O presente estudo utilizou duas formas de análise estatística: a descritiva e a diferença entre as médias de algumas das variáveis estudadas. A análise descritiva objetivou identificar o perfil da amostra estudada em vários aspectos e considerou dados como média, desvio padrão, valores mínimos e máximos, bem como dados de frequência (percentis). Optou-se por analisar também os dados para verificar se há diferença entre as médias de algumas das variáveis como sexo, idade, tempo do último AVE e dor. Para tal, verificou-se a normalidade dos dados usando-se o teste de Kolmogorov-Smirnov (para amostra acima de cinquenta sujeitos). Os dados que não se mostraram normais foram transformados por logaritmo de base 10 (Log10) ou por logaritmo natural 10 (LogN). Este é um procedimento estatístico clássico que visa normalização dos dados em casos de quaisquer dados que se apresentarem sem distribuição normal. No caso dos dados que foram normalizados com tais transformações usou-se o teste t independente e no caso dos dados não normalizados foi usada à análise de Mann-Whitney. Resultados Um total de 171 pacientes foram recrutados para serem avaliados. Destes, 72 foram excluídos (7 faleceram, 13 não tinham diagnóstico de AVE, 47 não foram encontrados, 5 realizavam tratamento em dois dos locais e foram avaliados em somente um deles). Foram avaliados 99 pacientes; destes, 47 foram excluídos por apresentarem possível demência de acordo com o Mini-Mental, 35 por impossibilidade de realizar este exame devido a comprometimento na fala, 4 não possuíam hemicorpo comprometido, 1 paciente havia realizado cirurgia no ombro acometido e em 7 pacientes, a coleta de alguns dados pessoais não foi possível. A amostra do estudo foi constituída por 52 pacientes. A Tabela I apresenta os dados pessoais da população estudada. Encontrou-se maior prevalência de pacientes do sexo masculino, faixa etária de 50 a 79 anos, com ensino fundamental incompleto. A análise das características do AVE (Tabela II) mostrou que a maior parte dos pacientes avaliados que teve apenas 1 episódio de AVE possuía pouco tempo decorrido do evento e apresentavam comprometimento no hemicorpo esquerdo. Os dados referentes à dor no ombro após AVE estão discriminados na Tabela III. A maioria dos pacientes apresentou dor no ombro (32 pacientes), múltiplas causas para o surgimento desta, dor à palpação no músculo supraespinhoso e grau baixo de dor na EVA. A análise do comprometimento da sensibilidade dos dermátomos C5, C6 e C7 encontra-se na Tabela IV. De acordo com os testes ortopédicos realizados, 38,5% dos pacientes apresentaram positividade no teste Neer, 17,3% no teste Rowe, 38,5% no Speed e 9,6% no teste de Apreensão. Quanto às associações pesquisadas, houve relação significativa 185 entre o comprometimento da sensibilidade e EVA (p = 0,026). Os pacientes que apresentaram comprometimento da sensibilidade tiveram maior grau de dor no ombro (média 35,33) quando comparados aos que apresentaram sensibilidade normal (média 24,16). Não houve diferença entre as médias entre sexo e EVA (p = 0,623); idade e sexo (p = 0,485) e tempo do último AVE e dor no ombro (p = 0,134). Tabela I - Dados pessoais da população estudada. Categorias Frequência absoluta (n) 27 25 1 1 5 14 Frequência relativa (%) 51,9 48,1 1,9 1,9 9,6 26,9 13 12 6 10 25,0 23,1 11,5 19,2 35 67,3 2 3,8 4 7,7 1 1,9 Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%) 4 7,7 31 59,6 10 19,2 1 1,9 5 9,6 1 1,9 Episódios de AVE 1 35 67,3 2 12 23,1 3 ou mais 5 9,6 23 44,2 29 55,8 Gênero Faixa etária Escolaridade Masculino Feminino 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Completo Ensino Superior Tabela II - Características do AVE. Categorias Tempo do último 1 -11 meses AVE 12-71 meses 72-131 meses 132-203 meses 204- 251 meses > 251 Hemicorpo comDireito prometido Esquerdo Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 186 Tabela III - Características da dor no ombro após AVE. Categorias Presença de dor Sim Não Fatores desenca- Único deantes da dor Múltiplos Dor à palpação Deltóide Supra-espinhoso Ambos Grau de dor 0-2,9 (EVA) 3-5,9 8-10 Não foi possível Frequência absoluta (n) 32 20 3 Frequência relativa (%) 61,5 38,5 5,8 49 14 18 94,2 26,9 34,6 12 44 23,1 84,6 4 3 1 7,7 5,8 1,9 Tabela IV – Análise do comprometimento da sensibilidade no ombro afetado. Comprometimento da sensibilidade C5 C6 C7 Não Sim 44 (84,6%) 46 (88,5%) 46 (88,5%) 7 (13,5%) 5 (9,6%) 5 (9,6%) Discussão Aproximadamente um terço dos que sobrevivem ao AVE têm experiência de dor no ombro em algum momento durante a sua recuperação. Na maioria dos casos, a dor é de moderada a grave e significativamente limitante [8], permanecendo ainda mal compreendida. Em muitos estudos, esta muitas vezes é tratada como uma condição unitária, como se a fisiopatologia e fontes de dor no ombro não fossem diferentes de paciente para paciente. A faixa etária da população estudada apresentou variação e maior prevalência entre 50 e 79 anos. A média de idade entre os gêneros não mostrou diferença estatisticamente significante. Vale ressaltar que os resultados mostraram prevalência de pacientes do sexo masculino. Dados da literatura evidenciam maior número de casos em homens com idades mais avançadas [14-21]. Alguns autores justificaram o predomínio deste evento no sexo masculino pela falta de comportamentos preventivos e de cuidados com a saúde. O estudo de Cavalcante et al. [3] indicou maior prevalência de AVE no sexo feminino, atribuída à sobrevivência das mulheres até idades mais avançadas. Os estudos de Santana et al. [22] e Silveira et al. [15] encontraram maior proporção de jovens, sendo que no primeiro, tal fato foi atribuído às características do serviço onde a amostra foi selecionada. No presente estudo, acredita-se que a diferença não significante entre a faixa etária de homens e mulheres, deve-se ao fato de que as mulheres vêm adotando hábitos cada vez mais próximos daqueles antes adotados prioritariamente por homens, como por exemplo, etilismo e tabagismo; além do uso de anticoncepcionais, que também consiste em um fator predisponente ao AVE. O tempo médio decorrido do último episódio de AVE foi de 69,81 meses, indicando cronicidade dos casos. Os resultados mostraram que os pacientes que apresentaram dor no ombro tinham menor tempo decorrido do último episódio de AVE do que aqueles com ausência de dor, porém a diferença não foi estatisticamente significante. A literatura aponta a dor no ombro ocorrendo de forma precoce após o AVE [14, 23-25]. No presente estudo, a não significância dos dados pode ter ocorrido pelo fato de que a maioria dos pacientes (92,3%) já se encontrava em uma fase crônica. Com relação ao número de episódios de AVE, dentre a amostra total, 67% dos pacientes tiveram um único episódio de AVE, sendo que um dos pacientes não soube informar e os demais tiveram episódios recorrentes. Silveira et al. [15] encontraram dados semelhantes. Neste estudo, 86 % dos pacientes tiveram apenas um episódio de AVE. Outros trabalhos também evidenciaram esta prevalência [9,17,26]. A prevalência de dor no ombro na população estudada foi de 61,5%. A frequência relatada na literatura é controversa, variando entre 5 e 84%. Essa diferença ocorre devido a diferentes critérios de inclusão, definições e tipos de estudo [8, 27-29]. No estudo de Dromerick et al. [9] a dor foi relatada em entrevista por 17 dos 46 sujeitos da pesquisa; dentre estes, dois pacientes relataram dor em repouso, e os 15 restantes apenas dor com o movimento passivo. No presente estudo, do total de pacientes, 20 (38,5%) relataram não sentir dor alguma no ombro comprometido, sendo que a maioria (94,2%) relatou haver múltiplos fatores que resultavam no surgimento de dor no ombro hemiplégico, o que está de acordo com a literatura [8]. Com relação à escolaridade, os dados observados neste estudo mostram que a maioria dos pacientes avaliados possuía baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto) ou era analfabeto, o que vai ao encontro da literatura [16, 22]. A baixa escolaridade, muitas vezes associada à baixa renda e à dificuldade de acesso à informação, resulta em precariedade dos cuidados com alimentação e saúde, podendo levar a diversos comprometimentos, principalmente aqueles relacionados ao sistema cardiovascular, como infarto agudo do miocárdio e AVE. A intensidade da dor no ombro, avaliada de acordo com a EVA, não apresentou diferença significativa entre homens e mulheres. Tal fato foi reportado por Gamble et al. [1] que não encontraram diferença estatisticamente significante entre a idade, sexo, incapacidade funcional, escore de depressão ou níveis de ansiedade em seis meses entre pacientes que apresentam dor e os que não apresentam. Em nosso estudo, este fato não era esperado, pois as mulheres apre­sentam níveis de dor mais severos, com episódios mais frequentes e de maior duração que os homens [30-31]. Além disso, as flutuações Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 hormonais cíclicas podem estar envolvidas nos mecanismos responsáveis pela dor na mulher [31]. A instabilidade glenoumeral e o impacto subacromial são comumente diagnosticados por manobras simples e não invasivas, como teste de Apreensão, Neer e Testes de Sulco [9,25]. O exame físico dos pacientes por meio de testes ortopédicos evidenciou que 56% dos pacientes apresentaram positividade em pelo menos uma das manobras. Os testes de Neer e Speed foram os que apresentaram maior índice de positividade, o que sugere diagnóstico de Síndrome do Impacto, sendo que estes não puderam ser realizados em 5 e 12 pacientes respectivamente, devido à impossibilidade de posicionamento para realização do teste, à falta de movimentação ativa no membro a ser testado ou à não compreensão dos testes por parte dos pacientes. Um estudo realizado com 46 pacientes de um centro de atendimento obteve resultados semelhantes. Os testes realizados neste estudo foram: Neer, Speed, Teste de Cisalhamento Acromioclavicular e Rowe. 54,4% dos pacientes obtiveram resultado positivo em um ou mais testes; a maioria apresentou positividade em apenas um dos testes [9]. A avaliação da sensibilidade tátil nos dermátomos C5, C6 e C7 demonstrou que nos pacientes que possuíam comprometimento em pelo menos um destes dermátomos, a frequência de dor no ombro foi significativamente maior que nos pacientes que não possuíam comprometimento. A diferença entre as médias significativa entre a dor no ombro e alteração na sensibilidade corrobora o estudo de Gamble et al. [1], que evidenciou associação tanto da sensibilidade dolorosa como da tátil protopática com a dor no ombro. A relevante associação entre a perda da sensibilidade térmica e dolorosa e a dor no ombro também tem sido bem documentada na síndrome ombro mão após AVE [32]. Além disso, no estudo de Anderson et al. [33-35], a dor central pós AVE foi associada com déficits na função do trato espinotalâmico, resultando em perda das sensações térmicas e dolorosas. Conclusão Parece haver associação relevante entre a dor no ombro e alteração na sensibilidade tátil, conforme observado no presente estudo (tabelas III e IV). Entretanto, são necessários mais estudos para evidenciar a etiologia e possíveis intervenções na dor no ombro pós-AVE, bem como sua associação com outras modalidades sensitivas, não investigadas neste estudo, como a proprioceptiva e sensibilidade térmica. Agradecimentos Apoio: FAPEMIG/CNPq Referências 1. Kwah LK, Harvey LA, Diong JHL, Herbert RD. Half of the adults who present to hospital with stroke develop at least one 187 contracture within six months: an observational study. J Phys Ther 2012;28(1):41-7. 2. Segura DCA, Nascimento FC. Efeitos da reeducação postural global no potencial funcional de hemiparéticos espásticos pós acidente vascular encefálico. UNOPAR Cient Ciênc Biol Saúde 2011;13(4):221-6. 3. Cavalcante TF, Araújo TL, Moreira RP, Santiago JMV. Perfil socioeconômico de pacientes internados por acidente vascular encefálico. Rev RENE 2010;11:154-62. 4. Niessen MH, Veeger DH, Meskers CG, Koppe PA, Konijnenbelt MH, Janssen TW. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 189 Artigo original Prevalência de sintomas osteomusculares em indivíduos ativos e sedentários Prevalence of musculoskeletal symptoms in active and sedentary population Anderson Leandro Peres Campos, M.Sc.*, Felipe Fossati Reichert, D.Sc.**, Mariângela da Rosa Afonso, D.Sc.**, José Francisco Gomes Schild, D.Sc.**, Gilcéli da Silva Fernandes, Ft.*** *Educador Físico, **Prof. Universidade Federal de Pelotas/RS, ***Fisioterapeuta Resumo Abstract A dor crônica é um processo complexo, de natureza biopsicossocial que pode se transformar em um problema de saúde coletiva. Entre os métodos de avaliação destes sintomas pode-se utilizar o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO). Este estudo objetivou avaliar os sintomas osteomusculares em adultos ativos em relação a adultos sedentários e verificar qual região anatômica é mais acometida por dores em ambos os grupos. Este estudo caracterizou-se como transversal. Foram selecionados 49 indivíduos (idade > 47 anos) de ambos os sexos, os quais foram divididos em fisicamente ativos (n = 29) e sedentários (n = 20). A região anatômica mais afetada foi a do quadril/membros inferiores em ambos os grupos, porém a prevalência no grupo sedentário foi significativamente superior quando comparada aos ativos. Nos últimos doze meses os ativos apresentaram 10% de queixas dolorosas e os sedentários 45%; enquanto que nos últimos sete dias as queixas dolorosas foram de 7% nos ativos e 40% nos sedentários. Nos últimos doze meses e nos últimos sete dias o grupo sedentário apresentou frequentes sintomas osteomusculares na região da coluna dorsal e do quadril/membros inferiores. No grupo ativo as queixas nesses locais foram pouco frequentes. Conclui-se que em relação aos últimos doze meses, os indivíduos fisicamente ativos apresentaram uma prevalência menor de sintomas osteomusculares nas regiões cervical e dorsal, quando comparado aos sedentários. Nos últimos sete dias os ativos apresentaram uma quantidade menor de episódios dolorosos na região cervical, dorsal, lombar, quadril e membros inferiores em relação ao grupo de sedentários. Chronic pain is a complex biopsychosocial process that can become a public health problem. The Nordic Questionnaire Musculoskeletal (NQM) is one of the methods used for clinical assessment of these symptoms. The objective of this cross-sectional study was to evaluate musculoskeletal disorders among physically active and sedentary adults and to verify which anatomical area is most affected in both groups. Forty-nine individuals (> 47 years old) of both sexes were selected and divided into physically active (n = 29) and inactive (n = 20). The most affected region was the hip/lower limbs in both groups, but the prevalence in the inactive group was higher than the active group. In the last 12 months, the active group had a pain prevalence of 10% and the inactive group 45%. In the last 7 days the pain complaints were 7% in the active and 40% in the inactive group. In the last 12 months and 7 days, the sedentary group reported musculoskeletal symptoms in the dorsal column and hips/lower limbs more frequently than the active group. It was concluded that the active group had a lower prevalence of musculoskeletal symptoms in the cervical and dorsal areas when compared to the inactive group. In the past 7 days, the active group showed a smaller amount of painful episodes in the cervical, dorsal, lumbar, hip and lower limbs in relation to the inactive group. Key-words: musculoskeletal system, physical activity, aging. Palavras-chave: sistema musculoesquelético, atividade física, envelhecimento. Recebido em 28 de novembro de 2011; aceito em 25 de abril de 2012. Endereço para correspondência: Anderson Leandro Peres Campos, Rua Bernardino Moreira dos Santos, 218, 96160-000 Capão do Leão RS, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] 190 Introdução Os desconfortos musculoesqueléticos podem ser definidos como relatos de percepção física desagradável e de sintomas físicos, tais como dor, sensação de peso, formigamento e fadiga. A dor lombar, ou lombalgia, pode ser caracterizada por um quadro de rigidez muscular localizada no terço inferior da coluna vertebral, sendo observada em 50 a 90% dos adultos e por ser de origem multifatorial pode apresentar diferentes maneiras de tratamento e prevenção [1-3]. Já Badley & Tennant [4], em seu estudo, revelam que de 10 a 20% da população referiram ter apresentado dor lombar, 6,9% dor nos ombros e 5,9 a 12% dor na coluna cervical, em algum momento da vida. A dor crônica é considerada um processo complexo, de natureza biopsicossocial que se transforma em um problema de saúde coletiva e exige uma abordagem multidisciplinar [5]. Sabe-se também que associação entre sintomas osteomusculares e sexo vem sendo demonstrada em alguns estudos, nos quais o sexo feminino apresenta maior número de queixas na região cervical, ombros, dorsal e lombar [6,7]. Sabe-se que o processo de envelhecimento humano está associado com a sarcopenia, fraqueza e prejuízo funcional, os quais se acentuam a partir da quarta década de vida com uma taxa de perda de força de 1% ao ano acelerando a cada década [8]. Segundo Toscano e Egypto [9], músculos fracos atingem a condição isquêmica e de fadiga mais facilmente que músculos fortes, aumentando as probabilidades de lesões e dificultando manter a coluna em seu alinhamento adequado. Déficits de força muscular associada a lombalgias ocorrem em função de que a atrofia muscular resultante leva à sobrecarga de outras estruturas lombares, bem como a diminuição da coordenação do correto movimento a ser realizado pelas estruturas osteo-mio-articulares. Para Clarck & Siebens [10], o envelhecimento vem acompanhado por alterações fisiológicas graduais, porém progressivas, e também por aumento da prevalência de enfermidades agudas e crônicas. À medida que ocorre o processo de envelhecimento, o organismo passa por modificações. Juntamente com o esse processo ocorre o aparecimento de doenças crônicas e degenerativas, principalmente as doenças musculoesqueléticas que causam dores [11]. Dessa forma, os programas de exercícios que visam à promoção da saúde devem ser específicos para desenvolver e/ou manter a composição corporal, capacidade aeróbia, flexibilidade, força e resistência muscular. Conforme Matsudo & Matsudo [12], a atividade física sistematizada e o estilo de vida ativo têm um papel fundamental na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis, e também está associada com uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida durante o envelhecimento. Por outro lado, o sedentarismo possui efeitos negativos sobre a saúde física, em especial sobre as estruturas musculoesqueléticas [13]. Para avaliação destes sintomas pode-se utilizar de um instrumento denominado Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO). Este é um dos métodos mais utilizados para Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 registrar ocorrência de sintomas de distúrbios osteomusculares, por ser rápido e economicamente viável [14], embora não seja suficientemente sensível para detectar mudanças na severidade dos sintomas nos estudos longitudinais nem para realizar diagnósticos clínicos [15]. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar os sintomas osteomusculares em adultos ativos em relação a adultos sedentários de acordo com o QNSO, e verificar qual região anatômica é mais acometida por dores em ambos os grupos. Material e Métodos Este estudo constituiu-se de uma pesquisa de caráter transversal. Na realização da pesquisa foi utilizado um instrumento padronizado, dotado de questionamentos de referência epidemiológica e de interesse da pesquisa, denominado Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), que apresenta um índice de frequência de sintomas de dor, dormência, formigamento e desconforto para cada região anatômica. A quantificação desses sintomas varia de zero a três, avaliando os últimos 12 meses e também os últimos 7 dias, cujo zero representa a ausência de sintomas, um refere-se a sintomas raros, dois sintomas frequentes, e três sintomas presentes. As regiões de quadris/coxas, joelhos, tornozelos/pés são classificadas como membros inferiores. Este é um dos métodos mais utilizados para registrar ocorrência de sintomas de distúrbios osteomusculares, por ser rápido e economicamente viável [14]. Para a coleta dos dados, os entrevistados foram divididos em dois grupos: o grupo ativo (n = 29) composto por adultos, maiores de 47 anos, que realizavam três sessões semanais de exercícios físicos (treinamento de força e aeróbico) por no mínimo três meses e pertencentes ao Núcleo de Atividades da Terceira Idade (NATI) da Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL); e o grupo sedentário (n = 20) composto por adultos, maiores de 47 anos, que não realizavam atividade física sistematizada há, pelo menos, 3 meses. A coleta dos dados foi feita por 2 entrevistadores, previamente treinados. Estes dados foram coletados após a assinatura de cada voluntário de um termo de consentimento livre e esclarecido e aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos (CBES), sobre o número de protocolo 640. CAAE: 0249.0.402.000-09. Análise estatística A análise dos dados foi realizada através da estatística descritiva (média ± DP), o nível de significância foi de p < 0,05 e o pacote estatístico utilizado foi o Stata 10.0. Resultados Foram entrevistados 49 indivíduos de ambos os sexos, sendo que no grupo ativo (n = 29) a média de idade foi de 59,8 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 ± 6,9 anos e no grupo sedentário (n = 20) foi de 68 ± 8 anos. Tanto no grupo ativo quanto no sedentário pode-se observar o predomínio do sexo feminino. Em relação às características da amostra, os dois grupos mostraram diferença significativa apenas na escolaridade, no qual o grupo ativo apresentou um nível maior, como se observa na tabela I. Tabela I - Características da amostra. Grupo ativo N % 10 19 59 41 No Gráfico 1 percebe-se que o grupo ativo costuma praticar atividade física sistematizada que envolva a utilização dos membros superiores, já o grupo sedentário nenhum participante relatou a prática dessa atividade. Também foram questionados sobre outras atividades da vida diária (AVD’s), como a execução de atividades domésticas, manuais, uso de computador, prática de tocar algum instrumento musical e cuidar de crianças em idade pré-escolar, nesses casos os dois grupos apresentaram prevalência semelhante, sendo as atividades domésticas a AVD mais relatada. Gráfico 1 - Atividades da vida diária. 9 20 8 6 2 9 1 2 3 31 69 27,5 20,6 6,8 31 3,4 6,8 10 7 13 7 13 13 4 1 1 0 1 3 59 41 35 65 65 20 5 5 0 5 15 Quanto à presença de sintomas osteomusculares, a região anatômica mais afetada foi a do quadril/membros inferiores em ambos os grupos, porém a prevalência no grupo sedentário foi significativamente superior quando comparada ao grupo ativo. Também se observou diferença significativa em relação às queixas dolorosas nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias, nas regiões do pescoço/cervical e coluna dorsal. Na coluna lombar essa diferença foi percebida apenas nos últimos 7 dias. Em todas as regiões em que houve diferenças estatisticamente significativas, os sintomas osteomusculares foram relatados em maior quantidade pelo grupo sedentário, conforme a tabela II. 100 93 85 75 65 5955 50 % Variáveis Sexo Masculino Feminino Estado Civil Solteiro Casado Escolaridade Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Tabagismo Grupo sedentário N % 191 25 1410 31 20 0 0 7 15 Atividades Instrumento AtividadesComputador Atividades Cuidar de domésticas musical manuais de crianças em membros idade superiores* pré-escolar Ativo Sedentário *p = 0,001 Discussão Com o avanço da idade, segundo Pinheiro et al., a probabilidade do aumento de sintomas osteomusculares torna-se cada vez maior [16], já Teixeira [17] afirma que cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem algum tipo de incapacitação devido à dor lombar e pelo menos 70% da população sofrerá um episódio de dor na vida. E isto implica em grande gasto em saúde pública e uma das causas mais frequentes de incapacidade entre os indivíduos [3]. No estudo de Santos et al. [19], com indivíduos adultos de ambos os sexos de um centro de convivência (n = 272), onde Tabela II - Prevalência de sintomas osteomusculares (dor, desconforto ou dormência). Região anatômica Pescoço Ombros Braços Cotovelos Antebraços Punhos/mãos/dedos Dorsal Lombar Quadril/membros inferiores Sintomas osteomusculares Grupo ativo Últimos 12 meses Últimos 7 dias N % N % 04* 14 03† 10 12 41 07 24 07 24 04 14 02 07 01 03 02 07 01 03 09 31 03 10 05** 17 04## 14 13 45 06** 21 14# 48 07# 25 * p= 0,001; ** p= 0,03; # p= 0,004; ## p= 0,007; † p= 0,009 Grupo sedentário Últimos 12 meses Últimos 7 dias N % N % 13* 65 08† 40 08 40 04 20 10 50 04 20 05 25 03 15 05 25 03 15 10 50 08 40 09** 45 09## 45 12 60 10** 50 15* 18# 90 75 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 192 57% dos participantes eram sedentários, foi relatado uma prevalência de 33% de dor nos membros inferiores, 11,3% na região dorsal, e 17,2% no pescoço/cervical. No presente estudo foi encontrado um índice de 90% de dor na região quadril/membros inferiores do grupo sedentário. Mesmo havendo discrepância nos percentuais, em ambos os estudos, a região anatômica mais afetada foi a dos membros inferiores. Já no estudo de Carneiro et al. [20], a região anatômica mais afetada foi a dos ombros com uma prevalência de 72,7% nos últimos 12 meses e 45% nos últimos 7 dias. Para Branco et al. [21], em um estudo com professores de ambos os sexos relataram que 89,7% dos participantes demonstraram algum sintoma osteomuscular nos últimos 12 meses e as regiões mais afetadas foram a coluna dorsal 54,1%, pescoço 50,9% e coluna lombar 49,1%, resultados semelhantes ao presente estudo quando comparado os sintomas na coluna dorsal do grupo sedentário. No que se refere a dor lombar, Silva et al. [22], em um estudo epidemiológico com 3.182 pessoas adultas do sul do Brasil, relataram não encontrar associação entre a dor e o sedentarismo, esses achados vão de encontro aos resultados obtidos neste estudo. Porém Sculco et al. [23] verificaram o efeito de um programa de exercícios aeróbico sobre a dor lombar. Os resultados mostraram que o grupo que participou do programa de exercícios mostrou melhora na intensidade da dor e diminuição na ingestão de medicamentos em relação ao grupo controle. Pode-se observar, que tanto nos últimos doze meses como nos últimos sete dias, a região da coluna dorsal e quadril/ membros inferiores apresentaram sintomas osteomusculares frequentes no grupo controle, mas no grupo ativo estas queixas foram raras. Na região do pescoço, ambos os grupos relataram dores raramente. Na região da coluna lombar, a diferença estatística mostrou-se significativa apenas nos últimos sete dias, nos quais o grupo ativo relatou episódios raros de dor e o grupo sedentário apresentou episódios frequentes (tabela III). Na amostra estudada a maior frequência de dor tanto no grupo ativo como sedentário foi na região do quadril/ membros inferiores, já que nos últimos doze meses o grupo ativo apresentou uma taxa de 10% e o sedentário 45%; enquanto que nos últimos sete dias as queixas dolorosas foram de 7% no grupo ativo e 40% no sedentário. Em um estudo de Guerra et al. [24], com adultos de ambos os sexos, mostrou que 6,3% dos entrevistados apresentaram dor frequente no quadril/membros inferiores. Esse resultado é semelhante ao encontrado no grupo ativo do presente estudo, porém difere do resultado obtido no grupo sedentário. No referido estudo, 63,8% da amostra era composta por sedentários, porém não houve comparação entre os indivíduos ativos e sedentários quanto à prevalência e frequência de sintomas osteomusculares. Já Vitta et al. [25], em um estudo com adultos que exerciam atividades sedentárias e fisicamente leve, observaram que mulheres de meia-idade, independentemente do tipo de ocupação, apresentaram diferenças de respostas sempre significativas, nos últimos seis meses nos tipos de ocupação. Os homens de meia-idade que exerciam trabalho fisicamente leve referiram significantemente mais sintomas, nos últimos 6 meses e nos últimos 7 dias, já as mulheres sedentárias de meia-idade e as do grupo fisicamente leve jovens relataram significativamente mais sintomas. Portanto, há uma peculiaridade de predomínio da manifestação dos desconfortos nas mulheres, nos homens adultos jovens e de meia-idade que exercem trabalho fisicamente leve. Já Rittweger et al. [26] investigaram 60 indivíduos com dor lombar, com idades entre 40 e 60 anos, subdivididos em 2 programas, sendo o primeiro de exercícios de fortalecimento lombar e exercícios de resistência abdominal e dos músculos da coxa e, o segundo, de terapia de vibração. Ambos os programas foram realizados de 1 a 2 vezes por semana, por 12 semanas. Os resultados mostraram melhoras na intensidade da dor após ambos os programas, mas com maior êxito no grupo que realizou exercícios de fortalecimento. Tabela III - Frequência absoluta de aparecimento de sintomas osteomusculares (em percentagem). Região anatômica Pescoço/cervical Ombros Braços Cotovelos Antebraços Punhos/mãos/ Dedos Dorsal Lombar Quadril/Membros Inferiores Grupo ativo R Últimos 12 meses F Últimos 7 dias F S R S 07 21 07 03 03 07 † 07* 31 14 03 07 24 03* 07 10 03 03 03* 03 03 03 07 03 03 - 10** 03** 03** 10## 03## 21 24# 17 10# 07 14# 14** 17* 07** 07* † R Grupo sedentário Últimos Últimos 12 meses 7 dias F S R F S 40* 25 15 15 15 20 25* 15 35 10 10 25 -* 05 15 05 05 05 10 20 25 15 15 10 05 15 -† 05 -## 05** 25** 15** 05## 30## 10## -** -* 15 35# 30 45# 15 10# 10** 25* 30** 40* 10** 10* † *p = 0,001; **p = 0,03; #p = 0,004; # p = 0,007; †p = 0,009; R = Raramente; F = Frequentemente; S = Sempre. † † Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Algumas limitações do estudo precisam ser descritas. Este estudo não avaliou há quanto tempo os entrevistados do grupo ativo praticavam atividade física sistematizada, nem se procuraram esse tipo de atividade por apresentar algum sintoma osteomuscular. Conclusão Neste estudo, conclui-se que em relação aos últimos 12 meses o grupo ativo apresentou uma prevalência menor de sintomas osteomusculares nas regiões cervical e dorsal, quando comparado ao sedentário. Nos últimos 7 dias o grupo ativo apresentou uma quantidade menor de episódios dolorosos na região cervical, dorsal, lombar, quadril e membros inferiores em relação ao grupo sedentário. O que ratifica a importância da prática de atividade física regular para a manutenção da saúde e qualidade de vida Em ambos os grupos a região anatômica mais acometida por sintomas osteomusculares foi o quadril/membros inferiores, tanto nos últimos doze meses como em sete dias. Referências 1. Imamura ST, Kaziyama HHS, Imamura M. Lombalgia. Rev Med 2001;80:375-90. 2. Panjabi MM. Clinical spinal instability and low back pain. J Electromyogr Kinesiol 2003;13:371-379. 3. Monteiro FC, Kirkwood RN, Magalhães CM. 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O presente estudo verificou o efeito imediato da manipulação da terceira vértebra cervical e da décima segunda vértebra torácica, aplicadas isoladamente e em conjunto, sobre o limiar de dor à pressão em sujeitos assintomáticos e, ainda, comparou as técnicas empregadas. Sessenta universitários foram divididos nos grupos: simulacro (GS), manipulação cervical (GMC), manipulação torácica (GMT) e manipulação cervical e torácica (GMCT). O limiar de dor foi avaliado nos processos espinhosos de C3 e T12, antes e imediatamente após as intervenções. No grupo GS o limiar de dor à pressão diminuiu significativamente no processo espinhoso de T12; no grupo GMC não houve alteração significativa do limiar em C3, assim como no grupo GMT em relação a T12; no grupo GMCT houve aumento significativo no limiar somente no processo espinhoso de C3. As comparações intergrupos não foram significativas. Concluiu-se, portanto, que a manipulação associada de C3 e T12 aumentou o limiar de dor à pressão no processo espinhoso de C3, em universitários assintomáticos, porém, não houve superioridade na associação das técnicas em relação a sua aplicação isolada. Spinal manipulation is a manual treatment used, mainly, to treat musculoskeletal problems. Searches related this technique to numerous benefits, including pain relief. This study examined the immediate effect of third cervical vertebra and the twelfth thoracic vertebra manipulation, applied alone and together, on the pressure pain threshold in healthy subjects and, also, compared the employed techniques. Sixty healthy students were divided into the groups: sham (GS), cervical manipulation (GMC), thoracic manipulation (GMT), cervical and thoracic manipulation (GMCT). The pressure pain threshold was evaluated in spinous processes of C3 and T12 vertebrae, before and immediately after the interventions. In the GS group the pain threshold decreased significantly in the spinous process of T12; in the GMC group there wasn’t significantly change in C3 threshold, like GMT group in relation to T12 threshold; in the GMCT group the threshold increased significantly only in the spinous process of C3. Comparisons between groups were not significant. It was concluded that the associated manipulation of C3 and T12 increased the pressure pain threshold in the spinous process of C3, in asymptomatic subjects, but it wasn’t found superiority in the association of techniques in relation its stand-alone application. Palavras-chave: manipulação da coluna, limiar da dor, modalidades de fisioterapia. Key-words: spinal manipulation, pain threshold, physical therapy modalities. Recebido 2 de janeiro de 2012; aceito em 02 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Alberito Rodrigo de Carvalho, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Clínica Escola de Fisioterapia, Rua Universitária, 1619 – 85819-110 Jardim Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected], danieladere@gmail. com, [email protected], [email protected], [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Introdução A manipulação espinal é uma forma tradicional de tratamento manual, praticada por osteopatas, fisioterapeutas, fisiatras e quiropatas, com o objetivo principal de tratar problemas osteomusculares [1]. Nessa técnica, a partir de um impulso de baixa amplitude e de alta velocidade, conhecido como thrust, uma vértebra é movida passivamente de sua amplitude de movimento fisiológico, até o limite de sua integridade, o que produz um ajuste das articulações vertebrais [2-4]. Pesquisas relacionam a terapia manual a inúmeros benefícios, tais como relaxamento muscular, decorrente da atenuação da atividade dos motoneurônios alfa; restauração da função corporal fisiológica, devido ao reposicionamento dos segmentos vertebrais; e hipoalgesia, como consequência da inibição de impulsos nociceptivos e da liberação de beta-endorfinas [5-9]. Porém, a maioria dos estudos é inconclusiva quanto a real eficácia das técnicas [10-12]. Na literatura, em especial os estudos de meta-análise e revisões sistemáticas, na maioria das vezes, a inconsistência das evidências relacionadas aos resultados da terapia manual é atribuída a fatores metodológicos. Vieses tais como efeito placebo, estudos sem grupo controle, e falta de precaução contra riscos são, frequentemente, apontados como causa da baixa qualidade metodológica das pesquisas nesta área. Assim, ainda permanece a dúvida sobre se a utilização das manipulações espinais é uma forma eficaz de terapia [10-12]. Sujeitos com quadros álgicos decorrentes de doenças específicas como lombalgia, cervicalgia, cefaleia, dentre outras, têm sido comumente estudados após receberem algum tipo de manipulação vertebral, devido ao seu provável efeito no alívio da dor. Pickar [7] destaca a influência da técnica no fluxo de informações sensoriais para o sistema nervoso central, sugerindo que a manipulação afeta a entrada de impulsos nervosos nociceptivos, e altera, subsequentemente, o processamento central e a saída somatomotora ou somatovisceral. Apesar de grande parte das pesquisas relacionadas ao assunto envolverem sujeitos sintomáticos, a manipulação vertebral também parece ter efeito em sujeitos saudáveis. Estudo conduzido por Freyer, Carub e McIver [13] demonstrou que a aplicação de técnicas de manipulação globais na coluna torácica, em uma amostra assintomática, teve efeito imediato na sensibilidade dolorosa, quantificada pelo aumento no limiar de dor à pressão. Fernández-de-las-Peñas et al. [14] também observaram aumento no limiar de dor, bilateralmente, cinco minutos após manipulação de C7 e T1, em sujeitos assintomáticos. Sendo assim, e considerando a necessidade de dados conclusivos a respeito da manipulação vertebral, o presente estudo teve como objetivo geral verificar o efeito imediato da manipulação da terceira vértebra cervical, e da décima segunda vértebra torácica, aplicadas de forma isolada, e em conjunto, sobre o limiar de dor à pressão, em sujeitos assintomáticos. Como objetivo específico, pretendeu-se comparar as técnicas 195 empregadas, a fim de identificar a presença ou a ausência de superioridade de uma intervenção em relação à outra. Material e Métodos Ética e caracterização do estudo O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisas envolvendo seres humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), pelo processo no 483/2010, e caracterizou-se como ensaio clínico controlado de avaliador cego. Triagem e caracterização da amostra A amostra foi composta por estudantes da UNIOESTE, campus Cascavel/PR, recrutados a partir de convite verbal, realizado nas salas de aula da referida instituição. Após aceito o convite de participação, os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e foram submetidos a uma entrevista para identificação de possíveis fatores de não inclusão, dados de identificação e antropométricos. Como critérios de inclusão no estudo, os voluntários não deveriam praticar atividade física, de forma sistematizada, duas ou mais vezes na semana, por no mínimo 30 minutos, e ter disponibilidade para participar do estudo. Adotaram-se como critérios de exclusão: a positividade no teste de Decklein (que reproduz sintomatologia de insuficiência da artéria vertebral), para os sujeitos que receberam manipulação cervical, e coletas inadequadas. Os critérios de não inclusão foram: episódios de cefaleia frequentes, ou quadros de tonturas e vertigens; sintomatologia dolorosa sugestiva de compressão de raiz nervosa; cervicalgia; osteoporose; histórico de cirurgias cervicais, torácicas, ou no tornozelo dominante; presença de lesões musculoesqueléticas, crônicas ou agudas, na coluna vertebral; história de fraturas na região cervical e/ ou torácica; prática de exercício físico, mesmo que de forma esporádica, previamente à realização das intervenções; uso de corticosteróides em longo prazo, e/ou analgésicos, nos últimos dois dias pré-intervenção, alteração sensitiva, e ter recebido manipulação ou mobilização espinal nos cinco dias anteriores às intervenções. Sessenta e oito sujeitos aceitaram o convite de participação e foram entrevistados. Porém, apenas 60 completaram o estudo. Estes foram distribuídos aleatoriamente, por sorteio, em quatro grupos: grupo simulacro (GS), grupo manipulação cervical (GMC), grupo manipulação torácica (GMT) e grupo manipulação cervical e torácica (GMCT). Após a divisão da amostra, os voluntários realizaram o teste de Deckleyn, bilateralmente. Presença de sintomas tais como vertigem, tontura, turvação visual, náusea, sensação de desmaio, e/ou nistagmo, foram adotados como positividade do teste, indicando insuficiência da artéria vertebral do lado contralateral à rotação [15]. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 196 O processo de triagem da amostra, até a composição final dos grupos, pode ser visualizado na figura 1. Figura 1 - Fluxograma da triagem da amostra e composição final dos grupos (valores de idade, massa corporal [MC] e estatura, apresentados sob a forma de média e desvio padrão). 68 voluntários Não incluídos = 4 Prática de atividade física=3 Uso de analgésico prévio à intervenção=1 64 voluntários Excluídos = 4 Problemas na coleta = 3 Desistência antes da reavaliação = 1 60 voluntários GS (n = 15) Idade: 21,20 anos (± 1,37) MC: 57,11 kg (±11,62) Estatura: 1,61 m (± 0,06) GMT (n = 15) Idade: 21,80 anos (±1,78) MC:59,27 kg (± 7,10) Estatura: 1,62 m (±0,05) GMC (n = 15) Idade: 21,93 anos (± 2,46) MC: 59,67 kg (± 6,83) Estatura: 1,66 m (± 0,07) GMCT (n = 15) Idade: 21,53 anos (±1,55) MC: 61,84 kg (±7,78) Estatura: 1,69 m (±0,08) Caracterização dos pesquisadores O estudo foi conduzido na Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE, campus Cascavel, por três pesquisadores (denominados A, B e C), todos acadêmicos do curso de Fisioterapia da referida instituição. Os pesquisadores A e B foram responsáveis pela triagem da amostra, e pela aplicação das intervenções. O primeiro realizou a técnica de manipulação cervical, e o segundo, as de manipulação torácica e de mobilização de tornozelo (simulacro). O pesquisador C realizou as avaliações pré e pós-intervenção. Todos os pesquisadores foram preparados previamente em cursos específicos de terapia manual. Além disso, o pesquisador C recebeu treinamento do método de avaliação por algometria (limiar de dor à pressão) até que fosse capaz de aplicar o procedimento de forma ágil e se sentisse plenamente seguro para realizá-lo. Foi desenvolvido um estudo piloto, previamente à realização do trabalho, para aumentar a confiabilidade dos procedimentos utilizados no estudo. marcação das áreas a serem avaliadas, nos processos espinhosos da terceira vértebra cervical (C3), e da décima segunda vértebra torácica (T12), estando o voluntário deitado. Assim que esses procedimentos foram finalizados, iniciou-se a avaliação do limiar de dor à pressão, também de maneira cega, pelo pesquisador C. Para cegar o avaliador, utilizou-se as seguintes estratégias: o mesmo não participou do sorteio dos voluntários nos grupos de intervenção; a avaliação foi realizada em ambiente separado do ambiente das intervenções; os voluntários foram informados de que, em hipótese alguma, poderiam fazer comentários, com o avaliador, a respeito dos procedimentos recebidos; e, por fim, o tempo de permanência de cada voluntário no ambiente das intervenções foi padronizado para cinco minutos, de modo que o avaliador não conseguisse prever a técnica utilizada, considerando o tempo gasto na sala de intervenção. O limiar de dor foi mensurado por um algômetro de pressão, da marca Kratos®, modelo DDK-50 (São Paulo/ Brasil), capaz de exercer uma pressão de até 50 kgf (Figura 2). A pressão foi efetuada por uma extremidade circular de 1,2 cm de diâmetro, nos locais previamente marcados com lápis dermográfico, com o voluntário em decúbito ventral. A pressão aplicada foi mínima, inicialmente, aumentando até o ponto em que o voluntário referisse o início da dor/desconforto. Todos os voluntários foram instruídos a referir somente o início da dor, e não a máxima dor suportável. Ao sinal do voluntário, registrava-se a pressão, em quilogramas-força, marcada no visor do aparelho, correspondente à pressão mínima necessária para o início da sensação dolorosa no indivíduo. O limiar doloroso foi mensurado antes e imediatamente após as intervenções. Para cada local avaliado foram realizadas três medições, com intervalo de 20 segundos entre cada uma e, posteriormente, calculou-se a média dos três valores, para determinar o limiar de dor de cada ponto, como utilizado em outros estudos [13,16,17]. Figura 2 - Algômetro de pressão e extremidade circular. Procedimento de avaliação Previamente à avaliação, os participantes receberam uma vestimenta confortável e apropriada, cedida pelos pesquisadores, a fim de manter desnudos os locais de avaliação, e de facilitar os movimentos corporais durante as intervenções. Com auxílio de um lápis dermográfico, o pesquisador C fez a Procedimento de intervenção As intervenções foram realizadas por duas técnicas manipulativas de terapia manual, ambas em rotação, aplicadas na Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 coluna vertebral, e uma técnica de mobilização aplicada no tornozelo. Como não se pretendeu tratar as disfunções nas vértebras, as técnicas vertebrais foram realizadas bilateralmente. Já a mobilização do tornozelo foi realizada somente no membro dominante. Realizou-se, no GS, a mobilização do tornozelo para anterioridade tibiotársica, tendo como objetivo apenas simular uma intervenção, já que esta articulação está distante das emergências das raízes nervosas de C3 e T12. Para tanto, o voluntário foi posicionado em decúbito dorsal, e o terapeuta, lateralmente ao pé do lado dominante (identificado como a perna do chute), contornando a tíbia do voluntário com a mão cefálica, e segurando o calcâneo com a mão caudal. A mobilização consistiu em efetuar um deslizamento ântero-posterior da tíbia, em relação ao calcâneo, a partir de movimentos repetitivos e rítmicos, durante 30 segundos, perpendiculares à maca [18] (Figura 3). 197 Figura 4 - Manipulação cervical. Figura 5 - Manipulação torácica. Figura 3 - Mobilização do tornozelo. No GMCT foram aplicadas as duas técnicas descritas acima, na respectiva ordem. Tratamento estatístico No GMC, a técnica foi realizada com o voluntário em decúbito dorsal, e o terapeuta posicionado à cabeceira do indivíduo, tomando contato metacarpofalângico do indicador com o processo transverso de C3, e o polegar posicionado na mandíbula do voluntário. A outra mão repousou sobre a face do voluntário, e serviu de sustentação para a cabeça, durante a manipulação. Buscou-se parâmetros de flexo-extensão neutra da coluna cervical, rotação da mesma para o lado contralateral do contato até a resistência dos tecidos a este movimento, e discreta látero-flexão para o mesmo lado do contato. Por fim, foi dado um impulso de alta velocidade e baixa amplitude (thrust), em rotação cervical [18] (Figura 4). No GMT, o voluntário foi posicionado em decúbito lateral, com o membro inferior que se encontrava para cima em tríplice flexão, enquanto o membro inferior que permaneceu embaixo ficou estendido. O terapeuta se posicionou na frente do voluntário, na altura de T12, e controlou o tronco com o braço cefálico, enquanto o outro braço controlou a coluna lombar e a pelve. A coluna lombar foi, então, ajustada em flexão, até a tensão chegar no nível de T12. Foi imposta uma força brusca (thrust) de alta velocidade e de baixa amplitude, em rotação pélvica [18] (Figura 5). A normalidade dos dados foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk. Além da estatística descritiva na forma de média e desvio padrão, utilizou-se, para as comparações intergrupos, o teste de Kruskal-Wallis com pós-teste de Dunn’s, e para análise intragrupos, o teste de Wilcoxon. Para isolar o efeito da intervenção, e eliminar a influência da subjetividade da medida de dor, utilizou-se o delta percentual, que fornece o valor percentual de mudança, na variável, comparando-se os momentos pré e pós-intervenção. Esse valor foi obtido pela seguinte fórmula: Δ%= ([valor pós/valor pré]-1) x 100. Em todos os casos, a significância estatística adotada foi a = 0,05. Resultados As análises intragrupo, comparando-se os momentos pré e pós-intervenção, para cada local e grupo avaliado, podem ser visualizados no gráfico abaixo. Destaca-se que a diminuição do limiar de dor à pressão está relacionada à maior sensibilidade dolorosa. De modo inverso, o aumento do limiar caracteriza menor sensibilidade dolorosa. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 198 Limiar de dor à pressão (kgf) Figura 6 - Comparações intragrupo para os grupos GS, GMC, GMT, GMCT. Valores médios do limiar de dor à pressão e delta percentual (D%) em cada ponto avaliado. 8000 ∆%=3,759 7000 ∆%=-6,958 ∆%=-7,379 6000 * 5000 ∆%=13,08 ∆%=9,161 * 4000 ∆%=-0,02667 3000 2000 1000 0 PEC3 PET12 PEC3 PET12 PEC3 PET12 GS GMC GMT GMCT Pontos avaliados nos diferentes grupos Pré Pós *Diferença significativa em relação ao momento pré-intervenção. Observa-se no gráfico acima que no grupo GS, o limiar de dor à pressão diminuiu significativamente no processo espinhoso de T12. Já no grupo GMC não houve alteração significativa do limiar em C3. O mesmo ocorreu no grupo GMT em relação à décima segunda vértebra torácica. Por fim, no grupo GMCT, houve aumento significativo no limiar de dor à pressão somente no processo espinhoso de C3. As comparações intergrupos, tanto nos valores brutos do limiar de pressão, quanto no delta percentual, não foram significativas. Discussão A análise dos dados revelou que a aplicação das técnicas, cervical e torácica, isoladamente, não produz efeitos significativos sobre o limiar de dor à pressão. Porém, aumento significativo no limiar foi observado quando houve associação de tais técnicas. Estudos sugerem que a terapia utilizando duas ou mais técnicas possa ter maiores efeitos quando tais técnicas são comparadas isoladamente, devido ao sinergismo existente entre elas [19-22]. Contudo, no presente estudo não houve superioridade na associação das técnicas, pois a análise estatística mostrou igualdade entre as diferentes intervenções, evidenciada principalmente pelo delta percentual. Outro dado importante a ser observado é o fato de a manipulação na coluna cervical, associada à torácica, produzir efeitos apenas nas regiões cervicais. Cleland et al. [23] demonstraram que a aplicação de manipulação/mobilização espinal gera efeito imediato de hipoalgesia em articulações distantes do local da aplicação, sugerindo, então, que intervenções na coluna torácica podem diminuir dores cervicais e evitar riscos inerentes à aplicação dessa técnica na coluna cervical. Tal fato pode ser atribuído à relação biomecânica entre os diferentes níveis vertebrais. Revisão de Bronfort et al. [24] também conclui que a manipulação/mobilização torácica melhora quadros de cervicalgia aguda e crônica. A manipulação articular é comumente utilizada em pacientes com comprometimento vertebral, com o intuito de produzir analgesia. Resultados positivos relacionados à sua utilização têm sido observados, tanto em sujeitos sintomáticos [4,25-27] quanto assintomáticos [14]. Porém, apesar das evidências favoráveis à utilização da técnica, na prática clínica, sua eficácia e mecanismo de ação ainda precisam ser elucidados. Diferentes teorias têm sido utilizadas para tentar explicar o efeito analgésico da manipulação vertebral, como sua capacidade de influenciar o sistema nervoso simpático e a substância cinzenta periaquedutal, a partir de receptores presentes na coluna, produzindo vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo, aumento da amplitude de movimento, e diminuição de impulsos nociceptivos, por meio de um sistema inibitório descendente [28,29]. Outra hipótese é a ativação de receptores cutâneos, fusos musculares, mecanoceptores e terminações nervosas livres, presentes na cápsula articular e nos ligamentos da coluna, que seriam responsáveis por enviar impulsos aferentes inibitórios até o motoneurônio, diminuindo a compressão nervosa, o espasmo e a dor. Porém, isso parece ocorrer somente em curto prazo (20 a 30 segundos) [5,6]. Os resultados do presente estudo também foram identificados em curto prazo, ou seja, imediatamente após as intervenções. Entretanto, o tempo para reavaliação foi acima de 30 segundos, o que pode ter gerado perda do efeito da técnica sobre os limiares. Pesquisas verificaram mudanças na integração cortical de impulsos aferentes somatossensoriais após manipulação vertebral, levando a crer que o controle central também pode ser um dos mecanismos responsáveis pelo alívio da dor, e pela restauração da capacidade funcional após sua aplicação [29,30]. Ainda, acredita-se que a liberação de opióides endógenos pode ter ação analgésica pós-manipulação vertebral. Porém, há controvérsias nas pesquisas relacionadas ao assunto [8,31,32]. No presente estudo, pôde-se observar uma diminuição do limiar de dor à pressão no grupo simulacro, com significância estatística, o que pode indicar um possível efeito psicológico associado à técnica, como relatado em outras pesquisas envolvendo a manipulação vertebral [12,33]. Porém, a falta de grupo controle sem nenhum tipo de intervenção dificultou a observação desse aspecto, portanto, apresentou-se como limitação do estudo. Sugere-se que novos estudos nessa área sejam realizados, porém, com inclusão de amostra sintomática, identificação minuciosa das lesões osteopáticas, presença de grupo controle que não realize nenhum tipo de intervenção. Conclusão Concluiu-se, a partir do presente estudo, que a manipulação da terceira vértebra cervical e da décima segunda Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 vértebra torácica, aplicadas de forma conjunta, produziu aumento significativo do limiar de dor à pressão no processo espinhoso de C3, em universitários assintomáticos, porém não foi encontrada superioridade da intervenção associada das técnicas em relação a sua aplicação isolada. Referências 1. Ernst E, Canter PH. A systematic review of systematic reviews of spinal manipulation. J R Soc Med 2006;99:192-6. 2. Di Fabio RP. Efficacy of manual therapy. Phys Ther 1992;72:85364. 3. Kirkaldy-willis WH, Cassidy JD. Spinal manipulation in the treatment of low-back pain. Can Fam Physician 1985;31:535-40. 4. Cassidy JD, Lopes AA, Yong-hing K. The immediate effect of manipulation versus mobilization on pain and range of motion in the cervical spine: a randomized controlled trial. 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O estudo não randomizado, transversal, constou de 20 pacientes, divididos em dois grupos, que responderam o Questionário Lequesne, o qual avalia nível de dor e capacidade de locomoção, e realizaram os teste de Equilíbrio de Berg, de força muscular manual e goniometria para flexão e extensão de joelho. Não houve diferença significativa em relação ao equilíbrio entre os grupos, entretanto observou-se alteração goniométrica e de força muscular (p < 0,01). O teste de Lequesne mostrou-se uma ferramenta bastante significativa para avaliar pacientes com artrose mostrando diferença significativa entre os grupos (p < 0,0001). The osteoarthritis is a multifactorial etiology pathology that is directly linked to the functional deficit in elderly people. This work aimed to analyze the balance through the comparison between elderly with knee osteoarthritis and asymptomatic ones, practicing physical activities. The non-randomized study, transversal, consisting of a sample with 20 patients split in 2 groups whose components answered the Lequesne Questionary, that evaluates the level of pain and physical mobility, Berg Balance Scale, manual strength test and goniometry of the knee push up and extension. No significant difference was observed in relation to the balance between the groups, however a goniometric and muscular strength modification was observed (p < 0.01). The Lequesne test proved to be a very significant tool for evaluating patients with osteoarthritis and showed significant difference between groups (p < 0.0001). Palavras-chave: osteoartrose, joelho, equilíbrio, idoso. Key-words: orteoarthritis, knee, balance, aged. Recebido em 17 de janeiro de 2012; aceito em 3 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Rachel Pinheiro de Araújo Costa, Rua São Domingos, 556, Santa Mônica, 44077-465 Feira de Santana BA, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 201 Introdução Material e Métodos A osteoartrose (OA) pode ser definida como uma afecção crônica, degenerativa e de caráter progressivo que afeta as articulações sinoviais sendo o joelho a articulação mais comumente comprometida com 37% dos casos [1-3]. Sua incidência vem aumentando progressiva e proporcionalmente com a idade, de modo a tornar-se a desordem musculoesquelética mais comum em idosos com prevalência entre 12,2% e 30% em pessoas acima de 60 anos [2-6]. A etiologia da OA ainda é controversa, podendo ser classificada em primária ou idiopática; secundária a patologias traumáticas, inflamatórias ou infecciosas. O processo de degeneração articular caracteriza-se por erosão progressiva da cartilagem articular que resulta em redução do espaço articular, esclerose do osso subcondral, formação de osteófitos e cistos, além de inflamação sinovial. Os resultados desse processo são: dor, rigidez matinal e diminuição da funcionalidade [7-10]. Dentre os fatores de risco, pode-se destacar a obesidade, idade, predisposição genética, sexo feminino, atividades ocupacionais repetitivas e prática esportiva em alto nível [7,9,11]. O exame padrão ouro para o diagnóstico da OA é a radiografia por ser um exame não invasivo, de fácil acesso e que possibilita a detecção de uma série de alterações na estrutura articular características da osteoartrose. Entretanto, a ressonância nuclear magnética (RNM) tem-se mostrado ferramenta importante no processo de tomada de decisão clínica por possibilitar a visualização da degeneração da cartilagem articular, alterações sinoviais e quantidade de glicosaminoglicanas presentes [2]. O tratamento conservador é o de escolha em pacientes com artrose leve e moderada, podendo ser a base de anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos [4], fisioterapia [12] e uso de órteses com o objetivo de aliviar a sintomatologia[13]. Em caso de insucesso pode-se recorrer ao tratamento cirúrgico [9]. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de envelhecimento aponta para mudanças na estrutura etária da população brasileira com um crescimento da população idosa [14]. O processo de envelhecimento gera modificações funcionais e estruturais no organismo, contribuindo para o aparecimento de déficits de equilíbrio, entretanto idosos com OA de joelho podem estar mais propensos a tais alterações em detrimento da patologia. Sendo as quedas responsáveis por agravos à saúde do idoso nota-se a necessidade de identificar e prevenir fatores que contribuam para o evento traumático [15-17]. Este estudo teve como objetivo: comparar o equilíbrio em idosos com diagnóstico de osteoartrose de joelho e idosos assintomáticos para esta patologia. Este é um estudo não randomizado do tipo transversal que foi desenvolvido no serviço de fisioterapia do Ambulatório do Hospital Getúlio Vargas em Teresina/PI, de acordo com a portaria nº 2.528/06 que aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa [18]. Os idosos foram distribuídos em dois grupos no período de setembro a novembro de 2011, sendo o grupo I composto por 10 idosos (8 do sexo feminino e 2 do sexo masculino) com diagnóstico de OA de joelho atendidos no serviço de fisioterapia do Ambulatório do Hospital Getúlio Vargas em Teresina-PI; o grupo II composto por 10 idosos assintomáticos para a referida patologia e praticantes de atividade física regular, com igual distribuição por sexo. Os critérios de inclusão para o estudo foram idade igual ou superior a 60 anos, diagnóstico de osteoartrose de joelho e aceitar participar da pesquisa. Foram excluídos idosos com outras patologias de joelho: história previa de fratura articular do complexo articular do joelho, tumor ósseo de natureza maligna ou não, lesões ligamentares e ou meniscais; que realizaram artroplastia de joelho ou que possuíam distúrbios de ordem labiríntica, cerebelar ou qualquer patologia que comprometesse o equilíbrio. Seguindo os princípios da ética nas pesquisas envolvendo seres humanos de acordo com a resolução CNS 196/96, os participantes deram seu consentimento com livre arbítrio, após terem recebido orientações quanto ao projeto, assinado e recebido uma cópia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Piauí (protocolo 086/11). Cada paciente foi avaliado individualmente pela pesquisadora. Foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: Índice de Lequesne para verificar dor e capacidade de locomoção e Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) composta de 14 tarefas comuns que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico pontuadas de 0 a 4 com escore máximo de 56 pontos [7,19,20]. Ambos os instrumentos foram validados no Brasil e são utilizados em pesquisas científicas relativas à OA. Realizou-se ainda a prova de função muscular de quadríceps e isquiotibiais e goniometria para flexão e extensão de joelho. Para a análise estatística dos dados, utilizou-se o programa Bioestat 4.0 no qual se realizou a estatística descritiva e empregou-se o teste ANOVA para análise e comparação das variáveis nos dois grupos. Resultados Os 20 pacientes foram escolhidos por conveniência e possuíam idades entre 60 e 81 anos (média de 71 ± 6,46 anos). De acordo com o Questionário Algofuncional de Lequesne, 1 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 202 0 os pacientes incluídos no grupo I foram caracterizados com comprometimento muito grave ou extremamente grave para OA de joelho com pontuação mínima de 11 e máxima de 17,5 pontos (média 14,75 ± 2,23), enquanto que o grupo II não apresentou alteração funcional nos joelhos, pontuando “zero” para todos os questionamentos. Não foi encontrada diferença significativa nos escores da Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) com uma média de 42,7 ± 1,44 pontos para o grupo I e 54,2 ± 0,42 pontos para o grupo II como pode ser observado na Figura 1. Figura 1 - Escala do Equilibrio de Berg em pacientes dos grupos I e II. 60 FM flexão JD FM flexão JE FM flexão JD FM flexão JE I Grupo Grupo II Grupo II de Figura 2B -Grupo Comparação do grauI de força muscular de extensão joelho entre os grupos I e II. 0 5 0 4 0 1 3 2 1 55 0 50 45 40 35 Grupo I Grupo II A Figura 2 mostra diferença significativa no que se refere à força muscular para flexão (Figura 2A) e extensão (Figura 2B) de joelho quando comparados grupo I e grupo II (p < 0,01), entretanto não se pôde observar o mesmo na comparação entre membros do mesmo grupo. Figura 2A - comparação do grau de força muscular de flexão de joelho entre os grupos I e II. 5 2 2 1 FM Ext JD Grupo I FM Ext JE Grupo I FM Ext JD Grupo II FM Ext JE Grupo II Na comparação entre os grupos, a goniometria flexão do joelho mostrou-se significante (p < 0,01). Pôde-se verificar ainda uma tendência à significância para o ângulo de extensão (p < 0,054), porém na comparação entre indivíduos de um mesmo grupo não houve diferença significativa (Figuras 3 A e 3B). Figura 3A- Comparação entre as medidas da goniometria para flexão de joelho entre os grupos I e II. 200 150 75 1 25 25 60 100 4 50 3 2 0 1 Flex JD Grupo I FM flexão JD FM flexão JE FM flexão JD FM flexão JE Grupo I Grupo I Grupo II Grupo II 0 5 4 Flex JD Grupo II Flex JE Grupo II 200 15 0 Flex JE Grupo I 150 0 100 0 1 15 10 5 50 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 203 0 Flex JD FlexasJEmedidas FlexdeJDgoniometria Flex JE Figura 3B - Comparação entre para Grupo I Grupo I Grupo II Grupo II extensão de joelho entre os grupos I e II. 200 15 15 10 5 150 100 50 0 Ext JD Grupo I Ext JE Grupo I Ext JD Grupo II Ext JE Grupo II Discussão O conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta-se de forma inadequada na definição de saúde do idoso, posto que a maioria destes é portadora de ao menos uma doença crônica, podendo, entretanto, conviver com tais agravos desde que estes não produzam declínio da sua capacidade funcional e equilíbrio emocional [21]. O Índice de Lequesne foi aplicado nos pacientes incluídos no grupo I para verificação do grau de comprometimento provocado pela osteoartrose de joelho. Valores mais próximos de 22 pontos indicam comprometimento mais grave, de modo que a média de 14,5 está relacionada a níveis de dor e prejuízo na locomoção elevados, fatores limitantes à realização das atividades de vida diária (AVDs) [19]. O grupo II obteve pontuação zero para todos os itens questionados, de modo a confirmar a especificidade e confiabilidade do questionário para a avaliação da osteoartrose, corroborando os resultados de Sun et al. [22]. Em seu estudo, Missaoui et al. [23] relacionam o déficit de equilíbrio do paciente com gonartrose ao declínio da propriocepção e da força muscular, entretanto o autor relata que a relação entre postura e equilíbrio em distúrbios ortopédicos seja complexa. Embora a aplicação da EEB não tenha apresentado diferença estatisticamente significativa entre os grupos, a média de pontos obtida pelo grupo I foi 12 pontos abaixo da média do grupo II e este se mostrou mais homogêneo em relação ao primeiro que apresentou uma faixa de variação mais ampla da pontuação. Entre 54 e 56 pontos, tem-se uma associação com um risco de quedas de 9 a 12 % (grupo II), abaixo de 54 pontos, esse risco aumenta de 6 a 8% a cada ponto diminuído, o que representa um aumento das chances de quedas nos pacientes do grupo I. Para Mackintosh et al. [24], valores abaixo de 49 na EEB estão relacionados a um risco aumentado de quedas, fenômeno que para o idoso ainda representa um importante fator de risco de morte pela sua associação com fraturas, internações hospitalares, emergências e gastos com a saúde [20-24]. Treino de equilíbrio, atividade física, treino proprioceptivo e o uso de órteses para estabilizar a articulação do joelho são apontados como alternativas para a prevenção de quedas e melhora do equilíbrio estático e dinâmico desses pacientes [22,25,26]. O processo de envelhecimento gera um declínio da força e potência musculares, mas esta perda é mais pronunciada em pacientes com OA de joelho devido a fatores como dor, edema e degeneração articular [25,26]. Observou-se que o grupo I apresentou um déficit de força da musculatura flexora (Figura 2A) e extensora (Figura 2B) de joelho significativamente maior que o grupo II. A prática de atividade física regular pelos indivíduos do grupo II pode ser um fator determinante para este resultado por estar associada à prevenção/minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento, gerando um ganho ou uma manutenção da força, potência e resistência musculares, além de uma redução da dor e até mesmo melhora da qualidade de vida pelo convívio social que proporciona [26-30]. O idoso de uma maneira geral apresenta uma redução da mobilidade, entretanto entre aqueles que praticam atividade física verificou-se, mediante goniometria, valores mais elevados para flexão de joelho como demonstra a Figura 3A. A discrepância dos valores entre os grupos pode dever-se ao quadro clínico próprio da OA, que é fator limitante para a flexão de joelho. O exercício físico propicia a manutenção e/ ou o ganho de mobilidade, contribuindo assim para a variação encontrada. Metade dos pacientes do grupo I apresentou uma postura semi-fletida de joelho, entretanto não se pôde considerar significativa tal alteração na goniometria (Figura 3B) [28-32]. Conclusão O presente estudo verificou que não existe alteração do equilíbrio de idosos com osteoartrose de joelho sedentários quando comparados a idosos assintomáticos praticantes de atividade física, entretanto a força muscular e a flexibilidade apresentaram valores maiores nos pacientes do grupo II. Sugere-se a realização de estudos randomizados com maior amostra para comprovação de tais resultados. Referências 1. Almeida RFC, Queiroz AAB, Belloti JC, Castro-Filho JMB, Cohen M, Navarro RD. Approach towards total knee arthroplasty in Brazil: cross-sectional study. São Paulo Med J 2009;127(4):190-7. 2. Teichtahl AJ, Wluka AE, Davies-Tuck ML, Cicuttini FM. Imaging of knee osteoarthritis. Best Pract Res Clin Rheumatol 2008;22(6):1061-74. 204 3. Sowers, MaryFran R; Karvonen-Gutierrez, Carrie A. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 205 Artigo original Efeitos da eletroestimulação neuromuscular e exercício resistido sobre a atividade elétrica e força do bíceps braquial Effects of neuromuscular electrical stimulation and resistance exercise on electrical activity and strength of biceps brachii Josias Justino Cambinja Chaves*, Débora Mengue Maggi*, Willians Cassiano Longen, Ft, M.Sc**, Tiago Petrucci de Freitas, Ft, D.Sc.*** *Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), **Professor do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), ***Professor do Curso de Fisioterapia da Universidade Franciscano - UNIFRA Resumo Abstract A Eletroestimulação Neuromuscular (EENM) é uma técnica utilizada para promover fortaleci­mento muscular e melhora do desempenho físico. O objetivo deste estudo é analisar os efeitos da EENM na atividade elétrica e força do músculo bíceps braquial antes e após um protocolo de correntes de média frequência. A atividade elétrica muscular e a força isométrica foram avaliadas durante uma contração isométrica voluntária máxima com resistência. Através da Eletromiografia (EMG) realizou-se também o teste de 1 repetição máxima (1RM). Participaram deste estudo 22 indivíduos saudáveis com idade média de 26,77 ± 2,45 anos, randomizados em 4 grupos: Grupo Controle (GC n = 5), Grupo Exercício (GE n = 8), Grupo Eletroestimulação + Contração Isotônica (GEE n = 4) e Grupo Eletroestimulação + Contração Isométrica (n=5). O protocolo de eletroestimulação e treinamento foi aplicado numa frequência de 3 vezes por semana, perfazendo um total de 10 atendimentos. As estimulações foram realizadas nos pontos motores do músculo bíceps braquial. Os resultados deste estudo demonstram que o treinamento muscular voluntário, treinamento isotônico associado à eletroestimulação e treinamento isométrico associado à eletroestimulação sugerem um aumento da atividade elétrica muscular, força isométrica e força dinâmica, porém, sem diferenças significativas entre os grupos. The Neuromuscular Electrical Stimulation (NMES) is used to promote muscle strengthening and improvement of physical performance. The objective of this study was to analyze the effects of NMES on the electrical activity and strength of the biceps brachii before and after medium frequency currents protocol. The muscle electrical activity and isometric force were assessed during a maximal voluntary isometric contraction with resistance by Electromyography (EMG). It was also held the 1 repetition maximum (1RM). 22 healthy subjects participated in the study, 26.77 ± 2.45 years old, randomized into 4 groups: Control Group (GC n = 5), Exercise Group (GE n = 8), Electrical Stimulation + Isotonic Contraction Group (GEE n = 4) and Electrical Stimulation + Isometric Contraction Group (GEP n = 5). The electrical stimulation and training protocol was applied 3 times per week totalizing 10 sessions. The stimulations were performed in the motor points of the biceps brachii. The results indicated that voluntary muscle training, isotonic training associated with electrical stimulation and isometric training associated with electrical stimulation suggests an increase of muscle electrical activity, isometric and dynamic strength, however, without statistically significant differences between groups. Key-words: neuromuscular electrical stimulation, muscle electrical activity, muscle strength. Palavras-chave: estimulação elétrica neuromuscular, atividade elétrica muscular, força muscular. Recebido 19 de janeiro de 2012; aceito em 7 de maio de 2012 Endereço para correspondência: Tiago Petrucci de Freitas, Rua Conde da Figueira, 786, 91330-590 Porto Alegre RS, E-mail: prof_tiagofreitas@ yahoo.com.br 206 Introdução A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) tem sido um dos recursos amplamente utilizado nos últimos anos na prevenção, tratamento e manutenção dos diferentes distúrbios neuromusculares que podem afetar o ser humano. A EENM é uma técnica pela qual se aplica a corrente elétrica para evocar contrações musculares e produzir movimentos funcionais em indivíduos com doenças neurológicas ou promover fortaleci­mento muscular para melhora do desempenho físico [1]. Atualmente, estão disponíveis muitas modalidades de estimulação elétrica para serem utilizadas em programas terapêuticos. Quando empregadas judiciosamente, algumas são eficazes como adjuvantes de um programa terapêutico bem planejado [2]. No entanto, apesar de amplamente empregada, a EENM ainda apresenta situações adversas no que tange aos efeitos da mesma sobre a atividade elétrica e força, pois existem estudos que afirmam que “na condição voluntária os músculos mostram maior atividade; entretanto, sem diferenças entre si, ao passo que na presença do estímulo elétrico verifica-se uma diferenciação da atividade elétrica da musculatura” [3], diferentemente da teoria de Hoogland [4] que defende que “a corrente de média frequência tem maior eficácia no recrutamento de fibras do que a contração voluntária”. Colson et al. [5], em seus estudos, postula que treinamento com eletromioestimulação é mais eficiente do que treinamento isométrico para aumento da força dinâmica assim como força isométrica. Contrações isotônicas envolvem encurtamento ativo dos músculos e contrações excêntricas envolvem alongamento ativo dos músculos. Contrações isométricas produzem altos níveis de tensão para contrações mantidas sem movimento premeditado [6-7]. Segundo Roberto [8], a corrente elétrica pode aumentar o fluxo sanguíneo em 20% após 1 minuto de sua aplicação e perdurar 5 minutos após. Sendo que a EENM é um importante recurso utilizado em medicina esportiva para acelerar processos de recuperação e ganho de força [8,9]. A EENM vem se inserida no contexto atual como um recurso terapêutico de forma a melhorar a abordagem no restabelecimento das funções normais da musculatura esquelética, assim como no aumento do trofismo, força e desempenho em pessoas normais sem a necessidade de se realizar tanto esforço como nos programas convencionais [8,10,11]. Pode-se destacar que o músculo Bíceps Braquial (BB) é mais efetivo como flexor na posição de supinação do antebraço. Na posição de pronação, o BB tem mínima contribuição, mesmo contra resistência. Este músculo dá sua maior contribuição à ação de flexão, isto é, de 30° a 120° de flexão. Através da Eletromiografia (EMG) realiza-se estudo da atividade elétrica do músculo e com ela é possível quantificar a magnitude da resposta elétrica dos músculos durante a tarefa [12]. O uso da Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM), ao lado da cinesioterapia, tem sido um dos recursos mais uti- Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 lizados no fortalecimento muscular, assim como na prevenção de hipotrofia antes, durante e após os episódios de lesão [9]. O presente estudo objetivou verificar as alterações funcionais em relação à força e condução do estímulo elétrico, decorrentes da aplicação de um protocolo de EENM na musculatura esquelética do bíceps braquial, assim como verificar, através da eletromiografia expressa em Root Mean Square (RMS), o comportamento da condução do estímulo elétrico durante uma contração isométrica voluntária máxima contra a resistência. Paralelamente buscou-se analisar através de célula de carga da máquina Scott em Quilogramas-força (Kgf ) as alterações de força isométrica da musculatura esquelética e por fim levantar as alterações de força muscular dinâmica através de 1 Repetição Máxima (1RM), antes e após a aplicação de um protocolo de EENM. Material e Métodos Trata-se de um estudo experimental com pré e pós-teste, prospectivo, descritivo, quali-quantitativo e cego. A coleta de dados e aplicação do protocolo foi realizada de maio a julho de 2011 no Laboratório de Biomecânica da Universidade do Extremo Sul Catarinense/SC. Amostra A população do estudo foi constituída por 47 indivíduos de nacionalidade angolana, do sexo masculino, saudáveis matriculados nos diferentes cursos da UNESC no primeiro semestre de 2011. Sete (7) foram excluídos por não reunirem critérios de inclusão, 16 não compareceram nos dias da avaliação, 24 foram avaliados e 2 foram excluídos por desistência ao longo do programa, restando 22 acadêmicos, com idade média de 26,77 ± 2,45 anos, todos destros, que não praticavam atividade física regularmente, sem registro de dor ou disfunção atual e/ou recente no membro superior e coluna vertebral. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Santa Catarina, Brasil (Parecer n° 70/2011) e realizada no Laboratório de Biomecânica, localizado na Clínica de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Instrumentação A atividade elétrica muscular foi avaliada através da eletromiografia de superfície apresentado em RMS. A força muscular estática foi avaliada através da célula de carga da máquina Scott acoplada ao eletromiógrafo da marca EMG System do Brasil, foram utilizados eletrodos autoadesivos da marca Meditrace para a captação do sinal eletromiográfico apresentados em µV. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Análise estatística Os dados obtidos na pesquisa foram expressos e analisados estatisticamente utilizando o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0 for Windows como pacote estatístico. O nível de significância estabelecido para o teste estatístico foi α = 0,05 e o intervalo de confiança de 95% e realizadas comparações das variáveis quantitativas (força dinâmica, atividade elétrica e força isométrica) entre os grupos através da aplicação do teste T de Wilcoxon, seguido do teste de H de Kruskal-Wallis. Os valores das variáveis RMS, Kgf e 1RM foram expressos em Média ± Desvio Padrão (DP) com nível de significância de p < 0,05. Os dados obtidos foram organizados através de tabelas elaborados através do Microsoft Office Excel gráficos através do software SPSS versão 18. Resultados Atividade elétrica muscular em RMS Após a aplicação do protocolo houve uma tendência ao aumento na atividade elétrica expressa em RMS dos grupos GC (antes 482,03 ± 184,87 e depois 547,64 ± 294,72) tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,225), GEE (antes 566,04 ± 466,08 e depois 939,34 ± 399,71) variação que não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,068) e GEP (antes 601,12 ± 381,21 e depois 758, 20 ± 473,23) tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,225). Houve uma leve tendência à diminuição da atividade elétrica no grupo GE (de 1157,76 ± 582,64 para 1110,13 ± 540,83), tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,674). Comparando os grupos não se obteve resultados estatisticamente significativos (p < 0,05) sendo o valor de p = 0,277. Figura 1- Análise da atividade elétrica muscular em RMS. RMS1 2000,000 RMS2 1500,000 Mean O teste de força máxima dinâmica (Teste de 1 RM) foi realizado na máquina Scott tendo em conta a quantidade máxima de peso levantado em um esforço simples máximo fazendo o movimento de flexão do cotovelo contra resistência, e o indivíduo completou todo o movimento sem que pudesse repetir uma segunda vez, com um acréscimo ou diminuição de 5 Kg, que em alguns casos foi repetido com intervalo de 3 minutos de repouso. Nos grupos que fizeram eletroestimulação, o protocolo de EENM foi realizado com corrente russa da marca Endophasys-R ET 9701 de média frequência (2500 Hz) durante quatro semanas em sessões de vinte minutos. Para a estimulação elétrica, foram utilizados eletrodos modelo silicone-carbono e gel hidrossolúvel, com a limpeza prévia da pele com álcool a 70% e algodão. Utilizou-se uma adaptação do protocolo proposto por Roberto et al. [8], realizada nos pontos motores do músculo bíceps braquial em duas fases. Fase de adaptação ao aparelho: Os parâmetros utilizados foram de impulsos com duração de 200μs; frequência de 10Hz; tempo on de 9 segundos; tempo off de 9 segundos e tempo total de 5 minutos. Fase de fortalecimento: Os parâmetros utilizados foram de impulsos de 300μs; frequência de 50 Hz; tempo on de 9 segundos; tempo off de 9 segundos, duração de pulso: 0,3 ms, sendo 15 minutos total de aplicação, a amplitude da corrente foi aumentada gradualmente àqueles voluntários que se adaptaram facilmente [7,8]. A amostra foi dividida em quatro grupos experimentais distintos, divididos e randomizados por meio de sorteio de envelope em: Grupo Eletroestimulado Passivamente (GEP n = 5): Neste grupo foi aplicado o protocolo de corrente russa com os parâmetros descritos, onde o voluntário permaneceu sentado na máquina Scott com o cotovelo flexionado a 90°, mão supinada e dedos flexionados, realizando uma contração isométrica, durante os 15 min preconizados pelo protocolo. Grupos Eletroestimulado com Exercício (GEE n = 4): Neste grupo foi aplicado o protocolo de corrente russa com os parâmetros descritos, no qual o voluntário permaneceu sentado na máquina Scott, realizando flexão e extensão do cotovelo num ângulo de 30° a 120° [12] utilizando uma proporção de 6:6 entre os ciclos on e off, com contração contra a resistência com uma carga de 75% de 1 Repetição Máxima (1RM), realizando 3 séries de 12 repetições [13]. Grupo Exercício (GE n = 8): Neste grupo o voluntário permaneceu sentado na máquina Scott, realizando flexão do cotovelo num ângulo de 30° a 120° [9] contra a resistência com uma carga de 75% de 1 Repetição Máxima (1RM), realizando 3 séries de 12 repetições [13]. Grupo Controle - Não Estimulado e Sem Exercício (GC n = 5): Este grupo foi avaliado no início e no final da aplicação protocolo sem que durante o tempo da pesquisa realizassem quaisquer atividades de fortalecimento muscular de membros superiores. 207 1000,000 500,000 0,000 -500,000 GC GE GEE Grupo Error bars: 95% CI GEP Média da atividade elétrica muscular em μV RMS1: Antes do protocolo de EENM e RMS2: Após o protocolo de EENM. Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 208 Força isométrica em Kgf Força dinâmica 1RM Ao analisar a Força Estática (isométrica) nos diferentes grupos (Gráfico 2) verifica-se no GC (antes 27,07 ± 7,90 e depois 30,95 ± 6,54) que tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,138), GE (antes 39,00 ± 6,90 e depois 39,32 ± 5,80) variação que não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,401), GEE (antes 23,64 ± 5,45 e depois 35,85 ± 5,62) variação que não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,068) e GEP (antes 24,55 ± 5,31 e depois 31,27 ± 5,49) tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,138). Ao analisar os resultados, verifica-se que não houve diferenças estatisticamente significativas no incremento na força dinâmica em 1RM em todos os grupos (Gráfico 3). GC (antes 30,00 ± 7,90 e depois 33,00 ± 4,47) tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,180), GE (antes 34,38 ± 6,23 e depois 36,25 ± 5,82) variação que não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,083), GEE (antes 23,75 ± 2,50 e depois 31,25 ± 2,50) variação que não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,063) e GEP (antes 26,00 ± 8,22 e depois 31,00 ± 8,22) tal variação não mostrou diferença estatística significativa (p = 0,059). Figura 2 - Análise da força estática em Kgf. Figura 3 - Análise da força dinâmica 1RM. KGf1 50,000 Mean Mean RM2 40,00 40,000 30,000 20,000 30,00 20,00 10,000 0,000 RM1 50,00 KGf2 10,00 GC GE GEE Grupo Error bars: 95% CI GEP Média da Força Isométrica muscular em Kgf Kgf1: Antes do protocolo de EENM e Kgf2: Após o protocolo de EENM. Comparando os grupos não se obteve resultados estatisticamente significativos (p < 0,05) sendo o valor de p = 0,052. 0,00 GC GE GEE Grupo Error bars: 95% CI GEP Média da Força muscular Dinâmica em Kg RM1: Antes do protocolo de EENM e RM2: Após o protocolo de EENM. Comparando os grupos não se obteve resultados estatisticamente significativos (p < 0,05), sendo o valor de p = 0,195. Tabela I - Análise das médias antes e após a aplicação do protocolo de EENM. Antes (X ± DP) Depois (x ± DP) Valor de p pareado Valor de p GC GE GEE GEP 482,03 ± (184,87) 1157,76 ± (582,64) 566,04 ± (466,08) 601,12 ± (381,21) 547,64 ± (294,72) 1110,13 ± (540,83) 939,34 ± (399,71) 758, 20 ± (473,23) 0,225 0,674 0,068 0,225 0,277 GC GE GEE GEP 27,07 ± (7,90) 39,00 ± (6,90) 23,64 ± (5,45) 24,55 ± (5,31) 30,95 ± (6,54) 39,32 ± (5,80) 35,85 ± (5,62) 31,27 ± (5,49) 0,138 0,401 0,068 0,138 0,052 GC GE GEE GEP 30,00 ± (7,90) 34,38 ± (6,23) 23,75 ± (2,50) 26,00 ± (8,22) 33,00 ± (4,47) 36,25 ± (5,82) 31,25 ± (2,50) 31,00 ± (8,22) 0,180 0,083 0,063 0,059 0,194 RMS Kgf 1 RM Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Ao serem comparados os grupos GC, GE, GEE e GEP, quanto as variáveis RMS, Kgf e 1RM antes e após a aplicação do protocolo, observou-se uma tendência ao aumento da atividade elétrica muscular, força estática e força dinâmica, porém a diferença encontrada não foi estatisticamente significativa (p > 0,05). A comparação entre os grupos, após aplicação do protocolo, forneceu distintos valores, ficando evidente a maior atividade elétrica muscular no GE, porém, as diferenças observadas entre as médias dos grupos não foi estatisticamente significativa (p > 0,05). Discussão A Eletroestimulação Neuromuscular (EENM) tem sido um dos recursos que tem sido utilizado nos últimos anos na prevenção, tratamento e manutenção dos diferentes distúrbios neuromusculares aos quais o ser humano está exposto no seu dia a dia. A velocidade da condução nervosa pode ser testada em qualquer nervo periférico que seja superficial ou suficiente para ser estimulado através da pele em dois pontos diferentes [7]. Exercícios de fortalecimento (treinamento de força) é o procedimento sistemático, de um músculo ou grupo muscular, de levantar, abaixar ou controlar cargas pesadas (resistência) durante um número relativamente baixo de repetições ou um curto período de tempo [14]. O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos da eletroestimulação neuromuscular sobre a atividade elétrica e força do músculo bíceps braquial. Pode-se observar que houve uma maior tendência ao aumento na atividade elétrica muscular no grupo GEE do que GEP se comparada o antes e após a aplicação do protocolo de corrente russa, o que vai de encontro com o estudo e revisão sistemática de Dehail [6] que afirma que técnicas de eletroestimulação combinadas são mais eficientes do que apenas a eletroestimulação. Estudo feito por Colson et al. [5] mostrou que o treinamento com eletroestimulação é mais eficiente do que treinamento isométrico voluntário tanto para a melhora da força isométrica como dinâmica, assim como no grupo GC. Houve uma leve diminuição da atividade elétrica no grupo GE o que é contraditório com o estudo de LaRoche [15] que, após o treinamento, verificou um aumento da atividade elétrica muscular através da EMG. Estudos de Oliveira [16] demonstram que nos diferentes posicionamentos da articulação do joelho, em todos os grupos analisados, os valores da atividade elétrica em RMS dos músculos vasto medial oblíquo e vasto lateral oblíquo, na análise intragrupo, não apresentaram diferença estatisticamente significativa, pós-treinamento com EENM. De Luca [17] em seu estudo afirma que os músculos com fibras de diâmetro maiores, tais como aquelas pertencentes às unidades motoras de limiar mais alto, teriam maiores velocidades de condução, que, por sua vez, mudariam o espectro de frequência em direção as altas taxas. Consequentemente, o valor da frequência mediana aumentaria. 209 Houve uma tendência a aumento na força muscular durante a contração isométrica voluntária máxima (CIVM) nos grupos, GE, GEE e GEP. Achados em estudos anteriores de Ávila [18] demonstraram que houve um aumento da força isométrica após Exercício e Exercício + EENM, porém não encontraram diferenças significativas entre grupos. Currier et al. [19] compararam o treinamento isométrico por meio da CVM e a associação desse exercício a EENM também em indivíduos saudáveis. Os resultados apontaram que ambos os treinamentos produziram um ganho de torque semelhante, não havendo diferenças significativas. Selkowitz [20] em uma ampla revisão da EENM de média frequência, realizada em 1989, apresenta evidências convincentes de fortalecimento, entretanto, notou que há poucas evidências de que os ganhos de força sejam superiores aos exercícios voluntários ou associados à EENM. Fato que vai de encontro com Oliveira [16] que postula que não podemos afirmar que a associação da contração isométrica voluntária a EENM gera maiores valores de força muscular pós-treinamento. No caso da EENM, o aumento da força muscular pode se dar em virtude de adaptações orgânicas, como o aumento do fosfato de creatina, diminuição do consumo de adenosina trifosfato intramuscular e alterações no pH intracelular [21]. Verificou-se um aumento na força dinâmica mensurada através do teste de 1 repetição máxima (1RM) em todos os grupos com ênfase nos grupos GEE e GEP o que vai ao encontro dos estudos de Wayne, Pires e Ward [22,23,11] que concluem que correntes de média frequência são eficientes quando a meta é produzir um torque máximo do músculo assim como para protocolos de reabilitação. Não houve diferença estatisticamente significativa entre o grupo GE, GEE e GEP cujos resultados corroboram o estudo feito por Ávila [18] no qual os grupos aumentaram seu pico de torque em ambas as modalidades testadas, sem diferença entre o grupo Exercício e Exercício+EENM. Outra pesquisa descreve que houve aumento de força e hipertrofia em idosos em treinamentos com 50% de 1RM [24]. Estudos realizados por Callaghan et al. [25] compararam dois regimes de EENM para reabilitação do músculo quadríceps em indivíduos portadores da disfunção fêmuro-patelar, constatando que ambos os regimes geraram maiores valores de força muscular após o período de treinamento, demonstrando, assim, um efetivo fortalecimento do músculo quadríceps através da EENM. Delitto & Snyder-Mackler [26] afirmam que o aumento da força muscular pela EENM envolve o mesmo mecanismo do exercício voluntário, isto mostra que o aumento de força depende do aumento da carga funcional o que pode ser associado à afirmação de que “quanto maior a capacidade de produção de força, maior a vantagem obtida com o uso da EENM” [27]. Conclusão Um bom conhecimento da aplicação da EENM poderá otimizar o seu uso tanto para a clínica como para programas de reabilitação física que envolvem fortalecimento muscular. 210 Neste estudo os resultados sugerem que o treinamento muscular voluntário, treinamento isotônico associado à eletroestimulação e treinamento isométrico associado à eletroestimulação demonstram uma tendência para o aumento da atividade elétrica, força isométrica e força dinâmica em jovens saudáveis sem diferenças estatisticamente significativas. Os valores muito altos dos desvios-padrão indicam dispersão considerável dos valores ao redor da média, o que pode ter ocorrido em função do tamanho reduzido dos grupos pesquisados. Pode-se assim constatar que a EENM é efetiva para programas que visem o fortalecimento muscular e a melhoria da atividade elétrica muscular, porém sem diferença se comparada ao exercício voluntário. Apesar de não apresentar diferenças significativas entre os grupos o presente estudo sugere deste modo, uma análise com um tempo maior de treinamento muscular para os diferentes grupos assim como maior tempo para adaptação neuromuscular. Referências 1. Faller L, Neto GNN, Button VLSN, Nohama P. Avaliação da fadiga muscular pela aplicação de um protocolo de EENM. Rev Bras Fisioter 2009;13(5):422-9. 2. Kendall FP. Músculos: provas e funções. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2007. 3. Franciulli PM, Bigongiari A, Souza FA, Araújo RC, Mochizuki L. A somatória de estímulos voluntários e eletricamente eliciados aumenta o torque articular? Biosci J (online) 2008;24(3):80-5. 4. Hoogland R. Strengthening and stretching of muscles using electrical current. Delft: Enraf Nonius; 1988. 5. Colson SS, Martin A, Van Hoecke J. Effects of electromyostimulation versus voluntary isometric training on elbow flexor muscle strength. J Electromyogr Kinesiol 2009;19:311-9. 6. Dehail P, Duclos C, Barat M. 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Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 211 Artigo original Síndrome de Down: correlação entre o desempenho funcional com a força de preensão palmar e a destreza manual Down syndrome: correlation between functional performance with the hand strength and the manual dexterity Aline Bernardes de Souza, Ft., M.Sc.*, Raquel Cymrot, M.Sc.**, Denise Vianna, D.Sc.***, Fátima Caromano, D.Sc.****, Silvana Maria Blascovi-Assis, D.Sc.***** *Fisioterapeuta,**Professora do Curso de Engenharia da Universidade Prebisteriana Mackenzie, ***Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Prebisteriana Mackenzie,****Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade de São Paulo,*****Professora do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Prebisteriana Mackenzie Artigo baseado em dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011 Resumo Abstract Introdução: A síndrome de Down (SD) é uma alteração cromossômica relacionada a uma deficiência mental que apresenta entre outras características hipotonia muscular, pequeno tamanho de mãos e dedos e atraso na motricidade global. A mão humana possui características e habilidades únicas que são importantes para o desenvolvimento e para a independência funcional de qualquer indivíduo. Objetivo: Investigar a correlação da força de preensão palmar e da destreza manual no desempenho funcional dos indivíduos com síndrome de Down. Material e métodos: Participaram deste estudo 70 crianças e jovens (35 indivíduos com síndrome de Down e 35 com desenvolvimento típico), de 7 anos e 6 meses a 14 anos, agrupados em três faixas etárias: 1 (7 anos e 6 meses aos 8 anos), 2 (9 aos 11 anos) e 3 (12 aos 14 anos). Estes foram avaliados através do Teste Caixa e Blocos, do dinamômetro Jamar® e pelo Inventário de Avaliação PEDI. Resultados: O grupo com síndrome de Down demonstrou um rendimento inferior em todas as atividades quando comparado ao grupo controle. A correlação estatística entre as variáveis mostrou a existência de uma relação positiva e linear entre a força de preensão palmar e a área de autocuidado. Conclusão: Este estudo demonstrou que dentre as variáveis estudadas, o indivíduo com síndrome de Down apresenta um déficit de força de preensão palmar, um atraso no desempenho funcional e uma constância na destreza manual dentre as faixas etárias avaliadas. E que há uma influência da força de preensão palmar no desempenho funcional das atividades relacionadas à área de autocuidado do PEDI. Introduction: Down syndrome (DS) is a chromosomal abnormality related to mental retardation which has among other features hypotonia, small hands, short fingers and a delay in motor skills. The human hand has unique abilities and characteristics that are important to the development and functional independence of any individual. Objective: To investigate the correlation between hand grip strength and manual dexterity on the functional performance of individuals with Down syndrome. Methods: Participants were 70 children and young people (35 individuals with Down syndrome and 35 typical development), 7 years and 6 months to 14 years, grouped into three age groups: 1 (7 years and 6 months to 8 years), 2 (9 to 11 years) and 3 (12 to 14 years). These were evaluated using the Box and Block Test, Jamar® dynamometer and the Inventory Assessment PEDI. Results: The group with Down syndrome showed a lower performance in all activities when compared to the control group. The statistical correlation between the variables showed the existence of a positive and linear relationship between hand strength and the area of self-care. Conclusion: This study showed that among the variables studied, the individual with Down’s syndrome have a deficit of handgrip strength, a delay in functional performance and consistency in handedness among age groups. And there is an influence of hand grip strength on the functional performance of activities related to the PEDI self-care area. Key-words: Down syndrome, motor skills, hand strength, activities of daily living. Palavras-chave: síndrome de Down, destreza motora, força da mão, atividades cotidianas. Recebido em 23 de fevereiro de 2012; aceito em 21 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Silvana Maria Blascovi-Assis, Rua da Consolação, 930, prédio 16, sala 6, 01302-090 São Paulo SP, Tel: (11)21148707, E-mail: [email protected]; [email protected] 212 Introdução Entre as alterações cromossômicas relacionadas à deficiência intelectual, a Síndrome de Down (SD) é a mais comum, possuindo características típicas de fácil reconhecimento logo após o nascimento [1,2]. São diversas as alterações clínicas associadas à síndrome, com gravidade distinta entre os envolvidos [3]. Dentre as principais caraterísticas aparecem as alterações na linguagem e cognição, hipotonia muscular, frouxidão ligamentar, atraso na motricidade global, tamanho reduzido de pés e mãos com abdução do quinto dedo, braquicefalia, protrusão de língua, obesidade, entre outras [2-6]. A mão é uma das principais ferramentas do homem em seu dia a dia que se destina a inúmeras funções e objetivos apresentando características únicas de habilidades como o controle da força e da precisão durante uma tarefa, o transporte, a manipulação e a preensão de objetos. Estas podem ser modificadas ou aprimoradas de acordo com as necessidades individuais de cada um [7]. Alterações no tamanho das mãos e dos dedos, somados a algumas características clínicas das pessoas com SD, como a hipotonia, a frouxidão ligamentar e as suas disfunções nervosas centrais, podem influenciar nas habilidades motoras finas, na preensão de objetos, na aquisição da escrita e na definição da preferência manual destes [8,9]. A interação entre a patologia e a idade dos indivíduos com SD já foi avaliada por Mancini e seus colegas [10], em 2003, através de seu desempenho funcional, demonstrando que os mesmos possuem um atraso motor de um ano a um ano e meio e que necessitam de ajuda externa para a execução de atividades de vida diária. Portanto, buscou-se através deste estudo investigar a correlação da força de preensão palmar e da destreza manual no desempenho funcional de pessoas com SD. Material e Métodos Este estudo contou com a participação de 70 crianças e jovens, com idades entre 7 anos e 6 meses a 14 anos, sendo 35 pessoas com SD, que constituíram o grupo com síndrome de Down (GSD) e 35 com desenvolvimento típico que formaram o grupo controle (GC). Os participantes foram subdivididos em três grupos, por faixa etária. O grupo 1 foi composto pelos sujeitos com idades entre 7 anos e 6 meses a 9 anos incompletos, o grupo 2 com idades de 9 anos a 12 anos incompletos e o grupo 3 a faixa etária de 12 anos a 15 anos incompletos. Os cuidadores das crianças e jovens com SD também fizeram parte desta pesquisa respondendo o Inventário de Avaliação PEDI. Foram excluídos desta pesquisa crianças e jovens com SD que apresentassem alterações ortopédicas e neurológicas associadas à síndrome e/ou problemas auditivos e visuais que interferissem na execução dos testes. Crianças e jovens com desenvolvimento típico que apresentassem diagnóstico de doença ou distúrbio do desenvolvimento e que fizessem Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 uso de medicação sistemática também foram excluídas do grupo controle. A pesquisa foi realizada em quatro instituições especializadas no atendimento à criança com necessidades especiais e em duas escolas regulares do ensino público em cidades do interior do estado de São Paulo. A coleta dos dados ocorreu nas dependências das instituições participantes, em acordo com seus representantes legais. Todos os procedimentos foram realizados em um único momento e por um avaliador que durou em torno de 1h. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob processo CEP/ UPM nº 1213/04/2010 e CAAE nº 0021.0.272.000-10 e seguiu todos os procedimentos éticos exigidos, sendo realizado no período de outubro de 2010 a junho de 2011. A destreza manual foi avaliada pelo Teste de Caixa e Blocos [11] no qual o participante deve transferir os cubos presentes num compartimento da caixa para o outro compartimento por um minuto, contabilizando o número de cubos transpassados. A caixa de madeira apresenta 53,7 cm de comprimento com divisória central mais alta que as bordas da caixa, separando-a em dois compartimentos de iguais dimensões. Os blocos também de madeira têm a forma de cubo, com 2,5 cm de diâmetro, sendo 150 peças. Para este procedimento, seguiram-se as orientações de Germano [12] quanto à contagem dos blocos transferidos, na tentativa de manter o foco do participante na tarefa. Para a mensuração da força de preensão palmar utilizou-se o dinamômetro Jamar® [13] que se constitui num sistema hidráulico de aferição, de uso simples e leitura rápida e direta. Para isto, o avaliado permaneceu sentado, com os pés apoiados no chão e o joelho e quadril em flexão de 90°. O dinamômetro foi sustentado pelo avaliador durante a execução do teste e sua barra ajustada de acordo com o tamanho da mão do avaliado. Para a análise do desempenho funcional dos participantes utilizou-se o Inventário de Avaliação Pediátrica – PEDI [14], que se compõem por um questionário de avaliação das habilidades funcionais de crianças de 6 meses a 7 anos e 6 meses de idade, podendo ser utilizado em idades superiores desde que estas possuam um desempenho condizente com a faixa etária proposta pelo inventário e seja utilizado o seu escore contínuo. Este questionário se subdivide em três partes: 1) habilidades funcionais, 2) assistência do cuidador e 3) modificações inseridas no ambiente físico na rotina da criança, e apresenta em cada parte três áreas de avaliação, sendo estas, autocuidado, mobilidade e função social. Para este estudo foi considerada somente a parte 1 do inventário, nas áreas de autocuidado e mobilidade, por apresentarem maior foco na atividade manual. Os testes foram repetidos por três vezes e realizados com a mão dominante, definida após a aplicação do teste de mímicas proposto por Negrini [15] considerando-se sempre o melhor resultado obtido para cada participante. Os dados coletados foram analisados com o auxílio do programa estatístico Minitab®. Nesta pesquisa adotou-se para Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Resultados Para todos os procedimentos realizados, o grupo com SD apresentou um desempenho inferior quando comparado ao GC. A análise da destreza manual não demonstrou um crescimento nas médias das três faixas etárias avaliadas, tendo uma constância em seu desempenho (P = 0,072). Já o GC, apresentou uma evolução desta habilidade com o avanço da idade (P = 0,000), ou seja, com o passar dos anos estes conseguiram transferir mais blocos por minuto, conforme Figura 1. Figura 2 - Comparação da força de preensão palmar entre GSD e GC por faixa etária. 35 F. P. P. Dominante 30 25 20 15 10 0 Faixa Etária Grupo 2 3 controle 1 2 SD 3 Figura 3 - Evolução do desempenho na área de autocuidado para GSD. PEDI-1 no grupo SD 100 90 80 70 60 50 1 2 Faixa Etária 3 Figura 4 - Evolução no desempenho da mobilidade para GSD. PEDI-2 no grupo SD 80 70 PEDI-1 F. P. P. Dominante A força de preensão palmar aumentou de acordo com o aumento da idade, tanto para GSD (P = 0,030) como para GC (P = 0,000). Para o GSD, a terceira faixa etária foi a que apresentou maior evolução no ganho de força (Figura 2). 1 A análise do desempenho funcional foi realizada somente no GSD através de seu escore contínuo. A área de autocuidado (PEDI-1) apresentou uma diferença nas médias das três faixas etárias estudadas demonstrando uma evolução no desempenho desta função (P = 0,01) com o passar dos anos, como mostra a Figura 3. Porém, a área de mobilidade (PEDI-2) não apresentou o mesmo dado demostrando um rendimento muito próximo em todas as três faixas etárias avaliadas (P = 0,186; Figura 4). Figura 1 - Comparação do desempenho na destreza manual entre GSD e GC por faixa etária. Caixa de blocos (mão dominante) por faixa etária e grupo 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Faixa Etária 1 2 3 1 2 3 controle SD Grupo Força de preensão Palmar (mão dominante) por faixa etária e grupo 5 PEDI-1 todos os testes de hipóteses realizados um nível de significância igual a 5% sendo, portanto, rejeitadas todas as hipóteses cujos testes apresentaram níveis descritivos do valor-P ≤ 0,05. Realizou-se o teste Quiquadrado de independência entre pares de variáveis para comprovar a semelhança quanto às faixas etárias nos grupos estudados. Foram realizadas análises descritivas dos dados, além de testes de aderência à distribuição Normal. Ao se comparar a média de três grupos (no caso das respostas em função da faixa etária) foram realizadas análises de variância. Quando a variável tinha distribuição Normal, foi realizada a análise de variância paramétrica que se utiliza do teste F de Fisher. No caso de rejeição da hipótese de igualdade das médias nos três grupos, foram calculados os contrastes dois a dois pelo método de Tukey. A análise de variância não-paramétrica foi realizada por meio do teste de Kruskal-Wallis. Na comparação de médias para duas amostras (GSD e GC) não pareadas com variâncias desconhecidas foi utilizado o teste t-de Student. Para testar a igualdade de variâncias utilizou-se o teste F de Fisher, quando ambas as variáveis tinham distribuição Normal, e teste de Levene, caso contrário. Foram também testadas diversas correlações lineares entre pares de variáveis aleatórias utilizando-se o coeficiente de correlação linear de Pearson. 213 60 50 40 1 2 Faixa Etária 3 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 214 A correlação entre o desempenho funcional dos sujeitos e a destreza manual para a variável autocuidado não apresentou uma relação positiva e linear (r = 0,304; P = 0,076), o mesmo acontecendo para as variáveis mobilidade e força de preensão palmar (r = 0,312; P = 0,068). Para estes casos, nota-se que o nível descritivo está próximo de 5% e inferior a 10%, sendo necessárias pesquisas futuras com maior tamanho de amostra para confirmar ou não tal conclusão. Na área de mobilidade também não foi observada relação positiva e linear para a correlação entre o desempenho funcional e a destreza manual (r = 0,154; P = 0,377). A correlação entre a força de preensão palmar e a área de autocuidado (PEDI-1) mostrou relação aproximadamente linear crescente entre as habilidades envolvidas (r = 0,508; P = 0,002), conforme observado na Figura 5. Figura 5 - Correlação entre desempenho na área de autocuidado e FPP para GSD. PEDI-1 vs Força de preensão palmar dominante 110 100 PEDI-1 90 80 70 60 50 0 5 15 10 Faixa Etária 20 Discussão Em todas as variáveis estudadas o escore final confirmou o atraso generalizado [8,9,16] para o desenvolvimento da pessoa com SD indicando a possível relação entre o seu desempenho e suas características típicas, como a hipotonia muscular, a frouxidão ligamentar, os déficits motores e intelectuais que formam o seu quadro clínico [5,17-20]. O Teste de Caixa e Blocos proposto por Mathiowetz et al.[11] foi utilizado por pacientes com esclerose múltipla no Brasil [21] e foi escolhido para este estudo pela sua facilidade de aplicação. Germano [12] e Priosti [22] foram as pioneiras no seu uso com pessoas com SD. Da mesma forma como as autoras, este estudo não observou uma evolução da destreza manual dentre as faixas etárias avaliadas, que se mantiveram constantes, no GSD diferentemente do encontrado no GC. A força de preensão palmar evoluiu com o decorrer da idade em ambos os grupos sendo sempre inferior no GSD em relação ao grupo controle. Nas pessoas com SD observa-se que o maior ganho de força ocorreu entre a segunda e terceira faixa etária diferentemente dos integrantes do GC que ocorreu entre a primeira e segunda faixa etária. A comparação da força isométrica de preensão palmar entre os gêneros masculino e feminino e, entre os lados, direito e esquerdo, em pessoas com SD de 14 a 44 anos foi feita por Silva et al. [23] com a dinamometria handgrip, permitindo demonstrar que o sexo feminino apresenta desempenho inferior ao masculino em relação a força de preensão palmar em ambas as mãos. Os autores comentam que os indivíduos com SD apresentam força muscular reduzida em relação a indivíduos normais ou com retardo mental sem a SD, da mesma forma como observado por Priosti [22] em seu estudo com crianças com SD de 7 a 9 anos. As habilidades funcionais de autocuidado e mobilidade, avaliadas pelo Inventário PEDI [14], demonstraram que a pessoa com SD apresenta atrasos no desempenho funcional, mesmo em idades superiores as que já haviam sido estudadas por Mancini et al. [10], de 2 e 5 anos. Uma vez que a maioria dos sujeitos apresentou um rendimento abaixo de 100% para a área de autocuidado e, todos, abaixo de 100% para a área de mobilidade. Esses resultados indicam a persistência no atraso de habilidades funcionais para as duas áreas estudadas. Observou-se, também, que a área de autocuidado foi influenciada pela força de preensão, mas não pela destreza manual. Este fato pode estar relacionado à própria definição de destreza manual de Magill [24], que relaciona esta habilidade com a velocidade de execução de tarefas, diferentemente do PEDI que avalia a capacidade da criança em desempenhar a tarefa, sem considerar seu tempo de execução. As atividades de autocuidado mensuradas, como manusear talheres, escovar os dentes, desembaraçar os cabelos, usar o toalete, tomar banho, entre outras, parecem estar mais relacionadas à força de preensão para executá-las do que à velocidade do tempo em que são executadas. Já a área de mobilidade do PEDI, não apresentou relação com a força de preensão e nem com a destreza manual. Parece ter ficado evidenciado que a função manual está, de fato, mais relacionada às atividades de autocuidado do que a mobilidade. Esta última é avaliada pelo PEDI em ações como transferências, entrar e sair de um ônibus, abrir e fechar a porta do carro, encaixar o cinto de segurança e locomover-se em diferentes ambientes. Sendo assim, sugere-se que novos estudos sejam feitos, com uma maior população, equiparando-se o número de participantes por faixa etária, para que se possa dar continuidade aos resultados aqui encontrados e que outras variáveis sejam estudadas e correlacionadas. Conclusão Os dados aqui encontrados vão ao encontro dos conhecimentos científicos da pessoa com SD, quando se fala em atraso global do desenvolvimento, demonstrando que a destreza manual, a força de preensão e o desempenho funcional encontram-se defasados quando comparadas as pessoas normais, sendo, a destreza e a mobilidade constantes Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 entre as idades avaliadas. E que, além do atraso motor, existe a correlação entre as variáveis: força de preensão palmar e a área de autocuidado do PEDI. Este fato mostra que a função manual e as etapas de crescimento e desenvolvimento dessas pessoas necessitam de estudos mais aprofundados para que se possa atender as necessidades das diferentes faixas etárias a partir de planejamento educacional e terapêutico com melhores subsídios. Para tal, sugere-se a realização de novas pesquisas que deem continuidade aos dados aqui encontrados e que outras variáveis da função manual sejam estudadas e correlacionadas entre si. Agradecimentos Este trabalho foi financiado em parte pelo Fundo Mackenzie de Pesquisa. Referências 1. Block ME. Motor development in children with Down syndrome: a review of the literature. Adapt Phys Activ Q 1991;8:179-209. 2. Devlin L, Morrison PJ. Mosaic Down’s syndrome prevalence in a complete population study. Arch Dis Child 2004;89:1177-8. 3. Sommer CA, Henrique-Silva F. Trisomy 21 and Down syndrome - A short review. Braz J Biol 2008;68:2:447-52. 4. Korenberg JR, Bradley C, Disteche CM. 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Os pacientes foram submetidos a procedimentos como: avaliação fisioterápica através do Instrumento de Avaliação da Coluna Vertebral, Escala Visual Analógica de Dor (EVA), Avaliação pelo método da Biofotogrametria Computadorizada antes da 1ª sessão e após três meses de tratamento (2ª avaliação), e reavaliados após dois meses pós-tratamento (3ª avaliação). Os resultados obtidos através do tratamento com base na avaliação da Biofotogrametria Computadorizada foram que não houve efeito estatisticamente significativo do fator Grupo, nem do fator Tempo, nem da interação entre os dois fatores (valor de p > 0,05) sobre as medidas de concavidade lombar ou convexidade torácica. Conclui-se que o método do RPG aumentou a concavidade lombar e diminuiu a convexidade torácica quando os pacientes foram submetidos ao método da Biofotogrametria Computadorizada através da quantificação das curvas fisiológicas da coluna vertebral. O método do Iso não alterou as curvas fisiológicas da coluna vertebral. Quando os dois métodos foram associados (Iso + RPG), a concavidade lombar diminuiu e a convexidade torácica se manteve. This study aimed at quantifying the effects of Global Posture Re-education (GPR) and Isostretching (Iso) in patients with chronic non-specific low back pain using the Computerized Biophotogrametry method. This research was performed in 30 patients followed at the Orthopedic Institute of Palmas (IOP). The patients were submitted to Iso or GPR and to the following treatment assessment procedures: physical therapy evaluation using the Vertebral Column Instrument, Visual Analogic Pain Scale (EVA). The subjects were evaluated by Computerized Biophotogrametry before the 1st session and after three months of treatment, and re-evaluated two months after the final interventions. Treatment results, as judged from Computerized Biophotogrametry data, and concerning lumbar concavity or thoracic convexity measurements, were not statistically significant with regard to the Group factor, the Time factor, or the interaction between these factors (value p > 0.05). Thus we conclude that the GPR method tended to increase lumbar concavity and decreased thoracic convexity, according to Computerized Biophotogrametric data. The Iso method did not change the physiologic curves of the vertebral column. When the two methods were associated (Iso + GPR), lumbar concavity decreased and thoracic convexity was maintained. These different results, however, did not reach statistical significance. Key-words: RGP, isostretching, low back pain, biophotogrametry. Palavras-chave: RGP, isostretching, lombalgia, biotofogrametria. Recebido em 1 de abril de 2012; aceito em 25 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno, Qd 804 Sul, Al09, L05, 72021-970 Palmas TO, Tel: (63) 8413-6810, E-mail: [email protected], [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Introdução O exercício físico tem sido caracterizado como um meio de tratamento para reduzir a lombalgia, por ser de baixo custo, não invasivo, e por configurar uma atividade fisiológica que pode ser utilizada como recurso terapêutico aplicado ao paciente [1]. A Agency for Health Care Policy Guideline [2] preconiza seis semanas de prática para se obter resultados positivos. Bakker et al. [3], Pengel et al. [4], Wand et al. [5] e Lewis et al. [6] relatam que 90% dos pacientes com dor lombar melhoram com tratamento conservador em seis semanas de tratamento. Nas últimas décadas, as formas de tratamento têm-se modificado, porém há poucas pesquisas bem documentadas. Utilizam-se ainda muitos procedimentos terapêuticos sem comprovação da sua verdadeira eficiência [7]. Atualmente, o arsenal terapêutico para as afecções da coluna vertebral conta com analgésicos, miorrelaxantes, anti-inflamatórios não hormonais, corticosteróides, complexo B, antidepressivos, repouso, posturas antálgicas, relaxamento e psicoterapia breve, infiltrações epidurais, tratamentos alternativos (homeopatia, acupuntura e outros), Fisioterapia, órteses (coletes e faixas), escola de postura, exercícios e, eventualmente, procedimentos cirúrgicos [8]. O tratamento que é comumente utilizado para melhora da dor lombar crônica segundo Pérennou et al., [9] e Maher [10] inclui exercícios, laser, massagem e manipulação da coluna; tratamentos físicos como acupuntura, escola da postura, hidroterapia, TENS, tração, ultrassom, Pilates e terapia craniosacral, que muitas vezes são de valor desconhecido ou ineficazes e não devem ser considerados. O principal objetivo de qualquer tratamento postural é a aquisição de movimentos livres de dor e melhora da postura do paciente. Para tanto, o entendimento do processo lesional e o processo avaliativo são essenciais ao bom desenvolvimento do plano assistencial fisioterápico. Logo, todo início de um tratamento fisioterápico necessita de uma boa avaliação postural. Downie [11], ao falar sobre avaliação, diz que ela é o marco para um bom prognóstico, e esta é também a opinião da autora deste estudo. Desta forma, acredita-se que qualquer tratamento deve ser iniciado por uma avaliação fidedigna. Segundo Baraúna [12], a avaliação é um pilar para a tomada de decisões, as quais devem ser fruto de um planejamento metodizado hierárquico, já que pelas implicações inerentes, podem levar o indivíduo a sofrer intercorrências de grande porte, passando esta a ser de enorme importância não apenas para o tratamento, mas também como fator de prevenção de intercorrências e feedback. Atualmente existem várias categorias de ferramentas para avaliação da postura, entre elas os Raios-X, o goniômetro, a fita métrica, e entre outros a fotogrametria e o cifolordômetro. Um dos exames tradicionais é a goniometria; segundo Cole e Tobis [13], “a goniometria é a medição da movimentação 217 articular ou segmentar e constitui um passo fundamental na avaliação da função”. Cole e Tobis [13] explanam, de maneira explícita, a problemática do uso do goniômetro quando dizem que a exatidão ou precisão é o objetivo de todas as técnicas de medição; entretanto, como outros aspectos, a exatidão por vezes é uma palavra relativa, pois implica treinamento cuidadoso e atenção técnica. Enfatizam os autores que os avaliadores, ao se utilizarem da goniometria, devem ter um elevado treino, já que o erro quase sempre se faz presente nas mensurações angulares. Estas limitações relativas ao uso do goniômetro estão na origem dos trabalhos de Hellebranot et al. citado por Cole e Tobis [13], que afirmam: “o erro médio de um fisioterapeuta treinado era de 4,75º e para um fisioterapeuta inteiramente experiente o erro médio era de 3,76º”, ao se avaliar pela goniometria. Os autores citados acima afirmam que pode haver grande variabilidade na medida da amplitude articular, e podem existir diversos problemas na aplicação pela falta de treino e para interpretar corretamente os dados da avaliação. Bastos et al. [14] definem validade como “a propriedade de um instrumento de medida que reflete até que ponto ele realmente mede o que pretende medir” e, fidedignidade, como “grau de exatidão, ou precisão, dos resultados fornecidos por um instrumento de medida, independentemente da variável que está sendo medida; tendência de um instrumento de medida fornecer resultados consistentes e estáveis, relativamente livres de erros”. Tais afirmações deixam implicitamente a necessidade do fisioterapeuta de avaliar sempre e com segurança, para que se possa tratar adequadamente. A avaliação errônea certamente poderá levar a tratamentos errôneos e consequentemente, o paciente poderá ser prejudicado em decorrência de tais medidas tomadas [15]. Baseados nestes conceitos, elegemos a Biofotogrametria Computadorizada para avaliar e quantificar em graus as curvas torácicas e lombares dos pacientes portadores de LCI antes e após os protocolos de intervenções fisioterapêuticas propostas neste estudo e reavaliarmos após dois meses do follow-up. Material e Métodos Este estudo se caracterizou como uma pesquisa quantitativa do tipo experimental. A pesquisa foi desenvolvida no IOP localizado na Cidade de Palmas/TO. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do CEULP/ULBRA-TO sob número de processo 13/2009, sendo cumpridos os princípios éticos contidos na declaração de Helsinque, além do atendimento à legislação vigente. Todos os pacientes foram encaminhados ao Ambulatório Fisioterápico do IOP com diagnóstico prévio de LCI. Os médicos ortopedistas utilizaram os critérios da Sociedade Brasileira de Reumatologia [16] e Moraes [1] para o diagnóstico de lombalgia crônica inespecífica. Os pacientes 218 foram encaminhados após exames subsidiários (tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) que auxiliaram no diagnóstico. Um total de cinquenta voluntários com diagnóstico de LCI foram recrutados da lista de espera do ambulatório de Fisioterapia do IOP. Estes voluntários foram submetidos a uma triagem inicial, sendo selecionados 30 deles, de acordo com os critérios de inclusão. Critérios de inclusão Foram incluídas na amostra 30 pessoas que apresentaram dor lombar crônica inespecífica, diagnosticadas por médicos especialistas em coluna vertebral, acompanhadas de exames subsidiários (TC ou RM) na faixa etária entre 19 e 60 anos de idade, de ambos os sexos, que apresentaram dor lombar há mais de doze semanas, sem sintomas radiculares (dor irradiada até o joelho, hipoestesia, disfunção muscular ou hiporreflexia) (critérios da Sociedade Brasileira de Reumatologia) [16] e Moraes [1] e se dispuseram a participar do estudo firmando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em condições físicas, mentais e intelectuais; apresentar nível cognitivo suficiente testado pelo Mini-mental State Examination (MMSE) Folstein [17] para entender os procedimentos e acompanhar as orientações dadas. Sedentário e inexperiente na prática do método do RPG e do Isostretching. Critérios de exclusão Os sujeitos que apresentaram compressão radicular, prolapso ou hérnia discal, espondilolistese ou retrolistese, escoliose severa ou grandes alterações do alinhamento da coluna vertebral, espondiloartrose avançada, tumores, histórico de cirurgia e outras causas específicas e/ou sérias de dor lombar. Presença de diagnóstico de doenças respiratórias ou neurológicas, sequelas de pólio, uso de prótese, discrepância de membros, hérnia umbilical, grávidas, doenças infecciosas, pessoas incapacitadas para responder os questionários: deficientes mentais e pessoas que tiveram acidentes vasculares encefálicos (AVE). Depressão (diagnosticada pela escala de BECK). Fumantes, praticantes de atividade física regular critério de Gonçalves et al. [18]. Lombálgicos que se recusarem a participar do estudo. Os voluntários incluídos no estudo, no total de 30, foram distribuídos aleatoriamente em três grupos de 10 sujeitos (a randomização foi realizada por uma tabela numérica), sendo um grupo (Iso) submetido a um protocolo de Isostretching; o outro (RPG) submetido ao alongamento global em duas posturas do método da Reeducação Postural Global (RPG) e o grupo Iso + RPG foi submetido ao método da Reeducação Postural Global (RPG) e ao protocolo de Isostretching. O procedimento de seleção dos 30 sujeitos com lombalgia crônica inespecífica foi baseado nos seguintes critérios e considerações: Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Moreno et al. [19] estudaram 20 voluntários sedentários com o método do RPG por oito semanas de tratamento; Maluf [20] estudaram 28 mulheres com RPG e alongamentos estáticos segmentar por dois meses. Estes parâmetros indicaram que o número adequado de indivíduos a serem incluídos no estudo seria de aproximadamente 20; sendo assim, foram inclusos 30 sujeitos que atenderam aos critérios de inclusão. Os voluntários foram submetidos a uma avaliação físico-funcional através de uma ficha específica, como descrita por Moraes [1]. Para a quantificação da dor lombar foi utilizada a Escala Visual Analógica de Dor [21]. A quantificação da dor foi realizada antes e após as intervenções fisioterápicas e após dois meses do follow-up. Os sujeitos foram submetidos a uma avaliação postural através de fotos digitais (Biofotogrametria Computadorizada) pela pesquisadora. Foram realizados os seguintes procedimentos. Demarcação dos pontos de referência Para a orientação visual no momento do mapeamento e fotointerpretação angular das imagens, cada sujeito foi submetido a marcas passivas feitas com bolas de isopor de 15 mm e fita adesiva dupla-face. Foi utilizado o protocolo de Rebelo [22] e Adorno [23] apropriadamente demarcados, com o tronco desnudo e em pé, foram palpados os processos espinhosos e demarcados os seguintes pontos anatômicos. T1 - localizada a proeminência de C7 - foi pedido ao paciente para estender o pescoço, observando que o processo de C7 permanece palpável enquanto o de C6 desaparece, desse modo foi localizado o processo espinhoso de T1 e demarcado [23]. T12 - segundo Oliver e Middleditch [24] em 60% dos indivíduos, as cristas ilíacas são niveladas com o espaço L4/L5. Com o paciente posicionado com a coluna inclinada, contar as apófises espinhosas até localizar T12. Localizar o último arco costal para confirmar o processo espinhoso de T12. S1 - palpar a espinha ilíaca posterior que se alinha com S2 [25], subir mais um processo espinhoso e localizar S1 e demarcá-lo. Depois de demarcados os pontos de referências anatômicas, o sujeito foi avaliado quanto à postura pelo método da Biofotogrametria. Avaliação postural pela Biotofogrametria Computadorizada Para a avaliação da concavidade lombar e convexidade torácica os sujeitos foram fotografados em posição ortostática, vista lateral, de perfil direito com o olhar para o horizonte, descalços e desnudos (sunga ou biquíni no caso do sexo feminino), em uma sala bem iluminada, climatizada a 30º, com Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 fundo não reflexivo e reservada, permitindo a privacidade dos sujeitos a serem fotografados, em local previamente estabelecido e demarcado pelo topógrafo, focando-se em particular a curva “concavidade lombar” e “convexidade torácica”, as quais foram demarcadas por marcas passivas de isopor, a fim de serem digitalizados os pontos de transição da coluna torácica e lombar; esses pontos anatômicos referenciais foram demarcados em nível de T1, T12 e S1 [22,23]. Todas as fotos foram tiradas no mesmo local, com a mesma distância, no mesmo ambiente e com a mesma câmera fotográfica e pelo mesmo indivíduo (pesquisadora), a fim de se evitar variáveis de interferência. Os sujeitos foram fotografados antes e após as intervenções fisioterápicas. Cada sujeito sorteou um número que o identificou nas fotos e de qual seria seu grupo de intervenção fisioterápica (Grupo Iso, Grupo RPG ou do Grupo Iso + RPG). Fotointerpretação e quantificação Foi utilizada uma câmera fotográfica digital paralela ao chão a uma distância de 1,95 cm do sujeito com uma altura de 1,20 cm sem o zoom sobre um tripé nivelado (local demarcado pelo topógrafo). Foi colocado um retângulo de etil vinil acetado (7,0 cm de largura) para padronização da distância entre os pés dos sujeitos. Neste mesmo posicionamento os sujeitos deverão estar a 15 cm afastados da parede. Para manter esta distância fixa, foi utilizado um demarcador de borracha de 15 cm de largura, 60 cm de comprimento e 0,5 de espessura que foi colocado entre a parede e os voluntários conforme protocolo estabelecido por Kendall et al. [26]. Após serem registradas as imagens, as mesmas foram transferidas para o computador, isoladas e gravadas em um CD-ROM, em forma de arquivo; onde foram ajustadas as imagens, digitalizadas e calculadas as angulações lombares e torácicas de cada sujeito antes da 1ª sessão e após três meses de tratamento (2ª avaliação), e reavaliados dois meses no follow-up (3ª avaliação). Para tal foram tratados por um programa (software) de computador (AlCimage), onde foram trabalhados os ângulos da concavidade lombar e da convexidade torácica, a fim de se quantificar a postura dos sujeitos participantes. Intervenção fisioterápica As intervenções fisioterápicas foram realizadas no IOP, que dispõe de um consultório para o atendimento do RPG e do Isostretching. Todos os sujeitos portadores LCI foram atendidos pela pesquisadora, reduzindo a probabilidade de interferências pessoais sobre os resultados. Todos os sujeitos foram informados para se apresentarem pelo menos cinco minutos antes de iniciar os procedimentos com vestimentas leves (shorts ou biquíni) e elásticas que facilitem a prática dos alongamentos. 219 Foi realizado um sorteio no início das intervenções, sendo determinados três grupos de intervenções: Grupo Iso (grupo atendido somente pelo método do Isostretching); Grupo RPG (grupo atendido somente pelo método da Reeducação Postural Global) e Grupo Iso + RPG (grupo atendido pelo método do RPG e do Isostretching). Intervenções pelo método do Isostretching (Grupo Iso) Os sujeitos do grupo Isostretching foram tratados pelo método de Redondo [27]. Cada um dos exercícios se repete 8 vezes. O tempo de manutenção da postura é regido pela expiração profunda e prolongada cerca de 6 a 10 segundos. Após cada expiração relaxa-se somente a tensão, mantendo a contração isométrica sem modificar a posição de base. Observar o aumento de tensão muscular por alongamentos pela contração isométrica, com uma expiração profunda e prolongada, um abaixamento das escápulas (fixação isométrica) e um auto-engrandecimento da coluna vertebral [27]. O tratamento foi realizado durante três meses em sessões individuais duas vezes por semana durante 60 minutos, com um total de 24 sessões. Redondo [27] indica que o método seja aplicado duas vezes por semana. Foram orientados a permanecer na posição de alongamento e contração isométrica por 6 segundos, mantendo um ritmo respiratório lento. Foi respeitado o limite e a possibilidade de cada paciente. Cada exercício foi repetido, oito repetições após 6 segundos de descanso. Intervenções pelo método da Reeducação Postural Global (Grupo RPG) Os sujeitos do grupo RPG foram tratados com alongamentos das cadeias musculares estáticas ântero-interna do quadril, cadeia mestra posterior e cadeia respiratória [28]. Em cada sessão foram realizadas duas posturas globais sem carga em decúbito dorsal, mantidas por 20 minutos cada uma, sendo uma postura para a cadeia anterior e outra para a posterior. O tratamento foi realizado durante três meses, em sessões individuais, uma vez por semana durante 60 minutos, com um total de 12 sessões [29,30]. Souchard [28] indica que o método seja aplicado uma vez por semana. Intervenções pelos métodos Isostretching e da Reeducação Postural Global (Grupo Iso + RPG) Os sujeitos foram atendidos com o método do RPG uma vez por semana e duas vezes por semana pelo método do Isostretching durante três meses (equivalendo a 12 sessões de RPG e 24 sessões do Isostretching). Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Os pacientes, em ambos os grupos, foram orientados a não procurar outras formas de tratamento para alívio da dor lombar crônica, durante o período do estudo. Ao final dos três meses de tratamento os voluntários de ambos os grupos foram reavaliados através da EVA e da avaliação postural pela Biofotogrametria Computadorizada. No intuito de verificar a eficácia das intervenções fisioterápicas, esses instrumentos foram novamente aplicados após dois meses do término do tratamento (no follow-up) pelo mesmo examinador responsável pela coleta inicial. Análise estatística Para a análise dos dados coletados foram utilizados os softwares Excel® 2007 para Windows® e o SPSS® v13 para Windows®. Foi utilizado um modelo de ANOVA de desenho misto com os fatores Grupo (fator entre grupos – variável independente de 3 níveis) e Avaliação (3 níveis – medidas repetidas). Os valores dos graus de liberdade foram corrigidos utilizando o método de Greenhouse-Geisser para determinar o valor de significância estatística do teste quando o critério de esfericidade não é assumido. As análises post hoc (ANOVA de medidas repetidas) foram desenvolvidas para avaliar os efeitos significativos quando autorizado pelo teste de ANOVA de desenho misto. No procedimento de comparações múltiplas foi utilizado o método de Bonferroni para a correção do nível de significância estatística. O valor de significância estatística foi estabelecido em p ≤ 0,05 para todos os testes. Tabela II - Resumo da análise do efeito dos três tratamentos sobre a dor medida pela EVA. Grupo Iso RPG Iso + RPG Total 8 0 Grupo RPG Iso + RPG 6(60%) 4(40%) 7(70%) 3(30%) 7(70%) 3(30%) 2(20%) 8(80%) 0(0%) 4(40%) 5(50%) 1(10%) 1(10%) 9(90%) 0(0%) 2(20%) 4(40%) 4(40%) 1(10%) 5(50%) 4(40%) 0(0%) 3(30%) 7(70%) Observou-se na Tabela I que o sexo predominante foi o feminino, o estado civil a maioria era casado e concluiu o grau superior. 5,8(2,4) 0,5(0,9) 0,7(1,2) p-valor * Grupo Iso RPG Iso + RPG 4 A Tabela I apresenta um resumo das variáveis utilizadas na descrição da amostra. Iso 3º 1,4(1,5) 0,4(0,9) 164,169 <0,001 0,3(0,6) 6 2 Variáveis Sexo Feminino Masculino Estado civil Solteiro Casado Divorciado Escolaridade Fundamental Médio Superior F Figura 1 - Média da EVA do efeito dos três tratamentos. Resultados Tabela I - Distribuição de frequências das variáveis de descrição da amostra. 1º 5,3(2,6) 5,5(2,7) 6,6(1,8) EVA 2º 0,9(1,2) 0,4(0,7) 0,1(0,3) Foi encontrado um efeito estatisticamente significativo do fator Tempo sobre as médias de Dor quantificadas pela EVA (Tabela II e Figura 1). As médias durante a primeira avaliação foram significativamente superiores comparadas às médias da segunda e terceira avaliação (p < 0,001 em ambos os casos). Não houve diferença entre a segunda e terceira avaliação (p = 0,286). Não foi encontrado efeito significativo do fator Grupo, nem da interação Grupo × Tempo. EVA 220 Primeira avaliação Segunda avaliação Terceira avaliação Como apresentado na Tabela III não houve efeito estatisticamente significativo do fator Grupo, nem do fator Tempo, nem da interação entre os dois fatores (p-valor sempre > 0,05) sobre as medidas de concavidade lombar ou convexidade torácica. Observa-se na Tabela III que as médias da concavidade lombar do grupo Iso na primeira avaliação foi de 162,5º, após as intervenções fisioterápicas pelo método a média foi para 162,6º permanecendo praticamente a mesma. Quando reavaliados, após dois meses das intervenções, a média foi para 161,7º. Observou-se que o protocolo pelo método Isostretching utilizado neste estudo não modificou a curva fisiológica da coluna vertebral lombar (Figura 2). A média da concavidade lombar do grupo RPG na primeira avaliação foi de 155,3º, após as intervenções fisioterápicas a média foi para 157,3º observando na Tabela III que a média aumentou. Após dois meses das intervenções a média foi para 156º. Observou-se que o protocolo utilizado neste estudo Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 pelo método do RPG aumentou a curva fisiológica da coluna lombar, indicando este protocolo nos casos das retificações da coluna lombar (Figura 2). 221 Figura 2 - Média da concavidade lombar na primeira avaliação na segunda e terceira avaliação quantificada pelo método da Biofotogrametria Computadorizada. 8 Tabela III - Resumo da análise do efeito dos três tratamentos sobre a concavidade lombar e a convexidade torácica medida por Biofotogrametria Computadorizada. Avaliação 1º Concavidade 2º lombar 3º 1º convexidade 2º torácica 3º Iso RPG Iso+RPG 162,5 (10,5) 162,6 (7,5) 161,7 (8,5) 207,7 (5,5) 208,8 (2,7) 208,4 (3,4) 155,3 (9,4) 157,3 (8) 158 (8,3) 209,2 (5,6) 202,2 (20,2) 209,1 (4,2) 162,3 (15,8) 159,4 (13,8) 159,4 (14,6) 210,5 (5,3) 210,1 (4,6) 209,6 (4,6) Fentre p-vaavalor liação Grupo Iso RPG Iso + RPG 6 EVA Variáveis * 4 2 0,393 0,574 0 Primeira avaliação 0,708 0,414 Terceira avaliação Figura 3 - Média da convexidade torácica na primeira avaliação na segunda e terceira avaliação quantificada pelo método da Biofotogrametria Computadorizada. 220 * 215 Convexidade torácica As médias da concavidade lombar do grupo Iso + RPG na primeira avaliação foi de 162,3º e após as intervenções a média foi para 159,4º. Observa-se que diminuiu a angulação da concavidade lombar quando se associou os dois métodos. Neste caso, pode-se indicar este protocolo para aqueles pacientes com lordose lombar. Após dois meses das intervenções a média foi para 159,4º permanecendo a mesma (Figura 2). Observa-se também na Tabela III que as médias da convexidade torácica do grupo Iso na primeira avaliação foi de 207,7º após as intervenções fisioterápicas pelo método a média foi para 208,8º, observa-se que teve um pequeno aumento na convexidade torácica. Quando reavaliados após dois meses das intervenções a média foi para 208,4º. As médias da convexidade torácica do grupo RPG na primeira avaliação foram de 209,2º após as intervenções fisioterápicas a média foi para 202,2º. Na Tabela III observamos que a média diminuiu. Após dois meses das intervenções a média foi para 209,1º. As médias da convexidade torácica do grupo Iso + RPG na primeira avaliação foi de 210,5º após as intervenções a média foi para 210,1º observa-se na Figura 3 que a convexidade torácica permaneceu praticamente a mesma quando associado as duas técnicas fisioterápicas. Após dois meses das intervenções a média foi para 209,6º. Observa-se na Figura 2 que o método do RPG aumentou a concavidade lombar e quando associou os métodos Iso + RPG esta concavidade lombar diminuiu. Observa-se também que quando associou os dois métodos (Iso + RPG) esta angulação se manteve por mais tempo em relação aos outros métodos individuais. Segunda avaliação 210 205 200 Grupo Iso RPG Iso + RPG 195 190 Primeira avaliação Segunda avaliação Terceira avaliação Observa-se na Figura 3 que a técnica que mais alterou o ângulo da convexidade torácica foi o método do RPG diminuindo a cifose torácica. Porém quando interrompeu as sessões fisioterápicas o ângulo da convexidade torácica retornou. Discussão A Biofotogrametria Computadorizada é a associação da imagem ao analisador do movimento que, através da medida do campo da filmagem, possibilita-nos realizar transformações algébricas das coordenadas dos pontos e dos eixos [31,32]. Este método apresenta-se validado, dando maior fidedignidade aos resultados obtidos. Observou-se neste estudo que a concavidade lombar manteve-se nos sujeitos que foram tratados com o método do Iso, aumentou nos sujeitos atendidos pelo método do RPG e houve uma diminuição quando foram associadas as duas 222 técnicas (Iso + RPG). Após dois meses sem as intervenções (follow-up) a concavidade lombar manteve-se nos sujeitos atendidos pelo método Iso, diminuiu no grupo do RPG, e permaneceu a mesma no grupo (Iso + RPG). Observou-se no estudo que a concavidade lombar e a convexidade torácica no grupo Iso permaneceram praticamente inalteradas em relação aos outros métodos; isso poderia ser devido ao posicionamento da pelve e da coluna ser a chave do método e, a partir da postura escolhida, o trabalho é realizado em reações agonistas e antagonistas, alongamentos e contrações, autocrescimento da coluna e mobilização da pelve, podendo adotar um posicionamento de anteroversão ou retroversão, possibilitando desta forma os alongamentos [27]. Estatisticamente não houve modificação das curvas fisiológicas quando foi aplicado o método Isostretching com avaliação pela Biofotogrametria Computadorizada. Braccialli e Vilarta [33] relatam que a postura é uma situação dinâmica, pois o corpo se adapta constantemente em resposta a estímulos recebidos, refletindo as experiências momentâneas. Isso acontece desde o processo evolutivo e das adaptações durante o desenvolvimento neuropsicomotor até a conquista da bipedestação contra a força da gravidade. Observamos isso quando os pacientes foram submetidos ao método do RPG, a angulação da coluna lombar aumentou após as intervenções e depois de dois meses das intervenções (no follow-up) a curvatura lombar praticamente retornou à sua angulação original. Segundo Fonseca et al. [34] um controle da estabilidade postural depende de um programa motor eficaz, baseado em experiências prévias de treinamento e reeducação, para gerar atividade muscular apropriada a fim de minimizar perturbações no sistema. A reeducação postural realizada de forma global é fundamental para alcançarmos a reprogramação motora eficaz para o controle da postura. Observamos que o método do RPG utilizado neste estudo aumentou a concavidade lombar, isso caracteriza que o método poderá ser utilizado em pacientes com retificação da coluna lombar. A retificação da coluna lombar poderá tensionar as fibras anulares posteriores do disco, promovendo um aumento da pressão intradiscal [35-37]. Puzzi et al. [38] acrescentam que variações posturais tais como uma cabeça anteriorizada ou ombros curvos levam à retração muscular associada aos músculos escalenos, levantadores das escapulas, subescapular, peitoral menor e uma clavícula deprimida. Observamos essa característica em pacientes com retração da cadeia ântero-medial do ombro. Dias et al. [39] nos relatam que a relação entre a força muscular das cadeias musculares anterior e posterior, associada ao equilíbrio delas é fundamental na proteção articular. As cadeias são ligações musculares unidas por um tecido conjuntivo chamado de fáscia muscular. Essa ligação faz com que, quando um músculo se contrai, outros músculos interligados a este também tenham um aumento da sua tensão muscular pela tensão fascial que será promovida. A Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 cadeia muscular é a organização dos músculos em cadeia de forma integrada e global visando a manter o indivíduo em equilíbrio postural. A análise das cadeias musculares é um método de leitura da postura e de conscientização, para a utilização adequada e harmoniosa do corpo visando a preservar sua mecânica [40]. No alinhamento postural normal há uma leve protusão de cabeça, ombros nivelados e a coluna vertebral possui uma série de curvas ântero-posteriores contrabalanceadas, como concavidade lombar e cervical, convexidade torácica e sacral. A pelve deve estar em posição neutra, definida pelo alinhamento em um plano transverso, da espinha ilíaca ântero-superior com a espinha ilíaca póstero-superior. A descarga de peso nos membros inferiores deve estar igualmente distribuída, característica obtida pela harmonia entre os músculos antigravitacionais [41,42]. O equilíbrio ou manutenção da estabilidade está relacionado ao balanceamento entre forças internas e externas, que agem no corpo durante a realização de ações motoras. O funcionamento do sistema postural envolve a necessidade de coordenar e controlar os segmentos corporais com base nas informações sensoriais. Desta forma, mesmo um comportamento cotidiano como a manutenção da posição ereta, ao contrário do que parece, é uma tarefa complexa que envolve um intricado relacionamento entre informações sensorial e atividade motora com o objetivo de atingir ou manter o equilíbrio e a orientação postural [43]. Observou-se que a concavidade lombar aumentou quando foi aplicada a técnica do RPG e a convexidade torácica diminuiu após o método. Teixeira e Carvalho [44] definem cifose como o aumento da curvatura torácica no plano sagital, sendo que a indicação para o tratamento é baseada na sua medida angular. Sendo assim as posturas utilizadas neste estudo poderão ser utilizadas em pacientes portadores de cifose torácica, já que houve uma diminuição da curvatura torácica quando quantificou as curvas pelo método da Biofotogrametria Computadorizada. Os desequilíbrios dessa região são quase fisiológicos, o endireitamento da cabeça e horizontalidade, são imperativos estáticos garantidos pela musculatura cervical, que para isso deve ficar absolutamente livre. Com essa musculatura tônica, não há ponto fixo no homem ereto, é sempre a cintura escapular que suporta os encurtamentos e as retrações. Os transversos espinhais, por serem músculos tônicos, controlam a estática, originadas de quatro diferentes músculos, agindo sinergicamente de forma bilateral, controlando o fechamento da cifose fisiológica [45]. O RPG é um método de alongamento muscular ativo, descrito originalmente em 1987 [46], que tem como objetivo alongar em conjunto os músculos antigravitários, os rotadores internos e os inspiratórios [19]. É um método fisioterapêutico de correção postural que trabalha sobre as cadeias de tensão muscular utilizando posturas de alongamento em lugar de exercícios de repetição. A vantagem das posturas de Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 alongamento é que elas evidenciam as cadeias de tensão que bloqueiam o indivíduo em posição de desequilíbrio [47]. Nenhum músculo se move sozinho, sempre que um deles se contrai gera movimento e acomodação em outros músculos formando um conjunto. Este conjunto denomina-se cadeia de tensão muscular. Partindo desde conceito, a RPG trabalha globalmente o paciente de forma pessoal e quantitativa, com a finalidade de ir do sintoma à causa das lesões, levando ao relaxamento das cadeias musculares encurtadas, ao desbloqueio respiratório e ao reequilíbrio do tônus postural [48]. Esta técnica utiliza o estiramento muscular ativo, procurando alongar em conjunto os músculos estáticos antigravitacionais, os músculos rotadores internos e os inspiratórios. Através do alongamento muscular, entende-se qualquer manobra terapêutica elaborada para alongar estruturas de tecidos moles encurtados. Segundo Kisner e Colby [42], sua indicação mais frequente se refere à necessidade de alongar os encurtamentos sempre que estes interferirem com as atividades da vida diária. A Reeducação Postural Global é um método de avaliação e tratamento das diversas disfunções posturais e dos movimentos através de posturas globais e analíticas que tratam as cadeias musculares em alteração, realizando um efeito proprioceptivo sobre a postura do indivíduo [49]. Duas cadeias destacam-se como função estática: a cadeia anterior e a posterior. A cadeia mestra anterior é de fundamental importância na respiração pelo seu papel sobre o tórax e o diafragma. Quando essa cadeia está encurtada a cabeça é projetada para frente, a região torácica aumenta sua curvatura cifótica e ombros encontram-se rodados internamente. Portanto, trabalhar somente a respiração não se preocupando com a parte postural pode ser ineficaz [45]. As posturas do método do RPG utilizadas neste estudo diminuiu a convexidade torácica, sendo indicada para pacientes com cifose torácica. Indivíduos com encurtamento da cadeia posterior apresentarão um ângulo tíbio-társico aberto, joelhos em recurvatum, valgo ou varo, curvas vertebrais retificadas e o ângulo coxofemoral aberto. No indivíduo com encurtamento da cadeia ântero-interna do ombro apresentará abdução da cintura escapular e rotação medial do ombro [25]. A avaliação postural, bem como a elaboração e aplicação de programas de cinesioterapia é uma atividade de rotina executada pelo fisioterapeuta, que muitas vezes esse profissional não domina os conceitos básicos relacionados à capacidade de adaptação dos músculos esqueléticos, embora o fisioterapeuta esteja apto a identificar uma retração muscular e a orientar exercícios e alongamentos, com objetivo de impedir a instalação de uma retração ou como tratamento de um encurtamento muscular já estabelecido, ele não entende os mecanismos envolvidos na resposta muscular consequente a sua intervenção. Segundo Busquet [50] o tratamento para as cadeias musculares visará aliviar a origem de tensões musculares, articulares, viscerais, cranianas que são à base das compensações, das disfunções e das deformidades. A finalidade do tratamento é 223 liberar as cadeias musculares de tensões internas, quando elas estão livres e equilibradas a estática é notável, e a globalidade re-harmonizada. Moreno et al. [19] realizaram um estudo sobre o efeito de um programa de alongamento muscular pelo método de Reeducação Postural sobre a força muscular respiratória e a mobilidade toracoabdominal de homens jovens sedentários. Participaram deste estudo 20 voluntários sedentários. O protocolo foi constituído por um programa de alongamento da cadeia muscular respiratória na postura “rã no chão com os braços abertos” duas vezes por semana, durante 8 semanas, totalizando 16 sessões. Concluíram que o protocolo de alongamento da cadeia muscular respiratória proposto pelo método do RPG mostrou ser eficiente para promover o aumento das pressões respiratórias máximas e das medidas da cirtometria toracoabdominal. Sugere ainda que o método possa ser utilizado como um recurso fisioterapêutico para o desenvolvimento da força respiratória e da mobilidade-toracoabdominal. Cunha et al. [29] realizaram um estudo sobre o efeito da Reeducação Postural Global e do alongamento clássico em portadores de lombalgia crônica. Estudaram 33 pacientes com idade entre 35 e 60 anos. Aplicaram uma escala de dor, um questionário de qualidade de vida (SF-36) e avaliaram a amplitude articular de movimento através do goniômetro durante seis semanas de tratamento. Concluíram que os métodos reduziram a dor, melhoraram a amplitude articular de movimento e a qualidade de vida dos pacientes portadores de lombalgia crônica. São escassos os estudos que comprovam os benefícios do método de RPG, especialmente no que se refere à lombalgia crônica. Entretanto, as publicações são unânimes em apontar sua influência sobre o comprimento muscular, melhora da dor, melhora da amplitude de movimento e flexibilidade, repercutindo em melhora da capacidade de contração muscular. Isso ficou claro que após dois meses após as intervenções observou-se que as curvas lombares e torácicas praticamente voltaram a sua curvatura original. As posturas de tratamento pelo método do RPG influenciaram no aumento da concavidade lombar e na diminuição da convexidade torácica. Sendo assim estas posturas devem ser utilizadas em pacientes com retificação da coluna lombar e pacientes com cifose torácica já que estatisticamente observamos um aumento da concavidade lombar e uma diminuição da convexidade torácica. A preservação das curvas fisiológicas da coluna previne sobrecargas e possíveis lesões na região lombar, otimizando a absorção de choques [50]. Observou-se que a concavidade lombar diminuiu e a convexidade torácica se manteve quando se utilizou os dois métodos de tratamento (Iso + RPG). Como recursos utilizados nas estratégias para combater a lombalgia têm sido recomendados programas de terapia física, em especial os exercícios terapêuticos, pela eficácia na redução da intensidade da dor lombar, no aumento 224 da mobilidade e função, no ganho de resistência e força muscular, em reduzir a cronicidade, em diminuir o tempo de disfunção e de cuidados médicos, principalmente em pacientes crônicos [1]. A avaliação pelo método da Biofotogrametria Computadorizada é de suma importância para detecção precoce das alterações posturais sejam elas: lordose, cifose e as retificações. Há necessidade de pesquisas baseadas em evidências científicas, produzindo métodos, protocolos e diagnósticos que selecionem melhor as formas de traçar um plano de tratamento fisioterapêutico, de forma a atingir objetivos e resultados mais criteriosos. Conclusão Conclui-se que o método do RPG aumentou a concavidade lombar e diminuiu a convexidade torácica quando os pacientes foram submetidos ao método da Biofotogrametria Computadorizada através da quantificação das curvas fisiológicas da coluna vertebral. O método do Iso não alterou as curvas fisiológicas da coluna vertebral. E quando foram associados os dois métodos (Iso + RPG) a concavidade lombar diminuiu e a convexidade torácica se manteve. O método da Biofotogrametria Computadorizada é eficaz na quantificação das curvas fisiológicas da coluna vertebral, pelo baixo custo e pela facilidade de aplicação do método. Agradecimentos Os autores agradecem ao Estado do Tocantins em nome da Secretária de Ciências e Tecnologia pela bolsa concedida para a realização desta pesquisa. Referências 1. Moraes MAA. Avaliação da eficácia de um programa de reabilitação como modificador nos indicadores de dor e qualidade de vida em pacientes com lombalgia crônica inespecífica [Tese]. 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O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito do fortalecimento muscular no desempenho da marcha em uma criança com AMC. O participante realizava marcha com órtese do tipo HKAFO e andador e não realizava fortalecimento muscular na fisioterapia. Foram realizadas 90 sessões de fortalecimento muscular de membros inferiores, três vezes por semana, durante oito meses. Houve aumento da força muscular de todos os músculos envolvidos no tratamento, exceto dos músculos do tornozelo, que não apresentaram contração muscular devido à fibrose. A marcha doméstica passou a ser realizada com órtese AFO e muletas canadenses e a marcha comunitária com KAFO e muletas canadenses. Conclui-se que o fortalecimento muscular parece ser um recurso eficaz para promover aumento da força muscular em crianças com AMC, além de permitir a aquisição de marcha com órteses menores e mais leves e dispositivos auxiliares mais funcionais que promovem maior independência e funcionalidade para a marcha da criança. Arthrogryposis multiplex congenita (AMC) is a generic term used to describe a group of diseases which have as common characteristic the presence of multiple congenital contractures at birth, and limited movements and functionality. The aim of this study was to evaluate the effect of muscle strengthening to improve gait performance in a child with AMC. The participant gait was with the aid of a Hip-Knee-Ankle-Foot-Orthosis and walker, with no muscle strengthening during physical therapy. 90 sessions of lower limb muscle strengthening were carried out, three times a week, during eight months. There was a marked increase in muscular strength of all muscles involved in the treatment, except the ankle muscles, which did not present muscular contraction due to fibrosis. The gait was carried out with Ankle-Foot-Orthosis and forearm crutch. Muscle strengthening can be shown to be an effective resource to promote residual muscular strength increase in children with AMC, in addition to allowing gait acquisition with a smaller, lightweight orthosis and more functional aid devices that provide more independence and functionality for the child gait. Key-words: arthrogryposis, Physical Therapy, muscle strength. Palavras-chave: artrogripose, Fisioterapia, força muscular. Recebido em 25 de junho de 2010; aceito em 8 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Daniela Vincci Lopes Ruzzon, Av. Afonso Valera, 250, casa 21, Recreio das Acácias, 14098-561 Ribeirão Preto SP, Tel: (016) 36170870, E-mail: [email protected], [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 3 - maio/junho de 2012 Introdução As contraturas congênitas podem ser classificadas em dois grupos, contraturas congênitas isoladas, ou contraturas congênitas múltiplas. As contraturas congênitas isoladas ocorrem quando somente um segmento do corpo é acometido, como o pé torto congênito. O termo Artrogripose Múltipla Congênita (AMC) é utilizado para descrever as contraturas congênitas múltiplas que acometem duas ou mais áreas do corpo, levando a múltiplas contraturas articulares e fraqueza ou desequilíbrio muscular [1]. A AMC não é um diagnóstico específico, mas um achado clínico que caracteriza mais de 300 doenças diferentes e está relacionado à diminuição na movimentação fetal em fases precoces do desenvolvimento. Sua incidência mundial é de 1 para cada 3.000 nascidos vivos [2]. As causas da maioria das síndromes artrogripóticas são desconhecidas, mas acredita-se que sejam multifatoriais. Algumas etiologias têm sido consideradas como anormalidades neuropáticas (cérebro, medula e nervos periféricos), anormalidades na estrutura e função muscular (distrofias musculares, doenças mitocondriais), anormalidades do tecido conectivo (displasia diatrófica, artrogripose distal), diminuição de espaço intrauterino (gemelares), doenças maternas (esclerose múltiplas, miastenia gravis, trauma) [3] e vascularização intrauterina ou fetal diminuída [4]. O termo AMC é muito utilizado na literatura, para descrever a forma mais comum de artrogripose, a amioplasia. Porém nem todos os pacientes com AMC possuem amioplasia [5]. A amioplasia acontece de forma esporádica e apresenta características congênitas como substituição de tecido muscular por tecido fibroso e gorduroso, contraturas articulares, aspecto fusiforme dos membros, podendo existir também a presença de hemangiomas, fácies arredondadas, narinas antevertidas, micrognatismo, ausência de pregas cutâneas nos dedos e hipoplasia da genitália externa. O grau de afecção pode ocorrer de formas diferentes, mas as deformidades clássicas são bilaterais e simétricas [2]. As crianças com o diagnóstico de artrogripose terão problemas ortopédicos que requerem intenso acompanhamento da fisioterapia e da terapia ocupacional [6,7]. A principal finalidade do tratamento dessas crianças é possibilitar a máxima independência na marcha e nas suas atividades de vida diária [3]. Devido a falta de massa muscular, a força muscular está diminuída nas crianças com artrogripose, prejudicando sua funcionalidade, especialmente em relação a marcha. É consenso na literatura que o músculo é plástico e se adapta as diferentes demandas, como imobilização e exercícios. O músculo esquelético pode ser condicionado ou descondicionado dependendo do estímulo que recebe, o que pode influenciar as propriedades como força, velocidade e resistência do músculo [8]. Apesar de ser conhecido que o treino de força proporciona alterações no sistema nervoso central, possibilitando o aumento 227 do número de unidades motoras recrutadas e a frequência de disparo dos motoneurônios, o que reflete na melhoria da sincronia da marcha [9], pouco é relatado em estudos longitudinais da evolução muscular ao longo dos anos [10], ou no emprego do fortalecimento em crianças com AMC [6], bem como descrições sobre a conduta fisioterapêutica adequada e seus resultados. Diante das considerações, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito do fortalecimento muscular no ganho de força e uso de mobilidade assistida durante a marcha de uma criança com artrogripose múltipla congênita. Material e métodos Apresentação do caso Este estudo longitudinal, do tipo estudo de caso, contou com a participação de uma criança, do sexo feminino, selecionada por conveniência, com idade de 6 anos e 8 meses, nascida a termo (idade gestacional: 37 semanas), com diagnóstico clínico de artrogripose múltipla congênita do tipo amioplasia de membros inferiores. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Ribeirão Preto (nº 038/09) e os responsáveis pela criança assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação da criança no estudo. A pacient