Aids, Carnaval e os mais velhos- uma mistura explosiva

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Aids, Carnaval e os mais velhos: uma mistura explosiva
Para o ginecologista Celso Galhardo, coordenador do Programa Municipal
DST/Aids, de São Paulo, é preciso quebrar o preconceito de que o idoso
sexualmente ativo é anormal. Segundo ele, não existe uma idade limite para a
atividade sexual, já que isso depende do físico do idoso, das condições de
saúde, da libido e do erotismo. “Sexo é sinal de saúde”, argumenta.
Luciana Helena Mussi
Dezembro chegou e com ele as festas de final de ano, Natal e Réveillon. Época
de planos, novos projetos, pensar em mudança de hábitos e, o principal,
relaxar. Livres das pressões e entregues a apenas aproveitar o “tudo de bom
da vida”, viramos o ano, terminamos janeiro e, quando menos esperamos,
estamos no Carnaval.
É comum ouvirmos frases como: “no Carnaval tudo pode”, “esse é o único
momento do ano que a gente pode se liberar” ou até “eu mereço, pelo menos
no Carnaval”. Nota-se que a palavra que impera é “liberdade”, total e irrestrita,
permitir-se a tudo e a todos. Mas quais serão os segredos, a origem desse
evento tão festejado no nosso País?
O Carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a
520 a.C. Durante o evento os gregos realizavam seus cultos em agradecimento
aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção.
A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana
Santa, pela Igreja Católica, antecedida por 40 dias de jejum, a Quaresma. Esse
longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas
festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia
da Quaresma.
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A palavra “Carnaval” está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos
prazeres da carne, marcado pela expressão carnis valles, que acabou por
formar a palavra “carnaval”, sendo que carnis em latim significa carne, e valles
significa prazeres1.
É muito provável que essas sejam as raízes que relacionam as festas de
Carnaval à sexualidade e a todos os cuidados decorrentes dos chamados
“prazeres da carne” que, digamos, “provocam”, ou melhor, mobilizam todos nós
em qualquer fase da vida.
Segundo estimativas do infectologista Alfredo Passalacqua, existe aumento de
25% a 30% nos casos de transmissão do vírus HIV nesse período. “Não são
números oficiais, mas que há um incremento na disseminação do vírus, há”,
destaca o médico.2
Grande parte das matérias que circulam pela mídia impressa e internet adverte
principalmente os jovens quanto aos riscos de contágio e cuidados
relacionados às doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a aids,
durante o período do Carnaval, mas muito pouco se fala e se escreve alertando
especificamente o público idoso.
Localizamos algumas reportagens em 2011 e 2012 que abordam, com clareza
o tema, e seus respectivos cuidados, desmistificando as questões relacionadas
à sexualidade no envelhecimento como processo, como fase da vida, e ainda o
que tudo isso significa na vida do velho ou idoso.
Na reportagem Dobram os casos de Aids na
terceira idade em 10 anos, Mariana Versolato
afirma que avôs e avós fazem sexo sim. E, sem
proteção, também pegam aids. De 1998 a 2008, os
casos da doença entre pessoas acima de 60 anos
no Brasil mais que dobraram, segundo dados de
2010 do Ministério da Saúde.
A via predominante de transmissão é por relação sexual heterossexual, em
ambos os sexos.
Embora o número absoluto de casos ainda seja pequeno em comparação com
outras faixas etárias, o ritmo de crescimento da doença entre os idosos é
preocupante, afirma Eduardo Barbosa, diretor do departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Sem o hábito - e, muitas vezes, sem o conhecimento - de usar preservativos,
esse grupo se expõe mais ao risco de contrair o vírus HIV, de acordo com
Eduardo Barbosa. “É difícil mudar a mentalidade dessa população. Eles ainda
encaram o sexo com camisinha como chupar bala com papel”.
1
2
Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval
Ver o website - jornal O Mossoroense.
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Além disso, para as mulheres o preservativo sempre esteve associado a um
método contraceptivo. Como não estão mais em idade reprodutiva, não veem
por que usá-lo.
O preconceito a respeito da vida sexual dessa população também dificulta a
proteção. “Ninguém de nós vê nossos avós como sexualmente ativos, e isso
dificulta o diagnóstico e o acesso à prevenção”, afirma Barbosa.
Os idosos têm ainda a ideia de que a aids é doença de jovens e que estão à
margem do risco, segundo o infectologista do Hospital Emílio Ribas, Jean
Gorinchteyn, autor do livro “Sexo e Aids depois dos 50” (jornal Folha de
S.Paulo, Caderno Equilíbrio e Saúde, 03/07/2011).
Rodrigo Mesquita, na reportagem “Aos 78 anos, mulher soropositiva há 15
acredita que é possível viver com otimismo”, aborda dados relevantes.
Segundo a matéria, os dados do Ministério da Saúde mostram que, a cada
ano, a fatia de novos velhos diagnosticados com aids só cresce.
Para Maria Luísa, 78 anos e soropositiva há 15, o diagnóstico não deve impedir
que as pessoas procurem viver o melhor possível. A entrevista ocorreu em sala
reservada (e ensolarada) de um hospital público da região oeste de São Paulo.
Na ocasião, a sorridente e otimista senhora conversou com a reportagem da
Folha, acompanhada da filha mais velha.
- Fiquei viúva e casei novamente. Meu segundo marido estava infectado, mas
eu não sabia. Nem ele sabia. Muitos anos depois do casamento comecei a ficar
doente, o que era muito estranho, sempre fui uma pessoa saudável. Se bem
que, para mim, não tem dia triste, é um dia bom após o outro.
- Enfim, fui ao consultório e o doutor não achava nada. Eu era doadora de
sangue, nunca tive nada. Outro médico, que me atendeu pelo plano de saúde,
perguntou: 'A senhora pode fazer uns exames?'. Ele desconfiava que meu
problema fosse aids. E quando chegaram os exames, lá estava o resultado:
soropositiva. Meu marido, que eu não duvido que pegou essa doença quando
me traiu, morreu um ano depois do meu diagnóstico.
- Comecei a fazer o tratamento na mesma semana do diagnóstico. Meus filhos
me levavam para o consultório. Minha família me trata como se eu não tivesse
nada, e é assim até hoje. As exceções foram pessoas que sofreram muito, que
diziam ‘Ah, ela vai morrer’. Que nada, vou chegar aos 90 anos e ainda vou dar
muita entrevista!
- Tirei a doença da minha cabeça, até esqueço que tenho aids, porque não
sinto nada. Bloqueei a doença, sempre fui sadia e ainda sou. Faço as minhas
tarefas de sempre, continuo a andar, passear etc. Todo mundo esperava que
eu ficasse triste, mas não me abalei com isso; sabia que ia matar todos esses
bichinhos e, hoje, não tenho nenhum.
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- Estou com essa doença há 15 anos, mas nunca me abalei com isso, ajo como
se tivesse pegado uma gripe: essa doença pega na cabeça e não vou deixar
de viver a minha vida, não vou morrer por causa disso. E não morri: comecei a
fazer atividades como ginástica, cooper e natação. Comecei a fazer uma coisa
que essa doença não gosta: viver.
- Minha família passou a tomar mais cuidado na hora do sexo, inclusive os
meus netos. Já cheguei a pegar camisinha do hospital e colocar nas gavetas
deles, nas camas das netas. Coloco lá para chamar a atenção, e eu sou a
prova viva do que pode acontecer quando há uma relação desprotegida.
- Nunca passei por preconceito, pois ninguém, a não ser meus parentes, sabe
que eu tenho aids. Não estou doente e, se disserem que estou, é mentira. Se a
pessoa não sente nada, ela não está doente. É o que acontece comigo.
- Essa doença é uma coisa muito triste para quem não sabe viver. A pessoa
tem que ser muito forte nessa hora, tem que ser muito higiênica com a casa, a
comida, tudo. Eu sempre fui assim, nunca precisei ter aids para ser higiênica; o
que lamento é ter deixado de doar sangue por causa da doença, meu sangue é
universal. Doei muito sangue, devo ter salvado muitas vidas. É uma pena ter
parado.
- Amo o meu médico atual, ele é bastante carinhoso comigo e com os
pacientes dele. Isso anima o paciente, dá força para ele viver, seguir em frente
com o tratamento. Se o médico diz: ‘Tá aqui o seu remédio, toma’, e nem olha
para a gente, é muito ruim. Mas se ele levanta da cadeira, me dá um abraço e
diz que eu vou ficar boa, que estou bonita, que o meu perfume está muito
bom... Esse é o médico que coloca o paciente pra cima.
- A morte? Não tenho medo, mas gosto de viver. Acho que vou sentir saudade
da minha família, dos meus amigos, do meu povo, que amo tanto. É bom
demais ter amizades, ser feliz. Não sou doente, tenho vida, tenho garra para
viver. Eu ia até fazer uma lipo, mas acabei desistindo.
- Eu tenho certeza de que vai surgir uma cura, como também podem vir coisas
piores ainda. Isso está mais perigoso para as vovós e os vovôs do que para os
meninos. Pois os vovôs se acham os bonzões, vão lá para a cama com as
menininhas, e acabam passando o vírus para as vovós. Tanto é que hoje vivo
dizendo para as minhas amigas: ‘se tiverem um parceiro, usem camisinha, pois
o HIV não está escrito na testa de ninguém’.
- Se algum leitor ou leitora soropositiva ler essa matéria, não fique triste.
Coloque na sua cabeça que você não tem nada! Tome o remédio e diga:
‘abençoe, Senhor, esse remédio, para que ele possa limpar meu sangue’. É o
que faço, e sempre ajuda. E tome cuidado para não ter relações desprotegidas.
Ah, mais uma coisa: se chorar, se ficar triste, a sua imunidade cai. Sou feliz e
procuro sorrir! Sempre!3
3
Ver jornal Folha de S.Paulo, Caderno +50, 22/01/2012.
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Em outra reportagem, Casos de Aids entre idosos dobram em dez anos,
Rodrigo Mesquita retoma o caso de Maria Luisa e seu segundo marido, que
contraiu o vírus da aids, segundo ela, durante um caso com outra mulher. Já
Maciel, 68, afirma igualmente que contraiu a doença durante uma relação
sexual desprotegida, segundo o próprio.
Os dois fazem parte de uma população que, pelos dados do Ministério da
Saúde, cresce rapidamente: pessoas com mais de 50 anos diagnosticadas com
o vírus HIV. Em 2000, 8,64% dos diagnósticos de HIV foram de pessoas nessa
faixa etária; em 2010 (até 30 de junho), a fatia chegou a 17,23%.
Para o médico Jean Carlo Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio
Ribas, localizado em São Paulo, existem várias possibilidades para explicar o
aumento da doença entre os novos velhos. Uma delas seria o fato de a doença
ser associada à juventude. “As campanhas publicitárias usam personagens
jovens, linguajar jovem, o que faz com que esse público se identifique como um
grupo de risco, enquanto os mais velhos se sentem menos vulneráveis”. Maciel
concorda: “Descuidando, a gente acaba se distraindo e não se prevenindo”.
Para Eliana Bataggia Gutierrez, diretora da Casa da Aids da USP, outro motivo
responsável pelo aumento de novos velhos com aids é o crescimento dos
diagnósticos tardios. “Provavelmente, uma parte dessas pessoas já tinha a
doença e não sabia”. Ela cita o sucesso dos coquetéis de remédios como um
motivo de os pacientes em tratamento ultrapassarem os 50 anos de idade.
Na instituição que dirige, que abriga 210 pacientes (sendo 7% com mais de 60
anos), as pessoas estão em tratamento há 14 anos, em média. “A maior parte
dos nossos pacientes começou a se tratar há dez, quinze anos, quando não
havia remédios muito bons”.
Maria Luísa e Maciel estão em tratamento há mais de dez anos. “Eu comecei o
tratamento na mesma semana do diagnóstico, e posso dizer que hoje não
estou doente”, diz ela, sorrindo. Eles contam que as únicas pessoas que
sabem de suas condições são os familiares. “Dos meus amigos, 99% não
sabem da minha situação, eu a omito. Se eles não perguntam, eu não vou ficar
expondo sem haver necessidade”, conta Maciel.
Para Gorinchteyn, os novos velhos sofrem duplo preconceito: contra a doença
e contra a idade. “Existem até casos de abandono de pacientes, mas estes
estão vinculados, principalmente, ao tipo de relação familiar que existia antes
da doença”.
Para os médicos, o tratamento de pessoas acima dos 50 anos requer cuidados
maiores do que em outras faixas etárias.
“O tratamento é realizado com três drogas ou mais, combinadas ou não, que
geralmente estão associadas a uma série de efeitos colaterais. E o indivíduo
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pode ter problemas que foram agravados pela idade, pela aids ou por outras
medicações”, explica Gutierrez.
Gorinchteyn acrescenta que certas doenças, como pressão alta, problemas de
colesterol e diabetes - as chamadas comorbidades -, podem ser agravadas
pelo tratamento. Por isso, o tratamento deve envolver as drogas que
apresentarem os menores riscos para os pacientes.
Outro problema, segundo Gorinchteyn, é o tempo entre a contaminação e a
detecção da doença; o intervalo médio entre os pacientes em geral varia entre
cinco e dez anos. Gutierrez completa dizendo que parte significativa dos
pacientes só descobre que tem aids quando tem a primeira doença oportunista.
É o caso do sarcoma de Kaposi (tipo de tumor que ataca a pele e órgãos como
o pulmão), da tuberculose e da pneumonia. “Na Casa da Aids, a taxa [de
pacientes que descobrem a Aids por meio de doenças oportunistas] é superior
a um terço dos casos”. 4
Idosos são 60% dos novos casos de HIV em Mato Grosso é o título da
reportagem de Andhressa Sawaris Barboza, na qual afirma que apesar de
haver redução dos casos de aids no Estado, aumenta a incidência da doença
na terceira idade.
Apesar de portadores do vírus HIV terem qualidade de vida
superior em relação à década de 1980, quando foram
diagnosticados os primeiros casos, ainda são registradas 11
mil mortes por ano no País. A falta de tratamento leva à
condição de debilidade extrema e é causa para o alto número
de mortes.
Mas ao contrário do que se pensa, o chamado “grupo de risco” em Mato
Grosso não está entre aqueles que se prostituem e seus clientes, muito menos
entre homossexuais. A terceira idade representa 60% dos casos registrados
nos últimos seis anos.
De acordo com o médico Ivens Cuiabano Scaff, o cenário no Estado é um
pouco diverso daquele do resto do País. Ele conta que a epidemia ainda não
foi controlada e caminhou para a terceira idade. “De cada dez pacientes
portadores do vírus que atendo, seis são esposas, heterossexuais, que foram
contaminadas por seus parceiros”. O aspecto mais preocupante do novo
comportamento social é o fato de que o vírus potencializa doenças
cardiovasculares, mesmo quando estão mais controladas.
Ou seja, se até o momento a tecnologia de medicamentos diminuiu em até
90% os riscos de transmissão, e melhorou a qualidade de vida de
4
Ver Folha de S.Paulo, Caderno +50, 24/01/2012
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soropositivos, é preciso voltar os olhos para os idosos. “Esse é o desafio mais
moderno, pois é muito mais difícil diagnosticar esses casos devido às
condições da idade, e acabamos descobrindo só quando um dos parceiros
adoece”, explica Scaff.
O médico ainda recomenda que o exame de HIV deve fazer parte da rotina,
pois quanto antes o diagnóstico é apresentado, menores serão os riscos de
que o paciente desenvolva outros tipos de doenças das quais ele está
vulnerável. Isso acontece porque portadores da aids estão sujeitos a se
contaminarem, pois o vírus age diminuindo as defesas do organismo. Se não
tratado, o paciente pode chegar a óbito por uma simples gripe.
No caso de idosos ainda há o agravante de doenças características à idade,
como é o caso de anomalias relacionadas ao coração e ao sistema circulatório.
“Como não podemos sempre pedir exame, porque pela lei brasileira o ato pode
ser considerado discriminação, é mais complicado, mas sempre recomendo
aos meus pacientes que façam”, ressalta o médico. Uma das curiosidades
nesse novo perfil é que as mulheres geralmente aceitam melhor que os
homens e assumem as responsabilidades da casa. Quanto a possíveis crises
no relacionamento, Ivens lembra que, pelos casos que acompanha, não são
frequentes. “Se a situação é essa, agora é daqui para frente”, revela ao médico
uma das mulheres que contraíram o vírus do marido.
Para Ivens Scaff, faltam políticas públicas para essas pessoas, considerando a
abordagem adequada. “O HIV não escolhe idade e, no caso do idoso, é um
organismo mais sensível e propenso a desenvolver as patologias relacionadas
ao vírus”. Outro ponto fundamental e que merece atenção por parte de órgãos
públicos é o fato de que medicamentos usados no tratamento de doenças
cardíacas entram em conflito com o coquetel antiaids.
Na rede pública de saúde da capital, há palestras sobre o tema nas reuniões
de grupos de idosos. De acordo com a coordenadora do grupo de idosos da
Policlínica do Planalto, Alice Magalhães, as palestras orientam esse público
quanto às doenças sexualmente transmissíveis (DST). Ela relata que quando
detectado algum caso, o paciente é encaminhado ao SAE. “Mas é difícil mudar
a cultura e os costumes de um idoso, fazer com que eles usem camisinha é
uma tarefa complicada”.
“Nem sempre os parceiros querem usar, mas se não querem a gente vai
mesmo assim”, diz uma senhora que participa do grupo da terceira idade. A
equipe desta reportagem esteve em um local onde é há baile para esse
público. De acordo com relatos, ali começam os namoros. “Depois daqui a
gente vai para casa”, afirma ela, admitindo ter amigas que, assim, já contraíram
doenças sexualmente transmissíveis. “Mas ninguém fala muito disso, fica na
intimidade da pessoa”, conclui. (Website Circuito Mato Grosso, 26/07/2012)
A reportagem de Mariana Lenharo, Mais idosos realizam teste de HIV em SP,
aponta levantamento, indica que mais idosos passaram por testes de HIV na
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cidade e no Estado de São Paulo em 2011, em comparação com o ano
anterior. É o que mostram levantamentos feitos a pedido do Jornal da Tarde,
por três laboratórios privados e por um Centro de Referência e Treinamento em
DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde. O fenômeno reflete, segundo
especialistas, mudanças comportamentais nesse grupo, que passou a
prolongar a vida sexual com a ajuda de medicamentos contra impotência, como
o Viagra.
No Laboratório Delboni Auriemo, por exemplo, foram feitos 3.730 testes de HIV
em idosos da capital paulista em 2011. O aumento foi de 26,3% na
comparação com 2010, quando houve 2.952 testes. Outro laboratório que
registrou esse movimento foi o Salomão-Zoppi Diagnósticos, também na capital
paulista. Lá, a porcentagem de crescimento do exame na terceira idade foi de
46% em 2010 e 2011.
Quando a comparação é feita entre os cinco primeiros meses deste ano em
relação aos cinco primeiros meses do ano passado, constata-se aumento de
75% nos pedidos de testes. No Lavoisier, levantamento feito em todo o Estado
de São Paulo, com 11.739 pessoas, mostrou que, em 2010 e 2011, ocorreu
aumento de 28,6% em exames feitos por pessoas com mais de 60 anos de
idade. Se 2.937 idosos procuraram o laboratório para saber se tinham HIV em
2010, no ano passado esse número subiu para 3.779.
Para a infectologista do Lavoisier, Maria Lavinea Figueiredo, a aids é um
problema sério entre pessoas com idade acima de 60 anos por causa da
situação imunológica mais frágil dessa população, pois a doença ataca
justamente o sistema de defesa do corpo. Além disso, o próprio tratamento
com antirretrovirais pode agravar problemas típicos da idade avançada, como
colesterol alto, diabetes e hipertensão.
Outra dificuldade é que o idoso, muitas vezes, acredita que a aids é doença
que atinge apenas os mais novos. “Hoje em dia eles têm acesso a remédios
que permitem que tenham relações sexuais, apesar da idade avançada. E
ficam mais suscetíveis a contrair doenças sexualmente transmissíveis”, disse
Maria Lavinea.
No Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, o número de idosos
testados para aids passou de 75, em 2010, para 101, em 2011. O aumento foi
de 34,6%, mas de acordo com a assistente de gerência do núcleo de DST e do
Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Angela Maria Peres, esse ainda
não é o público principal do núcleo - que costuma realizar mais de 3 mil
exames por ano. “Quem sempre nos procurou foi a população mais vulnerável:
homens que fazem sexo com homens, travestis, transexuais. Essa população
que tem mais de 60 anos só passa a nos procurar quando tem alguma
indicação de que o parceiro ou a parceira é HIV positivo”, disse.5
5
Ver o jornal O Estado de S.Paulo, 20/08/2012.
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Nos últimos anos, a terapia de reposição hormonal para as mulheres e os
tratamentos para que homens possam prolongar a ereção possibilitaram aos
idosos manter a vida sexual ativa, afirma a reportagem Saúde do idoso:
sexualidade.
Para o ginecologista Celso Galhardo, coordenador do Programa Municipal
DST/Aids, de São Paulo, é preciso quebrar o preconceito de que o idoso
sexualmente ativo é anormal. Segundo ele, não existe idade limite para a
atividade sexual, pois isso depende do físico do idoso, das condições de
saúde, da libido e do erotismo. “Sexo é sinal de saúde”, argumenta.
Além da maior frequência de sexo nessa faixa etária, outro problema tornou-se
preocupante - o aumento do número de infectados pelo HIV e outras doenças
sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorreia e clamídia. O vírus do HIV
ataca as células de defesa do corpo e o organismo fica mais vulnerável a
diversas doenças. Se descoberto cedo, o tratamento adequado feito com os
antirretrovirais possibilita uma vida normal.
De acordo com o Boletim Epidemiológico do Departamento de DST e Aids do
Ministério da Saúde, de 1980 até junho de 2011 foram notificados 16.838 casos
de aids em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em 2000, foram
registrados 702 casos nessa faixa etária.
Para a gerontologista e coordenadora nacional da Saúde do Idoso, do
Ministério da Saúde, Luiza Machado, o profissional de saúde muitas vezes se
esquece de perguntar se idoso tem atividade sexual e de pedir o teste. Assim,
ocorrem muitos erros de diagnóstico. “Hoje o idoso vive mais, namora mais,
então temos de preconizar uma campanha de prevenção da DST/aids”.
Segundo a especialista, cada vez mais mulheres idosas são infectadas com
HIV e outras DSTs durante o casamento. Muitos homens que fazem uso de
medicações contra a disfunção erétil procuram relações extraconjugais e não
usam camisinha. “É preciso estimular o uso do preservativo, a própria mulher
pode usar e está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde)”.
Galhardo considera que o aumento da incidência de HIV entre idosos está
ligado a uma questão cultural. “O idoso viveu numa época na juventude dele
que o uso de preservativo não era difundido, é difícil explicar a ele que pode
pegar o HIV em qualquer faixa etária. O idoso acha que o prazer será menor,
mas o sexo pode ser tão bom ou até melhor com camisinha”.
A geriatra Fabíola Borges diz que o HIV na terceira idade é questão delicada.
“Se é difícil convencer uma geração jovem que teve educação sexual e,
mesmo assim, não usa camisinha, imagine convencer um idoso que nunca
usou preservativo”.
E enumera outros fatores que contribuem para a disseminação do vírus em
idosos: faixa etária que não se preocupa com a prevenção de gravidez
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(considerada estímulo à prevenção dos jovens), preconceito do próprio idoso e
da sociedade que o vê como população de não risco e falta de informação.
Durante a janela imunológica – período entre a infecção pelo vírus da aids e a
produção de anticorpos anti-HIV no sangue –, o paciente não apresenta
sintomas. Mas muitas vezes o idoso somente procura ajuda médica no estágio
mais avançado da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, quando os
sintomas já estão se manifestando. Nessas situações, qualquer doença
oportunista, como gripe ou pneumonia, pode ser muito grave e até fatal. “O
idoso precisa tomar a iniciativa e fazer o teste. Quanto mais cedo tiver esse
diagnóstico, pode ser direcionado ao serviço público de saúde e ter o
tratamento correto”, afirma Galhardo (da redação do Website brasil.gov.br).
Vídeos – YouTube
Além das matérias descritas acima, localizamos no YouTube apenas dois
vídeos relacionando diretamente aids e terceira idade:
- “HIV na terceira idade”, com a descrição: “Segundo o Ministério da Saúde,
casos de aids entre idosos dobraram. A falta de hábito sobre o uso da
camisinha e o desconhecimento sobre prevenção são os maiores vilões nessa
história”.
- “Anúncio promove sexo seguro na terceira idade”, com a
descrição “Do it. Safely.”; nome de uma campanha que promove as
relações sexuais protegidas na terceira idade. Lançada pela
organização norte-americana SaferSex4Seniors, a iniciativa
pretende demonstrar aos idosos tudo aquilo que ainda lhes é
possível para satisfazer o desejo sexual.
Com esta revisão das reportagens que circularam pela mídia e
vídeos entender que o caminho é longo. Ainda há muito por falar,
esclarecer e orientar os mais velhos quanto aos riscos e cuidados
que se deve ter com as doenças sexualmente transmissíveis.
É fundamental que os profissionais de saúde vejam os pacientes idosos, como
os jovens e adultos, como indivíduos potenciais ao risco de infecção pelo vírus
HIV, sem perder de vista o envolvimento da sociedade e adoção de políticas
públicas efetivas.
Com o acelerado envelhecimento da população, torna-se fundamental, senão
crucial, executar estratégias para diminuir o estigma em relação à vida sexual
das pessoas mais velhas, práticas educativas, e incentivar pesquisas
relacionando velho, velhice e envelhecimento à aids.
Numa época como o Carnaval, em que vivemos, de forma consciente, uma
espécie de “suspensão das normas”, algo parecido com um libertar-se mágico
de si mesmo, nunca é demais lembrar os cuidados essenciais.
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Todos os anos, o Ministério da Saúde - Departamento de Doenças
Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais (DST) costuma divulgar
campanhas que compreendem duas fases: antes do Carnaval, o apelo é para o
uso do preservativo nas relações sexuais. Depois do período da festa, a ideia é
estimular a fazer o teste HIV para quem teve relação sexual desprotegida com
parceiro casual ou fixo.
Sexo é bom, sexo é saúde. Que fique claro que velhice não é sinal de fim,
menos ainda de término dos desejos e práticas sexuais. Esse sexo existe
efetivamente, não é invisível e menos ainda vazio, como muitos acham. Com
Carnaval ou sem Carnaval, sexo com camisinha é, sempre, a melhor
combinação e opção.
Referências
Barboza, A.S. (2012). Idosos são 60% dos novos casos de HIV em Mato
Grosso. Disponível em http://www.circuitomt.com.br/editorias/cidades/17739idosos-sao-60-dos-novos-casos-de-hiv-em-mato-grosso.html.
Acesso
em
01/12/2012.
brasil.gov.br
(S/D).
Saúde
do
idoso.
Disponível
em
http://www.brasil.gov.br/sobre/saude/saude-do-idoso/sexualidade. Acesso em
01/12/2012.
Jornal O Mossorense (2012).Transmissão do vírus HIV no Carnaval pode
crescer
cerca
de
30%.
Disponível
em
http://omossoroense.uol.com.br/cotidiano/14880-transmissao-do-virus-hiv-nocarnaval-pode-crescer-cerca-de-30. Acesso em 01/12/2012.
Lenharo, M. (2012). Mais idosos realizam teste de HIV em SP, aponta
levantamento.
Disponível
em
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimasnoticias/estado/2012/08/20/mais-idosos-realizam-teste-de-hiv.htm. Acesso em
01/12/2012.
Mesquita, R. (2012). Aos 78 anos, mulher soropositiva há 15 acredita que é
possível
viver
com
otimismo.
Disponível
em
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Acesso em 01/12/2012.
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em
Data de recebimento: 19/01/2013; Data de aceite: 19/01/2013.
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Luciana Helena Mussi - Engenheira, psicóloga e mestre em Gerontologia pela
PUC/SP. Doutoranda em Psicologia Social PUC/SP. Colaboradora do Portal do
Envelhecimento. E-mail: [email protected]
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista
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