H 199 ouve na última década um grande investimento na formação de arqueólogos no Brasil, especialmente, na graduação. Entre 2004 e 2013 foram criados 13 cursos 12 em universidades públicas (UEA, UNIR, UFOPA, UFPI, UFPE, UFS, UNEB, UFMG, UERJ, UFPEL, FURG, UNIVASF)1 e um em instituição privada (PUC Goiás) - somando mais de 500 vagas anuais abertas para futuros profissionais do campo da Arqueologia no país. Além disso, há projetos em andamento em outras instituições e, recentemente, foi anunciada a abertura da graduação em Arqueologia na Universidade Federal do Maranhão (UFMA)2 . A Pós-Graduação também se ampliou e os dados divulgados pela CAPES apontam 09 cursos de formação de arqueólogos no Brasil: cinco deles em Arqueologia (UFPI, UFPE, UFS, UFRJ e USP) e quatro em Antropologia com concentração em Arqueologia (UFPA, UFBA, UFMG e UFPEL)3. A preocupação com a rápida criação e crescimento da formação de arqueólogos nas universidades brasileiras foi tema de vários artigos publicados nos últimos anos (BEZERRA, 2008; FERREIRA E CERQUEIRA, 2009; EREMITES de OLIVEIRA, 2014). A Sociedade de Arqueologia Brasileira organizou o volume “Como se Formam os Arqueólogos no Brasil” no periódico “Arqueologia em Debate”4 em 2011 (ISNARDIS, 2011; PY-DANIEL, 2011; THIESSEN e BARCELOS, 2011; BARBOSA, 2011; CARLE, 2011; PENIN, ZIMPEL e SILVA, 2011; SCABELLO e MONTEIRO DA SILVA, 2011; VIANA e RUBIN, 2011), convidando colegas de diferentes universidades com experiência, sobretudo, em cursos de graduação em arqueologia. As reflexões dos autores mostram um quadro muito diferente daquele discutido por Funari (1999-2000) em seu artigo “Como se tornar arqueólogo no Brasil”, publicado no final dos anos 1990, quando as opções para o treinamento formal específico na carreira ainda eram poucas. No texto Funari cita o curso de bacharelado de Arqueologia da Goiânia, v. 12, n.2, p. 199-204, jul./dez. 2014. MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS SOBRE O ENSINO DE ARQUEOLOGIA NO BRASIL EDITORIAL EDITORIAL Goiânia, v. 12, n.2, p. 199-204, jul./dez. 2014. Universidade Estácio de Sá, o primeiro do país, que naquela época estava em processo de extinção. Contudo, a ampliação e diversificação das posições de trabalho para os arqueólogos brasileiros foram contempladas pelo autor, que apontou alguns dos mesmos problemas destacados pelos autores citados em 2011. Apesar dos inúmeros pontos ressaltados por essa crescente bibliografia, estamos longe de termos esgotado as reflexões sobre o panorama do ensino da arqueologia no Brasil. Considerando a necessidade de contribuir para o permanente debate em torno da formação de arqueólogos, os editores deste volume – com experiência no ensino da arqueologia, na graduação e na pós-graduação5 – reuniram no volume temático “������������������������������������������������������������������������������������� Múltiplas Perspectivas Sobre o Ensino de Arqueologia no Brasil” sete artigos que tratam do tema, de forma revigorante, a partir de distintos lugares e olhares da arqueologia no país. O artigo de Caromano, Trindade e Cascon intitulado, O Ensino da Arqueologia Visto dos Bancos da Pós-Graduação trata do ensino de Arqueologia no Brasil na visão de estudantes de pós-graduação. Com base em levantamento sobre o perfil dos egressos dos programas de pós-graduação strictu sensu em Arqueologia, nos últimos cinco anos, e do currículo obrigatório desses cursos, os autores fazem uma análise crítica sobre a atual formação de arqueólogos no país. O artigo traz importante reflexão sobre a necessidade da discussão do papel dos programas de pós-graduação como formadores de jovens professores de Arqueologia e de profissionais ligados à Arqueologia de Contrato. No artigo A Graduação em Arqueologia UERJ – Um Curso em Construção, Paulo Seda apresenta o projeto pedagógico do mais recente curso de bacharelado em Arqueologia no Brasil, implantado em março de 2014, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Seda discute acerca do processo de criação de um curso de Arqueologia na região sudeste, nove anos após a abertura da primeira graduação da leva de cursos surgidos na década de 2000; bem como o fato da região comportar o maior número de arqueólogos do Brasil e ter sido o local de instalação do primeiro bacharelado na área: o curso da Estácio de Sá. Com o artigo Arqueologia Preventiva e o Ensino de Arqueologia no Brasil, Paulo Zanettini e Camila Wichers discutem a relação entre Arqueologia Preventiva e o ensino de Arqueologia. Os autores questionam se os projetos de pesquisa relacionados ao licenciamento ambiental podem ser considerados como campo de trabalho ou também como campo de formação. O artigo Educando Embaixo D’ água: o Ensino de Arqueologia Subaquática no Brasil (1992-2014), redigido por Duran, Camargo, Calippo e Rambelli faz uma retrospectiva sobre a formação de especialistas em Arqueologia Subaquática no Brasil. Os quatro pesquisadores enfatizam a expansão do campo, ocorrida nos últimos anos, a partir de sua introdução em projetos pedagógicos de alguns cursos de graduação em Arqueologia. Os autores consideram que a docência da Arqueologia de ambientes aquáticos, no nível superior, ainda está em construção e salientam que um dos atuais desafios consiste na busca por novas ferramentas, que possam avançar o conhecimento desse campo de atuação no país. José Alberione dos Reis em seu artigo, Fazer Arqueologia no Mundo Antigo é Fácil. Os Romanos eram Especialistas em Construir Ruínas” – e a Teoria? Onde Está a Teoria no Ensino de Arqueologia? apresenta de modo crítico e perspicaz considerações sobre o estatuto da teoria no ensino de Arqueologia nos cursos existentes no Brasil. 200 Notas 1 Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal do Vale de São Francisco (UNIVASF). 2 Com.pess. Alexandre Navarro, Belém, novembro de 2014. 3 http://www. capes.gov.br Acesso em Março/2015. 4 Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, nº 3, ano 2011. Editor: L. Bueno. Editores Associados: D. Klokler, J. Machado e F. Calippo. 201 5 Sibeli Viana foi coordenadora do curso de graduação em Arqueologia da PUCGoiás e é membro do corpo docente desde sua criação. Marcia Bezerra foi professora Goiânia, v. 12, n.2, p. 199-204, jul./dez. 2014. O autor enfoca os conteúdos programáticos constantes nos programas das disciplinas voltadas, explicitamente, para o ensino de perspectivas teóricas na Arqueologia . José Pellini em Os Sacerdotes da Verdade: Ética e o Conceito de Registro Arqueológico aborda, criticamente, a intrínseca relação entre ética, registro arqueológico, ciência e educação. Tomando como ponto de partida o registro arqueológico, o autor questiona sobre o próprio conceito de registro arqueológico, considerando que sua natureza polissêmica tem implicações éticas, em geral, desconsideradas pelos arqueólogos. Segundo Pellini, o papel da educação é essencial, pois a questão ética está relacionada à ideia de registro arqueológico e ao papel do arqueólogo na sociedade; assim como no processo de “educar” ou “deseducar” as novas gerações de arqueólogos. Por fim o artigo de Marlene de Moura e Rosana Schmidt intitulado O Ensino da Antropologia e sua Aproximação com o Campo Disciplinar da Arqueologia faz uma reflexão sobre o ensino da Antropologia no Brasil e o seu campo de atuação. As autoras apontam as aproximações e afastamentos das fronteiras epistemológicas e empíricas nos campos da Antropologia e da Arqueologia. De forma pontual analisam a contribuição da Antropologia na formação de arqueólogos oriundos do curso de graduação em Arqueologia da PUC Goiás. Após os artigos há uma entrevista com um dos editores do volume, Jorge Eremites de Oliveira, atual Coordenador Adjunto da área de Antropologia/Arqueologia da CAPES, que fala sobre a expansão da pós-graduação em arqueologia no Brasil. Além dos artigos e da entrevista, a resenha do livro Training and Practice for Modern Day Archaeologists, organizado por Jameson e Eogan, revela os problemas da formação e da prática profissional da arqueologia em vários países. Encerrando o volume estão três resumos de dissertação de mestrado e um de tese de doutorado, defendidas em programas de pós-graduação em duas universidades: UFPA e PUC Goiás, tratando de temas que consideram a arqueologia histórica e arqueologia simétrica. Esperamos que a leitura deste volume contribua para o reconhecimento do contexto de formação de arqueólogos no Brasil e para o avanço das reflexões sobre a Arqueologia no país. do curso da Universidade Estácio de Sá durante 13 anos, além de ser docente de programa de pós-graduação na área (UFPA), coordena o projeto Ensino da Arqueologia na Amazônia: formação de arqueólogos, produção de conhecimento e construção do campo disciplinar no campo da Arqueologia no Brasil/CNPq. Ambas são bacharéis em Arqueologia pela Estácio de Sá e fizeram parte do grupo criador da graduação do projeto pedagógico do curso de Arqueologia PUC-Goiás. Jorge Eremites é professor dos cursos de formação de arqueólogos, graduação e pósgraduação, da Universidade Federal de Pelotas e é o atual Coordenador Adjunto da área de Antropologia/Arqueologia da CAPES. Referências BARBOSA, M.F. O curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), campus de São Raimundo Nonato, PI. Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, São Paulo, n. 3, p. 19-20. 2011. BEZERRA, M. Bicho de Nove Cabeças: os cursos de graduação e a formação de arqueólogos no Brasil. Revista de Arqueologia, n. 21, v. 2, p. 139-154. 2008. CARLE, C. B. Curso de Arqueologia da Universidade Federal Pelotas – UFPel. Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, São Paulo, n. 3, p. 20-22. 2011. EREMITES DE OLIVEIRA, J. Jus Sperniandi: Proposta de Criação de uma Graduação em Antropologia em Mato Grosso do Sul, Brasil. Cadernos do LEPAARQ , vol. XI , n°21, p. 8-43. 2014. FERREIRA, L. M.; CERQUEIRA, Fábio V. A Graduação em Arqueologia na UFPel: um currículo na interface entre Arqueologia e Antropologia. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da UPS, n. 19, p. 79- 86. 2009. FUNARI, P.P. Como se Tornar Arqueólogo no Brasil. Revista USP, n.44, p. 74-85. 1999-2000. ISNARDIS, A. Arqueologia com Antropologia / Antropologia com Arqueologia: o curso de graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 8-10. 2011. PENIN, A., ZIMPEL e SILVA. O Curso de Bacharelado em Arqueologia na Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 23-26. 2011. PY-DANIEL, A.R. O Curso Superior de Tecnologia em Arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas – UEA. Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 10-13. 2011. SCABELLO, A. L. M.; FERNANDES DA SILVA, A.S. O Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 27-29. 2011 THIESEN, B. V.; BARCELOS, A. H. F. O campo não faz o arqueólogo: em defesa da formação de pesquisadores em Arqueologia e o bacharelado da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 16-18. 2011. VIANA, S.A.; RUBIN DE RUBIN, J. C. A Formação em Arqueologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás. Arqueologia em Debate: Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, n. 3, p. 14-16. 2011. Goiânia, v. 12, n.2, p. 199-204, jul./dez. 2014. Sibeli A. Viana, Marcia Bezerra e Jorge Eremites de Oliveira Editores 203 204 Goiânia, v. 12, n.2, p. 199-204, jul./dez. 2014.