Revista Brasileira de Gestão de Negócios

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ISSN 1806-4892
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas
Pós-Reforma Econômica
Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales /
Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas
nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
Foto estiliza da fachada do campus Largo São Francisco, inaugurado em 1908 e tombado pelo patrimônio histórico em 1992.
A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas
do Terceiro Setor: uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes
sob a Perspectiva Sociológica
Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente
nas Interações de Serviços
Gabriel Sperandio Milan
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade
do Estado de São Paulo
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes /
Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens
Praticadas pelas Corporações Brasileiras
José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
Revista Brasileira de Gestão de Negócios
R$ 20,00
Volume 9 / Número 23
Janeiro / Abril 2007
Revista Brasileira de Gestão de Negócios
Volume 9 – Número 23 – janeiro / fevereiro / março / abril 2007
Publicação Quadrimestral
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – FECAP
Missão
Disseminar estudos e pesquisas de elevado padrão acadêmico em Administração
e Contabilidade que possam contribuir para a melhoria da gestão em organizações
ISSN 1806-4892
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Elaborada pela Biblioteca Paulo Ernesto Tolle
Revista brasileira de gestão de negócios / Fundação Escola de
Comércio Álvares Penteado. – Vol. 9, no. 23 (jan./abr. 2007).
- São Paulo : FECAP, 2004 -. – v. : il. ; 28 cm
Quadrimestral
Continuação de: Revista Álvares Penteado, 1998 - 2003.
ISSN 1806-4892
1. Administração de Ciência, tecnologia e informação 2. Contabilidade,
controladoria e finanças 3. Economia de empresas e gestão pública
4. Ensino e pesquisa em administração e contabilidade 5. Estratégia
e comportamento organizacional 6. Gestão de pessoas e do capital
intelectual 7. Marketing I. Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado
CDD 657
CDD 658
RBGN
São Paulo
v. 9
n. 23
p.01 – 106
jan./abr. 2007
Revista Brasileira de Gestão de Negócios
Expediente
Publicação quadrimestral da FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
Centro Universitário Álvares Penteado – UNIFECAP
Reitor da FECAP e Pró-Reitor de Pós-Graduação – Sérgio de Gouvêa Franco
Pró-Reitor de Graduação – Edison Simoni
Pró-Reitor de Extensão e Desenvolvimento- Almir Zampolo
Diretor Geral da Revista: Luiz Guilherme Brom
Editor: Roberto Coda
Conselho Editorial
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Carlos Alberto M. Callegaro – Universidade Federal do RGS - UFRGS
César Augusto Tibúrcio Silva – Universidade de Brasília - UnB
Gilda Portugal Gouveia – Universidade de Campinas – UNICAMP
Gilberto de Andrade Martins – Universidade de São Paulo– FEA/USP
Gustavo Guerra Galindo – Universidad Veracruzana – México
Heitor Takashi Kato – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR
Jonathan Hermosilla Cortés.- Director Escuela de Comercio Pontificia Universidad Católica de Valparaíso - Chile
Martinho Maurício Gomes de Ornelas – Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Paulo Schimidt – Universidade Federal RGS – UFRGS
Paulo Tromboni Nascimento – Universidade de São Paulo – FEA/USP
Stael Maria Vieira Barquette – Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
Simon L. Dolan – Universidad Ramon Luill – Barcelona – Espanha
Pareceristas
Professores da FECAP e Professores e Pesquisadores de outras Instituições
Revisão de Português - Saulo César da Silva - Sandra Helena Teciotti
Revisão das Normas ABNT - Giseli Ferreira de Brito
Secretaria Editorial
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Diretoria de Produção
Maisa Sabonaro (Mtb 29.952)
Diagramação
Lybra Comunicação e Design
Impressão Gráfica
Consultgraph
Tiragem: 2.000 exemplares
Data de Impressão: maio de 2007
Endereço para Correspondência e Contato:
E-mail: [email protected] Site: www.fecap.br/rbgn
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ISSN 1806-4892
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Revista Brasileira de Gestão de Negócios
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Superintendência Acadêmica - Sérgio de Gouvêa Franco
Diretrizes e Orientações para Publicação
PERFIL TEMÁTICO E
OBJETIVOS DA PUBLICAÇÃO:
A Revista Brasileira de Gestão de Negócios,
existente desde 1998, tem como missão divulgar estudos e pesquisas de elevado padrão acadêmico em Administração e Contabilidade que possam contribuir para
a melhoria da gestão em organizações. Dirigida a um
público formado principalmente por docentes, pósgraduados, graduandos e profissionais de empresas ou
instituições que fazem uso dos conhecimentos e técnicas das áreas Contabilidade e Administração, prioriza
para publicação os seguintes tipos de trabalhos:
• Artigos que representam um avanço técnicocientífico;
• Artigos que retratam e analisam casos ou situações relevantes em organizações;
• Artigos contendo uma revisão completa de
um tema ou assunto relevante ou uma revisão
parcial, porém útil, tornando-se, assim, uma
contribuição efetiva.
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DE ARTIGOS:
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levam em conta relevância do tema, originalidade da
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estruturação e desenvolvimento teórico, metodologia
utilizada, conclusões e contribuição oferecida para
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DE ARTIGOS:
1. Administração de Ciência, Tecnologia e Informação
2. Contabilidade, Controladoria e Finanças
3. Economia de Empresas e Gestão Pública
4. Ensino e Pesquisa em Administração e
Contabilidade
5. Estratégia e Comportamento Organizacional
6. Gestão de Pessoas e do Capital Intelectual
7. Marketing
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mínimo 3 e no máximo 5 palavras-chave, após
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com negritos e corpos de diferentes tamanhos,
caminhando do maior para o menor (título e
subtítulo), não se admitindo o uso de negrito
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esquerda quanto da direita, além da margem
normal;
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um breve curriculum vitae e título do artigo;
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pelo menos um dos autores for estrangeiro;
• as referências bibliográficas devem estar no
final do artigo e devem obedecer às normas
ABNT (NBR 6023/00).
• ENVIAR PARA : [email protected]
Editorial
Na oportunidade da publicação do primeiro número do nono ano da Revista Brasileira de Negócios cumpre
registrar o início da implantação do novo projeto gráfico e formatação deste periódico, voltado para o aperfeiçoamento e a consolidação de sua identidade visual e em consonância com normas e princípios de comunicação vigentes em sua instituição patrocinadora – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - FECAP.
Neste número 23, ao final, acha-se também incluído o conjunto de informações editoriais relativas aos três
números publicados durante o ano de 2006. Uma análise geral dessas informações permite identificar como
pontos fortes da RBGN, a participação amplamente majoritária de docentes e pesquisadores de outras renomadas
instituições como autores dos trabalhos publicados e o expressivo aumento do número de trabalhos submetidos.
Durante o ano de 2006, todas as áreas temáticas da RBGN foram contempladas com a submissão e publicação
de artigos. Como aspecto a melhorar surge a necessidade de incrementar a publicação de trabalhos de autores
de outros estados brasileiros, uma vez que o interesse maior em relação à RBGN como veículo de divulgação da
produção acadêmica brasileira tem sido junto a pesquisadores do Estado de São Paulo.
Dos trabalhos que fazem parte desta edição, três artigos pertencem à área temática Contabilidade, Controladoria
e Finanças; três à área de Marketing e um à área de Estratégia e Comportamento Organizacional. Cumpre também registrar que dois dos artigos publicados são oriundos de trabalhos publicados no ENANPAD de 2006.
Esse novo patamar alcançado pela RBGN vem recompensar os esforços voltados para o constante aperfeiçoamento da revista por parte de toda a equipe envolvida nesse projeto acadêmico: professores da FECAP dos cursos de
graduação e mestrado, biblioteca, secretaria, gráfica e, em especial do corpo de pareceristas, que tem efetuado
importantes sugestões para tornar os trabalhos ainda mais claros e centrados nas áreas temáticas contempladas
pela RBGN. A todos o agradecimento pela colaboração e trabalho realizado durante o ano de 2006, esperando
contar com a continuidade desta parceria também em 2007.
Roberto Coda
Editor
105 Anos de Ensino e Pesquisa
em Gestão de Negócios
Em sessão solene, realizada em São Paulo no dia 02 de junho de 1902, nascia a FECAP, com a finalidade de “...
ministrar o ensino technico necessario à profissão comercial ou preparar administradores, negociantes...” Um
projeto inovador e ousado para a época, cuja implantação envolveu membros ilustres da elite econômica paulista.
Antônio de Álvares Leite Penteado, Horácio Berlinck, Senador Lacerda Franco, Dr. Veiga Filho e Raymundo
Duprat foram alguns dos principais líderes dessa empreitada. O momento era de efervescência: o número de estabelecimentos industriais em São Paulo passava de 165, em 1900, para 4.145, em 1910. À FECAP caberia então
o papel pioneiro de prover de quadros especializados o comércio e a indústria, o que fez com grande sucesso
desde os primórdios: em 1910, a escola já contava com 450 alunos.
Responsável pela introdução do ensino técnico de gestão de negócios no país, a FECAP também lançou os primeiros cursos superiores de Contabilidade e Economia do Brasil. Hilário Franco, Aroldo de Azevedo, Américo Oswaldo Campiglia são os pioneiros de um numeroso e ilustre corpo de professores que, ao longo de mais de um
século, honrou esta casa de ensino. Instituição de utilidade pública federal desde 1905, sem fins lucrativos, aplica
na educação a integralidade dos seus recursos.
Mas se o passado é motivo de orgulho, o presente não é menos luminoso.
Transcorridos 105 anos, a FECAP continua a cumprir de modo exemplar seu objetivo social e dever estatutário.
Instituição moderna, hoje conta com seis cursos superiores, todos relacionados à gestão de negócios: Administração, Contabilidade, Economia, Relações Internacionais, Comunicação Social e Secretariado Executivo. O
Colégio FECAP oferece cursos técnicos e ensino médio pleno. Além do reconhecido mestrado strictu sensu em
Ciências Contábeis, a instituição oferece ainda uma grande variedade de cursos lato sensu e de cursos livres.
Cerca de 94% de seus professores são titulados, entre livre-docentes, doutores e mestres. Possui vários centros
de pesquisa certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com
apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Os resultados conseqüentes de mais de um século de seriedade no trato do ensino e da pesquisa refletem-se no
amplo reconhecimento público. A FECAP foi o único Centro Universitário do Brasil a obter nota A em todos os
seus cursos no último provão realizado pelo MEC (2003). Centro Universitário que também foi considerado o
melhor do país em 2006, em pesquisa realizada pelo Guia do Estudante da Editora Abril.
Para além do glorioso passado de 105 anos, a FECAP tem diante de si um futuro não menos brilhante. Sempre
intransigente no compromisso com a educação séria e responsável.
Luiz Guilherme Brom
Diretor Geral da Revista
Sumário
Summary
RBGN volume 9 / número 23 / 2007
Área Temática: Contabilidade, Controladoria e Finanças
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas
Pós-Reforma Econômica
Accounting Education in China: Trends and Perspectives after the Economic Reform
Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales /
Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira _______________01
Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas
nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Costs Management Practices by Organizations Located at Northwest and West Paraná
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl _______________14
A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas
do Terceiro Setor: uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
Accountant Contribution for the Third Sector Organizations
Management: a Research Field in the Federal District - Brazil
Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins _______________28
Área Temática: Marketing
Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes
sob a Perspectiva Sociológica
A Contribution for the Understanding of Meals Consumption
in Restaurants under a Sociological Point of View
Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker _______________42
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente
nas Interações de Serviços
Enhancing the Understanding about Emotions in Services Interactions
Gabriel Sperandio Milan _______________51
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade
do Estado de São Paulo
Accounting Marketing by Accounting Offices in the State of São Paulo
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes /
Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva _______________61
Área Temática: Estratégia e Comportamento Organizacional
Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens
Praticadas pelas Corporações Brasileiras
Information Systems Integration: Analyzing Brazilian Organizations Approaches
José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho _______________78
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
Área Temática: Contabilidade, Controladoria e Finanças
Educação Contábil na China:
Tendências e Perspectivas Pós-Reforma
Econômica
Jorge Katsumi Niyama
Doutor em Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo – FEA/USP. Coordenador do Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação
em Ciências Contábeis da UnB / UFPE / UFRN [[email protected]]
Isabel Cristina Henrique Sales
Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília - UnB [[email protected]]
Jomar Miranda Rodrigues
Mestrando em Ciências Contábeis pelo Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação
em Ciências Contábeis da UnB / UFPE / UFRN [[email protected]]
Pedro Henrique Duarte Oliveira
Mestrando em Ciências Contábeis pelo Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduaçãoem Ciências
Contábeis da UnB / UFPE / UFRN [[email protected]]
Endereço dos autores: Fundação Universidade de Brasília
Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte- DF, Cep.: 70.910-900
Recebido em 07 de Novembro de 2006 / Aprovado em 30 de Março de 2007
Resumo
Após as reformas econômicas ocorridas no final da década de 70, a Contabilidade na China
tem evoluído significativamente, acarretando severas alterações no sistema educacional
do país. O presente artigo tem como objetivo
apresentar a evolução, tendências e perspectivas da educação contábil chinesa, considerando
aspectos pré e pós-reforma. Para esse propósito, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória
sobre as principais características do sistema
educacional chinês por intermédio de revisão
da literatura atualizada e especializada, bem
como de estudos sobre a reforma econômica
nacional e seus principais reflexos na Contabilidade. Os aspectos relativos às reformas na
educação, mudança curricular e aprimora-
mento da produção científica são apresentados
como forma de alcançar os objetivos propostos. A melhoria da educação e o desenvolvimento das pesquisas contábeis vêm tornando
essas mudanças mais compreensíveis para o
mundo ocidental.
Palavras-chave:
Educação Contábil. China. Reforma Eco­nô­mica.
Abstract
Since the economic reforms in the end of the
70’s, the accounting in China has been presenting
a significant development, occasioning severe
alterations in the country’s education system.
This paper has as prior objective to present the
evolution, tendencies and perspectives of the
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales / Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
Chinese accounting education, considering pre
and post-reform aspects. For that purpose, it
was developed an exploratory research about the
main characteristics of the Chinese education
system, through a revision of the updated and
specialized literature, as well as through studies
on the national economic reform and its main
reflexes in accounting. The aspects of the
reforms in education, the curricular changes
and the betterment of scientific production
are presented as a way of reaching the proposed
objectives. The improvement of education and
the development of accounting researches are
making the changes more comprehensible for
the western world.
Key-words:
Accounting Education. China. Economic Reform.
1 INTRODUÇÃO
A Contabilidade desempenha um importante papel no gerenciamento empresarial e
no desenvolvimento econômico. Assim sendo, a
Contabilidade é usualmente considerada como
linguagem “dos negócios”, em que os principais
agentes econômicos (players) buscam informações (principalmente de natureza econômicofinanceira) sobre o desempenho operacional
e os riscos envolvidos na realização de investimentos (NIYAMA, 2005).
Segundo Yunwei (1997), essas afirmações não eram plenamente reconhecidas
na China até a recente reforma econômica
de 1978, que contou com valiosas contribuições por parte dos contadores. As marcantes
transformações no cenário econômico chinês
chamaram a atenção da comunidade internacional, e os resultados se refletiram nas mais
diversas áreas do conhecimento, inclusive na
Contabilidade .
Durante a Revolução Cultural do Grande Proletariado (Great Proletariat Cultural Revolution), ocorrida no período que compreende o final dos anos sessenta e meados dos anos
setenta, a Contabilidade chinesa experimentou
grandes dificuldades. Dela era exigida apenas
a simplicidade e a facilidade do entendimento
por parte dos usuários. A educação contábil era
fraca, e a maioria dos departamentos de Contabilidade das instituições de ensino superior
(institutions of higher learning) foi fechado
(YUNWEI, 1997).
Logo após o início da campanha de modernização, no final da década de 70, concomitante ao período das reformas econômicas,
oficiais do governo e administradores perceberam que contadores qualificados eram essenciais para o alcance de seus objetivos econômicos (JIASHU; LIN; FENG, 1997; YUNWEI,
1997). A partir desse momento, a Contabilidade assume posição de destaque, e a educação contábil experimenta um período de célere desenvolvimento. Em relatório divulgado
em 1993, o Fundo Monetário Internacional
avaliou a China como a terceira maior economia mundial, atrás apenas dos Estados Unidos
e Japão, superando a Alemanha (WINKLE;
HUSS; XI-ZHU, 1994).
Como justificativa da pesquisa, é apontada a escassa disponibilidade de estudos contábeis em países que não possuem o inglês como
língua pátria. No Brasil, as pesquisas voltadas
para a Contabilidade internacional ainda se
apresentam “tímidas” comparativamente àquelas desenvolvidas em outros ramos da Contabilidade (WEFFORT, 2005). O estudo avança
nessa discussão, buscando oferecer uma contribuição para a redução desse problema ao tratar
da Contabilidade na China e os aspectos evolutivos do sistema educacional do país.
Quanto ao conteúdo, percebe-se que
uma grande parte das pesquisas detém-se na
constatação das diferenças nas normas e práticas
contábeis entre os países, sem considerar aspectos intrínsecos de cada nação como, por exemplo, o sistema educacional .
Nesse sentido, o objetivo do trabalho é
apresentar a evolução, tendências e perspectivas da educação contábil chinesa, considerando
aspectos pré e pós-reforma econômica. Para
tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória sobre as principais características do sistema
educacional chinês por meio de revisão da literatura atualizada e especializada, bem como de
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
recentes estudos em Contabilidade realizados
naquele país.
O presente artigo limita-se ao estudo dos
aspectos educacionais contábeis na China, sem
a intenção de contemplar aspectos tais como:
ambiente legal e regulamentar, características
atuais da profissão contábil, valores culturais,
políticos e tradição histórica, os quais não são
escopos dessa pesquisa.
O artigo está dividido em sete seções. Após
a introdução, são apresentados os aspectos
dos sistemas contábil e educacional chineses
anteriores à reforma econômica. A terceira
seção apresenta as características do antigo
sistema educacional chinês e seu período
transitório para uma nova estrutura. A quarta
seção traz as razões para a mudança no ambiente
econômico chinês e sua influência no sistema
educacional. A quinta seção descreve a reforma
da educação contábil chinesa. A sexta seção
apresenta o desenvolvimento das pesquisas em
Contabilidade e as tendências e perspectivas para
o futuro. Finalmente, a sétima seção apresenta
as considerações finais.
2 SISTEMAS CONTÁBIL E EDUCACIONAL
CHINESES ANTERIORES À REFORMA
ECONÔMICA
Durante a Era Maoísta, ocorreu um retrocesso forçado na profissionalização da China. Após esse período, a Contabilidade ressurgiu devido ao crescimento econômico do país.
Segundo Xu e Xu (2003), foram três os principais fatores para a ascensão da Contabilidade:
o desenvolvimento da indústria, dos bancos,
das finanças e da educação; a presença estrangeira dominante na Xangai semicolonial, que
acarretou tanto um modelo quanto uma fonte
de competição para os contadores da região; e
a promoção e o desenvolvimento da profissão
pelo Estado. Desses, o papel do Estado é provavelmente o mais crucial.
Cabe ressaltar que na China perdurou
como profissional contábil o característico guarda-livros , homens que como pré-requisito deveriam ser considerados alfabetizados. Utilizavam
uma Contabilidade básica com o método das par-
tidas simples. Poucos eram os mais escolarizados
que adotavam o método das partidas dobradas.
Na área contábil não havia organizações profissionais, eram pouquíssimos os cursos de graduação, e o sistema contábil era orientado para a
indústria (CHAN; ROTENBERG, 1999).
Por volta de 1910 e 1920, surgiram escolas de administração que seguiam os modelos
ocidentais e japoneses. Apareceram os contadores profissionais formados no exterior com experiência em empresas que utilizam o método
das partidas dobradas (XU; XU, 2003).
Os serviços oferecidos pelos contadores
diversificaram-se com o passar dos anos e incluíram aspectos geralmente atribuídos a advogados em outros países. Isso fez com que os contadores chineses se sentissem participantes ativos
e importantes na reconstrução e fortalecimento
da economia nacional.
A fundação da Sociedade Chinesa de
Pesquisa em Contabilidade, em 1934, foi um
marco importante, representando o reconhecimento oficial da Contabilidade como um campo de conhecimento que requer pesquisas e estudos especializados (XU; XU, 2003).
3 O LEGADO DO ANTIGO SISTEMA
EDUCACIONAL
Em contraste a muitas universidades ocidentais, os programas de Contabilidade, economia e finanças nas universidades chinesas eram
altamente especializados, geralmente orientados
para a indústria. Em 1986, a Comissão Estadual
de Educação constatou que havia 80 diferentes
tipos de especialidades. Existiam 10 grandes divisões dentro da Contabilidade: Contabilidade,
Contabilidade Financeira, Industrial, Agrícola,
Comercial, Material, Gerencial, Bancária, Turística e Petrolífera. Dentro de cada uma dessas
divisões havia, ainda, uma série de especialidades (YUNWEI, 1997).
Diversos fatores contribuíram para essa
situação. A partir dos anos cinqüenta, o governo
e a economia chinesa passaram a utilizar informações desagregadas para alimentar o sistema
de planejamento centralizado. Desde o início
da Era Maoísta já prevalecia, de forma marcan
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales / Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
te, a ideologia soviética que se operacionalizava
por meio de um planejamento centralizado de
governo. Nesse contexto, o papel da Contabilidade restringia-se a uma ferramenta de controle
administrativo do Estado, servindo fundamentalmente para examinar metas governamentais.
(MELLO, SANTOS e NIYAMA, 2005).
Nesse sistema, a maioria das organizações
governamentais e grandes corporações eram
obrigadas a executar as políticas e diretrizes impostas. Havia pouca oportunidade, ou mesmo
necessidade, para essas empresas se comprometerem com uma mentalidade independente,
tomarem iniciativas ou serem economicamente
responsáveis.
Altamente especializada e vocacionalmente orientada, a educação gerencial e financeira parecia apropriada para preparar profissionais que executassem funções limitadas. Tal
particular situação prevaleceu na fase inicial
desse período, quando a demanda por gestores
qualificados aumentou nitidamente.
Outro fator, que marcou o período inicial da República Popular da China, foi a decisão de seguir o modelo soviético de educação
superior. Tal modelo consistia em um grande
número de institutos altamente especializados,
que visavam uma rápida expansão do número de
gestores que preenchessem as necessidades de
uma economia planificada. Essa peculiar situação resultou, entre 1951 e 1957, na principal
reorganização do sistema educacional chinês.
Existia, a partir desse momento, um pequeno número de “universidades abrangentes”
e um grande número de “institutos especializados”. O Instituto de Finanças e Economia de
Xangai (que se transformou posteriormente na
Universidade de Finanças e Economia de Xangai
), por exemplo, era formado por departamentos de economia e finanças de 21 universidades
e institutos da China Oriental, em 1952. A subseqüente campanha de modernização reverteu
essa decisão.
Um terceiro fator que contribuiu para
esse cenário foi o fato de que muitas universidades e faculdades eram administradas e financeiramente patrocinadas por linhas de crédito
ministeriais. Os ministérios patrocinadores
queriam garantir os graduados em economia e
finanças para aquelas empresas sob seu amparo.
Esse “departamentalismo” servia para contrair o
aprimoramento organizacional e curricular.
4 MUDANÇA PARA UMA ECONOMIA DE
MERCADO
Após a morte de Mao Tse-Tung em setembro de 1976, Deng Xiaoping (vice - primeiro ministro a partir de 1973, mas preso pela repressão Mao) retornou ao seu posto, passando a
colaborar com o primeiro ministro Chou Enlai na elaboração do plano de modernização da
economia chinesa (OLIVEIRA, 2004).
As reformas econômicas, iniciadas a
partir da década de setenta, trouxeram alterações estruturais para a economia nacional. As
mudanças observadas nesse período tinham o
objetivo de transformar a economia centralizada chinesa em uma economia de mercado, influenciada pela lei de oferta e procura (JIASHU;
LIN; FENG, 1997). As empresas estatais estavam sendo convertidas em modernas empresas
voltadas para o mercado.
Em conseqüência, alterações no conhecimento e nas práticas contábeis tornaram-se
essenciais, o que conduziu a mudanças no sistema educacional contábil da China. Os contadores demonstraram dificuldade em realizar
mudanças naquele cenário, resultando em uma
grande demanda de novos graduados em Contabilidade.
Segundo Yunwei (1997), os principais
fatores da reforma econômica que influenciaram a Contabilidade foram as mudanças nas
funções governamentais, a diversificação dos
negócios, o desenvolvimento da Contabilidade
e a internacionalização das atividades econômicas. (Grifos nossos que serão discutidos no decorrer desta seção).
4.1 Mudanças nas funções governamentais
A reforma econômica alterou o papel estatal chinês de gerenciamento direto para um gerenciamento indireto das empresas. Como resultado
das reformas, as companhias passaram a ter maior
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
poder e controle das operações e da retenção de
lucros (HILMY, 1999; LIN; CHAN, 2000). Assim, o Estado empregava, principalmente, macropolíticas que estabeleciam diretrizes gerais para o
desenvolvimento das organizações. Tal situação
permitiu às empresas assumirem uma ampla faixa
de responsabilidades.
Logo, um maior grau de liberdade, ainda que dentro de metas centralizadas, foi dado
aos gerentes das empresas estatais. Recompensas
e a possibilidade de estabelecer bônus advindos
dos resultados excedentes estimularam os gerentes a buscar a melhoria da eficiência empresarial (MELLO; SANTOS; NIYAMA, 2005).
Essa descentralização provocou uma iniciativa
ao estabelecimento de padrões contábeis que se
adaptavam a cada empresa ou setor econômico.
4.2 Diversificação dos negócios
Durante o período da reforma econômica, o governo chinês enfatizou a melhoria da
agricultura coletiva. Isso foi impulsionado pela
reforma agrária que estipulou um contrato de
responsabilidade com o objetivo de distribuir as
terras produtivas. O governo obtinha o direito
a 9% da produção por um período de 15 anos,
prorrogável por mais 30 anos. Isso beneficiou
mais de 900 milhões de pessoas, com mais de
220 milhões de contratos e com menos de 3%
de descumprimento (OLIVEIRA, 2004).
O processo de reforma abrangeu outros
domínios. O governo transferiu para as empresas públicas parte da responsabilidade que detinha, iniciando um processo de descentralização
da tomada de decisões acarretando uma maior
responsabilidade das companhias pelos resultados econômicos obtidos (OLIVEIRA, 2004).
O ambiente empresarial experimentou
grandes mudanças durante esse período. Primeiro surgiram diferentes estruturas empresariais, tais como empresas estatais combinadas
com empresas coletivas e privadas. Essas empresas passaram a coexistir e a competir com
as empresas estatais (LIN; CHAN, 2000). Assim, houve um impacto direto na Contabilidade que deveria se adaptar às diversas estruturas
empresariais.
A criação das bolsas de valores em Xangai e em Xenzen (1990 e 1991, respectivamente) foram acontecimentos decisivos na história
da economia nacional. Nesse momento houve
uma clara distinção entre as tipologias das ações
a serem negociadas nas bolsas, coexistindo ações
de propriedade exclusivamente chinesa e ações
voltadas para investidores estrangeiros (CHOI;
MEEK, 2005). Foram listadas 323 companhias
nos dois mercados de ações ao final de 1995. Em
1998, eram 745, dobrando o capital de ações
nesse momento. (TANG; LAU, 2000).
A formação do mercado de capitais criou
uma necessidade de informação contábil relevante para auxiliar o fluxo de capital para usos
mais eficientes. (CHEN; WANG, 2004). Além
disso, o desenvolvimento da economia de mercado socialista, as privatizações e um grande fluxo de investimentos estrangeiros demandaram a
inovação do sistema contábil chinês em harmonia com a prática internacional (LIN; CHAN,
2000).
4.3 Desenvolvimento da contabilidade
O sistema regulamentar contábil chinês
consistia em dois principais componentes: a Lei
da Contabilidade (Accounting Law), publicada
em 1985, que expunha amplamente as funções
da profissão, a organização do trabalho, os direitos e obrigações, assim como as responsabilidades legais, e mais de quarenta sistemas contábeis determinados por diversas autoridades
governamentais.
O primeiro desafio para o desenvolvimento da Contabilidade foi a sua aplicação em
entidades com investimentos estrangeiros. Inicialmente, foram criadas regulamentações para
joint-ventures e em seguida para empresas com
acionistas. Como resultado, foi aprimorado o
tratamento diferencial por parte da Contabilidade, agora adaptada a diferentes estruturas
empresariais.
Em 1992, o Ministério das Finanças
promulgou os Padrões Contábeis para Empresas (Accounting Standards for Business Enterprises - ASBE) e os Princípios Financeiros
Gerais para Empresas (General Financial Prin
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ciples for Enterprises - GFPE). Com o objetivo
de suprir tanto as necessidades nacionais quanto internacionais por informações contábeis,
princípios anglo-americanos foram adaptados
e acrescentados ao ASBE como substituição ao
rígido modelo soviético adotado desde 1949
(CHEN; TRAN, 1995 apud CHAN; ROTENBERG, 1999).
O GFPE e o ASBE são similares. O primeiro padroniza as práticas financeiras, enquanto o segundo padroniza a Contabilidade
e divulgação financeira das empresas. Ambas
formam a base para uma nova estrutura regulamentar contábil e financeira.
4.4Internacionalização das atividades
econômicas
A reforma econômica conduziu à expansão gradativa das atividades econômicas.
Milhares de joint-ventures, com investimentos
estrangeiros, estabeleceram-se em território
chinês. As empresas locais ampliaram seus horizontes de atuação, passando a emitir títulos
de dívida (bonds) no mercado internacional,
com o intuito de financiar diversos projetos
internos.
O intercâmbio econômico com outros
países possibilitou a utilização de práticas e convenções internacionais de negócios em adição
àquelas já aplicadas na China. A internacionalização das atividades econômicas proporcionou
um acentuado movimento para promoção de
uma harmonização com os padrões internacionais de Contabilidade. Esse desenvolvimento,
segundo Yunwei (1997), pode ser dividido em
três estágios distintos: a influência de forças externas, o impacto das forças internas e a introdução das práticas internacionais nos padrões
contábeis chineses.
4.4.1 A influência de forças externas
A entrada de investimentos estrangeiros
em diversas formas, incluindo joint-ventures
e empresas com capital exclusivamente estrangeiro, resultou na principal dificuldade para os
investidores que se depararam com um sistema
contábil incompatível. A atualização de acor-
do com as tendências internacionais tornou-se
uma questão urgente.
Diversas publicações foram destinadas ao estudo das teorias, padrões e práticas
da Contabilidade ocidental. Foi desenvolvido um estudo comparativo pelas Universidades da Califórnia, Los Angeles e Xangai
envolvendo os sistemas contábeis chineses e
ocidentais. A partir dos resultados (1983),
o Ministério das Finanças emitiu um regulamento provisório (Tentative Accounting
Regulation for Joint-Ventures Using Foreign
Capital) para as joint-ventures que possuíam
capital estrangeiro. Após um período de dois
anos de experiência, o Ministério promulgou
o Regulamento Contábil para Joint-venture, o Plano de Contas e os Pronunciamentos
Contábeis (Accounting Statements), sendo os
dois últimos componentes de um regulamento único. Esses regulamentos tornaram-se as
primeiras normas contábeis formuladas em
conformidade com as práticas contábeis internacionais. Elas resultaram em mudanças
que incluíam a adoção de:
a) elementos contábeis patrimoniais (ativo,
passivo e patrimônio líquido) em substituição aos conceitos tradicionais de fontes e aplicações de recursos (fund sources
and applications);
b)a equação contábil ‘ativo = passivos +
patrimônio líquido’ em substituição à
equação contábil tradicional (fontes de
recursos = aplicação de recursos);
c) princípios contábeis tais como competência, consistência, custo histórico,
confrontação das receitas com custos e
despesas;
d)demonstrações contábeis ocidentais,
incluindo o balanço patrimonial, a demonstração do resultado e a demonstração do fluxo de caixa;
Apesar da relevância da aplicação dessas
regulamentações no setor de investimentos estrangeiros, não se deve atribuir a elas uma maior
ênfase no desenvolvimento da Contabilidade da
China como um todo. Essas normas tornaramse a base para futuras reformas contábeis.
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Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
4.4.2 O impacto das forças internas
Ao final de 1992, o Ministério das Finanças emitiu as Regulamentações Contábeis
Provisórias para Joint Stock Companies . Esses
regulamentos adotavam práticas contábeis internacionais que foram incorporadas às Regulamentações Contábeis para Empresas com Investimentos Estrangeiros (Accounting Regulation
for Enterprises with Foreign Investments). Adicionalmente, as seguintes convenções foram incorporadas:
a) práticas contábeis internacionais relacionadas ao patrimônio – incluindo a
emissão de ações, distribuição de dividendos e retenção de lucros;
b) evidenciação de eventos relevantes (materiais);
c) demonstrações financeiras provisórias e
consolidadas;
d) contabilidade para empresas em liquidação ou em descontinuidade.
Com essas regulamentações, os chineses
aproximaram-se das práticas contábeis internacionais. Ademais, assim como nas práticas
internacionais, foram requeridas informações
complementares das empresas emissoras de
ações em bolsas de valores estrangeiras relacionadas a: transações externas; provisão para devedores duvidosos; contratos de longo prazo; investimentos de longo prazo; impostos diferidos;
itens contingentes; e eventos subseqüentes.
4.4.3Introdução das práticas internacionais
nos padrões contábeis chineses
Ao emitir os Padrões Contábeis para
Empresas (1992), o Ministério das Finanças
assinalou a intenção de estabelecer uma estrutura conceitual para a Contabilidade chinesa.
A norma adotou as quatro premissas contábeis
internacionalmente aceitas – entidade, continuidade, periodicidade e denominador comum
monetário. Foram estabelecidas exigências qualitativas para a informação contábil e diretrizes
para a mensuração e a evidenciação. Essa foi a
primeira tentativa em regulamentar o financial
reporting das empresas chinesas por meio de
padrões contábeis.
Durante esse período, dois outros projetos intensificaram a adoção de padrões contábeis em conformidade com as normas internacionais. No primeiro, a firma Deloitte,
Touche & Tomatsu foi apontada como uma
consultora contábil para a China. A principal
tarefa da companhia era introduzir experiências adquiridas em outros países e avaliar se
os exemplos observados eram aplicáveis à realidade chinesa. No segundo projeto, foram
realizadas diversas conferências internacionais
sobre padrões contábeis. Drafts foram amplamente divulgados no intuito de que fosse assegurada a consistência com os padrões contábeis
internacionais.
5 A REFORMA DA EDUCAÇÃO
CONTÁBIL CHINESA
Vários foram os obstáculos para a reforma na educação chinesa, incluindo a falta
de recursos humanos e financeiros, o currículo inadequado, o baixo status e pobres condições de moradia dos professores e a pouca
importância dada à educação, já que retornos
imediatos estavam disponíveis em outros investimentos. Muitos desses desafios começaram a receber tratamento em conseqüência à
reforma econômica (CHAN; ROTENBERG,
1999).
A falta de profissionais capacitados dificultava o crescimento econômico, o que ressaltou a necessidade de um novo currículo educacional para a capacitação dos contadores. Outra
grande deficiência do sistema era a excessiva
especialização profissional. Para acompanhar as
rápidas mudanças no ambiente prático, foi necessária uma focalização no estudo dos princípios gerais.
Os principais temas da reforma na educação contábil procuraram capacitar os estudantes
a compreenderem as realidades e complexidades
das economias nacionais e internacionais, a estarem atualizados sobre as diferentes visões de
assuntos importantes, a saberem como adquirir
novas informações, a formarem seus próprios
julgamentos e a expressarem suas opiniões articuladamente e de forma clara.
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Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales / Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
5.1 Expansão do currículo
A Comissão Estadual de Educação (State Education Commission) tomou a iniciativa
de reverter a alta especialização buscando estabelecer um novo currículo para a educação
financeira e econômica. Para isso, foi realizado em 1987 um seminário tendo como colaboradores professores universitários nacionais
e estrangeiros.
Previamente ao evento, foi desenvolvida uma pesquisa que documentava o status dos
programas vigentes, assim como uma análise das
atuais e futuras necessidades de forças de trabalho para os ministérios, empresas, institutos
de pesquisas e outras organizações. Ao mesmo
tempo, os professores estrangeiros observavam
os processos educacionais, o que resultou em
sugestões preliminares.
A discussão do seminário foi desenvolvida com base no resultado das pesquisas e nos
relatórios dos especialistas. Como conseqüência, foi criado um programa que relacionava o
mínimo a ser exigido academicamente, consistindo em seis áreas básicas e quatro aplicadas
(Contabilidade Elementar, Financeira, Custos e
Administração, e Auditoria) (YUNWEI, 1997).
O sistema antigo era formado por quatro áreas fundamentais: Princípios Contábeis,
Contabilidade Industrial, Administração Financeira para Empresas Industriais e Análise de
Atividades Econômicas. Essas matérias foram
mantidas por algumas universidades em decorrência da falta de materiais e professores capacitados para aplicar as mudanças e, ainda, porque
os estudantes continuavam a utilizar o conhecimento antigo em locais que ainda não tinham
sofrido as conseqüências da reforma econômica
(CHAN; ROTENBERG, 1999).
O novo currículo, hoje adotado pela
maioria das universidades, apresenta grande
similaridade com os empregados nos Estados
Unidos. As disciplinas gerais, por exemplo, incluem política econômica, micro e macroeconomia, matemática, estatística, Contabilidade
e informática. As áreas aplicadas são compostas
por Finanças Públicas, Desenvolvimento Econômico, Comércio e Finanças Internacionais.
Os módulos livres dispõem de áreas gerais para a
escolha livre do estudante (YUNWEI, 1997).
5.2 Reforma na educação contábil
Apenas recentemente as universidades
chinesas criaram departamentos de Contabilidade. Anteriormente, os grandes departamentos das universidades e institutos mantinhamse sob jurisdição do Ministério das Finanças.
Conseqüentemente, a reforma inicial ocorreu
nessas instituições. O Ministério encorajou
especificamente a identificação dos objetivos
e diretrizes para a educação contábil, o aperfeiçoamento dos professores, das provas e dos
métodos de avaliação, a revisão do currículo, a
mudança de um sistema baseado em semestres
para um baseado em créditos e a ênfase à ética
(YUNWEI, 1997).
A Comissão Estadual de Educação selecionou dois departamentos-chave de Contabilidade, um na Universidade de Finanças e
Economia de Xangai (SUFE) e outro na Universidade de Xamen, para guiarem a reforma.
Seus objetivos eram: adquirir conhecimentos
para desenvolver programas de mestrado, doutorado e bacharelado que alcançassem os padrões internacionais; procurar soluções para
os problemas práticos e teóricos que surgissem
durante a reforma econômica; contribuir com
as tomadas de decisões significativas à nação;
recepcionar visitantes estrangeiros e encarregar-se de projetos de pesquisa de alto nível;
participar de diversas atividades acadêmicas de
intercâmbio para presenciar resultados de pesquisas internacionais; e explorar novas idéias de
pesquisa contribuindo para o desenvolvimento
da Contabilidade (COOPER; TANG; CHOW,
1994 apud CHAN; ROTENBERG, 1999).
Para se graduar em Contabilidade na
SUFE, os estudantes devem cumprir 163 créditos (2.739 horas-aula), sendo 55% do curso
voltado para disciplinas gerais, cerca de 30%
consistindo em cursos aplicados e aproximadamente 15% reservados a módulos livres. Em
adição a esses percentuais existe a monografia
de conclusão do curso (YUNWEI, 1997). Essas
exigências curriculares apresentam semelhanças
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Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
às adotadas no Brasil. Tomando como exemplo
uma universidade pública, observa-se que o número de horas-aula exigido é de 2.790 – incluindo a monografia de conclusão do curso –,
o que equivale a 186 créditos, sendo 75% em
matérias obrigatórias, 12% em optativas e 13%
em módulo livre. A diferença entre as cargas
horárias é de apenas 51 horas-aula, reafirmando a proximidade entre os sistemas educacionais
contábeis sino-ocidentais.
Os novos materiais desenvolvidos para
as aulas chinesas vieram principalmente do uso
direto de livros ocidentais, de novos textos e de
materiais de treinamento para certificação internacional (YUNWEI, 1997).
Várias universidades organizaram livros
baseando-se no novo currículo adotado, que
envolvia Contabilidade Fundamental, Financeira, Administrativa, Contabilidade de Custos,
Auditoria, Sistemas de Informações Contábeis
e Contabilidade Internacional.
O desejo chinês de possuir universidades
reconhecidas mundialmente modificou essa perspectiva. O sistema de classificação das universidades no país levava em consideração as pesquisas e
publicações como forma de incentivo. Para que
assumissem posição de destaque, eram estimuladas
a publicar artigos em periódicos de referência.
O número de periódicos contábeis tem
crescido consideravelmente nas últimas décadas. Um rápido exame dos artigos publicados
nesses periódicos revela que a maioria dos papers é de natureza descritiva. A defasagem dos
métodos de pesquisa e a dificuldade de acesso às
informações empresariais contribuem para esse
cenário (NEEDLES, 1995)
A literatura contábil chinesa raramente
inclui pesquisa empírica, uma vez que há pouca
familiaridade com a técnica. Outras metodologias de pesquisa também são pouco exploradas
pelos pesquisadores chineses, como a estatística, a econometria, a ciência comportamental e
os estudos psicológicos, assim como os estudos
relacionados à utilização de informações contábeis no mercado de capitais.
Segundo Needles (1995), os tipos de
metodologias utilizadas em pesquisas contábeis
internacionais poderiam ser classificados em:
mercado de capitais (capital market), dedutivo descritivo (deductive descriptive), empírico descritivo (empirical descriptive), empírico
analítico (empirical statistical), histórica (historical), modelagem (modeling) e teórica (theoretical). A tabela 1 apresenta as metodologias
aplicadas em pesquisas contábeis na China.
6 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
EM CONTABILIDADE
A pesquisa contábil na China difere notadamente da pesquisa desenvolvida nos Estados
Unidos, principalmente em relação à metodologia de pesquisa e à profundidade das análises.
Diversos fatores contribuem para esse cenário.
Inicialmente, a estrutura da educação
contábil chinesa definia que os professores deveriam expor o conhecimento de “como fazer”.
Conseqüentemente, o treinamento em metodologias sofisticadas de pesquisas era defasado.
Tabela 1 – Métodos utilizados em pesquisas contábeis na China
Métodos de Pesquisa
Mercado de Capitais
Dedutivo descritivo
Empírico descritivo
Empírico analítico
Histórico
Modelagem
Teórica
Total
1966-1977
1978-1992
1
33
1
4
1993-1998
1
40
3
1
6
37
1
52
2
Fonte: Adaptado de JI (2000).
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Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales / Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
Segundo Ji (2000), um melhor entendimento sobre a evolução das metodologias de
pesquisa na China seria proporcionado pela
divisão em três grandes períodos: pré-reforma
(1966-1977), pré-internacionalização (1978 a
1992) e atual (1993-1998).
De 1966 a 1977, havia dois artigos publicados, um utilizando o método dedutivo descritivo e outro utilizando o método histórico. Nos
37 papers publicados de 1978 a 1992, a metodologia aplicada estava restrita aos métodos descritivo ou histórico.
A gama de metodologias utilizadas a partir de 1992 aumentou consideravelmente. Dos
52 artigos publicados após essa data, a grande
maioria ainda adotava a metodologia descritiva ou histórica. Entretanto, alguns papers já
aplicavam o método empírico ou utilizavam o
mercado de capitais como fonte primária para
produção. Nesse sentido, começaram a surgir
os primeiros trabalhos empíricos chineses que
utilizavam o idioma inglês.
Conforme demonstrado na tabela 1, o
método mais utilizado nas pesquisas em Contabilidade na China era o descritivo. Existem diversas razões para a utilização dessa metodologia.
Primeiro, a pesquisa contábil na China ainda se
apresentava em um estágio inicial e a própria
Contabilidade não era plenamente entendida
pelos estudantes orientais, principalmente a
Contabilidade gerencial. Segundo, dados vinculados à informação contábil na China ainda
eram sigilosos, o que dificultava a produção de
pesquisas confiáveis. Essa situação está sendo
gradualmente contornada com a introdução
do sistema acionário, que exige evidenciação de
certas informações para o público. Terceiro, a
maioria dos pesquisadores contábeis na China
ainda estava sob influência da teoria marxista e
preferiam o debate ideológico. Os trabalhos desenvolvidos, mesmo em parceria com estudantes
ocidentais, ainda são restritos em decorrência
dos antigos métodos de pesquisa. (JI, 2000).
Esforços no sentido de aumentar o rigor
metodológico utilizado nas pesquisas em Contabilidade incluem mudanças nos cursos de metodologia de pesquisa dos programas de douto-
rado, dos intercâmbios estudantis e dos cursos
de formação de professores.
Um reduzido número de universidades
chinesas tem introduzido métodos mais sofisticados de pesquisa em seus programas de doutorado. A Universidade de Xangai, por exemplo,
incluiu em seu programa métodos de pesquisa
que abrangem as seguintes áreas: Contabilidade
empírica, positiva, mercado de capitais, Contabilidade Comportamental, Teoria da Agência
e Informação Econômica, Estudo de Eventos e
Pesquisa Analítica. A adoção de novas metodologias parece lenta em virtude de poucas universidades possuírem tais cursos e, ainda, da presente relutância dos pesquisadores em aceitá-las
(YUNWEI, 1997).
Outro fator aliado a esse processo são as
atividades de intercâmbio entre os estudantes
chineses e estrangeiros. Os alunos são expostos
a outros sistemas educacionais e a novos assuntos ainda pouco desenvolvidos na China. Os
corpos docentes dos departamentos de Contabilidade das universidades chinesas continuam
a ser enviados para o exterior, seja como visiting
scholars ou para obtenção de títulos (mestrado
e doutorado).
Da mesma forma, um grande número de
estudantes ocidentais tem visitado a China com
o intuito de promover seminários ou lecionar
por curtos períodos de tempo. Nesse sentido,
novas informações relacionadas às práticas contábeis, à educação e à pesquisa são trazidas como
forma de promover um aprimoramento do sistema contábil chinês. Tais atividades têm exercido grande impacto na reforma educacional
contábil no país.
A instituição, em 1995, da Associação dos
Professores Chineses de Contabilidade (Chinese
Accounting Professor’s Association) foi o marco
para o desenvolvimento da educação e da pesquisa contábil no país. Seu objetivo é promover o
intercâmbio entre os educadores das universidades chinesas e estrangeiras e, ainda, estimular
o desenvolvimento permanente de um elo entre
pesquisa, educação e prática contábil.
Vários fatores contribuíram para o sucesso da Associação, dentre eles o amplo apoio
10
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Educação Contábil na China: Tendências e Perspectivas Pós-Reforma Econômica
prestado pelo Ministério das Finanças, pela Sociedade de Contadores da China e pelo Instituto Chinês de Contadores Públicos Certificados
(Chinese Institute of Certified Public Accountants), além da extensa assistência de acadêmicos
contábeis. Mais de 130 professores contadores
de aproximadamente 60 universidades estavam
presentes em sua primeira reunião anual e cerca
de 200, na segunda. Seu Conselho (presidente, vice-presidente, secretário geral) é composto por representantes de todas as universidades
com programas de doutorado em Contabilidade (YUNWEI, 1997).
A atitude aberta da Associação envolve
forte cooperação com instituições acadêmicas
de diferentes países. Essa cooperação tenciona elevar o nível da educação contábil chinesa.
Diversos funcionários da Associação Americana
de Contabilidade (American Accounting Association) têm participado ativamente em cada
reunião anual, assim como vários diretores da
Associação Chinesa de Professores Contadores da América do Norte (Chinese Accounting
Professor’s Association of North América).
Fortes orientações para pesquisa são evidenciadas pela apresentação de modernas metodologias como a pesquisa empírica, a pesquisa
em mercados de capitais e o primeiro doctoral
consortium , realizado em 1996.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o início da Era Maoísta a Contabilidade na China restringia-se a uma ferramenta
de controle administrativo do Estado, que servia
fundamentalmente para o exame de metas governamentais. Os programas educacionais contábeis
eram voltados para a indústria e apresentavam 10
grandes divisões, característica do sistema educacional altamente especializado.
Mudanças ideológicas têm desempenhado um importante papel na reforma da educação contábil. Por um longo período, a Contabilidade ocidental foi considerada suspeita para
os chineses. Uma ciência social a serviço dos interesses de algumas classes era inaceitável, por
isso, muitos conceitos e ideologias ocidentais
foram rejeitados.
Com o início da República Popular da
China, houve a adoção do modelo soviético de
educação superior, criando um grande número
de institutos especializados que visavam o treinamento célere de gestores para suprir as necessidades de uma economia planificada.
A partir da década de 70, as reformas
econômicas trouxeram alterações estruturais
para a economia nacional. O papel estatal chinês de gerenciamento direto foi alterado para
um gerenciamento indireto das empresas. A
descentralização provocou uma iniciativa ao
estabelecimento de padrões contábeis que se
adaptavam a cada empresa ou setor econômico.
Além disso, o desenvolvimento da economia socialista, as privatizações e um grande número de
investimentos estrangeiros demandaram a inovação do sistema contábil.
A reforma da educação buscou capacitar
os profissionais para o novo ambiente de crescimento econômico, o que levou à criação de
um novo currículo para as universidades equiparado aos ocidentais. A Comissão Estadual de
Educação selecionou dois departamentos-chave
nas universidades de Xangai e Xamem para conduzirem a reforma. Seus objetivos eram principalmente buscar ferramentas e conhecimentos
internacionais para aplicação no país e auxiliar
na resolução de problemas que surgissem durante a reforma econômica.
Com isso, os chineses passaram a reconhecer a Contabilidade como uma ferramenta
gerencial útil para a tomada de decisão e veiculação de informações econômicas. Perceberam,
também, que a participação no mercado externo exigia a adoção de uma “linguagem internacional dos negócios”. O desenvolvimento das pesquisas contábeis na China tem proporcionado a estudantes e
educadores uma oportunidade única no sentido
de aprimorar as práticas e aproximá-las dos padrões internacionais. Pesquisadores ocidentais
têm demonstrado crescente interesse na Contabilidade do país e vêm desenvolvendo vários
trabalhos em parceria com estudantes chineses.
Novas pesquisas sobre a profissionalização contábil são desejáveis no sentido de melho11
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Jorge Katsumi Niyama / Isabel Cristina Henrique Sales / Jomar Miranda Rodrigues / Pedro Henrique Duarte Oliveira
rar a compreensão da qualificação do profissional chinês. Análises empíricas sobre o aumento
da complexidade das transações comerciais, o
mercado de capitais, a influência de valores e as
tradições culturais na Contabilidade, não tratados nessa pesquisa, também oferecem novas
oportunidades de estudo.
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Accounting Horizons, Sarasota, v. 8, n. 3, p.
48-57, 1994.
XU, Yin; XU, Xiaoqun. Becoming professional:
Chinese accountants in early 20th century
Shanghai. Accounting Historians Journal,
Tuscaloosa, v. 30, n. 1, p. 129-153, 2003.
YUNWEI, T. The recent accounting development
and internationalization of accounting education
in China. Issues in Accounting Education,
Sarasota, v. 12, n. 1, p. 219-227. 1997.
Notas
i
A educação contábil vinha sofrendo mudanças desde a Revolução Cultural, encerrada em 1976 (NOBES; PARKER, 2004).
ii Sistema educacional, para fins dessa pesquisa, limita-se à educação superior, compreendendo ainda programas de mestrado e doutorado.
iii Tratados como bookkeepers ou men of account
office.
iv Shanghai University for Finance and Economics.
v Mao Tsé-Tung (1893-1976) foi um político,
revolucionário e governante comunista da
República Popular da China. Foi o respon-
sável pela reunificação da China desde que
o país foi dominado por estrangeiros, na
Guerra do Ópio (1840). Iniciou a chamada
Revolução Cultural que culminou com humilhantes purgações políticas, prisão e tortura de milhões de pessoas, numa destruição
massiva de grande parte do milenar legado
cultural da China (WIKIPEDIA).
vi Forma de organização comercial que combina características de companhia e de
sociedade de responsabilidade ilimitada
(DOWNES; GOODMAN).
vii Documento que antecede a norma contábil. Serve como um mecanismo para o
recebimento de sugestões, comentários e
críticas prévios à publicação.
viii Em 1992, a China promulgou o primeiro padrão contábil, o qual indicava que as
reformas contábeis estavam iniciando uma
nova Era e mostrava o desejo chinês em harmonizar suas regulamentações com aquelas
implementadas internacionalmente.
ix Profissional acadêmico que passa por um
período no exterior, como pesquisador visitante, estudando os processos educacionais.
x Evento que tem como objetivo promover a
integração e o intercâmbio de idéias entre
os participantes de cursos de doutorado.
13
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.1-13, jan./abr. 2007
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
Área Temática: Contabilidade, Controladoria e Finanças
Práticas de Gestão de Custos Adotadas
por Empresas Estabelecidas nas
Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Valmor Reckziegel
Mestre em Ciências Contábeis pela UNISINOS
Professor da União de Ensino Superior do Paraná - UESPAR
[[email protected]]
Endereço: Av. Presidente Kennedy, 2.300, Palotina - PR Cep.: 85.950-000 Caixa Postal: 231
Marcos Antonio de Souza
Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP
Professor do Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da UNISINOS - RS
[[email protected]]
Endereço: Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, São Leopoldo- RS, Cep.: 93.022-000
Carlos Alberto Diehl
Doutor em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Professor do Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da UNISINOS - RS
[[email protected]]
Endereço: Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, São Leopoldo- RS, Cep.: 93.022-000
Recebido em 05 de Janeiro de 2007 / Aprovado em 02 de Abril de 2007
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar as
práticas de gestão de custos adotadas pelas empresas, no contexto de sua aceitação como necessárias ao atual ambiente de mercado. O estudo circunscreve-se às transformações ocorridas
no ambiente de negócios nas últimas décadas,
bem como às novas e/ou aperfeiçoadas práticas
de gestão de custos. Entre tais práticas destaca-se
o custeio e a gestão baseada em atividades, o custo da qualidade, o custo-alvo, o custeio do ciclo
de vida e a análise da cadeia de valor, defendidas
por alguns autores como as mais adequadas ao
novo ambiente. São examinados os conceitos e
justificativas que envolvem tais práticas de gestão
de custo, sob um prisma crítico, confrontando
as opiniões de diversos pesquisadores. Classificado como de natureza descritiva e exploratória,
o estudo está fundamentado em uma pesquisa
efetuada em 38 empresas de médio e grande
porte, situadas nas regiões Oeste e Noroeste do
estado do Paraná, cujos dados foram coletados
por meio de entrevistas realizadas no período
de setembro a dezembro de 2005. Para análise,
utilizou-se da estatística descritiva. Como conclusão tem-se que as novas e/ou aperfeiçoadas
práticas de gestão de custos não têm merecido a
devida atenção por parte das empresas pesquisadas, contrariando o enfatizado pela literatura.
Para os entrevistados, isso ocorre, dentre outros
fatores, pelo não conhecimento de tais práticas,
pela baixa relação custo-benefício para sua im-
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Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
plantação e pela predominante preferência pelo
aprimoramento das práticas convencionais.
Palavras-chave:
Gestão de Custos. Mercado. Competitividade.
Continuidade.
ABSTRACT
This paper focuses in cost management practices
as competitive tools. Due to recent economic
transformations, new cost management practices
were developed and traditional ones were
improved. Among them, activity-based costing,
cost of quality, target cost, life-cycle cost and value
chain analysis are referred in literature as the most
appropriate to current business environment.
Some papers about cost management practices are
discussed, and concepts and reasons to use them
are analyzed. The research was conducted in 38
big and medium companies during 2005, using
an exploratory and descriptive study. Companies
are located in West and Northwest Paraná, a
Brazilian State. The findings were analyzed
using descriptive statistics. The results show the
companies doesn’t use new cost management
practices or improved ones. The main reasons
are: they don’t know these practices, the cost/
benefit relationship isn’t favourable and the
preference for conventional cost management
practices.
Key-words:
Cost Management. Market. Competitiveness.
Continuity.
1 INTRODUÇÃO
No contexto da gestão empresarial,
grande parte dos trabalhos publicados em revistas especializadas nas últimas décadas tem ressaltado a necessidade dos gestores observarem as
ocorrências verificadas nos ambientes interno e
externo nos quais as empresas estão inseridas.
Tal necessidade é provocada pela busca de estratégias competitivas que objetivam assegurar a
continuidade dos negócios.
No Brasil, as principais modificações
no ambiente operacional externo das empre-
sas referem-se às transformações na economia
observados nas décadas de 1980 e 1990, provocando uma ruptura de paradigmas em relação à
administração dos negócios que até então estava
focada nos preços de venda, conseqüência do
protecionismo e de uma economia desajustada.
De acordo com Bastos et al. (2004), nas
décadas de 1980 e 1990, a gestão da produção
era menos importante, pois o ambiente inflacionário e a falta de concorrência permitiam o
repasse da ineficiência interna das empresas para
os consumidores, através de sucessivos aumentos de preços. É reconhecido que tal processo
desestimulava o esforço para a busca de eficiência produtiva e incrementos de produtividade.
A partir da década de 1990, vislumbrou-se um
novo ambiente para as empresas no cenário nacional, provocado, principalmente, pelo parcial controle do processo inflacionário e pela
abertura do mercado ao capital estrangeiro. O
processo de privatização das empresas públicas e
a aquisição de empresas privadas brasileiras por
outras estrangeiras são alguns exemplos.
Mais especificamente quanto às mudanças
no ambiente interno das empresas, destaca-se o
avanço da tecnologia da informação, modernização dos processos de produção, com a utilização
de robôs na linha de montagem, e, principalmente, no foco de atendimento às necessidades
do cliente. Dentre os autores que abordam tais
modificações, Souza (2001) resume como principais as seguintes: (1) a mudança na estratégia de
grandes volumes e reduzido mix de produtos para
menores volumes e mix mais variado; (2) alterações substanciais na estrutura de custos e despesas representativos dos recursos consumidos nas
atividades empresariais; (3) redução no ciclo de
vida dos produtos; (4) menor poder das empresas de impor seus preços ao mercado.
Para atuar nesse mercado de modificações constantes, a informação tornou-se fator
crítico de sucesso, e as empresas, de maneira
mais acentuada, passaram a necessitar de ferramentas capazes de orientar suas estratégias com
o fim de assegurar sua continuidade.
Diversos autores têm se manifestado sobre a importância do suporte informacional
15
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Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
para o alcance da eficácia no processo decisório.
Guerreiro (1989) e Rocha (1999), por exemplo, tratam a informação com a mesma relevância que é dada aos outros recursos operacionais
utilizados pela empresa para o desenvolvimento
de suas atividades e para atingir a excelência empresarial.
Porter (1986) apresenta duas principais
estratégias genéricas que o empresário pode utilizar: focar sua atuação na diferenciação de seus
produtos ou no baixo custo. Em qualquer uma
delas, a eficiência no consumo de recursos é um
imperativo.
Nesse contexto, o objetivo deste estudo
é pesquisar, à luz da atual literatura, o nível de
aderência das empresas à utilização de práticas
de gestão de custo defendida por alguns autores como adequadas ao ambiente de mercado
destacado. A contribuição do estudo está em
possibilitar conhecer a realidade das empresas
quanto ao objeto de estudo, base para avançar
em novos desenvolvimentos sobre essa área de
conhecimento.
2 CRÍTICAS A CONTABILIDADE
DE CUSTOS
Em decorrência das transformações no
ambiente empresarial, diversos pesquisadores
entendem que a contabilidade de custos não
acompanhou, nas mesmas proporções, a evolução tecnológica verificada no ambiente operacional das empresas. Como conseqüência,
argumentam eles que a contabilidade de custos
não atende de forma precisa e correta os usuários de sua informação, particularmente os gestores das organizações.
Dentre os autores que criticam os tradicionais informes de custos, merecem destaque
Johnson e Kaplan (1996), os quais afirmam que
a obsolescência dos sistemas de contabilidade
de custos e controle gerencial tornou-se particularmente desfavorável no quadro de competição global que se instalou a partir da década
de 1980. Brimson (1996) também se manifesta
com o mesmo entendimento, enfatizando que,
da mesma forma que ocorrem transformações
no mundo dos negócios, também devem ocor-
rer alterações nos sistemas convencionais de
contabilidade de custos.
Sistematizando esse entendimento quan­
to às deficiências da contabilidade de custos
frente à nova realidade e colocando-a num
contexto gerencial, Souza (2001) destaca que as
críticas à contabilidade gerencial tiveram como
contrapartida a configuração de uma nova filosofia contábil. Nessa nova filosofia, a gestão de
custos passou a ser um instrumento-chave na
gestão dos negócios. A partir daí, a contabilidade de custos posicionou-se como elemento
estratégico para a empresa atuar no ambiente
turbulento em que está inserida.
Nesse sentido, alguns autores, como os
até aqui citados, defensores da utilização das informações de custo para auxiliar o empresário a
obter vantagem frente à concorrência, passaram
a evidenciar a necessidade das empresas passarem a adotar uma postura de gestão de custos
sob um foco estratégico.
Na visão dos autores, os novos sistemas
de apropriação e de gestão de custos passaram
a representar um avanço na área de custos. É
reconhecido que a modificação da estrutura de
custos nas organizações demanda novas ferramentas a fim de bem informar os gestores na
busca pela vantagem competitiva, seja na liderança por custos ou na diferenciação. Porter
(1986) destaca que, mesmo na liderança por
diferenciação, as empresas não podem ter uma
disparidade significativa de custos em relação
aos concorrentes, pois isso poderia corroer a
vantagem competitiva.
Com o mesmo entendimento, Pompermayer (2000) destaca que, dentre as várias práticas de gestão que podem ser adotadas,
uma das principais é a gestão de custos dada
a sua capacidade de fornecer informações de
grande utilidade para a tomada de decisões e
para o planejamento e controle dos recursos
de produção.
Quanto às praticas de mensuração e de
gestão de custos que podem ser utilizadas na geração de informações, Lopes e Menezes (2001)
apresentam algumas daquelas consideradas de
grande importância frente ao novo ambien-
16
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Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
te empresarial. Os autores destacam o custeio
baseado em atividades (ABC), a gestão baseada
em atividades (ABM) e o sistema de predeterminação de custo, conhecido como custo-alvo
(target cost). Firmino e Rocha (2000) destacam, além das práticas citadas, outras consideradas como geradoras de informações estratégicas, que englobam conceitos como a análise
do custo no ciclo de vida do produto e da cadeia de valor.
Outra prática também recomendada é
aquela que reconhece que os custos podem ser
gerados pela não observância da proteção do
meio ambiente, denominados como custos ambientais. Argumentando em favor da importância destes, Ribeiro e Gratão (2000) aduzem
que, dado que os custos ambientais não estão
corretamente alocados nos períodos em que são
gerados, os resultados não refletem efetivamente
o desempenho econômico da empresa, desrespeitando, inclusive, o princípio da competência dos exercícios. Isso pode levar, no futuro, a
alocação de custos incorridos em exercício anterior, gerando uma distorção nos resultados.
Em se tratando de práticas de gestão de
custos, Monden (1999) enfatiza a denominada como kaizen, um sistema que visa reduzir os
custos reais para um patamar inferior ao do custo-padrão. Para atingir essa meta de redução de
custo são direcionadas diversas ações gerenciais,
acompanhadas por um efetivo processo de avaliação de desempenho.
Dentro da amplitude delimitada neste
trabalho, as práticas de gestão de custos objeto da pesquisa são as seguintes: custeio e gestão
baseada em atividades (ABC e ABM); custo da
qualidade; custo-alvo; custeio do ciclo de vida
dos produtos e análise da cadeia de valor.
No que se refere ao custeio e gestão baseados em atividades, o estudo busca identificar
a aplicação dessas práticas pelas empresas com
o objetivo de diminuir a arbitrariedade da alocação dos custos indiretos, bem como a análise
das atividades visando a sua maior eficiência e
eficácia operacional.
Quanto à prática do custo da qualidade,
o estudo enfoca a mensuração dos custos ine-
rentes aos sistemas de qualidade dos processos
operacionais adotados pelas empresas.
A prática do custo-alvo é abordada como
uma alternativa de preestabelecer o custo dos
produtos ainda em sua fase de projeto.
No custeio do ciclo de vida, investiga-se
a ação das empresas para mensurar o custo dos
produtos para aquém e além da fase de produção, ou seja, desde o seu desenvolvimento até a
sua retirada do mercado.
A prática de análise da cadeia de valor é tratada como uma forma da empresa explorar as oportunidades de redução de custo de forma conjunta
com seus fornecedores, clientes e concorrentes.
Tais práticas são consideradas adequadas
ao novo contexto ambiental em que as empresas estão inseridas, pois respondem às novas características da competição: menores volumes,
mix mais variados, menores ciclos de vida, novas
estruturas de custos – principalmente nos gastos indiretos -, e menor capacidade de impor
preços no mercado. Ao responderem melhor a
essas características, elas possibilitam a geração
de informações úteis aos gestores, qualificando
o processo decisório.
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Dado o objetivo do estudo em identificar as práticas de gestão de custos adotadas pelas
empresas, frente àquelas práticas consideradas
pela literatura como as mais apropriadas para
o atual contexto operacional das organizações,
sua classificação recai sobre uma pesquisa exploratória e descritiva. Exploratória por possibilitar uma maior familiaridade com o problema,
tornando-o mais explícito. E descritiva porque,
baseado em um conjunto de observações empíricas, descreve como a realidade é, destacando o
aspecto do que é usual no ambiente.
A respeito da classificação das pesquisas,
Gil (1999) destaca que tais tipos de pesquisas,
exploratória e descritiva, estão diretamente relacionados aos fenômenos de atuação prática e
que elas se aproximam, por proporcionarem
uma nova visão do problema.
A coleta dos dados deu-se por meio de
entrevistas, do tipo padronizada ou estrutura17
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Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
da, (LAKATOS; MARCONI, 1991), realizadas
durante o período de setembro a dezembro de
2005. Para o seu processamento, desenvolveu-se um roteiro utilizando-se de perguntas
abertas. No processamento e análise dos dados,
utilizou-se a estatística descritiva, seguida de
análise qualitativa para lhe dar significado.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
DOS DADOS
4.1 Caracterização da amostra
A população é composta por empresas de
médio e grande porte, do ramo industrial, estabelecidas nas regiões Oeste e Noroeste do estado
do Paraná. Para a identificação das empresas foi
utilizado o Cadastro das Indústrias – Fornecedores e Serviços 2004, do Sistema da Federação
das Indústrias do Estado do Paraná. O porte das
empresas foi definido com base no faturamento,
segundo os critérios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.
Foram identificadas 38 indústrias de médio
e grande porte, 30 das quais se dispuseram a participar da pesquisa. Em vista disso, a amostragem é
considerada não probabilística e por conveniência.
A escolha de empresas de médio e grande
porte deve-se ao fato de que elas estão mais sujeitas à competição e por isso tendem a utilizar práticas mais avançadas. Também por serem empresas de maior porte, possuem um grau maior de
complexidade, exigindo sistemas de gestão mais
aprimorados, capazes de oferecer informações
relevantes. A classificação das empresas por setor
de atividade é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 – Setor de Atividade.
Setor de Atividade
Alimentos
Químico
Metalúrgico
Confecções
Fiação
Moveleiro
Empresas
13
7
4
2
2
2
%
43
23
13
7
7
7
A maior predominância de empresas do
setor de alimentos está relacionada à alta con-
centração de agroindústrias na região, mais especificamente cooperativas que processam as
matérias-primas fornecidas pelos agricultores
cooperados. Das 13 empresas alimentícias, sete
(54%) pertencem ao grupo das cooperativas, e
seis (46%) são empresas constituídas sob a forma de limitada e possuem a mesma característica
de agronegócio.
O instrumento de pesquisa foi direcionado para os responsáveis pela área de custos da
organização. A distribuição dos respondentes,
por cargo ocupado, está mostrada na Tabela 2.
Tabela 2 – Cargos Ocupados pelos Entrevistados.
Cargos
Analista de custos
Controller
Gerente administrativo
Gerente de custos
Gerente de contabilidade
Consultor de custos
Consultor industrial
Gerente de planejamento e
controle da produção
Gerente de produção
Diretor administrativo
Auditor
Gerente financeiro
Total
Quantidade
9
8
3
2
1
1
1
%
30
27
10
7
3
3
3
1
3
1
1
1
1
30
3
3
3
3
100
Outra característica da amostra refere-se à formação acadêmica dos entrevistados,
apresentado na Tabela 3. Tal classificação é importante por estar relacionada ao possível conhecimento ou desconhecimento de alguns dos
entrevistados sobre as práticas pesquisadas.
Tabela 3 – Formação Acadêmica dos Entrevistados.
Formação
Contabilidade
Administração
Economia
Engenharia
Sistemas de informação
Total
Nº de
empresas
19
10
1
1
1
32*
% sobre o total
de respostas
60
31
3
3
3
100
* dois respondentes possuem dois títulos de nível superior
18
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Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Com relação à formação dos entrevistados, muito embora haja a ocorrência de dois
casos em que o responsável pela gestão dos custos não possui formação acadêmica específica
na área, os demais (93%) possuem profissionais
com formação mais diretamente relacionada à
função (administração, contabilidade, economia, engenharia e sistemas de informação).
Banco de dados utilizado para gerar informações relacionadas aos custos
Dificuldades conceituais podem impedir
os gestores de implantarem um adequado sistema de gestão de custos. Tratando desse aspecto,
Pompermayer (1999) destaca que, de fato, a falta de entendimento e domínio pelos gestores da
empresa de uma visão de custos sob a ótica de
um sistema de informações gerenciais tem se revelado uma restrição à adoção do uso gerencial
das informações de custos.
Tais questionamentos conduziram à iden­
tificação da estrutura de sistemas sob a qual são
geradas as informações de custo para a tomada de
decisões gerenciais. As respostas obtidas nas entrevistas estão demonstradas na Tabela 5:
Tabela 5 – Estrutura do Sistema de Informações de Custos.
Estrutura
Planilhas eletrônicas
Sistema próprio da empresa
Sistema integrado de gestão
Planilhas eletrônicas, migrando
para novo sistema
total
Nº empresas
%
16
8
4
53
27
13
2
7
30
100
Como pode ser observado na Tabela 5,
a pesquisa corrobora o entendimento de Pompermayer (2000) com relação às dificuldades
conceituais no tratamento da informação de
custo. Constata-se que 53% dos entrevistados
relatam que apenas utilizam planilhas eletrônicas, de alcance limitado enquanto sistema.
Se a soma contemplar as empresas que estão migrando para um novo sistema, mas ainda
utilizando as planilhas eletrônicas, o índice chega
a 60%, evidenciando que a preocupação com sis-
temas mais dinâmicos e estruturados para gerar
as informações de custo ainda não é prioridade
na maioria das empresas pesquisadas.
4.2As práticas de gestão de custos
pesquisadas
Nessa parte do trabalho, é apresentado
o resultado da pesquisa efetuada quanto ao uso
das práticas de gestão de custo. Algumas questões não foram exploradas na profundidade
desejada com os entrevistados, por questão de
confidencialidade alegada por eles. Destaca-se
que algumas respostas obtidas foram objetivas e
de baixa argumentação. Entretanto, tais ocorrências não foram expressivas e não chegaram a
comprometer os resultados da pesquisa.
4.2.1 Método de custeio utilizado
É prática comum no Brasil a utilização
do método de custeio por absorção na apropriação dos custos aos produtos. Isso é reconhecido
como uma decorrência das exigências fiscais de
utilização de tal método, por ele estar em conformidade com o princípio contábil da competência, o qual determina que o reconhecimento
de receitas e despesas deve ser no período da sua
ocorrência e na proporção e correspondência
entre eles (CFC, 2003). Padoveze (2000) corrobora tal entendimento e destaca que a mais
óbvia vantagem ou utilidade do custeamento por
absorção é o fato de ele estar de acordo com os
princípios contábeis geralmente aceitos e com a
legislação tributária.
Na pesquisa de Ono e Robles Jr. (2004),
os resultados apontam que a principal justificativa dos entrevistados para utilização do custeio por absorção na apropriação dos custos aos
produtos e avaliação dos estoques visa, principalmente, a atender as exigências societárias e
fiscais, concordando com Padoveze.
O uso do método de custeio por absorção
possui muitas limitações quanto à sua capacidade
informativa para o controle gerencial e tomada
de decisões, pois utiliza critérios de rateio muitas
vezes arbitrários e que podem ter pouca relação
com o fato gerador. Além disso, o custeio por
absorção, por não ter precisamente fins geren19
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
ciais realiza algumas simplificações que, em nível
macro, anulam-se, mas que, em nível analítico
e por produto, podem conduzir à significativa
margem de erro. Por outro lado, o método de
custeio baseado em atividades tem sido o mais
recomendado para tais finalidades, pois busca
identificar a relação de causa e efeito e reconhece
a complexidade das modernas estruturas de custos das empresas (BRIMSON, 1996).
De posse de tais afirmativas e com o objetivo de identificar se há, por parte das empresas
pesquisadas, maior adesão ao uso do ABC conforme enfatizado pela literatura, formulou-se
a seguinte pergunta: “Qual método de custeio
é utilizado na empresa, para fins gerenciais, na
mensuração do custo dos produtos?” As respostas estão apresentada na Tabela 6:
Tabela 6 – Método de Custeio Utilizado.
Método de custeio utilizado
Absorção
Conjugação de absorção
e variável
Variável
Conjugação de absorção,
abc e variável
ABC
Total
Nº de empresas
22
%
73
4
13
2
7
2
7
0
30
0
100
Verifica-se que as respostas apontam uma
expressiva preferência pela adoção do método
de custeio por absorção (73%). Somando-se
as empresas que o utilizam em conjugação com
outros métodos, a participação chega a 93%.
Outro aspecto relevante identificado na
pesquisa é a inexpressiva adoção do custeio baseado
em atividades, indicado por apenas duas empresas
que o utilizam em conjunto com outras práticas;
isoladamente, não foi identificado sua adoção.
Por outro lado, o ABC é um sistema de
custeio mais apropriado quando a empresa possui um grau de diversidade elevado na sua linha
de produtos e uma parcela significativa de custos
indiretos. Em vista disso, ele pode ser mais recomendado para empresas de serviços, as quais,
freqüentemente, possuem essas características.
Isso poderia justificar, pelo menos em parte, a
não utilização do sistema pelas empresas participantes da amostra.
4.2.2 Custeio e gestão baseados em atividades
(ABC e ABM)
Diversos pesquisadores enfatizam a impropriedade das informações derivadas do método de custeio por absorção frente à realidade
empresarial. Para eles, as organizações devem
adotar o custeio baseado em atividades - ABC,
visto que diminui as distorções provocadas na
apropriação dos custos indiretos aos produtos.
Outro argumento favorável a utilização do ABC
é a identificação das atividades que agregam valor aos produtos, possibilitando a sua gestão e
eliminando ou reduzindo as que não agregam;
essa é uma das premissas que fundamenta a gestão baseada em atividades - ABM (NAKAGAWA, 2000).
Em face de tais argumentações, pesquisou-se mais especificamente a utilização do custeio e gestão baseados em atividades, bem como
as opiniões dos entrevistados quanto à sua implantação, através do seguinte questionamento: “Caso utilize o custeio e a gestão baseados
em atividades (ABC/ABM), quais as vantagens
identificadas pela sua utilização?” (Tabela 8).
Tabela 8 – Posicionamento das Empresas sobre a Utilização do ABC.
Comentário sobre implantação do ABC
Avaliou e descartou
Planos futuros para adotar
Não tem planos de adotar
Desconhece a prática
Em fase de estruturação do sistema de custos e no momento não tem planos de adotar
Adotou para os custos de produção
Total
Nº empresas
10
5
5
5
3
2
30
%
33
17
17
17
10
6
100
20
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Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Dentre os argumentos daqueles que manifestaram ter avaliado e descartado a adoção do
ABC (33%), os principais que merecem destaque foram: (1) a implantação de plano piloto
que fracassou em função das dificuldades para
apontamentos das atividades; (2) alguns testes
realizados identificaram que as pequenas variações não compensariam o investimento; (3)
diante da complexidade de implantação optouse por não adotá-lo.
A respeito da complexidade do ABC,
Cokins (1996) afirma que há equívoco em se
pensar que ele precisa ser demasiadamente detalhado. Ou seja, cada empresa pode definir o
nível de complexidade conforme suas necessidades. Nesse sentido, Cooper e Slagmulder
(1999) afirmam que o sistema de custeio, em
nível estratégico, deve ter menor complexidade
que em nível operacional.
Nas empresas nas quais se optou por
adotar o método ABC (duas empresas), os
entrevistados comentaram que as vantagens
na sua implantação são: (1) maior exatidão no cálculo dos custos dos produtos; (2)
maior qualidade na informação; (3) eliminação das atividades que não agregam valor
aos produtos.
Com relação ao ABM, em uma das empresas que não o utiliza, mas tem planos de
fazê-lo, foi destacado que a principal vantagem
que se espera com a futura adoção é direcionar
ações para maior eficiência na execução das atividades.
Visando identificar de forma mais objetiva o porquê da não adoção do ABC e ABM,
formulou-se a seguinte questão: “Caso não utilize o custeio e gestão baseados em atividades
(ABC/ABM), identifique o porquê da não utilização”. Os principais comentários contrários
a utilização do ABC estão destacados no Quadro
1 a seguir.
Quadro 1 – Comentários Contrários a Adoção
do ABC.
a - baixa relação custo x beneficio na adoção do sistema
b -o sistema atual é determinado na matriz
e, portanto, não há opção de mudança
c - o atual sistema atende as necessidades
d -a quantidade de atividades inviabiliza sua
implantação no nível mais detalhado
e - o sistema utilizado é o modelo de gestão do fundador,
que não aceitaria a mudança que o ABC exige
f - exige mudanças profundas no sistema de
informações da empresa
g -o ABC necessita de uma grande quantidade
de apontamentos e o resultado é equivalente
ao absorção
Dentre os comentários, a “baixa relação custo x benefício” e o “sistema atual atende
as necessidades” foram os mais citados. Para um
dos entrevistados, a opção pelo ABC não traria
mudanças significativas nos custos das empresas,
dado que elas possuem custo indireto variando entre 10% e 15% em relação ao custo total.
Tal fato, para eles, inviabiliza os investimentos
necessários para um possível melhoramento na
alocação dos custos aos produtos. Vários autores
(COGAN, 1999; COKINS, 1996) afirmam que
uma parcela elevada de custos indiretos seria uma
justificativa para a adoção do ABC. Ora, se existe baixa participação dos custos indiretos, a não
adoção do ABC pode ser uma escolha lógica.
Quadro 2 – Razões do Pouco Interesse na Adoção do ABM.
a -baixa adoção do custeio baseado em atividades
b -o sistema atual é determinado na matriz e,
portanto, não há opção de mudança
c - preferência pelos sistemas tradicionais na tomada
de decisões, como a adoção conjunta de métodos,
ou busca na melhoria dos métodos usados
d -desconhecem a ferramenta
e -não consideram a ferramenta como necessária
para obter competitividade
21
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
Em se tratando da gestão baseada em atividades (ABM), os principais argumentos que
justificam a opção pela não adoção da prática
estão apresentados no Quadro 2. Verifica-se
que o último argumento é contrário ao enfatizado na literatura. Mesmo nas duas empresas
que adotam o ABC não houve o reconhecimento do uso do ABM. Em uma delas, entretanto,
o entrevistado reconheceu já ter realizado reduções no custo através de melhorias de processo,
o que, segundo Cokins (1996), constitui a essência do ABM.
4.2.3 Custo-alvo (target cost)
Nakagawa (2000) comenta que atualmente as empresas competem com base em
qualidade, flexibilidade e preços competitivos, com o propósito de atender as necessidades dos clientes. Isso é uma decorrência do
reconhecimento de que é o mercado que determina os parâmetros e as condições de negociação. Com base nesses conceitos, alguns
autores têm defendido a adoção da prática
do custo-alvo, pois essa técnica considera as
pressões exercidas pelo mercado na determinação dos preços dos produtos e induz a re-
dução de custos ainda na fase de projeto do
produto.
Reconhecendo a importância da adoção da prática do custo-alvo e com o objetivo de
obter a opinião dos entrevistados sobre sua utilização nas empresas, foi formulada a seguinte
questão: “Como é calculado o preço de venda
dos produtos na empresa? Considera os custos?
Quais custos?”
O objetivo do questionamento foi identificar se as empresas consideravam o preço praticado pela concorrência na formação do preço
de venda de seus produtos. Identificou-se que
apenas seis empresas (20% da amostra) não o
consideravam. Os demais entrevistados reconheceram que é o mercado quem atualmente
determina os preços.
Visando complementar as informações relacionadas às estratégias adotadas para
competir com níveis de preços semelhantes
aos da concorrência, foi apresentada a seguinte questão: “Que ações são tomadas,
caso o preço de venda dos produtos da empresa esteja acima dos praticados pela concorrência?” As respostas estão apresentadas
na Tabela 9.
Tabela 9 – Ações para Adequação aos Preços da Concorrência.
Ações tomadas nas empresas
Nº de empresas
%
Reduções de custo: substituição de componentes dos produtos
10
34
Reduções de custo: outras estratégias
9
30
Reduções na margem de lucro
7
23
Não há o que fazer com os custos
3
10
Possui custo bem apurado e sua marca é líder no mercado
1
3
30
100
Total
Excluindo o entrevistado que comentou não ter pressão da concorrência, sete
empresas acabam por sacrificar a margem de
lucro para competir nos mesmos níveis de
preços praticados pela concorrência. Outras 19 empresas (63%) informaram efetuar a
substituição de componentes dos produtos e
outras práticas de redução de custos quando o
preço estabelecido for superior ao praticado
no mercado.
Durante as entrevistas, foram efetuados pelo entrevistador alguns esclarecimentos
e comentários a respeito do custo-alvo, com a
finalidade de inferir mais objetivamente se o
custo-alvo era utilizado. Os principais pontos
identificados são demonstrados na Tabela 10.
22
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
Tabela 10 – Utilização do Custo-Alvo.
Pontos identificados
Nº Empresas
%
Desconhece e não utiliza a prática do custo-alvo
17
57
Desconhece, mas utiliza parcialmente a prática
8
26
Conhece e tem planos de implementar
2
7
30
100
Os dados da Tabela 10 evidenciam que
na maioria das empresas se desconhece e não
se utiliza a prática pesquisada. Por outro lado,
aproximadamente ¼ das empresas pesquisadas
utiliza o custo-alvo mesmo sem o saber.
Embora um número significativo de
entrevistados considere o preço praticado pela
concorrência na formulação de seu preço de
venda e efetue alguns trabalhos de redução de
custo, foi por eles esclarecido que normalmente
essas ações são efetuadas durante a fase de produção e não na fase de projeto do produto. É
nesses casos que foi identificado o maior número de entrevistados que desconhecem o custoalvo (57%) de acordo com a Tabela 10.
Para Monden (1999), a busca sistemática por redução de custos pode ocorrer em duas
fases. A primeira, durante a etapa de projeto ou
pré-produção, quando então é chamada de custo-alvo, e a segunda, durante a etapa de produção, quando então é chamada de custo-kaizen.
De acordo com as respostas obtidas, as empresas
que desconhecem e não utilizam o custo-alvo
parecem estar usando técnicas de custo-kaizen,
mesmo que sem conhecê-lo (oito empresas,
equivalente a 26%).
Finalmente, quanto aos representantes das
duas empresas que comentaram ter planos futuros
de uso (7%), ambos relataram estar reestruturando o atual sistema de custos para, na seqüência,
implementá-lo. Ao comentar sobre a validade do
custo-alvo na gestão de custos, os dois entrevistados reconheceram que, no atual mercado competitivo, a adoção da prática é fundamental.
4.2.4 Custo da qualidade
Com o mercado mais competitivo, os
consumidores passaram a exigir mais das empresas com relação à qualidade dos produtos,
forçando-as a investir em programas de certificação de qualidade. De acordo com Robles Jr.
(1996), dois pontos são fundamentais na indução das empresas em investir em programas de
qualidade:
a) o mundo global exige que as empresas
estejam comprometidas com o contínuo
aperfeiçoamento de seus produtos, processos e aptidões profissionais de seus
colaboradores;
b)na atualidade, um dos problemas que
merece atenção é a eliminação de desperdícios; está mais claro o conceito
de recurso escasso e a indisposição dos
clientes em pagar por tais desperdícios.
Nesse contexto, procurou-se identificar se nas empresas que possuem certificação
de programas de qualidade (12 empresas) ocorre a segregação dos custos da qualidade daqueles normais de produção. Usou-se a seguinte
questão: “Na empresa há registro dos custos da
qualidade? Se sim, quais são eles?” As respostas
estão apresentadas na Tabela 11.
Tabela 11 – Tratamento Dado aos Custos da Qualidade.
Elementos
Empresas
Empresas Certificadas
%
Todos juntos (sem identificação)
10
12
83
Segregado (sem classificação nas quatro categorias)
1
12
8
Segregado adotando a classificação nas quatro categorias
1
12
8
23
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
Verifica-se que em apenas duas empresas
das certificadas (17%) os custos da qualidade são
segregados dos custos normais de produção. Em
uma delas (8%), porém, não há a classificação
desses custos por categoria. Na outra empresa
(8%), conforme Tabela 11, o entrevistado comentou segregar os custos da qualidade daqueles
normais de produção, efetuando a classificação
nas categorias de controle e falha no controle.
Durante a entrevista, ele destacou que o uso da
classificação está na fase inicial e há muito a ser
melhorado.
Nas empresas que não possuem certificação, não foi verificado nenhuma evidência da
adoção dos princípios do custo da qualidade.
Comprova-se, portanto, que há pouco uso do
conceito de custos de qualidade nas empresas
pesquisadas. Afirmações dos entrevistados sinalizam que a relação custo-benefício não compensaria a informação adicional obtida.
4.2.5 Custeio do ciclo de vida dos produtos
Uma das conseqüências do aumento
da competitividade tem sido a redução do
ciclo de vida dos produtos – tempo entre
lançamento e retirada do mercado. O menor tempo de vida dos produtos impõe que
a margem de erro no seu lançamento seja
menor, pois o tempo de recuperar custos e
investimentos se reduziu. Uma das alternativas que permite melhorar o gerenciamento
desses custos é o monitoramento dos custos
de ciclo de vida.
A discussão sobre o assunto durante a
entrevista foi iniciada com o seguinte questionamento: “O meio acadêmico defende
que há alguns custos que são gerados durante
a fase de projeto do produto; outros, durante a fase de produção dos produtos; alguns,
para manter o produto no mercado; e ainda alguns custos, para retirar os produtos do
mercado; e que devem ser controlados pela
empresa. Quais desses custos são controlados na empresa?” No momento de comentar a questão, era destacado ao entrevistado
que se tratava do custeio do ciclo de vida dos
produtos, apresentando seus princípios e finalidades (Tabela 12).
Tabela 12 – Custos Controlados pelas Empresas.
Elementos
Empresas
%
Custos de projeto dos produtos (fase pioneira)
17
57
Custos de fabricação (fase da produção)
30
100
Custos de manutenção do produto no mercado (fase de estabilização)
2
7
Custos de substituição do produto (fase declínio)
0
0
Segundo os dados da Tabela 12, as empresas preferencialmente mantém o tradicional
controle dos custos internos de produção, não
analisando os custos que podem ser gerados após
a venda dos produtos. Em dois casos (7%), os entrevistados comentaram que consideram os custos para manter o produto no mercado, porém,
não apropriam tais valores ao custo do produto.
Nesses casos, apesar de considerá-los em análises
gerenciais, o seu valor é computado como despesa de vendas na formação do resultado final.
Em complemento ao estudo do custeio
do ciclo de vida, foi perguntado aos entrevistados
sobre os motivos pelos quais não se dá atenção
aos custos incorridos aquém e além da produção
interna. Formulou-se a seguinte questão: “Caso
na empresa não seja efetuado um planejamento
e controle dos custos nas fases de planejamento,
manutenção e retirada do produto do mercado,
indique as possíveis justificativas”.
Dentre as principais justificativas apresentadas para a não adoção da prática do custeio
do ciclo de vida, destacam-se, entre outras: (1)
o desconhecimento de seus conceitos; (2) produtos com longos ciclos de vida, o que não obriga a mensurar seus custos durante o ciclo; (3)
24
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Práticas de Gestão de Custos Adotadas por Empresas Estabelecidas nas Regiões Noroeste e Oeste do Estado do Paraná
empresa líder no mercado. O que se apresentou
com maior incidência foi o desconhecimento.
4.2.6 Análise da cadeia de valor
Considerando que o ambiente operacional das empresas é caracterizado por forte
concorrência, em que a disputa por mercados
e por níveis de preços mais baixos é fator de sobrevivência, há uma constante necessidade de
buscar-se reduções nos custos de modo a não
sacrificar o lucro.
Dentre as práticas que podem ser adotadas
para diminuir custos, destaca-se a que reconhece
as limitações da empresa em atuar isoladamente.
Isso amplia os horizontes para oportunidades de
reduções de custo que podem ser criadas na atuação conjunta com outras empresas pertencentes
a uma mesma cadeia de valor.
Com base nesses entendimentos, procurou-se identificar se as empresas estão explorando tais oportunidades e se adotam a forma
defendida pela literatura pertinente. Nesse sentido, apresentou-se o seguinte questionamento:
“Na empresa se explora oportunidades de redução de custo utilizando ligações com fornecedores, clientes, ligações de processo, unidades da
empresa e concorrentes?” As respostas obtidas
estão apresentadas na Tabela 13:
Tabela 13 – Ligações Efetuadas pelas Empresas Para Redução de Custo.
Empresas
%
Exploram as oportunidades com fornecedores, clientes e concorrentes
19
63
Não exploram as oportunidades
11
37
Total
30
100
O resultado apresentado ratifica a participação dos principais agentes atuantes das ligações que é destacado na literatura. Nota-se,
entretanto, que parcela significativa da amostra
(37%) está fora dessa estatística. Visando melhor
entender os objetivos das ligações identificadas,
pediu-se aos entrevistados que exemplificassem
as ligações entre os componentes da cadeia produtiva e qual o propósito dos acordos. Os resultados estão apresentados na Tabela 14.
Tabela 14 – Uso da Analise da Cadeia de Valor.
Elementos
Empresas
%
Ligações com fornecedores
19
63
Ligações com clientes
1
3
Ligações de processo interno
3
10
Ligações com unidades empresariais
11
37
Ligações com concorrentes
10
33
Não exploram as oportunidades
11
37
Os dados da Tabela 14 atestam que 19
empresas (63% da amostra) adotam ligações
com fornecedores, juntamente com outras ligações, visando reduzir custos.
Quanto às onze empresas em que não
se exploram as oportunidades, equivalentes
a 37% da amostra, perguntou-se aos entrevistados os motivos da não adoção da prática.
Os principais comentários obtidos foram: (1)
indústria recente onde as oportunidades ainda não forma exploradas; (2) mercado fornecedor monopolizado; (3) política da empresa de não efetuar ligações; (4) desconhecia
seus conceitos e administra somente os custos
internos.­
4.2.7 Outras práticas de gestão de custos
identificadas
Objetivando verificar qual prática é
preferida pelas empresas para a gestão dos custos gerados pelo processo produtivo, durante
a entrevista buscou-se identificar manifestação
espontânea sobre que outras práticas de gestão de custo usualmente as empresas utilizam
(Tabela­ 15­).­
25
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Valmor Reckziegel / Marcos Antonio de Souza / Carlos Alberto Diehl
Tabela 15 – Outras Práticas de Gestão de Custo Identificadas.
Elementos
Empresas
%
Custo-padrão e orçamento
8
27
Compara alguns indicadores econômicos de desempenho
8
27
Margem de contribuição e ponto de equilíbrio
6
20
Conjugado ABC/margem de contribuição/ponto de equilíbrio
2
7
Custo padrão e orçamento/margem de contribuição e ponto de equilíbrio
2
7
Somente orçamento
3
10
Somente custo-padrão
Total
1
3
30
100
Como pode ser observado, na maior parte
das empresas pesquisadas se utiliza o custo-padrão
e planos orçamentários para controlar os custos e
resultados. Somando-se as empresas que os utilizam, tanto de forma individual como conjunta, a
representatividade chega a 47% da amostra (14 empresas). Portanto, os resultados apontam para a expressiva adoção de técnicas tradicionais de controle,
com as quais os entrevistados dizem estar satisfeitos.
lor é uma exceção, explicado pelo alto número
de empresas com capital originário de natureza
cooperativista, cuja missão é a cooperação entre
indivíduos para o desenvolvimento local.
Diante de tais considerações, a pesquisa
consubstancia-se na constatação de que não há
aderência, nas empresas pesquisadas, às práticas de
gestão de custos mais recentemente desenvolvidas
e com grande destaque na literatura da área.
5 CONCLUSÃO
Considerando-se que uma das formas
de evolução do conhecimento científico sobre
determinado tema é a investigação da utilização prática e a aplicabilidade de seus desenvolvimentos teóricos, entende-se que este estudo
atingiu os propósitos a que se dispôs.
Essa afirmação está baseada no fato de
que se investigou, no âmbito das empresas componentes da amostra, quais práticas de gestão de
custos estão sendo adotadas comparativamente
ao exposto na literatura.
Nesse sentido, o presente estudo, ao tratar
de algumas das novas e/ou aperfeiçoadas práticas
de gestão de custos, defendida por alguns autores como fundamentais ante as transformações
ocorridas no ambiente interno e externo no qual
as organizações estão atuando, procurou dar sua
contribuição a essa área do conhecimento.
O resultado da pesquisa retrata a predominante preferência pelos métodos tradicionais
de controle e gestão de custos, em contrapartida
à baixa adoção de práticas contemporâneas pesquisadas. A adoção da análise da cadeia de va-
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27
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.14-27, jan./abr. 2007
Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
Área Temática: Contabilidade, Controladoria e Finanças
A Contribuição do Contador para a Gestão das
Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa
de Campo no Distrito Federal
Idalberto José das Neves Júnior
Mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pela Universidade
Católica de Brasília - UCB [[email protected]]
Aline Lins
Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de Brasília – UCB
[[email protected]]
Endereço dos autores: Universidade Católica de Brasília - Q.S. 07, lote 01, EPCT, Águas Claras, Taguatinga- DF Cep.: 71.966-700
Recebido em 10 de outubro de 2006 / Aprovado em 12 de fevereiro de 2007
Resumo
Em todo o mundo, organizações do Terceiro
Setor surgem e ganham importância no cômputo das economias, seja para suprir lacunas
da ação governamental ou para concretizar
objetivos de solidariedade que não encontram
espaço de realização em outros lugares. A necessidade de informações para a gestão mais
profissional dessas empresas fez surgir um
novo campo de trabalho para o profissional de
contabilidade. O objetivo principal deste artigo é discutir as percepções das empresas do
Terceiro Setor em relação aos serviços profissionais contábeis e a confrontação desses com
a opinião dos contabilistas, por meio de uma
pesquisa de campo realizada no Distrito Federal. Os resultados evidenciaram o baixo grau
de atendimento das necessidades de informações das empresas do Terceiro Setor pelos serviços contábeis oferecidos, o desconhecimento por parte dos profissionais de contabilidade
do que é este setor, em especial, das empresas
que o integram, e a existência de um campo de
trabalho a ser explorado pelo profissional da
contabilidade.
Palavras-chave:
Gestão das Empresas do Terceiro Setor. Contabilidade para o Terceiro Setor. Informações
para o Terceiro Setor.
Abstract
In the whole world, Third Sector organizations
appear and gain importance in the range
of the economies, either to supply gaps of
the governmental action or to materialize
solidarity objectives that do not find space of
accomplishment in other places. The necessity of
information for a most professional management
of these companies made to appear a new field
of work for the accounting professional. The
main objective of this article is to argue the
perceptions of the Third Sector companies in
relation to the countable professional services
and the confrontation of these with the opinion
of the accountants, by a field research carried
through in Distrito Federal. The research results
had evidenced the low degree of attendance of the
necessities of information of the Third Sector
companies for the offered countable services, the
unfamiliarity on the part of the professionals of
28
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.28-41, jan./abr. 2007
A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
accounting of what it is this sector, in special, of
companies who integrates it, and the existence of
a work field to be explored by the professional of
the accounting.
Key-words:
Management of Third Sector Companies.
Third Sector Accounting. Information for the
Third Sector.
1 Introdução
Segundo a Promotoria de Justiça de
Fundações e Entidades de Interesse Social, até
recentemente, conheciam-se apenas dois setores da organização social: o público e o privado.
Ambos mostraram-se, com o passar do tempo,
insuficientes para suprirem carências sócio-políticas do Estado e da própria sociedade. Desenvolveu-se, então, a formação de organizações
privadas com o objetivo público, que não se inseria em qualquer um dos dois setores, denominadas de Terceiro Setor. (BRASIL, 2005).
Ampliada a importância desse novo setor, foram aumentadas as verbas alocadas para
ele seja por instituições de financiamento custeadas por empresas ou pessoas, seja pelo apoio
dos governos, ou pela geração de receita atrelada
à própria atuação desse setor. Dessa forma, desenvolveu-se também a necessidade de profissionalismo na gestão e operação das atividades
dessas instituições. (RIFKIN, 1995, p.263).
A necessidade de informações para a gestão mais profissional dessas empresas fez surgir
um novo campo de trabalho para o profissional de contabilidade. Por esse motivo, torna-se
relevante um estudo que demonstre a participação do contabilista na gestão dessas empresas,
evidenciando-se os serviços prestados por esse
profissional frente às necessidades das empresas
do Terceiro Setor.
Para estudo do tema, foi levantado o seguinte problema de pesquisa: as necessidades
de informações do Terceiro Setor estão sendo
atendidas pelos serviços prestados pelos profissionais de contabilidade?
Portanto, objetivo desta pesquisa é discutir as percepções das empresas do Terceiro
Setor em relação aos serviços profissionais contábeis e à confrontação desses com a opinião dos
contabilistas.
Para responder a pergunta de pesquisa,
foram enumerados alguns objetivos específicos
a serem seguidos neste trabalho: a descrição das
funções, objetivos, normas e técnicas da contabilidade, a conceituação do Terceiro Setor,
a evidenciação da importância das demonstrações contábeis para essas empresas e, por fim,
a elaboração de uma pesquisa de campo para a
confrontação das necessidades das empresas do
Terceiro Setor em relação às informações úteis
para a sua gestão e o conhecimento destas necessidades pelo profissional de contabilidade.
Quanto à classificação da pesquisa, do
ponto de vista de sua natureza, será uma pesquisa básica, em relação à abordagem do problema,
considerar-se-á como qualitativa. Do ponto de
vista de seus objetivos, como uma pesquisa exploratória, descritiva e com coleta de dados por
meio de pesquisa de campo. (SILVA; MENEZES, 2001).
Duas suposições foram levantadas neste
artigo: a primeira está relacionada às necessidades das empresas do Terceiro Setor que não
estão sendo atendidas com a prestação dos serviços profissionais contábeis, e a outra revela o
desconhecimento que a maioria dos contabilistas entrevistados tem a respeito da real função e
objetivos das empresas do Terceiro Setor.
Essas suposições foram elaboradas diante
da premissa de que os contadores têm dificuldade para interpretar a demanda de informações
para o Terceiro Setor e constatar que os cursos de graduação em Ciências Contábeis pouco
abordam o tema: Contabilidade para o Terceiro
Setor.
2 A Contabilidade
A função da contabilidade é controlar
os fenômenos ocorridos no patrimônio de uma
entidade, por meio do registro, da classificação,
da demonstração expositiva, da análise e interpretação dos fatos neles ocorridos, objetivando
fornecer informações e orientações necessárias
à tomada de decisões sobre sua composição e va29
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.28-41, jan./abr. 2007
Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
riações, bem como sobre o resultado econômico decorrente da gestão da riqueza patrimonial.
(FRANCO, 1999, p. 22)
Ainda segundo Franco (1999), a contabilidade é um dos principais sistemas de controle e
informação das empresas. Com a análise do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exercício, é possível verificar a situação da
empresa sob os mais diversos enfoques tais como:
análises de estrutura, de evolução, de solvência,
de garantia de capitais próprios e de terceiros.
Para Iudícibus (1997), o conhecimento
que a Contabilidade proporciona a respeito do
seu objeto está em constante desenvolvimento,
como, aliás, ocorrem nas demais ciências em
relação aos seus respectivos objetos. Por essa razão, deve-se aceitar como natural o fato da existência de possíveis componentes do patrimônio
cuja apreensão ou avaliação se apresenta difícil
ou inviáveis em determinado momento.
Quanto aos eventos da contabilidade,
podemos classificá-los em dois tipos: o interno e o externo, ou seja, os internos são os acionistas, gestores e colaboradores, os externos são
os clientes, instituições financeiras, governos e
etc. A esse respeito, Sá e Sá (1995, p.228) afirmam que
Os usuários tanto podem ser internos quanto externos e, mais ainda
com interesses diversificados; razão pela
quais as informações geradas pela Entidade devem ser amplas e fidedignas e,
pelo menos, suficientes para a avaliação
da sua situação patrimonial e das mutações sofridas pelo seu patrimônio, permitindo a realização de inferência sobre
o seu futuro.
Neves e Viceconti (2001, p.203) conceituam como usuário “toda pessoa física ou
jurídica que tenha interesse na avaliação da situação e do progresso de determinada entidade, seja tal entidade empresa, ente de finalidade
não lucrativa, ou mesmo patrimônio familiar”.
A contabilidade apresenta as seguintes técnicas essenciais para o cumprimento de
seus objetivos: (ASSAF NETO, 2002, p. 48;
JUND, 2001, p.25; NEVES; VICENCONTI,
2001, p.57, 70).
a) A escrituração: é a técnica utilizada para
registro dos fatos administrativos (contábeis) ocorridos na entidade;
b)As demonstrações contábeis representam peças em forma técnica que evidencia fatos patrimoniais ocorridos em
determinada gestão administrativa. As
demonstrações enumeradas na Lei das
Sociedades Anônimas (S/A) são: balanço
patrimonial, demonstração do resultado
do exercício, demonstração de lucros e
prejuízos acumulados, demonstração
das mutações do patrimônio líquido,
demonstração de origens e aplicações de
recursos e notas explicativas às demonstrações;
c) A Contabilidade para mensurar a adequação e confiabilidade dos registros e
das demonstrações contábeis, utiliza-se
também de uma técnica que lhe é própria, chamada: auditoria e que se consiste no exame de documentos, livros e
registros, inspeções, obtenção de informações e confirmações internas e externas, obedecendo a normas apropriadas
de procedimento, objetivando verificar
se as demonstrações contábeis representam adequadamente a situação demonstrada, de acordo com princípios fundamentais e normas de contabilidade,
aplicados de maneira uniforme.
d)A análise de balanços visa relatar, com
base nas informações contábeis fornecidas pelas empresas, a posição econonômico-financeira atual, as causas que
determinaram a evolução apresentada e
as tendências futuras.
3 Terceiro Setor
Na década de noventa, do século XX, o
Terceiro Setor surgiu como portador de uma
nova e grande promessa: a renovação do espaço
público, o resgate da solidariedade e da cidadania, a humanização do capitalismo e, se pos-
30
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
sível, a superação da pobreza. Uma perspectiva que se concretizou com a realização de atos
simples como: o voluntariado e a filantropia,
revestidos de uma roupagem mais empresarial.
Promete, implicitamente, um mundo onde são
deixados para trás os antagonismos e conflitos
entre classes e, se quisermos acreditar, promete
muito mais. (FISCHER, 2002).
Ainda segundo Fischer (2002), as organizações que compõem o Terceiro Setor evidentemente não são novas. Têm-se no Brasil, como
representantes mais recentes, as Organizações
Não-Governamentais resultantes dos novos movimentos sociais que emergem a partir dos anos
setenta. Nova é a forma de interpretá-las como
componentes de um “setor” que pleiteia igualdade
em relação ao Primeiro Setor, que é representado pelo Estado e ao Segundo Setor, que é representado pelo setor Privado. Um fato interessante
e normalmente despercebido é que, no Brasil, o
Terceiro Setor busca seu lugar ao sol ao mesmo
tempo em que é proposta a parceria intersetorial
que obscurece os limites entre os três setores.
Já Salvatore (1998) afirma que as organizações sem fins lucrativos existem desde o Brasil colônia, inicialmente na figura de entidades
ligadas à Igreja Católica, portanto, não se trata
de algo novo, mas que vem crescendo a cada dia,
ganhando mais visibilidade, tanto na sociedade,
quanto na mídia e chamando a atenção do próprio Estado, com características de gerar serviços de caráter coletivo com fins sociais, lutar
em defesa dos direitos dos cidadãos, buscando a
melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Rifkin (1995) defende que em todo o
mundo, organizações do Terceiro Setor surgem e ganham importância no cômputo das
economias, seja para suprir lacunas da ação governamental, seja para concretizar objetivos de
solidariedade que não encontram espaço de realização em outros lugares.
Ampliada a importância do Terceiro Setor, aumentaram-se as verbas alocadas para ele,
seja por instituições de financiamento custeadas
por empresas ou pessoas, seja pelo apoio dos
governos, ou pela geração de receita atrelada à
própria atuação deste setor. Dessa forma, de-
senvolveu-se também a necessidade de profissionalismo na gestão e operação das atividades
destas instituições. Rifkin (1995, p.263), no
seu livro “O Fim dos Empregos”, afirma:
O Terceiro Setor também conhecido
como setor independente ou voluntário, é o domínio no qual padrões de
referência dão lugar a relações comunitárias, em que doar do próprio tempo a outros toma o lugar de relações
de mercado impostas artificialmente,
baseadas em vender-se a si mesmo ou
seus serviços a outros.
4 Importância das Demonstrações
Contábeis para as Empresas do
Terceiro Setor
A contabilidade é uma ciência que tem
por finalidade gerar informações fidedignas, no
momento oportuno, aos diversos usuários para
tomada de decisões. (MARTINS, 1990).
Para França (2003, p. 60), geralmente
gestores das organizações sem fins lucrativos não
apresentam as habilidades necessárias para interpretar informações contábeis. Ainda segundo esse autor, as demonstrações contábeis para
as Entidades de Interesse Social devem:
-Fornecer informações de forma regular
e tempestiva;
-Possibilitar o acesso do usuário as informações objetivadas;
-Apresentar ao usuário uma apreciação
das transações realizadas durante o exercício social das Entidades de Interesse
Social, bem como uma posição contábil
ao final do ano.
O Conselho Nacional de Assistência
Social determina que “as demonstrações contábeis das entidades que planejam a concessão
ou a renovação do Certificado de Entidade
Beneficente de Assistência Social deve observar
estritamente as resoluções expedidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, especialmente
os Princípios Fundamentais de Contabilidade
31
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Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
(PFC) e as Normas Brasileiras de Contabilidade
(NBC), sendo vedada à aplicação de qualquer
outro entendimento que não esteja em conformidade com as citadas normas, sob pena de indeferimento do pedido”. (BRASIL, 2006)
As entidades, para manutenção de seu
trabalho como agentes de transformação social,
precisam aprender a gerir os recursos disponíveis para obter os resultados pretendidos, cuja
finalidade principal é o ser humano transformado. Para Olak (1996, p. 100), “quando se
fala, entretanto, em prestação de contas à comunidade, o rol de informações é muito maior
e inclui, também, as próprias demonstrações
contábeis e respectivas notas explicativas”. Ainda segundo o mesmo autor:
[...] temos aqui, de um lado, os associados, sócios, membros, contribuintes, colaboradores, doadores e subventores, responsáveis pelo fornecimento
dos recursos e que, portanto, delegam
poderes para gestão de tais recursos, e
de outro, a administração a quem tais
poderes são delegados. A este relacionamento de autoridades e responsabilidade denominamos de “accountability”, ou seja, prestação de contas.
Para Brinckerhoff (apud FRANÇA,
2003, p. 95), os recursos financeiros são como:
[...] o sangue e a água para uma organização. Logo, como essas organizações, normalmente, dependem de dinheiro alheio, isto é, da boa vontade e
compreensão dos doadores, tendo em
vista as suas políticas de apoio financeiro a projetos sociais, os administradores precisam acompanhar a passos
curtos as entradas e saídas de recursos
financeiros na entidade.
Quanto à divulgação das demonstrações
contábeis, as Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnicas (NBC-T-6) orientam que as
organizações a façam utilizando-se de jornais,
remessas aos interessados (conselho fiscal, fornecedores, órgãos fiscalizadores e reguladores,
associações de classe, dentre outros) e de notas
explicativas (textos claros, simples e objetivos).
Hendriksen e Breda (1999, p. 515) observam
que, “a quantidade de informação a ser divulgada depende, em parte, da sofisticação do leitor
que a recebe”.
Segundo Olak (1996), as demonstrações
contábeis devem conter um conjunto mínimo
de informações que possibilite o conhecimento
e análise da entidade. As informações que são
elaboradas para a prestação de contas ao Governo necessariamente não são as mesmas informações que a diretoria ou os associados necessitam
e vice-versa. A expansão e fortalecimento do
Terceiro Setor é responsabilidade, em primeiro
lugar, da própria sociedade que deverá instituir
mecanismos de transparência e responsabilização capazes de ensejar a construção de sua autoregulação.
5 Pesquisa de Campo
5.1 Descrição da pesquisa
A pesquisa realizada neste artigo tem
como objetivo identificar o nível de satisfação
que as empresas do Terceiro Setor, situadas
no Distrito Federal, têm em relação aos serviços contábeis oferecidos pelos profissionais que
atuam no mesmo território.
A pesquisa de campo está caracterizada pela elaboração e aplicação de dois questionários, com perguntas objetivas fechadas e de
múltiplas escolhas em sua maioria. Foi aplicado aos profissionais contábeis e as empresas do
Terceiro Setor no mês de março de 2006.
5.2Características do questionário
e da amostra
Visando responder ao problema levantado neste trabalho, foi realizada pesquisa de
campo com profissionais contábeis que atuam no Distrito Federal e entidades do Terceiro Setor na mesma região, através da aplicação
de dois questionários, compostos de perguntas
objetivas na sua maioria e dispostos nos seguin-
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
tes blocos: 1. Dados dos entrevistados, 2. Principais informações que as empresas do Terceiro
Setor necessitam para a sua gestão; e 3. Como os
contabilistas enxergam estas empresas e quais as
informações que estes entendem que poderiam
ajudá-las em sua gestão.
A amostra utilizada nesta pesquisa englobou 40 profissionais de contabilidade, situados
nas cidades de Taguatinga e Plano Piloto, e 274
Entidades de Interesse Social, chamadas de Terceiro Setor, cadastradas no Ministério da Justiça
como OSCIP – Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público.
Das 274 OSCIP, todas tinham endereços completos, mas apenas 99 apresentavam os
números de telefone, sendo que 42 números
de telefone listados não existiam ou estavam
incorretos. Das restantes (57 OSCIP) contatadas por telefone, apenas 12 responderam o
questionário encaminhado por e-mail e/ou
fax. Outras 62 OSCIP foram visitadas em seus
endereços, (Setores Comercial, Bancário, de
Rádio e TV, Sul e Norte e Taguatinga), mas
apenas 18 responderam o questionário e 42
não foram localizadas pelo endereço do cadastro. O total de questionários respondidos foi
30, o que representa 19% de 161 OSCIP contatadas. Das 274 OSCIP no Distrito Federal
58,8% (161 OSCIP) foram contatadas, conforme esquema abaixo:
Figura 1: Esquema da caracterização da amostra do Terceiro Setor
Fonte: Elaboração própria
É importante ressaltar a limitação deste estudo quanto à generalização de seus resultados, uma vez que o trabalho foi realizado
no Distrito Federal e a amostra precisa ser ampliada. Contudo, este estudo proporciona uma
discussão sobre um tema pouco explorado e de
grande relevância para a área contábil.
5.3 Procedimentos adotados
Para o desenvolvimento deste trabalho
foram adotados os seguintes procedimentos:
• Captura da relação das 274 empresas do
Terceiro Setor cadastradas no sítio do
Ministério da Justiça como OSCIP, com
endereço e telefone, para em seguida,
entrar em contato com as mesmas para
saber se estas empresas utilizam serviços
de profissionais de contabilidade;
• Elaboração e aplicação de um questionário nas empresas do Terceiro Setor
que possuem contabilidade, com vistas a identificar as suas necessidades de
informações para gestão e se os serviços
contábeis oferecidos atendem a estas necessidades;
• Elaboração e aplicação de um questionário aos profissionais de contabilidade, não necessariamente os que prestam
serviços às empresas mencionadas no tópico anterior, com vistas a saber qual o
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Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
seu conhecimento sobre estas empresas
e suas necessidades de informações e se
estas poderiam ser supridas pelos profissionais contábeis;
• Tabulação das respostas obtidas nos dois
questionários e a análise do grau de coerência entre as necessidades das empresas e os serviços contábeis oferecidos;
• Coleta das informações realizada pela
autora deste artigo. As principais ferramentas utilizadas para o desenvolvimento deste estudo foram os softwares
Microsoft Word e Excel, e Statistical Package for the Social Sciences – (SPSS).
to deste setor e oportunidade de trabalho para
os contabilistas. Este dado é sintetizado no gráfico a seguir.
Os questionários utilizados para a realização da pesquisa de campo estão localizados
nos apêndices A (questões para as empresas) e B
(questões para os contadores).
Ainda sobre o primeiro bloco de perguntas podemos observar que 46,7% das empresas pesquisadas recebem doações e/ou consignações e 73,3% desenvolvem trabalhos de interesse
social. Apenas duas empresas responderam que
não mantinham contabilidade, uma por falta de
recursos e outra por falta de projetos em desenvolvimento.
Os resultados dessa síntese foram estruturados nas tabelas a seguir. A tabela 2 descreve
as principais fontes de recursos das OSCIP, enquanto que a tabela 3 demonstra se as mesmas
possuem escrituração contábil.
6 Análise dos Resultados
6.1 Questionário aplicado às empresas do
terceiro setor
O questionário aplicado às empresas do
Terceiro Setor foi dividido em três blocos de
perguntas. A primeira parte teve como objetivo
classificar as empresas pela atividade desenvolvida. Uma informação relevante é que mais de
dois terços dessas empresas foram constituídas
em menos de 10 anos, o que revela o crescimenTabela 2: Principal fonte de recursos da empresa
Freqüência
Porcentagem
Percentual válido
Percentual acumulado
Doações
8
26,7
26,7
26,7
Consignações
6
20
20
46,7
Mantenedora
3
10
10
56,7
Capital Próprio e Governo
3
10
10
66,7
Projetos e Convênios
3
10
10
76,7
Serviços Prestados
2
6,7
6,7
83,3
Vendas
2
6,7
6,7
90
Patrocínio e Vendas
1
3,3
3,3
93,3
Parcerias
1
3,3
3,3
96,7
Doações e Consignações
1
3,3
3,3
100
30
100
100
Total
Fonte: Elaboração Própria
34
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
Tabela 3: Existência de escrituração contábil nas empresas
Freqüência
Porcentagem
Percentual válido
Percentual acumulado
Sim
28
93,3
93,3
93,3
Não
1
3,3
3,3
96,7
Faltam recursos financeiros
1
3,3
3,3
100
30
100
100
Total
Fonte: Elaboração Própria
No segundo bloco de perguntas, questionamos quais os indicadores de desempenho
são utilizados pelas empresas. 83,3% das empresas responderam essa questão. A síntese das
respostas a esta questão é descrita a seguir:
• Avaliação pelo total dos projetos.
• Avaliação junto às filiais.
• Existência de associações contínuas, planos oferecidos e qualidade de vida.
• Folhetos, cartazes e reuniões.
• Eficiência, respeito do cronograma e
qualidade do serviço.
• Cumprimento dos objetivos e metas.
• Sucesso das pesquisas e satisfação dos patrocinadores.
• Metas alcançadas e mudança de cultura
local.
• Campanhas e congressos.
• Objetivos alcançados, lucro líquido do
projeto e custos fixos agregado ao projeto.
• Ficha de avaliação.
• Sociedade, renovação de contratos, entre outros.
Quando foi questionado, quais dos serviços prestados pelo contabilista mais lembram
a Contabilidade, verificou-se que “abertura/fechamento de empresas e pagamento de impostos” são os temas que as empresas mais associam
à contabilidade. “Relatórios de análise de desempenho e elaboração de projetos de investimento” são temas pouco associados ao trabalho
dos Contabilistas conforme tabela abaixo:
Tabela 4: Serviços prestados pelo contabilista que as empresas mais lembram
Freqüência
Porcentagem
Percentual válido
Percentual acumulado
Abertura/fechamento de empresa
e imposto de renda
16
53,3
55,2
55,2
Pagamento de impostos
4
13,3
13,8
69
Relatórios de desempenho e fluxo
de caixa
4
13,3
13,8
82,8
Abertura e fechamento de empresa
1
3,3
3,4
86,2
Imposto de renda
1
3,3
3,4
89,7
Relatórios de análise do desempenho
1
3,3
3,4
93,1
Análise do fluxo de caixa das empresas
1
3,3
3,4
96,6
Elaborados na própria empresa
1
3,3
3,4
100
29
96,7
100
1
3,3
30
100
Total
Dados não informados
Total
100
Fonte: Elaboração Própria
35
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No terceiro bloco de perguntas, questionamos a qualidade dos serviços contábeis
oferecidos, e metade dos entrevistados respondeu que desenvolve relatórios paralelos para
auxiliar na tomada de decisão. Perguntamos o
que as empresas esperam da contabilidade, 80%
responderam essa questão. As respostas dos entrevistados demonstram que os mesmos esperam
da contabilidade “mais conhecimento”. Um dos
entrevistados relatou que está com a contabilidade atrasada quatro anos e já mudou de escritório
contábil três vezes - alega que o problema é falta
de conhecimento adequado pelos profissionais
contábeis para atualização do trabalho.
6.2 Questionário aplicado aos profissionais
contábeis
Para os profissionais contábeis aplicamos
40 questionários e as questões foram divididas
em três blocos.
No primeiro bloco de perguntas solicitamos os dados pessoais tais como: formação
profissional, sexo, idade, tempo de profissão, e
podemos afirmar que, nessa pesquisa, 55% dos
entrevistados são Técnicos em Contabilidade e
45% graduados em Ciências Contábeis. É importante destacar que três respondentes têm,
além da graduação em Ciências Contábeis, outro curso superior. 30% são do sexo feminino,
52,5% têm idade entre 31 e 45 anos e 22% com
idade menor que 30 anos.
No segundo bloco, as perguntas foram
relacionadas ao conhecimento dos profissionais sobre o Terceiro Setor. A primeira pergunta, fechada, pedia para eles escolherem a
opção do que seria o Terceiro Setor e, mesmo
tendo opções para escolher, 10% dos entrevistados não responderam. Dos que responderam
2,5% afirmaram de forma incorreta que empresas do Terceiro Setor estão ligadas ao Governo Federal.
Os resultados dessa questão estão descritos na tabela abaixo:
Tabela 5: Sabe o que significa uma empresa do Terceiro Setor
Freqüência
Porcentagem
Percentual válido
Percentual acumulado
Empresas de caráter social e sem
fins lucrativos
19
47,5
52,8
52,8
Empresas não governamentais
9
22,5
25
77,8
Empresas não governamental, de
caráter social e sem fins lucrativos.
5
12,5
13,9
91,7
Governo
1
2,5
2,8
94,4
Empresas de caráter social, sem fins
lucrativos e Governo Federal.
1
2,5
2,8
97,2
Nenhuma
1
2,5
2,8
100
36
90
100
Dados não informados
4
10
Total
40
100
Total
Fonte: Elaboração Própria
Outro aspecto que causou preocupação,
relacionado ao desenvolvimento dos trabalhos
realizados pelos contabilistas, está no percentual de respostas em branco que representaram
entre 33% e 40%, respectivamente, quando foi
solicitado para listarem empresas do Terceiro
Setor e como os serviços de contabilidade podem auxiliar essas empresas.
Quanto às respostas da questão “como os
serviços dos contabilistas podem ajudar a aber-
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
tura de uma ONG”, 60% dos entrevistados efetuaram os comentários, representados por tópicos, a seguir:
• Auxiliar nas obrigações contábeis e tributaria da organização.
• Orientação de funcionamento e continuidade de serviços na vida cotidiana da
entidade.
• Junto a órgãos federais.
• Contrato social, registro no cartório de pessoa jurídica inscrições no cadastro nacional
de pessoa jurídica (CNPJ), ministério da
fazenda e governo do Distrito Federal.
• Elaborando estatuto, atas e registro no
cartório.
• Orientando em todos os procedimentos
desde a criação do estatuto.
• Consultoria na criação dos estatutos e
acompanhamento técnico entre outros.
Para finalizarmos este segundo bloco do
questionário perguntamos se tais empresas do
Terceiro Setor precisariam de escrituração contábil. Apenas 2,5% dos entrevistados deixaram
de responder e 17,5% responderam que não é
preciso, conforme gráfico abaixo.
No terceiro bloco, as perguntas foram
direcionadas aos contadores que prestam serviços às empresas do Terceiro Setor, o que cor-
respondeu a 35% dos entrevistados. A maioria
respondeu que o balanço patrimonial, demonstrativo do resultado do exercício, fluxo de caixa,
relatórios de indicadores, análise de fontes de
recursos são de extrema importância para a gestão dos negócios das empresas do Terceiro Setor.
Quanto à criação de centros de custos e planos
de contas, eles se dividiram entre documentos
personalizados, criados com as características da
empresas, ou padronizados, uniformizado para
todas as empresas.
A última pergunta foi sobre o auxílio
do contabilista às empresas do Terceiro Setor, 42,5% dos entrevistados responderam essa
questão e poucos entraram na linha de raciocínio da contabilidade gerencial. A síntese das
respostas é:
• Prestando informações de consultoria
com base nos seus demonstrativos contábeis.
• Orientação do principio ao fim, na
abertura no cotidiano e no futuro.
• Conhecimento na área do Terceiro Setor.
• Escrituração do caixa, folha de pagamento, balancete mensal e balanço social Anual.
• Seguindo os princípios contábeis e as
normas brasileiras de contabilidade.
• Informações Contábeis, plano gerencial
aos administradores.
• Junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social, Governo do Distrito Federal, Ministério da Justiça e outros.
• Muito, pois as informações contábeis
tributárias são fundamentais nas tomadas de decisões.
• Acredito tratar-se de necessidade constante de auxilio contábil.
• Realizando a contabilidade entre outros.
6.3 Discussão das suposições com
os resultados da pesquisa
Relacionando os resultados da pesquisa
com as suposições levantadas neste artigo, verifica-se a clara evidência de suas confirmações
parciais como segue:
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Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
Suposição 1: As necessidades das empresas do Terceiro Setor não estão sendo atendidas com a prestação dos serviços profissionais
contábeis. 40% das empresas que responderam
à pesquisa afirmaram que não estão satisfeitas
com os serviços prestados pelos contabilistas,
ora por incapacidade técnica, ora por conhecimento inadequado. Outras empresas preferem
desenvolver seus próprios relatórios sem o auxílio do profissional contábil.
Suposição 2: A maioria dos contabilistas entrevistados desconhece a real função e objetivos das
empresas do Terceiro Setor, pois 94,4% dos profissionais contábeis entrevistados associam o conceito das empresas de Terceiro Setor às “Empresas
de caráter social e sem fins lucrativos” e “Empresas
não governamentais”. Outros 2,5% dos entrevistados responderam que empresas do Terceiro Setor
estariam ligadas diretamente ao governo, o que não
está correto. Quando pedimos para listarem exemplo de empresas do Terceiro Setor, 32,5% não responderam à questão, e dos que responderam, poucos lembraram mais de dois exemplos.
Outro aspecto a corroborar com essa
analise é citado por França (2003) quando
relata que as demonstrações contábeis para as
Entidades de Interesse Social devem fornecer
informações de forma regular e tempestiva,
possibilitar o acesso do usuário as informações
objetivadas, e com esta pesquisa de campo podemos observar que tais entidades não estão recebendo o devido apoio contábil, pois além de
terem que elaborarem seus próprios relatórios
ainda se deparam com a falta de conhecimento
da legislação por parte dos contabilistas.
Também deve ser citado que mesmo que
os profissionais contábeis sigam a determinação do Conselho Nacional de Assistência Social
que determina que “as demonstrações contábeis das entidades devem observar estritamente
as resoluções expedidas pelo Conselho Federal
de Contabilidade, especialmente os Princípios
Fundamentais de Contabilidade (PFC) e as
Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC),
tais Entidades alegam que os contabilistas não
apresentam a prestação de contas e/ou planejamento orçamentário de maneira satisfatória”.
7 Considerações Finais
Com base nas fundamentações expostas e
os resultados obtidos na pesquisa, conclui-se o
trabalho respondendo à indagação formulada no
início: as necessidades de informações do Terceiro Setor estão sendo atendidas pelos serviços
prestados pelos profissionais de contabilidade?
A contribuição dos profissionais contábeis ainda está deixando a desejar no quesito
serviços prestados as empresas do Terceiro Setor, embora a maioria dos profissionais contábeis tenha consciência que é por falta de conhecimento e/ou interesse.
Os Contabilistas devem procurar outras
formas de atuar para atender as necessidades das
empresas do Terceiro Setor, em especial no fornecimento de subsídios para a tomada de decisão.
Os Profissionais contábeis não estão preparados para fornecer subsídios para a tomada
de decisão nas empresas do Terceiro Setor. Os
Contabilistas afirmam que as empresas do Terceiro Setor não precisam de Contabilidade.
O segmento de Empresas do Terceiro
Setor é ampliado a cada ano. Em decorrência
disso, este segmento de mercado abre oportunidades para que os profissionais especialistas assumam seus postos de forma eficiente e eficaz.
As empresas do Terceiro Setor associam
a contabilidade à parte fiscal, contudo esperam
que a contabilidade forneça mais conhecimento.
Como limitação da pesquisa, há de ser considerado que os resultados deste estudo são válidos
para o Distrito Federal, propiciando o levantamento de novas suposições que possam ser confirmadas em estudos posteriores em uma abrangência e com uma amostra mais significativa.
Ressaltamos ainda a contribuição desta
pesquisa na proposição de gerar insumos para
o desenvolvimento de atividades relacionadas à
formação dos profissionais contábeis e atuação
dos mesmos nas empresas do Terceiro Setor.
Outra contribuição está relacionada à quantidade de empresas que não foram localizadas nos
endereços obtidos, o que permite inferir se realmente essas empresas existem, ou há problemas com a atualização dos dados no cadastro do
Ministério da Justiça.
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
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Idalberto José das Neves Júnior / Aline Lins
APÊNDICE A - Questionário aplicado às empresas
01 – Área de atuação:
( ) Fundações
( ) Associações
( )
02 – Tempo de existência:
( ) menos de 10 anos
( ) entre 11 e 20
( ) mais de 21 anos
03 – Quantidade de empregados:
( ) menos de 5
( ) entre 6 e 15
( ) mais de 16
04 – Principal fonte de recursos da empresa:
( ) doações
( ) consignações
( )
05 – Principais aplicações dos recursos arrecadados:
( ) projetos de interesse social
( ) projetos de melhoria da classe
( )
06- Avalia o desempenho da empresa através de
indicadores dos projetos desenvolvidos?
( ) sim
( ) não
10 – Quais dos serviços prestados pelo contabilista mais te lembra a Contabilidade:
( ) Pagamentos de impostos
( ) Abertura e fechamento de empresa
( ) Imposto de Renda
( ) Relatórios de análise do desempenho
( ) Análise do fluxo de caixa das empresas
( ) Elaboração de projetos de investimento
11- Cite 3 necessidades de informações que as
empresas do Terceiro Setor necessitariam para
gerir os seus negócios (no âmbito financeiro):
12- O contador poderia disponibilizá-las?
( ) Sim
( ) Não
12.1- Se não, por quê?
( )Incapacidade técnica
( ) Não foi possível observar nele este
conhecimento
( )Existem outros profissionais mais
adequados. Quais:
( )
13- Sobre os fundos de Reservas
( ) São Sugeridas
( ) Estatutárias
07- Se sim, cite 03 indicadores utilizados:
14- Sobre a criação do plano de contas:
( ) Padronizada
( ) Personalizada
08- Se não, como avalia o desempenho?
15- O que esta ONG espera de seu Contabilista?
09- A sua empresa tem escrituração contábil?
( ) sim
( ) não, por quê?
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A Contribuição do Contador para a Gestão das Empresas do Terceiro Setor – Uma Pesquisa de Campo no Distrito Federal
APÊNDICE B - Questionário aplicado aos contabilistas
Dados do Entrevistado
01 – Formação profissional:
( ) Técnico em Contabilidade
( ) Ciências Contábeis
( ) Outros
02 – Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
03 – Idade:
( ) Menor que 30 anos
( ) entre 31 e 45 anos
( ) Acima de 46 anos
04 – Tempo de exercício da profissão:
( ) Menos que 5 anos
( ) entre 6 e 15 anos
( ) mais de 16 anos
05 – Quantidade de empresas que presta seus
serviços de contabilidade: (Colocar porcentagem).
( ) Comercial
( ) Serviços
( ) ONG’s
Sobre o Terceiro Setor
06- Sabe o que significa uma empresa do Terceiro Setor:
( )Referem-se ao setor terciário da
economia – Industrial
( )Empresas Não Governamentais
( )Empresas de caráter social e sem fins
lucrativos
( )Empresas voltadas para atender o
Governo Federal
( )
07- Cite 3 empresas de Terceiro Setor que você
conheça:
08- Como os serviços dos contabilistas podem
ajudar a abertura de uma ONG?
09- Estas empresas necessitam de escrituração
contábil?
( ) Sim
( ) Não
Apenas se prestar serviços a ONG’s
10- Quais relatórios poderiam ser fornecidos
para ajudá-las na gestão dos seus negócios?
( )BP, DRE e Fluxo de Caixa.
( )Análise de indicadores: liquidez,
endividamento e rentabilidade.
( )Relatório de indicadores sociais.
( )Análise das fontes de recursos
e sua aplicação.
( )
11- Sobre a criação do plano de contas:
( ) Padronizada
( ) Personalizada
12- Sobre a criação dos Centros de Custos:
( ) Padronizada
( ) Personalizada
13- O quanto o profissional da área contábil
pode auxiliar as empresas do Terceiro Setor?
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Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker
Área Temática: Marketing
Contribuição para a Interpretação do Consumo
em Restaurantes sob a Perspectiva Sociológica
Nilma Morcef de Paula
Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas -EAESP/FGV. Professora do curso de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi
[[email protected]]
Ada de Freitas Maneti Dencker
Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de
São Paulo -ECA/USP
Professora do curso de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi
[[email protected]]
Endereço dos autores: Universidade Anhembi Morumbi
Rua: Casa do Ator, 294, 7º andar, Vila Olímpia, São Paulo- SP Cep.: 04546-000
Recebido em 04 de Janeiro de 2007 / Aprovado em 12 de Março de 2007
Resumo
As refeições realizadas em restaurantes assumem
crescente importância em função das mudanças
ocorridas no estilo de vida das pessoas. Essa pesquisa compara resultados encontrados por investigação realizada com um grupo de estudantes de
graduação no Reino Unido com outra realizada
com estudantes de pós-graduação no Brasil, ambas referentes à identificação dos aspectos mais
marcantes de uma refeição inesquecível. Aplicando metodologia qualitativa, pretende ser um primeiro passo na definição de categorias que possam
ser usadas em estudos mais amplos direcionados
à gestão de restaurantes, considerando, de forma
preliminar, as dimensões estudadas por Lashley,
Morrinson e Randall (2004), a saber: ocasião,
companhia, atmosfera, comida, serviço e ambiente, acrescidas das dimensões tempo e fato de destaque no evento. O estudo revelou a importância da
atmosfera e do ambiente na construção simbólica
da avaliação do consumo em restaurantes que, em
alguns casos, podem superar a importância atribuída ao próprio alimento.
Palavras-chave:
Comportamento do consumidor. Restaurante.
Sociologia da alimentação.
Abstract
Meals consumed in restaurants assume an
increasingly important role due to lifestyle
changes. This research compares the results
from a study carried out with a group of undergraduate students from a university in The United
Kingdom with results from another study with
post-graduate students in Brazil, both of which
refer to the identification of the most marking
aspects of an unforgettable meal.The application
of qualitative methodology intends to be the
first step towards defining the categories that
may be used in wider-ranging studies, directed
towards restaurant management, considering,
in a preliminary way, the criteria studied by
Lashley, Morrinson and Randall (2004):
occasion, company, atmosphere, food, service
and environment, added to the factors of time
and the outstanding fact of the event. The study
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Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes sob a Perspectiva Sociológica
revealed the importance of atmosphere and
environment in the symbolic construction of an
evaluation in eating habits in restaurants where,
in some cases, may surpass the importance
attributed to the food.
Key-words:
Consumer behavior. Restaurant. Sociology of
food.
1 Introdução
O termo restaurante, tradicionalmente
conhecido como local onde são servidas refeições mediante solicitação e pagamento, teve sua
origem na França, no século XVIII, a partir de
uma denominação dada não a um local, mas sim
a um caldo de carne concentrado denominado
restaurant, que tinha por finalidade restaurar as forças de pessoas doentes ou debilitadas.
(SPANG, 2003).
Hoje, mais do que um local provedor de
alimentação, constitui-se em um espaço social
onde são representados os estilos de vida contemporânea acompanhados de inúmeros significados sociais, culturais e simbólicos (FINKELSTEIN, 2005). É também considerado um lugar
antropológico, pois reforça a ligação positiva do
indivíduo a um lugar, provido de identidade e
memória (BAPTISTA, 2002).
Há, na mídia, um interesse crescente
em abordar assuntos que tratem das questões
relacionadas à alimentação, gastronomia e restaurantes. As abordagens transitam pelos seus
aspectos qualitativos (apresentação, qualidade
nutricional, modismos, novos chefes, inovações
e outros) e quantitativos, como por exemplo:
crescimento do setor do mercado de refeições
fora do lar, crescimento do consumo, contribuição do setor para a economia do país e geração de empregos.
São inúmeras as publicações comerciais,
científicas e de entretenimento que focam direta ou indiretamente o assunto, assim como são
apresentadas as inúmeras possibilidades de inserção do tema nas mais variadas áreas: entretenimento, cinema, turismo, eventos, economia,
gestão de pessoas, benefícios e outros.
Toda essa demanda gera a necessidade de
se entender o comportamento do consumidor
em restaurantes, não apenas sob os conceitos da
estratégia de marketing que considera o maior
ou menor envolvimento do consumidor na decisão de compra do produto ou serviço, mas a
partir de uma contextualização sociocultural,
ou seja, identificar não o fator desencadeante
do processo de compra - que pode ser ter sido
acertado ou não -, mas sim identificar, a partir da experiência vivida, os fatores que podem
ter contribuído, inesperadamente, sob a ótica
do consumidor, para a construção de uma experiência inesquecível, que é a proposta deste
trabalho.
2 Abordagem sociológica na
gestão de restaurantes
O método qualitativo de pesquisa pode
desempenhar um importante papel para o desenvolvimento do conhecimento e da prática de
gestão de restaurantes. Sua aplicação possibilita
ir além da investigação do que se consome, entrando no campo dos significados para compreender o que leva ao consumo, ou seja, “como
o consumo se conecta a outras esferas da vida
social” (BARBOSA, 2003, p. 43).
É verdade que o uso de técnicas qualitativas de pesquisa suscita o debate no que se refere
à possível dicotomia entre a pesquisa qualitativa
e pesquisa quantitativa, comumente referenciadas no meio acadêmico devido ao rigor metodológico que as caracteriza. Não se pode deixar
de ressaltar, entretanto, que a qualificação é um
procedimento que antecede a quantificação na
medida em que define, de forma clara, o objeto
e quais as categorias, ou elementos significantes,
que serão submetidos ao processo de quantificação, caso o mesmo se faça necessário.
A combinação de diferentes métodos é
reconhecida como elemento contributivo para a
compreensão das inúmeras variáveis que afetam
o ambiente organizacional, enquanto espaço
onde se desenvolvem as relações sociais (DEMO,
1996; TEIXEIRA; PACHECO, 2005; VIEIRA,
2004). Há autores que defendem a utilização
de elementos subjetivos, como a lógica e a ar43
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Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker
gumentação, para maior compreensão do fenômeno de “consumo e do comportamento do
consumidor em um mundo cada dia mais complexo e inter-relacionado” (BARBOSA, 2003,
p.39-40). Outros reconhecem a necessidade da
conscientização simultânea dos elementos subjetivos e objetivos. “Só assim teremos competências e habilidades interpretativas dos fenômenos sociais, compreendendo o sentido que
as pessoas dão aos seus gestos, às suas ações e aos
seus sentimentos” (TEIXEIRA; PACHECO,
2005, p. 66).
Na linha dos estudos desenvolvidos por
Lashley, Morrinson e Randall (2005)1 , essa
investigação pretende estudar os fatores que
tornam a refeição, realizada em um ambiente
comercial, uma ocasião especial e inesquecível. Procura identificar aspectos relacionados
com as emoções e as dinâmicas sociais inerentes, tendo como objeto de estudo um grupo de
alunos de um programa de mestrado de uma
instituição superior privada da cidade de São
Paulo.
A compreensão das outras dimensões,
nesse caso socioantropológicas, que afetam o
comportamento do consumidor, poderá revelar
aspectos a serem trabalhados estrategicamente
pelos gestores de restaurantes comerciais.
Como este estudo se refere à comensalidade, um dos elementos constitutivos da hospitalidade, entende-se que o grupo escolhido
como objeto da presente investigação, em decorrência dos estudos que desenvolvem a questão da hospitalidade, provavelmente possui uma
percepção mais aguçada capaz de descrever, de
forma detalhada, as questões que permeiam a
pesquisa.
No estudo que inspirou esta pesquisa, os
autores, tomando a idéia de uma refeição inesquecível, analisaram as seguintes dimensões:
natureza do evento em que a refeição está inserida, companhias com quem compartilharam a
refeição, características que contribuíram para
a atmosfera, alimento consumido, ambiente
em geral e atendimento, relacionando-as com
as emoções envolvidas e efetuando uma análise
semiótica.
Embora aqui não se tenha por objetivo
a análise semiótica, a idéia é, em um primeiro
momento, tentar reproduzir a metodologia do
estudo citado, preservando elementos básicos
da técnica adotada para coleta de dados, mas
adaptando a sua análise e discussão ao universo de formação das pesquisadoras, com maior
afinidade com as áreas de sociologia e administração. Tomando como exemplo a pesquisa realizada por Lashley, Morrinson e Randall
(2005) junto a um grupo de alunos de graduação em hotelaria, este também pretende
ser um estudo piloto, de caráter exploratório,
para definição de categorias, porém, realizado
com 11 estudantes de um curso de pós-graduação em hospitalidade, na cidade de São Paulo
- Brasil, que recebe alunos oriundos principalmente da região Sudeste do país. A maioria
desses alunos atua como docente em cursos de
nível superior das áreas de turismo, hotelaria
e nutrição, concentrando-se na faixa etária
entre 25 e 59 anos. Dessa formação, podem
decorrer interferências que comprometam a
representatividade em relação ao conjunto da
população, mas, por outro lado, é possível que
os resultados possam ser mais contributivos em
termos de descrição detalhada de situações e
identificação de variáveis.
3 Metodologia
Metodologicamente, o estudo se iniciou
pela adoção preliminar das dimensões estudadas
por Lashley, Morrinson e Randall (2005): ocasião, companhia, atmosfera, comida, serviço e
ambiente, acrescido das dimensões de interesse
específico dos pesquisadores: tempo ocorrido
entre o evento e a aplicação da pesquisa e fato de
destaque no evento. .
Com base nos resultados apresentados
por esses pesquisadores, foi formulado um instrumento de coleta de dados procurando reconstruir os procedimentos e verificar a possibilidade de utilização por meio de um teste
reduzido, realizado com um grupo de 11 alunos.
Foi solicitada a cada membro do grupo uma redação de até 500 palavras, sobre uma refeição
inesquecível, devendo o texto estar estruturado
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Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes sob a Perspectiva Sociológica
de modo a compor uma descrição orientada pelas seguintes questões:
a) qual era a ocasião (casamento, aniversário, etc).
b)você estava sozinho ou havia alguém com
você? Quem?
c) qual era a atmosfera do local? Formal,
informal, descontraída, enfim, quais as
características que contribuíram para
que você se sentisse bem recebido.
d)quais comidas e bebidas foram servidas?
e) qual o tipo de restaurante e de serviço?
(atendimento)
f) qual o ambiente em geral? (Cenário)
g) faz quanto tempo que você participou da
experiência?
h)qual o aspecto mais importante/marcante desse evento?
A variável ocasião permite a identificação tanto do tipo de evento quanto da identificação/exclusão em relação a determinados
grupos de indivíduos, uma vez que determina
o tipo de participante de uma festa de família,
entre amigos, celebrações etc. O ato de comer
não se restringe à questão do alimentar em si,
mas representa importantes funções simbólicas
e sociais, já que a comensalidade permeia todas
as relações sociais e possui dimensões culturais
(DANIEL; CRAVO, 1989). Assim, o motivo
(trabalho, lazer etc) que levou o indivíduo a escolher um determinado estabelecimento é um
elemento significativo na definição do local.
A variável companhia permite identificar, além da natureza do encontro, tipos de
comportamentos referentes ao hábito da refeição: só, acompanhado de pequenos ou grandes
grupos etc. Entende-se que a composição do
grupo reforça a importância da refeição como
um espaço social de desenvolvimento da sociabilidade.
A variável atmosfera deriva tanto do lugar em si quanto do tipo de comportamento
que se tende a desenvolver em determinados
ambientes. Segundo Walker (1999, p. 201), a
atmosfera criada pelo restaurante afeta o modo
como o cliente reage de imediato ao entrar no
restaurante ou na sua escolha. Esse pode ser um
processo consciente ou subconsciente causador
de impacto sensorial no cliente: consciente (é
barulhento? as mesas são muito próximas umas
das outras?) e de modo subconsciente (clima,
iluminação, móveis, música ambiente).
A variável comida pretende identificar
tanto o tipo de culinária (local, regional, internacional) quanto o nível de sofisticação, simplicidade ou requinte das preparações, podendo
expressar, ainda, questões referentes aos sentimentos, tais como: comida caseira, exótica etc.
A variável ambiente procurou identificar espaços comerciais que refletissem características próprias ou não do ambiente doméstico
na busca de uma distinção entre a percepção da
hospitalidade doméstica em relação à hospitalidade comercial. “A indústria de serviços de
alimentação entende por ambiente o impacto
emocional ou estético do estabelecimento nos
seus clientes, a partir de inúmeros elementos:
móveis, luz, som, decoração, temas, aparência e atitude dos funcionários” 2. (DITTMER,
2002, p. 119)
A variável atendimento procurou identificar quais as representações sociais importantes
que são percebidas em refeições realizadas em um
ambiente comercial como, por exemplo, distribuição de funções por gênero que tende a ser diferente em relação à ambientação doméstica.
A essas variáveis do estudo, que inspirou
a pesquisa e trabalhou sob uma moldura analítica composta por seis dimensões, agregou-se a
indagação do tempo da experiência, uma vez que
o distanciamento pode levar a uma visão idealizada de determinadas situações, sendo ainda
solicitada a indicação dos elementos percebidos
como mais importantes ou marcantes do evento
recordado na narrativa, visando identificar na
experiência realizada como um todo qual o detalhe que chamou a atenção ou qual o detalhe
que contribuiu para essa percepção. Com esse
procedimento, foram incorporadas duas novas
dimensões: tempo e elemento marcante, totalizando 8 dimensões.
A pesquisa realizada com o grupo de
11 alunos teve por objetivo principal verificar
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Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker
a possibilidade de aplicação dessas variáveis ao
contexto vivido pelos alunos do curso de pósgraduação, uma vez que tanto os indivíduos
quanto o ambiente em que foi realizado o estudo são totalmente distintos do grupo analisado
pela pesquisa original elaborado por Lashley ,
Morrinson e Randall (2005).
comuns que, partilhadas, constituem a memória social do grupo e a base da solidariedade entre seus membros. A refeição é uma forma de
celebração da amizade.
Para exemplificar o procedimento metodológico utilizado, segue abaixo o quadro
analítico elaborado sobre a variável ocasião:
4 Descrição dos resultados
Em relação à composição do grupo, a
idade dos respondentes era de 25 a 59 anos,
sendo 5 homens e 6 mulheres. Essa diferença
de gênero não foi considerada na pesquisa, optando-se por efetuar a transcrição dos aspectos
relevantes fundamentais, categoria por categoria de análise, independentemente de separação
por faixa etária ou sexo, embora, nas observações
interpretativas, sejam feitas referências pontuais
às características dos entrevistados.
Com relação à ocasião identificada para a
refeição, é importante ressaltar o papel mediador
que a ritualidade do ato de comer exerce sobre as
relações entre os indivíduos. Assim, nos encontros
por motivo de trabalho percebe-se a ação mediadora da refeição nos conflitos latentes entre os diferentes status e papéis dos indivíduos que, ao se
reunirem em torno da mesa comum, criam uma
atmosfera que permite diluir as tensões e propiciar
reconhecimento que, muitas vezes, não acontece
no próprio ambiente de trabalho. Rompem-se
relações de poder, ainda que momentaneamente,
permitindo que se estabeleçam outras formas de
comunicação e de interação entre as pessoas. A refeição propicia a recompensa e o reconhecimento
entre os indivíduos nutrindo, literalmente, o corpo e a alma e criando uma harmonia que permite
equilibrar as relações sociais.
Nos encontros românticos observa-se a
realização do ritual da sedução no qual os sabores, gostos, cores e odores mesclam-se com ambientes propícios ao estabelecimento dos laços
entre os parceiros.
A comunhão com os amigos reforça os
laços básicos de sociabilidade permitindo a formação de redes de interação estruturadas a partir da partilha do alimento, da companhia, do
ambiente, estabelecendo vivências e lembranças
Quadro 1 – Refeições de ocasiões mais festivas
Ocasião
f
Simbolismo associado
trabalho
4
Reconhecimento/mediação/
união dos contrários
romântico
4
Ritual de sedução
aniversário
2
Rito de passagem/celebração
encontro
com amigos
1
Sociabilidade básica
Total
11
A média de idade dos participantes (39
anos) pode explicar o porquê da ocasião “trabalho” ter sido o evento predominante ao lado
da ocasião romântica. Supõe-se que essa faixa
etária concentre pessoas já estabelecidas profissionalmente, mas não “estáveis”, uma vez que a
dinâmica dos contratos de trabalho e da própria
situação de mercado não garanta, como acontecia anteriormente, a estabilidade no emprego.
Esse resultado difere daquele encontrado na pesquisa - referência, em que os entrevistados apresentavam-se na faixa etária de 17 a
25 anos e referenciaram as categorias trabalho e
encontro romântico nos dois últimos lugares.
Entende-se que, na idade média de 21 anos, os
objetivos estejam direcionados aos aspectos sociais, de ritos de passagem e de fortalecimento
dos laços com a família (reaproximação) e com
os amigos (consolidação).
No evento trabalho, as refeições e ambientes foram descritos com características próximas do ambiente doméstico, de conforto,
favorecendo a aproximação entre eles: simples,
alegres e simpáticos. Já nos encontros românticos, as refeições foram descritas como sendo
diferentes da usual, ou seja, o fator surpresa,
novo e fora da rotina, contribuiu para que ela
se tornasse inesquecível.
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Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes sob a Perspectiva Sociológica
Um resumo geral de todas as respostas
obtidas encontra-se no Quadro 2, no final do
texto.
4.1 Companhia
Com relação ao número de participantes,
a exemplo do que ocorreu na pesquisa-referência, nenhum entrevistado relatou uma refeição
em que estivesse sozinho. Do total de 6 eventos
em que estiveram presentes apenas 2 participantes, em 5 deles, foram descritas situações de
encontros amorosos, dado que também difere
daquele encontrado na pesquisa–referência.
Pode-se inferir que os jovens encontram nos
grupos uma forma de “zona de conforto” que
permite que sejam mais autênticos, satisfazendo
uma necessidade emocional. Já nesta pesquisa,
os entrevistados, com faixa etária variando entre
25 e 59 anos, parecem valorizar as ocasiões em
que são atendidas suas necessidades de auto-estima e status.
Com relação ao perfil dos participantes
citados na variável companhia, pode-se perceber que os laços familiares e afetivos são importantes como elementos norteadores das relações
interpessoais.
Outro indício é o de que o estilo de vida
contemporâneo leva as pessoas a realizarem suas
refeições fora de casa, compartilhando o momento com pessoas do seu núcleo de trabalho ou mesmo sozinhas. Dessa forma, quando do encontro
com familiares, a refeição passa a ter um significado maior “Conforme sugeriu Giddens (1990)
apud Lashley , Morrinson e Randall (2005), ela
se torna valorizada como objeto, usada como meio
de reinserção e de vínculo com um mundo social
cada vez mais fragmentado e frágil”
4.2 Atmosfera
Para esse item considerou-se a descrição
feita pelos respondentes sobre as características
do ambiente. Poucas mesas, decoração clean e
velas acesas normalmente vinham acompanhadas do termo informal. A atmosfera classificada
por formal caracterizou-se por rituais específicos, quer seja no serviço, na decoração ou no
cardápio.
4.3 Comida
Todas as refeições relatadas apresentaram-se, de alguma forma, estruturada. Dentre
os 11 respondentes, 9 citaram também a bebida
que acompanhava a refeição.
A bebida mais citada foi o vinho, reforçando a idéia generalizada de que essa é uma
bebida para comemorações. Também foram
citadas as bebidas que harmonizavam com os
pratos servidos, como saquê (2), refrigerante
(1) e água (1). O único participante que relatou
ter experimentado uma refeição inesquecível
cuja culinária era brasileira parece remetê-la
à hospitalidade doméstica, uma vez que afirma como fato marcante do evento o desejo,
naquele momento, de que a família estivesse
presente, compartilhando o evento. Nenhum
fez menção ao custo da refeição, mas fizeram
questão de ressaltar detalhes que tornavam a
composição do cardápio sofisticada, o que corrobora a tese apresentada por Bourdieu (1984)
de que é mais importante a exibição do capital
cultural do que do econômico para demonstração de bom gosto.
As cozinhas italianas, francesas e japonesas foram as mais citadas. A primeira,
italiana, predominou nos eventos familiares,
sociais e amorosos remetendo ao imaginário
da sociedade italiana, onde há informalidade
e grupos de pessoas (felizes) à mesa. A cozinha
francesa relatada foi experimentada no país
de origem e apreciada por seu caráter formal,
acompanhado de atendimento acolhedor, espontâneo e “surpreendente”. Cabe ressaltar
que é uma cozinha que desperta o imaginário
da ascensão social de quem a consome e que,
talvez por esse motivo, o espaço social em que
é desenvolvida tenha um peso maior na sua
avaliação.
A predominância da cozinha estrangeira
nos eventos considerados inesquecíveis ratifica
o crescente interesse das pessoas pela descoberta
de novos sabores, produtos e serviços influenciados, provavelmente, pela globalização das informações, maior oferta de serviços, pela persuasão da mídia e pela idéia de que tudo o que é
de fora é melhor.
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4.4 Ambiente
Foram ressaltados aspectos do ambiente que contribuíram para a experiência de uma
refeição inesquecível, reforçando a idéia de teatralização que ocorre no espaço social alimentar. O primeiro aspecto diz respeito à decoração
e aos adornos do espaço (velas, flores, móveis),
que criam um clima para que os atores (clientes)
pudessem desempenhar seus papéis.
Nota-se que os participantes que ressaltaram a decoração estavam reunidos sob um
contexto social familiar, amoroso ou amigável.
O segundo aspecto diz respeito à autenticidade, que está relacionada à simplicidade e à
rusticidade, denotando uma relação pessoal para o
termo, ou seja, se o ambiente é autêntico, “parecese comigo, não preciso representar, sinto-me em
casa”. Talvez essa seja uma característica importante no estudo do comportamento do consumidor
brasileiro: o de transição de um hábito alimentar
já consolidado para um outro decorrente do acesso
aos rituais impostos por outras culinárias, muitas
vezes exóticas e inibidoras por seu caráter de sofisticação, como no caso dos vinhos, da culinária
japonesa e da asiática, dentre inúmeras outras.
4.5 Atendimento
As respostas referentes ao atendimento
permitem ressaltar a importância da administração dos recursos humanos para o sucesso do restaurante, uma vez que parece indicar que existe
alguma coisa que transcende o treinamento recebido pelos funcionários e vai além do controlável.
Percebe-se que a ênfase maior foi dada às formas
de atendimento que superaram as expectativas do
cliente (5 menções) às quais qual podemos agregar a menção ao fato de o atendimento ter sido
feito pessoalmente pelo proprietário. Isso indica que o diferencial na qualidade da prestação
de serviços pode ser a hospitalidade implícita no
fato de o serviço prestado estar além do esperado, ultrapassando o valor econômico da refeição
e agregando um valor simbólico.
4.6 Tempo ocorrido
A experiência, quando significativa, parece não ter relação com o distanciamento no
tempo vivenciado. Essa informação pode ser
útil aos administradores no sentido de chamar
a atenção para o fato de que, havendo a possibilidade da experiência ser positiva ou negativa, a
retenção de sua avaliação permanece por muito
tempo na mente do experimentador, logo, interferindo na fidelização ou não do cliente.
4.7 Fato marcante do evento
Com relação ao questionamento do que
marcou mais, percebe-se que há uma diversidade de fatores mencionados nos quais se notam
que existe pouca ênfase no alimento e em seu
sabor. Isso indica que, aparentemente, a comida, o alimento em si, não parece constituir um
elemento fundamental da experiência vivida.
Fatores como a gentileza do anfitrião, a paisagem, a saudade da família ou mesmo a sensação
de sentir-se em casa parecem ter mais importância na definição de uma situação inesquecível
do que o alimento em si.
5 Considerações finais
O estudo sugere que os ambientes comerciais devam considerar como atributo de
qualidade a geração de um ambiente que possibilite as trocas afetivas que marcam a sociedade
contemporânea por meio da incorporação de
elementos próprios da hospitalidade doméstica,
como o bem receber. A replicação da pesquisa,
dentro das limitações decorrentes do pequeno
número de relatos, permitiu perceber que existem pontos comuns referentes ao comportamento dos consumidores de restaurantes tanto
no Brasil quanto no Reino Unido, sendo fortemente influenciado pelas condições da atmosfera e do ambiente. Não menos importantes são
as relações afetivas e as representações sociais
associadas ao ato de comer na definição da importância do evento e de sua lembrança, uma
vez que a identificação dos elementos marcantes
e memoráveis de refeições experimentadas em
diferentes ocasiões e tempos aponta para a possibilidade de esses elementos constituírem-se
em elementos explicativos das escolhas inconscientes, por associação, do consumidor em restaurantes.
48
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.42-50, jan./abr. 2007
Contribuição para a Interpretação do Consumo em Restaurantes sob a Perspectiva Sociológica
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Notas
1 Os resultados da pesquisa se encontram publicados em: SLOAN, Donald (org.). Gastronomia, restaurantes e comportamento do
consumidor. Barueri, São Paulo: Manole,
2005.p.191-214.
2Tradução livre das autoras
LASHLEY, C.; MORRISON, A.; RANDALL,
S. Minha refeição inesquecível! A hospitalidade
como experiência emocional. In: SLOAN, D.
(Org.) Gastronomia, restaurante e comportamento do consumidor. Barueri; São Paulo:
Manole, 2005.
49
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.42-50, jan./abr. 2007
Nilma Morcef de Paula / Ada de Freitas Maneti Dencker
QUADRO 2: Síntese dos resultados obtidos com a pesquisa junto aos alunos de pós-graduação
I/S
OCASIÃO
COMPANHIA
1M 48
Reunião
profissional
Consultor
e dono de
restaurante
2M 38
Encerramento
de trabalho
Grupo de
turistas
3M 28 Encontro a dois
4F 59
Comemoração
de aniversário.
Namorada
Filho
Dono do
Jantar de
restaurante e
confraternização
alunos
Marido-o casal
Jantar a dois
se separou do
6F 53 em viagem de
grupo e jantou
negócios.Paris
só.
5M 58
Fam – Tour
- jantar de boas
7F 33
vindas para
jornalistas.1996
Jantar com
8M 36
amigos.
ATMOSFERA
Agradável,
informal
descontraída.
Simples, genuína
descontraída
natural.
Descontraído
aconchegante,
música envolvente.
Luz de vela
COMIDA
Massas e vinho
Arroz, feijão
peixe, água,
refrigerante.
Pratos quentes
preparados pelos
clientes.
Sushi e sashimi,
Grande, limpo,
saque importado. grande balcão.
Formal mas
descontraída
Banquete chinês
Formal/
Sofisticado,
Pato com laranja, Discreto, suave,
purê de maçã e
elegante.Estilo
champanhe.
Francês
Saladas, frutos
do mar, lagostas
Formal/ estilizado, gigantes,
descontraído,
esculturas
Colegas da
música ao vivo, ao carameladas com
imprensa e
ar-livre, frente ao sorvetes tropicais.
diretoria do
mar, beira piscina, Coquetel
hotel
iluminação
de frutas no
tropical,
abacaxi., coquetel
alcoólico no coco
e champanhe.
Descontraído,
decoração
moderna. Com
6 amigos e + um
artesanato de
Pizzas de diversos
que à tempo
artistas locais,
sabores e sangrias
não viam.
permitiu exagero
na bebida e mais
liberdade.
Sabor e leveza
dos pratos
Sem menção
NR
Desejava estar
com a família
Atendente fritava
garçom limpava
4 ANOS
Modo de
preparar
a comida,
decoração
1 ano
Comida, estar
sozinha com o
filho.
NR
A francesa com
garçons de camisa
florida, sorridentes 9 anos
e atenciosos.
Espontaneidade.
Ambiente
acolhedor
“À la carte”,
sentiu-se
atencioso e cortês. -1 ano
à vontade.
Bom atendimento.
Relembrar velhos
tempos.
Gentileza do
anfitrião,
oportunidade.
Atmosfera do
local e paisagem
avistada pela
janela.
A sobremesa
esculpida e
iluminada +
uma seleção de
minipastisseries
e chocolates
esculpidos com
a paisagem da
ilha.
Reencontrar
amigos que não
via em um lugar
em que se sente a
vontade.
O dono do
restaurante estava
sempre na cozinha 5 anos
e levando alguns
pratos para a mesa.
Massas e molhos
“brusquetas” com Descontraído e
torras de patês.
aconchegante.
Vinho e água.
Com qualidade,
Cuidado da
proprietária e dos
funcionários em
ser hospitaleiro e
carinhoso para o
momento.
5 anos
A ocasião em si,
o fato de apesar
de estar em um
restaurante e se
sentir em casa,
Barcas com
comidas
japonesas,
entradas e bebida
caipirinha de
saquê com frutas.
Banana flambada
com sorvete de
creme e calda de
frutas.
Garçonetes com
trajes típicos
japoneses.
Profissionalismo
no atendimento.
- 1 ano
Tudo foi
marcante.
Namorado
apaixonado
Jantar de
aniversário de
Família e
20 anos, em uma
10F 25
amigos. E
reservada de um
namorado.
bistrô da amiga
da mãe.
Ambiente
decorado com
velas, arranjos
em verde, objetos
rústicos, simples e
bem feito.
Descontraído,
tatame, sem
sapato, almofadas,
chinelos, a sala era
VIP.
O namorado
NR
Acolhedores foram
aceitos sem ter
18 anos
reserva.
Ambiente de
confraternização.
Amigável, com
manifestações
dos anfitriões,
remetendo à
natureza.
MARCANTE
Sem menção
Atencioso,
participativo,
risonho, bem
humorado,
competente,
simpático.
Diferenciado/
especial por ser o
mais velho
Diferente do
usual. Inusitado
TEMPO
Vista do mar,
tranqüilidade
do local a
companhia e o
aroma e sabor
inesquecível
e a forma de
servir o peixe
(embrulhado e
inteiro). Nunca
mais comeu
igual.
Vinho e água
spaghetti alle von
gole e peixe ao
forno com limão.
Café curto,
forte, cremoso e
Limoncello.
Jantar surpresa
para comemorar
11F 25
aniversário de 3
anos de namoro
ATENDIMENTO
Exótico, asiático
Simples,
autêntico, limpo.
Local rústico,
decoração simples,
alto da montanha
com vista
maravilhosa para o
mar, na Itália.
Almoço de fim
9F 27
de semana.
AMBIENTE
Inspiração
doméstica do
interior da
França
Rústico
remetendo ao
doméstico
Familiar, com
famílias e casais,
com decoração
simples.
Japonês,
agradável, ar
condicionado,
decoração
típica. Quadros,
flores, jardim de
inverno, cascatas.
1 Os resultados da pesquisa se encontram publicados em : SLOAN, Donald (org.). Gastronomia, restaurantes e comportamento do consumidor.
Barueri, São Paulo: Manole, 2005.p.191-214.
50
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.42-50, jan./abr. 2007
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente nas Interações de Serviços
Área Temática: Marketing
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção
Existente nas Interações de Serviços
Gabriel Sperandio Milan
Mestre e doutorando em Engenharia da Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Professor dos Programas de Graduação e de Pós-Graduação em Administração da Universidade Caxias do Sul - UCS
[[email protected]]
Endereço: Universidade de Caxias do Sul - Rua: Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Caxias do Sul- RS Cep.: 95.070-560
Recebido em 11 de Junho de 2005 / Aprovado em 05 de Fevereiro de 2007
Resumo
Este artigo propõe uma discussão reflexiva por
meio de uma abordagem teórica a respeito da
emoção no contexto dos serviços. Primeiramente,
discute-se a emoção e seu papel na interação existente entre o cliente e o pessoal de linha-de-frente
do provedor de serviços. Na seqüência, aborda-se
o empowerment e a competência do pessoal de linhade-frente na maximização dos efeitos provenientes da emoção e, a partir disso, são inseridas na
discussão a afeição, a confiança e o compromisso
desenvolvidos entre as partes. Finalmente, como
resultado, propõe-se que as empresas de serviço
desenvolvam relacionamentos de longo prazo, entendendo o valor do cliente ao longo do tempo.
Portanto, o objetivo central do artigo é a proposição de uma estrutura teórica que aborde a emoção presente no contexto da prestação de serviços
e, como conseqüência, a identificação de algumas
proposições que possam contribuir para um melhor entendimento sobre o tema, tanto no meio
acadêmico quanto no meio empresarial.
Palavras-chave:
Comportamento do consumidor. Emoção. Interações em serviços. Relacionamentos. Serviços.
Abstract
This article proposes a reflective discussion by
means of a theoretical approach about emotion
in the context of services. Firstly, emotion is
discussed and the role it plays in the interaction
existing between customer and front-line
personnel of the service provider. Subsequently
it treats empowerment and competence of the
front-line personnel in maximizing the effects
originated from emotion, and, from that, liking,
trust and commitment developed between the
parties are also discussed. Finally, it is proposed
that services rendering companies develop longterm relationships, and in doing so understand
in time the value of the customer. Therefore
the central objective of the article is to propose
a framework that treats the emotion existing in
the context of service, and, as a consequence, to
identify a few propositions that may contribute
for a better understanding of the subject,
both in the academic and the entrepreneurial
environment.
Key-words:
Consumer behavior. Emotion. Services interaction. Relationship. Services.
1 Introdução
Com a consolidação do setor de serviços
na economia mundial, tornam-se prementes
estudos que abordem e ampliem o entendimento a respeito da relação entre o cliente e o prestador de serviços. Neste sentido, Heskett et alii
51
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Gabriel Sperandio Milan
(1994) apregoam um novo paradigma de serviços o qual se baseia no investimento nas pessoas,
principalmente pelo fato deste direcionamento
estar diretamente relacionado a uma performance
superior em serviços, à satisfação do cliente e ao
impacto positivo sobre o crescimento e lucratividade das empresas.
Para os consumidores, é mais difícil avaliar a qualidade de serviços do que de produtos,
uma vez que os serviços apresentam uma natureza diferenciadora (GRÖNROOS, 1998), explicada por suas características. Os serviços diferem dos produtos graças a quatro características
básicas: intangibilidade (os serviços não podem
ser tocados), perecibilidade (os serviços não podem ser estocados), simultaneidade (os serviços
são produzidos e consumidos ao mesmo tempo)
e heterogeneidade (potencial de alta variação no
desempenho dos serviços) (BERRY, 1980; ZEITHAML; BERRY; PARASURAMAN, 1996).
Tendo em vista a característica da simultameidade dos serviços, o cliente, ao interagir
com o provedor de serviços, reage mental e fisicamente, avaliando a qualidade dos serviços. É
nesse contexto que os colaboradores de contato
direto com os clientes assumem papel de suma
importância, uma vez que lhes é exigido altos
níveis de trabalho emocional (HOCHSCHILD,
1983). Como as emoções são um conjunto de
reações que podem ser publicamente observáveis (DAMÁSIO, 2000), significa que, na prática, o estado emocional dos clientes pode gerar
pistas a respeito de seus comportamentos. Para
Damásio (2000, p.72),
“Somos tão incapazes de impedir uma
emoção quanto de impedir um espirro. Podemos tentar impedir a expressão de uma emoção,
e podemos ser bem-sucedidos em parte, porém
não inteiramente”.
A emoção, embora timidamente, vem
sendo abordada no contexto dos serviços (PRICE; ARNOULD; DEIBLER, 1995; MATTILA;
WIRTZ, 2000; SMITH; BOLTON, 2002).
Observa-se, portanto, que o objetivo central
deste artigo é propor uma estrutura teórica
que aborde a emoção presente no contexto dos
serviços (vide Figura 1), e a partir dessa estrutura, identificar proposições que possam contribuir para um melhor entendimento sobre o
tema, sensibilizando tanto o meio acadêmico
no desenvolvimento de pesquisas empíricas
atinentes às proposições levantadas, quanto
o meio empresarial a uma prática de serviços
mais efetiva.
Figura 1 - Estrutura teórica para discussão
52
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente nas Interações de Serviços
2 O Papel da Emoção na Interação
Cliente-Prestador de Serviços
Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999) definem a emoção como um estado mental de
prontidão que surge a partir de avaliações cognitivas provenientes de um evento ou do próprio pensamento da pessoa. Enquanto as cognições são estados mentais que normalmente
não são sentidos pelo corpo, as emoções podem
ser vivenciadas em diferentes níveis de alerta ou
excitação corporal, como por exemplo, nervosismo, transpiração e até mesmo aumento nos
batimentos cardíacos de uma pessoa que está
prestes a se submeter a uma cirurgia (PETER;
OLSON, 1994).
Damásio (1996, p. 168) postula que “a
emoção é a combinação de um processo avaliatório mental” no qual emergem respostas, em
sua maioria, dirigidas ao corpo propriamente
dito, resultando em um estado emocional corporal, produzindo alterações mentais adicionais. Portanto, o corpo é o teatro das emoções
(DAMÁSIO, 1996, 2000).
As emoções são
padrões complexos de reação e apresentam uma
natureza estereotipada que inclui emoções primárias ou universais inatas como: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e repugnância; emoções secundárias ou sociais identificadas como:
embaraço, ciúme, culpa e orgulho) e emoções
de fundo: sensação de bem-estar ou mal-estar,
culpa e tensão. Elas fazem parte dos mecanismos
biorreguladores dos seres humanos, visando a
sua sobrevivência (DAMÁSIO, 1996, 2000).
Para Oliver (1997), emoções incluem estados
de excitação e diversas formas de afeto, às quais
pode se dar interpretações singulares.
Consoante a isso, as emoções não podem ser entendidas como um “luxo dispensável”, uma vez que seu propósito biológico está
relacionado às adaptações que compreendem o
mecanismo pelo qual as pessoas regulam a sua
sobrevivência, estando intimamente interligadas
aos sentimentos e à razão superior (DAMÁSIO,
2000), conforme demonstrado na Figura 2.
Figura 2 - Níveis de regulação da vida
Fonte: Adaptada de Damásio (2000, p.79).
53
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Gabriel Sperandio Milan
Por sua vez, os sentimentos são padrões
sensoriais que podem indicar, por exemplo,
dor ou prazer, fazendo com que as emoções se
transformem em imagens (DAMÁSIO, 1996),
que são padrões mentais que se caracterizam
por uma estrutura construída a partir dos sinais
provenientes das modalidades sensoriais: visual,
auditiva, olfativa, gustatória e sômato-sensitiva.
Para Damásio,
As emoções são úteis em si mesmas, mas o
processo do sentimento começa a alertar o organismo
para o problema que a emoção começou a resolver.
O simples processo de sentir começa dar ao organismo o incentivo para prestar atenção aos resultados
da emoção. (2000, p.360)
Dessa forma, as empresas de serviço devem entender que os clientes, antes de serem
consumidores, são pessoas (SCHNEIDER;
BOWEN, 1999) sujeitas às suas humanidades e
que a emoção poderá influenciar no comportamento do consumidor nas interações de serviços e na formação dos julgamentos de satisfação
dos clientes (SMITH; BOLTON, 2002). Além
disso, cada cliente, cada colaborador e cada experiência de serviço são diferentes, fazendo com
que a dinâmica humana inerente a essa relação
seja poderosa, uma vez que a linguagem corporal pode comunicar tanto quanto ou mais do
que as palavras (BERRY, 2001).
Portanto, como as emoções do consumidor podem influenciar em seu processo de
tomada de decisões e no consumo em si (BERRY, 2000; PETER; OLSON, 1994; RUTH;
BRUNEL; OTNES, 2002), é fundamental que
no ambiente de serviços, principalmente pela
característica da simultaneidade, onde há forte
dependência na interação consumidor-prestador de serviços, em menor escala para serviços
altamente automatizados, a emoção inerente a
esta interação torna-se um elemento-chave para
a qualidade percebida do serviço por parte do
consumidor.
Ao entender o aspecto emocional intrínseco à interação existente no contexto dos serviços, pretende-se que as empresas modifiquem o
seu foco, indo de meros encontros de serviços,
que se caracterizam por uma interação única e
isolada entre um cliente em particular e o provedor de serviços, sem que ambas as partes tenham a
expectativa de voltar a interagir no futuro, para a
prática de relacionamentos de serviços, nos quais
cliente e provedor projetem interações futuras,
desenvolvendo ao longo do tempo uma história de interações compartilhadas, fomentando a
continuidade de interações e um envolvimento
emocional real entre as partes (GUTEK, 2000).
Nesta direção, sugere-se que:
P1: A emoção presente na interação vivenciada entre o cliente e o pessoal de linhade-frente do prestador de serviços pode ser: (a)
entendida como uma variável-chave para a qualidade da interação e (b) terá impacto significativo tanto na qualidade percebida dos serviços,
quanto na possibilidade de continuidade do relacionamento entre ambas as partes.
3 Relação entre Empowerment
e Competência do Pessoal de
Linha-de-Frente
Para maximizar o potencial intrínseco à
emoção presente nas interações de serviços, as
empresas devem prestar atenção no comportamento do pessoal de linha-de-frente, o que
pode afetar consideravelmente a percepção
dos clientes em relação à qualidade do serviço
(CHEBAT; KOLLIAS, 2000). Bitner, Booms
e Mohr (1994) afirmam que grande parte dos
clientes satisfeitos com o serviço atribuem tal
resultado à competência do pessoal de linhade-frente para ajustar o sistema de entrega do
serviço às suas necessidades. Então, a performance do provedor de serviços envolve responder às
expectativas do cliente, lidar com solicitações
especiais e agir sob circunstâncias adversas (BITNER; BOOMS; TETREAULT, 1990).
No ambiente de serviços onde há o efetivo gerenciamento de relacionamentos, ao invés
de simples transações, o empowerment é recomendado pelo fato de exigir maior adaptabilidade do
pessoal de contato direto com os clientes (BOWEN; LAWLER, 1992), e se refere à situação na
54
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente nas Interações de Serviços
qual é delegada autonomia ao funcionário em
relação à tomada de decisões sobre as atividades
pertinentes ao trabalho (CONGER; KANUNGO, 1988), observando que sua essência se consiste em conceder ao pessoal de linha-de-frente
a possibilidade de adaptar ou inventar um novo
roteiro para o serviço (CHEBAT; KOLLIAS,
2000). Para tanto, é proposto que:
Para que a competência efetivamente suporte o empowerment, três elementos subjacentes
merecem destaque: o conhecimento, que é necessário para identificar oportunidades e criar
valor, e habilidades e capacidades, que devem
ser empregadas para a solução criativa e inovadora de problemas (WEITZ; BRADFORD,
1999). Para tanto, segue a proposição:
P2a: Para que se maximize o efeito das
emoções nas interações de serviço, quando estas
forem positivas, ou se minimize, quando forem
negativas, os responsáveis pela gestão da empresa
que adotarem a prática do empowerment, permitindo ao pessoal de linha-de-frente flexibilizar
o processo de co-produção do serviço, poderão
obter serviços com performance mais elevada.
Entretanto, nada adiantará se, mesmo
delegando autonomia para as pessoas que interagem com os clientes, tais pessoas não tiverem
a capacitação mínima exigida para flexibilizar
suas decisões de forma responsável. Esse domínio mínimo de conhecimentos necessários, que
proporcionará o esteio para a autonomia na tomada de decisões, é entendido por competência, proporcionando ao pessoal de linha-defrente a habilidade para responder às atitudes
e comportamentos dos clientes inseridos num
contexto onde a emoção se faz presente.
Segundo Zarifian (2001), a competência
está relacionada ao indivíduo e não à qualificação
intrínseca a uma função, se manifestando e sendo avaliada no momento de sua utilização profissional, na relação prática do indivíduo com a
maneira pela qual ele enfrenta determinada situação. Assim, a competência pode ser definida
como: “o tomar de iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo” perante a diversidade
de situações com as quais se depara (ZARIFIAN,
2001, p. 68). Para Thomas e Velthouse (1990)
e Spreitzer (1995), no entanto, a competência
é uma dimensão cognitiva que também reflete a
orientação de um indivíduo a desempenhar seu
trabalho e, dessa forma, a competência pode ser
entendida como uma crença do indivíduo sobre
sua capacidade de desempenhar atividades habilmente (GIST, 1987).
P2b: Para que o provedor de serviços
delegue poder (empowerment) ao pessoal de linhade-frente, os colaboradores deverão possuir
competência proporcional à autonomia e responsabilidade concedidas.
4 Afeição
Normalmente, há um relacionamento
positivo entre a afeição desenvolvida por uma
pessoa e a medida na qual esta pessoa confia na
outra parte, emergindo um processo de intencionalidade, uma vez que o comprador atribui
motivos favoráveis em relação ao fornecedor
pelo qual apresenta afeição (ROTTER, 1980).
Utilizando tal processo de intencionalidade, a
parte que confia interpreta o comportamento
do parceiro de troca na tentativa de determinar
suas intenções (LINDSKOLD, 1978).
Consoante a isso, Nicholson, Compeau
e Sethi (2001) tratam a afeição como a ligação
afetiva global que o cliente deposita no fornecedor, e mais especificamente, uma conexão emocional que uma pessoa sente pela outra e que
pode ser vista como querer bem ou “gostar de”,
um sentimento que transcende a mera aceitação
de que, por exemplo, o prestador de seviços detenha altos níveis de competência técnica.
A afeição serve como base para a confiança mútua entre as partes e pode criar uma
ligação pessoal, reforçando os elos econômicos
ao longo do tempo (NICHOLSON; COMPEAU; SETHI, 2001), fomentando a repetição de
compras, retenção e lealdade do cliente. Neste
sentido, a afeição pode ser entendida como um
poderoso fator de motivação humana relacionado ao desenvolvimento e manutenção de relacionamentos (ALTMAN; TAYLOR, 1973 apud
NICHOLSON; COMPEAU; SETHI, 2001),
55
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Gabriel Sperandio Milan
transformando-se na força direcionadora do
relacionamento e da consolidação da confiança
entre as partes, uma vez que níveis elevados de
afeição podem levar a níveis igualmente elevados de confiança (NICHOLSON; COMPEAU;
SETHI, 2001). Isto posto, emerge a seguinte
proposição:
P3: A afeição desenvolvida entre os envolvidos nas interações de serviços pode estimular
a confiança no colaborador e, por conseqüência,
no provedor de serviços, por parte do cliente.
5 Confiança
Confiar é aceitar os riscos associados ao
tipo e à profundidade de interdependência entre as partes engajadas em um relacionamento,
e a confiança é parcialmente o resultado da capacidade de alguém avaliar a confiabilidade de
um parceiro potencial (SHEPPARD; SHERMAN, 1998). Nesta direção, Rotter (1967) define confiança como uma expectativa mantida
por um indivíduo ou um grupo de pessoas de
que a palavra ou a promessa da outra parte pode
ser confiada.
Considerando o envolvimento emocional que pode existir entre as partes, confiar no
prestador de serviços e em seu pessoal torna-se
fundamental, ainda mais em serviços nos quais
o risco relativo ao seu desempenho final é alto.
Para Rousseau et alii (1998), a confiança ajuda a reduzir a incerteza e o risco específicos da
transação, e pode ser identificada, também, em
termos da percepção de um cliente em relação à
confiabilidade, honestidade, integridade e padrões éticos elevados representativos de um serviço (COULTER; COULTER, 2002).
Portanto, a confiança é uma das variáveis
mais indicadas para que se fundamente qualquer
interação ou processo de troca (GUNDLACH;
MURPHY, 1993). Cabe destacar a noção de
confiança como uma crença, um sentimento ou
uma expectativa sobre o parceiro de troca, refletida em dois componentes distintos: credibilidade e benevolência, sendo que a credibilidade
está relacionada à intenção e habilidade quanto
à manutenção das promessas, e a benevolência
aos motivos e intenções do parceiro (GANESAN, 1994; MCALLISTER, 1995).
Outro aspecto significativo é que há forte inter-relação entre a confiança e o compromisso, uma vez que os riscos do comportamento
oportunista em relacionamentos continuados
ou de longo prazo podem ser minimizados ou
removidos se existir confiança mútua. Tanto o
compromisso quanto a confiança são importantes para se alcançar a cooperação, contudo,
o efeito da confiança é mais forte (MORGAN;
HUNT, 1994). Assim, propõe-se que:
P4: Ao desenvolver a afeição no contexto emocional dos serviços, o provedor de serviços, por meio do pessoal de linha-de-frente,
tenderá a construir e fomentar a confiança por
parte do cliente.
6 Compromisso
A confiança e o compromisso estão fortemente inter-relacionados, uma vez que os riscos
do comportamento oportunista em relacionamentos de longo prazo podem ser minimizados
ou removidos se existir confiança entre as partes (GANESAN, 1994). Para Morgan e Hunt
(1994), a manutenção de um relacionamento
continuado é diretamente influenciada pela confiança, e através desta, influencia indiretamente
o compromisso. Por isso, ambas as variáveis são
importantes para se alcançar a cooperação entre
as partes (MORGAN; HUNT, 1994), principalmente quando o nível de participação do cliente
no processo de produção e consumo do serviço
for alto, potencializando a afeição existente.
Compromisso envolve o interesse ou a
intenção em manter um relacionamento com visão de longo prazo (MOORMAN; ZALTMAN;
DESHPANDÉ, 1992), tendo a longevidade e a
consistência como dois elementos fundamentais
para o seu sucesso (DWYER; SCHURR; OH,
1987). De forma geral, o compromisso pode
ser entendido como uma promessa implícita ou
explícita de continuidade relacional (OLIVER,
1999). Sendo assim, o compromisso pode ser
definido como uma crença de um parceiro de
troca de que um relacionamento continuado
56
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Ampliando o Entendimento sobre a Emoção Existente nas Interações de Serviços
com a outra parte é tão importante quanto a
garantia máxima de esforços na manutenção de
tal relacionamento (MORGAN; HUNT, 1994),
uma vez que o compromisso representa o mais
alto estágio de elos relacionais entre as partes
(DWYER; SCHURR; OH, 1987).
Embora diversas pesquisas abordem os
antecedentes do compromisso, estudos mais
detalhados poderiam ser conduzidos a respeito da relação entre o compromisso, a confiança
e outras variáveis. Wetzels, de Ruyter e van Bigerlen (1998), em pesquisa voltada ao setor de
serviços, identificam a qualidade do serviço, a
satisfação, a confiança e a dependência como
antecedentes do compromisso, possibilitando a
oportunidade de inserir neste rol de variáveis o
aspecto emocional e a afeição. Sendo assim, são
identificadas as proposições que seguem:
P5a: A confiança existente entre o cliente e o pessoal de linha-de-frente no contexto
de serviços pode estimular e fortalecer o compromisso entre as partes sob uma perspectiva de
longo prazo.
P5b: Com o estímulo e o fortalecimento do compromisso, há uma forte tendência da
afeição entre o cliente e o pessoal de linha-defrente ser ampliada.
7 Relacionamentos de Longo
Prazo e o Valor do Cliente ao
Longo do Tempo
De acordo com a estrutura conceitual
proposta por Storbacka, Strandvik e Grönroos
(1994), a qualidade do serviço leva à satisfação
do cliente, que poderá propiciar o fortalecimento do relacionamento, à longevidade do
relacionamento, que por sua vez, poderá, mas
não necessariamente, levar à sua lucratividade. Reichheld (1993) ressalta que nem sempre
a satisfação resulta na retenção ou lealdade de
clientes, no entanto, a satisfação é um passo
necessário para a formação de lealdade, a qual
pode emergir da combinação da superioridade
da qualidade percebida na prestação dos serviços, constância pessoal no atendimento aos
clientes, laços sociais e dos efeitos provenientes
da sinergia entre as partes (OLIVER, 1999).
As organizações que investem em relacionamentos não apenas mantêm e aperfeiçoam
as relações com seus clientes, como também podem atrair novos clientes, embora a atração de
novos clientes deva ser vista como um objetivo
intermediário (BERRY, 2002). Segundo Rust e
Zahorik (1993), a retenção de clientes é o componente mais importante para a consolidação
da participação de mercado da empresa, a qual é
direcionada pela satisfação do cliente.
No caso de serviços que possibilitem
a repetição da compra ou de sua utilização, é
muito mais claro que se vislumbre o enfoque
relacional, enquanto que, em outros, isto seja
praticamente inviável. Em relacionamentos de
serviço, cliente e provedor partilham uma história de interações, que servirá como base para
as interações futuras, permitindo com que ambas as partes aprimorem a imagem que um tem
do outro (GUTEK, 2000). Price, Arnould e
Tierney (1995) e Garbarino e Johnson (1999)
comentam que a familiaridade do cliente em
relação ao prestador de serviços trata-se de um
importante elemento interpessoal na experiência de serviço, impactando na construção de relacionamentos. Assim sendo, propõe-se que:
P6a: Para serviços que tenham a condição de estimular a repetição de compra ou utilização freqüente, a confiança e o compromisso
proporcionam a possibilidade do provedor de
serviços estabelecer, manter e desenvolver relacionamentos de longo prazo com os clientes.
P6b: O provedor de serviços, ao estabelecer, manter e desenvolver relacionamentos de
longo prazo, poderá obter uma maior lucratividade e rentabilidade, incrementando, também,
a retenção e a lealdade de seus clientes.
8 Conclusão
O desenvolvimento deste trabalho demonstra a relevância da emoção no contexto
dos serviços e sugere que este pode ser um constructo que, se bem explorado, proporcionará
57
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Gabriel Sperandio Milan
às empresas prestadoras de serviço um nível de
interação com os clientes que possa criar valor
para ambas as partes. Com o acirramento na
competitividade entre as empresas, a qualidade no atendimento passa a ter um peso fundamental na escolha do consumidor em relação ao
provedor de serviços ou na manutenção da sua
preferência por determinada empresa.
A emoção presente na interação entre o
cliente e o pessoal de linha-de-frente pode desencadear um ciclo virtuoso para as empresas, desenvolvendo a afeição entre as partes, o que pode
levar à confiança e ao compromisso mútuos e,
conseqüentemente, a relacionamentos duradouros. Para que tal ciclo se configure, as empresas
devem contar com um pessoal de linha-de-frente
com relativa autonomia de ação, o que pode ser
estimulado pela prática do empowerment. Para que
a prática do empowerment seja profícua, os colaboradores devem apresentar competência adequada
às funções e ao trabalho emocional que lhes são
atribuídos, reforçando a necessidade das empresas investirem no processo de recrutamento e seleção de pessoal, além de adotarem programas de
capacitação e aperfeiçoamento sistemáticos.
É claro que nem todos os tipos de serviços
podem propiciar a implementação do referido ciclo, serviços estes que podem ser indesejados ou até
mesmo desnecessários para o cliente. Porém, para
os serviços que tenham a condição de aproveitar os
benefícios provenientes dos relacionamentos de
longo prazo com seus clientes, o entendimento da
emoção nas interações de serviço e sua influência
no comportamento dos consumidores pode ser o
elemento primordial para a construção de laços
afetivos e econômicos de longo prazo.
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60
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.51-60, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
Área Temática: Marketing
Marketing Contábil nos Escritórios de
Contabilidade do Estado de São Paulo
Ivam Ricardo Peleias
Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo – FEA/USP. Professor do Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da Fundação Escola de Comércio
Álvares Penteado - FECAP [[email protected]]
Endereço: Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - Av. Liberdade, 532, Liberdade, São Paulo- SP Cep: 01.502-001
Danieli Cristina Ramos Hernandes
Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - FECAP.
Professora das Faculdades Integradas de Guarulhos e das Faculdades Carlos Drummond de Andrade
[[email protected]]
Endereço: Faculdades Integradas de Guarulhos - Rua: Dr. Solon Fernandes, 155, Vila Rosália, Guarulhos- SP Cep.: 07.072-080
Mauro Neves Garcia
Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas – EAESP/FGV.
Professor do Programa de Mestrado em Administração de Empresas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES-SP
[[email protected]]
Endereço: Universidade Municipal de São Caetano do Sul - Campus II
Rua: Santo Antonio, 50, São Caetano do Sul-SP, Cep.: 09.521-160
Dirceu da Silva
Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – FE/USP. Professor do Programa de Mestrado
em Administração de Empresas da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – IMES-SP [[email protected]]
Recebido em 19 de Setembro de 2006 / Aprovado em 05 de Março de 2007
Resumo
Este artigo apresenta uma parte dos resultados de
uma pesquisa realizada entre o último trimestre
de 2004 e 1º. trimestre de 2005, para identificar como 259 escritórios de Contabilidade
no Estado de São Paulo usam os instrumentos
de Marketing. O trabalho combinou pesquisa
empírica para identificar aspectos relevantes da
realidade dos escritórios, revisão bibliográfica,
e pesquisa de campo, na sua primeira etapa por
meio de uma entrevista de profundidade com os
sócios de cinco escritórios, e seguida do uso de
um questionário com 49 assertivas, respondido
pelos sócios de 259 escritórios. A revisão da literatura revelou experiências internacionais no
uso do Marketing que podem contribuir para
os escritórios melhorarem sua imagem perante os clientes, e para o desenvolvimento de seus
negócios Os dados obtidos com os questionários foram tratados pela Estatística Descritiva e
analisados com o uso da mediana, pois os dados não se mostraram aderentes à curva normal. Os resultados obtidos revelaram que o uso
dos instrumentos de Marketing é intuitivo e
61
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
embrionário­ no setor. A pesquisa fornece informações que poderão ajudar os empresários
contábeis a adotar as ferramentas de Marketing
como uma alternativa de valorizar seus serviços junto ao mercado, e mais um elemento de
apoio ao seu negócio.
Palavras-chave:
Marketing. Marketing de serviços. Marketing
contábil. Escritórios de contabi­li­dade. Conta­
bilidade.
Abstract
This article presents a portion of the result
of a research carried through between the last
quarter of 2004 and the first quarter of 2005,
to identify as 259 accounting services offices in
the State of São Paulo use or not the Marketing
tools. The study executed combined empirical
research to identify excellent aspects about the
reality of the offices, bibliographical revision,
and field research, in its first stage by means
of a depth interview with the partners of five
offices, and later with the use of a questionnaire
with 49 assertives, answered by the partners of
the 259 accounting offices. The revision of
literature disclosed international experiences in
the use of the Marketing that can contribute the
offices have one better image for its customers,
and for the development of its businesses. The
data collected with the questionnaires had been
treated by the Descriptive Statitics and analysed
by the use of Mean, because the collected data
weren´t adherent to the normal curve. The
gotten results had disclosed that the use of the
Marketing tools is intuitive and embryonic in
the sector. The research supplies information
that will serve of subsidy so that the accounting
entrepreneurs adopt the Marketing tools as an
alternative for bigger valuation of its services
for the market, and an element of support to its
business.
Key-words:
Marketing. Services marketing. Accounting
marketing. Accounting services offices. Services
Marketing. Accounting.
1 Introdução
O Mercado de trabalho tem se modificado nos últimos anos, por várias razões. O impacto da nova realidade sobre as profissões exigiu mudanças em muitas áreas, algumas ainda
em curso. Este cenário obriga os profissionais
a se aprimorarem e a buscarem a ampliação de
suas áreas de atuação. A profissão contábil em
geral, e em particular os escritórios de contabilidade e seus sócios estão expostas a este processo
de mudanças.
Os órgãos de classe, tais como o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo – SESCON-SP, vêm promovendo ações, como o Programa de Qualificação
das Empresas de Serviços Contábeis – PQEC.
O PQEC busca valorizar a prestação dos serviços contábeis, e concede aos participantes um
certificado, que atesta o cumprimento de dois
requisitos básicos (SESCON, 2005): a) compromisso com a qualidade dos serviços, pela
participação dos sócios e colaboradores em programa educacional voltado à gestão das empresas
de serviços contábeis, qualidade em serviços e
conteúdos de educação continuada; b) compromisso de observância de princípios éticos e de
responsabilidade materializados em normas do
PQEC, e submissão ao Conselho de Mediação e
Arbitragem do programa.
De acordo com o SESCON-SP (2005),
o selo a ser concedido deve: incentivar os associados à melhoria contínua de seus serviços e
processos; promover a capacitação e qualificação
permanente de suas equipes; contribuir para a
valorização dos escritórios comprometidos com
a qualidade e a ética; auxiliar na criação de diferenciais de mercado, e na conscientização da
sociedade para a importância dos escritórios de
contabilidade.
Também o Conselho Federal de Contabildade (CFC) vem desenvolvendo, em parceria
com o SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas, o programa “Contabilizando o Sucesso”. Conforme o CFC e o
SEBRAE (2006), o objetivo principal do programa é capacitar os sócios e profissionais que
atuam nos escritórios de contabilidade para se
62
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
tornarem assessores de negócios de seus clientes, o que lhes permitiria ir além da prestação
dos serviços contábeis tradicionalmente oferecidos pelos escritórios.
As ações descritas revelam que a educação continuada e a formação de contadores em
áreas específicas são algumas saídas para expandir e aprimorar a profissão contábil. Assim, da
mesma forma que é necessária a mobilização dos
contadores que trabalham nas organizações, é
preciso que os contadores que atuam nos escritórios de contabilidade se mobilizem, para que
a profissão obtenha e mantenha novos espaços
de atuação.
Uma solução possível é usar as ferramentas de Marketing, como um meio de divulgar a
Contabilidade de forma ética, e de ressaltar sua
importância operacional e estratégica para as
organizações. O Marketing é usado por outras
profissões, pois incentiva a comunicação, transmite informações e facilita o posicionamento
dos profissionais no mercado.
Em função do exposto, o objetivo geral
deste trabalho foi identificar e analisar como os
escritórios de contabilidade no Estado de São
Paulo usam os instrumentos de Marketing. Os
objetivos específicos foram: melhor conhecer
a realidade dos escritórios; estudar a influência da capacitação pessoal na prestação de serviços contábeis e na captação e manutenção de
clientes; verificar a adoção de recursos materiais
e tecnológicos na prestação dos serviços contábeis; estudar a amplitude dos serviços prestados
pelos escritórios.
A pesquisa é de natureza empírica, e foi
apoiada por revisão bibliográfica, levantamento de campo e tratamento estatístico dos dados por meio da Estatística Descritiva, seguida
do cálculo e análise das medianas, pois os dados não se mostraram aderentes à distribuição
normal. Para a fase da pesquisa aqui apresentada, foi elaborado um instrumento de coleta de
dados, em forma de questionário, que passou
por pré-teste e validação, para operacionalizar
o trabalho de campo. Esta fase da pesquisa foi
realizada entre o último trimestre de 2004 e
o 1º. trimestre de 2005, e teve o apoio ins-
titucional do SESCON-SP, para a obtenção
dos questionários preenchidos junto aos seus
associados.
O trabalho possui três itens, sendo o
primeiro esta introdução. A revisão da literatura
estudou as características dos serviços, a especificidade do Marketing Contábil, e o uso do Marketing Contábil no Brasil e em outros países.
O item sobre a pesquisa e seus resultados apresenta todas as etapas e procedimentos usados no
trabalho de campo para esta fase da pesquisa, e
oferece os resultados obtidos com o tratamento
estatístico. Complementam o trabalho as considerações finais e as referências usadas.
2 Revisão da literatura
A revisão da literatura foi realizada com
base em três temas: as características dos serviços, a especificidade do Marketing Contábil, e a
identificação e análise de trabalhos de pesquisa
realizados no Brasil e no exterior sobre Marketing contábil e Marketing para serviços contábeis. É o que se apresenta a seguir.
2.1. Características dos serviços
Kotler (1991, p. 33) afirma que os produtos comercializados incluem bens físicos,
serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações
e idéias. Um produto tem valor em função de
sua utilidade e do serviço que presta. O produto
físico é apenas um meio de apresentar o serviço.
Um carro é procurado não só por seu aspecto
físico, mas pela mobilidade que permite, pelo
status e sensação de poder que transmite.
Para Kotler (2000, p. 33) produto
pode ser: “qualquer oferta que possa satisfazer
a uma necessidade ou a um desejo”. Nessa definição não se nota a preocupação em diferenciar
bens e serviços, já que a existência dos primeiros
justifica-se pelos serviços que prestam.
Lovelock (2001) afirma que produto é
um termo usado para descrever a produção central de qualquer tipo de indústria, que oferece
benefícios aos clientes que o compram e usam.
Para o autor (2001, p. 14) “os bens podem ser
descritos como objetos ou dispositivos físicos e
63
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
os serviços são ações ou desempenhos”. Lovelock (2001) cita que a distinção fundamental
entre bens e serviços está no fato de os clientes
obterem valor dos serviços, sem obter qualquer
elemento tangível permanente. O cliente pode
alugar um objeto físico, como um automóvel
ou um quarto de hotel. Pode contratar, por
um certo período, o trabalho e a experiência de
pessoas cujas habilidades vão da complexa neurocirurgia à simples forma de registrar os clientes em um hotel.
Para Grönroos (1999, p. 38), “a essência do serviço é a intangibilidade do próprio
fenômeno.” Para o autor, a intangibilidade é
provavelmente o critério mais freqüentemente
citado quando se trata de avaliar os serviços. Na
mente do cliente, o que conta são as partes visíveis das atividades, que são vivenciadas e avaliadas em cada detalhe.
Lovelock (2001) comenta que as primeiras
pesquisas sobre serviços procuravam diferenciá-los
dos bens, a partir de quatro diferenças genéricas:
intangibilidade, heterogeneidade, perecibilidade
e simultaneidade. Essas diferenças constituem características dos serviços e serão comentadas mais
detalhadamente ao longo do trabalho.
O Setor de serviços é diversificado. Por
mais padronizada que seja, a execução de uma
atividade terá variações durante sua realização,
especialmente quando houver interação do
usuário com o serviço prestado. Para facilitar a
compreensão da administração dos serviços, uma
estratégia usada é estudar as suas características.
Em conseqüência disso, apresenta-se o quadro
1, elaborado por Mariz e Garcia (2003), que
contém um resumo das características dos serviços, originalmente identificadas por Grönroos
(1999), Kotler (2000) e Lovelock (2001).
Quadro 1 – resumo das características dos serviços
Autor / Características
quanto a:
A análise dos serviçosLovelock(2001)
contábeis, em com-
Grönroos(1999)
Kotler(2000)
Intangibilidade
Os serviços são mais ou
menos intangíveis; são
atividades em vez de coisas.
Os serviços são intangíveis;
normalmente só podem
ser provados depois de
adquiridos.
Os produtos dos serviços
são realizações intangíveis;
muitos serviços são de difícil
avaliação pelo cliente.
Ponto de entrega
–
–
Os sistemas de entrega
podem envolver canais
eletrônicos e físicos.
Produção e Consumo
(Inseparabilidade)
Em geral os serviços são
produzidos e consumidos
simultaneamente.
Normalmente os serviços
são produzidos e consumidos
simultaneamente.
Há maior envolvimento dos
clientes durante a produção;
Outras pessoas podem fazer
parte do produto.
Padronização
(Variabilidade e
Heterogeneidade)
O Serviço a um cliente é
diferente desse mesmo
serviço ao próximo cliente.
O resultado do serviço é
afetado pela interação entre o
fornecedor e o cliente.
Há maior variabilidade
nos insumos e produtos
operacionais.
Estocagem
(Perecibilidade)
O cliente participa do
processo de produção, até
certo ponto.
Os serviços não podem ser
estocados.
Normalmente não há
estoques; O fator tempo
é relativamente mais
importante.
Posse
–
–
Os clientes não obtêm posse
sobre os serviços.
Fonte: adaptado pelos autores a partir de Mariz e Garcia (2003)
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
paração à forma como os estudiosos definem os
serviços, revela que as principais características
desses serviços são a intangibilidade e a entrada
mais fácil no mercado, esta última em comparação com outros serviços. Mas isso não garante aos sócios dos escritórios de contabilidade a
manutenção no mercado. As influências externas são uma característica relevante da prestação
de serviços contábeis, pois, no caso específico,
as constantes mudanças na legislação, principalmente a tributária, afetam a rotina dos escritórios e de seus clientes.
2.2 Especificidade do marketing contábil
A discussão sobre a aplicabilidade do
Marketing aos escritórios de contabilidade requer a definição e o estudo do termo. Para Kotler e Armstrong (2003, p. 3) o Marketing é
um processo administrativo e social pelo qual
indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e
desejam, por meio de criação, oferta e troca de
produtos e valor com os outros. Moreira et al
(1997, p. 232), afirmam que: [...] Marketing é
um conjunto de atividades cujo objetivo é levar
bens e serviços do produtor ao consumidor. A
análise das definições apresentadas revela que a
área de ação do Marketing pode ser mais ou menos ampla, em função do enfoque adotado por
uma organização específica.
Apresentadas as definições e ressaltada a
maior ou menor abrangência de sua atuação, é
preciso refletir sobre a aplicação do Marketing
ao setor de serviços e aos que nele atuam. Conceitualmente, Marketing de serviços difere de
Marketing apenas nos objetivos principais. Para
Kotler, et al (2002, p. 27) os objetivos do Marketing de serviços são: 1) destacar aspectos importantes do Marketing que são especialmente
relevantes para os serviços profissionais; 2) estimular a empresa prestadora de serviços profissionais a revisar e analisar seus pressupostos de
Marketing, tomando medidas para aperfeiçoar
seu desempenho.
Laurindo (2001, p.15) afirma que:
“para se ter um bom Marketing pessoal, primeiramente o profissional deve estar preparado
para desempenhar suas funções básicas, como
também é necessário que o mesmo esteja a um
tempo mínimo no mercado, para absorver o
conhecimento adquirido.”
A afirmação de Laurindo pode ser transportada para a profissão contábil, pois cabe ao
contador transformar e incrementar o Marketing de serviços para a Contabilidade, por meio
do Marketing contábil, o qual segundo Bertozzi
(2003):
São todos os esforços estratégicos e comunicacionais para ofertar serviços de qualidade, criados para suprir a necessidade e desejos do cliente, utilizando os instrumentos
de Marketing, sempre de acordo com a ética.
O Marketing contábil bem realizado deve na
rea­lidade, influir como os clientes percebem o
profissional, o escritório, e essa percepção é que
irá gerar uma imagem positiva ou negativa. O
contabilista deve construir uma marca pessoal
universal.
O contador empresário que busca o sucesso profissional precisa desenvolver sua marca
pessoal em torno da imagem positiva. Precisa
elaborar e oferecer produtos e serviços diferenciados, identificar e entender as necessidades
dos clientes, e estar atualizado com as perspectivas e tendências do mercado em que o cliente
atua.
O uso eficaz do Marketing requer condições a serem conhecidas por quem pretende adotá-lo. Kotler et al (2002, p.7-10) ressaltam oito pontos necessários para esta ação
eficaz: a) Marketing é um processo gerencial,
manifestado a partir de projetos minuciosamente elaborados; b) Marketing se faz antes de
se efetivar uma venda; c) Marketing baseia-se
em necessidades e desejos de grupos, que buscarão satisfazê-los pelo menor recurso ou pelo
recurso disponível; d) Para existir Marketing é
necessário o conceito de troca; e) Fazer Marketing significa eleger o mercado de atuação; f) O
Marketing deve atender as demandas dos clientes, e não a preferência do prestador do serviço; g) Para se ter sucesso a longo prazo com o
Marketing, o cliente deve estar satisfeito com
os serviços prestados; h) Satisfazer o cliente,
a longo prazo, significa desenvolver vínculos
65
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
econômicos e sociais sólidos, o que requer a
prestação de um serviço de alta qualidade por
um preço justo.
Diferente da situação em que o consumidor compra produtos e sua satisfação se
vincula ao bem adquirido, os consumidores de
serviços podem perceber os benefícios da contratação de maneiras e em momentos diferentes. É oportuno observar como e quando uma
melhoria oferecida ao cliente A pode afetar a
prestação de serviços ao cliente B. Significa que
boas ou más impressões sentidas pelos clientes afetam o negócio. É preciso saber o que o
cliente sente sobre o serviço prestado, e manter a busca permanente pela melhoria contínua, pois a melhor forma de atender, satisfazer
e encantar o cliente é condição essencial para o
progresso do negócio.
A profissão contábil oferece amplo leque
de oportunidades para atuação, nas entidades
públicas e privadas, no ensino ou de forma autônoma (MARION, 2006, pp. 27-29). A reflexão sobre a assertiva de Marion revela áreas
tradicionalmente atendidas, e outras que poderiam ser mais bem exploradas pelos escritórios
de contabilidade. É o que se observa no quadro
2, cuja análise revela que as áreas a serem exploradas pelos escritórios de contabilidade podem
decorrer do aproveitamento oportunidades, ou
da continuidade da atuação do profissional de
contabilidade na empresa, como autônomo ou
sócio de escritório.
Quadro 2 - tipos de serviços que podem ser oferecidos pelos escritórios de contabilidade
Base da atuação do
profissional contábil
Áreas a serem exploradas
Áreas já exploradas
Tipo de serviço que poderá
ser oferecido
Características do serviço
a ser oferecido
Planejamento Tributário
Orientação a processos tributários em geral
e em fusões, incorporações e cisões.
Análise Financeira
Análise de crédito, desempenho, mercado
de capitais, investimentos e custos.
Auditor Interno
Auditoria de Sistemas, de Gestão e
Controle Interno
Gestão de Custos
Custo de Prestadoras de Serviços,
Custos Industriais, Análise de Custos e
Orçamentos
Consultoria
Serviços em Avaliação de Empresas,
Tributos, Comércio Exterior, Informática,
Sistemas, Controladoria, Custos,
Qualidade Total, Planejamento Estratégico
e Orçamento
Responsável pela Contabilidade
Especialista em atividades específicas
Perícia Contábil
Serviços de Perícia Contábil, Judicial, Fiscal
e Extrajudicial
Investigação de Fraude
Atender empresas nacionais e estrangeiras
que solicitam investigações sigilosas
Pareceres
Pareceres sobre: Laudo pericial e causa
judicial, envolvendo: empresas, avaliação de
empresas e questões contábeis
Fonte: Adaptado pelos autores a partir de Marion (2006, p. 35)
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
O Marketing para escritórios de contabilidade é necessário, mas pouco praticado. O que
se observa empiricamente são algumas matérias
em jornais de grande circulação , e-mails de entidades de classe, tais como o boletim eletrônico
da Federação Nacional das Empresas de Serviços
Contábeis - FENACON, casos isolados de escritórios de contabilidade que oferecem serviços em
jornais de grande circulação , e publicações embrionárias de cursos e eventos oferecidos por órgãos de classe. Estas ações revelam que o Marketing contábil é pouco praticado, considerando a
ampla gama de serviços e benefícios que poderiam ser oferecidos aos clientes dessas empresas,
conforme demonstrado no quadro 2.
Vale ressaltar que a intangibilidade do
serviço prestado deveria chamar a atenção dos
sócios e profissionais dos escritórios de contabilidade, os quais deveriam buscar meios de
tangibilizá-los, destacando vantagens, segurança e confiança. Kotler (2000) afirma que um
grande valor que os clientes esperam dos fornecedores de bens e serviços é a alta qualidade. No
mundo atual, muitos consumidores não aceitam e não toleram serviços de qualidade mediana. Há uma estreita ligação entre a qualidade
do serviço e a satisfação do cliente. Serviços de
qualidade superior resultam em consumidores
mais satisfeitos.
2.3 Marketing contábil: evidências no
Brasil e no exterior
A revisão bibliográfica permitiu identificar trabalhos publicados, que estudaram diversos aspectos do Marketing contábil, no Brasil
e no exterior. É o que se apresenta a seguir, iniciando-se pelos trabalhos desenvolvidos pelos
pesquisadores brasileiros.
Hiroshi (1998, p. 1), realizou estudo que
procurou evidenciar a necessidade de mostrar ao
público em geral a nova realidade da Contabilidade, e demonstrar a importância das ferramentas
de Marketing para a Contabilidade. Neste trabalho, o autor ressaltou a importância de se ter um
posicionamento para a marca “Contabilidade”, e
propôs um plano de Marketing para se obter o
posicionamento por ele mencionado.
Scarpin et al (2000, p. 14), buscaram
despertar a atenção para a valorização profissional que pode ser alcançada pelo uso dos instrumentos de Marketing. Os autores identificaram
e destacaram a ausência no uso desse recurso
pelos profissionais contábeis, seja para a divulgação e ampliação do mercado, seja para a promoção de serviços.
Dedonatto e Mazzioni (2004, p. 382)
defendem a importância do marketing contábil,
como instrumento de comunicação estratégica
competitiva profissional ao afirmarem que:
”teoricamente, a comunicação
não tem sido aceita como um instrumento hábil e tampouco como conhecimento científico apropriado, do qual
o profissional da contabilidade pudesse
valer-se no exercício de sua atividade. Os
motivos que ensejaram tal prática podem
estar relacionados ao uso em excesso do
conservadorismo; às interpretações míopes do código de ética profissional; do
nível de concorrência menos intenso
que o vivido atualmente; ou, apenas por
ignorância na aplicabilidade das ferramentas de comunicação.”
Diferentemente do Brasil, o uso das ferramentas de Marketing por empresas de serviços
contábeis em outros países é uma realidade que
precisa ser conhecida pelos brasileiros, já que
pode oferecer subsídios relevantes para benchmarkgings em nosso país. A seguir, será oferecido o resultado obtido com o estudo sobre as pesquisas internacionais, sobre o uso do Marketing
para os serviços contábeis em outros países.
A obra The Marketing of Professional
Accountating Services (1978) de James J. Mahon,
profissional com longa carreira em empresas de
serviços contábeis, teve o mérito de ser a primeira
do gênero. Apesar do pioneirismo, esse trabalho
não abordou com clareza a aplicação do Marketing nas empresas de serviços contábeis, embora
usasse como referencial uma estrutura aplicável a
qualquer empresa de serviços.
O’Donohoe et al (1991) buscaram sintetizar a literatura existente sobre Marketing para
os serviços contábeis. Os autores citam que as
67
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
empresas de serviços contábeis atuam em um
mercado competitivo e dinâmico, e que as demandas de seus clientes estão em grande mudança, o que requer alteração no perfil, nos tipos e
especializações de serviços exigidos pelos clientes. Para os autores, os profissionais de Contabilidade e de Marketing precisam se conhecer
melhor. Também analisaram como os serviços
de Marketing são ofertados aos contadores por
meio de publicações para a classe contábil, e finalizam o trabalho sugerindo novas oportunidades de pesquisa, em função de fatores por eles
identificados e julgados importantes.
Butler a Abernethy (1994) realizaram
survey com 350 compradores de serviços contábeis e legais, para conhecer que informações
esses consumidores buscavam identificar nos
anúncios de ofertas das empresas de serviços
contábeis nas Páginas Amarelas (Yellow Pages).
Uma razão para a pesquisa foi a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos num processo
da Bates et All contra a State Bar of Arizona, em
que os membros da Suprema Corte decidiram
que a limitação de detalhes técnicos relevantes
na oferta de serviços contábeis poderia omitir
informações decisivas para a escolha dos usuários. A pesquisa identificou os meios e as informações fornecidas pelas empresas de serviços
contábeis ao usarem as Páginas Amarelas e listou
recomendações para melhorar a eficácia da propaganda.
Nasutti (1994) descreveu os resultados
obtidos por quatro empresas de serviços contábeis que realizaram campanhas de Marketing
nos Estados Unidos, identificando os objetivos
das campanhas e a forma como foram realizadas:
1) campanha 1 - para clientes do setor de saúde,
buscou solidificar o relacionamento e a expansão no mercado; 2) campanha 2 – para potenciais clientes organizações não governamentais,
buscou penetrar em novos nichos de mercado;
3) campanha 3 – o objetivo foi motivar os contadores sênior (Sênior CPA’s) a desenvolverem
habilidades para a conquista de clientes e venda
de serviços; 4) campanha 4 – objetivou atingir
novos mercados, ao demonstrar que a empresa de serviços contábeis poderia antecipar ten-
dências que ocorreriam no mercado de grandes
obras de construção civil.
Nasutti (2004) ofereceu “dicas” para
preparar um boletim (newsletter) por setor de
atividade, como formar times de Marketing com
especialistas profissionais, fazer conferências
anuais, organizar mesas-redondas para discutir temas relevantes com clientes e como promover campanhas usando mala-direta (mailing
list). Concluiu a matéria sugerindo sete ações
para o Marketing eficaz: considerar os gastos
de Marketing como investimento, e não como
despesa; não esmorecer nos esforços de Marketing; não deixar passar boas oportunidades
de negócio; investir na formação de Marketing
para os profissionais das equipes; o que conta é
a qualidade, e não a intensidade do esforço; assumir riscos e aprender com os erros; criar uma
liderança de Marketing profissional cuidadosa e
comprometida.
Mangos et al (1995) identificaram e analisaram lacunas identificadas na pesquisa de
O’Donohoe et al (1991), em particular as relativas às práticas de Marketing usadas por empresas de serviços contábeis de pequeno e médio
porte. Os autores identificaram e analisaram os
fatores-chave de um estudo de caso sobre práticas de Marketing em empresas australianas de
serviços contábeis e ofereceram uma comparação multicultural com as atitudes, estratégias e
eficácia das ferramentas de Marketing usadas
por empresas pesquisadas existentes nos Estados
Unidos, Hong Kong e Austrália.
Wolosky (2.000) analisou as ações de
Marketing usadas por empresas de serviços
contábeis americanas que prestam serviços de
planejamento financeiro. A análise realizada
considerou os tópicos a seguir: a) prescrições
regulatórias; b) o início de prestação de serviços
e conflitos de interesses em função de a empresa de serviços contábeis prestar determinados
serviços (exemplo: contabilidade a assessoria financeira); c) proibições legais, inclusive sobre
propaganda enganosa; d) veículos de comunicação e a forma de usá-los. A matéria abordou
ainda o grau de profundidade das ações de Marketing, a prospecção junto ao mercado, o im-
68
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
pacto da primeira impressão junto ao cliente e a
criação de uma marca pessoal.
Roxas et al (2000) examinaram as ações
de Marketing direto realizadas por empresas de
serviços contábeis na internet. Foram aleatoriamente escolhidos 346 dos 2.000 sites registrados
no The List of CPA Firms Directory. O conteúdo
das páginas foi analisado, observando a inclusão
de fatores determinantes na escolha de clientela,
e informações básicas sobre as empresas de serviços contábeis, fatores que favoreceram a agregação de valor e elementos gráficos.
Crittenden et al (2003) pesquisaram o uso
das estratégias de preço e de promoção por empresas de serviços contábeis, na área de auditoria. O
trabalho examinou o uso das estratégias no período
anterior à desregulamentação do setor de serviços,
ocorrida no Reino Unido, em 1984. Um aspecto relevante observado foi que o setor de serviços
representava, na época da pesquisa, perto de 75%
das ofertas de empregos no Reino Unido. Os autores estudaram outros trabalhos sobre estratégias
de preços, usadas por empresas norte americanas
de serviços contábeis nos anos 1970, 80 e 90, e
trabalhos avaliando os esforços promocionais de
empresas de serviços contábeis em Hong Kong e
Estados Unidos, nos anos 1990.
3 A pesquisa e seus resultados
A pesquisa foi realizada em duas etapas:
a primeira, no 2º. semestre de 2003, ocorreu
com a aplicação de um questionário para os sócios de cinco escritórios de contabilidade da
cidade de São Paulo, escolhidos de forma nãoprobabilística, para identificar aspectos relevantes da realidade atual desses escritórios.
Na segunda etapa, objeto deste trabalho,
os resultados obtidos com as entrevistas subsidiaram a elaboração de um questionário com duas
partes: a primeira, com os dados necessários à
identificação e classificação dos escritórios de
contabilidade; a segunda , com 49 assertivas para
respostas de múltipla escolha, por meio de uma
escala Likert de 5 pontos, variando de 1 (concordo totalmente) a 5 (discordo totalmente).
O instrumento de pesquisa foi previamente testado, conforme as orientações de Cooper &
Schindler (2003), Hill & Hill (2002) e Malhotra
(2001), o que permitiu identificar a necessidade
de melhorias, realizadas antes de sua aplicação efetiva. Ao mesmo tempo, buscou-se apoio institucional para a pesquisa de campo, obtido junto ao
Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do
Estado de São Paulo – SESCON-SP.
O contato com o SESCON-SP ocorreu
em outubro de 2004. Após a apresentação do
projeto de pesquisa e obtenção do apoio institucional, foi definida e adotada a estratégia de pesquisa, que considerou o envio de três mensagens
eletrônicas aos mais de 8.700 escritórios associados ao SESCON-SP: a primeira, em dezembro
de 2004, informou a realização da pesquisa, e
convidava os associados a participarem; a segunda, em janeiro de 2005, solicitou que os associados acessassem um endereço eletrônico para
responderem ao questionário; a terceira, em fevereiro de 2005, solicitou que os associados novamente acessassem o endereço eletrônico, para
confirmarem o preenchimento do questionário
Foram tomadas medidas preventivas para
evitar a duplicidade de respostas e que, para cada
assertiva com a escala de Likert, fossem obtidas
ao menos cinco respostas válidas (Hair Jr. et al,
2005, p. 198). Foram obtidos 259 questionários válidos, quantidade que permitiu a validação do instrumento de pesquisa.
Para os resultados aqui apresentados , as
respostas às assertivas foram analisadas com o uso
da Estatística Descritiva, seguida do cálculo e análise da mediana como medida de posição, pois os
dados não se mostraram aderentes à curva normal
(Pestana e Gageiro, 2000). O agrupamento das
assertivas obedeceu às dimensões usadas na entrevista em profundidade realizadas com os sócios de
cinco escritórios de contabilidade, no início da
pesquisa: como os clientes são conquistados; dimensionamento de recursos e localização; como
conquistar e manter os clientes; qualidade dos
serviços prestados; serviços prestados pelos escritórios de contabilidade; a importância das pessoas
nos escritórios de contabilidade e problemas no
escritório de contabilidade. A tabelas 1, 2, 3, 4, 5,
6 e 7, a seguir apresentadas e analisadas, contêm
os resultados obtidos e as análises realizadas.
69
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
Respostas para a dimensão: como os clientes são conquistados
Nº
41
30
27
32
33
03
Assertivas
Os clientes são conquistados por nosso escritório
porque conhecem os sócios
Os advogados de nossos clientes têm indicado
nosso escritório para prestar serviços contábeis
Empresas de auditoria têm indicado nosso
escritório para potenciais clientes
Muitas vezes os funcionários de antigos clientes
têm indicado nosso escritório para novos clientes
O boca a boca tem contribuído para que nosso
escritório conquiste novos clientes
A relação com os clientes é estritamente
profissional
1
39
15%
42
16%
10
4%
48
19%
117
45%
13
5%
Respostas das Alternativas / Mediana
2
3
4
5
100
74
44
2
39%
29%
17%
1%
125
58
28
6
48%
22%
11%
2%
68
70
72
39
26%
27%
28%
15%
151
41
14
5
58%
16%
5%
2%
130
8
4
0
50%
3%
2%
0%
77
28
125
16
30%
11%
48%
6%
MD
2
2
3
2
2
4
Tabela 1 - assertivas derivadas das respostas da questão: como os clientes são conquistados
A análise das respostas obtidas nesta dimensão evidenciam que os sócios dos escritórios
de contabilidade pesquisados têm noção de que
o bom serviço e o bom relacionamento podem
ajudá-los a captar novos clientes. Outra fonte importante para captar novos clientes são os
contatos com advogados (assertiva 30). Conforme demonstrado na assertiva 33, o boca a boca
contribui para a captação de clientes, já que 95%
dos respondentes concordaram com a assertiva.
Os dados obtidos evidenciam que as empresas de auditoria deixaram de indicar escritórios
de contabilidade (assertiva 27). É possível inferir
que tal fato ocorreu por interesse das empresas de
auditoria, uma vez que muitas delas atualmente
mantêm áreas de prestação de serviços contábeis,
o que concorre com os escritórios.
Outra observação é a de que um bom serviço prestado deixa boa impressão, uma vez que exfuncionários de clientes (assertiva 32) também são
fontes de captação de novos clientes. Um fator que
merece atenção é o da relação com os clientes ser
estritamente profissional (assertiva 3) pois 54% dos
respondentes não concordaram com essa assertiva.
Respostas para a dimensão: dimensionamento de recursos e localização
Nº
48
16
45
49
18
7
Assertivas
Dimensionar recursos tem sido um problema do escritório
que afeta nosso desempenho
Dimensionar o espaço é um entrave para o escritório que
afeta nosso desempenho
O dimensionamento de equipamentos, de sistemas e
de pessoal dificulta a definição do preço dos serviços
prestados.
O aumento da demanda dos serviços do escritório leva
à contratação de pessoas, compra de equipamentos e
obtenção de maior espaço físico.
A falta de equipamentos, de sistemas e de pessoal têm sido
os principais motivos do escritório em não atender bem
seus clientes.
A localização do escritório é um fator importante na
conquista, manutenção e relacionamento com os clientes.
Resposta das Alternativas / Mediana
2
3
4
5
MD
139
52
29
5
2
54%
20%
11%
2%
131
53
42
3
2
51%
20%
16%
1%
97
58
75
9
3
8%
37%
22%
29%
3%
1
34
13%
30
12%
20
103
142
8
6
0
40%
55%
3%
2%
0
34
92
24
80
29
13%
36%
9%
31%
11%
32
12%
99
38%
67
26%
43
17%
18
7%
2
3
2
Tabela 2 - assertivas derivadas das respostas da questão: dimensionamento de recursos e localização
70
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
A tabela 2 procura evidenciar como as
questões relativas ao dimensionamento de recursos buscaram compreender como os sócios
dos escritórios de contabilidade pesquisados
“estocam” seus recursos, ou se ao receber um
pedido de proposta para trabalhos maiores poderia haver problemas para atender a demanda.
As assertivas 48 (67%) e 16 (63%) demonstram que dimensionar o serviço e eventualmente
propor honorários para o trabalho pode ser um
entrave. A assertiva 49 mostra que 95% dos escritórios trabalham com sua capacidade máxima de recursos, e não podem aumentar a prestação de serviços ou conquistar novos clientes, o que somente
será resolvido com a contratação de mão-de-obra
e aquisição de novos equipamentos. A boa localização (assertiva 7) também é vista pelos respondentes
como importante na condução dos negócios.
Respostas para a dimensão: como conquistar e manter os clientes
Nº
Assertivas
34
A manutenção dos clientes depende do serviço
oferecido e prestado pelo escritório
4
A capacitação das pessoas responsáveis pelas
atividades ou serviços prestados é fundamental para o
cliente ficar satisfeito.
43
As pessoas envolvidas na prestação de serviços do
escritório devem conhecer profundamente suas
atividades e responsabilidades
29
Sócios, gerentes e outros colaboradores devem
mostrar que conhecem perfeitamente seu trabalho, e
serem responsáveis por ele.
13
Para manter o cliente, todas as pessoas envolvidas
na prestação de serviços devem conhecer
profundamente suas atividades e responsabilidades.
36
Atender o cliente no tempo é fundamental para o
escritório manter sua clientela.
39
Para manter o cliente é preciso atendê-lo no tempo
desejado, no padrão de qualidade esperado pelo
cliente.
1
Respostas das Alternativas / Mediana
2
3
4
5
143
105
4
7
0
55%
41%
2%
2%
0%
171
86
1
1
0
66%
34%
0%
0%
0%
161
96
0
2
0
63%
37%
0%
0%
0%
181
75
3
0
0
62%
37%
1%
0%
0%
183
68
2
6
0
71%
26%
1%
2%
0%
142
111
4
2
0
55%
43%
1%
1%
0%
123
129
3
4
0
47%
50%
1%
2%
0%
MD
1
1
1
1
1
1
2
Tabela 3 - assertivas derivadas das respostas da questão: como manter os clientes
A tabela 3 reflete o consenso da maioria dos
sócios dos escritórios de Contabilidade pesquisados, e envolve: atender clientes no prazo e no padrão de qualidade é muito importante para manter
e deixá-los satisfeitos com a prestação de serviços.
Pode-se constatar essa afirmação em duas assertivas:
na 34, na qual 96% dos respondentes concordam
que a manutenção do cliente depende do serviço
prestado; já na assertiva 36, 98% dos respondentes
concordam que o tempo de atendimento é fundamental para manter a clientela. Quanto à qualidade,
assertiva 39, 97% dos proprietários concordam que
para manter os clientes, o serviço deve ter qualidade
e também atender os prazos combinados.
A assertiva 4 revela que é preciso investir
em pessoas qualificadas, já que 100% dos sócios
dos escritórios de contabilidade pesquisados concordam que a qualidade é fundamental para que o
cliente fique satisfeito, em todos os níveis: do operacional até os diretores, sem esquecer a qualidade
dos demais colaboradores (parceiros). Na assertiva
29, 99% dos respondentes concordam que inclusive os colaboradores devem conhecer perfeitamente seu trabalho e serem responsáveis por ele.
71
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
Respostas para a dimensão: qualidade dos serviços prestados
Nº
14
38
5
21
Assertivas
O cliente quer serviços de qualidade, independente
dos honorários
O cliente paga mais quando o serviço atende suas
exigências
O serviço mal feito causa retrabalho, custos adicionais
e reflexos negativos junto ao cliente
O retrabalho impede que o tempo consumido seja
usado para atender melhor o próprio cliente afetado,
e impede o atendimento a outros clientes.
1
90
35%
39
15%
207
80%
108
42%
Respostas das Assertivas / Mediana
2
3
4
5
87
10
53
19
34%
4%
20%
7%
91
35
80
14
35%
14%
31%
5%
51
0
0
1
20%
0%
0%
0%
135
8
5
3
52%
3%
2%
1%
MD
2
2
1
2
Tabela 4 - assertivas derivadas das respostas da questão: qualidade dos serviços prestados
Na análise das assertivas que envolvem qualidade dos serviços, mostradas na tabela 4, verifica-se
que dar importância à qualidade dos serviços prestados é uma prioridade dos sócios dos escritórios
pesquisados. Todavia, quando mencionado o valor
dos serviços a ser cobrado dos clientes, observa-se
se que este ponto ainda não é bem trabalhado pelos
sócios dos escritórios de contabilidade pesquisados.
Os dados obtidos revelam que a relação
custo x benefício precisa ser mais bem tratada,
e que ainda não o é talvez por falta de habilidade dos sócios dos escritórios pesquisados em
lidar com esta questão, pelo serviço contábil não
ser adequadamente reconhecido ou pela ausência de valores mínimos a serem praticados, que
poderiam ser sugeridos pelos órgãos de classe, a exemplo do que faz a OAB. Outro ponto
identificado pelos respondentes é o de que não
prestar um bom serviço tem reflexos ruins na
relação com os clientes.
Respostas para a dimensão: serviços prestados pelos escritórios de contabilidade
Nº
12
31
23
46
26
15
37
24
47
19
Assertivas
O escritório oferece os serviços de contabilidade,
fiscal e folha de pagamento.
Os serviços oferecidos pelos escritórios são:
auditoria de balanço e auditorias especiais.
Um cliente de contabilidade não se tornará um
cliente de auditoria.
O cliente de auditoria ou de consultoria poderá se
tornar um cliente de contabilidade.
Geralmente prestamos serviços de consultoria
financeira e econômica aos nossos clientes.
Dentre os vários tipos de consultoria, a de gestão
geralmente não é solicitada pelos clientes.
Os clientes que contratam serviços contábeis pedem
serviços adicionais, mas acham que está no preço
cobrado pelos serviços contábeis.
Quando vendemos nossos serviços contábeis, não
nos preocupamos em oferecer outros serviços, pelos
quais preferimos cobrar quando solicitado.
A oferta dos serviços não deveria se limitar à
Contabilidade, o escritório deveria oferecer
diferentes opções e preços.
Oferecer vários pacotes de serviços com definição
clara de custo e das atividades a serem realizadas
atenderia os diferentes tipos de clientes.
1
164
63%
10
4%
21
8%
37
14%
13
5%
41
16%
100
Respostas das Assertivas / Mediana
2
3
4
5
80
5
9
1
31%
2%
3%
0%
69
53
93
34
27%
20%
36%
13%
113
45
67
13
44%
17%
26%
5%
130
52
33
7
50%
20%
13%
3%
101
47
82
16
39%
18%
32%
6%
147
29
37
5
57%
11%
14%
2%
131
7
20
1
39%
51%
3%
8%
0%
23
93
25
103
15
10%
36%
10%
40%
6%
3
28
19
148
61
1%
11%
7%
57%
24%
78
164
10
6
1
30%
63%
4%
2%
0%
MD
1
3
2
2
3
2
2
3
4
2
Tabela 5 - assertivas referentes aos serviços prestados pelos escritórios de contabilidade
72
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
Este grupo foi criado para analisar quais
tipos e qual extensão e complexidade de serviços
os escritórios estariam habilitados a prestar. A
distinção de tamanho de escritórios e, principalmente, quais serviços prestam, é muito importante, uma vez que para ter o serviço valorizado é preciso ir além da prestação pura do
serviço contábil, e relembrar que um objetivo
relevante da Contabilidade é fornecer informações para que os gestores das empresas tomem
decisões em bases sólidas.
Pelas respostas obtidas, os escritórios
pesquisados fornecem os serviços tradicionais
de contabilidade, fiscal e folha de pagamento.
Poucos respondentes afirmaram prestar serviços de assessoria e / ou consultoria econômica e financeira, e quando se fala em serviço de
auditoria (assertiva 31) é quase inexistente a sua
prestação, uma vez que 69% dos respondentes
não oferecem esse serviço. A não definição de
um contrato justo e bem redigido também causa problemas para os proprietários, pois muitas vezes o cliente mal informado dos serviços
prestados exige pelo que não paga (assertiva 37),
talvez por não perceber as exigências que cercam
a prestação dos serviços contábeis. Neste caso,
uma alternativa seria a discriminação dos serviços por meio de carta-proposta ou contrato.
Respostas para a dimensão: serviços prestados pelos escritórios de contabilidade
Nº
25
22
40
42
Assertivas
De maneira geral, os escritórios não conseguem
contratar e reter pessoas competentes
O investimento em treinamento e capacitação de
pessoal para os escritórios nem sempre é vantajoso,
pois a rotatividade de pessoal é alta.
Ter funcionários muito jovens no escritório dificulta
manter um quadro estável de bons serviços, pois os
jovens querem crescer rápido.
Manter uma equipe estável permite treiná-la e
capacitá-la para que o escritório preste bons serviços
aos clientes.
1
17
7%
59
Respostas das Assertivas / Mediana
2
3
4
5
113
28
80
21
44%
11%
31%
8%
124
16
53
7
23%
48%
6%
20%
3%
15
73
72
87
12
6%
28%
28%
34%
5%
132
122
5
0
0
51%
47%
2%
0%
0%
143
55%
123
47%
37
14%
62
24%
28
11%
53
20%
5
2%
8
3%
80
31%
2
1%
1
0%
0
0%
44
O escritório mantém convênios e parcerias com
outras empresas na prestação de outros serviços.
11
È grande o uso dos serviços de empresas conveniadas
ou parcerias na prestação de outros serviços
46
18%
13
5%
28
O escritório acompanha e se atualiza sobre as
mudanças na legislação.
176
68%
MD
2
2
3
1
2
2
1
Tabela 6 - assertivas derivadas das respostas da questão: A importância das pessoas nos escritórios de
contabilidade
De maneira geral, os respondentes reconhecem a importância das pessoas no seu negócio.
Porém pela resposta da assertiva 25, percebe-se que
ainda não se encontrou a fórmula para reter pessoas
competentes. Prova disso é que 51% dos respondentes afirmam essa dificuldade, talvez por esta razão é
que os sócios dos escritórios pesquisados não acreditam que seja vantajoso investir no treinamento de
pessoas. Isso leva a uma contradição, pois se as pessoas são importantes e a qualidade é um fator deci-
sivo para o negócio, não investir em treinamento é
ir pela contra-mão do mundo competitivo.
A falta de integração e de participação
pode levar os sócios a darem este tipo de resposta, pois se sua atuação nos órgãos de classe fosse
mais efetiva, isso ajudaria a encaminhar as pessoas a treinamentos mais econômicos, tais como os
programas instituídos pelos Conselhos Regionais
e pelo SESCON, o que poderia trazer aperfeiçoamento e inovação técnica e profissional.
73
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
Respostas para a dimensão: problemas nos escritórios de contabilidade
Nº
35
Assertivas
Na maioria das vezes, um cliente perdido não
significa mau atendimento pelo escritório.
1
O esforço para manter os clientes independe do
serviço que o escritório oferece.
10
O corpo-a-corpo dos sócios e dos gerentes do
escritório, marcando presença junto aos clientes,
responde aos seus anseios e necessidades.
2
A má prestação de serviços tem sido a causa da perda
de clientes dos escritórios.
8
A maioria dos clientes que o escritório perdeu foi
por insatisfação com os serviços prestados.
20
A maioria dos clientes que perdemos foram empresas
que fecharam ou se mudaram.
6
Os clientes interferem na execução e no resultado
final dos serviços prestados.
9
A perda de clientes afeta o andamento das atividades
do escritório.
17
O escritório assumiu financeiramente as infrações
causadas aos clientes nos últimos 5 anos.
1
Respostas nas Alternativas / Mediana
2
3
4
5
85
127
9
36
2
33%
49%
3%
36%
1%
112
65
2
41
39
43%
25%
1%
16%
15%
3
42
53
131
30
1%
16%
20%
51%
12%
72
117
11
45
14
28%
45%
4%
17%
5%
13
69
23
105
49
5%
27%
9%
41%
19%
51
126
34
43
5
20%
49%
13%
17%
2%
28
117
24
70
20
11%
45%
9%
27%
8%
39
157
29
30
4
15%
61%
11%
12%
2%
76
129
19
27
8
29%
50%
7%
10%
3%
MD
2
2
3
2
4
2
2
2
2
Tabela 7 - assertivas derivadas das respostas da questão: problemas no escritório de contabilidade
Esse grupo é de difícil entendimento,
pois existe inconsistência nas respostas: na resposta à assertiva 2, 73% dos sócios pesquisados
afirmam que a má prestação de serviços tem sido
a causa da perda dos clientes; entretanto, na
questão 8, apenas 32% responderam que perderam clientes por insatisfação com os serviços
prestados. Outra inconsistência nas respostas
aparece na questão 35, na qual 82% dos sócios
afirmam que na maioria das vezes um cliente
perdido não significa mau atendimento.
Outra assertiva a ser estudada é a 35, na
qual 78% dos sócios entrevistados afirmaram
que o esforço de manter os clientes independe
dos serviços prestados. Ao se analisar esta resposta juntamente com as respostas sobre a qualidade nos serviços, parece também não ter havido coerência na resposta obtida.
Um outro problema para os proprietários de escritórios pesquisados é a dependência para com os clientes. As assertivas 6, 9 e
17 demonstram isso claramente, pois 56% dos
respondentes afirmaram que os clientes interferem na execução do trabalho, e 76 % responderam que perder clientes pode afetar o andamento do seu negócio. As multas fiscais também
interferem no bom andamento do escritório,
pois 79% dos respondentes informaram terem
arcado com multas aplicadas aos clientes.Uma
alternativa seria a contratação de seguros de responsabilidade civil, que poderiam minimizar
tais impactos.
4 Considerações finais
Esta pesquisa procurou identificar e
analisar a maneira como os escritórios de contabilidade no Estado de São Paulo usam – ou
não – as ferramentas de Marketing. Foi preciso melhor compreender a realidade dos escritórios, a importância das pessoas neste tipo de
organização, a necessidade e os impactos que os
recursos humanos, materiais e tecnológicos têm
74
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
na prestação dos serviços, e também a amplitude
dos serviços contábeis atualmente prestados.
Durante sua realização, verificou-se a escassez pesquisas no Brasil sobre o tema, fato que
não ocorre no exterior. A localização e a análise
das pesquisas realizadas em outros países permitiu oferecer referenciais que podem ser usados
pelos escritórios de contabilidade brasileiros.
Outro fato relevante foi o apoio institucional
do SESCON-SP para a realização da pesquisa
de campo junto aos seus associados. Este apoio
foi decisivo para melhor conhecer a realidade dos escritórios pesquisados, e para obter os
dados que permitiram o tratamento estatístico
usado.
Conforme mencionado no resumo, os
resultados obtidos revelaram que o uso dos instrumentos de Marketing é intuitivo e embrionário no setor. Apesar de a pesquisa ter revelado
que os sócios dos escritórios de contabilidade
não conhecem de forma mais explícita as ferramentas de Marketing, verificou-se que algumas
são usadas, o que se traduz em algumas práticas
evidenciadas pelos dados colhidos e analisados.
Um exemplo da afirmação anterior, é a
preocupação com as pessoas que trabalham nos
escritórios. Apesar de a alta rotatividade ser vista
como um problema, e da dúvida sobre se oferecer treinamento para empregados nesta condição seria vantajoso para o sucesso dos escritórios, os dados obtidos permitem inferir que os
sócios dos escritórios entendem que ter pessoas
qualificadas é um elemento relevante na prestação dos serviços contábeis.
Há também uma preocupação com a
qualidade nos serviços prestados para os clientes. Além de permitir maior e melhor visibilidade para os escritórios, um serviço adequadamente prestado pode contribuir para o sucesso
do “boca a boca”, para a captação de maior
número de clientes, e para uma maior lucratividade e rentabilidade. Apesar de haver uma
preocupação em evitar o retrabalho, a qualidade
ainda não é claramente percebida como um instrumento de Marketing.
Do ponto de vista da maior exploração
do mercado e da oferta de produtos, observouse que muitos escritórios oferecem o “cardápio
tradicional” de serviços contábeis: os serviços
básicos de contabilidade, fiscais e de pessoal.
Aqui é preciso mencionar que os sócios dos escritórios poderiam estreitar o relacionamento
com seus clientes e analisar melhor suas realidades, para então lhes oferecer outros serviços,
tais como os listados no item “áreas a serem exploradas”, do quadro 2.
Da mesma forma que durante sua realização foi possível obter elementos para responder
à questão de pesquisa formulada e para atingir
os objetivos propostos, a execução da pesquisa
permitiu identificar outros aspectos que poderão ser objeto maior profundidade analítica,
em futuras pesquisas. Algumas sugestões são a
seguir apresentadas.
Uma sugestão para pesquisas é verificar,
no ambiente dos cursos de Ciências Contábeis,
qual é a percepção dos estudantes sobre os escritórios de contabilidade, e se para eles esta seria
uma alternativa viável de atuação profissional.
Neste caso, uma justificativa seria a diminuição dos empregos ocorrida em todas as áreas de
atuação profissional ao longo dos anos. Outra
justificativa seria dotar os estudantes de Ciências Contábeis de uma atitude empreendedora,
e permitir que eles vejam a possibilidade de serem empresários contábeis.
Uma outra sugestão seria expandir esta
pesquisa para outras regiões do país, para se obter um mapeamento mais completo do mercado de trabalho para os empresários contábeis,
e de como os instrumentos de Marketing são
usados nas diversas regiões do Brasil. Aqui seria necessário o apoio de outros SESCON´s e da
FENACON – Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis. Os responsáveis por
esta pesquisa enviaram os resultados obtidos ao
SESCON-SP. Outra possibilidade seria estudar
como os clientes percebem a prestação dos serviços pelos escritórios de contabilidade.
75
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Ivam Ricardo Peleias / Danieli Cristina Ramos Hernandes / Mauro Neves Garcia / Dirceu da Silva
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
Marketing Contábil nos Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo
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Yorkshire, v. 25, n. 6, p. 37-54, 1991.
i O Diário do Comércio e Indústria de São
Paulo – DCI, publica a coluna Espaço SESCON, nas qual são informadas diversas ações
e atividades realizadas pelo SESCON-SP.
ii O escritório em questão, cuja razão social
não será aqui revelada, anuncia seus serviços
na Gazeta Mercantil.
iiiAlém da Estatística Descritiva, cálculo e análise da mediana, na pesquisa também foram
usadas a Análise Fatorial e a Análise das Diferenças. Por limitações para o artigo, optouse por apresentar a Estatística Descritiva.
PESTANA, M. H.; GAGEIRO, J. N. Análise de
dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. 2. ed. São Paulo: Sílabo, 2000.
ROXAS, M. et al. A preliminary evaluation of
professional accounting services: direct Marketing on the Internet. Journal of Services
Marketing, West Yorkshire, v. 14. n. 7, p. 595606, 2000.
www.sescon.org.br
Acesso em: 23 de abril de 2005.
Notas
SCARPIN, M. A. et al. Marketing: um instrumento para a valorização profissional.. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE, 16., 2000, Goiânia. Anais... Brasília: CFC, 2000. 1 CD-ROM.
WOLOSKY, H. W. Marketing of financial
planning services has some special wrinkles.
Practical Accountant, New York, v. 33, n. 12,
p. 50-54, Dec. 2000.
77
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.61-77, jan./abr. 2007
José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
Área Temática: Estratégia e Comportamento Organizacional
Integração entre Sistemas: Análise
das Abordagens Praticadas
pelas Corporações Brasileiras
José Osvaldo De Sordi
Doutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas- EAESP/FGV
Professor do Programa de Mestrado em Gestão de Negócios da Universidade Católica de Santos
[[email protected]]
Endereço: Universidade Católica de Santos - Av. Conselheiro Nébias, 300, Vila Nova, Santos - SP - Cep.: 11.015-002
Bernadete de Lourdes Marinho
Doutora em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP
Coordenadora do Curso de Graduação em Administração da FEA/USP
[[email protected]]
Endereço: Universidade de São Paulo - Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, São Paulo- SP Cep.: 05.508-900
Recebido em 11 de Agosto de 2006 / Aprovado em 23 de Fevereiro de 2007
Resumo
Há diversos fatores do ambiente de negócios
que justificam a crescente demanda das organizações por soluções para integração entre sistemas de informação (SI): aumento da diversidade e quantidade dos SI nas organizações, busca
de vantagens competitivas que requerem melhor
gestão da informação, exigências de órgãos reguladores por maior agilidade no trâmite de informações e a tendência por trabalhos organizados
de forma colaborativa, todos exigindo melhor
fluxo informacional entre as organizações. Acadêmicos, praticantes e provedores de recursos
de tecnologia da informação estão respondendo
a esta demanda através do desenvolvimento da
abordagem sistemática para integração entre SI a
qual envolve: técnicas, conceitos, profissionais,
ferramentas e metodologias específicas para tal.
A adoção desta abordagem resulta na criação de
um ambiente adequado à gestão das integrações
entre SI, denominado de camada de integração
entre SI. Este artigo apresenta uma pesquisa realizada com grandes corporações brasileiras so-
bre as atitudes e posicionamento gerencial destas
com relação ao tema integração entre SI.
Palavras-chave:
Integração entre sistemas. Ambiente de integração. Camada de integração.
Abstract
There are many factors of business environment
that justify the growing interest of organizations
for information systems (IS) integration solutions:
increase of IS diversity and quantity in the
organizations, search of competitive advantages that
demand better management of the information,
regulatory organs requiring more agility in the
communication channel, and the tendency for
works organized in a collaborative way, all of these
topics requiring better information flow between
organizations. Academics, practitioners and
suppliers of information technologies resources
are answering this demand through systematic
approach for information systems integration,
which involves specifics: techniques, concepts,
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
professional and tools. The adoption of systematic
approach results in the creation of an adequate
environment for management of IS integration,
named as IS integration layer. This article
presents a research carried out with big Brazilian
corporations about their management vision and
attitudes related to IS integration matter.
Key-words:
Information systems integration. Integration
environment. Integration layer.
1 A importância das integrações
entre sistemas de informação
para o ambiente de negócios
A proliferação de sistemas de informação
(SI) nas organizações ocorrida ao longo dos últimos anos e originada a partir do movimento de
substituição dos SI legados, como medida preventiva aos possíveis problemas com o “bug” do milênio, colaborou para identificação e divulgação dos
grandes desafios e esforços necessários para integração dos SI. Desde então, o tema integração entre sistemas tem recebido uma crescente atenção de
pesquisadores e praticantes e, mais recentemente,
começou a ser percebido como aspecto crítico ao
bom desempenho das organizações.
Muitos dos atuais desafios presenciados pelos administradores contemporâneos
têm como causa a falta de integração entre SI
ou mesmo o uso de soluções inadequadas de
integração. Administrativamente, os problemas acarretados pela falta ou inadequação das
integrações entre SI podem ser percebidos sob
diferentes pontos de vista, dependendo da área
de especialização e interesse do pesquisador. A
seguir, são descritos alguns dos problemas administrativos relacionados à integração entre SI
(CUMMINS, 2002):
• perda de competitividade em função de
ser incapaz de reduzir o tempo dos processos em decorrência de limitações das
integrações empregadas, por exemplo,
pelo uso de conexões assíncronas que
ocorrem através de transmissão de pacotes de dados em períodos de tempo préestabelecidos;
• restringe a capacidade da organização em
se habilitar como fornecedor ou parceiro estratégico de redes e ambientes colaborativos que exijam das entidades
participantes o domínio de modernas
tecnologias de integração;
• eleva custos e aumenta o risco de exposição a erros em decorrência do trabalho humano intensivo na re-digitação de
dados de uma base de dados ou SI para
outra base ou sistema;
• lentidão da organização em identificar
e tratar eventos do negócio possíveis de
serem percebidos pela comunicação de
ocorrências registradas em outros SI, limitando a capacidade de inovação e próatividade da empresa;
· dificulta a evolução e aprimoramento
dos processos de negócios em função de
se evitar a alteração das tradicionais integrações de sistemas existentes ao longo do processo, postura justificada pelos
altos custos e pelos receios de se gerar
novos problemas quando da alteração
destes meios legados de integração.
As organizações já compreendem o ambiente de integração entre SI como um componente crítico ao desempenho dos negócios.
Várias pesquisas demonstram isso: em 2000, Benamatti e Lederer analisaram os nove principais
desafios do gerenciamento das áreas de tecnologia da informação (TI). Entre estes, havia um
denominado “novas integrações”, descrito por
meio de quatro problemas: necessidade de criar
novas interfaces entre múltiplas tecnologias da
informação, necessidade de reescrever interfaces
já existentes, incompatibilidade entre múltiplas
TI e necessidade de customizar novas TI (BENAMATTI e LEDERER, 2000). Ao analisar as
listas de prioridades dos CIOs, publicadas anualmente pelos institutos de pesquisas na área de
TI, nota-se que nos últimos anos há referências a
projetos de integração entre SI. As organizações
mais sensíveis ao problema de integração entre
SI, que já se aprofundaram no entendimento do
problema e na busca de solução, declaram que a
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José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
missão principal de suas áreas de TI deslocou-se
da entrega de novos SI para integração dos sistemas já disponíveis (MEEHAN, 2002). Em
2002, a empresa de pesquisa IDC entrevistou
1.350 CIOs, 80% destes apontaram a integração
entre SI como elemento-chave ao atendimento
dos aspectos críticos do negócio (LAM, 2005).
Com freqüência cada vez maior, surgem
eventos nos ambientes de negócio e no tecnológico, que demandam das organizações soluções mais eficazes para integração dos seus SI. A
abordagem tradicional de integrar SI não é capaz de atender a esta demanda, tornando-se um
grande entrave à competitividade. Descrevemos,
nos parágrafos seguintes, alguns dos principais
eventos do ambiente de negócios que têm motivado a busca por métodos mais eficazes para
integração dos SI:
• Aumento da diversidade e quantidade
dos sistemas de informação nas organizações: vários fatores de procedência
técnica como também de negócios têm
proporcionado o crescimento e diversidade dos SI nas organizações: a) soluções
de SI especializados no atendimento de
cada necessidade; b) opção pela compra
de sistemas prontos, quando se desenvolvia sistemas sob medida, era muito
comum aumentar o escopo do novo sistema de forma a desativar também sistemas menores ou periféricos que apresentariam dificuldades de integração; e
c) fusões e aquisições de empresas que
consolidam grandes coleções de SI;
· Busca por vantagens competitivas que
implicam em melhor gestão da informação: as organizações promovem mudanças buscando tornarem-se mais competitivas, muitas vezes estas mudanças
implicam na melhor integração dos seus
SI internos (application to application
– A2A) como também no melhor relacionamento ou integração destes com
os demais SI externos (business to business – B2B), sistemas disponíveis junto a
clientes, parceiros, órgãos governamentais e demais entidades.
• Exigências de órgãos reguladores por
maior agilidade no trâmite das informações: órgãos reguladores, de diversos
segmentos de indústria, têm definido
procedimentos relacionados ao uso e
manuseio de informações, que impactam diretamente nos requisitos de integração dos SI das organizações;
• Aumento das entidades que necessitam
trocar informações com a organização
devido à tendência pelo trabalho organizado de forma intensiva: Bell e Kozlowski (2002) desenvolveram um esquema
que sintetiza as principais formas de organização e execução dos trabalhos: executado via pool de trabalho, seqüencial,
recíproco e colaborativo/intensivo. Estas
formas de organização do trabalho não
são excludentes, se aplicam a necessidades distintas e se compõem para atender
aos negócios da organização. Os fluxos
comerciais, implementados hoje pelas
soluções de TI para atender os ambientes colaborativos, tratam fluxos de trabalhos na sua grande maioria seqüencial e
alguns de características recíprocas.
2 A Pesquisa: Objeto, Objetivo
e Metodologia
Nas últimas décadas, as organizações têm
sistematicamente introduzido novos SI que objetivam auxiliar o desenvolvimento de suas atividades
operacionais e gerenciais. O histórico das diferentes demandas do negócio motivou a implementação de uma ampla diversidade de soluções de SI
que introduziu um conjunto bastante diversificado de recursos de TI nas organizações. Como isso,
as grandes organizações passaram a administrar os
problemas da diversidade tecnológica na quase totalidade dos principais componentes do ambiente computacional: arquitetura de processadores,
meios para armazenamento e gerenciamento de
dados, soluções de impressão, canais de comunicação, arquitetura de software, recursos para integração entre sistemas entre outros.
Embora cada um destes componentes tenha
forte integração e interdependência para geração
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
de resultados (entrega de serviços), sua evolução e
níveis de maturidade são bastante diferenciados.
A integração entre SI, por exemplo, está entre os
recursos computacionais que só recentemente foi
compreendido como um componente específico e
importante de ser gerenciado, ou seja, ter um ciclo
próprio de gestão assim como ocorre com os dados, com a rede de comunicação, com o desenvolvimento de software e tantos outros componentes
críticos do ambiente computacional.
Apenas no início deste século que a questão
da integração entre SI passou a ser compreendida
e considerada pela academia e pelos praticantes
(aqueles que estão atuando junto às organizações)
dentro de um contexto mais amplo e de forma estruturada. Posto isto, temos que o objeto de interesse da presente pesquisa sãos as práticas para
integração entre SI utilizadas pelas grandes organizações brasileiras, sendo o seu objetivo identificar
o nível de compreensão, valor atribuído e atitudes
gerenciais das grandes corporações brasileiras com
relação às atividades de integração entre SI.
A partir da declaração do objetivo da pesquisa, podemos classificá-la como sendo de natureza exploratória, de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, empregando procedimentos de
pesquisa bibliográfica e levantamento de dados em
campo (GIL, 1991). O questionário foi o instrumento primário para atividade de levantamento
de dados; composto por dez questões fechadas,
foi encaminhado ao principal executivo da área de
informática, o Chief Information Officer (CIO),
para uma amostra inicial de 50 empresas de grande
porte. Os critérios utilizados para seleção das organizações foram: (1) empresas citadas no ranking
das Maiores e Melhores organizações brasileiras
segundo a revista Exame; (2) empresas as quais os
pesquisadores tivessem algum contato direto ou
indireto com o CIO, ou seja, trabalhamos com
uma amostra de conveniência dos pesquisadores.
Cientes do pouco conhecimento e discussão do tema ambiente de integração, os pesquisadores desenvolveram um algoritmo bastante
criterioso para análise das respostas recebidas. Os
questionários com resposta conflitante ou incompleta, identificados pelo algoritmo, tiveram
seus problemas de preenchimento devidamente
analisados e documentados. Na seqüência, contatou-se os respondentes por meio de e-mails e
ligações telefônicas, objetivando resolver os problemas mais simples, como o não preenchimento
de alguma resposta ou mesmo o preenchimento
de forma inadequada. A revisão de qualidade dos
questionários resultou numa amostra final de 31
empresas respondentes, que foram efetivamente
tabulados e utilizados pela pesquisa.
3 O contexto Tecnológico
da Integração entre SI
nas Organizações
Para melhor evidenciar o desafio da integração de softwares, analisamos a seguir a evolução
histórica das soluções adotadas para integrar SI,
partindo das primeiras arquiteturas computacionais até se chegar à demanda atual. Os primeiros
SI processavam lotes de dados (sistemas batch),
funcionavam como um autômato finito, bastante
específico e limitado no seu escopo. Não apresentavam necessidade de integração com outros sistemas, demandavam apenas dados como insumos
para o seu processamento; estes geralmente eram
gerados a partir de pools de perfuração de cartões
e de digitação e eram disponibilizados na forma de
arquivo de entrada para o processamento.
Na seqüência, da evolução histórica dos
SI, surgiram os sistemas transacionais ou sistemas
on-line (on-line transaction processing), estes
eram desenvolvidos de forma a serem abrangentes
no atendimento de uma área ou função do negócio. Eram sistemas monolíticos, operando em
ambiente de processamento centralizado, com
um conjunto de programas bastante consistentes e encapsulados nas atividades do negócio. O
acionamento entre os programas de um mesmo
sistema ocorria com o programa solicitante executando uma chamada (call interface) ao programa a ser acionado, procedimento tecnicamente
conhecido como remote procedure call (RPC).
Esta chamada poderia inclusive transferir dados
para o programa solicitado.
A proliferação de sistemas OLTP e batch
nas organizações geraram a demanda para troca
de dados entre sistemas e entre organizações. A
solução mais empregada foi a troca de arquivos
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eletrônicos entre sistemas. A mesma tecnologia empregada no sistema batch, só que agora,
ao invés dos dados serem gerados num pool de
digitação, estes eram gerados por usuários finais
por meio de programas de entrada e validação
de dados dos sistemas OLTP. Com isso, cresceu
a demanda por troca de informações entre SI,
que ocorriam basicamente por meio da troca de
arquivos, empregando os serviços de eletronic
data interchange (EDI). Historicamente, a solução EDI foi e continua sendo a solução mais
empregada para troca de grandes volumes de
dados digitais entre empresas (B2B).
O surgimento do computador pessoal
(PC) no início da década de 80 propiciou os
recursos necessários ao desenvolvimento da plataforma cliente-servidor. Esta nova arquitetura computacional proporcionou a proliferação
do uso de SI em áreas até então não suportadas
pelos caros e complexos ambientes computacionais centralizados de grande porte (mainframe),
como também levou os SI às empresas menores,
que não empregavam os recursos de TI devido
ao alto custo das plataformas centralizadas.
Embora os sistemas gerenciadores de banco de dados já fossem utilizados desde a década de
80, foi na década de 90 que ocorreu sua implementação em larga escala no ambiente de negócios. A replicação do banco de dados e o acesso
direto a uma mesma base de dados passaram a ser
mecanismos muito empregados para integração
entre SI. Atualmente, os sistemas corporativos, como o de gestão da cadeia de fornecedores
(SCM), de gestão integrada (ERP) ou de gestão
de relacionamento com clientes (CRM), entre
outros, realizam a integração entre seus diversos
subsistemas e programas utilizando-se do banco de dados e principalmente conexões pontuais desenvolvidas para conexões específicas entre
dois sistemas (point to point conections) .
O aumento da capilaridade dos SI nos
processos de negócio, que havia começado com
o surgimento da plataforma cliente-servidor, expandiu-se ainda mais com o surgimento da Internet aplicada aos negócios através das soluções de
web applications. Clientes e fornecedores de diferentes portes passaram a ter maior participação em
termos de colaborar e complementar as transações
digitais. Aspectos interessantes do problema da
integração entre SI e seu impacto nos processos de
negócios surgiram neste momento:
• a inviabilidade de se assegurar a execução simultânea de dois programas que
deviam se comunicar em tempo real,
por exemplo, via uma chamada call interface. Este tipo de integração requer
a disponibilidade operacional das duas
plataformas tecnológicas;
• a necessidade de se trocar informações
e tratar os eventos de negócio à medida
que eles acontecem, sem represá-los em
períodos de tempo para posterior execução através da troca de arquivos;
• o vínculo técnico entre SI deveria ser o
mais flexível possível, permitindo assim
atender o dinamismo do rearranjo de integração entre eles. Fazer chamadas diretas entre programas, ou seja, por meio de
linha de comando interna no programa,
cria uma dependência mútua entre eles,
fazendo com que o descarte de um sistema implique na alteração dos softwares de
todos os demais SI que o acionem.
Para atender a estas demandas, foram desenvolvidas novas tecnologias de integração como
as baseadas em mensagens e em componentes. A
tecnologia de integração via mensagens emprega
mecanismos de fila de mensagens (message queue)
para comunicação entre sistemas. Nesta fila, todos
os SI que são seus clientes, que se subscrevem ao
serviço de fila, podem colocar ou retirar pacotes
de informação, endereçados a qualquer SI subscrito no serviço. Assim, os sistemas de mensageria habilitam a comunicação assíncrona, desobrigando a conexão em tempo real entre aplicações
distribuídas. Este método de integração habilita a
integração entre organizações, onde a disponibilidade das aplicações não pode ser garantida, como
também não cria dependência entre códigos fontes dos sistemas que se comunicam. Isto se deve ao
fato da abordagem de “publicação e contratação”
não requerer que os SI tenham que conhecer e
mencionar em seu código fonte qualquer especificidade das demais aplicações.
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
Outra abordagem tecnológica recente e
promissora para integração entre sistemas ocorre através do desenvolvimento de componentes
de integração. Componentes são abstrações
lógicas que representam programas ou base de
dados, estando disponíveis para serem acionados por qualquer outro sistema que queira se
comunicar com o programa ou base de dados
que eles representem. Quando da alteração ou
mesmo da substituição do programa ou base de
dados que está disponível via componente, não
há ocorrência de trabalhos adicionais junto aos
demais sistemas que os acessam; o único ponto a ser alterado é o próprio componente que
é o ponto de intersecção entre o programa ou
base de dados nova ou alterada. Os ambientes
de integração via mensagem também empregam
recursos de componentes para que os SI se comuniquem com a camada de mensagens.
Como o aspecto central da pesquisa é a integração entre SI, apresenta-se no Quadro 1 um
resumo dos recursos utilizados para integração
entre SI, classificados a partir de três principais
mecanismos: chamadas ou call interface, mensagens ou messaging e transferência entre arquivos
ou data acess / file transfer (BUTLER, 1999).
Não há uma técnica de integração que possa ser
considerada a melhor para uma organização,
cada uma delas possui vantagens e desvantagens.
O que é viável é a seleção da técnica mais apro-
priada para cada nova necessidade de integração.
As aplicações podem integrar-se, empregando
várias técnicas de integração, de forma a obter
vantagens daquela que melhor atenda a cada nova
demanda. Assim, a camada de integração entre
SI pode ser entendida como um ambiente híbrido composto por diferentes técnicas de integração (HOHPE e WOOLF, 2003).
A diversidade dos recursos tecnológicos
para integração entre SI ocorre, principalmente, por termos diversos locais ou pontos do ambiente computacional onde podem ocorrer as
ações de integração. Esta complexidade requer
pessoas, ferramentas e procedimentos específicos, para composição de um ambiente propício
à gestão das integrações. Este ambiente começou a ser delineado nos últimos 4 anos, sendo
hoje uma realidade nas organizações de vanguarda, sobretudo naquelas que atuam em ambientes altamente colaborativos, com forte envolvimento de fornecedores, clientes e demais
interlocutores com troca intensiva de dados e
informações.
Para evidenciar a evolução que representa a formação de ambientes específicos
para integração entre SI, descrevemos a seguir
a abordagem tradicional e a abordagem sistemática de integrar SI a qual é praticada nos
ambientes específicos para integração entre SI
(GARTNER, 2003).
Quadro 1 – Tecnologias que habilitam a integração entre SI
MENSAGENS (messaging) - aplicações são integradas pelo envio e recebimento de mensagens, utilizando tecnologias que empregam mecanismos de fila de mensagens (message queue). Exemplos de tecnologias que operam messaging: sistemas de e-mail e produtos para workgroup, como Microsoft Outlook e Lotus Notes; produtos específicos
para integração entre sistemas via mensagem, como IBM MQ Series, Tibco, Vitria e Microsoft MQMS.
TRANSFERÊNCIA ENTRE ARQUIVOS OU COMPARTILHAMENTO DE DADOS (data acess / file transfer) neste mecanismo, as aplicações são integradas via acesso direto as suas bases de dados ou via transferência de arquivos.
Exemplos de técnicas para data acess ou file transfer: extração da base de dados fonte, transferência de arquivos e
carga de dados em batch; leitura e gravação direta na base de dados, utilizando chamadas à base de dados ou gateways
(ODBC ou EDA/SQL); replicação de base de dados.
CHAMADAS (call interface) - aplicações provêem interface possível de ser chamada, denominada API (application
programmable interface). Exemplos de tecnologias que operam call interfaces: interfaces de processamento transacional como CICS da IBM e o Tuxedo da BEA; interfaces para aplicações do tipo “pacotes”, como é o caso da BAPI
para o SAP R/3; interfaces baseadas em objetos CORBA ou COM ou JavaBeans.
Fonte: autores
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Na abordagem tradicional, o trabalho
de integração entre SI é realizado pontualmente, como uma fase do projeto de desenvolvimento e implementação de um novo SI. Cada
nova necessidade de integração é considerada como um problema local e único (RUH,
2001). O analista de sistemas responsável pelo
novo SI analisa, especifica e gerencia o desenvolvimento das integrações requeridas. Estas
são entregues, na maioria das vezes, na forma
de software que são adicionados à nova aplicação e que estabelecem um forte vínculo com
a outra ponta da integração - sistemas legados
– os quais passam a estar integrados com a nova
aplicação. Isto gera uma situação indesejada,
que se denomina “perpetuação do legado”.
Cada novo sistema que referencia diretamente um antigo sistema torna mais custoso, trabalhoso e arriscado o processo de substituição
deste sistema legado, isto devido ao impacto
em todos os demais sistemas, inclusive os mais
recentes (LINTHICUM, 2001). Puschmann
e Alt (2001) apresentaram uma fórmula para
estimar a demanda de interfaces entre SI para
um determinado ambiente computacional.
Considerando N o número de SI e I o número
total de interfaces, tem-se a seguinte equação:
I = N * (N-1). Esta fórmula retrata o cenário
mais crítico, onde todos os sistemas integramse com todos os demais.
Na abordagem sistemática de integrar sistemas, os arquitetos de integração, da
equipe de integração, estudam a demanda de
integração trazida pela equipe de projeto dos
novos SI, utilizando ferramentas e técnicas
apropriadas para desenvolver o elemento de
integração mais apropriado. A solução pode
ser, por exemplo, a conexão do novo sistema a uma camada de mensageria, a criação de
componentes a serem acionados pelos demais
sistemas que necessitem acessar os dados do
novo sistema, entre outras alternativas possíveis de serem adotadas pela equipe de integração (DE SORDI, 2005). A análise das
demandas tecnológicas e de negócio, possíveis
de serem atendidas pelos modernos ambientes de integração, indica alguns dos principais
benefícios da abordagem sistemática para integração entre SI:
• a integração dos SI reduz o re-trabalho e favorece a automação de atividades. Re-digitação de dados, de um SI
para outro, é uma das atividades que
é eliminada quando da integração entre sistemas. Ambos passam a acessar
o mesmo dado ou transportam dados
de um sistema para outro sem esforços
humanos;
• o recebimento de dados num determinado SI pode representar um evento de
negócio, a passagem direta e integra de
um sistema para outro, amplia a oportunidade de se identificar e monitorar eventos de negócio. Quanto maior
a abrangência dos eventos de negócio
tratados, menores serão as exceções a
serem tratadas pelos funcionários bem
como os custos para operação do processo;
• cresce a capacidade da empresa em adaptar seus processos de negócios, que, tradicionalmente, envolvem grande números de SI, tanto internos quanto externos
à empresa. O ambiente de integração
permite alterar de forma rápida, segura
e com menores custos, os SI utilizados
para implementação de um novo processo de negócio;
• torna viável a expansão da empresa de
forma consistente, por exemplo, ao
permitir a empresa consolidar amplos
conjuntos de SI decorrentes de fusões e
aquisições de outras empresas;
• viabiliza novos modelos de negócios, pela
facilidade de incorporar e integrar novos SI, por exemplo, facilitando a integração dos diversos softwares necessários
à empresa que deseja implementar uma
estratégica de gestão de relacionamento;
• maior agilidade e capacidade da empresa
em atender as regulamentações do mercado, evitando expor a empresa à penalidades pela não observância de novas
regulamentações;
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
• habilita a empresa para gestão de seus
processos de negócio, ao prover-lhe facilidades para medição, automação, revisão, planejamento e evolução do processo, por intermédio da integração dos
diversos softwares utilizados para operação e gerenciamento do processo.
• 23% das empresas (7 de 31) informaram
dedicar-se somente a A2A;
• 3% das empresas (1 de 31) informaram
dedicar-se somente a B2B;
• 16% das empresas (5 de 31) informaram
não dedicar-se à integração, seja interna
ou externa.
4 Dados Levantados sobre a
Abordagem para Integração
entre S.I. nas Corporações
Iniciamos a análise dos dados levantados
pela pesquisa de campo, interpretando algumas
questões que foram inseridas com o objetivo de
identificar a importância atribuída pelas organizações brasileiras aos ambientes ou camadas
de integração entre SI. Se as organizações reconhecem o valor estratégico na eficaz gestão dos
recursos de integração ou se estes são entendidos como um conjunto de componentes e atividades meramente operacionais.
As quantidades de homens-hora identificadas para os profissionais envolvidas com as
atividades de integração foram convertidas em
números de profissionais com dedicação em
tempo integral, resultando em aproximadamente 4,2 funcionários dedicados às atividades
de A2A e 1,6 funcionários para as atividades de
B2B. Os cinco profissionais identificados com
maior tempo de dedicação às atividades de A2A
e B2B estão descritos na Tabela 1. Quanto às atividades desempenhadas por estes profissionais,
a pesquisa apontou que 35% do tempo destes é
dedicado à manutenção das integrações já existentes e 65% para o desenvolvimento de novas
integrações.
As horas de usuários-finais relatadas em
atividades de integração entre SI devem ser muito superiores às apontadas, em função do CIO,
respondente da pesquisa, ter maior visibilidade
dos procedimentos e operações técnicas de integração que ocorrem na sua área. Atividades que
ocorrem nas áreas usuárias, como re-digitação
de dados de um sistema para outro, são menos
perceptíveis para o CIO. Este viés não interfere
na análise do método de integração praticado
pelas organizações brasileiras, se sistemático ou
tradicional, uma vez que esta análise se concentra nas especialidades dos profissionais das áreas
técnicas de TI; porém, para os pesquisadores
que forem se concentrar na análise de custos das
integrações, é fundamental identificar também
os esforços de integração realizados nas áreas
usuárias.
4.1 Profissionais e estrutura organizacional
dedicados à integração entre SI
A pesquisa questionou os CIOs quanto
aos recursos humanos da organização e de terceiros envolvidos nas atividades de operação,
manutenção e desenvolvimento de integrações
entre SI. Solicitou-se que se informassem: os
nomes dos profissionais especializados envolvidos, quantidade destes profissionais, a área
ou departamento destes, bem como o total de
horas mensais de dedicação às atividades de
integração. Estes dados foram discriminados
individualmente para as atividades de integração de aplicações internas (A2A), assim
como para as atividades de integração externas (B2B).
A primeira análise feita a partir destes
dados foi identificar a percepção das empresas
quanto aos seus esforços de integração, se limitados aos SI da própria empresa (A2A) ou se
também destes com relação aos SI externos à organização (B2B). Os resultados obtidos foram:
• 58% das empresas (18 de 31 empresas)
informaram dedicar-se tanto a A2A
quanto a B2B;
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Tabela 1 – Distribuição do tempo de atividades relativas à integração entre SI segundo os profissionais
envolvidos
INTEGRAÇÕES INTERNAS - A2A
INTEGRAÇÕES EXTERNAS - B2B
62,0 % - analista de sistemas
39,0 % - analista de sistemas
16,0 % - analista de negócios
10,5 % - arquiteto de integração
7,0 % - usuário
10,5 % - consultor
5,5 % - programador
9,0 % - analista de negócios
1,5 % - consultor
6,5 % - programador
8,0 % - outros profissionais
24,5 % - outros profissionais
100 % - do tempo empregado em atividades A2A
100 % - do tempo empregado em atividades B2B
Fonte: autores
Estes profissionais que atuam em atividades de integração entre SI estão lotados em
divisões ou áreas diversas de TI. Estas não são
dedicadas à integração entre SI e foram declaradas em sua grande maioria como: área de TI,
gerência de TI, desenvolvimento de sistemas, ebusiness e administração de dados. Alguns nomes de áreas operacionais e gerenciais também
foram citados: vendas, financeiro, logística,
recursos humanos, entre outras. Estes nomes
surgiram em função da citação a analistas de negócios e usuários finais que cooperam com as
atividades de integração.
Quando questionados sobre a estrutura
organizacional das suas empresas, se a mesma
declara e evidencia os esforços de integração
de SI, seja como um departamento dentro da
área de TI ou mesmo fora desta, constituída por
profissionais especializados em integração e desempenhando o papel de arquiteto/engenheiro
de integração, a resposta obtida foi: 65% dos
CIOs (20 dos 31 respondentes) afirmaram não
ter uma área específica para gerir o ambiente de
integração de SI. Os nomes dos profissionais
envolvidos nas atividades de integração e, principalmente os nomes de departamentos e áreas
onde estes estão lotados, nos permite concluir
que as áreas específicas de integração declarada
pelos demais 35% dos CIOs (11 dos 31 respondentes) respondentes são, em sua grande maioria, áreas matriciais, não declaradas formalmente no organograma das empresas, e compostas
por profissionais lotados em outras áreas.
4.2 Tecnologias de integração utilizadas
pelas organizações
A pesquisa levantou os dados relativos às
tecnologias aplicadas nas organizações para integrar SI, tanto as empregadas para a integração
interna (A2A) quanto externa (B2B). Solicitou-se também que os CIOs informassem sua
percepção sobre o futuro destas tecnologias, indicando quais eles acreditam ter alto potencial
de aplicação futura, bem como aquelas com baixo potencial. A opinião sobre estas perspectivas
tecnológicas também foram solicitadas distintivamente para o ambiente de integração interno
e externo. A tabulação destes dados está descrita
na Tabela 2.
4.3 Atitudes predominantes nas
organizações quanto à integração
Uma das questões apresentadas solicitava a descrição do histórico de citações e
priorização de projetos relacionados à integração entre SI em atividades de planejamento
da empresa, mais especificamente nos planos
estratégicos de TI e nos planos de negócios da
organização. 60% dos entrevistados (19 dos
31 CIOs respondentes) afirmaram que a organização planejou algum projeto pertinente
e relacionado ao tema camada ou ambiente de
integração. Para estes casos, onde se afirmou
ter algum projeto alvo de planejamento, solicitou-se a descrição do mesmo; a Tabela 3
apresenta um sumário da natureza dos projetos descritos.
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
Tabela 2 – Recursos de TI empregados para integrar sistemas de informação nas organizações e a percepção dos CIOs quanto ao futuro destas tecnologias
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO
APLICADAS À INTEGRAÇÃO
ENTRESISTEMAS DE INFORMAÇÃO
% das organizações
que utilizam tais
TIUSO ATUAL
A-2-A
B-2-B
Tradicional (flat file, TXT, ...)
97%
Eletronic data interchange (EDI)
31%
Extensible mark-up language (XML)
B - BANCO DE DADOS
percepção dos CIOs quanto à aplicação
futura destas tecnologias
POTENCIAL FUTURO
A-2-A
B-2-B
Alto
Baixo
Alto
Baixo
79%
14%
50%
7%
54%
75%
7%
61%
26%
42%
31%
50%
43%
7%
48%
12%
Replicação do banco de dados
66%
38%
29%
32%
22%
42%
compartilhamento do banco de dados
C - CHAMADA A PROGRAMAS
86%
38%
50%
11%
15%
31%
Remote procedure call / call interface
62%
13%
7%
46%
0%
58%
Componentes e adaptadores para conexão
38%
33%
4%
29%
0%
27%
Web services (XML, SOAP)
D - SISTEMA DE MENSAGEM
34%
41%
29%
7%
41%
8%
Arquitetura barramento / message bus (CORBA)
10%
4%
4%
50%
7%
42%
Arquitetura hub-and-spoke com message broker
21%
21%
21%
32%
19%
38%
A - TROCA DE ARQUIVOS
Fonte: autores
Há diferentes classificações para as
ações de integração, desde as mais elaboradas que trabalham com várias camadas, como
a apresentada pelo Butler Group (1999): camada de transporte, de transação, de transformação, de tempo e de processo, até interpretações mais simplistas como a apresentada por
Binstock (2004): camada de infra-estrutura,
camada de dados e camada de processos. As soluções de integração podem ser desde soluções
bastante abrangentes, que tratam de aspectos
pertinentes às diferentes camadas, até soluções
pontuais, voltadas para uma camada específica. As soluções indicadas pelos CIOs brasileiros como objeto de planejamento corporativo
são todas bastante específicas, por exemplo, as
soluções C e H citadas na Tabela 3, tratam especificamente da camada de infra-estrutura ou
transporte; a solução F, voltada para camada de
processo e a solução G, voltada para camada de
transformação ou de dados.
Entre as ações relacionadas à integração de
SI, apontadas pelos CIOs como objeto de planejamento, não se identificou nenhuma iniciativa
organizacional abrangente no sentido de realizar
uma gestão efetiva do ambiente de integração dos
SI. Os projetos descritos na Tabela 3 não demonstram uma preocupação perene com os objetos,
componentes, metodologias, técnicas, ferramentas, profissionais e demais recursos importantes
para gestão da camada ou ambiente de integração
através de uma abordagem sistemática. Resumindo, um número limitado de organizações, 60%
das pesquisadas, ou seja, 19 das 31 empresas, consideraram algum projeto de integração entre SI
em seus planejamentos; projetos estes com escopo
bastante distinto e limitado com relação à abordagem sistemática de se integrar SI.
87
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José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
Tabela 3 – Projetos relacionados à camada ou ambiente de integração que constaram de alguma atividade de planejamento
total de empresas
que citaram o projeto
PROJETOS CITADOS PELOS CIOs
A
compra e implementação de sistema de informação integrado (ERP, CRM, SCM, ...)
permitindo integração via banco de dados
10
B
construção de mecanismos para integração entre dois importantes sistemas de informação
da organização
5
C
definição de estratégia e montagem de plataforma padrão para integração dos sistemas de
informação (projeto EAI)
3
D integração de fornecedores da empresa (projeto B2B)
3
E
montagem de base de dados corporativa
3
F
redesenho de processo de negócio considerando inclusive os aspectos tecnológicos, entre
eles e a integração entre sistemas (projeto BPR)
2
G
sistema de informação gerencial atendo-se aos aspectos de transformação e formatação da
informação (projeto de análise multi-dimensional, EIS, ...)
2
H
definição de protocolo de comunicação entre dois ambientes computacionais objetivando
compor uma rede VPN via Internet
2
Fonte: autores
Outras informações levantadas na pesquisa apontam para uma predominância da
percepção meramente operacional dos ambientes de integração de SI. A pergunta mais direta
neste propósito foi: “Como a integração entre
SI é entendida na sua organização?”. 62% selecionaram duas das três respostas que fortemente
caracterizam a abordagem tradicional:
• 52%, ou seja, 16 dos 31 CIOs, responderam: “como parte do trabalho
técnico de desenvolvimento ou implementação de SI, onde o analista responsável pelo novo SI analisa, especifica e gerencia o desenvolvimento das
integrações requeridas. A integração é
entendida como parte de um produto
principal que é o SI”;
• outros 10%, ou seja, 3 dos 31 CIOs, assinalaram uma resposta que também retrata uma percepção operacional, porém
mais bem estruturada do ponto de vista
técnico: “como uma entidade ou recurso
tecnológico que deve ser gerenciado independente dos SI, há uma camada / ambiente específico para integração de SI.
Há em nossa organização uma equipe
voltada exclusivamente para o ambiente de integração, cada nova demanda de
integração tem de ser discutida com essa
equipe”.
Embora os 38% dos respondentes restantes (12 dos 31 CIOs) tenham assinalado a
alternativa correspondente à abordagem sistemática. É presumível que este valor seja bem
menor, em função do cruzamento de outros
dados coletados pela pesquisa e por algum viés
do próprio instrumento da pesquisa. Exemplificando outros dados que corroboram com esta
análise temos: 65% dos respondentes (20 dos
31 CIOs) informaram que suas organizações
não têm uma área voltada especificamente para
integração de SI, com profissionais especializados desempenhando o papel de arquiteto/engenheiro de integração.
4.4 Percepção dos CIOs quanto à
importância do ambiente de integração
Outras questões foram introduzidas objetivando identificar a percepção dos CIOs brasileiros quanto a importância do ambiente de
integração entre SI para o ambiente de negó-
88
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.78-93, jan./abr. 2007
Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
cios. Apresentou-se aos respondentes uma lista
de benefícios para o negócio com os quais, supostamente, as soluções de integração poderiam
colaborar efetivamente para seu alcance, estes
estão descritos na primeira coluna da Tabela 4.
Solicitou-se ao respondente duas análises: primeiro o grau de dependência destes benefícios
com relação a ambientes eficazes para integração
de SI, sendo atribuído um valor no limite de
zero a quatro, onde zero significa “não há dependência” e quatro representando “totalmente
dependente”; segundo, o quanto tais benefícios
são importantes para o ambiente de negócio das
empresas, sendo o valor um correspondente
a “baixa importância”, dois a “média” e três a
“alta”. As respostas dos CIOs a estas perguntas
estão consolidadas e apresentadas nas duas últimas colunas da Tabela 4.
Tabela 4 – Percepção dos CIOs quanto aos possíveis benefícios obtidos a partir da correta gestão das
integrações entre SI
Dependência
do ambiente
de integração
Importância
para o negócio
melhora o relacionamento com os nossos principais fornecedores, dando-lhes mais
opções e facilidades para integrarem seus sistemas com os nossos.
2.8
2.4
melhora o relacionamento com os nossos grandes clientes, atendendo de forma
mais ágil, com mais qualidade e flexibilidade as necessidades de integração entre os
sistemas de informação destas empresas e os nossos sistemas de informação.
3.0
2.7
reduz a dependência entre as novas tecnologias e os sistemas legados, reduzindo a
dificuldade de se substituir antigos sistemas de informação (evita perpetuação do
sistemas legados).
2.9
2.3
facilita a composição de diferentes softwares internos e externos à empresa, de
forma a compor um sistema de informação que seja capaz de atender aos desafios de
automação e gerenciamento dos processos de negócio da empresa.
2.9
2.3
reduz custo e tempo do desenvolvimento/manutenção das integrações entre sistemas
de informação, bem como aprimora a qualidade das mesmas.
2.9
2.5
habilita a organização a desenvolver uma arquitetura de software mais moderna e
eficiente, ou seja, com menos restrições ou problemas futuros para incorporação de
novas tecnologias.
3.0
2.6
proporciona meios eficientes para composição de softwares evitando assim a
dependência da organização dos grandes fornecedores de sistemas monolíticos, ou
seja, habilita mais alternativas viáveis para entrega de um sistema de informação para
organização.
2.7
2.1
BENEFÍCIOS APRESENTADOS PARA ANÁLISE DOS CIOs
Fonte: autores
A análise das respostas aponta que os
CIOs consideram o ambiente de integração
como sendo muito importante para o alcance
dos benefícios apresentados. A média dos sete
valores apresentados para o “grau de dependência do ambiente de integração” é de 2,91.
Quanto ao questionamento sobre a importância dos sete benefícios apresentados para o ambiente de negócio, a opinião dos CIOs é que
eles são de média importância para o negócio
(nota média de 2,39). Estes números auxiliam a
compreender uma das razões pelo pouco investimento das empresas brasileiras em ambientes
de integração. O CIO, como principal responsável pela concepção do projeto do ambiente de
integração dentro de uma abordagem sistemática e também pela sensibilização da organização
quanto à sua importância, não o considera como
um componente estratégico ou mesmo importante para o ambiente de negócios da empresa.
89
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José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
Esta percepção dos CIOs, aliada ao momento
econômico recessivo, onde as principais metas
estão voltadas à otimização dos recursos de TI já
disponíveis, não favorecem à implementação da
abordagem sistemática para integração de SI.
Na pesquisa também se identificou a
avaliação dos CIOs quanto aos esforços e investimentos realizados pelas suas organizações
no que refere-se à integração de SI. Utilizando-se da escala classificatória de Likert, os respondentes apontaram a sua percepção dos esforços realizados pela organização, escolhendo
um número entre zero e dez, representando
respectivamente: “esforço inexpressivo, muito
a quem do que deveria ser feito” até a percepção máxima de “esforço magnífico, atendendo
tanto a demanda do negócio, quanto às perspectivas tecnológicas”. O Gráfico 1 apresenta a
consolidação das avaliações dos CIOs. 64% dos
respondentes (20 dos 31 CIOs) atribuíram uma
nota maior ou igual a seis aos esforços de suas
organizações.
Gráfico 1 – Avaliação dos esforços e investimentos das organizações na integração entre SI
segundo os CIOs
Fonte: autores
Em complemento à classificação dos esforços realizados pela organização, com relação
à integração dos SI, solicitou-se àqueles que os
julgassem insuficientes, independentemente da
avaliação atribuída, que apontassem os fatores
inibidores para realização dos investimentos necessários. Apresentou-se uma questão de múltipla escolha, contendo cinco alternativas de fatores
inibidores, pré-definidos, com a possibilidade
de se incluir um sexto fator se o respondente julgasse necessário. 55% dos CIOs (17 dos 31) que
participaram da pesquisa afirmaram serem insuficientes os esforços de suas organizações, as razões apontadas para tal e a quantidade de CIOs
que as indicaram, estão descritas abaixo:
• 11 dos 17 CIOs que consideraram o investimento insuficiente - falta de recurso financeiro;
• 9 dos 17 - falta de compreensão da importância das integrações entre sistemas
para o negócio;
• 7 dos 17 - direcionamento excessivo da
organização para outros recursos de TI,
como aquisição de hardware, novos SI,
segurança e mobilidade;
• 3 dos 17 - falta de competência tecnológica para desenvolver soluções de integração mais eficientes
• 3 dos 17 - falta de comprometimento,
interesse e respaldo do comitê diretivo
da organização;
• 1 dos 17 - organização atribui pouco valor aos recursos de TI.
5 Análises dos dados levantados
pela pesquisa
A análise dos dados levantados pela pesquisa indica que nas organizações brasileiras
predomina a abordagem tradicional para integração de SI. São diversos fatores identificados
que, ao serem analisados conjuntamente, evidenciam esta caracterização: um deles é o fato
das organizações não possuírem áreas e profissionais especializados na gestão das integrações;
outra são os esforços concentrados quase que
totalmente na integração dos SI internos à empresa (A2A). Este direcionamento para integração interna é evidenciado pelos projetos destacados pelos CIOs: implementação de grandes SI
corporativos realizando a integração por meio
de base de dados central e a construção de interfaces entre sistemas da organização (projetos A
90
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.78-93, jan./abr. 2007
Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
e B da Tabela 3). Outro aspecto que caracteriza
uma orientação quase que exclusiva à integração
interna é o direcionamento dos recursos de homens-hora às atividades de A2A.
As soluções indicadas pelos CIOs brasileiros como objeto de planejamento corporativo são todas bastante específicas, por exemplo,
as soluções C e H citadas na Tabela 3, tratam
especificamente da camada de transporte; a solução F, voltada para camada de processo e a solução G, voltada para camada de transformação
ou de dados. Não se identificou nenhuma iniciativa organizacional abrangente no sentido de
realizar uma gestão efetiva do ambiente de integração dos SI. Os projetos descritos na Tabela 3
não demonstram uma preocupação perene com
os objetos, componentes, metodologias, técnicas, ferramentas, profissionais e demais recursos importantes para gestão da camada ou ambiente de integração através de uma abordagem
sistemática. Resumindo: um número limitado
de organizações, 60% das pesquisadas, consideraram algum projeto de integração entre SI em
seus planejamentos; projetos estes com escopo
bastante distinto e limitado com relação à abordagem sistemática de se integrar SI.
Na pesquisa, os poucos profissionais especialistas em atividades de integração encontrados, por exemplo, o arquiteto de integração, e as
contribuições mais significativas de homens-hora
às atividades de B2B, foram apontados por empresas cujo objetivo principal é assegurar o fluxo
de informação entre fornecedores e os principais
compradores de um segmento. Estas empresas
compõem o que administrativamente se denomina consórcio setorial, caracterizado pela união
de grandes corporações de um segmento que objetivam criar um ambiente virtual e eficaz para o
desenvolvimento de negócios. Os sócios, geralmente líderes no setor vertical, trazem um grande volume de transações e um grande número de
associados a este ambiente virtual, garantindo assim a liquidez deste modelo. Se excluíssemos da
pesquisa os consórcios setoriais, o cenário seria
ainda mais direcionado às atividades de A2A.
O apontamento do profissional analista
de sistemas como o maior envolvido nas ativi-
dades de A2A e B2B caracteriza bem o entendimento e a forma com que as organizações brasileiras lidam com a questão da integração de SI:
novas integrações são percebidas como parte do
trabalho técnico de desenvolvimento ou implementação de SI, em que o analista responsável
pelo novo SI identifica, analisa, especifica e gerencia o desenvolvimento das integrações requeridas. A integração é entendida como parte
de um produto principal que é o SI, ou seja,
não há um gerenciamento efetivo do ambiente
de integração bem como do monitoramento da
qualidade operacional das integrações disponíveis e da análise da evolução destas. A ampla
predominância da troca de arquivos como a solução tecnológica mais empregada pelas organizações para integração interna e externa, conforme apontado na Tabela 2, corrobora com
esse parecer, que estabelece forte vínculo entre
programas e dados através do código fonte dos
programas, ou seja, demanda tempo intensivo
de analistas de sistemas e programadores.
Conforme apontado na Tabela 2, a técnica de compartilhamento da base de dados já
está, em conjunto com a técnica de troca de arquivos, entre as técnicas que predominam para
A2A. A tendência é por uma predominância
do compartilhamento de bases de dados, uma
vez que esta foi a tecnologia mais indicada pelos
CIOs como sendo de alto potencial para atender as demandas de A2A , enquanto que a troca
de arquivos foi a tecnologia mais indicada como
de baixo potencial para atender as futuras demandas de A2A. Esta informação está alinhada
à tendência dos projetos de integração descritos na Tabela 3, que aponta para SI corporativos
empregando bases de dados centrais. Este cenário se contradiz com a postura da abordagem
sistemática para integração de SI, que enfatiza a
preservação dos ativos de software já existentes,
através do alinhamento e integração destes por
intermédio das facilidades disponibilizadas pela
camada técnicas de integração.
Na abordagem sistemática aplicada à gestão da camada ou ambiente de integração entre
SI, o conceito de integração vai além do aspecto
tecnológico de integrar aplicações, e é utilizado
91
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, p.78-93, jan./abr. 2007
José Osvaldo De Sordi / Bernadete de Lourdes Marinho
como peça chave para o gerenciamento e operação dos processos de negócio. Reconhece-se que
o acompanhamento e intervenção nas conexões
entre SI permitem apontar gargalos, apontar
eventos de negócios, aprimorar fluxos de trabalho, identificar e tratar exceções, ou seja, trata-se
esta camada ou ambiente como um componente
estratégico ao desempenho da organização.
A grande maioria das organizações brasileiras não realiza a gestão do fluxo de informação entre seus SI e destes para com sistemas de
terceiros. Não há recursos aplicados à descrição e
monitoramento destes fluxos de informação. O
pouco conhecimento disponível gira em torno da
descrição de interfaces existentes, por exemplo,
o mapa das integrações existentes para o sistema
ERP da empresa, as futuras integrações que serão
necessárias para implementação de um sistema
CRM ou as integrações responsáveis pela constante atualização da solução de data warehouse.
6 Considerações finais
A pesquisa revelou que as corporações
brasileiras apresentam uma percepção estritamente operacional do ambiente ou camada de
integração de SI. Nestes ambientes predomina
a abordagem tradicional para integração de SI,
utilizando-se de conexões pontuais, sistema a
sistema (point to point conections) e mais recentemente o compartilhamento de dados por
meio de compartilhamento da base de dados
(integração via banco de dados). Os trabalhos
relativos às integrações são executados e gerenciados como sendo parte dos trabalhos da equipe
de desenvolvimento, implementação e gerenciamento de SI, por meio de uma etapa específica
do projeto, denominada de desenvolvimento
das integrações necessárias ao novo SI.
A economia mundial recessiva que perdura
desde o início deste século, reduz os investimentos nas áreas de TI das organizações e fortalece a
tendência destas áreas em buscarem a maximização do retorno dos investimentos já realizados nos
últimos anos. Destes investimentos, destacam-se,
principalmente, a harmonização e integração dos
diversos SI que foram introduzidos nas organizações, nos três últimos anos do século passado, com
o propósito de reduzir os riscos do “bug do milênio”. Este cenário explica o porquê de já ter ocorrido algumas ações mais estruturadas no campo da
integração interna de SI (A2A).
Embora a atenção das empresas esteja
voltada para integração interna (A2A), que está
ainda por acontecer ou em desenvolvimento na
maioria das organizações brasileiras, tal fato não
reduz o valor e importância das integrações externas (B2B). As quatro razões de negócios apresentadas para descrever a crescente demanda por
soluções de integração, tornam-se cada vez mais
intensas e requeridas aos ambientes de negócios,
sendo que todas, em maior ou menor grau, requerem integrações externas à organização:
• aumento das entidades que necessitam
trocar informações com a organização
devido à tendência pelo trabalho organizado de forma intensiva;
• busca de vantagens competitivas que implicam em melhor gestão da informação;
• exigências de órgãos reguladores por maior
agilidade no tramite das informações;
• aumento da diversidade e quantidade
dos SI nas organizações.
Os modelos de processos de negócios
propostos nos últimos anos às organizações
como sendo de excelência para competitividade, requerem uma forte colaboração entre suas
diversas entidades envolvidas. Isso é constatado
nas propostas de: Gestão de Relacionamento
com Clientes (CRM), na interação requerida
entre os profissionais de marketing, serviços e
comerciais; na Gestão da Cadeia de Fornecedores (SCM), no relacionamento requerido entre as áreas de distribuição (interna), logística
(externa) e produção; Gestão do Ciclo-de-vida
de Produtos (Product Life-cycle Management PLM), no relacionamento entre as áreas de pesquisa & desenvolvimento, serviços e marketing;
para citar apenas alguns dos diversos processos de negócios almejados pelas organizações.
A viabilização dos processos de negócios colaborativos, como CRM, SCM, PLM, requer da
organização que irá coordená-los e das demais
entidades envolvidas, não apenas o domínio de
complexas abordagens administrativas (GON-
92
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Integração entre Sistemas: Análise das Abordagens Praticadas pelas Corporações Brasileiras
ÇALVES, 2000), como também implicará na
revisão da gestão dos principais recursos da
organização, entre eles a tecnologia da informação. A camada ou ambiente de integração é
componente fundamental da nova arquitetura
de TI necessária à eficaz operacionalização destes novos processos.
Este novo cenário em formação nas organizações, requerendo ambientes eficazes para integração entre SI, tanto internos quanto externos
às empresas, proporciona desafios e oportunidades significativas à academia, mais especificamente à área de concentração em SI e TI. Entre estes
muitos desafios e oportunidades podemos destacar: a) conscientização dos CIOs no tema: pela
estruturação e apresentação dos conhecimentos
relativos aos diversos recursos e práticas operacionais e gerenciais requeridas para montagem de
um eficaz ambiente de integração entre SI dentro
de uma abordagem sistemática; b) apresentação
do valor agregado aos negócios: pelo desenvolvimento de pesquisas que gerem conhecimentos que
auxiliem aos CIOs a identificarem oportunidades
e reconhecerem o valor agregado pela adoção dos
ambientes de integração dentro da abordagem sistemática. Estes são temas que configuram oportunidades para desenvolvimento de futuras pesquisas
relacionadas ao tema integração entre SI.
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93
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Informações Editoriais RBGN 2006
1 Artigos Publicados
Na RGBN Volume 8, Números 20, 21 e 22, foram publicados 18 artigos de 38 autores.
2 Circulação e Visibilidade
Bibliotecas de Instituições de Ensino e Pesquisa que recebem a Revista
Brasileira de Gestão de Negócios por Estados Brasileiros
Local
Alagoas
Amazonas
Bahia
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Pará
Paraíba
Paraná
Pernambuco
Piauí
Rio de Janeiro
Rio Grande do Norte
Rio Grande do Sul
Rondônia
Santa Catarina
São Paulo
Tocantins
TOTAL
Total
5
4
20
7
11
10
11
3
14
11
48
4
4
38
13
5
47
4
29
4
12
157
4
465
Porcentagem
1,07
0,86
4,30
1,50
2,37
2,15
2,37
0,65
3,01
2,37
10,32
0,86
0,86
8,17
2,80
1,07
10,11
0,86
6,24
0,86
2,58
33,76
0,86
100,00
94
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Informações Editoriais RBGN 2006
3 Autoria e Conteúdo
Autoria - Origem Geográfica dos Autores
Origem dos Autores
Quantidade
%
São Paulo
29
76,3
Paraná
05
13,3
Santa Catarina
02
5,2
Ceará
01
2,6
Minas Gerais
Total
01
38
2,6
100,0
Autoria - Origem Institucional dos Autores
FECAP
Demais
Instituições
Total de
Autores
Quantidade de
Artigos
Quantidade
1
8
9
5
Porcentagem
11
89
100,0
27,8
Edição
V. 8
n. 20
V. 8
n. 21
V. 8
n. 22
Quantidade
2
14
16
8
Porcentagem
12,5
87,5
100,0
44,4
Quantidade
0
13
13
5
Porcentagem
0
100
100,0
27,8
3
35
38
18
Total
Média por Edição
1,0
11,7
12,7
6
Porcentagem
7,9
92,1
100,0
100,0
Conteúdo – Artigos e Autores por Área Temática
Área Temática
Artigos
%
Autores
%
Administração de Ciência, Tecnologia e Informação
2
11,1
5
13,2
Contabilidade, Controladoria e Finanças
4
22,2
10
26,3
Economia de Empresas e Gestão Pública
0
0
0
0
Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade
2
11,1
2
5,2
Estratégia e Comportamento Organizacional
3
16,7
7
18,4
Gestão de Pessoas e do Capital Intelectual
4
22,2
5
13,2
Marketing
Total
3
18
16,7
100
9
38
23,7
100
95
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Informações Editoriais RBGN 2006
4 Gestão Editorial
Nos anos de 2005 e 2006, conforme posição em 15 de dezembro de 2006, o processo de
avaliação dos trabalhos submetidos à RBGN para publicação apresentou os seguintes resultados:
Demanda e Avaliação de Trabalhos
Situação dos Trabalhos
2005
%
2006
%
Total
%
Submetidos
49
100,0
68
100,0
117
100,0
Não Aprovados(após double blind review)
20
40,8
36
53,0
46
39,3
Aprovados
19
38,8
21
31,0
40
34,2
Retirados
0
0,0
01
1,5
01
0,9
Publicados
17
34,7
18
26,5
35
29,9
A Publicar
02
4,1
03
4,4
03
2,6
Em Reformulação
03
6,1
06
8,8
09
7,7
Em Avaliação ou Reavaliação
07
14,3
24
35,3
31
26,5
96
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Nominata de Avaliadores Ad Hoc – 2006
Um dos objetivos da Revista Brasileira de Gestão de Negócios – RBGN - é a melhoria contínua do
conteúdo dos trabalhos publicados, priorizando a divulgação de resultados de pesquisas nacionais e internacionais voltadas à aplicação e ao desenvolvimento de princípios e práticas de gestão.
A partir de 2003, a RBGN introduziu o sistema de avaliação entre pares e desde então vem ampliando seu Corpo de Avaliadores Ad Hoc que exerce um papel de grande importância no aperfeiçoamento do nível de qualidade da Revista. A RBGN manifesta seu agradecimento a todos os professores e pesquisadores que em 2006 colaboraram voluntariamente na avaliação dos trabalhos submetidos à publicação.
Aldo Leonardo Cunha Callado
UFPB
Ana Beatriz Rousseau
ICLE- Argentina
Ana Cristina de Faria
FURB
Ana Maria Roux V. C. César
UNIVERSIDADE MACKENZIE
André Accorsi
ESPM
Andrea de Oliveira Silva
USP/PROLAM
Anisio Candido Pereira
FECAP
Antonia Encarnación Martínez Alfaro
UTEPSA – Bolivia
Antonio Amaru Maximiano
FEA/USP
Antonio Barbosa Lemes Jr.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Antonio Carlos Gil
IMES
Antonio Carlos Giuliani
UNIMEP
Antonio Zoratto Sanvicente
IBMEC EDUCACIONAL
Arilda Schimidt Godoy
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Carlos Henrique Rocha
UNB
Cecília C. C. Pontes
FECAP
Christian Luiz da Silva
FAE BUSINESS SCHOOL
Cláudio Luiz Marte
IPT
Cláudio Parisi
FECAP
Daphinis Theodoro da Silva Junior
FECAP
Denis Donaire
UNICID
Diógenes M. L. Martín
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Dirceu da Silva
FECAP
Domingos Alves Corrêia Neto
UNISA
Edgard B. Cornachione Jr.
FEA-USP
Edmundo Pimentel
UCV – Venezuela
Edson Luiz Riccio
FEA-USP
Eduardo de Camargo Oliva
IMES
Elaine di Diego Antunes
UFRGS
Elionor Farah J. Weffort
FECAP
Elisabete Krauter
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Eliseu Martins
FEA-USP
Eolo Marques Pagnani
FECAP
Ernani Otti
UNISINOS
Esmeralda Rizzo
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Eunice L. Kwasnicka
UNIP
Fábio Frezatti
FEA-USP
Geciane Silveira Porto
FEA-RP-USP
George Bedinelli Rossi
FFLCH-USP
Geraldo Barbieri
FEA-USP
Geraldo Luciano Toledo
FEA-USP
Gilberto de Andrade Martins
FEA-USP
97
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Nominata de Avaliadores Ad Hoc – 2006
Hamilton Luiz Correa
FEA-USP
Hélio Janny Teixeira
FEA-USP
Herbert Kimura
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Ilse Maria Beuren
FURB
Isaías Custodio
FEA-USP
Ivam Ricardo Peleias
FECAP
João Bosco Segreti
FECAP
Jomar Barros Filho
UNIMARCO
Jomar Barros Filho
UNIMARCO
Jorge Katsumi Niyama
UNB
José Alonso Borba
UFSC
José Carlos Barbieri
EAESP-FGV
José Celso Contador
UNIP
José Ricardo Maia Siqueira
UFRJ
José Roberto Kassai
FEA-USP
José Roberto Securato
PUC-SP
Josir Simeone Gomes
UERJ
Kárem C. s. Ribeiro
UFU/MG
Lauro Brito de Almeida
UFPR
Lázaro Plácido Lisboa
FEA-USP
Luciano Antonio Prates Junqueira
PUC-SP
Luis Mendes de Oliveira
UNIFACEF
Luiz Carlos Jacob Pereira
UNIFACEF
Lydia Lopes
POLI/USP
Marco Antonio Souza
UNISINOS
Marco Silveira Pinheiro
IMES
Marcos Cortez Campomar
FEA-USP
Marcos Reinaldo S. Peters
UNIMONTE
Maria Aparecida Gouvêa
FEA/USP
Maria Filomena F. Ricco
CTA
Maria Rita Aprile
SENAI
Maria Sylvia M. Saes
FEA/USP
María Tereza Trachitte
UNE – Argentina
Mauro Neves Garcia
IMES
Nara Lúcia Facioli
FACEF
Nilton Cano Martin
FEA-USP
Osvaldo Elias Farah
UNIMEP
Paulo de Tarso Oliveira
UNIFACEF
Pedro Luiz Côrtes
FECAP
Raquel da Silva Pereira
UNINOVE
Reginaldo José Carlini Junior
UFRPE
Roberto Bazanini
UNIP
Ronaldo Zwicker
FEA-USP
Rosely Palermo Brenelli
UNICAMP
Sandra Maria dos Santos
UFCE
Sergio Ferreira do Amaral
UNICAMP
Sergio Luiz Lepsch
UNIFACEF
Simone Aparecida Simões Rocha
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Simone Vasconcelos Ribeiro Galina
FEA-RP-USP
Tabajara Pimenta Júnior
FEA-RP-USP
Tânia Fator
IMES
Valcemiro Nossa
FUCAPE
Valmor Slomski
FEA-USP
Waldeck Lisboa Filho
ESPM-SP
Waleska Silveira Lira
UEPB
Wesley Nogueira Barbosa
FMA
Wilson Toshiro Nakamura
UNIVERSIDADE MACKENZIE
98
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Autor – 2006
ALENCAR, Roberta Carvalho de
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
ARANTES, Elaine Cristina
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
BEUREN, Ilse Maria
O Custo Meta no Desenvolvimento de Novos Produtos: um Caso em Indústria
de Conserva de Pescado
V.8, n.22, p.13-22, Setembro / Dezembro 2006
BITO, Nelson Satio
Crédito Carbono: um Estudo de Caso na Empresa NovaGerar
V.8, n.21, p.82-91, Maio / Agosto 2006
CARDOSO, Roberto Luiz
Avaliando Sistemas de Remumeração Baseados em Habilidades e Competências:
a Visão dos Profissionais de Gestão de Pessoas
V.8, n.21, p.13-23, Maio / Agosto 2006
CARDOSO, Rodrigo dos Santos
O Custo Meta no Desenvolvimento de Novos Produtos: um Caso em Indústria
de Conserva de Pescado
V.8, n.22, p.13-22, Setembro / Dezembro 2006
CARVALHO, Vera Lucia de
Prevenção a Fraudes em Empresas Industriais de Autopeças na Região do ABC
V.8, n.22, p.1-12, Setembro / Dezembro 2006
CESAR, Ana Maria Roux Valentini Coelho
Sentimentos de Apego e Perda em Processos de Mudanças Organizacionais
V.8, n.21, p.1-12, Maio / Agosto 2006
CÔRTES, Pedro Luiz
A Importância da Literatura Cinzenta Disponível na Internet para
as Áreas de Ciências Contábeis e Administração de Empresas
V.8, n.20, p.13-22, Janeiro / Abril 2006
99
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Autor – 2006
CRISTOFOLI, Fulvio
Benefícios do Uso do VoIP: um Estudo de Caso na GM
V.8, n.21, p.55-69, Maio / Agosto 2006
CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
ESCUDEIRO, Fulvia Hesse
Estratégia de Diferenciação no Mercado Brasileiro de Café
V.8, n.21, p.24-32, Maio / Agosto 2006
FEITERA, Carlos Henrique
Benefícios do Uso do VoIP: um Estudo de Caso na GM
V.8, n.21, p.55-69, Maio / Agosto 2006
GIGLIO, Ernesto Michelangelo
Investigação sobre as Relações entre a Internet e as Mudanças Estratégicas,
Exemplificadas no Mercado Imobiliário
V.8, n.21, p.43-54, Maio / Agosto 2006
GOUVÊA, Maria Aparecida
A Avaliação da Qualidade de Serviços das Rodovias do Estado de São Paulo
V.8, n.20, p.34-44, Janeiro / Abril 2006
HANASHIRO, Darcy Mitiko Mori
Competências de Professores: um Fator Competitivo
V.8, n.20, p.45-56, Janeiro / Abril 2006
HEMZO, Miguel Angelo
Jogos de Empresas com Foco em Marketing Estratégico:
uma Análise Fatorial da Percepção dos Participantes
V.8, n.20, p.23-33, Janeiro / Abril 2006
KATO, Heitor Takashi
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
KWASNICKA, Eunice Lacava
Governança Gestora na Rede de Negócios: um Estudo Comparativo
V.8, n.21, p.33-42, Maio / Agosto 2006
LAGO JUNIOR, Antonio Carlos
Benefícios do Uso do VoIP: um Estudo de Caso na GM
V.8, n.21, p.55-69, Maio / Agosto 2006
100
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Autor – 2006
LEPSCH, Sérgio Luiz
Jogos de Empresas com Foco em Marketing Estratégico:
uma Análise Fatorial da Percepção dos Participantes
V.8, n.20, p.23-33, Janeiro / Abril 2006
MARTINS, Eliseu
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
MARTINS, Gilberto de Andrade
Sobre Confiabillidade e Validade
V.8, n.20, p.1-12, Janeiro / Abril 2006
NASSIF, Vânia Maria Jorge
Competências de Professores: um Fator Competitivo
V.8, n.20, p.45-56, Janeiro / Abril 2006
OLIVA, Eduardo de Camargo
Prevenção a Fraudes em Empresas Industriais de Autopeças na Região do ABC
V.8, n.22, p.1-12, Setembro / Dezembro 2006
ORSI, Ademar
Gestão do Conhecimento em Fusões e Aquisições: Fatores Críticos
V.8, n.22, p.46-56, Setembro / Dezembro 2006
PAULO, Edilson
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
PEREIRA, Paulo Gomes
Investigação sobre as Relações entre a Internet e as Mudanças Estratégicas,
Exemplificadas no Mercado Imobiliário
V.8, n.21, p.43-54, Maio / Agosto 2006
PIRES, Nancy Campos Mamede
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
RODRIGUES FILHO, Lino Nogueira
A Avaliação da Qualidade de Serviços das Rodovias do Estado de São Paulo
V.8, n.20, p.34-44, Janeiro / Abril 2006
RYNGELBLUM, Arnaldo
Investigação sobre as Relações entre a Internet e as Mudanças Estratégicas,
Exemplificadas no Mercado Imobiliário
V.8, n.21, p.43-54, Maio / Agosto 2006
101
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Autor – 2006
SAES, Maria Sylvia Macchione
Estratégia de Diferenciação no Mercado Brasileiro de Café
V.8, n.21, p.24-32, Maio / Agosto 2006
SEGRETI, João Bosco
Crédito Carbono: um Estudo de Caso na Empresa NovaGerar
V.8, n.21, p.82-91, Maio / Agosto 2006
SILVA, Christian Luiz da
Estratégia de Diferenciação no Mercado Brasileiro de Café
V.8, n.21, p.24-32, Maio / Agosto 2006
SILVA, Wesley Vieira da
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
SILVEIRA, Marco Antonio Pinheiro da
Information Technology Contribution for Local Production Arrangements Formation
V.8, n.21, p.70-81, Maio / Agosto 2006
TOLEDO, Geraldo Luciano
A Avaliação da Qualidade de Serviços das Rodovias do Estado de São Paulo
V.8, n.20, p.34-44, Janeiro / Abril 2006
ZWICKER, Ronaldo
Information Technology Contribution for Local Production Arrangements Formation
V.8, n.21, p.70-81, Maio / Agosto 2006
102
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Área Temática - 2006
Administração de Ciência, Tecnologia e Informação
CRISTOFOLI, Fulvio; LAGO JUNIOR, Antonio Carlos; FEITERA, Carlos Henrique
Benefícios do Uso do VoIP: um Estudo de Caso na GM
V.8, n.21, p.55-69, Maio / Agosto 2006
SILVEIRA, Marco Antonio Pinheiro da; ZWICKER, Ronaldo
Information Technology Contribution for Local Production Arrangements Formation
V.8, n.21, p.70-81, Maio / Agosto 2006
Contabilidade, Controladoria e Finanças
CARDOSO, Rodrigo dos Santos; BEUREN, Ilse Maria
O Custo Meta no Desenvolvimento de Novos Produtos: um Caso em Indústria
de Conserva de Pescado
V.8, n.22, p.13-22, Setembro / Dezembro 2006
CARVALHO, Vera Lucia de; OLIVA, Eduardo de Camargo
Prevenção a Fraudes em Empresas Industriais de Autopeças na Região do ABC
V.8, n.22, p.1-12, Setembro / Dezembro 2006
PAULO, Edilson; CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da; ALENCAR,
Roberta Carvalho de; MARTINS, Eliseu
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
SEGRETI, João Bosco; BITO, Nelson Satio
Crédito Carbono: um Estudo de Caso na Empresa NovaGerar
V.8, n.21, p.82-91, Maio / Agosto 2006
Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade
CÔRTES, Pedro Luiz; FECAP
A Importância da Literatura Cinzenta Disponível na Internet para
as Áreas de Ciências Contábeis e Administração de Empresas
V.8, n.20, p.13-22, Janeiro / Abril 2006
MARTINS, Gilberto de Andrade
Sobre Confiabillidade e Validade
V.8, n.20, p.1-12, Janeiro / Abril 2006
103
RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Área Temática - 2006
Estratégia e Comportamento Organizacional
GIGLIO, Ernesto Michelangelo; PEREIRA, Paulo Gomes; RYNGELBLUM, Arnaldo
Investigação sobre as Relações entre a Internet e as Mudanças Estratégicas,
Exemplificadas no Mercado Imobiliário
V.8, n.21, p.43-54, Maio / Agosto 2006
KWASNICKA, Eunice Lacava
Governança Gestora na Rede de Negócios: um Estudo Comparativo
V.8, n.21, p.33-42, Maio / Agosto 2006
SAES, Maria Sylvia Macchione; ESCUDEIRO, Fulvia Hesse; SILVA, Christian Luiz da
Estratégia de Diferenciação no Mercado Brasileiro de Café
V.8, n.21, p.24-32, Maio / Agosto 2006
Gestão de Pessoas e do Capital Intelectual
CARDOSO, Roberto Luiz
Avaliando Sistemas de Remumeração Baseados em Habilidades e Competências:
a Visão dos Profissionais de Gestão de Pessoas
V.8, n.21, p.13-23, Maio / Agosto 2006
CESAR, Ana Maria Roux Valentini Coelho
Sentimentos de Apego e Perda em Processos de Mudanças Organizacionais
V.8, n.21, p.1-12, Maio / Agosto 2006
HANASHIRO, Darcy Mitiko Mori; NASSIF, Vânia Maria Jorge
Competências de Professores: um Fator Competitivo
V.8, n.20, p.45-56, Janeiro / Abril 2006
ORSI, Ademar
Gestão do Conhecimento em Fusões e Aquisições: Fatores Críticos
V.8, n.22, p.46-56, Setembro / Dezembro 2006
Marketing
GOUVÊA, Maria Aparecida; TOLEDO, Geraldo Luciano;
RODRIGUES FILHO, Lino Nogueira
A Avaliação da Qualidade de Serviços das Rodovias do Estado de São Paulo
V.8, n.20, p.34-44, Janeiro / Abril 2006
HEMZO, Miguel Angelo; LEPSCH, Sérgio Luiz
Jogos de Empresas com Foco em Marketing Estratégico:
uma Análise Fatorial da Percepção dos Participantes
V.8, n.20, p.23-33, Janeiro / Abril 2006
PIRES, Nancy Campos Mamede; ARANTES, Elaine Cristina;
SILVA, Wesley Vieira da; KATO, Heitor Takashi
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Título – 2006
A Avaliação da Qualidade de Serviços das Rodovias do Estado de São Paulo
GOUVÊA, Maria Aparecida; TOLEDO, Geraldo Luciano; RODRIGUES FILHO, Lino Nogueira
V.8, n.20, p.34-44, Janeiro / Abril 2006
Avaliando Sistemas de Remumeração Baseados em Habilidades e Competências:
a Visão dos Profissionais de Gestão de Pessoas
CARDOSO, Roberto Luiz
V.8, n.21, p.13-23, Maio / Agosto 2006
Benefícios do Uso do VoIP: um Estudo de Caso na GM
CRISTOFOLI, Fulvio; LAGO JUNIOR, Antonio Carlos; FEITERA, Carlos Henrique
V.8, n.21, p.55-69, Maio / Agosto 2006
Competências de Professores: um Fator Competitivo
HANASHIRO, Darcy Mitiko Mori; NASSIF, Vânia Maria Jorge
V.8, n.20, p.45-56, Janeiro / Abril 2006
Crédito Carbono: um Estudo de Caso na Empresa NovaGerar
SEGRETI, João Bosco; BITO, Nelson Satio
V.8, n.21, p.82-91, Maio / Agosto 2006
O Custo Meta no Desenvolvimento de Novos Produtos: um Caso em Indústria
de Conserva de Pescado
CARDOSO, Rodrigo dos Santos; BEUREN, Ilse Maria
V.8, n.22, p.13-22, Setembro / Dezembro 2006
Diferenças e Semelhanças nos Métodos de Amostragem de Pesquisas Top of Mind:
um Estudo Comparativo
PIRES, Nancy Campos Mamede; ARANTES, Elaine Cristina; SILVA, Wesley Vieira da;
KATO, Heitor Takashi
V.8, n.22, p.37-45, Setembro / Dezembro 2006
Estratégia de Diferenciação no Mercado Brasileiro de Café
SAES, Maria Sylvia Macchione; ESCUDEIRO, Fulvia Hesse; SILVA, Christian Luiz da
V.8, n.21, p.24-32, Maio / Agosto 2006
Gestão do Conhecimento em Fusões e Aquisições: Fatores Críticos
ORSI, Ademar
V.8, n.22, p.46-56, Setembro / Dezembro 2006
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
Índice por Título – 2006
Governança Gestora na Rede de Negócios: um Estudo Comparativo
KWASNICKA, Eunice Lacava
V.8, n.21, p.33-42, Maio / Agosto 2006
A Importância da Literatura Cinzenta Disponível na Internet para as Áreas
de Ciências Contábeis e Administração de Empresas
CÔRTES, Pedro Luiz;
V.8, n.20, p.13-22, Janeiro / Abril 2006
Information Technology Contribution for Local Production Arrangements Formation
SILVEIRA, Marco Antonio Pinheiro da; ZWICKER, Ronaldo
V.8, n.21, p.70-81, Maio / Agosto 2006
Investigação sobre as Relações entre a Internet e as Mudanças Estratégicas,
Exemplificadas no Mercado Imobiliário
GIGLIO, Ernesto Michelangelo; PEREIRA, Paulo Gomes; RYNGELBLUM, Arnaldo
V.8, n.21, p.43-54, Maio / Agosto 2006
Jogos de Empresas com Foco em Marketing Estratégico:
uma Análise Fatorial da Percepção dos Participantes
HEMZO, Miguel Angelo; LEPSCH, Sérgio Luiz
V.8, n.20, p.23-33, Janeiro / Abril 2006
As Práticas dos Peritos Contadores na Apuração de Haveres
PAULO, Edilson; CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves da;
ALENCAR, Roberta Carvalho de; MARTINS, Eliseu
V.8, n.22, p.23-36, Setembro / Dezembro 2006
Prevenção a Fraudes em Empresas Industriais de Autopeças na Região do ABC
CARVALHO, Vera Lucia de; OLIVA, Eduardo de Camargo
V.8, n.22, p.1-12, Setembro / Dezembro 2006
Sentimentos de Apego e Perda em Processos de Mudanças Organizacionais
CESAR, Ana Maria Roux Valentini Coelho
V.8, n.21, p.1-12, Maio / Agosto 2006
Sobre Confiabillidade e Validade
MARTINS, Gilberto de Andrade
V.8, n.20, p.1-12, Janeiro / Abril 2006
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RBGN, São Paulo, Vol. 9, n. 23, jan./abr. 2007
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