SIMULAÇÃO DE PROBLEMAS DE ELETROHIDRODINÂMICA USANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS MOMENTE, Julio Cesar Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) [email protected] MACHADO, José Márcio Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) [email protected] RESUMO: As descargas corona e a geração de fluxo eletrohidrodinâmico têm sido objeto de estudo de diversas pesquisas devido à sua grande aplicabilidade em processos industriais. Com o intuito de se analisar e estudar a fundo estes fenômenos, a simulação computacional das equações que os regem se faz necessária. O método dos elementos finitos apresenta-se como uma técnica numérica bastante robusta e precisa para a simulação destas equações e análise destes fenômenos. PALAVRAS-CHAVE: fluxo eletrohidrodinâmico (EHD), método dos elementos finitos, descargas corona. ABSTRACT: Corona discharges and electrohydrodynamic flow generation have been widely studied due to their large industrial applicability. In order to achieve a deep understanding on these phenomena, a computational simulation of their governing equations need to be performed. Thereby, the finite element method appears as a robust and reliable numerical method to perform this simulation, ensuring a good analysis of these phenomena. KEYWORDS: electrohydrodynamic (EHD) flow, finite element method, Corona discharges. 1. INTRODUÇÃO “A eletrohidrodinâmica é o estudo das interações entre um campo elétrico e um campo de fluxo” (Brown e Lai, 2009). A aplicação de uma grande diferença de potencial entre um conjunto de eletrodos é capaz de gerar uma descarga elétrica, conhecida como descarga corona, que é capaz de induzir o movimento do fluido, gás ou líquido, ao redor dos eletrodos. Este fluxo de fluido gerado pelas descargas corona é chamado de fluxo eletrohidrodinâmico ou, simplesmente, fluxo EHD. (Zhao e Adamiak, 2009) e (Labergue et al., 2005). A geração de fluxos EHD tem sido amplamente estudada para a aplicação em diversos processos industriais, tais como bombeamento de fluido, resfriamento de microcomponentes, coleta de partículas em suspensão, dentre diversos outros processos (Chang et al., 2009) e (Brown e Lai, 2009). Os diversos estudos realizados têm mostrado que a aplicação de fluxo EHD a tais processos industriais têm provido melhorias, como ganho em eficiência e maior precisão no controle do fluxo, a estes. As descargas corona e a consequente obtenção de fluxo EHD são regidas por um conjunto de equações de campo elétrico e de dinâmica de fluidos. A simulação dessas equações permite que os efeitos dessas descargas elétricas e do fluxo gerado sejam analisados previamente, permitindo a elaboração de técnicas que busquem otimizar a sua utilização nos processos industriais (Zhao e Adamiak, 2006) e (Zhao e Adamiak, 2008). Os problemas em eletrohidrodinâmica são regidos por equações diferenciais parciais as quais, em geral, são intrinsecamente não lineares. Além disso, a geometria dos problemas que envolvem a geração de fluxo EHD, comumente, não é trivial, ou seja, normalmente a geometria desses problemas não possui características de simeInterciência & Sociedade 63 MOMENTE, J. C.; MACHADO, J. M. tria que permitam a simplificação do mesmo (Stishkov e Chirkov, 2008). Devido a estas características de não linearidade e geometrias que não permitem simplificações no modelo, a solução analítica das equações que regem as descargas corona e a geração de fluxo EHD torna-se impraticável. A fim de se realizar a simulação das equações que regem esses efeitos, métodos numéricos apresentam-se como uma alternativa factível, visto que a solução analítica destas equações, normalmente, não possível de ser obtida. Neste cenário, o método dos elementos finitos mostra-se como uma boa opção para a simulação das equações que regem estes fenômenos. O método dos elementos finitos é uma técnica robusta e confiável para a solução de sistemas de equações diferenciais, a qual é capaz de lidar com não linearidades e geometrias não regulares apresentando boa precisão nos resultados (Davies, 1980). O objetivo deste trabalho é realizar a implementação do método dos elementos finitos para se realizar a simulação das equações regentes dos problemas de eletrohidrodinâmica. 2. Fundamentação Teórica Quando uma grande diferença de potencial é aplicada a um par de eletrodos, presencia-se a formação de um campo elétrico suficientemente forte para formar uma camada de ionização ao redor dos eletrodos (Moreau, Léger e Touchard, 2006). Esta diferença de potencial tem de ser da ordem de milhares de volts. Devido ao forte campo elétrico formado entre os eletrodos, uma pequena parcela do fluido que está presente ao redor desses se ioniza, formando uma camada de plasma não-térmico (Brown e Lai, 2009). A presença deste forte campo elétrico e da camada de ionização faz com que haja o deslocamento de íons de um eletrodo ao outro. Neste deslocamento, os íons chocam-se com as partículas neutras do fluido e acabam por produzir um deslocamento deste fluido. (Zhao e Adamiak, 2005). A toda esta configuração de formação da camada de ionização e deslocamento de íons devido o campo elétrico é dado o nome de des- 64 carga corona (Labergue et al., 2005). A ocorrência de descargas corona, normalmente, ocorre em eletrodos de grande curvatura, também conhecidos como sharp electrodes. Uma configuração de eletrodos bastante utilizada para a geração de descargas corona é composta por um par de eletrodos, sendo que um deles é aterrado e ao outro é aplicado um alto valor de tensão. Este último é denominado de eletrodo corona e é ao redor dele que se forma a camada de ionização (Zhao e Adamiak, 2005). A geração de fluxo EHD pode ser influenciada por diversos fatores, tais como o valor de tensão aplicada ao eletrodo corona, a geometria dos eletrodos, a distância de separação e o fluido que cerca os eletrodos (Brown e Lai, 2009). Estes fatores podem influenciar na eficiência da geração do fluxo, na velocidade do fluxo gerado e na corrente estabelecida pelo deslocamento de íons de um eletrodo ao outro. Todos estes aspectos devem ser analisados ao se aplicar uma configuração de geração de fluxo EHD a algum processo industrial, visto que estes possuem impacto direto no ganho ou melhoria esperados para o processo (Moreau, Léger e Touchard, 2006). Um aspecto importante a ser analisado é o tipo de camada de plasma que se forma ao redor do eletrodo corona. Há dois tipos possíveis de descargas de plasma. Descargas do tipo glow são descargas de plasma que ficam contidas no entorno do eletrodo corona, proporcionando uma geração mais uniforme de fluxo EHD, à baixa velocidade. Descargas do tipo spark estendem-se de um eletrodo ao outro na forma de uma faísca ou raio. Estas descargas produzem velocidades maiores de fluxo EHD, mas não são uniformes e nem constantes, durando por menor período de tempo. Desta forma, é preferível realizar a geração de fluxo EHD através de descargas do tipo glow, mesmo que estas apresentem menor velocidade do fluxo e limitação no valor de tensão aplicado (Moreau, Léger e Touchard, 2006). A geração de fluxo EHD pode ser dividida em duas partes, no que diz respeito às equações que regem este efeito, a parte elétrica e a parte de fluxo (Zhao e Adamiak, Interciência & Sociedade Simulação de problemas de eletrohidrodinâmica usando o método dos elementos finitos ⇒ K∇ ⋅ 2006). As grandezas envolvidas na parte elétrica são o campo elétrico, a densidade espacial de carga e a corrente elétrica. Para as equações do fluxo as grandezas envolvidas são a velocidade do fluxo, as forças atuantes, a pressão e o campo de temperaturas (Adamiak, Atrazhev e Atten, 2005). Neste trabalho têm-se desenvolvido apenas a simulação das equações da parte elétrica, para que, com resultados consistentes desta simulação possa-se ini- ∇ ⋅ K E 0 de⇒fluxo K∇ ⋅ ciar a abordagem da=parte do proqE blema. = 0 ⇒ ∇ ⋅ = 0 ⇒ qE qE As equações que regem a parte elétrica do problema são a equação de Poisson, Eq. 1, ( ( ) ∇ 2Ö = − ) ( ) (1) = q ( KE + u ) − D∇ (2) q onde j é a densidade de corrente, K é a mobilidade dos íons, E é o campo elétrico, u é a velocidade do fluxo e D é o coeficiente de difusão de íons. E, finalmente, a equação de conservação da carga ∇ ⋅ j . (Zhao e Adamiak, 2008), (Feng, 1999) e (Zhao e Adamiak, 2005). Aplicando-se a equação de conservação de carga à equação de densidade de corrente temos: ∇ ⋅ ( q KE + q u − D∇ q ) = 0 (3) Aplicando-se, então o divergente à equação 3 obtém-se: . ∇ ⋅ K E + u ⋅ ∇ − ∇ ⋅ D∇ q ( ∇ − ∇ ⋅ (D∇ ) q ) = ( 0 (4) Temos na equação 4 três termos, o primeiro corresponde ao termo de condução, o segundo ao termo de convecção e o terceiro ao termo de difusão. Os termos de convecção e difusão possuem pouca influência no valor da equação, sendo o termo de difusão o preponderante. Sendo assim, com o intuito de simplificar a equação, = 0 (5) Aplicando-se o divergente e sabendo que a mobilidade de íons K é constante, temos: ( KE ) ∇ ⋅ = 0 = ⇒ ∇ ⋅ E + ∇ q q∇ ⋅ 0 ⇒ E q ⋅ E ( ) K∇ ⋅ ( E) = 0 ⇒ = 0 q ) q = 0 ⇒ E + q∇ ⋅ (6) Deste desenvolvimento resulta que o conjunto de equações 7 rege a parte elétrica de problemas em eletrohidrodinâmica (Martins e Pinheiro, 2011). ∇ 2Ö = − q / å0 ∇ ⋅ ∇ ⋅ E + E = q q onde Φ é o potencial elétrico, ϱ q é a densidade espacial de carga e ε0 é a permissividade do meio. A equação de densidade de corrente, Eq. 2, j (�KE ) ∇ ⋅ ( ) / å0 q desconsideramos os termos de convecção e difusão, obtendo-se (Martins e Pinheiro, 2011): 0 (7) O Método dos Elementos Finitos (MEF) foi a técnica escolhida para realizar a simulação destas equações. O MEF apresenta-se como uma técnica numérica para a resolução de equações e sistemas de equações diferenciais com boa precisão e robustez (Feng, 1999). A ideia central do método dos elementos finitos é a divisão do domínio do problema em regiões pequenas, onde se possa resolver o problema através de uma aproximação que torne a solução mais fácil. Quão menores forem as partes em que o domínio for dividido quão mais preciso será o resultado da simulação. Utilizando-se desta estratégia, o MEF é capaz de solucionar problemas lineares e não lineares (Davies, 1980) e (Azevedo, 2003). O método dos elementos finitos é dividido = 0 em três etapas. A etapa de pré-processamento, que corresponde à definição do problema, especificação da geometria e condições de contorno e a geração da malha de elementos finitos, que é o conjunto das regiões em que o domínio foi dividido. A etapa de processamento, na qual se realiza a solução do problema para cada um dos elementos da malha e constrói-se a solução do problema como um todo com base nas contribuições de cada elemento. Por fim, a etapa de pós-processamento contempla a Interciência & Sociedade 65 MOMENTE, J. C.; MACHADO, J. M. análise dos resultados e a obtenção de informações sobre o problema com base nos resultados obtidos (Cardoso, 1995). 3.Trabalhos relacionados Muitas pesquisas têm sido realizadas com o intuito de prover um completo entendimento das descargas corona e da geração de fluxo EHD a fim de que estes fenômenos possam ser utilizados em processos industriais de forma a garantir uma melhoria nestes. O bombeamento de fluidos é um processo em que a geração de fluxo EHD é capaz de prover melhorias significativas no que diz respeito ao controle do fluxo e a dimensão do aparato utilizado para o bombeamento. Dispositivos de bombeamento de fluidos EHD, que utilizam a geração de fluxo EHD para realizar o bombeamento, possuem controle do fluxo de alta precisão, além de poderem ser utilizados dispositivos em escala reduzida (Adamiak et al., 2007)e (Moon, Hwang e Geum, 2009). A aplicação de geração de fluxo EHD para bombeamento de fluido tem sido estudada para aplicação na indústria farmacêutica para a produção de fármacos e também para o resfriamento de microcomponentes eletrônicos. A utilização de fluxo EHD, nestes casos, mostrou-se mais eficiente do que os dispositivos que utilizam partes mecânicas móveis (Adamiak et al., 2007)e (Moon, Hwang e Geum, 2009). Outra importante aplicação de descargas corona e fluxos EHD é na coleta de partículas em suspensão. Sistemas de filtros de micropartículas utilizam descargas corona e fluxos EHD há alguns anos. Contudo, somente com os recentes avanços em termos de poder computacional, o estudo da eficiência e otimização destes fenômenos pôde ser completamente realizado (Zhao e Adamiak, 2008) (Farnoosh, Adamiak e Castle, 2011). No trabalho desenvolvido por Zhang et al. (2011), acerca de precipitadores eletrostáticos (dispositivos para coleta de partícula em suspensão por meio da geração de fluxo EHD e descargas corona), mostrou-se a melhora na taxa de coleta de partículas menores que 10 (micrometros), 66 que são extremamente prejudiciais a saúde. Há ainda a aplicação das descargas corona no controle ativo de fluxo em aeronaves. As descargas corona são utilizadas para modificar o fluxo de ar que percorre uma aeronave a fim de reduzir a força de arrasto sofrida pela aeronave (El-Kharaby e Colver, 1997). A utilização das descargas corona tem mostrado resultados bastante satisfatórios, sendo capaz de, além de reduzir o arrasto sofrido pela aeronave, aumentar a força de sustentação, deixando a aeronave mais estável, e, como consequência da redução do arrasto, promover uma redução no gasto de combustível. (Labergue et al., 2005) e (El-Kharaby e Colver, 1997). Por fim, a geração de fluxo EHD e as descargas corona são utilizadas em dispositivos de propulsão eletrostática, tais como levitadores eletrostáticos (Zhao e Adamiak, 2004). Dispositivos de propulsão eletrostática têm sido estudados para a aplicação na fabricação de telas de cristal líquido, LCD, pois, segundo o estudo realizado por Woo e Higuchi (2010), estes dispositivos são capazes de prover uma força de sustentação uniforme, o que permite que a camada de separação entre as duas placas de vidro que formam uma tela de cristal líquido seja reduzida, tornando possível a produção de telas mais finas e com maior eficiência energética. 4. Desenvolvimento O presente trabalho contempla a execução de três etapas para que uma análise da parte elétrica de problemas de geração de fluxo EHD seja realizada. As etapas são: modelagem, geração do modelo e das malhas e resolução pelo método dos elementos finitos. 4.1 Geração de modelos e malhas A primeira etapa a ser executada foi a criação dos modelos gráficos do domínio do problema. Esta representação gráfica é a especificação geométrica do domínio com todas as características de posição, elementos, materiais e fronteiras. Estes Interciência & Sociedade Simulação de problemas de eletrohidrodinâmica usando o método dos elementos finitos modelos foram construídos utilizando-se o software Blender (disponível em <http:// blender.org>), um software para a criação de modelos tridimensionais de objetos e estruturas. A figura 1 mostra dois modelos gerados pelo Blender. A figura 1.a. mostra o modelo de um capacitor de placas paralelas e a figura 1.b mostra o modelo de um dispositivo de bombeamento de fluidos cuja configuração de eletrodos não é trivial (Moon, Hwang e Geum, 2009). Após os modelos terem sido cria- dos, as respectivas malhas de elementos finitos foram criadas utilizando-se o software TetGen (disponível em <http://tetgen. org>),um software para a geração de malhas de elementos finitos tetraédricas. Para que esta geração de malhas fosse executada, houve a necessidade de se realizar a conversão do formato suportado pelo Blender para o formato de arquivo aceito pelo TetGen. Esta conversão foi realizada por meio de uma programa em linguagem C escrito para este projeto. a) b) Figura 1: Modelos geométricos para aplicação do método dos elementos finitos. A figura 2 mostra as malhas de elementos finitos geradas pelo TetGen. A figura 2.a mostra a malha de elementos tetraédricos do capacitor de placas paralelas. A figura 2.b mostra a malha de elementos tetraédricos do dispositivo de bombeamento de fluidos (Moon, Hwang e Geum, 2009). A figura 2 mostra as malhas de elementos finitos geradas pelo TetGen. A figura 2.a mostra a malha de elementos tetraédricos do capacitor de placas paralelas. A figura 2.b mostra a malha de elementos tetraédricos do dispositivo de bombeamento de fluidos (Moon, Hwang e Geum, 2009). a) b) Figura 2: Modelos de malhas gerados pelo software. 4.2 Modelagem A etapa de modelagem consiste em transformar as equações regentes do problema em uma forma que seja possível de ser implementada computacionalmente. Neste trabalho realizou-se a modelagem tridimensional de problemas de eletrohidrodinâmica, utilizando malhas de elementos tetraédricos, ou seja, o domínio do problema Interciência & Sociedade 67 MOMENTE, J. C.; MACHADO, J. M. foi dividido em pequenos tetraedros, dentro dos quais se fez a análise do problema. Sendo o resultado obtido para cada elemento combinado, ao final, para a obtenção da solução geral. Para tanto, o método de resíduos ponderados (ou método de Galerkin) foi utilizado para converter as equações que regem a parte elétrica do problema em uma forma matricial, que é facilmente implementado computacionalmente (Feng, 1999). este trabalho realizou-se a simulação da equação de Laplace, Eq. 8, ∇ 2Ö = 0 (8) que rege a parte elétrica de problemas onde não há densidade de carga no ambiente. A equação de Laplace em sua forma matricial é dada pela equação 9, [S]V= 0 (9) onde a matriz [S] é dada facilmente encontrada na literatura (Silvester e Ferrari, 1996). 4.3 Resolução pelo método dos elementos finitos Com a malha gerada e as equações em sua forma matricial, o problema foi resolvido utilizando o método dos elementos finitos, o qual foi implementado em linguagem C, utilizando aproximações lineares para o cálculo da equação de Laplace em cada elemento. Seguindo a metodologia do método dos elementos finitos, uma solução global foi construída com base nos elementos da malha. Os valores de potencial elétrico foram calculados para todos os nós da malha, permitindo uma análise do comportamento do potencial para o capacitor de placas pa- ralelas. Este exemplo mais simples foi utilizado devido a possibilidade de validação com modelos teóricos já conhecidos, o que não seria possível para o modelo do dispositivo e bombeamento de fluidos proposto por Moon, Hwang e Geum. (2009). 5. RESULTADOS Depois de gerados o modelo e a malha de elementos finitos e ao término da execução do método dos elementos finitos, obtém-se os valores de potencial para o modelo. Neste trabalho foi realizada a simulação da equação de Laplace, Eq. 8, para o capacitor de placas paralelas. Para o modelo do capacitor foi gerada uma malha de mais de 13 mil elementos tetraédricos, a qual foi utilizada para gerar a solução pelo método dos elementos finitos. Com o intuito de validar os resultados obtidos pela implementação do método dos elementos finitos, foi realizada uma comparação de um modelo com as mesmas dimensões no software LevSoft (software para a simulação de problemas de eletromagnetismo para modelos em duas dimensões produzido pelo Instituto de Estudos Avançados do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial – IEAv DCTA). Devido a restrições do software, o modelo executado no LevSoft é um modelo em duas dimensões, o que não compromete a validação, pois o modelo do capacitor de placas paralelas pode ser planificado sem perda de qualidade da solução. O resultado obtido para o modelo tridimensional e a comparação com o resultado obtido pelo LevSoft são mostrados na figura 3. Figura 3: Comparação de resultados para o modelo do capacitor de placas paralelas. 68 Interciência & Sociedade Simulação de problemas de eletrohidrodinâmica usando o método dos elementos finitos Conforme mostrado na figura 3, a implementação do método dos elementos finitos gerou bons resultados, bastante próximos dos resultados obtidos pelo software LevSoft, que é um software específico para o cálculo de problemas de eletromagnetismo e do qual obtém-se resultados confiáveis. É possível ainda observar que, nas regiões externas às placas do capacitor, há uma discrepância de resultados, o que pode ser explicado pelo fato de a simulação efetuada neste trabalha ser tridimensional, permitindo uma análise mais detalhada do comportamento do campo elétrico. Além da precisão do método implementado, como pode ser notado na figura 3, esta implementação também é computacionalmente interessante, pois demanda um curto tempo de execução para gerar os resultados. A simulação foi efetuada em uma máquina com 8GB de memória RAM, processador intel® core i7, com sistema operacional linux OpenSuse 12.1 e levou cerca de 2 minutos para concluir os cálculos e fornecer o resultado. A geração da malha também se deu de forma rápida, aproximadamente 30 segundos, utilizando as mesmas configurações. Estes resultados são bastante expressivos, principalmente por utilizar somente códigos desenvolvidos durante o projeto e, para a modelagem e geração das malhas softwares livres e de fácil obtenção; 6. CONCLUSÕES Como pode ser visto os problemas em eletrohidrodinâmica são de grande interesse devido à sua grande aplicabilidade em processos industriais, onde a geração de fluxo EHD e as descargas corona podem gerar melhorias e tornar tais processos mais confiáveis. Um dos grandes desafios da simulação de problemas em eletrohidrodinâmica é a dificuldade em se resolver as equações que os regem devido às suas características de não linearidade e de modelos geralmente assimétricos, não permitindo simplificações. Neste sentido o método dos elementos finitos se apresenta como uma alternativa confiável e robusta para simular essas equações. Conforme mostrado pelos resultados obtidos, a solução encontrada pelo programa desenvolvido neste projeto apresenta-se bastante próxima da encontra pelo software LevSoft, que possui resultados validados com resultados teóricos. O presente trabalho mostra um avanço no que diz respeito à realização de simulação computacional de modelos tridimensionais. Como trabalhos futuros pretende-se realizar a simulação do conjunto de equações da parte elétrica de problemas EHD com a presença de densidade espacial de carga, o que representa uma dificuldade adicional, pois a validação deve ser realizada com base em resultados experimentais e a simulação deve contemplar a não linearidade das equações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMIAK, K.; MIZUNO, A. NAKANO, M. Electrohydrodynamic flow in optoelectrostatics micropump. Experiment versus numerical simulation. In: Industry Applications Conference, 2007. 42nd IAS Annual Meeting. Conference Record of the 2007 IEEE., p. 32-37, 2007. ADAMIAK, K.; ATRAZHEV, V. ATTEN, P. Corona discharge in the hyperbolic point-plane configuration: direct ionization criterion versus approximate formulations. Dielectrics and Electrical Insulation, IEEE Transactions on, v. 12, n. 5, p. 1015-1024, 2005. AZEVEDO, A. Método dos elementos finitos. Porto – Portugal: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2003. 258p. 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Atua na área de eletromagnetismo computacional e soluções de alto-desempenho para problemas de bioinformática. 70 Interciência & Sociedade