Administração n.º 98, vol. XXV, 2012-4.º, 1145-1163 Macau: Uma concepção sobre a promoção da plataforma comercial Sino-PALOP’s para a plataforma comercial Sino-Latina Wang Hai* Macau é um lugar de comércio internacional e um centro de intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente com uma longa história. Se bem que de momento o sector do jogo ocupe uma posição predominante na economia de Macau, a sua importância em termos funcionais e na maioria das suas fases históricas tem-se assinalado no âmbito do “comércio internacional” e no de “intermediação cultural”, correspondendo a esta importância a sua tradição histórica, o seu substrato cultural e os seus arranjos institucionais. Até ao momento, Macau continua a ser um porto franco internacional e um território aduaneiro separado, detendo vastas relações com o exterior, um sistema económico aberto, um ambiente multilinguístico e multicultural, bem como vantagens únicas na República Popular da China (RPC) e até na Ásia Oriental. Macau, enquanto “plataforma de serviço comercial”, pode perfeitamente ser revitalizado, desde que se reunam condições apropriadas. I. As vantagens únicas de Macau na estruturação de plataforma internacional de economia e comércio Enquanto o mundo entra numa nova era caracterizada pela aceleração da globalização, o desenvolvimento dos meios de comunicação verificado nos nossos dias faz com que o Globo torne a ser cada vez mais “pequeno”: a distância espacial deixa de ser o principal obstáculo que condiciona o intercâmbio entre os Países. Existem no mundo mais de 200 países, mais de 2 500 nações e mais de 3 000 línguas, para além de uma grande variedade de culturas. As enormes distinções entre as diferentes culturas, diferentes civilizações e diferentes opções pelos valores são factores de maior relevância que põem em causa o intercâmbio mundial. Nestes termos, a “globalização”, no seu significado nuclear, é efectivamen* Instituto para a Investigação Económica da Academia das Ciências Sociais da Província Jiangsu. 1145 1146 te um processo permanente de choques conflituosos e adaptação mútua através de diálogos entre as diferentes culturas e juízos de valores. O intercâmbio sem embaraços ao nível mundial entre os diferentes países, as diferentes civilizações e as diferentes nações, no que diz respeito às pessoas, mercadorias, capitais, saberes, técnicas e informações, depende da eliminação de obstáculos e barreiras linguísticas, culturais, institucionais e fronteiriças, com vista a intensificar o relacionamento e comunicação transculturais entre os diversos países e civilizações. Aliás, uma plataforma transcultural e internacional de intercâmbio que se desenvolva no contexto do pluralismo linguístico e cultural pode desempenhar um papel protagonista para o efeito. Na era da globalização, para um país de grande impacto, é necessário que mantenha contactos íntimos de todos os vectores com os países do mundo, estruturando plataformas transculturais para intercâmbio internacional que relacionem diferentes países e diferentes civilizações, seguindo, em regra os contextos histórico-culturais e as preferências de conexões dos diferentes territórios do próprio país. Nova Iorque, Los Angeles e Miami nos Estados Unidos da América (EUA) são portas que dão acesso à Europa, à Ásia e à América Latina, enquanto São Pedrosburgo e Vladivostok são locais da Rússia que relacionam os Continentes Europeu e Asiático. Estas plataformas de intercâmbio internacional têm de comum a sua situação geográfica privilegiada e ambiente pluralista linguístico-cultural, mantendo relações estreitas tradicionais com determinados países ou territórios. Como exemplo, Miami é uma cidade dos EUA geograficamente mais perto da América Latina e uma “porta que dá acesso à América Latina”, sendo mais de dois terços da sua população oriundos dos países da América Latina como Cuba, Brasil, Colômbia e Venezuela. Estes residentes multilíngues e multiculturais originários da América Latina, num total de 1,1 milhão contém grandes quantidades de quadros bilingues para as sociedades comerciais transnacionais, tendo transformado Miami na única cidade dos EUA em que se fazem negócios segundo a forma americano-latina e assim é mesmo designada por “capital económica da América Latina”.1 Para a RPC que se integra no processo de globalização, uma cidade com forte capacidade de comunicação translinguística e transcultural como Miami serve de exemplo bem sucedido no que diz respeito ao alargamento de intercâmbio internacional. 1 Yuan Haibin, Miami - Um Acesso à América Latina, Revista do Mercado Internacional, volume IV, 2003. 1147 Como a RPC é um país de grande impacto, a implementação da sua política de abertura ao exterior, fazendo face e integrando-se na comunidade internacional depende, antes de mais, de fazer face ao mesmo mundo e de fomentar o intercâmbio e comunicação transculturais. Macau, por sua vez, detém um vasto relacionamento com o exterior, um sistema económico aberto e um ambiente de pluralismo linguístico-cultural. Na sequência da aceleração da globalização da RPC, as oportunidades preciosas para que Macau desenvolva as suas únicas vantagens tradicionalmente existentes e reestabeleça a plataforma de serviço económico-comercial, estão para vir. 1. O regime de porto franco de Macau, que é altamente aberto ao exterior, é favorável ao desenvolvimento da economia off-shore e da economia transnacional Porto franco é um lugar de acolhimento importante onde os recursos de todo o mundo se aglomeram e se alocam na era da globalização. Em Macau e Hong Kong, a livre entrada e a livre saída de pessoas, mercadorias, capitais e outros são garantidas; territórios que são os únicos dois portos francos do nosso País, lugares importantes que ligam a RPC e os mercados internacionais e portas importantes para a economia aberta. No contexto da globalização, como as entidades transnacionais e as actividades transnacionais estão a aumentar de modo gradual, o regime de porto franco, que é altamente aberto ao exterior, pode melhor satisfazer as exigências de livre circulação no âmbito mundial de pessoas, mercadorias e capitais, sendo favorável a que Macau ultrapasse, desde logo, as barreiras que se erguem em virtude das fronteiras e sistemas económicos dos diferentes países e desenvolvendo actividades económicas off-shore e transnacionais, no sentido de promover o intercâmbio entre a RPC e os demais países do mundo. 2. O ambiente pluralista linguístico-cultural de Macau é favorável à ultrapassagem das distâncias resultantes das diferentes línguas e culturas e ao fomento geral da cooperação internacional A língua é um meio fundamental de comunicação do Homem e é a essência em que assentam todas as culturas e civilizações; assim a comunicação através das línguas é um pressuposto no intercâmbio internacional 1148 e transcultural. Apesar de existirem milhares de línguas, o inglês, o francês, o espanhol e o português são as poucas línguas comuns e universais faladas na maioria dos países do mundo. Uma vez estruturada uma plataforma translinguística de intercâmbio internacional que abranja umas destas línguas, um país pode manter um relacionamento transcultural e comunicação íntimas com a maior parte dos países do mundo. A RPC tem considerado, desde sempre, Hong Kong como seu acesso principal ao exterior. A língua internacional em uso em Hong Kong é o inglês e os principais países estrangeiros com que se relaciona são os da língua inglesa. Para além do inglês, as línguas latinas, como o francês, o espanhol, o português são igualmente línguas internacionais relevantes. Os países ou territórios de línguas latinas totalizam mais de 80, número que é superior ao dos países que adoptam a língua inglesa como língua comum. Se pretender intensificar o relacionamento e intercâmbio com os países de línguas latinas, a RPC necessita de um meio de intercâmbio internacional transcultural sino-latino bem desenvolvido, como se fosse Hong Kong. Macau, que é um vizinho de Hong Kong, tem como línguas oficiais o chinês e o português, detendo um ambiente linguístico-cultural idêntico ou próximo ao dos países de língua oficial portuguesa (PALOP’s) e ao do s países de línguas latinas. Os países de língua portuguesa totalizam aproximadamente 10, incluindo Portugal, Brasil, Angola e Moçambique e o português, o francês, o espanhol e o italiano são derivados do latim que era uma língua comum do Ocidente na Antiguidade, línguas cujas fonética, gramática e vocabulários têm muitos aspectos comuns. Aliás, quem domina a língua portuguesa sabe mais ou menos o espanhol. Os países de língua portuguesa e demais países de línguas latinas têm origens comuns e muitas semelhanças no que dizem respeito à história, cultura, economia e sociedade. Mais de um terço dos países existentes no mundo são países de línguas latinas, sendo estes consequentemente importantes ao nível mundial, uma vez que três das dez potências económicas são países de línguas latinas. A França, a Itália e a Espanha são países europeus de língua latina, económica e tecnicamente desenvolvidos. Três quintos dos países africanos têm como línguas oficiais as latinas, incluindo o português, o francês e o espanhol, enquanto na América Latina predominam países de línguas latinas, países que são ricos em recursos naturais e têm grandes potencialidades de desenvolvimento. O futuro da cooperação económica entre os países de línguas latinas e da RPC é brilhante; aliás a RPC deve tratá-los como parceiros essenciais no alargamento do relacionamento internacional a todos os vectores. No entanto, em virtude da existência de barreiras linguística e cultural, o intercâmbio entre a RPC 1149 e muitos dos países de línguas latinas até ao momento é ainda bastante reduzido, sendo esse relacionamento muito menos intenso do que as relações entre a RPC e os países de língua inglesa. Dos 10 maiores parceiros de comércio internacional, cinco são países de língua inglesa ou países que têm essa língua como língua de uso corrente e apenas um é país de línguas latinas. As empresas emergentes transnacionais com sede na RPC, como Lenovo, Haier, TCL, Huawei e ZTE, que começaram a investir no exterior, encontram mais situações embaraçosas de índole de língua, cultura e comunicação nos países de línguas latinas do que nos de língua inglesa. O famoso caso dos primeiros investimentos das empresas sediadas na RPC - o projecto de investimento do Grupo Shougang nas minas de ferro do Peru - reflectiu em grande medida as dificuldades na integração transcultural das empresas chinesas nos países de línguas latinas. Uma das opções naturais para estreitar as relações de reciprocidade entre a RPC e os países de línguas latinas é a maximização do papel do relacionamento translinguístico e da intermediação transcultural de Macau. Macau não só tem um ambiente linguístico-cultural próximo ao dos países de línguas latinas, mas também mantém um intercâmbio tradicional na economia e na cultura com os mesmos. Até ao momento, a França, a Itália e Portugal continuam a ser importantes parceiros comerciais de Macau. Macau tem um relacionamento estreito com os países de línguas latinas em muitas áreas como a cultura, a educação e o direito. Estes privilégios que Hong Kong não possui, são exclusivos de Macau; não existem em nenhum território da China e até da Ásia Oriental. O vasto relacionamento internacional na área económica, o grosso substrato multicultural e o regime de porto franco altamente aberto ao exterior de Macau, são extremamente favoráveis à estruturação de uma plataforma económico-comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa e de uma plataforma económico-comercial entre a mesma RPC e os países de línguas latinas, bem como a criação de uma “Miami do Oriente”, no sentido de participar na concorrência e cooperação a todos os vectores. II. Concepção sobre a promoção de Macau de plataforma comercial Sino-PALOP’s para uma plataforma comercial Sino-Latina Em matéria da estruturação de uma plataforma económico-comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa e de uma plataforma económico-comercial entre a mesma RPC e os países de línguas latinas, 1150 Macau obtém apoio total dado pelas autoridades centrais, enquanto os diversos sectores de Macau também chegaram a um consenso amplamente aceite. No Jornal Ou Mun, de 27 de Agosto de 1987, foi publicada uma tese intitulada “Exploração de caminhos de desenvolvimento de Macau”, artigo que sugeriu o aproveitamento dos privilégios de Macau decorrentes do ambiente do pluralismo linguístico-cultural e o relacionamento tradicional com o exterior, no sentido de tornar Macau “numa ponte de intercâmbio entre a RPC e os países de língua portuguesa e de demais línguas latinas como o Brasil”2. Segundo um estudo intitulado “Algumas estratégias para o desenvolvimento económico de Macau” co-elaborado pela Associação de Estudos da Economia de Hong Kong e Macau de Guangdong e pela Associação da Economia de Macau, “Macau reúne todas as condições para servir de ponte e intermediário entre a RPC e os países de língua portuguesa e das demais línguas latinas”.3 Nos primeiros anos após a reunificação com a RPC, mais precisamente em Novembro de 2000, o chefe do executivo de então da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), referiu no Relatório das linhas de acção governativa para o ano financeiro de 2001 que “o Governo da RAEM irá estudar a adopção de medidas mais eficazes com vista a tornar Macau numa verdadeira ponte de cooperação económica e comercial e de intercâmbio cultural entre o Continente Chinês e os países de expressão latina”.4 Em Março de 2007, Ma Iao Lai, coordenador adjunto da Comissão para os Assuntos de Hong Kong, Macau, Taiwan e Retornos do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e Presidente da Associação Comercial de Macau referiu, no seu uso da palavra no 2.º Plenário da V Sessão do X Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês: “Entre Macau e os países de língua portuguesa, até os de línguas latinas, foi estabelecido e é mantido um relacionamento tradicional económicocultural. Macau pode prestar serviços satisfatórios de índole cultural, jurídica, de consulta comercial e de tradução nas acções económico-co2 Wang Hai, “Exploração de caminhos de desenvolvimento de Macau”, in Jornal Ou Mun, de 27 de Agosto de 1987, pág. 11. 3 Grupo de Estudo Temático da Associação de Estudos da Economia de Hong Kong e Macau de Guangdong e Associação da Economia de Macau, Relatório de Estudos “Algumas estratégias para o desenvolvimento económico de Macau”, Macau, Fevereiro de 1997, pág. 20. 4 Edmundo Ho, Relatório das linhas de acção governativa para o ano financeiro de 2001, 9 de Novembro de 2000, http://portal.gov.mo/web/guest/govinfo/policyaddress,consulta feita em 20 em Maio de 2011. 1151 merciais entre o nosso País e os países de língua portuguesa e das demais línguas latinas, com vista a alargar o âmbito da cooperação entre a RPC e os países de língua portuguesa, avançando no sentido de desenvolver as relações cooperativas com a União Europeia e os países da América Latina e da África, contribuindo para se tornarem um novo factor de crescimento económico para o País e para a própria Macau”.5 A partir de 2003, com o pleno apoio dado pelo Governo da RPC, foram realizadas três edições da Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau). Assim, Macau passou gradualmente a ser uma plataforma de cooperação comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa, o que mereceu uma apreciação bastante positiva por todas as partes. Com a criação do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o volume de transacções comerciais entre a RPC e os países de língua portuguesa tem aumentado de modo significativo ao longo dos anos: o valor do comércio bilateral em 2010 passou a ser de 91,4 biliões dólares americanos, valor que representa 14 vezes mais do que antes da criação do Fórum em 2002, sendo a taxa de crescimento média anual de 40%, que é muito superior à taxa de crescimento média anual do comércio externo da RPC (22%).6 A RPC passou a ser o maior parceiro comercial do Brasil, em contrapartida, este país é o maior parceiro comercial da RPC na América Latina, passando pela primeira vez a ser um dos dez maiores parceiros do comércio externo da RPC. Angola, por sua vez, tornou-se o segundo maior parceiro comercial da RPC na África. Na Cerimónia Inaugural da 3.ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), o primeiro-ministro da RPC Wen Jiabao sublinhou: “o Governo da China fornece apoio total ao intercâmbio económico e comercial entre Macau e os países lusófonos, e encoraja empresas chinesas a realizarem todas as formas de intercâmbio e cooperação com os seus parceiros destes países através da plataforma de Macau, esperando que os 5 Kuok Yuan Man, “Ma Iao Lai usa palavras no Plenário da V Sessão do X Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês: Macau pode servir de modo satisfatório a Plataforma de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, in Jornal Ou Mun, de 10 de Março de 2007, pág. B2. 6 Sun Bin, Gu Ye e Liu WeiWei, “Macau empenha-se na construção de plataforma de intercâmbio comercial entre a RPC e os Países de Língua Portuguesa”, de 20 de Março de 2011, http://news.xinhuanet.com/politics/2011-03/20/c_121209618.htm, consulta feita em 29 de Maio de 2011. 1152 países participantes deste Fórum possam continuar a aproveitar bem esta plataforma e a promoverem o estabelecimento de laços económicos e comerciais ainda mais estreitos”.7 O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) é a primeira organização dedicada à cooperação internacional criada por iniciativa da RPC com base num meio linguístico. A criação do Fórum assinala que Macau passa a ser uma plataforma de importância para o comércio internacional que tem por base numa língua, plataforma que terá um grande espaço de desenvolvimento no futuro. O número de países que têm a língua portuguesa como língua de uso corrente não chega a dez, enquanto os países de línguas espanhola, francesa e demais línguas latinas totalizam mais de 70. Estes países localizam-se, tal como os de língua portuguesa, essencialmente na Europa do Sul, América Latina e África, que constituem zonas que mantêm laços menos fortes com o sistema aberto do nosso País que urge, consequentemente, intensificar. Como Macau mantém com estes países um relacionamento económico-cultural de tradição e foram já lançados alicerces excelentes - a plataforma de cooperação entre a RPC e os países de língua portuguesa -, poderá no futuro proliferar as suas influências aos demais países de línguas latinas partindo da plataforma comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa, valorizando e sobrelevando essa mesma plataforma no sentido de transformá-la numa plataforma de cooperação entre a RPC e os países de línguas latinas, contribuindo para a internacionalização das empresas transnacionais com sedes na RPC que tencionem desenvolver os seus negócios em toda a parte do mundo. 1. Organização de um “fórum de cooperação entre a RPC e a América Latina”, avançando progressivamente no sentido de constituir uma plataforma de cooperação económico-comercial entre a RPC e os países de línguas latinas De entre as línguas latinas, o espanhol e o português são línguas da mesma família e mais próximas, em termos da forma de escrever; aqueles 7 Wen Jiabao, “Promover o desenvolvimento comum através da cooperação diversificada - Discurso na Cerimónia Inaugural da 3.ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau)”, in “Renmin Ribao” (Diário do Povo), de 14 de Novembro de 2010, pág. 3. 1153 que falam português podem entendem de um modo geral a língua espanhola falada, enquanto quem sabe espanhol pode entender a língua portuguesa falada quando estiver habituado8. Existem no mundo mais de 20 países de língua espanhola que se localizam essencialmente na América Latina, totalizando a sua população cerca de 400 milhões que equivale ao dobro da população dos países de língua portuguesa. Os países da América Latina são os principais parceiros nas relações cooperativas da RPC e esta última é, por sua vez, o maior país parceiro comercial e origem de investimento daqueles. No entanto, entre a RPC e os países de línguas latinas não foi estabelecido nenhum mecanismo formal de cooperação económica regional semelhante às relações cooperativas entre a RPC e a Ásia Sudeste e a África, tornando-se necessário assim uma intensificação das relações bilaterais entre aqueles. Em 26 de Junho de 2012, o Primeiro Ministro Chinês Wen Jiabao fez oficialmente um apelo durante a sua visita à América Latina para “Criar um fórum de cooperação entre a RPC e os países de línguas latinas, no sentido de estruturar uma plataforma que melhor contribuirá para intensificar a cooperação global entre os mesmos”9. Como o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) já constitui um relacionamento estreita entre a RPC e o maior país da América Latina o Brasil, existando já um laço tradicional entre Macau e os demais países da América Latina e não havendo uma grande barreira linguística e comunicativa, é possível organizar um “fórum de cooperação entre a RPC e a América Latina” com base nos trabalhos feitos no âmbito do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), desenvolvendo a plena cooperação entre a RPC e os mesmos países, aproveitando as vantagens de Macau nas áreas linguística, cultural e intermediária, oferecendo um degrau sólido para a sobreelevação de Macau no sentido de transformá-la numa “plataforma económico-comercial entre a RPC e os países de línguas latinas”. Em virtude da existência de um laço tradicional entre Macau e a Europa, foi celebrado, em 1992, o Acordo Comercial e de Cooperação, entre Macau e a Comunidade Económica Europeia que estabelece a 8 Li Jingkun, Portugal, Editora de Documentação de Ciências Sociais da China, Pequim, 2006, pág. 18. 9 Wang Li, Discurso de Wen Jiabao na Comissão Económica para América Latina e o Caribe da Organização das Nações Unidas, in “Renmin Ribao” (Diário do Povo), 28 de Junho de 2012, pág. 1. 1154 base de cooperação entre as duas partes. A ligação entre Macau e a Europa concentra-se nos países latinos da Europa do Sul, como Portugal, Espanha, França e Itália. A cooperação entre a China e estes países têm um futuro bastante brilhante, que não se limita às altas tecnologias, mas abrange as indústrias tradicionais da moda, joalharia, pele, alimentação e cosméticos. As ideias da concepção inovadora do “estilo latino”, estratégias de marca e comercialização, bem como o agrupamento regional de indústrias de “raiz cultural latina”, merecem a imitação e aprendizagem da China, cujas indústrias transformadoras de trabalho intensivo carecem de promoção e de regeneração. Como os principais conflitos comerciais entre a RPC e a União Europeia no âmbito dos artigos de consumo, tais como os têxteis e o calçado, envolvem essencialmente os países da Europa do Sul, enquanto a RPC é o principal mercado dos artigos de consumo de luxo destes últimos, uma das opções para resolver as contradições é a efectivação da complementaridade de vantagens que consiste em “investigação a cargo da Europa do Sul e fabrico na RPC”, encontrando assim um meio “ganho-ganho” para a resolução dos conflitos comerciais através do alargamento da cooperação. Para os países da Europa do Sul, envolvidos recentemente na crise da dívida soberana, afastarem as dificuldades, o alargamento do intercâmbio económico com a RPC é uma saída privilegiada. Nos âmbitos das ciências, cultura, educação e desporto, a cooperação entre a RPC e a Europa do Sul é também bastante potente. No entanto, o alargamento da cooperação entre as duas partes está condicionado ao ajustamento mútuo mediante a intensificação do diálogo10 e, para o efeito, Macau pode ser a plataforma mais indicada para a comunicação transcultural entre a RPC e os países da Europa do Sul. Assim, podem aproveitar-se as condições privilegiadas que surgem com a criação do “Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa” para organizar um “fórum para a cooperação entre a RPC e os países da Europa do Sul”, com vista a avolumar a mais de 10. E, à medida que se intensificam as funções das plataformas do intercâmbio internacional da língua portuguesa e de língua espanhola, Macau pode avançar no sentido de alargar as plataformas de cooperação internacional de língua francesa e de língua italiana. 10 Wang Yan Chun, Porquê optar pela Itália, Jornal Observação Económica, 12 de Junho de 2006, pág. 8. 1155 A África tem grandes potencialidades de desenvolvimento. Com vista a promover o intercâmbio sino-africano, foi criado um mecanismo de cooperação - o Fórum Sino-Africano. Só que, a expansão do intercâmbio não governamental entre os dois blocos está condicionada à exploração de mais canais de comunicação. A maioria dos países africanos é de línguas do ramo latino, como o francês, o português e o espanhol. E Macau, que já passou a ser uma plataforma de cooperação entre a RPC e os países de língua portuguesa africanos, é uma porta para o intercâmbio internacional da RPC mais próxima da África. Neste sentido, pode lutarse por estabelecer em Macau uma plataforma de cooperação económica, comercial e cultural no enquadramento do Fórum Sino-Africano, bem como uma plataforma de intercâmbio e cooperação não governamental, tornando Macau um local que liga a RPC e a África. Na sequência da eventual sobreelevação de Macau a “plataforma de cooperação entre a RPC e os países de línguas latinas”, o âmbito do relacionamento entre Macau e o exterior cobrirá progressivamente mais de 80 países de línguas latinas, passando assim a ser a “Miami do Oriente”, cuja rede de laço é ainda muito maior. Os laços Sino-Latinos que têm sido menos desenvolvidos poderão crescer de forma acelerada com a valorização da plataforma de cooperação internacional de Macau. 2. A colaboração entre Macau e Zhuhai na formação da plataforma Sino-Latina, com base na complementaridade de vantagens dos dois locais Embora a constituição de plataforma internacional de economia e comércio em Macau tenha um futuro muito brilhante, há ainda um caminho bastante longo a percorrer para maximizar as suas potencialidades, no sentido de transformá-la num centro internacional de serviços de economia e comércio bem desenvolvido como Hong Kong. Ao longo do tempo, o “terreno pequeno, águas pouco profundas e pouca população” são factores que têm constituído o engarrafamento que afrouxa o desenvolvimento económico de Macau, restringindo a formação de plataforma internacional de economia e comércio. Porém, aquilo que é escasso em Macau é abundante no Continente Chinês, especialmente na àrea circunvizinha de Macau - Zhuhai em que há “terreno vasto, porto de águas profundas e recursos humanos abundantes” que podem suprir em grande 1156 medida as faltas de Macau. A distância entre Macau e a Ilha de Hengqin (também conhecida por Ilha da Montanha) é apenas centenas de metros, Ilha que tem uma área que é o quádruplo da área total de Macau, onde cabem centenas de milhares de pessoas após suficiente aproveitamento. O Porto Gaolan de Zhuhai é um porto de grande capacidade e excelentes águas profundas, que pode complementar as vantagens do porto franco de Macau, no sentido de tornar-se num porto internacional intermediário. Zhuhai colabora com várias escolas superiores famosas a nível nacional e do Sul da China na área do ensino, agrupando os benefícios dos mecanismos da zona especial de Zhuhai e os recursos de docência das escolas superiores do Continente Chinês. Instituições estas que são capazes de formar quadros profissionais e de todas as línguas, no sentido de satisfazer as necessidades de Macau. Nestes termos, todos os problemas que condicionam o desenvolvimento de Macau são susceptíveis de se resolverem com facilidade, desde que se alargue a cooperação complementar entre Macau e o Continente Chinês, em especial Zhuhai. A falta de espaço geográfico é o principal condicionante que limita o desenvolvimento de Macau. Assim, um ponto importante para a formação, em Macau, de plataformas dinâmicas internacionais de economia e comércio é a exploração da Ilha de Hengqin em colaboração com Zhuhai. Com a aprovação do «Plano de Desenvolvimento Geral da Ilha de Hengqin», a exploração da mesma Ilha passou a ser uma estratégia do País e o núcleo na cooperação entre Macau e Zhuhai. A cooperação entre Macau e Zhuhai na exploração transfronteiriça da Ilha de Henqin é um caso que se reveste de muita especificidade. A chave para o sucesso da sua concretização consiste na fixação clara da utilidade da zona de desenvolvimento de Hengqin e na concessão de apoio através de medidas extraordinárias. A exploração de Hengqin tem por finalidade o apoio à diversificação adequada da economia de Macau e ao melhor desenvolvimento das funções de “plataforma comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa” que tende a ser promovida para uma “plataforma comercial entre a RPC e os países de línguas do ramo latino”. O que é vantajoso, quer para a abertura do País, quer para o desenvolvimento de Macau, Zhuhai e Delta do Rio das Pérolas. Na exploração conjunta da Ilha de Hengqin por Macau e Zhuhai encontra-se uma série de dificuldades em concreto a nível da operacionalidade. E a maior dificuldade consiste na existência de manifestas discre- 1157 pâncias institucionais relativas à política, à economia e ao direito, o que condiciona a circulação das pessoas, a mobilidade dos meios de produção e a integração das indústrias. No intuito de ultrapassar estas discrepâncias e dinamizar as cooperações entre Macau e Zhuhai, torna-se necessário um arranjo institucional extraordinário. Como Hengqin é uma ilha rodeada por água e relativamente isolada, é susceptível de se tornar numa zona especial de cooperação económica transfronteiriça, onde se pratica uma política extraordinária de abertura, que consiste em efectuar o controlo de saídas e não de entradas de pessoas e mercadorias provenientes quer de Macau, quer do Continente Chinês, ou seja, as pessoas e mercadorias de Macau e do Continente Chinês podem entrar livremente na Ilha de Hengqin com dispensa de fiscalização aduaneira, mas sujeitas à mesma fiscalização na sua saída. Com esta inovação de regime especial que contribuirá para uma alta abertura e eficácia, pretende-se dinamizar a plena troca económica de Macau e do Continente Chinês na Ilha de Hengqin, maximizando, no quadro de “um país, dois sistemas”, a circulação de meios de produção, articulação de indústrias e integração económica entre Macau e o Continente Chinês. Macau e Zhuhai são os dois principais actores na exploração da Ilha de Hengqin, enquanto esta exploração está relacionada com os interesses comuns de ambos - complementaridade das vantagens e desenvolvimento paralelo. Assim, pode considerar, sob o pressuposto de que Zhuhai mantém a propriedade dos terrenos da Ilha de Hengqin, a adopção de um modelo de desenvolvimento semelhante mas diferente do da Zona Industrial Transfronteiriça de Zhuhai-Macau, que é dividir Hengqin, segundo o seu Canal Central, em duas partes - zona norte e zona sul - cuja administração é entregue a Macau e a Zhuhai. Estas duas zonas são exploradas em conjunto pelas duas partes, tornando-se num zona transfronteiriça especial de cooperação económica em que se põe em prática o princípio “uma ilha, duas zonas” ou “uma ilha, dois sistemas”, com vista a dinamizar a livre circulação de pessoas e de meios de produção entre Macau e Zhuhai. A zona norte da Ilha de Hengqin (Ilha de Xiao Hengqin, também conhecida por Ilha de D. João) que está mais perto de Zhuhai, pode ser administrada por esta última; como a zona sul da Ilha está muito próximo da Ilha de Coloane de Macau e parte dos seus terrenos já foi afecto à construção do novo campus da Universidade de Macau na Ilha de Hengqin, esta zona pode ser entregue à administração de Macau, adoptando um modelo de gestão que se referencia ao do dito campus mas diferente daquele. As re- 1158 feridas duas zonas da Ilha de Hengqin são separadas pelo Canal Central, mas são ligadas por várias pontes que o atravessam. Assim, se bem que a administração de duas zonas caiba a Macau e a Zhuhai, no seio da Ilha, as pessoas e as mercadorias podem circular livremente e as empresas das duas zonas podem explorar livremente as suas actividades, criando assim uma situação em que o desenvolvimento é comum, enquanto a exploração é paralela - pode ser executada sozinha ou em conjunto. Planta da Ilha de Hengqin Segundo o planeamento funcional para a exploração de Hengqin, na zona sul da Segundo o planeamento funcional parapode a exploração de Hengqin, Ilha de Hengqin, sob a administração de Macau, montar-se essencialmente uma zona sul internacional de Hengqin, finanças e comércio onde se instalem sedes napode região na zona da Ilha de sob a administração deasMacau, ásia-pacífico as sociedades comerciais e bancos transnacionais de origem dos países montar-se essencialmente zona internacional internacional de finanças e comércio de línguas do ramo latino,uma um parque de ciências e educação, com vista instituições universitárias e deásia-pacífico investigação científica dos mesmos países no ondea seatrair instalem as sedes na região as sociedades comerciais sentido de montar subsidiárias em Macau, bem como um parque para reuniões e e bancos transnacionais de origem dos países de línguas do ramo latino, exposições e cultura para realizar todos os tipos de reuniões, exposições, um parque internacional ciências elatinas, educação, comnuma vista“porta a atrair ins-os apresentações e artes com de características tornando-se pela qual países de línguas do ramo latino entram na RPC e na região ásia-pacífico” uma tituições universitárias e de investigação científica dos mesmos paíseseno “janela do mundo latino” através da qual a RPC e a região ásia-pacífico entendem os países de línguas do ramo latino. A zona norte da Ilha Henqin, administrada por Zhuhai, empenha-se na formação 1159 sentido de montar subsidiárias em Macau, bem como um parque para reuniões e exposições e cultura para realizar todos os tipos de reuniões, exposições, apresentações e artes com características latinas, tornandose numa “porta pela qual os países de línguas do ramo latino entram na RPC e na região ásia-pacífico” e uma “janela do mundo latino” através da qual a RPC e a região ásia-pacífico entendem os países de línguas do ramo latino. A zona norte da Ilha Henqin, administrada por Zhuhai, empenha-se na formação de uma zona económica para sede das sociedades comerciais, onde se concentram as sedes de gestão dos países de línguas do ramo latino das empresas transnacionais da RPC, bem como na constituição de parques de altas tecnologias, onde se desenvolvem, em colaboração com os países de línguas do ramo latino, altas tecnologias e reinventam indústrias tradicionais do Delta do Rio das Pérolas aplicando as mesmas tecnologias e “criatividade latina”. Assim, é de aproveitar os privilégios no seio da comunicação transcultural entre Macau e os países de línguas latinas para estruturar redes de intercâmbio na comercialização de mercadorias, financiamento, introdução de tecnologias, promoção do turismo, comunicação e informação, cooperação científica e educacional, bem como difusão cultural, transformando Macau numa “ponte que encaminha a RPC para o mundo latino”. A cooperação entre Macau e Zhuhai na exploração da Ilha de Hengqin pode maximizar os privilégios da mesma Ilha no que diz respeito aos seus terrenos, localização e instituições. A transformação da Ilha de Hengqin numa zona transfronteiriça de cooperação económica no quadro de “um país, dois sistemas”, à custa do relacionamento tradicional de Macau com o exterior e das potencialidades do Continente Chinês, é favorável à promoção de Macau, com base na preexistente “plataforma de cooperação económica e comercial entre a RPC e os países de língua português”, para ser uma “plataforma de cooperação económica e comercial entre a RPC e os países de línguas latinas” o mais breve possível. A Ilha de Hengqin, depois de suficientemente explorada, passará a ser uma nova zona central de comércio de Macau e Zhuhai que está aberta à RPC, região da Ásia Oriental e cerca de 80 países de línguas latinas. Esta nova zona onde se exploram sectores de serviços modernos de intermediação de finanças, comércio, transporte marítimo, informática, consultadoria, turismo, cultura, tecnologia, educação, reunião e exposição e criatividade, é favorável ao pleno intercâmbio económico e cultural entre a RPC, a Ásia Oriental 1160 e os países de línguas latinas, actividades que constituirão uma nova locomotiva do crescimento económico para o desenvolvimento de Macau, Zhuhai e até a região do Delta do Rio das Pérolas. No futuro, Macau e Zhuhai formarão uma metrópole, através da integração urbana de ambas, com uma população de milhões de pessoas e capacidades polivalentes de serviços, transformando-se numa plataforma internacional de economia e comércio semelhante a Hong Kong e Miami. Macau, que dá prioridade ao relacionamento com os países de línguas latinas, e Hong Kong que dá preferência ao relacionamento com os países de língua inglesa são complementares na divisão do trabalho, criando entre si uma relação “ganho-ganho” e podendo desempenhar papéis importantes no pleno desenvolvimento das relações estrangeiras por parte da RPC. III. Plataforma internacional da economia e comércio Sino-Latino que promove o desenvolvimento diversificado da economia de Macau A promoção de Macau como plataforma sino-latina tem um significado relevante, quer para Macau e o Delta do Rio das Pérolas, quer para a abertura e desenvolvimento da RPC. 1. É favorável ao desenvolvimento diversificado da economia de Macau Até ao momento, a economia de Macau está extremamente dependente do sector dos jogos, e este sector, por sua vez, está altamente dependente dos capitais estrangeiros e turistas provenientes do Continente Chinês; assim os riscos de mercado e conflitos de interesses são evidentes. Com vista a promover a diversificação económica, o Governo da Região Administrativa Especial de Macau referiu várias vezes que se empenha em transformar a RAEM num centro de turismo de lazer a nível internacional e numa plataforma de serviços comerciais. Se bem que a estruturação em Macau de uma plataforma comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa já dá alguns frutos, o desenvolvimento das actividades de serviços internacionais de comércio pede, de forma instante, uma economia de escala do sector. Em virtude de o número de países de língua portu- 1161 guesa ser reduzido, o papel que Macau pode desempenhar na plataforma internacional de comércio está bem limitado, sendo difícil desenvolver sectores de serviços de intermediação financeira ou comercial dotados de privilégios de escala. Em consequência, Macau não conseguiu dinamizar o rumo da diversificação económica. Se a plataforma comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa de Macau for promovida para uma plataforma comercial sino-latina, aberta a cerca de 80 países de língua do ramo latino, então poderá desenvolver-se em Macau uma vasta gama de actividades da natureza de serviços comerciais internacionais tão dinâmicas como em Hong Kong ou em Miami, actividades que constituem uma nova locomotiva para o crescimento económico, evitando a excessiva dependência do sector dos jogos, estimulando o aperfeiçoamento da estrutura industrial, encontrando um novo caminho rumo ao desenvolvimento e à estabilidade social e à diversificação económica. A estruturação em Macau de uma plataforma internacional de comércio pode também atrair turistas estrangeiras, contribuindo para transformar Macau num “centro de turismo de lazer a nível internacional”. 2. É favorável ao desenvolvimento económico do Delta do Rio das Pérolas até ao da região sudoeste da RPC Com a implementação da política de reforma e abertura na RPC, registou-se um crescimento económico de alta velocidade no Delta do Rio das Pérolas, sendo uma das principais razões a sua proximidade de Hong Kong. Sob a força centrípeta metropolitana de Hong Kong, as vilas fronteiriças como Shenzhen e Dongguan, que se localizam na costa leste da foz do Rio das Pérolas, cresceram tornando-se em grandes cidades. Inclusive, Zhuhai e Zhongshan, cidades localizadas na costa oeste da mesma foz, começaram a desenvolver em simultâneo com aquelas, sendo hoje cidades médias, com um produto interno bruto equivalente a um quinto daquelas cidades. Esta diferença verificada no grau de desenvolvimento é devida essencialmente à falta de uma locomotiva para o crescimento económico tão potencial como Hong Kong. Embora a costa oeste da foz do Rio das Pérolas esteja muito próxima de Macau, o sector dos jogos ou seja as actividades económicas predominantes de Macau não criam novas riquezas. Assim, no relacionamento económico, ou seja, no “comércio dos serviços do jogo” entre Macau e as zonas circunvizinhas não se produzem, tal como acontece noutras indústrias, efeitos da divisão regional do trabalho, complementaridade económica e de interactividade sectorial 1162 que assentam em vantagens comparativas; pelo contrário, resultam conflitos de interesses interregionais devido à distribuição de riqueza. Neste sentido, na cooperação regional em vigor no Delta do Rio das Pérolas, em que uma parte se dedica ao comércio e outra se empenha na produção, Macau não conseguiu transformar-se numa locomotiva de crescimento económico que acompanha o desenvolvimento da costa oeste da foz do Rio das Pérolas. Com a transformação de uma plataforma comercial entre a RPC e os países de língua portuguesa numa plataforma económicocomercial entre a RPC e os países de línguas latinas, em Macau poderão desenvolver-se sectores de serviços de intermediação com privilégios de escala, como os sectores financeiro e comercial. O vasto relacionamento internacional de Macau e o seu regime altamente aberto inerente ao porto franco, acrescidos do grande espaço territorial, abastecimento suficiente de quadros de pessoal e condições privilegiadas do Porto de Gaolan, são condições suficientes para criar uma locomotiva de crescimento económico tão dinâmica como Hong Kong que pode estimular o desenvolvimento económico regional. O porto franco de Macau e o porto de águas profundas de Zhuhai são ainda portas tradicionais da Bacia Hidrográfica do Rio Xijiang (afluente do Rio das Pérolas), pelo que podem aproveitar o canal aquático de Xijiang, que liga as zonas sudoestes, para avolumar a troca comercial entre o Continente Chinês e Macau, Zhuhai e os países de línguas do ramo latino, como vista a orientar a abertura e exploração da mesma Bacia Hidrográfica, até mesmo da zona sudoeste, territórios estes que podem tornar-se em novos espaços para o desenvolvimento económico da própria Macau. 3 É favorável ao impulso da plena abertura ao exterior, aumentando em grande medida a capacidade concorrencial internacional, poder brando cultural e influências universais da RPC Os países de línguas do ramo latino são relevantes na conjuntura global da economia mundial e no contexto da abertura do País. A construção de uma plataforma de intercâmbio económico-comercial entre a RPC e os países de línguas latinas pode alterar de modo fundamental as circunstâncias do intercâmbio sino-latino que actualmente é fraco e passivo e é favorável ao pleno alargamento da abertura e à plena intensificação dos intercâmbios político, económico e cultural entre a RPC e os países de línguas latinas. A emergência da RPC não se limita à economia, mas 1163 inclui também a revivificação da civilização e emergência cultural. A emergência das grandes potências do mundo é fruto das excelentes civilizações do Homem. A cultura latina que sucede à civilização da Antiga Roma e é a fonte da civilização moderna do Ocidente era a corrente predominante da civilização ocidental até ao século XIX. E o latim, bem como as línguas modernas do ramo latino como o italiano, o francês, o espanhol e o português, são veículos da civilização latina e chave para investigar a civilização latina e a civilização ocidental. Macau tem sido, desde sempre, um dos centros de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente. Assim, a estruturação de uma plataforma para o intercâmbio transcultural no decurso do processo de globalização em que a RPC envolve é favorável ao desenvolvimento mais profundo do intercâmbio com cerca de 80 países de línguas do ramo latino e ao melhor entendimento das evoluções verificadas nas civilizações ocidental, da América Latina e de África por parte da RPC. E esta pode tomar como referência as experiências do desenvolvimento e os bons resultados de diversos países e civilizações. À medida em que a economia emerge, a realização da emergência cultural é favorável à concretização do desenvolvimento e restauração da civilização chinesa. E a estruturação da plataforma é também vantajosa para maximizar, nas acções inerentes ao intercâmbio com o exterior a todos os vectores, a capacidade concorrencial ao nível internacional, o poder brando cultural e a influência mundial da RPC.