Revista Faculdade Castelo Branco científica ISSN 2316-4255 Título da resenha: Teoria e Prática Texto original: SCARTON, Gilberto. Artigo de opinião: “Gramática versus desempenho linguístico”. Recanto das Letras. Internet. 08-05-2011. Autora: Lilia Planticow Objetivo da resenha: proceder a uma análise crítica sobre a eficácia do ensino da Gramática no desenvolvimento linguístico dos alunos. Pancas, 10 de outubro de 2012 Teoria x prática Será que o estudo intencional da gramática melhora o desempenho linguístico dos usuários de uma língua? O professor Gilberto Scarton, da PUCRS, onde leciona Língua Portuguesa, publicou no site Recanto das Letras, na Internet, em 08 de maio de 2011, artigo denominado “Gramática versus desempenho linguístico”, em que responde negativamente à pergunta formulada. O estudo de definições, classificações e nomenclaturas, além da memorização de regras, que consubstanciam esse estudo intencional da gramática, em nada melhoram a expressão oral ou escrita de quem quer que seja, em condições de comunicação. Quando se fala em estudo intencional da gramática, quer-se dizer estudar a gramática pela gramática, sem se pensar em qualquer serventia prática. Educadores, filólogos e linguistas de renome comungam dessa ideia, entre os quais o famoso gramático, filólogo e linguisCastelo Branco Científica - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Revista Faculdade Castelo Branco científica ISSN 2316-4255 ta Celso Pedro Luft, que, em sua obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino”, combate o ensino da gramática na sala de aula dizendo textualmente: “Quem sabe, lendo este livro, muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical,desistindo de querer ensinar a língua por definições,classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício”. (LUFT apud Scarton, p.99). Acrescentem-se, à advertência de Luft, outros importantes argumentos expostos por Scarton contra a gramática, da maneira como é ensinada: (1) por mais que alguém a estude, ela, por si só, não será capaz de promover melhora substancial no desempenho linguístico de ninguém; (2) por entenderem tanto de gramática e de linguística, muitos autores seriam, pela lógica, os melhores escritores, e não o são; (3) da mesma forma, ilustres escritores como Monteiro Lobato, Machado de Assis e Luís Fernando Veríssimo não deveriam ter-se tornado escritores, porquanto não conheciam a teoria gramatical; (4) o gramaticalismo exacerbado constante dos ensinos de português nos currículos do Ensino Fundamental e do Médio tem levado os estudantes a resultados pífios nos vestibulares, no que tangem à redação. Scarton usa como exemplo o seguinte caso: um jovem universitário, com sérios problemas de ortografia, regência e concordância, citando apenas algumas das deficiências, recebe uma gramática, para estudá-la, com o objetivo de recuperar seu desempenho linguístico empobrecido. Assim o faz, com afinco, aprendendo o que é fonologia, morfema, fonema, enfim toda a teoria contida na gramática. Após certo período, teria esse jovem alcançado êxito em sua experiência? Seu desempenho linguístico teria se tornado mais desenvolvido e robusto? Tudo o que aprendeu com a gramática teria lhe trazido notáveis melhorias no desempenho de sua língua materna? Para Scarton, a resposta é indiscutivelmente negativa, pois pode ser que tenha 2 Castelo Branco Científica - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br Revista Faculdade Castelo Branco científica ISSN 2316-4255 havido mísera melhora na formação de frases, mas a falta de coesão e de coerência obviamente continuaria. Isso porque, Scarton acredita que a gramática tradicional, por si só, é incapaz de preencher as lacunas existentes entre os mecanismos para a construção de um texto satisfatório. Quando Scarton conclui o seu texto sem direcionar solução ao problema do ensino de gramática nas escolas ao dizer que “não há salvação para o ensino da língua, nem como recuperar linguisticamente os alunos, nem como promover um melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical e que o caminho é certamente outro”, está, com certeza, dando margem ao leitor para que ele reflita e penetre nessa densa e profunda seara. Os contundentes argumentos do autor, mercê do conhecimento que detém sobre o assunto de que se trata, levam-nos a refletir sobejamente a respeito e concluir que o seu texto é de enorme valia e deveria ser levado ao conhecimento dos batutas da educação brasileira, passando, obviamente, em primeiro lugar, pelo crivo de linguistas,filólogos e gramáticos, no sentido de que algo seja feito em prol do ensino da língua portuguesa no Brasil. Sabe-se, e qualquer usuário da língua, de mediana competência, é capaz de detectar, que o ensino da língua torna-se cada vez mais crítico e criticado à proporção dos descalabros a que o desempenho linguístico oral e escrito se submete a cada instante. O caminho do ensino da língua deveria cingir-se, efetivamente, por (1) leitura; (2) interpretação e (3) produção de textos, desde as séries iniciais de estudo do aluno; e o ensino dos pontos essenciais da gramática poderia ocorrer pari passu com essa tricotomia. Por essa razão é que se recomenda a todos os leitores, em especial a professores de português, a leitura atenta ao artigo Castelo Branco Científica - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br 3 Revista Faculdade Castelo Branco científica ISSN 2316-4255 do Prof. Gilberto Scarton cuja originalidade pode ensejar- quem sabe- novos caminhos para o ensino da nossa língua. Com certeza, o sistema ajuda nessa sequencial e interminável mania de se fazer que ensina e se fazer que aprende, tudo isso aliado à baixa remuneração do professor. O que acontece hoje nas escolas, especialmente nas públicas? Os alunos passam de ano sem que tenham lido um livro sequer, sem terem produzido textos, pois o professor não tem tempo para corrigi-los e passa-lhes uma carga de gramática fora de série e inútil. O exposto nos conduz, pois, a reafirmar a tese defendida por esse competente professor gaúcho, que nos trouxe, mercê da clareza e objetividade do seu texto, a real situação a que está submetido o ensino do nosso idioma. Tudo, em verdade, tem de passar por aí: muita leitura, muita interpretação de textos e bastante produção escrita, mas com uma pessoa (um professor e um monitor) para corrigir esses textos e mostrar, enfim, um melhor caminho para a construção do conhecimento, para um melhor desempenho linguístico e – por que não dizer - para o pleno exercício da cidadania. 4 Castelo Branco Científica - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br