LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DE ALGAS PLANCTÔNICAS DO RESERVATÓRIO DE XINGÓ, RIO SÃO FRANCISCO, BRASIL. Nísia Karine C. V. Aragão1, Micheline Kézia Cordeiro-Araújo2, Eduardo Vetromilla Fuentes1, Ariadne do Nascimento Moura3, William Severi4 e Ênio Wocyli Dantas5 Introdução As microalgas constituem os organismos mais representativos entre os diversos grupos de seres vivos nos ecossistemas aquáticos, por apresentarem papel fundamental na manutenção da vida aquática como produtores primários, capazes de converter energia luminosa e disponibilizar matéria orgânica para os demais níveis da cadeia trófica [1]. O conhecimento das espécies que compõem a comunidade fitoplanctônica constitui um importante passo para o entendimento do funcionamento e estrutura dos ecossistemas aquáticos, pois algumas espécies são consideradas bioindicadoras, podendo ser usadas na caracterização do estado trófico do ecossistema [2]. Através do estudo da comunidade fitoplanctônica é possível revelar importantes padrões biológicos resultantes de atividades antropogênicas em ecossistemas aquáticos, pois os organismos que compõem o fitoplâncton funcionam como sensores biológicos, respondendo prontamente às alterações ambientais através de mudanças na sua composição e comportamento [3]. No presente trabalho, se objetivou realizar um levantamento qualitativo da comunidade fitoplanctônica no reservatório de Xingó, visando contribuir para o conhecimento acerca da diversidade desses organismos neste ecossistema. Material e métodos A. Área de estudo O Reservatório de Xingó está inserido nas coordenadas 9º 37’S e 37º 47’W, em parte do trecho onde o Rio São Francisco faz divisa entre Alagoas e Sergipe, sendo considerado o quinto maior do Nordeste, com capacidade de acumulação de 3,8 bilhões de m³. É do tipo “fio d’água”, posicionado em cânion natural, tendo sua vazão controlada pelo regime de operação das usinas hidrelétricas à montante [4]. B. Procedimentos de coleta As coletas foram realizadas trimestralmente, entre os meses de dezembro/2007 a setembro/2008, em 11 pontos (XIN 01 a XIN 11) distribuídos ao longo do reservatório. As amostras foram coletadas em arrastos verticais integrados na zona eufótica, utilizando a rede de plâncton com malha de 25μm. As amostras foram armazenadas em frascos âmbar e fixadas com lugol acético 4%. C. Análises laboratoriais A identificação das microalgas foi realizada utilizando microscópio binocular da marca ZEISS, modelo AXIOSKOP, com ocular de medição acoplada para observações citológicas, conforme metodologias específicas. Também foram realizadas fotodocumentações com uso da câmera da marca SAMSUNG, modelo SHC730N, acoplada ao microscópio ZEISS, modelo JENAVAL. A análise da freqüência de ocorrência foi feita conforme literatura especializada [5]. As análises qualitativas foram realizadas no Laboratório de Ecologia e Taxonomia de Microalgas do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Resultados Durante o estudo foram identificados 111 táxons distribuídos em sete divisões, dentre as quais a divisão Chlorophyta apresentou maior riqueza florística em relação às demais, com 50 spp. (45,0%), seguida pelas Cyanophyta, 23spp. (20,7%), Bacillariophyta, 22 spp. (19,8%), Euglenophyta, 7spp. (6,3%), Cryptophyta, 4spp. (3,6%), Dinophyta, 3spp. (2,7%) e Chrysophyta, 2spp. (1,8%) (Fig.1). O mês de dezembro/2007 apresentou maior riqueza de espécies (77 spp.), seguido de março (51 spp.), junho (42 spp.) e setembro/2008 (35 spp.) (Fig. 2). O gênero Staurastrum apresentou maior número de espécies, sendo representado por Staurastrum gracile Ralfs ________________ 1. Aluno (a) do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, Recife, PE, CEP 52171-030. E-mail: [email protected] 2. Aluna do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, Recife, PE, CEP 52171-030. 3. Professora Associada II do Departamento de Biologia, Área de Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, Recife, PE, CEP 52171-030. 4. Professor Associado II do Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, Recife, PE, CEP 52171-030. 5. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, Recife, PE, CEP 52171-030. Apoio financeiro: CAPES e CNPq. ex Ralfs, S. leptacanthum Nordstedt, S. leptocladum L.N. Johnson, S. rotula Nordstedt, Staurastrum sp1. e Staurastrum sp2. As únicas espécies consideradas muito frequentes durante todo o estudo foram Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonsen e Fragilaria crotonensis Kitton. As Cyanophyta (Anabaena circinalis Rabenhorst ex Bornet & Flahault, Cylindrospermopsis raciborskii (Woloszynska) Seenaya & Subba Raju, Geitlerinema amphibium (C. Agardh) Anagnostidis), as Bacillariophyta (Aulacoseira ambigua (Grunow) Simonsen, Urosolenia longiseta (Zacharias) L. Bukhtiyarova) e as Chlorophyta (Planktosphaeria gelatinosa G.M. Smith, Sphaerocystis schroeteri Chodat e Staurastrum rotula) foram consideradas frequentes. No entanto a maioria das espécies identificadas foi considerada pouco frequentes ou raras. podendo ocasionar diversos males à saúde humana e animal. A ocorrência frequente destas espécies reforça a necessidade de monitoramento constante desses recursos hídricos, em vista de sua importância para o desenvolvimento social e econômico desta região do semiárido brasileiro. Discussão [3] No presente estudo, foi verificado que a divisão Chlorophyta apresentou maior diversidade em relação às outras divisões, fato observado em grande parte dos ecossistemas aquáticos brasileiros [6]. Esta característica também foi observada por Dantas et al. [7], ao estudarem o reservatório de Araras no Ceará, e Moura et al. [8] em reservatórios do Estado de Pernambuco. As Bacillariophyta também obtiveram destaque, devido à frequência das espécies Aulacoseira granulata e Fragilaria crotonensis, que estiveram presentes em todos os pontos e períodos amostrados. O reservatório de Xingó, em função de suas características morfológicas, apresenta alta renovação hídrica, refletindo na baixa estabilidade da coluna d’água, características que favorecem o desenvolvimento de organismos desta divisão [9]. Dentre as Cyanophyta consideradas frequentes, as espécies Anabaena circinalis e Cylindrospermopsis raciborskii têm sido alvo de estudos detalhados, devido ao fato de serem potencialmente produtoras de toxinas, Agradecimentos À Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e ao Laboratório de Taxonomia e Ecologia de Microalgas da UFRPE. Referências [1] [2] [4] [5] [6] [7] [8] [9] WETZEL, R.G. 1993. Limnologia. Lisboa, Fundação Coloust Gulbenkian, 1016p. SENNA, P.A.C. & MAGRIN, A.G.E. 1999. Perspectivas na Limnologia do Brasil. São Luís, Gráfica e Editora União. 198p. ARAÚJO, M.F.F.; COSTA, I.A.S. & CHELLAPPA, N.T. 2000. Comunidade fitoplanctônica e variáveis ambientais na Lagoa de Extremoz, Natal – RN, Brasil. Acta Limnologica Brasiliensia, 12: 127-140. COMPANHIA HIDRO ELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO. 2009. Disponível em: <http://www.chesf.gov.br/ energia_usinas_xingo.shtml>. MATTEUCCI, S.D. & COLMA, A. 1982. Metodología para el estudio de la vegetación. OEA, DC. 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Diatoms (Bacillariophyceae) of the Tibagi River, southern Brazil. Algological Studies, 112: 73-87. Figura 1 - Riqueza total e relativa das divisões fitoplanctônicas no reservatório de Xingó. Figura 2 – Número de taxa nos diferentes meses de amostragens (dezembro/2007 a setembro/2008) no reservatório de Xingó.