Produção de material paradidático acessível para pessoas

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MEC – SETEC
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MATO GROSSO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MARINÊS MARTINI TEIXEIRA
PRODUÇÃO DE MATERIAL PARADIDÁTICO ACESSÍVEL
PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Cuiabá - MT
Setembro de 2009
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA - CEFET
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA INCLUSIVA
MARINÊS MARTINI TEIXEIRA
PRODUÇÃO DE MATERIAL PARADIDÁTICO ACESSÍVEL
PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Cuiabá – MT
Setembro 2009
Ficha Catalográfica
Teixeira, Marinês Martini
Produção de Material Paradidático Acessível para Pessoas com
Deficiência Visual
Cuiabá - MT, 03 de Setembro de 2009
Total de folhas: 45
Orientadora: Cardinali, Sandra Mara Mourão
Centro Federal de Educação Tecnológica do Mato Grosso
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Educação
Profissional e Tecnológica.
MARINÊS MARTINI TEIXEIRA
PRODUÇÃO DE MATERIAL PARADIDÁTICO ACESSÍVEL PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso
de
Especialização
em
Educação
Profissional
Tecnológica Inclusiva, do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Mato Grosso, como exigência para a
obtenção do título de Especialista.
Orientadora: Prof. MSc Sandra Mara Mourão Cardinali
Cuiabá – MT
Setembro 2009
DEDICATÓRIA
Para a Cidoca que me apontou para as
diferenças com os olhos do coração.
Para Durinha, com o afeto de sempre.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente para a execução
do presente trabalho.
À Prof.ª Sandra Mara Mourão Cardinali, orientadora dileta, pelo incentivo, paciência
e amizade.
À Prof.ª Percília Melgaço de Morais, coordenadora do Napne/Cefet MG, pela
convivência.
Aos professores e aos coordenadores do Tecnep, nas pessoas do Prof. Hildebrando
Esteves Neto, Andrea Poletto Sonza, Franclin Nascimento, Vera Lucia de Souza
Lima, sem os quais o sonho de aprender a inclusão jamais se realizaria.
A todos os formadores da Plataforma Teleduc, pelo incentivo e palavras de carinho.
Aos colegas de curso pela convivência e amizade.
Aos meus amigos e familiares pela compreensão e apoio.
To my dear friends Alix & Linda for the advices, encouragement and friendship.
Aos professores do Coltec/UFMG, nas pessoas de seus diretores, Prof.ª Carmen de
Caro Martins, Prof.ª Dra. Rosilene Siray Bicalho e Prof. Dr. Marcio Fantini de
Miranda pelo incentivo e amplo apoio.
Ao Prof. Juarês Gomes Martins, do Instituto São Rafael, cujas conversas geraram
bons frutos.
Ao Instituto Benjamin Constant (IBC), pela gentileza da transcrição
para o Braille do material paradidático ora produzido.
“A simplicidade é a maior das sofisticações.”
Leonardo da Vinci
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas
deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender.
Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são
capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja
suficientemente forte para suportá-lo depois".
(Arthur da Távola)
RESUMO
As novas tecnologias podem ser ferramentas úteis quando promovem a
independência e o desenvolvimento da cidadania do deficiente visual. Dessa
perspectiva, o livro produzido em formato acessível é fundamental para a educação
dessas pessoas, uma vez que o livro Braille é, muitas vezes, volumoso e o tipo de
papel usado em sua produção tem alto custo. Sabe-se que a produção de títulos
didáticos ou paradidáticos do ensino médio e profissional em formato Braille, voltada
para alunos com deficiência visual ou baixa visão, ainda é inexpressiva e cara. O
presente trabalho de monografia constitui uma tentativa de facilitar o acesso do
aluno com deficiência visual no ensino médio e profissional ao tema da AIDS, tendo
por base o recomendado no volume 10 dos Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ministério da Educação.
Palavras-chave: Deficiência Visual, Livro Digital, Acessibilidade, Prevenção da AIDS.
ABSTRACT
New technologies can be useful tools for promoting the independence
and development of blind citizens. W orking with this perspective, we
produced a basic educational audio book in accessible format since
the Braille format is very bulky and the type of paper used in its
production has a high cost. The production of Braille teaching
materials for visually impaired students in mainstream and trade
schools is still limited and costly. The present monograph is intended
to facilitate the access of visually impaired students in mainstream and
trade schools to subjects such as HIV/AIDS. It is based on the
recommendations of the “10th of the Education Ministry´s National
Curricular Paramete rs”.
SUMÁRIO
RESUMO -------------------------------------------------------------------------------
10
ABSTRACT ----------------------------------------------------------------------------
11
SIGLAS --------------------------------------------------------------------------------
13
1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------
14
2. JUSTIFICATIVA -------------------------------------------------------------------
16
3. METODOLOGIA ------------------------------------------------------------------
23
4. DISCUSSÃO -----------------------------------------------------------------------
24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ----------------------------------------------------
28
6. CONCLUSÕES
------------------------------------------------------------------
31
-----------------------------------------------------------------------
32
8. REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------
37
9. ANEXO -------------------------------------------------------------------------------
43
7. APÊNDICE
13
SIGLAS
• AIDS – Do inglês: Acquired Immunodeficiency Syndrome, ou Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida
• CF – Constituição Federal Brasileira
• DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
• DV – Deficiente Visual
IBC – Instituto Benjamin Constant
ISR – Instituto São Rafael
• HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
• MEC – Ministério da Educação
• OMS – Organização Mundial da Saúde
• PCN – Parâmetros Curriculares Na cionais
• ONG – Organização Não Governamental
TECNEP – Programa desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC)
e a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) cujo
objetivo é o de promover a inserção de pessoas com necessidades
educacionais específicas em cursos de nível técnico, nas instituições
federais de educação, buscando parcerias estaduais, municipais e com
todos os segmentos da sociedade.
14
1. INTRODUÇÃO
Pouco tempo antes de delimitar um tema que pudesse
desenvolver para a monograf ia do curso de Especialização do TEC
NEP, voltado para a Educação Profissional Tecnológica Inclusiva, em
particular para o deficiente visual, pudemos presenciar no campus da
Universidade Federal de Minas Gerais um fato inusitado que, ao final,
veio a ser a base do presente trabalho: alguém encontrou uma
camisinha nos arredores de nossa escola.
Desse achado brotaram muitas conversas informais durante
os intervalos ou nos horários de lanche. Embora esse fato tenha sido
assunto para alguns dias, a maioria da s conversas terminava quase
sempre em comentários sem maiores reflexões.
Como buscávamos ampliar a convivência com pessoas com
deficiência visual, tentando chegar a um tema que pudesse servir de
base para a monografia, tivemos a oportunidade de trocar id éias com o
docente Juarês Gomes Martins, professor de escola especial estadual
em Belo Horizonte – Instituto São Rafael¹ -, exclusivamente voltada
para o deficiente visual. Dessas conversas nasceram observações e
aprendizados importantes, referentes ao com portamento do jovem
estudante deficiente visual.
Dentre
os muitos
assuntos abordados,
foi lembrada
a
estória da camisinha.O comentário daquele professor nos surpreendeu,
ao tomarmos consciência de que, entre os deficientes visuais,
devido
_____________
1
Presidente da Associação dos Amigos do Instituto São Rafael. Graduado em Comunicação Social
com habilitação em Relações Públicas e Pós-Graduação em Educação Especial pela Ferlagos - RJ.
Licenciado pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (UTRAMIG) em Belo
Horizonte - BH. Professor concursado pelo Estado de Minas Gerais, lotado no Instituto São Rafael.
15
ao uso constante do tato, há uma intimidade talvez um pouco mais
incisiva do que a dos videntes.
Dessa pretensa intimidade, devi do ao uso freqüente do tato,
os jovens com deficiência visual podem vir a efetivar relações sexuais
talvez até com maior freqüência do que entre os demais.
Nossa conversa derivou, naturalmente, para a exposição às
doenças sexualmente transmissíveis a que as pessoas com deficiência
visual se encontram. Foi surpresa constatar a inexistência de material
preventivo no tema AIDS voltado, em particular, para pessoas com
deficiência visual, ainda que o Ministério da Saúde disponibilize,
inclusive para leigos, vár ias publicações em tinta e eletrônicas sobre o
assunto. Estava, então, definido o tema da monografia.
1.1. BREVE ANOTAÇÃO SOBRE O INSTITUTO SÃO RAFAEL
A partir da iniciativa de Aires da Mata Machado e de João
Gabriel de Almeida, ex-alunos do Instituto Benjamin Constant no Rio de
Janeiro, que defenderam, junto ao Estado de Minas Gerais, a criação
de Escola na capital mineira que se dedicasse aos deficientes visuais ,
surge o Instituto São Rafael em Belo Horizonte .
Dessa forma, devido ao esforço desses d ois mineiros, e por
força da Lei nº825 de 10 de setembro de 1925, surge o Instituto São
Rafael (ISR) em Belo Horizonte .
No ano seguinte,em 02 de setembro de 1926, o ISR estava
inaugurado. Em 1976 o ISR mudou de nome, em razão de decisão da
Secretaria de Estado da Educação. Passou, então, a ser chamado de
Escola Estadual São Rafael , ainda que, ao gosto do público, continue
sendo mais conhecido como Instituto São Rafael.
16
Ao longo de sua existência o ISR tem se desdobrado
incansavelmente na tarefa de educ ar o deficiente visual através da
estimulação precoce, da reabilitação, da reeducação visual, do preparo
para as atividades diárias, da orientação e mobilidade, cumprindo um
papel importantíssimo na integração, capacitação, socialização e de
apoio ao deficiente visual.
A Escola, que trabalha com alunos de várias faixas etárias,
oferece educação infantil, fundamental, ensino médio e educação para
jovens e adultos. Além disso, o ISR conta com um Serviço de Apoio ao
Deficiente Visual que oferece suporte às escolas que têm estudantes
deficientes visuais.
O ISR também orienta famílias e professores de outras
escolas, faz a transcrição para o Braille de provas e de materiais
pedagógicos para os deficientes visuais, faz ampliações para o aluno
de baixa visão.
O aparato educacional do ISR conta, ainda, com oficinas
pedagógicas, que versam desde o ensino de Braille para adultos,
passando pelo teatro e chegando até o canto coral.
O trabalho de alto nível desenvolvido pelo ISR para educar
o deficiente visual e m Belo Horizonte é de inestimável valia, ainda que
a
Escola
apresente
arquitetônica,
ainda
necessidades
não
atendida s
materiais
pela
e
de
Secretaria
acessibilidade
Estadual
de
Educação.
Atualmente o Instituto São Rafael passa por reforma de
suas instalações que, certamente, deverão trazer alguns ganhos em
termos da acessibilidade e da educação inclusiva totalmente dedicada
ao deficiente visual.
17
2. JUSTIFICATIVA
A
abordagem
que
a
escola
tradicional ²
costuma
fazer
quando vai falar de doenças sexualment e transmissíveis - DST - tem,
destacadamente, um enfoque biológico. Ao lado disso, em nossa
Instituição - Escola de Educação Básica e Profissional da Universidade
Federal de Minas Gerais (Coltec/UFMG) -, tal como ocorre em todas as
escolas de nível médio e profissional, os estudantes, em sua quase
totalidade jovens, estão vivendo e convivendo em sua fase crítica de
transformações hormonais e de relacionamento interpessoal.
Porém, esses questionamentos, dúvidas e angústias no que
se refere à vida, à sexual idade, auto-estima, afetividade e crescimento
pessoal do jovem nem sempre encontram espaço na escola ou na
família, uma vez que o tema sexualidade e os assuntos daí derivados
ainda se constituem “tabus”, para muitos.
Ao abordar a sexualidade humana, a mai oria das escolas
tradicionalistas e das famílias costuma tratar apenas do aspecto
biológico da questão, deixando de lado a oportunidade para ampliar
espaços que propiciem a discussão aberta, longe dos preconceitos, a
fim de ajudar a esclarecer dúvidas e a manter o jovem distante de
situações de risco à saúde.
Ainda que a proteção do jovem brasileiro esteja bem
delimitada no arcabouço legal construído a partir da consolidação dos
--------------------------------2
Escola Tradicional é aquela que se caracteriza por transmitir ao aluno conhecimentos de forma
conservadora e absoluta. Tais conhecimentos são pré-fixados pela sociedade, independentemente
da realidade do aluno e são determinados pela legislação. Nessa escola destacam-se os exercícios
repetitivos, a aprendizagem mecânica e coercitiva. A avaliação é intermitente e o ensino está focado
na figura do professor, que é considerado o único detentor do conhecimento.
18
Direitos Humanos (ONU, 1948), da Constituição Federal Brasileira de
1988 (BRASIL, 1988) e do Estatuto da Criança e do Adolescente
(BRASIL, 1990), a escola tradicional não costuma dar importância à
sexualidade do jovem.
Ao lado desses pilares, em 1994, aconteceu, na cidade do
Cairo, o Plano de Ação da Conferência Mundial de População e
Desenvolvimento (ONU, 1994), convocado sob os auspícios das
Nações Unidas e voltado para o desenvolvimento das nações em vias
de desenvolvimento, nos vinte anos seguintes.
Naquela oportunidade, foi possível divulgar conceitos e
diretrizes
dos
direitos
sexuai s
e
reprodutivos,
destacadamente
daqueles voltados para os adolescentes e para as mulheres, como
sendo prioridade das políticas públicas de saúde para todo o planeta.
Aquele documento preconiza, até o ano de 2015, o acesso
de todos à saúde reprodutiva, qu e deve ser alcançada por meio da
assistência e através da busca à informação adequada e disponível
para todos. O Plano de Ação (ONU, 1994) ressalta a importância da
educação na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis –
DST - e enfoca a necessidade de atender e informar os jovens na
vertente DST/AIDS.
Diante da realidade do adolescente - que assiste na mídia à
exagerada conotação sexual contida na maioria dos reclames e do
entretenimento - à escola deveria caber o papel de abrir espaços a
todos os temas do cotidiano, inclusive a sexualidade, a fim de
despertar no jovem sua busca pela auto -estima e entendimento do
mundo real.
Se, por um lado, a escola tradicional carece de material que
aborde os temas transversais apontados nos Parâmetros Curricula res
Nacionais, que se constitu em nos referenciais para a construção do
currículo no ensino médio (BRASIL, 1997), fica evidente, por outro
19
lado, que a escola inclusiva
aborde a sexualidade, as doenças
sexualmente transmissíveis, a AIDS e sua prevenção. Nesse sentido, o
deficiente visual carece de material acessível voltado para o tema
AIDS.
Tais discussões, infelizmente ainda ausentes da maioria das
escolas, poderiam vir a orientar os jovens do ensino médio para uma
vida sexual saudável. Neste sentido, vale ressaltar que a escola
inclusiva é aquela que se caracteriza primordialmente pelo respeito à
diversidade humana, é capaz de ensejar uma educação para todos,
com base na flexibilização curricular, na avaliação referencial e na
promoção do indivíduo.
Ao despertar para essa problemática, e diante da falta de
material
acessível
sobre
como
se
prevenir
do
HIV
(Vírus
da
Imunodeficiência Humana, responsável pela AIDS ) nasceu a vontade
de disponibilizar material tanto em tinta quanto em Braille e também
em mídia a cessível, que pudesse abrir essa porta para os deficientes
visuais.
Na vertente HIV/AIDS e suas formas de prevenção a escola
inclusiva precisa ir além, facilitando a informação por todos os modos
e
meios
espaços
possíveis,
para
incentivando
discussão
a
todos,
o
conhecimento
sem
excluir
e
as
promovendo
pessoas
com
necessidades específicas. Essa foi a nossa preocupação e, a partir
disso, passamos a compilar informações acessíveis sobre prevenção
da AIDS, para disponibilizá -la, também, em áudio e em Braille.
Por outro lado, a mera observação da mídia no Brasil
permite constatar que as políticas de saúde preventiva voltadas para
os jovens são tímidas, sazonais e superficializam a preocupação com
os riscos de contaminação pelo vírus HIV, dentre outros problemas
advindos
de
práticas
compartilhadas.
sexuais
promíscuas
e
de
uso
de
drogas
20
Até o presente, não se tem notícia de qualquer campanha
pública nesse sentido e que se volte especificamente para o deficiente
visual e/ou para aqueles com as demais necessidade s específicas.
Vale ressaltar que as campanhas públicas para a prevenção do
HIV/AIDS deixam de lado a acessibilidade. Assim, ainda que a melhor
forma de prevenir seja informar, as posturas públicas se restringem à
mera distribuição de camisinhas em determi nadas épocas do ano.
Infelizmente a informação em AIDS veiculada na mídia pelo poder
público não consegue atingir a toda diversidade humana.
Sabe-se,
no
entanto,
que
a
AIDS
já
se
tornou
uma
pandemia. Pandemia é uma doença ou síndrome que se espalha entr e
a população, em grandes regiões ou até mesmo no planet a, ou seja,
está presente no mundo todo , conforme o dicionário Aurélio (2004).
Apesar disso, infelizmente, a escola tradicionalista se mantém em
silêncio com relação aos temas que afetam a sexualidade do jovem.
Nas famílias essa realidade não é muito diferente.
É sabido que quanto mais precocemente o jovem inicia sua
vida sexual, maior é o risco de se contaminar. Assim, os jovens
deficientes visuais são duplamente excluídos na escola tradicionalista
porque não há, seja por parte do poder público, da escola ou da
família, preocupação de orientar o adolescente e o adulto jovem com
deficiência visual quanto à conduta sexual sadia e responsável,
visando deter a contaminação pelo HIV e a disseminação de tan tas
doenças sexualmente transmissíveis.
Em 2006, no que se refere especificamente ao HIV/AIDS,
dados da Secretaria de Saúde de Minas Gerais (MINAS GERAIS,
2006) mostram que em dois terços dos municípios do Estado existem
casos
notificados,
mas
apenas
atendimento para portadores do HIV.
5%
desses
têm
condição
de
21
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) em
seis
capitais
brasileiras
revela
que
42%
de
3.303
gestantes
examinadas entre 2004 e 2007 eram portadoras de, pelo menos, uma
doença se xualmente transmissível. Sabe -se que, hoje, o HIV/AIDS
está crescendo entre as mulheres pobres, com idades entre 13 e 19
anos,
heterossexuais
desenvolvimento
de
(BRASIL,
1999).
estratégias
Daí
acessíveis
ser
fundamental
voltadas
para
o
os
estudantes adoles centes e para as mulheres.
A mídia informa que a pandemia de HIV/AIDS se tornou um
mito em meio à desinformação. É bastante conhecida a grande
quantidade
de
sugestões
moralistas
impróprias
ligadas
a
essa
pandemia. Assim, tem -se que a AIDS tende a ser, ai nda, encarada
como "punição moral", o que impede, muitas vezes, a busca da
informação bem orientada, do apoio e do tratamento adequados,
notadamente entre as pessoas com necessidades específ icas.
Em 2000, o censo demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE (IBGE, 2000) apontou que o Brasil tinha
em torno de 16,5 milhões de deficientes visuais, sendo 160 mil com
perda total de visão. O IBGE (2000) calcula que, no Brasil, a
população de jovens entre 10 e 24 anos está na altura dos cinqüenta
milhões,
dos
quais
cinco
a
dez
por
cento
tem
necessidades
especificas.
Em Minas Gerais, ainda segundo dados do IBGE (2000), os
jovens constituem, aproximadamente, 20%, sendo que, em Belo
Horizonte, representam 30% da população.
Sabe-se
que
as
dificuldades
por
que
passam
os
adolescentes são de ordem física, psicológica, sexual, relacional,
social e abrangem aspectos ligados à explosão hormonal, típica dessa
faixa etária, mas também relacionadas às várias crises econômicas, à
violência urbana, a o uso de drogas, às dificuldades de diálogo e
22
àquelas relativas à inserção no mercado de trabalho. No entanto,
pouco se comenta na escola ou na família sobre esses assuntos.
Em casa, o adolescente nem sempre encontra oportunidade
para falar abertamente de temas que poderiam levá -lo a refletir sobre
seus hábitos relacionais. Tampouco costuma encontrar apoio, quando
busca construir as bases para sua sexualidade de forma equilibrada e
coerente, uma vez que, na maioria das famílias, ainda hoje a vida
sexual do adolescente não é discutida, seja por medo, por ignorância
ou por superproteção dos pais. Assim, a ausência de espaços de
informação e diálogo tanto na escola quanto na família e a falta de
estímulos ao aprendizado esclarecedor e saudável, visando à troca de
vivências, podem vir a colocar qualquer adolescente em situação de
risco.
Na busca de soluções, o deficiente visual tem o direito à
informação irrestrita em espaços acessíveis à sua especificidade e
nos mesmos termos de igualdade que os videntes. Dia nte do atual
desenvolvimento
das
novas
tecnologias,
é
possível
levar
o
conhecimento específico sobre a prevenção da AIDS para o estudante
da escola média com deficiência visual. Esse tema faz parte da
curiosidade e das descobertas do jovem e a escola inclu siva
³
deve
orientar da melhor forma possível para a prevenção.
Diversas estratégias de informação acessíveis podem vir a
_________________
3
Es c o l a I nc l us i v a é a qu e l a qu e s e c arac t er i za pe l o ac o lh im en t o da di v ers i da d e
hum an a . Ne l a o e ns in o s e v o lt a p ara o pl a n o i nd i v i du a l d e ed uc aç ão , o pt an d o p el a
ad a pt aç ão c ur r ic u lar e p e l a a v a l iaç ã o r ef e renc i a da , na i nt e nç ã o de pr om ov er o
i nd i v íd u o. T em por r ef er enc i a l o res p e it o aos d if er e nt es r itm os d e e ns in o e
apr e n di za g em . T am bé m s e c ar ac t er i za p e l a ed uc aç ã o v o lt a d a p ara to d os , bas e ad a
na i ns t ruç ã o m ult i ní v e l e n as m últ i p la s i n te l i gê nc ias . S eu e ix o de l i ne a d or é o
res p e it o à d i v er s id a de , te n do p or p ar ad i gm a o ac es s o e a perm a n ênc i a d e t o dos a
um a ed uc aç ã o d e qu a l id a de , va l or i za n d o c a da p es s o a em s eu m el h or e
res p e it a n do s u as n ec e s s i da d es es p ec íf ic as .
23
acontecer nas instituições de ensino médio, com o apoio dos meios
tecnológicos acessíveis, visando à prevenção e a promoção da saúde
do adolescente. Essa postura atenderia às recomendações do Plano de
Ação da Conferência Mundial de População e Desenvolvimento (ONU,
1994), bem como dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC –
PCN - (BRASIL, 1997).
Assim, a criação, no âmbito escolar, de espaços acessíveis
para todos, que permitam a compreensão de temas polêmicos torna -se
importante porque busca valorizar educação e saúde, com chance de
esclarecimento e orientação segura. Ressalte -se a importância da
escola inclusiva, que, flexibilizando seu currículo, busca estimular o
vínculo educador-educando, e oferece a chance de s e alcançar
pessoas com necessidades específicas, no que se refere à discussão
de
temas
polêmicos
como
HIV/AIDS
ou
doenças
sexualmente
transmissíveis, no sentido amplo.
O
volume
10
do
PCN
(BRASIL,
1997),
que
trata
da
Orientação Sexual como tema transversa l, entende que a sexualidade
é formada pelas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. A partir
da compreensão de sexualidade explicitada no PCN 10, a Orientação
Sexual na escola passa a ser compreendida como:
"[...] um processo formal e sistemat i zado que acontece
dentro da inst ituição escolar, exige planejamento e
propõe uma intervenção por parte dos pr ofissionais da
educação". "O trabalho de Orientação Sexual na escola
é
entendido
como
problemati zar,
levantar
quest ionamentos e ampliar o leque de conhecimento e
de opções para que o aluno, ele próprio, escolha seu
caminho".
Assim, a orientação sexual proposta no volume 10 do PCN
se justifica, por exemplo, devido ao aumento da gravidez indesejada
entre adolescentes. Da mesma forma, torna -se
imprescindível a
discussão da realidade do jovem diante do risco de contaminação com
24
o vírus HIV, de doenças sexualmente transmissíveis e da dificuldade
dos pais em tratar abertamente esses assuntos dentro de casa.
Pesquisa realizada pel o Ministério da Saúde em escolas de
todo o Brasil, (BRASIL, 2007), aponta a idade média da iniciação
sexual, para meninos, 14 anos e, para as meninas, 15 anos. Diante
desse quadro, por que razão a escola média silencia quando o tema é
sexualidade?
Parece clara a importância de se abrir espaço a que todo
estudante
do
ensino
médio
seja
orientado
sobre
as formas de
transmissão e de prevenção do HIV/AIDS, enfatizando -se o risco de
contaminação em qualquer relação sexual, sem o uso do preservativo.
Sem a discussão da sexualidade, ess e diálogo nos parece impossível.
Como as políticas públicas voltadas para essa problemática
são desarticuladas e incipientes, a falta de informação acessível,
especificamente
direcionada
às
pessoas
com
necessidades
específicas, apenas potencializa a vulne rabilidade do deficiente visual
e o coloca em situação de risco, em desvantagem perante os demais.
Diante
desse
quadro,
propõe -se
viabilizar,
por
este
trabalho, uma cartilha digital acessível para o deficiente visual, nos
formatos áudio, impressão comum e em Braille, que versa sobre a
temática HIV/AIDS e sua prevenção, atendendo à recomendação do
volume 10 dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997).
25
3. METODOLOGIA
Visando
proporcionar
ao
estudante
com
necessidades
visuais específicas uma base de informação sobre o vírus HIV e sobre
a AIDS, foi desenvolvida, d e maneira mais simples possível, uma
cartilha em impressão comum , que foi, depois, gravada em áudio e,
também, revertida para o Braille, tomando -se por base o conteúdo
sobre o tema disponibilizado no site do Ministério da Saúde (BRASIL,
2006).
A gravação foi feita em voz própria, em arquivo sonoro
“wma”, e também em MP3, com duração de dez minutos, conforme se
encontra grafada no apêndice do presente trabalho. Para fins de
ilustração tátil, a versão em áudio terá aderida na contracapa, as
camisinhas masculina e feminina. N o anexo da versão impressa estão
disponibilizadas as fotos desse conjunto, constituído de um estojo com
a gravação em áudio em CD com a camisinha masculina e a feminina
para exame tátil.
Optou-se por linguagem despida do jargão formal biológico
na elaboração da cartilha aqui desenvolvida com a finalidade de
garantir a compreensão ao maior número possível de pessoas. Assim,
nas três formas de apresentação, a cartilha poderá ser usada tanto
isoladamente quanto como subsídio para discussões em classe,
extraclasse, ou em qualquer outra situação em que o objetivo seja o
de informar, em linhas gerais, para a prevenção.
Pretende-se que esse material seja igualmente acessível 4
______________________
Segundo o Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004, “a acessibilidade trata de fornecer
condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e
equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e
meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência (sic) ou com mobilidade
reduzida”.
4
26
para uma pessoa com necessidades visuais específicas, tanto aquela
com baixa escolaridade quanto para o jovem deficiente visual que
esteja cursando o ensino médio ou profissional. Devido à escassez
desse tipo de material, o arquivo em áudio será doado para ONG´s
que trabalham com o tema AIDS , bem como para as escolas de ensino
médio e profissional, e também para quem se interessar sobre esse
assunto.
27
4. DISCUSSÃO
Abordar a sexualidade não constitui tarefa fácil. Se a
família muitas vezes tenta evitar o assunto, na escola a tendência é
seguir a abordagem biológica e silenci ar sobre os demais aspectos do
tema.
Assim, a cultura da escola tradicionalista tende a repetir a
ideologia vigente e, por essa razão, a escola inclusiva que queremos
para nossa Instituição precisa socializar e refletir, abrindo espaços
para que temas co mo a AIDS e a sexualidade sejam encarados de
forma natural.
A abordagem de tabus em diálogos francos e despidos de
preconceito trabalha a auto -estima do jovem e ajuda a aprimorar o
senso crítico e ref lexivo. Talvez, para fins de proteção, grande parte
das famílias de deficientes visuais costuma acreditar que esses jovens
não têm vida sexual.
Assim, quando a mídia não se ocupa em divulgar ações
preventivas acessíveis e quando o poder público se omite deixando de
contemplar com políticas públicas as necess idades específicas, temos
uma porta aberta às situações de risco que poderiam ser evitadas,
caso
houvesse
respeito
à
diversidade.
Como
a
informação
em
HIV/AIDS disponibilizada pela mídia tem apelos estritamente visuais,
as pessoas com baixa ou nenhuma visã o encontram-se em flagrante
desvantagem em relação às demais.
Infelizmente, tanto por parte do governo quanto da maioria
das ONG – Organização não Governamental - que se dedicam à
prevenção do HIV/AIDS, parece que o deficiente visual não tem o
direito à informação acessível, voltada para sua especificidade, o que
vai de encontro ao direito à cidadania e compromete sua saúde.
28
Por essa razão o texto acessível por nós desenvolvido não
tem
a
pretensão
do
enfoque
puramente
biológico,
mas sim
de
informar, de modo generalista, servindo como subsídio a outras
estratégias pedagógicas nesse campo. Nossa intenção consiste em
contribuir para conversas francas sobre sexualidade, nas quais o
deficiente visual possa participar, em igualdade de condições, e vir a
debater sobre o assunto de maneira simples, porém preocupado com a
prevenção.
A
baixa
visão
e
a
cegueira
trazem
transtornos
e
impedientes diários, muitas vezes determinando a existência de um
mundo apartado dos videntes, onde as interações e as relações
sociais são bastante limitadas, devido à falta de acessibilidade nos
ambientes, sejam eles escolares ou não.
Desse ponto de vista , é importante que o aluno deficiente
visual aprenda a desenvolver com cidadania suas opções de vida . Para
tanto, é preciso incentiva r sua autonomia e empoderamento , aprimorar
seu senso crítico e reflexivo, ajudando esse jovem a viver a integração
com seus pares, e se desenvolve r da melhor forma possível, desde que
a sociedade e a escola aprendam a respeitar suas necessidades
específicas.
A necessidade de oferecer acessibilidade ao deficiente
visual nasce do fato de que em praticamente todas as funções
cotidianas, existem muitas barreiras que dificultam sua interação em
sociedade.
Muitas vezes, não percebemos que as necessidades
específicas se tornaram invisíveis entre nós. Excluímos o outro pelo
simples fato de ele ser diferente de nós, e nem sempre nos damos
conta disso.
Nesse
sentido,
o
deficiente
visual
encontra
inúmeras
dificuldades impostas, desde o seu direito de ir e vir, devi do à falta de
acessibilidade urbana, até o comprometimento de sua autonomia para
29
se
orientar
e
locomover,
enfrentando
barreiras
atitudinais,
que
dificultam, em muito, seu relacionamento social, devido à segregação.
Vale lembrar que uma das conseqüências de sse isolamento está na
invisibilidade do deficiente visual . A sociedade impõe a ele um
sofrimento que poderia ser evitado, não houvesse a segregação em
torno de sua necessidade específica.
Ao
acessibilidade
lado
desses
urbana,
o
impedientes ,
deficiente
em
visual
razão
da
falta
de
adolescente,
além
de
conviver com as dificuldades inerentes à idade, é obrigado a conviver
com a ausência de informação no que se refere à sua sexual idade.
A
família
costuma
imprimir
no
jovem
apenas
os
comportamentos tradicional mente aprovados pela sociedade. Sob essa
ótica, a escola tradicionalista descortina horizontes semelhantes aos
da família, o que , na maioria das vezes , constitui um muro que
esconde o silêncio diante dos tabus e dos preconceitos .
Para além dos Parâmetros Curriculares Nacionais, o médico
psiquiatra Içami Tiba delineia a importância da educação sexual nas
escolas. Em sua obra "Adolescência - O despertar do sexo” ( TIBA,
1994), o autor escreve:
"A relevância da educação sexual no contexto escolar é
indiscutí vel, haja vista que o conhecimento é o único
caminho para que o jovem não se exponha a mitos que
possam impedi- lo de viver de forma saudável sua
sexualidade. É, portanto, na escola que o jovem
confronta seus valor es resignif icando -os, uma ve z que o
mesmo entra em contato com outros valores e
signif icados. Assim, a escola desempenha papel
fundament al na construção desse conhecimento, não
restringindo a educação sexual ao contexto biológico e
reprodut ivo, mas sim a abordando de for ma abrangente."
Considerando que a sexualidade e a afetividade são os
aspectos mais geradores de dúvidas e questionamentos entre os
jovens, é cruel constatar o silêncio existente em torno desses
30
assuntos. Manter a cultura da desinformação apenas contribui para a
troca de informaçõ es, nem sempre adequadas, entre os jovens , o que
deixa de contribuir para a construção de uma sexualidade saudável .
Se, entre os videntes, esses assuntos constituem tabus sociais,
imagine entre os jovens com deficiência visual.
A coragem do diálogo no âmbito escolar é sempre profícua
e pode vir a orientar a família ao diálogo com seus filhos, sem
titubeios. Assim, além de informar, a escola poderá, também, ajudar a
família do estudante a acolher de forma natural a curiosidade e a
necessidade de aprender sobre o sexo, inclusive no que se refere às
maneiras de se proteger do HIV/AIDS e das doenças sexualmente
transmissíveis, de um modo geral, bem como de se relacionar de
forma responsável e saudável.
31
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não
há
dúvida
de
que
as
doenças
sexualmente
transmissíveis constituem um dos problemas mais graves de saú de
pública no Brasil e no mundo e que oitenta por cento das transmissões
do vírus da imunodeficiência humana ( HIV) acontecem devido à prática
sexual sem proteção (BRASIL, 2006), estimando-se que, nos próximos
quinze anos, 10 milhões de adolescentes vão viver com HIV/AIDS
(BRASIL, 2006).
Diante das desigualdades socioeconômicas existentes em
nosso país, que excluem boa parte da população ao acesso às
informações básicas sobre saúde, constata -se que a pessoa com
deficiência visual é duplamente excluída . A esmagadora maioria da
informação
disponibilizada
na
mídia
não
é
acessível
e
não
há
preocupação com as necessidades específicas. A sociedade exclui o
diferente.
O estudante com deficiência visual não tem , muitas vezes,
como alcançar os programas de prevenção ao HIV/AIDS porque as
chamadas na mídia são notadamente de apelo visual e excluem os que
não se enquadram nos modelos de comportamento apresentados nas
pouco acessíveis campanhas governamentais.
A
prevenção
deveria
se
nortear
pela
consideração
à
individualidade da pessoa, respeitando a diversidade humana e os
diferentes estilos de vida. Na escola, atitudes que englobem o diálogo,
a orientação, a solidariedade e a ace ssibilidade são as garantias de
que todos terão direito à informação em HIV/AIDS, em nome de uma
vida saudável, garantida pelos direitos individuais.
Há várias décadas a humanidade convive com o vírus da
AIDS, mas grande parte dos jovens estudantes ainda desconhece a
triste trajetória imposta por esse vírus. Muitos supõem ser muito fortes,
32
o suficiente para não contrair o HIV/AIDS ou quaisquer doenças
sexualmente adquirida s. No entanto, se a escola, em parceria com a
família, passa a falar de AIDS de forma aberta e franca, é possível que
o estudante venha a conhecer os riscos a que está exposto por não
praticar sexo seguro e aprenda a se prevenir da contaminação.
Programas
de
educação
preconizados
nos
temas
transversais dos Parâmetros Curriculares Naciona is do MEC (BRASIL,
1997), voltados para o ensino médio de todo o Brasil, precisam vir à
tona, intervir e oferecer ao estudante os meios para evitar riscos , a fim
de dirimir tabus e oportunizar o ensino e a preservação de valores
humanos. Essa abordagem deveria começar bem antes do despertar
para a sexualidade ativa do jovem. Em nome da saúde , a discussão da
sexualidade deveria ser bem-vinda sob todos os enfoques possíveis,
incluindo desde a prática da abstinência como forma de obter saúde
sexual, aprendizagem de valores humanos, chegando até as formas de
praticar sexo seguro.
O jovem com deficiência visual se encontra em situação
mais vulnerável que os demais porque não participa dos apelos visuais
da mídia, e ela, por sua vez, parece não imaginar que a pe ssoa com
deficiência visual possa vir a ter vida sexual própria, com todos os
direitos dos demais. Com isso, o deficiente visual fica marginalizado,
desconhecendo informações básicas , tais como redução de parceiros
sexuais
simultâneos,
ou
tratamento
imedia to
das
infecções
sexualmente adquiridas, dentre outros comportamentos preventivos.
A sociedade, por segregação ou ignorância , costuma deixar
de lado o debate sobre temas polêmicos. Com relação ao HIV/AIDS
isso não é diferente.
Ainda que os direitos huma nos e o acesso à informação
estejam em vigor em boa parte do mundo, quando se trata d as
necessidades específicas, o preconceito continua impedindo a inclusão
33
do jovem deficiente visual em muitos aspectos da vida , inclusive quanto
à orientação sexual voltad a para uma vida saudável e segura.
A
educação
inclusiva
deve
favorecer
o
diálogo,
que
conscientiza para atitudes seguras. O lugar desse diálogo precisa ser a
escola, uma vez que a família muitas vezes se nega a conversar, por
medo ou desinformação. A prevenção, fruto da informação é, sem
dúvida, o caminho.
Em
síntese,
muito
pouco
se
conhece
sobre
o
comportamento do deficiente visual ante as doenças sexualmente
transmissíveis
e
as
políticas
públicas
continuam
em
silêncio.
É
importante executar programas q ue incentivem a compreensão das
doenças sexualmente transmissíveis entre os deficientes visuais, de
forma detalhada , cientificamente sustentada, acessível e coerente com
a realidade desse segmento da sociedade. Que este trabalho possa
contribuir para veicu lar a informação em HIV/AIDS a pessoas e jovens
com dificuldades visuais.
Quanto a mim, esta experiência mudou meu olhar para o
outro e me trouxe a consciência da alteridade e da distância que
estamos do verdadeiro encontro, uns com os outros.
34
6. CONCLUSÕES
Diante do exposto, são as seguintes as nossas conclusões:
A sociedade exclui o diferente.
As políticas públicas ignoram as especificidades humanas.
O deficiente visual é duplamente excluído, porque sofre pelo
preconceito e pela falta de acessibilidade.
A escola tradicional cuida somente do aspecto biológico da
sexualidade humana.
A mídia não se preocupa e não se ocupa com o deficiente visual,
também no campo da sexualidade.
A família exclui a sexualidade do deficiente visual.
Os jovens, em particular os deficientes visuais, se expõem a
situações de risco, principalmente por falta de informações adequadas.
A
intimidade
entre
os
jovens
com
deficiência
visual ,
aparentemente mais incisiva que entre os videntes, devido ao uso
necessário do tato, pode ser fator agravante da prática sexual sem
proteção.
A informação acessível é o caminho.
35
7. APÊNDICE
VERSÃO EM TINTA DA CARTILHA
COMO SE PREVENIR DA AIDS
NOÇÕES BÁSICAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
É bem difícil conversar com alg uém sobre doenças que são
transmitidas durante o ato sexual. Também é difícil falar sobre sexo
seguro e AIDS. Mas acontece que essa é uma conversa necessária ,
quando existe amor entre duas pessoas que querem construir uma
relação segura e tranqüila.
Se a gente tem relação sexual sem camisinha com alguém que já
se contaminou, temos grandes chances de nos contaminarmos também.
E tem um problema: essas doenças às vezes demoram a dar sinais de
sua existência e isso pode fazer com que uma pessoa infecte a outra
sem saber que está infectando. Por isso é importante falar de AIDS.
Então, vamos tentar entender um pouco mais sobre a AIDS. Ela é
um conjunto de sinais e sintomas causados por um vírus chamado HIV
ou vírus da imunodeficiência humana. Um vírus é um ser m uito
pequeno, visível apenas no microscópio eletrônico. Para viver e se
multiplicar, o vírus precisa entrar nas células. Quando ele entra na
célula humana, toma conta de tudo, fazendo a célula trabalhar para ele
e, assim, ela passa a produzir outros vírus iguais a ele.
A AIDS foi identificada nos Estados Unidos em 1982, mas ainda
não tem cura. Por isso fazer sexo com camisinha é o melhor caminho
para se proteger dessa doença.
36
As formas de contaminação podem acontecer quando a pessoa
tem relação sexual sem camisinha, quando ela entra em contato com
sangue contaminado e quando a mãe que tem AIDS passa o vírus para
o filho durante a gravidez. Quando o vírus da AIDS entra no corpo
humano, ele infecta todas as células responsáveis pela defesa do
nosso organismo , toma conta de tudo e enfraquece a gente, podendo
até levar à morte.
O vírus da AIDS já foi encontrado no suor, na lágrima, na saliva e
na urina, mas não existe nenhum caso de alguém que se contaminou
quando teve contato apenas com esses líquidos do cor po. Acontece
que no esperma do homem o vírus da AIDS aparece em grande
quantidade e é por isso que fazer sexo sem camisinha faz a pessoa se
contaminar.
Então a contaminação acontece quando a pessoa tem contato
com uma grande quantidade de vírus. Na lágrim a, na saliva, ou na
urina o vírus da AIDS está em quantidade muito baixa. A partir da
contaminação até a manifestação da AIDS, existe um período de
incubação, que é o tempo transcorrido entre a entrada do vírus no
organismo até o aparecimento dos primeiros sintomas.
Atualmente existem apenas duas formas de nos prevenirmos do
vírus da AIDS durante as relações sexuais: usando a camisinha
masculina
ou
a
camisinha
feminina.
A
camisinha
masculina
é
distribuída gratuitamente nos postos de saúde em todo o Brasil. A
camisinha feminina só é encontrada em alguns postos.
A gente
sabe
que a AIDS
ainda
não tem cura,
mas tem
tratamento. Seu tratamento é gratuito em todo o Brasil. Acontece que
muita gente ainda não se protege porque acha que não vai pegar AIDS.
Mas toda pessoa que vai ter uma relação sexual não pode deixar de se
proteger porque a AIDS pega mesmo. Não adianta pensar que não vai
se contaminar com o vírus porque o risco é grande.
37
A pessoa que não usa camisinha pode também pegar outras
doenças durante a práti ca do sexo. Além da AIDS , a pessoa fica
exposta a todo tipo de doenças que podem ser transmitidas durante o
ato sexual. Por isso, para a pessoa se proteger, precisa usar a
camisinha corretamente durante a prática sexual.
Tem muito homem que não quer usar a camisinha masculina para
se proteger da AIDS. Então, usar a camisinha feminina é uma forma de
proteger a mulher. Mas acontece que a camisinha feminina não pode
ser usada para fazer sexo anal. E tem outra coisa importante: a
camisinha feminina e a masculi na só podem ser usadas uma vez.
Depois de usada, jogue fora no lixo.
Para a mulher e o homem aprenderem a se proteger é preciso
falar do comportamento das pessoas. Tem gente por aí que não usa a
camisinha porque não tem dinheiro para comprar ou porque o po sto de
saúde que entrega gratuitamente a camisinha fica longe de casa. Esse
é um comportamento errado porque o governo distribui camisinha de
graça.
Portanto, use sempre a camisinha para se proteger. A mulher
muitas vezes aceita que o seu namorado não use a camisinha. Esse é
outro comportamento errado porque eles podem passar AIDS um para o
outro sem saber que estão passando.
Tem gente mal informada sobre sexo seguro. Tem muita gente
que tem relação sexual sem camisinha e isso faz com que muitas
pessoas adoeçam. Por exemplo, quem usa drogas na veia e usa
seringas que já foram usadas por outra pessoa pode ficar doente.
Quem não enxerga bem tem que tomar cuidado para lidar com
materiais que possam cortar ou furar a pele porque a ferida pode ser
uma porta aberta para a AIDS entrar no organismo.
38
As pessoas com AIDS podem se contaminar com várias doenças
porque o sistema de defesa do organismo fica fraco e a pessoa adoece
mais rapidamente.
AGORA VAMOS FALAR DA CAMISINHA MASCULINA
É importante saber como usar a c amisinha masculina e a
feminina. Toda camisinha tem prazo de validade e selo de qualidade do
Inmetro, que é um órgão responsável por verificar a qualidade dos
produtos brasileiros.
A camisinha deve ser colocada antes da penetração, durante a
ereção do pênis. Se a camisinha se romper, deve ser imediatamente
substituída.
Para colocar a camisinha, segure -a pela ponta. Ainda segurando
a ponta, vá desenrolando até chegar à base do pênis. Tire a camisinha
depois da ejaculação, com o pênis ainda ereto. Tome cuidad o ao retirar
para que não haja vazamento de esperma. Depois de retirada, dê um
nó e jogue no lixo. Não jogue no vaso sanitário.
O Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis do
governo distribui camisinhas masculinas em dois tamanhos diferentes .
As menores são as mais usadas pelos jovens. Tenha cuidado quando
abrir a embalagem. Não use dentes ou objetos que possam cortar a
camisinha. Não use camisinha que ficou durante muito tempo guardada
no bolso ou na carteira. Ela pode estar com o prazo de v alidade
vencido ou rasgada.
AGORA VAMOS FALAR DA CAMISINHA FEMININA
A camisinha feminina parece com uma pequena bolsa de plástico
macio. Essa bolsa serve para receber o esperma liberado pelo homem
na relação sexual.
Usar camisinha evita a transmissão d a AIDS e
previne a gravidez não desejada.
39
Esta camisinha é mais larga e tem um aro em cada extremidade.
O aro aberto fica para fora da vagina. A camisinha feminina pode ser
colocada bem antes da relação sexual e já vem lubrificada. Para usar,
coloque um dos pés sobre uma cadeira ou fique sentada com os
joelhos afastados, ou deitada. Aperte o anel móvel e introduza o
restante na vagina. Deixe o aro aberto ficar para fora da vagina.
A camisinha feminina deve ser colocada o mais profundamente
possível, para proteger todo o colo do útero. Deve ficar para fora
apenas a argola, que tem mais ou menos o tamanho de dois dedos
juntos. Esta camisinha é parecida com camisinha masculina, mas é um
pouco mais larga e tem um aro de cada lado: o aro fechado deve ficar
no fundo da vagina. Procure manter a camisinha no lugar certo para se
proteger. Se a camisinha estiver bem colocada, não incomoda nem dói.
Quando começar a penetração, segure a argola e guie o pênis
para o meio da vagina, para evitar que o pênis entre pela lat eral da
camisinha. Retire a camisinha antes se levantar para que não escorra
esperma. Depois de tirar, dê um nó e jogue no lixo. Não use camisinha
masculina e feminina ao mesmo tempo porque elas podem rasgar.
É importante saber que os micróbios não consegu em atravessar a
borracha das camisinhas. Manter seu corpo limpo é sempre muito
importante. Cuide bem de sua saúde, mantenha suas mãos e seu corpo
limpos. Aprenda a se prevenir das contaminações. Seu corpo é a sua
casa. Cuide bem dela.
40
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44
9. ANEXO
45
Camisinhas masculina e feminina e CD de áudio
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