UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DEMOGRAFIA MESTRADO EM DEMOGRAFIA O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR E DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA MELHORIA DO SISTEMA ESCOLAR DA ESCOLA PÚBLICA Área Temática DEMOGRAFIA DA EDUCAÇÃO Wagner Douglas Artur Do Nascimento* Paulo César Formiga Ramos** José Edson Ferreira Nunes Junior*** *Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal-RN, Brasil.(Mestrando) **Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal-RN, Brasil.(Professor) ***Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal-RN, Brasil.(Mestrando) NATAL/RN Agosto / 2016 O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR E DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA MELHORIA DO SISTEMA ESCOLAR DA ESCOLA PÚBLICA A escola pública vem passando por significativas mudanças quantitativas e qualitativas, fruto das políticas públicas, em atendimento aos movimentos e demandas sociais. Tendo como destaque a redemocratização do país cujo marco legal a Constituição Federal de 1988 e, em relação a regulamentação do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB – Lei 9394/96, podemos constatar que ambos documentos preconizam à gestão democrática como princípio da participação cidadã. Assim, este artigo tem como objetivo fazer uma análise de como o Conselho Escolar, contribui de forma significativa, para a melhoria da qualidade da educação e do Sistema de Ensino na escola pública do município do Natal - a Rede Municipal de Ensino. Os anos de investigação compreende 2009, 2011 e 2013. Os referenciais teóricos que fundamentarão este trabalho serão autores no campo da Demografia que abordam dividendo demográfico no campo da educação (RIOS-NETO, 2005), na Educação (DOURADO,2009) e na sociologia da educação (BOURDIEU, 1964, 1981), quanto aos procedimentos metodológicos, será feito uso dos dados oficiais do Censo Escolar – FNDE/MEC e da Secretaria Municipal de Educação, serão apresentadas, as categorias envolvidas no estudo, bem como o perfil sócio demográfico dos atores envolvidos. Os resultados finais da pesquisa apontam para uma maior participação dos atores permanentes (gestor e professor) comparada aos pais e alunos. Palavras-Chave: Educação, Conselho Escolar, Participação Social. Melhoria do Sistema Escolar. Introdução A escola pública vem passando por significativas mudanças quantitativas e qualitativas, principalmente no que se refere à sua universalização e na diminuição dos índices de analfabetismo, fruto das políticas públicas, em atendimento aos movimentos e demandas sociais. Tendo como destaque a redemocratização do país, cujos marcos legais são a Constituição Federal de 1988 (Art. 206, VI) e, em relação a regulamentação do ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica – LDB de 1996 – Lei 9394/96, podemos constatar que ambos documentos preconizam à gestão democrática como princípio da participação cidadã. (LDB, art.3°, VIII, e art.14). Assim, os conselhos e/ou colegiados como espaço de exercício da democracia, constituemse como núcleos da gestão democrática na escola e na organização escolar, contribuem de forma significativa para a construção de uma sociedade onde os valores democráticos são a base das relações pessoais, sociais e institucionais. Nesse sentido, o conselho é parte essencial da gestão democrática exercida na prática, quando este participa no âmbito da escola por exemplo, nas ações de identificação do(s) problema(s), transparência dos processos educacionais bem como na busca de solução/soluções de forma compartilhada. É importante destacar que o conselho escolar, por situarse num espaço educativo, deve estar atento principalmente aos aspectos qualitativos do processo ensino aprendizagem, contribuindo assim para a melhoria da qualidade da educação e, consequentemente para o melhor desempenho acadêmico dos alunos, da escola. Para elucidar de forma sintética e objetiva, a investigação se deterá nos pontos centrais ou melhor conectando o objeto aos estudos no campo da demografia como é o caso de conceitos e definições, tanto no campo da educação como da demografia apresentado pelos trabalhos de Dourado (2007) e Cerqueira (2004). Contudo, uma vez que o tema educação é polissêmico destacase a importância de várias abordagens das demais ciências. O documento Geografia da Educação, INEP (2000), apresenta 23 (vinte e três) indicadores reunidos em 06 (seis) dimensões, e nos direcionará ao indicador do desempenho escolar (IDEB) reveladas nas avaliações das disciplinas de Português e Matemática; O trabalho de Barros (1992) sobre os determinantes do fraco desempenho educacional brasileiro abordando o ambiente escolar e o papel dos pais, bem como o artigo de Neto e Riani (2004) aborda o papel do pai e da mãe, as contribuições do capital social e do capital cultural e constrói uma estratificação da educação no Brasil, destacando também o papel da família e da escola e comunidade. Ainda em outro artigo da Demografia da Educação são elencados importantes informações e dados procurando desvelar a magnitude do tamanho relativo da população em idade escolar associada a quantidade e a qualidade do ensino fundamental, concluindo em sua investigação que a queda da fecundidade, com as alterações na razão de dependência, tem um impacto positivo na quantidade e na qualidade do ensino no Brasil, Riani (2002). Há bastante estudos na área da educação em relação ao conselho escolar e o que a pesquisa ora em curso procurará desvelar, com as contribuições da análise demográfica, é perceber, captar e aferir como se processa as relações existentes entre o conselho escolar do ensino fundamental II - 6º ao 9º ano, da participação social nos indicadores do sistema escolar da rede municipal de ensino da cidade do Natal, cujo vínculo entre Conselho e Sistema se dá via participação, estando portanto os mesmos inter-relacionados. Nesse sentido, os conselhos e/ou colegiados, constituem-se como o espaço privilegiado de exercício da democracia nas escolas, portanto, “núcleos” da gestão democrática e da organização escolar, contribuindo significativamente para a construção dos valores democráticos como, por exemplo, a liberdade e igualdade essenciais à boa convivência - relações pessoais - e na vida em sociedade - relações sociais. Assim, o conselho é parte essencial da gestão escolar democrática quando participa da identificação dos problemas, quando há a transparência dos processos educacionais e contribui na solução, de forma compartilhada, dos problemas; o conselho, por situar-se no espaço educativo, deve estar atento aos aspectos qualitativos do processo ensino aprendizagem, contribuindo deste modo para a melhoria da qualidade da educação e consequentemente, para o melhor desempenho acadêmico dos alunos e da escola. Cabe pontuar que os conselhos que ora conhecemos surgem no Brasil no do Séc. XX e emergem numa perspectiva de contribuir para uma sociedade e uma escola mais justa e democrática, indo ao encontro dos anseios da maioria, sendo para isso imprescindível a participação e a autonomia dos sujeitos e das instituições (LUIZ, 2010). Nesse sentido, as contribuições de André Borges, em uma abordagem crítica, traz, em seu artigo, as recentes reformas da gestão educacional no Brasil e nos países desenvolvidos de língua inglesa, que visaram ampliar a participação comunitária na administração da escola. A partir de suas análises, o mesmo conclui que tais reformas foram pouco eficazes na promoção do empowerment de pais e alunos (BORGES, 2004). O presente trabalho pretende realizar uma análise sobre o papel/impacto que o conselho escolar exerce no desempenho escolar da escola/aluno, partindo do pressuposto que este reúne a representação da comunidade escolar, isto é, constitui-se como a síntese desta população; assim identificar os sujeitos envolvidos bem como a singularidade e subjetividade dessas conexões e redes de relacionamento, contribuirá significativamente para a compreender e analisar como, de que forma e em que medida o conselho concorre/ou não para o desempenho acadêmico da escola/aluno. Assim a pesquisa tem como objetivo geral analisar as relações existentes entre o conselho escolar do ensino fundamental II (6º ao 9º anos) e da participação social, nos indicadores educacionais do sistema escolar da rede municipal de ensino do Natal - RN. Admitindo que o conselho escolar contribui para o exercício da democratização na escola e da participação social, é fundamental captar como se processa a dinâmica destas relações com o sistema escolar de ensino. Nesse sentido, busca-se identificar e aferir a magnitude das relações/conexões entre este colegiado e a escola que possam aferir o nível de participação e o desempenho escolar da escola. Este processo interdependente de relações - conselho/participação/sistema - poderá resultar em impactos positivos, devido a uma maior atuação dos conselhos ou negativos, ao reconhecermos como um reflexo da pouca ou nenhuma participação de seus membros. Ao acreditar que o conselho escolar é um espaço privilegiado de decisões e de resolução de conflitos, o colegiado absorverá e reproduzirá o próprio sistema de ensino, cujas diretrizes e normas são emanadas pela Secretaria Municipal de Educação. Isso acontece por exemplo quando a Secretaria Municipal de Educação decide emitir normatização objetivando atender a uma população escolar do noturno, ou seja, os alunos da Educação de Jovens e Adultos que tem um perfil sócio demográfico específico. Não são raros os conflitos de interesses quando estas decisões emanadas da Secretaria Municipal vêm de encontro (e não “ao encontro”) a estes estudantes, funcionários, professores, isto é, podem impactar, em parte ou na totalidade desta população. Ocorre que a discussão e resolução do problema, segundo o olhar da escola, se dará inicialmente na representação institucional reconhecida pela própria Secretaria, ou seja, no conselho escolar. Assim, a pesquisa, inicialmente encontrar-se-á estruturada, em quatro proposições onde, na primeira será apresentado a Revisão da Literatura, apontando a exploração inicial sobre o referido tema na literatura nacional e estrangeira, bem como os conceitos fundamentais que serão explorados ao longo da pesquisa, sendo eles o conselho escolar, a participação social e o sistema escolar de ensino. Será descrito o objetivo, justificativa, os conceitos a serem trabalhos e a hipótese inicial. Na segunda parte serão abordados a participação e o conselho escolar em seu aspecto temporal, a contextualização histórica do Brasil, a redemocratização do país, os marcos legais que fundamentam a existência dos conselhos escolares, sua criação e implementação. Quanto ao aspecto espacial, a natureza do conselho escolar, suas características, funções e suas atribuições. No terceira parte será formulada a metodologia da pesquisa, com os dados demográficos e educacionais referentes ao Brasil, Nordeste, Rio Grande do Norte e da cidade do Natal. Os indicadores a aferidos/adotados na pesquisa relacionados ao sistema escolar, como por exemplo, o Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB), serão direcionados aos conselhos como indicadores, os números de reuniões e as principais decisões envolvidas, dentre outras. A quarta proposição será destinado à compilação e à análise dos resultados da pesquisa que validarão ou não a pergunta inicial, bem como, a hipótese inicial. Concluindo, as considerações finais e o elenco das referências utilizadas ao longo desta pesquisa. O primeiro esforço desta pesquisa de exploração é circunscrever o objeto ao proposto pelo programa do curso, isto é, de incluí-lo ao campo da demografia e é pertinente a proposição de que todas as investigações da demografia da educação, em particular, devem procurar elucidar os mecanismos pelos quais a educação afeta o comportamento demográfico, portanto, deve-se considerar como reflexão ao longo de toda a pesquisa ‘Onde, então, devemos procurar a ‘essência’ de uma Demografia da Educação que, conceitualmente, une os fenômenos demográficos e educacionais num quadro coerente?” (BARAKAT & BLOSSFELD, p.2, 2010) (tradução própria). Nesse sentido, a escolha do referido tema constitui, no âmbito da demografia da educação, nesta tentativa de elucidar fenômenos demográficos, ao captar o perfil sócio demográfico dos conselhos; e educacionais, no apanhado dos indicadores educacionais buscando dessa forma conectá-los e relacioná-los, conferindo assim, uma estrutura coerente de análise. Então, podemos vincular demografia e educação no que se refere à investigação das características educacionais resultantes dos fenômenos demográficos, ou seja, A compreensão dos fenômenos demográficos, tanto em seus aspectos estáticos como dinâmicos, tem uma importância crucial na investigação das características educacionais de uma população. Entre as características demográficas que têm impacto no setor educacional, a estrutura etária é aquela cujos efeitos são mais visíveis, por estarem diretamente ligados à demanda por ensino, em seus diversos níveis (CERQUEIRA, 2004, p.16). Ao iniciar os estudos dos conselhos escolares e do sistema escolar, há de se atentar, de forma sistemática, para as devidas informações sobre suas estruturas organizativas, as funções e atribuições institucionais. No que se refere ao conselho escolar, especificamente, a sua composição, o organograma, bem como as formas de escolha dos conselheiros e os marcos legais específicos no âmbito do município direcionado aos conselhos das escolas do ensino fundamental (FERNANDES, 2010). Para uma pesquisa na linha de demografia da educação, a caracterização do perfil escolar e sóciodemográfico, no caso dos conselheiros, há a contribuição trazida por artigo que trata destes dois aspectos, dirigida aos candidatos ao ensino superior da Universidade do Minho em Portugal, que poderá subsidiar a referida pesquisa, adaptada ao tema proposto (POUZADA, 2002). Como o objeto da pesquisa é o conselho escolar, necessário se faz ressaltar as definições e conceitos colocados pela educação ao descrever, por exemplo, as dimensões da qualidade da educação que podem se verificar na esfera intraescolar, que no nível do sistema escolar dá-se pelas condições de oferta e do ensino, o nível da escola acontece na forma da gestão e da organização do trabalho escolar, no nível do professor refere-se à sua formação, profissionalização e ação pedagógica e por fim, o nível do aluno se verifica no acesso, permanência e desempenho escolar (DOURADO, 2007). Como a pesquisa irá recorrer aos números e estatísticas oficiais disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes aos dados gerais e educacionais do Brasil, Nordeste, Rio Grande do Norte e Natal, bem como os dados fornecidos do Ministério da Educação / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – (INEP) que em relação à educação brasileira aponta para 23 (vinte e três) indicadores reunidos em (6) seis dimensões, cujo destaque é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que é, a grosso modo, o resultado das avaliações dos alunos nas disciplinas de Português e Matemática nos 5º e 9º anos do ensino fundamental (INEP, 2000). Irá recorrer, conforme o caso, também aos dados da Secretaria Estadual de Educação (SEEC), Secretaria Municipal de Ensino (SME). Os conselhos escolares não estão deslocados da realidade social do Brasil, o artigo de Schwartzman (2003), faz uma análise da realidade social brasileira investigando a inserção do país na economia globalizada, a questão da pobreza e da desigualdade social compreendida no período dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e Luís Inácio Lula da Silva (20032011), destacando-se o combate ao analfabetismo e a criação em 1996 e 2007, respectivamente, do FUNDEF e FUNDEB. São também pontuadas na pesquisa, a criação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB em 1996 e os avanços no campo social como os programas de erradicação da pobreza extrema e da fome. As análises sobre os determinantes do fraco desempenho educacional brasileiro apontando como relevantes, para um melhor desempenho, o ambiente escolar e o papel dos pais, demonstrando que as características da família tem peso no desempenho escolar, assim como o ambiente comunitário (BARROS, 1992). Desse modo, pode-se inferir que a família é um importante componente representado no conselho escolar, uma vez que estes pais fazem essa interlocução escola/comunidade, propiciando ambientes escolar e comunitário favoráveis ao desempenho educacional, resultado de um clima escolar propício ao ensino e a aprendizagem. A pesquisa de Rios-Neto e Riani (2004), aborda o papel do pai e da mãe, as contribuições do capital social e do capital cultural e destaca o papel da família, da escola e comunidade e conclui com destaque para o papel da família e da escola e comunidade na educação. Na mesma assertiva, no artigo de Riani (2002), são elencadas importantes informações e dados ao analisar a magnitude do tamanho relativo da população em idade escolar, associada à quantidade e à qualidade do ensino fundamental, concluindo na investigação de que a queda da fecundidade, com as alterações na razão de dependência, tem um impacto positivo na quantidade e na qualidade do ensino no Brasil. Uma importante variável para os estudos em educação é a matrícula escolar. Observa Thonstad (1980), que ela é “imprescindível para o planejamento educacional em termos quantitativos e é a base para estimar, por exemplo, a necessidades de professores, salas de aulas e de outras instalações”. Outro ponto discutido pelo autor é sobre os modelos a serem adotados concluindo que, no caso da educação, o mais apropriado é o modelo de fluxo. Nesse sentido, as projeções são apresentadas como “tendências” e os modelos serão definidos e/ou ajustados pela quantidade ou não dos dados, bem como de sua consistência. Questões relevantes sobre a matrícula e o aluno são colocadas e nos remete aos conceitos e medidas em demografia perfeitamente aplicáveis à educação pelo autor, Qual o futuro do desenvolvimento da matrícula em cada parte do sistema escolar? E da “saída” deste aluno do sistema escolar? Quais as expectativas de sobrevivência dentro do sistema de educação? Qual o número de anos de escola, vivida por cada criança entrando no sistema? (A expectativa de “vida escolar”) (THONSTAD, p. 13,1980) (tradução própria). Um outro aspecto explorado na bibliografia consultada foi o campo da subjetividade, ou seja, o caráter simbólico das interações envolvendo os conselhos e, nesse sentido, é enriquecedora a investigação que analisa como os poderes hegemônicos neoliberais se impõem sobre o desenvolvimento da política educativa, isto no campo da macro política e seus significados, bem como os significados presentes na micropolítica, cujo papel é “construído” pelos conselheiros, numa relação dialógica horizontal, onde, segundo a pesquisa, os distintos significados apresentados no conselho escolar (por meio dos conselheiros) demostra uma relação dialética entre a duas esferas políticas (MUÑOZ, 2011). Em pesquisa realizada em escolas do Reino Unido e da Irlanda do Norte, durante os anos de 1997/98, com 2.272 alunos com idades entre 7 a 17 anos, Alderson (2000), propôs-se a examinar as associações entre os pontos de vista dos alunos sobre seus conselhos de escola com suas opiniões sobre outros aspectos da escola, ou seja, o conselho escolar foi abordado segundo a percepção dos estudantes, em termos de significado destes em relação ao seu comportamento, apresentando então que, A metade dos alunos relataram que tinham um conselho de escola. Destes, os que acharam o conselho eficaz geralmente tinham uma visão positiva sobre as atividades sociais e acadêmicas da sua escola, considerando que aqueles que disseram que o seu conselho escolar foi ineficaz geralmente tinham também atitudes mais negativas. Algumas escolas acham que criar um conselho de escola eficaz pode melhorar consideravelmente os padrões de comportamento, mas esse processo tem de envolver mais alterações em sistemas e relacionamentos na escola, por fim, a pesquisa conclui que simplesmente introduzir um conselho simbólico pode aumentar o cepticismo dos estudantes (ALDERSON, p.1,2000) (tradução própria). Parker (1998), realizou estudos de caso em cinco escolas, objetivando perceber como se apresentavam as influências positivas dos conselhos, quais sejam, (1) a colaboração com a equipe da escola, o seu (2) envolvimento em iniciativas relacionadas com a melhoria dos objetivos da escola e o (3) envolvimento dos pais. Em seus estudos a autora reconheceu a influência preponderante destas principais práticas dos conselhos influentes “atuantes”. A pesquisa concluiu que um conselho influente tem como principais facilitadores o apoio e a aprovação dos próprios conselheiros, a transparência das informações, os conhecimentos e habilidades dos membros do conselho e tem como principal protagonista o presidente do conselho, que atua junto aos conselheiros para construírem ligações que propiciam melhores condições aos professores e os membros do conselho para que possam atuar coletivamente, em parceria. A pesquisa de Wellman et al (2001) analisa o papel da internet na perspectiva desta ferramenta tecnológica contribuir para o aumento da comunicação, diminuição ou complementado o contato interpessoal, a participação e o compromisso da Comunidade. A referida pesquisa foi realizada no ano de 1998 com 39.211 visitantes do site da National Geographic Society Web, sendo um dos primeiros inquéritos web em larga escala. Segundo os pesquisadores, constatou-se que a interação das pessoas on-line age de forma suplementar em sua comunicação, sem aumentar ou diminuir os encontros ‘cara a cara’ ou via telefone. Como boa parte dos conselheiros fazem uso da internet, devemos levar em consideração os aspectos tanto positivos como negativos desta ferramenta, onde segundo os autores, em sua pesquisa, O uso positivo da rede virtual constatou-se na relação do aumento da participação dos usuários em organizações políticas e por outro lado aos efeitos negativos quando verificou-se que os usuários mais assíduos da internet pouco se envolvem com a sua comunidade no sentido da sua participação e compromisso e tomadas em conjunto, essas evidências sugerem que a internet está a tornar-se normalizada, uma vez que tem sido incorporada nas práticas rotineiras da vida cotidiana” (WELLMAN et al, p. 436, 2001) (tradução própria). Em investigação na reserva indigena de Odawa no norte de Ontário, no Canadá foi realizada por Erickson e Mohatt (1977), os mesmos analisam as “estruturas de participação, em duas salas de aula, de crianças culturalmente semelhantes – índígenas - ministradas por professores com diferentes origens culturais, ambos experientes, um índio e o outro não-indígena”. O que poderia haver de “ligação” entre este estudo específico e conselho escolar? Isso se verica quando, por exemplo, há por vezes a indicação de diretores e estes são considerados ‘estrangeiros” pela comunidade escolar e pelo próprio conselho. Novos arranjos e novas relações são construídas em função dessa nova realidade. Na maioria das vezes, esse diretor não é reconhecido pela comunidade escolar, uma vez que não foi eleito/escolhido no seio da escola e, por vezes é encarado como “independente” aos interesses e demandas da escola, uma vez que é percebido como um agente do órgão central, da Secretaria de Educação. Ainda nessa analogia, como podem os colegiados inseridos em uma mesma rede escolar terem estruturas de participação diferenciadas por escola? Nesse sentido, os autores descrevem, em síntese, como se deu a pesquisa e seus resultados, “...Ao nível da vida diária Odawa, há quase ausência de autoridade política central. Especificamente, comparando o ministrar das aulas (movimento professor, directivas, relação entre o movimento e dando directivas), o professor não-indígena movia-se mais rapidamente, circulando em torno de toda a sala, deu instruções para o grupo de sala de aula total e grupo de leitura pequeno, ao mesmo tempo, e chamou as indicações para cada criança em toda a sala, enquanto o professor indígena avançou lentamente, exerceu controle sobre toda a classe de uma vez, destacou indivíduos apenas em pequenos grupos. Nas comparações em sala, o professor indígena exerceu um controle mais através do movimento, mais indiretamente, e menos frequentemente do que o professor não-índio” (ERICKSON; MOHATT, 2ª parte do Resumo do artigo, 1977) (tradução própria). No artigo de Dika e Singh (2002), é proposto compreender a incorporação do conceito de capital social no sentido de sua construção intelectual com Bourdieu (1980) e Coleman (1988). Na verdade, é uma revisão na literatura educacional cujo objetivo é estudar o capital social e os resultados na educação. Os autores ao realizarem uma revisão crítica da literatura fazem um exame das tendências conceituais de capital social, os métodos e os resultados, avaliando posteriormente o suporte empírico para reivindicações (conclusões) que capital social está positivamente relacionado com resultados educacionais e psicossociais, bem como as lacunas conceituais, medição e da análise do capital social na literatura educacional. Os colegiados escolares inseridos na sociedade, no sistema de ensino e mais especificamente no âmbito escolar reforça a ideia de instrumentalização que contribua para a formação dos seus membros, pois o conselho pode e deve ser um fórum de criação de ideias, conflitos, de debates, proposições e soluções de problemas. Nesse sentido, o artigo de Pausen (1991), analisa a ação coletiva e as relações entre educação, classe social e participação. Portanto, no estudo são investigados os efeitos de classe social na socialização política encontrada na educação e examinadas em relação à participação individual na ação coletiva e, a referida pesquisa aponta que é a formação escolar quem reforça a socialização de família, a posição de classe e a educação de sistema operacional de classe relacionadas com estrutura, podendo produzir um senso de eficácia política entre os estudantes da classe média. No campo da participação social, a pesquisa realizada por Putman (2006), tem como ideia central o conceito de capital social no sentido de constituir-se como elemento fundamental para explicar o alto desempenho das Instituições e a preservação e continuidade da democracia. Aqui, portanto capital social é entendido como uma prática de uma ação coletiva, da participação social, onde se estabelece uma relação de confiança nas instituições, originando, segundo o autor, a chamada cultura cívica e criando, a partir daí um elo causal entre comunidade cívica e o desempenho das instituições. Para ele, é a sociedade como um todo quem cria as riquezas do país e não o contrário e, para que uma democracia seja bem sucedida, é necessário que haja um nível de confiança recíproco entre os cidadãos e uma relação horizontalizada da forma de governar. Nesse sentido, Putman destaca em sua pesquisa destaca: A abordagem teórica aqui desenvolvida, fundamentada na lógica da ação coletiva e no conceito de capital social, visa não apenas a explicar o caso italiano mas também a conjugar perspectivas históricas e de escolha racional de modo a que possamos compreender melhor o desempenho institucional e a vida pública em muitos outros casos. Nossas conclusões refletem o poder da mudança institucional para remodelar a vida política e as poderosas restrições que a história e o contexto social impõe ao êxito institucional (PUTNAM, p.31,2006) (grifos nosso). Para que se possa proceder à análise das relações existentes entre o conselho e da participação social nos indicadores educacionais da sistema escolar faz-se necessário a devida clareza e pertinência do objeto a ser pesquisado visando sua delimitação, a definição e a conceptualização, estabelecendo, assim, conexão com as dimensões e os indicadores a eles ligados. Como a pesquisa irá tratar de conselho e das relações existentes com o sistema escolar, que acontece essencialmente no nível da participação, primeiro é importante a definição de conselho a ser utilizado na pesquisa, o de participação, bem como o de sistema. O conselho define-se como uma “opinião que se emite sobre o que convém...; parecer; sugestão; proposta; resolução, determinação, corpo consultivo junto de certas repartições de administração pública; reunião de pessoas que deliberam sobre assuntos públicos ou particulares; corpo coletivo que dá parecer sobre determinados assuntos públicos.” (DIC. L.PORTUGUESA DLP, 2003). Corpo cujo membros tem todos poder e autoridade iguais. Órgão colegiado que representa a comunidade escolar e local (HOUAISS, 2001) A palavra participação, epistemologicamente, deriva da palavra “parte”; participação é portanto, “fazer parte”, “tomar parte” ou “ter parte” (BORDENAVE, p.23, 2008). O conceito de Participação Social tem, em si, a junção de definição de duas palavras, participação, que é “o ato ou efeito de participar; envolvimento em determinada atividade” (DLP, 2003) e social que diz respeito ao “pertencente à sociedade; que vive em sociedade; sociável” (DLP, 2003), portanto a Participação Social é a presença da sociedade na gestão de um sistema em diferentes esferas de governo, seja no campo da saúde, educação, segurança, etc. Para ainda aprofundar o objetivo proposto, é fundamental, para compreensão do tema proposto, o estudo da estrutura social e da participação social na perspectiva de como a formação política se processa no tempo e no nível comunitário. Nesse sentido, o artigo de Foskett desenvolve uma escala para medir a participação da comunidade, a fim de identificar os fatores associados à participação desta mesma comunidade. Assim, o conselho enquanto síntese da comunidade escolar e local pode ser inserido nesta abordagem no nível deste estudo comunitário. No artigo o autor coloca como questão central, a ser analisada no estudo, sobre “quem participa e em que medida em assuntos comunitários e, que fatores estão associados com essa participação?” (FOSKETT, 1995). Quanto ao conceito de Sistema, de forma concisa, compreende um conjunto de partes dependentes umas das outras (DLP, 2003). O sistema escolar é um sistema aberto, que tem por objetivo proporcionar educação e a rigor, o sistema escolar cuida de um aspecto especial da educação, a que se poderia chamar de escolarização. Mas a educação entendida em seu sentido pleno realiza-se através de uma multiplicidade de agências sociais e não apenas através da escola (DIAS, 2001). Segundo Dias (2001), em relação à educação, temos as seguintes concepções: O Sistema de educação tem um significado genérico, confundindo-se com a própria sociedade, pois entende-se que incorpora todas as agências sociais que educam (família, clubes, empresas, pessoas, escolas, etc.); Sistema de ensino seria uma expressão com amplitude intermediária e abrange as escolas, outras instituições e pessoas que se dedicam à educação sistemática ( catequistas, professores particulares, etc.) e, o Sistema escolar envolve uma rede de escolas (atividade fim) e sua estrutura de sustentação (estrutura administrativa), (DIAS, 2001). Segundo o autor, não há unanimidade no uso destes termos, todas têm sido usados para nomear a mesma realidade. Nesta pesquisa adotaremos o conceito de sistema escolar, para fins didáticos, apesar de a LDB consagrar a expressão “sistema de ensino”. Assim, a referida pesquisa se propõe, tendo como recorte o sistema escolar da rede municipal da cidade do Natal, elucidar, no nível da participação social, de como o conselho escolar em suas funções e atribuições impacta nos indicadores do sistema escolar. Material e Métodos Os dados serão extraídos da estatísticas do MEC/Censo Escolar (INEP), das informações oficiais da Secretaria Municipal de Educação de Natal/RN, Ministério Público do Rio Grande do Norte – Promotoria da Educação, bem como dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. O procedimento metodológico procederá inicialmente na comparação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB (2009/2011/2013) das 72 escolas municipais da rede pública de Natal com o número de reuniões do conselho com o propósito de buscar construir indicadores que possam aferir, comparativamente o conselho e o rendimento da escola, isto é, que possam servir de parâmetros para uma análise (individual e/ou comparativa) dos dados; elegeremos uma combinação binária para conselho escolar atuante (1) ou não atuante (0) e, em relação a escola as que possuem alto, médio e baixo IDEB a serem processados no Programa IBM SPSS Statistics e/ou Grade of Membership/GoM. A investigação buscará com esses procedimentos técnicos e nas análises dos dados apresentados constatar/ou não sobre vínculos/elos ou mesmo, relações que possam por exemplo, responder aos seguintes questionamentos prévios: Que impactos o conselho exerce no desempenho escolar? O conselho escolar é também responsável pelo acesso, permanência e sucesso acadêmico dos alunos? Existe ou existem relações entre o conselho e a escola, que contribuam para a melhoria da qualidade da educação ministrada na escola pública? Como e em que medida o conselho contribui para o melhor desempenho escolar? Resultados e Discussão / Conclusão Estudos referentes às atribuições, às funções ou ao papel dos colegiados no campo de estudo da demografia da educação ainda estão por serem explorados; assim a nossa pesquisa encontra-se em processo de construção/exploração de modelos de análise e na observação e, nesse sentido os resultados esperados da pesquisa apontam como hipóteses a serem testadas:1. Admitindo uma maior participação e envolvimento da comunidade escolar nas decisões, de forma democrática, tendo como indicador o número de reuniões do conselho escolar haverá um maior desempenho escolar, portanto havendo relação entre o desempenho escolar e participação da comunidade na gestão escolar (democrática), espera-se assim que as escolas com maiores IDEB revelem uma maior participação do conselho escolar. Por conseguinte, explicações ou respostas deverão ser dadas quando verificadas uma inversão dessas relações supra citadas e em que medida as escolas com IDEB intermediário “se comportam” em relação a essa análise comparativa. Admitindo que o conselhos escolares e o sistema escolar encontram-se normatizados por legislação e resoluções da Secretaria Municipal de Educação, pode-se acreditar que as escolas que, por ventura, apresentarem melhores indicadores educacionais apresentem, por sua vez, uma maior participação social, ou seja, indicarão conselhos escolares participativos, atuantes. No sentido contrário, pode-se também admitir que piores indicadores demonstrarão “inexistência” ou pouca participação da comunidade escolar, via conselhos escolares. Aqui reside o esforço e o desafio das explicações no campo da demografia da educação que nos possibilita diversas abordagens no campo da ciência e utilização da análise demográfica, do senso crítico das observações (a priori), e dos dados apresentados (a posteriori), procurando com isso respostas e investigando as interações entre as variáveis e os dados obtidos. Os resultados finais esperados da pesquisa apontam também para uma maior influência no conselho escolar do corpo docente comparada aos pais e alunos. Concluindo, uma vez que é o conselho escolar, a participação social e o sistema de ensino são os elementos a serem analisados pela pesquisa, faz-se necessário, também, a apropriação dos diferentes conceitos de capital social nas diferentes abordagens de Bourdieu (1980), onde o capital social é percebido como recurso individual e de Coleman (1988), entendendo-o como um aspecto estrutural associado ao capital humano (indivíduos) e capital social (relações sociais). Portanto, compreender o papel que o conselho escolar representa no sistema de ensino, suas relações, e partindo do pressuposto que o mesmo reúne a representação da comunidade escolar; identificar os sujeitos e atores envolvidos, bem como a singularidade e subjetividade dessas relações contribuirá, significativamente, para a compreensão de como, de que forma e em que medida o conselho concorre ou não, para a melhoria do indicadores educacionais do sistema escolar. Referências Bibliográficas ALDERSON, Priscilla. School students’ views on school councils and daily life at school. Children & Society, 14: 121-134. UK, London, 2000. BARROS, R.P. de, MENDONÇA, R., SANTOS, D. D. dos, QUINTAES, Giovani. Determinantes do desempenho educacional no Brasil, Texto para Discussão nº 834, IPEA, Rio de Janeiro, outubro de 2001. BARAKAT, B., BLOSSFELD.H., The search for a demography of education: some thoughts. Vienna Yearbook of Population Research, vol.8, p. 1-8, 2010. BORDENAVE, J.E.D. 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